o papel do terapeuta de famÍlia sistÊmico no tratamento do ... gabriela santana gugliotta.pdf ·...

34
1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “ LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ALCOOLISMO Rio de Janeiro 2004

Upload: vumien

Post on 07-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

1

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO “ LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

Rio de Janeiro 2004

Page 2: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO

TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

AUTORA: JÚLIA GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA ORIENTADOR: CELSO SANCHES CO-ORIENTADOR: LÚCIA M. T. GRAEL JORGE

Page 3: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

3

Rio de Janeiro 2004

Page 4: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

4

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS –GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

Monografia de conclusão do curso de Pós-graduação em Terapia de Família

Da Universidade Cândido Mendes.

Rio de Janeiro, janeiro de 2004

Page 5: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

5

AGRADECIMENTOS

Em função da realização desta pesquisa e do trabalho com dependência química, tive a

oportunidade de conhecer muitas pessoas e compartilhar de seus saberes e, em alguns

casos , também da amizade. A essas pessoas ofereço minha gratidão.

Page 6: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

6

RESUMO Esta pesquisa para conclusão do curso de pós-graduação em Terapia de

Família, foi por mim realizada tendo em vista a experiência que trago no atendimento

com alcoolistas numa instituição pública.

Durante os anos em que venho trabalhando com esta clientela , pude perceber

uma demanda cada vez mais crescente, incluindo-se aí, não somente o alcoolista , mas

também seus parentes e amigos.

Atualmente, o alcoolismo é um grave problema de saúde pública, que por isso

vem envolvendo a cada dia, um número significativo de profissionais que empreendem

esforços para sua compreensão.

Dessa forma, para ampliar o campo de conhecimentos e de técnicas terapêuticas

usadas no tratamento do alcoolismo, foi feita uma pequisa para abordar o papel do

terapeuta de família sistêmico no tratamento do alcoolismo.

Observou-se ser de extrema importância o papel do terapeuta de família

sistêmico, tendo em vista que o tratamento não se encontra direcionado ao alcoolista e ,

sim , a todos os familiares , que também estão envolvidos neste processo , que envolve

segredos e negação de ambas as partes , que precisam ser trabalhados pelo terapeuta ,

para que com a verdade, possa surgir um novo equilíbrio para a família.

Page 7: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

7

METODOLOGIA

A metodologia utilizada baseia-se num estudo do tema proposto através de

pesquisa bibliográfica de autores da área da dependência química e da terapia de família.

Além desta pesquisa bibliográfica , pude contar também com a experiência de

campo na instituição em que desenvolvo minhas atividades na área de dependência

química, e com os conhecimentos adquiridos neste curso de pós-graduação em terapia de

família.

Esta monografia foi dividida em capítulos que tratam inicialmente do tema do

alcoolismo, passando pelo tema da terapia de família e do papel do terapeuta de família,

onde em seu término são feitas as considerações finais acerca desses papéis

desenvolvidos pelo terapeuta de família sistêmico.

Page 8: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

8

SUMÁRIO

Introdução-----------------------------------------------------------------07 Capítulo I I.1- Alcoolismo------------------------------------------------------------08 I.2- Perfil do Alcoolista--------------------------------------------------12 Capítulo II II.1- Família---------------------------------------------------------------16 II.2- Famílias Adictivas-------------------------------------------------18 Capítulo III III.1- Terapia de Família- Abordagens Sistêmicas------------------22 III.2- O Papel do Terapeuta de Família Sistêmico------------------25 Capítulo IV IV.1- Considerações Finais--------------------------------------------28 Bibliografia-------------------------------------------------------------30

Page 9: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

9

INTRODUÇÃO

As drogas em geral , incluindo o álcool, existem e vêm sendo utilizadas na

história

da humanidade desde a antiguidade através de rituais de cura, místicos e ou religiosos,

quando em geral estava sob o controle da coletividade por representar hábitos sociais. A

droga permanece até os dias de hoje como algo ao mesmo tempo lícito e ilícito, tendo

em vista que a política em vigor permite o consumo livre de bebidas alcoólicas e do

tabaco (pequenas restrições), e tenta reprimir o uso das demais drogas.

O trabalho experimental realizado por mim em instituições públicas, revelou

que há uma grande demanda de pacientes que buscam atendimento em dependência

química, sobretudo nos casos de alcoolismo. A clientela que busca atendimento nos

hospitais e demais instituições encontra-se em estado avançado da dependência química

na maior parte das vezes, por falta de informações sobre a doença.

A dependência química é um tema que vem envolvendo a cada dia, um número

significativo de pesquisadores que empreendem esforços para sua compreensão, tendo-

se observado que o tratamento do alcoolismo vai além do atendimento ao alcoolista,

estendendo-se por toda família ou amigos próximos que estejam envolvidos no processo.

Por isso, venho através deste estudo, levantar qual o papel de um terapeuta de

família sistêmico no tratamento do alcoolismo, visto ser este trabalho de grande

importância para esta questão que é um grave problema de saúde pública atualmente no

Brasil.

Este trabalho faz um levantamento bibliográfico através de literatura específica

sobre o alcoolismo e a terapia de família, levando-se em conta também, a minha

experiência como terapeuta e de outros profissionais da área além da participação em

eventos na área.

Page 10: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

10

CAPÍTULO I

I.1-ALCOOLISMO

Considera-se alcoolismo como doença quando o permanente abuso de bebidas

alcoólicas suscita dependência acompanhada de prejuízos biopsicossociais, detectáveis

por métodos usuais de diagnóstico médico-sociais. Esta dependência pode manifestar-se

pela perda da capacidade de controlar a quantidade de bebida ingerida.

Há uma controvérsia a esse respeito, entretanto, existe certo consenso de que:

1-Alcoolismo é uma doença;

2-O alcoolista pode apresentar prejuízos relacionados com o uso do álcool em todas as

áreas da vida (prejuízos físicos, mentais, morais, profissionais, sociais e outros);

3-O alcoolista perde a capacidade de controlar a quantidade de bebida que ingere, uma

vez que inicie a ingestão (dependência física).

Ser dependente do álcool é a mesma coisa que ser dependente de outras drogas.

Mas, a maior incidência e a gravidade dos efeitos tornam o álcool um problema social

bem mais sério. Ingerir álcool em quantidade é algo socialmente aceito em nossa cultura,

daí vem a grande dificuldade de se definir o alcoolismo. Segundo a OMS, alcoolistas são

“aqueles bebedores em excesso cuja dependência do álcool atingiu tal grau que

apresentam sensível perturbação mental ou interferências em sua saúde física e mental,

seus relacionamentos pessoais e suas funções normais , sociais ou econômicas.”

Partindo da investigação feita por vários autores, consideramos o alcoolismo

como doença crônica e progressiva, manifestada pela ingestão repetida de bebidas

alcoólicas com dificuldade de abstenção e perda de controle, causada quando o

indivíduo começa a beber, desencadeando, desta forma, problemas biopsicossociais.

Todo alcoolista apresenta três características básicas , através das quais pode-se

detectar a doença:

Page 11: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

11

1-Negação da doença: o doente nega que bebe. Quando chega a admitir que bebe,

diminui a quantidade( diz que bebe menos do que realmente bebe);

2-Projeção: sempre tem motivos para beber , sejam de tristezas ou de alegrias.

3-Onipotência: diz que para de beber a hora que quiser.

Enquanto o indivíduo apresentar esses mecanismos está sob o domínio da

doença. O indivíduo, uma vez alcoolista, será sempre um doente. Mesmo estando em

abstinência, deverá manter-se em estado de alerta o resto da vida, evitando, dessa

forma, o primeiro gole, que poderá desencadear uma recaída, vindo a tornar-se

novamente um dependente do álcool.

Sonenreich coloca que “o paciente, mesmo desintoxicado, em ausência de

sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

fisiologicamente dependente do álcool e sentisse o desejo incontrolável de ingerir

bebidas alcoólicas.”

A partir do momento que o alcoolista passe a depender do álcool e que não

possa decidir o quanto vai beber, passa a ter um vida regida pela dependência, pela

necessidade de continuar bebendo e evitar os sintomas da privação do álcool. Submetido

a esta dependência, passa ter prejuízos nas áreas de sua vida física, fisiológica, familiar ,

social e moral.

Os prejuízos decorrentes pela ingestão de bebidas alcoólicas vão aumentando e

o alcoolista, como defesa, utiliza todos os recursos para que nada se interponha entre ele

e o álcool: ameaça, promete, seduz e mente.

De um modo geral, o alcoolista é inseguro, tímido, geralmente aparecendo

quando está em situação que lhe obrigue a exercer atividade. Como exemplo, podemos

citar o alcoolista frente ao casamento. Muitas vezes, não está preparado para assumir a

responsabilidade de uma família. Ao iniciar sua vida conjugal, bebe mas não cria

problemas. A seguir o alcoolismo se exacerba , pois um dos fatores responsáveis é a

relação com a esposa, na qual espera encontrar ajuda para as suas necessidades

insatisfeitas e de quem pode depender.

O alcoolista passa por situações de angústia e tensões quando sente-se inferior a

nível social, sexual e emocional. Através do álcool, descobre as facilidades e

Page 12: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

12

dificuldades que a intoxicação lhe oferece para estabelecer contato com os outros, assim

como exerce efeitos desinibidores tanto agressivos quanto sexuais, reduzindo as

sensações desagradáveis, que passam no momento.

A conduta do alcoolista varia de indivíduo para indivíduo. Em alguns casos, o

álcool leva a uma conduta violenta e desequilibrada, enquanto a outros leva a apatia e

alienação.

Sonenreich, ao relatar os aspectos do psiquismo do alcoolista diz que: “a

conduta, o pensamento e os sintomas do alcoolista são dos mais pobres, tanto no

“delirium tremens” quanto nas formas delirantes crônicas , nos distúrbios de

comportamento , na conduta cotidiana. Parece uniformizado e, ao contato do mesmo,

descobrimos muito mais do alcoolismo do que o indivíduo”.

Muitas vezes não deixam transparecer para os estranhos que estão alcoolizados.

Já no ambiente familiar, quando sentem que há um medo da família frente a sua pessoa,

tornam-se cada vez mais oponentes e agressivos, chegando a cenas de quebra-quebra,

agressões físicas ou de colocar todos para fora de casa, argumentando que bebeu porque

lhe incomodam. São nesses conflitos que alguns utilizam-se de instrumentos como

armas de fogo, facas e outros objetos para agredirem a família. Geralmente, a esposa é a

vítima e, raras vezes, utilizam essas armas contra eles próprios.

Todo alcoolista, pela rejeição que sofre da família e do meio, é carente de afeto

e considera-se um injustiçado social. Deseja ser amado , porém nega afeto,

principalmente com o cônjuge e filhos.

O alcoolismo na mulher, pode ser menos aceito socialmente que no homem, é

de mais difícil diagnóstico, uma vez que a mesma bebe inicialmente as escondidas do

marido e filhos.

Segundo Nadvorny , “o alcoolismo não atinge apenas um indivíduo, mas sim

toda a família. O desajuste que provoca no lar, o drástico impacto na formação da

personalidade dos filhos, mostra que nós estamos diante de um indivíduo enfermo, mas

de uma família que adoeceu e é ela em conjunto que deve ser recuperada.”

Os prejuízos causado à sociedade pelo álcool não se limitam só aos acidentes. A

Associação Brasileira de Estudos do Álcool e do Alcoolismo avalia, com base em

pesquisas realizadas em 1982, que a perda econômica nacional provocada pelo consumo

Page 13: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

13

elevado de bebidas alcoólicas situa-se em torno de 9,5 bilhões de dólares por ano. Aí

entram as faltas ao trabalho, as licenças médicas, as consultas clínicas e psiquiátricas, os

custos de tratamento, as perdas de produtividade, os acidentes de trabalho , o

desemprego.

O Ministério da Saúde reconhece que o alcoolismo é a segunda causa de

internações em hospitais psiquiátricos e é responsável por mais de 40% de todas as

intervenções hospitalares, seja por doenças (produz lesões no cérebro, nervos, pulmões,

coração, estômago, fígado, sangue) seja pelos acidentes que provoca ( estudo realizado

em 1978 sobre causas de acidentes de trabalho mostrou que 1,5 milhão de acidentes

ocorridos naquele ano tiveram como origem o uso excessivo de bebidas alcoólicas ).

Em 1979, segundo levantamento do Ministério da Saúde, nada menos que 9,5

mil brasileiros morreram devido à cirrose hepática e outras doenças do fígado geradas

pelo alcoolismo. Em 1998, no segundo Encontro Internacional do Pâncreas realizado em

São Paulo, foi dito que o Brasil tem uma das maiores incidências de pancreatite crônica

do mundo, sendo que 94% dos casos são causados pelo álcool.

A Divisão Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde avalia que a

bebida mata 10% mais que hepatite a vírus, 5,7% mais do que câncer do esôfago e 4,5%

mais do que a leucemia. O mais sério nisso tudo é que essa mortalidade concentra-se em

grupos etários de maior atividade produtiva: entre os 23 e 34 anos e entre os 45 e 54

anos. Por isso, as autoridades sanitárias consideram o alcoolismo como “ um flagelo que

causa assustadora devastação econômica e social”.

Para contornar essa “devastação” nas empresas- avalia-se que 7 a 10% dos

funcionários de companhias privadas e estatais são alcoolistas ou dependentes de outras

drogas- de dois anos para cá as grandes corporações vêm desenvolvendo programas de

recuperação de funcionários dependentes. Especialistas em recursos humanos chegaram

à conclusão que sai mais barato recuperar esses funcionários de que formar novos, pois

são elevados os custos de demissão e admissão de um novo funcionário e seus

treinamentos.

Essa mudança de postura levou os serviços médicos e sociais das empresas ,

que antes aconselhavam a demissão dos empregados alcoolistas, com o apoio da própria

CLT, a desenvolver programas de atendimento a esses empregados e as suas famílias,

Page 14: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

14

seja encaminhando-os a clínicas especializadas, seja realizando campanhas internas

contra o álcool. A importância desse trabalho é enorme.

Na opinião do Dr. Vicente Antonio de Araújo, do setor de Psiquiatria do

Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e da Associação Brasileira de

Estudos do Álcool e Alcoolismo, “ o lugar mais adequado para identificação precoce do

alcoolismo é o local de trabalho”. Se as empresas se conscientizarem disso, acredita o

médico, muita coisa pode ser feita nesse campo.

I.2-PERFIL DO ALCOOLISTA

Segundo Bergeret(1991) , personalidade, em psicologia, aponta para a noção de

“estrutura”, determinada por um certo número de elementos estáveis e definitivamente

adquiridos pelo homem. Partindo desta idéia, é impossível enquadrar todos os drogaditos

(alcoolistas) numa determinada categoria estrutural, pois não se evidenciou até hoje,

nenhuma estrutura induzindo ou predispondo a dependência de drogas.

São traços comuns às diferentes personalidades drogaditas: as carências

imaginárias; as manifestações comportamentais e as carências identificatórias.

Nas carências imaginárias não há um bom funcionamento imaginário

(atividade verdadeiramente mental e criadora). Este entrave no funcionamento, acarreta

regressões das mentalizações que constituem a riqueza de ser humano em direção a

comportamentos mais desafetivados, o que aproxima essas reações do adulto das

relações comportamentais automáticas banais na criança. Limitam as trocas afetivas com

o mundo exterior e a realidade que ele representa. O indivíduo é incapaz de criar para si

uma antecipação de desejos e prazeres realizáveis nas trocas. O indivíduo concebe o

universo exterior como frustrante e recusando-lhe uma ajuda exterior e mágica, única

que poderia preencher seu vazio interior (o drogadito busca aporte na droga).

Em relação as manifestações comportamentais podemos dizer que toda

regressão das atividades mentais implica automaticamente um deslocamento da energia

Page 15: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

15

psíquica em direção a manifestações muito mais rudimentares e elementares do registro

comportamental. A exacerbação do funcionamento comportamental (desejo de reagir

com atos , visando compensar as carências afetivas e a não-mobilização do universo

imaginário), traduz uma sujeição do corpo a serviço do comportamento-adição.

Geralmente ocorre projeção, defesa que consiste em situar no exterior as fontes de

dificuldades, considerando-o maldito e contra o qual terá motivos para lutar e

oportunidade para acusa-lo de todos os seus males, inclusive de suas manifestações

comportamentais. Entre os comportamentos mais graves encontrados no drogadito

figuram as condutas suicidas.

Em relação as carências identificatórias , observa-se que a personalidade dos

drogaditos tem as maiores dificuldades para se afirmar diante dos outros e de si próprio,

devido a modelos parentais sólidos, ausentes. Como conseqüências, vêem-se crianças

inclinadas à imitação, mais do que à identificação( incapacidade de integrar qualidades

dos pais, absorve-las em si, confrontar-se com eles, e colocar-se no lugar deles, o que

desemboca numa verdadeira identidade- plano de relacionamento). Essa carência limita

o indivíduo a uma passividade diante das pressões externas- grupo social e seus líderes.

Os ideais pessoais permanecem vagos , inconsistentes, desmedidos, irrealistas. Como

conseqüências há uma ausência das instâncias morais internalizadas, necessárias para o

bom funcionamento relacional. As instâncias morais externas conduzem a revolta,

incapacitando o indivíduo de traçar uma linha original e benéfica para si e para os

outros.

Se existir algum traço estrutural típico de uma personalidade de drogadito está

na falta e na inadequação que produz face à exigência de ter que se aceitar como

limitado. Consumir drogas significa estar à procura de “algo” a mais para preencher uma

falta, que pode ser mais imaginária do que objetiva , mas não deixa de ser uma realidade.

Também não podemos deixar de falar na auto-estima dos alcoolistas, que é o

valor que cada pessoa confere a si mesma, separada e independentemente das

percepções que os demais possuem em relação a ele. O sentimento de auto-estima que

uma pessoa apresenta desenvolve-se a partir das experiências básicas que a esta se

apresentam no seio de sua família de origem. De acordo com Mony Elkaim, as pessoas

com baixo índice de auto-estima mostram-se ansiosas e inseguras em relação a si

Page 16: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

16

mesmas. Em virtude de não se sentirem seguras em relação a si mesmas e não poderem

apreciar sua própria singularidade, tendem a preocupar-se em demasia com o que os

outros pensam a seu respeito.

O atentar constante às sugestões que partem dos demais com relação ao próprio

valor se constitui num processo exaustivo que estimula a dependência e causa o aumento

da ansiedade. Esta se manifesta por intermédio de diferentes níveis de tensão e

desconforto físico e pelas discrepâncias de comunicação verba e interpessoal

apresentadas pelo indivíduo. Observa-se neste a existência de uma incongruência entre o

que realmente sente e o que comunica, baseado numa percepção e numa expectativa que

lhe são exteriores. O processo natural de inclusão e exclusão, que se observa em todos os

tipos de relação, tende a ser interpretado como rejeição pelas pessoas que apresentam

um baixo nível de auto-estima. Esse sentimento de exclusão , por sua vez, dá origem a

um aumento dos níveis de ansiedade e de incerteza apresentados pela pessoa, o que

provoca dependência e tende a incrementar a incongruência comunicacional.

As pessoas com baixos índices de auto-estima geralmente apresentam também

os oito aspectos do self inadequadamente desenvolvidos e integrados (Mony Elkaim,

1998). Uma vez que esses indivíduos não se encontram voltados para o crescimento e,

de fato, resistem à mudança e tendem para a conformidade, neles o desenvolvimento dos

vários aspectos do self sofre uma limitação. E, de acordo com a orientação sistêmica,

quando uma parte sofre uma limitação, o todo também é atingido por esse fato. Não é de

surpreender , portanto, que a estrutura hierárquica permeie as famílias com baixo índice

de auto-estima. Em tais famílias a conformidade em relação aos papéis e regras

familiares torna-se o meio pelo qual a pessoa virá a definir o self. E, uma vez baixo o

nível de auto-estima, será do outro que a validação do self deverá ser adquirida. A

energia será investida na aquisição do poder e do reconhecimento dentro da família; as

relações passam a se caracterizar por uma base de submissão e domínio. A mudança é

desestimulada, uma vez que representa uma ameaça ao equilíbrio do poder familiar. O

estresse pressiona de tal modo o grupo familiar que se dá um aumento no sentimento de

baixa auto-estima. A comunicação sofre distorções e torna-se incongruente. Surgem

numerosas manifestações de baixos índices de auto-estima, tais como delinqüência,

abuso de crianças, doenças e abuso de substâncias.

Page 17: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

17

O conceito de auto-estima, em sua teoria , implica que todo o indivíduo é capaz

de amar e nutrir a si mesmo. Ao realizar isso, minimiza sua dependência em relação aos

demais e acentua seu funcionamento autônomo. E ainda mais: é pela via da separação e

da autonomia que um indivíduo torna-se capaz de verdadeiramente vincular-se ao outro.

Reconhecendo e aceitando sua própria competência e sua auto-suficiência, este alcança

sua capacidade de relacionar-se profundamente com o outro sem sentir-se ameaçado de

ser por ele engolfado.

Page 18: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

18

CAPÍTULO II

II.1- FAMÍLIA

A família que hoje concebemos, não é a mesma de sua origem . Com o passar

dos tempos , de acordo com as questões econômicas e sociais, houveram mudanças

significativas .

Segundo o estudo de Philippe Ariès (1981), houve uma passagem do público ao

privado e o surgimento do sentimento de família. Esse sentimento era desconhecido na

idade média, vindo a surgir nos séculos XV- XVI e se expressando definitivamente no

século XVII devido às mudanças importantes da atitude da família para com a criança.

Na Idade Média, a organização social estava baseada nos ofícios e tudo se dava

nas ruas, no público. Até a criação dos filhos se dava fora, sendo as crianças tratadas

como pequenos adultos e não havia preocupação com a educação e, sim, com o serviço.

As cenas da vida cotidiana constantemente reuniam crianças e adultos ocupados em seus

ofícios. Não havia um sentimento profundo que ligava pais e filhos. Os cômodos da casa

eram indiferenciados e se constituíam nos principais lugares públicos para a

sociabilidade. Nos espaços onde as pessoas se alimentavam, também dormiam,

namoravam, dançavam, trabalhavam e recebiam visitas. Não havia preservação da

criança na vida do adulto e ela participava de tudo. A família era mais uma realidade

moral e social do que sentimental, voltando-se para a transmissão de bens e do nome.

À partir do século XVI, surge a imagem da criança, o retrato de família ligado

a religião, com representações de casamentos, morte, entre outros, marcando o início do

privado. Com a burguesia ( XVI /XVII), surge a valorização do sentimento de família.

Com o Capitalismo, é a criança que vai chamar pelo lado da intimidade, criando a

agregação, onde a continuação da família se dá pelos filhos. A infância torna-se o maior

representante do sentimento de família e ambos conjugam com a religiosidade. O ritual

religioso vem legitimar a união do casal e os rituais acontecem em família.

Page 19: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

19

No século XVII, houve a acentuação da importância das escolas, que tornou o

instrumento normal da iniciação social- passagem da infância ao estado adulto. Houve a

necessidade de afastar as crianças do meio dos adultos, levando a uma aproximação da

família e das crianças , do sentimento de família e do sentimento da infância. A família

se concentrou em torno da criança, havendo uma intimidade maior entre pais e filhos. Os

progressos do sentimento da família seguem os progressos da vida privada, da

intimidade doméstica.

No século XVIII, a família começou a manter a sociedade à distância,

confinando-a a um espaço limitado. A organização da casa assegurava a independência

dos cômodos. Houve uma separação da vida mundana , da profissional e da privada.

Com isso, a intimidade foi preenchida por uma família reduzida aos pais e às crianças.

As questões de saúde e higiene ocupam lugar importante. Saúde e educação seriam as

duas principais preocupações dos pais. Esse grupo de pais e filhos, estranhos ao resto da

sociedade, é o grupo da família moderna, onde a preocupação com a igualdade entre

filhos é uma das marcas características. A típica família moderna, formada pelo homem

provedor financeiro, pela mãe dona de casa e pelos filhos solteiros vivendo sob o mesmo

teto, foi também profundamente marcada pela dicotomia entre papéis públicos e

privados atribuídos segundo o gênero, instituindo uma divisão sexual do trabalho.

Constituiu-se ,então, um mundo feminino centrado na privacidade do lar , e um mundo

masculino voltado para o espaço público.

O padrão atual familiar continua com a predominância da família nuclear

burguesa, apesar de algumas modificações e adaptações. A estrutura familiar que associa

amor e autoridade ainda prevalece, com a rígida divisão dos papéis sexuais e a repressão

à sexualidade. Atualmente, traz conflitos instalados em seu interior , que , em geral, são

desencadeados pelas gerações mais novas.

Segundo Goldenberg e Goldenberg (1991), “ Uma família é um sistema social

natural, com propriedades próprias, que desenvolveu um conjunto de regras, sendo

repleto de papéis nomeados e designados para seus membros; tem uma estrutura de

poder organizada , com formas de comunicação desenvolvidas de maneira aberta ou

intrincada e, que elabora formas de negociar e resolver problemas de maneira que várias

tarefas sejam desempenhadas efetivamente.”

Page 20: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

20

II.2- FAMÍLIAS ADICTIVAS

A negação é uma das características importantes que o terapeuta deve avaliar

nas famílias adictivas.

Existem múltiplos níveis da negação em famílias adictivas como as mentiras,

segredos e o silêncio. A natureza complexa do segredo em uma família adictiva está na

verdade, no núcleo do problema. O comportamento disfuncional, tal como beber ou

consumir drogas, mais cedo ou mais tarde pode tornar-se absolutamente manifesto. O

segredo mais bem- mantido, entretanto é o acobertamento do significado e da

conseqüência deste comportamento. O fracasso para designar o problema como sendo

um problema- resumindo, a sua negação- tem os mesmos efeitos sobre a guarda de

segredos: o bloqueio de evidências que evitam que uma pessoa possua informações , as

revele ou faça uso delas. È neste meio misterioso que o sistema familiar adictivo

paralisa-se, ocorrendo, então, uma incapacidade para compartilhar ou fazer uso do

segredo que todos conhecem.

Na família adictiva, a negação como uma forma de comportamento mantenedor

do segredo opera em muitos níveis. Em seu núcleo, a negação inicia-se na forma de uma

mentira: “não, eu não bebo”, “só tomei uns golinhos” etc.

Em alguns casos, o fato do uso de álcool ou de drogas é reconhecido, mas sua

natureza problemática é negada. Ao final, a mentira vai da criação de uma distorção

interacional da realidade à criação de uma distorção interna da realidade: “ meu beber

não é um problema. Não vou perder meu emprego porque bebo, mas porque meu chefe

me detesta.”

Eventualmente, a pessoa engajada no processo de negação começa a realmente

acreditar nas mentiras que conta aos outros. A mentira básica – “ o que estou fazendo

não tem as conseqüências que parece ter” – eventualmente leva a formas mais profundas

de guarda de segredos. O indivíduo começa a contar mentiras para encobrir outras

mentiras. O bebedor pode esconder casos extraconjugais, outras formas de

comportamento sexual, comportamentos ilegais etc. À medida que as mentiras e os

Page 21: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

21

segredos aprofundam-se, ocorre o mesmo com a distorção do afeto. O nível mais

profundo e complexo da manutenção de segredos na família adictiva manifesta-se como

silêncio- ausência de todas as formas de comunicação direta sobre os sentimentos. A

manutenção de segredos demanda, em última análise , uma retirada da emoção do

contexto relacional. Aquele que guarda o segredo está “desaparecido em ação”, ou seja,

sua presença física na família dá a impressão de que sua presença emocional foi

totalmente retirada ou completamente distorcida pela má representação, defensividade

ou extrema reatividade que tem a função de proteger o segredo (Imber- Black, 1994).

A mentira cria segredos, o silêncio mantém segredos e a guarda de segredos

alimenta a negação. A negação está no núcleo de qualquer discussão sobre o processo

adictivo.

O conceito de negação faz parte do programa de 12 passos dos Alcoólicos

Anônimos e Al-Anon. A comunidade para o tratamento do alcoolismo tem endossado e

adotado a negação em geral, tanto como uma característica comportamental do

alcoólico, quanto como um indicador de diagnóstico do alcoolismo. A afirmação “ Ele

ainda está em negação” transmite uma clara mensagem a todos os que falam a

linguagem da adicção. Isto significa: “ Ele ainda está mantendo seu problema em

segredo de si mesmo e, portanto, o primeiro estágio da cura está sendo bloqueado”. A

negação é geralmente definida como um mecanismo de defesa, que pode ser tanto

adaptativa quanto patológica.

Nace ( 1987), apresenta as defesas adjuntas que apóiam ou aumentam a

negação: racionalização, projeção, minimização, evitamento e adiamento. Ele sustenta

que o processo de negação deve ser compreendido como tendo quatro características

importantes: é amplamente inconsciente e, neste sentido, difere das mentiras ou do

engodo deliberado, protege a opção por beber , que é experienciada como uma

necessidade de vida ou morte, evita que um senso frágil de self seja sobrepujado pela

realidade, além de proteger igualmente o ego do senso sobrepujante de impotência e

desespero.

A estrutura defensiva do adicto funciona no sentido de ajuda-lo a evitar

encontros humanos íntimos, bem como o contato íntimo com seus próprios sentimentos.

Compreendendo o poder protetor do sistema de negação, é importante que o terapeuta

Page 22: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

22

fique alerta contra uma “destruição” prematura deste, pois, este tem a finalidade de ser

um adesivo que mantém coeso um sistema abalado de auto-estima. E é a tática através

da qual a ansiedade, de outro modo esmagadora, pode ser contida.

Sob esta perspectiva, a guarda de segredos ou a negação do adicto pode ser

vista não tanto como um comportamento deliberado, mas como um comportamento

funcional, um mecanismo protetor empregado em face de temores maciços de ruptura

em resposta às pressões da realidade. Os efeitos fisiológicos do álcool sobre a memória

tendem a reforçar a negação. Os blackouts, a “recordação eufórica” e lapsos de memória

relacionados a intoxicação crônica podem ajudar no processo de “esquecimento” e,

portanto , manter o segredo.

A partir desta perspectiva, torna-se igualmente claro que a negação

correspondente que surge dentro do sistema familiar é motivada pela necessidade da

família de manter-se a si mesma em face de temores cada vez mais profundos de

“desmoronar”. A guarda de segredos gera maior guarda de segredos e a negação também

opera ao nível das mentiras, segredos e silêncio para os outros membros da família. Por

exemplo: “Não, meu marido não bebe” ou “isto não é um problema”. Mais

insidiosamente, o funcionamento inadequado do alcoólico é visto com uma

desconsideração “benigna” e outros na família simplesmente fazem mais para esconder

seu impacto. Quando a realidade do uso de álcool ou as drogas é reconhecido, o casal

ou os filhos negam ou racionalizam que isto tenha um impacto ou significado para os

outros na família.

Eventualmente, os membros da família adotam seus próprios comportamentos

secretos, escondendo garrafas, dinheiro,etc. Quando seus temores do alcoolismo são

confirmados, entretanto, eles podem manter as evidências para si mesmos e sofrer

sozinhos, sem revelar a ninguém o segredo que descobriram.

A manutenção desses segredos alimenta a negação: o que está escondido não

existe realmente e não precisa ser discutido. Os membros da família, juntamente com o

adicto, começam a crer em suas próprias mentiras. A adicção torna-se um segredo que

todos mantêm de si mesmos e dos outros. A comunicação e a interação familiar

assumem uma qualidade distorcida. A tensão resultante tem como conseqüência maior

Page 23: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

23

consumo de bebida, de drogas ou de comportamento compulsivo por parte de outros

membros da família.

Concluindo , o silêncio impera na vida familiar. O segredo emocional entre e

dentro dos membros da família torna-se a norma. Todos os membros da família

retraem-se emocionalmente uns dos outros. No processo, as capacidades para a mútua

satisfação das necessidades e para o crescimento têm seu desenvolvimento paralisado.

A famíla oscila entre extremos de profundo silêncio e falta de engajamento e períodos de

extrema reatividade que mascaram a emoção autêntica. Uma emoção é expressada como

algo mais : a raiva torna-se uma profunda necessidade de controlar, a dependência torna-

se vergonha. Os sentimentos reais permanecem escondidos e não-manifestados.

Page 24: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

24

CAPÍTULO III

III.1-TERAPIA DE FAMÍLIA :ABORDAGENS SISTÊMICAS

O campo da terapia de família pode ser dividido, de uma maneira geral , em

abordagens sistêmicas e abordagens psicanalíticas. Neste estudo falaremos apenas das

abordagens sistêmicas.

A terapia familiar evoluiu a partir de uma multiplicidade de influências tendo

recebido contribuições de diferentes áreas do conhecimento. No final da primeira

metade do século , após publicação em 1948 por Norbert Wiener do livro Cybernetics,

várias ciências começam a enfatizar os sistemas homeostáticos com processos de

retroalimentação (feedback) que tornam os sistemas autocorretivos. Assim

desenvolvimentos teóricos da biologia, da sociologia, da antropologia, da informática,

da teoria geral dos sistemas, influenciam significativamente as primeiras formulações da

teoria e da técnica do trabalho terapêutico com famílias.

Podemos destacar várias teorias de autores que colaboraram para o surgimento

da terapia familiar. Um importante precursor foi Adler , que enfatizou na sua teoria do

desenvolvimento da personalidade, a importância dos papéis sociais e das relações entre

estes papéis na etiologia da patologia. Influenciado pelas teorias de Adler, Sullivan

coloca que a doença mental tem origem nas relações interpessoais perturbadas e que um

entendimento mais completo do indivíduo só pode ser alcançado no contexto de sua

família e de seus grupos sociais. Paralelamente a este estudo, Frieda Fromm-Reichman

estuda a relação mãe-filho como possível fonte de patologia e formula o conceito de mãe

esquizofreno-gênica. No final da segunda guerra, surge o movimento das comunidades

terapêuticas, proposto por Maxwell-Jones, para a reformulação da assistência

psiquiátrica. A idéia fundamental é que a melhora do quadro clínico do paciente vai

ocorrer na medida em que ansiedades e conflitos surgidos nas relações entre os membros

da comunidade hospitalar possam ser trabalhados. Em seguida, Pichon-Rivière inclui a

Page 25: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

25

família na sua compreensão da doença mental e desenvolve a noção de “porta-voz”

como depositário da patologia que é de toda a família. Todos estes movimentos,

formulações teóricas e novas compreensões da patologia propiciam o surgimento dos

primeiros estudos no campo da terapia familiar propriamente dita.

Os Estados Unidos , que estão agora na terceira geração de terapeutas

familiares, reclamam para si o pensamento sistêmico no trabalho clínico com famílias. A

partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias escolas de

terapia familiar e vários institutos e centros de atendimento e de formação foram criados.

Os autores das abordagens sistêmicas conceituam sistemas interacionais como

dois ou mais comunicantes no processo de definição da natureza de suas relações. O

sistema familiar é visto como um circuito de feedback negativo, constantemente

regulado, na medida em que tende a preservar seus padrões estabelecidos de interação,

buscando sempre um equilíbrio , que é mantido pelas regras de interação familiar.

Quando por algum motivo, estas regras são quebradas, entram em ação metarregras para

restabelecer o equilíbrio perdido. A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza

a mudança no sistema familiar sobretudo pela reorganização da comunicação entre os

membros da família. O passado é abandonado como questão central pois o foco de

atenção é o modo comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca

de duas pessoas para três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo

uma organização e uma estrutura.

Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em que

assumem que novas experiências- no sentido de um novo comportamento que provoque

modificações no sistema familiar- é que geram mudanças. Neste sentido são usadas

prescrições nas sessões terapêuticas para mudar padrões de comunicação , e prescrições,

fora das sessões, com a preocupação de encorajar uma gama mais ampla de

comportamentos comunicacionais no grupo familiar. Há uma certa concentração no

problema presente mas este não é considerado apenas como um sintoma. O

comportamento sintomático é visto como uma resposta necessária e apropriada ao

comportamento comunicativo que o provocou.

Page 26: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

26

A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se

desenvolveram. Pode-se citar dentre elas a escola estratégica, a estrutural, a de Milão e,

mais recentemente , a escola construtivista.

A premissa fundamental da terapia estratégica , apresentada por Weakland et al

(1974) , é que os vários tipos de problemas trazidos pelos pacientes aos terapeutas só

persistem se forem mantidos pelo comportamento atual do paciente e das pessoas que

com ele interagem. Se o comportamento que mantém o problema for eliminado, o

problema desaparecerá, qualquer que seja sua natureza ou etiologia. A função do

terapeuta é formular claramente o sintoma apresentado pelo paciente e planejar uma

intervenção para mudar o referido sintoma, levando em conta a situação social do

paciente.

A terapia estrutural de família é definida por Minuchin (1974) como sendo uma

terapia de ação para modificar o presente e não para explicar ou interpretar o passado. O

objetivo da intervenção do terapeuta é o sistema familiar ao qual ele se une, utilizando-

se a si mesmo para transforma-lo. Mudando a posição dos membros da família no

sistema, o terapeuta modifica as exigências subjetivas de cada membro. A função do

terapeuta de família é ajudar o paciente identificado e a família, facilitando a

transformação do sistema familiar.

Um princípio fundamental para o grupo de Milão é a conotação positiva. A

primeira função da conotação positiva de todos os comportamentos observados no grupo

familiar é a de facilitar aos terapeutas o acesso ao modelo sistêmico. Quando se

qualificam de positivos os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência

homeostática, o que de fato se conota positivamente é a tendência homeostática do

sistema e não as pessoas. Os terapeutas vão até o ponto de prescrever essa tendência.

A escola construtivista surge no final da década de 70, utilizando conceitos da

cibernética de segunda ordem e de sua aplicação aos sistemas sociais. Considera-se que

a evolução de um sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que, a

cada patamar, surgem novas instabilidades que geram novas ordens e assim

sucessivamente. Nesta perspectiva em que os sistemas vivos são considerados como

hipercomplexos e indeterminados , a instabilidade e a crise ganham um novo sentido no

sistema familiar. A crise não é mais um risco mas parte do processo de mudança, assim

Page 27: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

27

como o sintoma. Assim os terapeutas de família da escola construtivista passam a

considerar a autonomia do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-

organizados, da cibernética de segunda ordem, e dos sistemas autopoiéticos postulados

por Humberto Maturana( 1990). Neste enfoque ocorre uma ruptura entre o sistema

familiar / observado e o terapeuta observador. O sistema surge como construção de seus

participantes. O terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser

modificado mas no processo de construção da realidade da família e nos significados

gerados no sistema. A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta

para aquilo que o sistema permite a ele selecionar e compreender. Assim como o grupo

de Milão , outros terapeutas estratégicos incluíram posteriormente nas suas postulações

o modo de pensar construtivista

III.2-O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO

De acordo com Virgínia Satir (1972) no livro Panorama da terapias familiares

de Mony Elkaim, nas famílias, a homeostase (tendência natural aos organismos vivos na

busca de um equilíbrio dinâmico), se revela pelo comportamento complementar de seus

membros e nos padrões repetitivos, circulares e previsíveis de sua comunicação. Seja o

que for que venha a ocorrer em um relacionamento, não se tratará de algo fortuito nem

simplesmente de uma questão de causa e efeito; representará sempre uma tentativa

lógica e compreensível de manutenção do nível de sobrevivência e do equilíbrio do

sistema familiar.

As famílias criam vários modos de se adaptar e de se ajustar, com a finalidade

de manter a homeostase. Durante os períodos de transição, os ajustes instituídos para

essa manutenção podem, na verdade, produzir um comportamento disfuncional. Ao

invés de restaurar a homeostase, tal comportamento de fato contribui para desequilibrar

ainda mais o sistema familiar. Quando isso acontece o sintoma revela o estresse que a

Page 28: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

28

família está suportando e representa as tentativas feitas pela família para corrigir o

desequilíbrio que existe tanto em seus membros como no sistema familiar.

A perspectiva sistêmica traz à pauta os princípios de auto-organização inerentes

aos organismos. Aplicados aos seres humanos, esses princípios mostram a família como

um organismo ou sistema em si. A chave para compreender o sistema reside no

reconhecimento de que os padrões habituais são muito mais importantes do que o tema

ao redor do qual são ativados. É importante dar mais atenção ao processo , ou à maneira

como ocorre e é mantido esse padrão, do que ao enfoque sobre o conteúdo que este

possa apresentar.

Em 1954, Joan Jackson descreveu a evolução de fases na família em resposta ao

beber abusivo. O trabalho de Jackson foi o primeiro a reconhecer que o comportamento

de outros membros da família, em face da “crise” do alcoolismo, tem uma função

adaptativa. Especificamente, suas fases detalham a evolução da guarda de segredos e

negação e suas contrapartes defensivas: minimização, evitamento, super-

responsabilidade e retraimento emocional. Em seu paradigma, a negação e o evitamento

constituem as primeiras fases da adaptação. A interação conjugal torna-se tensa como

um resultado do beber e, gradualmente, a maioria dos outros problemas são evitados ou

negados. A medida que a família luta para manter o problema em segredo, ocorre o

aumento do isolamento social. A auto-estima na família é corroída, e uma atmosfera

crescente de vergonha e medo contribui para um maior silêncio. Eventualmente ,

tentativas para controlar o problema são abandonadas, e o cônjuge e os filhos

reorganizam-se como uma unidade, da qual o alcoolista é excluído. O cônjuge ou um ou

mais filhos assumem uma responsabilidade funcional quase total. O problema jamais é

discutido, ou é reconhecido apenas entre certas díades na família, com o resultado da

formação de intensos triângulos, abalando ainda mais a estabilidade familiar. Da mesma

forma que o silêncio influencia o alcoolista, também priva a família de informações que

lhe permitiria assumir uma ação. A família ajusta-se a uma crise prolongada em vez de

enfrentar a crise real da mudança.

Com esse breve panorama, podemos ver a importância do terapeuta de família

no tratamento do alcoolismo, que passou por uma revisão radical nos últimos anos. Até

pouco tempo, era comum os profissionais manterem algumas atitudes disfuncionais em

Page 29: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

29

relação ao alcoolista, destacando-se crenças de que eles eram sociopatas, irresponsáveis,

etc. Os profissionais também ignoravam com firmeza a existência do alcoolismo e se

focalizavam em outra sintomatologia. Com isso, pode-se observar a negação que havia

nos profissionais. O mau diagnóstico, fracasso para buscar com cuidado a adicção em

todas as famílias e para suspeitar quanto a sua existência até ser explicitamente

descartada, a arrogância terapêutica , também são exemplos de negação terapêutica.

Os terapeutas de família devem se comprometer com a franqueza quando lidam

com o problema da adicção, encorajando seus clientes a confrontarem diretamente suas

próprias suspeitas , tratando-se assim o segredo e a negação. È importante examinar o

modo como os diferentes modelos de terapia e de prática clínica auxiliam a manter o

segredo e a minimizar o impacto da adicção dentro da família.

De acordo com Michael Elkin(1984), “quando lidamos com famílias alcoólicas

é importante compreender que elas estão sofrendo de uma condição que não apenas é

perigosa ao seu próprio bem-estar físico e emocional, mas ao de outros. Elas estão

ensinando às suas crianças padrões que podem ser assimilados pelas gerações seguintes.

È importante que o terapeuta sinta-se responsável para intervir, quer busquem ajuda ou

não um ou todos os membros da família.”

O posicionamento do terapeuta deve ser direto, afirmando que a família parece

ter um problema com abuso de álcool e que isto precisa ser abordado antes que

quaisquer outros problemas familiares possam melhorar. Essencialmente, o terapeuta

tem o papel de assumir responsabilidade pela exposição da mentira ou por trazer um

segredo a luz e pelo trabalho com a resistência que inevitavelmente ocorrerá. Com isso,

o terapeuta tem como objetivo tornar acessíveis informações que permitirão à família

assumir uma ação diferente.

Page 30: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

30

CAPÍTULO IV

IV.1-CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estilo de vida do alcoolista é baseado em mentiras, segredos e silêncios . O

álcool alivia a dor, e o segredo da negação é uma adaptação que protege o processo de

alívio da dor e isola ainda mais o indivíduo e seus familiares da vergonha e do medo.

Os terapeutas familiares , desde o início do movimento, sentem-se intrigados

com a noção de segredo familiar. Muitos destes terapeutas , têm apresentado a tendência

a ver os segredos familiares como manobras de manutenção da homeostasia ou

manobras defensivas e, na pior das hipóteses como fenômenos negativos ou destrutivos.

Os segredos têm sido vistos como conspiratórios, em geral surgindo e sendo reforçados

por experiências que amparam respostas tais como vergonha , culpa, humilhação e

medo. São vistos como ligando a família e particularmente os membros que manifestam

sintomas, de modos rígidos e disfuncionais, como mantendo contradições e

determinados interesses de poder, restringindo a informação, e cortando o acesso a um

conhecimento e mudança necessária.

O segredo familiar como o ritual familiar rígido, tem sido visto como mal-

adaptativo, como um agente de destruição que deve ser exposto ou cujo poder deve ser

dissipado.

Por tudo isso, vemos que o segredo familiar representa um desafio importante

para o terapeuta familiar. O papel do terapeuta de família têm ido desde expor o

“segredo” até localizar os intrincados padrões de relacionamento na complexidade do

segredo familiar.

Enquanto se avança na terapia para se romper a negação e os segredos , é

importante lembrar que a negação está lá por uma razão. A capacidade humana para a

manutenção de segredos deve ser respeitada, compreendendo-se que por trás, existem

realidades dolorosas. Uma vez que o terapeuta de família sentir compaixão pela

Page 31: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

31

vergonha e pela ansiedade que a negação protege, torna-se mais efetivo para a cura ao

substituir o segredo pela verdade.

Page 32: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

32

BIBLIOGRAFIA

BERGERET,J. Toxicomanias: um enfoque pluridimensional, Porto Alegre: Artes

Médicas,1991

ELKAIM, M. Panorama das terapias familiares, vol 2, São Paulo: Summus, 1998.

FÉRES-CARNEIRO, T. Família: diagnóstico e terapia- Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

IMBER-BLACK, E. Os segredos na família e na terapia familiar. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1994.

KALINA, E. Drogas, terapia familiar e outros temas. RJ: Francisco Alves, 1991

LARANJEIRA, R. O alcoolismo- Mitos e verdades. SP: Contexto, 1997.

MINUCHIN, S. Famílias: funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas,

1982.

RAMOS, SÉRGIO DE PAULA. Alcoolismo Hoje.Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

Page 33: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

33

Page 34: O PAPEL DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA SISTÊMICO NO TRATAMENTO DO ... GABRIELA SANTANA GUGLIOTTA.pdf · sintomatologia clínica, continuaria sendo um etilista, enquanto ainda estivesse

34