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Nº 04 - ANO I - JUNHO, 2010. Do Caligari ao Pingüim Do Do Caligari Caligari ao ao Pingüim Pingüim Semelhanças entre O Gabinete do Doutor Caligari, clássico do cinema expressionista alemão, e o Batman - O Retorno de Tim Burton Semelhanças entre Semelhanças entre O Gabinete do Doutor Caligari O Gabinete do Doutor Caligari, clássico do cinema , clássico do cinema expressionista alemão, e o expressionista alemão, e o Batman - O Retorno Batman - O Retorno de Tim Burton de Tim Burton

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Nº 04 - ANO I - JUNHO, 2010.

DoCaligariao

PingüimDoDoCaligariCaligariaoao

PingüimPingüimSemelhanças entre O Gabinete do Doutor Caligari, clássico do cinema

expressionista alemão, e o Batman - O Retorno de Tim Burton Semelhanças entreSemelhanças entre O Gabinete do Doutor Caligari O Gabinete do Doutor Caligari, clássico do cinema , clássico do cinema

expressionista alemão, e o expressionista alemão, e o Batman - O RetornoBatman - O Retorno de Tim Burton de Tim Burton

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O Gabinete do Doutor Caligari, uma impressão do clássico do cinema expressionista alemão

Noite de quarta-feira, um calor danado e um sono horroroso desestimulavam até o me-lhor dos alunos a ir assistir à exibição do fi l-me O Gabinete do Dr. Caligari, no auditório

do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes (CCHLA) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Afi nal, um fi lme mudo, da década de 1920, preto e branco, sem legendas. Mas o auditório teria pouca gente, e o ar condicionado era bom; no mínimo tinha garantido um lugar confortável para um cochilo.

Começa o fi lme. Mesmo sem entender muito os fra-mes com os diálogos e narração escrita da história, o fi lme conseguiu envolver pela estética e interpretação bastante teatral dos atores. Os cenários pareciam ilus-trações, com a nítida infl uência estética do movimento expressionista, ruas e edifi cações com portas e janelas fora de esquadro e perfeitamente distorcidas mergu-lham o espectador numa realidade caricatural e até surreal. Os atores, talvez por ausência tecnológica do som, interpretavam suas personagens com uma car-ga de exagero, chegando a atuação a ser, em certos momentos, muito mais cômica do que dramática. As maquiagens exageradas, justifi cadas pelos incipientes recursos técnicos de época na captura de imagem, ti-nham linhas de expressão e acessórios de vestimen-tas cuidadosamente pensados para gerar contraste visual. Tudo era preto ou branco. Como representar

a passagem do dia para a noite? Um recurso bastante criativo, a pintura da película de fi lme na cor amarela, para indicar o dia, e na cor azul para indicar a noite. E assim decorreu a experiência de assistir o Dr. Caligari, identifi cando estes recursos técnicos bastante criativos para a época.

Bom, vamos falar do fi lme. A trama narra a história do doutor Caligari, um médico que viaja por feiras circenses de aberrações e bizarrices (muito comuns naquela época como entretenimento das massas) com o sonâmbulo Cesare, um sujeito alto, magro e de ex-pressão facial fantasmagórica. Uma fi gura assustado-ramente bizarra que, segundo ele, estaria há 23 anos dormindo. Sua próxima apresentação se dá numa pe-quena cidade na fronteira com a Holanda. Na primeira noite de sua exibição, Cesare é acordado por Caligari e faz uma previsão pessimista para um dos espectado-res: “ele morrerá na noite que está chegando”. O su-jeito fi ca transtornado e todos fi cam impressionados. Mas a previsão é certeira – o homem morre. Contudo, a sua morte acaba relacionada a uma série de crimes de assassinato na cidade.

Não dá outra, Cesare e Caligari são logos vistos como suspeitos, obviamente. O resultado fi nal é inesperado: os motivos pelos quais as coisas acabaram acontecen-do formam um dos primeiros fi nais-surpresa do cine-

No Gabinete do

Monstro

No movimento expressionista, o artista não buscava

retratar o “mundo como ele é”, o “mundo real”, e sim

remodelar o mesmo a partir dos sentimentos interiores

do indivíduo. A arte era justamente fazer o filme,

recriar seu próprio mundo em vez de simplesmente

reproduzir aquele que conhecemos.

O cinema expressionista tinha muitas marcas: era

dualista no tratamento luz versus sombra, bem versus mal; cenarista e decorativo,

com cenários escuros e claustrofóbicos; de memória

e miragens, acentuando emoções regressivas, como fobias de infância, traumas

adolescentes e nostalgia; utilizava maquiagem pesada

e manipulação da iluminação para criar profundidade e atrair a concentração do espectador.

Dickson Tavares e Tatiana Lima

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3Ano I - Nº04 - junho de 2010. O PERIÓDICO

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ma, que é explicado através de fl ashbacks de forma magnífi ca. Essa inovação quebra a narrativa clássica da linearidade, rede-senhando uma nova forma de se contar uma história.

O fi lme é considerado pela grande maioria dos estudiosos do ci-nema como o primeiro do gênero terror. Com cenários escuros e medonhos, trilha sonora bem realizada e maquiagem inspira-da no obscuro, pode render bons calafrios. Cesare é um perso-nagem que consegue passar uma forte impressão sem sequer abrir a boca durante todo o fi lme. Seu olhar é congelante, seus movimentos, frios. É por causa dele que o fi lme é pertencente a tal gênero. Caligari é seu manipulador, claro, mas a marione-te é a personagem assustadoramente bizarra nesse caso.Outra característica marcante do fi lme é sua excitante trilha sonora. Nos momentos mais tensos, ela consegue criar uma magnífi ca conjunção com as imagens. O ataque do assassino a uma mu-lher, por exemplo, é contemplado com uma música que serve para criar um clima ainda mais tenso, quase de gelar a espinha.

Conrad Veidt, ator que interpretou Cesare, possui enorme fi l-mografi a. Depois de Caligari, repetiu inúmeras vezes papéis parecidos, representando personagens tenebrosos. Morreu cedo, aos 50 anos, nos Estados Unidos, em 1943. Já Werner Krauss atua como um lunático, alguém de duas caras. Seu per-sonagem é mais complexo que Cesare; segredos e falsidade es-tão dentro dele, e sua expressão, quando outros personagens lhe dão as costas, demonstram bem isso.

Embora tenha personagens notáveis, trilha sonora impactan-te, o maior marco do fi lme foi ter inaugurado no cinema o movimento conhecido como “Expressionismo Alemão”, que durou de 1919 até 1924, tendo infl uência nas gerações seguin-tes. É bem evidente o estilo do fi lme: ângulos irregulares nos cenários (em sua maioria construídos de papel, com sombras pintadas), formas desproporcionais, maquiagem forte, gestos exagerados por parte dos atores e expressões forçadas são ca-racterísticas que deram ao cinema novas possibilidades, novos sentidos, um clima mais misterioso. O Gabinete do Doutor Caligari ( juntamente com outros fi lmes, como Nosferatu, de F.W. Murnau) infl uenciou inúmeros outros diretores mais para frente, como Fritz Lang, que lançou Metrópolis e M - O Vam-piro de Dusseldorf, com essa linguagem visual. Lang, aliás, foi cogitado a dirigir este fi lme, mas acabou optando por outro trabalho. Robert Wiene, então, assumiu o encargo.

Ao fi nal da exibição o fi lme não sai da cabeça. A fi gura do Dr. Caligari interpretada por Werner Krauss rouba a cena desde o primeiro momento. Seu modo de andar, os trejeitos e suas roupas fazem surgur a sensação de “Essa fi gura lembra outra personagem que já vi em algum outro fi lme”. Prestando mais um pouco de atenção, não só o Dr. Caligari, mas todo o fi lme se apresenta familiar, como se já tivesse visto antes. Minutos de pesquisa nos arquivos da memória revelam que grande parte dos elementos estéticos do Gabinete do Dr. Caligari estão pre-sentes no fi lme Batman – O Retorno, de 1992. Pode parecer estranho, mas a presença da estética expressionista em Batman – O Retorno do tem muito a ver com o estilo de seu diretor – o cineasta norte-americano Tim Burton.

A interpretação era exagerada e até mesmo caricatural e, às vezes, lentes deformadoras eram utilizadas, além de uma dramaticidade de ângulos de câmera. O movimento era circense e burlesco.

Não apenas a narração de uma aventura estonteante vista pelos olhos de um louco – isto é: deformações visuais, expressionismo de montagens, esquematização de personagens. É também, e sobretudo, uma das mais macabras estórias de cinema inventadas pela imaginação humana. Ou seja: expressionismo de fundo, gosto mórbido por assuntos trágicos e alucinantes. O que esses filmes nos contam, na verdade, são histórias sinistras, aventuras de incríveis criminosos, ronda tremenda, alucinante, de agonizantes e fantasmas e todo um universo de pesadelo e loucura, terror e pânico.

O maior expoente do expressionismo alemão, apontado como filme-síntese da escola, é O Gabinete do Dr. Caligari, de que já tratamos neste jornal. Um influenciador de gerações. Um trabalho que marcou época e é assistido com veemência até os dias atuais. Este é O Gabinete do Doutor Caligari, filme alemão de 1920 que, hoje, não tão longe de completar um século de existência, mostra-se completo e mais interessante que... bem, que quase tudo lançado atualmente.

Sequência com algumas cenas do clássico do cinema expressionista alemão.

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Aobra de Tim Burton tem vários tra-ços marcantes de algumas das mais consagradas escolas do cinema. O universo do Expressionismo

Alemão se faz presente em praticamente to-dos os seus fi lmes: mundos próprios e novos foram criados para os personagens, cenários elaborados e interpretações exageradas – as-sim como a caracterização dos atores –, e os ângulos de câmera têm certa dramaticidade.

Se o expressionismo é quase a alma do cin-ema de Burton, o surrealismo foi o que o trouxe à vida. Vários de seus personagens foram elaborados pelo próprio Burton, e detalhadamente desenhados antes de ganharem vida no mundo real. Muitas das histórias, incluindo O estranho mundo de Jack (1993), são frutos de poemas que o diretor escreveu pessoalmente. Mesmo os fi lmes que não são de autoria do cineasta norte-americano ganham traços marcantes de sua autoria – que o diga os fi lmes da sé-rie Batman. Tudo o que é retratado na tela é fruto da imaginação e dos sonhos do criativo diretor.

O fi lme noir é a mais uma corrente do cin-ema que pode ser facilmente notada nos fi lmes de Burton. O ambiente habitado pe-los heróis do diretor remete bastante aos dessa estética: o mundo é cínico e por vez-es antipático. O herói, no caso do Batman, é na verdade um anti-herói, que age acima da lei e faz uso de recursos não ortodoxos

para combater o mau, sendo mais malvado que os criminosos. A moral é relativizada; ele tomou uma atitude ruim, mas no fundo é uma boa pessoa. Além disso, Burton uti-liza sombras, contraste e até realiza alguns trabalhos em película preto-e-branco. O cenário da Gotham City do Batman, em especial, tem várias semelhanças com os fi lmes noir na criação de ambientes lúgu-bres e claustrofóbicos.

Tim Burton, entretanto, não copiou simples-mente os seus antecedentes: ele compreen-deu seus estilos e os adaptou, acrescentan-do um toque próprio e realizando novas experiências, sempre.

No ano de 1989 foi criada a franquia cine-matográfi ca do personagem Batman através do fi lme “Batman” (1989). Sob a direção de Tim Burton, o Batman retorna às suas origens de cine noir. Burton demonstrou tamanha afi nidade com o universo do per-sonagem que, nesta versão, mostrou um Batman atormentado e assustador, dentro de uma história de tom sombrio e violento, e fez muito sucesso popularizando do sím-bolo do morcego.

Com uma base forte nos quadrinhos, foi grande o sucesso nas bilheterias. O fi lme transpassava um visual infl uenciado pelo movimento cinematográfi co do expres-sionismo alemão, um pouco próximo da realidade ou de um contexto real devido ao

O Estranho Mundo deBurton

Como o expressionista alemão, influenciou o cinema de Tim Burton

O O EstranhoEstranho Mundo Mundo de deBurton

Como o expressionista alemão, Como o expressionista alemão, influenciou o cinema de Tim Burtoninfluenciou o cinema de Tim Burton

Dickson Tavares e Tatiana LimaDickson Tavares e Tatiana LimaDickson Tavares e Tatiana Lima

Esboços de próprio punho para o visual do Pinguim criados por Tim Burton.

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clima gótico. Isso se repete com muito mais intensidade no segundo fi lme, “Batman - O Retorno” (Batman Returns, 1992).

Muito mais do que no primeiro Batman, Burton teve mais liberdade criativa para im-primir sua marca estética. Um exemplo foi a escolha em fi lmar o Batman totalmente em um imenso estúdio climatizado, e tal qual o Dr. Caligari, com a mescla de cenários com-postos por painéis pintados e cenografi a es-tilizada. A Gotham City do Batman – O Re-torno é uma cidade caricatural, onde todos parecem viver em uma época atemporal, sem conexão com a realidade externa. Os atores imprimem um ‘quê’ de exagero em suas interpretações, dando um ritmo teatral ao fi lme, tal como em Dr. Caligari. Burton usa os mesmos recursos cromáticos de dife-renciação entre dia e noite: para as poucas cenas diurnas, luz amarela, nas sequências noturnas, o azul.

Na trama do fi lme a calmaria na cidade de Gotham City é interrompida pela lenda do homem- pinguim que se esgueira pe-los esgotos. É o Pingüim (Danny DeVito), fi gura grotesca que foi jogado nos esgotos de Gotham por seus pais, pois nascera deformado. Ele cresce e vê na pessoa do inescrupuloso magnata Maximillian Shreck (Christopher Walken) a chance de res-surgir na sociedade. Mas o Pingüim quer vingança por ter sido rejeitado e Max quer um novo prefeito que autorize uma usina elétrica sinistra que rouba energia ao invés de gerar. Está feito o pacto, Pingüim para prefeito. Para impedir isso temos o Batman (Michael Keaton) que viverá um romance masoquista com a Mulher Gato (Michelle

Pfeiffer), que também se alia ao Pingüim e ao seu bando do Circo do Triangulo Ver-melho que aterroriza Gotham. Repleto de referências o roteiro coloca o espectador diante do universo sinistro do Batman.

No quesito personagens, Burton impres-siona, pois a concepção visual do vilão Pingüim é impressionantemente igual ao Dr. Calligari. Cartola, casaco, cabelos des-grenhados, postura corcunda, andar com difi culdade e olhar sinistro e maquiavélico. A Mulher Gato é visualmente semelhante ao zumbi do Dr. Caligari, usando um col-ant preto; em sua origem, no fi lme, a per-sonagem Selina Kyle ‘ressuscita’ e ressurge como uma espécie de zumbi, assumindo a identidade de Mulher Gato. O próprio Bat-man, como seu alter ego, o playboy Bruce Wayne, mostra-se de maneira mentalmente afetada, que se divide em atos heróicos e ações non sense.

Ambos os fi lmes apresentam em seu enredo o encantamento pelos shows de caráter circense – em Dr. Caligari, é o morto-vivo Cesare que faz adivinhações para um pu-blico pagante em uma tenda de circo; em Batman, é Circo do Pingüim que aterroriza a cidade com palhaços armados e engolidores de fogo piromaíacos. Essa subversão do circo associado ao terror e ao medo e não à alegria e diversão é a marca da infl uência das ideias expressionistas.

Ao realizarmos a conexão do cinema de Tim Burton, representado pelo Batman – O Retorno, e a película O Gabinete do Dou-tor Caligari encontramos na raiz a herança estética do expressionismo alemão.

Pinguim (Denny Devito), Mulher-Gato (Michelle Pfeiffer), Batman (Michael Keaton), Max Shreek (Christopher Walken) e a Gotham City à visão de Tim Burton.

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Como o ator Conrad Veidt serviu de inspiração na criação do vilão mais

famosos dos quadrinhos e do cinema

De cima para baixo: Cesare (Conrad Veidt) de O Gabinete do Doutor Caligari de 1920, Gwynplaine (Conrad Veidt) de O Homem que Ri de 1928. O Coringa (dos quadrinhos de 1940) e as versões para o cinema por Jack Nicholson no Batman de1989 (foto grande) e por Heath Leager no Batman Cavaleiro das Trevas em 2008.

De Cesare ao

CoringaDickson Tavares e Tatiana LimaDickson Tavares e Tatiana LimaDickson Tavares e Tatiana Lima

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Ao se pesquisar sobre os atores que trabal-haram em O Gabinete do Dr. Caligari, desco-bre-se que Conrad Veidt, o Cesare, atuou em outro fi lme famoso da época – O Homem

que Ri (The Man Who Laughs de 1928). Baseado no romance de Victor Hugo, o fi lme enfoca o herdeiro de um ducado, Gwynplaine (Conrad Veidt), seqüestrado quando garoto e, por ordem do rei, desfi gurado num perpétuo riso forçado; ele se torna uma atração de circo, um famoso palhaço.

O impressionante é que, de certa forma, Gwynplaine estabelece uma incrível conexão com o Batman, pois o personagem serviu de inspiração para a criação, nos anos 40, do arquiinimigo mais famoso do herói mas-carado – o Coringa. Bob Kane e Bill Finger, em 1939, criaram o Batman para a editora DC Comics, fazendo um grande sucesso, o estúdio contrata o cartunista Jer-ry Robinson o real ‘pai’ do Coringa. Personagem con-troverso que teve sua real origem contada em várias verões, mas em resumo sua história consiste em um

criminoso comum que agia sobre o disfarce de Capuz Vermelho, tem sua vida transformada ao cair, aciden-talmente, num tanque de produtos químicos durante um confronto com o Batman. Após sobreviver e tendo a sua pele esbranquiçada, capelos esverdeados e o seu rosto deformado com um eterno sorriso, ele assuma a identidade de Coringa, começando aí uma vida de crimes bizarros com o o unico objetivo – vingar-se do Batman. Essa relação doentia com o Batman, faz do Coringa o vilão mais carismático dos quadrinhos desde então.

O Coringa aparece em grande estilo no cinema em 1989 no fi lme Batman, dirigido por Tim Burton, inter-pretado pelo ator Jack Nicholson. Burton e Nicholson criam um coringa malvado e extremamente divertido, roubando a cena no fi lme do Batman. Em 2008, sob a direção de Cristopher Nolan, é a vez de Heath Leager dar vida ao palhaço do crime em uma interpretação magistral leva o coringa ao topo dos melhores vilões da história do cinema.

O ator Conrad Veidt em 1928.

Cartaz do The Bat Whispers de 1930.

Capa da revista Detective Comics - a primeira aparição do Batman em 1939.

Porque o Batman?

OBatman é um personagem de quadrinhos que ao longo de sua trajetória teve variadas adaptações cinematográfi cas, caracterizando-se por seu potencial de sempre se adaptar às

novas tendências da cultura de massa, acompanhando cada época desde 1939, quando foi criado por Bill Fin-ger e Bob Kane, até os dias de hoje, atualizando as suas histórias e contribuindo para a criação de uma mito-logia em torno do personagem, alimentada pelos seus fi lmes, séries, quadrinhos, etc. Os criadores do Batman, na concepção do personagem, inspiraram-se nos fi lmes expressionistas como The Bat Whispers (algo como Sussurros do Morcego, 1930), um fi lme de mistério norte-americano, dirigido por Roland West, produzido por Joseph M. Schenck , e lançado pela United Artists.

No ano de 1926 é levado às telas pelas mãos do Diretor Roland West o romance da escritora americana Mary Roberts Rinehart “The Circular Staircase”. A escritora, que apesar de atualmente não ser tão conhecida como é Agatha Christie, era na época uma escritora tão infl u-ente no gênero da fi cção e mistério como sua colega britânica, criando inclusive alguns dos principais ele-mentos das histórias de assassinato e suspense (a frase “o mordomo é o culpado” vem de uma de suas obra). Em 1917 ela foi convidada pelo popular dramaturgo Avery Hopwood para escrever o roteiro de “The Bat”, que seria uma adaptação de seu romance ‘A Escada Circular’ (The Circular Staircase, como já dito acima), mas, ao invés de fazer um roteiro fi el ao livro original, acrescentou novos conceitos ao enredo, incluindo a presença de um criminoso mascarado chamado “The

Bat”, que tornaria o mistério um pouco mais complexo para a popular personagem de seus livros, Miss Corne-lia Van Gorder. O romance foi um enorme sucesso, e o diretor, Roland West, que era um ávido fã de mistério, procurou seis anos mais tarde adaptá-lo para o cinema.

No fi lme, Miss Cornelia Van Gorder (Emily Fitzroy) e sua sobrinha Dale ( Jewel Carmen) alugam uma an-tiga mansão que pertence aos ricos proprietários de um banco. No entanto, a sua tranquilidade é pertur-bada quando eles descobrem que o banco foi roubado pelo ladrão conhecido como o ‘The Bat’ (devido à sua fantasia inspirada num morcego); o proprietário do banco morre, e deixa o resto de sua fortuna em dinheiro escondida na mansão onde as duas moram. Agora Van Gorder e sua sobrinha passam a ser as novas vítimas do “Bat”, que pretende obter toda essa fortuna e vai fazer o que for necessário para obtê-la; para isso, precisa expulsar as duas mulheres da casa: para ele é preciso que elas saiam, vivas ou mortas. Para piorar as coisas, o noivo de Dale, Brooks ( Jack Pickford), um escriturário que trabalha no banco que foi roubado, é o principal suspeito do crime, de modo que ele chega à mansão para se esconder até tudo se acalmar. Feliz-mente, o detetive Anderson (Eddie Gribbon) também chega para ajudar as mulheres, mas o “Bat” revela-se um extraordinário inimigo.

Adaptado pelo diretor Roland West com a ajuda de Ju-lien Josephson, “The Bat” segue uma linha muito em moda na época, na qual a representação dos diálogos da película dão mais ênfase ao horror e aos elementos

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de narrativa de uma forma rica e impactante do ponto de vista visual, haja vista que o cinema ainda era mudo. Isto é especialmente evidente no “primeiro ato”, onde West dá uma ideia mais clara sobre os métodos do “Bat”, mostrando-lhe como ele usa suas habilidades para cometer um assalto logo no início do fi lme. Ainda assim, o fi lme mantém algumas características trazidas das peças de teatro, especialmente aquelas que retrata-vam mistérios e de fi cção ‘detetivesca’ precursoras dos fi lmes ‘noir’ das décadas seguintes com o ambiente so-turno e lúgrebe. Como é habitual neste tipo de fi lme, há também um leve toque de comédia (na forma do

clássico personagem covarde) que serve para quebrar o suspense e acrescentar alguma diversão vez em quan-do. West refaria este fi lme quatro anos mais tarde como “The Bat Whispers”; este fi lme serviu de base para dar cor e forma à atmosfera sombria do universo do Bat-man nos quadrinhos. As cenas onde uma luz projetava a sombra de um morcego serviram de referencia para a criação do famoso O Bat-sinal, que quando projetado nos ceús de Gotham City avisam aos criminosos que o Batman está na área. A mascara de morcego, o ar so-turno e furtivo são alguns elementos incorporados por Bob Kane e Bill Finger na criação do Batman.

O Batsinal - inspirado na marca do morcego do filme The Bat Whispers de 1930, passando pelos quadrinhos a partir dos anos de 1940 até suas versões nos filmes Batman de 1989 e Batman - O Retorno de 1992.

A inspiração vinda do filme The Bat de 1926. O Batman criado por Bob

Kane e Bill Finger nos anos de 1940. A visão mais moderna de Tim Burton, interpretado pelo ator Michael Keaton

em Batman de 1989 (foto grande).

EXPEDIENTE - Reitor da UFRN José Ivonildo do Rêgo - Vice-reitora da UFRN Ângela Maria Paiva Cruz - Diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Márcio Moraes Valença - Chefe do Departamento de Comunicação Social Adriano Cruz - Coordenadora do Curso de Comunicação Social Otêmia Porpino Gomes - Disciplina de Comunicação e Artes Visuais José Jarbas Martins - Edição e Revisão Tatiana Lima e Dickson Tavares - Envio de Matérias, Contato e Informações redaçã[email protected] - Projeto Gráfico e Diagramação Dickson Tavares ([email protected]) - Impressão IMPRIMA GRAFICA E EDITORA. Todas as imagens e fotografias usadas nesta edição são de arquivo público disponíveis no site de buscas Google, no endereço: www,google.com.br. Os textos assinados e aqui publicados são produzidos por acadêmicos de jornalismo da UFRN. As notícias, reportagens e entrevistas são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente a opinião do jornal. Esta edição é o trabalho de conclusão da disciplina de Comunicação e Artes Visuais de 2010.1. O PERIÓDICO © 2009-2010. Todos os direitos reservados.