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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (CREDE) NO PROCESSO DE “DESCENTRALIZAÇÃO” DA GESTÃO EDUCACIONAL NO CEARÁ (1995-2002) Maria do Carmo Bezerra Souza FORTALEZA – CE 2006

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (CREDE) NO PROCESSO DE “DESCENTRALIZAÇÃO” DA GESTÃO EDUCACIONAL NO CEARÁ (1995-2002)

Maria do Carmo Bezerra Souza

FORTALEZA – CE

2006

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MARIA DO CARMO BEZERRA SOUZA

O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (CREDE) NO PROCESSO DE “DESCENTRALIZAÇÃO” DA GESTÃO EDUCACIONAL NO CEARÁ (1995-2002)

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de mestre em Planejamento e Políticas Públicas à Comissão Julgadora da Universidade Estadual do Ceará, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota.

FORTALEZA

SETEMBRO - 2006

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SOUZA, Maria do Carmo Bezerra. O Papel do Centro Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE) no Processo de Descentralização da Gestão Educacional no Ceará (1995-2002), 2006. p. 151. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Políticas Públicas.

1. Descentralização. 2. Desconcentração do Poder. 3. Reforma Educacional.

4. Gestão Educacional. 5. Política Educacional.

I. Universidade Estadual do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Planejamento e

Políticas Públicas.

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MARIA DO CARMO BEZERRA SOUZA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Planejamento e

Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre.

O Papel do Centro Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE) no

processo de “Descentralização” da Gestão Educacional no Ceará (1995-2002).

Aprovada em ___ /____/_____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Profº Dr. Francisco Horácio da Silva Frota Orientador ___________________________________________________ Profª Dra. Isabel Maria Sabino de Farias 1ª Examinadora _____________________________________________________ Profº Dr. Gisafran Nazareno Mota Jucá 2º Examinador

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DEDICATÓRIA

Ao finalizar a árdua batalha deste trabalho, dedico-o, em primeiro plano, a

DEUS, Centro e Referência maior de minha existência, pela presença constante e

amparo espiritual de todos os momentos presente, passado e futuro;

À Mamãe, (in memorian) certa de que sua luz nos ilumina e iluminará toda a

vida. A ti, mãezinha, dedico esta vitória, luta e toda a conquista realizada;

Ao Papai, exemplo vivo de perseverança, amor e dedicação;

Ao Fábio: pelo relevante e permanente apoio, nas horas dedicadas, a este

trabalho, sua presença foi determinante para ultrapassar todas as dificuldades;

Ao Rafael, minha referência de aprendizagem constante, de amor real, de

cuidado eterno;

Aos meus irmãos e irmãs, pelo apoio, estímulo e confiança na minha

trajetória de vida e trabalho;

Aos amigos e amigas, pelo incentivo respeito e amizade construídos

coletivamente e, em especial, a Elione e Luzia, que muito contribuíram para a conclusão

deste trabalho.

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Ensinamento

Minha mãe achava estudo A coisa mais fina do mundo.

Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, Ela falou comigo:

“Coitado, até essa hora no serviço pesado”. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,

Não me falou em amor. Essa palavra de luxo.

Adélia Prado in Poesia Reunida (São Paulo, Siciliano, 1991).

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos são muitos, e para muitas pessoas, mas gostaríamos

de começar pelo Professor Horácio Frota, por sua orientação, que com firmeza e

competência nos ensinou o difícil ato de pesquisar;

Aos profissionais da Secretaria da Educação Básica - SEDUC, pelo

apreço, atendimento e colaboração durante a realização desta pesquisa;

Aos profissionais dos CREDE, de Horizonte e Baturité, em especial, pelo

apoio, lições apreendidas e descobertas conjuntas, na construção da escola “pública

democrática e de qualidade para todos”.

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SUMÁRIO

Agradecimentos I Sumário Ii Lista de Figuras Iii Lista de Quadros Iii Lista de Gráficos Iv RESUMO V ABSTRACT Vi INTRODUÇÃO 13 Capítulo 1 – O PERCURSO TEÓRICO E METODOLÓGICO 1.1. O Processo de Amadurecimento da Temática em Estudo 1.2. As Múltiplas Determinações do Objeto de Estudo: como facilitar a sua compreensão?

1.3. Definição da Via Metodológica Capítulo 2 - A AGENDA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA S DÉCADAS FINAIS DO SÉCULO XX

2.1. O Contexto Macro Global das Políticas Públicas de Educação 2.2. Educação e Mudança: Pontuando as Travessias 2.2.1. Agenda da educação brasileira no final do século XX 2.2.2. As instâncias administrativas da educação pública cearense: resgatando a trajetória política

2.2.3. Agenda educacional cearense nas décadas finais do século XX Capítulo 3 - DESCENTRALIZAÇÃO: UMA NOVA AGENDA PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA

3.1. Descentralização & Desconcentração: Uma Discussão Teórica 3.2. Caminhos Transversais da Descentralização Capítulo 4 - OS CAMINHOS DA DESCENTRALIZAÇÃO DO ENS INO PÚBLICO CEARENSE

4.1. Reflexões Pertinentes à Descentralização no Ceará 4.2. A Política Educacional Vista por Dentro: O Olhar dos Protagonistas. 4.2.1. Avaliando a prática: o que mudou com a descentralização administrativa?

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Lista de Figuras

01 Organograma dos CREDE 23

02 Organograma da SEDUC 24

03 Mapa do CREDE 08 28

04 Mapa do CREDE 09 29

05 Organograma DERE (1974) 66

Lista de Quadros

01 Funções das Coordenadorias da SEDUC/SEDE 25

02 Níveis Hierárquicos da SEDUC em 1996 26

03 Evolução do FUNDEF no CREDE 08 43

04 Evolução do FUNDEF no CREDE 09 44

05 Programas Implantados na década de 1990 55

06 Leis e Decretos (1963 – 2005) 65

07 Fluxo das Ações e Objetivos 72

08 Vertentes, Projetos e Vetores 77

09 Distribuição Percentual dos Recursos Oriundos do FUNDEF 81

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Lista de Gráficos

01 Matrícula da Rede Estadual do Ensino Fundamental (1998-2006) 21

02 Arrecadação do FUNDEF no Município de Acarape 82

03 Arrecadação do FUNDEF no Município de Baturité 83

04 Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Estadual –

CREDE 08

109

05 Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Municipal –

CREDE 08

109

06 Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Estadual –

CREDE 09

110

07 Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Municipal –

CREDE 09

110

08 Total Geral de Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental -

CREDE 08

111

09 Total Geral de Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental 111

10 Total Geral de Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental -

CREDE 09

112

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RESUMO

O epicentro deste estudo é a política educacional de descentralização/desconcentração implementada pela Secretaria da Educação Básica do Ceará – SEDUC, no período de 1995 a 2002, quando se dá a criação dos 21 Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação – CREDE, com o objetivo de desenvolver o processo de descentralização administrativa da educação. Este é, pois, o nosso objeto de estudo. Foi nele que nos debruçamos durante, aproximadamente, três anos, no sentido de “desvendá-lo”, com o propósito de responder às perguntas: Como se deu e de que forma ocorreu a implantação dos 21 CREDE no estado do Ceará, abraçando as 20 regiões que englobam os cento e oitenta e quatro (184) municípios cearenses? Como ocorria o processo de administração da educação pública estadual no Ceará antes da sua criação? Como os diversos protagonistas em suas diferentes instâncias de atuação percebiam as mudanças ocorridas naquele momento, especificamente, quanto a sua criação? Após o longo processo de investigação, por meio de metodologia quanti-qualitativa, concluímos que estes foram importantes para a efetividade do processo de desconcentração de poder numa perspectiva de CASASSUS (1990). A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE, foi fundamental para a execução da proposta de municipalização expressa na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº. 9394/96. A respeito da importância que ganharam no processo de descentralização, os CREDE infelizmente vivenciaram, apenas uma autonomia relativa, não porque os agentes educacionais fossem incapazes de realizá-la, mas porque a própria dinâmica do processo não permitia, vez que a idéia era “desconcentrar” o poder para facilitar a dinâmica de atuação desses organismos recém-criados.

Palavras-Chave: 1. Descentralização. 2. Desconcentração do poder. 3. Reforma Educacional. 4. Gestão Educacional. 5. Política Educacional.

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Abstract

The target of this study is the educational politics of decentralization/desconcentration implemented by the Basic Educational Ministry of Ceará, the period between, 1995 – 2002, when it took place the creation of 21 Regional Centers of Educational Development-CREDE with the main idea to develop the process of manageament decentralization in the educational system. This is the object of our studies. Though it we spent three years approximately in order to answer the following questions. In which ways and how did the creation of 21 CREDE in our state, Ceará, happen covering twenty regions that involve a hundred eighty four (184) towns? How did the process of management happen here in Ceará according to the Public Education before the creation of CREDE? How did several protagonists in different moments at work realize the changes that time specifically before their creation? After the long researching process through a quantity/quality methodology we concluded that these were important to the desconcentration of power process according to CASASSUS point of view (1990). The introduction of a new managing structure at SEDUC materialized in our CREDE was basic for the performance of the proposal of municipalization expressed in the LDB (Lei de Directress e Bases ad Education National Nº 9394/96). Refering to the importance that took place in the process of decentralization, CREDE unhappily had jus a relative autonomy not due to the abilities of professionals but because the dynamic of the process didn’t allow it. The idea was to desconcentrate the power to make easier the performance of newly created departments.

Key-words: 1. Decentralization. 2. Desconcentration of power. 3. Reform Educational.

4. Educational Management. 5. Educational Polities.

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INTRODUÇÃO

Se chegamos até aqui é porque caminhamos até aqui e porque tivemos forças para atingir até aqui, e, se por acaso, as forças nos trouxeram até aqui é porque na luta entre o querer e o poder e na sua necessária contradição, a intuição nos mostrou que mais valeu o querer prenhe de possibilidades do que o poder cristalizado em si mesmo. (THULIN FRIDMAN, poeta alemão, século XIX).

De fato, chegar até aqui foi fruto de um ato centrado no nosso querer em que não

raro fomos acometidas por momentos de tristeza, decepção e angústia. Este não é o

espaço para exprimir o quanto nos foi doloroso todo esse processo, que hoje nos parece

ameno, mas não poderíamos deixar de, ao menos, mencionar um pouco a nossa luta

interior e exterior no desenvolvimento do trabalho proposto. No nosso caso, isso

representa a redação final da Dissertação do Mestrado Profissional em Planejamento e

Políticas Públicas.

Enquanto estivemos mergulhadas na ação de pesquisar e realizar todo o percurso

metodológico necessário para a execução desta pesquisa, pouco tempo tivemos para

perceber que o “tempo” ia passando, passando, passando. Durante mais de três anos,

submergimos na necessidade de desvendamento do objeto de estudo e, finalmente, ele

agora tem “pernas”, “braços” e, se duvidarmos, traz uma voz viva que toma corpo agora

nesta produção textual. Finalmente, podemos dizer que cumprimos a nossa missão.

Ao entrar no Mestrado, tínhamos clareza do que pretendíamos estudar, ou seja, a

análise do processo de “descentralização” administrativa da educação pública da rede

estadual, via implementação do Centro Regional de Desenvolvimento da Educação

(CREDE) 1. Queríamos entender como se deu esse processo e de que forma os 21

CREDE implantados em 1996 contribuíram decisivamente para o êxito ou não desta

política. Depois de dez anos da sua implantação, apesar das críticas, a nossa pesquisa

aponta para o fato que descentralizar a gestão educacional no Ceará só foi possível

1 Em substituição as Delegacias Regionais de Ensino – DERE.

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graças à criação dos CREDE, em substituição às antigas Delegacias Regionais de

Ensino (DERE) 2.

Entendemos que o processo de “descentralização” do ensino público estadual,

ocorrido em meados de 1990, no “coração” da reforma estrutural do Estado cearense, só

é possível mediante a implantação de organismos intermediários, 3 eles foram

determinantes veículos de articulação política e administrativa, não apenas no que diz

respeito ao gerenciamento do ensino da rede estadual, mas, sobretudo, na articulação

com as demais secretarias municipais para o desenvolvimento local da educação pública

rumo à aceleração da municipalização e transferência da gestão da rede de ensino

pública estadual para a municipal, no tocante especialmente ao ensino fundamental.

Assim, a criação dos CREDE veio no bojo da municipalização do ensino

fundamental e da transferência de responsabilidades do ensino público da esfera

administrativa estadual para a municipal. A nossa preocupação central foi, pois, a de

perceber o como ocorreu essa nova configuração no trato da gestão educacional e, ao

mesmo tempo, tentar constatar se ocorreu uma descentralização de ações ou uma

desconcentração de poder.

A política de ”descentralização” não pode ser considerada um fenômeno novo,

até porque, está inserida na própria forma de governar, isto é, se de uma maneira mais

“participativa” e democrática ou “fechada” e autoritária. É comum a análise de que o

processo de descentralização é instrumento para a democracia representativa, e o motivo

assinalado está em que deve proporcionar uma maior participação dos cidadãos nas

deliberações de políticas e programas que afetam diretamente as suas vidas.

Entretanto, a “descentralização” implementada pelo governo do Estado do Ceará

na área da educação, a partir de 1995, culminou com uma série de programas de caráter

“participativo” e “democrático”, pois ocorreu no contexto histórico e social de

profundas transformações no mundo e no Brasil. A maior delas, em solo brasileiro,

pode ser o retorno da democracia, em 1985, com o fim do regime de Estado de exceção.

2 Doravante passaremos a utilizar a sigla CREDE que designam os Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação e DERE para as antigas Delegacias Regionais de Ensino. 3 Entende-se por organismos intermediários as instâncias inferiores do governo, como os CREDE.

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Para LEITÃO (2005), essas transformações é parte de um contexto bem mais

amplo em que o País se insere na “mundialização do capital”4 segundo CHESNAIS

(1996), estudioso desta questão na França. Além do mais, a inserção do Brasil, nessa

nova ordem econômica mundial, ocorreu e está se dando de forma profundamente

desigual, o que acarreta sérias conseqüências em todas as dimensões da nossa vida

econômica, social e política.

Então, quais os desafios do nosso trabalho? O principal deles configurou-se em

tentar estruturar um referencial teórico e metodológico que desse conta do objeto de

estudo aqui desenvolvido. Dessa forma, precisamos nos aprofundar nesse assunto e

realizarmos um estudo acerca da “descentralização” e da “desconcentração” em que se

trabalhou principalmente com o referencial de Casassus5. O segundo, encontrou-se na

reconstituição histórica do período atual no sentido de entender a sua historicidade no

tocante às determinações políticas e sociais em que foram gestada as políticas públicas a

partir de 1990. O terceiro, identificamos como sendo o momento do levantamento de

dados em que nos desdobramos para dar conta, não apenas da revisão bibliográfica

necessária, mas de todo o processo de entrevistas desde a classificação à qualificação do

material coletado para a execução da pesquisa. Finalmente, é importante dá uma ênfase

especial ao fato de que o oficio de pesquisar exige método e técnica de quem se dispõe a

tal tarefa, além do espírito de determinação e obstinação, uma vez que muitos são os

entraves.

Quanto às contribuições que este trabalho pode dar, muitas serão enumeradas,

desde a questão da originalidade desta pesquisa, pois, apesar de muito ter sido escrito

sobre democratização e descentralização do ensino público no Ceará, o foco de tais

trabalhos permanecia no âmbito mais da escola. Em nosso estudo, buscamos os Centros

Regionais de Desenvolvimento da Educação, nos quais investigamos essa realidade por

meio da gestão administrativa regional. Assim, entrevistamos os protagonistas que

4 Ver a Dissertação de Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas (2005) defendida por Elione Maria Diógenes Leitão, cujo título é “O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA EM FOCO: UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO NO CEARÁ EM TEMPOS DE AJUSTES NEOLIBERAIS”. Nesse trabalho, a pesquisadora busca demonstrar que as transformações iniciadas com maior vigor a partir dos meados dos 1990, no Ceará, fazem parte de um propósito claro por parte dos formuladores da política educacional, ou seja, inserir o Estado na nova ordem econômica neoliberal assumida durante o governo de FHC. A referida Dissertação encontra-se disponível na Biblioteca Central da UFC. 5 Juan Casassus (1990) é filósofo, sociólogo e tem trabalhado com a questão da descentralização, constituindo-se numa referência em termos de discussão e análise desta temática.

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vivenciaram a gestão educacional de, 1995 a 2002, apreendendo as suas opiniões e

dando voz e vez as suas experiências e vivências nesta Dissertação.

Acreditamos que o trabalho se torna importante pelo seu duplo caráter: o

primeiro, de investigação propriamente dita em que se analisa a política e nela se faz

uma reflexão, tentando compreender suas reais dimensões; e, o segundo, pelo resgate de

memória que é realizado. Desse modo, foi possível, nesta dissertação, reconstituir a

memória coletiva da criação dos CREDE, e, mais do que isto, perceber o quanto as

pessoas envolvidas nesse processo aprovaram ou desaprovaram as deliberações

governamentais e as políticas na época implantadas.

Consideramos, também, os rumos e as dificuldades encontrados no percurso de

execução dessa política e suas conseqüências institucionais, suas interações e conflitos,

apresentados durante a execução das mudanças propostas. Assim, achamos importante

fazer um delineamento do nosso percurso investigativo, retomando os objetivos iniciais

deste trabalho:

• Analisar o processo o qual implantou a política de descentralizar, a partir da

criação do Centro Regional de Desenvolvimento da Educação – CREDE,

buscando compreender a sua dinâmica interna no contexto mais amplo da

reforma educacional cearense;

• Estudar o processo de redesenho das políticas públicas de educação, no quadro

da reforma cearense, destacando os instrumentos e mecanismos que a Secretaria

da Educação Básica - SEDUC adotou para implementar a política de

descentralização administrativa;

• Perceber, através da visão dos principais protagonistas, como ocorreu a política

de descentralização administrativa, levando em conta suas experiências e

vivências locais.

O lócus da pesquisa ocorreu respectivamente nos CREDE de Baturité e

Horizonte, situados no rol dos vinte e um Centros Regionais implantados, por trajetórias

distintas em sua atuação. Foram envolvidos, nesta travessia acadêmica de investigação,

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os Coordenadores/Gestores da política em nível central e regional; Dirigentes Escolares;

Técnicos da SEDUC e dos CREDE;

Como referência temporal deste estudo, consideramos o período de 1995 a 2002,

quando a Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará implantou a política

educacional Todos Pela Educação de Qualidade Para Todos, com a determinação de

“promover uma forte mobilização da sociedade cearense, cujo conteúdo se voltava para

o acesso, a qualidade do ensino e a participação social” (Ceará, 2001: 6). Tratava-se,

pois, de uma política inserida num conjunto de reformas, envolvendo as áreas de ensino,

de gestão e de administração escolar.

As referências teóricas deste trabalho foram prioritariamente centradas nos

seguintes autores: ARRETCHE – nas análises das políticas de descentralização,

democratização e participação, estudo e reflexões sobre o perfil das políticas sociais no

Brasil; CASASSUS – estudos e referências da reforma educacional, apontando

contradições inerentes às várias facetas da política de reformas no contexto da

globalização nos países da América Latina, dentre os quais, o Brasil; DOWBOR – com

os estudos sobre a nova ordem econômica mundial e sua reconfiguração no poder local,

e VIEIRA – com os estudos sobre a realidade do ensino público cearense referente à

política de descentralização, democratização e à reforma educacional, com ênfase na

gestão educacional.

No aprofundamento do objeto de estudo, foi necessário nos apropriarmos da

documentação que serviu de subsídio no percurso caminhado, assim, realizamos uma

pesquisa documental com o objetivo de desvendar o discurso oficial dos formuladores

da política pública de descentralização na SEDUC. Consideramos a dimensão quanti-

qualitativa na abordagem metodológica, utilizando entrevistas, questionários com a

finalidade de esclarecer e aprofundar aspectos levantados com os vários segmentos

representativos dos CREDE, da SEDUC e das escolas de jurisdição dos CREDE,

pesquisados.

Se, no Brasil, a construção do processo de descentralização assumiu uma

conotação administrativa e financeira relacionada, de maneira direta, com a

transferência de monitoramento e controle sobre a execução das políticas educacionais

para as instâncias regional e local. No Ceará, a descentralização administrativa ocorreu

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no bojo das reformas governamentais implementadas pelo governo do Partido Social

Democrático Brasileiro – PSDB, desde 1987, com atenções voltadas para o

enxugamento da máquina administrativa e reorganização do modelo de gestão. Esse

contexto foi fértil e referencial para estudos e pesquisas dada a rapidez com que as

mudanças ocorreram nas instituições, especialmente, públicas.

Assim, a partir dos estudos e pesquisas realizados, antecipamos algumas

constatações pertinentes, como:

• No arcabouço teórico amadurecido ao longo deste estudo, observamos dois

movimentos inseparáveis da década de 1990: o primeiro que trata da conjuntura

histórica mais ampla inserida na dinâmica do reordenamento do papel do

Estado, no caso aqui investigado: a educação; e o segundo, como desdobramento

do primeiro, configurado, na política de descentralização, desenhada em três

eixos centrais, quais sejam: a autonomia, a participação e a democratização.

• Os CREDE atuaram como “instâncias administrativas” com relativa autonomia

no processo da reforma educacional cearense instaurado nos idos de 1990.

• Não adianta ter bons projetos e excelentes políticas sociais, se estas não chegam

ao seu destino e nem seus atores centrais usufruem dos seus resultados.

• O discurso político ou teoria institucional, se não tiverem uma íntima relação

com as práticas e uma definida articulação com os atores sociais, não cumprem

seus objetivos e nem transformam as realidades locais.

• Algumas ações ainda se encontram vinculadas à SEDUC/SEDE, inviabilizando

a efetividade dessa descentralização.

• A descentralização foi uma estratégia da nova Política Educacional que, mesmo

registrando avanços, ainda se ressente de certas imposições e restrições as quais

dificultam o processo de autonomia dos órgãos regionais.

• Os CREDE, apesar de surgirem com o ideal de tornar a gestão educacional ágil e

transparente, em contraposição aos modelos tradicionais de indicação político-

partidária, não conseguiram cumprir o seu papel, posto que apenas

desconcentraram as ações. Prova disso é que não são unidades orçamentárias,

tendo os recursos públicos atrelados à SEDUC.

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• Hoje acontece um movimento na ordem inversa, no sentido de retomar a

centralização de muitas ações, sobretudo no que se refere à aquisição de

equipamentos, manutenção e de obras que concorrem para a diminuição dos

espaços de participação e de decisão por parte dos orientadores dos CREDE.

Para efeito didático, estruturamos este trabalho em quatro capítulos, ordenados

de forma seqüencial e dentro de uma lógica gradativa de observação impírica. No

primeiro capítulo, cujo título é O PERCURSO TEÓRICO E METODOLÓGICO,

descrevemos o contexto das políticas públicas de descentralização iniciada no Ceará,

focalizando os CREDE como objeto de estudo, definindo a via metodológica através da

pesquisa quanti-qualitativa apoiada na teoria da representação social, utilizando os

conceitos de Durkheim, Weber, Moscovici, Thompson, entre outros. No segundo

capítulo, intitulado A AGENDA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NAS

DÉCADAS FINAIS DO SÉCULO XX, revelamos o contexto histórico e político da

década de 1990, no Brasil, no Ceará, e registramos os principais fatos, programas e

projetos da reforma educacional. No terceiro, ao qual demos o título de

DESCENTRALIZAÇÃO: UMA NOVA AGENDA PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA,

tentamos reconstituir o percurso histórico da descentralização, enfocando aspectos do

marco legal e a sua base teórica. Finalmente, no quarto capítulo, que denominamos de

OS CAMINHOS DA DESCENTRALIZAÇÃO DO ENSINO PÚBLICO CEARENSE,

adentramos verdadeiramente em nosso objeto de estudo, fazendo, com precisão, a

análise dessa política por meio de reflexões pertinentes à descentralização

administrativa no estado do Ceará, avaliando, na prática, o que mudou com a

descentralização administrativa. Percorremos as instâncias administrativas da Educação

Pública Cearense, fazendo um contraponto entre as Delegacias Regionais de Ensino

versus os Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação respaldado-as nos

referenciais teóricos e na visão dos seus principais protagonistas.

Agora, retomamos a frase com a qual iniciamos nosso texto dissertativo para

afirmar, mais uma vez, que as convicções compartilhadas foram fortalecidas na crença

inabalável de que é importante redirecionar novos caminhos, os quais os cidadãos,

numa democracia, não têm apenas direitos, têm o dever de participar do sistema político

que, por seu lado, protege os seus direitos e as suas liberdades. Que as reformas

ocorram para acompanhar e colocar o homem no tempo histórico, e não, por modismo

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jogo de interesses ou por força de Lei. Assim, poderemos dizer, como Fernando Pessoa:

“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

CAPÍTULO 01

O PERCURSO TEÓRICO E METODOLÓGICO

É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo (EDGAR MORIN, 2001).

1.1 O Processo de Amadurecimento da Temática em Estudo

O delineamento do presente objeto de estudo é fruto de uma experiência

adquirida desde o ano de 1995, quando, na qualidade de técnica na Secretaria da

Educação Básica – SEDUC, acompanhei a implantação dos Programas de

Descentralização Administrativa e Gestão Participativa, vertente central da Política

Educacional “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”.

Passados quase dez anos de implementação desses Programas, norteados nos

princípios: “sustentabilidade, visão de longo prazo, participação, parceria,

descentralização e qualidade”, do Plano de Desenvolvimento Sustentável 1995-1998

(SEDUC, 1995), observamos mudanças que interferem diretamente na condução da

política de gestão educacional.

Daí o nosso interesse em averiguar quais os rumos tomados por essa política,

como o conceito de “descentralização” permeou esse processo e como a

municipalização do ensino fundamental foi priorizada, enquanto transferência de

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encargos e serviços para as esferas municipais. Nesses últimos tempos, o ensino

fundamental no Brasil recebeu um forte aliado que foi a implementação do Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério - FUNDEF. Desde sua criação, no entanto, o referido Fundo tem gerado uma

polêmica, tanto dentro da comunidade acadêmica quanto fora dela, referente aos seus

pontos positivos e negativos.

Segundo seus defensores, o FUNDEF torna o financiamento do ensino público

no Brasil mais transparente, facilitando o controle social do mesmo e permitindo maior

autonomia da aplicação de recursos, com a garantia de sua destinação exclusivamente

para o ensino fundamental. Desta forma, substitui a manipulação política pela

racionalidade técnica na distribuição de recursos entre Estados e Municípios, ao tempo

em que implementa uma política nacional redistributiva, objetivando corrigir

desigualdades regionais e sociais. E no caso do Ceará o que realmente mudou? Como

caminharam as matrículas nas redes Estadual e Municipal? Vejamos o que o gráfico 01

nos apresenta:

Gráfico 01 - Matrícula da Rede Estadual Ensino Fundamental (1998-2002)6

A leitura do gráfico nos aponta um aumento crescente da matrícula do ensino

fundamental nos municípios no período em destaque. Com um olhar atento, observamos

que os anos de maior “pico” na transferência de alunos da rede estadual para a rede

6 Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Políticas Educacionais – COPPE/SEDUC

521.659

477.960445.463

368.602

325.221

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

1998 1999 2000 2001 2002

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municipal aconteceram entre 1998 e 2001, correspondentes ao segundo mandato do ex-

secretário de educação Antenor Naspolini. Segundo o qual:

Há muito tempo, no Ceará, que o município mantém a maior parte da matrícula do Ensino Fundamental, 1ª a 4ª série, não é uma coisa nova, esse processo já vem de muito tempo. Quando assumi, acho que 60% ou mais era municipal, quando deixei acho que 90%, sendo assim, o município é um ente federado e, portanto, ele tem missão própria. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Apesar do ex-secretário afirmar em seu depoimento que o município mantém há

muito tempo a maior parte da matrícula do Ensino Fundamental, é preciso fazer uma

leitura mais precisa, pois o “forte” desse processo só ocorreu após ter sido intensificada

a municipalização, visando “descentralizar”, a partir da década de 90. A parte mais

visível é, com certeza, a diminuição do número de alunos da rede pública estadual.

Sabemos que, contraditoriamente, o aumento da matrícula não foi acompanhado da

necessária qualidade do ensino.

Constitui-se tema central de nossa investigação científica examinar como os

Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE) atuaram para a

efetividade ou não da política de educação do governo “mudancista” 7, que evidencia

possibilidades de “descentralização” administrativa. Ressaltamos que antes da

implantação dessa política, a SEDUC possuía 14 Delegacias Regionais de Educação

(DERE) que atuavam em funções de ordem mais burocrática do que de orientação e

coordenação da política educacional. O nome fazia jus às funções delegadas do Órgão

Central e, somente a partir de 1996, foram transformadas em 21 Centros Regionais de

Desenvolvimento da Educação (CREDE), que passaram a articular e executar a política

educacional do Estado nas regiões, em parceria com os Órgãos Municipais e Unidades

Escolares, na busca de consolidar a política de municipalização do ensino, bem como a

gestão democrática8.

Pensar a gestão descentralizada significa desenvolver uma nova sistemática de

trabalho, colocando os CREDE na linha de frente das atividades administrativo-

financeiras, de ensino e gestão escolar, que correspondem respectivamente às seguintes

atribuições: (a) Administrativo-financeiras, gerenciamento e acompanhamento dos

7 Entende-se por “mudancista” o período do governo de Tasso Jereissati e seus aliados. 8 Na visão de Pellegrnini e Gschwenter somente uma gestão democrática, nas diferentes instâncias, poderá levar à descentralização da administração da educação e à construção da autonomia da escola. (Gestão em Rede, 1997, p. 14).

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recursos financeiros repassados para as unidades escolares e de seu próprio uso,

controle e conservação do material e patrimônio do Estado, desenvolvimento e lotação

dos recursos humanos; b) Ensino, desenvolvimento das propostas curriculares,

acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem; e c) Gestão Escolar,

coordenação da política de gestão democrática, fortalecimento dos organismos

colegiados e de autonomia escolar.

A estrutura gerencial dos CREDE foi idealizada para dar conta da política de

descentralização do Estado com um organograma leve, capaz de fluir as ações e a

comunicação entre a SEDUC, escolas e municípios, com a seguinte organização:

Figura 01 - Organograma dos CREDE 9

A concepção norteadora deste organograma foi centrada na filosofia da gestão

democrática e participativa, seguindo a mesma lógica e base organizacional da SEDUC

9 Fonte SEDUC - 1996

Coordenadoria Regional

Diretoria de Planejamento e

Políticas Públicas

Diretoria de Articulação e

Gestão Educacional

Diretoria de Desenvolvimen

to Técnico Pedagógico

Chefe de Gabinete

Diretoria de Monitoramento

e Controle

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e unidades escolares. Para os teóricos, 10 a gestão democrática e participativa faz parte

do novo contexto da política educacional da década de 1990 que diz respeito a uma

gestão educacional de cunho colegiado e dialógico, colocando a comunidade escolar no

centro das decisões. De 1995 a 2002, período de maior intensificação da política de

“descentralização,” na SEDUC, os seus principais protagonistas se sentiam partícipes. A

ex-coordenadora de Gestão e Articulação (CAGE) da Secretaria admite que11:

A SEDUC efetivamente fez profundos ajustes no seu modelo gerencial, no sentido de fortalecer a descentralização administrativa e o processo de autonomia e democratização das escolas estaduais. Mas romper com as dificuldades iniciais não foi tarefa fácil. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

As mudanças ocorridas deram sustentação ao processo de descentralização que

se pretendia instaurar. De uma estrutura arcaica, saltou-se para uma estrutura flexível,

permitindo desenvolver o projeto educacional e mobilizar a sociedade cearense para a

resolução dos principais problemas enfrentados pelo ensino público no Estado.

O esforço foi concentrado em fortalecer o diálogo e ampliar as parcerias do

governo com a sociedade civil. Nesse sentido, foi instaurado um amplo processo de

mobilização e treinamento sistemático dos atores educacionais para assegurar a

participação e transparência da política de gestão democrática. Era importante qualificar

os espaços de participação social, pois a sustentabilidade das ações passaria certamente

por essa via.

Desta forma, em 2002, a SEDUC passa por mais uma mudança significativa no

sentido de comportar os novos rumos que a política estava tomando. Conforme o seu

organograma administrativo, não só se ampliou o número de CREDE em Fortaleza,

passando a existir três Centros Regionais, como também se fortalecia as funções de

gestão, ensino e administração.

10 Ver Lück (1998); Vieira (1998, 2000); Paro ( 1997) dentre outros 11 Para manter o sigilo da entrevista não daremos os nomes reais das pessoas entrevistadas quando estas não autorizarem-nos para tal.

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Figura 02 – Organograma da SEDUC

Fonte: Coordenadoria de Planejamento (SEDUC, 2002).

Apesar das sutis mudanças na estrutura organizacional interna, percebemos que,

em nível central, a proposta era também promover um processo interno de

descentralização administrativa, com o propósito de facilitar a articulação e a integração

na instância superior de formulação e decisão das políticas (SEDUC, 1996), conforme o

quadro abaixo:

Quadro 01 – Funções das Coordenadorias da SEDUC/SEDE12

Coordenadorias Função

Coordenadoria de Desenvolvimento Técnico-

Pedagógico

Coordenar e acompanhar a implantação de políticas e estratégias

destinadas à melhoria do desenvolvimento técnico-pedagógico

da escola, através de uma linha de ação que integra o

desenvolvimento curricular e a formação inicial e continuada do

educador.

Coordenadoria de Articulação e Gestão

Educacional

Coordenar o processo de gestão democrática visando à

integração dos CREDE com as escolas estaduais, municipais e a

SEDUC, o fortalecimento dos organismos colegiados, a

descentralização administrativa e a autonomia das escolas

estaduais.

Coordenadoria de Monitoramento e Controle: Coordenar a implementação das atividades administrativa,

financeira, tecnológica e de recursos humanos, buscando o

fortalecimento e eficiência da política de descentralização

administrativa.

12 Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Política Educacional (SEDUC, 1996)

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O Governo deflagrou o processo de reforma administrativa com uma concepção

de novo modelo de gerenciamento da educação pública fundamentada na gestão

participativa e centrada nos níveis de decisão pautada no poder local. Técnicos da

SEDUC,13 entrevistados sobre esta questão, fazem a seguinte leitura deste momento

institucional:

Este modelo é de fundamental importância, pois permite a inserção da comunidade escolar nas deliberações. Só com a inserção da comunidade escolar no processo é que podemos modificar para melhor o perfil educacional de nosso Estado. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Esse modelo de gestão participativa desenvolveu-se também por meio de seus

níveis hierárquicos (SEDUC / CREDE / Escola). No quadro 02, observamos como a

composição do Núcleo Gestor foi estruturada:

Quadro 02 – Níveis hierárquicos da SEDUC em 199614

Níveis hierárquicos Composição do Núcleo Gestor

1. SEDUC - Secretário

-Secretário Adjunto

-Secretária Executiva

-Coordenadoria de Desenvolvimento Técnico-

Pedagógico

-Coordenadoria de Articulação e Gestão Educacional

-Coordenadoria de Monitoramento e Controle

2.CREDE

- Diretor do CREDE

-Supervisor do Núcleo Regional Pedagógico

-Supervisor do Núcleo Regional de Articulação

-Supervisor do Núcleo Regional de Monitoramento

3. ESCOLA - Diretor

- Coordenador Pedagógico

- Coordenador Escolar

-Secretário Escolar

Com um redimensionamento de cargos e instâncias gerenciais não se faz a

descentralização, principalmente quando a entendemos como um processo que implica a

13 Para manter o sigilo da entrevista, não daremos os nomes reais das pessoas entrevistadas quando estas não nos autorizarem para tal. 14 Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Política Educacional (SEDUC, 1996)

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participação real, autonomia e ética dos atores envolvidos. Mas não se pode deixar de

reconhecer que por meio dessa iniciativa inaugurou-se uma nova cultura organizacional

na SEDUC, que permitiu alçar novos paradigmas na gestão e no ensino.

A política da educação descentralizada , através da criação e implantação dos

vinte e um CREDE, trouxe, portanto, mudanças na rotina e na ação local, assumindo

gradativamente o gerenciamento de atividades relacionadas ao seu fortalecimento, à

autonomia das unidades escolares e ao deslocamento do poder central para o regional e

escolar.

Dessa forma, procurou-se verificar, na literatura e no quadro das políticas

educacionais, as definições dadas à descentralização e à desconcentração. Qual a

diferença entre essas duas correntes? CASASSUS (1990) entende desconcentração e

descentralização como fenômenos distintos. Citando CAETANO, aponta que,

[...] a desconcentração reflete processos cujo objetivo é assegurar a eficiência do poder central, enquanto que [...] a descentralização é um processo que procura assegurar a eficiência do poder local. Assim, a desconcentração refletiria um movimento de cima para baixo e a descentralização um movimento de baixo para cima (CAETANO. apud CASASSUS, 1990).

O autor conclui que: “nesta perspectiva, salvo poucas exceções, hoje

praticamente todos os processos de descentralização educacional, na América Latina,

são processos de desconcentração”, CASASSUS (1990). Ele argumenta que, quando o

poder central detém os mecanismos de controle, delegando à unidade local a tarefa de

executar as ordens determinadas por esta instância, evidencia-se uma desconcentração

ou descongestionamento das atribuições, diferente de quando cabe à unidade local o

poder de decisão. Defende ainda a idéia de que as experiências de descentralização,

muitas vezes logradas, resultam de diversos fatores, entre os quais, aqueles ligados à

tradição centralista ou ainda à falta de tradição descentralizadora. (ibid).

CASASSUS (1995) aponta que os objetivos da descentralização vinculam-se à

lógica dos acréscimos: a) mais democracia, ou possibilidade de participação e maior

espaço para a diversidade; b) mais recursos, ou interesse da sociedade civil em

participar do financiamento; c) mais eficiência, ou desburocratização dos sistemas

centralizados.

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É revelador o fato de que a reforma educacional que se processou no Ceará, a

partir da mudança paradigmática da gestão, dentre eles, o processo de descentralização,

foi deflagrado ainda no governo Ciro Gomes (l991-l994),15 envolvendo, assim, uma

dinâmica específica: centralização versus descentralização.

Com base nessa reflexão e nos estudos realizados acerca dessa temática,

encontramos motivação para proceder a uma análise do contexto em que se deu o

nascimento dessa política, relacionando-a com o cenário sócio-econômico da época.

Daí o nosso interesse em pesquisar a descentralização do sistema educacional,

configurado na criação dos Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação –

CREDE.

O lócus de realização desta pesquisa está centrado em dois (02) CREDE, dos

vinte e um (21) instituídos pelo governo, nas vinte (20) regiões administrativas do

estado do Ceará, selecionados em decorrência do nosso acompanhamento ao processo

de implementação da reforma administrativa. De acordo com o desenho abaixo,

podemos perceber a área geográfica do nosso objeto de estudo: Figura 03 – Mapa do

CREDE 08

15 Sucessor do governo Tasso Jereissati, eleito na perspectiva de seguir a mesma linha do Governo das Mudanças.

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A região do Maciço do Baturité só veio a ser colonizada tardiamente em 1680

(PDR, 2003). Contudo, nesses três séculos, a região tem crescido consideravelmente. Os

municípios que compõem o Maciço de Baturité são: Acarape, Aracoiaba, Aratuba,

Barreira, Capistrano, Guaramiranga, Itapiúna, Mulungu, Ocara, Pacoti, Palmácia,

Baturité e Redenção. Tais municípios estão jurisdicionados em termos de

gerenciamento da educação pública no CREDE 08. Este Centro nasceu com o próprio

processo de “descentralização” do ensino público estadual. Como não havia na região

nenhuma DERE, na década de 1970, a SEDUC resolveu criar um CREDE, através do

Decreto Nº. 24.274 de 22 de novembro 1996.

Quanto ao CREDE 09, eis o que nos indica o mapa16:

Figura 4 – Mapa do Crede 09

Essa região litorânea abriga seis municípios com a sede do CREDE, Horizonte.

Os municípios têm histórias diferenciadas de colonização. Vale destacar, contudo, que a

colonização dessa área, em geral, deu-se após o século XVII. Em 1996, assim como o

CREDE 08, é criado o CREDE 09, por meio do mesmo decreto. Por que escolhemos

16 Fonte: SEDUC, 1996.

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para o nosso objeto de estudo os dois CREDE acima referidos? Podemos citar dois

motivos principais: primeiro, foram criados dentro da implantação do programa de

Programa de Descentralização da Administração e Gestão Participativa da SEDUC;

segundo, o fato de serem recentemente criados (1996) possibilita uma avaliação dos

rumos tomados pela política. Como não queríamos apenas referendar um determinado

tipo de análise, digamos “teórica”, propusemo-nos a mergulhar empiricamente no

interior do objeto de estudo e, daí, extrair a sua essência no sentido da sua efetividade

ou não.

Caminhando nesta perspectiva, localizamos nosso objetivo de trabalho na

investigação sobre a intenção real do governo em mudar o paradigma de uma

administração centralizada para uma administração descentralizada, desativando as

antigas DERE, com a implantação dos atuais CREDE. A perspectiva quanti-qualitativa

que assumimos, na feitura deste trabalho, buscou dar um sentido à realidade concreta

vivida, pelos diversos agentes educacionais quanto ao processo de “descentralização”

implantado no contexto da autonomia escolar.

É na observação e apreensão, enquanto metodologia, que procuramos atingir os

significados dados pelos profissionais da educação, enquanto sujeito e objeto que

vivenciaram, de uma forma ou de outra, a implantação da política de descentralização,

atribuindo importância e avaliando a sua execução. Além do mais, consideramos a

dimensão quanti-qualitativa que a pesquisa comporta, como também, o estudo das

representações sociais nos diferentes processos instaurados no seio da sociedade. Com

relação a isso, elencamos um arcabouço conceitual capaz de constituir a leitura das

representações desses protagonistas, acerca da reforma implantada por meio da

democratização e da descentralização do ensino público cearense.

1.2 As Múltiplas Determinações do Objeto de Estudo: Como Facilitar a sua

Compreensão?

O conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido. Para ter sentido, a palavra necessita do texto que é o próprio contexto no qual se enuncia. (Edgar Morin, 2001).

As reflexões desenvolvidas ao longo do curso de Mestrado Profissional em

Planejamento e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará – UECE

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reforçaram a defesa do objeto de estudo, o processo de descentralização administrativa

da educação pública estadual, que tomou expressão numa série de programas e projetos

implantados pela Secretaria de Educação Básica (SEDUC). Dentre estes, podemos citar:

Programa de Municipalização e Universalização do Ensino Fundamental; Gestão

Democrática, através das eleições diretas para diretores escolares e dos conselhos

escolares a partir de 1995; Programa de Melhoria e Desenvolvimento do Ensino

(PMDE); Escolarização da Merenda e a Criação dos Organismos Intermediários -

Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE), em substituição às

Delegacias Regionais de Ensino (DERE), para atuarem como instâncias administrativas

regionais no contexto da reforma administrativa, com foco na descentralização.

Os CREDE constituíram-se, desde então, em nosso objeto de interesse de estudo

que se configurou numa investigação de caráter quanti-qualitativo e interpretativo, ao

mesmo tempo, que procuramos delinear o percurso da pesquisa sobre a gênese e

desenvolvimento desses organismos implantado em 1996, pela SEDUC, possibilitamos

a construção de uma análise crítica desse processo no contexto da reforma educacional

cearense.

Analisamos e fundamentamos o objeto de estudo aqui explicitado à luz de

teóricos cearenses que estudam com profundidade essa temática, cujos nomes citamos:

VIEIRA (1997); SALES (1996); ALBUQUERQUE (1997); JESUÍNO (2005); LEITÃO

(2005); RAMOS (2003); autores nacionais como DRAIBE (1999); GOHN (1995);

PÉREZ (1994); GÓMEZ (1999); PARO (1997) que têm pesquisas pertinentes ao tema,

bem como estudiosos supranacionais, dentre os quais podem ser citados: ARRETCHE

(1999), BROOKE (1989), CASASSUS (1990); BRASLAWSKY (1996), DOWBOR

(1998) servem de respaldo para este trabalho.

Com base na vasta literatura visitada, defendemos que o próprio ato de pesquisar

é um processo, e não, algo pronto e acabado, havendo sempre a possibilidade de outras

análises e de outros enfoques teóricos. Existem várias abordagens do conceito de

descentralização, como também reflexões de alguns teóricos, mas o conceito de

descentralização que destacamos encontra-se nas concepções defendidas por

CASASSUS (1990), por expressar as contradições inerentes ao processo, apontando

para as várias facetas que assumiu essa dinâmica no contexto das reformas nos países da

América Latina, dentre os quais, o Brasil. Outro autor que se traz para dar embasamento

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teórico às análises é DOWBOR (1998), quando sugere que a nova ordem mundial exige

uma outra reconfiguração local.

A contribuição de DRAIBE (1999) E ARRETCHE (1999), com relação à

análise e desenvolvimento das políticas de descentralização, democratização e

participação, servirar-nos-á para iluminar as reflexões sobre o perfil das políticas sociais

no Brasil. As contribuições de THOMPSON (1995), ao referendar o arcabouço

conceitual das teorias da representação social, foram importantes para análise do

material empírico coletado. As ponderações da professora e pesquisadora Sofia Lerche

Vieira (2000) serão mencionadas também neste estudo científico, vez que aborda

estudos sobre essa temática no contexto da Secretaria da Educação Básica do Estado do

Ceará – SEDUC.

Assim, dividimos o trabalho de forma a entender o caminho percorrido, no qual,

privilegiamos as temáticas assim delimitadas: mudança de rota nas políticas

educacionais dos anos 90, a política educacional cearense no contexto dos anos 90, a

descentralização administrativa em foco no Ceará, os caminhos das instâncias

administrativas do ensino público cearense; que consideramos de extrema centralidade

ao abordarmos as peculiaridades do objeto de estudo investigado, ressaltando as

instâncias administrativas da Educação Pública cearense, percorrendo a estrutura

administrativa das DERE e dos CREDE, em que realizamos as reflexões pertinentes à

questão da descentralização/desconcentração administrativa no estado do Ceará. Neste

capítulo, adentramos uma avaliação das práticas e tentamos responder à questão central

deste estudo: o que mudou com a descentralização administrativa na gestão da educação

pública no Ceará?

1.3. Definição da Via Metodológica

A compreensão não desculpa nem acusa: pede que se evite a condenação peremptória (...) (Edgar Morin, 2001).

A nossa identificação com a pesquisa quanti-qualitativa está no seu caráter

construtivo e interpretativo, a um só tempo. Assim, acreditamos que o seu aspecto

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dialógico permite compreender os casos particulares como o desenhado nesta pesquisa:

o processo de construção dos significados encontrados na instituição pública

desenvolvida dentro do processo no qual a experiência tem lugar.

A pesquisa quanti-qualitativa que propomos para o conhecimento da visão dos

agentes educacionais em torno da reforma implantada enfatiza o caráter representativo

desses atores no real vivido, qual seja a prática vivenciada da “descentralização

administrativa” nos CREDE. Neste sentido, optamos por compreender a dimensão

concreta desse processo caracterizado pelos seguintes aspectos: o empírico em

permanente confronto com o teórico, o diálogo e a contradição, entre a doutrina

expressa nos documentos oficiais e a manifestação dos processos estudados.

O interesse, no final da investigação, configurou-se em verificar se os

profissionais da educação tinham o conhecimento e o domínio da política e qual a sua

visão do processo. O fato de a pesquisa quanti-qualitativa proporcionar ao pesquisador

um momento ímpar na relação sujeito versus objeto levou-nos à compreensão e ao

entendimento desse processo enquanto construção teórica e empírica.

Consideramos de fundamental importância a utilização da pesquisa quanti-

qualitativa por sua tradução e expressão do “sentido” dos fenômenos do mundo social.

Como as mudanças em educação não se dão no vazio, mas numa ampla espacialidade e

específica temporalidade, significa reduzir a distância entre indicador e indicado, entre

teoria e dados, entre contexto e ação, MAANEN (1979). Acreditamos que a

metodologia quanti-qualitativa nos possibilitará estabelecer aproximações com o

desvendamento do objeto de estudo para a sua melhor apreensão e compreensão.

Quando pensamos este estudo investigativo, abordando a política da

descentralização administrativa na estrutura da organização pública educacional, sob a

perspectiva dos agentes educativos responsáveis pela sua execução, precisamos

evidenciar uma relação entre o que estabelece a política em sua formatação oficial via

órgão central (SEDUC) e a “imagem” que os diversos atores educacionais têm quanto

a sua realização. Para isso, nesta parte do trabalho, decidimos fazer uma visita rápida

ao conceito de representação social, justificando que a compreensão deste conceito é

fundamental para a investigação proposta nesta pesquisa.

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Anteriormente, referimo-nos que a abordagem feita neste estudo configura-se

como “qualitativa” em que a expressão ‘pesquisa qualitativa’ assume diferentes

significados no campo das Ciências Sociais e a “quantitativa” torna-se representativa

em relação aos fatos e dados. É um conjunto distinto compreendendo diferentes

técnicas interpretativas, com a finalidade de descrever e decodificar os elementos de

um sistema complexo de significados.

Assim sendo, achamos por bem adotar a teoria da representação social, cuja

contribuição parece-nos fundamental para pesquisas envolvendo a área da educação,

partindo do suposto de qualificar os referenciais teóricos neste campo novo de

pesquisa e de prática social, valorizando a nova dimensão dos sujeitos sociais como

protagonista da política, bem como a complexidade desses processos. Para o nosso

uso, basta reter que o termo se refere às questões implicadas ao pensar humano, de

compreensão e de comportamento, através das quais, em sociedades determinadas,

elabora-se e se expressa a realidade circundante.

O conceito de representação integra o pensamento sociológico desde há muito

tempo. No período clássico, ÉMILE DURKHEIM E MARCEL MAUSS17 destacaram

em seus trabalhos o uso desse conceito nas análises das realidades coletivas, pois

expressava os conhecimentos, as crenças e sentimentos do grupo social. Sua produção

teórica objetivava consolidar a Sociologia enquanto ciência e conferir-lhe estatuto

científico. Com tal intuito, DURKHEIM (1978) delineou, com maestria, o objeto e o

método desta disciplina, num momento em que predominava o método das ciências da

natureza, transportando para a sociologia a necessidade de objetividade, verificação e

experimentação. Segundo o autor, as categorias surgem ligadas aos fatos sociais, sendo

que as representações são fatos sociais passíveis de observação e interpretação a partir

de um método sociológico.

A observação revela que as representações sociais constituem um grupo de

fenômenos sociais, reais, dotados de propriedade e formas específicas. Na tendência da

Sociologia preocupada com as delimitações das funções sociais dos respectivos

17 Primeiros teóricos do século XVIII com o Projeto de fundar a Antropologia e se propuseram aos estudos das representações sócias.

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elementos constitutivos do social, há um sério perigo implícito de esquecer a força do

que vem a ser o significado da ação coletiva como constitutiva de relações sociais.

Sua inegável contribuição possibilitou o desenvolvimento de conceitos raros às

Ciências Sociais que, juntamente com a análise precisa, orientou e continua orientando

a prática sociológica. As representações sociais constituem-se a partir da forma de

pensar, sentir e fazer socialmente estabelecidas, destacando uma pluralidade de ações e

compreensões similares. Essas perspectivas, uma vez formadas e fundadas, adquirem a

capacidade de agregar indivíduos e, ao mesmo tempo, tornar possível a vivência em

sociedade.

Dessa forma, rever os fundadores das Ciências Sociais modernas constitui-se

uma tarefa fundamental na formação de recursos humanos e condição fundamental

para a avaliação das políticas públicas, quando nem tudo está referendado nos

clássicos, embora diversos enfoques encontrem neles o seu berço e ancoradouro.

As representações sociais ou coletivas possuem a sua qualidade móvel que

obedece às leis do movimento e apara-se na dinâmica do social. Na sua lógica própria

e funcional, amparam-se em aspectos relativos ao consensual e à “coisificação”, ao

mesmo tempo, sob a ótica da crítica, ao estritamente funcional, abrem-se

permanentemente para a prática dos sujeitos sociais que desafiam e, se necessário,

transformam o real.

A consciência das relações sociais constitui-se fundamentalmente como um

produto social, apresenta-se mediada pelo meio sensível mais próximo, bem como se

vale da conexão limitada com outros indivíduos e coisas fora do indivíduo. Estes

significados consolidados pelos atores podem ser objetos de estudo dos cientistas

sociais, com o intuito de interpretar as compreensões e representações do cotidiano. A

compreensão do mundo, das relações sociais se dá a partir de um conjunto de

experiências próprias e de outros indivíduos, consolidando-se um tecido de

significados instituídos pela ação humana MINAYO (1995). As definições dotadas a

partir do cotidiano trazem conseqüências e são de fundamental importância para o tipo

de ação social empreendida para manter, modificar e construir relacionamentos

situacionais.

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Na Sociologia compreensiva de WEBER (1979), a base material e as idéias

encontram-se numa relação adequada em que ambas se condicionam ou são

condescendentes ante à mútua influência. Trabalham de maneira peculiar as noções de

visão de mundo como mentalidade, ação social, concepções, idéias e valores. A

representação social ou concepção da ação sobre o real inclui os respectivos juízos de

valor e consolida em seus resultados a eficácia das idéias na construção da história.

A partir do estudo sobre as formas de organização político-social, sobre a

relevância da vontade política na conformação das relações sociais, WEBER aponta

para a relativa autonomia do mundo das representações. Em diversas oportunidades,

somou esforços tentando demonstrar a possibilidade concreta de se estudar a eficácia

histórica das idéias.

Entretanto, alerta para a necessidade de se conhecer em cada caso particular

quais os ângulos metodológicos selecionados, quais os fatores e a causalidade que

contribuem para configurar determinado fenômeno histórico ou ação social. Cada

situação histórica, cada ator social, cada atribuição de significado pode configurar

relações peculiares como determinantes para a sua configuração.

Mais ou menos, somos herdeiros de percepções fragmentadas e contraditórias

que obtivemos das relações sociais. GRAMSCI (1986), por sua vez, tem trabalhado

mais diretamente o campo das representações sociais quando elucida, ao tratar o tema

senso comum e bom senso. É sensível a importância gramsciana do olhar da

superestrutura localizada na cultura e tradição social por meio da organização do

próprio eu interior. Todavia, ainda de forma mais específica, examina aspectos do

assunto ao desvendar as contradições da compreensão do mundo dos setores

subalternos, vindo a destacar a freqüente desconexão entre interesses, compreensão

dos relacionamentos e prática política. Está fundamentalmente preocupado com a

questão pedagógica da construção da hegemonia, rumo o qual considera os efeitos do

senso comum, com a solidez das crenças, bem como, pretende elucidar o seu valor

como potencial ou limitação das mudanças sociais.

Os valores, a cultura, as visões de mundo, as idéias são apontados como

capazes de produzir normas de conduta por novas relações sociais ou compele e

incentiva o conformismo. O senso comum, enquanto representação social e mesmo

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como pensamento fragmentado e contraditório, deve ser considerado na investigação

sociológica e recuperado criticamente, uma vez que ele corresponde ao nível de

compreensão do mundo e às condições culturais reais de vida. Na obra Concepção

Dialética da História, aponta a abrangência da sua abordagem.

Pela própria concepção de mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente ao de todos os elementos sociais que partilham de um mesmo modo de pensar e agir. Somos conformistas de algum conformismo, somos sempre homens coletivos. Nossa própria personalidade é composta de uma maneira bizarra: nela se encontram elementos dos homens da caverna e princípios da ciência mais moderna e progressista; preconceitos de todas as fases históricas passadas, grosseiramente localistas e intuições de um futuro filosófico (GRAMSCI, 1986).

O autor possui uma nítida preocupação com os elementos que venham a influir

na determinação da realidade. Neste sentido, o bom senso pode atingir uma

compreensão de ordem diversa daquelas que se atingem por meio da razão ou do

conhecimento discursivo ou analítico. A concepção de mundo de uma época é a

combinação de diversos elementos, culminando em determinada direção e norma da

ação coletiva.

Assim sendo, as representações sociais se manifestam num amplo leque de

determinações, como: em palavras e sentimentos, em propostas e ação política, em

compreensões e práticas, em propósitos e ilusões. Ao se exercitar o leque apontado,

confere-se necessariamente um nexo com o processo de institucionalização, portanto,

podem e devem ser analisados a partir da compreensão das estruturas e dos

comportamentos sociais. A sua medição privilegiada consolida-se através da linguagem,

enquanto leitura do mundo, ou mediante a prática social e os embates com outros atores.

A representação social em GRAMSCI (ibid) corresponde à visão de mundo dos

diferentes grupos e expressa as contradições e conflitos presentes nas condições em que

foram engendradas. Neste sentido, tanto o “senso comum” como o “bom senso,” nas

expressões do autor, consolidam formas de representação social observáveis, capazes de

revelar a situação contraditória da organização em que os atores sociais estão inseridos.

O conceito recebeu em tempos recentes, novo destaque por um esforço, não da

sociologia, mas da psicologia social. Em 1961, na França, o psicólogo social SERGE

MOSCOVICI (1989) criou a teoria da Representação Social e, no Brasil, os primeiros

estudos datam de 1985, tomando um maior impulso no ano de 1993 em diante. A teoria

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da Representação Social admite duas formas de conhecimento igualmente essenciais: o

científico e o senso comum, em que há um intercâmbio entre o saber acadêmico e o

saber popular, negando a sobreposição de um outro sobre o outro.

Esse psicólogo de formação promove a substituição do termo coletivo por social

e lhe amplia o significado, uma vez que não somente traduz conhecimentos, mas

também os produz. Isso é feito enquanto um exercício de leitura que pode viabilizar

pesquisas empíricas, na medida em que percebe as representações sociais como

categoria de análise social; como instrumento de pesquisa que permite entender as

concepções dos grupos, e atua como uma das formas de compreender as mudanças e

permanências promovidas socialmente.

O conceito da representação social está enquadrado no campo da psicologia

social que analisa imagens idealizadas pelo grupo, a respeito do seu dia-a-dia e das

condições que determinam sua prática. Para alguns estudiosos da área, existem aspectos

fundamentais associados às representações sociais (imagens) que as pessoas fazem de

determinadas experiências e que a simples aplicação de entrevista não dá conta. De

início, constatamos que, na área da educação, a teoria da representação social é

extremamente rica, uma vez que ajuda a entender os dados e as informações que fogem

à delimitação estatística, posto que a perspectiva meramente quantitativa geralmente

considera não as pessoas e as suas razões, não quem e por quê, mas os números.

O fazer e o agir dos seres humanos, em sociedade, estão relacionados, segundo a

teoria das “Representações Sociais,” com a visão de mundo que se tem, constituindo-se

de crenças e de valores, não somente pessoais, mas sociais, ordenando e legitimando sua

forma de ser e estar no mundo. Este processo MOSCOVICI (1989) denomina de

ancoragem, fenômeno que ocorre sempre que relacionamos um acontecimento estranho

ao nosso entendimento com algo que está próximo da nossa compreensão, isto é,

atribuímos significados aos objetos a partir das associações aproximativas com as

nossas vivências e experiências. Daí privilegia esta abordagem quanto à política de

descentralização: a compilação e análise dos dados sobre representação social dos atores

educacionais indicam elementos significativos, no sentido de definir ou não alterações

no percurso.

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Uma representação é gerada e estruturada a partir do enraizamento no processo

de atribuição de sentido ao objeto. Este processo unifica conhecimento e experiências,

em que a realidade e as suas partes estão integradas aos costumes, tradição, opiniões,

desenhos mentais, princípios e regras acordadas e vivenciadas socialmente. Há, nesse

caso, uma interelação entre percepções que as pessoas têm do objeto de conhecimento e

as idiossincrasias da história de vida do sujeito (MADEIRA, 1991).

Complementando esta concepção, GUARESCHI (2000) aponta que as

representações sociais podem ser entendidas “como um conhecimento do senso comum,

socialmente partilhado que se vê na mente das pessoas e na mídia”. Por isso que, neste

estudo, o enfoque da Teoria das Representações Sociais foi central para elucidar o

significado que o grupo entrevistado atribuía à política de descentralização, uma vez

que não apenas foi vivenciada isoladamente no contexto educacional, mas também se

mobilizou a sociedade civil e suas entidades representativas na sua consecução.

Nesse sentido, buscamos apoio também em THOMPSON (1995), remetendo-

nos a uma análise mais profunda do fenômeno. A concepção estrutural de cultura,

desenvolvida por este autor, ultrapassa a concepção antropológica do termo, porque esta

não considera suficientemente os problemas de conflito social e poder. Caracteriza-se

numa abordagem que enfatiza o caráter simbólico dos fenômenos culturais, bem como a

inserção destes em determinados contextos sociais e históricos: “os fenômenos culturais

podem ser vistos como expressões das relações de poder e, estando sujeitos a múltiplas,

talvez divergentes e conflitivas interpretações pelos indivíduos que os recebem e os

percebem no curso de suas vidas cotidianas” (ibid).

Através deste breve percurso, podemos observar a amplitude do conceito de

representação social e suas diversas manifestações. O intento desta pesquisa refere-se ao

estabelecimento do nexo entre o referido conceito e a questão contemporânea da

descentralização administrativa da educação nos ambientes de convivência real. Nesta

última, por certo, a dimensão subjetiva ocupa um lugar de destaque, uma vez que se faz

referência aos sujeitos da ação sobre o meio educacional, quanto às mudanças

processadas na instituição de trabalho, no caso aqui pesquisado, os CREDE.

Concebemos a ação humana como mola propulsora da História. Assim, homens

e mulheres são os protagonistas por excelência das relações sociais e, como tal, agentes

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do processo educativo, vez que não há indissolubilidade entre sociedade e educação.

Com este pensamento norteador, delineamos o propósito indicador desta investigação:

perceber qual a representação social desses homens e mulheres no cotidiano do seu

trabalho quanto à materialidade ou não da “descentralização/desconcentração”.

De fato, a nossa preocupação está em primeiro conhecer a perspectiva desses

atores educacionais e depois ajudar na compreensão da dinâmica interna no sentido de

entender para transformar, vez que a metodologia utilizada tem sempre a pretensão de

provocar uma mudança no curso dos acontecimentos socialmente produzidos. Partimos,

pois, do estudo das representações elaboradas pelos protagonistas da política de

descentralização implantada em nível regional. Por que estudar as representações

sociais neste trabalho?

A decisão por esta abordagem não é à toa. A justificativa encontra-se no fato de

que a metodologia e a técnica utilizadas na investigação direcionaram para a Teoria das

Representações. A compreensão que temos hoje é de que a análise das informações e

dados coletados exige o embasamento teórico das representações sociais enquanto

categoria analítica das falas dos dirigentes de CREDE e técnicos, bem como, daqueles

que vivenciam o processo na sua dimensão concreta.

O objeto de estudo, com foco na descentralização, pressupôs a mobilização de

diferentes forças sociais. No espaço institucional, as pessoas foram levadas a acreditar,

envolverem-se, provocadas à participação efetiva num contexto em que a educação

pública sofria fortes críticas da mídia, dada a sua ineficiência expressada na gestão

institucional, no fracasso escolar, na participação escolar, entre outros. As práticas

administrativas contaminaram-se com essas imagens, gerando mudanças na gestão

educacional. Segundo depoimento do Prof. Naspolini, quando se implantou a

“descentralização”:

A idéia era um pouco além da descentralização que quando se fala nisso fica referente ao centro, a nossa idéia era de participação, era que houvesse um órgão que escutasse a comunidade, que sentisse o que estava acontecendo, que fosse também uma fonte de informação muito rápida junto à SEDUC, para retornar com decisões e que tivesse o poder de decisão local, sendo checado em nível central, mas não era um executor de coisas decididas, centralizadas e também tinha o papel de coordenar a educação básica na região. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

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Para entender como os diversos atores educacionais percebem essas alterações,

estudamos, em primeiro lugar, as condições reais em que os indivíduos estão inseridos

através de uma “análise contextual” da sua condição de vida. Em verdade, as

representações são historicamente construídas e estão intrinsecamente relacionadas às

diferentes classes sociais refletindo-se nas práticas sociais diversificadas. Além do mais,

as representações sociais são elementos simbólicos que os homens expressam usando as

palavras e os gestos, LEONTIEV (1978) expressa bem essa idéia quando afirma que as

representações sociais são micro artifícios comportamentais. Assim, leva-nos a concluir

que as representações sociais são códigos de referência que se manifestam na vivência

diária, tanto de formuladores da política quanto de gestores técnicos e dirigentes de

CREDE, isto é, de um pólo ao outro das relações sociais, posto que a educação é uma

prática social.

Consideramos o momento histórico em que as medidas de intervenção política

na área de educação foram entendidas como de fundamental importância, tanto para o

nível global como para o local. Dessa forma, as mudanças trazidas pela reforma

educacional da década de 1990 eram necessárias e urgentes, no sentido de dar um outro

rumo à educação pública considerada por pesquisadores da área como ineficaz e

ineficiente.

Nosso interesse central foi entender a forma como os protagonistas ou setores

ligados à educação construíram suas representações sociais em torno do tema da

descentralização, destacando seus elementos constitutivos e ponto de partida, pois

compreendermos como as pessoas criam suas representações para interferir na realidade

em que estão inseridas é também uma questão que contemplamos neste estudo.

Com relação à representação social, podemos concluir que aparece na análise

das Ciências Sociais fazendo referência aos estudos da imagem do social, por meio dos

quais os indivíduos elaboram a concepção da realidade em que estão arraigados.

Baseado nesse entendimento, empreendemos esta pesquisa, na qual o material empírico

é entendido como produto das construções do imaginário humano sobre o real,

exigindo, assim, um repensar da relação entre mundo material e simbólico, entre o

objetivo e o subjetivo, entre os fatos e a respectiva compreensão.

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Na vertente das representações sociais, denominada ainda de representação

coletiva ou consciência coletiva, a associação entre os indivíduos e o real vivido reflete

uma totalidade ou compreensão ampla do social que manifestam através das expressões

individuais do agir, pensar, sentir e existir.

Privilegiar essa vertente metodológica na abordagem do objeto de estudo é

compreender que a ação dos agentes educacionais é portadora de dupla face: a

individual e a coletiva. A primeira se dá na participação enquanto sujeito social dotado

de historicidade, e a segunda, em conjunto com outros indivíduos, na comunhão das

mesmas percepções e dos mesmos projetos.

Cabe ressaltar que o sistema educativo público estadual, durante a década de

1990, enfrentou um conjunto de mudanças instaurado com a pretensão de transformá-lo

e adaptá-lo às novas necessidades sociais e econômicas decorrentes da globalização.

Assim, nesse processo de globalização, dentre os esforços da reforma educacional

cearense, há: implantação da seleção e eleição para diretores escolares e diretores de

CREDE, criação dos conselhos escolares, adaptando-os às novas necessidades

formativas da sua população, implantação do sistema de avaliação do rendimento

escolar, bem como, a avaliação institucional. A reforma administrativa da educação

pública, numa direção descentralizadora, configurou-se em nosso objeto de

investigação.

Lançamos, assim, um olhar crítico e reflexivo sobre esse processo, analisando

seus objetivos e avaliando a sua operacionalização, na perspectiva atual, pois vale a

pena interrogar-se acerca de quais foram os efeitos reais dessa reforma empreendida,

nos aspectos previsíveis da política, bem como nos fatores externos imprevistos.

Também nos perguntamos especialmente pelas valorações, avaliações e análises

realizadas nessa política, por seus atores principais, os formuladores e executores da

ação governamental, observando os efeitos da “descentralização administrativa”.

A análise destas questões exigiu, da nossa parte, um esforço teórico e

metodológico, no sentido de instigarmos a reflexão acerca dos melhores meios para

aperfeiçoar o processo, posto que intencionamos contribuir com alguns subsídios para

aperfeiçoamento do processo de descentralização e autonomia do sistema educativo.

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Com este objetivo, procedemos a uma série de investigações por meio de

entrevistas diretivas com as pessoas que vivenciaram esse momento, seja na condição

de formuladores ou de executores do processo de implantação dos Centros Regionais de

Desenvolvimento da Educação – CREDE, instâncias intermediárias de gestão da

educação.

A metodologia utilizada compreendeu dois momentos centrais: o delineamento

do panorama das reformas no Brasil e um estudo de caso realizado nos CREDE de

Baturité e Horizonte. Isso é para nós particularmente importante uma vez que neste

período implantou-se o FUNDEF18, conforme quadro abaixo:

Quadro 03 - Evolução do FUNDEF – CREDE 08 19

Não é à toa que notamos uma intensificação do processo de “descentralização”

nesses anos. Se observarmos atentamente o quadro, veremos que o auge do

desenvolvimento desse processo se deu durante os anos de 1998 a 2002. Momento em

18 Lei nº. 9.424, de 24 de dezembro de 1996, que dispõe no seu Art. 1º: “É instituído, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, o qual terá natureza contábil e será implantado, automaticamente, a partir de 1º de janeiro de 1998”. (SEDUC, 1998). 19 Dados da Coordenadoria de Planejamentos e Políticas Educacionais - COPPE

Município 1998 1999 2000 2001 2002

Acarapé 368.942,34 521.571,09 700.586,11 816.977,95 961.874,16

Aracoiaba 1.695.204,24 1.666.335,47 1.777.215,45 2.038.789,86 2.796.686,67

Aratuba 902.381,09 963.124,56 1.270.416,09 1.461.106,66 1.687.462,87

Barreira 1.263.521,42 1.481.749,21 1.513.305,02 1.692.884,58 2.223.258,07

Baturité 1.163.950,34 1.390.831,21 1.773.874,61 2.064.674,74 2.439.145,25

Capistrano 1.247.602,47 1.336.923,34 1.473.283,11 1.726.474,65 2.042.977,93

Guaramiranga 145.453,73 307.079,59 386.340,01 423.183,54 492.782,06

Itapiúna 1.102.147,51 1.418.192,37 1.546.679,24 1.742.148,89 2.023.840,32

Mulungu 530.316,13 674.441,71 735.776,39 858.951,58 992.919,83

Ocara 1.828.173,78 2.008.527,73 2.108.662,57 2.315.668,48 2.765.563,76

Pacoti 559.344,83 656.798,96 804.957,86 1.003.899,87 1.121.505,36

Palmácia 444.479,03 654.922,16 774.187,65 993.632,50 1.111.994,10

Redenção 1.154.586,19 1.574.456,34 1.881.689,92 2.085.021,07 2.499.491,16

TOTAL 12.406.103,10 14.654.953,74 16.746.974,03 19.223.414,37 23.159.501,54

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que todos os municípios aumentaram sua participação quanto ao FUNDEF. Lei que foi

louvada como uma razoável porta de soluções para os graves problemas da educação

pública, não apenas no Ceará, mas em todo território brasileiro.

Para municipalizar, os entes federativos de governo local deveriam aceitar o

“pacto da descentralização”20 promovido pela esfera federal. Deveriam fazer novos

investimentos para oferecer serviços públicos como: saúde, assistência social, mas,

principalmente, educação. O forte ataque deu-se, em todos os sentidos, na área da

educação. Ademais, a engenharia governamental articulou esta nova necessidade social,

de uma forma ousada, por meio da Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Base da

Educação - LDB, dois fortes instrumentos de legitimidade da “descentralização”.

Voltemos, assim, os olhos para o quadro 04 que representa o CREDE 09:

Quadro 04 – Evolução do FUNDEF no CREDE 09

Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Políticas Educacionais - COPPE

Tal qual a dinâmica interna que se verificou nos municípios jurisdicionados ao

CREDE 08, também observamos, nos do CREDE 09, ora, com uma pequena variação

que se verifica a partir de 2001. Não temos aqui a pretensão de averiguar quais as

causas inerentes a essa dinâmica. Entretanto, é possível dizer que isso nos remete

imediatamente à queda de matrícula que se tem verificado na rede estadual em sério

declive, a partir de 1996, no ensino fundamental.

Qual o papel dos CREDE no contexto da “descentralização educacional”

estadual? A pergunta que insistimos permanentemente configura-se em situar a sua ação

durante esse percurso, compreendendo que a descentralização não é apenas uma

20 Todas as instâncias estadual, municipal são responsáveis pelo processo de descentralização administrativa e política no seu território.

Município 1998 1999 2000 2001 2002

Beberibe 3.051.430,88 3.548.651,20 4.045.896,36 4.635.688,84 5.506.358,85

Cascavel 2.318.537,90 2.475.385,86 3.143.625,52 3.679.904,42 4.856.220,15

Chorozinho 1.319.393,55 1.727.313,96 1.688.040,31 1.948.814,17 2.446.131,71

Horizonte 1.739.215,27 2.263.908,11 2.758.690,33 3.124.941,27 3.914.844,63

Pacajus 2.431.530,70 3.042.592,87 3.299.035,31 3.537.574,74 4.613.233,19

Pindoretama 844.011,88 1.073.170,37 1.213.553,17 1.402.912,56 1.750.153,42

Total 11.704.120,18 14.131.022,37 16.148.841,00 18.329.836,00 23.086.941,95

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transferência de responsabilidades de uma esfera de poder para a outra. Para defender

esta idéia, reportamo-nos novamente a CASASSUS (1990).

Para este estudioso dos processos de descentralização no contexto educacional,

na América Latina, a descentralização está intimamente relacionada à questão da

democracia e da participação, com o status de autonomia legitimamente reconhecido.

Com o poder de decisão nas mãos da esfera local, em sua relação com a central. Além

do mais, existe o controle social das políticas de educação pública pelos protagonistas21.

Em nosso caso, estudamos apenas a esfera regional, posto que o nosso objeto de

pesquisa, assim, demandou.

Parte deste estudo foi realizado no local de origem dos dados, ou seja, nos

CREDE 08 e 09, onde efetuamos uma pesquisa de caráter quanti-qualitativo, dada a

especificidade do objeto investigado. A temporalidade desta pesquisa circunscreve-se

entre os anos de 1995 a 2002, auge da implantação da política de descentralização

administrativa, levando em consideração que o desenvolvimento de uma pesquisa deste

porte pressupõe um recorte temporal-espacial de determinado fenômeno por parte do

pesquisador. (MANNING, 1979).

Assim, podemos afirmar que o elo entre signo e significado, conhecimento e

fenômeno, depende, em grande parte, do arcabouço interpretativo utilizado pelo

pesquisador, cuja visão de mundo norteia suas referências analíticas (DEMO, 1995).

Neste sentido, a reconstituição histórica ajudou-nos a mostrar as reformas

incrementadas no período compreendido entre 1995 e 2002, procurando entender as

mudanças ocorridas, singularmente, na área educativa. Este estudo permitiu identificar

as principais características das políticas educativas implantadas no Brasil e no Ceará

durante o século XX, assim como, verificar os novos contornos do gerenciamento

administrativo em nível central e regional.

21 Chamamos de protagonistas àqueles que executam as políticas na ambiência regional ou da unidade escolar.

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CAPÍTULO II

A AGENDA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NAS DÉCADAS FIN AIS DO

SÉCULO XX

2.1 O Contexto Macro Global das Políticas Públicas de Educação

Toda organização e administração, na medida em que cresce, tende a usar, inevitavelmente, processos de mecanização e uniformização. Como isto é, por assim dizer, incompatível com o processo educativo, quanto menor a unidade de serviços a administrar, tanto melhor será a administração, e tanto mais se evitarão os males irremediáveis do processo de mecanização das macro-organizações. Logo, a administração municipal das escolas, enquanto não pudermos estabelecer a distrital , constituirá a melhor unidade administrativa do sistema escolar brasileiro. Também socialmente recomenda-se a responsabilidade local. A escola, hoje, está sendo concebida como uma comunidade integrada dentro da comunidade maior da cidade, da vila ou do povoado. A administração local concorrerá para tornar possível essa integração, passando a escola a ser a instituição fundamental da comunidade, servindo-a e dela se servindo para a vitalidade e riqueza dos seus processos educativos. O professor, de nomeação local e lealdade local, deixará de ser o estranho, a autoridade consular e passageira, um quase hóspede da comunidade, para se sentir responsável e integrante dessa comunidade. (ANÍSIO TEIXEIRA, Congresso Nacional de Municipalidades, abril de 1957).

Neste capítulo, abordamos a temática das políticas públicas de educação, nos

países em desenvolvimento, nos contextos global e nacional. Na década de 1990, o tema

da educação pública volta a assumir uma importância categórica na agenda mundial,

figurando como eixo central das discussões em quase todos os grandes eventos

realizados. Esse interesse pela educação não vem de improviso, mas compõe o todo de

uma série de transformações econômicas, sociais, políticas e culturais sentidas a partir

das últimas décadas do século XX e aceleradas com os adventos de sua última década.

Muitos analistas da educação têm destacado que a realidade educacional, sob o

signo da globalização,22 sofreu profundas transformações nesse período.

Acompanhando essas mudanças, a economia avançou, e as políticas neoliberais se

tornaram hegemônicas. Como conseqüência direta dessa nova ordem econômica

22 Fenômeno econômico, social, cultural e político de transnacionalização da economia e do avanço, jamais visto em qualquer outra época, da tecnologia e da comunicação, rompendo fronteira e encurtando as distâncias. (LEITÃO, 2005; CARVALHO, 1999).

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mundial, o desemprego aumentou, a informatização tecnológica alterou as relações de

trabalho; as empresas privadas e estatais efetuaram reordenamento e promoveram

demissões nos seus quadros de funcionários, o emprego industrial diminuiu, jogando

grandes contingentes na economia informal que subiu consideravelmente e,

conseqüentemente, a educação, também, mudou.

A classe média urbana empobreceu, gerando um quadro de exclusão social e

implicando no aumento da violência urbana, uma vez que os indivíduos dela oriundos

tiveram que conviver com o desemprego e com a marginalidade social. Segundo GOHN

(1995), nesse cenário, o Estado passou a implantar políticas afirmativas para as pessoas

excluídas do mercado de trabalho e sem acesso aos seus mínimos direitos sociais,

através das chamadas políticas compensatórias (bolsas/empregos, frentes de trabalho,

etc.), na tentativa de diminuir os impactos negativos gerados com o neoliberalismo.

Conforme os analistas23, nessa nova conjuntura, ganha destaque a educação, dado que,

na era da globalização, o elevado grau de competitividade expandiu a demanda por mais

conhecimentos e informações.

A educação granjeou maior centralidade nos discursos de governo e nas políticas

sociais implantadas, porque a justificativa encontrada enfatizava o seu papel enquanto

ferramenta de descentralização, democratização e participação, no contexto complexo

social e econômico brasileiro, do fim do século passado. Assim, para os formuladores

das políticas educacionais nos três níveis de organização do ensino público, fazia-se

necessária uma mudança de paradigma na educação, principalmente quanto à função

social da escola que, por sua vez, não deveria atuar apenas como lócus da transmissão

do saber sistematizado, e sim, deveria ser o espaço para o exercício da democracia.

Pesquisas realizadas por órgãos governamentais como o Instituto Nacional de

Pesquisas Educacionais – INEP e por entidades não governamentais como o Fundo das

Nações Unidas para a Infância - UNICEF davam conta de que quanto maior o número

de anos de escolarização recebida associado à qualidade da educação ofertada, maior as

chances dos indivíduos no acesso ao mercado de trabalho, melhorando o nível de renda

dos trabalhadores. Sob essa perspectiva, as principais transformações que ocorreram na

23 Dentre esses analistas, podemos citar: VIEIRA (2000); CASASSUS (1990); ARRETCHE (2000); DRAIBE (1999).

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área da educação no período focalizado por esta pesquisa ocorreram de forma global,

atingindo a grande maioria dos países considerados em desenvolvimento ou

subdesenvolvidos num cenário de reforma estrutural do Estado.

A educação, no Brasil, em especial, sofreu transformações de caráter

descentralizador e democratizante. Os programas de fomento às reformas educacionais

desenvolvidos pelo Estado priorizaram a descentralização administrativa, a

democratização e a participação da comunidade escolar e local na gestão da escola

pública. Essas transformações foram entendidas por muitos estudiosos como reformas

educacionais importantes, e os seus significados só poderão ser compreendidos num

contexto macro das políticas educacionais na década em questão (Revista Espaço

Acadêmico, 2003).

2.2. Educação e Mudança: Pontuando as Travessias

Para entender o alcance e a dimensão das transformações na educação pública

brasileira, é necessário situar as principais mudanças na área social, econômica e

política que aconteceram no final do século passado. A pergunta que fazemos figura

como título do tópico desta parte do trabalho: no contexto macro global das políticas

públicas de educação, quais as principais alterações que acabaram culminando na

reforma educacional? O século XX foi marcado, a partir da década de oitenta, por uma

série de mudanças caracterizadas principalmente pela aceleração e rapidez com que se

efetivaram. Embora sendo a economia fator de maior destaque na globalização, a

educação também tem sido alvo dessas mudanças.

Analistas contemporâneos têm consenso quanto ao fato de que foi na última

década do século XX, que ocorreu uma “adoção maciça” de reformas educacionais nos

países em desenvolvimento, em especial no Brasil, com foco na universalização, na

descentralização e na democratização do ensino como já nos referimos. A tônica central

foi na descentralização administrativa e na autonomia das escolas públicas. Pesquisas

acadêmicas buscavam dar conta desse movimento, enfatizando a importância da

reforma em seus amplos aspectos.

Sucintamente falando, os princípios e instrumentos mais empregados pelas

instâncias formuladoras das políticas educacionais nos anos 1980 e 1990 do século

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passado foram a municipalização do ensino e a universalização do ensino fundamental.

Documentos oficiais argumentam que a universalização do ensino público foi

alcançada, mas a qualidade precisa ser intensificada (SEDUC, 2002). Nesse contexto, o

Ceará destaca-se como um dos primeiros estados da federação brasileira a investir

maciçamente na implantação de uma reforma que considerasse as necessidades do

mundo moderno na era da globalização. Explicitando esse contexto, SANTOS (2002)

afirma que a sociedade atual exige decisões plurais na qual a coordenação de grupos

diversos e soluções distintas ocorrem no interior de uma mesma competência,

aumentando a participação dos diferentes atores sociais.

GIDDENS (2000) vai ao encontro do pensamento de SANTOS quando diz que a

sociedade desse novo contexto mundial é necessariamente reflexiva, isto é, caracteriza-

se como uma nova sociedade emergente, que está ajustada por uma gama de

informações e de inovações cotidianas, forçando os cidadãos a tomar múltiplas e

diferenciadas decisões no seu dia-a-dia. Assim, podemos afirmar que o homem da

globalização é reflexivo, porque dele é determinado que resolva sobre problemas

excepcionais. Na prática, as demandas do mercado de trabalho estão mais qualificadas,

as tensões e os conflitos familiares mais debatidos, as demonstrações culturais e

religiosas cada vez mais fragmentadas e há a supervalorização dos espaços privados e

das tribos urbanas, tornando as instâncias locais importantes no gerenciamento do

tecido social.

Nessa nova situação provocada com o domínio da globalização, as reformas

educacionais nos sistemas de ensino público tornaram-se imperativas na agenda

governamental dos políticos e administradores públicos. A implantação das reformas

nos países em desenvolvimento tem como ponto de partida a Conferência Mundial de

Educação para Todos, realizada na Tailândia, em 1990, convocada pela Organização

das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO –, pelo Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD –, Fundo das Nações Unidas para

a Infância – UNICEF – e Banco Mundial; e o PROMEDLAC IV, que dizia respeito à

reunião de Ministros de Educação convocados pela UNESCO para avaliar o

desenvolvimento do Projeto Principal de Educação para a América Latina e o Caribe

(JESUÍNO, 2005). Nesses encontros internacionais, a tese defendida era a de que as

exigências de crescimento econômico, na última década do século XX, demandavam

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uma vez mais o investimento em educação. Daí a necessidade de implantação de

reformas educacionais que assumissem esses desafios e tentassem promover a

descentralização administrativa da educação pública, entendida como uma espécie de

modernização da gestão. Neste sentido, apresentamos algumas considerações a respeito

destas tendências e interlocuções, a fim de avançar na discussão sobre as mudanças de

rumos da educação no Brasil.

As três últimas décadas do século XX foram particularmente reveladoras de

acontecimentos históricos e sociais no Brasil e no mundo. No caso do nosso País, a crise

do Estado, culminando com o reordenamento de seu papel e a reforma educacional

constituíram elementos de grande relevância na conjuntura política brasileira, dadas as

políticas implementadas que refletiram o contexto da reforma em âmbito geral. Qual o

percurso dessas mudanças? No Brasil, a partir da década de 1980, ocorre a “crise do

Estado”, entendida aqui como uma série de fatores, dentre os quais, convém citar: a) a

fiscal; b) a econômica; c) a social; d) a política; e, e) a crise do modelo burocrático de

gestão pública. (IANNI, 1996), apontando para um novo modelo de gestão: a

descentralização administrativa.

Entendemos, dessa forma, a crise do Estado como sendo de caráter estrutural,

isto é, tendência de crises simultâneas que levam à discussão sobre o papel do Estado na

sociedade em seus diferentes aspectos. O Brasil, nas últimas décadas do século XX,

viveu sob o signo da redefinição do papel do Estado. BRESSER PEREIRA (2001), ao

analisar as percepções e perspectivas teóricas da reforma do Estado, apresenta as quatro

principais abordagens teóricas dessa: - a neoliberal, que seguiu os preceitos neoliberais

do estado mínimo no investimento das políticas sociais; - a sociologia institucional, que

parte das necessidades da sociedade civil, - a escolha racional ligada aos modelos

empresariais e o modelo principal-agente que guarda similitude com a penúltima.

No tocante à reforma brasileira, a principal transformação ficou por conta da

redefinição das funções do Estado. O aparelho Estatal remodelou-se em direção a uma

descentralização administrativa. A Educação, no final do século XX, sofreu mudanças

na sua promoção e financiamento, total ou parcialmente. No tocante às mudanças, estas

foram promovidas com base em duas leis complementares: a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional 9394/96 e Fundo de Valorização e Manutenção do Ensino

Fundamental 9424/96. A primeira, com a finalidade de dar conta do caráter mais amplo

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da educação, e a segunda, de cuidar do financiamento, especificamente, do ensino

fundamental.

Inferimos, a partir das duas leis, que a nova ordem instituída para a educação

caminhou rumo à descentralização administrativa. A Educação, nesse contexto, segundo

AZEVEDO (2000), constitui-se “como um setor que se tornou alvo das políticas

públicas, em estreita articulação com as características que moldaram o seu processo de

modernização e desenvolvimento”. Em fins de 1980 e início de 1990, a ênfase das

políticas educacionais passa a ser a eficiência do funcionamento das instituições

escolares e a qualidade de seus resultados. Ressaltamos a influência de organizações

internacionais no estabelecimento dessas orientações que são estabelecidas para o

aparelho de Estado como um todo, em seu processo de reforma, em que:

(...) o Estado procurará imprimir maior racionalidade à gestão da educação pública, buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e otimizar seus recursos, adotando em muitos casos o planejamento por objetivos e metas (OLIVEIRA, 2000).

As principais políticas educacionais promovidas no Brasil foram fundamentadas

nas seguintes orientações: redistribuição de recursos; descentralização da execução do

gasto; reforço da progressividade e redistributividade dos recursos; reequilíbrio regional

da alocação; descentralização; desconcentração dos recursos e funções; participações

dos pais; parcerias com a sociedade civil; modernização dos conteúdos; diversificação

das carreiras; criação de sistemas nacionais de capacitação docente; e criação de um

sistema nacional integrado de avaliações educacionais (DRAIBE 1999). Corroborando

com PESTANA (2001), os elementos da reforma podem ser caracterizados como:

ênfase na qualidade, nas políticas de descentralização e na pressão sobre o Estado para o

desenvolvimento de políticas mais adequadas, eficazes e eficientes. No caso da

educação pública brasileira, segundo GONH (1995), a reforma educacional aconteceu

não por conta de uma necessidade de enxugamento dos gastos públicos, mas por conta

de uma série de transformações de caráter nitidamente social. Dentre essas, a autora

argumenta que o processo de reforma educacional brasileira, levada a efeito pelo

Ministério da Educação – MEC, coincidiu com o processo de mudanças do perfil da

sociedade como um todo. Assim sendo, a participação e o envolvimento das famílias,

bem como dos professores e alunos, é uma mudança significativa do papel da escola

que:

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(...) de instância de formação básica para o desenvolvimento econômico, passa a assumir o papel de instância social básica de desenvolvimento social, potencializando acordos morais, unificando interesses comunitários e abrindo-se para a elaboração de novos conhecimentos sociais (GOHN, 1995).

Acompanhando esta tendência analítica, é importante destacar as motivações

centrais das reformas educacionais em curso, para além das demandas econômicas.

Enfatizamos seguidamente três motivações que consideramos significativas, segundo o

pensamento de GOHN. A primeira caracteriza-se como razão pedagógica, com base na

implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), significando uma mudança

radical nos objetivos e concepções que orientavam até então a ação governamental. O

campo da avaliação pedagógica foi, inclusive, o mais polêmico das reformas

educacionais, em virtude da implantação do novo sistema de avaliação do ensino, com a

promoção automática e implantação dos ciclos básicos de formação.

A segunda, diz respeito à razão social, com ênfase no aspecto comportamental

dos jovens, constituindo uma sub-cultura adolescente, independente dos valores adultos.

As mudanças em curso no mercado de trabalho e a depauperação das relações de

trabalho facilitam a decomposição dos arranjos familiares originais. O tempo de

convívio familiar se reduz, e as famílias acabam transferindo a responsabilidade pela

educação básica de seus filhos para a escola. Para GONH (1995): “Esta seria uma

motivação importante para as reformas educacionais: o papel social das escolas altera-se

muito no século XXI. A socialização básica é largamente transferida para as escolas”. E,

finalmente, a terceira razão tem motivações políticas, ligadas à redemocratização do

país nos anos de 1980, desarticulando o regime militar e o autoritarismo com que eram

tratadas as questões de caráter social como a educação.

O meio educacional brasileiro era o foco de resistência da ditadura militar. Com

a queda deste, a pauta das reformas educacionais das duas últimas décadas do século

XX reflete a negação ao modelo educacional autoritário da decadente ordem do regime

militar.

Dessa forma, o trinômio descentralização, autonomia e participação,

estimulando amplamente o envolvimento da comunidade escolar passaram a ser

entendido como antítese do modelo anterior. Assim, a idéia era a instalação de

mecanismos de gestão descentralizada por meio de formas colegiadas de

gerenciamento, como os conselhos ou colegiados escolares. Essas diretrizes deram o

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tom das reformas educacionais da década de 1990, em todo contexto latino-americano

com os seguintes pontos em comum: descentralização administrativa, gestão

democrática da educação, universalização do ensino e a participação da comunidade

escolar na gestão. Alguns teóricos24 consideram, ainda, que o tempo histórico de

implantação das reformas foi homogêneo, apesar dos países da América latina

possuírem realidades históricas e sociais diferenciadas, o método de implementação

dessas reformas não considerou essas diferenças e nem tampouco refletiu a

heterogeneidade das práticas educacionais no interior das escolas. Consideram também

como inovadoras, as estratégias implementadas por governos latino-americanos ao

longo da década de 1990, destacando as mudanças relacionadas à descentralização,

tema da nossa pesquisa.

No Brasil, a construção da descentralização assumiu um caráter administrativo e

financeiro, relacionada de maneira direta com a transferência de monitoramento e

controle sobre a execução das políticas educacionais para as instâncias regionais e

locais. Associou-se, também, a esse procedimento, a transferência de alguns recursos

para a escola, como aquisição de merenda e materiais de consumo para as escolas

públicas via a escolarização da merenda e a implantação do Programa Dinheiro Direto

nas Escolas. ARRETCHE (2000) observa que alguns estados brasileiros

implementaram políticas educacionais descentralizadas, a partir da Constituição Federal

- CF de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96.

No que toca à descentralização da merenda escolar, a partir de 1993, organizou-

se uma intervenção nacional para sua municipalização. O baixo custo do processo de

municipalização gerou ao programa grandes oportunidades de implantação. Na análise

dessa autora, a descentralização dos programas educacionais no Brasil ocorreu quando,

o programa em questão, apresentava baixo custo operacional para o município que

aderisse ao programa, ou quando seu poder de barganha com o poder central era baixo.

Percebemos, assim, que as mudanças promovidas na reforma brasileira

confluíram no sentido de uma descentralização administrativa, apontando para uma

maior responsabilização dos Estados e Municípios. Podemos afirmar, então, que a

principal característica da reforma é a transferência de responsabilidades administrativas

24 VIEIRA (2000); GONH (1995); SALES (1996); ARRETCHE (2000).

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para a comunidade local. Na verdade, a reforma ainda é um processo inacabado, os

desafios e impasses nesses vinte anos de reformas educacionais foram analisados pelos

secretários de educação das diversas regiões brasileiras.

Esses secretários montaram um mural das reformas em curso com os seguintes

impasses a enfrentar: problemas com transporte escolar, situação salarial dos

professores, contratação de recursos humanos, além de fontes de financiamento que

assegurassem os recursos financeiros necessários à educação. De fato, observando de

maneira criteriosa a reforma educacional contemporânea no Brasil, constatamos como

marco geral da reforma, que a descentralização não conseguiu dar conta de uma série de

situações crônicas as quais assolam a educação pública no Brasil, seja porque muitos

são realmente os desafios, seja porque a reforma atingiu apenas a superfície do sistema,

isto é, a sua face burocrática. Tal constatação mantém identidade com o caráter

impositivo da implantação da reforma brasileira. Isso é particularmente verdadeiro em

se tratando de programas de descentralização.

2.2.1 Agenda da Educação Brasileira nas Décadas Finais do Século XX

Sem dúvida, a década final do século XX foi uma espécie de “tsunami” no

contexto global. Trouxe consigo, como todas as grandes Eras da História, conturbação e

desafios. No caso do Brasil, em face do novo cenário da política econômica, culminou

também com a urgência de uma grande reforma educacional. Designamos essa reforma

de grandiosa, não apenas por seu caráter quantitativo, mas principalmente pelo que

trouxe de novo, de revolucionário, de instigante, de essencialmente inovador tanto na

esfera estadual, quanto no âmbito nacional, há uma crença dividida em relação ao fato

de que as transformações na agenda educacional dos anos 1990 foram ocasionadas pela

onda da globalização, demandando novas qualificações profissionais e uma nova

educação capaz de responder às exigências dessa formação.

O Ministério da Educação - MEC implantou vários programas de caráter

descentralizador, apontando para um movimento sistemático de "definição de rumos"

para a política educacional no Brasil (VIEIRA, 1998). Reconhecendo a escola como

ponto de partida da ação pedagógica, o projeto propõe diretrizes voltadas para o

fortalecimento da gestão democrática, da descentralização administrativa e

fortalecimento da gestão escolar.

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Entre esses programas, destacamos: Programa de Manutenção, Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério - FUNDEF; Programa de Avaliação Institucional das Universidades

Brasileiras – PAIUB; Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB;

Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM; Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs,

Exame Nacional de Cursos - ENC; Programa Dinheiro Direto nas Escolas – PDDE;

Fundo de Fortalecimento da Escola - FUNDESCOLA e outros que serão apresentados a

seguir: Quadro 05 – Programas Implantados na Década de 199025

O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

25 Para montagem do quadro, pesquisei os seguintes documentos: SEDUC (1995), Emenda Constitucional Nº 14, site do FNDE e do Ministério da Educação e Cultura.

ANO PROGRAMAS OBJETIVOS

1990 MANUTENÇÃO Descentralização dos recursos financeiros para a escola.

1996 FUNDEF Subvincular ao Ensino Fundamental uma parcela dos recursos constitucionalmente

destinados à Educação

1993 PAIUB Implantar um sistema de avaliação institucional centrada na graduação, uma vez que a

pós-graduação, na época, já vinha sendo avaliada.

1990 SAEB Apoiar municípios, estados e a União para formular políticas que visem à melhoria da

qualidade do ensino.

1998 ENEM Avaliar os estudantes de escolas públicas e particulares do Ensino Médio.

1997 PCNs Propiciar aos sistemas de ensino, particularmente aos professores, subsídios à

elaboração e/ou re-elaboração do currículo, visando à construção do projeto

pedagógico, em função da cidadania do aluno.

1996 PNE Avaliar os cursos de graduação da Educação Superior, no que tange aos resultados do

processo de ensino-aprendizagem.

1995 PDDE Transferir recursos financeiros às escolas públicas do ensino fundamental das redes

estadual e municipal com mais de 20 alunos e de educação especial, mantidas por

organização não governamental inscrita no Conselho Nacional de Assistência Social -

CNAS, recenseadas no ano anterior, visando contribuir, supletivamente, com a

melhoria de suas infra-estruturas física e pedagógica, para assegurar as condições

indispensáveis ao seu funcionamento, reforçando-lhes, inclusive, a participação social

e a autogestão escolar.

1998 FUNDESCOLA Melhorar o desempenho do ensino fundamental, ampliando o acesso e a permanência

das crianças com idade escolar nas séries correspondentes, melhorar a qualidade da

escola e dos resultados educacionais e aprimorar a gestão das escolas, das secretarias

estaduais e municipais de educação, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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Valorização do Magistério - FUNDEF foi instituído pela Emenda Constitucional nº. 14,

de setembro de 1996, e regulamentado pela Lei nº. 9.424, de 24 de dezembro do mesmo

ano e pelo Decreto nº.2.264, de junho de 1997. O FUNDEF foi implantado,

nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, quando passou a vigorar a nova sistemática de

redistribuição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental.

A maior inovação do FUNDEF consistiu na mudança da estrutura de

financiamento do Ensino Fundamental no País (1ª a 8ª séries do antigo 1º grau), ao

subvincular a esse nível de ensino uma parcela dos recursos constitucionalmente

destinados à Educação. A Constituição de 1988 vincula 25% das receitas dos Estados e

Municípios à Educação. Com a Emenda Constitucional nº. 14/96, 60% desses recursos,

o que representa 15% da arrecadação global de Estados e Municípios, ficam reservados

ao Ensino Fundamental. Além disso, introduz novos critérios de distribuição e

utilização de 15% dos principais impostos de Estados e Municípios, promovendo a sua

partilha de recursos entre o Governo Estadual e seus municípios, de acordo com o

número de alunos atendidos em cada rede de ensino.

Genericamente, um fundo pode ser definido como o produto de receitas

específicas que, por lei, vincula-se à realização de determinados objetivos. O FUNDEF

é caracterizado como um fundo de natureza contábil, com tratamento idêntico ao Fundo

de Participação dos Estados - FPE e ao Fundo de Participação dos Municípios - FPM,

dada a automaticidade nos repasses de seus recursos aos Estados e Municípios, de

acordo com coeficientes de distribuição estabelecidos e publicados previamente. As

receitas e despesas, por sua vez, deverão estar previstas no orçamento, e a execução

contabilizada de forma específica.

Ao instituir, em 1º de janeiro de 1998, o Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF, o

Governo Federal incumbiu os municípios de assumirem a responsabilidade pelo ensino

fundamental, mas não os obrigou a isso. A estratégia para atrair o interesse de prefeitos

a assumirem tal compromisso foi liberar recursos.

Em texto publicado pelo Ministério da Educação26, o ministro Paulo Renato

26 <Acesso ao site www. mec. gov. br > do Ministério da Educação, 2002. Paulo Renato Souza - Ministro da Educação no período de 01/01/1995 a 01/01/2002

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Souza elogia o FUNDEF por incentivar o aumento do número de matrículas no ensino

fundamental, melhorar os salários dos professores, favorecer os planos de carreira

municipais, estimular a oferta de vagas e permitir a capacitação de professores leigos -

obedecendo a uma das exigências da LDB, que é fazer com que, até 2006, todos os

professores tenham formação média ou superior.

Uma das questões polêmicas é que o FUNDEF tornou-se um atrativo para vários

administradores municipais, mais preocupados em receber os recursos do que em

investi-los na qualidade do ensino. Pela lei, o município deve aplicar na educação 25%

da sua receita, provenientes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços -

ICMS, do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios, e

da parcela do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI. Esse dinheiro deve ser

gasto na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público e na

valorização do magistério. Nas regiões em que as redes municipais têm mais estudantes,

as escolas têm direito a mais verbas que as da rede estadual e vice-versa.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, do Ministério da

Educação, tem uma programação especial para capacitar o maior número possível de

pessoas envolvidas com o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. Por

isso, promove cursos para prefeitos, secretários municipais de Educação e de Finanças,

nutricionistas, coordenadores estaduais e diretores de escola sobre a gestão financeira do

programa. Além disso, o Fundo está em entendimentos com a Secretaria de Ensino a

Distância - SEED, do Ministério da Educação, para o desenvolvimento de módulos de

formação à distância para os diversos públicos que participam da merenda escolar, onde

se realizam capacitações mensais sobre os programas de Alimentação Escolar, Dinheiro

Direto nas Escolas, que envolvem cerca de 30 municípios a cada edição, envolvendo,

aproximadamente, 150 pessoas em cada uma. (FNDE, 2005a).

Os critérios para a escolha desses municípios são as existências de denúncia de

corrupção ou malversação do dinheiro público, as datas de renovação do CAE e a

localização geográfica. “Daremos prioridade aos locais em que nunca houve

treinamento”, informa o diretor de Ações Educacionais do FNDE, Daniel Balaban27.

“Cada município deve indicar três membros do Conselho de Alimentação Escolar, entre

27 <Acesso ao site www. fnde. gov. br > Daniel Balaban assume a presidência do FNDE em 31/03/2006 com o discurso de que o “ órgão é importante por operacionalizar as políticas idealizadas pelo MEC”

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aqueles que representam a sociedade, os pais e os professores, um membro do conselho

do PDDE e um do conselho do FUNDEF para participar” (FNDE, 2005a).

Segundo o presidente do FNDE, José Henrique Pain Fernandes28, o órgão dará

uma atenção especial à capacitação dos conselheiros dos Conselhos de Alimentação

Escolar - CAE. “O CAE tem um papel fundamental para o bom êxito do programa da

merenda escolar”, diz Henrique Pain. Entre suas funções, estão: fiscalizar a aplicação

dos recursos federais para o programa e zelar pela qualidade dos produtos oferecidos

aos alunos. Este programa é composto por sete membros – dois representantes dos pais

de alunos, dois dos professores, um da sociedade civil, um do Executivo e outro do

Legislativo municipal –, o Conselho tem um mandato de dois anos, renovável por mais

dois (FNDE, 2005a).

Como agente do controle social, cabe ao CAE divulgar, em locais públicos, o

montante de recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar recebidos pelas

entidades executoras; acompanhar a elaboração dos cardápios, opinando sobre sua

adequação à realidade local; orientar o armazenamento dos alimentos nos depósitos e/ou

nas escolas; comunicar à entidade executora quando houver problemas com os

alimentos, como perda da validade, deterioração, desvio ou furto; receber e analisar a

prestação de contas da entidade executora e encaminhá-la ao FNDE; e comunicar ao

Fundo sobre o descumprimento das orientações legais, por parte da entidade executora,

durante toda a efetivação do programa (FNDE, 2005a).

Criado em 1993, o Programa de Avaliação Institucional das Universidades

Brasileiras – PAIUB, representou uma resposta organizada das universidades brasileiras

ao desafio de implantar um sistema de avaliação institucional centrada na graduação,

uma vez que a pós-graduação, há tempos, já vinha sendo avaliada (CURY, 2005).

A partir da experiência acumulada no Programa e com a reorganização do

sistema nacional de avaliação do ensino superior, nos termos do Decreto nº 2.026, de 10

de outubro de 1996, o PAIUB foi retomado para o conjunto das IES, passando a

responder pela avaliação individual das instituições prevista nesse Decreto (CURY, op.

cit.). 28 <Acesso ao site www. mec. gov. br > do Ministério da Educação, 2006> José Henrique Pain Fernandes assume a Secretaria Executiva do MEC em 31/03/2006 onde revelou que vai trabalhar com os ideais dos grandes educadores, como Anísio Teixeira e Paulo Freire, em prol do País.

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Dos princípios e diretrizes do PAIUB, definidos, desde sua criação, foram

mantidos: o respeito à identidade institucional - perfis, missões, condições,

necessidades, aspirações - mediante um processo de adesão, de globalidade, com ampla

participação de toda a comunidade acadêmica vinculada a cada instituição, referenciada

também por uma avaliação externa (CURY, op.cit.).

Por outro lado, o objetivo do Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Básica - SAEB é apoiar Municípios, Estados e União para formular políticas que visem

à melhoria da qualidade do ensino. O SAEB, que coleta informações sobre alunos,

professores, diretores e escolas públicas e privadas em todo o Brasil, é realizado a cada

dois anos pelo INEP/MEC. Ele foi aplicado pela primeira vez em 1990. Participam da

avaliação alunos da 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio,

que fazem provas de Língua Portuguesa e de Matemática. Eles também respondem a um

questionário sobre seus hábitos de estudo e suas características socioculturais. Os

professores e diretores participam, respondendo a questionários que informam sobre

perfil e prática docente, mecanismos de gestão e infra-estrutura da escola (INEP,

2005a).

Em 2003, participaram do SAEB cerca de 300 mil alunos, 17 mil professores e 6

mil diretores de 6.270 escolas das 27 unidades da Federação. Como o SAEB não avalia,

ainda, a totalidade dos estudantes do País, a pesquisa é feita em uma amostra que

representa o universo das matrículas (INEP, 2005a).

O ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio - foi criado pelo MEC (Ministério

da Educação e Cultura) no ano de 1998. Este sistema de prova tem por objetivo avaliar

os estudantes de escolas públicas e particulares do Ensino Médio. Os dados, além de

servirem de base para o desempenho pessoal, também são utilizados pelo governo para

definir políticas públicas educacionais (INEP, 2005a).

O ENEM não é obrigatório, porém, a cada ano, tem atraído um número cada vez

maior de estudantes. Isso ocorre, pois muitos vestibulares utilizam os resultados do

ENEM como um dos critérios para selecionar os candidatos. A avaliação aplicada não

tem como objetivo apenas a verificação do aprendizado de conteúdos básicos. O foco

principal desta é verificar as competências e habilidades que o aluno domina. O discente

deve demonstrar capacidade para interpretar gráficos, textos, mapas e informações em

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diversas linguagens. O exame também averigúa se o aluno é capaz de argumentar,

solucionar problemas cotidianos e práticos, elaborar propostas de intervenção na

realidade e apresentar idéias bem estruturadas (INEP, 2005a).

A avaliação está de acordo com aquilo que se espera de um aluno que sai do

Ensino Médio, visto que o mercado de trabalho não absorve mais uma mão-de-obra que

conheça apenas conteúdos. O trabalhador precisa apresentar habilidades e competências

múltiplas para que possa desempenhar um bom papel dentro da empresa em que atua.

Portanto, o exame está dentro de uma realidade de vida e de mercado. O ENEM é

composto de duas partes: uma redação (tema proposto pelo exame) e uma parte de

múltipla escolha (testes objetivos). Nos últimos anos, a média obtida pelos estudantes

brasileiros tem ficado em torno de 5.5. Um outro dado interessante é que os alunos da

rede particular de ensino têm conseguido notas melhores do que os da rede pública

(INEP, 2005a).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e Referenciais Curriculares

Nacionais - RCN são os resultados de longo trabalho, que contou com a participação de

muitos educadores brasileiros tendo, assim, a marca de suas experiências e de seus

estudos. Eles foram produzidos no contexto das discussões pedagógicas atuais.

Inicialmente foram elaborados documentos, em versões preliminares, para ser

analisados e debatidos por professores que atuam em diferentes graus de ensino,

especialistas da educação e de outras áreas, além de instituições governamentais e não

governamentais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN de 1ª a 4ª Séries têm

como objetivo estabelecer uma referência curricular e apoiar a revisão e/ou elaboração

da proposta curricular dos Estados ou das escolas integrantes dos sistemas de ensino. Já

os PCN de 5ª a 8ª Séries concretizam, para os sistemas de ensino, uma base nacional

comum nos currículos e servem de eixo norteador na revisão e/ou elaboração da

proposta curricular das escolas. (PCN, 1997).

Os Referenciais Curriculares Nacionais – RCN têm como finalidade orientar na

formação de professores. Espera-se que, com ele, sejam geradas reflexões por parte dos

formadores de professores e seja usado no âmbito de gestão do sistema educativo e das

instituições formadoras como subsídio para a tomada de decisões políticas. Eles

refletem a temática que estão permeando o debate nacional e internacional de forma a

construir um novo perfil profissional docente.

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O Exame Nacional de Cursos – ENC PROVÃO criado pela Lei nº. 9131/95 tem

como objetivo avaliar os cursos de graduação da Educação Superior, no que tange aos

resultados do processo de ensino-aprendizagem, o qual pretende assegurar a

participação da sociedade na qualidade da educação nacional. (INEP, 2005b). A partir

dessa lei, a universidade não é mais a mesma. Se de um lado provoca apreensão e

desconfiança dos coordenadores, por outro, aparece a rejeição dos alunos em

participarem do provão. E, de certa forma, isso é bom, pois provoca e estimula o debate,

favorece a crítica e quebra a inércia do sistema universitário.

O Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE é de origem federal, foi

implantado pelo Ministério da Educação e executado pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação - FNDE, que tem como objetivo a descentralização e a

execução dos recursos federais. Visa sobretudo à transferência de recursos financeiros

às escolas públicas do ensino fundamental das redes estadual e municipal, com mais de

20 alunos, e de educação especial, mantidas por organização não governamental inscrita

no Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, recenseadas no ano anterior,

buscando contribuir, supletivamente, com a melhoria de suas infra-estruturas física e

pedagógica, para assegurar as condições indispensáveis ao seu funcionamento,

reforçando-lhes, inclusive, a participação social e a autogestão escolar (INEP, 2005b).

O Fundo de Fortalecimento da Escola – FUNDESCOLA foi criado

em 1998, atua segundo normas próprias e até o ano 2003 investiu US$ 1,3 bilhão nas

escolas públicas do ensino fundamental, em zonas de atendimento prioritário das

regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País (FNDE, 2005b).

O FUNDESCOLA tem por objetivo melhorar o desempenho do ensino

fundamental, ampliando o acesso e a permanência das crianças com idade escolar nas

séries correspondentes, melhorar a qualidade da escola e dos resultados educacionais e

aprimorar a gestão das escolas, das secretarias estaduais e municipais de educação, nas

regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (FNDE, 2005b). Além disso, o FUNDESCOLA

promove, mediante transferência de recursos financeiros, por meio de convênios com os

municípios, estados ou órgão do MEC, as seguintes ações:

o Aquisição de equipamento e mobiliário escolar para salas de aula;

o Projeto de Melhoria da Escola - PME;

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o Adequação física de prédios escolares - PAPE;

o Construção de escolas em assentamentos rurais e áreas de comunidades

indígenas com atendimento educacional do programa;

o Formação e titulação de professores não habilitados para o ensino nas

séries iniciais do Ensino Fundamental, por meio do Programa Pro-

formação;

o Capacitação de docentes da Escola Ativa;

o Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE (FNDE, 2005b).

Para os estudantes das classes populares que constituem a clientela da escola

pública, o MEC, ao lado do Ministério da Saúde, tem buscado dar uma assistência

efetiva, através da Fundação de Assistência ao Estudante - FAE que “foi instituída

como principal Instrumento do Ministério da Educação e Cultura, para a execução da

Política Nacional de Assistência ao Estudante, nos níveis de educação pré-escolar e de

1º. e 2º. graus”.

Por essa política desenvolvida pela FAE, o Estado procurou prestar uma

assistência ao estudante trabalhador, na tentativa de minorar suas carências alimentares,

através da merenda escolar, suas carências culturais e educativas, através de programas

de fornecimento de materiais e livros didáticos, além da criação de salas de leitura e,

finalmente, suas carências sanitárias por meio de assistência médico-odontológica.

Observamos que todos esses programas acima mencionados foram

determinantes para a valorização e o reconhecimento da instituição pública, seja ela

federal estadual e municipal. Mas, na verdade, pouco se caminhou. As instituições

públicas, escolas, universidades continuam sucatiadas, os alunos saem sem uma

formação sólida e sem a qualificação necessária ao mercado de trabalho. É preciso dar

condições de uma sobrevivência mais digna ao estudante, assegurando-lhe as condições

mínimas necessárias à aprendizagem, dentro dos padrões da normalidade, tornando-o

competente no seu campo de ação e capaz de compreender a condição de carência, de se

reconhecer como ser produtivo, crítico e criativo.

A política educacional mencionada pela Conferência de Educação para Todos

realizada em Jomtiem - Tailândia, em 1990, foi determinante na discussão e

implantação desse processo em nosso Estado. Esta se caracterizou por três elementos

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centrais, a primeira se constituiu na gestão participativa como elemento significativo

entre as variáveis identificadas em "escolas eficazes"; a segunda, na mudança do papel

do diretor na gestão da escola, e a terceira, nos vários elementos da tendência para

autonomia escolar ou gestão descentralizada.

Em 12 de março de 1990, foi formulado o Decreto nº. 20.620, instituindo o

Programa de Municipalização do Ensino Público no Ceará, caracterizado pela idéia do

regime de parceria e adesão voluntária. Esse programa foi substituído, em 1991, pelo

Programa de Cooperação Estado/Municípios, coordenado pela própria Secretaria da

Educação do Estado, o qual direcionou as ações da área de educação, onde tenta entre

outros, resolver o problema de carência de professores nas escolas públicas estaduais do

interior do Ceará.

Em 1993, o Conselho de Educação do Ceará, realizou um evento político-

educacional, com o objetivo de discutir ações e definir responsabilidades entre Estado e

Municípios. Foi durante esse período que a Associação dos Municípios do Ceará

(AMECE) discutiu e votou a favor da municipalização de ensino. Dessa forma, foi

encaminhado, pelo Governo do Estado, à Assembléia Legislativa, o Projeto de Lei que

tratava da Municipalização no estado do Ceará. Foram realizados seis encontros

regionais para discussão do referido projeto, concomitante com a discussão ora ocorrida

na Assembléia Legislativa, foi aprovado, em 1995, a Lei nº 12.452, que regulamenta a

Municipalização no Estado. Com a aprovação da referida lei, inicia-se o processo de

descentralização no estado do Ceará, especialmente nos seguintes níveis:

o As Secretarias Municipais de Educação ficam responsáveis pelo

ensino do pré-escolar, e, com prioridade, o ensino fundamental.

o Constituição de um Conselho Municipal de Educação, que será

criado pela Câmara de Vereadores, através da Lei Orgânica

Municipal.

o São extintas as DERE e criados os CREDE, em 1996, com as quais

são desconcentradas ações de acompanhamento e avaliação dos

programas e projetos em execução no município.

O processo de transformações estruturais envolvidas num sistema de

descentralização requer mudanças de mentalidade, mas principalmente bastante tempo

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para consolidar. É um processo de longo prazo, que requer a consideração de todas as

ações bem definidas, mas, com flexibilidade no sistema. Podemos afirmar, portanto, que

as mudanças ocorridas no período focalizado nesta pesquisa são resultados não somente

de acontecimentos referentes a esta época, mas de conquistas anteriores.

2.2.2. As Instâncias Administrativas da Educação Pública Cearense: Resgatando a

Trajetória Histórica

Em tudo se vê mudança quem repara vê até que o

camaleão que é verde da cor da esperança, com o

flagelo que avança, muda logo de feição. O verde

camaleão perde a sua cor bonita fica de forma

esquisita que causa admiração.

(Patativa do Assaré, 1909 - 2002).

A descentralização política é um movimento histórico em curso no mundo

desde, pelo menos, a década de 80 (MELO, 1996) e tem suas razões históricas em

alguns Estados da Federação. Na sua acepção mais ampla, o processo envolve a

redistribuição de poder – e, portanto, de prerrogativas, recursos e responsabilidades – do

governo para a sociedade civil, da União para os Estados e Municípios, e do Executivo

para o Legislativo e o Judiciário.

Dessa forma, observemos o quadro abaixo que nos dar uma idéia da dinâmica da

descentralização promulgados a partir de 1960 e que nos apresenta, através de um rol de

Leis e Decretos, em especial, no estado do Ceará.

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Quadro 06 - Leis e decretos (1963 – 2005)

DOCUMENTO/

Nº.

DATA OBJETIVO

Lei 6.759

13/11/1963 Reorganizou a Secretaria de Educação e Cultura instituindo dentre os seus

níveis estruturas e modalidades funcionais, o de Supervisão Regional.

Decreto 8.954 1968 Extinção das Superintendências Regionais

Lei 9.146 16/09/1968 Dispõe sobre Reforma Administrativa de âmbito global

Decreto 10.245 02 /05/1973 Dispõe sobre a ampliação do número de DERE para doze.

Decreto 11.788 1976 Redefine a estruturação da Secretaria de Educação e estabelece critério para

diferenciação das DERE.

Decreto 10.671 15/01/1974 Dispõe sobre a criação da 13ª Região Administrativa do Estado.

Decreto 10.880 04/071974 Fica instituída no Gabinete do Secretário uma Coordenadoria, com a

finalidade de coordenar e supervisionar administrativamente as Delegacias

Regionais de Educação.

Decreto 16.071 1983 Dispõe sobre a criação da 14ª Região Administrativa no Icó.

Decreto 17.781 20/02/1986 Dispõe sobre a criação da DERE em Canindé29

Decreto 17.782 26/02/1986 Dispõe sobre a criação da DERE em São Benedito30

Decreto 18.638 30/09/1987 Dispõe sobre a estrutura organizacional da Secretaria de Educação, sobre a

distribuição dos cargos de Direção e Assessoramento das DERE.

Portaria 160/87 06/11/ 1987 Distribuição dos cargos comissionados das Unidades Escolares por nível nas

respectivas DERE.

Lei 12.408 29/12/1994 Refere-se à denominação dos cargos de Direção e Assessoramento dos

estabelecimentos de ensino.

Decreto 24.274 22/11/1996 Extinção das DERE e Finalidade, Estrutura Organizacional, Distribuição,

Especificação e Lotação dos CREDE.

Edital 04/96 12 /071996 Torna pública a seleção de candidatos para preencher os cargos comissionados

dos CREDE.

Lei 12.733 30/09/1997 Dispões sobre a extinção e criação dos cargos de Direção e Assessoramento

na Secretaria da Educação Básica.

Decreto 25.850 07/04/2000 Cargos de Direção e Assessoramento Superior dos CREDE.

Decreto 26.656 11/07/2002 É criado o 22º e 23º Centro Regional de Desenvolvimento da Educação no

município de Fortaleza.

Decreto 27.757 04/05/2005 Extinção dos CREDE 22 e 23 e reunificação do CREDE 21

Fonte: Quadro montado pela pesquisadora, 2005.

29 Sobre a XV Região Administrativa é interessante registrar que não teve a sustentabilidade como as demais DERE. 30 O mesmo ocorreu com a XVI Região Administrativa que foi extinta logo no início.

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Não precisamos nos deter muito no quadro para perceber que se trata de um rol

de Leis e Decretos que tentam dar conta das idas e vindas do movimento de

descentralização no Ceará. Da década de 1960 até os anos iniciais do século XXI, a

administração da educação pública publicou instrumentos de organização legal desses

organismos. Na década de 1970, ou melhor, no ano de 1974, a DERE assim funcionava:

Figura 05 - Organograma DERE (1974)31

Com uma estrutura engessada e profundamente verticalizada, as DERE não

tinham qualquer função mais orgânica junto aos municípios. Na verdade, o seu objetivo

era o de garantir a execução da política educacional do Governo, na área de sua

jurisdição, “assegurando maior rapidez e objetividade às decisões técnico-

administrativas emanadas da Secretaria de Educação” (SEDUC, 1974). Também, não

precisamos dizer que vivíamos em plena vigência do regime de exceção, o Brasil estava

sob a égide da ditadura e as ações governamentais refletiam de forma bastante nítida a

condição histórica sob a qual vivia a sociedade cearense.

Os chamados anos duros da Ditadura Militar vão gerar, em nosso Estado, duas

leis e seis decretos. O núcleo central da criação destes instrumentos legais está na

31 Fonte: SEDUC, 1974.

Delegado

Serviços Administrativos Serviços Técnicos

Setor de Serviços Gerais

Setor Pessoal

Setor de Mobiliário e Prédio

Setor Técnico

Setor de Doc. Informações

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formalização do funcionamento institucional das DERE. Não há nada de novo, a não ser

a Lei nº.6.759, de 13/11/1963, que reorganizou a Secretaria de Educação e Cultura,

instituindo, dentre os seus níveis estruturas e modalidades funcionais, o de Supervisão

Regional. Os Decretos nº.10.880 e nº.11.788 respectivamente de 04/071974 e 1976,

também, trazem novos elementos. O primeiro instituiu no Gabinete do secretário uma

Coordenadoria, com a finalidade de coordenar e supervisionar administrativamente as

Delegacias Regionais de Educação; e o segundo redefiniu a estruturação da Secretaria

de Educação e estabeleceu critérios para diferenciação das DERE32.

Com o movimento de redemocratização, novos ventos sopraram por aqui. O que

temos? Se atentarmos para o quadro 12, veremos que, a partir de 1987, há uma sutil

mudança por meio do Decreto nº.18.638 de 30/091987 que dispõe sobre a estrutura

organizacional da Secretaria de Educação, e a distribuição dos cargos de Direção e

Assessoramento das DERE.

Atravessando esse período, em 1996, através do Decreto nº.24.274 de

22/11/1996, é dado o golpe final na “centralização” e no arcaísmo administrativo como

assim se referia a cúpula da SEDUC, e dá-se a extinção das DERE. O mesmo decreto

que as extinguiu criou e determinou a Finalidade, a Estrutura Organizacional, a

Distribuição e a Lotação dos CREDE.

De forma sucinta, tentamos dar conta de uma dinâmica que não sabemos como

termina nem de que forma, visto que está relacionada com a dinâmica nacional da

política brasileira e sua relação com o cenário internacional. Assim, desde a

promulgação do Ato Adicional de 1834 e das manifestações dos Pioneiros da Educação,

através do Manifesto na década de 1930 que, no Brasil, a “descentralização” avança e

recua ao sabor das circunstâncias históricas. VIEIRA (2000) chega a remontar a

dinâmica de “descentralização” no Brasil, em pleno coração da regência de Feijó no

século XIX.

Podemos, então, afirmar que movimentos relativos à descentralização política e

administrativa vão e voltam. Obedecendo a esta tendência, a trajetória histórica das

instâncias administrativas de caráter educacional passou por um conjunto de reformas

32 Para maior aprofundamento remetemos ao anexo.

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administrativas introduzidas por diversos governos ao longo do século XX. Vamos nos

deter em alguns aspectos dessas reformas:

� Primeiro governo Virgílio Távora (1963-1966): o Ceará inicia seu

processo de planejamento da administração pública através do PLAMEG I, cujo

objetivo era o de instituir uma reorganização da Secretaria de Educação e Cultura,

através da institucionalização de níveis e modalidades funcionais e de supervisão

regional. Este processo ocorreu mediante a criação de sete Superintendências

Regionais cuja função era a de projetar a Secretaria de Educação nas diversas zonas

do Estado. (SEDUC, 1974).

A sua estrutura de funcionamento deveria reproduzir os departamentos

correspondentes aos existentes na unidade central. Para dar sustentabilidade a este

processo de descentralização, foram implementadas ações paralelas como: programas de

treinamento em recursos humanos e curso de especialização para os supervisores do

ensino primário. Foram selecionados superintendentes e adquiridos equipamentos

necessários para os trabalhos, entretanto, diversos fatores vieram a contribuir com o não

funcionamento destas unidades de descentralização, dentre elas, podemos destacar a

falta de uma regulamentação minuciosa das atribuições dos setores que comporiam a

estrutura da Superintendência; os recursos humanos disponibilizados não foram

suficientes para o desempenho das atividades, a infra-estrutura física não se adequava às

necessidades de uma administração regional e os recursos financeiros disponibilizados

não condiziam com as necessidades das Superintendências, mesmo que esta funcionasse

como unidades orçamentárias. (SEDUC, 1974).

Notamos alguns avanços, dentre os quais, destacamos: o trabalho dos

supervisores que conseguiram garantir uma unidade técnico-pedagógica do Ensino

Primário no Estado, proporcionando, assim, uma renovação pedagógica por meio do

treinamento dos docentes leigos.

� Na administração de Plácido Castelo (1967-1970): ocorre nova reforma

administrativa de âmbito global que foi introduzida no Estado através da Lei nº.

9.146/68. Esta foi gradativamente sendo complementada por decretos e medidas de

ajustes a sua execução.

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Dentre as medidas introduzidas por essa lei, destaca-se a extinção das

Superintendências, permanecendo os Núcleos de Supervisão que conservavam a mesma

divisão da Secretaria. Mas as instalações de funcionamento permaneceram precárias.

� No governo César Cals (1971-1974): houve uma opção pelo retorno à

regionalização iniciada no governo Virgílio Távora. O Decreto nº.9.551 de 17/09/71

instituiu 08 (oito) delegacias regionais visando à “descentralização” geográfica do

sistema administrativo e o desenvolvimento de atividades específicas de cada pasta

em nível de execução e prestação de serviços.

Ainda no governo César Cals, aconteceram dois redimensionamentos das

Regiões Administrativas, através do Decreto nº.10.245 de 02/05/73. Houve um

redimensionamento da regionalização com a ampliação para 12 (doze) e, com o Decreto

nº.10.671 de 15/01/1974, ampliou-se mais uma região administrativa, ficando, assim,

com 13 (treze).

Dessa forma, a Secretaria de Educação passou a funcionar regionalmente

através de Delegacias Regionais de Educação - DERE, nos municípios de: Fortaleza,

Crateús, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Quixadá, Russas, Senador

Pompeu, Sobral, Tauá, Tianguá e Itapipoca. Assim, antes mesmo da execução do

Projeto 7 – Reforma Administrativa da Secretaria de Educação, foi criada a 14ª DERE,

localizada no município de Icó. (SEDUC: 1974).

É possível, então, afirmar que as DERE, politicamente instituída, tinham como

objetivo servir de apoio técnico e administrativo às regiões administrativas, atuando

como ponto de convergência e integração administrativas das diversas esferas

responsáveis pela educação, fazendo com que a política educacional do governo fosse

assegurada em nível regional e com que as decisões técnicas administrativas emanadas

da secretaria fossem executadas de forma mais rápida e objetiva. (SEDUC, 1974).

A proposta de transformação das DERE em Centro Regional de

Desenvolvimento da Educação - CREDE ocorreu como parte do Programa de

Descentralização da Administração e Gestão Participativa da SEDUC. Este processo

teve como fundamento os princípios do Plano de Desenvolvimento Sustentável do

governo do Estado para os anos de 1995 a 1998. Até início de 1996, a estrutura

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organizacional da SEDUC era composta por 14 DERE que foram transformadas em 21

Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE). A jurisdição dos

CREDE ficou assim constituída:

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2.2.3 Agenda Educacional Cearense nas Décadas Finais do Século XX

“O Ceará vai mudar. Isto já está escrito. E o Tasso, nosso líder, É quem vai trazer a mudança”

(Canção popular cantada no período pré-eleitoral)

Diante do recente processo de redemocratização acontecido na década de 1980,

o estado do Ceará sofreu fortes influências dessa conjuntura nacional. Em meados dessa

década, foi eleito governador do Estado o empresário Tasso Jereissati. Com uma gestão

fortemente “mudancista”, expressou uma política de administração governamental

marcada pela racionalização dos recursos e pela modernização da máquina burocrática.

Em seu primeiro governo, rompe com uma cultura de se fazer política e inaugura

uma nova forma de governar. É no seu plano de governo que apresenta aos cearenses o

que antes tinha prometido em praça pública, durante a sua campanha eleitoral para

governador. Diz no seu texto:

Compromisso com a superação de valores deformados, que colocavam o interesse de pequenos grupos acima dos interesses maiores da sociedade. Compromisso com o combate a todas as formas de clientelismo. Compromisso com a recuperação da moralidade do serviço público, onde o Estado deve ser visto como instrumento para a realização do bem comum e não para o serviço das oligarquias. Compromisso com o combate à miséria e o respeito à cidadania como direito inalienável de todos os homens e mulheres do Ceará. (Plano de Governo, 1987).

Apoiado nesses compromissos, o primeiro governo de Tasso Jereissati dá

relevância sobretudo à questão social, principalmente com metas prioritárias voltadas

para a educação como: universalizar o acesso de todas as crianças à escola básica; a

participação da sociedade nas ações de Governo; cursos de qualificação em nível de lº e

2º graus para professores leigos; a participação da comunidade escolar, exigindo uma

escola como um bem público a seu serviço, fiscalizando sua execução e controlando

seus resultados (ibid).

� As Peculiaridades da Gestão “Revolução de uma Geração (1991-1994)”

Eleito para o período 1991-1994, o governador Ciro Ferreira Gomes, amigo e

sucessor de Tasso Jereissati, seguindo a mesma cartilha de mudanças, deu continuidade

às transformações contidas no interior das políticas (JESUÍNO, 2005), apresentando

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para a sociedade cearense, e, principalmente para a educação, o projeto educacional:

ESCOLA PÚBLICA - A REVOLUÇÃO DE UMA GERAÇÃO, em que assumiu três

desafios fundamentais: oferecer uma escola pública de boa qualidade, a valorização dos

profissionais da educação e fazer a gestão do ensino em base gerencial, moderna e

democrática (SEDUC, 1991). Entre os desafios propostos na gestão do sistema de

ensino, destaca-se um que visa à descentralização do sistema público e orienta para

mudanças significativas no processo educacional:

Fortalecimento e reestruturação das Delegacias Regionais de Ensino – DERE, através de: - capacitação gerencial dos delegados33; - criação de um sistema de auditoria com vistas à focalização e ao controle das atividades administrativas e financeiras da escola (SEDUC, 1991).

Nessa perspectiva, pretende-se inverter esse processo de centralização ocorrido

entre os órgãos administrativos, em especial, as DERE e a escola, para integrar um

processo de articulação entre as regiões administrativas e as unidades escolares. Nesse

sentido, o Projeto Escola Pública – A Revolução de Uma Geração ressalta:

A Atual proposta se orienta por idéias até certo ponto óbvias, mas fecundas. Óbvias, porque voltadas para uma realidade cujas carências já foram suficientemente reconhecidas, porém necessitam ser enfrentadas. Fecundas, porque visa atingir as necessidades mais urgentes do cotidiano escolar, o que implica um desdobramento de prioridades. (SEDUC, 1991).

Dentre os desafios enfocados, apresentamos no quadro abaixo, algumas ações

prioritárias do governo Ciro Ferreira Gomes (1991-1994) que foram responsáveis pela

racionalização do sistema e da melhoria da escola pública, conforme vemos:

Quadro 07 – Fluxo das Ações e Objetivos (1991-1994)

AÇÕES OTIMIZAÇÃO DAS AÇÕES

Correção do Fluxo escolar Criado com o objetivo de corrigir o fluxo escolar.

Capacitação dos Diretores, Delegados e

Professores.

Capacitação em serviço para diretores das escolas das

redes estadual e municipal à distância com módulos,

tutoria e auxílio do rádio com uma abrangência de 3000

educadores.

Universalização do Telensino Expansão de 5ª a 8ª do Ensino Fundamental em todo o

Estado, colocando apenas um professor por turma.

Criação do Sistema Permanente de

Avaliação das Escolas do Ceará

Foi implantado a partir de 1992 com objetivo de avaliar a

qualidade de ensino.

33 Cargo dado ao responsável pelas Delegacias Regionais da Educação no estado do Ceará

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Projeto de Manutenção Projeto de maior visibilidade para as escolas no qual os

diretores, pela primeira vez, passaram a gerenciar os

recursos financeiros com autonomia.

Municipalização do Ensino O Estado iniciou a descentralização administrativa muito

antes da Emenda Constitucional nº.14 e da Lei do

FUNDEF, ambos de 1996, repassando para os municípios

recursos financeiros para que estes contratassem

professores para as escolas do Ensino Fundamental.

Compras de carteiras escolares Em parceria com o SEBRAE e as Associações de

Marceneiros Cearenses, a SEDUC deixou de comprar as

carteiras no Sul do País, passando a comprar no próprio

Estado, dessa forma, os recursos financeiros foram

canalizados para o próprio Estado, os impostos foram

eliminados e a mão-de-obra, por ser local foi, fortalecida.

Criação das Associações de Pais – APC Incentivo à participação dos pais.

Fonte: SEDUC: Relatório de Atividades (1994)

Percebemos que essas ações estavam presentes nas novas estratégias de gerência

pública, porém distante da democratização do sistema público, que atendeu praticamente

aos mecanismos de gestão, voltada para a capacitação de dirigentes escolares e de

delegados, em detrimento do que tinha sido proposto: fazer uma revolução Educacional.

Assim, para assegurar a democratização, era preciso representá-la na gestão e no ensino.

Na primeira, a sociedade participa da construção e do acompanhamento da política

educacional, avaliando e buscando coletivamente, Estado e Sociedade Organizada, uma

Educação de Qualidade e contribuindo, dessa forma, para a qualidade social e o

aperfeiçoamento da educação e do exercício da democracia.

A outra face da moeda, a democratização do ensino, vislumbra dois significados

fundamentais: contribuir para a realização da qualidade social da educação e permitir que a escola

e o conjunto do sistema sejam geridos, no âmbito da competência de cada unidade ou instância,

por coletivos representativos que aperfeiçoem as práticas democráticas na comunidade. Assim,

Ciro Gomes, em seu plano de governo, inicia a discussão de gestão democrática,

conforme RAMOS (2003) registra: “... implementou ações regionalizadas,

descentralizadas e desconcentradas que levam à participação e à integração comunidade

– escola”.

Na perspectiva de uma gestão compartilhada e de continuidade do projeto

educacional, volta ao Governo do Estado do Ceará, Tasso Ribeiro Jereissati, apoiado

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num Plano de Desenvolvimento Sustentável (SEPLAN, 1995a). Embora sendo

estudado nas universidades desde a década de 1970, a idéia de desenvolvimento

sustentável começou a ser explorada mais sistematicamente na década de 1980,

recebendo atenção especial em 1987, através do Relatório da Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão Brundtland). A atenção global pelo

relatório deu-se pela degradação ambiental, estrutura social e político-econômica,

ampliando o conceito que se tinha sobre proteção ambiental. (SEDUC, 2001).

A partir da Conferência do Rio, em 1992, o Relatório de Brundtland foi

questionado, porque assegurou a perpetuação do sistema econômico vigente,

permanecendo seu poder hegemônico, nos países do primeiro mundo, por uma idéia

falsa de desenvolvimento sustentável, dando lugar à idéia de modernização ecológica. É

na seara dessa temática da Conferência Mundial da Ecologia - ECO 92, e do projeto

Áridas, que se fundamenta a política educacional do Ceará, de 1995 a 1998,

denominado de Plano de Desenvolvimento Sustentável.

O grande objetivo do Projeto Áridas é, do ponto de vista técnico, construir uma

estratégia que faça sentido. E, do ponto de vista político, fazer isso de maneira

participativa, para construir um consenso com o conjunto da população, com vistas à

elaboração de uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o Nordeste

(MAGALHÃES, 1994).

A administração do Estado, iniciada em 1995, abordada anteriormente, orienta-

se por um Plano de Desenvolvimento Sustentável, no qual estão contidas as diretrizes e

estratégias do que devemos fazer no presente, numa perspectiva para o futuro. O Plano é

baseado nos princípios de uma "sociedade em harmonia com a natureza, espacialmente

equilibrada, justa e democrática, avançada quanto à cultura, ciência e tecnologia, uma

economia sustentável e um Estado a serviço da sociedade". (SEPLAN, 1995).

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará, de 1995 a 1998, (SEPLAN,

1995a) tem como objetivo principal melhorar a qualidade de vida de todos os cearenses,

buscando o crescimento econômico e uma melhor distribuição de renda. O governo,

nesse período, tem uma grande dívida com o social, é preciso, então, mudar

significativamente os indicadores de pobreza, saúde, educação, segurança e emprego.

Para que esses objetivos fossem alcançados, foram desenvolvidas ações de

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sustentabilidade, visão de longo prazo, participação, parceria, descentralização e

qualidade.

Dentro desse plano, a educação tem metas ousadas como: erradicar o

analfabetismo, universalizar a educação, de acordo com a qual, nenhuma criança ficará

fora da escola, assegurando um ensino de qualidade e dando continuidade ao processo

de municipalização da educação básica, intensificando a descentralização. A educação é

vista nesse plano como um desafio político para todos os cearenses, em que todos são

responsáveis pela qualidade do ensino público no Ceará, apresentando aos cearenses um

projeto político na área educacional “Todos pela Educação de Qualidade para Todos.

(SEDUC, 1996)”. Gadotti reforça a visão de projeto político, quando afirma:

Todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma estabilidade em função de promessa de que cada projeto contém um estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (cit por VEIGA, 2001).

Podemos reafirmar que, no período de 1995 a 2002, o estado do Ceará viveu o

Projeto “descentralizativo” da administração pública na educação. Entendendo, nesse

momento, o contexto que se refere à vertente TODOS PELA EDUCAÇÃO que se

orienta pela compreensão de:

Garantir a educação de qualidade para todos exige determinação política e compromisso dos governantes e de toda a sociedade civil num esforço convergente, fortalecendo parcerias e promovendo alianças. Assim, a educação pública resulta de um esforço solidário de todas as instâncias do Poder Público e de todas as forças e atores que a eles se associam nesse compromisso. ( SEDUC, 1997).

O foco do discurso oficial era o de que a educação, bem-sucedida, é resultado de

um processo compartilhado por todos, que necessita formar parcerias e alianças com os

municípios, sociedade e governo, para a consolidação do seu projeto político

educacional. À luz da literatura, os termos parceria e colaboração significam a mesma

prática.

Na vertente Educação de Qualidade, a unidade escolar passa a ser o ponto de

partida e de chegada das dimensões: pedagógica participativa e administrativo-

financeira. Assim, o governo cearense reafirmou o seu compromisso ao mostrar ações

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direcionadas à construção da cidadania, através da criação dos grêmios estudantis e

conselhos escolares. Como a eleição dos diretores escolares, a valorização do aspecto

pedagógico é, também, outro enfoque fundamental que envolve o processo de ensino-

aprendizagem, assim como a capacitação dos professores, entre outros. Notamos que

todas as estratégias referidas nesta vertente deságuam na questão escolar. Destarte, a

qualidade ocupa lugar central numa concepção voltada para a formação da cidadania. A

esse respeito, citamos o que foi firmado pela Conferência Jomtien – Tailândia – 1990 e

implantada no Ceará:

A proposta orienta-se pela perspectiva de Educação para Todos, porém, há um alvo específico a ser atingido: crianças e adolescentes que têm na escola pública a única oportunidade de acesso à educação. (SEDUC, 1995).

Dessa forma, a cidadania está aliada ao desenvolvimento sustentável, e a

educação torna-se tema central nas vertentes que orientam a proposta de Educação do

Governo do Estado para o Ceará. Essas iniciativas desencadearam um processo “sem

volta”, na fala do Secretário da Educação Antenor Naspolini:

Isso significa o reconhecimento de um compromisso com o aluno, com a escola pública que, ao mesmo tempo em que constrói a sua identidade, resgata o sentido e a importância da democracia como norteador das idéias que inspiram uma nova convivência humana alicerçada nos valores da solidariedade e da equidade. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Quem viveu esta “Era” sabe que foi gerada uma grande expectativa quanto à

melhoria da educação pública no estado do Ceará. Até os mais resistentes, os céticos, os

niilistas, enfim, aqueles que de há muito tinham se desencantado com a educação

pública passaram a nela acreditar. Não estamos fazendo aqui apologia a esse período,

longe de nós. Entretanto, o sentimento era de perplexidade e de crença. Os novos

diretores dos CREDE tomaram “alma nova”, acreditavam que o seu trabalho era de

suma importância para o desenvolvimento da educação nos municípios jurisdicionados

a sua região. Eis o que denota o seguinte depoimento34:

Acho que o processo de descentralização implantado pela SEDUC foi uma idéia fabulosa, fantástica mesmo. Todos juntos discutindo, participando, debatendo. A mobilização era grande demais. Neste período, nós nos sentíamos importantes e não apenas realizando tarefas vindas de ‘cima para baixo’, mas resolvendo questões, tomando assento em mesas de decisão. As

34 Para manter o sigilo da entrevista não daremos os nomes reais das pessoas entrevistadas quando estas não autorizarem-nos para tal.

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políticas não eram implantadas sem antes discutirmos. O baque foi grande depois de 2002. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

As estratégias implantadas pela SEDUC tiveram como fundamento a

participação e a mobilização social. O Quadro 09 nos apresenta os projetos

desenvolvidos no período em voga cuja centralidade é a “descentralização” objeto de

estudo:

Quadro 08 - Vertentes, Projetos e Vetores

VERTENTE

VETOR PROJETO

TODOS

PELA

EDUCAÇÃO

PARCERIA Municipalização; Pacto pela Educação: o direito de

aprender.

EDUCAÇÃO

DE

QUALIDADE

ESCOLA PONTO

DE PARTIDA

GESTÃO EFICAZ

DO SISTEMA

EDUCACIONAL

Escola Viva: Caminho da cidadania; Projeto Pedagógico

Sistema de Acompanhamento Pedagógico; Conselho

Escolar; Fundo de Apoio à Gestão Escolar.

Escolarização da Merenda; Redimensionamento e

Valorização de Recursos Humanos; Organização do

Patrimônio Imobiliário Público e de Estabelecimentos de

Educação Básica; Racionalização e Modernização do

Sistema de Ensino; Avaliação e Inovação Educacional.

EDUCAÇÃO

PARA

TODOS

TEMPO DE

APRENDER

Alfabetização de Crianças e Adolescentes; Ampliação do

Acesso ao Ensino Fundamental; Promoção do Sucesso

Escolar; Apoio ao Ensino Médio e às Modalidades de

Educação; Desenvolvimento da Educação Infantil;

Desenvolvimento do Ensino Médio.

Desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos;

Desenvolvimento da Educação Especial.

Fonte: SEDUC (1996)

Assim, é notório o fato de que as três vertentes: “todos pela educação”,

“educação de qualidade”; e “educação para todos” tenham correspondência nos vetores

“parceria”, “escola ponto de partida”, “gestão eficaz do sistema educacional” e “tempo

de aprender”. A gestão estadual perseguiu a parceria enquanto vetor privilegiado e da

escola como ponto de partida, tendo realizado inúmeras iniciativas no sentido de

construir uma gestão democrática e participativa, na qual o governo sinalizava uma

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tendência de transferir para a sociedade algumas responsabilidades com a gestão da

escola pública.

A descentralização foi fundamental para a implementação das Políticas Públicas

de Educação. Os CREDE ganham força nunca antes tida e passam a ter papel decisivo

na formulação e encaminhamento das atividades descentralizadoras. Como se vê, essas

ações desencadeadas na gestão de 1995 a 1998 mereceram destaques e estavam voltadas

para uma gestão participativa do projeto educativo do Ceará e para a mobilização pelo

direito à educação de qualidade. No dizer de um ex-diretor de CREDE35:

Na época da gestão Todos pela educação de qualidade para todos, CREDE tinha vez, opinava, dizia o que pensava, expunha as suas idéias. Na verdade, tinha uma ação política dentro do município muito forte. Pela primeira vez, diretor de CREDE pode sentar-se à mesa e negociar com prefeitos sobre essa ou aquela política de educação. Éramos porta-vozes do governo estadual. Éramos pró-ativos. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Não nos cabe aqui concordar ou não com o ex-diretor, contudo percebemos que

a sua fala deixa passar um sentimento de profundo apoio à política de descentralização.

O envolvimento de todos com a construção da política é outro diferenciador. Daí a

ênfase dada à escola e para a escola, tornando-a um processo de gestão descentralizada

voltada para a autonomia escolar36, conforme registra Naspolini:

(...) O diferenciador desse momento de mudanças foi e continua sendo o esforço de construir coletivamente uma escola pública de qualidade marcada pela ética, engajamento social e elaboração de um saber comprometido com a sustentabilidade sócio-econômica e político-cultural dos cearenses e brasileiros, na condição de cidadãos do mundo (Naspolini, 2000). (Entrevista da pesquisadora, 2005)

Nessa perspectiva, o processo de construção do Projeto Todos pela Educação de

Qualidade para Todos propõe:

São definidas metas prioritárias do Estado à universalização do acesso e a melhoria da qualidade dos serviços educacionais públicos. Os princípios fundamentais das estratégias adotadas são a descentralização de poder, responsabilidade e capacidade operacional para as esferas regional, municipal e escolar, a mobilização social e o estabelecimento de parcerias (NASPOLINI,1997).

35 Para manter o sigilo da entrevista não daremos os nomes reais das pessoas entrevistadas quando estas não nos autorizarem para tal. 36 Esta é a tônica da mudança. Ver Jesuíno (2005).

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Como se vê, busca-se um Estado com medidas descentralizadoras por meio de

seu planejamento participativo e de co-responsabilidade, conclamando a sociedade não

apenas para ser beneficiada, mas principalmente “parceira” desse projeto educacional.

O Programa de Desenvolvimento e Modelagem da Gestão Estadual – Proposta

de Modelo Organizacional, desenvolvido pela Fundação Instituto de Administração –

FIA/USP e representantes da SEDUC e do Governo Estadual, aponta os princípios

norteadores desta Estrutura, plenamente coerente com o compromisso de que a ESCOLA

É PONTO DE PARTIDA no qual foram definidos princípios de gestão como:

o Desconcentração: transfere-se para as escolas e CREDE os

processos de desenvolvimento e gestão da Educação

mantendo-se, na SEDUC/SEDE, o papel de definir diretrizes,

estabelecer políticas e conduzir negociações globais;

o Descentralização: define a parceria como fundamento básico

do modelo de gestão no qual prevê o envolvimento dos

organismos municipais de educação e, nas escolas, a criação

dos conselhos escolares, instrumentos indispensáveis de uma

gestão escolar descentralizada.

o Racionalização dos Processos de Transição: por não estar

bem definida as atribuições da Unidade Central, nesse caso, a

SEDUC, percebem-se uma redundância de papéis e

processos no estabelecimento de suas funções. “Dessa forma,

a referida Estrutura pretende assegurar uma harmonia e a

solução dos problemas enfrentados na relação SEDUC-

CREDE-ESCOLA, superando todos os vícios e erros

existentes na administração anterior”. (SEDUC, 1997).

Com a efetivação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável no qual a

articulação entre educação, ciência e tecnologia é essencial, os cearenses elegeram para

a gestão de 1999 a 2002 o governador Tasso Ribeiro Jereissati, complementando, assim,

o terceiro mandato no estado do Ceará. Para esse período, o governo apresenta aos

cearenses o Plano “Consolidando o Novo Ceará”, articulando fundamentos e princípios

do Plano de Desenvolvimento Sustentável 1995 -1998, com um único objetivo: Avançar

no Crescimento Econômico com Desenvolvimento Social, alicerçado nos princípios

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básicos: sustentabilidade (ambiental, social, política e econômica); visão de longo

prazo; participação e parceria; descentralização e qualidade dos serviços públicos (ibid).

Avançar no Crescimento Econômico com Desenvolvimento Sustentável

constitui objetivo-síntese desse plano, que integra as ações do governo respaldado por

quatro grandes estratégias:

i) a capacitação da população para o desenvolvimento,

envolvendo uma ampla ação de educação integrada à

qualificação para o trabalho;

ii) o avanço no crescimento econômico, a partir da dinamização

da agricultura irrigada em base empresarial, da modernização

da agricultura tradicional, da consolidação das indústrias de

base e do pólo exportador calçadista, bem como do

fortalecimento do turismo e da indústria cultural e da maturação

e integração dos projetos de infra-estrutura econômica;

iii) a melhoria na qualidade de vida, compreendendo a

preservação do meio ambiente, o acesso e humanização dos

serviços de saúde, o acesso à moradia, a ampliação dos serviços

de saneamento básico, a prestação de assistência social, a

melhoria na qualidade da segurança e defesa do cidadão e da

justiça, o fortalecimento da estrutura urbana e potencialização

dos valores culturais;

iv) a oferta permanente de água e o convívio com o semi-árido,

que se traduz no aumento da oferta e distribuição de água e

redução da vulnerabilidade da população aos efeitos da seca.

(SEDUC, 1998).

Outro projeto, essencialmente difundido, “Do Ventre à Universidade”, foi um

dos grandes desafios a ser enfrentados pelo Governo do Estado, pois se verificou uma

ação coletiva não só da SEDUC, mas de outras secretarias em especial, a Secretaria da

Ciência e da Tecnologia-SECITECE, destacando a importância de “mobilizar a

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potencialidade existente no Estado nas áreas de ensino superior, ciência e tecnologia no

que toca a sua reorientação para o seu desenvolvimento”. (SEPLAN, 1995).

Nessa integração das Secretarias no Ceará, verificou-se, no CREDE de Baturité,

um esforço integrado de articulação entre essas áreas. Tanto que o Governo do Estado

construiu um prédio onde foram integrados alguns setores, inclusive o CREDE 08. Para a

ex-diretora do referido CREDE:

Foi uma iniciativa favorável porque contribuiu para a integração das Secretarias; melhor operacionalização das Políticas Públicas; otimização dos recursos humanos e dos espaços físicos; racionalização de recursos financeiros; maior benefício para os usuários, contribuindo, dessa forma, para resolver os assuntos num único espaço físico e em menor tempo. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Tomamos a iniciativa de averiguar o montante de verbas que cada município

ligado ao CREDE 08 recebeu no período de 1998 a 2002, pois é um dado relevante para

a compreensão da idéia de “descentralização”. É importante assinalar que os recursos

financeiros advindos do FUNDEF são relacionados per capita aluno. Este é instituído

em cada Estado da Federação e no Distrito Federal, cujos recursos devem ser aplicados

exclusivamente na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamentais público e na

valorização do magistério. Vejamos distribuição do FUNDEF no Quadro 09:

FUNDEF - CREDE 08 Município

1998 1999 2000 2001 2002

Acarape 2,97 3,56 4,18 4,25 4,15

Aracoiaba 13,66 11,37 10,61 10,61 12,08

Aratuba 7,27 6,57 7,59 7,60 7,29

Barreira 10,18 10,11 9,04 8,81 9,60

Baturité 9,38 9,49 10,59 10,74 10,53

Capistrano 10,06 9,12 8,80 8,98 8,82

Guaramiranga 1,17 2,10 2,31 2,20 2,13

Itapiúna 8,88 9,68 9,24 9,06 8,74

Mulungu 4,27 4,60 4,39 4,47 4,29

Ocara 14,74 13,71 12,59 12,05 11,94

Pacoti 4,51 4,48 4,81 5,22 4,84

Palmácia 3,58 4,47 4,62 5,17 4,80

Redenção 9,31 10,74 11,24 10,85 10,79

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Política Educacional - COPPE

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Temos dito que a defesa em torno da “descentralização” do ensino veio

acompanhada do movimento da reforma do Estado ou do que ficou conhecido como

Ajuste Estrutural da Máquina Administrativa. Dessa forma, a desresponsabilização do

Estado, quanto ao ensino fundamental, nos é referendada pelo aumento das verbas que

cada município recebe para financiar sua rede que, a partir de então, tende a crescer.

Os recursos do FUNDEF devem ser aplicados nas despesas enquadradas como

manutenção e desenvolvimento do ensino. No mínimo 60% devem ser aplicados na

remuneração do magistério, em efetivo exercício. No máximo 40% podem ser aplicados

em transações afins, como: aquisição, manutenção, construção e conservação de

instalações e equipamentos necessários ao ensino. Tomemos como exemplo o caso de

Acarape e Baturité respectivamente. É possível, através do gráfico 02 e 03, acompanhar

essa evolução:

GRÁFICO 02 – Arrecadação do FUNDEF no Município de Acarape

O gráfico 02 nos remete para a seguinte leitura e, como ano de análise, tomemos

1998, a partir dessa data, só cresceu o valor relativo ao FUNDEF deste município.

Mesmo considerando uma pequena queda em 2002, em torno de 10.0 percentuais, ainda

assim, o crescimento é notório. É claro que não temos a pretensão de avaliar a

qualidade, como antes já afirmamos. Nossa preocupação aqui é demonstrar em que

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campo histórico e social nasceu a chamada “descentralização” cearense. A forma de

atuação não foi menos instigante, posto que a mobilização em torno desta questão deu

as cores do processo. Como nos afirma a técnica do CREDE 0837:

Foi muito bonito. A sociedade toda se envolveu. Havia uma espécie de crença no ar. A capacidade de mobilização da SEDUC foi muito grande. Em nossa região, até a igreja se envolveu. As prefeituras acreditaram também no processo, pelo menos é o que penso. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Em relação a Baturité, sede do CREDE 08, notamos a mesma situação ocorrida

em Acarape. É isso o que nos leva a crer no gráfico 0338: em 1998, inicia o FUNDEF,

1999, há uma subida leve, seguida de uma ascensão em 2000 e 2001 e um sutil declive

em 2002 de 21.0 percentuais.

GRÁFICO 03 – Arrecadação do FUNDEF no Município de Baturité

FUNDEF - Percentual de arrecadação no município de Baturité 1998 a 2002 em relação ao total do CREDE 08

9,38 9,49 10,59 10,74 10,53

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

120,00

1998 1999 2000 2001 2002

Baturité Total

Ao executar a “descentralização”, o Regime de Colaboração assumiu um papel

de destaque. Entende-se por Regime de Colaboração o programa educacional que se

originou como exigência de dois outros processos: o de municipalização e o de

descentralização. Esse processo não nasceu de uma hora para outra, mas é fruto da

própria dinâmica das transformações econômicas e sociais do século XX nas suas

décadas últimas. Nesse sentido, a Constituição Federal, no seu Art. 211, determina a

organização do sistema educacional no país: “A União, os Estados, o Distrito Federal e

37 Depoimento dado à pesquisadora. A entrevistada pediu para não ter seu nome citado no trabalho. 38 Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Política Educacional – COPPE, SEDUC.

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os Municípios organizaram, em regime de colaboração, seus sistemas de ensino”. A

Emenda Constitucional nº. 4, no seu Art. 3º definiu, responsabilizou-se em delinear o

papel de cada sistema de ensino, suas competências e atribuições, solidificando, assim,

o regime de colaboração:

§ 1º — A União organizará o sistema federal de ensino e dos territórios,

financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria

educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de

oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino, mediante

assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

§ 2º — Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na

educação infantil.

§ 3º — Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino

fundamental e médio.

§ 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios

definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino

obrigatório.

Podemos afirmar, sem medo de cometer erros, que a Emenda direcionou o eixo

de prioridade para o ensino fundamental, dando origem ao FUNDEF, aumentando as

obrigações do município, no sentido de universalizar o ensino fundamental. Era de se

esperar que uma efetiva colaboração entre União, Estados e Municípios, garantida na

lei, traduziu-se efetivamente em prática e, para isso, os CREDE foram fundamentais, ao

menos no Estado do Ceará. Não queremos dizer com isso que este foi o único papel

desta instância administrativa, mas enfatizamos que, neste tocante, ela foi

particularmente competente.

É importante enfatizar também que o processo não está “consolidado” no

sentido de dizer que este se encontra “estabilizado”. Hoje, aliás, o passado exige ser

reexaminado, não apenas no tocante a sua efetividade, ou não, e sim, no que diz respeito

às formas de mudar os rumos e percursos, vez que há uma nítida sensação de que,

apesar de todos os esforços, muito pouco realmente mudou para melhor, é claro. A

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questão não é somente transferir, mas, acima de tudo, gerir e fazê-lo de forma

responsável. Se a LDB prescreve no seu Art. 10, o inciso II que:

(...) Definir, com os municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público. (LDB, 1996).

É preciso saber de que forma isso se deu. Porém, muito pouco tem sobre tal

problemática. Há quase que um consenso que o Estado, por meio dos CREDE,

transferiu para o município as escolas de ensino fundamental de 1ª a 4ª série,

apresentando a sociedade como instância de descentralização política, sem questionar as

conseqüências que poderiam vir ter com todas essas escolas municipalizadas. Vejamos

o que diz a assessora pedagógica do CREDE 08:

Iniciamos o levantamento das demandas e das condições de funcionamento das escolas das redes estadual e municipal da Região do Maciço, em 1998, foi selada uma parceria com as Secretarias Municipais de Educação para a municipalização gradativa de 06 escolas nos municípios de: Acarape, Itapiuna, Palmácia, Guaramiranga, Baturité e Capistrano uma em cada município e assim ocorreu. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Salientamos que, embora não sendo objeto de estudo da nossa pesquisa, cabe

salientar que os CREDE fizeram o que a SEDUC orientou, portanto não havia outra

forma de conceber a parceria se não a transferência do ensino fundamental para a Rede

Municipal. Conforme opina a Assessora Pedagógica do CREDE 08:

Para contribuir com a consolidação do Plano de Desenvolvimento Sustentável 1995-1998, o governo do estado do Ceará estabeleceu um programa de descentralização administrativa que criou os Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação – CREDE, com a finalidade de desenvolver, articular e assessorar a educação no Estado. Com isso, o CREDE de Baturité desenvolveu um trabalho de sensibilização junto aos gestores escolares estaduais e municipais que desencadeou no redimensionamento da rede de ensino no Maciço de Baturité e conseqüentemente na municipalização do ensino fundamental que foi feita gradativamente, evitando desconforto e desagregação. Tivemos bons resultados dessa parceria, visto que tínhamos bom relacionamento e articulação amigável com todos os municípios, penso que renderam muitos frutos, mas toda semente só produz cem por um se for regada e cuidada. (Entrevista da pesquisadora, 2005).

Nesse período, uma série de transformações sociais, políticas e econômicas no

nosso país trouxe mudanças significativas na formulação e no desenvolvimento da

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política educacional no estado do Ceará. Resguardada por alguns princípios da Carta

Magna, a política educacional, ora implantada no Ceará, busca a melhoria da Gestão

Pública, através da adoção de canais efetivos de participação da sociedade e do

estabelecimento de parcerias, de forma a garantir o compromisso dos gestores públicos

e de toda a sociedade civil, num esforço convergente em benefício dos objetivos sociais

e o aumento da capacidade de ação do Governo, fortalecendo as iniciativas dos níveis

descentralizados da administração pública, promovendo motivação e interesse destes e

reduzindo, conseqüentemente, os custos operacionais.

Articulando fundamentos e princípios do Plano de Desenvolvimento Sustentável

- 1995 -1998, a política implementada na terceira gestão de Tasso continua respaldada

no projeto educacional “Todos pela Educação de Qualidade para Todos” fundamentada

em três principais eixos: “Todos pela Educação, Educação de Qualidade, e Educação

para Todos”. Nesse contexto, o Estado assume o papel de ser o "coordenador macro da

política educacional", orientando a definição de diretrizes pedagógicas,

responsabilizando-se pela cooperação técnica e financeira com os municípios, pela

avaliação da qualidade de ensino e assumindo a tarefa de reduzir as desigualdades

educacionais. (SEPLAN, 1995 a).

No eixo “Todos pela Educação”, duas instâncias foram determinantes para seu

desenvolvimento, a escola e o município. A primeira, muito discutida e responsável pela

qualidade do ensino, foi apoiada tecnicamente e financeiramente com recursos federais,

estaduais, municipais, mas os indicadores educacionais revelam poucos avanços na

aprendizagem dos alunos. A gestão escolar, assumida democraticamente, através do

voto pela comunidade, pressionava para que esta respondesse aos desafios que o

mercado exigia. A segunda, em parceria com os municípios, prevê o caminho para

viabilizar o "regime de colaboração" entre União, Estado e Municípios, tendo a

Educação como tema central de todas as discussões.

Nesse contexto, percebe-se que, com a promulgação da Constituição Federativa

do Brasil de 1988, ascendeu-se o processo de democratização da sociedade brasileira e

da educação, nos três níveis de governo, os municípios, por sua vez, foram elevados à

condição de unidade federada, antes restrita aos Estados.

Art. 211 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

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§ 4.º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.

O eixo Educação de Qualidade é responsável pela qualidade do ensino, através

do Currículo, que deverá pautar-se pela satisfação das necessidades básicas de

aprendizagem, conforme Plano Decenal, definido pelo MEC:

Compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo e a solução de problemas), quanto aos conteúdos básicos de aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes) necessários para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentais e continuar aprendendo. (SEDUC, 1995).

Saindo da teoria para a prática, a escola busca a transformação social, o

cumprimento dos seus projetos educacionais e a construção de uma concepção de

mundo que expresse os anseios e desejos de uma comunidade educativa. O currículo

assume papel de destaque, pois se torna responsável pela concretização de toda a ação

educativa. Não é somente pela tarefa de ensinar que o professor sente-se responsável,

mas, acima de tudo, pela aprendizagem dos alunos:

Compreende-se o aluno como um sujeito que constrói conhecimentos com a colaboração ativa do professor cujo trabalho docente volta-se não apenas para o domínio de aspectos cognitivos quanto para o conhecimento de aspectos metodológicos, inerentes à aprendizagem como um processo (SEDUC, 1995).

Nesse sentido, o Estado investiu diferentes formas de capacitação para o

professor, as escolas foram beneficiadas com vários recursos pedagógicos e o

aperfeiçoamento dos programas de avaliação, foi possível graças à abertura da Lei nº.

9.394/96 - Parágrafo V: “A avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,

com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao

longo do período sobre os de eventuais provas finais” (LDB, 1996).

Embora o Estado tenha empreendido esforços nessas áreas, os dados do Censo

Escolar 2001 (INEP / MEC, 2002) revelam bastante altas as taxas de repetência do

ensino fundamental e no ensino médio (19,8/ e 13,0/ respectivamente). (SEDUC, 2004).

Com relação ao eixo Educação para Todos, tornam-se direitos constitucionais: a

universalização do ensino fundamental e a erradicação do analfabetismo. O Estado

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define uma política de acesso, permanência e sucesso escolar, de acordo com a qual a

criança e o adolescente tornam-se centro de toda a ação governamental (SEPLAN,

1995).

Entretanto, os ensinos fundamental e médio no estado do Ceará, a cada dia,

tornam-se mais improdutivos e desgastados. Apesar das sucessivas mudanças que têm

sido sugeridas pelas políticas governamentais, a educação básica pública continua sem

atender as necessidades das classes populares.

A Municipalização do Ensino Fundamental colocou esse nível de ensino como

atribuição única e exclusiva do poder municipal. Segundo o discurso oficial, o objetivo

geral do Processo de Municipalização seria a universalização do acesso à Pré-Escola e

ao Ensino Fundamental, permitindo, de forma mais abrangente, o ingresso e

permanência, nesses níveis de ensino, da totalidade de crianças em idade escolar entre 7

e 14 anos e uma melhoria considerável da qualidade da educação a eles dispensada.

Previsto e amparado legalmente pela Constituição Federal de 1988, o processo

de Municipalização de ensino passou a se desenvolver no Estado do Ceará, com o

objetivo perspícuo de:

(...) Criar condições básicas de natureza política, normativa, operacional, técnica e financeira através da implantação e implementação gradativa do Processo de Municipalização do Ensino Público no Estado do Ceará, visando à melhoria da qualidade e à universalização do ensino fundamental (SEDUC, 1996).

Esse projeto incluía metas descritas no plano de governo do Estado do Ceará, na

época de sua implementação, que se dizia empenhado com a busca de uma educação

digna e eficiente. No bojo dessa retórica, o governo usou formas como a mobilização

integral da comunidade no sentido de acionar a ação de “Todos pela Educação de

Qualidade para Todos”. (SEDUC, 1996).

O projeto da Municipalização do Ensino Fundamental será implantado a partir de agora e gradativamente, sendo necessário, para que atinja plenamente os seus objetivos, o envolvimento e engajamento efetivo de todos os segmentos educacionais da comunidade cearense e de todas as pessoas indistintamente, especialmente daquelas que desempenham no seu dia-a-dia, a tarefa de educar. (HAGUETTE, 1988).

Para a alimentação financeira da educação fundamental, foi prevista a utilização

dos Fundos Municipal e Estadual de Educação constituídos como instrumentos

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privilegiados e exclusivos a toda e qualquer operação contábil e financeira.

No Ceará, houve um incentivo à mobilização de toda a comunidade, através de

seus segmentos representativos e dos representantes do poder municipal, estadual e

federal, como fator essencial ao sucesso do projeto, na busca de criação de uma rede

única de escolas públicas, geridas pelo município, que acabaria com a dualidade da

escola pública nos níveis estadual e municipal.

Dessa forma, o governo federal intensificou, a partir da década de 1990, o

processo de municipalização do Ensino Fundamental, tornando-o uma responsabilidade

das prefeituras e, não mais, do governo estadual, com o objetivo de aumentar a

participação dos cidadãos na elaboração, implementação e avaliação do processo de

ensino-aprendizagem. Mas essa política apresentou grandes dificuldades em sua

implementação.

Uma das principais justificativas para a municipalização é que, tanto professores

como diretores, além dos próprios pais e alunos, tinham uma relação distante com o

governo estadual e, ao tornar o município responsável pela educação, eles estariam mais

próximos da administração. Alegava-se como um dos principais benefícios, a segurança

e os cuidados oferecidos aos professores, dando-lhes um maior suporte para o bom

desempenho do seu trabalho. Entretanto, em pesquisa realizada, MARTINS (2001)

constatou que a municipalização criou uma instabilidade profissional para os

professores. Aqueles que reivindicam melhores salários correm os riscos de serem

transferidos para escolas distantes de suas residências ou de serem demitidos. Segundo

essa pesquisa, à medida que encurtou a proximidade com o poder, aumentou a

vulnerabilidade do profissional.

A idéia de municipalização, como as várias leis e reformas, não têm se

preocupado com a melhoria da qualidade do ensino, ou de sua universalização; o que se

tem verificado é que existem regras que regem o sistema educativo que visam à

formação do tipo de seres humanos de que a sociedade precisa. Este conjunto de normas

e regras que regem o sistema educativo é o que se chama de Política Educacional.

HAGUETTE (1988) refere que a municipalização deveria ser deixada de lado e

que a idéia de co-responsabilidade (Estado e Município trabalhando em conjunto) é a

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mais acertada para que se possa atingir a universalização de um ensino de boa

qualidade. Esta idéia de co-responsabilidade, que já figura na Constituição, parece ser a

mais indicada para que possa haver mudanças significativas no sistema educacional.

Acredita-se, portanto, que o ensino fundamental deve ser fruto de uma parceria

entre os governos federal, estadual e municipal, pois, com a participação dessas três

instâncias, canalizando suas verbas e ações para um patrocínio conjunto da escola

pública, será possível o atendimento dos anseios de todos por uma escola pública de boa

qualidade, que atenda a todos, indistintamente.

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Capítulo III

DESCENTRALIZAÇÃO: UMA NOVA AGENDA PARA A EDUCAÇÃO

PÚBLICA

As simplificações que consistem em gerir o espaço público como se fosse uma empresa privada não têm muito sentido, na medida em que o cliente da área pública, a população, é proprietário legítimo da "empresa". A administração pública tem de ser, por definição, democrática. (Ladislaw Dowbor).

3.1 Descentralização & Desconcentração: uma Discussão Teórica

Na literatura sobre o tema, está presente que as estruturas governamentais da

municipalidade, enquanto instâncias de Poder local, passaram a ser valorizadas

fundamentalmente a partir da década de 1980, no interior do processo de

democratização da sociedade brasileira. No Brasil, o local ressurge do passado e de

estatuto periférico de exercício de poder político, em relação ao Poder central, ganha

escopo e se torna o lugar para onde se dirige a descentralização das políticas públicas.

O interesse político e, conseqüentemente, o acadêmico têm se manifestado em

relação às áreas urbanas, particularmente àquelas dos grandes centros, devido ao

exacerbamento das lutas urbanas: por parte das elites dominantes, no sentido, de mantê-

las sob o controle, e por parte das forças sociais de esquerda, de encontrar canais e

respostas para as suas demandas. Para as primeiras, o local pode aparecer como um dos

espaços políticos privilegiados para serem gerenciados os problemas de “desordem

social” (através da descentralização dos encargos sociais, derivada do rigor das políticas

neoliberais), enquanto que, para as segundas, pode significar o espaço de aprendizagem

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política em processos de reversão das políticas públicas na direção dos interesses das

classes trabalhadoras e camadas populares.

Segundo VIEIRA (1992), em Democracia e Política Social, as crises

institucionais são originadas na limitação da participação política a poucos segmentos

sociais: “Aceitar a participação de uns poucos setores sociais significa admitir uma

representação formal e parcial, responsável por crises institucionais, nascidas da pressão

de importantes interesses marginalizados” (ibid.), estando à estabilidade do Estado de

Direito relacionada à questão da democracia.

Uma sociedade democrática implica, necessariamente, a participação dos

indivíduos, nos mecanismos de controle das decisões; na existência de instrumentos que

garantam a sua real participação na distribuição da riqueza produzida socialmente,

sendo uma sociedade democrática aquela em que há a real participação dos indivíduos

nos mecanismos de controle das decisões e nos rendimentos da produção (ibid.).

A combinação do Capitalismo à democracia, ao produzir o regime da

democracia liberal, dá-se à base de um compromisso, “abrangendo a propriedade

privada do capital social, direito à partilha de recursos e direito à distribuição da renda”,

sendo esse equilíbrio por natureza instável. Os alicerces da estabilidade desse regime

estariam, portanto, “nas condições de bem-estar”.

Os dilemas da gestão municipal são múltiplos, e alguns bastante sérios e

profundos. Refere-se, aqui, especialmente, àqueles presentes na prática política das

forças sociais que se dispõem a buscar alternativas de reversão das políticas públicas

que se encontram, tradicionalmente, a serviço dos grupos econômicos hegemônicos e

em detrimento dos interesses comuns de grandes contingentes da população. A

possibilidade de alteração do status quo gera, naturalmente, por si só, elementos de

instabilidade.

A proposta de reverter a direção social das políticas públicas traz à tona

controvérsias, conflitos e mesmo antagonismos de certa monta, constituindo-se em

verdadeiros obstáculos a sua efetivação. Consideramos ainda como problemas de

governabilidade a falta de condições políticas de alguns governos municipais para

viabilizarem a recondução do partido nos pleitos eleitorais seguintes, dada a sua própria

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dinâmica interna e/ou sua incapacidade na construção de alianças com as forças sociais

e políticas externas.

Assim, reiteramos, como necessário, aprofundar o estudo dessa esfera de

conflitos que permeiam o exercício de governos municipais, dirigidos por coalizões

político-partidárias de tendência esquerda e que aparecem em todos os âmbitos do Poder

Municipal, na disputa de cargos e de poder dos níveis hierárquicos da estrutura do

governo, nas relações entre os poderes executivo e legislativo e entre o governo

municipal e o governo central.

Os conflitos aparecem também em espaços públicos, nos quais estão

representadas as forças sociais em presença no município, e esses conflitos representam,

na verdade, tendências e contra-tendências que, aparecendo no interior dos diversos

partidos, entre as forças coligadas que governam, no interior do próprio partido

governista e em todas as instâncias e processualidades de poder, guardando relações

diretas ou indiretas, imediatas ou mediatizadas por diferentes processos, com a disputa

de interesses divergentes e antagônicos no interior da sociedade. Tais conflitos se

manifestam com uma particularidade na vida quotidiana das cidades, entre grupos e

frações de classes sociais fundamentais que nela vivem e nas quais se fazem representar.

Observamos, na vida política recente de nosso país, como os mecanismos de

democracia representativa preservam e reproduzem os interesses das frações de classes

hegemônicas. TOSEL (1996), em Études sur Marx (et Engels), ao tratar dos limites da

democracia representativa, afirma que, para Marx, a política na modernidade “é

estruturalmente representativa, e esta representação é tanto uma forma política da

submissão real do trabalho como crise permanente desta mesma representação”. No

limite, a crítica marxiana denuncia a confiscação do poder absoluto pelo representante.

Os mecanismos da representação política determinados pela democracia

representativa não incorporam mediações necessárias para a defesa dos interesses

majoritários da sociedade. Ao contrário, a democracia representativa constitui-se numa

instância produtora de um tipo de compromisso de interesses privados com vocação

hegemônica. A sociedade, ao se subordinar a sua representação política “re-produz”, ou

seja, produz pela segunda vez, “a subordinação do trabalho vivo ao trabalho morto e as

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formas da submissão real dos trabalhadores às relações de dominação capitalista”

(TOSEL, 1996).

As estruturas de representação política, segundo o autor, têm um papel ativo, ao

apresentar o Estado as seguintes características: 1- o Estado não representa uma

processualidades que existiria absolutamente fora dele, enquanto ator direto da cena

política; ao contrário, o ator tem existência na própria ação produtiva do aparelho de

Estado, como agente decisivo da cena política, não pressupõe o “povo”, como seu

produto ou o servidor delegado, ao contrário, o Estado institui, em sujeito político - o

representado justamente pela despossessão permanente de sua ação política - o

representante cria o representado, sendo a sanção sua forma política e expressão da

submissão real deste último; 2 - as necessidades homologadas pelo Estado são já

filtradas como um conjunto de compromissos firmados no e pelo espaço representativo,

enunciados pelos aparelhos que formam “a trama privada da sociedade civil”, de acordo

com GRAMSCI (1986), aparelhos de hegemonia que estruturam politicamente a

sociedade civil; 3 - outras necessidades sociais incapazes politicamente de obter

legitimação sofrem repressão aberta dissimulada, como por exemplo, as necessidades

dos desempregados e dos excluídos; a cisão entre representação política e representação

dos interesses tem a sua origem no fato de que são as elites políticas representativas que

definem o interesse supostamente geral da sociedade, na verdade, pautados em

interesses particulares; o Estado representativo não é a encarnação ilusória da

comunidade, ao contrário, é uma máquina na qual se realiza a indiferenciação das

funções econômicas, administrativas e repressivas, máquina esta especializada na

produção da generalidade determinada segundo a lógica da submissão real; a

confiscação do trabalho geral é assegurada pela representação, ao concentrar os poderes

de modo a constituir um domínio aparentemente separado da sociedade, fazendo imergir

o trabalho intelectual de gestão da sociedade a serviço da submissão real.

Para TOSEL, Marx, na crítica que faz do Estado, não quer fundar um pluralismo

político com base numa pluralidade “igualitária” das forças econômicas. Objetiva, em

oposição, pensar o processo de autocrítica real da representação, no interior, e a partir

das próprias práticas efetivadas, no quadro da democracia republicana (ibid.). MARX

pensa “a democracia como processo infinito de atualização contra suas formas

atualmente dominantes. Ele inaugurou a análise do Estado como encarnação da

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dominação impessoal do capital” (ibid). Denunciando o caráter insuperável do par -

economia capitalista e democracia representativa -, MARX indica que essa superação só

será possível de ser alcançada na transição ao comunismo, mediada pela sociedade

socialista. Sendo a função do Estado capitalista “dar reconhecimento ativo aos

interesses privados como representativos de forças sociais”, é ele que dá garantia para

que as forças sociais sejam reconhecidas no próprio mercado, como possuindo

interesses diferenciados.

A representação é necessária aos próprios aparelhos políticos, reconhecidos e

legitimados pelo Estado. Este, ao produzir o espaço representativo, destina aos

indivíduos o mero papel de representados. “O representante acaba por produzir o

representado, embora pressuposto como seu fundamento político” (ibid.). Para TOSEL,

Marx critica o princípio representativo para superação de seus limites, mediante

mecanismos da democracia direta. A luta para suprimir a submissão do trabalho ao

capital “exige a emergência de um princípio de democracia direta compatível com

instituições republicanas, a extensão do sufrágio universal, a ampliação dos direitos

humanos e do cidadão em direitos dos livres produtores” (ibid.).

Na análise da Comuna de Paris, que trata da Guerra Civil na França, está o

conteúdo do regime político proposto por MARX, denominado nos Textos de 1848 e na

Crítica do programa de Gotha como “ditadura do proletariado”: “uma República

promovendo a democracia direta na base, na empresa e na municipalidade” (ibid.). O

problema pouco trabalhado por Marx estaria na articulação entre os processos de

democracia direta, regendo, de um lado, as unidades de produção e as municipalidades,

e de outro, a organização de um plano de conjunto coordenando todas as ações.

Os estrangulamentos, cada vez mais patentes, nos processos de democracia

representativa, colocam para as forças políticas de esquerda o desafio de elaborar e

implementar propostas que visem à transformação progressiva dos ganhos de

produtividade em meios para o desenvolvimento pleno de todos os produtores.

Defendemos a tese de que esse desafio passa necessariamente pela tarefa política

da construção de sistemas políticos que integrem mecanismos de democracia direta no

regime de democracia representativa. A formulação e implementação desses

mecanismos, visando à crítica e superação dos problemas da democracia representativa,

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produzem espaços públicos de outra natureza, com práticas e concepções que

aproximam as esferas pública e privada.

Esses novos espaços públicos, criados pela incorporação na prática democrática

representativa de mecanismos de democracia direta, podem oferecer base de sustentação

da governabilidade, para coalizões políticas de esquerda, nos processos de reversão das

políticas públicas, em direção ao atendimento das demandas, até então reprimidas, da

grande maioria da população.

Os países latino-americanos vivem uma crise política que está associada à

‘sobrecarga do governo’ e à crise de legitimidade do Estado, gerando conflitos nos

partidos políticos e comprometendo sua liderança histórica que explicam a crise do

Estado Democrático Moderno. Existem várias abordagens do conceito de Estado

Democrático que poderão se instituir através de um discurso dito democrático, no qual

os políticos prometem mais do que podem cumprir, surgindo, assim, políticas de

apaziguamento ou a definição de um Estado como poder democrático de uma ação

política efetiva.

A definição de Estado Democrático de Direito reconhece o poder popular e, ao

mesmo tempo, delega e legitima esse poder representado pela participação e pela

democratização dos processos democrático-representativos. SOUZA reforça essa

definição:

Estado democrático de direito é um Estado com constituição limitadora do poder através do império do direito, mas, também, legitimação democrática do poder, poder baseado na soberania e vontade popular e, neste sentido, o de Estado Democrático de Direito ou Direito Democrático assumiria dimensões várias: juridicidade, democracia, sociabilidade, sustentabilidade ambiental, como membro da Comunidade Internacional observador dos limites das regras e dos princípios internacionais (princípios como a autodeterminação, direitos humanos, entre outros). (SOUZA, 2001).

Assim, o Estado Democrático de Direito amplia e ressignifica o conceito de

Estado Democrático, contrapondo-se ao Estado Autoritário que tenta apenas regular a

economia e manter a ordem política. Complementando essa discussão, DEMO (1995)

expressa que num Estado Democrático de Direito “o poder” poderá ser melhor

administrado, poderá ser participado por todos, mas jamais será excluído do Estado,

pois faz parte da estrutura da sociedade.

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Sem desvalorizar esses fatores que explicam a crise mundial, iniciamos a nossa

discussão, neste primeiro momento, refletindo acerca do centralismo, que se caracteriza

por um distanciamento entre cidadão e Estado. Embora o centralismo possa contribuir

para a consolidação do totalitarismo e do fascismo, nada contribui para a democracia

que, para BOBBIO (1995), é um conjunto de regras de procedimentos para a formação

de decisões coletivas respaldadas pela participação dos interessados.

Diante de um Estado que prega um discurso ideológico repetitivo, o cidadão se

identifica mais com o discurso pragmático, duro e eficaz, na resolução dos seus

problemas imediatos. O cidadão deseja melhores serviços públicos, um nível de vida

respeitável, quer ter maior poder de decisão sobre as coisas que lhe pertencem, quer

escolher seus líderes e, acima de tudo, quer ser protagonista de sua própria história.

A situação da democracia na América Latina está associada, inevitavelmente, a

uma crise econômica estrutural de seus países, como conseqüência de um modelo

tradicional Estadista - Populista associado à ingovernabilidade, à corrupção e a uma

elevada dívida externa que requer, desses países, as necessárias políticas de ajustes,

como forma de garantir novos acessos de financiamento.

Os problemas estruturais poderão vir agregados a outros agravantes, como a

crise do Estado do Bem-estar (centralismo, burocratismo), variáveis estas que

fortaleceram o Estado Democrático Centralista. Por outro lado, os países da América

Latina almejam sair desse Estado Centralista, com políticas de mercado voltadas à

modernização, à reforma do Estado e à descentralização democrática.

É preciso que esses países, especialmente o Brasil, que vêm perdendo a sua

legitimidade interna por terem ineficiente o regime democrático e vivenciarem um

sensível distanciamento entre o eleitor e o eleito, entre Estado e cidadão, reconstruam

uma sociedade moderna que lhes garanta um mínimo de bem-estar, com políticas

apropriadas à sociedade.

Para que isso venha a ocorrer, é necessária uma revisão estrutural do paradigma

democrático centralista, com vistas a uma sociedade descentralizada, puramente

democrática e participativa, que favoreça o alcance de uma economia capitalista de

mercado e oferte ao cidadão um Estado Mínimo de Bem-estar.

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A concepção da crise democrática está no centralismo político, na capacidade de

governar e exercer o poder. PÉREZ (1994) expressa que essa circunstância,

especialmente no contexto latino-americano, elege, dentro de contradições estruturais

significativas, de um lado, o centralismo que aparece como uma herança histórico-

política e cultural, associada a sistemas como o caudilhismo e o presidencialismo e, de

outro, o Estado Moderno respaldado por Cartas Constitucionais que, na prática,

configuram Estados altamente centralizadores.

De igual modo, a centralização tem a sua herança histórico-política, e a

descentralização, de modo particular na América Latina, também tem seu espírito

conceitual e político que a orienta e determina. Partindo dessas reflexões, a América

Latina, para promover a sua reestruturação e garantir melhores subsídios para as suas

políticas sociais, precisou dos organismos internacionais, como o Banco Mundial, para

desenvolver o seu processo de modernização, especialmente dentro da política

educacional que se diz fundamentada numa racionalidade política e administrativa.

Dessa forma, partimos agora para uma discussão sobre a descentralização

educativa, elemento constitutivo de uma política educacional. Conforme PÉREZ (ibid),

a descentralização educativa na América Latina está associada à reestruturação que

supõe uma reorganização voltada à substituição do planejamento, do controle e da

supervisão do governo central por um sistema desregularizado e descentralizado, uma

administração nos níveis regionais, provinciais, locais ou comunitários.

Assim, o autor citado concebe que a descentralização educativa constitui um

elemento de uma política mais ampla que supõe uma mudança significativa na relação

de poder e de autoridade entre os diversos atores sociais. Na verdade, a descentralização

ocorre quando, na realidade, desloca-se ou transfere-se o poder, a autoridade e a

capacidade de ação e direção de determinadas funções (administrativas, financeiras, de

planejamento e de avaliação etc.) de uma instância administrativa para uma instância de

gestão inferior, dentro do território político, que assume responsabilidades mais

próximas do cidadão.

Esta descentralização ocorre quando são transferidos a autoridade e o poder da

instância nacional para a local, pressupondo-se a existência de um governo aberto e de

uma cidadania atenta, que assume toda a ação pública com autonomia e capacidade para

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administrar seus próprios recursos, sua carga tributária e sua participação democrática.

Na época do Estado-grego, a democracia se dava através da participação direta

dos cidadãos nas decisões de governo. Hoje a democracia é exercida pelos

representantes do governo, que foi delegado pelo povo (COSTA: 1997). Dessa forma,

os governos locais cumprem uma função pedagógica voltada ao cidadão de primeira

ordem e incentivam o mais apreciado aspecto da democracia: a participação. O cidadão,

quando participa das decisões, sabe o que deve fazer, tem mais possibilidade de acertar

do que quando as decisões são impostas sobre ele (BOWMAN E HAMPTON, 1989).

Uma política de descentralização de poder, especificamente educativa, deve

partir estrategicamente do governo de âmbito local, por ser mais eficaz e por estar mais

próxima do cidadão. Assim, enquanto instância de Poder Local, os municípios devem

ser pontos de partida do processo descentralizador, e não, o ponto de chegada. A

sociedade civil, desse governo local, incorpora-se ativamente ao processo

descentralizador, potencializando a democracia em termos de participação permanente

e, não somente, nos processos formais da educação (PÉREZ, 1994).

Essa categoria de descentralização educativa, proposta por PÉREZ (ibid.), deve

implicar uma reestruturação sistemática de âmbito nacional, porém, ao mesmo tempo,

uma reestruturação do próprio âmbito regional como modalidade eficaz para evitar a

aparição de um neocentralismo regional, provincial, estatal e outros, descentralizando

sempre para os âmbitos locais.

PÉREZ (ibid.) coloca em debate algumas categorias propostas para uma

descentralização educativa. Primeiro, a descentralização como eficácia democrática que

assume a transmissão ou transferência de certas competências, antes da região

receptora, passando a desfrutar de autonomia suficiente para gerenciar e dirigir com

poder, autoridade e capacidade de ações e direções educacionais, tanto do ponto de vista

econômico-financeiro, como nos aspectos dos recursos físicos, humanos e outros.

Aparece, ainda, como uma modalidade para racionalizar, não somente os

processos de tomada de decisão educativa, mas como instrumento desburocratizador da

gestão, acoplado aos indicadores de eficiência e de eficácia. Esse enfoque contribui para

garantir maior nível de legitimidade e aprovação cidadã do Estado. Conforme a

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descentralização educativa, como retórica, aparece como um simples discurso político,

retórico, estratégico, adornado de reformismo ou de teorias reformadoras do Estado,

porém os resultados de seus programas, objetivos e metas aparecem como saldo

negativo, daí porque a descentralização e, de modo especial, a descentralização

educativa assumi o papel de concepção escolar, gerando grandes expectativas de

mudança.

Entretanto, o desencanto e a frustração social são virtualmente suas únicas

contribuições e resultados. É necessário e importante que aqueles que defendem e

apóiam a descentralização educativa com convicção moral e política, em respeito a

certos atores sociais, defendam o poder e a autoridade para impulsionar novas

mudanças, condenando ao fracasso uma mudança democrática, por desprezo ou por

ignorância.

Terceiro, a descentralização educativa, como fonte de legitimação, concorre para

que a descentralização do poder político, nas chamadas democracias desenvolvidas

(Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, etc.), tornem-se fonte de legitimação

dos Estados Nacionais, na medida em que se implementa como instrumento político

claro de consenso.

Na América Latina, não encontramos nenhum Estado Nacional a partir destas

condições, ao contrário, a descentralização aparece com a intenção de incorporar

práticas políticas ou pedagógicas experimentadas em outros países, com a finalidade de

dar a sensação de modernizar e reformar o Estado.

Esse processo educativo de descentralização legitima o Estado, na medida em

que ajuda: a transmitir competências de ação pública, a promover uma nova

organização burocrática desregularizada e a assumir um novo enfoque de planejamento

e de avaliação mais participativa.

Discutindo a descentralização na América Latina, Rondinelli, Nellis e Cheema

(apud PÉREZ, 1994) postulam quatro tipos de reformas educativas, claramente,

diferenciados: desconcentração, delegação, devolução, privatização.

O primeiro tipo é a desconcentração. Na qual se transfere a capacidade de

gerenciar a educação no âmbito central para as regiões, províncias e localidades. Não

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significa transferência de poder, mas delegação de autoridade ou competências de ação,

que determina o controle do governo central, enquanto as competências passam a ser

exercidas por entre os territórios sub-nacionais, inclusive, os organismos educativos,

administrativos e burocráticos continuam atrelados ao governo central.

O segundo tipo é a delegação. Constitui-se outra modalidade de descentralização

que consiste em transferir certas responsabilidades educativas a um agente para-estatal

com amplas autoridades, estas se encontram controladas ou reguladas pelos governos ou

corporações de desenvolvimento regional. Essa modalidade, ainda, implica

transferência de poder e de autoridade, mas não amplia a participação de atores sociais

na administração e gestão educacional. Portanto, a sua eficácia e a sua eficiência são

relativas.

O terceiro tipo é a devolução. Neste modelo, a criação ou fortalecimento de

governos sub-nacionais (governos autônomos ou locais) ficam fora do controle do

governo central e se responsabilizam pelo sucesso da prestação direta dos serviços

educacionais como também pela autorização dos recursos físico-financeiros, humanos e

pedagógicos, necessários ao funcionamento educacional. Esse tipo de descentralização

fortalece os governos autônomos, regionais ou locais, superando, assim, o controle do

governo central, garantindo uma maior eficácia e eficiência, promovendo, dessa forma,

uma maior participação dos atores no processo educativo.

O quarto tipo é a privatização. Este é enfoque defendido amplamente pela

corrente neoliberal que pressupõe o desligamento progressivo governamental da

educação, fomentando e financiando, através de bônus, as famílias e as escolas

anteriormente públicas que, assim, terminam se privatizando. Este é um tipo único e

especial de descentralização que vem sendo experimentado na América Latina, onde o

Estado se desregulariza, favorecendo a participação individual, a competitividade e o

livre jogo da oferta e da demanda entre as escolas, antes públicas.

Tal como se observa, a desconcentração e a delegação não representam,

realmente, políticas de descentralização, nem favorecem a eficácia democrática, mas

intensificam a retórica política populista. Por outro lado, a descentralização política,

especialmente a educativa, surge na América Latina, mas, por razões exógenas

(modelos e discursos pedagógicos) do que por razões endógenas (pela própria dinâmica

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histórico-política interior de cada país). A descentralização educativa passa mais pelo

discurso político, no sentido de estimular a eficiência, do que pela eficácia da qualidade

de ensino.

Assim, para superar o discurso político de descentralização educativa, é

necessário repensar as suas próprias potencialidades e particularidades histórico-

políticas. A descentralização educativa deve ser um instrumento prático, de ação

pública, para melhorar eficazmente o funcionamento da sociedade, do próprio Estado,

do espaço como fonte de participação e do indivíduo como cidadão.

A descentralização educativa, como eficácia democrática, deve, de um lado, ser

capaz de assumir como um processo, contemplando permanentemente a formação

continuada de recursos humanos, definindo prioridades, avaliando e planejando

participativamente. De outro, deve sustentar-se numa pedagogia voltada à

descentralização, sustentada no ensino e na prática que orienta para as formas de

participar, decidir, opinar, eleger.

No Brasil, com o fim do Regime Militar, a eleição indireta de Tancredo Neves,

seu falecimento e a posse de José Sarney, Houve o pensamento que poderíamos

novamente discutir questões sobre educação de uma forma democrática e aberta. A

discussão sobre as questões educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e

assumido um caráter político. Para isso, contribuiu a participação mais ativa de

pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num

sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de aula, à didática e à

dinâmica escolar em si mesma.

Assim, o Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB foi

encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio Elisio em 1988. No ano

seguinte, o Deputado Jorge Hage envia à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992,

o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acaba por ser aprovado em

dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elisio.

Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente marcante

na educação foi o trabalho do Ministro Paulo Renato de Souza à frente do Ministério da

Educação:

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Cabe ao Ministério da Educação um papel-político na coordenação da política nacional de educação: estabelecer rumos, diretrizes e fornecer mecanismos de apoio às instâncias estaduais ou municipais da administração pública e ao setor privado. No caso do ensino básico esse papel político-estratégico também é compartilhado por estados e municípios, em razão da estrutura federativa e da autonomia administrativa dessas instâncias. (SOUZA, 2002).

Destarte, contrariando as tendências centralizadoras que haviam sido

implementadas durante o regime militar, percebemos, no parágrafo anterior, as

estratégias de descentralização das ações para os estados, para os municípios e até

mesma para as escolas. Dessa forma, com a aprovação da LDB Nº. 9394/96 e a

Promulgação da Constituição de 1988, foram criadas as condições políticas e

institucionais para a efetivação do processo de descentralização no Brasil.

Deste modo, observamos que antes de atuarem em suas funções, por questões

políticas durante o Regime Militar, profissionais da área de Sociologia, Filosofia,

Antropologia, História, Psicologia, entre outras, passaram a assumir postos na área da

educação e a concretizar discursos em seu nome.

3.2. Caminhos Transversais da Descentralização

O cidadão não se concebe, nem concebe seus filhos como “estaduais” ou “municipais”, na busca de concretização do direito à educação; mas concebe-se como um cidadão diante do Poder Público, quando adentra uma escola – quer seja estadual, quer seja municipal – à procura de vaga. Por isso, não tem sentido a dicotomia implantada e assumida como praxe que, além dos malefícios já mencionados, quase sempre leva às discriminações odiosas – seja no trato dos alunos, seja no dos profissionais de educação – à concorrência viciosa, às superposições, ao paralelismo de ações, ao desperdício de recursos públicos. (MOACIR GADOTTI, 1996).

Desde a década de 1980, o Brasil tem apresentado mudanças no direcionamento

das reformas das políticas públicas, emergentes com as crises econômica, fiscal e de

legitimidade do Estado. Essa crise coloca em questão a eficiência do Estado, no

gerenciamento do sistema público de ensino que exige a implementação de políticas

públicas adequadas às necessidades de cada região. CASASSUS (1990) define

estratégias para melhorar a qualidade da educação: primeiro, em relação à reforma dos

sistemas educativos nas demais esferas federais, estaduais e municipais; segundo, a

reestruturação dos sistemas de gestão e financiamento das políticas educacionais.

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Nos anos a partir de 1990, iniciou-se uma nova fase das políticas educativas

dentro de um processo de modernização do Estado, perpassado por uma maior

racionalidade na gestão, conforme CASASSUS (ibid.) e, em particular, nos processos

de centralização, descentralização e de desconcentração nas administrações públicas.

Para ele, a descentralização vem acompanhada da centralização, uma vez que alguns

processos vão para a base - a escola -, mas outros, principalmente as informações,

ficarão sob o controle do Estado, que permanece no centro. O autor observa que esses

processos têm sido historicamente organizados dentro de um modelo de centralização,

mediante um novo desenho das funções do Estado - centro - e da base – a escola.

Assegura ainda que, por esse efeito, as categorias descentralização e centralização não

aparecem como conceitos isolados, e sim, aparecem juntas e vêm articuladas pelas

tecnologias e pelas informações. Dessa forma, para que o centro venha a assumir uma

estratégia de descentralização, é preciso que se preocupe em definir suas políticas,

coordenar a rede e ampliar os espaços de participação.

A descentralização, segundo CASASSUS (ibid.), ocorre nos níveis macro e

micro. A instância macro, que vê o sistema na sua totalidade, opera como sede da

decisão política, pois é nela que se formulam e são implementadas as políticas públicas,

enquanto, no nível micro, ocorrem os processos no sistema escolar, transferindo para as

escolas apenas a decisão de como melhor utilizar os recursos financeiros e a

administração dos recursos humanos; “este processo tem como objetivo transferir a

decisão sobre as várias formas do nível central e dos níveis intermediários para a

escola”. Assim, a descentralização deve possibilitar a saída de uma administração

pesada e burocrática, para uma gerência cada vez mais ágil, com decisões eficazes, com

poder político de implantação de processos educacionais viáveis e com recursos

tecnológicos disponíveis.

De fato, falar em descentralização e centralização remete a uma polarização,

entretanto, essas categorias precisam ser entendidas como complementares e não como

opostas entre si. A importância da discussão sobre a descentralização tem como base o

enfretamento dos desafios da modernidade e da democratização do poder, ou seja, nas

duas ultimas décadas, a descentralização tem sido objeto de debate e de discussões, seja

no campo teórico ou no campo político. Analisando as várias formas da

descentralização da Educação, BROOKE (1989) expressa que, conforme os objetivos

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apresentados pela administração, as formas de descentralização são definidas e, por sua

vez, “a natureza das tarefas administrativas condicionam o tipo de descentralização

possível.” Diante disso, por existirem várias formas de descentralização, é preciso que a

administração tenha bem definidos os seus objetivos.

Segundo BROOKE (ibid.), existem algumas formas de descentralização que

precisam estar bem definidas tanto em nível institucional, como na política

administrativa, procurando investigar quais as diferenças entre o binômio

descentralização/desconcentração e, por outro lado, entre descentralização

administrativa e descentralização política.

À medida que a descentralização representa uma opção política como

mecanismo voltado à eficiência, a desconcentração exprime a transferência de

determinadas decisões de um nível governamental para outro, através de uma hierarquia

de comando. Essa transferência de um nível governamental para outro gera apenas

descongestionamento do órgão central, sem nenhum poder de decisão para o órgão

‘descentralizado’.

Dessa forma, descentralizar não significa somente a delegação de funções, mas

também a transferência do poder de decisão nas diferentes esferas educacionais. A

descentralização administrativa não se dá apenas através da transferência das funções

administrativas e executivas de rotina, mas envolvem uma tomada de decisão para a

execução de suas tarefas. Para isso, é preciso que a descentralização ultrapasse a mera

transferência de responsabilidade. Portanto, “acompanha-se de uma parcela de poder

decisório” (BROOKE, 1989).

A descentralização política delega ou outorga às instituições: governamental

e/ou não governamental “todos os poderes de decisão e de fiscalização”. Essa forma de

descentralização tem como propósito “a instituição de estruturas autônomas e

independentes da estrutura de comando” (ibid.). A distribuição do poder, pois, é mais

que uma descentralização, representa uma não centralização. Portanto, à medida que

essas instituições amadurecem, progressivamente vão concentrando o poder, e o nível

central serve apenas para promover certo grau de descentralização no sistema político.

O maior desafio, na visão de BAVA (2002), é a descentralização do governo,

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pois acarretará maior distribuição do poder decisório, que logicamente levará a uma

mudança profunda na forma de governo. Não existe um governo com políticas

totalmente descentralizadoras ou centralizadoras na percepção dos analistas da

educação. No governo dito democrático, com políticas de descentralização, de

transparência e de participação cidadã, existe a centralização e o controle do poder no

campo político-partidário. Nessa concepção, o poder precisa:

(...) Ganhar transparência, controle social, descentralizar-se e incorporar a participação cidadã para superar as estruturas que sustentaram desde sempre o domínio das oligarquias locais, que se modernizaram durante o regime autoritário, mas mantiveram a ferro e fogo o controle centralizado do exercício do poder. (BAVA , 2002).

Para que a democracia se concretize, é preciso socializar o poder, qualificar a

sociedade e definir políticas públicas que estimulem a participação e orientem novas

formas de relações entre Estado e sociedade. Conforme estudiosos da temática, são

necessários alguns instrumentos para alcançar um governo democrático capaz de

promover a descentralização e a democratização da gestão pública, pois é possível,

dentro de um governo democrático, vislumbrar estratégias de descentralização

administrativa com o poder de decisão.

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Capítulo IV

OS CAMINHOS DA “DESCENTRALIZAÇÃO” DO ENSINO PÚBLICO

CEARENSE

Um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de concepções e paradigmas não apenas porque inicia-se um novo milênio – época de balanço e de reflexão, época em que o imaginário parece ter um peso maior . (Moacir Gadotti, 2000).

4.1 Reflexões Pertinentes à “Descentralização” no Ceará

Iniciamos nosso trabalho contextualizando as transformações ocorridas nas

finais décadas do século XX. Há certo consenso entre os estudiosos quando afirmam

que a década de noventa foi sob todos os aspectos o período mais intenso dessas

mudanças. Nesse marco cronológico, o Governo Federal delegou aos Estados e

Municípios grande parte das funções de gestão das políticas de saúde, assistência social

e principalmente educação.

Nesse período, o Governo do Estado encaminhou à Assembléia Legislativa o

Projeto de Lei que tratava sobre o Processo de Municipalização do Ensino Público no

Ceará. De fato, essa municipalização deu-se na rede de ensino fundamental como

experiência piloto, em 1995, abrangendo os municípios de Fortim, Icapuí, Iguatu, Jucás,

Marco e Maranguape visando a uma Rede Única de Escolas Públicas com o objetivo de

universalizar o Ensino Fundamental e, conseqüentemente, garantir uma melhor

qualidade nas escolas públicas.

No ano seguinte, à luz do processo de descentralização, via a municipalização

do ensino, ocorreu a implantação dos CREDE a qual sinalizava que algo de novo estava

por vir. Para muitos dos envolvidos39, a política de descentralização ocorreu de forma:

Planejada, favorecendo ao desenvolvimento dos programas na área de educação; a melhoria do planejamento e da gestão na instância regional e escolar numa tentativa de alcançar a qualidade administrativa do governo no que se refere à prestação dos serviços educacionais. (Entrevista concedida à pesquisadora, 2005).

39 Ex-Orientadora do CREDE 08

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Para realizar a análise da política de descentralização da educação no estado do

Ceará, tomamos como objeto empírico de análise o desenvolvimento dessa política nos

CREDE 08 e 09. Tentar entender a dinâmica dessa relação interna é o nosso foco. Este

capítulo trata do olhar dos principais agentes sobre a implantação e a trajetória da

política no contexto da regionalização, da municipalização e dos programas

implantados.

Assim, procedemos a uma série de levantamento de dados e entrevistas que nos

fornecesse elementos de análise, buscando compreender a descentralização na área de

ensino fundamental, observando as trajetórias dos programas implantados,

principalmente a municipalização das matrículas nesta modalidade, relacionando-a com

o aporte que cada município recebeu do FUNDEF nos últimos anos40. Portanto, o

andamento destes programas será tomado como vertente significativa da

descentralização na área de educação fundamental.

A noção que tomamos de programa caminha na perspectiva de ARRETCHE

(2000) “ação deliberada do governo na direção da descentralização” Esclarecendo

melhor, programa de governo é “[...] ação política deliberada, vale dizer, estratégias de

indução eficientemente desenhadas para delegar a um outro nível de governo a

responsabilidade pela gestão destas políticas [...]”.(ibid).

O nosso entendimento é de que a partir de 1995, a SEDUC atendendo a

tendência que vinha da esfera nacional, implantou uma série de programas, cuja

finalidade era acelerar o processo de transferência de atribuições quanto à manutenção e

desenvolvimento da educação pública. O primeiro nível de mudança se deu no ensino

fundamental é o que nos mostra o gráfico 04 da evolução da matrícula do ensino

fundamental da rede estadual41.

40 Consta dos anexos. 41 Fonte: Coordenadoria de Planejamento e Política Educacional - COPPE

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GRÁFICO 04 – Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Estadual

- CREDE 08

0500

1.0001.5002.0002.5003.0003.5004.0004.5005.0005.5006.0006.5007.0007.5008.000

1999 2000 2001 2002

Evolução da Matricula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002 CREDE 8 - Rede Estadual

ACARAPE

ARACOIABA

ARATUBA

BARREIRA

BATURITE

CAPISTRANO

GUARAMIRANGA

ITAPIUNA

MULUNGU

OCARA

PACOTI

PALMACIA

REDENCAO

Total do CREDE

Percebemos que há uma predisposição muito forte à diminuição do quantitativo

de alunos matriculados na rede estadual. O gráfico nos mostra um movimento visível de

declive. Os municípios jurisdicionados ao CREDE 08 apresentam movimentos de

aumentos de matrícula em sua rede a partir de 1999 a 2002. Vejamos agora o gráfico 05

da matrícula da rede municipal, no mesmo período, para fazermos a comparação entre

as duas redes: GRÁFICO 05- Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da

Rede Municipal - CREDE 08

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

45.000

50.000

55.000

1999 2000 2001 2002

Evolução da Matricula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002CREDE 8 - Rede Municipal

ACARAPE

ARACOIABA

ARATUBA

BARREIRA

BATURITE

CAPISTRANO

GUARAMIRANGA

ITAPIUNA

MULUNGU

OCARA

PACOTI

PALMACIA

REDENCAO

Total do CREDE

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É visível o aumento da rede municipal. Isso não seria possível sem duas

condições básicas da “descentralização”. A primeira a criação do FUNDEF e a segunda

a municipalização da merenda. Remetemo-nos agora para o gráfico 06 que retrata a

situação da rede estadual no CREDE 09.

GRÁFICO 06- Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Estadual

CREDE 09

0500

1000150020002500300035004000450050005500600065007000

1999 2000 2001 2002

Evolução da Matricula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002 CREDE 9 - Rede Estadual

BEBERIBE

CASCAVEL

CHOROZINHO

HORIZONTE

PACAJUS

PINDORETAMA

Total do CREDE

A leitura atenta deste gráfico faz-nos ver que há um movimento análogo entre o

CREDE 08 e 09. Ambos atravessaram o mesmo processo, ambos vivenciaram as

mesmas medidas da política de “descentralização” via municipalização do ensino

fundamental implantadas pelo Governo Federal e Estadual. Os dados do Censo escolar

explicitam com bastante nitidez esta situação. É o que nos retrata o gráfico 07.

GRÁFICO 07 - Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental da Rede Municipal

CREDE 09

0100020003000400050006000700080009000

1000011000120001300014000150001600017000180001900020000

1999 2000 2001 2002

Evolução da Matricula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002 CREDE 9 - Rede Municipal

BEBERIBE

CASCAVEL

CHOROZINHO

HORIZONTE

PACAJUS

PINDORETAMA

Total do CREDE

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Para corroborar com a nossa análise, o levantamento de dados feito exprime a

situação descrita a partir do gráfico 08, de acordo com o qual o Estado

progressivamente “perde” matrícula para os municípios:

GRÁFICO 08 – Total Geral de Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental

CREDE 08

Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002 Total Geral - CREDE 08

05.000

10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.00050.00055.000

1999 2000 2001 2002

Rede Estadual

Rede Municipal

O referido gráfico que diz respeito à realidade do CREDE 08 nos dá noção do

encontro entre o que se dá na localidade do CREDE e do estado do Ceará, abaixo

sublinhado pelo gráfico 09:

GRÁFICO 09- Total Geral de Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental

Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002 Total Geral - CEARÁ

50.000150.000250.000350.000450.000550.000650.000750.000850.000950.000

1.050.0001.150.0001.250.0001.350.0001.450.000

1999 2000 2001 2002

Rede Estadual

Rede Municipal

Vejamos agora a mesma realidade em que se inseriu o CREDE 09. De fato, há

uma dinâmica convergente de expressiva perda da matrícula dos alunos do ensino

fundamental no estado do Ceará, como um todo, e um aumento dessa matrícula nos

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municípios jurisdicionados aos CREDE pesquisados. A nossa percepção científica desta

problemática nos leva então a concluir que toda essa nova situação no quadro da

organização do ensino fundamental cearense não seria possível sem a presença

articuladora dos CREDE nessas localidades.

GRÁFICO 10- Total Geral de Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental

CREDE 09

Evolução da Matrícula do Ensino Fundamental - 1999 a 2002 Total Geral - CREDE 09

05.000

10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.00050.00055.00060.000

1999 2000 2001 2002

Rede Estadual

Rede Municipal

Por isso, não é forçoso admitir que a “descentralização” no estado do Ceará

ocorreu em todas as áreas governamentais, mas que a área da educação foi a que mais

atendeu aos pré-requisitos da política. Além de que, esse programa, apesar de um forte

apelo centrado na questão da participação e da democratização, foi antes de tudo um

projeto político do grupo de Tasso Jereissati. Sem essa vontade política, o processo não

teria acontecido. Ela não foi gestada da noite para o dia, é fruto das decisões tomadas no

plano global, em meados da década de 1990. O governo realizou anteriormente as

chamadas reformas estruturais do setor público, pela disciplina fiscal e pelo crescimento

econômico. Estudiosos do assunto apontam que entre 1995 e 1999 a economia cearense

conseguiu uma taxa acumulada de variação do seu produto interno bruto acima dos

produtos nacional e regional.

Conforme análises, esse desempenho se exprimiu dentro de um ambiente macro-

econômico nacional hostil (instabilidade econômica com altas taxas de juros e de

inflação), crise fiscal do Estado Federal, esvaziamento da política federal de

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desenvolvimento regional e principalmente uma desordem e crise fiscal-financeira dos

estados federados sem precedentes na História do Brasil.

O contexto da descentralização conecta-se com toda essa realidade, resultante de

uma ruptura ocorrida entre forças políticas locais que produziu um novo paradigma de

regulação e gestão públicas. Se formos comparar as mudanças institucionais verificadas

dentro do sistema federativo brasileiro, desde 1988, as transformações ocorridas no

Ceará concentram alvos em comum: ajuste fiscal, estabilização monetária,

descentralização de funções administrativas e responsabilidade fiscal.

É importante assinalar que todas essas mudanças estavam ‘antenadas’ com o

cenário nacional e internacional dentro das novas relações da mundialização do

capital42. Por isso, as transformações convergiam para os interesses da federação, antes

se afinando com os mesmos, isto é, transferência de responsabilidades de gestão das

políticas públicas. Como isso se deu na educação pública cearense é o que iremos

abordar a seguir.

4.2 A Política Educacional Vista por Dentro: o Olhar dos Protagonistas

Um olhar sobre a política de descentralização educacional no Ceará: o caso dos

CREDE (1995-2002) poderia ser o título deste tópico. Mas, como queríamos enfatizar o

papel dos protagonistas na execução da política, preferimos continuar com o que acima

figura. A visão dominante, quando do desenvolvimento deste trabalho, era a de que os

CREDE não passaram de meras “instâncias administrativas” no processo da reforma

educacional cearense instaurado nos idos de 1990.

A nossa pesquisa mostra que, apesar desses organismos intermediários não

terem atuado de forma autônoma no sentido de se autogovernarem, os mesmos não

tiveram um papel tímido nesse processo, antes se envolveram de tal forma que muito da

efetividade que atribuímos à política deve ser creditado àqueles que atuaram

diretamente em prol das metas e atribuições que a SEDUC depositava.

42 Para uma melhor abordagem desta temática ver LEITÃO ( 2005).

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Ao longo da formulação, implantação e implementação da política de

“descentralização” na SEDUC, foi gerado um tempo de expectativas, de perplexidade e

de crise de concepções e paradigmas, como disse GADOTTI (2000). Quais são hoje as

suas perspectivas? Para tentar responder a esta questão, privilegiamos, nesta parte do

trabalho, escutar os agentes educacionais que muito de perto contribuíram para o

desenvolvimento da política, seja por acreditar nela, seja por se sentir responsável por

ela. As falas são reveladoras da subjetividade dos entrevistados no tocante à

implantação e desenvolvimento da política de descentralização via CREDE. Temos as

seguintes respostas para a pergunta 01, qual seja: Qual a sua opinião a respeito da

efetividade da política de descentralização?

Entrevistado 1. É importante fazer justiça quanto à efetividade dessa

política na gestão passada, pois houve uma forte mobilização social e

educacional, ocorrendo, inclusive, integração entre as escolas

estaduais e municipais;

Entrevistado 2. Acho que foi importante, pois contribuiu para a

expansão da rede de ensino pública.

Entrevistado 3. Creio que tudo acompanhou a tendência em nível

federal e internacional, pois nós sabemos que a década de 1990 foi

marcadamente a década da educação, a própria UNESCO

desencadeou uma série de reuniões internacionais com o propósito de

conscientizar os governos da América Latina para a necessidade de

investimento em serviços educacionais.

Assim, é perceptível a avaliação positiva que os entrevistados fazem da

descentralização, enfatizando que essa assegurou maior capacidade de participação da

comunidade escolar como um todo. Apesar de que nem todos pensam dessa forma:

Entrevistado 4. Em parte, sim. Algumas ações ainda se encontram

vinculadas à SEDUC/SEDE. Inviabilizando a efetividade dessa

descentralização. Por exemplo: Planejamento, recursos financeiros,

lotação.

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É possível afirmar, com base em CASASSUS (1990), que as reformas

educacionais da década final do século XX trouxeram substanciais transformações para

o ambiente escolar, principalmente por meio do aumento da oferta, ou seja, o acesso se

tornou quase que universal. Para muitos, isso está diretamente relacionado à

descentralização do ensino, no Ceará, que foi um dos primeiros estados brasileiros a

adotar a reforma, verifica-se esta realidade, porém esse crescimento quantitativo das

oportunidades de acesso à escola pública, ao democratizar o acesso, não conseguiu

ainda democratizar a qualidade, vez que a problemática fundamental da escola pública

hoje é a questão precária da qualidade do ensino ministrado: a escassez é quase

generalizada e os baixos salários dos professores inviabilizam qualquer tentativa de

mudança, por isso, a escola pública cearense ainda permanece com os cânceres da

repetência, da evasão enfim, do fracasso escolar.

Lembramos que o nosso referencial teórico fundamenta-se em MOSCOVICI

(1989), em que o conceito de representação social, entende que este não é “(...) uma

cópia nem um reflexo, uma imagem fotográfica da realidade: é uma tradução, uma

versão desta. Ela está em transformação como o objeto que tenta elaborar. É dinâmica,

móvel (...)”. (ARRUDA, 2002). Ora, se assim pensamos, isso significa dizer que não

vamos “julgar” tal ou qual depoimento, verificando o nível de veracidade, ou não.

Queremos apenas “ver” a política pelo “olho”, também, de quem a vivenciou.

Trazemos, além disso, outro elemento de análise especialmente importante para o nosso

trabalho, qual seja as idéias de CASASSUS (1990) e ARRETCHE (1999) no que toca

especificamente à problemática da política, centro de nossa pesquisa.

Assim, quando fizemos a pergunta: Qual a sua opinião a respeito da efetividade

da política de descentralização? Os entrevistados nos deram as seguintes respostas:

Entrevistado 1. Não acompanhei a política de descentralização, haja

vista que ingressei na Rede Pública Estadual somente a partir de 2000.

Entrevistado 2. Reconhecemos que a partir de então ocorreu maior

integração entre as escolas estaduais e os municípios, as ações

desenvolvidas ganharam maior transparência e as escolas mais

autonomia.

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Entrevistado 3. Melhorou, pois a escola passou a ter maior identidade

com a comunidade, tornando-a mais aberta ao diálogo.

Entrevistado 4. Em parte, sim. Algumas ações ainda se encontram

vinculadas à SEDUC/SEDE. Inviabilizando a efetividade dessa

descentralização. Por exemplo: Planejamento, recursos financeiros,

lotação.

Para a maioria dos entrevistados, houve uma considerável melhora e eles

reputam à escola como tendo melhorado a partir do processo. O entrevistado 2 faz uma

ligação da descentralização com a realidade municipal, como vemos:

Entrevistado 2. Reconhecemos que, a partir de então, ocorreu maior

integração entre as escolas estaduais e os municípios, as ações

desenvolvidas ganharam maior transparência e as escolas mais

autonomia.

De fato, ressaltamos a seguinte fala porque vai ao encontro da concepção de

Casassus sobre a questão da desconcentração de poder. Na verdade, há um visível

deslocamento de poder do centro para a periferia, entendendo, é claro, que a periferia

em nosso caso é a instância de execução dessa política: no caso, município e escola.

Quanto à pergunta dois, a grande maioria dos entrevistados acabou por não

respondê-la. No entanto, o entrevistado nº. 05 foi bastante contundente nas suas

colocações:

Entrevistado 5. Colaborador, consciente da missão cumprida no

âmbito regional, desempenhando o papel, contribuindo efetivamente:

1)Formulação dos planos estratégicos, destacando as políticas

orientadoras de todos os trabalhos e as ações voltadas para o

fortalecimento da modernização da gestão em nível regional;

2)Incentivando e apoiando as programações estaduais para que a

região produza, divulgue, participe de curso, encontros, seminários,

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simpósios, fóruns, enfim, eventos locais, municipais, regionais e

estaduais;

3)Assumindo a implantação regional da nova estrutura organizacional

da Secretaria, sintonizada com a atenção em rede, articulação da

política educacional, integração de acordo com as metas estabelecidas

– toda orientação pautada nas diretrizes estaduais;

4)Fortalecendo a organização municipal, notadamente no que diz

respeito à rede de ensino municipal com qualidade.

Ao analisarmos a fala do entrevistado acima, tendemos a concordar com ele,

pois percebemos que este foi um ator bastante inserido no contexto da política. Claro

que a fala denota uma espécie de nostalgia profunda do passado. Reconhecemos este

não tão distante, mas também não podemos deixar de contextualizar os imperativos da

política. É fato que, no auge da chamada “descentralização”, o poder concentrava-se nas

mãos dos diretores de CREDE que nunca antes tinham assumido o papel de liderança

local. Mais uma vez, remetemos-nos aos estudos de CASASSUS.

Pedimos aos entrevistados para que tentassem analisar “com certo

distanciamento” a política de descentralização. Eles responderam da seguinte forma:

Entrevistado 1. De 1998 aos dias atuais, podemos afirmar que o

Governo do Estado vem tentando implantar uma política de

descentralização em nível de CREDE.

Entrevistado 2. Como uma necessidade da nova Política

Educacional. Apesar de grandes avanços neste sentido, ainda

observamos certas imposições e restrições por parte destas, o que

dificulta o processo de autonomia das unidades escolares.

Entrevistado 3. Favorecendo e oportunizando maiores condições

aos Orientadores para desenvolverem atividades coletivas que

atendam as prioridades das escolas e peculiaridades da região.

Entrevistado 4. Não havia descentralização

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Por meio dessa interpelação, percebemos que apenas o entrevistado 4 admitia

não ter havido “descentralização”. Os demais foram contundentes em legitimar a

política, reconhecendo a sua importância e o seu valor. Quanto à pergunta sobre a

atuação dos CREDE se alguma coisa mudou? O que mudou contribuiu para melhorar o

processo de descentralização?

Entrevistado 1. A organização administrativa (interna) por setores

como: Setor Pedagógico, Gestão, Administrativo, etc. faz com que os

“problemas” sejam melhor encaminhados e, se possível,

solucionados com maior rapidez.

Entrevistado 2. Sim. À medida que o CREDE adquiriu maior

autonomia, estabeleceu um relacionamento mais harmonioso para

com as escolas.

Entrevistado 3. Sim. O CREDE tornou-se uma instituição com mais

autonomia para definir e realizar suas metas de acordo com as

necessidades constadas.

Entrevistado 4. A mudança ocorreu, pois foram criadas as equipes

de acompanhamento local em nível de monitoria e pedagógico.

Entrevistado 5. Talvez só uma pesquisa revele a diferença entre as

duas estruturas organizacionais.

Para corroborar com a análise que estamos privilegiando, percebemos que a

maioria dos entrevistados concorda que houve profundas mudanças. Nesse caso, não

queremos negar as mudanças que os entrevistados enumeram. Entretanto, advertimos

apenas que todas as transformações implementadas de 1995 a 2002 foram direcionadas

para consolidar a política de descentralizar, inclusive, a gestão democrática e seus

mecanismos como Conselho Escolar e Grêmio Estudantil.

Nesse sentido, nunca é demais lembrar que o Brasil atravessou as duas últimas

décadas do século XX com um pé na mudança social, econômica, política e cultural. Se

a educação sofreu fortes pressões exteriores isso se faz notar aqui no Ceará, por isso, os

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entrevistados admitem profundas mudanças no espaço público da educação cearense,

onde se deu de forma desconcentrada.

Quando enveredamos no campo da representação social, sabíamos que não seria

coisa de fácil consecução, em virtude de termos clareza no que diz respeito

essencialmente ao conhecimento prático, a forma como as pessoas no seu mundo

imediato enxergam a realidade que as cerca. Daí que fica difícil para as mesmas

saberem até onde é o senso comum que as faz enxergar as coisas dessa ou daquela

forma ou se de fato elas assim ocorreram. Dizemos isso porque as nossas entrevistas são

reveladoras do que acima escrevemos.

Continuando em nossas perguntas, interpelamos os entrevistados acerca dos

momentos mais significativos de sua participação nessa política. Achamos a pergunta

muito reveladora, posto que neste momento fosse possível perceber o quanto as pessoas

entrevistadas estavam envolvidas emocionalmente com a execução desta política. De

repente, muitas delas deixaram escapar um ou outro desabafo, que não nos cabe aqui

relatar. Porém ficou patente o quanto se materializou uma espécie de “doação pessoal”.

Gostaríamos de deixar isso registrado porque, muitas vezes, a política é “desumana”

quando se instaura e acaba por sofrer interrupções:

Entrevistado 1. Na referida política de descentralização, para mim,

um dos momentos mais significativos foi, sem dúvida, o concurso e a

eleição para diretores das escolas públicas estaduais.

Entrevistado 2. Nas parcerias estabelecidas entre Estado e

Município: na realização de cursos de formação continuada: em

alguns momentos de tomada de decisões, etc.

Entrevistado 3. Na elaboração do PDE, na definição de objetivos,

metas e estratégias no desenvolvimento dos programas e projetos do

CREDE.

Entrevistado 4. No próprio trabalho técnico de assessoramento à

escola.

Entrevistado 5. Momentos mais significativos:

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� Implantação de políticas, programas e projetos;

� Expansão das regionais;

� Estrutura organizacional das regiões;

� Formação dos núcleos gestores, professores, organismos

colegiados;

� Congresso Escola do Novo Milênio;

� Intercâmbio de conhecimentos e de experiências;

� Articulação com entidades simulares;

� Avaliação institucional;

� Avaliação de aprendizagem, etc.

É notório o quanto os entrevistados remetem a maioria das políticas para a

ambiência escolar. Nunca se falou tanto em escola quanto no período o qual estamos

analisando. Também revelamos que este não é o nosso objeto de estudo. Entretanto,

assinalamos que a fala dos entrevistados remete para a questão da autonomia escolar43 o

que entendemos, pois, por autonomia escolar? Existe autonomia em se tratando de

política educacional? Os municípios exerceram a sua autonomia? É, talvez fosse caso de

uma outra pesquisa, quem sabe em outro momento? Contudo, poderemos arriscar

algumas constatações? Sim, pode ser! A primeira delas é que, como a descentralização

do ensino fundamental foi um tanto quanto abrupta, não restou muito tempo para o

município pensar sobre os impactos e conseqüências dessa política.

Como a descentralização do ensino veio acompanhada do FUNDEF, é possível

que muitos municípios não tenham dado conta da real dimensão do problema na ânsia

de receber recursos financeiros. O mecanismo da participação social vinculou-se à idéia

de ampliar a participação política no que se refere às questões de descentralização e

desconcentração de poder. Isso se torna tanto mais visível quando perguntamos sobre as

críticas possíveis à política. Esta é a pergunta: Quais as suas maiores críticas a essa

política? Eis as respostas:

Entrevistado 1. Acredito que a burocracia ainda “emperra” muito o

desenrolar do processo.

43 Para um maior aprofundamento desta temática ver a Dissertação de Jesuíno, 2005.

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Entrevistado 2. Recursos insignificantes e atraso considerável no

repasse destes; entraves burocráticos; as restrições das leis

administrativas que interferem negativamente para a autonomia

escolar.

Entrevistado 3. Atraso no repasse financeiro, carência de pessoal

qualificado, falta maior conscientização dos gestores e técnicos,

entraves por parte da SEDUC.

Entrevistado 4. Não há continuidade nas ações, daí não se ter

sustentabilidade. Há muitos projetos e programas enxertados nas

escolas.

Entrevistado 5. Maiores críticas:

� Descompasso no financeiro entre a necessidade da escola e o

tempo da liberação do recurso;

� Inexistência de adoção de mecanismos de avaliação, premiação

aos CREDE;

� Dependência financeira dos CREDE à SEDUC, para não

transformação destes em unidades orçamentárias;

� Orçamento da SEDUC incompatível com as necessidades das

regiões

Não há nenhuma novidade nas respostas dadas pelos entrevistados. Claro que é

neste momento que há o desvelamento do objeto de estudo. A discussão sobre o

desenvolvimento da política de descentralização no âmbito da SEDUC nos leva a

indagar algumas questões: primeiro se realmente houve participação. As pessoas

tiveram liberdade de escolha para decidir que tipo de política melhor convinha a nossa

realidade? Segundo, caso tenha havido essa autonomia em que projeto social ela foi

construída?

Talvez essas perguntas fiquem sem respostas ao longo deste quarto capítulo,

quem sabe nem ao menos suspeitemos das invariáveis respostas, porém, algo temos a

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dizer, e, para isso, chamamos ROUSSEAU (1962), segundo o qual o princípio da

igualdade está na liberdade e, por sua vez, na autonomia do ser, entendida como a

capacidade de uma coletividade realizar leis e aplicá-las a si própria, gerando uma

sintonia entre quem faz e quem dita as regras. E então quem fez as regras da

descentralização do estado do Ceará? Os prefeitos? Os professores? Os alunos? Os pais?

Decerto todos eles tiveram assento na discussão, pois o processo de descentralização

atribui aos governos, municípios, cuidados especiais para a educação, principalmente

voltada para a participação popular, na qual ocorre uma maior proximidade na ação

decisória e no exercício do controle social.

Contudo, ARRETCHE (1997) adverte para a importância da diferenciação entre

descentralização e desconcentração. Na primeira, há transferência de poder do âmbito

federal para as outras esferas de governo. Na segunda, há apenas deslocamento de

responsabilidades administrativas para níveis hierárquicos inferiores de uma

organização. Ocorre, assim, dispersão físico-territorial de instituições inicialmente

localizadas de forma concentrada, com autorização para executar somente determinadas

tarefas, mas persiste a subordinação política ao plano central e, por conclusão, falta de

autonomia.

Nessa lógica, poderia haver participação popular e implementação de

determinadas medidas de caráter administrativo por agências ou entes federativos

estaduais e municipais em um sistema que funcionasse de forma desconcentrada, mas

sem independência política para estabelecer ou alterar metas e estratégias, e, sobretudo

para dispor livremente dos recursos financeiros.

Enquanto na desconcentração há apenas deslocamento de algumas

responsabilidades para níveis inferiores de um mesmo órgão governamental e dispersão

em termos de estrutura física, mas com continuidade da submissão a regras centrais, a

característica fundamental da descentralização é o deslocamento de competências e

poder decisório para outros níveis governamentais.

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4.2.1 Avaliando a prática: o que mudou com a descentralização administrativa?

Até aqui temos buscado entender o processo de implantação e desenvolvimento

da política de descentralização no estado do Ceará, mais notadamente, na área da

educação. Ocorreu-nos, contudo, que poderíamos tentar mergulhar um pouco no olhar

avaliativo da política, buscando encontrar as reais mudanças. Daí que trazemos para

iluminar a reflexão, no final deste trabalho empírico, as revelações do nosso

entrevistado 5 ao indagarmos se algo havia mudado com a política de descentralização

do Estado, assim expressou:

Em princípio, eu creio que mudou e para melhor, até porque vivemos

um novo tempo, e as exigências são maiores na busca de

transformação, referindo-se às discussões, estudos, práticas e ensino

nas áreas de política.

Para ilustrar, veja alguns exemplos que sinalizam visivelmente as

mudanças:

� O processo de seleção para os orientadores de CREDE;

� A eleição dos diretores das escolas;

� O núcleo gestor das unidades compatível com a tipificação;

� O planejamento da rede escolar pública;

� O sistema de acompanhamento, da gestão;

� O regime de colaboração com os municípios;

� A estrutura organizacional SEDUC/SEDE, SEDUC/CREDE;

� O sistema de avaliação institucional, formação e outros.

Podemos ou não concordar com esse entrevistado, mas temos de reconhecer que

o processo de descentralização administrativa da SEDUC, no período de 1995 a 2002,

ocorreu no bojo das reformas governamentais, implementadas pelo governo do Partido

Social Democrático Brasileiro - PSDB desde 1987, com atenções voltadas para o

enxugamento da máquina administrativa e reorganização do modelo de gestão onde as

Secretarias e Órgãos vinculados passaram por sérias mudanças.

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Uma tônica que pautou a lógica das reformas foi a modernização administrativa,

considerada importante para colocar um dos Estados mais carentes da região Nordeste,

em condições de competitividade com as demais cidades da região e do País. Para sair

do atraso e colocar o Estado em condições de disputa política e comercial de mercado,

foi necessária muita determinação e visão empresarial dos gestores da época.

No sentido de modernizar a gestão educacional, uma das primeiras atitudes

adotadas pelo governo, a partir de 1995, foi repensar o papel dos Órgãos Regionais de

Educação, revisando a função das antigas DERE para um novo paradigma de gestão

administrativa. Para fortalecer o trabalho da gestão escolar, agilizar os procedimentos

administrativos, assegurar a articulação entre as redes públicas de ensino, estabelecer as

parcerias entre o governo e a sociedade civil, foram implantados os CREDE, em

substituição às antigas DERE, que funcionavam mais como instâncias burocráticas, com

ações delegadas do centro (SEDUC) para a base (município/escola).

Outro componente julgado importante, neste cenário de mudanças, foi o

processo de descentralização/desconcentração das ações setoriais, com o intuito de

agilizar respostas às demandas econômicas e sociais, colocar o governo mais próximo

da sociedade e priorizar o desenvolvimento local e regional. Nessa perspectiva, o setor

educacional, considerado como um dos mais complexos, em termos de tamanho,

abrangência geográfica e importância para a política de modernização do Estado, sofreu

intervenções e processos de reformas governamentais consecutivas.

Nessa perspectiva, os CREDE assumem um novo papel na Região, inicialmente

de mobilização dos diversos segmentos escolares e, no decorrer do processo de sua

implantação, de liderança e gestão da reforma educacional na região. Podemos

considerar, pois, que a extinção das DERE foi uma medida acertada, pois o momento da

educação no País e no Estado exigia avanços nos procedimentos de gestão. Uma nova

legislação acabava de definir normas de autonomia, de participação e democratização

do ensino na rede pública, de mudanças no perfil gerencial dos gestores, de organização

do sistema de ensino.

Os modelos de gestão centralizados não davam mais conta desses desafios, pois

encurtar distâncias e agilizar respostas às comunidades era uma urgência. Desse modo,

os CREDE surgem com o compromisso de tornar a gestão educacional ágil e

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transparente, em contraposição aos modelos tradicionais de indicação político-partidária

dos gestores. Desta feita, a seleção pública para os cargos de gestores escolares foi

realizada por meio de provas e análise de títulos, numa primeira etapa, e as entrevistas,

por uma comissão mista, designada pelo governador, para tal fim, numa etapa posterior.

Rompia-se, assim, com um dos maiores obstáculos de ocupação de cargos no governo

do Estado. Dessa vez, era dada oportunidade a uma avaliação de competência técnica,

superando o velho caminho das indicações meramente políticas.

Com o trabalho e investimento da SEDUC no processo de formação continuada

e em serviço, e na estrutura funcional desses Órgãos, houve uma visível melhora nos

procedimentos de gestão e organização do sistema escolar/educacional. Em que pesem

os aspectos positivos, algumas questões merecem uma outra reflexão mais abrangente e

contextualizada das políticas sociais.

Mesmo sinalizando mudanças significativas, não podemos deixar de reconhecer

que os CREDE foram instituídos num cenário de fortes intervenções dos organismos

internacionais, especialmente do Banco Mundial, agência financeira que coordenou

todo o processo de reforma da educação básica na América Latina.

O tempo destinado a essas reformas teve início nos meados de 1980, com

amplas repercussões no Brasil, na década de 1990, especificamente na gestão do

presidente Fernando Henrique Cardoso, na qual aconteceram as maiores articulações e

parcerias com esse Banco e o Fundo Monetário Internacional. Nesse contexto, a

educação cearense foi gradativamente colada a um projeto de mudanças voltado para o

mercado, para o empreendedorismo, bem na lógica do encurtamento do Estado.

Num curto espaço de tempo, os CREDE passaram por uma longa travessia e

processo de desconcentração administrativa, assumindo responsabilidades de todas as

áreas da SEDUC. Por outro lado, as instâncias de planejamento e de definição das

políticas educacionais permaneceram com suas ações centralizadas e articuladas apenas

em estratégias de mobilização e transferências de responsabilidades administrativas para

os Órgãos Regionais, Secretarias Municipais e Unidades Escolares. Não houve tempo e

nem contexto político suficientes para discutir e estruturar a política de descentralização

propriamente dita. Esta iniciativa exigirá dos gestores públicos uma mudança de rumo

na condução das políticas públicas, uma definição mais precisa sobre o verdadeiro papel

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do Estado, continuidade e sustentabilidade de políticas que a sociedade já legitimou

como corretas.

Assim, as reformas educacionais em curso nas décadas finais do século XX , ao

que tudo indica, têm aprofundado os processos de descentralização/desconcentração do

poder, sem resolver os problemas e os paradoxos profundos contidos em sua própria

operacionalização.

Nesse sentido, a descentralização/desconcentração de ações para as escolas,

municípios e órgãos regionais também aconteceu dentro de um cenário político

institucional de reformas e mudanças verticais. O processo exigia velocidade nas

transferências de atividades e de novas responsabilidades para os diversos parceiros

envolvidos. A SEDUC efetivamente fez profundos ajustes no seu modelo gerencial, no

sentido de fortalecer a descentralização administrativa e o processo de autonomia e

democratização das escolas estaduais.

Mas romper com as dificuldades iniciais não foi tarefa fácil. Após um longo

período de centralização político-administrativo, o movimento de descentralização e

desconcentração do poder no Brasil, e em especial no Ceará, assume características

relevantes no processo de redemocratização do país. O setor Educação foi quem mais

avançou. De certo, a relação tradicional entre governados e governantes fundou todo o

processo de “descentralização”, o qual permite que o modelo de poder local seja

gradualmente implementado no que concerne às atribuições e competências que hoje

são delegadas ao Estado, em particular aos governadores e, espera-se, venham ser

exercidas pelos órgãos do poder local, no caso, os municípios.

Assim, o que vemos é apenas uma desconcentração de poder em que os

recursos financeiros e humanos são insuficientes para assegurar uma independência

regional e de proteção da autonomia local, pois uma desconcentração administrativa

deve operacionalizar órgão administrativo local, no sentido de possibilitar o controle

político e a responsabilidade política de órgãos executivos perante aos órgãos

deliberativos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na luta. Mas, a graça das graças é não desistir. (Dom Helder Câmara).

Imaginamos ser de bom tom iniciar as considerações finais desta empreitada

com uma reflexão de Dom Hélder Câmara por dois motivos centrais: o primeiro porque

nos é exemplo diário de existência ética e cristã, e o segundo porque é considerado um

dos profetas do século XX, por seus ensinamentos transmitirem fortes apelos de

mudança social expressos em suas atitudes e lutas por um ideal de justiça e esperança de

vida melhor para todos os brasileiros. Sua trajetória marcou a história ao reforçar a força

do diálogo como princípio, a formação da consciência crítica como instrumento de

emancipação, a educação popular e a ação cultural como estratégias de intervenção

social. Fez nascer uma chama de esperança em suas peregrinações pelos cinco

continentes do mundo, falando e defendendo os valores dos homens.

Inspiramo-nos nessas idéias, buscando realizar um trabalho de investigação que

não se limitasse a “dizer o já dito”, pois acreditamos que:

A experiência, em síntese, nasce da reflexão sobre a prática concreta. Se

não criarmos condições concretas para que o professor mergulhe nas

experiências das reformas educacionais, passarão vários anos, e, ao final,

constataremos que as mudanças não criaram raízes. Poderão ser eficazes,

mas, dificilmente, serão efetivas. (JOHN DEWEY, 1938).

De posse dessa compreensão, podemos, pois, afirmar que as reformas

educacionais da década de 1990 deram-se no contorno “mudancista” global das últimas

décadas do século passado e nas conseqüentes reformas ocorridas na gestão das

políticas públicas. Foi considerando essas mudanças que realizamos este estudo. Os

resultados obtidos não assumem conotações definitivas, pois procuramos ressaltar fatos

ocorridos no processo de descentralização da política de gestão educacional no período

1995/2002, quando o governo federal reuniu condições institucionais para formular e

implementar programas de transferência de atribuições para os governos locais.

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Mediante a sistematização, a análise dos fatos coletados e as constatações

verificadas neste trabalho, esperamos adotar, quanto a sua disseminação, os seguintes

procedimentos: primeiro, disponibilizá-lo à SEDUC como subsídio para análise e

monitoramento da política de descentralização administrativa; segundo, utilizá-lo como

referência cotidiana em nossa prática profissional e institucional, procurando aproximar

o caráter científico da investigação à realidade da comunidade escolar, ao desempenho

da gestão educacional na rede pública estadual, com fins de nortear outros caminhos e

possibilidades.

Nesse sentido, aventamos algumas conclusões do presente trabalho, utilizando

os apontamentos de DRAIBE (1999) para resituar as principais ações implementadas no

cenário das reformas educacionais do período em estudo. No rol de medidas da política

de descentralização, concordamos com a autora que a redistribuição de recursos;

descentralização na execução dos gastos com reforço progressivo em sua redistribuição;

descentralização; desconcentração dos recursos e funções; participações dos pais;

parcerias com a sociedade civil; modernização dos conteúdos; diversificação das

carreiras; criação de sistemas nacionais de capacitação docente e a criação de um

sistema nacional integrado de avaliação educacional foram recomendações amplamente

acatadas pelos órgãos gerenciadores das políticas de educação.

O Ceará não fez diferente sua tarefa de reformas estruturais. Daí que a

desconcentração de poder implantada através da criação dos CREDE interessou

plenamente ao processo instaurado com o neoliberalismo que, de acordo com qual, o

Estado teve o seu aparato administrativo consideravelmente diminuído. Sob a égide do

neoliberalismo, o discurso progressista tomou significados diferentes do que

etimológica e epistemologicamente sugerem. Algumas expressões incorporaram-se à

realidade social, justificando que as mudanças propostas estão sempre voltadas para a

transformação social, melhoria da qualidade de vida, uma educação para cidadania,

gestão democrática e participação da comunidade.

Em que se pese à tendência mundial em torno da política pública de educação

voltada para a descentralização, autonomia, autogestão, delegação de poderes e

“empoderamento”, o discurso oficial reforçou mudanças em relação à gestão

educacional, à melhoria da capacidade institucional nos níveis: nacional, regional, local,

com o propósito de se chegar à qualidade do ensino com equidade.

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Os entrevistados apontam uma avaliação positiva quanto à criação dos CREDE

como instância de apoio e articulação entre a escola e a SEDUC pelas inovações e

projetos implementados, com maior visibilidade na eleição de diretores, pelo

rompimento com o “velho modelo” de indicação política aos cargos de direção. Há um

reconhecimento da comunidade escolar ao ressaltar que a política ofereceu oportunidade

de exercer plenamente sua cidadania.

Outro aspecto que nos chamou a atenção foi a diversidade de projetos e ações

desempenhados pelos CREDE, que possibilitaram uma aproximação das duas redes de

ensino público, através das parcerias estabelecidas, decorrentes do regime de

colaboração traçado entre o Estado e municípios. Nesse sentido, o papel dos órgãos

regionais foi decisivo, pois, de acordo com seu perfil e condições estruturais, buscou

minimizar as distâncias entre as redes de ensino, melhorando sua capacidade de resposta

às demandas locais.

Entendemos hoje a ênfase dada à gestão nas reformas administrativas do setor

público, vez que os desafios do ensino, além de crônicos e estruturais, requerem um

tempo e investimentos de naturezas diversas para interferir na qualidade do ensino.

Quebrar a cultura centralizadora foi um grande desafio no sentido de promover uma

escola flexível, autônoma e democrática. Hoje, mesmo as escolas tendo absorvido um

aumento considerável no volume de trabalho, sabem que, de um jeito ou de outro, há

uma pressão dos pais e da sociedade por melhorias na qualidade do ensino, barreira de

difícil transposição em virtude dos desequilíbrios sociais das famílias demandantes da

rede pública.

Quanto ao processo de transição da DERE para o CREDE, verificamos uma

ruptura de forma positiva, sobretudo nos modelos administrativos favorecidos pelas

ações de descentralização/desconcentração e fortalecimento da autonomia no âmbito

regional/escolar. Entretanto, esse movimento não ocorreu na SEDUC de maneira

uniforme, tendo em vista que algumas Coordenadorias assumiram uma postura de

resistência à descentralização/desconcentração. Em se tratando da mesma experiência

vivenciada em nível de CREDE, percebemos duas situações distintas: de um lado, a

efetividade da política com alcance das metas estabelecidas no programa de

descentralização, como a articulação regional e a mobilização da comunidade escolar,

em que a participação e a democratização da gestão educacional é a sua face mais

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visível; e de outro, uma fragilidade na execução das propostas marcada por sucessivas

crises de autoridade com, inclusive, destituição de diretor, no CREDE 9. 44.

Enfatizamos que todo processo de desconcentração do poder de decisão corre o

risco de gerar instâncias de reconcentração desse mesmo poder, mesmo no nível dos

CREDE/escolas. A atuação dos grupos corporativos ou minoritários e a manipulação

político-partidária não devem ser subestimadas. Os interesses minoritários sempre

encontram forma de se recompor, quando o lócus de decisão se desloca do nível central

para as instâncias intermediárias ou para as unidades que prestam diretamente o serviço

educativo.

Cabe ao nível estratégico central de formulação e condução das políticas

educativas estabelecerem critérios e criar mecanismos de controle que dificultem a

reconcentração do poder de decisão, promovendo uma permanente atualização de

informações que indiquem se tal reconcentração está ocorrendo, além de implantar a já

mencionada avaliação de resultados. Só assim, a autonomia das diversas instâncias

administrativas torna-se uma estratégia de aperfeiçoamento da qualidade. Nesse sentido,

espera-se uma tensão aceitável, mas permanente, entre os objetivos da descentralização

e a atuação dos organismos centralizados do sistema educativo, que devem atuar no

sentido da integração.

Uma outra reflexão que trazemos refere-se às formas de organização político-

institucionais adequadas ao equilíbrio entre descentralização e integração. O modelo de

organização do Estado, as relações que historicamente se consolidaram entre as

instâncias de governo nacional, estadual e municipal, as estratégias de regionalização

com políticas pactuadas e repartição de funções são temas envolvidos na organização

institucional. Todavia, não há soluções uniformes, o que se pode estabelecer como

objetivo comum é maior autonomia do local seja no CREDE, município ou escola, com

integração mais orgânica ao meio social, maior agilidade e, sobretudo, continuidade

para fazer com que os recursos materiais, técnicos e humanos cheguem aos maiores

interessados: a comunidade escolar.

Assim, percebe-se que por todo o período de 1995-2002 houve uma clara

tendência de “desconcentrar o poder” alojado no “coração engessado” da SEDUC. Para

44 Esse CREDE teve durante o processo dois diretores.

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isso, foi necessário todo um aparato no sentido de “descentralizar”, conforme pensa a

instância central, para fortalecer os organismos, tendo como base esse programa e como

foco, o município. De acordo com a política, transferiam-se ações para os CREDE e

estes se articulavam politicamente com a esfera local municipal. Constatamos, nesse

tipo de política, uma desconcentração de poder por meio de ações como: construção de

um calendário escolar em todos os CREDE; construção do Projeto Político Pedagógico

pela escola; bem como a licitação e aquisição de pequenas e médias obras em escolas e

no CREDE.

Hoje, constatamos que está havendo um movimento inverso ao adotado desde

1995. O discurso oficial informa que tudo isso é devido ao cenário econômico de

escassez de recursos financeiros e como forma de economizar os recursos públicos. A

verdade é que essa ordem inversa leva a uma retomada da centralização de muitas

ações, sobretudo no que se refere à questão da tomada de decisão por meio do

autoritarismo, da falta de diálogo. Sem contar com a não transparência na aquisição de

equipamentos, manutenção e de obras que concorrem para a diminuição dos espaços de

participação e de decisão por parte dos diretores dos CREDE. A própria mudança da

nomenclatura do nome de diretor para orientador já traz implícito o poder de decisão, de

participação e até de autonomia. A fusão dos três CREDE em Fortaleza é o momento da

retomada da re-centralização como forma de contenção de gastos e de despesa.

É necessário dizer que esse movimento de re-centralização fere o princípio de

autonomia e de partilha de poder com a comunidade escolar, incluindo, aí, todas as

conquistas anteriormente feitas, como a democratização e a participação. Não podemos

deixar de concordar que é necessário que o Estado tenha o controle e o

acompanhamento de suas políticas. Mas a questão aqui é de que forma fazer o controle

e o acompanhamento. A idéia não é negar o processo, e sim, aperfeiçoá-lo, pois, no

âmbito das políticas públicas, processam-se relações complexas existentes entre a

sociedade civil e o poder público constituído. Se quisermos mudanças reais, só através

da participação, da democratização é que as obteremos.

Além do mais, sabemos que re-centralizar significa re-concentrar poder. Assim,

não pensamos que a melhor forma de monitorar a política seja reconcentrando poder, e

sim, mantendo o diálogo. Nesse sentido, os CREDE não podem figurar como meras

instâncias administrativas, responsáveis apenas por processos de caráter burocrático,

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cumpridor de ordens emanadas de cima e sem a sua participação. Se tínhamos um

caminho pautado minimamente na desconcentração de poder, nem isso hoje temos.

Enfim, o que temos? Esta pergunta só poderá ser melhor respondida com uma nova

pesquisa, o que não é o caso aqui. Entretanto, deixamos esta reflexão: só é possível

fazer democracia com democracia, e os CREDE só podem instituir uma gestão

democrática se forem portadores de autonomia, mesmo correndo riscos, afinal, educar é

correr riscos, é saltar rumo ao diferente, é assegurar sustentabilidade dialógica ao

processo o qual democratiza a gestão escolar.

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______. Edital nº. 04/96. Processo de Seleção dos Diretores dos Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação. Fortaleza, SEDUC, 1996, mimeo.

_______. Estrutura Organizacional. SEDUC. Maio, 1997, mimeo.

______. Lei nº. 12452, de 06/06/95 – dispõe sobre o processo de municipalização do ensino no Ceará. Governo do Estado, 1995.

_______. Mensagem da Educação Básica do Estado do Ceará. Fortaleza: SEDUC, 2001.

______. Organismos Regionais de Educação. Proposta para Redirecionamento e Redimensionamento. (Versão 2). Fortaleza, SEDUC, Novembro, 1995, mimeo.

______. Plano de Desenvolvimento Sustentável: Avançando nas Mudanças. Governo Tasso Ribeiro Jereissati. Fortaleza: SEPLAN, 1995 a 1998.

_____. Plano de Desenvolvimento Regional do Maciço de Baturité. 2003.

_______. Programa de Governo. Coordenação da Campanha Tasso Jereissati. Fortaleza: SEDUC, maio, 1998.

______. Programa de Cooperação Estado/Município. Fortaleza: SEDUC, 1991-a, mimeo.

_____. Plano Decenal de Educação para Todos 1993-2003: Fortaleza: SEDUC,1994.

______. Plano de Desenvolvimento Sustentável: Consolidando o Novo Ceará. Governo Tasso Ribeiro Jereissati. Fortaleza: SEPLAN, 1999-2002.

______. Plano Estratégico de Capacitação da População Cearense, 1999-2003. Fortaleza: SEDUC, 1998.

______. Plano de Educação Básica: escola melhor, vida melhor: 2003-2006. Fortaleza: SEDUC, 2004.

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_______. Quatro anos de atividade. Fortaleza: SEDUC, 1998.

______. Registro de avaliação participativa da política educacional do Ceará: TODOS PELA EDUCAÇÃO, 1995-1999. Relatório elaborado pelo Centro de Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC. São Paulo, 2001.

______. Secretaria da Educação Básica (SEDUC). Centro Regional de desenvolvimento da Educação. Fortaleza, 1995 - 1996, mimeo.

______. Secretaria da Educação Básica (SEDUC). Centro Regional de desenvolvimento da Educação. Esboço de Regimento. Fortaleza, 1997, mimeo.

_______. Secretaria da Educação Básica (SEDUC). A Universalização do Ensino Público. Coordenadoria de Planejamento e Política Educacional, 1996 - 2002, mimeo.

_______. Todos pela Educação de Qualidade para Todos. Governo Tasso Ribeiro Jereissati. Fortaleza: SEDUC, 1995 a 1998.

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ANEXOS

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MÓDULO I DAS DERE

Decreto Nº 18.838, de 28/11/1987

MÓDULO MUNICÍPIO SEÇÃO/DIVISÃO UNIDADE/SERVIÇO SEÇÃO SETOR I Fortaleza

. Seção Regional de Informação e Estatística

. Divisão de Educação . Unidade de Educação Básica . Seção de Educação Pré-Escolar . Seção de Ensino 1º Grau . Seção de Educação Especial

. Serviço de Ensino de 2º Grau

. Serviço de Educação de Adultos

. Setor de Cursos . Setor de Exames Supletivos

. Divisão de Assistência ao Estudante e à Escola

. Setor de Ações Integradas de Saúde Escolar . Setor de Apoio ao Estudante . Setor de Material de Ensino-Aprendizagem . Setor de Supervisão de Distribuição de Alimentos . Setor de Inspeção Escolar

. Divisão de Administração

. Seção de Pessoal . Setor de Cadastro . Setor de direitos e Deveres . Setor de Freqüência

.Setor de Comunicação Administrativa. . Setor de Material e Patrimônio

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MÓDULO II DAS DERE

Decreto Nº 18.838, de 28/11/1987

MÓDULO MUNICÍPIOS SETOR/ DIVISÃO

UNIDADE/SERVIÇO SEÇÃO SETOR SUBSETOR

II CRATO, IGUATU, JUAZEIRO DO NORTE, QUIXADÁ, RUSSAS, SOBRAL, ITAPIPOCA E ICÓ

. Subsetor Regional de Informações e Estatística

. Serviço de Educação . Seção da

Educação Básica

. Seção de Ensino de 2º Grau

. Seção de Educação de Jovens e Adultos

. Serviço de Assistência ao Estudante e à Escola

. Setor de Inspeção Escolar . Setor de Supervisão de Distribuição de Alimentos

. Setor de Administração

. Subsetor de Material e Patrimônio . Subsetor Financeiro . Subsetor de Atividades auxiliares Subsetor de Pessoal

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MÓDULO III DAS DERE Decreto Nº 18.838, de 28/11/1987

MÓDULO MUNICÍPIOS SETOR/ DIVISÃO

UNIDADE/SERVIÇO SEÇÃO SETOR SUBSETOR

III CRATEÚS, LIMOEIRO DO NORTE, SENADOR POMPEU, TAUÁ, TIANGUÁ

. Subsetor Regional de Informações e Estatística

. Serviço de Educação . Seção da

Educação Básica

. Seção de Ensino de 2º Grau

. Seção de Educação de Jovens e Adultos

. Serviço de Assistência ao Estudante e à Escola

. Setor de Administração

. Subsetor de Administração . Subsetor de Material e Patrimônio . Subsetor Financeiro . Subsetor de Atividades auxiliares

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COMPETÊNCIAS DAS DERE E CREDE

DERE CREDE Proceder à descentralização do processo administrativo do sistema e o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem

Promover, na área de sua jurisdição, a cooperação e parceria dos segmentos da Região na busca de um ensino de melhor qualidade e ofertar uma orientação normativa e apoio técnico – pedagógico que garanta a viabilização da política educacional vigente.

Oferecer cooperação técnica e assistência financeira aos Órgãos Municipais de Educação e comandar o planejamento integrado das unidades escolares de sua jurisdição

Coordenar o processo de planejamento das ações educacionais, garantindo a execução da política educacional na Região.

Mobilizar a comunidade regional, buscando seu desenvolvimento na discussão e busca de soluções dos problemas educacionais da sua área de atuação.

Desenvolver processos educativos ou não, apropriados às necessidades e peculiaridades sócio – econômicas da região.

Promover a integração Estado/Município, visando ao estabelecimento de uma rede única de ensino público, no sentido de possibilitar a execução da Política Estadual de Educação.

Orientar as Secretarias Municipais de Educação, na elaboração, acompanhamento e avaliação dos planos, programas e projetos educacionais.

Assessorar as unidades escolares da rede pública na elaboração, acompanhamento e avaliação do seu plano de desenvolvimento e do projeto pedagógico, de acordo com a política educacional do estado.

Promover o desenvolvimento de recursos humano, visando a uma melhor qualificação do profissional de educação.

Manter na sua área jurisdicional, observadas as recomendações da SEDUC-sede, os serviços e controles relativos a pessoal, material, patrimônio, protocolo, arquivo, finanças, estatística e inspeção escolar.

Fonte: documentos mimeografados da SEDUC

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ORGANOGRAMA DAS DELEGACIAS REGIONAIS DA EDUCAÇÃO-DERE

(1974)

A Delegacia Regional de Educação, órgão de descentralização da Secretaria tem como objetivo garantir a

execução da política educacional do Governo, na área de sua jurisdição, assegurando maior rapidez e objetividade às decisões técnico-administrativas emanadas da Secretaria de Educação (SEDUC: 1974, p.5).

Delegado

Serviços Administrativos

Serviços Técnicos

Setor de Serviços Gerais

Setor Pessoal

Setor de Maternidade e

Prédio

Setor Técnico

Setor de Doc. Informações

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ORGANOGRAMA DOS CENTROS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – CREDE

(1995)

Nota: primeira proposta de reestruturação dos órgãos regionais (SEDUC: documento interno mimeografado, 1995) Compete aos Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação - CREDE, exercer em nível regional as ações de planejamento, cooperação técnica e financeira, orientação normativa, mobilização, articulação e integração institucional, tendo em vista o acesso e a melhoria da qualidade da Educação Básica (Decreto Nº 24.274/96. Art. 4º ).

Centro Regional Apoio a Escola

Divisão de Gestão Escolar

Divisão de Apoio Pedagógico

Divisão Administrativa e

Financeira

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ORGANOGRAMA DOS CENTROS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – CREDE

(1996)

ORGANOGRAMA DOS CENTROS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – CREDE

(1998 - 2002)

Articulação

e Gestão

Desenvolvimento

Técnico-

Pedagógico

Monitoramento

e Controle

Núcleo

Gestor

Coordenadoria Regional

Diretoria de Planejamento e

Políticas Públicas

Diretoria de Articulação e

Gestão Educacional

Diretoria de Desenvolvimento

Técnico Pedagógico

Chefe de Gabinete

Diretoria de Monitoramento e

Controle

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MÓDULO DOS CREDE - 1996 – 1999

Decreto nº 24.274 de 22/11/96

MÓDULO CREDEs NÚCLEO SUBDIVISÃO INTERNA

SUBDIVISÃO INTERNA

I FORTALEZA Núcleo de Ensino Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle . Gestão Administrativa

. Gestão financeira . Gestão de Recursos

Humanos . Suporte Tecnólogico

Comitê de Assessoramento

Técnico Núcleo de Informática Gerência

Administrativa II CRATO,

ITAPIPOCA, JUAZEIRO DO

NORTE, MARACANAÚ,

RUSSAS, SOBRAL

Núcleo de Ensino

Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle . Gestão Administrativa

. Gestão financeira . Gestão de Recursos

Humanos . Suporte Tecnólogico

Comitê de Assessoramento

Técnico Núcleo de Informática Gerência

Administrativa III BATURITÉ, BREJO

SANTO, CAMOCIM, CRATEÚS, ICÓ

TIANGUÁ, IGUATU, QUIXADÁ

Núcleo de Ensino

Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle . Gestão Administrativa

. Gestão financeira . Gestão de Recursos

Humanos . Suporte Tecnólogico

Núcleo de Informática

IV ACARAÚ, CANINDÉ,

HORIZONTE, JAGUARIBE,

SANADOR POMPEU, TAUÁ

Núcleo de Ensino

Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle

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MACRO DOS CREDE 2000 – 2002

Nota: A denominação de MACRO e o termo Coordenadoria nos CREDE deu-se apenas na estrutura interna de cada CREDE . O Decreto Nº 25.850 de 07/04/2000 trata-se de Assessor Técnico e Assistente Técnico.

MACRO CREDE COORDENADORIA A MARACANAÚ, ITAPIPOCA,

HORIZONTE . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico

. Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão . Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle

Assistente Técnico B ACARAÚ, CAMOCIM,

TIANGUÁ, SOBRAL . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico

. Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão . Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle

Assistente Técnico C BATURITÉ, QUIXADÁ,

SENADOR POMPEU

. Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

D RUSSAS, JAGUARIBE, IGUATU, ICÓ

. Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

E CANINDÉ, CRATÉUS, TAUÁ . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

F CRATO, JUAZEIRO DO NORTE, BREJO SANTO

. Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

G FORTALEZA . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coord. Regional de Articulação e Gestão

. Coord. Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

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ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARA OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

1. Qual a sua opinião a respeito da efetividade da política de descentralização nas DERE/CREDE, no período de 1971 aos dias atuais?

2. Como você avalia a sua participação nessa política, como diretor de DERE

e hoje, como Orientador de CREDE?

3. Como você analisa a descentralização nas DERE?

4. E hoje, nos CREDE, alguma coisa mudou? O que mudou contribuiu para melhorar o processo de descentralização?

5. Você acha que, com essa política, houve realmente descentralização ou

apenas desconcentração? Por quê?

6. Como você vê hoje o trabalho dos CREDE no sentido da descentralização

do poder?

7. Como você descreve os relacionamentos CREDE – escola e CREDE-

SEDUC?

8. Para você, o que significa “a escola como ponto de partida,” conforme

preconiza o projeto Todos pela Educação de Qualidade para Todos?

9. Diga como você se sente participando dessa visão de “escola como ponto de

partida”?

10. Descreva os momentos mais significativos de sua participação nessa política.

11. Quais as suas maiores críticas a essa política?

12. Em que situações você sentiu que suas opiniões eram, ou não, acatadas e sua experiência como pessoa e como profissional eram consideradas importantes?

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ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARA OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

2. Qual a sua opinião a respeito da efetividade da política de descentralização nas DERE/CREDE, no período de 1971 aos dias atuais?

3. Como você avalia a sua participação nessa política, como diretor de DERE

e hoje, como Orientador de CREDE?

4. Como você analisa a descentralização nas DERE?

5. E hoje, nos CREDE, alguma coisa mudou? O que mudou contribuiu para melhorar o processo de descentralização?

6. Você acha que, com essa política, houve realmente descentralização ou apenas

desconcentração? Por quê?

7. Como você vê hoje o trabalho dos CREDE no sentido da descentralização do poder?

8. Como você descreve os relacionamentos CREDE – escola e CREDE-

SEDUC?

8. Para você, o que significa “a escola como ponto de partida,” conforme

preconiza o projeto Todos pela Educação de Qualidade para Todos?

13. Diga como você se sente participando dessa visão de “escola como ponto de

partida”?

14. Descreva os momentos mais significativos de sua participação nessa política.

15. Quais as suas maiores críticas a essa política?

16. Em que situações você sentiu que suas opiniões eram, ou não, acatadas e sua experiência como pessoa e como profissional eram consideradas importantes?

Page 154: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

COMPETÊNCIAS DAS DERE E CREDE

DERE CREDE Proceder à descentralização do processo administrativo do sistema e o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem

Promover, na área de sua jurisdição, a cooperação e parceria dos segmentos da Região na busca de um ensino de melhor qualidade e ofertar uma orientação normativa e apoio técnico – pedagógico que garanta a viabilização da política educacional vigente.

Oferecer cooperação técnica e assistência financeira aos Órgãos Municipais de Educação e comandar o planejamento integrado das unidades escolares de sua jurisdição

Coordenar o processo de planejamento das ações educacionais, garantindo a execução da política educacional na Região.

Mobilizar a comunidade regional, buscando seu desenvolvimento na discussão e busca de soluções dos problemas educacionais da sua área de atuação.

Desenvolver processos educativos ou não, apropriados às necessidades e peculiaridades sócio – econômicas da região.

Promover a integração Estado/Município, visando ao estabelecimento de uma rede única de ensino público, no sentido de possibilitar a execução da Política Estadual de Educação.

Orientar as Secretarias Municipais de Educação, na elaboração, acompanhamento e avaliação dos planos, programas e projetos educacionais.

Assessorar as unidades escolares da rede pública na elaboração, acompanhamento e avaliação do seu plano de desenvolvimento e do projeto pedagógico, de acordo com a política educacional do estado.

Promover o desenvolvimento de recursos humano, visando a uma melhor qualificação do profissional de educação.

Manter na sua área jurisdicional, observadas as recomendações da SEDUC-sede, os serviços e controles relativos a pessoal, material, patrimônio, protocolo, arquivo, finanças, estatística e inspeção escolar.

Fonte: documentos mimeografados da SEDUC

Page 155: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

MÓDULO DOS CREDE - 1996 - 1999

MÓDULO CREDEs NÚCLEO SUBDIVISÃO INTERNA

SUBDIVISÃO INTERNA

I FORTALEZA Núcleo de Ensino Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle . Gestão Administrativa

. Gestão financeira . Gestão de Recursos

Humanos . Suporte Tecnólogico

Comitê de Assessoramento

Técnico Núcleo de Informática Gerência

Administrativa II CRATO,

ITAPIPOCA, JUAZEIRO DO

NORTE, MARACANAÚ,

RUSSAS, SOBRAL

Núcleo de Ensino

Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle . Gestão Administrativa

. Gestão financeira . Gestão de Recursos

Humanos . Suporte Tecnólogico

Comitê de Assessoramento

Técnico Núcleo de Informática Gerência

Administrativa III BATURITÉ, BREJO

SANTO, CAMOCIM, CRATEÚS, ICÓ

TIANGUÁ, IGUATU, QUIXADÁ

Núcleo de Ensino

Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle . Gestão Administrativa

. Gestão financeira . Gestão de Recursos

Humanos . Suporte Tecnólogico

Núcleo de Informática

IV ACARAÚ, CANINDÉ,

HORIZONTE, JAGUARIBE,

SANADOR POMPEU, TAUÁ

Núcleo de Ensino

Núcleo de Gestão Núcleo de Monitoramento e

Controle

Decreto nº 24.274 de 22/11/96

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MACRO DOS CREDE 2000 – 2002

Nota: A denominação de MACRO e o termo Coordenadoria nos CREDE deu-se apenas na estrutura interna de cada CREDE . O Decreto Nº 25.850 de 07/04/2000 trata-se de Assessor Técnico e Assistente Técnico.

MACRO CREDE COORDENADORIA A MARACANAÚ, ITAPIPOCA,

HORIZONTE . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico

. Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão . Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle

Assistente Técnico B ACARAÚ, CAMOCIM,

TIANGUÁ, SOBRAL . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico

. Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão . Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle

Assistente Técnico C BATURITÉ, QUIXADÁ,

SENADOR POMPEU

. Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

D RUSSAS, JAGUARIBE, IGUATU, ICÓ

. Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

E CANINDÉ, CRATÉUS, TAUÁ . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

F CRATO, JUAZEIRO DO NORTE, BREJO SANTO

. Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coordenadoria Regional de Articulação e Gestão

. Coordenadoria Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

G FORTALEZA . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coord. Regional de Articulação e Gestão

. Coord. Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

G FORTALEZA . Coordenadoria Regional de Desenvolvimento Técnico Pedagógico . Coord. Regional de Articulação e Gestão

. Coord. Regional de Monitoramento e Controle Assistente Técnico

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MÓDULO DAS DERE’s Decreto Nº 18.838, de 28/11/1987

MÓDULO MUNICÍPIO SEÇÃO/DIVISÃO UNIDADE/SERVIÇO SEÇÃO SETOR I Fortaleza

. Seção Regional de Informação e Estatística

. Divisão de Educação . Unidade de Educação Básica . Seção de Educação Pré-Escolar . Seção de Ensino 1º Grau . Seção de Educação Especial

. Serviço de Ensino de 2º Grau

. Serviço de Educação de Adultos

. Setor de Cursos . Setor de Exames Supletivos

. Divisão de Assistência ao Estudante e à Escola

. Setor de Ações Integradas de Saúde Escolar . Setor de Apoio ao Estudante . Setor de Material de Ensino-Aprendizagem . Setor de Supervisão de Distribuição de Alimentos . Setor de Inspeção Escolar

. Divisão de Administração

. Seção de Pessoal . Setor de Cadastro . Setor de direitos e Deveres . Setor de Freqüência

.Setor de Comunicação Administrativa. . Setor de Material e Patrimônio

MÓDULO MUNICÍPIOS SETOR/ DIVISÃO

UNIDADE/SERVIÇO SEÇÃO SETOR SUBSETOR

II CRATO, IGUATU, JUAZEIRO DO NORTE, QUIXADÁ, RUSSAS, SOBRAL, ITAPIPOCA E ICÓ

. Subsetor Regional de Informações e Estatística

. Serviço de Educação . Seção da

Educação Básica

. Seção de Ensino de 2º Grau

. Seção de Educação de Jovens e Adultos

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MÓDULO DAS DERE’s Decreto Nº 18.838, de 28/11/1987

. Serviço de Assistência ao Estudante e à Escola

. Setor de Inspeção Escolar . Setor de Supervisão de Distribuição de Alimentos

. Setor de Administração

. Subsetor de Material e Patrimônio . Subsetor Financeiro . Subsetor de Atividades auxiliares Subsetor de Pessoal

MÓDULO MUNICÍPIOS SETOR/ DIVISÃO

UNIDADE/SERVIÇO SEÇÃO SETOR SUBSETOR

III CRATEÚS, LIMOEIRO DO NORTE, SENADOR POMPEU, TAUÁ, TIANGUÁ

. Subsetor Regional de Informações e Estatística

. Serviço de Educação . Seção da

Educação Básica

. Seção de Ensino

Page 159: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

MÓDULO DAS DERE Decreto Nº 18.838, de 28/11/1987

ORGANOGRAMA DAS

DELEGACIAS REGIONAIS DA EDUCAÇÃO-DERE (1974)

de 2º Grau . Seção de

Educação de Jovens e Adultos

. Serviço de Assistência ao Estudante e à Escola

. Setor de Administração

. Subsetor de Administração . Subsetor de Material e Patrimônio . Subsetor Financeiro . Subsetor de Atividades auxiliares

Page 160: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

A Delegacia Regional de Educação, órgão de descentralização da Secretaria tem como objetivo garantir a

execução da política educacional do Governo, na área de sua jurisdição, assegurando maior rapidez e objetividade às decisões técnico-administrativas emanadas da Secretaria de Educação (SEDUC: 1974, p.5).

ORGANOGRAMA DOS CENTROS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – CREDE

(1995)

Delegado

Serviços Administrativos

Serviços Técnicos

Setor de Serviços Gerais

Setor Pessoal

Setor de Maternidade e

Prédio

Setor Técnico

Setor de Doc. Informações

Page 161: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

Nota: primeira proposta de reestruturação dos órgãos regionais (SEDUC: documento interno mimeografado, 1995) Compete aos Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação - CREDE, exercer em nível regional as ações de planejamento, cooperação técnica e financeira, orientação normativa, mobilização, articulação e integração institucional, tendo em vista o acesso e a melhoria da qualidade da Educação Básica (Decreto Nº 24.274/96. Art. 4º ).

ORGANOGRAMA DOS CENTROS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – CREDE

(1996)

Centro Regional Apoio a Escola

Divisão de Gestão Escolar

Divisão de Apoio Pedagógico

Divisão Administrativa e

Financeira

Page 162: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

ORGANOGRAMA DOS CENTROS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – CREDE

(1998 - 2002)

Articulação

e Gestão

Desenvolvimento

Técnico-

Pedagógico

Monitoramento

e Controle

Núcleo

Gestor

Coordenadoria Regional

Diretoria de Planejamento e

Políticas Públicas

Diretoria de Articulação e

Gestão Educacional

Diretoria de Desenvolvimento

Técnico Pedagógico

Chefe de Gabinete

Diretoria de Monitoramento e

Controle

Page 163: O PAPEL DO CENTRO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp111626.pdf · A implantação da nova estrutura administrativa da SEDUC, materializada nos CREDE,

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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