o pensamento disciplinar e o desenvolvimento: o … · e pelas vis3es sobre os povos amazónicos...

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40. o PENSAMENTO DISCIPLINAR E O DESENVOLVIMENTO: O USO DE TERRA NA AMAZONIA BRASILEIRA CAMILO TORRES I"h.D. en el "re .. de Ciencus del J)eslIfrollo. Agrkultun. y SQcied.. d de la UFR U - Univel"Sid .. de Fed.. raJ RUT¡¡I do Rio de h neiro. Mag[ster en Pl¡¡neac!ón del Des.1rrollo en el Nüdro de AlIos Estudios Amazónicos de lo Universidad Federal del Est<ldo de Pari - Brasil NAEA/UFPA cumilOSllncMz6GGlwlrrwil.rom

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Page 1: o PENSAMENTO DISCIPLINAR E O DESENVOLVIMENTO: O … · e pelas vis3es sobre os povos amazónicos retratadas pel~; ... cultural and environmental ... o pensamento disciplinar e o desenvolvimento:

40.

o PENSAMENTO DISCIPLINAR E O

DESENVOLVIMENTO: O USO DE TERRA

NA AMAZONIA BRASILEIRA

CAMILO TORRES

I"h.D. en el "re .. de Ciencus del J)eslIfrollo. Agrkultun. y SQcied .. d

de la UFR U - Univel"Sid .. de Fed .. raJ RUT¡¡I do Rio de h neiro.

Mag[ster en Pl¡¡neac!ón del Des.1rrollo en el Nüdro de AlIos Estudios Amazónicos

de lo Universidad Federal del Est<ldo de Pari - Brasil NAEA/UFPA

cumilOSllncMz6GGlwlrrwil.rom

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R~.

Este eflsaio pretende discutir diferentes abordagens que sobre o

desenvolvimento do uso das florestas tropicals e da Ama¡x;nia, tcm sido lan~adas

pelos campos de disciplinas e escolas científicas em rela~¡io a questl0 ambiental.

e pelas vis3es sobre os povos amazónicos retratadas pel~; pesquisadores que a

visitaram a partir dos anos noventa do seculo passado. Esta discus~o objetiva

mostrar a validade destas propostas teóricas sobre o desenvolvimento e o melo

ambiente da regUlo. Pretende avaliar os componentes científicos, políticos,

ideológicos, discursivos e a relevancia geopolítica destes discursos sobre a

configurar;:lio dos poderes regional, nacional e internacional, e sua influencia cm

casos representativos de politicas públicas ambient<tis para a reglao amazónica

brasileira. Esta relevancia será estudada analisando as aboJrdagens, as hipóteses e

teses defendidas pelas escolas anglo-saxll sediada nos Estados Unidos, a continental

conformada por intelectuais de forma'1ao europeia basicamente, e a brasileira sobre o

desenvolvimento sociocultural e ambiental da bacia ama¡imica

Palavras chave: Amazónia, politicas publicas ambientais, biodiversidade, programas,

projetos

AhIItract

This essay attempts to discuss dilTerent approacbes about the use

development of tropical forests and the Amazon rainforest, proposed by scientific

disciplines and schools, in relation to the environment and the vision of researchers

about Amazonas' nativc cultures and inhabitants in the last twenty years. This

discussion displays the validity of these theoretical proposals about Amazonas

region's development and environment. Also attempts to evaluate the scientific,

politica!. and ideological components of these discourses; and their geopolitical

prominence regarding regional, national and internarional polltical power

discourses, and also their influences in specific cases of environment public politics

for Brazilian Amazon rainforest.

This essay will review approaches, hypothesis a[ld thesis proposed by the

Anglo-Saxon school from the United States; the Contineutal school that assembles

intellectuals from European formation; and the Brazilian school; regarding socio

cultural and environmental development of Ama:wnas' river basin.

Keywords: Amazon, environment public policy, biodivel'"Sity, programs, projects

--Este ensayo pretende discutir las aproximaciones que, sobre el desa­rrollo del uso de las selvas tropicaJes y de la Ama,zania, han sido realizadas tanto por los campos de las disciplinas y escuelas .cientificas en relación con la cuestión ambiental, como por las visiones de los pueblos amazónicos, retra­tadas por los investigadores que las visitaron en los últimos veinte años. Esta discusión mostrará la validez de estas propuestas teóricas sobre el desarrollo y el medio ambiente de la región. Pretende evalualf los componentes cientí­ficos, políticos, ideológicos, discursivos y, en última insta ncia, la relevancia

o pensamento disciplinar e o desenvolvimento: o UMI de tena na Amazonia br!UJllelr8 405

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geopolítica de estos discursos sobre la configuración de los poderes regional. nacional e imernacional y su influencia en casos puntuales de politicas púbLi­cas ambientales para la región amazónica brasilera. Esta relevancia será estu­diada analizando las aproximaciones, las hipótesis y tesis defendidas sobre el desarrollo sociocultural y ambiental de la cuenca amazónica por las escuelas anglosajona, localizada en los Estados Unidos. continental conformada por intelectuales de formación básicamente europea y por la brasilera.

Palabras claves: Amazonia, políticas publicas ambientales, biodiversi­dad. programas, proyectos

ID~

Este ensaio pretende discutir diferentes abordagens que sobre o deseo­volvimeoto do uso das florestas tropicais e da AmaZÓnia. tem sido lan~adas pelos campos de disciplinas e escolas científicas em rela~;1o a quest;1o ambien­tal, e pelas vi$(}es sobre os povos amazónicos retratadas pelos pesquisadores que a visitaram a partir dos anos noventa do seculo passado. Bsta discussao objetiva mostrar a validade destas propostas teóricas sobre o desenvolvimen­to e o meio ambiente da regi;1o. Pretende avaHar os componentes científicos. politicos, ideológicos. discursivos e em última instancia a relevancia geopo­lítica destes discursos sobre a configura~ao dos poderes regional, nacional e internacional. e sua influencia em casos representativos de políticas publicas ambientais para a regiao amazónica brasileira.

Esta relevancia será estudada analisando as abordagens. aS hipóteses e teses defendidaS pelas escolas anglo-saxa sediada nos Estados Unidos, a con­tinental conformada por intelectuais de forma~ao europeia basicamente. e a brasileira sobre o desenvolvimento sociocultural e ambiental da bacia amazó­nica. Estas visOes disciplinares confluem para a formuJa~30 da conven~ao da diversidade biológica em 1991 onde tra~am se as ¡inhas principais da politica pu blica para a regiao amazónica neste inicio de milénio, porem. cristaliza as fontes de debate atual pelo desenvolvimemo desta regiao, que aparecem regis­trados quando a analise das iniciativas de politica é realizada.

Se afirma que na interpretac;.io do desenvolvimento sociocultural e ambiental da Amazónia existem duas vertentes principais das quais deriva-se urna vertente menor: a primeira. a originada no campo anglo-sad que promo­ve a idéia de urna Amazónia sem potencial para desenvolvimento endógeno, pelo caráter determinante dos fatores ambientais, culturais e históricos que a afetam. Com o resultado de justificar estratégias de imerven~ao de reduzida escala ou de conserva~ao da biodiversidade, que tem por trás a idéia de urna Amazónia como reserva de recursos materiais universal. mas principalmente dos Estados Unidos, desconhecendo a plena soberania sobre estes territórios.

A segunda, do campo disciplinar continental. tem por base a de­rnonstra~ao da presen~a secular de povoadores na Amazónia. e de urna total inter-rela~ao entre estes com a floresta. o que constituí um campo próprio de sentido sobre a regiao. campo este que é a fonte dos recursos da regiao. O

~06 Camilo Torr ..

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que de certa maneira justifica urna interven~ao na regiao, objetivada a defesa destes grupos, como meio para garantir a conserva~ao e o uso sustentável da biodiversidade da regUlo, também como reserva de recursos, mas que permite abrir urna brecha para a procura do desenvolvimento autónomo das comuni­dades locais das regiOes e do próprio Brasil, vis-a-vis sua valora~ao conj unta com o meio biofisico.

A terceira tese. que se mistura de certa forma com a primeira, é aquela defendida pelo campo brasi leiro que promove urna idéia de Amazónia como fonte potencial de recursos extrativos. em meio a um vazio demográfico que deve ser explorada de imediato em defesa do interesse nacional.

Nesse contex[Q pretende-se neste documento. contribuir para urna crítica das políticas públicas ambientais propostas para o uso da terra na AmazÓnia. sustentadas sobre estas visOes disciplinares da rela~ao nature­za e cultura e que depois foram explicitadas no momento de formula~ao da Conven~lo sobre a Biodiversidade. através. da analise comparativa de tres programas que pretenderam influenciar, nos últimos vinte anos, as políticas públicas para o desenvolvimento geral da regUlo. O Programa Piloto para a Prote~lo das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7- . o projeto Brasil Sustentável e Democrático - PBSD- e o Projeto de Pesquisa Estado e Políticas Publicas na Amazónia brasileira - PEPPA-. O texto se concentrara no referente as propos­tas relacionadas com o uso da terra e da diversidade biológica, entendendo que estes aspectos afetam diretamente a possibilidade de obter um ca minho de desenvolvimento justo sustentável e democrático para os POyOS e paisagens naturais da regilo amazónica.

Campo anglo-BaJei: da antropología cultural a ecología humana e politíca da AmazonIa

Emblemático desta visao disciplinar é o debate proposto entre visOes do q ue séria a rela~lo entre a antropologia de vertente norte-americana e a antropologia de origem européia que foram convergir nos anos seguintes a Segunda Guerra Mundial nas uni versidades dos Estados Unidos (Biersack: 1999). com a migra~ao de intelectuais europeus como Levi-Strauss, csta autora coloca este debate onde a antropologia ecológica definiu seu projeto dentro do debate entre idealismo e materialismo.

Afirma-se que a antropologia ecológica aparece em opos i~¡jo da ccologia cultural, quc propOe a compara~ao intercultural como unida­de de analisc. define-se como unidade de analise a popula~lo ecológi­ca. que é um componente de um sistema interdimbio trólico numa área delimitada. Os intercambios acontecem num "ccossistema" dcfinido como o total das popula~Oes ccológicas e as substancias nao v ivas envolvidas cm intercambios materiais numa por'Yao deli mitada da biosfera (Biersack: 1999). isolando-se de seu contexto ecossistemico e social. por exemplo

o pentamento ditciplinar e o desenvolvimento: o WIO de lerra na Amazonia brlllilileira 407

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sem considerar o papel das inst itui'fóes do estado-na'fao nestas rela'fóes; um representante desta seria a Ecologia Humana proposta por Alpina Begossi desde a Unicamp'. Como em qualquer teoria centrada na nOlJao de sistema, a nova ecologia antropológica, assume que a parte esta sujeita ao controle regu­latório do todo. Esta teoria tem sido muito criticada pelo seu funcionalismo excessivo indicando que esses supostos mecanismos retroa limentadores sao meros artefatos. Mas contínua no amago de muitas visóes e propostas de pre­serva'fao e conserva'fao da natureza na Amazonia como as encampadas dentro do Plano Piloto de Prote¡yao das Florestas Tropicais PPG-7.

A cultura para o campo anglo-saxa é urna ferramenta adaptativa, ins­trumental mais que formal. e inteligível, em rela¡yao a seus efeitos, nao em termos de se mesma , como os idealistas afirmam, mais como urna esfera au­tonomica da realidade, nao ligada com a natureza que insere-se no campo da ecologia cientifica, exemplo amazónico os trabalhos de Betty Meggers nos anos oitenta e de Emilio Moran mas recentemente, q ue dao este tratamento a rela¡yao natureza e cultura na amazania.

Outros representantes da antropologia ecológica assumem posi'fóes menos radicais, por exemplo Andrew P.Vayda assume nos anos noventa urna posi'fao menos centrada no sistema argumentando que deve-se enfocar nos eventos e indivíduos e suas decisóes racionais. Se existir adapta'fao esta será no nivel do individuo e do grupo domestico mais que num sistema quimérico ou num nível desse suposto sistema . Crit ica-se que esta ecologia cai na lingua­gem e métodos biológicos de forma exagerada, explicando a cultura em termos naturalistas, especialmente a adapta'fao. As características nao sao reduzíveis a valores de sobrevivencia, implicando que a ordem social é independente da ordem ambientaJ. a despeito das sua liga'Jóes necessáriasl

.

Este argumento de que a cultura e a natureza sao inteligíveis segundo seus próprios princípios, mais que por fun'fóes biológicas, foi desenvolvido pelos estruturalistas da linha Levi-Strauss, onde os tabus totemicas sao bans para pensar legislados através do trabalho intelectual de c1assificar e ordenar dentro de urna ciencia do concreto indígena (Merquior: 1989).

Entre 1960 e 1970 acontece um cisma entre estas duas visOes da an­tropologia ecológica, nesse sentido a antropologia ecológica afirma sobre essa controvérsia que a espécie humana vive em termos de significados num mun­do físico que nao possui nenhum significado intrínseco e esta sujeito a leis causais. Assim a antropologia ecológica mais que oferecer explica'fóes causais, pode oferecer urna perspectiva desde a qual os problemas podem ser defini­dos, retirando desta ecologia suas premissas funciona listas e direcionando a analise para um estúdio empír ico da inter-rela¡yao entre cultura e natureza. A

Currículo Vitae Alpina Begossi, htt p://1attes.cnpq. br/450439I02n6]184, consultado em 22/01 /2009

~ Grande parte da produo;~o intelectual realizada neste campo esta registrada na revista Human Ecology no periodo de 1995 ate 2000.

108 Camilo TOrTe1l

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antropología ecológíca enfoca sua ativídade neste período para o capitalismo e suas mazelas. Quando um subsistema destinado a um propósito especial assu­me atribui~Oes de um sistema de propósito gera!, pl'Omovendo seu pr6prio in­teresse, ocorre uma adapta~ao inadequada. O que é bom para General Motors é bom para os Estados Unidos da América e o que é bom para os Estados Unidos da América é bom para o mundo (Biersack: 1999).

Segundo a autora esse momento foi o espa~o para o surgimento de urna ecologia que evita a oposi~ao entre idealismo e materialismo e que aventura no terreno do que se conhece como ecologia política. A autora formula tres novas vertentes da ecología: a ecologia simbólica (etnoecologia). a ecologia histórica, e a ecología política. A autora tenta misturar o legado de antropologia ecoló­gica com estas novas áreas e expor sua complexidade. Assim ela tenta recon­ciliar o campo anglo-saxa com as vertentes européias e Latino-americanas de Ecologia Politica.

A ecologia simbólica insurge da distin~ao I!ntre os modelos "cogniti­vos" e "operacionais", distin~ao que opOe "o modelo do ambiente concebido pelo povo que atua nele" a urna representa~ao objetiva e cientifica do "mundo físico". O modelo operativo pelo menos em teoria, reflete extraculturalmente ("objetivamente") a realidade que também é extracultural ("objetiva")'. Os modelos cognitivos constituem compreensOes cl:llturais daquela rea lidade extracultural·. O enfoque estreito na utilidade, faz a antropología ecológica continuar explorando a adapta~ao em varias antropologías políticamente re­levantes.

Mas por isso mesmo, perde a oportunídade- de conseguir fundar urna poética da natureza, debru~ada na constru~ao social da natureza, que foi de­lineada por estudos sobre magica, rituais de Certilid.ade, totemismo, mitologia. sistemas de c1ass¡fica~ao que constituem urna ecologia simbólica, cujos repre­sentantes máximos sao Levi Strauss, Durkheim e Mauss e mais recentemente Philippe Descola na AmaWnia. Recentemente, a ecología simbólica tem avan­~ado sobre temas como, o estudo da paisagem e o local na historia da arte, na geografia cultural. e na critica ecológica que es;tuda a constru~ao social e histórica da natureza na historia.

O que este paradigma suprime é a maneira como o ambiente é histórica e culturalmente produzido, através das rela~Oes entre ser humano e natureza.

} Exemplos desta abordagem: Posey. D. A. Interpreting and applying the "reality" ofindigenous concepts: whats is necessary to learo from the natives? In: Redford. K. H., Padoch, C. Conservation ofneotropic.al rorest: working rrom traditional resource use. New York: Columbia Univer:~ity Press, 199:l. pp. :11-)4. Posey. D. Explon~o da biodiversidade e do conhecimento indígena na América Latina: desafios a soberanía e a velha ord,~m. Em: CavaIcanti, C.

(Org.) Meio Ambiente, Desenvolvimento sustentável e Políticas Públicas, S30 Paulo: Corlez, Redre, Funda~30 Joaquim Nabuco, pp. 345-368, 1997.

4 Exemplo desta proposta: Moran, E. F. A. Ecologia humana das populao;3es da AmazOnia. Rio de Jilneiro: VOleS, 1991 . )67 p.

o pensamenlO dllCiplinar e o desenvo!vimenlO: o U .. l de tena na Amnanla bnslleln ....

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Marx e Engels mO$traram que a natureza precede a historia humana, mas que o ser humano a muda para seu uso. Pretende-se mostrar como na contribui~ao da antropologia ecológica existe uma referencia a produ~ao da natureza na forma de "produc¡:ao do espat¡:o", onde as divislles espaclais remetem a divis3es socioculturais, ele nao descreve um " nicho" e sim urna "canstru~ao" através de relat¡:&:s sociais.

Os defensores da ecologia poUtica anglo-saxa argumentam que a co­munidade na qual esta baseada a sua antropologia ecológica nao linha contato amplo com diferentes institui¡;Oes e ainda nao tínham sido objeto de cate­quiza¡;ao, necessariamente a antropologia ecológica podia ignorar a historia mundiaJ, e os fluxO$ globais e as rela~ entre centro e periferia. Urna carac­terística da ecología atual é precisamente a rejei¡;ao das abordagens que tratam as comunidades como entidades fora do tempo histórico ocidental ou ainda isoladas espacialmente.

Outros autores fixam uma posi~ao contra as teorias adaptacionistas em ecologia cultural e antropológica. que dizem que os indígenas na Amazónia "adapta m-se" ou " respondem" a fatores Iimitantes das florestas. segundo os dados que apresenta os indígenas manipulam e manejam recursos críticos, poucos grupos humanos amazónicos $lo coletores de recursos. $lo manejado­res e usuáríos destes (Ralee: 1989)

Nessa dir~ilo deve-se discutir a orlgem e desenvolvimento da ecolo­gia política, dizendo que se origino para examinar O acesso e uso no sistema mundial dos recursos. Assim a ecología política tem nexos com a economia política. Como a economía poUtica a ecología política explora o rol das relat¡:Oes de poder na determina~ao do uso humano do ambiente; e as relat¡:Oes entre a sociedade humana. vista na sua complexidade bio-cultural e a natureza hu­manizada. Como urna grande teoria e narrativa a ecologia política se concen­tra na historia do capitalismo e sua critica e em particular nos distúrbios do desenvolvimento que esta historia tero produzido em esca la mundial. para Coma ndar nao semente a distribul¡;ilo do trabalho mas a distribui~ao de recur­sos nas margens de seu império dirigido pelo mercado. Na Amazónia o projeto de pesquisa Estado e Políticas Publicas na Amazónia trabalha nesta di~ao de pesquisa e interven¡;ao.

A ecologia política crítica as outras ecologias. ji que estas obliteram as articula¡;3es do global e do local assim como o nexos entre as vilas e os estados na~3es. especifica mente em rela¡;ao a suas unidades de analise. Por todas estas afinidades os interesses da ecologia política solapa m-se com os da economía política. Como crítica do capita lismo. a economia política tradicional é incons­ciente dos danos ambientais causados pela tecnología e o estado-na¡;ao. Esta perspectiva desloca o canmto de c1asses para o conflito maior entre hornero e natureza.

Tentando retomar a iniciativa no debate academico os ecólogos po­líticos norte americanos. ou melhor ecólogos humanos. atacam os ecólogos políticos neo-liberais como a escola neo-institucionalista de Garrett Hardin.

410 camJloTorrH

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Elinor Ostrom e outros; e neo-marxistas como O Connor, Marianne Schmink e Stephen Bunker, tentando demostrar que os fatores que incidem nas mu­dan~as medioambentais sao de origem ecológica principalmente. Por exem­plo, estes autores defendem a tese de que com julgamentos a priori, teorias e erros acerca da importancia ou primaria de certo t ipo de fatores políticos, na explka~ao das mudan~as ambientais, auto nomea.dos ecólogos políticos tem enfocado suas pesquisas, em urna pesquisa sobre políticas de recursos ou meio ambiente natural. deixando de fora um conj unto de rela~Oes complexas da analise de como as mudan~as ambientais sao produzidas (Vayda y Walters:

1999, 167). Os ecólogos políticos querem visibilizar que as comunidades humanas

nao estao em equilíbrio homeostático ou ainda cm processo de adapta~ao a um ambiente biótico ou abiótico. Eles insistem que existem influencias do sistema económico e político e que estas sao muito importa.ntes ao ponto de pesquisar exclusivamente estas. Ou seja colocam a "politica primeiro" que a ecología. Os autores dizem que na realidade se postula urna "política sem ecología" cm rea~ao a urna "ecología sem política" das décadas passadas.

Neste campo segundo os autores o que est.a senda pesquisado sao os controles políticosou a contesta~ao política sobre re:cursos naturais e nao como estes rec·ursos sao afetados pela contesta~ao do controle. Os autores dizem que muitos ecólogos políticos tem colocado sua pratica a servi~o de agendas políti­cas populistas e a romantismo verde, que acred ita CJue devolver o controle dos recursos naturais as comunidades locais pode mitigar influencias do sistema económico e político mais amplo e atingir um uso sustentável dos recursos.

Essas premissas dessa ecologia inicial mudaram nos anos noventa, e agora se tecem pontes entre o materialismo redutivo do passado e a nova eco­logia materialista, onde as visOes européias e brasileiras passam a ser mais importantes, marcando mudan~as no olhar sobre a reJa~ao natureza e cultura na Amazónia. Isto reflete-se nas ambivalencias criadas na tentativa de conci­liar estas divergencias no arranjo realizado quando a formula~ao da conven~ao da diversidade biológica, ande nega-se a importáJ:lcia do mercado na gestao desta privilegiando os estados nacionais e legisla .. se sobre a apropriarrao da biodiversidade beneficiando os agentes de mercado e confer indo poder de ator estatal a agentes paraestatais no caso das ONGs, que passam a mediar a relayao estado e mercado na formula~ao das politicas publicas para amazania.

Campo continental: da antropologia 8BtruturaJ

ao neo-eBuuturallsmo

A diferencia dos tcóricos do campo angJo-saxa estes autores como Warren Dean, Stephen Bunker e Marianne Schmitllk usando-se de fontes teó­ricas europeias, tentam equacionar os problemas d.a expansao populacional e económica na Amazonia a través da analise da relarrao entre ambiente natural e comportamento socioeconomico. Onde as políticas fiscais, de co loniza~ao e de titula~ao de terras tem afectado o processo de expansao da produrrao na

o pen.samento dlsciplina.r e o desenvolYimento: o UII<) de terra na AmalOnla brasUeira "1

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regiao e provocado corrup¡;ao, violencia rural e lutas pela posse da terra que vem a se adicionar a os problemas ambientais provocados pelas próprias po­líticas públicas, um problema de sobredetermina¡;ao. Os autores deste campo colocam que tanto as políticas de expansao produtiva como as de conserva¡;ao ambiental se defrontam com as leis da acumula¡;ao capitalista baseadas no be­Delicio privado de curto prazo e a reprodu¡;ao ampliada além da capacidade de suporte biofísica. (Schmink y Wood: 1987)

Os autores dizem que as explica¡;3es usuais de falta de conhecimentos, treinamento técnico, pouca transparencia das políticas públicas, auto interes­se dos atores e o crescimento da popula¡;ao nao explicam o fracasso das inicia­tivas de desenvolvimento na AmaZÓnia. Atribuindo a um fenómeno de ampla escala, onde urna forma de produ¡;ao económica, urna estrutura de c1asses e urna superestrutura política e ideológica sao a fontes do fracasso e factores a ser tidos em consideracyao para a formula¡;ao de estratégias de interven¡;ao.

Os autores formulam urna ecologia política do desenvolvimento amazó­nico. onde a base seriam dois diferentes principios de produ¡;ao: a reprodu¡;ao simples e a reprodu¡;ao ampliada. Na primeira. o objetivo da produ¡;ao seria a subsistencia. sem gera¡;ao de excedentes e acumula¡;ao, a estrutura social baseai-se nos vínculos de parentesco. existindo mecanismos de nivela¡;ao por redistribui¡;ao do excedente. Estas estratégias sao simples nos objetivos mais complexas na inter-rela¡;ao com o meio ambiente. Este principio inclui os gru­pos indígenas. caboclos e colonos da regiao amazónica. Os autores propOem que estas economias seriam de estado estável pela escala reduzida e o recicla­mento de materiais que provem a sua estabilidade.

No segundo. o objectivo é incrementar a produtividade do trabalho e fazer o excedente possível. Existindo o excedente cria-se a necessidade de decidir como este vai ser apropriado e distribuido. Dependendo desta distri­bui¡;ao e quando cria-se um mecanismo institucionalizado de decisao sobre isto. aparecem as c1asses sociais como parte visível do mecanismo. O capita­lismo para os autores nao é um sistema de estado estável; ele se expande pela competi¡;ao por o aumento da produtividade do trabalho. a apropria¡;ao e dis­tribui¡;ao do excedente e pelo controle das institui¡;3es criadas para regular o sistema. A natureza racional da competi¡;ao traz como resultado a degrada¡;ao ambiental. as lutas pelos direitos de uso e a propriedade dos recursos mate­riais e as lutas políticas e ideológicas pelo controle do estado e da sociedade regional, onde o discurso cientifico e intelectual articulam-se com a política. Esta estratégia seria de objetivo simples e simples nas relacy3es que tece com o meio ambiente físico.

As press3es pelo excedente de produ¡;ao rompem este balan¡;o. exau­rindo recursos antes regulados. A entrada de novos povoadores provoca também mudan¡;as no balancyo estabelecido. Os autores nao mencionam as conseqüéncias da entrada de novos equipamentos técnicos como estradas. grandes projetos de desenvolvimento que provocam também a quebra deste balan¡;o.

412 Camilo Torres

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Segundo os autores, os mercados locais e regionais tendem a ser auto­suficientes os mercados nacionais e internacionais exibem um comportamen­la de expanslo e contrac;lo que esvazla os mercados locais em beneficio dos internacionais, empobrecendo as populac;3es com vínculos locaís, dada sua procura por integrac;ao. A maíorías dos programas de desenvolvimento da Amazónia coloca m a necessidade de ligar a regíao com os mercados nacionais. Sendo a justificativa inicial para a construc;30 de infra-estrutura de energia e transporte que ligaria a regiilo com o mundo. Somente que este plano beneficia aqueles com capacidade de integrar-se como os agricultores que produzem produtos com demanda externa que possucm valor suficiente para pagar o transporte na exportac;ao de grande escala . Isto obriga 010 restante de produto­res a adequar-se e iniciam praticas de uso que degrada m e exaurem os recursos materiais, os articulam desigualmente, e levam a importac;ao e consumo de produlos caros.

Os autores entendem que o estado na Amazónia nao exerce a func;il.o de equilibrar os interesses e defender o hem público. Nao concordam com a idéia de que a ausencia do estado na regi30 é responsável pelo mal funcionamento do mercado e pelos conflitos sociais existentes. Segundo eles a presenc;a do estado é responsável pela mantimento de urna estrutura de produc;ao e distri­buic;ao que assegura as condit.;&s para a acumulac;ao privada por urna c1asse social regional e nacional.

Esta claro que a relac;ilo entre a economia mundial e a economia nacio­nal br<l:.ileira, Ilude: a Amazónia é uma «onomia extractiva instávc:l que prove bens que se esgotam e devem ser procurados em localizac;3es e condic;l3es de transporte difíceis o que demanda o incremento da esca la de extrac;30. Como todo bem extractivo este se esgota, dali a procura pela sua substituic;30 que conduz a expan.s3es e contrac;3es nas economias que dependem do extrativis­mo. As necessidades do desenvolvimento interno brasileiro levaram a regiilo a ser urna válvula de escape dos excedentes populacionais, mercadol6gicos e monetários que procuravam realiza~o. As ondas de invasc}es de terras, a construc;il.o de estradas e a apropriac;30 de terras com 6ns de valoraril.o p3ssiva $lo mostra disso.

A divida externa estimulo este processo 30 ponto que os próprios ere­dores tem mudado suas políticas de cobranc;a para orientar o processo extrac­tivo acelerado reduzindo sua taxa e tentando promover processo de mudanp a economias de produc;ao e ainda a deter por completo o extrativismo em troca de divida. Pois esta colocando em risco o pr6prio desenvolvimento destes países credores

Entre outras vi.s3es que se debatem no campo continental esta~, interpretando Robert Kurz. os fetichistas da técnica industrial socialista, que sonham com um comunismo-Iazer robot izado, e. de outro, os románticos do socia­

lismo agnino. que se entregam el idéia reacionária de uma frugal vida campestre em interarclo com a natureza (Kurz: 2000, 16). O primeiro destes grupos herda a visao do inicio do sécu lo segundo a qual o desenvolvimento da técnica e

o peDAmento discipllnu e o deMnvohrlmento: o uso de ten. na Amuonla brullelra 4U

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ciencia modernas trariam para as sociedades nacionais a felicidade do progres­so. Estas visOes sao compartilhadas pelos seus principais "inimigos" os defen­so~ da Revolu~30 Industrial anglo-sax3 somente que com um fundamento supe~trutura] diferente que visa a consolida~30 da burguesia nesses países. O segundo grupo tem a vislo romantica de um mundo agrário socialista que termina por assemelhar-se com o mundo burgues agrário dos fundadores da Uniilo Americana, que seria a continua~30 no mundo industrial da vida feu­dal e senhorial, que também se contrapóem com as visOes industrialistas de cunho socialista ou burgues. As idéias dos revoluclonários norte-americanos como Hamihon de urna democracia ruralista de elite (Lamournier: 1979) 530 a origem da atuallinha conservacionista estadunidense.

Nessa bifurca~30 histórica deve ser anaHsada a atual conjuntura da discussJo sobre o desenvolvimento das flo~tas tropicais e da Amazonia. Urna democracia de elite que prega o conservacionismo fundamentalista com a aju­da de um movimento verde composto de nomeados "reaclonários romanticos" (Kurz: :lOOO) numa alian~a extremamente incomoda com movimentos sociais e ainda com governos de democracia restrita e ainda deficitária para controlar a regi30 dentro dos quais incuba-se o germe de urna democracia de massas que mantém la~os com movimentos de utopia agraria de corte socialista ou campones como o MST brasileiro. Stephen Gay Gould (s.d.) afirma que

Nilo ternos como deixar de encarar um fato histórico desconfonável. O movimento conservacionista surgiu. em grande pane, como urna tentativa elitista dos líderes sociais ricos no sentido de preservar .ireas naturais como dominios para o ¡azer e a contempla~¡¡o dos privilegiados.

Pica evidente depois desta apresenta~ao que o fato dos agentes de mercado nilo terem urna participac;ao direta na gestao da biodiversidade ama­zonica, obedece a logica geral da relac;ao entre mercado e estado no ambito do capitalismo, onde o estado seria o ceoário onde os ioteresses economicos privados travestem-se em interesse geral e publico, sendo que esta dualidade vem a tona quando a formula~30 da conven~o da biodiversidade. O agra­vamento disto, o constitui a tentativa de elimina~30 do estado como gestor da politica publica e o surgirnento do setor das ONGs como setor paraestatal que viria a converter-se no agenclador privado das políticas publicas para a Amazonia, sobrepassando o papel clássico das organiza~Oes paraestatais que é de acompanhar e fiscalizar a atuac;ao do estado porem nao de fazer sua fun~ao.

IDiIlbIIte'" o ~woI ...... to da aor.t.u tI'opk:ais

......... Da c:oa'~ da bIodI,.id&bde estas visOes parciais confluem em última instancia para o atual con·

mto sobre o destino das florestas úmidas tropicais na forma da controvérsia jurídico internacional sobre o uso da diversidade biológica. Urna analise dos

414 Camilo ToITM

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resultados deste processo, a Conven~ao sobre Diversidade Biológica permitirá evidenciar a rela~ao entre interesses nacionais e visOes de mundo'.

A Convell~ao sobre a Diversidade Biológica possui cinco temáticas que desenvolvem o seu preambulo. Urna parte introdUltória onde definem-se ter­mos, o alcance e os objetivos gerais do instrumento, que sao depois tratados in extenso na segunda e terceira partes deste doc:umento, correspondentes a conserva~ao da biodiversidade e o uso sustentá.vel da biodiversidade. A quarta parte aborda os temas de recursos genéticos e o uso biotecnológico dos supracitados recursos, a qual é muito ambigua e indefinida por razOes discutidas mais adiante. A quinta parte é extremadamente pequena e refete-se aos mecanismos financeiros da Conven~ao. Esta pan:e esta ligada com á última se~ao que trata o aparentemente complexo tema d~1 adminístra~ao e inser~ao jurídica da Conven'Yao no ordenamento jurídico nacional e internacional.

A Conven'Yao aborda a re la~ao Sociedade-Natureza como a rela'Yao Biosfera-Humanidade, coloca os processos evolutivos e sistemas sustentado­res da vida sob responsabilidade direta do Estado-Narrao para o alcan~o dos objetivos da Conven~ao, afirmando inclusive a subordinarrao das certezas ou opini3es científicas á vontade soberana dos Estados-Na~3es em matéria de Diversidade Biológica. 56 que nao especifica como os estados nacionais do sul endividados vao responder a esta demanda. A Conven~ao afirma o caráter territorial das a~Oes para alcanrrar os objetivos da mesma, e a aguda proble­mática da auséncia de coopera~ao internacional,em especial o referente a

S A ~C0""9l, Rio"(Jl. Cúpula ou Cimeira da Terra slo nonxs pelos quais é mais conhecida a Conferencia das Nao;Oes Unidas para o Melo Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada entre) e 14 de junho de 1991 no Rlo de Janeíro. O seu objetivo principal era buscar meios de ,:onciliar o desenvolvlmento sócio-económico com a conservao;ilo e proteo;ilo dos ecossistemas da Terra. A Conferencia do Rio consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla conscíentizao;ilo de que! os danos ao meio ambiente eram de responsabilidade dos paises desenvolvidos. Reconheceu-se a neeessidade de os países em desenvolvimento rece~:rem apoio financeiro e tecnológico para avano;arem na direo;lo do desenvolv-imento sustentavel. Naquele momento, a posio;ilo dos paises em desenvolv:lmento tornou .. se mais bem estruturada e o ambiente político internacional f¡evoreceu a aceitao;lo pelos paises desenvolvidos de principios como o das responsabilidades comuns. mas diferenciadas. A mudano;a de percepo;lo com relao;'lo a complexidadc do tema deu .. se de forma muilo clara nas negociao;Oes diplomáticas, apesar de seu impacto ler sido menor do ponto de vista da opiniilo publica. A Conveno;ilo da Biodiversidade foi aprovada durante a 1tlO""91, por 156 paises e urna organiuo;ao de integrao;.Io económica regional. lIoi ratificada pelo Congresso Nacional Brasileiro e entrou em vigor IlO final de deumbro de 199). Os objetivos da conven~lo sao a conserva~,'!,o da biodiversidade. o uso sustentável de seus componentes e a divis.'l.o eqüitativa e justa dos beneficios gerados com a utiliza~ilo de recursos genéticos. Dos t75 países signatários da Agend.a 11. 168 confirmaram sua posio;~.o de respeitar a Conven~lo sobre Biodiversidade. Para maiores esclaJ"ecimentos ver: hup:jjwww.cbd.intjdocjpublicalionsjcID"lOth-ann¡v·ersary.pdf

o peosameoto dlliClpúoar e o deSellvolvlmento: o uso de tena na Ama~on¡a brasllelra 415

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divida externa dos países do su l, depois coloca a importancia do desenvol­vimento económico e social como meio de lograr os objetivos da Conven-;ilo, especialmente o referido a o crescimento das popula~c3es h umanas, nilo para limitar este ou reduzir senilo para dar respostas, especialmente no campo da educa~ao, as pressOes produto desse crescimento. Só que nilo explicita como a popula-;ilo huma na pode crescer e desenvolver-se fazendo conserva-;ilo estrita da diversidade biológica.

É assim como o texto da Convenljao p3e juntos dais temas, o da divida externa dos Estados possuidores da maior parte diversidade biológica rema­nescente, e o da escassez e pouca for~a do mecanismo de financiamento que a reuniilo das partes contratantes cria para atingir os objetivos da Convenljao, isto em parte motivado pela margina-;ilo dos detentores do poder político e económico, as elites empresariais naciona ls, as empresas multinacionais e os Estados Unidos.

Estes entes nilo entanto estao muito presentes na Convenljilo no referen­te a recursos genéticos e biotecnologia, como o mostra a grande participaljao deste tema no texto da Convenljao, comparado por exemplo com o aspecto do financiamento. A Convenljao sendo um instrumento do ambito estatal inter­nacional com isso reconhece a necessidade de participa-;ilo do mercado e seus agentes nas a-;3es para o alcan~o de seus objetivos; mas sempre baixo o gover­no dos entes nacionals e multlnaclonals, o mercado nao pode aglr II vremente em assuntos relacionados com a diversidade biológica, nesta interpretaljao dos textos da Conven-;ilo. Nao entanto nao explica como governos desapa­relhados podem regular a atua-;ilo dos agentes de mercado na gestao destes recursos. Assim é interessante observar como a major responsabilidade pela gestao da biodiversídade recal no estado naljao falido pela divida externa e o malor beneficio desta gestao atinge as grandes empresas do ramo que obtém o mecanismo que procuravam para apropriar-se da biodiversidade.

Partindo do anterior se explica a complexidade dos ítens que tratam o aspecto jurídico-administrativo da Conven-;ilo, pois a Convenljao é um instrumento que pretende regular as relaljOes entre Estados Soberanos, su­bordinando o mercado e seus agentes ás orbitas internas dessas entidades nacionais, o fato da Convenljilo subordinar os entes de assessoría cientifica á vontade naciona l. cria um precedente nunca antes visto, que se estende á relaljilo Estado-Mercado. Porém Posey (1997, 353) diz que a Conven~¡¡o é o abocanhamento da soberania de um Estado-Naljilo ao estenderem os direitos de outros Estados-Na~ao sobre os recursos biológicos e ecológicos do primeiro o q ual pode ser certo, mais a Convenljilo sen do um instrumento jurídico esta aberta á interpretaljilo.

A su bordina-;ilo implícita da ciencia e o mercado á vontade soberana dos Estados, cria um paradoxo na aplicaljilo prática do instrumento conven­cional . Senda as empresas multinacionals e nacionals, cada vez mais, as deten­taras da majar capacidade de pesquisa e desenvolvimento cientifico e técnico para a conservaljao e uso sustentável da diversidade biológica; aparentemente,

4t 6 Camilo Torres

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ficam sem iniciativa para agir de acordo a sua lógica concorrencial de mercado e ma is ainda precisam da incomoda parceria com os Estados e seus sistemas administrativo-juridicos para garantir os direitos de patente e propriedade intelectual sobre os produtos desenvolvidos partindo da diversidade bioló­gica. Assim o agentes do mercado agem como se estivessem num contexto de superabundancia de recursos onde tudo é possível. e defrontam-se com a certeza do Estado e da $ociedade Civil de que os recursos estao exauridos e que precisa-se da coopera~ao para garantir a persistencia do modelo de desen­volvimento.

Rela~ao esta paradoxal entre direito público que mantém a diversidade biológica como bem público, e ate certo ponto, de livre acesso, quando se tra­ta de conserva~ao e uso sustentável. e o direito privado que cria as condi~Oes para sua privatiza~ao, na forma de recursos genéticos e biotecnologia, como meio de conservar e usar sustentavelmente esses recursos da diversidade. Nao somente o acesso e uso dos recursos, senao também a privatiza~ao do exercício da atividade de pesquisa cientifica e tecnológica, com o q ual é evidente a necessidade de urna retomada do Estado de sua responsabilidade no campo da educa~ao, a pesquisa e o desenvolvimento de técnicas nao privatizantes dos recursos da diversidade biológica, e que aparentemente roi tida em conta ao subordinar a atividade cient ifica e técnica ao controle estatal pois cada vez mais deixa de ser urna atividade livre e pública para converter-se numa atividade sujeita a demandas de mercado e privada, a entrada das rela~Oes capitalistas na academia e na ciencia. Assim como o avan~o do controle extra nacional das políticas económicas internas nacionais.

Nesse contexto das movimenta~Oes dos campos disciplinares no confli­to sobre os caminhos do desenvolvimento para Amazónia, pretende-se neste texto, também, contribuir para urna crítica das políticas públicas propostas para o uso da terra na Amazónia, através, da analise comparativa de tres programas derivados destas v isOes, q ue pretendem influenciar as políticas públicas para o desenvolvimento geral da regiao. O Programa Piloto para a Prote~ao das Florestas Tropicais do Brasil PPG7, o projeto Brasil Sustentável e Democrático PBSD e o Projeto de Pesquisa Estado e Políticas Publicas na Amazónia PEP PA . O texto se concentrara no referente as propostas relaciona­das com o uso agrícola da diversidade biológica, entendendo que este aspecto afeta diretamente a possibilidade de obter um caminho de desenvolvimento para os POyOS e paisagens naturais da regiao amazónica.

ADalbe ~ poUtk:u pábllce_ ~

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Brasil possui cerca de ),6 milhOes de quilómetros quadrados de flores­tas, ocupando o terceiro lugar entre as nas;Oes com maior área florestal depois de Rússia e o Canada. No mundo neotropical o Brasil possui a maior cober­tura florestal sendo trés vezes maior que o segundo colocado a Republica Democrátíca do Congo. Dos pouco mais de 6 milhOes de quilómetros quadrados

o peDU.mento dildpl1Da[ e o deaenvolvimento: o uso de tena Da Amuonla brulleh'a 417

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que se estima ter a floresta amazónica na América do su!, nada menos do que 60% estao em território brasileiro, segundo as Na'jOes Unidas. Neste território moram aproximadamente 18, I milh3es de pessoas. corcespondendo ao 11 ,5% da popula'jao do Brasil em 1996 segundo a autoridade estatística nacional. As unidades da federa'jao brasileira que tem os maiores contingentes popuJacio­nais sao; O Pará com 5.51 miJhOes de habitantes. Maranhao com 4,49 milhOes. Amazonas (estado que limita com Colombia) 3.39 milhOes e Mato Grosso 2.2)

milhOes. O restante dos estados brasileiros na amazonia sao Acre. Roraima. Rondonia. Amapá e Tocantins.

A regiao amazónica brasileira esta formada por municipios que apre­sentam popula'jOes de ate 100 mil habitantes e duas grandes metrópoJes com popula'jao maior a 1 milhao de habitantes: Manaus capital do estado amazo­nas e Belém capital do Para. sendo que a popula'jao esta mas concentrada na pors:ao paraense. oriental e atlantica da amazonia brasileira. A amazónia bra­sileira tem um adensamento populacionaJ de ).6 habfkm' refletindo o caráter de "floresta urbanizada" onde cerca de 60% da populas:ao concentra-se nas , áreas urbanas (15 habfkm J deixando a área rural para urna ocupas:ao difusa reservada maiormente a grupos marginalizados como migrantes nordestinos. indígenas, ribeirinhos e quilombolas.

Esta condic;:ao provoca que as problemáticas mas agudas do desenvol­vimento local amazonico sejam derivadas de processos de urbanizac;:ao sem controle e da formas:ao de periferias urbanas socialmente excluídas. Nas ati­vidades económicas esta situas:ao de floresta urbanizada, se reflete em que as principais atividades económicas sejam o extrativismo mineral e vegetal, e a pecuária extensiva. Pode se concluir que as maiores preocupas:3es da popula­s:ao da amazónia brasileira nao sejam a conservac;:ao e uso sustentável da bio­diversidade e sim problemas clássicos de desenvolvimento social e económico.

Programa pHoto para • prote(::io dlJ. IJorfHltall h"oplcals do BruH • Ppg7

O objetivo deste programa, como esta citado na introduc;:ao do docu­mento marco, produzido pelo Grupo de Trabalho Amazónico GTA 6. e a orga­niza'jao nao governamental Amigos da Terca Programa Amazonia. Afirma que "o objetivo da sustentabilidade económica e ambiental [da regiao amazónical requer( ... )". Esta petis:ao de principio, desde já mostra a existencia de urna

6 O Grupo de Trabalho Amazónico foi constituido em 1991 pelo Conselho Nacional de Sc:ringudros CNS e outras 13 ONGS ambientais como grupo de trabalho ad-hoc em resposta 'lOS planos do Ministério de Meio Ambiente e de doadores do PPG 7 em especial o governo alernlo. a Uniilo Europeia e O Banco Mundial de criar o PPG7. O objetivo deste grupo foi influenciar o escopo do programa e garantir que as vi~s sobre sustentabilidade ambiental e social foram consideradas. Em looS tinha escritórios regionais em todos os estados da Amazónia brasileira. Atualmenle é urna coaliz.1lo de cerca de 500 ONGS populares ama¡:ónicas, formados por organiu~t'les de seringueiros. ameríndios. pequenos agricultores. pescadores. quebradeiras de coco. afro-brasileiros e ambientalistas.

118 Camilo Torrel

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proposta de conectar o desenvolvimento económico sustentado coro as pos­sibilidades de atingir sustentabilidade ambiental na regiao. De outro lado, ao objetivar a prote~ao das florestas tropicais brasileiras, o programa inscreve­se num tim mais amplo de prote~ao das florestas no mundo, que faz parte do ideário conservacionista internacional. Assim queda montada armadilha que já foi exposta quando a cria~ao da conven~ao da diversidade biológica CDB. Sornar objetivos fundamentalmente contraditórios, a conserva~ao e o desenvolvimento, o uso ex situ e in situ dos recursos materiais da natureza e o crescimento ou o desenvolvimento sustentável. Como também responsabilizar o estado pela conserval;ao da biodiversidade retirando dele seguidamente os instrumentos para realizar política, e entregando estes a organiza~3es para estatais. ou seja a ONGs que viriam a cumprir o papel do estado na regiao.

Seguindo esses principios. o programa considera que, as políticas de estabiliza~ao da moeda, o ajuste fiscal e as reformas do Estado e da admi­nistra~ao pública sao processos necessários e vinculados a os objetivos do PPG7. Afirma também que. estas políticas sao entravadas na regUlo amazónica por "a inércia acumulada de práticas históricas", que impóem limita~3es ao programa, em aspectos como padr3es de uso do solo, de consumo, as rela~3es de trabalho e as atitudes em rela~ao ao meio ambiente". É claro que refere-se, a posse coletiva dos recursos materiais, a privatiza~ao do acesso a pesca e sua troca pela pecuária, a flexibiliza~30 do mercado de trabalho regional e ao suposto discurso e al;'30 anti-conservacionista da populal;'30 da regilo.

Mas, como é dlto no texto do PPG7, parece que estas prátlcas hiStÓricas sao criadas na regiao amazónica, e n30 estimuladas desde fora pelo próprio Estado e as empresas. O uso indiscriminado do solo, o consumo exagerado de produtos industriais de fora da regiao, a quebra das rela~óes comunitarias e sua troca pelo assalariamento e o subemprego e a atitude predatória em rela~lo ao meio ambiente, sao cria~3es foraneas que vieram com o desenvolvimento e modernizat.;ao a reglao.

Os autores relatam que, a viabilizat.;ao dos investimentos para desen­volver projetos energéticos e minerais na regiao, precisaram de urna serie de concess3es normativas aos empreendedores estatais que lesaram os interesses regionais. Criando-se urna rela~ao incestuosa entre o regulador e o concessio­nario estatal. Desta forma o PPG7 defende a privatizat.;ao de setores do estado. a reforma da administrat.;ao pública e a cria~lo de institui~óes reguladoras dos setores privatizados e reformados. A proposta desconhece que depois das privatizat.;3es esta "rela~ao incestuosa" traslada-se do empresário e regulador estatal para o concessionário e regulador privado.

No texto do programa, esta inércia das praticas históricas queda restrita ao período dos planos mineiros e energéticos na regiao. Fazendo omissao dos ciclos de longo prazo da regi30, como os relacionados com a atividade agricola florestaL que ainda estruturam grande parte das relat.;3es sociais da regi30. Com isso o programa coloca num mesmo pata mar, processos de desenvolvi­mento de sucesso relativo como o sistema de aviamento e a industrializa~ao

o pensamento cHllCiplinar e o desenvolvimento: o uso de terra na Amazonia braalleira .. 11

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da Amazónia, a partir do extrativismo da borracha, castanha, cacau e outras especies, junto a atual explora~ao extrativa industrial de energia e minerio, que posiciona-se cada vez mais como o verdadeiro empecilho para o desenvol­vimento local e regional autonomo.

O programa defende, que se a prote~ao ambiental e prioritária, ao ponto de serem desenvolvidos programas de coopera~¡¡o internacional é fun­damental que esta prote~ao ambiental seja traduzida em a~Oes concretas de redesenho da moderniza~ao do Estado, como a descentralizayao das a~Oes do poder público. No texto formula-se urna analogia, entre a prot~ao ambiental e o processo de privatiza~Oes, que quase converte-se numa afirmativa de que, o processo de privatiza~Oes das a~Oes públicas em todos os setores, como o energético e mfneral, e tambem o ambiental vao ser os caminhos para a poli­tica de desenvblvimento sustentável atingir o sucesso visado. Agora esta pri­vatiza~ao nao seria através da entrada de empresas nestas atividades, vedado pela conven~ao da biodiversidade e sim de organiza~Ocs paraestatais como as ONGs.

Ainda hoje, esta por estudar-se o ciclo da borracha amazónica, na pers­pectiva de urna disputa pela internacionaliza~ao do setor chefe da economia amazonica. Disputa que resultaria na apertura total do território aos interesses estrangeiros da época. Onde o sistema de aviamento foi um Cator preponde­rante para impedir a toma do controle da economia gomifera, por parte de agentes nao amazonicos, as empresas inglesas e estadunidenses de exporta~¡¡o de borracha, que seguindo esta vía tomariam O controle territorial e socio­político da área (Weinstein: 1993). Seguindo esta linha de argumenta~ao, a atual atividade de coopera~ao internacional. representada pelo PPG7, pode ser analisada a luz deste período histórico.

Da mesma forma, a inércia de práticas tradicionalmente amazónicas que, segundo o próprio PPG7, obstaculizam esta coopera~ao pode ser inter­pretada como uro novo processo de resistencia regional e local a entrada de agentes estrangeiros na regiao, em especial aqueles vinculados com as indus­trias extrativistas. O empobrecimento regional seria o pre~o a pagar para a manuten~ao da soberania territorial e sociocultural.

A moderniza~ao do Estado converte-se assim numa exigencia dos in­teresses internacionais, onde a privatiza~ao de setores como a minera~ao e a gera~ao de eletricidade, equiparam-se com a privatiza~30 das áreas protegidas do sistema de unidades de conservayao, as reservas indígenas, e o patrimonio histórico e paisagístico da AmaZÓnia. Assim a perda da soberania sobre o ter­ritório amazónico segundo este programa seria atingido a traves de sua priva­tiza~ao. Venda ou entrega a institui~Oes privadas estrangeiras que possuem o apoio dos seus governos para o desenvolvimento de tal política. Neste cenário as ONGs seriam agentes operativos desta estrategia de privatiza~3o.

Iniciativas como a produ~ao de produtos florestais nao madeireiros para exporta~3o (PFNM). A cria~lo e consolida~lo de um patrimonio histórico e artístico na regilo que servira para os turistas estrangeiros comprar e visitar

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(PHA), e quem sabe entrar na circula(,':ao capitalista como bens imobiliários. A aprova(,':ao de Jeis sobre propriedade intelectual de bens de informa(,':ao (PIBI), como a diversidade biológica, social e cultural; revelam urna estratégia consciente de procura de maneiras de extrair renda - valorizar em termos do capital- da regiilo Amazonica para pagar a divida externa brasileira. em con­traven(,':ao do mandato de gerar um caminho de desenvolvimento endógeno e auto organizado para a AmazOnia.

As poJitlcaJI ambü;,ntaU e o uso da tena no PPG7

O PPG7 compde se de cinco programas, um orientado a promover a reorienta(,':ao do desenvolvimento regional, Experimenta(,':ao e Demonstra(,':ao com os PDA - projetos demonstrativos com cerca de 188 pequenos projetos comunitários, PRQMANEJQ - programa de apoio ao manejo sustentável na amazOnia. PRQVARZEA - Manejo dos Recursos Naturais da Várzea e Negocios sustentáveis. Dutro orientado a implementar a politica conservacionista e que constitui se no carro chefe do programa em recursos e atividades de grande porte. Conserva"ao, com o apoio as Reservas Extrativistas RESEX, terras indí­genas PPTAL, Corredores Ecológicos e PROTEGER orientado a preven,,30 dos fogos florestais na amazonia. Um outro de apoio a organiza"aes que d30 apoio 01.0 PPG7. de Fortalecimento Institucional com apoio ao GTA e a(,':Bes de lobby dentro das esferas do governo com o SPRN - Subprograma de politica de re­cursos naturais; Pesquisa Cientifica com apoio ao INPA - Instituto Nacional de Pesquisa da AmazOnia e MPEG - Museu Paraense Emilio Goeldi, e U(,':3e:o; e Dissem¡na~30 ande realiza se monitoramento e analise do PPG7 (PPG7 2002).

A pesar de existir urna série de assuntos de grande escopo que tem vínculo direto com a política de uso agrícola da terra; como a voca,,30 histó­rica da regiao para o agroextrativismo, ou seja a produ~ilo agrícola f1orestal, a instala(,':ao da agricultura predatória de soja e de coca que afeta as redes de articula~ilo locais e regionais, tambérn a retrasada idéia de que na amazonia existe urna fronteira agrícola ou de ocupa(,':ao humana estimulada pela implan­ta(,':ao de rodovias a despeito da rede de cidades organizadas ao redor da rede de drenagem bídrica. ou aquela. que trata a atividade madeireira como um se­tor nao produtivo agrícola, sobredirnensionando a importancia das industrias extrativistas como a de celulose sobre a agricultura de produ~ao; o PPG? se restringe a tratar o tema agrícola como um assunto dos peguenos produtores e a um suposto caminho de diversifica~ilo produtiva a ser realizado com apoio de QNGs, atraves dos projetos demonstrativos PDA.

Sustando-se de entrar na discussao dos conflitos entre as atividades citadas acima, e urna possível política agricola coerente para a AmazOnia. O PPG? perde a visao de integra~o escalar entre o local e o global. PropOe pequenas políticas como a educa~o para as associa~Bes de pequenos produ­tores, a procura de nichos de mercado para sua produ(,':ao, o estabelecimento de pre(,':os de sustenta,,30, e o forta lecimento de mercados regionais. Também, lan"ando a diversifica(,':ilo de culturas como a solu~ao para a sustentabilidade

o pensamento diM:iplinar a o detleDVi;llvimento: o UIO da tana na Amazonia brelllalra 4Z1

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do uso da terra na Amazonia. E propondo medidas de estímulo a microrga­niza¡;Oes que podem iniciar um processo de diversifica¡;ao do uso da terra, como o melhoramento dos meios de comunicar;ao local, a radiofonia rural. O melhoramento de estradas vicinais, a implanta¡;ao de escolas - familia e de crédito rural orientado a pequena produr;ao, e de sistemas de eletrificar;ao rural descentralizada.

Medidas estas, que vistas desde a perspectiva de sua articular;ao .sao ate contraproducentes se implementadas no cenário já descrito ao inido do texto. Onde qualquer política de estímulo ao uso da terra vai se defronur com a necessidade de con correr com um modelo de integra¡;ao globalizar;ao, que acirraria as desigualdades já existentes exaurindo a reduzida capacidade de organizar;:ao social dos pequenos agricultores, sejam estes indígenas, cam­poneses, ribeirinhos, quilombolas ou ainda moradores de periferias urbanas agrícolas.

Muitas das iniciativas de educar;ao, procura de mercado, crédito, pre­r;:os de sustentar;:ao e nichos de mercado do PPG7 estao baseadas na articular;ao direta das comunidades de pequenos produtores com o mercado internacional ou ainda os grandes mercados consumidores nadonais, neste caso o eixo Sao Paulo - Rio de Janeiro. Isto deixaria as comunidades inermes frente a pos­síveis colapsos, manejos e mudanr;as, nas regras do entrada e permanencia no mercado. Regras nas quais podem influenciar poueo dado que a maioría dos produtos sao comercializados como bens de luxo que dependem da boa vontade do distribuidor e consumidor para sua realizar;:ao.

O PPG7 n¡lo trata diretamente a neeessidade da rearticular;:ao fluvial da rede urbana amazónica, para procurar o desenvolvimento autosustentado baseado na satisfar;:ao das necessidades regionais pela própria regíao, pois esta é uma área onde somente uma entidade como o estado-nar;:ao poderia atuar com sucesso.

A implantar;:ao de urna infra-estrutura de educar;ao, transporte terres­tre, saude, energia, e finandamento provocara mudam;as e melhoras na vida das comunidades, no primeiro momento quando as instituir;Oes doadoras, através das ONGs entreguem as melhoras. Somente que depois quando a en­trada e a presen¡;a destas infra-estruturas comeee a pesar no orr;amento das co­munidades, na forma de tarifas de servir;os publicas, custos de financiamento, pagamento de professores, médicos e traumentos onerosos para as condir;Oes de vida das comunidades. A presen¡;a desta infra-estrutura levara a frustrar;ao e descomposi¡;ao das comunidades que troquero os servir;os que as próprias comunidades tero desenvolvido para se mesroas, por essa integrar;ao extrema com a sociedade maior.

O PPG7 pretende a articular;:ao da regiao coro o mundo globalizado e a implantar;ao da infra-estrutura que viabiliza esta integrar;ao vertical. Mas esta infra-estrutura pode contribuir a aprofundar os abismos existentes intra - regionalmente, porque onerara as comunidades, e porque criara urna des -adequar;ao da popular;:ao as condir;:Oes regionais de habitabilidade.

422 Camilo Torrn

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Assim que esta integra~ao deve ser financiada pelo mercado globa­lizado, que é o verdadeiro interessado neste processo. Pois procura, novos produtos e servis;os para valorizar o capital ocioso, e garantir a circulas;ao monetária, a apertura de novos mercados. E o pagamento de dividas do Estado brasileiro a través da patrimonializas:ao dos bens sociais, culturais e naturais da regiao. A integras;ao nao deve ser financiada pelos pequenos produtores da regiao amazónica, que se vem afetados por este processo de expropria~ao e de ingerencia externa nos seus modos de vi ver, produzir e trabalhar.

PI'ognaaa lb'aII--..nI . ~tko · PBSD

O objetivo do PBSD é "valorizar e estimular experiencias e propostas dos movimentos sociais, organizas:3es populares e organizas:3es nao governa­mentais por um modelo de desenvolv imento alternativo no Brasil que alie a sustentabilidade ambiental, a justil;:a sócio-económica, a eqilidade de genero e étnica e a democracia participativa". (BARROS 2001) A diferens;a do PPG7, o PBSD deriva sua sustenta~ao das iniciativas de organizas;3es que fiscalizam a atuas;ao do governo e estariam fora da rede de interesse do governo brasileiro, nao sendo operadores de politicas deste, como no caso das associadas com o PPG7. Indicando q ue, a solu~ao das desigualdades e conflitos sociais é o caminho privilegiado para atingir a sustentabílidade ambiental e nao a estabi­Iizas;ao macroeconómica ou a reforma neoliberal do Estado.

A relativa debilidade dos objetivos de atingir a sustentabilidade am­biental pelo caminho da eliminas;ao das desigualdades e conflitos sociais, re­velam a falta de urna política integrada no governo brasileiro para enfrentar este problema, política que se existe no plano económico, esta claro que estas organizas;3es nao pretendem ocupar o papel do estado, como as que comp3em o PPG7. Falta formular um plano intersetorial do porte do criado para a esta­bilizas;ao económica do pais. O PBSD na sua analise das políticas públicas para a Amazónia adoece da falta de urna analise mais aprofundada dos processos de longo prazo da sociedade amazónica, remetendo-se a fatos circunstanciais como o desmata mento, o fogo florestal e os efeitos ambientais da industria ma­deireira como problemas estruturais do desenvolvimento, quando na realida­de sao resultados do modelo secular da economia extrativista, que tem neste momento como eixo reitor as industrias de minera~ao e de hidreletricidade.

Quando o PBSD afirma que, É crescente a consciencia de que a $ociedade civil amazónica tem poder e conhecimento acumulado para influenciar os planos de desenvolvimento da regido(. . .), desconhece a existencia atual de práticas que permeiam por inteiro a sociedade brasileira, como O coronelismo e o patrimonialismo; junto de outras mais recentes que também tem sua origern no passado da regiao, como a interferencia velada de interesses estra ngeiros disfarpdos de atores regionais. Que Iimitam a capacidade de influenciar o desenvolvimento regional desde a própria regiao.

Esta pcrda de foco dos supostos que movem a proposta do PBSD leva a relegar a um segundo plano a atividade agrícola florestal, o uso múltiplo, e

o peD$llllleDto dl&cIpllnar e o de5eDVolvlmeDI.(l: o uso de tem Da Amuonia bruilolra 4 Z3

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a necessidade de urna política de povoamento da AmazOnia com base na sua pr6pria base social, indígenas, caboclos, ribeirinhos, e outros.

O PPG7 faz suas propostas, desde urna perspectiva que envolve a po­lítica para a sustentabilidade ambiental na Amazónia, dentro da política de moderniza.¡:ao do estado brasileiro, cm geral, e da política neoliberal global. O PBSD faz isto mesmo só que, a proposta política ambiental esta suportada por urna base técnico· científica ecológica que nao abrange os ciclos de longo prazo nas rela~Oes estatais, económicas e socioculturais da regiao. O anterior leva a urna contradi~ao entre os fins do PBSD e as propostas lan~adas para a sustentabilidade ambiental amazónica. Propostas que nao estao orientadas a resolver problemáticas e demandas sociais especificas dos movimentos sociais e dos povos amazónicos. Estas propostas estao dirigidas a solucionar proble­mas outros como o aquecimento da atmosfera, o buraco de ozónio, o efeito estufa e a perda de biodiversidade. A traves da provisao de servi.¡:os ambien· tais que seriam comprados por consumidores de fora da regiilo, sem atender as demandas e preocupa.¡:Oes, estruturais e ¡mediatas, da regiao, como a exclusao social e ambiental dos camponeses, povos tradicionais e moradores de áreas urbanas da regiao e o conflito pelo acesso e uso dos recursos minerais, hídricos e f1orestais.

Assim, tenta·se colocar processos que nao afetam diretamente a popu· la.¡:ilo amazónica como se fossem empecilhos para o seu desenvolvimento, é o caso do rogo acidental. Afirma·se que o risco anual de fogo addental desencora­ja os produtores a inuestirem em culturas perenes, no manejo florestal eem outros sistemas de produrdo permanentes, pelo recejo de perderem seus investimentos

devido a ardo dos incendios descontrolados (pp. 44). O fogo coexiste com a popula~ao na Amazonia, em todas as regiOes, des­

de há mais de dez mil anos. Antes da invasao européia existiam na Amazonia densas popula~Oes humanas que usaram o rogo por séculas sem extinguir a Doresta, e plantando densas agrega~3es de arvores como cacau, borracha, cas­tanha e pupunha, o que indica a possibilidade da existencia de urna gestao do fogo na regiao que ainda esta por pesquisar·se. O fago abre clareiras que promovem a sucessao f10restal e a djversifica~lo da floresta. $em o fogoarvores velhas e doentes vilo demorar mais tempo para serem reintroduzidas aos ciclo de nutrientes em algumas áreas, obstaculizando o próprio desenvolvimento da floresta.

É claro que, o desestimulo para a produ~ao de longo prazo na Amazónia nao é resultado do fago acidental. O fogo faz parte de um complexo de causas, que incluem a taxa de lucro do mercado, os ciclos de capital de giro para investimento, o acesso a créditos pelos pequenos produtores tradidonais, a inseguran.¡:a na posse das terras, os processos de acultura.¡:ao que prornoveram a culturas de ciclo curto como a juta e o extrativismo predat6rio e a perda da cultura de gestao do fago. Junto com as conseqüencias de um acelerado processo de urbaniza~ao que oriento a prodw;:ao regional a um processo de uso intensivo de monocuJturas.

424 Camilo Torres

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Tambem a concorrencia desleal de produtos de fora da regiilo como arroz, frutas, mandioca e produtos industriais como frango, gado levaram ao desestimulo da prodw¡:ao de longo prazo baseada em perenes. Em meío de tudo isto, o fago passa a ser um pequeno fator condicionante e nao o principal fator na explica.¡:ao o nao desenvolvimento da agricultura florestal na Amazonia. Entao porque apresentar o fago como o fator chave. Isso obedece a influencia de ínteresses de fora na proposta do PBSO que privilegiam a preocupa.¡:ao com o aquecimento da atmosfera a escala global. notadamente as agencias dos Estados Unidos como o Woods Hale Research Center, assim estas agencias ar­ticulam as políticas públicas para a Amazonia com as políticas nacionais do governo dos Estados Unidos.

As poJItlcaa ambienws e o uso da tena no PBSD

É interessante como o P BSO coloca-se contra a constru.¡:ao de estradas, o uso madeireiro e o uso do fago, e nao o faz contra o modelo de economía extrativista industrial globalizada que e o motor de todo este processo. Se

existem estradas é porque existe a agricultura e extra.¡:ao mineral industrial. Se existe o uso madeireiro predatório e porque existem condi.¡:lks de mercado internacional para a retirada destas arvores. O rago que deveria ser combati­do nao é o produzido pelos pequenos produtores da regiao, e o gerado pela industria madeireira, a grande pecuária e os complexos de extra.¡:ao mineral e industrial como a de ferro-gusa fabricada partindo da madeira. Alem do metano produzido pelos lagos das barragens de produ~ao de eletricidade, que jogam proporcionalmente quatorze vezes mais gases de efeito estufa que as outras fontes amazónicas de gases de efeito estufa.

A proposta do PBSO para O uso da terra agrícola na Amazónia passa pela proposta ao estado brasileiro de dois modelos de desenvolvimento para a regiilo. O rejuvenescimento de fronteiras anrigas ou urna nova expansao da fronteira . O rejuvenescirnento de fronteiras antigas envolve a constru.¡:.iio de urna rede de estradas locais ao redor de centros de comcrcializa.¡:.iio, apoio em crédito, extensao rural e servi.¡:os pú blicos. lsso levaria a transforma.¡:.iio de pequenos centros urbanos já existentes em focos de desenvolvimento, a traves de urna transi~.iio económica, pela qual passariam de fornecedores de matérias primas para os centros industriais a fabricantes de produtos finalizados que seriam comercializados fora da regiao. Somente que. na Amazónia nilo existe isso nomeado como fronteira antiga ou fronteira nova. ¡déia reproduzida pela n~ao de fronteira cara aos academicos dos Estados Unidos.

Na realidade, toda a regiao esta densamente ocupada para as condi.¡:6es locais e regionais, ocupando principalmente ao longo da rede de drenagem hídrica. Sendo esta a mais indicada forma de povoamento da regiao. O fato desta forma de povoamento acontecer há milenios na regiao, junto com a for­ma.¡:ilo secular de núcleos urbanos que acompanham estas caraterísticas é um argumento a favor desta tese.

Assim, na regiao amazónica existe um processo de crescimenro de

o pensamento disciplinar e o desenvolvimento: o U80 de tarra na Amazonia bruUelr. 42'

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células de desenvolvimento urbano regional fluvial . coro as cidades de Belérn, Manaus, Porto Velho e Santarém como exemplos prlndpais. onde a cidade desenvolve·se ao redor de urna área de pequenas cidades e vilas provedoras de servi~os rurais. A regUlo bragantina cerca de Belém é típica desta situa~ao. A isso o PBSD nomeia como wna de fronteira antiga.

Desenvolvendo o argumento, exístiriam outras células de desenvolví· mento industrial extrativo zonal. com as cidades de Carajás, Porto Trombetas e Serra do Navio. como exemplo. Onde uro complexo de mina. rerroviafhidro­via·porto. associado corn a constru~ao de uma cidade planejada criam urna zona isolada de desarticulaylo local. impedindo sistematicamente o surgimeo­to de pequenas cidades e comarcas rurais provedoras de servi~ a tTaves da cria)ao de wnas de exclusao da presen~a humana utilizanda.-se das políticas indigenista, ambiental e miJitar para impedir o surgimento de embri3es de regi3es na sua volla, atrasando a forma)a.o do mercado e da rede de servi¡;os local-regional.

Também, pode-se afirmar que existe um complexo barragem - hidrelé­trica • rede de transmissao que cumpre um papel análogo aos complexos zo­nais já mencionados. Esta é a situa~ao dos complexos hidrelétricos de Tucurui, &albina e Samuel. O caso iotermediário. seria quando estas zonas se super­p(krn a regi3es já desenvolvidas. como o caso da zona da mina de ferro de Carajás e a regiao da cidade de Marabá. onde cria-se urn acirrado conilito pelo controle do espa~o que leva a inviabilizar qualquer intenc;ao de política de de­senvolvimento local. Parte deste processo é a aparic;ao desordenada de novos assentamentos. como as aglomera~cXs humanas de Curionópolis. Paragominas e Parauapebas que criam se no vazio da inexistencia de urna reglao que viabi­Uze sua existencia material. gerando urna enorme tensao entre os habitantes destas aglomera)3es humanas corn os habitantes das zonas rurais e urbanas já consolidadas. Isto no marco do re-direcionamento do eixo do desenvolvimen­to de escala local - regional para a escala nacional - global.

Na Amazonia 010 existe uma rronteira. Existe um processo de inva­sao de células regionais estabilizadas secularmente. pela expansao da malha urbana zonal do sul-sudeste brasileiro. Provave1mente o único pracesso de colonizac;Jo camponesa que levou nos ú ltimos cioqüenta anos a apari~o de urna regiao estruturada na Amazonia. roi o estabelecimento de camponeses ao longo da rodovia transamazónica. entre Marabá e Rur6polis, que levou a articula~ao parcial das células regionais de Santarém e 8elém. Processo que esta em grande risco de ser desestruturado com a construc;io da barragem ­hidrelétrica - rede de transmisslo de Belo Monte.

Nesse contexto. pergunta-se aos idealizadores do PBSD para a Amazónia. Como construir urna cede de estradas locais. se a voca)ao regional é o transporte fluvial de pequeno ate grande porte. Ou quando as áreas em volta dos núcleos de assentamento sao áreas de uso industriaJ mineral. áreas de barragem. unidades de conservac;ao ou terras indígenas. Ou manter um mercado local. se os centros urbanos tradicionalmente usados para as tracas

426 c.muo Torrn

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foram eliminados em alagamentos ou relocaliza¡;c)es for¡;adas da popula4t¡'¡o pela imp1anta4t¡'¡0 das hidrelétricas e exploraycks minerais, inchando a periferia das grandes cidades da regi30. E ainda obter sucesso na instalay30 de serviyos urbanos como crédito, educa4t!o, saúde e justí~a quando as áreas rurais n30 podem ser usadas para o uso produtivo ou es~o isoladas das células regionais urbanas pelas zonas de extrativismo industrial como é a caso do Municipio de Ibrcarena que está praticamente dentro da área concedida a uma empresa multinacional de fabrica4t30 de Aluminio, a ALBRAS/ALUNORTE.

E em meio a todo isso, pergunta·se, como gerar focos de desenvolvl· mento local quando se compete com os centros desenvolvidos do sul·sueste brasileiro e do exterior a través dos portos marítimos de Belém, S30 Luís e Macólpá, e da zona franca de Manaus que inundam a regiao com produtos ínsustentáveis e baratos de todo genero, utilizand()-se dos redundos preyos dos oombustíveis e fretes rodoviários e maritimos. Ou .linda garantir o finan· ciamento dos municipios da regiao quando o governo federal brasileiro exclui as grandes empresas de minera4tao. exploray30 petroleira que supostamente exponarn para o exterior, do ICMS que é o principal tributo no nívellocal e estadual. Desfeito esse mito da fronteira amazónica, resta a evidencia de que urna politica pública de uso da terra agrícola deve ser abordada desde uma perspectiva local. integral, pluridisciplinar que comprometa todos os niveis do estado e da sociedade. Procurando deslanchar um processo endógeno e auto organizado de regionaliza4t30 na Arnazónia, que recoloque no foco os verdadeiros cmpecilhos ao desenvolvimento regional a través de urna política de uso da terra.

Projflto atado. polIUcu pubUcu". amu6a1a • PEPPA

Como O prefácio do livro mostra (Coelho: 2000), o projeto PEPPA esta associado a urna tradi4t30 academica iniciada com a funda4t30 do IDESP Instituto de Desenvolvimento do Est'ado do Pará e do Núcleo de Altos Estudos Amazónicos da Universidade Federal do Pará NAEA¡UFPA, durante a ditadu­ra militar. lnstitui~s que tem como mandato a produylo de conhecimento de alta qualidade e exen4tlo sobre os problemas do desenvolvimento regional amazónico. A pesar de ser um projeto de pesquisa, as propostas enunciadas pelo PEPPA permeiam as politicas publicas adiantadas pelo governo federal e estadual na regUlo em especial DO estado do Para nos últimos vinte anos e no governo de Ana Júlia Carepa recentemente. Nesse contexto, o documento analisado se debru4ta sobre tres esferas chaves de política pública ambiental: gesdo de .áreas de reserva, uso de recursos minerais e da energla. Revelando a imporuncia destes assuntos para a implementa4tao de políticas regianais, e que nas propostas do PPG7 e do PBSD es~o dilutos.

O documento afirma que, para entender a a~o do Estado na regiilo amazónica deve se estudar esta a4tao no mais amplo contexto da economia­mundo capitalista e de seu mais recente processo de reorganiza4tlo, a globali­za~o produzida com o apoio das tecnologias da informa~o. Afirma que existe

o pensamento dUelpUnar e o detenvolvilnento; o UMI de terra fUI Amazonle brasllelra 411

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urna crise dos Estados-na~Oes desenvolvimentistas como o Brasil, e sua gradual substitui~ilo pelas redes e zonas geoeconomicas articuladas a Estados na~Oes desenvolvidos que transformam-se em potencias informacionais. Assim exis­tem estágios deste processo que vilo do Estado regulamentador, privatizador e facilitador da iniciativa privada a desapari~ilo real mais nilo formal do Estado e a apari~ao do planejamento centralizado por diversas organiza~3es internacio­nais sediadas nos poucos Estados na~¡}es que conseguiram se transformar em Potencias infonnaCionais, notoriamente os Estados Unidos da América. Assim as multinacionais do setor energético e mineral tomam o controle dos setores na regiao amazónica e os entes multilaterais e organiza~Oes internaciona is se apos­sam do patrimonio natural. social e cultural da regiao com apoio local de ONGs.

Este processo ve-se obstaculizado pelo surgimento de dois correntes contrárias nenhuma delas organizada ou atrelada aos interesses dos grupos dominantes dos antigos estados na~OeS desenvolvimentistas ou das Potencias informacionais. A desestabiliza~ao geral da biosfera, que gera protestos e ma­nifesta~Oes políticas ao interior das potencias informacionais, contra os abusos das multinacionais e o setor financeiro, e a apari~ao de movimentos funda­menta listas de rea~ilo e resistencia contra a perda de identídade cultural. que em algumas situa~s formulam projetos de reconstru~ao da identidade de origem local, como no caso da Vía Camponesa, MST, MAB, CNS e o movimento indígena no Brasil, ou ainda regional com a recomposi~ao de antigas elites regionais como no caso do atual governo do estado do Pará. Com o que o aparelho de controle centralizador das Potencias informacionais e dos estados nacionais desenvolvimentistas é questionado e obrigado a reestruturar sua estratégia de hegemonia regional e nacional.

Na Amazonia existe um processo de contlitividade por recursos mate­riais como petróleo, gás e energía hidrelétrica, aluminio, ferro, cobre, manga­nes, níquel, carvao e biodiversidade que tem como protagonistas comunidades locais, étnicas, de genero que se aglutinam ao redor de projetos regionalistas, contra os interesses das Potencias informacionais e o estado desenvolvimen­tista brasileiro. Onde se misturam as preocupa~Oes pela erosao da natureza ou o meio ambiente com a preocupa~ao pelo exterminio de identidades locais, étnicas, de genero a maos da industria cientifico-cultural do estado na~ao bra­sileiro e dos agentes das potencias estrangeiras presentes na regiao.

Al politlcu ambiental. e o u.o da terra no PPEPA

Para compreender as políticas de uso da terra na regiao amazónica utiliza-se como referencia o texto de Assis da Costa, (1997), pesquisador do NAEA¡UFPA que mostra como existia urna pré-n~ao respeito ao atraso das formas estabelecidas de organizar;ao agrícola na Amazonja que existiam antes da entrada dos grandes investimentas e do regime mHitar.

Segundo o texto, isso desemboco na formula~ao de urna política agrí. cola de grande impacto, onde a falta de trabalho e capital foi equilibrada com a incorpora~ao da abundante terra utilizável, com o objetivo de desenvolver

4U camilo Torrea

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a margem extensiva -nao fala-se de fronteira- sem a correspondente inten­sifica~o dos centros nacionais de ocupa~ao antiga do Brasil. Assemelhado com o modelo da economia extrativista industrial, ande a reduzida margem de lucro auferido com a extra~ao dos minerais, dados os grandes custos de investimento de capital e de trabalho, eram contornados com a extra¡,:ao em grande escala do minério. O modelo técnico utilizado pelo nacional desenvol­vimentismo inicialmente para isto foi a pecuária extensiva de produ~ao de carne, que excluía as formas estabelecidas de produ~ao e criava urna sorte de pecuária extratívista de grande escala na regíao.

No contexto da articula~ao da amazania com as Potencias informa­cionais, atualmente a agricultura de soja cumpre este papel de incorpora¡,:ao extrativista extensiva da regiao el economia brasileira e mundial. Isto significo também urna mudan~a na estrutura fundiária, técnica, de crédito e de acu­mula¡,:ao de capital na regiao. Negando a possibilidade da instala~o de um capitalismo agrícola de base camponesa, a desconcentra¡,:ao da oferta de cré­dito, O uso de pacotes técnicos criados localmente e a manuten~ao do modelo fundiário anterior a ditadura militar.

Moreira Pinto (2000), coloca um questionamento similar no caso da cria~ao da unidade de conserva~ao Serra das Andorinhas, no estado do Pará. Durante o processo de implanta~ao puniu-se os moradores da regiao, retiran­do 24.897 ha. do uso popular sem consultar a popula~ao, e sem resolver os conflitos que já existiam pela terra. A cria~ao da unidade de conserva~ao teria os mesmos efeitos sociais e ambientais, para a comunidade local, que a implan­ta~o de urna grande explorar;30 agro-industrial. Pois se muda por completo a estrutura fundiária regional-cria-se um "Iatifúndio da conserva~ao"-. Os créditos sao orientados a atividades relacionadas como o ecoturismo, reOo­restamento, fiscaliza~¡o e pesquisa básica. A acumula~30 de capital pasSil a atividades e atores outros que a atividade produtiva local, como O ecoturismo e a pesquisa básica em cabe\a de empresários de fora da área.

E.m rela~ao com as reservas extrativistas, Lobato de Lima (2000), pergunta se as reservas sao "males menores" alternativos ao exodo rural, ou urna estratégia imperialista de restri~ao ao desenvolvimento da Amazónia, ou ainda um meio eficaz para evitar a faveliza~ao do campo. Revelando como sao olhadas estas iniciativas desde a perspectiva da popuJa~ao nao tradicional e que constitui o grosso da popular;ao da regiao.

Vários autores interessados no desenvolvimento da agricultura na regiao amazónica, (Hurtienne 2001, Assis Da Costa 1997 y Torres S., 2000) indicam que por fora das áreas de conserva~ao e as terras indígenas, onde existe influencia do estado na~ao ou das ONGs, esta em gesta~ao um moví­mento de retomada da atividade agrícola florestal, citarn-se os exemplos da área de Mazagao no Amapá, regiao bragantina e da ilha de ltuqui no Pará, ande a popula~ao sem estimulo externo esta promovendo a agricultura de espécies perenes, revalorizando o pousio longo e adequando-o a condí~Oes de alto adensamento populacional, mudan~a climática e crise económica, muitas

o pensamento disciplinar e o desenvohrlmento: o UlIO de tena na Amazonia bruileira 412.

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vezes sem apoio de governos ou de organizar;3es paraestatais como ONGs e que nos últimos quatro anos estao se aglutinando ao redor de iniciativas pro­movidas desde o governo estadual do Pará.

u.n.. potitlc:a de Cl'Wdlaeato oa de ~to

...wa.UlweI para. NgIIo amu6alca

Em síntese podem-se seguir as trajetórias de tres vertentes disciplina­res e teóricas que 530 usadas atualmente para gestar as politicas ambientais de desenvolvimento da amazónia brasileira.

A vertente idealista da antropologia ecológica, utilizada pelo econo­micismo neoliberal para internacionalizar a amazónia, sustentando o atraso regional, operada por entes multinacionais, ONGs enquistadas nos governos federal e estadual e na popular;ilo tradicional que promove uma micropolitica local e imediatista desconectada da macropolitica global e o longo prazo dos processos de formar;ao regional, que gera a articular;ao entre crescimento e sustentar;ao económica, e que pode, naO atingir o ideal de sustentabilidade no desenvolvimento e inclusilo social.

Urna vertente misturada entre o idealismo conservacionista e a neces­sidade material de equacionar os problemas sociais e ambientais, baseada no neo-estruturalismo, onde prop6e-se um ecologismo politico que defende a idéia de exclu530 socioambiental da popular;ilo, que sustenta o atraso regional, propondo ao estado brasileiro urna reforma de suas políticas para amazónia, porem mantendo a desconedo entre uma micropolitica local e imediatista com a macropolitica do estado nar;30, também loca l e imediatista só que centrada no eixo sul-sudeste do Brasil, eficiente na procura do crescimento económico sustentado, porem que pode nao atingir o objetivo de desenvolvimento sus­tentável e inclu530 social na amazónia.

Uma vertente materialista da economia politica que da origem a eco­logia politica do desenvolvimento utilizada por setores locais que propOe a tese do confli to socioambiental regionalizado e localizado na amazónia, pocem de longo prazo e com articular;3es entre o local e o global. onde os atores principais ainda sao difusos pelo seu caráter dual micro e macropolitico, onde identificam-se as origens de urna proposta de intervenc;:ao que desde a ac;:ao do estado no nívelloca l pode aringir o objetivo de reparar as dividas históricas com a populac;:30 tradicional da regiao e atingir o objetivo de desenvolvimento sustentável com inclus30 social de todos os atores (TabeJa I).

É interessante observar como representantes do nacional desen­volvimentismo brasileiro como foi, e é, a Empresa BrasiJeira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. Levantam com acerto questionamentos sobre a re­alidade atual dos projetos para o desenvolvimento rural e ambiental da regi30. Criticando a impossibilidade de autosustentar;30 da popular;30 da regi30 com base somente no extrativismo vegetal de PFNM, ou o mecanismo de desen­volvimento timpo MOL e ainda o manejo comunitário de recursos naturais MCRN, pregado pelos conservacionistas e o PPG7. OU a expans30 controlada

430 Camilo TOrrfl

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Tabe!a 1 Com~,..~o de politlUlIi de dHenYOlvimento p .. ,.. .. ,eglJo .. muOnlc ..

A'p"<10 PPG7 P6~D PIPPA

Matriz teórica Economicismo neoliberal Ecologismo político Economia política

Matriz política Cons~rvacionismo Excluslo Contllto socioamblental socloambl~ntal

Artlcula~o Internaclonaliza~lio Nacionaliza~lio lI:egionaliz¡¡~lio-

localiza~lio

Visao da regiSo Atrasada Atrasada Conflitiva

Ent~s multilaterals, Governo f~d~ra 1.

SuJelto governo f~d~ra 1, ONG ' s, ONG' s, popula~s Estado ~ popula~lio popula~Oes tradicionais tradicionais ~m geral organizadas organizadas

Mlcropolftica Mlcropolítica e Micropolitlca e

Abordagem d~onKtada da Macropolítica Macropolítica ori~ntadas pela

Macropolítica orientadas d~ fora matriz teórica

Efici~nte atlnge Efici~nte atinge Pod~ atlnglr

Resultados sustentabilldad~ e sustentabllidad~ r~para~lio d~ danos

cr~lm~nto econOmico e cr6(im~nto ti popula~lio da econOmico regllio

Pod~ atinglr Pode nlio atingir Pode nlio atingir objetivos de

Con~íi~ncias d~senyolvimento e objetivos falta d~ desenvolvimento Incluslio socioambl~ntal vlslio política sust~nUvel ~

irn:luslo social

Fontet TOIIn s.c ~oo8

de "frentes de pecuária, agroindústria e minera~30" defendida pelos governos estaduais e federaL e modificada pelo PBS D. Estas duas políticas forneceriam novo COlego ao crescimento sustentável da regi30 sul-sudeste e aos centros mundiais de acumula~ao, podando a necessidade de mudar radicalmente e deslanchar o desenvolvimento sustentável local para a regi30, com base na mudan~a da matriz energética, produti va e político-social locaL como seria a proposta do PEPPA ao redor de projetos de identidade cultural e natural. Onde a agricultura, pecuária e industrias familiares e comunitárias teriam papel preponderante. Acima dos modelos injustos, insustentáveis e antide­mocráticos propostos pelos conservacionistas, agentes do estado-na~3o e os governos das potencias estrangeiras, e as grandes empresas globalizadas .

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o pensamento dllCipllnar e o desenvolvlmento: o u&o de tena na Amazonia bruileira 431

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