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VILMA MEURER O PERFIL EMPREENDEDOR DO EMPRESÁRIO DA ÁREA DA SAÚDE: estudo exploratório com empresários de Maringá Maringá 2003

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VILMA MEURER

O PERFIL EMPREENDEDOR DO EMPRESÁRIO DA ÁREA DA SAÚDE:

estudo exploratório com empresários de Maringá

Maringá

2003

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2

VILMA MEURER

O PERFIL EMPREENDEDOR DO EMPRESÁRIO DA ÁREA DA SAÚDE:

estudo exploratório com empresários de Maringá.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração – PPA, daUniversidade Estadual de Maringá – UEM, para aobtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Dr. José de Jesus Previdelli

Maringá

2003

3

A Deus,pelas oportunidades e conhecimentos

Aos meus pais,pelo exemplo de empreendedorismo e simplicidade em suas vidas

4

AGRADECIMENTOS

O desafio de elaborar um trabalho de pesquisa é muito grande e, sem sombra de dúvida, não

poderia se concretizar sem o apoio e a colaboração de pessoas, organizações e entidades, às quais

devo imenso agradecimento.

Ao professor Previdelli, que desde a graduação esteve presente em todas as etapas hoje

concretizadas; pela orientação, dedicação e incentivo.

Ao Bruhmer, pela atenção e apoio técnico.

Ao PPA, Programa de Pós-Graduação em Administração, pela oportunidade de realização do

mestrado.

Aos meus pais, Bertolino e Eunice, ao meu irmão Vilson, sua esposa Katriz, e seus filhos,

Vinícius e Nicole, ao meu irmão Vilmar e sua namorada Janaína, pelo carinho, apoio e

compreensão.

Aos colegas de mestrado, que também participaram deste desafio, pelo apoio.

Aos empresários que participaram desta pesquisa, pela colaboração.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.

E a Deus, que me permitiu mais esta realização.

5

Em momentos de crise, a imaginação é mais importante que o conhecimento.

Albert Einstein

6

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS.................................................................................................................. 8

LISTA DE TABELAS................................................................................................................... 8

RESUMO........................................................................................................................................ 9

ABSTRACT ................................................................................................................................. 10

1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 111.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 111.2 TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA.............................................................................. 131.3 OBJETIVOS DA PESQUISA................................................................................................. 161.3.1 Objetivo geral................................................................................................................... 171.3.2 Objetivos específicos........................................................................................................ 171.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ................................................................................... 181.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................................... 21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................................ 232.1 EMPREENDEDORISMO.................................................................................................... 232.1.1 Evolução histórica ........................................................................................................... 242.1.2 Conceitos e características .............................................................................................. 292.1.3 Contribuições para o desenvolvimento econômico....................................................... 332.2 O EMPREENDEDOR.......................................................................................................... 352.2.1 Evolução histórica de conceitos do empreendedor....................................................... 362.2.2 Características empreendedoras .................................................................................... 432.3 O PERFIL DO EMPREENDEDOR..................................................................................... 582.3.1 Características ................................................................................................................. 592.3.1.1 Visão.................................................................................................................................. 592.3.1.2 Energia e flexibilidade....................................................................................................... 612.3.1.3 Criatividade, inovação e intuição ...................................................................................... 622.3.1.4 Liderança ........................................................................................................................... 662.3.1.5 Autoconfiança.................................................................................................................... 682.3.1.6 Independência e iniciativa ................................................................................................. 682.3.1.7 Motivação, entusiasmo, paixão ......................................................................................... 692.3.1.8 Otimismo, perseverança e persistência.............................................................................. 692.3.1.9 Comprometimento e dedicação ......................................................................................... 702.3.2 Habilidades....................................................................................................................... 712.3.2.1 Formador de equipes ......................................................................................................... 712.3.2.2 Lidar bem com o fracasso.................................................................................................. 722.3.2.3 Correr riscos calculados .................................................................................................... 732.3.2.4 Buscar informações e conhecimentos................................................................................ 732.3.2.5 Obter feedback ................................................................................................................... 74

7

2.3.2.6 Orientação por metas e objetivos ...................................................................................... 752.3.2.7 Relacionamento interpessoal (persuasão e rede de contatos)............................................ 752.3.2.8 Saber buscar, utilizar e controlar recursos......................................................................... 752.3.2.9 Capacidade de decisão....................................................................................................... 762.3.2.10 Planejamento e Organização .......................................................................................... 762.3.2.11 Saber explorar oportunidades ......................................................................................... 762.3.2.12 Capacidade de análise..................................................................................................... 772.3.2.13 Conhecimento do ramo................................................................................................... 772.3.2.14 Traduzir pensamentos em ação....................................................................................... 772.3.3 Valores .............................................................................................................................. 78

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................................... 803.1 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA................................................................................ 803.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA .............................................. 823.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA .................................................................................... 863.4 TÉCNICAS DE COLETA E TRATAMENTO DE DADOS .............................................. 903.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA........................................................................................ 973.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ........................................................................................... 98

4 RESULTADOS DA PESQUISA .......................................................................................... 994.1 EMPRESÁRIO 1................................................................................................................ 1004.2 EMPRESÁRIO 2................................................................................................................ 1034.3 EMPRESÁRIO 3................................................................................................................ 1074.4 EMPRESÁRIO 4................................................................................................................ 1094.5 EMPRESÁRIO 5................................................................................................................ 1114.6 EMPRESÁRIO 6................................................................................................................ 1144.7 EMPRESÁRIO 7................................................................................................................ 1174.8 EMPRESÁRIO 8................................................................................................................ 1194.9 EMPRESÁRIO 9................................................................................................................ 1224.10 EMPRESÁRIO 10.............................................................................................................. 1254.11 EMPRESÁRIO 11.............................................................................................................. 1274.12 EMPRESÁRIO 12.............................................................................................................. 130

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 1345.1 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS.................................................................... 1415.2 RECOMENDAÇÕES PARA OS EMPRESÁRIOS .......................................................... 142

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 144

ANEXOS .................................................................................................................................... 1501 CARTA DE APRESENTAÇÃO........................................................................................... 1512 QUESTIONÁRIO ................................................................................................................. 152

8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Definições e atributos ao empreendedor de acordo com especialistasdistintos................................................................................................................... 42

Quadro 2: Comportamento do empreendedor segundo McClelland...................................... 45Quadro 3: Características dos empreendedores de sucesso, segundo Dornelas..................... 48Quadro 4: Características do empreendedor de sucesso, segundo Pereira e Santos.............. 50Quadro 5: Virtudes do empreendedor, baseadas em Cunha e Pfeifer.................................... 52Quadro 6: Características do empreendedor, segundo Timmons e Hornaday....................... 54Quadro 7: O trabalho do empreendedor e seus requisitos...................................................... 55Quadro 8: Perfil do empreendedor......................................................................................... 59Quadro 9: Comparação entre as concepções básicas de pesquisa.......................................... 81Quadro 10: Classificação da pesquisa...................................................................................... 90Quadro 11: Fatores relevantes no momento da tomada de decisão de criar a própria

empresa................................................................................................................. 92Quadro 12: Opção que melhor define o perfil do empreendedor............................................. 94Quadro 13: Atributos que formam o perfil do empreendedor.................................................. 95Quadro 14: Classificação da pesquisa...................................................................................... 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dados da área da saúde – Maringá versus OMS................................................... 12Tabela 2: Empresários pesquisados...................................................................................... 99Tabela 3: Perfil empreendedor do Empresário 1.................................................................. 102Tabela 4: Perfil empreendedor do Empresário 2.................................................................. 105Tabela 5: Perfil empreendedor do Empresário 3.................................................................. 108Tabela 6: Perfil empreendedor do Empresário 4.................................................................. 110Tabela 7: Perfil empreendedor do Empresário 5.................................................................. 113Tabela 8: Perfil empreendedor do Empresário 6.................................................................. 116Tabela 9: Perfil empreendedor do Empresário 7.................................................................. 118Tabela 10: Perfil empreendedor do Empresário 8.................................................................. 121Tabela 11: Perfil empreendedor do Empresário 9.................................................................. 124Tabela 12: Perfil empreendedor do Empresário 10................................................................ 126Tabela 13: Perfil empreendedor do Empresário 11................................................................ 129Tabela 14: Perfil empreendedor do Empresário 12................................................................ 131Tabela 15: Perfil empreendedor dos empresários da área da saúde – Maringá, 2003............ 139

9

RESUMO

A condição de sucesso ou fracasso de um empreendimento parece não estar diretamenterelacionada com a formação básica do empreendedor, pois para Drucker (1987), empreenderrefere-se a atividades sociais dos seres humanos. Assim, existe pouca diferença do espíritoempreendedor, qualquer que seja a esfera em que este atue. Diante desta percepção, o objetivodeste trabalho é identificar, de forma exploratória, o perfil empreendedor do empresário da áreada saúde do município de Maringá. A escolha do tema se justifica por dois motivos principais: arápida expansão de estudos sobre empreendedorismo e a sua importância para o desenvolvimentoeconômico de um país; e o papel que as empresas de pequena dimensão representam nesteprocesso de desenvolvimento. Justifica-se, ainda, pela necessidade de se compreender as razõesque estimulam as ações desempenhadas pelos empreendedores dentro de uma sociedade. Ametodologia embasou-se em uma revisão da literatura acerca do empreendedorismo e dascaracterísticas, virtudes e comportamentos formadores do perfil do empreendedor. Buscou-se, apartir da literatura existente, traçar um perfil para o empreendedor, atribuindo-lhe um conjunto decaracterísticas, habilidades e valores. De posse deste perfil, estabeleceu-se uma análisecomparativa da configuração dessa proposição em um grupo de empreendedores atuando na áreada saúde no município de Maringá. Assim, a pesquisa se caracteriza como um estudoexploratório, interrogativo/comunicativo, ex post facto, descritivo, transversal, qualitativo erealizado em condições de campo. Os resultados apontam para evidências surpreendentes doponto de vista do administrador tradicional, principalmente no que se refere aos aspectosrelacionados às características, habilidades e valores desses empreendedores. Os empresáriosanalisados na pesquisa podem ser caracterizados como empreendedores voluntários, poisiniciaram o empreendimento, principalmente, para realizar o sonho de possuir um negóciopróprio e/ou para aproveitar oportunidades de mercado. Nenhum deles foi levado a entrar nonegócio por forças involuntárias. Apesar de, aparentemente, todos os empresários serem vistoscomo empreendedores, por desenvolverem características diferenciadas da grande maioria dosempresários, apenas oito deles podem ser caracterizados como empreendedores, a partir domodelo utilizado na pesquisa. Estes empresários apresentam a maioria dos pré-requisitosnecessários para a formação do perfil do empreendedor. Por sua vez, quatro dos empresáriosanalisados desenvolvem uma menor quantidade de atributos do empreendedor. Alguns atributossão comuns a um maior número de indivíduos pesquisados, enquanto que outros por umaminoria. Apesar da formação profissional diferenciada pela qual passaram estes empresários daárea da saúde em relação ao processo de gestão, foi possível constatar que eles podem serconsiderados empreendedores, com maior ou menor identificação a partir do referencial utilizado.Assim, a afirmação de Drucker (1987) de que as condições de sucesso ou fracasso de umempreendimento independem da formação do empreendedor, legitima-se e constitui-se emestímulo para a continuidade da investigação em torno desta área de conhecimento.

Palavras-chave: empreendedorismo, perfil empreendedor, características, habilidades.

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ABSTRACT

Due to Drucker’s idea, the success or failure condition of an undertaking does not seem to bedirectly related to the basic formation of an entrepreneur, for undertaking a business ischaracterized as a human being social activity. Following this same thinking, there could be,apparently, a little difference among entrepreneurial minds, no matter what field they work in.Focusing this idea, the aim of this study was to identify, in an exploratory way, theentrepreneurial profile of health care businessmen from Maringá city. It is possible to justify thechoice of this subject, first, due to the fact that researches about entrepreneurship have beenexpanded too fast and because of its relevance to the economical development of a country;second, also it is justified by the role small companies play in this same economical process. Athird reason consists of a necessity to understand the reasons that stimulate the entrepreneurs’actions in a society. The utilized methodology was based on literature revision aboutentrepreneurship and its features, emphasizing formative actions and virtues of an entrepreneurprofile. From the existent literature we tried to draw a profile to the entrepreneur, giving him a setof features, abilities and values. Once it was defined, this profile was compared to an observedprofile of an entrepreneurs group who work in health care field in Maringá city. Thus, thisresearch is characterized as a descriptive exploratory study, ex post facto, which was carried outin field conditions. The analyzed businessmen of this study could be considered as voluntaryentrepreneurs because when they started their undertaking, it was mainly to make the dream ofhaving their own business come true and /or to take advantage of market opportunities. Althoughapparently all businessmen are seen as entrepreneurs for presenting different features from themost of other businessmen, just part of the analyzed sample can be esteemed as entrepreneurs,regarding to the model used in this study. These businessmen present most of the necessaryqualifications to an entrepreneurial profile formation. Some attributes are common to a largenumber of studied individuals, as well as other qualities are common to a small number.Although all of them have experienced different professional formation, it was possible to verifythat they may be considered as entrepreneurs, with a greater or smaller identification with theutilized reference. Thus, Drucker’s assertion (1987) that success or failure conditions of anundertaking do not depend on the entrepreneur formation is real and becomes an incentive forinvestigation continuity on this knowledge study area.

Key words: entrepreneurship, entrepreneurial profile, health care businessmen, abilities.

11

12

1 APRESENTAÇÃO

1.1 INTRODUÇÃO

Apesar da ausência de consenso e uniformidade em sua definição e métodos, tem sido rápida a

expansão de estudos sobre o tema empreendedorismo. Ele se apresenta como objeto de estudo de

pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, principalmente, dentro do contexto

econômico e empresarial. O interesse pelo tema foi despertado, inicialmente, por um grande

número de economistas no século XVII. Desde então, tornou-se campo de estudo para diferentes

pesquisadores, tomando abrangência no campo acadêmico no final dos anos 70.

O conceito de empreendedorismo vem sendo muito difundido no Brasil e no mundo, pois é visto

como a percepção e aproveitamento de novas oportunidades, combinação de recursos, idéias e

habilidades de forma inovadora para a realização de um objetivo. Sendo assim, ser empreendedor

tem se tornado quase um imperativo para aumentar a competitividade, reduzir custos e manter-se,

com sucesso, no mercado. Mas vale lembrar que por trás de cada idéia inovadora, além de um

conjunto de qualidades e talentos individuais do empreendedor, o sucesso do empreendimento

depende de alguns elementos essenciais como análise, planejamento e capacidade de

implementação.

O empreendedorismo, assim como o planejamento e a capacidade de implementação, são fatores

de extrema relevância para a busca da competitividade e sobrevivência do empreendimento no

mercado. Com os empreendimentos da área da saúde, objeto deste estudo, este quadro não deixa

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de ser diferente. Principalmente pelo fato de Maringá ser um centro de formação superior, com a

presença de uma Universidade Estadual e seis Instituições Particulares de Ensino Superior, onde

são ofertadas 652 vagas por ano na área da saúde, abrangendo um curso de Medicina, três de

Odontologia, um de Biomedicina, três de Enfermagem, dois de Farmácia, dois de Fisioterapia,

dois de Fonoaudiologia, um de Nutrição e dois de Psicologia (CRUZ JR, 2002).

Ainda segundo esse autor, existem, em Maringá, 211 empresas prestadoras de serviços médicos

entre Hospitais, Clínicas e Laboratórios. O indicador da quantidade de médicos por grupo de

1000 habitantes em Maringá é de 2,29 quando o recomendado pela Organização Mundial de

Saúde – OMS é de um médico por grupo de 1000 habitantes. Na área odontológica, há uma

média de 17,7 dentistas por grupo de 10.000 habitantes, quando o recomendado pela Organização

Mundial de Saúde é de 2,3 dentistas por grupo de 10.000 habitantes. A competitividade na área

da saúde se agrava com relação aos farmacêuticos, que ultrapassam 500 profissionais somente no

município de Maringá. De acordo com dados do Conselho Regional de Farmácia, Maringá conta,

atualmente, com uma farmácia para cada 1.400 pessoas, quando o recomendado é uma para cada

8.500 pessoas. Os dados mencionados podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1: Dados da área da saúde – Maringá versus OMS

Médicos por 1000

habitantes

Leitos hospitalares por

1000 habitantes

Dentistas por

10.000 habitantes

Farmácias por

10000 habitantes

Maringá 2,29 3,83 17,70 7,14

OMS 1,00 1,00 2,30 1,18

Fonte: Elaborado com base em Cruz Jr, 2002; Conselho Regional de Farmácia.

Os dados acima mostram com clareza o acirramento da competitividade entre os profissionais da

área da saúde no município em análise. Para buscar a sobrevivência no mercado, esses

14

profissionais devem contar, dentre outros fatores, com um perfil empreendedor capaz de

solucionar problemas e identificar oportunidades no mercado e na sociedade, bem como com

predisposição a correr riscos e a usar o seu talento em favor da concretização de uma idéia

criativa e inovadora.

1.2 TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA

Abrir seu próprio negócio tem sido, e continua sendo, o grande sonho de uma parcela

significativa da população brasileira, pois torna mais palpável o desejo de autonomia, de

independência e de liberdade. Estes motivos estão associados à aparente vontade de ganhar mais

dinheiro, ser patrão em vez de empregado, dedicar mais tempo à família, sair da rotina, trabalhar

e tirar férias quando quiser, dentre outros aspectos. Entretanto, muitos acabam por abandonar

seus sonhos por falta de oportunidade ou outro motivo qualquer. Mas o empreendedor persegue

seu sonho, a fim de transformá-lo em realidade.

Para fazer os sonhos, visões e projetos se transformarem em realidade, o empreendedor utiliza a

própria capacidade de combinar recursos produtivos – capital, matéria-prima e trabalho – para

realizar obras, fabricar produtos e prestar serviços destinados a satisfazer necessidades de pessoas

(PEREIRA; SANTOS, 1995).

Mas, para montar um negócio de sucesso, o empreendedor necessita de uma variedade maior de

recursos, que podem ser classificados em seis tipos: humano, social, financeiro, físico,

15

tecnológico e organizacional (GREENE, et. al, 1997; GREENE e BROWN, 1997, apud BRUSH,

2002). Cada tipo de recurso tem diferentes dimensões de acordo com uma escala de

complexidade, que varia de simples a complexo. Recursos simples são tangíveis, descontínuos e

baseados na propriedade, enquanto que recursos complexos são intangíveis, sistemáticos e

baseados no conhecimento (PENROSE, 1959; AMIT e SHOEMAKER, 1993; MILLER e

SHAMSIE, 1996, apud BRUSH, 2002).

Por outro lado, os recursos podem ser caracterizados de acordo com sua aplicabilidade ao

processo produtivo, variando de utilitário a instrumental. Recursos utilitários são aplicados

diretamente no processo produtivo ou combinados para desenvolver outros recursos. Por

exemplo, recursos físicos como máquinas, caminhões ou escritório podem ser considerados

utilitários na produção do bem ou serviço. Recursos instrumentais são usados especificamente

para fornecer acesso a outros recursos. Recursos financeiros podem ser considerados

instrumentais, já que são flexíveis e podem ser usados para obter outros recursos, como pessoas

ou equipamentos (BRUSH, 2002). Na visão da autora, o conjunto das dimensões dos recursos, de

simples a complexo e de utilitário a instrumental, fornece a base para planejar as combinações

possíveis e aplicações dos recursos no início de um empreendimento.

Entretanto, além da vasta gama de combinações e aplicações de recursos, o sucesso de um

empreendimento, em muitos casos, está diretamente relacionado com atributos e comportamentos

de seus proprietários. A situação se complica pelo fato de que cada pessoa, ao iniciar um negócio

é, na realidade, três pessoas em uma: o empreendedor, o gerente e o técnico (GERBER, 1990).

Segundo o autor, o conflito está relacionado à falta de equilíbrio entre esses três personagens. Se

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estivessem bem equilibrados entre si, o proprietário poderia ser descrito como uma pessoa

muitíssimo competente. O empreendedor estaria livre para avançar em novas áreas de interesse; o

gerente estaria consolidando a base de operações; e o técnico estaria executando o trabalho

técnico. Cada um se sentiria realizado com o trabalho que sabe fazer melhor, contribuindo para o

todo de uma forma mais produtiva. No entanto, Gerber menciona que poucas pessoas são

abençoadas com este equilíbrio. Pelo contrário, o pequeno empresário típico é apenas 10%

empreendedor, 20% gerente e 70% técnico.

Mas a existência de indivíduos conhecidos como empreendedores é condição básica para o

surgimento de novos empreendimentos, pois são os agentes responsáveis pelo desencadeamento e

condução do processo de criação de unidades produtivas. Estes, através de sua ação

empreendedora, mesmo que em empreendimentos de pequeno porte, inovam e desenvolvem o

universo empresarial, contribuindo para o desenvolvimento da economia.

Dentre esses empreendedores, poucos são administradores com formação na área. Muitos são

profissionais liberais, formados em medicina, odontologia, direito, veterinária, engenharia, entre

tantas outras formações. A condição de sucesso ou fracasso de um empreendimento parece não

estar diretamente relacionada com a formação básica do empreendedor, ou seja, existem

empreendimentos de sucesso, cujo empresário não é, necessariamente, formado na área de

Administração de Empresas. Para Drucker (1987), empreender diz respeito a atividades sociais

dos seres humanos. Sendo assim, existe pouca diferença no espírito empreendedor, qualquer que

seja a esfera em que se atue. O empreendedor na educação ou na saúde, por exemplo, faz

praticamente as mesmas coisas, usa praticamente os mesmos instrumentos e enfrenta

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praticamente os mesmos problemas de um empreendedor em uma empresa.

Diante desta realidade, surge a necessidade de se estudar o perfil empreendedor dos empresários

não-administradores por formação. Desta forma, visando pesquisar empresários que atuam na

área da saúde, surge a seguinte questão básica:

• Qual o perfil empreendedor do empresário com formação básica na área da saúde no

município de Maringá?

Para responder a esta questão, o trabalho tem por objetivo o desenvolvimento de um estudo com

estes empresários que, não sendo formados em Administração de Empresas, conseguem dar

continuidade a seus negócios de modo que os mesmos permaneçam, geralmente com sucesso, no

mercado. Assim, o presente trabalho se propôs a realizar um estudo com um conjunto de

empresários do Município de Maringá, da área da saúde, com a finalidade de identificar e

conhecer melhor o perfil deste empreendedor.

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

Uma vez que o sucesso ou fracasso do empreendimento está relacionado, principalmente, às

características comportamentais de seus empreendedores, a presente pesquisa buscou os seguintes

objetivos:

18

1.3.1 Objetivo geral

Identificar o perfil empreendedor do empresário da área da saúde do município de Maringá.

1.3.2 Objetivos específicos

Visando complementar e facilitar o alcance do objetivo principal da pesquisa, o trabalho também

procurou

• elencar um conjunto de atributos pertinentes à pessoa do empreendedor, objetivando a

identificação do seu perfil;

• identificar as características empreendedoras dos empresários, com a finalidade de

verificar se os mesmos apresentavam um perfil empreendedor;

• analisar as razões do negócio empreendido pelos mesmos;

• verificar a quem e como se atribuía a responsabilidade de administração do

empreendimento;

• identificar, junto aos empresários, qual(is) causa(s) poderia(m) ser atribuída(s) ao

sucesso do empreendimento.

1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

19

A importância do empreendedorismo e dos pequenos negócios tem crescido de forma

considerável nos últimos anos, devido ao fato de contribuírem significativamente para o

crescimento e desenvolvimento econômico. Dessa forma, o interesse no tema da presente

pesquisa se justifica, em especial, por dois motivos principais, quais sejam: a rápida expansão de

estudos sobre empreendedorismo e a sua importância para o desenvolvimento econômico de um

país; e o papel que as empresas de pequena dimensão (geralmente os empreendedores iniciam

pequenos negócios que, posteriormente, podem vir a tornar-se grandes corporações) representam

neste processo de desenvolvimento.

Em relação ao crescente interesse e a rápida expansão em estudos sobre empreendedorismo,

Filion (1999a), apresenta a seguinte contribuição:

Mais de mil publicações surgem anualmente no campo do empreendedorismo, em maisde 50 conferências e 25 publicações especializadas. Áreas de especialização têm sidocriadas, em número considerável, incluindo inovação e criatividade, criação, início,novos empreendimentos, abertura e fechamento de empresas, crescimento de empresas,auto-emprego e microempresas, franquias, bem como as várias dimensões dosempreendedores (comportamentos, sistemas de atividade, processosempreendedorísticos, intraempreendedorismo e empreendedorismo corporativo,tecnoempreendedores), o desenvolvimento regional, o empreendedorismo étnico, ossistemas de apoio ao empreendedorismo e às políticas governamentais, oempreendedorismo cooperativo, a formação em empreendedorismo, os empreendedoresdo sexo feminino e, finalmente, a pesquisa de pequenos negócios e conseqüentementesuas abordagens funcionais, incluindo finanças, marketing, gerenciamento deoperações, gerenciamento de recursos humanos, sistemas de informação e estratégia.

Além da importância para o desenvolvimento econômico de um país, o empreendedorismo está

se tornando, cada vez mais, tema de interesse de pesquisa, disciplinas para diversas áreas e fator

de importância fundamental para o desenvolvimento de pequenos negócios.

20

O mercado deixou de ser predominantemente composto por grandes corporações, passando a ter

a participação expressiva de micro e pequenos negócios. Nos últimos anos, o número de micro e

pequenas empresas vêm crescendo a taxas anuais de 10% ao ano (CUNHA e PFEIFER, 1997).

Este segmento da economia é composto por 3,5 milhões de empresas, que representam 98,3% do

total de empresas registradas e respondem por 20,4% do Produto Interno Bruto e por 59,4% da

mão-de-obra do país (SOUZA, 1995).

Para Cunha e Pfeifer, (1997, p. 14), existem muitas razões para o crescimento do número de

micro e pequenos negócios, os quais destacam:

• A complexidade e a diversidade de nossa sociedade em constante crescimentopromovem, cada vez mais, mudanças no comportamento e nas expectativas daspessoas;

• Mudanças estruturais que vêm ocorrendo nas indústrias, associadas à utilização denovas tecnologias de produção e gerência, resultam na eliminação de milhões deempregos;

• A nova concepção do Estado e a falência do setor público e estatal estão deixando deabsorver novos funcionários;

• A própria mentalidade do brasileiro, que o leva a tentar ser “dono do próprio nariz”.Uma pesquisa realizada em 1995 revela que o maior sonho dos brasileiros, hoje, émontar o seu próprio negócio.

As empresas de pequena dimensão desempenham papel fundamental na economia, uma vez que

asseguram tanto o desenvolvimento quanto a estabilidade da economia de um país. Tais empresas

representam novas fontes de emprego, constituem-se em novas unidades geradoras de impostos

com capacidade de ampliar a oferta de produtos para o consumidor e estimulam a concorrência

de preços e qualidade, por meio de suas respectivas atuações no ambiente empresarial, dentre

outros. Os pequenos empreendimentos, que tradicionalmente ocupam papel relevante na

economia brasileira, são responsáveis tanto pela geração de renda quanto pela criação de

empregos, contribuindo assim, para uma economia saudável (LONGEN, 1997).

21

Esses pequenos negócios geralmente são criados por pessoas que apresentam características

diferentes da grande maioria. Pessoas que não se conformam em trabalhar como funcionários,

que anseiam por independência e liberdade, que são automotivadas, determinadas, visionárias,

líderes. Ou seja, pessoas com características empreendedoras. No entanto, o que aparentemente

ocorre é que grande parte das iniciativas empreendedoras, não está partindo de pessoas com

graduação em Administração de Empresas, mas sim por pessoas com pouca ou nenhuma

formação acadêmica específica na área.

O presente estudo se justifica, ainda, pela necessidade de se compreender as razões que

estimulam as ações desempenhadas pelos empreendedores dentro de uma sociedade. Segundo

Stoner e Freeman (1995), a atividade empreendedora pode trazer, em princípio, as seguintes

contribuições:

• Estimula o crescimento econômico, já que pesquisas feitas nos Estados Unidosconstataram que quatro quintos da oferta total de novos empregos vêm das pequenasempresas;

• Aumenta a produtividade, principalmente devido à melhoria nas técnicas de produção;• Cria novas tecnologias, produtos e serviços.

Dessa forma, é essencial compreender como estas características empreendedoras são capazes de

criar e aproveitar oportunidades, melhorar processos e inventar negócios.

Além disto, apesar da importância desse assunto, observa-se uma relativa ausência de estudos

dedicados a compreender como os empreendedores administram seus negócios, principalmente,

quando não possuem formação na área administrativa. Assim sendo, torna-se importante

22

identificar o perfil do empreendedor da área da saúde e como se processa a administração de seu

empreendimento, já que este tem uma formação diferente da área administrativa.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O presente tópico apresenta a estrutura da dissertação, ou seja, a forma com que os capítulos

foram divididos e elaborados de maneira a atingir os objetivos da pesquisa. Desta forma, a

presente dissertação é composta por cinco capítulos, a saber: (1) apresentação, (2) fundamentação

teórica, (3) metodologia da pesquisa, (4) análise e tratamento dos dados da pesquisa e (5)

considerações finais e sugestões para futuras investigações.

O capítulo um, intitulado apresentação, traz os seguintes tópicos: introdução, tema e problema,

objetivos da pesquisa, justificativa e relevância da pesquisa e estrutura da dissertação. O assunto

empreendedorismo é introduzido e apresenta-se o tema e problema da pesquisa. Os objetivos –

geral e específicos – são tratados neste capítulo de forma a delinear o estudo, com o intuito de

não perder o foco da pesquisa. O tópico justificativa e relevância aborda o porquê da escolha do

tema e sua importância para o contexto atual. E, para finalizar, o presente tópico – estrutura da

dissertação – é elaborado com o propósito de definir e apresentar a estrutura da dissertação, a fim

de facilitar sua compreensão.

No capítulo dois, é apresentada a fundamentação teórica, que contextualiza o empreendedorismo,

assim como a figura do empreendedor para, posteriormente, subsidiar e traçar o perfil do

empreendedor. O tópico intitulado empreendedorismo apresenta a sua evolução histórica, assim

23

como conceitos e características, além de sua contribuição para o desenvolvimento econômico de

um país. Aborda-se também a evolução histórica de conceitos do empreendedor, de acordo com

os principais autores da época e, ainda, apresenta-se as características elaboradas por autores de

obras mais relevantes na área. Para finalizar, com base nas características apresentadas pelos

autores, tem-se subsídios para traçar o perfil do empreendedor, que serviram de suporte para o

estudo propriamente dito.

O capítulo três aborda os aspectos metodológicos da pesquisa, cujo objetivo é apresentar o

método da pesquisa, destacando os vários critérios de sua classificação, assim como a técnica de

coleta de dados, a delimitação e as limitações da pesquisa.

O resultado da pesquisa é apresentado no capítulo quatro, no qual são analisados os dados

coletados, a fim de identificar o perfil dos empresários da área da saúde, com o intuito de

verificar se estes realmente se enquadram no perfil empreendedor.

Por fim, o capítulo cinco apresenta as considerações finais do estudo, assim como sugestões para

futuras pesquisas e recomendações para os empresários.

24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica da presente pesquisa serve-se, primeiramente, de um levantamento

bibliográfico a respeito do surgimento do empreendedorismo no Brasil e no mundo, assim como

procura conhecer as contribuições que este oferece para o desenvolvimento econômico do país e

da própria sociedade. Num segundo momento, a pesquisa aborda a evolução histórica de

conceitos pertinentes à figura do empreendedor para, posteriormente, definir as características

empreendedoras sob a perspectiva de vários autores, o que servirá como base para as análises que

serão desenvolvidas no capítulo 4.

2.1 EMPREENDEDORISMO

Por se tratar de um assunto relativamente recente, e por ser objeto de estudo de pesquisadores de

diferentes campos de pesquisa, o tema empreendedorismo ainda sofre uma falta de consenso e

uniformidade na determinação de sua definição e métodos. No entanto, a expansão desse campo

de estudo tem sido rápida. Por esse motivo, os tópicos a seguir objetivam apresentar a evolução

histórica do empreendedorismo nas suas diferentes áreas de atuação, assim como seus conceitos e

características, a fim de proporcionar um maior entendimento a respeito do tema.

25

2.1.1 Evolução histórica

Empreendedorismo como conceito começou a ser desenvolvido por um grande número de

economistas, desde o final do Século XVII. Desde então, tornou-se campo de estudo para

pesquisadores de diferentes áreas. Sendo assim, cada disciplina apresenta sua própria visão a

respeito do tema empreendedorismo e, relativamente, não sofre nenhuma influência de outras

disciplinas. No entanto, como campo acadêmico teve seu início recentemente, no final dos anos

70, concretizando-se apenas no início de 1980 (SEXTON e LANDSTRÖM, 2000).

Os primeiros cursos e conferências de que se tem notícia tinham maior foco na pequena empresa

do que em empreendedorismo. A Harvard Business School criou, em 1947, um curso sobre

gerenciamento de pequenas empresas. Peter Drucker, em 1953, montou um curso de

empreendedorismo e inovação na New York University. Em 1948, na Suíça, a St. Gallen

University promoveu a primeira conferência sobre a pequena empresa e seus problemas. Em

1956, durante uma conferência promovida pela University of Colorado sobre desenvolvimento de

pequenos negócios, surgiu o ICSB (International Concuil for Small Business), a maior associação

voltada para a pesquisa de empreendedorismo (DOLABELA, 1999a). Hoje, praticamente

inexistem escolas com cursos de gestão de negócios que não tenham pelo menos um curso de

empreendedorismo (STEVENSON e JARILLO, 1990).

O primeiro congresso internacional foi realizado em 1973 em Toronto, Canadá. Em 1978, o

Babson College, de Boston, instituiu a Academy of Distinguished Entrepreuners para premiar

empreendedores de “classe mundial”, que se tornou o protótipo de outros prêmios, como o

26

Entrepreneur of the Year Awards da Ernst & Young, hoje com uma versão brasileira. As

publicações científicas da área de empreendedorismo datam início em 1963, com o Journal of

Small Business Management, hoje órgão oficial do ICSB. Em 1981, o Babson College criou um

dos mais importantes congressos acadêmicos em empreendedorismo. Outra contribuição do

Babson College foi a criação do programa Price-Babson Fellows, apoiado pela Price

Foundation, através do qual foram levados para o campus de Babson empreendedores

experientes que tinham interesse em lecionar na área. Em Baylor, 1980, foi realizado o primeiro

congresso sobre o “estado da arte”, surgindo em decorrência, a Encyclopedia of

Entrepreneurship, editada por Karl Vésper e outros, que atualmente tem quatro volumes. O

número de instituições universitárias que oferecem conteúdo de empreendedorismo nos Estados

Unidos passou de 10, em 1967, para 1.064 em 1998. Em cinco Estados, o ensino de

empreendedorismo é obrigatório nos Estados Unidos (DOLABELA, 1999a).

Somente há três décadas é que se iniciaram trabalhos de políticas e ações que estimulam a criação

de empresas, dando-lhes subsídios e bases sólidas. Os Estados Unidos apresentam exemplos

inspiradores como o Silicon Valley e Route 128 (DORFMAN, apud DUTRA, 2002). Em 1987, o

Academy of Management criou uma divisão para estudos na área, inclusive com uma definição

própria de empreendedorismo (INÁCIO, 2002).

Segundo Dornelas (2001), o empreendedorismo tem sido o centro das políticas públicas na

maioria dos países. Sendo assim, o autor apresenta alguns exemplos de ações desenvolvidas no

mundo na década de 1990, baseados no estudo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM

2000):

27

• No final de 1998, o Reino Unido publicou um relatório a respeito do seu futurocompetitivo, o qual enfatizava a necessidade de se desenvolver uma série de iniciativaspara intensificar o empreendedorismo na região.

• A Alemanha tem implementado um número crescente de programas que destinamrecursos financeiros e apoio na criação de novas empresas. Para se ter uma idéia, nadécada de 1990, aproximadamente duzentos centros de inovação foram estabelecidos,provendo espaço e outros recursos para empresas start-ups (iniciantes).

• Em 1995, o decênio do empreendedorismo foi lançado na Finlândia. Coordenado peloMinistério de Comércio e Indústria, o objetivo era dar suporte às iniciativas de criaçãode novas empresas, com ação em três grandes áreas: criar uma sociedadeempreendedora, promover o empreendedorismo como uma fonte de geração deemprego e incentivar a criação de novas empresas.

• Em Israel, como resposta ao desafio de assimilar um número crescente de imigrantes,uma gama de iniciativas tem sido implementada por meio do Programa de IncubadorasTecnológicas, com o qual mais de quinhentos negócios já se estabeleceram em 26incubadoras do projeto. Houve ainda uma avalanche de investimento de capital de risconas empresas israelenses, sendo que mais de cem empresas criadas em Israelencontram-se com suas ações na NASDAQ (Bolsa de ações de empresas de tecnologiae Internet, nos Estados Unidos).

• Na França, há iniciativas para promover o ensino de empreendedorismo nasuniversidades, particularmente para engajar os estudantes. Incubadoras com sede nasuniversidades estão sendo criadas. Uma competição nacional para novas empresas detecnologia foi lançada e uma Fundação de Ensino do empreendedorismo foiestabelecida.

No Brasil, o primeiro curso que se tem notícia na área de empreendedorismo surgiu em 1981, na

Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, por iniciativa do

professor Ronald Degen. Era uma disciplina do CEAG – Curso de Especialização em

Administração para Graduados, e chamava-se “Novos Negócios”. Em 1984, o curso foi estendido

para a graduação, sob o nome de “Criação de Novos Negócios – Formação de Empreendedores”.

Mais tarde, o curso de empreendedorismo foi inserido em cursos de mestrado, doutorado e MBA.

No mesmo ano, a USP – Universidade de São Paulo, começou a oferecer o ensino de

empreendedorismo com a disciplina “Criação de Empresas”, introduzida pelo professor Silvio

Aparecido dos Santos no curso de graduação em Administração na Faculdade de Economia,

Administração e Contabilidade. Ainda em 1984, o professor de informática Newton Braga Rosa,

do Departamento de Ciência da Computação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em

trabalho pioneiro, instalou uma disciplina de ensino de criação de empresas no curso de

28

bacharelado em Ciência da Computação. Em 1985, a FEA/USP ofereceu a disciplina de “Criação

de Empresas e Empreendimentos de Base Tecnológica”, no programa de Pós-graduação em

Administração (DOLABELA, 1999a).

Mas o movimento do empreendedorismo começou a tomar forma na década de 1990, com a

criação de entidades como o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas) e SOFTEX (Sociedade Brasileira para Exportação de Software) (DORNELAS, 2001).

O Sebrae-MG apoiou, no início dos anos 90, a criação do GEPE – Grupo de Estudos da Pequena

Empresa, no Departamento de Engenharia de Produção da UFMG. Com o objetivo de

desenvolver estudos na área de empreendedorismo, o GEPE realizava várias atividades,

destacando o oferecimento de workshops nos anos de 1992 a 1994. Em 1993, o programa

SOFTEX do CNPq, através de seu núcleo mineiro, a Fumsoft, desenvolveu uma metodologia de

ensino de empreendedorismo que seria oferecida no curso de graduação em Ciência da

Computação da UFMG. A disciplina “O Empreendedor em Informática” foi experiência de

sucesso, gerando em média cinco empresas a cada oferecimento. A disciplina ampliou-se e

ganhou alcance nacional em 1996, através do programa Softex-Softstart, sendo hoje oferecida por

mais de cem departamentos de ensino em informática em 24 estados brasileiros. (DOLABELA,

1999a).

A Universidade Federal de Santa Catarina criou, em 1992, a ENE – Escola de Novos

Empreendedores, que veio, no decorrer do tempo, a se constituir em um dos mais significativos

projetos universitários de ensino de empreendedorismo no Brasil, com profunda inserção

acadêmica e envolvimento tanto com projetos e órgãos internos à UFSC como com outras

29

universidades e organismos internacionais. Também em 1992, o Departamento de Informática da

Universidade Federal de Pernambuco criava o CESAR – Centro de Estudos e Sistemas

Avançados do Recife, com o objetivo de ser um núcleo de aproveitamento industrial dos

resultados acadêmicos. Em 1995, a EFEI – Escola Federal de Engenharia de Itajubá, em Minas

Gerais, criou o CEFEI – Centro Empresarial de Formação Empreendedora de Itajubá, com o

objetivo de inserir o ensino de empreendedorismo na instituição. No mesmo ano, a UNB –

Universidade de Brasília, criou a Escola de Empreendedores, que realiza anualmente um evento

de grande sucesso, a Semana do Empreendedor, mobilizando a comunidade acadêmica e grande

número de empresários.

Dornelas (2001), menciona alguns exemplos de ações recentes que visam desenvolver programas

de ensino ao empreendedorismo:

• Os programas SOFTEX e GENESIS (Geração de Novas Empresas de Software,Informação e Serviços), que apóiam atividades de empreendedorismo em software,estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geração de novas empresas desoftware (start-ups).

• Ações voltadas à capacitação do empreendedor, como os programas EMPRETEC eJovem Empreendedor do Sebrae. E ainda, o programa Brasil Empreendedor, doGoverno Federal, dirigido à capacitação de mais de um milhão de empreendedores emtodo país e destinado recursos financeiros a esses empreendedores, totalizando uminvestimento de oito bilhões de reais.

• Os diversos cursos e programas sendo criados nas universidades brasileiras para oensino do empreendedorismo. É o caso de Santa Catarina, com o programa EngenheiroEmpreendedor, que capacita alunos de graduação em engenharia de todo o país.Destaca-se também o programa REUNE, da CNI (Confederação Nacional dasIndústrias), de difusão do empreendedorismo nas escolas de ensino superior do país,presentes em mais de duzentas instituições brasileiras.

• A recente explosão do movimento de criação de empresas de Internet no país,motivando o surgimento de entidades como o Instituto e-cobra, de apoio aosempreendedores das pontocom (empresas baseadas em Internet), com cursos, palestrase até prêmios aos melhores planos de negócios de empresas start-ups de Internet,desenvolvidos por jovens empreendedores.

• Finalmente, não menos importante, o enorme crescimento do movimento deincubadoras de empresas no Brasil. Dados da ANPROTEC (Associação Nacional deEntidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas) mostram queem 2000, havia mais de 135 incubadoras de empresas no país, sem considerar as

30

incubadoras de empresas de Internet, totalizando mais de 1.100 empresas incubadas,que geram mais de 5.200 empregos diretos.

2.1.2 Conceitos e características

Para Cordeiro e Paiva (2002), o conceito de empreendedorismo tem sido aplicado em diferentes

níveis: indivíduos, grupos e “organizações como um todo”. Sendo assim, os autores citam três

autores, dos quais Kilby define empreendedorismo sob o escopo dos indivíduos, Birch apresenta

o empreendedorismo sob o ponto de vista de pequenos negócios (grupos) e Guth e Ginsberg sob

o aspecto corporativo. O termo empreendedorismo geralmente é concebido sob o escopo dos

indivíduos, por ser geralmente associado à criação de um invento revolucionário (KILBY, 1971).

Ele também é considerado por alguns teóricos que o aplicam ao domínio de pequenos negócios e

à geração de novos empreendimentos via entrada em mercados não explorados (BIRCH, 1979).

Recentemente, existe também uma ênfase no empreendedorismo corporativo como um meio de

crescimento e renovação para grandes empresas (GUTH e GINSBERG, 1990).

Em se tratando do tema empreendedorismo, Virtanen (s.d.b) menciona as diferenças entre os

seguintes conceitos:

1) entrepreneur = individual actor in the market, 2) entrepreneurial = behavior in themarket, 3) entrepreneurship = combines the actor (entrepreneur) and the behavior in themarket, and 4) entrepreneurial process = combines time dimension and behavior in themarket.

A definição de empreendedorismo para Virtanen é simples, pois combina o empreendedor com

seus comportamentos no mercado. Por outro lado, torna-se extremamente complexa, à medida

que surge a necessidade de se conhecer quais são os comportamentos do empreendedor no

mercado, pois ainda não se pode afirmar com exatidão quais são as características e os

31

comportamentos do empreendedor.

Richard Cantillon (1680-1734) descrevia empreendedorismo como o ato de adquirir, reembalar e

negociar produtos a preços imprecisos e incertos. Jean Baptiste Say (1767-1832) via o

empreendedor como aquele que reúne os fatores de produção, produz e vende o produto.

Enquanto que Joseph Schumpeter (1883-1950) afirmava que o sistema econômico de oferta e

procura estava em equilíbrio. E que o empreendedor era a pessoa responsável pela quebra desse

equilíbrio através da inovação, introduzindo novos produtos, novos métodos de produção e novos

mercados (SEXTON e LANDSTRÖM, 2000; STEVENSON e JARILLO, 1990).

Trazendo para um período mais recente, empreendedorismo é a habilidade de criar e constituir

algo a partir de muito pouco ou quase nada (BARRETO, 1998). Empreendedorismo é o processo

aparentemente descontínuo de combinar recursos para produzir novos bens e serviços (STONER

e FREEMAN, 1996). Há uma idéia geral de que os empreendedores desempenham uma função

social de identificar oportunidades e convertê-las em valores econômicos. Assim, o

empreendedorismo é visto como um processo que ocorre em diferentes ambientes e cenários,

causando mudanças no sistema econômico mediante as inovações trazidas pelos indivíduos que

geram ou respondem às oportunidades econômicas que criam valor (CHURCHILL e MUZYKA,

1996; apud CORDEIRO e PAIVA, 2002). Masi (1999) conceitua empreendedorismo como a

atividade realizada por pessoas que conseguem enxergar novas oportunidades e combinar

recursos, idéias e habilidades de uma maneira inovadora para a realização de um objetivo, o que

sem criatividade torna-se impossível. O empreendedorismo é um processo que ocorre em

diferentes ambientes e situações, e provoca mudanças através da inovação provocada pela

32

constante geração de idéias (COSTA e NIEDERAUER, s.d.b.). O que existe de comum entre

estes conceitos, e talvez um dos aspectos mais importantes do empreendedorismo, é o ato

criativo, de inovação e de visão de oportunidades.

Schumpeter também associa o empreendedorismo à inovação, aproveitamento de oportunidades e

combinações de recursos. Para Schumpeter,

“a essência do empreendedorismo está na percepção e no aproveitamento das novasoportunidades no âmbito dos negócios (...) sempre tem a ver com criar uma nova formade uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicionale sujeitos a novas combinações” (SCHUMPETER, 1928, apud FILION, 1999a).

Um aspecto de extrema importância a salientar refere-se à diferença entre empreendedorismo e

administração. Paul H. Wilken, citado por Stoner e Freeman (1996) analisa que:

“O entrepreneurship ... envolve combinações para iniciar mudanças na produção,enquanto [a administração] envolve combinações para produzir. A administração,portanto, refere-se à coordenação existente no processo de produção, que pode servisualizada como uma combinação contínua dos fatores de produção. Mas oentrepreneurship é um fenômeno descontínuo, surgindo para iniciar as mudanças noprocesso de produção...e desaparecendo em seguida, até reaparecer para iniciar outramudança”.

O empreendedorismo envolve, em primeiro lugar, o processo de criação de algo novo, de valor.

Em segundo, o empreendedorismo requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço

necessário para fazer a empresa crescer. E em terceiro, o empreendedorismo requer ousadia, que

se assuma riscos calculados, que se tome decisões críticas e que não se desanime com as falhas e

erros (DORNELAS, 2001, p.38).

Pode-se dizer, então, que o empreendedorismo tem como característica a criatividade e a

necessidade de mudança, que se constituem como variáveis fundamentais para o processo de

33

empreender. Outra variável é a facilidade que o empreendedor tem de lidar com o desconhecido,

transformando possibilidades em grandes negócios. O empreendedor enxerga sempre além

daquilo que é visível aos olhos das demais pessoas. E onde os outros vêem ameaças, o

empreendedor vê oportunidade. Não se pode deixar de mencionar a facilidade que o

empreendedor tem de aprender com seus próprios erros e fracassos.

Dolabela (1999a, p.46-47), destaca um conjunto de atividades do empreendedorismo, a saber:

A disseminação da cultura empreendedora no sistema de ensino formal em todos osníveis;

A disseminação da cultura empreendedora e o apoio à ação empreendedora entre grupossociais, tais como desempregados, minorias, alijados do processo econômico;

O empreendedorismo comunitário, em que sociedades desfavorecidas se articulam paraenfrentar a adversidade;

A sensibilização das forças da sociedade para a importância do empreendedorismo e dapequena empresa;

A geração do auto-emprego; A criação de empresas; A identificação, criação e busca de oportunidades para empresas existentes e novas; O financiamento de organizações emergentes e daquelas ameaçadas de

desaparecimento; O intra-empreendedorismo (intrapreneurship) ou estudo do papel do

empreendedorismo em grandes corporações; A promoção do desenvolvimento local; A concepção e a adoção de políticas públicas de apoio e suporte à criação de empresas,

abrangendo práticas econômicas, legais, tributárias, de financiamento, etc; O estabelecimento de redes de relações com universidades e com todas as forças

sociais.

Várias são as abordagens para se definir o empreendedorismo. Para simplificar a compreensão e

facilitar o estudo acerca do tema, pode-se dizer que empreendedorismo é a percepção e

aproveitamento de novas oportunidades; é a combinação de recursos, idéias e habilidades de

forma inovadora para a realização de um objetivo.

Devido à sua grande importância para o crescimento e desenvolvimento econômico, a educação

34

para o empreendedorismo está se tornando um componente importante na integração dos

programas acadêmicos de universidades e escolas, com nítida tendência à expansão propelida

pelas forças sócio-econômicas.

2.1.3 Contribuições para o desenvolvimento econômico

O empreendedorismo vem se firmando como tendência para solução dos problemas da economia

atual. Não se pode mais esperar das grandes empresas a solução para o desemprego e para a falta

de ocupação economicamente útil das pessoas. O empreendedor, como gerador de novas

empresas, passa a ser o eixo central da criação de novos postos de trabalho, intensificando

transações econômicas e contribuindo para a competitividade de uma nação (PANTZIER, s.d.t.).

As condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento precisam de empreendedores que as

aproveitem e que, através de sua liderança, capacidade e de seu perfil, disparem e coordenem o

processo de desenvolvimento, cujas raízes estão, sobretudo, em valores culturais, na forma de ver

o mundo. O empreendedor cria e aloca valores para indivíduos e para a sociedade, ou seja, é fator

de inovação tecnológica e crescimento econômico (DOLABELA, 1999a).

Um país cresce e melhora as condições de vida de seu povo, pelo esforço de indivíduos e

coletividades na construção de uma sociedade em que a segurança, a prosperidade, a justiça e a

liberdade de pensar e agir sejam direitos e possibilidades acessíveis a todos. Agindo de forma

independente ou associado a outros, encontra-se um indivíduo muitas vezes incompreendido nas

suas motivações, nos seus métodos de trabalho e na sua contribuição para o desenvolvimento

35

social e econômico de um país. Com reconhecimento recente na teoria econômica como agente

indispensável para a contínua transformação e adaptação de uma economia moderna, o

empreendedor passou a receber atenção e interesse crescentes na última década, pelo seu papel de

mobilizador das bases de recursos, de inovador tecnológico e, conseqüentemente, de gerador de

riqueza e emprego (GEM, 2001).

Segundo Paul Reynolds (s.d.b), um dos coordenadores do Relatório GEM, “(...) a principal ação

de qualquer governo para promover o crescimento econômico consiste em estimular e apoiar o

empreendedorismo, que deve estar no topo das prioridades das políticas públicas”. A pesquisa

GEM endossa o argumento de que o empreendedorismo faz grande diferença para a prosperidade

econômica e que um país sem altas taxas de criação de novas empresas corre o risco da

estagnação econômica (DOLABELA, 1999a).

Devido ao fato da forte associação entre empreendedorismo e crescimento econômico, a

preocupação em desenvolver e implementar estratégias que sustentam a atividade empreendedora

estava presente entre as políticas de vários países. O relatório GEM (2000, p. 3) apresenta os

seguintes casos:

Australia introduced a New Taxation System designed to encourage both domestic andoverseas investment in early-stage ventures, accompanied by significant reductions incapital gains and company taxes;

In October 1999, the Brazilian Government introduced the “Brasil Empreendedor”program, providing low-interest financing, professional training and other basic supportservices to smaller businesses. To date, one million businesses have made use of theprogram;

Denmark’s National Action Plan for Employment emphasizes entrepreneurship. A newloan guarantee fund for entrepreneurs reduces the financial risk for lenders by 25percent;

The German Federal Government has launched the European Recovery Program (ERP)start-up and equity capital aid initiatives to ease restrictions on the flow andaccessibility of early-stage financing. In addition, the EXIST program, supporting R&D

36

transfers from universities, has been established in high potential regions; In Ireland the government-backed report, “Entrepreneurship 2010”, outlines detailed

proposals for boosting the entrepreneurial sector; Singapore’s Technopreneuship 21 program aims to significantly improve education,

regulations and financing for entrepreneurs; Angel investors in Japan have been given new tax incentives and the government has

launched a National Forum on Start-ups and Venture Capital; A Small Business Agency and a national Enterprise Insight Campaign have been

lunched in the Unit Kingdom.

Pode-se dizer, então, que vários países acreditam que o empreendedorismo seja a chave para a

abertura do crescimento econômico. E, para estimular o empreendedorismo, visando um

crescimento econômico, desenvolvem ações e programas, que envolvem treinamento

profissional, incentivos fiscais, suportes técnicos, dentre outros.

De acordo com a Organization for Economic Co-Operation and Development (OECD):

Entrepreneurship is central to the functioning of market economies and entrepreneursare essential agents of change who accelerate the generation, application and spread ofinnovative ideas and in doing so…not only ensure efficient use of resources but alsoexpand the boundaries of economic activity. (GEM, 2000, p.3)

Por essa razão, o empreendedorismo é preocupação de governo e sociedade, pois contribui

fundamentalmente para o desenvolvimento e crescimento econômico de um país. Mas, apesar do

manifesto de muitos governos para impulsionar a atividade empreendedora, pouco se conhece

sobre a relação entre empreendedorismo e crescimento econômico.

2.2 O EMPREENDEDOR

Embora as pesquisas em empreendedorismo e a educação ao empreendedorismo sejam

relativamente recentes no campo de estudos acadêmicos, o conceito do termo empreendedor tem

37

sido apresentado por vários autores, principalmente no contexto econômico, desde o século XVII.

No entanto, os economistas identificados como pioneiros no campo do empreendedorismo –

Cantillon e Say – não estavam interessados somente em economia, mas também em empresas,

criação de novos empreendimentos, desenvolvimento e gerenciamento de negócios. Embora a

palavra entre-preneur tenha adquirido significado no século XVII, portanto, antes de Cantillon,

está evidente, conforme Schumpeter apontou, que ele foi o primeiro a oferecer clara concepção

da função empreendedora como um todo (FILION, 1999a). Desde então, o empreendedor foi

ganhando novas conotações, abordadas tanto no contexto econômico quanto no campo

empresarial. Entretanto, ainda não se pode afirmar a existência de um protótipo de empreendedor,

uma vez que os estudos são aparentemente recentes, e a opinião dos autores ainda é divergente,

em detrimento de suas áreas de atuação.

2.2.1 Evolução histórica de conceitos do empreendedor

O termo empreendedor foi originalmente utilizado pela língua francesa, para designar os homens

envolvidos na coordenação de operações militares. Posteriormente, passou a ser utilizado para

denominar as pessoas que se associavam com proprietários de terra e trabalhadores assalariados,

bem como para designar os aventureiros como construtores de pontes, empreiteiros de estradas

ou arquitetos (LONGEN, 1997).

Dornelas (2001) credita a primeira definição de empreendedorismo a Marco Polo, que tentou

estabelecer uma rota comercial para o Oriente. Como empreendedor, Marco Polo assinou um

38

contrato com um homem que possuía dinheiro (hoje conhecido como capitalista) para vender

suas mercadorias. Assim sendo, o capitalista assumia riscos de forma passiva, enquanto que o

empreendedor assumia papel ativo, correndo todos os riscos físicos e emocionais.

Os primeiros indícios de relação entre assumir riscos e empreendedorismo ocorreram no século

XVII, em que o empreendedor estabelecia um acordo com o governo para realizar algum serviço

ou fornecer produtos. Como geralmente os preços eram prefixados, quaisquer lucros ou prejuízos

eram exclusivos do empreendedor (DORNELAS, 2001). O empreendedor buscava nichos de

mercado para investimentos mais lucrativos e centralizava-se na análise de risco para tomadas de

decisão.

O empreendedor era definido por Cantillon (1725) como aquele que comprava matéria-prima,

com o objetivo de processá-la e depois vender por um preço maior, não definido previamente.

Cantillon era basicamente um banqueiro, que hoje poderia ser descrito como um capitalista de

risco. Seus escritos revelam um homem em busca de oportunidades de negócios, preocupado com

o gerenciamento inteligente de negócios e a obtenção de rendimentos otimizados para o capital

investido (FILION, 1999a). O banqueiro empreendedor tinha como tarefa mobilizar o dinheiro

dos outros para alocá-lo em áreas de produtividade mais elevada e que oferecesse um maior

rendimento. A essência da atividade econômica para o banqueiro empreendedor é o

comprometimento de recursos atuais em expectativas futuras, o que significa incertezas e riscos,

conseguindo seus recursos através de venda de ações das companhias que havia financiado.

Cantillon via o empreendedor como alguém que além de lidar com a inovação também investia e

corria riscos com seu próprio dinheiro (ANTUNES e SENHORINI, 2002).

39

O economista francês Jean Baptiste Say utilizou novamente o termo empreendedor em seu livro

Tratado de Economia Política, por volta de 1800. Nesta época, o empreendedor era responsável

por reunir todos os fatores de produção e descobrir, no valor dos produtos, a reorganização de

todo o capital que ele emprega, como valor dos salários, juros, aluguel, assim como o lucro que

lhe pertence (LONGEN, 1997). Para Jean Baptiste Say, o empreendedor era visto como o

indivíduo que transfere recursos econômicos de um setor de baixa produtividade para um setor de

alta produtividade e maior rendimento (ANTUNES e SENHORINI, 2002). Segundo Say, o

empreendedor deveria apresentar as seguintes características: julgamento, perseverança e um

conhecimento sobre o mundo e sobre os negócios. Deveria ter a arte da superintendência e da

administração (LONGEN, 1997). Say enfatiza que o empreendedor é a figura central da

economia com o papel de mediador, cuja função é combinar os meios de maneira a alcançar no

final a produção de uma mercadoria.

Conforme exemplificado por Haahti (1987), o empreendedor é o mediador entre o capitalista e o

senhor das terras, entre os cientistas e os trabalhadores, entre os fornecedores de produtos e

serviços e os consumidores (SEXTON e LANDSTRÖM, 2000). Say fazia distinção entre

empreendedores e capitalistas e entre os lucros de cada um. O empreendedor estava associado à

inovação e era visto como agente da mudança. Ele próprio era um empreendedor e foi o primeiro

a definir as fronteiras do que é ser um empreendedor na concepção moderna do termo. Como Say

foi o primeiro a lançar os alicerces desse campo de estudo, pode-se considerá-lo o pai do

empreendedorismo (FILION 1999a).

Dois autores ingleses dedicaram esforços para definir explicitamente a função do empreendedor

40

no desenvolvimento econômico, Adam Smith e Alfred Marshall. Smith denominou o

empreendedor como um proprietário capitalista, fornecedor de capital e administrador, que se

interpõe entre o trabalhador e o consumidor. Para Smith, o empreendedor era visto como a pessoa

que visa somente produzir dinheiro. Marshall caracterizou o empreendedor como uma pessoa que

se aventura e assume riscos, reunindo capital e trabalho requeridos para o negócio. Ou seja, o

empreendedor era visto como uma pessoa que supervisiona os mínimos detalhes, buscando a

convivência com o risco, a inovação e a gerência do negócio (LONGEN, 1997).

Mas a consolidação do termo empreendedor somente se fez presente no século XX, com Joseph

Alois Schumpeter, que denominava o empreendedor como o responsável pelo processo de

destruição criativa. Schumpeter partiu da abordagem de que o sistema econômico de oferta e

procura estava em equilíbrio. O empreendedor tendia a quebrar este equilíbrio através da

introdução de inovação dentro do sistema, na forma de novos produtos, novos métodos de

produção ou novos mercados. O empreendedor é visto por Schumpeter como o impulso

fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista, que está constantemente

criando novos produtos, novos métodos de produção e novos mercados. O empreendedor é o

motor da economia, o agente de inovação e mudanças, capaz de desencadear o crescimento

econômico. É a pessoa que está sobrepondo-se aos antigos métodos, menos eficientes e mais

caros. Aquele que realiza coisas novas e não, necessariamente, aquele que inventa.

Outros autores surgiram e o empreendedor é concebido como uma pessoa que inova, que toma

iniciativa, identifica e cria oportunidade de negócios, monta e coordena novas combinações de

recursos para extrair os maiores benefícios de suas inovações. Degen (1989) acredita que ser

41

empreendedor significa ter, acima de tudo, a necessidade de realizar coisas novas, pôr em prática

idéias próprias, ter características de personalidade e comportamento que nem sempre são fáceis

de se encontrar. Para Peter Drucker (1987), o empreendedor é uma pessoa que está sempre

buscando a mudança, reage a ela e a explora como sendo uma oportunidade. Para o autor, a

inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual exploram a mudança

como uma oportunidade para um negócio diferente, pois é o empreendedor que cria algo novo,

diferente, inovando ou transformando valores e conseguindo conviver com as incertezas e riscos

inerentes ao negócio.

Shapero (1977) descreveu o empreendedor como sendo alguém que toma a iniciativa de reunir

recursos de uma maneira nova ou para reorganizar recursos de maneira a gerar uma organização

relativamente independente, cujo sucesso é incerto. O empreendedor, para Lezana (1995), é o

indivíduo que tem criatividade, identifica novas oportunidades e com iniciativa própria busca

informações permanentemente, comunica-se de maneira persuasiva, entre outras características,

proporcionando satisfação pessoal e familiar, gerando empregos e riqueza (COSTA e

NIEDERAUER, s.d.b.).

Gerber (1990) relaciona o empreendedor à personalidade criativa, que está sempre lidando com o

desconhecido, investigando o futuro, transformando possibilidades em probabilidades, caos em

harmonia. A personalidade empreendedora transforma a condição mais insignificante numa

excepcional oportunidade. Zoghlin (1994) define os empreendedores como determinados,

inovadores, ousados iconoclastas que prezam sua independência. Não hesitam em modificar ou

passar por cima das regras para conseguir o que querem.

42

Longenecker (1997), por sua vez, visualiza os empreendedores como heróis populares da

moderna vida empresarial que não só introduzem inovações, como fornecem empregos e

estimulam o desenvolvimento econômico. Para o autor, o empreendedor deve ter autonomia de

determinar objetivos e tempo, a hora de procurar o ambiente e a organização de oportunidades.

Ele deve também prover recursos, avaliar e decidir entre as “paradas empreendedoras”, trabalhar

fora dos canais normais e controlar ou supervisionar os recursos após a sua aplicação. O autor

apresenta uma concepção mais ampliada da ação empreendedora, definindo-a tanto como aquela

relacionada a uma pessoa que inicia um negócio, como à que o opera e o desenvolve. Nessa

prática podem ser incluídos todos os gerentes e proprietários ativos da empresa. O conceito sob

esse prisma agrega inclusive os membros da segunda geração de empresas familiares e

proprietários-gerentes que compram empresas já existentes.

Dolabela menciona que ser empreendedor envolve características, atitudes, aprendizado e

relacionamento.

Ser empreendedor não é somente uma questão de acúmulo de conhecimentos, mas aintrojeção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de simesmo voltados para atitudes em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e deconviver com a incerteza são elementos indispensáveis. (...) O empreendedor é alguémcapaz de desenvolver uma visão, mas não só. Deve saber persuadir terceiros, sócios,colaboradores, investidores, convencê-los de que sua visão poderá levar todos a umasituação confortável no futuro. (DOLABELA, 1999a, p.44).

Diante da vasta gama de autores de diversas áreas ou disciplinas que buscam definir o

empreendedor, a confusão reina no campo do empreendedorismo, porque não há consenso a

respeito do empreendedor e das fronteiras do paradigma. Por outro lado, se forem comparadas as

definições dadas por especialistas de uma mesma área, um consenso surpreendente é encontrado

(FILION, 1999a; DOLABELA, 1999a). O Quadro 1 mostra os distintos grupos de especialistas e

43

as definições ou características atribuídas ao empreendedor.

Quadro 1: Definições e atributos do empreendedor de acordo com diversos especialistasEspecialistas Definições e atributos ao empreendedorEconomistas Os empreendedores estão associados à inovação e apresentam papel

fundamental para o desenvolvimento econômico.Comportamentalistas Atribuem aos empreendedores as características de criatividade,

persistência, internalidade (capacidade de influenciar e controlarcomportamentos de outras pessoas) e liderança.

Engenheiros e especialistas emgerenciamento de operações

Vêem os empreendedores como bons distribuidores e coordenadores derecursos.

Especialistas em finanças Definem os empreendedores como pessoas capazes de calcular e medirriscos.

Especialistas em gerenciamento Os empreendedores são organizadores competentes e desembaraçados quedesenvolvem linhas mestras ou visões em torno das quais organizam suasatividades, destacando-se em organizar e fazer uso de recursos.

Especialistas na área de marketing Definem os empreendedores como pessoas que identificam oportunidades,se diferenciam dos outros e têm o pensamento voltado para o consumidor.

Interessados em criação de novosempreendimentos

Os melhores elementos para prever o sucesso de um empreendedor são ovalor, a diversidade e a profundidade da experiência e das qualificaçõesadquiridas por ele no setor em que pretende operar.

Fonte: Elaborado com base em DOLABELA 1999a; FILION, 1999a.

Apesar da falta de consenso (ou no caso de consenso apenas entre os especialistas de uma mesma

área) na definição do empreendedor, os estudos apontam para algumas conclusões a respeito do

assunto. A primeira conclusão é de que o empreendedor não é fruto, apenas, de herança genética,

mas sim um ser social, produto do meio em que vive (época e lugar). Sendo assim, o perfil do

empreendedor pode variar de região para região. A partir deste ponto, pode-se chegar a uma

segunda conclusão: que é possível aprender a ser empreendedor, desde que se utilizem métodos

adequados para isto. Se o indivíduo não nasceu com predisposição a ser empreendedor, pode

desenvolver e adquirir características que o possibilitarão ser um empreendedor bem sucedido.

No entanto, os pesquisadores ainda apresentam dificuldade em identificar o empreendedor, já que

o mesmo pode ser confundido com o empresário. Dolabela (1999a) considera como

empreendedores:

44

um indivíduo que cria uma empresa, qualquer que seja ela;

uma pessoa que compra uma empresa e introduz inovações, assumindo riscos, seja

na forma de administrar, vender, fabricar, distribuir ou fazer propaganda dos seus

produtos e/ou serviços, agregando novos valores;

um empregado que introduz inovações em uma organização, provocando o

surgimento de valores adicionais.

O autor não considera empreendedor aquele indivíduo que apenas adquire uma empresa, somente

gerenciando o negócio, sem introduzir qualquer inovação (seja na forma de vender, produzir, de

tratar os clientes).

2.2.2 Características empreendedoras

As características empreendedoras são vitais para o profissional que deseja iniciar um novo

negócio e/ou continuar no mercado de trabalho, já que ambas as situações exigem pessoas

criativas, que saibam assumir riscos, que possuam iniciativa própria para a resolução dos

conflitos e que sejam persistentes quanto aos seus objetivos. Essas características devem estar

presentes na vida do funcionário, do empresário e, principalmente, da pessoa que deseja entrar

em um novo ramo de negócio. Dessa forma, é essencial que as pessoas desenvolvam

características empreendedoras, capazes de criar e aproveitar oportunidades, melhorar processos

e inventar negócios, que tenham vontade e aptidão para realizar algo, a fim de deixar a sua marca

e fazer a diferença.

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Existem diferentes correntes que abordam o empreendedorismo, e categorizações que se ampliam

ou diminuem conforme os autores. Geralmente elas são provocadas por autores que partem de

diferentes premissas (FILION, 1999a). O autor destaca as seguintes dimensões para o

empreendedor:

Comportamentos

Sistemas de atividade

Processos empreendedorísticos

Técnico-empreendedores

Intra-empreendedorismo

No entanto, duas correntes básicas são usualmente definidas: os economistas, que se iniciou com

Richard Cantillon (1680-1734) e Jean Baptiste Say (1767-1832) e se desenvolveu com Joseph A.

Schumpeter (1883-1950), associando o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à

inovação e à busca de oportunidades; e a corrente dos comportamentalistas, desenvolvida a partir

dos estudos de David McClelland, que enfatiza os aspectos de atitude como a criatividade e a

intuição (GIMENEZ e INÁCIO, 2002; DUTRA, 2002).

A linha comportamentalista sobre o empreendedor surgiu em 1930. Formada por especialistas em

comportamento humano, é uma das primeiras e mais importantes teorias das raízes psicológicas

sobre empreendedorismo. Foi exposta no início dos anos 60, por David McClelland, e mostrava

que as pessoas que seguem carreiras semelhantes a de empreendedores têm uma alta necessidade

de realização social além de gostarem de correr riscos, fato que as levam a desprenderem maiores

esforços (GREATTI e SENHORINI, 2000). De acordo com McClelland, a necessidade de

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realização e êxito e as características comportamentais associadas são o fator-chave para o

crescimento econômico das pessoas (SEBRAE,1998).

Pode-se dizer, então, que as pessoas devem conquistar e aprender as habilidades e funções do

empreendedor, para, na prática profissional e empresarial, realizar atitudes empreendedoras. Tais

atitudes foram descritas por McClelland (1961), que identificou os dez principais

comportamentos de pessoas empreendedoras e agrupou-os em três conjuntos distintos, conjunto

de realização, de planejamento e de poder. O Quadro 2 apresenta a descrição dos três conjuntos

de comportamentos do empreendedor.

Quadro 2: Comportamento do empreendedor segundo McClellandConjunto de RealizaçãoBusca deoportunidades einiciativa

O empreendedor deve possuir predisposição para identificar oportunidades, pois, onde osoutros vêem problemas, o empreendedor vê oportunidades. O empreendedor de sucessonão cansa de observar negócios, é curioso e cuidadoso na análise de informações e suasfontes. Observe as seguintes atitudes do empreendedor de sucesso: realiza atividadesantes de solicitado ou forçado pelas circunstâncias; busca novas áreas de atuação, comprodutos e serviços que venham ampliar seu empreendimento; aproveita oportunidadesfora do comum para começar um novo negócio, obtendo financiamentos, equipamentos,local de trabalho ou assistência.

Persistência A pessoa empreendedora deve caminhar em direção aos seus objetivos e ideais, suando acamisa, superando os obstáculos e mantendo-se atuante mesmo diante de resultadosdesanimadores. O empreendedor deve ser persistente, buscar novas alternativas derealizar suas atividades, quando não são bem sucedidas. No entanto, há uma diferençaentre persistência e teimosia. O empreendedor não deve ser teimoso, ao insistir váriasvezes no mesmo erro, que o conduz a um desfecho mal sucedido. O indivíduo deveapresentar as seguintes atitudes, que apontam para uma direção de esforços realmenteempreendedora: agir diante de dificuldades relevantes; insistir ou mudar de estratégia coma finalidade de enfrentar desafios ou dificuldades; responsabilizar-se pessoalmente pelocumprimento dos objetivos estabelecidos. Porém, deve ter a capacidade de analisarresultados e aprender com seus fracassos, evitando persistir teimosamente.

Correr riscoscalculados

Para ser um empreendedor de sucesso, o indivíduo precisa fazer cálculos cuidadosos noque diz respeito às chances de sucesso e de fracasso do seu empreendimento. Este aceitaassumir riscos calculados, buscando a prova de que suas chances de sucesso são maioresque de fracasso. As atitudes realizadas pelo empreendedor são as seguintes: analisa asalternativas e calcula riscos cuidadosamente; age para diminuir riscos ou controlarresultados; coloca-se em situações que implicam desafios moderados, principalmente,para que ele possa ter controle sobre os fatores que determinarão o sucesso doempreendimento.

Exigência de qualidadee eficiência

Você e sua empresa deverão se destacar pelo nível de qualidade mais apropriado de suasatividades. É essencial buscar constantemente maneiras de realizar tarefas com maiorrapidez, menor custo e maior qualidade. Veja algumas atitudes fundamentais da pessoaempreendedora: age de forma a executar melhor as coisas, mais rapidamente ou mais

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barato; procede de forma a realizar coisas que satisfaçam ou excedem aos padrões deexcelência; assegura que o trabalho seja terminado a tempo e atenda aos padrões dequalidade previamente combinados, já que o empreendedor geralmente se destaca pelonível de qualidade mais alto de seus trabalhos, resultado de seus padrões de excelência eenergia para trabalhar duro.

Comprometimento O empreendedor se compromete de tal maneira com o seu empreendimento, que muitasvezes é obrigado a fazer sacrifícios pessoais, com um imenso esforço para complementarsuas tarefas. O comprometimento relaciona-se às seguintes atitudes do empreendedor:sacrifica-se pessoalmente ou depende de um grande esforço para completar uma tarefacontratada; trabalha junto com seus empregados ou os substitui caso seja necessárioterminar uma tarefa; prima em manter os clientes satisfeitos e coloca em primeiro lugar aboa vontade a longo prazo, em vez de lucro a curto prazo.

Conjunto de PlanejamentoBusca de informações Buscar informações é essencial para qualquer tipo de negócio. Por isso, questione sempre,

a fim de tornar seus objetivos claros e definidos, pois a tendência do empreendedor érealizar uma cuidadosa busca de informações que possam fundamentar a elaboração deum plano de negócio, voltado ao sucesso. O empreendedor deve apresentar as seguintesatitudes: pesquisar pessoalmente informações de clientes, fornecedores e concorrentes;analisar a melhor maneira de fabricar um produto ou oferecer um serviço; solicitarorientação de especialistas para obter assessoria técnica ou comercial e assim fundamentare possibilitar a elaboração de estratégias racionais, com boas chances de êxito.

Estabelecimento demetas

O empreendedor deve procurar definir objetivos de longo prazo e estabelecer metas decurto prazo, que lhe permitam reunir condições necessárias para a realização de seusprojetos mais amplos. É necessário estabelecer objetivos claros e com datas determinadaspara a sua realização. O empreendedor deve colocar em prática as seguintes atitudesempreendedoras: fixar objetivos que lhe proporcionem desafios e que tenham significadopessoal; estabelecer metas a longo prazo, claras e específicas; determinar objetivos decurto prazo e mensuráveis, pois, um objetivo quando escrito tem um aumento de 60% naprobabilidade de ser atingido.

Planejamento emonitoramentosistemáticos

Para que os objetivos sejam alcançados, é de primordial importância planejar e monitoraras ações a serem realizadas, visando controlar os resultados. Observe mais algumasatitudes do empreendedor: planeja um trabalho grande, dividindo-o em partes maissimples e com prazos definidos; acompanha e revisa seus planos, embasados eminformações sobre o desempenho real e em novas circunstâncias; mantém registrosfinanceiros e os utiliza para tomar decisões. A energia para este trabalho geralmente vemdo alto padrão de excelência do empreendedor e do compromisso com os própriosobjetivos. Como precisa de feedback constante, busca atividades que forneçaminformações contínuas e concretas sobre o próprio desempenho.

Conjunto de Poder

Independência eautoconfiança

Pessoas autoconfiantes aceitam correr riscos e assumem responsabilidade pessoal por seusucesso ou fracasso, independentemente das pessoas que estão a sua volta. Veja maisalgumas atitudes de pessoas empreendedoras: busca autonomia em relação a normas econtroles de outros; mantém suas decisões, mesmo quando outras pessoas se opõem,diante de resultados desanimadores; mostra-se confiante na sua própria capacidade decompletar uma tarefa difícil ou de enfrentar um desafio. Geralmente o empreendedoranalisa as situações-problema, no sentido de avaliar as fraquezas e as ameaças às suasações, buscando formas de exercer controle para eliminá-las ou amenizá-las.

Persuasão e rede decontatos

O empreendedor deve ser um catalisador de mudanças, alguém que transforme condiçõesambientais em função da realização de seus próprios objetivos. Tem necessidade deexercer controle sobre a situação, buscando certa influência sobre as pessoas, a fim deobter colaboração e apoio para a realização de seus objetivos. As atitudes doempreendedor são as seguintes: usa de estratégias para influenciar ou persuadir os outros;cerca-se de pessoas influentes para atingir seus próprios objetivos; procura desenvolver emanter relações comerciais.

Fonte: Elaborado com base em SEBRAE, 1998; BERTOGLIO, 1998.

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Conforme menciona o autor, os empreendedores são indivíduos totalmente comprometidos,

determinados e perseverantes. Estão preparados para abrir mão de objetivos pessoais em prol de

seu trabalho. Possuem um intenso desejo de superar obstáculos, barreiras, resolver problemas e

completar o trabalho. Não são intimidados pela dificuldade da situação. Também não têm

precipitação na superação dos obstáculos que possam impedir seu negócio. No entanto, são

realistas em reconhecer o que podem e o que não podem e onde encontram ajuda para resolver

uma tarefa difícil, mas necessária.

Os empreendedores são os próprios iniciadores. São dirigidos internamente pelo forte desejo de

competir, de exceder contra os próprios limites, perseguindo-os para obter resultados

desafiadores. São orientados e dirigidos por metas altas em sua busca e execução de atividades,

porém que sejam atingíveis. Isso os habilita a focalizar suas energias e serem seletivos na sua

escolha de oportunidades. Estabelecer metas e direção também os ajuda a definir prioridades e

provê-los com medidas de seu desempenho. Os empreendedores colocam-se em situações nas

quais são pessoalmente responsáveis pelo sucesso ou fracasso de operações. Gostam de tomar

iniciativa na resolução de problemas.

Dornelas (2001) menciona que ao se analisar estudos sobre o papel e as funções, assim como a

abordagem processual do trabalho do administrador, pode-se dizer que existem muitos pontos em

comum entre o administrador e o empreendedor. Para o autor, o empreendedor é considerado um

administrador, mas com diferenças consideráveis em relação aos gerentes ou executivos de

organizações tradicionais. O empreendedor de sucesso possui características extras, além dos

atributos do administrador. Possui atributos pessoais que, somados a características sociológicas e

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ambientais, permitem o nascimento de uma nova empresa. Pode-se dizer que os empreendedores

são mais visionários que os gerentes.

O autor elabora e apresenta algumas características inerentes ao empreendedor de sucesso, as

quais são apresentadas no quadro a seguir.

Quadro 3: Características dos empreendedores de sucesso, segundo DornelasSão visionários Eles têm a visão de como será o futuro para seu negócio e sua vida e, o mais

importante: eles têm a habilidade de implementar seus sonhos.Sabem tomar decisões Eles não se sentem inseguros, sabem tomar as decisões corretas na hora certa,

principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso um fator chave para o seusucesso. E mais: além de tomar decisões, implementam suas ações rapidamente.

São indivíduos que fazem adiferença

Os empreendedores transformam algo de difícil definição, uma idéia abstrata, emalgo concreto, que funciona, transformando o que é possível em realidade (Kao,1989; Kets de Vries, 1997). Sabem agregar valor aos serviços e produtos quecolocam no mercado.

Sabem explorar ao máximoas oportunidades

Para a maioria das pessoas, as boas idéias são daqueles que as vêem primeiro, porsorte ou acaso. Para os visionários (os empreendedores), as boas idéias são geradasdaquilo que todos conseguem ver, mas não identificaram algo prático paratransformá-las em oportunidade, por meio de dados e informação. Para Schumpeter(1949), o empreendedor é aquele que quebra a ordem corrente e inova, criandomercado com uma oportunidade identificada. Para Kirzner (1973), o empreendedoré aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em umambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na ordempresente. Porém, ambos são enfáticos em afirmar que o empreendedor é um exímioidentificador de oportunidades, sendo um indivíduo curioso e atento a informações,pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta.

São determinados edinâmicos

Eles implementam suas ações com total comprometimento. Atropelam asadversidades, ultrapassando os obstáculos, com uma vontade ímpar de “fazeracontecer”. Mantêm-se sempre dinâmicos e cultivam um certo inconformismodiante da rotina.

São dedicados Eles se dedicam 24 horas por dia, 7 dias por semana, ao seu negócio.Comprometem o relacionamento com amigos, com a família, e até mesmo com suaprópria saúde. São trabalhadores exemplares, encontrando energia para continuar,mesmo quando encontram problemas pela frente. São incansáveis e loucos pelotrabalho.

São otimistas e apaixonadospelo que fazem

Eles adoram o trabalho que realizam. E esse amor ao que fazem é o principalcombustível que os mantém cada vez mais animados e autodeterminados,tornando-os os melhores vendedores de seus produtos e serviços, pois sabem, comoninguém, como fazê-lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, emvez de imaginar o fracasso.

São independentes econstroem o próprio destino

Eles querem estar à frente das mudanças e ser donos do próprio destino. Queremser independentes, em vez de empregados, querem criar algo novo e determinar ospróprios passos, abrir os próprios caminhos, ser o próprio patrão e gerar empregos.

Ficam ricos Ficar rico não é o principal objetivo dos empreendedores. Eles acreditam que odinheiro é conseqüência do sucesso dos negócios.

São líderes e formadores de Os empreendedores têm um senso de liderança incomum. E são respeitados e

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equipes adorados por seus funcionários, pois sabem valorizá-los, estimulá-los, erecompensá-los, formando um time em torno de si. Sabem que para obter êxito esucesso, dependem de uma equipe de profissionais competentes. Sabem aindarecrutar as melhores cabeças para assessorá-los nos campos onde não detêm omelhor conhecimento.

São bem relacionados(networking)São organizados

Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os auxilia noambiente externo da empresa, junto a clientes, fornecedores e entidades de classe.Os empreendedores sabem obter e alocar os recursos materiais, humanos,tecnológicos e financeiros, de forma racional, procurando o melhor desempenhopara o negócio.

Planejam,Planejam,Planejam

Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negócio, desde orascunho do plano de negócios até a apresentação do plano a investidores,definição das estratégias de marketing do negócio etc., sempre tendo como base aforte visão de negócio que possuem.

Possuem conhecimento São sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que quanto maioro domínio sobre um ramo de negócio, maior é sua chance de êxito. Esseconhecimento pode vir da experiência prática, de informações obtidas empublicações especializadas, em cursos, ou mesmo de conselhos de pessoas quemontaram empreendimentos semelhantes.

Assumem riscos calculados Talvez essa seja a característica mais conhecida dos empreendedores. Mas overdadeiro empreendedor é aquele que assume riscos calculados e sabe gerenciar orisco, avaliando as reais chances de sucesso. Assumir riscos tem relação comdesafios. E para o empreendedor, quanto maior o desafio, mais estimulante será ajornada empreendedora.

Criam valor para a sociedade Os empreendedores utilizam seu capital intelectual para criar valor para asociedade, com a geração de empregos, dinamizando a economia e inovando,sempre usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar a vida daspessoas.

Fonte: DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. Rio de Janeiro: Campos,2001.

Dornelas (2001) menciona ainda que as habilidades requeridas do empreendedor podem ser

classificadas em três áreas: técnicas, gerenciais e características pessoais. As habilidades técnicas

envolvem saber escrever, saber ouvir as pessoas e captar informações, ser bom orador, ser

organizado, saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how técnico na sua área de

atuação. Por sua vez, as habilidades gerenciais incluem as áreas envolvidas na criação,

desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa: marketing, administração, finanças,

operacional, produção, tomada de decisão, controle das ações da empresa e ser um bom

negociador. Já as características pessoais incluem disciplina, assumir riscos, ser inovador, ser

orientado para mudanças, ser persistente e ser um líder visionário.

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Pereira e Santos (1995) também mencionam algumas características que traçam o perfil do

empreendedor de sucesso, as quais são descritas no Quadro 4:

Quadro 4: Características do empreendedor de sucesso, segundo Pereira e Santos• É motivado pelo desejo de realizar;• Corre riscos viáveis, possíveis;• Tem capacidade de análise;• É igual às outras pessoas quanto à moralidade, que é questão de caráter;• Precisa de liberdade para agir e para definir suas metas e os caminhos para atingi-las;• Sabe aonde quer chegar;• Confia em si mesmo;• Não depende dos outros para agir; sabe, porém, atuar conjuntamente;• É tenaz, firme e resistente ao enfrentar dificuldades;• É otimista, sem perder o contato com a realidade;• É flexível sempre que preciso;• Administra suas necessidades e frustrações, sem por elas se deixar dominar;• É corajoso; porém, não é temerário;• Sabe postergar, deixando para depois a satisfação de suas necessidades;• Mantém a auto-motivação, mesmo em situações difíceis;• Aceita e aprende com seus erros e com os erros dos outros;• É capaz de recomeçar de novo, se necessário;• Mantém a auto-estima, mesmo em situações de fracasso;• Tem facilidade e habilidade para as relações interpessoais;• É capaz de exercer a liderança, de motivar e de orientar outras pessoas com relação ao trabalho;• É criativo, na solução de problemas, de todos os tipos;• É capaz de delegar;• É capaz de dirigir sua agressividade para a conquista de metas, a solução de problemas e o enfrentamento

de dificuldades;• Usa a própria intuição e a de outras pessoas para escolher os melhores caminhos, corrigir a sua atuação

dele, descobrir lacunas a serem preenchidas no mercado, para avaliar a tendência dos negócios e avariação deste; também a emprega para escolher pessoas, sejam elas sócios, fornecedores ou funcionários;

• Procura sempre qualidade;• Acredita no trabalho como participação e contribuição social;• Tem prazer em realizar o trabalho e em observar seu próprio crescimento empresarial;• É capaz de administrar bem o tempo;• Não busca, exclusivamente, posição e reconhecimento social;• É independente, seguro e confiante, na execução de sua atividade profissional;• É capaz de desenvolver recursos de que necessita e de conseguir as informações que precisa;• Tem desejo de poder, como todos temos, consciente ou inconscientemente.

Fonte: PEREIRA, Heitor José; SANTOS, Silvio Aparecido dos. Criando Seu Próprio Negócio: como desenvolvero potencial empreendedor. Brasília: Ed. SEBRAE, 1995.

As características apresentadas por Pereira e Santos (1995) pouco diferem daquelas apresentadas

por outros estudiosos. Os autores apresentam o empreendedor como um indivíduo motivado,

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otimista, persistente e criativo. Usa sua intuição para desempenhar suas atividades. É líder aceito

pelos seus seguidores. Lida bem com o fracasso, encarando-o como uma forma de aprendizado.

Tem aptidão para correr riscos, desde que sejam previamente calculados.

Por outro lado, pode-se dizer que o empreendedor apresenta algumas virtudes, as quais são

classificadas em virtudes de apoio e virtudes superiores. As virtudes de apoio são importantes e

necessárias, mas as virtudes superiores são privativas apenas aos grandes empreendedores

(CUNHA e PFEIFER, 1997). O Quadro 5 apresenta as virtudes do empreendedor, classificadas

nos dois grupos: de apoio e superiores.

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Quadro 5: Virtudes do empreendedor, baseadas em Cunha e PfeiferVirtudes de ApoioVisão Jornada mental que liga o hoje (conhecido) ao amanhã (desconhecido), criando o futuro

a partir de uma montagem de fatos, esperanças, sonhos, oportunidades e perigos. Tervisão significa mapear o curso de ação para uma direção preestabelecida, facilitando adefinição das metas e as maneira de se alcançar esta direção (objetivo).

Energia O indivíduo que age com energia e têm objetivos atrai oportunidades. É com energia eobjetivos claros que se torna possível superar as ameaças encontradas no caminho, eaproveitar as oportunidades que surgem.

Comprometimento O empreendedor está disposto a se sacrificar ou despender esforço pessoal fora docomum para concretizar um projeto. Esmera-se em manter os clientes satisfeitos e estácomprometido em ter uma relação de amizade com funcionários e clientes.

Liderança O empreendedor é capaz de agregar as pessoas em torno de si e movê-las em direçãoaos objetivos por ele determinados. Para alcançar seus ideais e objetivos, empregaestratégias conscientes ou inconscientes, buscando influenciar ou persuadir os outros.

Obstinação O empreendedor é um guerreiro obstinado. Gosta de competir e, quando entra em umadisputa por uma causa, só sai como vencedor. Não conseguindo vencer da primeira vez,não desiste. Volta com estratégias alternativas, a fim de enfrentar os desafios e superaros obstáculos.

Capacidade dedecisão/concentração

Com um senso apurado de prioridade, o empreendedor se concentra naquilo querealmente é importante, facilitando o cálculo dos riscos. Avalia as estratégiasalternativas e calcula riscos deliberadamente, estando sempre preocupado em reduzi-lose em controlar os resultados.

Virtudes SuperioresCriatividade A criatividade é uma das principais armas utilizadas pelo empreendedor. O

empreendedor cria novos produtos, novos métodos de produção, desbrava novosmercados. Tem uma personalidade criativa que está sempre buscando novas formas desatisfazer os clientes e, muitas vezes, criando novas necessidades. A criatividade estáacompanhada da capacidade de execução, de inovação.

Independência O empreendedor é um ser independente, que não gosta de seguir normas e estar sobcontrole dos outros. A autonomia é um dos seus objetivos, e se apresenta autoconfiantena busca deste e de outros objetivos. Mantém seu ponto de vista, mesmo diante daoposição ou de resultados desanimadores. Expressa confiança na capacidade de realizartarefas difíceis e de enfrentar grandes desafios. Os empreendedores bem-sucedidos sãoos que pensam e se movem por iniciativa própria.

Entusiasmo/paixão Os empreendedores são entusiasmados, apaixonados por aquilo que fazem, e inspiramoutras pessoas para que aceitem seus sonhos. “O entusiasmo é um estado de espíritoque inspira e incita o indivíduo à ação. Nada é tão contagioso quanto o entusiasmo. Eleafeta de maneira vital não somente o apaixonado, como também os que entram emcontato com ele” (Hill, 1991).

Fonte: Elaborado com base em CUNHA, C. J. C. A.; PFEIFER, S. S. O Empreendedor. Capítulo I, p.13-37. InCUNHA, C. J. C. A.; FERLA, L. A. (Ed) Iniciando seu próprio negócio. Florianópolis, I.E.A., 1997.

As virtudes apresentadas por Cunha e Pfeifer (1997) estão muito próximas do comportamento

traçado por McClelland (1961), em que o empreendedor é visto como um indivíduo

comprometido, persistente e independente. Sua capacidade de liderança atrai pessoas altamente

comprometidas com os seus ideais. É apaixonado e entusiasmado pelo que faz, contagiando os

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seus seguidores. Sua capacidade de concentração e decisão o auxilia na concentração de esforços

para as atividades que realmente são importantes para o bom desempenho de seu negócio.

Uma vez que as características pertinentes ao perfil do empreendedor não estejam completamente

definidas na literatura, e contando com a colaboração de diversos autores e pesquisadores da área,

não se pode atribuir um perfil exato ao empreendedor; várias são as características atribuídas a

ele. Dolabela (1999a) apresenta um resumo do perfil do empreendedor segundo Timmons (1994)

e Hornaday (1982), conforme mostra o quadro abaixo.

55

Quadro 6: Características do empreendedor, segundo Timmons e HornadayTem um “modelo”, uma pessoa que o influencia.Tem iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização.Trabalha sozinho. O processo visionário é individual.Tem perseverança e tenacidade para vencer obstáculos.Considera o fracasso um resultado como outro qualquer, pois aprende com os próprios erros.É capaz de se dedicar intensamente ao trabalho e concentra esforços para alcançar resultados.Sabe fixar metas e alcançá-las; luta contra padrões impostos; diferencia-se.Tem capacidade de descobrir nichos.Tem forte intuição: como no esporte, o que importa não é o que se sabe, mas o que se faz.Tem sempre alto comprometimento: crê no que faz.Cria situações para obter feedback sobre o seu comportamento e sabe utilizar tais informações para seuaprimoramento.Sabe buscar, utilizar e controlar recursos.É um sonhador realista: é racional, mas usa também a parte direita do cérebro.Cria um sistema próprio de relações com empregados. É comparado a um “líder de banda”, que dá liberdadea todos os músicos, mas consegue transformar o conjunto em algo harmônico, seguindo um objetivo.É orientado para resultados, para o futuro, para o longo prazo.Aceita o dinheiro como uma das medidas de seu desempenho.Tece “rede de relações” (contatos, amizades) moderadas, mas utilizadas intensamente como suporte paraalcançar seus objetivos; considera a rede de relações internas (com sócios, colaboradores) mais importanteque a externa.Conhece muito bem o ramo que atua.Cultiva a imaginação e aprende a definir visões.Traduz seus pensamentos em ações.Define o que aprender (a partir do não-definido) para realizar suas visões. É pró-ativo: define o que quer eonde quer chegar; depois, busca o conhecimento que lhe permitirá atingir o objetivo.Cria um método próprio de aprendizagem: aprende a partir do que faz; emoção e afeto não são determinantespara explicar seu interesse. Aprende indefinidamente.Tem alto grau de “internalidade”, que significa a capacidade de influenciar as pessoas com as quais lida e acrença de que conseguirá provocar mudanças nos sistemas em que atua.Assume riscos moderados: gosta do risco, mas faz tudo para minimizá-lo. É inovador e criativo. (Inovaçãoestá relacionada ao produto. É diferente da invenção, que pode não dar conseqüência a um produto.)Tem alta tolerância à ambigüidade e à incerteza.Mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades denegócios.

Fonte: DOLABELA, F. Oficina do empreendedor. São Paulo: Ed. Cultura, 1999a.

Pode-se dizer que as características de personalidade, comportamentos e talentos do

empreendedor preenchem um padrão predeterminado que, geralmente, o leva a agir de tal forma

que o sucesso é conseqüência do resultado de seu trabalho. Mas para ser um empreendedor de

sucesso o indivíduo deve, além de buscar o desenvolvimento das capacidades empreendedoras,

trabalhar, trabalhar e trabalhar; e, aprender, aprender e aprender. Somente assim o empreendedor

realiza seus sonhos e alcança os seus objetivos.

56

Várias são as atividades realizadas pelo empreendedor. E, para que o empreendedor alcance

sucesso na realização do seu trabalho, cada atividade demanda certas características,

competências e, até mesmo, aprendizagens. O Quadro 7 apresenta a relação entre a atividade

desempenhada pelo empreendedor e os requisitos vinculados a ela.

Quadro 7: O trabalho do empreendedor e seus requisitos.Atividades Características Competências AprendizagemDescoberta deoportunidades

Faro, intuição. Pragmatismo, bom senso,capacidade de reconhecer oque é útil e dá resultados.

Análise setorial. Conhecer ascaracterísticas do setor, os clientes e oconcorrente líder.

Concepção devisões

Imaginação,independência,paixão.

Concepção, pensamentosistemático.

Avaliação de todos os recursos necessáriose dos respectivos custos.

Tomada dedecisões

Julgamento,prudência.

Visão. Obter informações, saber minimizar orisco.

Realização devisões

Diligência (saber“se virar”),constância(tenacidade).

Ação. Saber obter informações para realizarajustes contínuos, retroalimentação.

Utilização deequipamentos(principalmentede tecnologia dainformação)

Destreza. Polivalência (no começo, oempreendedor faz de tudo).

Técnica.

Compras Acuidade. Negociação. Saber conter-senos próprios limites,conhecer profundamente otema e ter flexibilidade parapermitir que todos ganhem.

Diagnóstico do setor, pesquisa decompras.

Projeto ecolocação doproduto/serviçono mercado

Diferenciação,originalidade.

Coordenação de múltiplasatividades: hábitos deconsumo dos clientes,publicidade, promoção.

Marketing, gestão.

Vendas Flexibilidade paraajustar-se aosclientes e àscircunstâncias,buscar fedback.

Adaptação às pessoas ecircunstâncias.

Conhecimento do cliente.

Formação deequipes econselheiros

Ser previdente,projeção a longoprazo.

Saber construir redes derelações internas e externas.

Gestão de recursos humanos, sabercompartilhar.

Delegação detarefas

Comunicação,capacidade deaprender.

Delegação. Saber dizer o quedeve ser feito e por quem;saber acompanhar, obterinformações.

Gestão de operações.

Fonte: DOLABELA, F. Oficina do empreendedor. São Paulo: Ed. Cultura, 1999a.

57

Diante de todas as características que formam o perfil do empreendedor, Filion (1999a) apresenta

seis tipos diferentes de empreendedor, de acordo com um estudo realizado com base em uma

análise de campo com mais de 100 proprietários-gerentes de pequenos negócios. O autor

classifica os empreendedores em:

O lenhador: é o tipo mais comum de proprietário-gerente de pequenos negócios. O

empreendedor lenhador é aquele indivíduo que não gosta de multidões, de estar

em presença de muitas pessoas. Para ele, o ato de falar com as pessoas é

considerado como perda de tempo. É ambicioso e tem aptidão para o trabalho

duro. Gosta de fazer as coisas, não espera pelos outros. Quando trabalha para um

empregador, produz o dobro dos outros empregados. Dessa forma, é convencido

de que deveria trabalhar por conta própria, ser patrão. É voltado para a produção.

O sedutor: é aquele que se entrega de corpo e alma para os negócios, mas seu

entusiasmo nunca dura muito. Os sedutores lançam negócios e logo os vendem,

pois gostam que as coisas aconteçam rápido. Enxergam tudo de um ponto de vista

bem particular. Estilos, gostos e interesses mudam de tempos em tempos, estando

sempre estimulados por novidades.

O jogador: indivíduo que encara a empresa como um suporte financeiro, ou seja,

um meio de ganhar o suficiente para fazer o que realmente quer da vida. É um

indivíduo que gosta de atividades de lazer. Uma vez que o esporte é tido como

elemento vital em sua vida, o jogador prefere campos de atuação sazonais ou

cíclicos, podendo conciliar o esporte e o trabalho. Dessa forma, trabalha duro em

certos períodos, podendo dedicar-se ao esporte e lazer em outros. Não é um

indivíduo comprometido. Geralmente limita-se às atividades lucrativas.

58

O hobbysta: é o indivíduo que encara o trabalho como um hobby. Dedica toda a

sua energia e tempo livre aos negócios. O negócio é seu hobby principal, vendo

nele a possibilidade de auto-realização.

O convertido: é aquele que encontrou a grande descoberta. Tudo na vida do

convertido gira em torno dessa descoberta fundamental; e isto geralmente significa

o começo de uma nova carreira. Para o convertido, o negócio apresenta um status

sagrado. Por isso, investe nele uma profunda carga emocional. Prefere fazer as

coisas a ver os seus resultados. Em todas as tarefas e atividades realizadas, o

convertido acredita estar a um passo em direção ao melhoramento da raça humana.

Tem dificuldade de delegar, a menos que a outra pessoa prove ser merecedora de

sua confiança.

O missionário: geralmente está sozinho em seu negócio. Tem profundo

conhecimento do produto e do mercado em que atua. Tem paixão pelo que faz.

Possui visão clara e tem capacidade para organizar os negócios com relativa

rapidez. Tem plena capacidade de delegar. Age de tal modo que, mesmo diante de

um pequeno negócio, este pode funcionar em sua ausência ou, pelo menos, sem a

sua presença diária. Está aberto a novas idéias e enxerga o negócio como

organismo vivo.

Diante do exposto, observa-se que o proprietário-gerente denominado de missionário é o tipo de

empreendedor que apresenta um maior número de características tidas como formadoras do perfil

do empreendedor. No entanto, segundo Filion (1999a), os proprietários-gerentes encontrados no

cotidiano, gerenciando os seus negócios, apresentam um perfil que combina dois ou três tipos

59

diferentes. São poucos aqueles que se enquadram em um desses tipos em seu estado puro. De

acordo com o autor, essa tipologia tem se mostrado útil na identificação do sistema de valores, na

intenção do indivíduo, na compreensão do modo de tomar decisões, orientações estratégicas e no

desenvolvimento do processo visionário.

2.3 O PERFIL DO EMPREENDEDOR

Com a realização do levantamento bibliográfico sobre o tema, pode-se dizer que o perfil do

empreendedor não está completamente definido pela literatura, uma vez que os autores

apresentam posições um pouco diferenciadas com relação às características e aos pré-requisitos

para a formação de tal perfil. Algumas características são mais marcantes, sendo assim, são

mencionadas por vários autores como formadoras do perfil do empreendedor. Com base nestes

autores, buscou-se selecionar uma gama de pré-requisitos para formar um perfil de

empreendedor, próprio para o objeto de estudo da presente pesquisa. Estes pré-requisitos estão

subdivididos em características, habilidades e valores, os quais podem ser visualizados no

Quadro 8 e descritos a seguir.

60

Quadro 8: Perfil do empreendedorCaracterísticas Visão

Energia e flexibilidadeCriatividade, inovação e intuiçãoLiderançaAutoconfiançaIndependência e iniciativaMotivação, entusiasmo, paixãoOtimismo, perseverança e persistênciaComprometimento e dedicação

Habilidades Formador de equipesLidar bem com o fracassoCorrer riscos calculadosBuscar informações e conhecimentosObter feedbackOrientação por metas e objetivosRelacionamento interpessoal (persuasão e rede de contatos)Saber buscar, utilizar e controlar recursosCapacidade de decisãoPlanejamento e organizaçãoSaber explorar oportunidadesCapacidade de análiseConhecimento do ramoTraduzir pensamentos em ação

Valores Exigência de qualidade e eficiênciaFonte: Elaboração da autora.

2.3.1 Características

É sabido que para apresentar um perfil empreendedor, é necessário que o indivíduo apresente

algumas características, ou seja, um conjunto de atributos que formam sua personalidade, neste

caso, empreendedora. O conjunto de características que formam a personalidade ou o perfil

empreendedor estão descritos a seguir.

2.3.1.1 Visão

A visão é uma característica importante e deve estar presente no perfil do empreendedor, pois é

através da visão que o empreendedor irá projetar o futuro do seu empreendimento, conforme

61

menciona Filion.

Visão é definida como uma projeção: uma imagem, projetada no futuro, do lugar que oempreendedor deseja que seu produto venha a ocupar no mercado. É, também, umaimagem do tipo da empresa necessária para alcançar esse objetivo. Em suma, visãorefere-se a onde o empreendedor deseja conduzir seu empreendimento. (FILION,1993:52)

O empreendedor que possui visão tem a habilidade de ligar o hoje (conhecido) ao amanhã

(desconhecido), criando o futuro a partir de uma montagem de fatos, esperanças, sonhos,

oportunidades e perigos (CUNHA e FERLA, 1997). Ter uma visão significa saber para onde se

deseja ir, permitindo ao empreendedor definir os caminhos para se chegar lá. Pela definição de

visão, o empreendedor estabelece seu rumo a longo prazo, tem a visão de como será o futuro

tanto para seu negócio quanto para a sua vida. Através da visão de futuro fica mais fácil para o

empreendedor implementar seus sonhos. A visão permite que o empreendedor se posicione e

posicione seu empreendimento para criar e aproveitar oportunidades.

Guiado pela visão, o empreendedor busca idéias e conceitos que possibilitem caminhar segundo

uma direção preestabelecida, mapeando um curso de ação que possibilite a mudança e ajude-o a

responder às mudanças no ambiente. A visão possibilita ao empreendedor definir o que quer e

onde quer chegar, para assim buscar o conhecimento que lhe permita atingir o seu objetivo.

As pessoas habituadas a definir visões normalmente são pró-ativas. São pessoas que fazem as

coisas acontecerem independentemente de serem pressionadas ou forçadas pelas circunstâncias.

Contrariamente aos reativos que são conduzidos pelos sentimentos, circunstâncias, condições e

ambiente, os pró-ativos e visionários se guiam pelos seus valores, cultivados e interiorizados.

62

2.3.1.2 Energia e flexibilidade

Os empreendedores são seres que estão constantemente buscando alguma coisa para fazer.

Dedicam grande parte de seu tempo ao trabalho. São indivíduos carregados de energia que estão

dispostos a aceitar a luta, mesmo conscientes das incertezas. Eles têm plena consciência de que,

para ter sucesso, é necessário ter energia e estar disposto a se sacrificar para atingir objetivos,

caso seja necessário.

Filion (1993) menciona que a energia é o tempo alocado em atividades profissionais e a

intensidade com que elas são executadas. Inclui, não apenas o número de horas trabalhadas, mas

também a intensidade ou conhecimento dedicados ao trabalho.

A energia despendida pelo empreendedor em seu trabalho afeta diretamente os resultados de suas

atividades e tarefas. A energia confere, por exemplo, mais liderança ao empreendedor, pode levá-

lo a dedicar mais tempo para criar e preservar relacionamentos ou articular uma visão. Quanto

mais tempo e energia o empreendedor despender no desenvolvimento de sua visão mais

benefícios receberá, pois as diretrizes que vier a desenvolver irão gerar motivação e energia

naqueles que o cercam. A energia despendida na criação e manutenção de relacionamentos

posicionará o empreendedor num sistema de relações lucrativas, que contribuirá com fluxos de

informações.

O indivíduo que age com energia e tem objetivos atrai oportunidades, pois é com energia e

objetivos claros que se torna possível superar as ameaças e aproveitar as oportunidades que

63

surgem.

Além de possuir energia para realizar pessoalmente suas atividades, o empreendedor é um ser

flexível que tem a habilidade de se adaptar às exigências do mercado. O empreendedor mantém

sua empresa em formato possível de modificação, conforme o ambiente e as exigências de

mudança. Ser flexível significa comprometer-se a avançar, adaptar-se e mudar de acordo com as

exigências de mudança em seu ambiente. Para o empreendedor, a visão da mudança não deve

representar uma ameaça, mas sim uma oportunidade a ser perseguida avidamente. A agilidade na

tomada de decisão e o foco na satisfação do cliente são a diretriz mestra da flexibilidade. A

incapacidade de conhecer o futuro não trará medo se o empreendedor for capaz de, rapidamente,

com agilidade e inteligência, mudar e adaptar-se. Ser capaz de mudar processos, preços, produtos

e serviços mais rápido que a concorrência transforma-se em um denominador importante de

sucesso organizacional.

2.3.1.3 Criatividade, inovação e intuição

A habilidade de pensar e agir de forma criativa tem se tornado um diferencial competitivo para os

empreendedores em relação a seus concorrentes. O empreendedor usa a criatividade como uma

das principais armas para criar novos produtos, novos métodos de produção, descobrir novos

mercados, dentre outros. Através da personalidade criativa o empreendedor está constantemente

buscando novas formas de satisfazer os clientes e, muitas vezes, criando neles novas

necessidades.

64

Para Cunha e Ferla (1997), a criatividade pode ser utilizada de duas maneiras: combinando coisas

já existentes ou gerando coisas novas. No primeiro caso, pode-se combinar velhos conceitos,

idéias ou planos em novas configurações, trabalha-se com o material da experiência, educação e

observação com que a criatividade é alimentada. Já no segundo caso, são criadas coisas

efetivamente novas. Para Dolabela (1999b), a criatividade surge durante o processo de solução de

problemas, e depende do conhecimento, incluindo certa espécie de conhecimento que permite ao

especialista compreender situações rápida e produtivamente.

Amabile (1998) acredita que pensar de modo criativo envolve, necessariamente, a capacidade de

analisar e julgar as idéias e, sobretudo, envolve motivação. A autora lembra que o indivíduo pode

apresentar potencial para criar novas perspectivas para velhos problemas, mas se não estiver

motivado, não alcançará êxito. Em suas pesquisas sobre as condições no ambiente de trabalho

que têm impacto na criatividade, a autora identificou as seguintes qualidades ambientais que

promovem a criatividade: liberdade, estilo de gerenciamento, flexibilidade, recursos, apoio de

grupos de trabalho, encorajamento, reconhecimento e tempo adequado para a realização das

tarefas. Por outro lado, os seguintes fatores inibem a criatividade: o clima organizacional pobre, o

excesso de avaliação e pressão, um projeto inadequado de gerenciamento, os recursos

insuficientes e a competição acirrada (INÁCIO, 2002).

Alencar (1996) e Ostrower (1984) consideram a criatividade como um potencial próprio da

natureza humana. Pela definição dos autores, a criatividade nada tem de inata ou mágica, ela é

um processo que combina múltiplos aspectos intelectuais e emocionais (INÁCIO, 2002). A

percepção de que a criatividade pode ser aprendida é de grande importância na atividade

65

empreendedora. Tal afirmação se deve ao fato de a vida do indivíduo ser estruturada e definida

por valores externos (como sistema educacional, instituições e comunidade), os conteúdos

intelectuais e o rigor do pensamento lógico, juntamente com as pressões sociais, constituem uma

séria ameaça ao processo criativo (DOLABELA, 1999a).

Inovação é outra função essencial para o processo empreendedor. A inovação é o instrumento

pelo qual os empreendedores exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio

diferente ou um serviço diferente, podendo ser apresentada como uma disciplina, ser aprendida e

ser praticada (DRUCKER, 1987). A inovação está relacionada à criação de algo novo, diferente,

com o objetivo de mudar ou transformar valores.

Criatividade e inovação são entendidas, por muitos autores, como sinônimos. Para outros, são

conceitos muito próximos e estão intimamente ligados. Para Alencar (1996), criatividade é um

componente da inovação. O conceito de criatividade tem sido mais usado para sintetizar os

processos de elaboração de novas idéias, por parte do indivíduo ou grupo de indivíduos. Já o

conceito de inovação engloba a concretização e aplicação de novas idéias e tem sido um termo

mais utilizado para descrever as ações das organizações. Alencar (1996) considera inovação

como a adoção e implementação de novas idéias (processos, bens ou serviços) em uma

organização, em resposta a situações-problema, transformando uma nova idéia em algo concreto.

(INÁCIO, 2002). Toda inovação inicia-se com uma idéia criativa. Implantações bem sucedidas

de novos programas, introdução de novos produtos, ou novos serviços dependem de uma boa

idéia, e esta idéia deve ser desenvolvida até que se torne uma inovação (AMABILE, 1999). Para

Levitt (1986), a criatividade imagina as coisas, e a inovação as faz (CUNHA e FERLA, 1997).

66

No entanto, a criatividade e a inovação têm a intuição como forte aliada. Além da lógica e da

racionalidade, o empreendedor deve dar espaço e atenção à intuição, para que esta se desenvolva

e se torne refinada. Vieliczko (2000) afirma que a intuição é um fator diferencial num mercado

em que a qualificação técnica é cada vez mais comum. Segundo o autor, essas tendências são

comprovadas por uma pesquisa da equipe do professor John Mihalasky do New Jersey Institute of

Tecnology de Newark, EUA, publicada no suplemento "Careers" do Wall Street Journal. De

acordo com o estudo, a tomada de grandes decisões está estritamente ligada à habilidade intuitiva

do profissional.

Para René Descartes (s.d.b) “todas as descobertas e invenções resultam exclusivamente de

intuições. A idéia genial sempre resulta de um lampejo espontâneo que faz brotar no consciente

uma verdade que jamais pode ser atingida pelo raciocínio”. O uso da intuição é um dos talentos

mais importantes do administrador de sucesso, pois o auxilia a perceber as oportunidades de

negócios, lacunas no mercado que podem ser preenchidas, a tendência das necessidades do

mercado e suas variações, dentre outras.

De acordo com o professor Ari Rehfeld, psicoterapeuta e supervisor da clínica de psicologia da

PUC-SP, o conceito de intuição nasceu na filosofia e consiste em atingir a verdade não pela

razão, mas pela apreensão da realidade por meio dos sentidos. Segundo ele, a idéia do “insight”

ou intuição é a de que uma pessoa tem uma dúvida ou problema aparentemente sem solução, e de

um momento para outro consegue chegar a uma reposta, porém sem qualquer explicação lógica

para isso. O professor menciona que “tudo acontece porque absorvemos conhecimentos tanto de

forma consciente, como não-consciente”. Explica que, “um dado qualquer da realidade que foi

67

percebido, mas não passou pela consciência pode, de repente, emergir ou influenciar o nível

racional, reconfigurando assim as informações conscientes e levando o indivíduo a encontrar uma

solução”. No entanto, o professor alerta que decisões importantes não devem ser tomadas

baseando-se apenas na intuição. O ideal é valorizar a intuição, porém jamais agir antes de analisá-

la racionalmente (VIELICZKO, 2000).

A intuição pode ser vista como um primeiro passo, para, posteriormente, pesquisar e buscar

dados e informações que possibilitem avaliar melhor a situação e se chegar a uma decisão

acertada.

2.3.1.4 Liderança

Stoner e Freeman (1996) consideram a liderança como um processo de dirigir e influenciar as

atividades relacionadas às tarefas dos membros de um grupo. No entanto, essa definição acarreta

três implicações: primeiro, a liderança envolve outras pessoas (subordinados e seguidores);

segundo, a liderança envolve uma distribuição desigual de poder entre os líderes e os membros

do grupo; e por fim, liderança é a capacidade de usar as diferentes formas de poder para

influenciar de vários modos o comportamento dos seguidores.

Sheedy (1996) menciona que um verdadeiro líder efetivo deve apresentar algumas características,

que o difere dos gerentes. Baseando-se em sua obra, as principais características do líder efetivo

são:

Íntegro e Confiável: Líderes são justos. Não procuram recompensa pessoal em

68

detrimento de seus funcionários e não favorecem ninguém. Pagam o justo e

procuram dar recompensa tanto em dinheiro quanto em reconhecimento. O líder

trata seus pares e subordinados da mesma forma. É sensível às inseguranças,

medos e sonhos das pessoas. Vê as pessoas por inteiro, não por estereótipos.

Comprometimento e responsabilidade: entende seu papel e aceita facilmente

suas obrigações. O líder se compromete com o futuro. Não o perde de vista, nem

se permite estacionar no presente pela ansiedade, medo ou insegurança. Nunca

culpa os outros pela suas derrotas ou fracassos.

Visão: Possui visão de futuro. Não se limita pelas circunstâncias atuais nem por

detalhes. É orientado para a ação e para mover-se para a frente.

Motivação e comunicação: o líder é comunicador, fala clara e honestamente.

Envolve seu pessoal intelectual e emocionalmente. Não tem programa de trabalho

secreto.

Autoconfiança: É autoconfiante. Tem orgulho sem ser orgulhoso.

Dá mais do que espera receber: O líder é generoso. Não economiza seu tempo,

elogio ou empatia quando a situação demanda.

É sereno: o líder tem compostura. Não se abate, não se deprime nem se esconde

no escritório quando algo vai mal. Sabe que nessas horas a liderança é mais

necessária.

A liderança é um privilégio garantido pelos liderados. O líder não consegue o apoio dos liderados

se estes não quiserem seguí-lo.

69

2.3.1.5 Autoconfiança

A autoconfiança é própria das pessoas que possuem capacidade de assumir responsabilidade

pessoal por seu sucesso ou fracasso, portanto, aceitam a condição de assumir riscos. O

empreendedor autoconfiante tem consciência de seu valor, sente-se seguro em relação a si

mesmo, agindo com firmeza e tranqüilidade. Mesmo diante de resultados desanimadores e

contando com a oposição de outras pessoas, o empreendedor mantém suas decisões e segue seu

caminho em busca da realização de seus objetivos. A crença em si mesmo faz com que o

empreendedor autoconfiante arrisque mais, ouse e realize tarefas desafiadoras. O empreendedor é

um indivíduo que não se deixa intimidar por situações difíceis. Sua autoconfiança e otimismo

fazem com que o impossível apenas pareça estar mais longe de ser alcançado.

2.3.1.6 Independência e iniciativa

O empreendedor é um ser independente. Uma característica forte dos empreendedores é a busca

da autonomia em relação às normas e controle dos outros. A autonomia se constitui em objetivo

permanente do empreendedor. Expressa confiança na sua capacidade de realizar tarefas difíceis e

de enfrentar grandes desafios.

De acordo com Lezana e Tonelli (1998:44), o empreendedor necessita considerável liberdade

para:

impor seu próprio enfoque no trabalho; obter grande flexibilidade em sua vida profissional e familiar; controlar seu próprio tempo; confrontar-se com problemas e oportunidades de analisar e fazer crescer uma nova firma; crer que é o momento de sua vida.

70

O empreendedor necessita ser dono de sua própria vida, dirigindo-se para os objetivos que ele

mesmo escolheu. Não permite que influências externas o desestimulem ou desanimem. Por ser

independente, o empreendedor se move por iniciativa própria. Ele próprio realiza suas atividades,

antes mesmo de serem solicitadas.

2.3.1.7 Motivação, entusiasmo, paixão

O empreendedor é um ser motivado, entusiasmado e tem paixão pelo que faz. Tem a capacidade

de persistir e se manter otimista, mesmo diante de resultados desanimadores. Dedica sua vida a

uma nova idéia, até que esta se torne o seu ideal, ou seja, um novo negócio. O empreendedor é

automotivado com relação aos desafios e tarefas a serem realizadas.

Ao tratar deste tema na sua obra A Lei do Triunfo, o escritor Napoleon Hill ensina que “o

entusiasmo é um estado de espírito que inspira e incita o indivíduo à ação. Nada é tão contagioso

quanto o entusiasmo. Ele afeta de maneira vital não somente o apaixonado, como também, os que

entram em contado com ele.” (Hill, 1991, apud CUNHA e FERLA, 1997).

2.3.1.8 Otimismo, perseverança e persistência

O otimismo faz com que os empreendedores persigam seus objetivos, mesmo que se depare com

situações contrárias à sua vontade. O otimismo o leva a lutar pelos seus ideais e a atrair pessoas

com o mesmo propósito. Todo grande líder é otimista, pois deve transmitir coragem para os seus

seguidores. Como o empreendedor deve ser um líder, o otimismo deve estar sempre presente em

71

seu perfil.

Além de otimista, o empreendedor é perseverante, persistente. A persistência é a mola propulsora

que faz o empreendedor trabalhar duro para atingir seus objetivos. É o motor que o leva à ação

diante de dificuldades relevantes. Entretanto, a persistência não deve ser cega. O empreendedor

deve saber o momento exato de mudar de estratégia, com o objetivo de enfrentar desafios ou

vencer dificuldades. Deve ter a capacidade de analisar resultados e aprender com seus fracassos,

reformulando objetivos quando necessário.

2.3.1.9 Comprometimento e dedicação

O empreendedor aceita naturalmente o sacrifício pessoal ou a realização de um grande esforço

para alcançar seus objetivos e metas. Não mede esforços para completar uma tarefa contratada

para a plena satisfação de seus clientes. O empreendedor sabe que para conduzir um grupo de

pessoas por caminhos nem sempre fáceis, é necessário juntar-se a elas ou até mesmo substituí-las

para terminar uma tarefa.

Os empreendedores se comprometem de corpo e alma na manifestação de uma visão e se

propõem a fazer o que for necessário para que isso ocorra. O comprometimento gera uma energia

que permite ao sonho virar meta e esta se transformar em realidade.

72

2.3.2 Habilidades

Para se tornar um empreendedor de sucesso, o indivíduo deve apresentar algumas habilidades,

que o ajudarão no desempenho de suas atividades diárias. Segundo Lezana e Tonelli (1998), as

habilidades correspondem às facilidades para utilizar as capacidades físicas e intelectuais.

Manifesta-se através de ações executadas a partir do conhecimento que o indivíduo possui, por já

ter vivido situações similares. À medida que se pratica ou enfrenta repetidamente uma

determinada situação, a resposta que a pessoa emite vai se incorporando ao sistema cognitivo.

Além de incorporar a resposta, pode ocorrer que o indivíduo incorpore o método utilizado para

emitir esta resposta. Isso significa que ele terá adquirido uma outra habilidade que poderá utilizar

para enfrentar situações diversas. Sendo assim, o empreendedor deve apresentar as habilidades

descritas a seguir.

2.3.2.1 Formador de equipes

O desejo de autonomia e independência não impede o empreendedor de formar uma poderosa

equipe empreendedora. Os empreendedores sabem que, para obter êxito e sucesso, dependem de

uma equipe de profissionais competentes. Os empreendedores de sucesso possuem uma equipe

altamente qualificada e motivada que os auxiliam no desenvolvimento e contribuem para o

crescimento de seu empreendimento. Por isso, o empreendedor deve ter habilidade para recrutar

indivíduos que compartilhem de sua visão e objetivos e portadores de conhecimentos para

assessorá-lo nos campos onde não possui grande domínio; pois, enquanto o empreendedor tem

uma clara visão do que é o seu negócio e onde quer chegar, sua equipe trabalha dia-a-dia

73

implementando suas idéias e desafios.

O empreendedor é líder inato, por isso é respeitado e adorado por seus funcionários. Por saber

valorizar seus funcionários, estimulá-los e recompensá-los, o empreendedor forma uma equipe

comprometida com seus ideais; proporciona autonomia aos colaboradores, ajudando, assim, o seu

desenvolvimento pessoal e profissional, valendo-se sempre de uma crítica construtiva.

2.3.2.2 Lidar bem com o fracasso

A palavra fracasso não existe no dicionário do empreendedor, já que ele possui capacidade de

transformar o fracasso em aprendizado. O empreendedor assume seus erros, aprende com os

mesmos e não se abate perante um resultado desanimador. Considera o fracasso um resultado

como outro qualquer. Se não obteve resultado satisfatório pela primeira vez, analisa e reformula

suas estratégias e tenta novamente.

O empreendedor se empenha para não fracassar, mas não se deixa atormentar pelo medo

paralisante. Por isso, apesar de ser extremamente persistente, é realista em reconhecer o que ele

pode e o que não pode fazer. Sendo assim, o empreendedor procura ajuda de sua equipe quando

está diante de situações e tarefas difíceis.

Os empreendedores são realistas o suficiente para aceitar e contornar as dificuldades. Não se

tornam desapontados, desencorajados e, muito menos, deprimidos pelo fracasso. Pelo contrário,

diante das dificuldades, eles procuram por oportunidades. Eles próprios acreditam que aprendem

74

mais pelos seus erros do que pelo sucesso alcançado.

2.3.2.3 Correr riscos calculados

O empreendedor não é um jogador, um aventureiro em busca de situações arriscadas. Nem,

tampouco, tem aversão ao risco. Quando o empreendedor se habilita a entrar em um negócio, ele

o faz de maneira calculada, cuidadosamente planejada. O empreendedor é um indivíduo com

capacidade de avaliar as alternativas e calcular os riscos envolvidos, procurando, sempre,

minimizá-los. Busca por situações que implicam desafios ou riscos moderados. Faz o possível

para transformar o desconhecido em informações a seu favor, evitando os riscos desnecessários.

Para Degen (1989), os riscos são parte integrante de qualquer atividade e o sucesso do

empreendedor está na sua capacidade de conviver com eles e sobreviver a eles. Para isso, é

preciso aprender a administrá-los. O plano de negócios e o planejamento constante permitem ao

empreendedor identificar os possíveis riscos de seu empreendimento, proporcionando uma prévia

solução. A melhor maneira de calcular e minimizar os riscos consiste em identificá-los

previamente e antecipar-se a eles.

2.3.2.4 Buscar informações e conhecimentos

Em um ambiente instável e competitivo, a posse de informações sobre mercados, processos

gerenciais, processos produtivos, avanços tecnológicos, etc., permite à empresa uma posição de

vantagem em relação à concorrência. Por esse motivo, o empreendedor deve estar apto a buscar

75

informações e conhecimentos que permitirão acompanhar as mudanças e adaptar seu negócio às

novas exigências do mercado. O empreendedor dedica esforço pessoal na busca de informações

de clientes, fornecedores e concorrentes. No entanto, o empreendedor deve tomar cuidado com o

excesso de informação, que pode ser tão prejudicial quanto a falta dela. O empreendedor deve

manter suas informações sempre atualizadas e ter a capacidade de filtrá-las, a fim de descartar

informações que não trarão contribuição para o seu negócio.

O empreendedor é sedento pelo saber e busca o aprendizado constante. Sabe que quanto maior o

domínio sobre um ramo de negócio, maior é sua chance de êxito. O conhecimento pode ser

adquirido pela experiência prática, através de informações obtidas em publicações especializadas,

cursos, ou mesmo em conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes.

2.3.2.5 Obter feedback

Ao contrário de muitas pessoas, o empreendedor tem um grande desejo em saber como eles estão

realizando suas atividades e o quê/como eles podem fazer para melhorar o seu desempenho e de

seu empreendimento. Por isso, está, constantemente, buscando obter feedback de sua pessoa e seu

empreendimento. Além de se auto-avaliar, o empreendedor busca a avaliação externa, criando

situações para obter feedback sobre seu comportamento, e sabe como utilizar tais informações

para seu aprimoramento (DOLABELA, 1999b). O feedback é uma ferramenta de aprendizado e

correção de seus erros.

76

2.3.2.6 Orientação por metas e objetivos

O empreendedor estabelece metas de longo prazo, claras e específicas, e fixa objetivos de curto

prazo, mensuráveis, que estejam em sintonia com as mesmas. As metas deverão servir,

necessariamente, ao alcance de objetivos que proporcionem desafios e que tenham significado

pessoal. Assim, o empreendedor planeja um trabalho grande dividindo-o em partes mais simples

e com prazos definidos. Faz acompanhamento e revisão de seus planos embasado em

informações sobre o desempenho real e em novas circunstâncias.

2.3.2.7 Relacionamento interpessoal (persuasão e rede de contatos)

O relacionamento interpessoal é uma habilidade que visa auxiliar o empreendedor a conseguir o

apoio de outras pessoas para alcançar os seus objetivos, pois para transformar uma idéia em

realidade, o empreendedor deve convencer outras pessoas a se associarem ao novo negócio. O

empreendedor necessita de parceiros, fornecedores, clientes, investidores, dentre outros, que

farão com que o negócio se concretize. Sendo assim, o empreendedor deve contar com a

habilidade de persuasão, oral ou escrita, para fazer com que as pessoas tornem-se aliadas em seu

objetivo de negócio.

2.3.2.8 Saber buscar, utilizar e controlar recursos

O empreendedor, a partir de sua rede de relacionamentos, sabe onde recorrer quando da

necessidade de recursos. Tem a capacidade de controlar os recursos, utilizando-os da melhor

77

forma possível, buscando maximizar a qualidade e minimizar os custos.

2.3.2.9 Capacidade de decisão

Com um senso apurado de prioridade, visão, julgamento e prudência, o empreendedor se

concentra naquilo que realmente é importante, facilitando o cálculo dos riscos. Obtém

informações, avalia as estratégias alternativas e calcula riscos deliberadamente, estando sempre

preocupado em reduzi-los e em controlar os resultados. Sua decisão somente é tomada após a

análise da situação.

2.3.2.10 Planejamento e Organização

Um indivíduo com perfil empreendedor deve apresentar a capacidade de planejar as atividades,

definir prioridades e gerir recursos, esforçando-se, sempre, numa melhoria contínua. Os

empreendedores de sucesso planejam cada passo do seu negócio, definem estratégias e se

organizam para alcançar os resultados almejados. Para que seus objetivos sejam alcançados, o

empreendedor planeja e monitora as ações a serem realizadas, procurando sempre controlar os

resultados.

2.3.2.11 Saber explorar oportunidades

O empreendedor é um indivíduo com capacidade para identificar novas oportunidades de

produtos, serviços e mercados. Tem a habilidade de ver o que os outros não vêem. Com esta

78

habilidade, o empreendedor está apto a descobrir novos nichos de mercado, novos produtos,

incorporar novas tecnologias, dentre outros. Contando com a criatividade, inovação e o contato

com a realidade que o cerca, o empreendedor sabe o momento exato de explorar tais

oportunidades, transformando-as em possibilidades de negócios.

2.3.2.12 Capacidade de análise

O empreendedor tem a capacidade de lidar com situações complexas. Analisa os problemas de

forma a contribuir para a sua solução e transparência. Somente toma uma decisão após a análise

de todas as possibilidades. Com a capacidade de análise o empreendedor está apto a avaliar

opções e soluções em situações de risco, e exercer julgamento nas decisões importantes.

2.3.2.13 Conhecimento do ramo

Para que sua empresa ocupe um lugar considerável no mercado, o empreendedor necessita

apresentar alguns conhecimentos técnicos a respeito do seu negócio. Conhecer o projeto do

produto, o processo de produção, o mercado em que atua, dentre outros fatores, é imprescindível

para o sucesso de um negócio. Se o empreendedor não possui tais conhecimentos, deve

desenvolvê-los tão logo seja possível ou buscar um sócio ou um técnico que os possua.

2.3.2.14 Traduzir pensamentos em ação

Com a habilidade de traduzir pensamentos em ação, o empreendedor tem concentração e ambição

79

para atingir os objetivos e para procurar desafios, demonstrando tenacidade e tolerância ao stress.

Procura implementar suas ações com total comprometimento, atropelando as adversidades,

ultrapassando os obstáculos. O empreendedor apresenta uma vontade ímpar de fazer as coisas

acontecer. É dinâmico e cultiva um certo inconformismo diante da rotina.

2.3.3 Valores

O empreendedor, como outro indivíduo qualquer, possui certos valores, ou seja, princípios ou

padrões sociais aceitos ou mantidos por indivíduo, classe, sociedade. Os valores são entendidos

como um conjunto de crenças, preferências, aversões, predisposições internas e julgamentos que

caracterizam a visão de mundo do indivíduo. Constituem-se num dos aspectos culturais que mais

contribuem para o desenvolvimento das características individuais.

Além de características e habilidades, pode-se dizer que o empreendedor possui dois valores

principais que, na maioria das vezes, estão presentes em suas atividades e tarefas realizadas. O

empreendedor tem exigência pela qualidade e eficiência. Está sempre buscando maneiras de

realizar tarefas com maior rapidez, menor custo e maior qualidade. Procura agir de maneira a

fazer as coisas que satisfazem ou excedem padrões de excelência, desenvolvendo e utilizando

procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda aos

padrões de qualidade previamente combinados. O empreendedor busca constantemente a

excelência na qualidade de seus produtos e serviços, a economia de tempo e recursos e o

envolvimento e desenvolvimento da sua equipe de trabalho.

80

Com o conjunto de atributos elencados na presente pesquisa procurou-se criar um modelo ideal

para o perfil empreendedor, que serviu de base para a análise e compreensão dos casos

pesquisados. Com a elaboração desse perfil ideal, a pesquisa se caracteriza como um modelo

tipológico, conforme pode ser observado no capítulo 3, que trata dos aspectos metodológicos

envolvidos no trabalho.

81

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

A importância do método utilizado na pesquisa é fundamental para a validação e entendimento

das informações apresentadas na divulgação de seus resultados. A opção por determinados

métodos em detrimento de outros está diretamente relacionado aos objetivos da pesquisa e ao tipo

de fenômeno a ser estudado. A metodologia adotada na presente pesquisa contou, primeiramente,

com a revisão da literatura sobre o tema empreendedorismo, sua evolução histórica e definições

segundo os autores mais importantes da área, assim como, as características que formam o perfil

empreendedor. Posteriormente, foi possível criar subsídios para desenvolver uma pesquisa com o

objetivo de observar, empiricamente, se o empresário da área da saúde apresenta o perfil

empreendedor. A presente seção apresenta a forma como a pesquisa foi conduzida para melhor

alcançar os objetivos por ela definidos.

3.1 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA

Várias são as classificações de níveis de pesquisas. Para Santos (2001), a pesquisa pode ser

dividida, em relação a seus objetivos, em exploratórias, descritivas e explicativas. Malhotra

(2001) divide a pesquisa em exploratória e conclusiva, sendo esta última classificada em

descritiva e causal. Por sua vez, Cooper e Schindler (2000) classificam a pesquisa em

exploratória e formal, e esta em descritiva e causal. Dessa forma, a pesquisa pode ser classificada

82

apenas em exploratória, descritiva e causal. O quadro a seguir mostra a comparação entre estas

concepções de pesquisa.

Quadro 9: Comparação entre as concepções básicas de pesquisa.Pesquisa Exploratória Descritiva Causal

Objetivo

Descobrir futuras tarefas depesquisa

Desenvolver hipóteses ouperguntas para futuras pesquisas

Descreve fenômenos oucaracterísticas de umapopulação

Estima proporções dapopulação que apresentamestas características

Descobre associaçõesentre variáveis diferentes

Determina relações decausa e efeito

Características

Estrutura frouxa, livre

Flexível, generalizada

Com freqüência, o início dapesquisa

Marcada pela formulaçãoprévia de hipótesesespecíficas

Estudo pré-planejado eestruturado

Manipulação de uma oumais variáveisindependentes

Controle de outrasvariáveis indiretas

Métodos

Entrevistas com peritosPesquisa-pilotoAnálise de dados secundáriosPesquisa qualitativaInvestigação de experiências

Dados SecundáriosPesquisaPainéisDados de observações eoutros dados

Experimentos

Técnica de controle devariáveis

Fonte: elaborado com base em Malhotra ( 2001); Cooper e Schindler (2000).

Ao estudar as características do empresário da área da saúde e verificar se o mesmo apresenta um

perfil empreendedor, a presente pesquisa foi classificada como “pesquisa exploratória” que,

segundo Cooper e Schindler (2000), tende em direção a estruturas frouxas, soltas, com o objetivo

de descobrir futuras tarefas de pesquisa. Os estudos exploratórios são utilizados com o objetivo

de oferecer uma visão aproximada, preliminar, sobre um determinado fenômeno. Na maioria das

vezes, os trabalhos de cunho exploratório procuram criar o alicerce para uma futura investigação,

mais profunda, mais consistente.

83

3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A ciência é caracterizada como uma forma de conhecimento, com o objetivo de encontrar a

veracidade dos fatos. Dessa forma, pode-se afirmar que não há ciência sem o emprego de

métodos científicos (LAKATOS e MARCONI, 1991). Para as autoras,

o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurançae economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros -,traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões docientista. (LAKATOS e MARCONI, 1991, p.83).

A importância do método é percebida à medida que se torna necessário para se atingir resultados

confiáveis, conforme os objetivos pretendidos e para que um estudo possa ser considerado

verdadeiramente científico, pois não há conhecimento válido sem procedimentos ordenados e

racionais. Existe um grande número de métodos científicos apresentados por estudiosos como

Coopler e Schindler (2000), Lakatos e Marconi (1991, 2000) e Malhotra (2001). Dentre os

diversos métodos existentes, pode-se destacar os seguintes:

Método indutivo: indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo

de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou

universal, não contida nas partes examinadas (LAKATOS e MARCONI, 2000).

Sendo assim, o método indutivo parte da observação de fatos particulares para tirar

conclusões generalizadas. O método indutivo, assim como o dedutivo,

fundamenta-se em premissas. Entretanto, no método dedutivo, premissas

verdadeiras levam inevitavelmente à conclusão verdadeira, enquanto que, no

indutivo as premissas conduzem apenas a conclusões prováveis ou atribuem certa

84

verossimilhança a sua conclusão. Assim, quando as premissas são verdadeiras, o

melhor que se pode dizer é que sua conclusão é, provavelmente, verdadeira. A

indução, segundo Lakatos e Marconi (2000), realiza-se em três etapas: observação

dos fenômenos, descoberta da relação entre eles e generalização da relação.

Método dedutivo: o método dedutivo parte de uma teoria geral para explicar o

particular. Assim, o método dedutivo apresenta duas características: se todas as

premissas são verdadeiras, a conclusão também deve ser verdadeira; e toda a

informação ou conteúdo factual da conclusão já estava, pelo menos

implicitamente, nas premissas. Lakatos e Marconi (2000) mencionam dois

argumentos condicionais válidos para o método dedutivo: afirmação do

antecedente e negação do conseqüente.

Método hipotético-dedutivo: a partir de um conhecimento prévio, o método

hipotético-dedutivo, formula hipóteses que serão testadas ou falseadas. Se a

hipótese não superar os testes, será falseada, refutada, e exige nova formulação do

problema e da hipótese. Em contrapartida, se a hipótese superar os testes

rigorosos, estará corroborada, confirmada provisoriamente, não definitivamente

como querem os indutivistas. (LAKATOS e MARCONI, 1991). As etapas do

método hipotético-dedutivo são as seguintes: colocação do problema, construção

de um modelo teórico, dedução de conseqüências particulares, testes das hipóteses

e adição ou introdução das conclusões na teoria.

Método dialético: em uma tentativa de unificação, Lakatos e Marconi (2000)

apresentam quatro leis fundamentais da dialética: ação recíproca, unidade polar ou

“tudo se relaciona”; mudança dialética, negação da negação ou “tudo se

85

transforma”; passagem da quantidade à qualidade ou mudança qualitativa; e

interpenetração dos contrários, contradição ou luta dos contrários.

Os métodos acima, como abordam Lakatos e Marconi (2000), podem ser agrupados no método

de abordagem, caracterizando-se em uma abordagem mais ampla, em nível de abstração mais

elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade. Por sua vez, os métodos de procedimentos

seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade mais restrita em termos de

explicação geral dos fenômenos e, portanto, menos abstratos. Pressupõem uma atitude concreta

em relação ao fenômeno e estão limitados a um domínio particular. São utilizados na área restrita

das ciências sociais, destacando os seguintes:

Método histórico: consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições

do passado para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições

alcançariam sua forma atual por meio de alterações de suas partes componentes ao

longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. O

estudo deve remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações.

Método comparativo: realiza comparações com a finalidade de verificar

similitudes e explicar divergências. É utilizado tanto para comparações de grupos

no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre

sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento.

Método monográfico: partindo do princípio de que qualquer caso que se estude

em sua profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até

de todos os casos semelhantes, o método monográfico consiste no estudo de

determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou

86

comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve

examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciam e

analisando-o em todos os seus aspectos.

Método estatístico: permite obter, de conjuntos complexos, representações

simples e constatar se estas verificações simplificadas têm relações entre si.

Assim, o método significa redução de fenômenos sociológicos, políticos,

econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite

comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua

natureza, ocorrência ou significado.

Método tipológico: ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria

tipos ou modelos ideais, construídos a partir da análise de aspectos essenciais do

fenômeno. A característica principal do ideal é não existir na realidade, mas servir

de modelo para a análise e compreensão de casos concretos, realmente existentes.

Método funcionalista: levando-se em consideração que a sociedade é formada por

partes componentes, diferenciadas, inter-relacionadas e interdependentes,

satisfazendo cada uma das funções essenciais da vida social, e que as partes são

mais bem entendidas compreendendo-se as funções que desempenham no todo, o

método funcionalista estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas

unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades.

Método estruturalista: parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se,

a seguir, ao nível abstrato, por intermédio da constituição de um modelo que

represente o objeto de estudo, retornando, por fim, ao concreto, dessa vez como

uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social.

87

Lakatos e Marconi (2000) abordam o uso concomitante de diversos métodos. Analisando o

modelo da pesquisa pôde-se caracterizá-la como método monográfico, também denominado

estudo de caso, uma vez que o estudo teve por objetivo a análise em profundidade de poucos

elementos da população. O estudo de caso permite a consideração de um grande número de

variáveis, as quais não necessitam ser predeterminadas, como no caso de uma survey ou

experimento. (CAVAYE, 1996, apud ROESCH, 1999).

O estudo pôde ser classificado, ainda, como um método tipológico, pois procurou criar, de

acordo com a literatura existente, um perfil ideal para o empreendedor. E, a partir deste perfil

ideal, procurou-se identificar, dentre os empresários da área da saúde, aqueles que apresentavam

perfil semelhante ao ideal.

3.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Um estudo é composto pela definição de vários critérios que ajudam a compreender melhor a

forma como a pesquisa é realizada. Alguns instrumentos utilizados na pesquisa já foram

contemplados nos tópicos anteriores. Com base nos estudos de Cooper e Schindler (2000),

estabeleceram-se alguns critérios de classificação da pesquisa.

Um primeiro critério para a classificação de uma pesquisa diz respeito à maneira com que as

questões de pesquisa são formuladas. Dessa forma, o estudo pode ser visto como exploratório ou

formal, depende do tipo de estrutura e dos objetivos imediatos da pesquisa. O estudo exploratório

88

visa desenvolver hipóteses ou questionamentos para pesquisas futuras. Já o estudo formal inicia-

se onde a exploração termina e envolve procedimentos precisos e fontes específicas de dados. O

presente trabalho enquadrou-se como um estudo exploratório, por se tratar de uma investigação

ainda nos primeiros estágios e que procurou obter informações objetivas e subjetivas dos

empreendedores.

O segundo critério refere-se ao método de coleta de dados, compreendendo processos de

monitoração e interrogação/comunicação. A coleta de dados pode ser realizada através de dois

métodos: observacional e modo de interrogação/comunicação. O método observacional consiste

na inspeção das atividades do objeto ou na natureza de algum material, sem a tentativa de colher

respostas de ninguém. Já o método de interrogação/comunicação, o pesquisador indaga o objeto e

coleta suas respostas por meios pessoais ou impessoais. A coleta de dados pode resultar de:

entrevista por telefone; instrumentos de auto-resposta, enviados via e-mail ou outros meios; e

instrumentos aplicados antes ou após uma condição de tratamento ou estímulo em um

experimento (COOPER e SCHINDLER, 2000). Quanto ao método de coleta de dados, o trabalho

consistiu-se em um modelo de interrogação/comunicação, uma vez que foi possível questionar os

assuntos e coletar suas respostas através de meios pessoais e impessoais. Os dados coletados

vieram, principalmente, por meio de questionário e entrevista.

Um terceiro critério classifica a pesquisa em relação ao controle que o pesquisador exerce sobre

as variáveis, podendo ser uma pesquisa experimental ou ex post facto. Na pesquisa experimental,

o pesquisador procura controlar ou manipular as variáveis do estudo. É utilizada quando o

pesquisador deseja descobrir o efeito que certas variáveis exercem sobre outras. Por sua vez, na

89

pesquisa ex post facto o pesquisador não exerce controle sobre as variáveis, no sentido de

manipulá-las. O pesquisador apenas reporta o que aconteceu ou está acontecendo. Em relação ao

controle das variáveis, o trabalho se enquadrou em uma pesquisa ex post facto, já que não foi

exercido nenhum tipo de controle sobre as variáveis, no sentido de manipulá-las. Apenas foi

relatado o que aconteceu ou o que estava acontecendo com o empreendedor.

O quarto critério classifica uma pesquisa, de acordo com os seus objetivos, em descritiva ou

causal. Segundo Cooper e Schindler (2000), a diferença essencial entre estudos descritivos e

causais reside em seus objetivos. Os autores apontam que, se a pesquisa está preocupada em

descobrir quem, o que/qual, onde, quando/quanta, então o estudo é descritivo. No entanto, se a

pesquisa se preocupa em aprender o porquê, isto é, como uma variável produz mudanças em

outra, trata-se de um estudo causal. A pesquisa em questão foi caracterizada como um estudo

descritivo, uma vez que sua preocupação consistia em descobrir qual o comportamento e o perfil

empreendedor do empresário da área da saúde.

O quinto critério de classificação de uma pesquisa leva em consideração a dimensão tempo,

podendo apresentar corte transversal ou longitudinal. No que diz respeito à dimensão do tempo, o

estudo pôde ser caracterizado como transversal. Para Cooper e Schindler (2000), estudos

transversais representam uma foto instantânea de um ponto no tempo, ao passo que estudos

longitudinais são repetidos por um longo período de tempo.

Um sexto critério classifica a pesquisa quanto ao seu escopo: em largura, chamado de estudo

estatístico; e em profundidade, chamado estudo de caso. Como a pesquisa não esteve preocupada

90

com a amplitude, mas sim com a profundidade em âmbito do tópico estudado, o estudo

caracterizou-se como um estudo de caso, uma vez que enfatizou uma completa análise contextual

de um número menor de eventos.

Segundo Hartley, apud Cassell & Symon (1994), o estudo de caso consiste em uma investigação

detalhada, geralmente com dados coletados no decorrer de um certo tempo, permitindo que se

faça uma análise processual, contextual e geralmente longitudinal das várias ações e significados

que acontecem e que são construídos dentro das organizações. Sua finalidade é fornecer uma

análise do contexto e dos processos envolvidos no fenômeno sob estudo, e não isolar o fenômeno

estudado de seu ambiente.

A pesquisa foi caracterizada como um estudo de casos múltiplos, uma vez que objetivou estudar

o perfil e o comportamento de um conjunto de empresários da área da saúde, abordando,

principalmente, médicos, dentistas e farmacêuticos. Estudo de múltiplos casos geralmente

envolvem comparação entre os casos. Sendo assim, os critérios de seleção dos casos podem

basear-se em similaridades ou em diferenças entre as unidades pesquisadas (ROESCH, 1999).

Dessa forma, a seleção dos casos baseou-se em similaridades, pois se procurou selecionar os

empresários que tinham pré-disposição a apresentar o perfil empreendedor, uma vez que seus

empreendimentos ofereciam um diferencial competitivo em relação a outros empreendimentos do

mesmo porte.

Finalmente, o sétimo critério classifica a pesquisa com relação ao ambiente em que a mesma é

realizada. O estudo pode ser dito sob condições de campo quando a pesquisa é realizada sob as

91

condições atuais do ambiente. Por outro lado, é tida como condições de laboratório quando é

realizada sob outras condições. Uma vez que o estudo ocorreu sob condições ambientais reais,

consistiu-se em um estudo de campo, e não um estudo de laboratório.

Tendo em vista tais critérios de classificação de uma pesquisa, o Quadro 10 apresenta,

resumidamente, a classificação da presente pesquisa.

Quadro 10: Classificação da pesquisaCritério de classificação ClassificaçãoForma do estudo ExploratórioMétodo de coleta de dados Interrogação/comunicaçãoControle das variáveis Ex post factoPropósito da pesquisa Estudo descritivoDimensão de tempo TransversalEscopo da pesquisa Estudo de casoAmbiente da pesquisa Condições de campo

Fonte: Elaborado com base em Cooper e Schindler (2000).

3.4 TÉCNICAS DE COLETA E TRATAMENTO DE DADOS

Técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a

habilidade para usar esses preceitos ou normas; é a parte prática (LAKATOS e MARCONI,

1991). Várias são as técnicas aplicadas em uma pesquisa. Lakatos e Marconi (1991) apresentam

as seguintes técnicas de pesquisa:

Documentação indireta: recolhe informações prévias sobre o campo de interesse,

através do levantamento de dados de fontes variadas. A pesquisa indireta pode ser

realizada de duas formas: a) pesquisa documental, onde a coleta de dados restringe-se

a documentos, escritos ou não; e b) pesquisa bibliográfica, estudando a bibliografia

92

que já se tornou pública em relação ao tema de estudo.

Documentação direta: consiste no levantamento de dados no local onde o fenômeno

ocorre. A pesquisa direta pode ser realizada das seguintes formas: a) pesquisa de

laboratório, caracterizada como um procedimento de investigação mais difícil, porém

mais exato; e b) pesquisa de campo, utilizada com o propósito de conseguir

informações a respeito de um problema.

Observação direta intensiva: é realizada através de duas técnicas: a) observação, que

consiste em ver, ouvir e examinar fatos ou fenômenos; e b) entrevista: encontro entre

duas pessoas, a fim de que uma delas (pesquisador) obtenha informações a respeito de

determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional e assim

coletar os seus dados de análise.

Observação direta extensiva: realiza-se através de questionário, formulário, medidas

de opinião e atitudes e de técnicas mercadológicas.

Algumas técnicas foram utilizadas para a coleta de dados e realização da pesquisa, tais como:

pesquisa bibliográfica, consulta e análise de documentos, entrevistas, observação direta e

observação não participante. Para a fase de desenvolvimento do referencial teórico sobre o

assunto específico e assuntos correlatos, a pesquisa utilizou-se de bibliografias disponíveis em

livros, artigos em revistas especializadas, Internet, dissertações, teses e anais de congressos.

Para o levantamento de dados da pesquisa propriamente dita, foi realizada consulta junto à

Associação de Classes, Sindicatos, Conselhos, etc, a fim de identificar os

empreendedores/empresários da área da saúde. Uma vez identificados os empresários, foram

93

aplicados questionários com os mesmos, visando analisar o seu perfil de empreendedor. O

questionário, conforme apresentado no Anexo 02, foi elaborado com o propósito de levantar

informações a respeito do empreendedor, tais como sexo, idade e experiência anterior. Visou-se,

ainda, conhecer o histórico da criação do empreendimento, como o planejamento e estudo de

viabilidade, origem do capital empregado na abertura do negócio, responsabilidade pela tomada

de decisão. Para cumprir com tais propósitos, foram elaboradas questões fechadas.

Para determinar se o empresário realmente possui um perfil empreendedor, foram elaboradas

questões, utilizando-se a escala de Likert, conforme pode ser observado nos quadros a seguir.

Quadro 11: Fatores relevantes no momento da tomada de decisão de criar a própria empresa.1 2 3 4 5

A Definir objetivos claros e específicos de longo prazoB Fazer sacrifício pessoal ou esforços extraordinários para a realização de uma tarefa.E Mostrar confiança na própria capacidade de realizar uma tarefa difícil ou enfrentar um difícil

desafio.F Fazer pessoalmente pesquisas sobre como fornecer seus produtos ou serviços.J Utilizar pessoal-chave/agentes para atingir seus objetivos.L Calcular deliberadamente os riscos e avaliar as alternativas.M Buscar pessoalmente informações sobre clientes fornecedores ou concorrentes.N Buscar e documentar informações comprobatórias.O Revisar o plano de negócios periodicamente, levando em conta a performance e fazer as

mudanças necessárias.P Utilizar estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir outros.Q Encontrar maneiras de fazer as coisas da melhor forma possível, mais barato.S Dividir as tarefas em sub-tarefas com prazos bem definidos.S Manter os registros financeiros e utilizá-los para tomar decisões de negócio.T Tomar medidas para estender o negócio a novas áreas, produtos ou serviços.T Identificar oportunidades únicas para iniciar o negócio, obter equipamentos e espaços físico para

instalar a sua empresa.U Tomar medidas repetidas vezes ou mudar para uma estratégia alternativa, a fim de enfrentar

desafios ou superar obstáculos.Z Tomar medidas para atender ou exceder os padrões de qualidade dos produtos/serviços

ofertados ao mercado.Fonte: Elaboração da autora.

Com as frases afirmativas do Quadro 11, o empresário poderia atribuir um peso de acordo com a

ordem de importância em que os fatores citados foram relevantes no momento da tomada de

94

decisão de criar o seu empreendimento, levando-se em consideração: (1) nenhuma importância;

(2) pouca importância; (3) média importância; (4) muita importância; e (5) extremamente

importante.

No Quadro 12 podem ser visualizadas as questões afirmativas que melhor definem o perfil do

empreendedor. Neste caso, os empresários atribuíam para as questões abaixo: (1) nunca; (2) raras

vezes; (3) algumas vezes; (4) muitas vezes; e (5) sempre.

95

Quadro 12: Opção que melhor define o perfil do empreendedor.1 2 3 4 5

A Objetivos por escrito para este negócio são cruciaisA Saber a direção onde se deseja chegar é fundamental para um negócioB Sei definir metas, garantir sua execução e corrigir problemas com agilidadeB Tenho jogo de cintura para sair bem de situações complicadasB Sei reconhecer o que é melhor e mudar tudo, se for preciso, em busca da excelênciaC Aprecio o desafio de inventarC Procuro por novas maneiras de fazer as coisasD Sei delegar responsabilidadesD As pessoas aceitam as minhas delegaçõesD Destaco-me em meus grupos de trabalhoD Sei valorizar um funcionárioE Tenho confiança na minha habilidade de atingir metasE Conheço minha capacidade de obter sucesso em um novo desafioF Prefiro fazer as coisas a pedir que outros as façamF Sei me envolver com o trabalho de uma forma objetivaG Tenho disposição para me dedicar ao trabalho, com todo entusiasmoG Dedico-me à empresa com motivaçãoH Tenho visão de sucessoH Tenho ambição em minhas metasI Sei lutar por minhas idéiasI Tenho satisfação em minhas conquistas e sempre pretendo outrasJ Procuro pessoas parecidas comigo para trabalhar em meu negócioJ As pessoas que trabalham para mim sabem das metas e objetivos do negócioK Sei ganhar e perderK Consigo superar dificuldades com equilíbrioL Gosto de enfrentar desafios e os limites da minha capacidadeL Para exceder a concorrência procuro assumir alguns riscosL Sou capaz de deixar uma situação segura, para arriscar novas oportunidadesM Procuro aprender mais sobre o meu negócioM Diante de situações novas, procuro colher o máximo de informaçõesN Procuro saber o que os funcionários pensam sobre o seu trabalhoN Procuro saber a opinião dos clientes sobre o meu negócioP Sei influenciar as pessoas em suas decisões, sem deixar resquícios emocionaisR Gosto de tomar decisõesR Gosto de agir prontamente, mesmo diante de uma situação difícilS Sei planejar recursos de forma organizada, lógica e racionalS Gasto uma boa parte do tempo planejando o meu negócioT Sei transformar situações de risco em oportunidadesT Sei identificar tendência e oportunidades de futuroU Gosto de abordar situações de uma maneira analíticaV Estou atualizado com as novidades empresariais no meu ramo de negócioX Gosto de competirX Consigo transformar meus sonhos em realidadeZ Desejo que meu negócio seja melhor que o dos concorrentesZ Procuro fazer o melhor para o meu clienteFonte: Elaboração da autora.

Cada uma das questões apresentadas nos quadros acima, relaciona-se a uma característica,

habilidade ou valor que, juntos, formam o perfil do empreendedor, estabelecido pela autora, com

96

base no presente estudo. A relação entre as questões e os atributos formadores do perfil

empreendedor foi estabelecida pela letra alfabética que os antecede, conforme pode ser observado

no Quadro 13, e comparados aos dois quadros antecedentes.

Quadro 13: Atributos que formam o perfil do empreendedor.Características A

BCDEFGHI

VisãoEnergia e flexibilidadeCriatividade, inovação e intuiçãoLiderançaAutoconfiançaIndependência e iniciativaMotivação, entusiasmo, paixãoOtimismo, perseverança e persistênciaComprometimento e dedicação

Habilidades JKLMNOPQRSTUVX

Formador de equipesLidar bem com o fracassoCorrer riscos calculadosBuscar informações e conhecimentosObter feedbackOrientação por metas e objetivosRelacionamento interpessoal (persuasão e rede de contatos)Saber buscar, utilizar e controlar recursosCapacidade de decisãoPlanejamento e organizaçãoSaber explorar oportunidadesCapacidade de análiseConhecimento do ramoTraduzir pensamentos em ação

Valores Z Exigência de qualidade e eficiênciaFonte: Elaboração da autora.

À medida que o empresário apresentasse pontuação igual ou superior a 4,0 (quatro) pontos para

uma determinada característica, habilidade ou valor, afirmou-se que o empresário desenvolveu tal

característica, habilidade ou valor. Dessa forma, quanto maior o número de características,

habilidades e valores desenvolvidos pelo empresário, mais desenvolvido foi o seu perfil

empreendedor. Alguns dos atributos puderam ser verificados a partir de mais de uma questão do

questionário. Sendo assim, para identificar a pontuação de tal atributo, utilizou-se a média

aritmética simples.

Uma breve entrevista foi realizada com o objetivo de coletar informações adicionais. A entrevista

97

foi do tipo focal e espontânea. Para Yin (2001), a entrevista focal é realizada em um curto

período de tempo, com caráter de uma conversa informal, mas segue um conjunto de perguntas

elaboradas previamente. A entrevista foi gravada e transcrita, para fins comprobatórios,

objetivando, ainda, não perder nenhuma informação coletada. Na entrevista espontânea, o

entrevistado assume o papel de informante, fala sobre sua rotina, dos fatos que acontecem e emite

opiniões, dentre outros. Foram utilizados, ainda, os métodos de observação direta e observação

não participante, a fim de analisar como os empreendedores/empresários se portam diante de seus

empreendimentos.

Uma vez que a ênfase das questões de pesquisa consistia em conhecer e descrever o perfil do

empreendedor da área da saúde, os dados coletados tiveram maior ênfase na área qualitativa. A

fim de aumentar a confiabilidade dos dados qualitativos, Yin (2001), orienta a elaboração de um

processo de triangulação entre as fontes de evidências, para dar maior consistência e

credibilidade às conclusões da pesquisa. O processo de triangulação consiste no fato de ouvir

mais de uma pessoa, a fim de comparar a veracidade dos fatos mencionados pelo entrevistado.

Simultaneamente à coleta de dados, foi constituído um banco de dados, a fim de armazenar e

organizar as evidências coletadas. Yin (2001) menciona a importância do banco de dados, pois

tem a finalidade de não limitar o estudo de caso em relatórios escritos, aumentar a confiabilidade

do estudo e permitir que os interessados neste estudo consultem as evidências coletadas.

3.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

98

A pesquisa em questão restringiu-se ao estudo do empreendedorismo e das características

empreendedoras, a fim de identificar o perfil empreendedor do empresário da área da saúde no

município de Maringá. Uma vez que a população de profissionais da área da saúde é

relativamente grande, englobando médicos, dentistas, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas,

nutricionistas, dentre outros profissionais, o estudo procurou selecionar apenas alguns casos de

sucesso. Sendo assim, a pesquisa concentrou-se em pesquisar empreendimentos médicos, como

clínicas médicas, hospitais, laboratórios, planos de saúde, clínicas odontológicas e farmácias.

Como o objetivo da pesquisa consistiu em um estudo mais aprofundado, foram selecionados doze

casos, os quais puderam contemplar médicos, dentistas e farmacêuticos.

Além de identificar o perfil do empreendedor, alguns tópicos foram abordados na coleta de dados

com os entrevistados, que visaram identificar: o motivo que levou o empresário a iniciar o seu

empreendimento; a quem está delegada a responsabilidade pela sua administração; e a que o

empresário atribui o sucesso de seu negócio, contribuindo assim para o alcance dos objetivos

propostos pela pesquisa. Fatores relacionados ao processo administrativo do empreendimento não

foram abordados no estudo.

3.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Apesar de a pesquisa estar claramente delimitada, o estudo contou com algumas limitações.

Primeiramente, por se tratar de um estudo exploratório com um número limitado de casos, não há

possibilidade de se fazer generalização em relação aos resultados alcançados. Outra limitação do

99

estudo relaciona-se ao fato de que a definição do perfil empreendedor dos empresários da área da

saúde baseou-se em opiniões dos próprios empresários, que fizeram uma auto-percepção de sua

pessoa. Dessa forma, alguns empresários se portaram de forma modesta ao responder ao

questionário, subestimando sua capacidade, e conseqüentemente, seu perfil empreendedor. Ao

contrário de outros, que atribuíram nota máxima para quase todos os atributos analisados. Uma

vez que o estudo não permitiu a possibilidade de outras pessoas, diretamente ligadas aos

empresários, opinarem em relação às questões abordadas no questionário, torna-se difícil

identificar a exatidão das respostas obtidas pelo mesmo.

100

4 RESULTADOS DA PESQUISA

De posse do modelo ideal para o perfil do empreendedor, foi possível a realização da pesquisa

com os empresários selecionados. Várias são as profissões relacionadas à área saúde, como

fonoaudiologia, fisioterapia, nutrição, psicologia, dentre outras formações. No entanto, a maioria

destes profissionais possui um consultório particular, formalizando a abertura da empresa apenas

para fins legais. Diante desta realidade, a pesquisa foi realizada com doze empresários, dentre

eles médicos, dentistas e farmacêuticos. Um terço dos empresários analisados deixou de

apresentar o perfil empreendedor. A Tabela 2 mostra o número de profissionais pesquisados,

discriminando aqueles que apresentaram o perfil empreendedor e aqueles que deixaram de

desenvolver tal perfil.

Tabela 2: Empresários pesquisadosMédicos Farmacêuticos Dentistas Total

Empreendedores 4 2 2 8Não-empreendedores 2 2 0 4Total 6 4 2 12

O quadro a seguir mostra com detalhamento os empreendimentos pesquisados, assim como a

formação básica do empresário.

101

Quadro 14: Classificação dos empreendimentosProfissional Empreendimento

Clínica de Diagnóstico por ImagemClínica de Especialidades médicasClínica de Endocrinologia e EstéticaHospital e Plano de Assistência MédicaLaboratório de Análises Clínicas

Médico

Clínica de Diagnóstico por Imagem, Clínica de Estética e Centro deEndocrinologiaCentro de Especialização OdontológicaDentista Clínica Odontológica e Revista CientíficaDrogariaFarmácia de ManipulaçãoLaboratório de Análises ClínicasFarmacêuticos

Laboratório de Análises Clínicas Fonte: Elaborado com base nos casos selecionados

Dentre os empreendimentos citados no Quadro 14, os empresários que deixaram de apresentar

um perfil empreendedor foram os três proprietários de Laboratório de Análises Clínicas, dentre

eles um médico e dois farmacêuticos e o proprietário da Clínica de Diagnóstico por Imagem, com

formação em medicina. O resultado da pesquisa é apresentado na análise a seguir, que visa

detalhar o perfil dos empresários da área da saúde.

4.1 EMPRESÁRIO 1

O Empresário 1, médico e sócio de uma empresa que atua no ramo de diagnóstico por imagem,

terminou sua residência em 1994, em Medicina Nuclear. Identificou a oportunidade de entrar

como sócio no empreendimento em um Congresso em Brasília, quando ficou sabendo que dois

médicos de Maringá queriam montar um serviço de Medicina Nuclear na cidade. Tal fato foi de

grande interesse ao Empresário, que gostaria de entrar no mercado de trabalho como sócio e não

102

como funcionário. Isso o estimulou a entrar em contato com os médicos, a conhecer a cidade e a

colher informações sobre o negócio.

Em poucos meses, e com capital próprio, os empresários estavam montando seu novo

empreendimento. Foram realizados pesquisa de mercado e um estudo de viabilidade econômico-

financeira do negócio, para a comprovação da necessidade do serviço na cidade.

A empresa está no mercado há oito anos e meio e, durante este tempo, o empreendimento passou

por algumas dificuldades, uma vez que seus sócios não possuíam conhecimentos administrativos

do negócio. Para sanar esta dificuldade, os empresários estão se especializando na área

administrativa e profissionalizando a empresa. Existe um contador interno e um administrador.

Outra dificuldade, com a qual a empresa está se deparando, está vinculada aos convênios, que

não reajustam suas tabelas há nove anos. Uma vez que a empresa realiza exames

complementares, o seu maior movimento se dá através de convênios, os quais contribuem com

90% do seu faturamento. O empresário acredita que uma maneira de buscar força para solucionar

este problema, seja a união das clinicas de diagnóstico e laboratórios, para juntos batalhar com

esses convênios e conseguir uma remuneração melhor.

O empresário em questão pode ser apresentado como empreendedor, uma vez que desenvolve a

grande maioria dos atributos relacionados ao perfil empreendedor. Conforme pode ser observado

no quadro a seguir, o empreendedor apresenta alguns atributos mais desenvolvidos que outros. A

Tabela 3 mostra como os atributos estão desenvolvidos no perfil do empreendedor.

103

Tabela 3: Perfil empreendedor do Empresário 1Características Pontuação

Visão 5.00Energia e flexibilidade 4.00Criatividade, inovação e intuição 4.00Liderança 4.00Autoconfiança 5.00Independência e iniciativa 4.00Motivação, entusiasmo e paixão 5.00Otimismo, perseverança e persistência 5.00Comprometimento e dedicação 5.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 4.33Lidar bem com o fracasso 4.00Correr riscos calculados 3.75Buscar informações e conhecimentos 4.00Obter feedback 5.00Orientação por metas e objetivos 4.00Relacionamento interpessoal 3.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00Capacidade de decisão 4.50Planejamento e organização 3.75Saber explorar oportunidades 3.25Capacidade de análise 3.00Conhecimento do ramo 5.00Traduzir pensamentos em ação 5.00

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.33

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 1.

Como pode ser visualizado no quadro acima, o empresário apresenta todas as características de

um empreendedor. Sua visão de futuro o orienta na definição de objetivos claros e específicos,

uma vez que tem plena convicção do direcionamento de seu negócio. Tem energia para o

trabalho e flexibilidade para reconhecer o que é melhor para o negócio e mudar tudo, se preciso

for. Possui criatividade e inovação, fazendo com que busque novas maneiras de realizar suas

tarefas, apreciando o desafio de inventar. Sua capacidade de liderança, comprometimento e

dedicação fazem com que os colaboradores sejam seus seguidores, contribuindo para o alcance

de seus objetivos e metas. É autoconfiante, otimista, motivado, entusiasmado e tem paixão pelo

que faz, agindo sempre com independência e iniciativa.

104

Quanto às habilidades atribuídas ao perfil do empreendedor, o Empresário 1 apresenta a grande

maioria. É um indivíduo orientado por metas e objetivos e, para atingi-los, está constantemente

buscando novas informações e conhecimentos, apesar de conhecer bem o mercado em que atua.

Uma vez que sabe ganhar e perder, tem habilidade de lidar bem com o fracasso, supera as

dificuldades com equilíbrio e aprende sempre com os erros. O empreendedor tem muita

capacidade de decisão, apesar de sua capacidade de análise não ser tão desenvolvida.

Algumas habilidades, no entanto, não foram completamente desenvolvidas pelo empreendedor,

que prefere não correr riscos em seu negócio. Por não ter formação administrativa, o

empreendedor possui pouca habilidade de planejamento e organização e, também, tem

dificuldade de persuasão em sua rede de contatos. A sua maior dificuldade relaciona-se à

capacidade de análise. O empreendedor preza pela qualidade e eficiência no que diz respeito às

atividades da empresa.

O Empresário atribui o sucesso da empresa à honestidade dos sócios, à sua dedicação ao trabalho,

visando sempre colocar a empresa em primeiro plano e ao espírito de querer crescer.

4.2 EMPRESÁRIO 2

O Empresário 2 foi levado a montar o negócio pela formação na área técnica e científica como

farmacêutico bioquímico. Segundo o empresário, “o bioquímico ou vai montar seu negócio ou

vai trabalhar de empregado em um laboratório”. Assim, identificou a oportunidade de ter o seu

105

próprio negócio, uma vez que os antigos proprietários do laboratório estavam desfazendo a

sociedade. Montou uma equipe e, com capital próprio, tornaram-se os novos sócios do negócio.

Durante os 30 anos que estão no mercado, depararam-se com muitas dificuldades. Um período

crítico foi quando chegaram à conclusão de que deveriam parar de atender a previdência social,

pois o volume de trabalho era muito e o retorno era pouco. No entanto, a adaptação com a

redução do movimento foi difícil, sendo preciso dispensar alguns funcionários e reestruturar a

empresa. Outra dificuldade citada pelo empresário foi em questão ao trabalho realizado em um

hospital na cidade de Maringá, em sistema de plantões. Os plantões eram constantes e o retorno

não era suficiente, não trazia lucratividade para a empresa. Também foi uma fase difícil, mas a

decisão de encerrar o sistema de plantões amenizou o problema.

Atualmente, a empresa enfrenta uma fase de constante aumento nos custos, sem poder repassá-los

para os clientes, uma vez que a maior parte de sua receita provém de convênios, e desde 1994 não

há reajuste nas tabelas de preços. As margens de lucro estão caindo, mas a empresa luta para não

sacrificar a qualidade do serviço. O que o empresário está fazendo, no sentido de melhorar a

lucratividade, é captar mais movimento, tentando adequar os seus custos.

Uma vez que o empresário apresentou pontuação inferior a 4,0 (quatro) pontos para uma maior

quantidade dos atributos analisados, este não apresentou um perfil empreendedor. Apenas alguns

dos atributos foram desenvolvidos pelo Empresário 2, conforme pode ser visualizado na tabela a

seguir.

106

Tabela 4: Perfil empreendedor do Empresário 2Características Pontuação

Visão 3.33Energia e flexibilidade 3.75Criatividade, inovação e intuição 4.00Liderança 4.25Autoconfiança 3.67Independência e iniciativa 3.67Motivação, entusiasmo e paixão 5.00Otimismo, perseverança e persistência 4.00Comprometimento e dedicação 4.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 3.00Lidar bem com o fracasso 4.50Correr riscos calculados 3.25Buscar informações e conhecimentos 3.50Obter feedback 4.00Orientação por metas e objetivos 1.00Relacionamento interpessoal 3.00Saber buscar, utilizar e controlar recursos 4.00Capacidade de decisão 3.50Planejamento e organização 3.50Saber explorar oportunidades 3.50Capacidade de análise 3.50Conhecimento do ramo 4.00Traduzir pensamentos em ação 3.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.33

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 2.

De acordo com os dados visualizados na tabela acima, o empresário apresenta algumas

características e algumas habilidades do empreendedor. Os valores estão presentes em seu perfil,

uma vez que o empresário prima pela qualidade do serviço ofertado, buscando tomar medidas

para exceder os padrões de qualidade do concorrente, oferecendo sempre o melhor para os

clientes.

O Empresário 2 é um indivíduo motivado, entusiasmado e tem paixão pelo trabalho que

desenvolve. Busca a criatividade e a inovação como aliadas para desenvolver novas maneiras de

satisfazer os clientes. Seu comprometimento e dedicação fazem com que contagie os funcionários

a seguirem seus objetivos e metas. Sabe buscar, utilizar e controlar os recursos necessários para o

107

bom desempenho do seu negócio. Procura saber com clientes e colaboradores como está o seu

desempenho e do seu negócio, visando identificar as possíveis falhas, a fim de buscar a melhoria

contínua. Quando se depara com algum fracasso, procura aprender com os erros, a fim de não

cometê-los no futuro.

Várias características e habilidades não foram completamente desenvolvidas pelo empresário. Por

não apresentar uma aguçada capacidade de análise, não consegue visualizar e distinguir

oportunidades. Assim, tem dificuldade para traduzir seus pensamentos em ação. No entanto, a

habilidade que o empresário menos desenvolve é a orientação por metas e objetivos, já que a

administração fica a cargo de uma terceira pessoa.

Parte do sucesso do negócio pode ser atribuído ao proprietário anterior, que era um profissional

idôneo e muito bem preparado. O empresário e seus sócios apenas deram continuidade ao serviço

e ao nome que já estava, de certa forma, consolidado no mercado. Mas o empresário também tem

seu mérito, pois possui uma equipe harmônica, com vontade de servir bem. O empresário sabe

que “o sucesso do negócio está em não pôr o foco em primeiro lugar no dinheiro, mas em

primeiro lugar no atendimento, e o dinheiro ser uma conseqüência do bom atendimento (...) isso a

gente procura fazer.” O empresário não faz distinção entre clientes particulares e conveniados;

procura dar o mesmo atendimento a todos os clientes.

108

4.3 EMPRESÁRIO 3

Guiado pela vocação e pelo sonho de montar seu próprio negócio, o Empresário 3 transformou

uma idéia em um negócio. Em poucos meses, e com capital próprio, o empresário e um sócio

montaram um laboratório de análises clínicas, que está no mercado há três anos. Durante os

primeiros dois anos, o empresário encontrou dificuldades com capital de giro, que podem ser

encaradas normais em um empreendimento, até se atingir o ponto de equilíbrio. Segundo o

empresário, construir um nome sólido no mercado também é de extrema dificuldade.

A administração do negócio fica a cargo do sócio, que cursou administração. Mas, segundo o

empresário, a administração, na área da saúde, torna-se um pouco complicada; bem diferente de

qualquer outro setor, pois não se trabalha com qualquer item. Deve-se buscar por produtos de

qualidade, visando oferecer o melhor para o cliente e isso acarreta maiores custos. Uma vez que

um sócio trabalha com a parte técnica e outro com a parte administrativa, os dois tentam conciliar

as duas posições, principalmente no que diz respeito a custos, para chegar a uma decisão

satisfatória para o negócio.

O Empresário 3 também apresentou uma menor quantidade de características e habilidades

encontradas no perfil do empreendedor, não se enquadrando, portanto, no perfil estabelecido pela

pesquisa. A Tabela 5 mostra a pontuação obtida pelo Empresário 3 em cada um dos atributos

pesquisados.

109

Tabela 5: Perfil empreendedor do Empresário 3Características Pontuação

Visão 3.67Energia e flexibilidade 3.00Criatividade, inovação e intuição 4.00Liderança 1.75Autoconfiança 5.00Independência e iniciativa 3.67Motivação, entusiasmo e paixão 2.50Otimismo, perseverança e persistência 4.00Comprometimento e dedicação 4.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 3.33Lidar bem com o fracasso 3.00Correr riscos calculados 2.50Buscar informações e conhecimentos 3.75Obter feedback 3.00Orientação por metas e objetivos 4.00Relacionamento interpessoal 2.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 2.00Capacidade de decisão 4.00Planejamento e organização 3.50Saber explorar oportunidades 3.50Capacidade de análise 5.00Conhecimento do ramo 3.00Traduzir pensamentos em ação 4.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 5.00

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 3.

O Empresário 3 apresentou em seu perfil, criatividade e inovação, pois procura sempre por novas

maneiras de realizar suas atividades e aprecia o desafio de inventar. Seu otimismo, perseverança

e persistência fazem aumentar o comprometimento e a dedicação em relação ao trabalho

realizado, fazendo traduzir os pensamentos em ação. É orientado por metas e objetivos e sua

capacidade de análise o auxilia na tomada de decisão. Assim como os outros empresários, o

Empresário 3 também preza pela qualidade e eficiência no serviço prestado aos clientes.

O empresário disse que está satisfeito com o seu negócio, acha que sua empresa ocupa uma

posição satisfatória no mercado. Atribui o sucesso, em parte, à divulgação, através de um

marketing direcionado principalmente aos médicos, pois são eles que indicam o serviço aos

110

pacientes. Outra parte do sucesso pode ser atribuída ao empenho de todos na empresa em realizar

um trabalho que busque a satisfação do cliente em todos os aspectos, desde a qualidade do

produto em si até o atendimento, buscando sempre oferecer um preço acessível como aliado na

busca pelo sucesso.

4.4 EMPRESÁRIO 4

Trabalhando como autônomo e em outra empresa, o Empresário 4 resolveu abrir o seu próprio

negócio para aproveitar uma oportunidade em um bairro no município de Maringá. Em um

período de três a seis meses, com capital próprio e sem a realização de um estudo de viabilidade

econômico-financeira, a clínica foi aberta, prestando atendimento à comunidade em várias

especialidades médicas.

Analisando o perfil do Empresário 4, é permitido considerá-lo um empreendedor pois, de acordo

com o instrumento utilizado na pesquisa, o mesmo apresenta a maior parte dos atributos que

formam o perfil do empreendedor. Algumas características e habilidades são apresentadas em

maior, outras em menor grau, conforme pode ser visualizado na tabela a seguir.

111

Tabela 6: Perfil empreendedor do Empresário 4Características Pontuação

Visão 4.00Energia e flexibilidade 4.25Criatividade, inovação e intuição 4.50Liderança 4.50Autoconfiança 4.33Independência e iniciativa 3.33Motivação, entusiasmo e paixão 5.00Otimismo, perseverança e persistência 5.00Comprometimento e dedicação 5.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 4.00Lidar bem com o fracasso 5.00Correr riscos calculados 4.25Buscar informações e conhecimentos 3.75Obter feedback 5.00Orientação por metas e objetivos 4.00Relacionamento interpessoal 4.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00Capacidade de decisão 5.00Planejamento e organização 4.50Saber explorar oportunidades 4.25Capacidade de análise 4.50Conhecimento do ramo 5.00Traduzir pensamentos em ação 4.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.67

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 4.

Conforme mostra a tabela, algumas características são mais marcantes na personalidade do

empreendedor, que é um indivíduo motivado, entusiasmado e apaixonado pelo trabalho que

desenvolve. É otimista, perseverante e dedica-se com comprometimento, buscando sempre novas

conquistas para o seu trabalho. Sua liderança inata permite-lhe formar equipes seguidoras de suas

idéias, que geralmente são traduzidas em ação. Procura obter feedback para identificar os

possíveis erros. Quando se depara com o fracasso, busca tirar um aprendizado da situação. A

exigência de qualidade e eficiência são valores cruciais para o desenvolvimento do trabalho do

Empresário 4.

112

Enfim, o empresário apresenta uma grande gama dos atributos formadores do perfil

empreendedor. Apresentou apenas dois atributos menos desenvolvidos. O empreendedor prefere

trabalhar em equipe, pois não tem muita iniciativa e independência para a realização de trabalhos

mais individualizados, assim como tem uma menor habilidade para buscar informações e

conhecimentos.

4.5 EMPRESÁRIO 5

O Empresário 5 foi levado a montar seu empreendimento pela vontade de ser dono do próprio

negócio. Trabalhava na Universidade Estadual de Maringá, como técnico de laboratório, e depois

da tentativa de outros dois cursos, optou pelo curso de Farmácia. Como técnico de laboratório era

um funcionário diferenciado, que não se acomodava como as outras pessoas; estava sempre

procurando fazer o melhor e, na maioria das vezes, não era reconhecido pelo trabalho que

desempenhava, o que o deixava frustrado. A idéia de montar sua própria farmácia ocorreu no

segundo ano do curso, justamente para que o empresário pudesse desenvolver um trabalho que,

dentro da Universidade, era um pouco limitado.

Em menos de três meses de planejamento e com capital próprio, o empresário e um sócio

adquiriram sua primeira farmácia há oito anos. Suas dificuldades mais críticas ocorreram nos

primeiros anos, pois o empresário cursava farmácia e continuava trabalhando como técnico de

laboratório. Sendo assim, o empresário tinha pouco tempo para administrar o negócio e faltava-

lhe conhecimentos gerenciais.

113

Seis meses após, o empresário conseguiu comprar a parte de seu sócio e mudou a localização da

farmácia para um bairro, considerado uma cidade dentro de Maringá. A farmácia ocupava o

melhor local desse bairro. Nessa localização, o empreendimento cresceu e o empresário aprendeu

muito.

Hoje, com quatro farmácias, o empresário conta com o apoio de um escritório gerencial, onde

trabalham uma contadora e um auxiliar de contabilidade que, juntos, fazem toda a parte gerencial

e financeira do negócio. Conta também com seu irmão, contador na universidade, que o auxilia

nos relatórios semanais e, uma vez por mês reúne todos os funcionários e o empresário para fazer

o fechamento. Conta ainda, com um consultor particular que realiza projetos de viabilidade para

transações mais arriscadas. O empresário está viabilizando a abertura de uma farmácia de

manipulação, ainda para este ano.

O Empresário 5 se enquadra perfeitamente no perfil empreendedor delimitado pela pesquisa.

Apresentou todas as habilidades e valores de um empreendedor. Deixou de desenvolver apenas

uma das características analisadas, conforme pode ser observado na tabela a seguir.

114

Tabela 7: Perfil empreendedor do Empresário 5Características Pontuação

Visão 4.33Energia e flexibilidade 4.25Criatividade, inovação e intuição 5.00Liderança 5.00Autoconfiança 4.67Independência e iniciativa 3.67Motivação, entusiasmo e paixão 5.00Otimismo, perseverança e persistência 5.00Comprometimento e dedicação 5.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 5.00Lidar bem com o fracasso 4.50Correr riscos calculados 4.75Buscar informações e conhecimentos 4.50Obter feedback 4.00Orientação por metas e objetivos 4.00Relacionamento interpessoal 5.00Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00Capacidade de decisão 4.50Planejamento e organização 4.25Saber explorar oportunidades 5.00Capacidade de análise 4.50Conhecimento do ramo 4.00Traduzir pensamentos em ação 4.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.67

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 5.

Independência e iniciativa não são as características mais marcantes da personalidade do

Empresário 5, justamente porque conta com uma equipe que o apóia em seus negócios.

Conforme pode ser analisado na tabela, o empresário possui uma pontuação bastante elevada para

uma grande maioria dos atributos analisados.

É um líder inato, um indivíduo que, estando constantemente motivado, entusiasmado e

apaixonado pelo seu trabalho, contagia sua equipe. É otimista, perseverante e dedica-se com

comprometimento, buscando sempre novas conquistas para o seu trabalho. Sabe buscar, utilizar e

controlar recursos, tendo aptidão para correr riscos calculados ao explorar novas oportunidades.

Procura obter feedback da equipe e do mercado para identificar as possíveis falhas e, quando

115

estas acontecem, busca aprender com o fracasso. Preza pela exigência de qualidade e eficiência

no desenvolvimento do seu trabalho.

O sucesso de seu empreendimento é atribuído, em primeiro lugar, à grande vontade de fazer o

melhor. Não tem a pretensão de ficar rico, milionário, e também não quer se aparecer. Acha que o

dinheiro é conseqüência do seu trabalho - mais uma característica do empreendedor. Como o

empresário atua na área da saúde, seu objetivo é melhorar a qualidade de vida das pessoas, tendo

uma empresa ética.

4.6 EMPRESÁRIO 6

O Empresário 6 é dentista e resolveu montar um negócio para aproveitar uma oportunidade de

mercado e, também, realizar um sonho seu e de sua família, já que a empresa é familiar. Segundo

o empresário “a clínica já era um sonho tanto nosso que estávamos cursando odontologia quanto

do meu pai que estava há 30 anos na área de odontologia”. Foi quando observaram o mercado e

perceberam que a odontologia estava tendo um desenvolvimento técnico e científico muito

grande. Identificaram a necessidade de um centro de especialização, onde os profissionais de

Maringá pudessem se especializar, atualizar seus conhecimentos, uma vez que estes profissionais

procuravam pelo serviço em outros centros, como a faculdade de odontologia de Bauru, da USP-

Ribeirão Preto e USP-Curitiba. Esses profissionais tinham que se deslocar para procurar esses

cursos fora de Maringá.

116

Foi assim que surgiu um centro de odontologia, que atua em três linhas de ação. A primeira delas

é o centro de aperfeiçoamento, que traz profissionais de fora e alguns de Maringá, inclusive da

UEM. A segunda linha de ação é o atendimento particular, que conta com os seguintes serviços:

o empresário, como dentista restaurador e estético dental; seu pai na área de prótese e implante;

sua mãe na área de endeologia; e sua irmã como clínica geral. O terceiro mix é o plano

odontológico, que visa atender uma camada menos abastada da população, que não tem

condições de se favorecer de um atendimento particular. Sendo assim, o Sistema Odonto de

Assistência Odontológica, é um produto um pouco mais massificado, mas não deixa de ser uma

odontologia de alto nível. “É uma odontologia mais geral, não está centrada na estética, no

implante. É aquela odontologia que cuida da cárie, problema gengival, dentre outros serviços,

voltados para o pessoal que precisa ir ao dentista e não tem condições de fazer um tratamento

particular”, diz o empreendedor.

Durante os 16 anos no mercado, a principal dificuldade encontrada foi quando da construção da

estrutura física da empresa, um prédio de 750 metros de área construída, com 15 consultórios,

uma clínica toda informatizada. Foi imobilizado um capital muito grande, tendo que buscar

recursos de terceiros. Mas o empresário contava com um projeto de viabilidade econômica

favorável ao empreendimento, apontando que as receitas cobririam o financiamento. O

empresário conta com uma gerente administrativa, mas a decisão final é tomada pelos sócios,

principalmente por seu pai.

Uma vez que apresenta a grande maioria dos atributos formadores do perfil empreendedor, o

Empresário 6 pode ser considerado um empreendedor, conforme mostra a Tabela 8.

117

Tabela 8: Perfil empreendedor do Empresário 6Características Pontuação

Visão 4.67Energia e flexibilidade 4.00Criatividade, inovação e intuição 5.00Liderança 4.50Autoconfiança 4.33Independência e iniciativa 3.33Motivação, entusiasmo e paixão 5.00Otimismo, perseverança e persistência 5.00Comprometimento e dedicação 4.50

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 3.33Lidar bem com o fracasso 3.00Correr riscos calculados 4.50Buscar informações e conhecimentos 4.75Obter feedback 3.50Orientação por metas e objetivos 5.00Relacionamento interpessoal 4.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00Capacidade de decisão 4.50Planejamento e organização 4.50Saber explorar oportunidades 4.75Capacidade de análise 3.50Conhecimento do ramo 5.00Traduzir pensamentos em ação 4.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 5.00

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 6.

Das características atribuídas ao empreendedor, o empresário em questão possui menos

familiaridade com a independência e iniciativa. As demais características encontram-se bem

desenvolvidas na personalidade do empreendedor, que é uma pessoa motivada e apaixonada pelo

que faz. Tem visão de futuro, o que facilita transformar seus pensamentos em ação. Usa da

criatividade e inovação para realizar suas tarefas diárias de maneira diferente. Sabe buscar,

utilizar e controlar recursos à medida que pretende explorar novas oportunidades. No entanto, o

empresário tem pouca aptidão para correr riscos. E, apesar de possuir um alto grau de liderança,

possui pouca capacidade para formar equipes.

118

O sucesso do empreendimento é atribuído ao trabalho desenvolvido pelo seu pai junto à

comunidade. Sempre esteve envolvido com a sociedade. Foi secretário de saúde do município,

secretário da ação social, atuou também na questão de projetos da assembléia legislativa do

estado. Foi presidente da Associação Maringá de Odontologia por duas gestões, esteve envolvido

com o Conselho Regional de Odontologia por 18 anos, fez um trabalho junto à comunidade, junto

ao meio empresarial e criou um nome que hoje é respeitado.

4.7 EMPRESÁRIO 7

O que levou o Empresário 7 a montar o seu negócio foi, em primeiro lugar, o fato de ter

terminado a residência e precisar trabalhar em Maringá. O segundo motivo foi para aproveitar

uma oportunidade, uma vez que estava terminando a especialização. Em menos de três meses, e

com parte de capitais de terceiros, o empresário montou uma clínica que presta serviços de

endocrinologia e estética.

Está no mercado há quase um ano e neste tempo se deparou com algumas dificuldades rotineiras.

Mas a dificuldade crítica aconteceu no início deste ano. A empresa passou por um momento

difícil, pois em janeiro e fevereiro as pessoas estavam viajando, o que acarretou uma queda

brusca no movimento e, conseqüentemente, no faturamento; o que complicou a situação, pois as

contas a pagar chegaram normalmente. Após o término das férias a situação se estabilizou.

119

O empresário conta com o serviço de outros profissionais, como psicóloga, nutricionista, dentre

outros. Está ampliando o número de médicos e profissionais da área e fechando novos convênios.

A administração é de responsabilidade de seu irmão, que está cursando o último ano de

Administração.

O empresário em questão pode ser caracterizado como um empreendedor, uma vez que apresenta

os quesitos para tal perfil. A Tabela 9 mostra a pontuação obtida pelo Empresário 7 em cada

quesito.

Tabela 9: Perfil empreendedor do Empresário 7Características Pontuação

Visão 4.33Energia e flexibilidade 3.75Criatividade, inovação e intuição 5.00Liderança 4.50Autoconfiança 4.67Independência e iniciativa 4.00Motivação, entusiasmo e paixão 4.50Otimismo, perseverança e persistência 5.00Comprometimento e dedicação 5.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 4.67Lidar bem com o fracasso 4.50Correr riscos calculados 4.25Buscar informações e conhecimentos 4.75Obter feedback 5.00Orientação por metas e objetivos 5.00Relacionamento interpessoal 4.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00Capacidade de decisão 4.00Planejamento e organização 4.25Saber explorar oportunidades 4.25Capacidade de análise 4.50Conhecimento do ramo 5.00Traduzir pensamentos em ação 5.00

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 5.00

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 7.

Como pode ser observado na tabela acima, o empresário possui quase todos os atributos bem

desenvolvidos, pois obteve pontuação alta em todas as habilidades e nos valores atribuídos ao

120

perfil do empreendedor, segundo modelo apresentado na pesquisa. Apenas uma das

características não está completamente desenvolvida, mas mesmo assim, quase atingiu a

pontuação mínima. Pelo instrumento de pesquisa utilizado, o Empresário 7 demonstrou não ter

muita energia e flexibilidade, encarando a mudança com certa restrição.

Mas é um indivíduo orientado por metas e objetivos bem definidos que, aliados ao conhecimento

do negócio, consegue traduzir seus pensamentos em ação. Com criatividade e inovação, busca

obter feedback do mercado, a fim de identificar as possíveis falhas, visando corrigi-las. Sua visão

de futuro o auxilia a buscar, utilizar e controlar os recursos necessários para o bom desempenho

de suas atividades. É comprometido com o seu trabalho, prezando sempre pela qualidade e

eficiência no serviço prestado.

O sucesso de seu empreendimento pode ser atribuído ao comprometimento com o trabalho,

voltando-se para a qualidade e a vontade de oferecer sempre o melhor para seus pacientes.

4.8 EMPRESÁRIO 8

O Empresário 8 foi levado a montar o seu negócio pela necessidade e oportunidade de mercado,

já que, quando chegou em Maringá com seus sócios, a cidade, ainda muito provinciana, não

contava com um hospital que pudesse oferecer um serviço mais especializado. Para o empresário,

esta necessidade do mercado, aliada ao “sonho de ter o que a gente chamava na época de centro

de trabalho, um local onde você pudesse desenvolver aquilo que você aprendeu” fez com que o

121

grupo se reunisse e montasse o Hospital. Oito anos mais tarde, o empresário visualizou a

oportunidade de montar um plano de assistência médica, percebida, também pela necessidade do

mercado.

Há vinte anos no negócio com o Hospital e doze com o plano de saúde, o empresário passou por

algumas dificuldades. Em relação ao Hospital, por pertencer a um setor comercial, os sócios

enfrentam a falta de conhecimento administrativo. O empresário visualiza a necessidade de o

Hospital, por ser da área da saúde, se enquadrar no chamado terceiro setor. O empresário se

defrontou com a oposição das pessoas para montar o negócio, mas mesmo assim acreditou no seu

sonho e tornou-o viável.

A administração dos empreendimentos é realizada por uma pessoa da área. O hospital sempre

contou com um administrador. Quanto ao plano de assistência médica, também tem um grupo

responsável pela administração. O empresário, que inicialmente calculava os custos de cada

plano e ajudava nas vendas, hoje apenas toma as medidas de decisão.

Analisando as respostas obtidas com o instrumento de pesquisa, o empresário pode ser visto

como um empreendedor, pois apresentou pontuação superior a 4,0 (quatro) pontos para a grande

maioria dos atributos analisados. Observando a Tabela 10, é possível visualizar o perfil

empreendedor do Empresário 8.

122

Tabela 10: Perfil empreendedor do Empresário 8Características Pontuação

Visão 4.33Energia e flexibilidade 3.25Criatividade, inovação e intuição 2.50Liderança 4.00Autoconfiança 4.00Independência e iniciativa 3.00Motivação, entusiasmo e paixão 4.50Otimismo, perseverança e persistência 4.00Comprometimento e dedicação 4.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 3.67Lidar bem com o fracasso 4.00Correr riscos calculados 3.50Buscar informações e conhecimentos 4.00Obter feedback 4.00Orientação por metas e objetivos 5.00Relacionamento interpessoal 4.00Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00Capacidade de decisão 4.00Planejamento e organização 3.50Saber explorar oportunidades 4.00Capacidade de análise 3.50Conhecimento do ramo 4.00Traduzir pensamentos em ação 4.00

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.00

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 8.

O empresário apresentou apenas duas habilidades com a pontuação máxima. É um indivíduo com

bastante aptidão em buscar, utilizar e controlar recursos e, também, muito orientado por metas e

objetivos. Preza pela qualidade e eficiência no desenvolvimento de seu trabalho, buscando

sempre oferecer o melhor para seus clientes. Possui visão de futuro, conhecimento no ramo que,

aliados ao comprometimento e dedicação, ajuda-o a traduzir seus pensamentos em ação. É um

indivíduo otimista, perseverante e conta com sua liderança e bom relacionamento interpessoal

para alcançar aquilo que almeja.

A característica menos desenvolvida pelo empresário foi a criatividade e inovação. É uma pessoa

que não possui muita flexibilidade em relação à mudança, encarando-a com certa resistência.

123

Além de não possuir muita independência e iniciativa, o empresário não tem muita habilidade

para formar equipes, que o auxiliem em seu trabalho. Tem pouca aptidão para correr riscos,

dando preferência para situações mais conservadoras.

O sucesso do empreendimento pode ser atribuído à preocupação em aumentar a satisfação do

cliente. O empresário se preocupa em contar com os profissionais mais competentes, altamente

motivados para realizar um trabalho sério, oferecer realmente o melhor serviço para o cliente.

Uma vez que a cobertura dos planos de saúde deve ser igual, já que, por lei, a cobertura é

universal, a preocupação do empresário está em oferecer como diferencial, um bom atendimento.

4.9 EMPRESÁRIO 9

Trabalhando desde os quinze anos de idade em laboratório de análises clínicas como técnico de

laboratório, o Empresário 9 precisava se manter e manter sua família. Entrou na faculdade de

Medicina, mas precisou continuar trabalhando para ajudar na renda familiar. Desde o primeiro

dia de aula, seu objetivo era se formar e montar o seu próprio laboratório. Com vistas a realizar

seu sonho, veio para o interior do Paraná e procurou por um serviço que já existia. Primeiro foi

para Paranavaí e, depois, para Maringá, que era um centro maior e oferecia melhores

oportunidades de mercado.

Há vinte e dois anos no mercado em Maringá, sempre conseguiu superar os problemas críticos.

Seus principais problemas sempre foram os impostos que, por possuir um amplo quadro de

124

funcionários, são altos. Outra dificuldade enfrentada pelo empresário está relacionada aos altos

custos de seus produtos, que são importados. Mas a dificuldade maior é que, desde 94 os

convênios não reajustam suas tabelas de preços. Com a falta de reajuste, o empresário não

consegue remunerar melhor seus funcionários, oferecer melhores cursos de especialização, apesar

de todos terem oportunidade de fazê-los. Segundo o empresário, a empresa poderia estar em uma

situação melhor.

A parte administrativa, econômica e financeira fica a cargo de um economista contratado para tal

função. Este funcionário apresenta em detalhes os custos de todos os produtos, o que auxilia o

empresário a planejar o futuro da empresa. Há pouco tempo, o empresário montou um laboratório

de análise de alimentos e de análise de água. Entraram também na área veterinária. Essas

oportunidades foram detectadas a partir dos planejamentos econômico-financeiros que o

economista realiza. O empresário é responsável pela área técnica e científica.

Apesar de, aparentemente, o empresário estar preocupado com o futuro e ter detectado

oportunidades de mercado, o mesmo não pode ser visto como um empreendedor, de acordo com

os atributos levados em consideração pelo instrumento da pesquisa. A Tabela 11 mostra a

pontuação obtida em cada atributo pelo Empresário 9.

125

Tabela 11: Perfil empreendedor do Empresário 9Características Pontuação

Visão 3.67Energia e flexibilidade 3.50Criatividade, inovação e intuição 5.00Liderança 3.75Autoconfiança 4.67Independência e iniciativa 3.00Motivação, entusiasmo e paixão 5.00Otimismo, perseverança e persistência 4.50Comprometimento e dedicação 5.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 3.33Lidar bem com o fracasso 4.50Correr riscos calculados 4.00Buscar informações e conhecimentos 2.75Obter feedback 5.00Orientação por metas e objetivos 1.00Relacionamento interpessoal 2.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 1.00Capacidade de decisão 5.00Planejamento e organização 2.50Saber explorar oportunidades 2.50Capacidade de análise 3.00Conhecimento do ramo 5.00Traduzir pensamentos em ação 4.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 3.67

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 9.

Conforme pode ser observado na tabela, foram poucos os atributos desenvolvidos pelo

Empresário 9, que foi o único a apresentar uma pontuação abaixo da mínima para o atributo

qualidade e eficiência no serviço. O atributo menos desenvolvido pelo empresário é a orientação

por metas e objetivos. O Empresário possui pouca energia e flexibilidade para encarar as

mudanças, não apresenta muita capacidade de liderança, nem, tampouco, capacidade de formar

equipes que compartilhem com seus objetivos.

No entanto, o Empresário é altamente motivado, entusiasmado e comprometido com o seu

trabalho. Sua criatividade e inovação lhe permitem aprender com os fracassos. Não se incomoda

de correr riscos, desde que sejam calculados. Possui pleno conhecimento do ramo em que atua.

126

Segundo o Empresário, a empresa sempre se destaca nas pesquisas que são realizadas, inclusive

pela Top Mine que é realizada pela Folha de São Paulo. “Nós sempre estivemos em primeiro

lugar desde 1999, a gente vem mantendo uma grande diferença em relação aos concorrentes”,

menciona o Empresário. Em relação aos médicos, a empresa também tem sempre uma boa

aceitação. Sendo assim, o sucesso é atribuído à persistência no trabalho, ao desenvolvimento

tecnológico e ao bom atendimento ao cliente. O Empresário busca sempre apresentar melhorias

em todos os processos dentro do laboratório.

4.10 EMPRESÁRIO 10

O Empresário 10, para realizar um sonho de faculdade, montou uma farmácia de manipulação.

Percebeu que é uma área que tem crescido bastante ultimamente, devido ao fato de o consumidor

estar procurando um melhor preço, principalmente os mais idosos, que possuem um gasto muito

alto com medicação. O Empresário percebeu, também, que a farmácia de manipulação oferece

maior lucratividade que as drogarias.

Há dois anos no mercado, a maior dificuldade foi com a alta do dólar, pois 85% das matérias-

prima são importadas, o que acarreta aumento nos custos. O empresário percebeu, também, uma

queda brusca no movimento no período de eleições, mas que após as eleições retomaram seu

patamar normal.

127

A responsabilidade pela administração do negócio fica a cargo de seu sócio, que é formado em

Administração e Marketing. A empresa passou por um processo de planejamento, com a

realização de pesquisa de mercado e estudo de viabilidade econômico-financeiro por um período

de quase um ano.

Conforme pode ser observado na Tabela 12, o Empresário 10 apresenta um perfil empreendedor,

uma vez que obteve pontuação alta para a maioria dos atributos analisados pelo instrumento da

pesquisa.

Tabela 12: Perfil empreendedor do Empresário 10Características Pontuação

Visão 4.67Energia e flexibilidade 4.50Criatividade, inovação e intuição 4.50Liderança 4.75Autoconfiança 4.00Independência e iniciativa 3.67Motivação, entusiasmo e paixão 4.00Otimismo, perseverança e persistência 5.00Comprometimento e dedicação 4.50

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 4.00Lidar bem com o fracasso 3.50Correr riscos calculados 4.75Buscar informações e conhecimentos 3.50Obter feedback 4.00Orientação por metas e objetivos 5.00Relacionamento interpessoal 4.00Saber buscar, utilizar e controlar recursos 4.00Capacidade de decisão 5.00Planejamento e organização 4.75Saber explorar oportunidades 4.25Capacidade de análise 4.00Conhecimento do ramo 5.00Traduzir pensamentos em ação 4.00

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.67

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 10.

128

O Empresário 10 é um indivíduo visionário que, com energia, flexibilidade e conhecimento do

ramo de negócio em que atua, tem grande facilidade de traduzir seus pensamentos em ação. Tem

aptidão para correr riscos calculados. Sua capacidade de análise o auxilia na tomada de decisão. É

criativo e gosta de inovar, fazer as tarefas de maneira diferente para sair da rotina. Orientado por

metas e objetivos, busca obter feedback para identificar as falhas e erros. No entanto, não gosta

muito de lidar com o fracasso. É motivado, apaixonado e comprometido, buscando sempre a

qualidade e eficiência no desempenho de suas atividades. Independência e iniciativa não são

características muito desenvolvidas no perfil do Empresário 10, que prefere formar uma equipe

para o auxiliar em suas atividades. Também não tem muita aptidão para buscar informações e

conhecimentos que fogem de sua rotina.

O sucesso do empreendimento, segundo o Empresário, pode ser atribuído à confiança que a

empresa busca oferecer para o consumidor. De acordo com o empresário, a farmácia de

manipulação está mais propensa a cometer erros. Então, a empresa está buscando uma maior

confiança por parte tanto dos médicos quanto dos pacientes, pois o cliente tem que ter confiança

na farmácia com que trabalha. O empresário já ouviu elogio dos clientes que, quando buscavam o

serviço em outras farmácias, não tinham o mesmo resultado encontrado na empresa.

4.11 EMPRESÁRIO 11

O Empresário 11 foi levado a empreender pela sua própria necessidade e oportunidade de

mercado. Era um profissional clínico que tinha necessidade de ler, e o material oferecido no

129

mercado era todo em inglês. Fez uma tradução para que pudesse aproveitar as revistas

estrangeiras e acabou virando um negócio. Ao saber da tradução, um amigo se interessou em ler,

depois outras pessoas demonstraram interesse pelo material traduzido. Foi assim que o

empresário visualizou a oportunidade de elaborar um periódico, que acabou se transformando em

uma revista científica na área odontológica. Hoje, além da revista o empresário atua na área de

especialização para profissionais da área.

Há 12 anos no mercado, sua principal dificuldade está relacionada à falta de preparo para a

administração do negócio, uma vez que tem formação na área odontológica. Segundo o

empresário, “o profissional liberal não está preparado para o mercado, para administração,

trabalhar com juros, buscar financiamento, a gente não sabe onde buscar...”. O empresário

comenta que, se tivesse uma orientação, o caminho poderia ter sido mais fácil. Por não contar

com conhecimentos de gestão, o empresário delega a função administrativa para uma terceira

pessoa.

O Empresário 11 pode ser visto como um empreendedor, uma vez que apresenta grande parte dos

atributos desenvolvidos em seu perfil. A tabela a seguir mostra como estão desenvolvidos esses

atributos.

130

Tabela 13: Perfil empreendedor do Empresário 11Características Pontuação

Visão 4.33Energia e flexibilidade 3.00Criatividade, inovação e intuição 3.50Liderança 4.25Autoconfiança 2.67Independência e iniciativa 3.33Motivação, entusiasmo e paixão 4.50Otimismo, perseverança e persistência 4.00Comprometimento e dedicação 4.00

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 4.00Lidar bem com o fracasso 4.00Correr riscos calculados 3.50Buscar informações e conhecimentos 3.75Obter feedback 4.50Orientação por metas e objetivos 4.00Relacionamento interpessoal 4.00Saber buscar, utilizar e controlar recursos 4.00Capacidade de decisão 4.00Planejamento e organização 4.25Saber explorar oportunidades 4.00Capacidade de análise 4.50Conhecimento do ramo 4.00Traduzir pensamentos em ação 3.50

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.00

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 11.

Apesar de não ter obtido pontuação máxima para nenhum dos atributos, o Empresário 11

apresenta um perfil empreendedor desenvolvido. É um indivíduo que possui visão de futuro. Sabe

onde deseja chegar, estabelecendo metas e objetivos para tal. Tem uma capacidade de liderança e

de formar equipes interessadas em seus objetivos. Por saber lidar bem com o fracasso, sempre

aprendendo com os erros, o Empresário 11 procura obter feedback tanto do seu negócio quanto

de sua pessoa. É uma forma de identificar os erros e falhas e aprimorar o desempenho de suas

atividades. É motivado, entusiasmado, um indivíduo otimista que, com comprometimento e

dedicação, consegue um bom relacionamento pessoal. Tem capacidade de análise da situação, o

que facilita o processo de tomada de decisão. É orientado para a busca da qualidade e eficiência

nos serviços prestados.

131

No entanto, a característica com menor pontuação pela análise realizada foi autoconfiança, uma

das principais características do empreendedor. Possui pouca iniciativa e flexibilidade. Também

não é um indivíduo inovador e criativo, como a maioria dos demais empresários analisados.

O Empresário atribui o sucesso de seu empreendimento ao fato de nunca ter encarado como um

negócio, pois nunca teve a pretensão de ganhar dinheiro com o mesmo. O empresário construiu

uma marca, que busca sempre a qualidade, desde o papel, que é alemão, a diagramação que é

bem feita, o fotolito é da melhor qualidade, as fotos são sempre as melhores. Nunca houve atrasos

no fechamento da edição e o preço nunca foi excessivo. O cliente sempre foi prestigiado com

todos esses benefícios. Os cursos sempre contam com os melhores profissionais, a melhor

bibliotecária da cidade, os melhores computadores, os melhores programas, dentre outros itens

que buscam a qualidade.

4.12 EMPRESÁRIO 12

Chegando em Maringá em 1986, com formação em Medicina Nuclear em Curitiba, o Empresário

12 visualizou a oportunidade de montar um serviço na cidade, uma vez que o serviço mais

próximo era encontrado em Londrina. Não havia um serviço nesta área, principalmente,

direcionado à tireóide. Sendo assim, o empresário e seus sócios, com capital próprio, montaram o

serviço de Medicina Nuclear, que atua no mercado desde 1987. Em 1994 a empresa ampliou seu

mix, realizando outros exames laboratoriais. E, em 1998 começou a atuar em outras áreas de

diagnóstico. A empresa foi pioneira na atuação em osteoporose.

132

Durante esse período no mercado, a empresa encontrou sua primeira dificuldade crítica em 1998,

com a mudança do câmbio. Houve um aumento significativo na parte de insumos, aumentando os

custos. Os preços dos exames não acompanharam a alta dos custos, na verdade, não há reajuste

desde 1994. Com isso, a empresa ainda está passando por um período complicado.

Para a administração cotidiana, o Empresário conta com o auxílio de uma pessoa contratada.

Quanto ao processo de planejamento e controle o Empresário é quem toma a decisão final.

O Empresário 12 desenvolveu um número restrito de atributos relacionados ao empreendedor.

Sendo assim, de acordo com o instrumento utilizado na pesquisa, o empresário não apresentou

um perfil empreendedor, conforme pode ser visualizado na Tabela 14.

133

Tabela 14: Perfil empreendedor do Empresário 12Características Pontuação

Visão 3.33Energia e flexibilidade 3.50Criatividade, inovação e intuição 4.00Liderança 3.75Autoconfiança 4.00Independência e iniciativa 3.67Motivação, entusiasmo e paixão 3.50Otimismo, perseverança e persistência 3.50Comprometimento e dedicação 3.50

Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 3.00Lidar bem com o fracasso 2.50Correr riscos calculados 4.00Buscar informações e conhecimentos 3.75Obter feedback 4.00Orientação por metas e objetivos 4.00Relacionamento interpessoal 2.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 4.00Capacidade de decisão 4.00Planejamento e organização 3.50Saber explorar oportunidades 3.50Capacidade de análise 3.50Conhecimento do ramo 2.00Traduzir pensamentos em ação 3.00

Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.67

Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelo Empresário 12.

Dentre as características analisadas, apenas duas foram desenvolvidas pelo empresário, que

procura desenvolver suas atividades com criatividade e inovação. É autoconfiante em relação a

seus objetivos e metas, mesmo diante da oposição de outras pessoas. É um indivíduo altamente

comprometido com a qualidade e eficiência no desenvolvimento de seu trabalho, procurando

oferecer o que há de melhor a seus pacientes.

Não tem receio de correr riscos, desde que possam ser previamente calculados. Orientado por

metas e objetivos, o empresário busca obter feedback do mercado para identificar as possíveis

falhas. Apesar de buscar corrigir as falhas, quando estas ocorrem, o empresário não possui a

habilidade de lidar com o fracasso, encarando-o de uma maneira negativa. Por ser o responsável

134

pelo processo de planejamento e controle da empresa, o empresário desenvolveu a capacidade de

decisão. Sabe buscar, utilizar e controlar os recursos quando necessário.

A pontuação adquirida para a habilidade conhecimento do ramo foi a mais baixa apresentada pelo

Empresário 12. Mas, neste caso, o empresário se refere ao conhecimento administrativo do

negócio, pois o conhecimento técnico sobre o negócio é muito grande.

Apesar de não ter apresentado um perfil empreendedor, o empresário pode ser visto como bem

sucedido no mercado e, normalmente, apresenta idéias inovadoras. O sucesso de seu negócio é

atribuído, segundo o empresário, ao fato de fazer as coisas na hora certa. Ter a percepção para

mudar e fazer os ajustes quando o mercado solicitar; e, ainda, a vontade de produzir, de inovar,

ao desafio de buscar o crescimento. Em busca desse crescimento, a empresa tem passado, nos

últimos dois anos, por um processo de profissionalização.

135

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empreendedorismo tem se tornado cada vez mais foco de interesse entre os pesquisadores.

Estudos e publicações na área têm crescido consideravelmente e colaborado com a excepcional

diversidade de conceituação do empreendedor. Devido à diversidade de pesquisadores de áreas

diferentes atuando sobre o tema, existe uma ausência de consenso na conceituação e definição do

perfil do empreendedor.

Apesar da diversidade de autores que tratam do tema, os estudos em empreendedorismo podem

ser divididos em três correntes de pensamento, a saber: os economistas, os comportamentalistas

(behavioristas) e os demais que não se enquadram nestas duas categorias. No primeiro grupo, os

pesquisadores estão preocupados com os resultados da ação do empreendedor. A questão

principal é “o que acontece quando os empreendedores agem?”. É geralmente o ponto de vista

dos economistas. Dentre os economistas, destacam-se Cantillon, Jean Baptiste Say, Schumpeter,

Kirzner e Casson. Nesta primeira corrente, os economistas associam o empreendedor à inovação.

A segunda corrente, relacionada com fenômeno psicológico ou sociológico do empreendedor, é

fundamentada nos estudos desenvolvidos por David McClelland (1961) e Collins Moore (1964).

Desde os anos 70 até meados dos anos 80, os behavioristas dominaram a área do

empreendedorismo, associando o empreendedor à criatividade. A questão central dos

behavioristas consiste em saber “quem é o empreendedor; por que ele age?”.

136

Finalmente, a terceira corrente preocupa-se em analisar as características dos empreendedores e

como eles são capazes de alcançar seus objetivos e visões. Na segunda metade dos anos 80,

vários pesquisadores propuseram uma outra questão central da pesquisa, “o que faz e como age o

empreendedor?”. No final dos anos 80, o empreendedorismo se tornou tema de estudo em quase

todas as áreas (FILION, 1999a, 2000; STEVENSON e JARILLO, 1990).

Ser empreendedor significa ter capacidade de iniciativa, imaginação fértil para conceber as

idéias, flexibilidade para adaptá-las, criatividade para transformá-las em uma oportunidade de

negócio, motivação para pensar conceitualmente, e capacidade para ver, perceber a mudança

como uma oportunidade (LEITE, 2000. p.16). O empreendedor, segundo Dornelas (2001), não

necessita saber “como fazer” as coisas, mas compreender o que precisa ser feito.

Os empreendedores são orientados para realizações, gostam de assumir a responsabilidade por

suas decisões e não gostam de trabalhos rotineiros e repetitivos. Possuem altos níveis de energia e

altos graus de perseverança e imaginação que, combinados com a disposição para correr riscos

calculados, os capacitam a transformar o que começa com uma idéia muito simples e mal

definida em algo concreto. Geram entusiasmo contagiante em uma organização e transmitem um

senso de propósito e de determinação. Dessa forma, conseguem convencer os outros e sabem

liderar uma organização e dar-lhe impulso (KETS de VRIES, 2001).

Várias são as características atribuídas ao empreendedor e, apesar de não ser possível estabelecer

cientificamente um perfil psicológico do empreendedor, devido às inúmeras variáveis que

concorrem na sua formação, pode-se concluir que o empreendedor é fruto do meio social em que

137

vive. Estudos indicam que o empreendedorismo é um fenômeno regional. O tempo e o lugar

influenciam na formação do perfil do empreendedor, já que os seres humanos são produtos do

ambiente e, assim sendo, os empreendedores refletem as características do período e lugar onde

vivem. As culturas, as necessidades e os hábitos de uma região concorrem para a determinação

do comportamento do empreendedor.

Também influem a experiência de trabalho, o nível de educação, a religião, a cultura familiar. O

perfil do empreendedor certamente será diferente em função do tempo em que está no mercado.

Se uma pessoa está num ambiente em que ser empreendedor é visto como algo positivo, terá

motivação para criar o seu próprio negócio, principalmente se tiver um “modelo”, uma pessoa

que o influencie, seja na família ou na sociedade na qual está inserido.

Assim, a crença de que o empreendedor é fruto, apenas, de herança genética não é aceita pela

maioria dos pesquisadores, pois grande parte dos empreendedores se torna empreendedor graças

à influência de um modelo no seu meio familiar ou social, um modelo com o qual o

empreendedor se identifica. Pode-se dizer que o empreendedor adquire uma cultura

empreendedora, também, pela prática.

Filion (1990a) caracteriza dois tipos de empreendedores, o voluntário e o involuntário. O

empreendedor voluntário é aquele que tem motivação para empreender, enquanto que o

empreendedor involuntário é forçado a empreender por motivos alheios à sua vontade

(desempregados, imigrantes, etc.). Pode-se dizer que o empreendedor voluntário é aquele que

decide iniciar um novo negócio porque não pode ignorar seus próprios sonhos, suas visões e está

138

disposto a arriscar a segurança advinda pelo ganho financeiro. Já o empreendedor involuntário é

impelido por circunstâncias fora do seu controle, como o corte de pessoal por parte de uma

empresa ou é frustrado pelas limitadas oportunidades de promoção.

Observando os tipos de empreendedores apresentados por Filion (1999a), os empresários

analisados na pesquisa podem ser caracterizados como empreendedores voluntários, pois

iniciaram o empreendimento, principalmente, para realizar o sonho de possuir um negócio

próprio e/ou para aproveitar oportunidades de mercado. Nenhum deles foi levado a entrar no

negócio por forças involuntárias.

Quase a totalidade dos empresários é do sexo masculino e iniciaram o seu negócio com capital

próprio. O tempo médio para o processo de criação da empresa durou de três a seis meses e a

realização de um plano de negócios formalizado foi praticamente inexistente dentre os

empreendimentos. A principal dificuldade relatada pelos empresários está relacionada ao

processo administrativo, uma vez que os mesmos não apresentam conhecimentos mais sólidos na

atividade administrativa. Alguns dos empresários foram buscar tal conhecimento em cursos de

especialização na área de gestão.

Apesar de, aparentemente, todos os empresários serem vistos como empreendedores, por

desenvolverem características diferenciadas da grande maioria dos empresários, apenas oito deles

podem ser caracterizados como empreendedores, a partir do modelo utilizado na pesquisa. Estes

empresários apresentam a maioria dos pré-requisitos necessários para a formação do perfil do

empreendedor. Por sua vez, quatro dos empresários analisados desenvolvem uma menor

139

quantidade de atributos do empreendedor. O perfil dos empresários da área da saúde pode ser

visualizado na Tabela 15, que resume a pontuação obtida pelos empresários em cada um dos

atributos (características, habilidades e valores).

Tabela 15: Perfil empreendedor dos empresários da área da saúde – Maringá, 2003.E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 E08 E09 E10 E11 E12

Características PontuaçãoVisão 5.00 3.33 3.67 4.00 4.33 4.67 4.33 4.33 3.67 4.67 4.33 3.33Energia e flexibilidade 4.00 3.75 3.00 4.25 4.25 4.00 3.75 3.25 3.50 4.50 3.00 3.50Criatividade, inovação e intuição 4.00 4.00 4.00 4.50 5.00 5.00 5.00 2.50 5.00 4.50 3.50 4.00Liderança 4.00 4.25 1.75 4.50 5.00 4.50 4.50 4.00 3.75 4.75 4.25 3.75Autoconfiança 5.00 3.67 5.00 4.33 4.67 4.33 4.67 4.00 4.67 4.00 2.67 4.00Independência e iniciativa 4.00 3.67 3.67 3.33 3.67 3.33 4.00 3.00 3.00 3.67 3.33 3.67Motivação, entusiasmo e paixão 5.00 5.00 2.50 5.00 5.00 5.00 4.50 4.50 5.00 4.00 4.25 3.50Otimismo, perseverança e persistência 5.00 4.00 4.00 5.00 5.00 5.00 5.00 4.00 4.50 5.00 4.00 3.50Comprometimento e dedicação 5.00 4.00 4.00 5.00 5.00 4.50 5.00 4.00 5.00 4.50 4.00 3.50Habilidades PontuaçãoFormador de equipes 4.33 3.00 3.33 4.00 5.00 3.33 4.67 3.67 3.33 4.00 4.00 3.00Lidar bem com o fracasso 4.00 4.50 3.00 5.00 4.50 3.00 4.50 4.00 4.50 3.50 4.00 2.50Correr riscos calculados 3.75 3.25 2.50 4.25 4.75 4.50 4.25 3.50 4.00 4.75 3.50 4.00Buscar informações e conhecimentos 4.00 3.50 3.75 3.75 4.50 4.75 4.75 4.00 2.75 3.50 3.75 3.75Obter feedback 5.00 4.00 3.00 5.00 4.00 3.50 5.00 4.00 5.00 4.00 4.50 4.00Orientação por metas e objetivos 4.00 1.00 4.00 4.00 4.00 5.00 5.00 5.00 1.00 5.00 4.00 4.00Relacionamento interpessoal 3.50 3.00 2.50 4.50 5.00 4.50 4.50 4.00 2.50 4.00 4.00 2.50Saber buscar, utilizar e controlar recursos 5.00 4.00 2.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 1.00 4.00 4.00 4.00Capacidade de decisão 4.50 3.50 4.00 5.00 4.50 4.50 4.00 4.00 5.00 5.00 4.00 4.00Planejamento e organização 3.75 3.50 3.50 4.50 4.25 4.50 4.25 3.50 2.50 4.75 4.25 3.50Saber explorar oportunidades 3.25 3.50 3.50 4.25 5.00 4.75 4.25 4.00 2.50 4.25 4.00 3.50Capacidade de análise 3.00 3.50 5.00 4.50 4.50 3.50 4.50 3.50 3.00 4.00 4.50 3.50Conhecimento do ramo 5.00 4.00 3.00 5.00 4.00 5.00 5.00 4.00 5.00 5.00 4.00 2.00Traduzir pensamentos em ação 5.00 3.50 4.50 4.50 4.50 4.50 5.00 4.00 4.50 4.00 3.50 3.00Valores PontuaçãoExigência de qualidade e eficiência 4.33 4.33 5.00 4.67 4.67 5.00 5.00 4.00 3.67 4.67 4.00 4.67

Fonte: Elaborado com base na análise dos questionários respondidos pelos empresários.

Conforme visualização da tabela, alguns atributos são comuns a um maior número de indivíduos

pesquisados. Os empresários possuem visão de futuro, sabem como direcionar o seu

empreendimento para atingir os objetivos estabelecidos. São indivíduos que buscam a

criatividade, a inovação e a intuição como aliadas, e contam com a liderança e a autoconfiança

para envolver os colaboradores em seus objetivos. São pessoas motivadas, otimistas,

perseverantes e persistentes, e o entusiasmo e a paixão pelo que fazem, aumentam o

comprometimento e a dedicação pelo trabalho. Sabem lidar com o fracasso e buscam feedback

para identificar os pontos fortes e fracos, tanto individual como do empreendimento. São

orientados por metas e objetivos, tendo um bom relacionamento interpessoal com pessoas que

facilitam a busca, a utilização e o controle de recursos. Têm pleno conhecimento do ramo de

negócio em que atuam, o que facilita a capacidade de decisão. Buscam, sempre, pela qualidade e

eficiência no serviço.

Exigência de qualidade e de eficiência foram os atributos mais desenvolvidos pelos empresários,

que buscam sempre oferecer produtos e serviços de excelência para os clientes. Apenas o

Empresário 9 apresentou este atributo menos desenvolvido em seu perfil.

Por outro lado, outros atributos são desenvolvidos por uma minoria dos pesquisados. Poucos

deles apresentam independência e iniciativa, são flexíveis em relação aos objetivos e metas

traçados para o desenvolvimento do seu negócio e buscam novas informações e conhecimentos.

Formar equipes e correr riscos calculados são habilidades encontradas em um número mais

expressivo de empresários, mas não em sua maioria.

Os Empresários 5 e 7 foram os que desenvolveram um maior número de atributos relacionados

142

ao perfil do empreendedor. O Empresário 5 deixou de apresentar independência e iniciativa,

enquanto que o Empresário 7 tem pouca energia e flexibilidade. Por sua vez, o Empresário 12

apresentou o menor número de atributos desenvolvidos em seu perfil. E em seguida, os

Empresários 3, 2 e 9.

O fato de quatro dos empresários terem apresentado menos de 50% das características analisadas

não permite afirmar que os mesmos não sejam empreendedores. Estes, apenas não

desenvolveram um grande número de qualidades apresentadas como formadoras do perfil

empreendedor. No entanto, eles se diferenciam, de alguma forma, dos demais empresários, uma

vez que tiveram uma idéia inovadora, souberam aproveitar uma oportunidade de mercado,

correram riscos ao acreditarem na concretização de um sonho, dentre outros fatores.

Em síntese, apesar da formação profissional diferenciada pela qual passaram estes empresários da

área da saúde em relação ao processo de gestão, foi possível constatar que eles podem ser

considerados empreendedores, com maior ou menor identificação a partir do referencial utilizado.

Assim, a afirmação de Drucker (1987) de que as condições de sucesso ou fracasso de um

empreendimento independem da formação do empreendedor, legitima-se e constitui-se em

estímulo para a continuidade da investigação em torno dessa área de conhecimento.

5.1 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

Empreendedorismo tem se apresentado como um campo de pesquisa em plena expansão, o que

proporciona, principalmente aos acadêmicos, a oportunidade de estudo sob diversos enfoques. A

143

presente pesquisa, por se tratar de um estudo exploratório sobre o perfil empreendedor do

empresário da área da saúde, pode ser vista como a precursora de futuros estudos

correlacionados. Pode-se citar, como complementação do estudo proposto, um estudo mais

abrangente a respeito do perfil empreendedor do empresário da saúde, permitindo-se, assim, fazer

generalizações.

Seguindo a afirmação de Drucker (1987), de que as condições de sucesso ou fracasso de um

empreendimento não estão relacionadas à formação básica do empreendedor, abre-se campo para

outras futuras pesquisas. Uma vez que a pesquisa teve delimitação no município de Maringá, o

estudo pode ser realizado em outras localidades, contribuindo para futuras comparações. Análise

do perfil empreendedor de empresários formados em Administração, comparada com o perfil

empreendedor de empresários com formação em outra área, pode também, trazer grandes

contribuições para o tema. Enfim, partindo-se de um estudo exploratório, uma imensa gama de

possibilidades e oportunidades para futuros estudos pode surgir.

5.2 RECOMENDAÇÕES PARA OS EMPRESÁRIOS

Com a finalização do estudo, cabe, primeiramente, fazer um agradecimento aos empresários, pela

atenção e disponibilidade em contribuir com pesquisa, pois este trabalho somente foi possível de

ser realizado com a colaboração dos mesmos. Por outro lado, acredita-se que o estudo possa

trazer contribuições também aos empresários, uma vez que os mesmos terão acesso aos

resultados da pesquisa. Sendo assim, poderão analisar o seu perfil empreendedor, com o

propósito de buscar desenvolver cada vez mais os atributos que ainda não foram completamente

144

desenvolvidos. Para tal propósito, poderão buscar auxílio em entidades promotoras da formação

empreendedora. Haja vista que o empresário não possui formação na área administrativa,

recomenda-se, ainda, que os empresários, ao se depararem com alguma dificuldade de cunho

administrativo, procurem por entidades de apoio para eventuais assessorias.

145

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151

ANEXOS

152

1 CARTA DE APRESENTAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPAUNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UELUNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM

Centros de Ciências Sociais AplicadasDepartamentos de Administração

Mestrado em Administração

Prezado(a) Senhor(a),

Na condição de professor orientador, quero apresentar a mestranda Vilma Meurer, que está cursando o Mestrado em

Administração, do Programa de Pós-graduação em Administração da UEM.

Ela está desenvolvendo sua dissertação sobre o tema empreendedorismo. Seu objetivo, a partir de uma pesquisa

empírica com os empresários da área da saúde, é identificar se os mesmos apresentam um perfil empreendedor.

Para que possamos cumprir com este objetivo, solicitamos a gentileza de nos atender, respondendo ao questionário.

Ao preenchê-lo, o(a) senhor(a) estará prestando uma grande contribuição ao andamento da pesquisa. Lembramos que

sua identidade não será divulgada. É importante lembrar que quanto mais fidedignos forem os dados aqui

apresentados, maior será a contribuição que estará sendo oferecida para o cumprimento do objetivo proposto para o

presente estudo.

Sua participação é muito importante. Contamos com seu apoio e desde já agradecemos a atenção dispensada.

José de Jesus PrevidelliPesquisador do CNPq, Professor Associado do Departamento de Administração da Universidade Estadual deMaringá, Diretor da Faculdade de Apucarana, Doutor em Administração pela FEA/USP.e-mail: [email protected]

Vilma MeurerAdministradora de Empresas, Professora e Coordenadora do Curso de Administração com ênfase em Marketingda Faculdade de Apucarana, Mestranda em Administração pelo PPA UEL/UEM.e-mail: [email protected]: (44) 267-7969 / (43) 9108-4548

153

2 QUESTIONÁRIO

Questionário no

I. INFORMAÇÕES SOBRE O EMPREENDEDOR

1.1. Sexo: 1 ( ) feminino 2 ( ) masculino

1.2. Idade( ) menos de 30( ) de 30 a 39( ) de 40 a 49( ) 50 e mais

1.3. O senhor ou algum dos sócios possuía(am) experiência anterior no ramo de negócioescolhido:

( ) Sim( ) Não( ) Superficialmente

1.4. Se respondeu “sim” ou “superficialmente”na questão anterior, obteve como:( ) diretor/gerente de outra empresa( ) sócio/proprietário de outra empresa( ) trabalhava como autônomo no ramo( ) empregado de outra empresa( ) alguém na família tinha um negócio similar

1.5. Participou na criação de outras empresas anteriormente?

( ) Sim ( ) Não

Se positivo, qual o seu papel nela? Especifique________________________________________

II. INFORMAÇÕES SOBRE O EMPREENDIMENTO

2.1. O processo de criação da empresa durou quanto tempo, desde o momento em queiniciou até o dia da criação?( ) Até um mês( ) De um mês a três meses( ) De três a seis meses( ) De seis meses a doze meses( ) Mais de doze meses

154

2.2. A empresa iniciou suas atividades com:( ) 100% capital próprio( ) 100% capital de terceiros( ) 50% capital próprio e 50% capital de terceiros( ) maior parte capital próprio( ) maior parte capital de terceiros

2.3. Antes de iniciar as atividades, o senhor:SIM NÃO

Realizou/encomendou pesquisa de mercado ( ) ( )Realizou/encomendou estudos de viabilidadeeconômico-financeira do negócio ( ) ( )Realizou/encomendou estudos de viabilidade técnica do negócio ( ) ( )Realizou estudos ambientais ou de responsabilidade social ( ) ( )

2.4. Atualmente a sua empresa:( ) Possui empresas associadas ou subsidiadas( ) Participa de um grupo empresarial maior( ) Possui outra empresa com capital, mesmo que de forma minoritária( ) Possui outras ligações empresas/grupos( ) Não tem ligações com empresas ou grupos empresariais

2.4. A empresa fez novos investimentos (ampliação, modernização, etc.) nos últimos trêsanos?

( ) sim( ) não

2.6. Quem toma as principais decisões na empresa?( ) o dono, sócio ou diretor principal( ) os diretores( ) os diretores e subordinados

III. PERFIL DO EMPREENDEDOR

3.1. Em que ordem de importância os fatores abaixo foram relevantes no momento datomada de decisão de criar a sua própria empresa?1- Nenhuma importância2- Pouca importância3- Média importância4- Muita importância5- Extremamente importante

155

1 2 3 4 5A Definir objetivos claros e específicos de longo prazoB Fazer sacrifício pessoal ou esforços extraordinários para a realização de uma

tarefa.E Mostrar confiança na própria capacidade de realizar uma tarefa difícil ou

enfrentar um difícil desafio.F Fazer pessoalmente pesquisas sobre como fornecer seus produtos ou serviços.J Utilizar pessoal-chave/agentes para atingir seus objetivos.L Calcular deliberadamente os riscos e avaliar as alternativas.M Buscar pessoalmente informações sobre clientes fornecedores ou concorrentes.M Buscar e documentar informações comprobatórias.O Revisar o plano de negócios periodicamente, levando em conta a performance e

fazer as mudanças necessárias.P Utilizar estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir outros.Q Encontrar maneiras de fazer as coisas da melhor forma possível, mais barato.S Dividir as tarefas em sub-tarefas em prazos bem definidos.S Manter os registros financeiros e utilizá-os para tomar decisões de negócio.T Tomar medidas para estender o negócio a novas áreas, produtos ou serviços.T Identificar oportunidades únicas para iniciar o negócio, obter equipamentos e

espaços físico para instalar a sua empresa.U Tomar medidas repetidas vezes ou mudar para uma estratégia alternativa, a fim

de enfrentar desafios ou superar obstáculos.Z Tomar medidas para atender ou exceder os padrões de qualidade dos

produtos/serviços ofertados ao mercado.

3.2. Marque com um “X” a opção que melhor define o seu perfil1- Nunca;2- Raras vezes;3- Algumas vezes;4- Muitas vezes;5- Sempre.

1 2 3 4 5A Objetivos por escrito para este negócio são cruciaisA Saber a direção para onde se deseja chegar é fundamental para um negócioB Sei definir metas, garantir sua execução e corrigir problemas com agilidadeB Tenho jogo de cintura para sair bem de situações complicadasB Sei reconhecer o que é melhor e mudar tudo, se for preciso, em busca da

excelênciaC Aprecio o desafio de inventarC Procuro por novas maneiras de fazer as coisasD Sei delegar responsabilidadesD As pessoas aceitam as minhas delegaçõesD Destaco-me em meus grupos de trabalho

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D Sei valorizar um funcionárioE Tenho confiança na minha habilidade de atingir metasE Conheço minha capacidade de obter sucesso em um novo desafioF Prefiro fazer as coisas a pedir que outros as façamF Sei me envolver com o trabalho de uma forma objetivaG Tenho disposição para me dedicar ao trabalho, com todo entusiasmoG Dedico-me à empresa com motivaçãoH Tenho visão de sucessoH Tenho ambição em minhas metasI Sei lutar por minhas idéiasI Tenho satisfação em minhas conquistas e sempre pretendo outrasJ Procuro pessoas parecidas a mim para trabalhar em meu negócioJ As pessoas que trabalham para mim sabem das metas e objetivos do negócioK Sei ganhar e perderK Consigo superar dificuldades com equilíbrioL Gosto de enfrentar desafios e os limites da minha capacidadeL Para exceder a concorrência procuro assumir alguns riscosL Sou capaz de deixar uma situação segura, para arriscar novas oportunidadesM Procuro aprender mais sobre o meu negócioM Diante de situações novas, procuro colher o máximo de informaçõesN Procuro saber o que os funcionários pensam sobre o seu trabalhoN Procuro saber a opinião dos clientes sobre o meu negócioP Sei influenciar as pessoas em suas decisões, sem deixar resquícios emocionaisR Gosto de tomar decisõesR Gosto de agir prontamente, mesmo diante de uma situação difícilS Sei planejar recursos de forma organizada, lógica e racionalS Gasto uma boa parte do tempo planejando o meu negócioT Sei transformar situações de risco em oportunidadesT Sei identificar tendência e oportunidades de futuroU Gosto de abordar situações de uma maneira analíticaV Estou atualizado com as novidades empresariais no meu ramo de negócioX Gosto de competirX Consigo transformar meus sonhos em realidadeZ Desejo que meu negócio seja melhor que o dos concorrentesZ Procuro fazer o melhor para o meu cliente

3.4. Se houvesse outra oportunidade, começaria seu negócio novamente?4.4.1. ( ) Sim 4.4.2. ( ) NãoPor quê: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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