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Joaquim Poças Martins Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto O Papel do Saneamento Ambiental no Contexto do Desenvolvimento Sustentável Belo Horizonte, 18 de Março de 2013

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Joaquim Poças MartinsFaculdade de Engenharia da Universidade do Porto

O Papel do Saneamento Ambiental no Contexto do

Desenvolvimento Sustentável

Belo Horizonte, 18 de Março de 2013

Sustentabilidade e

Saneamento

• A história do saneamento e do combate à

pobreza estão interligadas

• A ruralidade, a falta de dimensão/escala e

a dispersão populacional são factores de

complexidade adicionais

• Soluções de saneamento não

sustentáveis não são verdadeiras

soluções

Universalização Sustentável

• Que sistemas?

– Grandes, pequenos, estado, municípios?

– Eficientes!

• Quem vai geri-los?

– Público, privado?

– Empresas com escala, água e esgoto juntos, gestão

profissional, adequadamente remunerada, trabalhadores com

formação e motivação!

• Quem vai pagá-los?

– Sustentabilidade; TTT (Tarifas, Taxas, Transferências)

– Tendenciamente, os utentes, com subsídio/apoio na fase de

investimento inicial para manter tarifas socialmente aceitáveis!

Eficiência e Combate às

Perdas

Gestão Integrada do

Ciclo Urbano da Água(abastecimento de água, esgoto, águas

pluviais, ribeiras urbanas, praias)

Tempos difíceis!

Água ou Dinheiro?

Thomas Malthus (1766-1834)

• O crescimento da população a ritmo superior ao dos meios de subsistência, nomeadamente alimentares, exporia a Humanidade a crises recorrentes.

David Ricardo (1772-1823)

• O aumento da procura dos recursos naturais leva ao aumento dos preços, que continuam a subir até que esse recursos se tornem demasiado caros. O crescimento conduz à estagnação.

Teorias no caminho para a sustentabilidade

População Mundial

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1750 1800 1850 1900 1950 2000 2050 2100

Biliõ

es

70% da população mundial em áreas urbanas em 2050

N.º de Megacidades

Fonte: ONU

Necessidade de investimento em infra-estruturas de água

Fonte: OCDE

Necessidades versus recursos financeiros

ENORMES NECESSIDADES

Cumprir os ODM: 800 milhões

de pessoas sem água potável

e 2 mil milhões sem

saneamento;

Ampliar e renovar as infra-

estruturas nos países

desenvolvidos.

POUCO DINHEIRO

Constrangimentos fiscais;

Estagnação da ajuda oficial;

Entidades públicas sem

capacidade para se auto-

financiarem ou endividarem;

Investimento privado a conta-

gotas.

Gestão pública ou privada: avanços e recuos

1853 – Napoleão III privatizou os

serviços de água. Lyon e Paris foram as

primeiras cidades abastecidas pela

Compagnie Générale des Eaux

Século XIX: Privatização nos Estados Unidos e em França

1799 - Manhattan Company foi criada para

assegurar o abastecimento de água à

cidade de Nova Iorque

Gestão pública ou privada: avanços e recuos

1880-1930: Movimento de re-municipalização

Estados Unidos

• Centenas de empresas privadas

regressaram à gestão pública

(Boston, New Orleans, Nova

Iorque, etc.).

• Empresas públicas de água passaram

de 293 em 1880 para 7.832 em 1932

Inglaterra

1902 – Empresas privadas foram

municipalizadas através do Metropolis

Water Act

Gestão pública ou privada: avanços e recuos

A partir de 1990: O regresso das empresas privadas

Inglaterra e País de Gales

1989 – Governo Thatcher vendeu as

entidades regionais de água a empresas

privadas (privatização total)

Países em desenvolvimento

Diversos organismos internacionais

(Banco Mundial, FMI, OMC) impulsionam

a participação dos privados tendo em

vista o cumprimentos dos Objectivos do

Milénio (2015).

Modelos de participação dos privados no sector da água

PROPRIEDADE OPERAÇÃO INVESTIMENTO RISCODURAÇÃO

(anos)

CONTRATO DE

SERVIÇOSPúblico Partilhado Público Público 1-3

CONTRATO DE

GESTÃOPúblico Privado Público Público 3-5

ALUGUER

(ARRENDAMENTO)Público Privado Partilhado Público 8-15

CONCESSÃO Público Privado Privado Privado 20-30

PRIVATIZAÇÃO Privado Privado Privado Privado Ilimitado

Participação dos privados no sector da água no mundo

Fonte: Pinsent Masons Water Yearbook 2012-2013

55%

28%

13%

5%

27%

45%

39%

29%

21%

50%

18%

8%

1%

21%

42%

26%

23%

16%

47%

12%

7%

1%

20%

36%

23%

21%

14%

0 10 20 30 40 50 60

Europa Ocidental

Europa Central e Oriental

Médio Oriente e África

Ásia Central e Sul

Sudeste da Ásia

Oceânia

América do Norte

América Latina

Total Mundial

% da população servida por privados

2012

2015

2025

• No sector da água, os privados estão presentes em 62 países. Mas apenas 14% da

população mundial é servida por privados (968 milhões de pessoas).

Peso dos privados no sector da água na União Europeia

Fonte: Pinsent Masons Water Yearbook 2012-2013

Distribuição geográfica dos contratos com privados

Fonte: Pinsent Masons Water Yearbook 2012-2013

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1985-89 1990-94 1995-99 2000-04 2005-09 2010-12

N.º

de c

on

tra

tos

OCDE BRIC Resto do Mundo

• Até 1994, a maioria dos projectos com participação privada situava-se nos países da

OCDE. Agora têm uma quota de mercado de apenas 10-20%.

• Na última década, os BRIC (Brasil, Índia, Rússia e China) passaram a ser

responsáveis por 70% do mercado global.

Principais empresas privadas no sector da água

Fonte: Pinsent Masons Water Yearbook 2012-2013

16.000.000

16.120.000

17.500.000

17.980.000

18.265.500

27.100.000

28.300.000

28.460.000

117.350.000

131.260.000

0 30.000.000 60.000.000 90.000.000 120.000.000 150.000.000

American Water Works

NWS Holdings

Shanghai Industrial Holdings

ACEA

RWE

SABESP

FCC

Beijing Enterprises Water Group

Suez Environnement

Veolia Environnement

População servida

• Em 1992, cinco grandes multinacionais (Suez Environnement, Veolia

Environnement, RWE, SAUR e Aguas de Barcelona) detinham 72% dos contratos em

termos de população abrangida..

• Hoje, estas empresas têm apenas 32% do mercado devido ao surgimento de vários

operadores locais. Existem 22 empresas que servem mais de 10 milhões de habitantes.

Contratos com privados cancelados

29

2

28

1

3

0 5 10 15 20 25 30 35

Sudeste da Ásia e Pacífico

Europa e Ásia Central

América Latina e Caraíbas

Médio Oriente e Norte de África

África Subsariana

N.º de contratos cancelados

• Nos últimos 20 foram cancelados 63 contratos com participação privada, o que

representa 8,3% do total de contratos assinados e 32% do investimento.

Fonte: Pinsent Masons Water Yearbook 2012-2013

Exemplos de contratos com privados canceladas

PAÍS CONCESSÃO EMPRESA MULTINACIONAL DURAÇÃO

Alemanha Potsdam Wasser Potsdam GmbH Suez Environnement 1998-2000

Argentina

Buenos Aires Aguas Argentinas Suez Environnement 1993-2006

Santa Fé Aguas Provinciales de Santa Fe Suez Environnement 1995-2006

Tucuman Aguas del Aconquija Veolia Environnement 1995-1997

Bolívia Cochabamba Aguas del Tunari Bechtel 1999-2000

Canadá HalifaxHalifax Regional Environmental

Partnership

Suez Environnement 2002-2003

ChinaShenyang, Liaoning China Water Co. Suez Environnement 1996-2001

Jinan, Shandong Cathay International Veolia Environnement 1998-2002

EUA Atlanta United Water Suez Environnement 1999-2003

FrançaGrenoble COGESE Suez Environnement 1987-2001

Varages SEERC Suez Environnement 1990-2002

Mali Mali EDM SAUR 2000-2005

Polónia Lodz OTV Suez Environnement 1993-1995

TailândiaBanguecoque

Bangkok Metropolitan Water

AuthorityUnited Utilities 1995-1998

Pathum Thani Pathum Thani Water Co Thames Water 1999-2004

Tanzânia Dar Es Salaam City Water Biwater 2003-2005

VenezuelaZulia Hidrolago Tecvasa 2001-2004

Lara Hidrolara Aguas de Valencia 1999-2002

Fonte: Pinsent Masons Water Yearbook 2012-2013

Factores críticos para o insucesso das PPP

Aumento das tarifas de água (inacessíveis para os mais pobres);

Ritmo da expansão dos serviços abaixo das expectativas;

Falta de investimento na renovação das infra-estruturas;

Qualidade da água comprometida e crises de saúde pública;

Deterioração da qualidade de serviço (interrupções de

abastecimento, perdas de água elevadas)

Fraca regulação;

Empregos ameaçados;

Corrupção, falta de transparência e agitação social.

Em ambos os modelos de gestão existem bons e maus exemplos.

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à

sua maneira” (Tolstói, Anna Karenina)

Todas as entidades gestoras eficientes, públicas ou privadas, têm

em comum:

Universalidade no acesso aos serviços;

Boa qualidade de serviço (água de qualidade, redes reabilitadas, n.º

reduzido de avarias, poucas interrupções do abastecimento)

Eficiência operacional (baixo nível de perdas, capacidade de cobrança

das facturas, boa produtividade dos trabalhadores);

Orientação para o cliente;

Tarifas sustentáveis;

Envolvimento e satisfação dos stakeholders.

Gestão pública versus privada: um debate longo e estéril

Fonte: “História das Políticas Públicas de Abastecimento e Saneamento de Águas em Portugal (João Howell Pato)

Aguadeiros no chafariz de Dentro, Lisboa (1903 – 1907)

Fonte: “História das Políticas Públicas de Abastecimento e Saneamento de Águas em Portugal (João Howell Pato)

Distribuição de água em Vila Real de Santo António (1935)

Evolução do sector da água em Portugal

População servida com abastecimento de água

80%

1990

95%

2009

95%

2013

Objectivos PEAASAR II

População servida com drenagem de águas residuais

61%

1994

97%2009

90%

2013

81%

População servida com tratamento de águas residuais

31%

1994

2009

90%

2013

71%

Fonte: RASARP 2010 (ERSAR)

Evolução da qualidade da água

Fonte: RASARP 2011 (ERSAR)

Percentagem de água controlada e de boa qualidade (1993-2011)

50%

97,9%

Níveis de atendimento da população em 1994

Caracterização do período 1993-2000

Esgotamento do modelo municipal e

necessidade de criação de sistemas

multimunicipais com gestão

empresarial;

Resolver os graves e crónicos

problemas de abastecimento às áreas

metropolitanas e com elevada pressão

turística (criação de 4 sistemas

multimunicipais);

Prioridade para os sistemas de

saneamento da Costa do Estoril e da

Ria de Aveiro;

Aproveitamento das verbas do Fundo

de Coesão.

Sustentabilidade económica e financeira

Fonte: Relatórios e Contas AdP

Sistemas Multimunicipais Capitais Próprios (2011)

Cumprimento do PEAASAR 2007-2013

Fonte: Estudo KPMG (2011)

Recuperação de custos através das tarifas

Abastecimento de água

Drenagem e tratamento de águas residuais

Abastecimento de água + drenagem e tratamento

de águas residuais

Fonte: INSAAR 2009/INAG

Sustentabilidade do sector da água

SolidariedadePerequação

RegionalizaçãoEmpresarialização

Desmunicipalização

Eficiência/Regulação

2 - 10 €/m3

Gestão integrada do ciclo urbano da água

Gestão da mudança em empresas de água

Estudo de caso: Águas de Gaia (1998-2004)

Estudo de caso: Águas de Gaia (1998-2004)

Estudo de caso: Águas de Gaia (1998-2004)

Estudo de caso: Águas de Gaia (1998-2004)

Estudo de caso: Águas do Porto (2006-2012)

Redução das perdas de água (2006-2012)

Redução do consumo de energia nas elevatórias

Projecto Porto Gravítico: desactivação das estações elevatórias

2006

4.532.891 kWh

2012

225.263 kWh

Reabilitação das ribeiras do Porto

Despoluir

Desentubar

Reabilitar

Sistemas Multimunicipais no

Final de 2006

Sistemas Multimunicipais no

Final de 2006

Praias do Porto com Bandeira Azul

Sistemas Multimunicipais no

Final de 2006

Conclusão

As poupanças decorrentes da redução de perdas e de

outros desperdícios podem ser suficientes para

“pagar” o processo de gestão da mudança, rumo à

sustentabilidade.

É possível mudar em menos de 6 anos