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80 MEU MULATO INZONEIRO O PARDO COMO DILEMA POLÍTICO

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80 MEU MULATO INZONEIRO

O PARDOCOMO

DILEMAPOLÍTICO

81OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO 2013

Numa pacata praça da zona sul carioca, uma

adolescente passeia com sua elegante avó

a frase altera o semblante da jovem, que re-

preende a avó com dureza: “mulato não, vó;

negro! Negro!”. A expressão de desconforto da avó após

a repreensão denunciava a distância geracional entre as

pela distinta senhora branca, contrastava com o “negro”

enfático e decidido da sua jovem neta, igualmente branca.

Provavelmente, cenas análogas a essa se repetiram

por décadas, mas com os termos e sinais trocados. Até

bem pouco tempo atrás, não era de bom tom referir-se a

da democracia racial gozava de tanta legitimidade que so-

ava “politicamente incorreto” ressaltar as clivagens de cor

ou raça em situações amigáveis. Apesar de sempre ter feito

parte do vocabulário corrente, o termo “negro” funciona-

va como uma espécie de xingamento, o que tornava seus

“escuro” etc.) bem mais palatáveis.

Luiz Augusto CamposCientista político

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Brasil sempre foi objeto de disputa entre os estudiosos.

Ainda no século XIX, Nina Rodrigues rivalizava com Silvio

degeneração, e não um meio para o branqueamento (e re-

denção) da população brasileira. De motivo de vergonha,

-

Nos anos 1940, contudo, os trabalhos de Florestan

Fernandes e sua equipe de pesquisadores começaram a

contestar esse suposto estatuto privilegiado do mestiço.

é encarado como um trânsfuga de sua condição de origem,

-

guiu ascender socialmente e, por isso, pode reivindicar

(1974): o mestiço é o principal “obstáculo epistemológico”

para a compreensão das relações raciais brasileiras.

-

-

notar uma tensão entre diferentes formas de conceber e,

sobretudo, nomear os mestiços, ora chamados de “par-

como um de seus catalizadores uma aliança entre cientis-

tas sociais, dedicados a demonstrar estatisticamente a exis-

tência de discriminação racial aqui, e militantes do movi-

mento negro que se serviram desses dados para demandar

(Htun, 2004; Schwartzman, 2009; Maio e Santos, 2005).

Contudo, a despeito dessa cooperação, os estudiosos das

-

cação racial diferentes daquelas usadas pelos movimentos

existentes entre “brancos” e “ não brancos” ou apenas en-

tre “brancos”, “pretos” e “pardos”, os segundos se serviam

-

cial calcado na valorização da identidade “negra”.

-

catórios diferentes surgiu para denominar os potenciais

Desde o primeiro censo, a categoria “pardo” foi

incluída para dimensionar o estrato da população que não se classificaria nem como branco, nem

como preto

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-

dimental secundário, a escolha dos rótulos raciais usados

-

vas são feitas e, assim, quais são os objetivos e as intenções

que a motivam.

Nosso objetivo neste texto é demonstrar como as dife-

expressam visões distintas das desigualdades existentes

no Brasil e, simultaneamente, esperanças diferentes em

dividiu-se o que se segue em cinco seções. A primeira de-

racial por parte das instituições estatais sempre foi uma

quando observamos a história dos recenseamentos nacio-

-

ção mostra como alguns sociólogos conseguiram, a partir

desses censos, compilar evidências da discriminação racial

brasileira e, assim, contribuir decisivamente para a politi-

zação da questão racial no Brasil. A terceira parte discute

como o movimento negro instrumentalizou essas infor-

de equalização das oportunidades, mas também para a

politização da própria negritude. A quarta seção explora

conclusões parciais sobre o processo de politização das eti-

quetas raciais.

AS CATEGORIAS ESTATÍSTICAS DE CLASSIFICAÇÃO RACIAL

A despeito do sem-número de termos existentes no

-

dade de categorias usadas mais frequentemente é limita-

uma amostra de brasileiros qual termo eles usariam para

-

tegorias diferentes (Petruccelli, 2000), dado comumente

outro lado, uma exploração mais profunda desses dados

-

tiplicidade de rótulos, cerca de 90% das pessoas ouvidas

-

ca”, “morena”, “parda”, “negra”, “morena clara”, “preta”,

“amarela”, “brasileira”, “mulata”, “mestiça”, “alemã”, “cla-1.

coloca problemas para a ações estatais. A cor dos brasilei-

-

ção dos censos nacionais. Para avaliar os impactos demo-

usadas na época: “branca”, “preta”, “parda” e “cabocla”,

de que ela captaria o número de descendentes de escravos

alforriados ou já nascidos livres (Camargo, 2009).

I1890, realizado depois da Abolição e da Proclama-

ção da República, trocou a categoria “pardo” pelo

-

ência do eugenismo levou à supressão da questão

sobre raça no censo de 1920, pois seus organiza-

“verdadeira raça” dos brasileiros, sobretudo da maioria da

população que, segundo eles, buscava então se “embran-

quecer” (Camargo, 2009, p. 373). Pelo mesmo motivo que

em 1920, os organizadores do censo de 1940 acreditavam

-

de então, cerca de 20% da população escolheu essa “não

-

tasse ao censo de 1950.

Desde o primeiro censo, a categoria “pardo” foi in-

o estrato da população que, de acordo com os organiza-

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categoria residual ou mesmo como um não rótulo. Mesmo

é comum que pessoas tenham dúvidas em relação ao sig-

é uma categoria de uso frequente na linguagem cotidiana

(Schwartzman, 1999). Não é gratuito, por exemplo, que no

questionário utilizado no último censo, a opção “pardo”

apareça depois da opção “branco” e “preto”, sugerindo que

a escolha por ela deve ser feita somente após a recusa das

alternativas polares2.

AS DESIGUALDADES RACIAIS E O MOVIMENTO NEGRO

Desde a década de 1940, os pesquisadores contrata-

brasileira constataram, entretanto, a presença de racismo

disseminado na sociedade (maio, 1999). Mas apesar de

1955) ou considerá-las como uma sobrevivência arcaica do

-

cionalmente utilizados por esses autores. Porém, é somen-

Vale Silva foram os primeiros sociólogos a utilizar os dados

do censo para medir não apenas as desigualdades de classe

entre os grupos de cor, mas também as desigualdades de

oportunidades entre eles. Comparando a classe de origem

das pessoas com suas classes de destino, Hasenbalg e Silva

mobilidade social dos autodeclarados “brancos” e dos “não

brancos” (Hasenbalg, 1979; Silva, 1978). Para eles, mesmo

quando comparamos pessoas com a mesma origem socio-

as chances de ascensão social dos brancos chega a ser o

dobro daquela dos “não brancos”.

atestar estatisticamente os obstáculos que se interpõem

à ascensão social dos autodeclarados “pardos” e “pretos”.

Tais obstáculos pareciam difusos pela sociedade e, so-

bretudo, constantes no tempo, o que contestava a inter-

pretação de que a desigualdade racial no Brasil seria um

-

Mas além de utilizar métodos inovadores e chegar a

conclusões inéditas para a época, os livros de Hasenbalg e

Silva contêm outro diferencial metodológico. Para medir a

diferença de mobilidade dos grupos de cor captados pelo

-

da” e “preta” num só agregado, chamado de “não branco”.

-

se ter uma ideia, apenas 7,4% da população nacional se

declarou “preta” no último censo de 2010; contra 47,9%

de autodeclarados “brancos”; 43,2% de autodeclarados

“pardos”; 1,1% de autodeclarados “amarelos” e 0,5% que 4.

Depois dos estudos de Hasenbalg e Silva, pra-

ticamente todas as pesquisas sobre raça e

mobilidade social no Brasil mantiveram tal

estratégia metodológica, agregando “pretos”

entre as chances de vida dos grupos de cor em diferentes

-

balhos é o fato de eles apontarem para o acesso ao ensino

superior como uma das principais barreiras à ascensão so-

cial dos “não brancos” brasileiros, o que contribuiu subs-

em território nacional.

Tudo isso contribuiu para que as análises de Hasen-

das bandeiras históricas dos movimentos negros brasilei-

-

produzidos por uma instituição estatal, reconhecida como

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politicamente neutra, justamente para contestar a imagem

trabalhos dos dois serviram de base para uma verdadeira

Carlos Hasenbalg, por exemplo, coeditou um livro sobre as

histórica militante negra (Gonzalez e Hasenbalg, 1982).

Contudo, enquanto os estudos sociológicos se satis-

faziam em denunciar a discriminação racial brasileira, os

movimentos negros paulatinamente adicionaram a essas

denúncias uma pauta mais reivindicatória e propositiva

militantes começaram a sustentar que um dos obstáculos

à luta por igualdade racial seria justamente a parca consci-

ência identitária do negro brasileiro.

Como já foi dito, a maior parcela dos “não brancos”,

estudados por Hasenbalg e Silva, é de pessoas que se per-

cebem como “pardas” e não como “pretas”. Ainda assim,

esses “pardos” costumam possuir, segundo os autores,

declaram “pretos” e, simultaneamente, uma condição so-

cial muito distinta daqueles que se declaram “brancos”

(Hasenbalg e Silva, 1988).

Para alguns militantes negros, esses dados provam

que o brasileiro que se declara “pardo” é visto pelos outros

Portanto, haveria no Brasil uma vergonha de ser negro que

impediria as pessoas que assim são percebidas de se en-

-

e não racial. Ao termo, tudo isso contribuiria para a fraca

Tabela 1

as categorias de classificação de cor/raça empregadas nos censos nacionais

1872 1890 1920 194019501960

19703 1980199120002010

Nome da variável no questionário

Raça RaçaQuestão ausente

Cor CorQuestão ausente

Cor Cor ou raça

Categorias de classi$cação empregadas

BrancaPretaParda

Cabocla

BrancaPreta

MestiçaCabocla

BrancaPreta

–Amarela

BrancaPretaParda

Amarela

BrancaPretaParda

Amarela

BrancaPretaParda

AmarelaIndígena

Fonte: Instituto Brasileiro de Geogra$a e Estatística http://www.ibge.gov.br/

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Contra essa “vergonha da negritude”, o movimento

capazes de promover o “orgulho negro” e, assim, inverter

(Nascimento e Nascimento, 2000). A instituição da Fun-

-

ta como consequência dessa articulação que demandava

-

ções culturais.

Ainda que os dados trabalhados por Hasenbalg e Silva

-

clusão do movimento negro, há aqui uma sutil mudança

de nomenclatura e, como veremos depois, de diagnóstico.

do censo, falando em “não brancos” ou simplesmente em

“pretos” e “pardos”, o movimento negro defende que todos

os “não brancos” sejam chamados de “negros”.

-

cação racial do movimento negro (que opõe “brancos” e

“negros”) se dá apenas na metade da década de 1990. É

nessa época que um grupo de pesquisadores ligados ao

ligado ao governo federal, começa a se dedicar ao estudo

trabalhos de Hasenabalg e Silva, pesquisadores como Ri-

Jaccoud e Nathalie Beghin (2002) incorporam as técnicas

de utilizarem a dicotomia “brancos” e “não brancos”, os

de “negro”, em consonância com a nomenclatura defendi-

da pelo movimento negro.

-

Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação

Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância

2001 na cidade sul-africana de Durban. Foi a partir da

Conferência de Durban que o movimento negro se arti-

O estado do Rio de Janeiro foi o primeiro a impor

às suas universidades um sistema de cotas raciais logo após a Conferência

de Durban

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-

pensatórias (Alves, 2002; Santos, 2009).

A delegação enviada para a África do Sul pelo governo

brasileiro contava com inúmeros acadêmicos e, frequente-

mente, militantes do movimento negro. Participaram dela

mais de 200 membros de organizações não governamen-

tais do movimento negro, fazendo da delegação brasileira

a mais numerosa comitiva na Conferência (Alves, 2002, p.

-

-

lhida relatora-geral da conferência.

Foi durante a Conferência de Durban que a delegação

-

presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, de-

clara num programa de televisão dominical o apoio a esse

-

ta do debate midiático.

Contudo, não foram envidados grandes esforços do

no ensino superior. Por isso, as primeiras iniciativas par-

tiram dos governos estaduais e de universidades federais

-

dessas cotas não contou com o mesmo consenso.

AS AÇÕES AFIRMATIVAS RACIAIS

suas universidades um sistema de cotas raciais logo após a

Conferência de Durban. Mas embora tenha sido aprovada

em 2001, a lei de cotas do Rio de Janeiro só foi implan-

tada em 2003. Além da enorme polêmica suscitada pela

o retardo na implantação da medida. Um problema de re-

dação da lei, por exemplo, fazia com que a reserva racial

de 40% das vagas se somasse a outra preexistente de 50%

para alunos oriundos de escolas públicas, perfazendo um

total 90% das vagas para cotistas.

modelo adotado pelos militantes negros e pelos pesquisa-

-

-

dos como “pretos” e “pardos”. Portanto, ao propor cotas

para “pardos” e “negros”, o estado do Rio mesclava dois

Evidentemente, essa mistura categorial não

ao lado do termo “pardo”, a lei sugeria que

“preto”. Se essa equivalência é perfeitamente

usual na linguagem, ela confronta a nomen-

clatura e a bandeira de revalorização da negritude levan-

tada pelo movimento negro. Além disso, alguns gestores

universitários destacaram que a ambiguidade da catego-

ria “parda” abriria margem para que pessoas percebidas

-

tica. Por tudo isso, a lei corretiva 4.151, de 2003, suprimiu

cotas apenas para “negros” (20%) e oriundos de escola pú-

blica (20%)5.

Ainda em 2003, as universidades estaduais de três

raciais. Foi também no mesmo ano que a primeira univer-

adotar um sistema de cotas para negros como aquele im-

algumas nuances importantes. Além de ter sido adotado

autonomamente pela universidade, e não por meio de uma

lei exterior à burocracia universitária, o programa da UnB

-

-

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Segundo o manual de inscrição do vestibulando da

UnB, “o candidato [à cota racial] deve ser preto ou pardo e

se declarar como negro” (citar). De um lado, esse enuncia-

se candidatar às cotas, pois é necessário ainda que o can-

suplementar à condição factual de ser da cor “preta” ou

“parda”.

Sa UnB ter adotado uma polêmica comissão de

negritude dos candidatos às cotas por meio de

entrevistas e da avaliação de fotos. A combina-

sugere que a preocupação fundamental das cotas da UnB

“preto” ou “pardo” que é capaz de se conscientizar de sua

identidade racial e defendê-la perante uma comissão que,

aliás, é composta basicamente por membros do movimen-

to negro (Maio e Santos, 2005, p. 194).

É verdade que essa comissão foi adotada em oposição

à recomendação feita por José Jorge de Carvalho e Rita

Segato, dois antropólogos da instituição que redigiram o

projeto de cotas adotado. Mas a despeito disso, essa con-

politização da negritude não é estranha ao pensamento

-

tamente porque elas “despolitizam o posicionamento do

sujeito ao transferir a responsabilidade de assumir sua

condição racial para a comissão” (Carvalho, 2005, p. 244).

Portanto, a intenção original do sistema de cotas da UnB

-

ção da negritude.

A despeito das semelhanças, os sistemas de cotas ra-

-

mentos muito distintos das relações raciais brasileiras e

-

-

des de oportunidades entre brancos e não brancos. Não

2005b, p. 235), além de combinar cotas raciais. Por tudo

-

to da consciência negra [...] teve um papel importante”

(Schwartzman, 2009).

A UnB, por outro lado, adotou um modelo de cotas ra-

ciais que buscou traduzir a posição comumente propalada

pelo movimento negro. Mais do que uma medida redistri-

butivista, a função primordial desse programa seria con-

verter a vergonha de ser negro em orgulho étnico e, mais

ainda, politizar a adesão a dada identidade racial negra.

Por isso, a instituição não se contentou em estabelecer co-

potenciais se reconhecessem como “negros” diante de uma

comissão composta em grande medida por militantes.

As cotas das universidades estaduais do Rio de Ja-

neiro e da UnB foram indubitavelmente as mais discuti-

-

Do outro lado, somente oito universidades adotam ações

-

-

-

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versidades adotam as categorias afros (“afrodescendente”

ou “afro-brasileiro”), enquanto apenas uma universidade

-

ro: “negros” e “pardos”.

A Tabela 2 deixa evidente a preferência das universi-

dades públicas brasileiras pela categoria “negro”. Pode-se

-

tado à militância negra, principalmente na área cultural.

Como destacam Paiva e Almeida (2010), o movimento ne-

gro teve uma importante atuação na divulgação das ações

-

Porém, esse sucesso da categoria “negro” foi apenas

momentâneo. Depois de inúmeras idas e vindas, foi apro-

cotas raciais mandatórias em todas as universidades fede-

a lei de cotas obriga as instituições federais de educação

estudantes que tenham cursado integralmente o ensino

médio em escolas públicas”, sendo que, no preenchimento

dessas vagas deve-se obedecer a proporção de autodecla-

as universidades federais brasileiras a usarem o modelo

raciais à reserva de vagas para estudantes de escolas pú-

blicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

-

-

todeclarados “pretos” e “pardos” no censo ao chamá-los

viabilizou a denúncia de um tipo de discriminação racial

que oblitera a ascensão social dos “não brancos” brasilei-

por seu turno, transpuseram tais conclusões da academia

“não branco”, criada pelos sociólogos, para uma denomi-

nação positiva e identitária: “negro”. Finalmente, outros

Tabela 2

modelos de classificação racial adotados pelas universidades brasileiras (em 2011)

N %

Negros 15 38,5%

Negros (pretos + pardos) 8 20,5%

Pretos ou pardos 8 20,5%

Afrodescendentes 7 17,9%

Negros ou pardos* 1 2,6%

Total 39 100%

Fonte: Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação A$rmativa http://gemaa.iesp.uerj.br

*As universidades estaduais do Rio de Janeiro utilizaram esse modelo antes de 2003. Mas como não houve seleção de acordo com ele, essas instituições não são levadas em conta nesta tabela.

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Não surpreende, portanto, que a lei de cotas tenha

-

que a discriminação racial sofrida pelos não brancos não

se restringe às classes baixas, mas, ao contrário, atinge

mormente os pretos e pardos de classe média. Pesquisas

como a de Ribeiro (2006) contêm evidências convincentes

de que a ascensão social dos não brancos é mais fortemen-

te obliterada justamente na passagem das classes médias

às classes altas. Se isso for verdade, a submissão das cotas

-

sigual das oportunidades para aqueles que estão no meio

da pirâmide.

De todo modo, nenhum dos dois modelos é perfeito

-

tenham que ser produzidos para avaliar até que ponto o

-

acertada diante do contexto atual, tudo indica que o pardo

deixou de ser um simples obstáculo epistemológico para

-

tado brasileiro.

[email protected]

cientistas sociais, alguns deles ligados a instituições esta-

mudança de nomenclatura ao denominar como “negros” a

soma dos “pardos” e “pretos” recenseados.

movimentos negros puderam falar em nome do interesse

da metade dos brasileiros que é, ao mesmo tempo, a parte

mais pobre da população. Graças a isso, eles conseguiram

discriminação racial na manutenção das desigualdades so-

ciais, o que redundou na legitimação e na posterior intro-

movimentos negros podem hoje falar em nome do interes-

se da metade dos brasileiros ditos “negros”, a maior par-

te dessa população não se reconheceria enquanto tal caso

Como algumas pesquisas demonstram, só pequena parte

autodeclarados “pretos” e “pardos” e chamá-los apenas de

“negros” é uma forma de reconhecer a condição social se-

melhante desse contingente e, sobretudo, subverter aquilo

que historicamente foi visto como mácula em motivo de

orgulho. Por outro lado, quando tal fusão desliza para a

pedagogo identitário, encarregado de “conscientizar” as

massas de um interesse que, a rigor, é objeto de disputas

2. http://censo2010.ibge.gov.br/images/pdf/censo2010/questionarios/questionario_basico_cd2010.pdf

-

pelo regime militar da ideologia da democracia racial como ideologia

4. http://censo2010.ibge.gov.br/

de policiais civis, militares, bombeiros militares e de inspetores de se-

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/f25edae7e64db53b032564fe-005262ef/e50b5bf653e6040983256d9c00606969?OpenDocument&Highlight=0,COTAS

NOTAS DE RODAPÉ

MEU MULATO INZONEIRO

INTELIGÊNCIAI N S I G H T

91OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO 2013

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