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O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL DO REGIME MILITAR ÀS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XXI: AUTORITARISMO, RECONSTRUÇÃO E ESPERANÇA QUE SE ADIA Emina Santos (UFPA) Alberto Damasceno (UFPA) RESUMO O processo de planejamento educacional desde a década de 70 até nossos dias, comumente esteve atrelado a objetivos ideológicos e econômicos em prejuízo de uma concepção ampla, articulada e sistêmica. Hoje ainda enfrentamos as consequências dos longos períodos de descaso, de ideais mercadológicos do ensino e da propalada “falta de vontade política”. Com o advento do novo plano nacional de educação, após o primeiro ano de sua vigência como lei, constatamos que algumas metas não foram realizadas dentro do prazo determinado, enquanto outras, com o prazo próximo do fim, continuam sem perspectivas de efetivação, o que amplia exponencialmente a chance de ações essenciais previstas no plano e construídas coletivamente pela sociedade brasileira não serem executadas conforme o planejado. Em que pesem os avanços conquistados, a gigantesca tarefa de criar e transformar para melhor nosso sistema educacional, integrando os três níveis de governo e a sociedade organizada no contexto de um Regime de Colaboração, além de desafiadora, continua a se desenhar como uma esperança que se adia. PALAVRAS-CHAVE: Política Educacional; Planejamento da Educação; Reformas Educacionais; Plano Nacional de Educação. ABSTRACT The process of educational planning, since the 70s until today has been commonly linked to ideological and economic goals rather than a wide, articulated and systemic design. Today we still face the consequences of long periods of neglect, marketing ideals of teaching and vaunted "lack of political will." With the advent of the new national education plan, after the first year of its validity as a law, we find that some goals were not performed within the specified time, while others, with a deadline, remain without effecting prospects, which exponentially increases the chance of key actions in the plan and collectively built by Brazilian society be not executed as planned. In spite of the advances made, the gigantic task of creating and turning for the better our educational system, integrating the three levels of government and the organized society in the context of a Collaboration System, besides challenging, continues to emerge as a hope postponed. KEYWORDS: Educational Policy; Educational Planification; Educacional Reforms; Nacional Plan of Education. Vendo embora com outros olhos a realidade, múltipla e complexa, porque ela mudou e profundamente sob vários aspectos, e continuando

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O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL DO REGIME MILITAR ÀS PRIMEIRAS

DÉCADAS DO SÉCULO XXI: AUTORITARISMO, RECONSTRUÇÃO E

ESPERANÇA QUE SE ADIA

Emina Santos (UFPA)

Alberto Damasceno (UFPA)

RESUMO

O processo de planejamento educacional desde a década de 70 até nossos dias, comumente

esteve atrelado a objetivos ideológicos e econômicos em prejuízo de uma concepção ampla,

articulada e sistêmica. Hoje ainda enfrentamos as consequências dos longos períodos de

descaso, de ideais mercadológicos do ensino e da propalada “falta de vontade política”. Com

o advento do novo plano nacional de educação, após o primeiro ano de sua vigência como

lei, constatamos que algumas metas não foram realizadas dentro do prazo determinado,

enquanto outras, com o prazo próximo do fim, continuam sem perspectivas de efetivação, o

que amplia exponencialmente a chance de ações essenciais previstas no plano e construídas

coletivamente pela sociedade brasileira não serem executadas conforme o planejado. Em que

pesem os avanços conquistados, a gigantesca tarefa de criar e transformar para melhor nosso

sistema educacional, integrando os três níveis de governo e a sociedade organizada no

contexto de um Regime de Colaboração, além de desafiadora, continua a se desenhar como

uma esperança que se adia.

PALAVRAS-CHAVE: Política Educacional; Planejamento da Educação; Reformas

Educacionais; Plano Nacional de Educação.

ABSTRACT

The process of educational planning, since the 70s until today has been commonly linked to

ideological and economic goals rather than a wide, articulated and systemic design. Today

we still face the consequences of long periods of neglect, marketing ideals of teaching and

vaunted "lack of political will." With the advent of the new national education plan, after the

first year of its validity as a law, we find that some goals were not performed within the

specified time, while others, with a deadline, remain without effecting prospects, which

exponentially increases the chance of key actions in the plan and collectively built by

Brazilian society be not executed as planned. In spite of the advances made, the gigantic task

of creating and turning for the better our educational system, integrating the three levels of

government and the organized society in the context of a Collaboration System, besides

challenging, continues to emerge as a hope postponed.

KEYWORDS: Educational Policy; Educational Planification; Educacional Reforms;

Nacional Plan of Education.

Vendo embora com outros olhos a realidade, múltipla e complexa, –

porque ela mudou e profundamente sob vários aspectos, – e continuando

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a ser homens de nosso tempo, partimos do ponto em que ficamos, não para

um grito de guerra que soaria mal na boca de educadores, mas para uma

tomada de consciência da realidade atual e uma retomada, franca e

decidida, de posição em face dela e em favor, como antes, da educação

democrática, da escola democrática e progressista que tem como

postulados a liberdade de pensamento e a igualdade de oportunidades

para todos. (Manifesto “Mais uma vez convocados”).

Ao lado de um amplo debate sobre o desenvolvimento de um plano educacional que fizesse

jus à grandeza do desafio de organizar adequadamente a educação nacional, observou-se a

difusão de uma concepção nacional-desenvolvimentista que impactou decisivamente a

elaboração dos planos educacionais, consolidando-se a lógica tecnocrata no exercício da

coordenação e planejamento educacionais, principalmente a partir da instauração do Regime

Militar implantado a partir de 1° de abril de 1964.

Tal caráter mais tecnocrata foi explicitado na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional nº 5.692/71, que instituiu o ensino técnico em todo o

país, tanto na rede pública quanto na rede privada, independentemente da

classe social. Foi também a partir desta Lei que a União transferiu mais

responsabilidades aos municípios no sentido de se tornarem mais eficientes

quanto à utilização dos recursos públicos destinados à educação,

especialmente em relação ao 1º grau (hoje Ensino Fundamental), que

passou a ser formalmente responsabilidade dos municípios. Assim,

podemos inferir que, mesmo contraditoriamente, foi a partir da Lei

5.692/71, pensada nos moldes centralizadores e tecnocratas, que ocorreu o

primeiro passo, embora singelo, para o processo de descentralização da

educação no país. Todavia, a criação dos sistemas de ensino ainda ficou a

cargo dos estados, do Distrito Federal e da União. (OLIVEIRA: 2014, 7).

Em que pese sua preocupação com ações mais permanentes, os governos do Regime Militar

se utilizaram de ações provisórias como meio de resolver problemas seculares resultantes do

longo período de descaso e negligência para com a situação da educação nacional. Assim

surgiram o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que visava a erradicar o

analfabetismo de jovens e adultos do país, e a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE)

que tinha o objetivo de apoiar o estudante por meio de programas de merenda escolar e

aquisição de material didático. Cabe ressaltar, no entanto, que referido Regime enfatizou o

planejamento central como instrumento de governo, cujas ações partiam da esfera decisória

central (União) para os Estados e Distrito Federal, de modo que a cada planejamento global

corresponderia um planejamento setorial, por área de atuação. (ver VIEIRA e FARIAS:

2011, 165).

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Tanto é verdade que, em seguida à Reforma do Ensino de 1°e 2° graus, a Ditadura inaugura

a fase dos planos de desenvolvimento. Segundo Bordignon o I Plano Nacional de

Desenvolvimento – I PND (1972-1974) correspondeu ao período do “milagre brasileiro”,

cujo presidente era o General Emílio Garrastazu Médici. Dentre seus principais objetivos

estavam “elevar o Brasil, no espaço de uma geração, à categoria de nação desenvolvida;

duplicar, até o final da década, a renda per capita; e fazer a economia crescer entre 8 e 10%

até o final do Plano”. (2011; 11, 13). Mantendo a coerência com o PND, o I Plano Setorial

de Educação e Cultura – I PSEC para o mesmo período, tinha caráter economicista e estava

constituído por 10 programas e 21 projetos. (idem).

Concebido e executado em um período de fortes dificuldades econômicas, o II Plano

Nacional de Desenvolvimento – II PND (1975-1979), segundo Bordignon, “foi elaborado

sob o impacto das crises do petróleo e monetária internacional, com tensões econômicas em

âmbito mundial e, por isso, foi voltado para o homem brasileiro nas suas diferentes

dimensões e aspirações.” (2011, 15). Seu objetivo principal era o aumento da mão de obra

qualificada, tendo em vista municiar a produção para o atendimento das exportações e do

mercado interno.

No que se refere ao II Plano Setorial de Educação e Cultura – II PSEC, vinculado a este

PND, Bordignon explica que, além de uma visão sintética do panorama cultural na qual se

avaliam os avanços do plano anterior, “na segunda parte, definia os objetivos gerais e

específicos para cada etapa e nível de educação e as estratégias globais e específicas para

alcançá-los. Na parte III apresentava a programação detalhada das ações estratégicas.”

(2011, 15).

As crises econômicas mundiais das décadas de 70 e 80 afetaram fortemente o processo de

desenvolvimento nacional, até então considerado um “milagre”. Tanto a desregulamentação

do sistema monetário internacional como a crise petrolífera de 1973, fizeram com que o

Brasil sofresse com bastante intensidade os reflexos dos desastres internacionais. A situação

se agravou ainda mais por ocasião da segunda grande crise do petróleo em 1979 quando os

seguidos aumentos dos preços dos combustíveis no mercado interno provocaram a

aceleração inflacionária. Com o flanco da economia fatalmente aberto, o Regime Militar

começou a dar mostras de cansaço ao mesmo tempo em que os movimentos sociais

renovavam sua força e capacidade de organização e mobilização.

É nesse cenário que se processa a elaboração do III Plano Nacional de Desenvolvimento –

III PND (1980-1985), que acontece em paralelo às vigorosas manifestações em defesa das

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eleições diretas para presidente e ao processo de abertura política. Bordignon cita como seu

objetivo síntese “a construção de uma sociedade desenvolvida, equilibrada e estável, em

benefício de todos os brasileiros, no menor prazo possível” (2011, 15-16). Por seu turno, o

III Plano Setorial de Educação e Cultura – III PSEC para o mesmo período

foi elaborado a partir da realização em Brasília, em julho de 1979, de um

seminário sobre política e planejamento da educação e cultura, com a

participação dos secretários de educação e cultura das unidades federadas.

A ele seguiram-se os encontros nacionais de planejamento realizados em

Manaus, Natal, Goiânia, Vitoria e Florianópolis nos meses de agosto a

setembro do ano de 1979, quando foram identificados os desafios a

superar. (BORDIGNON: 2011, 15-16).

Em meados da década de 1970, segundo Loureiro, retorna o “debate sobre a vinculação de

parte da receita de impostos para manutenção e desenvolvimento do ensino, que culmina,

em 1976, com a apresentação, pelo Senador João Calmon, membro da Comissão de

Educação do Senado, de proposta de vinculação”. (LOUREIRO, 2010, sp). Entretanto, é

somente na década de 1980, já no contexto da abertura política, que o Congresso Nacional

aprova a Emenda Constitucional 24/83, que teve o nome do Senador que a apresentou e que

estabelecia a vinculação de recursos da União em 13% e de Estados, Distrito Federal e

Municípios em 25%. Infelizmente, referida emenda, aprovada em 1983, só se efetivou em

1986. (LOUREIRO, 2010, sp).

Sem forças para fazer frente ao vigor das manifestações da Sociedade Civil a Ditadura

acabou perecendo. O marco final de seu ocaso foi a eleição indireta — no Congresso

Nacional — de um candidato moderado e de centro: Tancredo Neves. Após sua eleição,

Tancredo faleceu em circunstâncias ainda duvidosas, assumindo a presidência seu vice, José

Sarney.

O regime que emerge a partir do fim da ditadura, denominado “Nova República”, tinha

como maior desafio a reestruturação do arcabouço político jurídico do país, no sentido da

reconstrução dos aparatos democráticos. É nesse contexto que foi elaborado, sob a

coordenação do ministro de planejamento do governo Sarney, João Sayad, o I Plano

Nacional de Desenvolvimento da Nova República – I PNDNR (1986-1989) que, segundo

Matos, se concentrou nos seguintes aspectos: crescimento econômico; combate à pobreza,

às desigualdades e ao desemprego; educação, alimentação, saúde, saneamento, habitação,

previdência e assistência social; justiça e segurança pública. (MATOS: 2002, 72).

Esse período se fecha com a promulgação da chamada “Constituição Cidadã”, de 1988 cuja

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relação com o Plano Nacional de Educação se pronuncia explicitamente no artigo 212, no

qual estabelece os percentuais que União, Estados, Distrito Federal e Municípios deverão

aplicar na manutenção e desenvolvimento do ensino nos termos do plano nacional de

educação.

Em seguida, a Carta Magna determina em seu artigo 214 que deve haver um plano nacional

de educação, “de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de

educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de

implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos

níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das

diferentes esferas federativas”. (BRASIL, 1988). Complementando o caput do artigo, o

texto relaciona as metas a serem perseguidas pelo plano:

I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento

escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o

trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI -

estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação

como proporção do produto interno bruto. [Incluído pela Emenda

Constitucional nº 59, de 2009].

A Constituição de 1988, no capítulo referente à educação, foi fortemente influenciada pelo

Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP), criado em 1986, agregando várias

entidades científicas, sindicais e de classe1, todas mobilizadas no sentido da construção da

redemocratização da sociedade brasileira. Ressalte-se que nos artigos 211, 214 e 216 da

Constituição, está configurado um importante instrumento para viabilizar a execução de

competências comuns por parte dos entes federados: o Regime de Colaboração2.

Importante destacar que, antes mesmo da lei maior da educação (LDB), do plano nacional,

ou de qualquer outra iniciativa de construção legal, é uma lei referente aos direitos da Criança

e do Adolescente (Lei 8069/1990) que inaugura a década da reconstrução educacional pós

Constituição de 88, destinando, inclusive, um capítulo inteiro para essa temática3.

Três anos após, foi editado o Plano Decenal de Educação para Todos, que se caracterizava

como um ‘‘conjunto de diretrizes de política em processo contínuo de atualização e

negociação, cujo horizonte deverá coincidir com a reconstrução do sistema nacional de

educação básica.” (BRASIL: 1993, 15). A proposta pretendia que as referidas diretrizes

servissem de referência e fundamentos para os planos estaduais e municipais e que suas

metas fossem, posteriormente, “detalhadas pelos Estados, pelos Municípios e pelas escolas,

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elegendo-se, em cada instância, as estratégias específicas mais adequadas a cada contexto e

à consecução dos objetivos globais do Plano” (Idem).

Outro marco da época foi a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB

(Lei nº 9.394/96), que representou um importante momento de retomada do debate acerca

da construção de uma educação emancipatória no país.

Criado para atuar junto à Constituição Federal, em defesa da educação pública e gratuita, o

Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública retornou à luta, agregando forças para garantir

uma Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional que estivesse em consonância com

os interesses da maioria da população. Por meio da realização de diversos eventos sobre o

assunto em diferentes estados, o Fórum construiu a base de um projeto de lei que foi

atribuído ao Deputado Jorge Hage, que passou a ser conhecido como “Projeto da Sociedade

Civil”. No que se refere à tramitação no Congresso Nacional, infelizmente,

Após demoradas discussões, novas propostas e novos relatores, este

projeto sucumbiu, prevalecendo outro de origem do Executivo,

encaminhado via Senado, tendo como relator Darcy Ribeiro, e que veio a

ser aprovado constituindo a atual LDB (Lei nº 9.394/96). A nova LDB

disciplina as competências dos sistemas de ensino, em regime de

colaboração, – com liberdade de organização nos termos desta lei (§2º do

art. 8º) – e atribui à União a competência de elaborar o Plano Nacional de

Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios (inciso I do art. 9º). (BORDIGNON: 2011, 19).

Em 20 de dezembro de 1996, a sociedade brasileira recebia sua segunda Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional. Partindo da ampla premissa de que a educação abrange os

processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no

trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade civil e nas manifestações culturais, referida Lei se propõe disciplinar, em seu

artigo primeiro, a educação escolar que se desenvolve, predominantemente, por meio do

ensino, em instituições próprias. Educação escolar que deve estar vinculada ao mundo do

trabalho e à prática social. A LDB 9.394 também se propunha a subsidiar as ações que

precisavam ser desencadeadas para modificar o panorama caótico do sistema educacional

brasileiro àquela época. Uma dessas ações estava consignada no seu artigo 9º, inciso I, que

atribuía à União a incumbência de elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração

com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

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Uma iniciativa importante, referente ao planejamento educacional no âmbito das escolas, foi

a criação do PDE Escola. Embora concebido em 1997 a partir do Fundescola4 e circunscrito

até 2005 às unidades escolares de ensino fundamental localizadas nas regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste, nos últimos anos o programa se expandiu e em 2012 chegou a

contemplar mais de 13 mil escolas de todo país.

Seguindo determinação da LDB, o Congresso deu início à construção do Plano Nacional de

Educação para o decênio 2001-2010, deflagrando processo de fortes disputas, basicamente

a partir de duas perspectivas e concepções inconciliáveis e antagônicas de plano. Uma delas

ficou conhecida como sendo “Projeto da Sociedade Brasileira” enquanto a outra se

reconhecia como “Proposta do Poder Executivo”. Ambos os projetos explicitavam

perspectivas políticas e educacionais distintas, bem como diferentes prioridades. Após

intensos debates entre os parlamentares, inclusive com audiências públicas, obteve

hegemonia a proposta governamental. (Ver DOURADO, 2011, 25-26).

A maioria dos analistas do Plano Nacional de Educação 2001-2010, disposto por meio Lei

10.172, concorda que ele não se consubstanciou, efetivamente, em política de Estado,

configurando-se, no máximo, em instrumento de críticas à ausência de compromissos dos

governantes em relação ao enfrentamento efetivo das mazelas que assolam a educação

nacional há séculos.

O PNE aprovado não constituiu base e diretriz para políticas, planejamento

e gestão da educação nacional, nem foi acionado como tal pelos diferentes

segmentos da sociedade civil e da política brasileira. As entidades

educacionais, por exemplo, não efetivaram uma avaliação sistemática e

global do Plano e de sua concretização. Não houve movimento em defesa

ou pela reformulação do atual PNE pelas entidades educacionais, que, ao

contrário, advogaram, como estratégia política, em dado momento, a

revogação do Plano aprovado, por entenderem que esse dispositivo legal

não traduzia o esforço político conduzido pela sociedade civil, em

particular pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, e que não se

configurava como política de Estado, mas resultava de manobras

governamentais no seu processo de tramitação. (DOURADO: 2011, 30).

Findo o período dos governos neoliberais com a ascensão de um projeto democrático social

ao Poder Executivo em 2003 várias alterações começaram a ser produzidas.

(...) o governo democrático-popular iniciado por Lula reverteu

significativamente o processo de desinvestimento social que tinha

caracterizado o governo neoliberal do seu antecessor. De fato, durante os

dois governos de Fernando Henrique Cardoso, as políticas sociais sofreram

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cortes significativos, sobretudo aquelas de caráter universal, perseguindo a

focalização em grupos específicos e empurrando setores médios para o

mercado. A partir de 2003, as políticas públicas orientadas para promover

uma melhor distribuição de renda e o acesso dos mais pobres a uma ampla

esfera de direitos aumentaram significativamente. O aumento progressivo

e sistemático do gasto público social durante os dois governos do

presidente Lula é uma clara evidência disso, chegando a R$ 638,5 bilhões,

15,24% do Produto Interno Bruto (PIB). (GENTILI e OLIVEIRA, 13,

254).

Na esteira das mudanças, em 2008 o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

escolheu “Aprender” como o tema central para sua atuação no Brasil naquele ano.

“Aprendizagem como direito” foi o slogan de um esforço interinstitucional de Municípios,

Estados e União e o título do estudo que buscou identificar boas práticas educacionais

desenvolvidas pelos municípios brasileiros na área educacional. Uma das conclusões

reafirmava o já conhecido preceito de que o exercício da docência vai muito além do ensino

exclusivamente, comportando ações que tenham em vista a criação de ambientes de

aprendizagem para o estudante. As redes municipais de ensino abordadas tinham em comum

tanto a inserção em contextos de vulnerabilidade social quanto os resultados no Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) acima da média nacional e estavam situadas

em municípios de diferentes regiões do país, além de possuírem tamanhos variados, o que

deu uma dimensão nacional aos resultados.

No estudo, quando foram entrevistados gestores, diretores, coordenadores, docentes,

funcionários, familiares, comunitários e estudantes, buscou-se configurar “redes de

aprendizagem que desenvolvem boas práticas a partir de municípios que garantem o direito

de aprender”. Foram relacionadas 37 redes municipais5 que, segundo o trabalho,

influenciaram de fato no aprendizado dos alunos, já que o contexto sócio econômico foi

isolado da análise. Como prioridade nacional a educação básica de qualidade exigia que,

para além do comprometimento de gestores, técnicos e conselheiros da educação, as

comunidades educativas, compostas por pais, estudantes e profissionais da educação em

geral, atuassem conjuntamente na proposição e acompanhamento de alternativas que

fundamentem e consolidem a permanência e o sucesso do aluno na escola.

Para o cumprimento dessa meta, o Governo Federal lançou simultaneamente o Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE) e o Decreto n° 6.094 em 2007. O primeiro, de acordo

com o próprio documento fundante,

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oferece uma concepção de educação alinhada aos objetivos

constitucionalmente determinados à República Federativa do Brasil. Esse

alinhamento exige a construção da unidade dos sistemas educacionais

como sistema nacional — o que pressupõe multiplicidade e não

uniformidade. Em seguida, exige pensar etapas, modalidades e níveis

educacionais não apenas na sua unidade, mas também a partir dos

necessários enlaces da educação com a ordenação do território e com o

desenvolvimento econômico e social, única forma de garantir a todos e a

cada um o direito de aprender até onde o permitam suas aptidões e vontade.

(BRASIL, 07a).

O segundo dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela

Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com os outros entes federados,

inclusive as famílias, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando

a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. (BRASIL, 07b). De

acordo com o Decreto, a participação da União no Compromisso deverá se pautar pela

realização direta ou pelo incentivo e apoio à implementação de 28 diretrizes6 previamente

estabelecidas às quais Municípios, Estados e Distrito Federal deveriam aderir para fazer jus

a transferências voluntárias e a assistência técnica do Ministério da Educação (MEC) e do

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), assim como fazer o diagnóstico

da situação educacional do ente e elaborar seu Plano de Ações Articuladas (PAR).

Todavia, para que o PAR fosse elaborado coube aos gestores (governadores e prefeitos) a

assinatura do Termo de Adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e a

inserção de dados sobre sua realidade educacional em um sistema informacional –

inicialmente no sistema do Compromisso todos pela Educação (CTE), posteriormente

substituído pelo Sistema Integrado de Monitoramento do Ministério da Educação (SIMEC)

- concebidos e cedidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Por

meio deste último sistema, os municípios puderam realizar o diagnóstico da situação da sua

educação para, em seguida, construir os seus Planos de Ações Articuladas.

No âmbito das ações estruturantes do período em tela, ressalta-se a promulgação da Emenda

Constitucional N° 59, de novembro de 2009 e a realização da CONAE – Conferência

Nacional de Educação em 2010. A primeira, sem sombra de dúvidas, pode ser considerada

uma das mais importantes iniciativas legais da política educacional brasileira das últimas

décadas. Ela deu nova redação aos incisos I e VII do art. 208 da Carta Magna, de forma a

tornar obrigatória a educação básica por meio da universalização do ensino de quatro a

dezessete anos. Referida medida passou a ser regulada pela Lei 12.796 de 4 de abril de 2013,

garantindo a implementação progressiva da educação básica obrigatória até 2016.

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Resta esclarecer que antes de referida norma, o Estado brasileiro ofertava de forma

obrigatória somente a etapa do ensino fundamental, resguardando a oferta do ensino médio

a uma extensão progressiva. Com isso, no plano normativo e na organização dos sistemas

de ensino, ampliou-se o período de obrigatoriedade da educação básica de nove para 14 anos.

De forma incontestável, a médio prazo, esta medida, terá a capacidade de ampliação

cidadania ativa de crianças e adolescentes por meio de seu acesso ao mais fundamental dos

direitos humanos, a educação.

Por seu turno, a CONAE representou o coroamento de um amplo processo de debates que

se iniciou com a elaboração dos Planos de Ações Articuladas e as conferências municipais,

regionais e estaduais, constituindo uma extensa e consistente rede de discussão sobre a

educação nas diferentes esferas governamentais e territórios do país até chegarmos à

aprovação, pelo Congresso, da Lei 13.005, de junho de 2014, que estabelece o novo Plano

Nacional de Educação.

Com 20 metas distribuídas por temas como o acesso e garantias de direitos (1, 2, 3, 5, 6 e 9);

diversidade e combate à desigualdade (4 e 8); qualidade do ensino (7); formação técnica e

profissional (10 e 11); valorização dos profissionais da educação (15, 16, 17 e 18); educação

superior (11,13 e 14); gestão democrática (19) e; investimento e financiamento (20), o atual

Plano Nacional de Educação tem a pretensão de atender o disposto no artigo 214 da

Constituição Federal que lhe atribui o “objetivo de articular o sistema nacional de educação

em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de

implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos

níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das

diferentes esferas federativas”. (BRASIL, 14).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da década de 70 a sociedade brasileira testemunhou a experiência de um governo

autoritário e repressor, uma ditadura militar instalada ainda na década de 60. O período foi

inaugurado pela Lei 5.692, de 1971, que reformou a educação primária e secundária. Pouco

depois surgem os planos setoriais de educação acoplados aos planos plurianuais de

desenvolvimento. Em meados da década de 80 a eleição de um candidato civil para a

presidência da República (Tancredo Neves) dá fim à ditadura e inicia a chamada “Nova

República”, regime coroado com a promulgação da Constituição de 1988.

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Finalmente, na década de 90 e nas primeiras décadas do século XXI temos momentos de

forte mobilização e reconstrução democrática da sociedade civil e seus aparatos legais.

Tratava-se de uma fase que começa com a edição do Estatuto da Criança e do Adolescente

que assegura “com absoluta prioridade” a efetivação dos direitos referentes à educação.

Posteriormente é criado o “Plano Decenal Educação para Todos”, em 1993, e promulgada a

lei de diretrizes e bases em 1996. Tivemos o primeiro plano nacional, o plano de

desenvolvimento e o plano de ações articuladas. O período é concluído com a promulgação

da Lei 13.005, de junho de 2014, que estabelece o atual Plano Nacional de Educação, cuja

vigência vai até o ano de 2024.

Para o Regime militar, em especial, o planejamento educacional subordinou-se ao

planejamento macroeconômico, principalmente sob o ponto de vista da formação de mão-

de-obra necessária para a reprodução do capital. Júnior (1995) afirma, inclusive, que esse

“padrão altamente seletivo introduzido, seguindo o alto índice de exclusão social que marca

o modelo militar como um todo, foi maléfico sobretudo para o ensino fundamental, relegado

a segundo plano em função do maior interesse pelos demais (em particular a educação

universitária e a pós-graduação)”. (1995, 08). O que se constata, portanto, é a criação de

planos de educação atrelados a objetivos econômicos, seja por meio do controle de recursos

financeiros, seja em prejuízo de uma concepção ampla, articulada e sistêmica.

No campo do planejamento educacional, assim como em outros setores, o

planejamento esteve estritamente atrelado à meta do desenvolvimento

econômico, e não ao desenvolvimento social. Uma diretriz política de

caráter contencionista com relação ao ensino fundamental, que resultou na

diminuição, em termos relativos, do acesso da população à rede pública,

combinou-se com a prioridade dada à formação de mão-de-obra para o

mercado de trabalho emergente, com ênfase nos cursos secundários

técnicos e profissionalizantes, e na expansão desmedida do sistema

universitário público e privado. (JÚNIOR: 1995, 9).

Essas experiências históricas nos alertam para o fato de que a construção do novo Sistema

Nacional Articulado de Educação — que inicia a partir da promulgação de todo um

complexo legal que o normatiza, desde a promulgação da Constituição de 1988, até o atual

Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/14), passando pela Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional) —, exigirá um esforço não só do Estado mas, sobretudo, da

sociedade civil, no que tange à compreensão da necessidade e da importância da mobilização

popular e do exercício do controle social7 para a efetivação da melhoria da oferta de serviços

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educacionais no país por meio do uso mais profícuo e racional de recursos financeiros e

humanos.

A história do financiamento da educação no Brasil mostra que a vinculação

da receita para a educação cumpriu um papel importante para o setor

educacional. No entanto, isso ainda não garante que o recurso seja de fato

repassado para a educação e que o atendimento da população por meio de

uma educação pública de boa qualidade esteja garantida. (LOUREIRO,

2010, sp).

Na verdade, a garantia da educação como direito de crianças e adolescentes tem uma ligação

estreita com o financiamento público das atividades de manutenção e desenvolvimento do

ensino8 que, por sua vez, é submetido à matriz ideológica e à concepção política dos

governos que se sucedem. Uma breve retrospectiva da história da educação no Brasil

demonstra que a vinculação — leia-se, a garantia efetiva — de recursos para a educação

acontece justamente nos períodos considerados democráticos (de 1934 a 1937, de 1946 a

1964, 1983 e 1988), assim como a desvinculação de recursos acontece precisamente em

períodos autoritários (de 1937 a 1945 e de 1964 a 1985), fato que, indubitavelmente,

compromete a garantia do direito e da gratuidade da educação. (Ver OLIVEIRA, sd, sp).

Pode-se concluir que, com exceção dos períodos ditatoriais, como o Estado

Novo, por meio da Constituição Federal de 1937, e a Ditadura Militar, pela

Constituição Federal de 1967, esse princípio [vinculação de recursos para

a educação pública] tem sido respeitado e vem sendo o meio de se

assegurar o financiamento público para a manutenção e o desenvolvimento

do ensino. (LOUREIRO, 2010, sp).

Em que pese vivermos um período democrático, ainda convivemos com as consequências

de longos anos de descaso, de ideais mercadológicos do ensino e da propalada “falta de

vontade política”. Continuamos a enfrentar limites não superados como a baixa qualidade

do ensino que condena milhões de brasileiros à ignorância ou ao analfabetismo funcional; a

cultura da meritocracia; a baixa capacidade instalada em termos de recursos humanos nas

secretarias de educação (principalmente dos entes municipais) e a insistente e persistente

influência do setor privado nas deliberações e ações governamentais. Nesse campo,

equivocadamente, o atual PNE 2014-2024 resguardou dispositivo que fere a exclusividade

de repasse de recursos públicos para instituições públicas “como a contabilização das

parcerias público-privadas na meta de investimento público em educação (parágrafo 4º ao

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Art. 5º) e a permanência do estímulo à remuneração dos professores por resultados

(Estratégia 7.36)”. (CAMPANHA, 2014).

Por outro lado, as rupturas realizadas resultaram em avanços significativos. Podemos

relacionar, dentre as superações, a racionalização do financiamento, que após o advento do

FUNDEB, passou a ter concepção sistêmica, superando a fragmentação entre níveis e

modalidades de ensino e a implementação plena do CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial),

com participação da União para sua viabilização financeira, colaborando com Estados e

Municípios; a formação de professores, que contou com o incremento proporcionado pelo

Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica - PARFOR; a

democratização do acesso e o fortalecimento da diversidade nas escolas, por meio de

iniciativas como programas de Educação Especial, Educação para as Relações Étnico-

Raciais, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Quilombola, Educação

em Direitos Humanos, Educação Inclusiva, Gênero e Diversidade Sexual, Combate à

Violência, Educação Ambiental e Educação de Jovens e Adultos. Avanço decisivo no campo

das iniciativas estruturantes é a mudança nas próprias condições de planejamento da

educação que, a partir do exercício do planejamento de ações articuladas (PAR) modificou-

se em termos de concepções e práticas nas secretarias de educação.

Outra ruptura positiva deu-se com a aprovação da Emenda Constitucional nº 59/2009 que

incluiu no texto constitucional a expressão “Sistema Nacional de Educação”; prevê a

obrigatoriedade e universalização do ensino de 4 a 17 anos; amplia a abrangência dos

programas suplementares para todas as etapas da educação básica e estabelece meta de

aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto

(PIB). (BRASIL: 2014, 9).

Como se vê, as rupturas foram significativas e proativas, e apontam para um novo momento

no qual as conquistas “saiam do papel”, rompendo com os hábitos nocivos da imobilidade e

da procrastinação, garantindo sua efetivação na prática. Por essa razão concordamos com a

Campanha Nacional pelo Direito à Educação quando sustenta que o “principal desafio do

PNE agora é o da sua implementação, que deve estar alicerçada na elaboração de planos

estaduais e municipais, no fortalecimento do Fórum Nacional de Educação e dos fóruns

subnacionais (estaduais e municipais) e no estabelecimento de práticas e mecanismos de

controle social. O PNE precisa tomar o centro do debate público nacional.” (CAMPANHA,

2014).

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Recentemente, o Ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, em audiência pública da

Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, realizada em 09 de junho de

2015, apontou o Plano Nacional de Educação (PNE) como a grande prioridade de sua pasta.

Considerado como política de Estado, concebeu o documento como "uma lei acima de

preferências político-partidárias, feita por um país inteiro e que recebeu apoio integral dos

poderes Legislativo e Executivo. Temos portanto, rota, um mapa a trilhar e metas a cumprir."

(BRASIL, 2015-A). Na mesma linha, na passagem do primeiro ano de vigência do plano, a

Comissão de Educação da Câmara dos Deputados promoveu em Brasília um seminário com

o intuito de avaliar o desenvolvimento de suas metas, denominado “O PNE e o futuro da

educação brasileira”9, ocasião em que o desempenho das metas foi discutido e considerado

positivo.

Na contramão das posições oficiais, entidades da sociedade civil como a “Campanha

Nacional pelo Direito à Educação” se posicionou publicamente, defendendo que o Brasil —

como uma “pátria educadora deve tirar o PNE do papel”, pois os primeiros prazos do plano

já estavam sendo descumpridos.

Analisando os posicionamentos de representantes do Estado e da Sociedade Civil, o que já

foi efetivado e o que deverá ser feito a seguir, é possível constatar (CAMPANHA, 2015), no

pleno exercício de controle social do plano, que, infelizmente, no seu primeiro aniversário,

algumas metas não conseguiram ser realizadas no prazo determinado, enquanto outras, com

o prazo próximo do fim, continuam sem perspectivas de efetivação, o que amplia

exponencialmente a chance de ações essenciais previstas no plano e construídas

coletivamente pela sociedade brasileira não serem executadas conforme o planejado. Alguns

fatores confirmam essa tese:

Em primeiro lugar, é inegável que o Estado brasileiro atravessa um período de significativos

cortes de recursos que tem afetado e afetarão a implementação de projetos e programas

educacionais. Embora denominada “Pátria Educadora” no segundo mandato da Presidente

Dilma, o que se tem constatado é um forte contingenciamento de ações que até então vinham

sendo desenvolvidas desde o PDE e que serviam de suporte para o alcance de grande parte

das metas previstas pelo plano em vigência.

O ajuste fiscal em curso atinge e inviabiliza a educação como tarefa primordial da nação,

como bem define um dos documentos divulgados pela Campanha10 em 22 de junho de 2015,

“uma pátria educadora não pode descuidar do cumprimento de uma das principais leis da

educação nacional, como é o caso do PNE”. Desta forma, o fato de termos atualmente a

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maior parcela do Produto Interno Bruto destinado às políticas educacionais (atualmente

cerca de 6,2% de acordo com pronunciamento do Secretário Executivo do MEC no

seminário de 25 de junho 201511), não significa que estamos efetivando uma ação

educacional com maior qualidade a um número maior de pessoas. Consequência deste fato

é que os desafios contidos no alcance das metas do PNE ganham novos contornos diante do

contingenciamento dos recursos públicos à educação12.

Em segundo lugar, associado à questão do financiamento, mas extrapolando a importância

restrita desta dimensão, reiteramos como um dos principais desafios à implementação das

metas, o fortalecimento do regime de colaboração entre os entes federativos da nação.

Percebemos que quanto às tarefas dos entes federados no que tange ao plano, se podemos

afirmar que as responsabilidades já estão definidas sob o ponto de vista da regulamentação

formal, ainda não possuímos claro conhecimento de como se dará a tão almejada

colaboração. Este desafio, a nosso ver estruturante à organização sistêmica das políticas

educacionais brasileiras, tem constituído pauta prioritária desde a CONAE 2010 e até os dias

de hoje ainda constitui meta a ser perseguida.

Com isso afirmamos como condição preliminar da execução do plano de forma exitosa, a

regulamentação do constante no parágrafo único do artigo 23 da atual Constituição Federal

que estabelece que “Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e

os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do

desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 53, de 2006)”, ou seja, surge como desafio inadiável a regulamentação do

Regime de Colaboração;

Em terceiro lugar, vemos instituições do governo e a Câmara dos Deputados avaliando que,

embora com atraso no cumprimento gradual das metas previstas para os próximos 10 anos,

o PNE está em movimento. A nosso ver tal dinâmica se sustenta por meio de ações formais,

mais voltadas à formulação de suporte legal para efetivação das metas, do que pela

efetivação de estratégias propriamente ditas.

Basicamente, elas se resumem à criação de comissões e distribuição de

documentos conceituais que congregam propostas. Embora sejam medidas

necessárias, são gravemente tardias. Além do fato de que deveriam ter sido

lançadas antes, concretamente, os prazos serão protelados e descumpridos.

Lamentavelmente, a qualidade de implementação do PNE é muito baixa.

(Campanha, 2015).

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Finalmente, destacamos como uma das principais conquistas ao final de 2015, o esforço da

maioria dos estados e municípios em elaborarem seus Planos Estaduais e Municipais de

Educação, respectivamente como tarefa de se adaptar às orientações emanadas do Nacional

e ressignificar desafios históricos, como o fim da evasão do ensino médio, por exemplo.

Nossa esperança era que, realizando o plano, fôssemos capazes de integrar os três níveis de

governo e a sociedade organizada no esforço de fazer acontecer o Regime de Colaboração

previsto na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases, além de começarmos a construir as

bases políticas e técnicas de um novo Sistema Nacional de Educação no Brasil. Entretanto,

o pior aconteceu.

Pouco tempo após a conquista da promulgação – sem vetos – do novo plano nacional, mais

uma vez a dualidade continuidade e ruptura foi demarcada pela disputa de territórios entre o

público e o privado na trajetória histórica das políticas educacionais brasileiras. No momento

em que concluíamos as análises aqui apresentadas, a nação brasileira foi tomada de assalto

por um golpe de estado parlamentar midiático empresarial, protagonizado pelas forças

políticas mais reacionárias e conservadoras assentadas no Congresso Nacional Brasileiro.

A presidenta Dilma Roussef foi afastada da Presidência da República em 11 de maio de

2016, quando assumiu Michel Temer — seu vice-presidente e um dos líderes do golpe —

que, com apoio de um grupo de parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção e

apoiados por grandes grupos empresariais (principalmente da mídia tradicional) impôs à

nação brasileira uma pauta de desconstrução das políticas públicas, promovendo um

retrocesso sem precedentes nas conquistas sociais em toda nossa história.

O governo interino, conformando um verdadeiro estado de exceção1 e afrontando a

supremacia dos direitos fundamentais, promoveu um ostensivo desmonte do setor público,

promovendo robustos cortes orçamentários e a desvinculação constitucional das receitas,

estreitando os laços institucionais com o setor privado, apoiando iniciativas de conteúdo

ideológico conservador e fascista nos currículos escolares, caracterizando-se, portanto, como

um governo que legisla por meio da suspensão de direitos.

Tais medidas — embora iniciais — nos levam a crer que, consolidado o impedimento da

presidenta eleita, terão consequências avassaladoras para as conquistas obtidas a muito custo

no âmbito das políticas educacionais, para o desenvolvimento dos avanços presentes no

1 Ver conceito em AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. São Paulo: BoiTempo Editorial, 2004.

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Plano Nacional de Educação e para a vinculação das receitas do Pré-sal, dentre outras

medidas que ultrajam os direitos de nossas crianças e adolescentes, comprometendo o

presente de nossos jovens e o futuro civilizatório da nação.

NOTAS

1. O Fórum foi composto inicialmente por 15 entidades nacionais, sendo 3 de organizações

de classe (CUT/CGT/OAB); quatro entidades voltadas para o ensino, a pesquisa e/ou sua

divulgação (ANPED/SBPC/SEAE/CEDES); seis entidades de trabalhadores profissionais da

área de educação (ANDES/ANDE/CPB/FENOE/FASUBRA/ANPAE) e duas entidades do

movimento estudantil (UNE e UBES).

2. De acordo com Hentz “No que tange ao Regime de Colaboração, embora óbvio, não é

demais frisar que ele só é possível em havendo entes federados autônomos, que possam

estabelecer esse regime nas suas relações. Trazendo esta assertiva para o campo da educação,

no que diz respeito à relação entre os sistemas, pode-se afirmar que a condição para que se

dê efetividade ao disposto no art. 211 da Constituição da República: A União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de

ensino é que existam os sistemas federal, os estaduais e os municipais, cada qual nas

competências que lhes foram atribuídas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, em seu título IV – Da Organização da Educação Nacional.” (2009).

3. Capítulo IV - Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer.

4. O Fundo de Fortalecimento da Escola é um programa oriundo de um acordo de

financiamento entre o Banco Mundial e o MEC, desenvolvido em parceria com as secretarias

estaduais e municipais de Educação dos estados envolvidos, tendo em vista o

desenvolvimento da gestão escolar, com vistas à melhoria da qualidade das escolas do ensino

fundamental e à permanência das crianças nas escolas públicas, nas regiões Norte, Nordeste

e Centro-Oeste. O programa privilegia o desenvolvimento de ações que funcionem em

sinergia com outras iniciativas e programas governamentais de educação, entre eles o

Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); o Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Básica (SAEB); o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério (FUNDEF) e se propõe também a implementar ações de

fortalecimento da escola por meio de convênios com os municípios, mediante adesão desses

municípios. Cada acordo dura em média seis anos, sendo que o “Acordo de Participação”

inicial, ou seja, do FUNDESCOLA I, teve início em 1997. (Ver OLIVEIRA, 2005, 128-

129).

5. Entre os critérios de escolha das redes estava sua inserção na nota 4 (quatro) no IDEB

(que varia de um a dez) e o desempenho acima do esperado em relação a redes com

condições sócio econômicas semelhantes. Nenhuma das redes selecionadas se encontrava

no padrão considerado do mundo desenvolvido, cuja nota é igual ou maior do que 6 (seis),

mas todas estão acima da média nacional, que é de 3,8 (três e oito décimos). Ficou claro

também, que nenhuma das práticas identificadas era por essência inédita ou inovadora. A

pesquisa, na verdade, parecia reverberar o esforço de integração que então se realizava entre

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as esferas federal, estadual e municipal por meio do planejamento articulado de ações

educacionais em diferentes níveis governamentais.

6. Quais sejam: I - estabelecer como foco a aprendizagem, apontando resultados concretos a

atingir; II - alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, aferindo os

resultados por exame periódico específico; III - acompanhar cada aluno da rede

individualmente, mediante registro da sua frequência e do seu desempenho em avaliações,

que devem ser realizadas periodicamente; IV - combater a repetência, dadas as

especificidades de cada rede, pela adoção de práticas como aulas de reforço no contra turno,

estudos de recuperação e progressão parcial; V - combater a evasão pelo acompanhamento

individual das razões da não-frequência do educando e sua superação; VI - matricular o

aluno na escola mais próxima da sua residência; VII - ampliar as possibilidades de

permanência do educando sob responsabilidade da escola para além da jornada regular;

VIII - valorizar a formação ética, artística e a educação física; IX - garantir o acesso e

permanência das pessoas com necessidades educacionais especiais nas classes comuns do

ensino regular, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas; X - promover a

educação infantil; XI - manter programa de alfabetização de jovens e adultos; XII - instituir

programa próprio ou em regime de colaboração para formação inicial e continuada de

profissionais da educação; XIII - implantar plano de carreira, cargos e salários para os

profissionais da educação, privilegiando o mérito, a formação e a avaliação do desempenho;

XIV - valorizar o mérito do trabalhador da educação, representado pelo desempenho

eficiente no trabalho, dedicação, assiduidade, pontualidade, responsabilidade, realização de

projetos e trabalhos especializados, cursos de atualização e desenvolvimento profissional;

XV - dar consequência ao período probatório, tornando o professor efetivo estável após

avaliação, de preferência externa ao sistema educacional local; XVI - envolver todos os

professores na discussão e elaboração do projeto político pedagógico, respeitadas as

especificidades de cada escola; XVII - incorporar ao núcleo gestor da escola coordenadores

pedagógicos que acompanhem as dificuldades enfrentadas pelo professor; XVIII - fixar

regras claras, considerados mérito e desempenho, para nomeação e exoneração de diretor de

escola; XIX - divulgar na escola e na comunidade os dados relativos à área da educação,

com ênfase no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, referido no art. 3o;

XX - acompanhar e avaliar, com participação da comunidade e do Conselho de Educação,

as políticas públicas na área de educação e garantir condições, sobretudo institucionais, de

continuidade das ações efetivas, preservando a memória daquelas realizadas; XXI - zelar

pela transparência da gestão pública na área da educação, garantindo o funcionamento

efetivo, autônomo e articulado dos conselhos de controle social; XXII - promover a gestão

participativa na rede de ensino; XXIII - elaborar plano de educação e instalar Conselho de

Educação, quando inexistentes; XXIV - integrar os programas da área da educação com os

de outras áreas como saúde, esporte, assistência social, cultura, dentre outras, com vista ao

fortalecimento da identidade do educando com sua escola; XXV - fomentar e apoiar os

conselhos escolares, envolvendo as famílias dos educandos, com as atribuições, dentre

outras, de zelar pela manutenção da escola e pelo monitoramento das ações e consecução

das metas do compromisso; XXVI - transformar a escola num espaço comunitário e manter

ou recuperar aqueles espaços e equipamentos públicos da cidade que possam ser utilizados

pela comunidade escolar; XXVII - firmar parcerias externas à comunidade escolar, visando

a melhoria da infra estrutura da escola ou a promoção de projetos socioculturais e ações

educativas; XXVIII - organizar um comitê local do Compromisso, com representantes das

associações de empresários, trabalhadores, sociedade civil, Ministério Público, Conselho

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Tutelar e dirigentes do sistema educacional público, encarregado da mobilização da

sociedade e do acompanhamento das metas de evolução do IDEB. (BRASIL: 2007a).

7. Neste trabalho concebemos Controle Social como o processo permanente e sustentável de

participação de pessoas dos mais diferentes segmentos sociais no cotidiano da gestão

pública; fiscalizando, acompanhando, monitorando e controlando as políticas públicas e

demais ações governamentais na perspectiva do fortalecimento da cidadania. Na rede web

de direitos humanos (http://www.dhnet.org.br/index.htm) temos que “No caso atual do

Brasil, a Constituição de 1988 assegura juridicamente a participação e o controle social como

mecanismos de democratização dos direitos civis e políticos. Nesse sentido, o termo controle

social está intrinsecamente articulado à democracia representativa, que assegura

mecanismos de participação da população na formulação, deliberação e fiscalização das

políticas públicas. Conferências e Conselhos, por exemplo, são formas de participação social

e mecanismos conquistados para exercer o controle social.” (Ver Participação e controle

social na garantia dos direitos humanos. In:

http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/dh/cc/2/participacao.htm).

8. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/1996) estabelece em seus artigos 70 e

71, respectivamente, o que é considerado e o que não se constitui “Manutenção e

Desenvolvimento de Ensino”.

9. Seminário realizado em Brasília, no auditório Nereu Ramos, no dia 25 de junho de 2015.

10. “A Campanha Nacional pelo Direito à Educação foi lançada em 5 de outubro de 1999

por um grupo de organizações da sociedade civil com o propósito de somar diferentes forças

políticas pela efetivação dos direitos educacionais garantidos por lei para que todo cidadão

e toda cidadã tenham acesso a uma educação pública de qualidade. Hoje é considerada a

articulação mais ampla e plural no campo da educação básica no Brasil, constituindo-se

como uma rede que articula mais de 200 grupos e entidades distribuídas por todo o país,

incluindo movimentos sociais, sindicatos, organizações não-governamentais nacionais e

internacionais, fundações, grupos universitários, estudantis, juvenis e comunitários, além de

centenas de cidadãos que acreditam na construção de um país justo e sustentável por meio

da oferta de uma educação pública de qualidade. Tem como missão atuar pela efetivação e

ampliação dos direitos educacionais para que todas as pessoas tenham garantido seu direito

a uma educação pública, gratuita e de qualidade no Brasil. Gerida por uma equipe de

coordenação geral e dirigida por um comitê diretivo nacional, a Campanha também possui

comitês regionais. É fundadora e membro do comitê diretivo da Clade (Campanha Latino-

Americana pelo Direito à Educação). Também participou da fundação da CGE (Campanha

Global pela Educação) e integra sua direção. Em outubro de 2007, a Campanha recebeu do

Congresso Nacional o prêmio Darcy Ribeiro, por sua bem-sucedida atuação de incidência

política no processo de criação do Fundeb (Fundo da Educação Básica).” Mais informações

sobre a Campanha consultar: campanhaeducacao.org.br. Acesso em: 27/06/15.

11. No Seminário “O PNE e o futuro da educação brasileira”, salvo em

câmara.leg.br/discursoparlamentares.

12. Segundo Costas A oferta de vagas no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico

e Emprego (Pronatec) deve cair 60%, foram criadas regras mais rígidas para concessão de

crédito do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), foram cortados mais de R$2 bilhões

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destinados a construção de creches e pré-escolas, escolas e quadras esportivas, além do grave

corte nas verbas de investimentos nas universidades federais. A quantidade de bolsas para

estudantes brasileiros no exterior também deve ser reduzido. (COSTAS, Ruth. O ajuste fiscal

ameaça a 'pátria educadora'? Disponível em:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150707_cortes_educacao_ru. Acesso em

08/08/2015).

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