o humor na propaganda

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6 INTRODUÇÃO Este projeto de pesquisa apresentará as variadas formas do uso do humor na propaganda, assim como, a sua utilização na criação de comerciais que marcaram a história da publicidade nacional e internacional. Além disso, a sua percepção nas artes será contextualizada a fim de expor a frequente inspiração do humor na propaganda fundamentado nas artes. Isso será demonstrado por meio de exemplos de anúncios de mídia impressa desenvolvidos por grandes agências para grandes anunciantes. O objetivo desta pesquisa é mostrar as variadas formas do uso do humor na propaganda, verificando se realmente ele pode influenciar as atitudes do consumidor em relação a um determinado produto. Dessa maneira, abordaremos no decorrer do trabalho de que forma ele é usado, porque a sua utilização cresceu após a década de 70, como grandes anunciantes se adaptam a esse tipo de comunicação bem- humorada e qual a opinião de grandes publicitários sobre as corretas e incorretas maneiras de utilizá-lo. Sendo assim definido como um diferencial na construção da mensagem, evidenciaremos o humor como uma linguagem publicitária que se bem estruturada é bastante persuasiva, pois trabalha primeiramente com a emoção para atrair a atenção das pessoas e estimulá-las ao entendimento da mensagem que se quer transmitir. Para a elaboração deste projeto de pesquisa, utilizamos como instrumentos de trabalho a internet, o conteúdo de revistas, e livros que falavam especificamente sobre a propaganda. Apesar de se tratar de uma linha criativa já comum na publicidade brasileira, não foi tão fácil coletar informações que tratavam com clareza a respeito do assunto. Esperamos que esse trabalho de pesquisa possibilite o entendimento do uso do humor na propaganda e suas diversas formas de expressão, refletidas sob a situação atual da publicidade no Brasil e no mundo.

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A utilização do humor como estratégia de persuasão em campanhas publicitárias.

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Page 1: O humor na propaganda

6

INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa apresentará as variadas formas do uso do humor na

propaganda, assim como, a sua utilização na criação de comerciais que marcaram a

história da publicidade nacional e internacional. Além disso, a sua percepção nas

artes será contextualizada a fim de expor a frequente inspiração do humor na

propaganda fundamentado nas artes. Isso será demonstrado por meio de exemplos

de anúncios de mídia impressa desenvolvidos por grandes agências para grandes

anunciantes.

O objetivo desta pesquisa é mostrar as variadas formas do uso do humor na

propaganda, verificando se realmente ele pode influenciar as atitudes do consumidor

em relação a um determinado produto. Dessa maneira, abordaremos no decorrer do

trabalho de que forma ele é usado, porque a sua utilização cresceu após a década

de 70, como grandes anunciantes se adaptam a esse tipo de comunicação bem-

humorada e qual a opinião de grandes publicitários sobre as corretas e incorretas

maneiras de utilizá-lo.

Sendo assim definido como um diferencial na construção da mensagem,

evidenciaremos o humor como uma linguagem publicitária que se bem estruturada é

bastante persuasiva, pois trabalha primeiramente com a emoção para atrair a

atenção das pessoas e estimulá-las ao entendimento da mensagem que se quer

transmitir.

Para a elaboração deste projeto de pesquisa, utilizamos como instrumentos

de trabalho a internet, o conteúdo de revistas, e livros que falavam especificamente

sobre a propaganda. Apesar de se tratar de uma linha criativa já comum na

publicidade brasileira, não foi tão fácil coletar informações que tratavam com clareza

a respeito do assunto.

Esperamos que esse trabalho de pesquisa possibilite o entendimento do uso

do humor na propaganda e suas diversas formas de expressão, refletidas sob a

situação atual da publicidade no Brasil e no mundo.

Page 2: O humor na propaganda

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1 O HUMOR NA PROPAGANDA

Ao definir uma estratégia de campanha, o publicitário tem como o seu

primeiro desafio encontrar a melhor maneira de atrair a atenção do seu target.

Ninguém compra uma revista para observar os anúncios, assim como ninguém liga o

televisor para assistir os intervalos comerciais. Muito pelo contrário, a primeira vista,

a propaganda incomoda as pessoas que estão confortavelmente lendo o conteúdo

editorial de uma revista ou acompanhando a programação de uma emissora de

televisão. Para quebrar esse paradigma é necessário tornar a propaganda

agradável, instigante e criativa para quem a assiste e para quem a financia

esperando os devidos resultados.

Nesse sentido, podemos considerar o humor como uma ferramenta principal

para atrair a atenção das pessoas e motivá-las ao entendimento da mensagem

desejada pelo anunciante. O humor pode ser usado como um recurso persuasivo

utilizado na criação publicitária e serve de estímulo para chegar ao consumidor e

iniciar a conversa com ele.

O humor surgiu na propaganda no início dos anos 70 como uma nova

ferramenta de persuasão. Os Estados Unidos foram os pioneiros a renovarem o

caráter apenas informativo da propaganda introduzindo o tom emocional às

campanhas. A partir desse momento, a emoção das pessoas passou a ser muito

mais trabalhada ao invés da razão. Um bom exemplo disso foi um anúncio criado

por Bill Bernbach para o lançamento do Fusca. Enquanto a sociedade americana

valorizava o “Think Big”, Bernbach pensou ao contrário, mas com muita inteligência.

A campanha tinha como mote “Think Small”. Seu humor provocativo contrariava o

pensamento da época nos Estados Unidos do “pense grande”. É um clássico, um

dos anúncios mais comentados da história da publicidade. Uma grande idéia

baseada num humor extremamente inteligente.

No Brasil, uma das propagandas que marcaram o início da utilização do

humor na publicidade foi a do cigarro Vila Rica, em 1976, que teve como garoto-

propaganda o jogador Gérson, campeão pela seleção brasileira na copa de 70.

Percebeu-se que o humor era uma boa alternativa, pois obteve uma boa aceitação

do povo brasileiro, fazendo com que o seu uso se tornasse cada vez mais freqüente

nas estratégias de campanha.

Page 3: O humor na propaganda

8

Mesmo assim, David Ogilvy, um dos grandes nomes da publicidade moderna,

lutava contra o uso do humor na propaganda, pois acreditava que ninguém

compraria nada de um palhaço. Porém, em pesquisa encomendada por sua

agência, na década de 80, foi constatado que as propagandas mais engraçadas

eram também as mais lembradas pelos consumidores, O que mudou a percepção

de David, que passou a criar peças de sucesso, nas quais o humor se destacava.

Um dos motivos dessa crescente utilização do humor está relacionado ao

estresse que o mundo vive. Segundo o escritor e diretor da Escala Comunicação e

Marketing (RS), Alfredo Fedrizzi, quando se usa o humor na propaganda, o seu

objetivo é claro: vender um produto do anunciante que contratou uma agência. Ao

transmitir alegria em um anúncio, a propaganda proporciona um momento de

felicidade que alivia todo o sentido trágico da vida. Por um momento, as pessoas

podem viver um sonho de consumo. Se as pessoas recebem uma informação séria

e imponente no momento em que estão lendo uma revista ou assistindo televisão de

uma forma mais relaxada, a tendência é que haja uma dispersão e desinteresse pelo

o que está sendo dito. Porém, se a mensagem for mais leve e bem-humorada o

interesse das pessoas poderá ser bem maior.

Além de ser agradável, o humor torna as propagandas mais lembradas.

Segundo o redator da Plano B Comunicação (PE), Ricardo Lins, “propaganda bem-

humorada fica na cabeça, se torna assunto de happy-hour e vira referência até para

quem não é publicitário. Uma piada de humor deixa a peça mais gostosa e pode

multiplicar por mil o recall do produto”.

Temos bons exemplos na propaganda brasileira que ilustram essa opinião de

Ricardo Lins. A campanha do garoto Bombril, criada por Washington Olivetto, até

hoje no ar, une informação e humor ao desempenho extraordinário do ator Carlos

Moreno. O casal Unibanco é outro marco de sucesso, assim como os históricos

“Bonita camisa, Fernandinho!”, das camisas U.S Top, e “Não é assim nenhuma

Brastemp”. Além de exercer grande influência no processo de decisão de compra,

essas propagandas agradaram o público, a ponto de terem os seus bordões na

ponta da língua e no dia-a-dia das pessoas. O recall desses filmes define que fazer

o público rir pode trazer excelentes resultados de mercado. Na pior das hipóteses, a

marca ganhará no mínimo a simpatia do público.

O humor é uma das linhas criativas de eficiência mais comprovada porque as

pessoas apreciam o humor e estão sempre dispostas a ouvir alguma piada.

Page 4: O humor na propaganda

9

Um anúncio pode comunicar perfeitamente coisas sérias de maneira

humorística, conseguindo, além disso, um elo de simpatia com o produto. Assim, o

humor pode estar na publicidade de varejo ou de qualquer segmento de produtos no

mercado, desde que tenha respeito às particularidades que cada mercado exige. A

publicidade humorística é, muitas vezes, evidenciada em guerras mercadológicas

entre produtos similares. Cada empresa procurando ressaltar os diferenciais do seu

produto, ou até mesmo, explorando as fraquezas do concorrente. Aliás, evidência

fácil de ser constatada em recente campanha publicitária realizada pela empresa de

telefonia celular Oi contra o bloqueio de celular, onde ela utiliza a estratégia de

humor e a ofensiva para ressaltar que a concorrência “acorrenta” os clientes porque

não permite que os seus clientes desbloqueiem os seus celulares.

As características que envolvem o humor são muito complexas. A

publicidade, nesse contexto, não hesita em utilizar a emoção e a criatividade para

atingir um grande número de pessoas. Assim, o humor fornece características

fundamentais, para que, em um mercado cada vez mais competitivo, os anunciantes

facilitem a decodificação da mensagem e sejam compreendidos não só como

fabricantes de produtos, mas principalmente como uma marca que revela a sua

personalidade.

Porém, o humor é uma ferramenta muito difícil de trabalhar. Os publicitários

devem usá-lo com muito cuidado e inteligência. Existem limites que se quebrados

podem acabar com a campanha e ainda manchar a imagem do produto.

Segundo Washington Olivetto, é difícil encontrar o humor no que é

politicamente correto. Contudo, isso não significa que a publicidade possa ferir,

ofender ou ser preconceituosa.

Uma propaganda que gerou muita polêmica foi a de um financiamento

bancário que tinha dois velhinhos como atores. A senhora entrava em casa e dizia

para o marido que comprou um aparelho de som. Não escutando o que a mulher

dizia, o velhinho perguntava: “Hein?”. Ela respondia como se falasse com um surdo:

“Som. Vitrola. Aquele que a gente estava juntando dinheiro desde o nosso

casamento. Comprei”.

Na época, a crítica dizia que a propaganda reforçava o preconceito de que os

idoso são surdos e que fazia o uso de uma falha da velhice para tentar vender o

serviço. Um assunto tão delicado como a terceira idade deveria ser evitado para não

causar mal-entendido nesses estereótipos.

Page 5: O humor na propaganda

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Há campanhas que utilizam o humor forçado, ou mesmo duvidoso, daquele

que só o próprio autor acha engraçado. Aquela propaganda que ao assistir um olha

para o outro e pergunta: “Você entendeu?”. “Julgar-se burro ou julgar a publicidade

burra cria antipatia pelo cliente”, critica o designer da agência Arcos (PE), Anderson

Lima. Isso se torna evidente quando o desejo de conquistar prêmios de publicidade

se sobressai aos objetivos propostos pelos anunciantes.

Outro cuidado do publicitário é avaliar a inteligência do humor presente na

propaganda para que não se desgaste. Uma piada não tem a mesma graça quando

é ouvida pela segunda vez. Mas, quando o humor é bem produzido, há um prazer

em rever a peça.

O humor faz parte da cultura dos brasileiros. O fato de a publicidade utilizar

essa ferramenta para vender e até mesmo divertir, criar simpatia com o produto, não

está errado. O problema é quando a propaganda se torna preconceituosa,

despeitando culturas, raças, classes sociais ou qualquer outro tipo de pessoa.

Page 6: O humor na propaganda

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2 HUMOR NA PROPAGANDA DE ELETROELETRÔNICOS

Por se tratar de um segmento onde os avanços tecnológicos ultrapassam os

limites da inovação, a comunicação de produtos eletroeletrônicos deve estar

alinhada a esse processo. O uso do humor na propaganda de eletroeletrônicos é

caracterizado por ter uma abordagem mais dinâmica e descolada para ressaltar os

diferenciais de um produto anunciado. No caso de aparelhos de som, isso é

explicado devido ao público que geralmente compra esse tipo de produto, na sua

grande maioria, são jovens em busca de um aparelho que tenha um som potente e

que literalmente satisfaça a sua necessidade de escutar músicas com um volume

bem alto. Para ilustrar uma idéia da utilização do humor na propaganda de

eletroeletrônicos temos como exemplo uma análise de três filmes publicitários de

empresas como Philco, Gradiente e Aiwa, que apresentaram os seus respectivos

produtos, utilizando o humor como estratégia.

2.1 Philco

A Philco nasceu em 1892, nos Estados Unidos. Em 1934, a Philco

desembarcou no Brasil e apresentou o famoso Rádio Capelinha. Em 1948, se

instalou no Rio de Janeiro e, no mesmo ano, já fabricava os primeiros rádios da

Philco totalmente nacionais. O brasileiro já ouvia a marca Philco em todos os

lugares. A história da Philco também se confunde com a história da televisão

brasileira. Já em 1950, ano que surgiu a primeira emissora do país, a Philco fabricou

1.136 televisores. Um recorde para a época. Em 1961, passou a fazer parte do

grupo Ford.

Os avanços tecnológicos sempre foram o DNA da marca Philco. Em 1978, ela

assinou um contrato de colaboração técnica com a Hitachi, uma das maiores

referências mundiais em eletrônicos. Além de assistência tecnológica e informações

sobre modelos e métodos, tudo isso possibilitou um intercâmbio dos engenheiros da

Philco com a Hitachi, o que gerou a fabricação de grandes lançamentos que

marcaram a empresa. A Philco lançou o 1º televisor com controle remoto sem fio, foi

a 1ª fábrica na América Latina a produzir integralmente transistores de silício,

colocando no mercado o 1º televisor transistorizado, o 1º televisor colorido em cores

portátil e o 1º em cores totalmente automático. Em 1989, uma notícia causou grande

Page 7: O humor na propaganda

12

repercussão nacional e internacional: o controle acionário da Philco é transferido

para o Grupo ITAÚ. Os anos 90 refletiram o compromisso Philco com a qualidade.

Em 1993, mais uma vez a Philco esteve à frente e se tornou a primeira empresa do

setor a conquistar uma certificação da série ISO 9000, que reconhece a qualidade

dos sistemas de produção de acordo com as exigências de padrões internacionais.

Em 1994, ou seja, apenas 1 ano depois, a Philco obteve a ISO 9001, a mais

completa e importante da série, abrangendo projeto, desenvolvimento, manufatura,

testes, comercialização e assistência técnica de televisores, videocassetes,

componentes magnéticos, placas de circuito impresso e ferramentaria. A Philco não

parou de crescer. Em 1995, uma nova e importante marca: 15 milhões de televisores

produzidos. A empresa, definitivamente, passou a ser uma das empresas líderes no

mercado de eletroeletrônicos.

Em 1996 lançou o histórico filme publicitário, criado pela agência F/Nazca,

onde as famosas formiguinhas voadoras eram as protagonistas do comercial para a

divulgação da linha de som Applause.

Três anos depois, ela se junta a um seleto grupo de fabricantes mundiais,

lançando sua linha de televisores de Plasma e LCD. Em 2005 a Gradiente compra a

Philco, formando a maior empresa brasileira de eletrônico. No ano seguinte

apresenta sua nova identidade visual, slogan ("Pensando bem, Philco") e campanha

publicitária, além de anunciar o lançamento de 30 produtos até o final desse ano.

Com essas ações, reforçou o posicionamento de ampliar seu portfólio nas categorias

de TV, portáteis, DVD e home theater.

Em 2007, a marca foi vendida para um grupo de investidores brasileiros e

licenciada para a Britânia Sound e Vision que vende home theathers, auto-rádios e

aspiradores de pó com a marca Philco.

2.1.1 As formiguinhas da Philco

Em 1995, a agência F/Nazca criou o comercial “Formiguinhas” para o seu

cliente Philco, a fim de lançar a nova linha Applause Philco. O filme utilizou uma

aventura visual cheia de humor para mostrar toda a potência da nova linha de som.

Além disso , ainda conta com um elemento surpresa, já que de início o telespectador

não sabe porque as formigas estão sendo arremessadas para longe e ainda

parecem gostar do que está acontecendo.

Page 8: O humor na propaganda

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Filme “Formiguinhas”. Veiculado em 1995.

O filme teve a criação de Fábio Fernandes e direção de Sérgio Arnon da Zero

Filmes e conquistou alguns dos mais importantes prêmios da propaganda brasileira

e mundial: Leão de Ouro no Festival de Cannes, Grand-Prix de Mercado no Prêmio

Profissionais do Ano, ouro no Prêmio Colunistas, ouro no 21º Anuário do Clube de

Criação de São Paulo, entre outros.

No final da década de 90, a revista francesa CB News se referiu ao filme

como uma grande lição de humor e simplicidade com tempero brasileiro. A revista

elegeu a campanha da W/Brasil para a Bombril, junto com o filme “Formiguinhas”

como um dos melhores trabalhos publicitários do século XX.

O filme teve uma grande repercussão na população brasileira, pois liderou por

um bom tempo as pesquisas de recall dentro da categoria aparelhos de som e

multiplicou as vendas do produto. Além disso, incomodou até protetores dos direitos

dos animais e motivou a realização de muitos trabalhos acadêmicos.

Uma pesquisa realizada pela acadêmica da Universidade Metodista, Letícia

Maria Pinto da Costa, anos depois da veiculação do filme, mostrou que as pessoas

lembravam-se do comercial, sabiam que o produto era um aparelho de som, mas

não o associavam à marca. Ela ressalta que ao final do filme, tanto o nome do

produto quanto a marca são anunciados por recursos sonoros, através da locução:

“Nova linha Apllause da Philco. Isso não é um som, é um tapa na orelha.” Os

recursos visuais, que poderiam reforçar a memorização da mensagem, não são

explorados no anúncio.

Em seu projeto de pesquisa, Letícia entende que o filme “Formiguinhas” tem

uma excelente memorização do público, mas não está muito bem associado à

marca Philco por parte dos receptores da mensagem.

Page 9: O humor na propaganda

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Não há dúvida. Apesar do enorme sucesso, o filme “Formiguinhas” não

atingiu todos os objetivos propostos. O filme gerou muitas vendas de aparelhos de

som, mas não chamou a atenção do receptor para o produto e para a marca.

2.2 Gradiente

A empresa Gradiente atua nos segmentos de áudio e vídeo, informática,

telecomunicações e segurança, combinando diversificação, inovação, excelência e

tecnologia de última geração. Possui uma variedade de produtos e serviços que são

identificados pelo consumidor brasileiro como sinônimo de qualidade e pioneirismo.

Sempre em busca de mercados em expansão para ampliar a atuação da marca, a

empresa conta com parceiros globais líderes de mercado.

Desde o início de 2007 , a Gradiente enfrenta uma grave crise econômica,

com uma dívida estimada em R$ 280 milhões. Devido a crise, a empresa suspendeu

temporariamente o atendimento de alguns postos autorizados devido a pendencia

de peças para reparo. Conforme proposta de reestruturação apresentada a

credores, a empresa pretende a partir do inicio de 2009, apresentar sua nova linha

de produtos e já ter retomado 100% das atividades de sua fábrica em Manaus.

2.2.1 Campanha de posicionamento da linha Energy

Em 1998, a Gradiente lançou um filme muito criativo e vencedor de prêmios.

Com o título de “Leds”, o comercial foi criado pela Y&R Brasil e tinha como objetivo o

posicionamento da linha Energy no segmento de aparelhos de som potentes. Uma

nova abordagem bem-humorada e inesperada na propaganda brasileira para

divulgar um produto direcionado aos jovens.

O rapaz chega em seu apartamento, coloca aquele cd de rock num aparelho

de som Gradiente no último volume e faz o prédio inteiro acordar.

Nesse momento, os vizinhos acendem as luzes e as janelas do prédio

remetem ao efeito de um equalizador conforme a batida da música.

Page 10: O humor na propaganda

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Filme “Leds” da Gradiente. Veiculado em 1998.

Toda essa excelente idéia tem a mesma essência utilizada no comercial das

formiguinhas: aventura visual e bom humor que atraem a atenção do público para o

entendimento de mensagem.

Produzido pela produtora Jodaf, o filme conquistou os júris dos mais

importantes festivais de propaganda do Brasil e do exterior e ganhou o Leão de

Ouro no Festival de Cannes de 1998.

Além dos prêmios, a Gradiente teve os seus objetivos principais alcançados.

As vendas da linha Energy ultrapassaram as expectativas e a empresa alcançou

uma posição de destaque na mente dos consumidores. Isso torna possível

compreender novamente que o uso do humor para divulgar esse tipo de produto é

uma fórmula que dá resultados se for bem estruturada.

2.3 Aiwa

A empresa foi fundada em 1951 no Japão como Aiko Denki Sangyo

Company, produzindo equipamentos de áudio. Em 1959 a empresa trocou seu nome

para AIWA Company. O nome Aiwa tem som semelhante às palavras em japonês AI

(Amor) e WA (Harmonia). Em 1980 introduziu no mercado o TP-S30, um fone de

ouvido estéreo. Quatro anos depois inaugurou seu centro tecnológico. No ano de

1988 lançou no mercado o modem para uso profissional. Em 1991 trocou o logotipo

da empresa com o nome aiwa passando a ser escrito em letras minúsculas. No ano

2000, ela introduziu no mercado o primeiro aparelho de gravação compacto para

formato MP3. No ano seguinte lançou o menor e mais leve aparelho compacto de

MD. No ano de 2002 a empresa se integrou totalmente com o Grupo Sony.

Page 11: O humor na propaganda

16

2.3.1 Aiwa – “Another one bites dust”

Esse filme criado pela agência FNL Communications para a empresa Aiwa

mostra um motorista jovem, que ao entrar no seu carro, coloca um cd, com uma

música muito animada, a qual intitula essa peça.

Mas, ao transitar com o seu carro causa muita estranheza aos outros

motoristas. Ele é saudado e recebe muitas caras e bocas, às vezes de satisfação

outras de contrariedade. Mesmo assim, ele continua a dirigir seu carro sob o olhar

de questionamento até mesmo da pessoa que está ao seu lado.

Mais um giro da câmera mostra o porquê destes olhares de repulsa. O carro

que o jovem motorista dirige é um carro funerário e está à frente de um cortejo

fúnebre.

“Another one bites dust”. Veiculado em 1996 nos Estados Unidos.

O filme em questão foi veiculado no ano de 1996 pela Aiwa nos EUA, e até

hoje é lembrado por muitas pessoas. O que nos faz pensar que o anunciante

conseguiu o seu objetivo. Porque hoje após quase 10 anos de sua veiculação ele é

lembrado como um das 10 campanhas de TV com maior share dos EUA.

Essa escolha chocou muito o publico americano, não acostumado a ver a

morte de maneira engraçada. A defesa da Aiwa para isso é que em momento algum

foi mostrado um corpo ou coisa parecida e foi veiculado no site oficial da marca para

o mercado norte americano.

A princípio a marca temia esse tipo de publicidade negativa, e chegou a vetar

a transmissão do comercial por alguns dias, fato que foi revertido dias depois.

Esse tipo de campanha no lançamento de uma linha de produtos poderia ser

desastrosa para uma marca em um mercado tão tradicional quanto os Estados

Unidos, mas como podemos notar, a marca se manteve desde seu inicio e a linha de

Car Stereo continuou na ativa até os dias de hoje.

Page 12: O humor na propaganda

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3 COMPARATIVO SOBRE O USO DO HUMOR

O bom-humor é um dos pontos principais da segunda campanha da agência

Africa criada para a empresa Gradiente. Lançada em 2005 com o tema Gradiente É

isso aí, cada um dos filmes mostra uma situação cotidiana e destaca uma das linhas

da marca.

Uma das novidades da campanha foi a participação de Luciano Huck como

garoto-propaganda do novo DVDokê Gradiente. O filme inicia com um garotinho

cantando no DVDokê, e logo em seguida, ele puxa a perna do apresentador numa

loja de eletroeletrônicos, em frente a um DVDokê Gradiente, dizendo: "Pai, pai... Eu

quero um DVDokê Gradiente!".

Quando o garoto se dá conta de que na verdade trata-se do Luciano Huck,

conta ao pai que estava com um pão duro que não queria dar o DVDokê de presente

para ele.

A Gradiente investiu três milhões de reais na parceria para garantir que o

consumidor tenha à disposição o melhor em qualidade e tecnologia, além de

oferecer um produto diferenciado e inovador, com a qualidade inigualável do DVD.

Esta campanha obteve um grande retorno e repercussão em função do

grande sucesso desse segmento, impulsionado pela crescente demanda para o

lazer doméstico, por ter a participação de uma pessoa famosa, utilizando o humor e

consolidando o posicionamento da marca por meio de uma linguagem jovem e

divertida com tom moderno e descontraído. De uma forma clara, mostrou ao

consumidor as razões para escolher os produtos Gradiente.

Já a campanha das Formiguinhas da Philco liderou por um bom tempo as

pesquisas de recall dentro da categoria aparelhos de som e multiplicou as vendas do

produto, além disso, incomodou até protetores dos direitos dos animais. Mas,

pesquisa realizada após a Campanha, mostrou que as pessoas se lembravam do

comercial, sabiam que o produto era um aparelho de som, mas não o associavam à

marca Philco.

No final do filme “Formiguinhas”, tanto o nome do produto quanto a marca são

anunciados por recursos sonoros, através da locução: “Nova linha Applause Philco.

Isso não é um som, é um tapa na orelha.” Os recursos visuais, que poderiam

reforçar a memorização da mensagem, não são explorados no anúncio.

Page 13: O humor na propaganda

18

4 PEDIDO DOS PROFESSORES

Conforme a solicitação de alguns professores é apresentada a seguir a

integração de suas respectivas disciplinas segundo o contexto da pesquisa sobre o

humor na propaganda.

4.1 O humor na propaganda e a percepção histórica nas artes (Profᵃ. Miriam)

A partir do momento em que a propaganda se tornou comercial para se

integrar a economia como um meio de informação, sua aproximação com a arte

influenciou diretamente na maneira de se transmitir uma mensagem. Isso permitiu o

uso de influências artísticas que são vistas até hoje na propaganda, tão essenciais

para a composição de anúncios fundamentados num contexto de arte.

A escola francesa de cartazistas do final do século XIX é um grande exemplo

de como a arte pode dar novo sentido à propaganda. Muitos artistas importantes da

pintura como Gaudí, Montant, Nevil, entre outros, foram chamados para criarem

cartazes que divulgariam os primeiros eventos comerciais da indústria de

automóveis.

Ainda não podemos esquecer Toulouse-Lautrec, principal responsável pela

ascensão do cartaz como peça publicitária nos tempos do Moulin Rouge.

No Brasil, a união da propaganda com a arte evoluiu com o desenvolvimento

dos meios de comunicação, acompanhando o processo de transformação do país

com a chegada das multinacionais.

A arte sempre foi um dos grandes instrumentos da propaganda e publicidade.

Curiosamente, com o passar do tempo ficou claro para todos que a arte e a

propaganda sempre andavam de mãos dadas na construção das peças. A arte

tornava a propaganda agradável e a propaganda estimulava a popularidade da

forma ou o estilo de arte.

Nas peças que se utilizam do humor como linha criativa é muito comum

observarmos a influência das artes para a composição dos anúncios. Há bons

exemplos na propaganda brasileira que revelam essa aproximação das artes com

muito humor, criatividade e equilíbrio.

Em anúncio para a mídia impressa criado pela agência W/Brasil para a

empresa Bombril, é perceptível a inspiração bem-humorada na direção de arte

Page 14: O humor na propaganda

19

baseada na vanguarda modernista do começo do século, nesse caso, o Cubismo de

Pablo Picasso. O anúncio associava a obra de Picasso com os produtos de limpeza

da Bombril, e ainda reforçava com a frase: “Gênio na arte de limpar”. Um anúncio

muito criativo e bem produzido.

Anúncio da Bombril

Na mitologia grega, Hermes ficou conhecido por sua agilidade, inteligência e

espírito aventureiro. Em anúncio criado para a Honda, a agência Fischer América

utilizou a figura de Hermes, associando a velocidade da moto Honda com a

agilidade e rapidez de Hermes.

Anúncio da Honda

Em outro anúncio da Bombril, a agência W/Brasil desenvolveu um anúncio

baseado numa das obras mais conhecidas e privilegiadas da história da arte, a

Monalisa de Leonardo da Vinci. Uma peça que evidenciava o produto como o

responsável em deixar as roupas como uma perfeita obra-prima.

Page 15: O humor na propaganda

20

Anúncio da Bombril

A propaganda brasileira adotou muitas formas de expressões artísticas. Uma

delas pode ser vista no anúncio abaixo para o sabonete Vinólia. Na peça se vêem as

pinceladas características de Van Gogh na pintura das curvas de um corpo feminino.

A propaganda apresenta as características do pós-impressionismo: se olhada de

perto, a figura não tem definição; somente à distância ela nos mostra a sua forma.

As pinceladas e as cores fortes utilizadas também caracterizam os traços de Van

Gogh.

Anúncio do sabonete Vinólia

A exposição da arte e do humor na propaganda pode representar o diferencial

na escolha da compra de um produto, pois a sua identificação com o público revela

o prazer que o consumidor obtém por meio da estética refinada, associada a um

humor inteligente e digno de uma obra de arte.

Page 16: O humor na propaganda

21

4.2 Criação de anúncio para revista e outdoor (Profᵃ. Isa de Lucca)

De acordo com o pedido da Professora Isa de Lucca, apresentamos a seguir

o layout das criações solicitadas, seguidas de suas respectivas justificativas.

4.2.1 Anúncio de revista (página dupla)

A peça desenvolvida para o anúncio de revista segue o mesmo conceito do

filme “Formiguinhas”, veiculado em 1995. Preservamos a formiguinha a fim de que

ela seja associada ao filme, mas demos um tratamento especial em 3D para que ela

transmita mais vida e tenha expressão facial. Isso ajuda no entendimento de que ela

gosta muito do micro-system Philco.

As rachaduras na parede fazem uma alusão ao receptor da mensagem de

que a formiguinha já foi lançada muitas vezes pela potência do som e bateu diversas

vezes no mesmo local, ocasionando as rachaduras. Essas rachaduras ao lado

direito da formiguinha direcionam o olhar diretamente para o logo da Philco e o seu

slogan. Elas são inspiradas no Cubismo de Pablo Picasso.

Page 17: O humor na propaganda

22

Utilizamos a frase “Tem coisas que a gente só entende na base da pancada”

para reforçar a idéia de que ao ouvir o som do micro-system Philco você entende

que ele é muito potente por causa das pancadas que ele dá. O fato de a formiguinha

bater com a cabeça diversas vezes na parede também demonstra que ela também

entendeu a potência do micro-system Philco na base de muita pancada e gostou

tanto que até rachou a parede nos vôos que ela foi lançada pela potência do som.

A palavra “pancada” caindo aos pedaços e se despedaçando é uma forma

subliminar de direcionar a leitura para o logo e slogan da Philco localizados na parte

inferior direita da segunda página.

O nome Philco é citado diversas vezes no anúncio para fixar a empresa pela

repetição. É uma prioridade para evitar que o produto não seja associado à marca,

conforme o acontecido com o filme. A linha vermelha tem a cor vermelha para

associar o logo da empresa.

Utilizamos a mesma assinatura da campanha antiga: “Nova linha applause

Philco. Isso não é um som, é um tapa na orelha”, para que o receptor da mensagem

se lembre da campanha e assimile as formiguinhas ao produto.

A linha vermelha na parte inferior é usada para associar a cor ao logo da empresa.

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4.2.2 Outdoor

O outdoor elaborado possui os mesmos aspectos do anúncio de revista.

Porém, há uma diferença bem visível adequada a esta mídia exterior.

O cenário utilizado é o de uma construção onde o outdoor está rachado e

quebrado devido ao conceito da frase “Tem coisas que a gente só entende na base

de pancada”. O guindaste ergue a parte quebrada, dando a impressão que a formiga

também bateu diversas vezes no mesmo local porque também foi lançada pela

potência do micro-system Philco. O guindaste segura esta parte quebrada e também

reforça o conceito da frase.

O micro-system foi colocado próximo ao logo da empresa e a assinatura de

campanha para que todos os elementos sejam destacados numa unidade. Isso

também é devido ao objetivo de associar à imagem do produto a empresa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi considerado ao final deste trabalho que o uso do humor na propaganda é

uma das estratégias mais eficazes para atrair a atenção do target, estimulando-o ao

entendimento da mensagem. Pode-se dizer que a publicidade apóia o uso da

emoção e do humor com o intuito de causar impacto, agregar valores à

personalidade de uma marca e ainda fixar na mente dos consumidores o

posicionamento de um produto.

De maneira geral, percebe-se que um dos fatores que motivam essa

crescente utilização do humor é decorrente do estresse que o mundo vive. Ao

transmitir alegria em um anúncio, a propaganda alivia todo o sentido trágico da vida

e proporciona uma sensação de felicidade. Por um momento, as pessoas podem

viver um sonho de consumo. Se as pessoas recebem uma informação séria e

arrogante no momento em que estão lendo uma revista ou assistindo televisão de

uma forma mais relaxada, a tendência é que haja uma dispersão e desinteresse pelo

o que está sendo dito. Porém, se a mensagem for mais leve e bem-humorada o

interesse das pessoas será bem maior.

No entanto, de acordo com a opinião de grandes nomes da publicidade, o

humor é uma ferramenta muito difícil de trabalhar. Os publicitários devem usá-lo com

muito cuidado e inteligência. Existem limites que se quebrados podem acabar com a

campanha e ainda prejudicar a imagem do produto.

Além de gerar as vendas de um produto, o humor na propaganda pode criar

uma história, conforme foi evidenciado no trabalho por meio da análise de filmes

publicitários de empresas como Aiwa, Philco, e Gradiente. São exemplos que

definitivamente reforçam a idéia de que o humor precisa ser trabalhado com

inteligência e em sintonia com todas as premissas de um anunciante. Isso faz com

que a marca ocupe uma posição de destaque na mente dos consumidores por muito

mais tempo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÉSAR, Newton. Direção de arte em propaganda. Brasília: Editora Senac – DF,

2006.

VIEIRA, Stalimir. Raciocínio criativo na publicidade. São Paulo: WMF Martins

Fontes, 2007.

FEDRIZZI, Alfredo. O humor abre corações e bolsos. São Paulo: Editora Negócio,

2003.

Documentos em meio eletrônico

Hora do Reclame. As formiguinhas da Philco.

Disponível em <http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/427.html>.

Acesso em 19/10/08.

Gradiente. Campanha de posicionamento da linha Energy.

Disponível em <http://www.brainstorm9.com.br>. Acesso em 19/10/08.

Sobre a Gradiente.

Disponível em<http://www.gradiente.com/site/empresa/>. Acesso em 26/10/08.

Aiwa. Another one bites dust.

Disponível em <http://www.turboowners.com/forum/general-chat/414-aiwa-

commercial-> Acesso em 26/10/08.

Arte e Propaganda.

Disponível em <http://mesquita.blog.br/publicidade-arte-e-propaganda. Acesso em:

25/10/08.

“Leds”, Gradiente. Disponível em <http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/>

Acesso em: 26/10/08.

O Humor na propaganda como ferramenta de persuasão.

Disponível em http://www.webartigos.com/articles/6893/1/o-humor-na-propaganda-

como-ferramenta-de-persuasao/pagina1.html>. Acesso em 25/10/08.

O Humor sem frescuras.

Disponível em <http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/88edicao/.htm>

Acesso em: 25/10/08.