o poder da propaganda

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Material de apoio – “Revolução dos Bichos” O poder da propaganda "A chave da organização dos grandes espetáculos era converter a própria multidão em peça essencial dessa mesma organização. Nas paradas e desfiles pelas ruas ou nas manifestações de massa, estáticas, em praças públicas, a multidão se emocionava de maneira contagiante, participando ativamente da produção de uma energia que carregava consigo após os espetáculos, redistribuindo-a no dia-a-dia, para escapar à monotonia de sua existência e prolongar a dramatização da vida cotidiana. Hitler atribuía grande importância psicológica a tais eventos, pois reforçavam o ânimo do militante nazista, que perdia o medo de estar só diante da força da imagem de uma comunidade maior, que lhe transmitia gratificantes sensações de encorajamento e reconforto. O uso de uniforme, comum entre os militantes nazistas, servia à dissimulação das diferenças sociais e projetava a imagem de uma comunidade coesa e solidária. O impacto da política na rua em forma de espetáculo visava diminuir os que se encontravam fora do espetáculo, segregá-los, fazê-los sentirem-se fora da comunidade maravilhosa a que deveriam pertencer. Os emblemas da águia e da cruz gamada, dispostos nas braçadeiras, nas bandeiras e nos estandartes, funcionavam como marcas de identificação. O símbolo mágico da suástica, de conhecida ancestralidade, uma espécie de cruz em movimento, sugeria a energia, a luz, o caminho da perfeição, como a trajetória do Sol em sua rota. Reich viu- a dotada de conteúdo afetivo, e capaz de suscitar profundas emoções. [...] Cada acontecimento era preparado minuciosamente pelo próprio Hitler. Cada entrada em cena, a marcha dos grupos, os lugares dos convidados de honra, a decoração geral, flores, bandeiras, tudo era previsto. Aos poucos, a forma foi sendo definida, e os acontecimentos ganharam o sentido de um ritual religioso – um ofício -, que se manteve imutável em sua forma. Florestas de bandeiras, jogos de archotes, a multidão disposta disciplinadamente, a música

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Material de apoio Revoluo dos Bichos( O poder da propaganda

"Achave da organizao dos grandes espetculos era converter a prpria multido em pea essencial dessa mesma organizao. Nas paradas e desfiles pelas ruas ou nas manifestaes de massa, estticas, em praas pblicas, a multido se emocionava de maneira contagiante, participando ativamente da produo de uma energia que carregava consigo aps os espetculos, redistribuindo-a no dia-a-dia, para escapar monotonia de sua existncia e prolongar a dramatizao da vida cotidiana.Hitler atribua grande importncia psicolgica a tais eventos, pois reforavam o nimo do militante nazista, que perdia o medo de estar s diante da fora da imagem de uma comunidade maior, que lhe transmitia gratificantes sensaes de encorajamento e reconforto. O uso de uniforme, comum entre os militantes nazistas, servia dissimulao das diferenas sociais e projetava a imagem de uma comunidade coesa e solidria. O impacto da poltica na rua em forma de espetculo visava diminuir os que se encontravam fora do espetculo, segreg-los, faz-los sentirem-se fora da comunidade maravilhosa a que deveriam pertencer.Os emblemas da guia e da cruz gamada, dispostos nas braadeiras, nas bandeiras e nos estandartes, funcionavam como marcas de identificao. O smbolo mgico da sustica, de conhecida ancestralidade, uma espcie de cruz em movimento, sugeria a energia, a luz, o caminho da perfeio, como a trajetria do Sol em sua rota. Reich viu-a dotada de contedo afetivo, e capaz de suscitar profundas emoes. [...]Cada acontecimento era preparado minuciosamente pelo prprio Hitler. Cada entrada em cena, a marcha dos grupos, os lugares dos convidados de honra, a decorao geral, flores, bandeiras, tudo era previsto. Aos poucos, a forma foi sendo definida, e os acontecimentos ganharam o sentido de um ritual religioso um ofcio -, que se manteve imutvel em sua forma. Florestas de bandeiras, jogos de archotes, a multido disposta disciplinadamente, a msica envolvente, os canhes de luz. Os espetculos eram preferencialmente noturnos, e neles que Speer dispunha os projetores de defesa antiarea, de modo a obter efeitos expressionistas, fosse aumentando a dimenso fsica dos monumentos, fosse para dar aos smbolos uma fora mais que natural. [...]O modo como a multido se comportava durante esse tipo de espetculo e a maneira ritualstica com que ele era organizado acentuavam o carter de culto religioso desses acontecimentos, a ponto de levar um observador francs a denominar o congresso atual de Nuremberg como o conclio anual da religio hitlerista. Ali eram definidos os dogmas, e eram lanadas as encclicas. O militante nazista visto como um crente, um apstolo e um fantico.

[Fonte: LENHARO, Alcir.Nazismo: o triunfo da vontade. 6 ed. So Paulo: tica, 1998, p. 39-42.]