o papel do assistente social judiciÁrio frente Às … papel do... · atenção que sempre me...

72
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL IDÁLIA SAMPAIO CUNHA O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO FRENTE ÀS NOVAS REGRAS DE ADOÇÃO FORTALEZA 2014

Upload: tranlien

Post on 26-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

IDÁLIA SAMPAIO CUNHA

O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO FRENTE ÀS NOVAS REGRAS DE ADOÇÃO

FORTALEZA 2014

IDÁLIA SAMPAIO CUNHA

O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO FRENTE ÀS NOVAS REGRAS DE ADOÇÃO

Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª Ms. Luciana Gomes Marinho.

FORTALEZA 2014

A Deus, minha fortaleza... Aos meus pais, razão da minha existência... À minha filha, amor incondicional.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me proporcionado o dom da vida,

por abastecer minha vida com saúde, força, coragem e por ter guiado os meus

passos nesta extenuante jornada acadêmica.

À minha mãe, “mulher fortaleza”, que me ensinou a ser forte em

momentos difíceis, dócil quando a vida assim manda, determinada quando

necessário, e foi capaz de plantar na minha vida os princípios e valores que carrego

comigo hoje e sempre.

Ao meu pai, pelo exemplo de vida, sobretudo de honestidade, caráter e

ética que sempre transmitiu a mim e às minhas irmãs. Obrigada pelo carinho e

atenção que sempre me ofertou. E pela presença e apoio em todos os momentos da

minha vida.

À minha amada filha, Márlia, meu presente maior, razão de todas as

minhas lutas e esforços. Obrigada pela compreensão nos momentos de ausência e

por sempre apoiar as minhas decisões.

À minha saudosa avó Dargenira que, mesmo não estando mais entre nós,

mantém presença eterna em minha vida. Por ter nos exemplificado com o sublime

legado de educadora e exemplo de pessoa.

Às minhas “mães adotivas”, Dadá, Mona e Carola pelas manifestações de

amor e carinho que me deram durante toda a minha vida e por tudo que me

ensinaram, pelo cuidado, apoio e companheirismo que sempre me deram.

À minha amada e querida irmã Régia, por sempre estar ao meu lado nos

momentos felizes e difíceis de minha vida e pelo apoio nas horas precisas.

Às minhas irmãs, Wládia e Adélia, pelo carinho e incentivo que me

dispensaram no decorrer dessa jornada e aos meus amados sobrinhos, Vitória e

Arthur, constantes alegrias e orgulho em minha vida.

Às colegas de turma e equipe, em especial às amigas Natália, Marianne e

Gleiciane, as quais com carinho e amizade me ajudaram a superar todas as

dificuldades e problemas encontrados durante os anos que passamos juntas.

À minha orientadora Prof.ª Luciana Gomes, pelo acolhimento, carinho e

atenção dispensada a mim durante a construção da monografia.

DUAS MÃES PARA UMA VIDA

“Era uma vez duas mulheres Que nunca se encontraram De um lado não te lembras

A outra é aquela que tu chamas Mãe Duas vidas diferentes

Na procura de realizar uma só: a tua Uma foi a tua boa estrela

A outra o teu sol A primeira te deu a vida

A outra te ensinou a viver A primeira criou em ti a necessidade do

amor A segunda te deu esse amor

Uma te deu as raízes A outra te ofereceu teu nome

A primeira te transmitiu teus dons A segunda te deu uma razão para viver

Uma fez nascer em ti a emoção A outra acalmou tuas angústias

A primeira recebeu teu primeiro sorriso A outra secou tuas lágrimas Uma te ofereceu em adoção

Era tudo o que ela podia fazer por ti A outra rezou para ter uma criança

E Deus a encaminhou em tua direção E agora, quando, chorando,

Tu me colocas a eterna questão Herança natural ou educação?

De quem sou o fruto? Nem de um nem de outro, minha criança,

Simplesmente, de duas formas Diferentes de amor”.

(Autor desconhecido)

RESUMO

Esta monografia teve como escopo verificar a percepção do Assistente Social frente às novas regras de adoção, a partir da Lei n.º 12.010, de 03 de agosto de 2009, que teve como principal objetivo tornar mais célere o processo de adoção no Brasil. O objetivo principal da pesquisa é conhecer o papel do Assistente Social judiciário frente às novas regras de adoção. Tendo como objetivos específicos: analisar e comparar as principais legislações referentes à adoção, conhecer as etapas que o processo de adoção demanda, bem como identificar a função do Assistente Social e as atividades realizadas pelo profissional em cada fase do processo, a instrumentalidade da profissão e conhecer a percepção das profissionais do setor de Adoção da comarca de Fortaleza-CE em relação às mudanças ocorridas na legislação. O tema de análise é muito sensível, dado envolver o direito dos principais sujeitos interessados no processo, crianças e adolescentes e pelos estigmas envoltos nesse processo durante muito tempo. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e de campo. Através da pesquisa bibliográfica realizamos um levantamento histórico da adoção e como esta se desenvolveu durante a história e de forma particular no Brasil. Abordamos também, a partir de desenvolvimento do direito, as alterações e modificações na Adoção e como esta passou a se constituiu como uma garantia de direitos de crianças e adolescentes a partir da vigência do Estatuto da Criança e Adolescente de 1990 – ECA e na Nova Lei de Adoção de 2009. Para realização da pesquisa de campo, realizada no Setor de adoção, realizamos entrevista semiestruturada com uma Assistente Social, bem como realizamos observação direta não participante no período de março a dezembro de 2013. Tais informações nos fundamentaram para fazermos as seguintes considerações sobre a prática profissional do Assistente Social no processo de adoção: a de ser uma categoria profissional de fundamental relevância, por ser responsável por tratar questões de direitos e legitimação de uma categoria social que precisa ser respeitada e ter garantidos os seus direitos de convivência familiar e comunitária, conforme preza o Estatuto da Criança e o Adolescente de 1990. E por ser um profissional que está presente em todos os trâmites e que trata diretamente com todos os envolvidos no processo: os pretendentes à adoção, crianças e adolescentes, advogados, promotores, juízes de direito e demais profissionais que são envolvidos no processo de adoção. Palavras-chave: Criança e adolescente. Adoção. Direitos. Instrumentalidade.

ABSTRACT

This monograph was to verify the perception of scope due to the new rules of adoption, from the Law No. 12.010, of August 3, 2009, which aimed to make faster the process of adoption in Brazil Social Worker. The main objective of the research is to understand the role of the judiciary Social Worker deal with new rules for adoption. r the steps that demand the adoption process and to identify the role of the social worker and the activities performed by the professional at every stage of the process, the instrumentality of the profession and know the perception of professionals in the industry adoption of the district of Fortaleza-CE in relation to changes in legislation. The subject of analysis is very sensitive, as it concerns the right of the main subjects involved in the process, children and adolescents and wrapped by stigmas in this process for a long time. The methodology used was the literature and field research. Through literature search conducted a historical survey of adoption and how it has developed throughout history and in a particular way in Brazil. Also approached from the right development, changes and modifications in adoption and how this came to be constituted as a guarantee of rights of children and adolescents from the enactment of the Statute of Children and Adolescents 1990 - ACE and New Law adoption of 2009. For conducting field research conducted in industry adoption conducted semi-structured interviews with a social worker, as well as direct non-participant observation conducted in the period March-December 2013. Such information justifying us to make the following observations about the practice professional social Worker in the adoption process: to be a professional category of fundamental importance, because it is responsible for dealing with issues of rights and legitimate a social category that needs to be respected and have guaranteed their rights to family and community, as appreciates the Statute of Children and adolescents 1990 and being a professional that is present in all dealings and dealing directly with everyone involved in the process:. applicants for adoption, children and adolescents, lawyers, prosecutors, judges, law and others who are involved in the adoption process. Keywords:Child and Teenage. Adoption. Rights. Instrumentality.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF – Constituição Federal

CNA – Cadastro Nacional de Adoção

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

NADIJ – Núcleo de atendimento da Defensoria à infância e juventude

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1 ADOÇÃO: DA HISTÓRIA ANTIGA À SOCIEDADE BRASILEIRA

CONTEMPORÂNEA .............................................................................................. 17

1.1 O Processo de Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes .................... 17

1.2 Resgate Histórico da Adoção ........................................................................... 21

1.3 A Adoção na Sociedade Contemporânea ........................................................ 26

1.3 A Nova Lei da Adoção: Mudanças e Desafios................................................. 32

2 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO .......................................... 39

2.1 Histórico da Profissão ...................................................................................... 40

2.2 O Serviço Social Contemporâneo na Adoção de Crianças e Adolescentes 42

2.3 A Instrumentalidade da Profissão no Processo de Adoção .......................... 44

3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO FRENTE À ADOÇÃO: O

LOCUS DA PESQUISA .......................................................................................... 53

3.1 Procedimentos Metodológicos da Pesquisa .................................................. 53

3.2 Setor de Adoção: O Lócus da Pesquisa .......................................................... 54

3.3 Dos Resultados da Pesquisa ............................................................................ 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 63

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66

APÊNDICES ............................................................................................................. 69

ANEXOS ................................................................................................................... 71

10

INTRODUÇÃO

A escolha do tema deu-se pelo interesse pela área de estudo abordado,

bem como pela reflexão feita a respeito da responsabilidade e profissionalismo que

são exigidos ao Assistente Social, a fim de subsidiarem a sua prática profissional

frente ao processo de adoção. Contribuíram para escolha do tema as leituras de

artigos, jornais, notícias abordando o processo de adoção e seus trâmites e,

sobretudo, a prática de estágio realizada no Setor de Adoção do Fórum Clóvis

Beviláqua de setembro de 2012 a dezembro de 2013.

A pesquisa se apresentou com relevância à medida que abordara

questões relativas à aplicação dos direitos das crianças e da sua família,

preconizada pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como pela Lei

da Adoção e pela compreensão e entendimento da prática profissional do Assistente

Social. A mesma pode vir a subsidiar a realização de estudos posteriores ou o

aprofundamento das suas questões servindo como base para um estudo mais

aprofundado.

A presente pesquisa se propôs a fazer uma abordagem sobre o processo

de adoção e seus trâmites, a partir da concepção do profissional Assistente Social,

tendo sido subsidiada pela abordagem das categorias: adoção, criança e

adolescente, direito e instrumentalidade para um entendimento e formulação da

prática e postura do assistente social frente ao processo de adoção.

A respeito da metodologia utilizada, podemos entendê-la como “o

caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” (MINAYO,

2008, p. 14). Ainda segundo essa mesma autora, a pesquisa em Ciências Sociais,

dadas às particularidades de delimitação de seus objetivos, se beneficia das

abordagens qualitativas para sua execução. Nesse sentido, utilizamos a abordagem

qualitativa, por essa nos permitir uma melhor análise de acordo com as

especificidades encontradas no universo da pesquisa.

O tipo de pesquisa utilizada foi a explicativa, já que objetivamos identificar

a atuação profissional do Assistente Social inserido no contexto da adoção, pois

conforme Gil (2002), sendo esse tipo de pesquisa a que mais aprofunda o

conhecimento da realidade, por explicar a razão e o porquê das coisas.

11

O campo da pesquisa foi o Setor de Adoção do Juizado da Infância e da

Juventude, localizado no Fórum Clóvis Beviláqua, nesta capital. Tendo essa

Instituição a missão de “promover a Justiça em busca da Harmonia social”.1

Realizamos a pesquisa bibliográfica e de campo para relacionarmos teoria

e realidade, discutindo os elementos observados sob a perspectiva dos autores que

tratam do assunto. Para tanto, a pesquisa bibliográfica pode ser compreendida como

aquela “desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente

de livros e artigos científicos” (GIL, 2002, p. 6). Entendendo a pesquisa de campo

como sendo aquela que é “desenvolvida por meio da observação direta das

atividades do grupo estudado [...] para captar suas explicações e interpretações do

que ocorre no grupo” (GIL, 2002, p. 15).

Já para realização da pesquisa de campo, aplicamos entrevista

semiestruturada com uma das Assistentes Sociais do setor, bem como realizamos

observação direta não participante. A entrevista semiestruturada visa mesclar

perguntas fechadas e abertas, possibilitando ao entrevistado, discorrer sobre o

referido tema sem precisar seguir um roteiro pré-estabelecido, de acordo com

Minayo (1999). Na entrevista semiestruturada a amostra que pretendíamos ter era o

mesmo universo da pesquisa, de três Assistentes Sociais, porém devido a

dificuldades que tivemos para conseguir entrevistas com as demais profissionais,

pois elas não se apresentaram colaborativas, realizamos a pesquisa com a amostra

de uma profissional.

A observação do cotidiano das Assistentes Sociais se deu no período de

Março a Dezembro de 2013, no intuito de compreender a relação existente entre

suas práticas profissionais à luz das mudanças ocorridas na Nova Lei de Adoção.

Dessa forma, utilizamos como método investigativo o Materialismo

Histórico-Dialético por este proporcionar uma articulação entre “os contextos

históricos, as determinações socioeconômicas [...], as relações sociais de produção

e dominação com a compreensão das representações sociais” (MINAYO, 1999, p.

24).

Para bem entendermos, ao abordarmos o tema “adoção”, sabemos não

ser tarefa fácil, dado o teor estigmatizante que foi englobado por essa questão

perante a sociedade ao longo dos anos. Visão esta que hoje vem se modificando e

1Disponível em:<http://www.tjce.jus.br/forum_clovis/forum_institucional.asp>. Acesso em: 1º dez.

2013, 14:17:00.

12

passa a ser vista com maior profundidade e sensibilidade pela sociedade. Isso

devido a mudanças de caráter político, econômico e social que a sociedade vem

vivenciando ao longo de sua história, quanto ao aprimoramento das leis.

Segundo Souza (1999), a adoção passa a assumir um novo papel, o de

ser a expressão maior de um direito fundamental da criança: o direito a ter uma

família. Da adoção como antes, tida como necessidade, da adoção como a cura

para sofrimentos diversos, passou para a adoção como a construção de um direito, o

direito de todas as crianças a crescer em uma família, o direito a possuir um mundo,

a construir uma identidade, com a qual possam se sentir protegidos, seguros,

amados e respeitados, possam construir um projeto de vida.

De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)2

apresentados no mês de outubro de 2013, no Brasil, o número de crianças e

adolescentes aptos para adoção é de aproximadamente 5.387 crianças. Já o

número de pessoas que têm interesse em adoção, é de aproximadamente 29.886

pessoas. Porém desse quantitativo mais de 80% dos pretendentes não aceitam

adotar irmãos, mesmo que 77% das crianças e adolescentes não sejam filhos

únicos. 74% dos habilitados querem crianças de zero a três anos, mas só 4% do

total disponível para adotar têm essa idade. 22% das crianças possuem problemas

de saúde ou são pessoas com deficiência, mas apenas 8% dos pretendentes não

fazem restrição a esse perfil. Todas essas ressalvas acabam por dificultar ainda mais

os trâmites desse processo.

No Ceará, em 2013, a quantidade de crianças e adolescentes que fazem

parte do Cadastro Nacional de Adoção - CNA3 é de aproximadamente 77 crianças, o

número de pretendentes à adoção é por volta de 456 pretendentes, de acordo com

dados do Núcleo de Atendimento da Defensoria à Infância e Juventude (NADIJ). O

Núcleo de âmbito da Defensoria Pública (NADIJ), criado pela Resolução n.º 71/2012

pelo Conselho Superior da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará, sediado

2Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/2013/07/lentidao-da-justica-e-exigencias-dos-pais-travam-

adocao/>. Acesso em: 1º out. 2013,16:08:00. 3 O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) é uma ferramenta criada para auxiliar juízes das Varas da

Infância e da Juventude na condução dos procedimentos de adoção. Lançado em 29 de abril de 2008, o CNA tem por objetivo agilizar os processos por meio do mapeamento de informações unificadas. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/infancia-e-juventude/cadastro-nacional-de-adocao-cna>. Acesso em: 21 maio, 13:45:00.

13

no Fórum Clóvis Beviláqua em Fortaleza-CE, criado como órgão de caráter

permanente, tendo como missão primordial prestar suporte e auxílio no desempenho

das atividades dos membros da Instituição sempre que a demanda refira-se, direta

ou indiretamente, a direitos de crianças e adolescentes em situação de

vulnerabilidade, mais especificamente dos tratados na Lei n.º 8.069/90, Estatuto da

Criança e do Adolescente, sendo responsável, dentre outras, pelo acompanhamento

dos dados sobre Adoção no Fórum Clóvis Beviláqua.

Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990,

aconteceram importantes mudanças no processo de adoção. Do ponto de vista

legal, o que representou um avanço no recolhimento da criança e do adolescente

como sujeitos de direitos (ECA, 1990). Compreende-se, portanto, que a adoção

passa a ser vista como um mecanismo que deve priorizar a criança, garantindo-lhe

vantagens tanto do ponto de vista psicológico quanto jurídico.

Assim, conforme Souza (1999), por meio da adoção procura-se propiciar

um ambiente familiar favorável à formação da identidade da criança. E dessa forma,

o fundamental passa a ser a proteção da criança, com vista ao interesse na garantia

de seu bem-estar biopsicossocial, por meio de sua inserção em um ambiente familiar

que lhe possa fornecer condições para um desenvolvimento saudável, sendo a

família ampliada4 prioritária nesse processo e somente quando cessem todas as

possibilidades da inserção da criança em sua família de origem ou ampliada, a

criança ou adolescente deve ser encaminhada para adoção. Conforme previsto no

Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Capítulo III, em que assegura o

Direito à convivência Familiar e Comunitária, disposto no

Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes (BRASIL, 1990).

O processo de adoção é dado da seguinte maneira: os interessados em

adoção que são domiciliados no Brasil fazem a inscrição no Cadastro de Adoção,

após isso o(s) requerente(s) tem(têm) o cadastro analisado pelo Ministério Público,

4 De acordo com o ECA no artigo 25. Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada

aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.

14

conforme previsto no art. 197-B5do ECA, e logo é feito uma avaliação pelo serviço

técnico e estudo social e psicológico, conforme disposto no ECA, art. 197-C6, estudo

esse realizado por meio de visitas domiciliares e entrevistas psicossocial. O(s)

requerente(s) também participará(ão) de forma obrigatória de programas ou cursos

oferecidos pelo Juizado da Infância e da Juventude, segundo estabelece o art. 197-

C §1º7 do ECA. Após esses trâmites, a equipe interprofissional emitirá um estudo

psicossocial que será encaminhado ao Ministério Público para ser dado parecer e

em seguida será encaminhado para apreciação de um juiz, conforme prevê o art.

197-D 8do ECA, em que será deferido ou indeferido, conforme o parecer dessa

autoridade judiciária.

Assim, é o parecer social que dará direcionamento para a decisão do Juiz,

porque através desse parecer será subsidiada a decisão a ser tomada quanto ao

destino da criança ou do adolescente.

Por isso, para Simões (2009), a intervenção do Assistente Social se

apresenta com algo preponderante em todo o processo de adoção, uma vez que é o

profissional que faz a intermediação entre os envolvidos durante todo o trâmite:

instituição, famílias e crianças, fato que reforça ainda mais a responsabilização e o

rigor técnico e teórico mediante a prática profissional.

E, diante de todo esse processo, é mister fazer uma contextualização de

como e de que forma o Serviço Social entra no processo de adoção. Tendo como

premissa a prática do Assistente Social enquanto profissão que visa promover a

mudança social, a resolução de problemas no contexto das relações entre os

indivíduos e a capacidade das pessoas se empenharem na melhoria do bem-estar

social. Sendo a sua intervenção centrada no relacionamento dos indivíduos como o

5Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao

Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias [...] (BRASIL,1990). 6Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da

Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei (BRASIL, 1990). 7Art. 197-C § 1º É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da

Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo á adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos (BRASIL, 1990). 8Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C

desta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e julgamento (BRASIL, 1990).

15

meio que os rodeia e baseando-se nos princípios dos direitos humanos e da justiça

social (SIMÕES, 2009).

Assim, conforme o autor supracitado, o Assistente Social tem um papel

fundamental no processo de adoção, já que cabe a ele a elaboração de todo um

estudo social de cada caso, com o intuito de verificar se os pretendentes estão aptos

ou não para adotar. E para elaboração desse estudo, o profissional utiliza de todo

seu conhecimento teórico, crítico e instrumental a fim de elaborar o estudo social do

caso, conforme o artigo supracitado do ECA (Art. 197-C) e dá embasamento e

fundamentação ao seu parecer.

Neste estudo social, o Assistente Social visa compreender as questões

mais profundas, as quais lhe possibilitem descrever um perfil ideal de uma família de

acordo com as exigências judiciais e sociais que norteiam sua prática. Devido à

adoção ser uma das medidas de proteção mais importantes, visto que concede à

criança e ao adolescente o direito de filho legítimo e por ser irrevogável, conforme

Simões (2009), o Assistente Social deve preocupar-se muito com os adotantes e

adotados, para naturalmente formarem uma família e assegurar à criança ou

adolescente um dos principais direitos, que é o de ter família.

Além disso, segundo esse mesmo autor, cabe também ao profissional o

papel de orientar as pessoas envolvidas no processo de adoção. Assim, a pesquisa

apresenta como principal objetivo conhecer o papel do Assistente Social judiciário

frente às novas regras de adoção. Para a obtenção de tal objetivo, procuramos

analisar e comparar as principais legislações referentes à adoção, conhecer as

etapas que esse processo demanda, bem como identificar a função do Assistente

Social e as atividades realizadas em cada fase do processo e conhecer a percepção

das profissionais desse setor em relação às mudanças ocorridas na legislação.

Para alcançarmos os objetivos propostos neste trabalho, estruturamos a

pesquisa em três capítulos. Sendo o primeiro destinado a fazer um apanhado

histórico sobre a adoção.

Tendo como subdivisões, primeiro: “Adoção para quem?”; segundo, “O

resgate histórico sobre o tema”; terceiro, “A adoção na sociedade pós-moderna”;

quarto, “A nova lei da adoção: mudanças e desafios.

Já o segundo capítulo será destinado a fazermos uma reflexão acerca da

atuação profissional, tendo como temática o Serviço Social no processo de adoção.

Como subdivisões: o resgate histórico da profissão; segundo, o Serviço Social

16

contemporâneo na adoção de crianças e adolescentes e, como último tópico do

capítulo, a instrumentalidade da profissão e o processo de adoção.

Por fim, o terceiro capítulo abordará as questões observadas na prática e

o fazer do profissional no próprio campo de atuação, bem como suas observações,

opiniões emitidas através da realização da pesquisa de campo.

17

1 ADOÇÃO: DA HISTÓRIA ANTIGA À SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

A abordagem do tema adoção não se constitui tarefa fácil, dado o teor

estigmatizante e envolto de preconceitos desenvolvidos ao longo dos anos. Para

tanto, faz-se necessário um resgate histórico sobre a temática, bem como com as

demais categorias que nortearão o trabalho.

Sobre adoção inicialmente apresentamos no presente capítulo, os sujeitos

para quem se destina a adoção, seguida das definições sobre a temática à luz dos

autores, assim como os aspectos que a caracterizam. Posteriormente, faremos um

resgate histórico sobre a categoria, a fim de termos um entendimento de como se

deu o seu processo de evolução. Para isso, situaremos essa temática em um

contexto histórico, partindo da antiguidade até a adoção na sociedade pós-moderna

e apresentar como se deu o seu desenvolvimento no Brasil.

Sendo imprescindível para isso apresentar os ordenamentos jurídicos que

materializaram essa temática, a exemplo da Constituição Federal de 1988, do

Código Civil de 2002, do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e que

culminaram na elaboração da Nova Lei da Adoção em 2009. Por isso, também os

apresentaremos enfocando as principais considerações que os diferentes

ordenamentos jurídicos dispõem acerca da garantia dos diretos das crianças e

adolescentes no tocante ao que envolve a adoção.

1.1 O Processo de Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes

Antes de falarmos do processo de adoção propriamente dito, se faz

necessário mencionarmos acerca dos sujeitos para quem se dá a prática em

questão, ou seja, a criança e o adolescente. Sob essa perspectiva, de início nos

perguntamos sobre o que é ser criança ou adolescente? Certamente muitas

definições foram elaboradas no decorrer da história dessa categoria, mas

sinteticamente os dicionários da língua portuguesa trazem como definição de

infância como o período de crescimento que vai do nascimento até o ingresso da

puberdade, por volta dos doze anos de idade.

Etimologicamente, a palavra infância é originada do latim infantia e refere-se

ao indivíduo que ainda não é capaz de falar. Essa incapacidade, atribuída à primeira

infância, estende-se até os sete anos, que representaria a idade da razão. Conforme

18

essa concepção, podemos perceber que a idade cronológica não é suficiente para

caracterizar infância. É o que afirma Khulmann Jr, quando coloca que

Infância tem um significado genérico e, como qualquer outra fase da vida, esse significado é função das transformações sociais: toda sociedade tem seus sistemas de classes de idade e a cada uma delas é associado um sistema de status e de papel (KHULMANN JR, 1998, p. 16).

Assim, para entendermos acerca da concepção dessa categoria, detemo-nos

nas raízes dessa discussão. Para Philippe Àries (2006) a infância se constitui como

uma invenção da modernidade, se constituindo como uma categoria social

construída recentemente na história. Para o autor, a concepção de infância não foi

uma construção natural, mas algo decorrente de um longo processo histórico.

Para o autor, os séculos XVI e XVII esboçam uma concepção de infância

centrada na inocência e na fragilidade infantil. Já no século XVIII traz uma

concepção moderna de infância, assumindo o signo de liberdade, autonomia e

independência (ÀRIES, 2006). O que demonstra o caráter histórico, influenciado por

condições socioculturais sofridos por essa categoria. A mesma concepção tem

Pinheiro (2005) quando afirma que

Pensar sobre criança e o adolescente como categorias socialmente concebidas, considerando não apenas as características ditas ‘naturais’, próprias a um período da vida, o que impediria a compreensão dos lugares sociais ocupados pela criança e o adolescente. É preciso ultrapassar o critério da idade e examinar a inserção da criança e do adolescente na vida social [...] (PINHEIRO, 2005, p. 37).

A partir do que é colocado pelos autores, podemos considerar que a infância

muda com o tempo e com os diferentes contextos sociais, econômicos, geográficos,

e até mesmo com as peculiaridades individuais, se constituindo, portanto, como uma

categoria socialmente construída.

Para Àries (2006), o sentimento de infância é datado do século XIX. Já que

nos séculos XIV, XV e XVI as crianças eram tratadas como adultos em miniatura ou

pequenos adultos. Os cuidados especiais que recebiam, quando os recebiam, eram

reservados apenas aos primeiros anos de vida, e aos que tinham mais condições

sociais e financeiras. A partir dos três ou quatro anos, as crianças já participavam

das mesmas atividades dos adultos.

Àries defende duas teses principais: a primeira, o autor afirma que a

sociedade tradicional da Idade Média não via a criança como ser distinto do adulto.

19

Na segunda, o autor indica a transformação pela qual a criança e a família passam,

ocupando um lugar central na dinâmica social. E com essa transformação, a família

tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos,

o que não existia antes.

Conforme esse mesmo autor, somente a partir do século XVIII o conceito de

infância se evidencia pelo valor do amor familiar, passando a ter espaço na

sociedade, em que as crianças passam dos cuidados das amas para o controle dos

pais e, posteriormente, da escola, passando a ser objeto de atenção dos diversos

especialistas e das diferentes ciências, como: psicologia, antropologia, sociologia,

medicina, pedagogia, dentre outras.

Sobre esse aspecto, passa-se exigir da família uma atenção em relação às

funções a respeito de cuidados e carinhos direcionados às crianças, no intuito de

protegê-las dos perigos iminentes. A criança passou de um lugar sem importância a

ser o centro da família. A respeito disso, Àries (2006) descreve a nova organização

familiar:

A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu do seu antigo anonimato, que se tornou impossível perde-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limiar seu número para melhor cuidar dela [...] (ÀRIES, 2006, p. 11).

Àries (2006) reforça essa compreensão ao afirmar que a infância se

apresenta como uma construção social em que passam a serem observadas as

novas formas de falar, pensar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com as

crianças o que resulta em um processo de descoberta, valorização e proteção

destas. Porém a intenção era, na verdade, resguardar a infância considerando a

utilidade da futura mão de obra, a fim de torná-los futuros adultos trabalhadores, em

face da configuração industrial que as sociedades viviam.

Assim, em face do surgimento das novas sociedades influenciadas pelo

capitalismo industrial, a infância sofre mudanças, o que irá alterar a vida das

crianças. Nesse processo, as crianças não são poupadas, e a busca por mão de

obra barata fará com que esse contingente da população seja submetido a longas

jornadas de trabalho e exploração de trabalho (KUHLMANN JR. E FERNANDES,

2004).

20

Para esses autores, esse fato passa a ser debatido e vai refletir na elaboração

de legislação específica, no intuito de limitar os abusos no interior das indústrias. No

entanto, o trabalho infantil ainda não é totalmente eliminado, mas passa a ser

amplamente debatido, o que irá culminar em movimentos a favor da “construção” da

criança e de instituições como escolas, hospitais e asilos que garantam o

desenvolvimento dessa população.

Nesse sentido, entre o fim do século XIX e o início do século XX, a infância

passa a ser vista como uma maneira de se edificar uma sociedade dita “moderna”.

Para tanto, seria necessário que fossem criadas instituições que visassem ao bem-

estar das crianças por meio de atendimento filantrópico e assistencial, em especial

as para crianças pobres, já que era uma forma da sociedade burguesa manter a

preservação e o controle da ordem.

No Brasil, a história de crianças e adolescentes é marcada por um contexto

de abandono e desigualdades, sendo observado um maior cuidado com a infância a

partir do século XIX, se intensificando nos séculos seguintes. Para Fontes (2005),

É importante ressaltar que a história da infância no Brasil se confunde com a história do preconceito, da exploração e do abandono, pois, desde o início, houve diferenciação entre as crianças, segundo sua classe social, com direitos e lugares diversos no tecido social (FONTES, 2005, p. 88).

Essa mesma concepção tem Pinheiro (2001) quando afirma que a história de

crianças e adolescentes no Brasil tem sua vida social marcada pela desigualdade,

exclusão e dominação. Essas marcas têm acompanhado a história do Brasil,

atravessando a Colônia, Império e República, conservando ainda hoje a visão da

diferença pela desigualdade. Como afirma a autora “a desigualdade social assume,

entre nós, múltiplas expressões, quer se refiram à distribuição de terra, de renda, do

conhecimento, do saber e, mesmo, ao exercício da própria cidadania” (PINHEIRO,

2001, p. 30).

No Brasil moderno, surgiu o termo que caracteriza a criança desvalida:

“menor” (RIZINNI, 2000). Para a autora as crianças eram caracterizadas como

“menores” em situação de risco social, passíveis de tornarem-se marginais e,

enquanto tal, colocarem em risco a si mesmas e à sociedade. Deste modo, tornou-

se uma norma social atender à infância abandonada, pobre e desvalida, mas a partir

de um olhar de superioridade, na tentativa de salvamento, e não para garantia de

direitos. Nesse período, o “menor” era entregue aos cuidados do Estado, que na

21

maioria das vezes, o institucionalizava e o submetia a tratamentos cruéis e

preconceituosos.

Nesse sentido, já no século XX é instituído o Código de Menores que tratava

o “menor” como uma situação de risco social e individual, quase uma ameaça à

sociedade (RIZZINI, 2000).

Essa concepção só é retificada com a promulgação do ECA em 1990, a partir

do qual se aboliu o termo “menor”, passando-se a definir criança como sujeito de

direitos e fundamentando princípios de proteção integral à criança e ao adolescente.

Passando a reconhecê-los enquanto sujeitos de direitos que requerem necessidades

específicas, sendo necessária uma política de atenção integral e especial.

Um desses princípios diz respeito à garantia de toda criança e

adolescente ter direito a ser criado e educado no seio da sua família e,

excepcionalmente, em família substituta, assegurando a convivência familiar e

comunitária. Atualmente, com base no ECA, são estabelecidas as regras da Adoção

no Brasil.

1.2 Resgate Histórico da Adoção

Para situarmos a temática adoção, apresentaremos inicialmente as

definições à luz dos autores que versam sobre a temática e o seu percurso histórico

em vários períodos e como se constituiu de forma particular no Brasil. A respeito do

tema Adoção, pode ser definido como:

Adoção vem do latim adoptione que significa aceitar, escolher. Adotar. “É um ato jurídico pelo qual o vinculo de filiação é criado artificialmente. Gera, sem consanguinidade, o parentesco de primeiro grau em linha reta descendente. [...] Adotar é dar a alguém a oportunidade de crescer. É inserir uma criança em uma família definitiva e com todos os vínculos próprios de filiação. É uma decisão para a vida. A criança deve ser vista realmente como um filho que decidiu ter (SOUZA, 1999, p. 17).

Em relação às contribuições doutrinárias que visam definir o significado

da adoção, Beviláqua (1954 apud PICOLIN, 2007, p. 14), o define como sendo ― o

ato civil pela qual alguém aceita um estranho na qualidade de filho. Já para Gomes

(2001, p. 369 apud PICOLIN, 2007, p. 15), a adoção é ― o ato jurídico pelo qual se

estabelece independentemente do fato natural da procriação, o vínculo de filiação.

22

Conforme Gueiros (2007), a adoção é geralmente concebida como um ato

solene através do qual alguém assume como filho uma pessoa que geralmente lhe é

estranha. Essa inserção ocorre em um ambiente familiar de modo definitivo e com

vinculação jurídica, estabelecendo, assim, uma relação de paternidade e filiação.

Caracterizando-se, desse modo, como medida que possibilita a garantia

de vínculos de criação e de filiação em que se abrem possibilidades às novas

formas de agregação a contextos familiares, independente dos laços de

consanguinidade existentes.

Encontramos a temática adoção nas legislações mais antigas de que se

tem registro, ratificando sua significação e importância. Mas esta instituição jurídica

que possui ampla conotação social atualmente, é praticada desde a antiguidade, e

foi criada com as mais diversas finalidades, tendo assim diversas compreensões e

significados ao longo de sua história, dependendo do momento histórico e da

sociedade a qual está inserida. Conforme

O Código de Hamurabi (século XVII a. C.), considerado a primeira codificação jurídica que se teve notícia, possuía 282 artigos, no qual no capítulo 11 entre os artigos 185 e 195 já se especificava sobre adoção, com o título “Adoção, ofensa aos pais, substituição de criança”. Ainda há o Código de Manu (200 a. C e 200 d. C.), que no Livro nono, n. 169, discorre sobre a existência de normas e requisitos para a adoção. Já a bíblia relata o caso de Moisés que é adotado pela filha do Faraó no Egito (Êxodo, 2 1-10) (RIBEIRO, 2012, p. 67).

O Código de Hamurabi trazia também questões acerca dos direitos do

filho adotivo em relação a heranças, que eram os mesmos direitos dos filhos

biológicos. Trazendo também em seu teor as penalizações em caso de regresso do

filho adotivo à casa dos pais biológicos.

Já no Período Romano, conforme Ribeiro (2012), são observados dois

tipos de adoção. Nesse período a adoção é favorecida, influenciada por questões

políticas, já que em um dos tipos de adoção, era utilizado para aumentar o poder

político do adotante, por este poder obter honrarias, sendo na maioria das vezes

praticada por grandes chefes de família. O outro tipo de adoção só podia ser feita

por homem, que não tivesse filhos e que tivesse uma diferença de idade com o

adotado de dezoito anos.

Ainda conforme o autor supracitado, em outro momento, na Idade Média a

adoção é esquecida por um período devido ao Cristianismo e aos valores que ele

23

prega em que a família é colocada como sagrada, sendo a adoção contrária aos

princípios de formação da família e da procriação.

Posteriormente, Alvin (2007) esclarece que a adoção é retomada com

mais intensidade somente a partir da Idade Moderna com o Código de Napoleão,

documento jurídico e legislativo da História do Direito que teve grande influência

para as culturas posteriores. Esse Código sinalizava que a adoção poderia ser feita

através de contrato e dava direitos ao filho adotado, reconhecendo-o como herdeiro.

Em 1923, a Lei Francesa, modificou o instituto passando a aceitar a adoção de

menores, já que o Código de Napoleão regulamentava apenas adoção de maiores, o

que representou um grande avanço, já que os legisladores colocaram em primeiro

lugar os interesses do adotado.

Explicita esse mesmo autor que a História da Adoção, no Brasil, surgiu

influenciada por Portugal, com a Roda dos Expostos ou Enjeitados9, em que a

criança era deixada em uma porta giratória que era instalada em casas de família

ricas, hospitais, conventos, instituições públicas ou na maioria das vezes em Santas

Casas de Misericórdia, onde as crianças eram abandonadas, sem nenhuma

identificação, sendo também mantido sigilo sobre a identidade da pessoa que

depositava a criança. Com isso acreditava-se que estavam protegendo as crianças

abandonadas.

Dessa forma, observamos que de acordo com cada momento histórico, o

instituto da adoção é tratada sob determinada perspectiva, mas que, com o

desenvolvimento da sociedade, desenvolve-se também as questões relativas a esse

ordenamento. No Brasil, de acordo com Faleiros (2003), em seu texto “Verso e

Reverso da Proteção Integral para Crianças e Adolescentes”, aborda a questão da

negação e da afirmação de direitos da criança e do adolescente, considerando o

processo histórico-social e de construção da legislação para a infância em nosso

país. O autor afirma que a desigualdade social, que prevaleceu no país desde o

período colonial, se expressou até mesmo nos direitos formalmente estabelecidos,

9 Conforme Simões (2011), a “Roda (cujo exemplo está exposto no museu paulista do Ipiranga, em

São Paulo) era um cilindro, instalado verticalmente em uma janela da parede externa, com uma abertura, onde o recém-nascido era abandonado, girando-o para dentro, por meio de um eixo perpendicular e tocando um sino. Era dividida em quatro partes triangulares, uma das quais se abria sempre para o lado externo. Ao que se sabe, a primeira roda foi instalada, no Ospedale degli Innocenti, o primeiro orfanato da Europa, criado em Florença (Itália) em 1.444 e, no Brasil, em Salvador, em 1726 (ÀRIES, 1981) e depois no Rio de Janeiro, em 1730”.

24

categorizando diferentes os filhos da elite e dos pobres, o que só veio a ser rompido

com o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990.

A primeira legislação, no Brasil, referente à Adoção foi o Código Civil de

1916, Lei n.º 3.071, de 1º de janeiro de 1916, formulado sob influência dos

ordenamentos jurídicos existentes, tinha como objetivo principal dar filhos aos casais

que não poderiam tê-los, apresentando, sobretudo, finalidade de caridade. A respeito

dos critérios desse tipo de Adoção: Designava-se adoção simples pelos efeitos que

produzia. Estabeleceu que somente poderiam adotar os maiores de 50 anos que não

possuíssem filhos legítimos ou legitimados e que fossem 18 anos mais velhos que o

adotado (FERREIRA, 2010, p. 28).

A partir desses pré-requisitos, observamos os vários obstáculos criados

para a concretização da adoção. Esse dispositivo legal sofreu modificação pela Lei

n.º 3.133, de 8 de maio de 1957, através do qual imbuiu caráter assistencial ao

instituto da adoção. Através dessa lei, procurou-se facilitar o processo de adoção,

alterando-se alguns dos dispositivos do Código Civil.

Como a redução da idade para adotar passando de 50 para 30 anos; diminuiu a diferença de idade exigida entre adotante e adotado de 18 para 16 anos; permitiu a adoção mesmo para aquelas pessoas que já tinham filhos e a alteração do nome com os apelidos dos adotantes. Deixou de existir a necessidade do casal adotante de não possuir filhos, passando-se a exigir comprovação de estabilidade conjugal por um período de, no mínimo, cinco anos de matrimônio (FERREIRA, 2010, p. 28).

Esse ordenamento legal, entretanto, trouxe um avanço ainda pouco

significativo, já que continuou a negar o direito à sucessão e limitou a alteração

apenas do nome do adotante e não aos apelidos de família.

Posteriormente, com a Lei n.º 4.665, de 2 de junho de 1965, surgiu a

denominada legitimação adotiva. Por meio dela o parentesco do adotando passou a

ser o mesmo do filho legítimo, ainda com exceção da questão sucessória. Contudo,

“esta nova lei procurou assegurar às crianças até 7 anos, o que a legislação

francesa designava como adoção plena, no entanto se reconheceu o caráter

irrevogável da adoção e a alteração que deve ser feita no registro de nascimento”

(FERREIRA, 2010, p. 29).

Ainda que se tenha observado um pequeno avanço na adoção com essa

lei, ainda eram observadas questões desfavoráveis como a restrição da idade para

legitimação adotiva, de 7 anos, o não reconhecimento da questão sucessória,

25

existindo também a questão da legitimação que só pode ser requerida após um

período mínimo de 3 anos de guarda do menor pelos requerentes. Pelo que

podemos perceber a existência de muitas dificuldades para que se tornasse a

adoção um instituto que contemplasse o direito das crianças à convivência familiar.

De acordo com Alvin (2007), o Código de Menores, como ficou conhecido

a Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979, ocorreu à substituição da legitimação adotiva

pela adoção plena. Existindo a partir de então dois tipos de adoção: a adoção

simples (contemplando os arts. 27 e 28 do Código de Menores10) e adoção plena

(prevista nos arts. 29 a 3711 desse mesmo código). A respeito dos novos critérios

estabelecidos,

A adoção plena prevista pelo Código de Menores exigia que os cônjuges fossem casados há mais de cinco anos; tendo um deles idade igual ou

10

Art. 27. A adoção simples de menor em situação irregular reger-se-á pela lei civil, observado o dispositivo neste Código. Art. 28. A adoção simples dependerá de autorização judicial, devendo o interessado indicar, no requerimento, os apelidos de família que usará o adotado, os quais, se deferido o pedido, constarão do alvará e da escritura, para averbação no registro de nascimento do menor. § 1º A adoção será precedida de estágio de convivência com o menor, pelo prazo que autoridade judiciária fixar, observadas a idade do adotando e outras peculiaridades do caso. § 2º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais de um ano de idade (BRASIL, 1979). 11

Art. 29. A adoção plena atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Art. 30. Caberá adoção plena de menor, de até sete anos de idade, que se encontre na situação irregular definida no inciso I, art. 2º desta Lei, de natureza não eventual. Parágrafo único. A adoção plena caberá em favor de menor com mais de sete anos se, à época em que completou essa idade, já estivesse sob a guarda dos adotantes. Art. 31. A adoção plena será deferida após período mínimo de um ano de estagiário de convivência do menor com os requerentes, computando-se, para esse efeito, qualquer período de tempo, desde que a guarda se tenha iniciado antes de o menor completar sete anos e comprovada a conveniência da medida. Art. 32. Somente poderão requerer adoção plena casais cujo matrimônio tenha mais de cinco anos e dos quais pelo menos um dos cônjuges tenha mais de trinta anos. Parágrafo único. Provadas a esterilidade de um dos cônjuges e a estabilidade conjugal, será dispensado o prazo. Art. 33. Autorizar-se-á a adoção plena ao viúvo ou à viúva, provado que o menor está integrado em seu lar, onde tenha iniciado estágio de convivência de três anos ainda em vida do outro cônjuge. Art. 34. Aos cônjuges separados judicialmente, havendo começando o estágio de convivência de três anos na constância da sociedade conjugal é lícito requererem adoção plena, se acordarem sobre a guarda do menor após a separação judicial. Art. 35. A sentença concessiva da adoção plena terá efeito constitutivo e será inscrita no Registro Civil mediante mandado, do qual não se fornecerá certidão. § 1º A inscrição consignará o nome dos pais adotivos como pais, bem como o nome de seus ascendentes. § 2º Os vínculos de filiação e parentesco anteriores cessam com a inscrição. § 3º O registro original do menor será cancelado por mandado, o qual será arquivado. § 4º Nas certidões do registro nenhuma observação poderá constar sobre a origem do ato. § 5º A critério da autoridade judiciária, poderá ser fornecida certidão para salvaguarda de direitos. Art. 36. A sentença conferirá ao menor o nome do adotante e, a pedido deste, poderá determinar a modificação do prenome. Art. 37. A adoção plena é irrevogável, ainda que aos adotantes venham a nascer filhos, aos quais estão equiparados os adotados, com os mesmos direitos e deveres (BRASIL, 1979).

26

superior a 30 anos e pelo menos mais de 16 anos em relação ao adotado; fossem casados há cinco anos ou mais, dispensando tal prazo se um deles fosse estéril; tivesse o adotado não mais de sete anos e se encontre em situação irregular, salvo se este se encontrasse, á época em que completou tal idade, sob a guarda dos adotantes; e houvesse estágio de convivência entre adotantes e adotado, podendo ser dispensado se o adotado não tivesse mais de um ano de idade. Os viúvos ou separados poderiam adotar, sendo que o estágio de convivência de três anos deveria ser iniciado antes da morte sobrevinda ou da separação. Com esta adoção, extinguiam-se todos os vínculos do adotado com a sua família biológica, mantendo-se apenas os impedimentos matrimoniais e estabelecendo que a adoção tem caráter de irrevogabilidade (FERREIRA, 2010, pp. 30-31).

Com essa lei, também foi incorporado o Estágio de Convivência12, mas

existiam algumas limitações quanto à adoção por estrangeiros, viúvas, solteiros ou

pessoas separadas. Com o Código de Menores, podemos perceber um pequeno

avanço na legislação referente à adoção, já que a partir dessa lei passou-se a se

preocupar mais com a criança a ser adotada do que com os que iria adotá-la.

Todavia a alteração ainda não foi significativa, já que ainda eram observados vários

obstáculos para que a adoção fosse concretizada.

1.3 A Adoção na Sociedade Contemporânea

A partir das mudanças que foram percebidas na adoção durante a

história, observamos que essa passou por um longo processo de desenvolvimento e

aprimoramento. Mudanças essas que foram acompanhadas não somente no

processo de adoção em particular, mas tanto no seio da sociedade, como no

estabelecimento das leis e do direito como um todo.

Para tanto, diante das diferentes abordagens da adoção e para o seu

entendimento na atual conjuntura, é importante tecermos algumas reflexões a

respeito do entendimento que temos sobre o estabelecimento do Direito e sobre a

sociedade pós-moderna. Para Sartori (2010), o Direito se apresenta como “conjunto

de normas jurídicas de acordo com as quais a sociedade se organiza com a

finalidade de manter a ordem e o convívio social” (SARTORI, 2010, p. 9). Dessa

forma, constatamos a influência que essa categoria tem sobre a realidade de acordo

com o contexto histórico vivenciado.

12

Sobre o Estágio de Convivência abordaremos mais a frente, nesse mesmo capítulo. No tópico 1.3 A Nova Lei da Adoção: mudanças e desafios.

27

Nesse sentido, a partir da concepção do autor, o Direito vai se constituir

com uma categoria que será influenciada pelo contexto histórico e pela sociedade

em questão e como tal, podemos exemplificar com o próprio instituto da adoção,

que, enquanto uma prática regulamentada pelo Direito, teve sua regulamentação,

transformações e desenvolvimento ao longo de sua história, de acordo com as

características de cada contexto vivenciado. Assim, observamos que o Direito se

apresenta enquanto categoria histórica, à medida que traz enfoques e

direcionamentos abrangentes à sociedade a qual está sendo aplicado. É nesse

sentido que

Assim, para Lukács, ao se indagar sobre o ‘lugar’ do Direito na práxis social, observa que ele tem importante papel nas esferas relacionadas à reprodução social, configurando-se como uma mediação que é própria da sociedade – e que somente aí se desenvolve enquanto tal com toda a sua plenitude. Ou seja, embora em tempos pretéritos tenham existido variadas formas de regulação dos conflitos humanos, bem como de ‘reparação de dados’, e de responsabilização daqueles que os causaram a alguém ou a alguma coisa, aquilo que realmente pode ser denominado com a expressão direito só surge em determinado estágio da trajetória do ser social ao longo da história e quando estão presentes outras determinações peculiares aquele estágio (BORGIANNI, 2013, p. 418)

13

E influenciado pela própria estrutura social é que o Direito passa a se

adequar e se regular conforme o contexto vivenciado. Assim sendo, a respeito da

sociedade pós-moderna podemos considerar que foram imbricadas a partir da crise

do capitalismo na década de 1970, em que o capital passa a ser um determinante

para as ações do Estado.

Para Tonet (2005), a cultura pós-moderna se caracteriza por fazer "crítica

à razão, ao progresso, à emancipação, ao sujeito, alegando que essas categorias

são nada mais que ilusões das quais devemos desfazer-nos" (TONET, 2005). Para o

autor, passam a serem priorizadas as questões econômicas, oriundas do capital,

sendo deixada de lado a categoria do ser social e individual. O homem, assim como

seus sonhos, desejos, anseios, progresso não é mais priorizado nessa sociedade,

mas passa a ser tomado como um sujeito ativo e um operário para o processo de

emancipação da ordem do capital.

Nessa perspectiva, conforme o autor a pós-modernidade possui entre

suas principais metas, a disseminação de uma onda de aversão às ideias

13

Disponível no artigo “Para entender o Serviço Social na área sociojurídica – Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 115, p. 407 - 442, jul./set. 2013.

28

universalistas, transformando-as em particularismos que se materializam nas

chamadas “novas identidades”, de modo a restringir as políticas em “específicas”

para esses sujeitos que passam a serem vistos como categorias, a exemplo, para a

mulher, para o idoso, para o negro, para as crianças e os adolescentes, etc.

Em nossa sociedade, esse processo se constituiu como algo evidente,

sendo a partir dessa conjunturaque é promulgada a Constituição de 1988, intitulada

como a Constituição Cidadã, elaborada em um contexto de reivindicações sociais e

da busca da garantia de direitos dos cidadãos.

Assim, já no art. 1º da Constituição Federal, são enunciados os

fundamentos da nossa República Federativa do Brasil, dentre outros, o fundamento

da cidadania e da dignidade da pessoa humana. Para serem materializados esses

fundamentos foram criados capítulos específicos sobre os direitos e garantias

fundamentais da pessoa humana, essenciais para manutenção da vida em

sociedade (FERREIRA, 2010).

A partir da Constituição de 1988, podemos observar também um avanço

no que diz respeito aos direitos das crianças e adolescentes, já que com essa

legislação, esse contingente da população foi de fato reconhecido enquanto

cidadãos e possuidores de direitos. Se constituindo como o início do processo para o

aprimoramento de um ordenamento jurídico específico nessa seara, o Estatuto da

Criança e do Adolescente, promulgado com a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990.

Também é com base na Constituição de 1988 é que as crianças e

adolescentes passaram a serem vistos como sujeitos de direitos e como prioridade

do Estado. Sendo dever da família e de toda a sociedade protegê-las e zelar por

seus direitos, constituindo-se uma doutrina de Proteção Integral.

Esse ordenamento jurídico enfoca a importância e responsabilidade da

família e o direito que a criança e o adolescente têm a permanecer inserida no seu

contexto familiar e comunitário. Sendo importante destacar a importância da família

diante dessa temática. De tal modo, a família

“[...] constitui-se como um espaço altamente complexo. É construída e reconstruída histórica e cotidianamente através das relações e negociações que são estabelecidas entre seus membros, com [...] outras esferas da sociedade [...]” (MIOTO, 2010, p. 168).

Destarte, a Constituição Federal ao reconhecer essa importância,

estabelece no seu artigo sexto, “São direitos sociais a educação, a saúde, o

29

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição” (BRASIL, 1988).

E, no artigo 226, a Constituição Federal estabelece a família como base

da sociedade, devendo ter proteção especial do Estado. Destacando-se também

nesse mesmo artigo, algumas organizações familiares, dentre elas, a família

tradicional, que é formada a partir do casamento civil e religioso.

Quanto mais a entidade familiar é reconfigurada na sociedade

contemporânea, mais passa a garantir para os seus membros o desenvolvimento

pleno e a concretude de uma vida digna que são assegurados através da

Constituição Federal.

No intuito de estabelecer essas garantias constitucionais, é formulado o

ECA, que veio não como um novo ordenamento jurídico, mas para ratificar e

reconhecer as crianças e adolescentes enquanto sujeitos de direitos, vindo a

regulamentar os que a Constituição especificava sobre esses sujeitos em seu texto

(FERREIRA, 2010). Do mesmo modo, esse ordenamento jurídico é embasado a

partir do que rege o artigo 227 da Constituição Federal, qual seja:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e àconvivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

O artigo supracitado define de forma criteriosa os deveres da família e do

Estado no que diz respeito a assegurar os direitos que assistem às crianças aos

adolescentes. O que nos faz defender que lugar de criança é no seio da família e

que essa condição é primordial para o desenvolvimento pleno e saudável.

Portanto, considerando a intrínseca importância da conjuntura familiar

para o desenvolvimento da criança e adolescente é que no Brasil, a adoção passa a

ser regulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n.º 8.069, de 13

de julho de 1990, baseado no artigo supracitado, 227 da Constituição Federal.

Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1991,

foram sancionadas importantes modificações nos procedimentos da Adoção,

estabelece especificamente no seu artigo 19 que toda criança ou adolescente tenha

30

direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em

família substituta14, assegurando a convivência familiar e comunitária.

Com base no Estatuto, são estabelecidas as regras para o processo de

adoção no Brasil. Sendo a partir desse ordenamento que o processo de adoção tem

sua centralidade nos interesses do adotado, e a adoção passa a se configurar como

uma medida protetiva de colocação da criança ou adolescente em família substituta,

estabelecendo o parentesco civil entre adotante e adotado. Porém, é importante

considerar que a colocação em família substituta se constitui como medida de

caráter excepcional, devendo ser comprovada a sua necessidade considerando que

deve ser priorizado o direito da criança ou adolescente de permanecer no seio da

sua família natural.

Conforme traz os artigos 39 a 52 dessa Lei, subseção IV, que tratam

sobre a adoção, esta só ocorrerá quando todos os recursos estiverem esgotados,

impossibilitando a permanência da criança ou do adolescente em sua família natural.

Portanto, de acordo com a Cartilha de adoção:

Do ponto de vista jurídico, a adoção é um procedimento legal que consiste em transferir todos os direitos e deveres de pais biológicos para uma família substituta, conferindo para crianças/adolescentes todos os direitos e deveres de filho, quando e somente quando forem esgotados todos os recursos para que a convivência com a família original seja mantida” (AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros. Cartilha Passo a Passo. Adoção de Crianças e Adolescentes no Brasil. Brasília, 2007, p. 9)

15.

A respeito das atuais regras, a idade do adotando deve ser no máximo 18

anos, na data do pedido da adoção, salvo nos casos em que já esteja sob a guarda

ou tutela do adotante. De acordo com o ECA, o(s) adotante(s) deve(m) ser

maior(es) de 21 anos e pelo menos 16 anos mais velhos que o(s) adotando(s),

independente do estado civil, o Estatuto estabelece também que ninguém pode ser

adotado por duas pessoas, exceto quando forem marido e mulher ou quando

14

De acordo com a Cartilha de Adoção elaborada pela Associação Brasileira dos Magistrados, traz o conceito de família substituta na página 10, definindo-a como: “a família que passa a substituir a família biológica de uma criança ou um adolescente, quando esta não pode, não consegue ou não quer cuidar desta criança. A família substituta pode ocupar o papel da família biológica de forma efetiva e permanente, como na adoção, ou de forma eventual, transitória e não definitiva, como na guarda e na tutela. A família substituta pode ser constituída por qualquer pessoa maior de 18 anos, de qualquer estado civil, e não precisa obrigatoriamente ter parentesco com a criança”. Disponível em:<https://www.amb.com.br/mudeumdestino/docs/Manual%20de%20adocao.pdf>. Acesso em: 24 out. 2013, 17:50:00. 15

Disponível em: <https://www.amb.com.br/mudeumdestino/docs/Manual%20de%20adocao.pdf>. Acesso em: 24 out. 2013, 17:50:00.

31

viverem em união estável. E ainda, nesse caso, pelo menos um dos adotantes deve

ser maior de 18 anos e ser comprovada a estabilidade da família. Casais divorciados

ou judicialmente separados podem adotar em conjunto, desde que a convivência

com a criança ou adolescente tenha se iniciado ainda quando viviam em matrimônio

e que ambos estejam de acordo sobre a guarda e sobre as visitas ao adotando. Os

avós ou irmãos da criança ou do adolescente não podem adotá-lo. O cônjuge ou

concubino poderá adotar o filho do outro, mantendo-se os vínculos de filiação entre o

adotado e o cônjuge/concubino do adotante e os respectivos parentes.

A adoção, de acordo com o ECA tem caráter irrevogável e dá ao adotado

os mesmos direitos sucessórios de um filho natural. No registro civil do adotado,

constarão os nomes dos pais adotivos e seus ascendentes e nenhuma observação

sobre a origem da adoção poderá contar nas certidões.

A respeito dos procedimentos da Adoção, atualmente, os pretendentes

devem requerê-la através de inscrição no setor de Cadastro de Adoção, que também

funciona no Juizado da Infância e Juventude. Após a inscrição e análise da

documentação dos postulantes, o processo será precedido por uma determinação

judicial para que seja feita uma avaliação psicossocial, que é realizada pelos

técnicos, assistentes sociais e psicólogos, procedimentos que abordaremos adiante.

Simões ressalta sobre

O procedimento de adoção depende de uma verificação previa dos requisitos formais e materiais do pretendente a adoção. Este deve recorrer previamente sua habilitação, na Vara da Infância e Juventude competente, seguida de entrevistas com psicólogo e o assistente social e visitas domiciliares, os quais emitem um laudo sobre habilidade e o perfil do adotando desejado, seguindo de um parecer do Ministério Público. Segue- se a decisão do juiz, concedendo ou não a habilitação, cuja formalização é a entrega do Certificado de Habilitação (SIMÕES, 2009, p. 230).

Nesse sentido, conforme Ferreira (2010), a atuação do Assistente Social

frente a esse processo irá se basear no intuito de oferecer suporte à família

pretendente à adoção, orientando-a sobre os trâmites do processo judicial,

encaminhando-a a grupos de adoção, indicando filmes, livros sobre o tema e

avaliando se a família está apta a assumir oscuidados de um filho através do referido

processo.

Quanto a isso, concordamos com o autor supracitado, quando afirma que

podemos considerar que o Assistente Social tem sua prática específica, a de

oferecer subsídios ao estudo de caso como um todo, dentre as diversas atribuições

32

que lhe são conferidas mediante pareceres sociais escritos ou verbalmente em

audiência em Juízo, assim como desenvolver trabalhos de aconselhamento,

orientação, encaminhamentos, e outros, tudo sob a imediata subordinação à

autoridade, porém sendo assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico -

social, tudo respaldado no ECA que diz :

Compete à equipe Inter profissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico (BRASIL, 1990).

Para Ferreira (2010), no Estudo Social que é realizado, o profissional

deve se aproximar da vida pessoal dos adotantes, conhecer sua realidade levando

em conta o histórico de vida desde a infância, seu processo de socialização, os

valores que traz consigo, a dinâmica familiar e o contexto social que está inserido.

Sendo, portanto, algo significativo, todo o processo de identificação dos

pretendentes à adoção, uma vez irá se constituir como uma decisão irrevogável e

decisiva na vida dos envolvidos. No entanto, mesmo com os avanços em alguns

setores sociais, principalmente no campo teórico e legal, percebemos a forma como

a criança e o adolescente ainda são vistos perante a sociedade, necessitando,

assim, de um novo olhar, considerando estes enquanto sujeitos de direitos.

1.3 A Nova Lei da Adoção: Mudanças e Desafios

Desde a sua criação há 24 anos, o Estatuto da Criança e do Adolescente

sofreu a sua primeira e grande alteração, com a modificação de 227 artigos, através

da Lei n.º 12.010, de 03 de agosto de 2009, intitulada “Lei Nacional da Adoção”. De

acordo com Ferreira (2010), as mudanças proporcionadas pelos seus artigos

procuram acompanhar a evolução do instituto da Adoção, atribuindo-lhe um novo

perfil pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e unificando posicionamentos

referentes ao instituto. Tais modificações decorreram de inovações legislativas e

terminológicas.

A Nova Lei da Adoção traz um enfoque diferenciado sobre as

competências de juízes, promotores e pais biológicos. Conforme Bittencourt (2010),

esta lei trata da situação do acolhimento da criança, da reintegração familiar, dos

33

papéis de cada ente responsável pelo processo, a exemplo da magistratura e do

Ministério Público, tratando também da tentativa de facilitação do processo e da

adoção propriamente dita.

Além disso, é considerada um avanço, de acordo com o autor

anteriormente citado, uma vez que estabelece prazos e define as competências de

forma mais clara para aqueles que ocupam funções determinantes no sistema de

garantia de direitos.

Segundo Ferreira (2010), com a nova lei, a adoção de menores de 18

anos, e excepcionalmente até 21 anos de idade, voltou a ser regulamentada pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo esse um aspecto positivo das

alterações, por unificar novamente a legislação sobre adoção, incorporando essas

mudanças ao estatuto, deixando de se buscar uma legislação específica para o

assunto. Ainda segundo Ferreira (2010),

em síntese, constata-se hoje, a existência de uma só espécie de adoção, cuja regulamentação varia de acordo com a legislação: a) Para adotados menores de 18 anos (excepcionalmente de 18 anos a 21 anos de idade) regulada pelo ECA; b) E adoção para maiores de 18 anos – Adoção civil – tratada no Código Civil, com procedimento previsto no Código de Processo Civil

(FERREIRA, 2010, p. 33).

A lei em questão traz essencialmente a premissa de manter a criança ou

adolescente junto à sua família natural, estabelecendo regras para que isso seja

efetivado. Assim, a retirada dessa criança ou adolescente do seio da família natural

deve se dá de forma excepcional e temporária quando essa estrutura familiar não

lhes oferecer condições adequadas ao seu desenvolvimento físico, intelectual ou

moral, sendo revogada essa retirada após a reestruturação familiar e, caso isso não

seja possível, a criança ou adolescente será encaminhado para adoção.

Diante das alterações introduzidas por essa lei, há uma nova designação

relativa às famílias. Passando a considerar a composição básica e dominante do

grupo familiar em si, a exemplo a composição familiar obtida por meio de pais e

filhos; avós e netos; tios e sobrinhos ou aquela pessoa a qual tem a criança como

filho, existindo laços de afinidade e afetividade entre ambos.

Com essas alterações, o ECA dispõe de uma classificação de três

concepções da família, sendo elas: família natural (biológica ou consaguínea, família

extensa ou ampliada e família substituta).

34

Sendo definida como família natural “a comunidade formada pelos pais ou

qualquer deles e seus descendentes” (BRASIL, 1990, Art. 25 do ECA), sendo

também chamado de família monoparental.

De acordo com Rossato (2013), a expressão natural tem o único intuito de

diferenciar esse grupo familiar da família substituta, não havendo qualquer

diferenciação sob o ponto de vista do vínculo existente entre os pais. Portanto, a

família natural possui sua diferenciação considerando esta como o lugar mais

propício para a manutenção da criança e do adolescente, cabendo ao Estado

fornecer subsídios econômicos e sociais para estes permanecerem sob a família

natural. Já o parágrafo único do artigo 25 inclui um novo conceito de família,

denominada família extensa, assim definida:

entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (BRASIL, 1990, parágrafo incluído pela Lei n.º 12.010, de 29 de julho de 2009).

De acordo com essa conceituação de família extensa presente no ECA,

concordamos com Ferreira (2010), quando o autor afirma perceber um

amadurecimento quanto às novas formas de relações que, historicamente, foram

sendo construídas, como também foram consideradas as especificidades e

individualidades dos sujeitos envolvidos, neste caso, crianças e adolescentes, com o

objetivo único de assegurar o respeito e a dignidade enquanto possuidores de

direitos.

No tocante à família substituta, conforme o art. 28 do Estatuto da Criança

e do Adolescente é formada em razão da guarda, tutela e adoção, sendo assim

definidas, conforme aborda Ferreira (2010) para as definições que se seguem.

A Guarda, nos termos do artigo 33 que estabelece: “A guarda obriga a

prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente,

conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais”

(BRASIL, 1990, Art. 33 do ECA).

A respeito da Tutela, a Constituição Federal estabelece que: “A Tutela

será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos”

(BRASIL, 1990, art. 36 do ECA).

35

Adoção, considerada a terceira medida de colocação em família

substituta, consistindo em uma “medida excepcional e irrevogável, à qual se deve

ocorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou

adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25

desta Lei” (BRASIL, 1990, art. 39, §1º, ECA).

Outros dispositivos também foram implantados, a exemplo os que dizem

respeito ao direito à vida e à saúde, reafirmando garantias às gestantes e atribuindo

ao poder público a obrigatoriedade de dar a assistência às mães ou gestantes que

expressem o desejo de entregar seu filho à adoção devendo encaminhar a mesma

ao Juizado da Infância e Juventude.

Tendo sido modificadas também as medidas de proteção como a inclusão

em programas de acolhimento institucional, sendo definidas também as atribuições

do Conselho Tutelar. A lei altera também a designação abrigo, passando para

acolhimento institucional, criando também a figura do acolhimento familiar. A respeito

do acolhimento institucional, a lei determina que juízes avaliem a permanência da

criança a cada seis meses, não podendo ultrapassar dois anos a permanência

dessas crianças nessas instituições.

Ainda conforme Ferreira (2010), outra questão que é considerada como

um avanço é a obrigatoriedade do estágio de convivência16, haja vista a

necessidade de estabelecer vínculos entre o adotado e o adotando, tendo apenas

uma exceção salvo quando as pessoas já tenham a guarda com tempo suficiente

para avaliar o vínculo afetivo. No caso de estrangeiro, esse estágio de convivência

será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e deve ocorrer no Brasil.

Sendo importante mencionar, para Ferreira (2010), o reconhecimento da

necessidade e importância da equipe interprofissional na preparação gradativa e no

acompanhamento da inserção da criança e do adolescente na família substituta,

conforme traz o art. 28 §5º do ECA:

A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência família.

16

Conforme Ferreira (2010), o estágio de convivência é um período de tempo em que se avalia a adaptação entre adotante e adotado e onde se concretiza a disposição de adotar e ser adotado (FERREIRA, 2010, p. 116).

36

A respeito do perfil dos adotantes, conforme o ECA, também é alterado

passando a ser: pessoas que sejam maiores de 18 anos, de qualquer estado civil,

para a adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados ou vivam

em união estável, devendo ser comprovada a estabilidade familiar e os divorciados

ou ex-companheiros podem adotar juntos, desde que seja comprovada a afinidade

entre os dois com a criança a ser adotada. Nesse caso, a guarda deve ser

compartilhada, previsto no art. 42, §§4º e 5º do estatuto.

Ferreira (2010) destaca outra alteração percebida, que consiste na

adoção de grupo de irmãos, conforme o art. 28, §4º o qual como regra geral que os

grupos de irmãos deverão ser colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma

família substituta, a fim de evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. A

exceção é que podem ser colocados em famílias diversas, desde que comprovada a

existência de risco de abuso ou outra situação que justifique a excepcionalidade.

O autor destaca ainda uma importante alteração trazida com a lei de

adoção, diz respeito à oitiva da criança e do adolescente, incluída pelo art. 28, §1º,

que afirma que a equipe interprofissional deve ouvir, previamente, a criança ou o

adolescente para colocação em família substituta e, em se tratando de adolescente,

este deve expressar o seu consentimento em audiência, perante autoridade

judiciária, conforme §2º desse mesmo artigo.

No artigo 50, §1º ao §14º, o Estatuto traz a regulamentação do Cadastro

dos pretendentes à adoção, o qual cria uma preparação psicossocial e jurídica, que

deve ser orientada pela equipe técnica do Juizado da Infância e da juventude para

as pessoas que querem adotar.

Diante de tais alterações incluídas nesse instituto, o procedimento para

adoção no Brasil passa a ser mediante ação judicial. Como esclarece Ferreira (2010)

a respeito dos procedimentos para adoção, o primeiro passo consiste em manifestar

o desejo de adotar através da informação ao Juizado da Infância e Juventude,

através do qual receberá as informações necessárias referentes a tal processo.

Os candidatos então devem requerer a sua inscrição no Cadastro de

Adotantes, devendo apresentar uma série de documentos, entre eles: documentos

pessoais (RG e CPF); certidões de casamento ou nascimento ou ainda declaração

de união estável; comprovante de residência e de rendimentos ou equivalentes;

atestado médico que comprove sanidade física e mental; atestado de idoneidade;

além de certidões cíveis e criminais, conforme disposto no art. 197-A do ECA.

37

Devendo também preencher formulário específico no qual devem ser

mencionadas questões quanto à faixa etária, cor, raça, sexo, etc. da criança ou

adolescente que pretendem adotar.

Depois de reunida toda documentação comprobatória, é iniciado o

processo de habilitação à adoção. Os candidatos irão participar de um Curso de

preparação psicossocial e jurídico para adoção, o qual é obrigatório, conforme já

mencionado pelo dispositivo do ECA.

Após a participação no curso, o candidato passará por um processo de

avaliação psicossocial por meio de entrevistas individuais ou do casal, bem como

por visitas domiciliares que serão realizadas pela equipe interprofissional. Na

ocasião, serão avaliadas as opiniões, expectativas tanto dos requerentes como dos

membros da família.

Concluído esse processo, a equipe técnica interprofissional emitirá um

laudo, que será também emitido para o Ministério Público para que também seja

dado parecer e este documento é encaminhado para apreciação do juiz. Esta

autoridade irá deferir ou não a sentença à habilitação do(s) pretendente(s) à adoção.

Tendo o pedido de habilitação deferido, o requerente terá seu nome vinculado ao

Cadastro Nacional de Adoção (CNA)17, conforme o art. 50 do ECA.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o CNA18 é um sistema

de informações, que consolida os dados de todas as Varas da Infância e da

Juventude referentes a crianças e adolescentes em condições de serem adotados e

a pretendentes habilitados à adoção.

Ao centralizar e cruzar informações, o sistema permite a aproximação entre

crianças que aguardam por uma família em abrigos brasileiros e pessoas de todos

os Estados que tentam uma adoção. Para o CNJ, o sistema objetiva reduzir a

burocracia do processo, pois uma pessoa considerada apta à adoção em sua

comarca (área jurisdicional que abrange um ou mais municípios) ficará habilitada a

adotar em qualquer outro lugar do país.

Assim, podemos observar que muitas foram as alterações trazidas para o

processo de adoção com o ECA e a Lei de adoção de 2009. Dentre essas

17

A respeito do Cadastro Nacional de Adoção, estabelece o ECA no art. 50: a autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção. 18

Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/sistemas/infancia-e-juventude/20530-cadastro-nacional-de-adocao-cna>. Acesso em: 11 jul. 2014, 00:34:00.

38

mudanças, conforme já sinalizado, temos a inclusão de uma equipe interprofissional

que será responsável pela intervenção social e psicológica no processo de adoção.

Nesse sentido, conforme Fávero (2011), destacamos entre outras categorias

profissionais, o Serviço Social, que passa a atuar mais ativamente, vindo a firmar

sua atuação profissional também nessa seara.

39

2 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO

Conforme Ferreira (2010), o advento do Estatuto da Criança e do

Adolescente se apresentou como um avanço em legislação voltada para esse

público, bem como representou um salto de qualidade mudando substancialmente

como era encarado o problema da criança e do adolescente. Trazendo também um

novo enfoque para uma camada de profissionais que tratam diretamente para a

busca e garantir de direitos desse público.

Uma dessas categorias profissionais que podemos exemplificar, a qual

nos interessa, é a dos Assistentes Sociais, categoria essa cujo ECA revestiu de

importância a prática profissional a partir desse ordenamento jurídico, uma vez que,

conforme Ferreira (2010) antes da vigência do ECA, os procedimentos denominados

de sindicâncias eram realizadas em ações denominadas sociais, sem um

aprofundamento ou qualquer análise das questões levantadas e eram feitas por

pessoas leigas, como oficiais, voluntários, sem qualquer qualificação técnica para

esse fim.

Hoje, com o advento do ECA e da Nova Lei de Adoção, a realidade é

outra. A Justiça da Infância e da Juventude proporcionou uma avaliação mais

adequada de todos os envolvidos no processo, de forma a contemplar todos os

segmentos que diretamente devem atuar para se alcançar o que melhor atenda aos

interesses da criança e do adolescente.

De tal modo, o presente capítulo trará uma abordagem de uma dessas

categorias profissionais, os quais passaram a fazer parte do processo de adoção, de

forma legítima e pautada nos preceitos que regem a sua competência profissional, a

respeito o Serviço Social. Para tanto, inicialmente apresentaremos o contexto

histórico da profissão no Brasil, discutindo como a profissão se desenvolveu e quais

suas premissas. Apresentando, logo em seguida, o Serviço Social contemporâneo

na adoção de crianças e adolescentes e como a profissão foi incluída dentro dessa

prática. Expondo, por fim, como se dá ainstrumentalidade da profissão no processo

de Adoção.

Essas abordagens se constituem como primordial para a pesquisa, visto

que, por meio delas, poderemos compreender como se constitui a atuação

profissional do Assistente Social nesse processo considerado de suma importância e

decisório na vida de crianças e adolescentes.

40

2.1 Histórico da Profissão

No intuito de compreendermos o objeto de estudo em questão, é

importante realizarmos uma reflexão teórica do Serviço Social e sua atuação.

Yasbek et al (2008) assinalam que a profissão do Serviço Social com

gênese na Europa tem sua emergência na sociedade industrializada e associação

com a intervenção do Estado na regulação das relações sociais. Estando em

conformidade com esse argumento,

O Serviço Social como profissão tem, pois, a marca do capitalismo e do conjunto de variáveis (alienação, contradição e antagonismo) [...] já surge, portanto, no cenário histórico com uma identidade atribuída, que expressava uma síntese das práticas sociais pré-capitalistas [...] importante instrumento da burguesia, que tratou de imediato de consolidar sua identidade atribuída, afastando-o da trama das relações sociais, do espaço social mais amplo da luta de classe e das contradições que a engendram e são por elas engendradas (MARTINELLI, 2011, pp. 66-67).

No Brasil, o Serviço Social foi originado a partir da emergente sociedade

urbano-industrial nos anos 1930, em pleno desenvolvimento do capitalismo, período

marcado por conflitos entre as classes, bem como pelo aumento da classe operária

nas grandes cidades e pelo aumento dos movimentos de luta em defesa dos

trabalhadores explorados, pelos direitos sociais e pela cidadania (YASBEK et.al.,

2008).

De acordo com Castro (1984), os elementos que mais colaboraram para o

surgimento do Serviço Social são originados da ação católica, que defendia uma

visão messiânica, a recristianização da sociedade através de um projeto de reforma

social.

Dessa forma, em sua gênese, a prática profissional esteve distanciada

das relações sociais e mais próxima da ideia de caridade. Entretanto, atualmente

após mudanças ocorridas no interior da profissão e guiados por uma nova

concepção teórico-metodológica, desconstrói-se esse modelo de prática

(MARTINELLI, 2011).

É inegável que a industrialização contribuiu efetivamente para a

profissionalização do Serviço Social e propiciou sua institucionalização. Como nova

estratégia, o Estado considerando-se como “defensor dos interesses” das classes

sociais baixas e com a missão de resgatar o que chama de “harmonia social”, isto é,

controlar a insatisfação dos trabalhadores, responsabilizou-se em cuidar da

41

reprodução de sua força de trabalho, aliou-se à burguesia e à Igreja Católica e,

“dividiu a tarefa de circunscrever a hegemonia do poder ao restrito âmbito da classe

dominante” (MARTINELLI, 2011, p. 122).

Conforme essa mesma autora, por meio do Serviço Social, o Estado

buscava “controlar o nível de tensão da sociedade”, ou seja, ficava a cargo do

Serviço Social a atuação profissional que vislumbrasse uma constante mediação e

correlação de forças, estando de um lado a luta de trabalhadores e outros

segmentos da sociedade excluídos, insatisfeitos e também vítimas de exploração de

sua força de trabalho que era exercida pelo capital; de outro lado, a classe

dominante a qual, além da apropriação do trabalho, é responsável pela alienação

dos indivíduos, não permitindo uma interpretação da real totalidade que se configura

na exploração e coisificação do indivíduo, características do próprio capitalismo.

Castro (1984) confirma que o processo de imposição da lógica da

acumulação capitalista é o eixo em torno do qual se articulam e organizam as

funções do Estado e a luta das classes sociais.

O Assistente Social, nesse cenário inicial, teve a missão de realizar

atividades higienistas, docilizar o trabalhador na redução do absenteísmo, acalmar

os ânimos e com isso contribuir para manter a ordem e consequentemente atender à

“questão Social” que é a matéria-prima que justifica a legitimação do campo de

atuação profissional do assistente social na divisão social e técnica do trabalho

(YASBEK et al., 2009). Ou seja, o papel do Assistente Social era de procurar

adequar a classe trabalhadora às novas condições de vida, mas não por uma

demanda espontânea dessa classe, mas por uma imposição da burguesia e da

Igreja Católica objetivando neutralizar as ações da classe trabalhadora.

Nesse sentido, o Serviço Social no decorrer de sua trajetória passa a

construir seu referencial teórico, procurando se distanciar da Igreja com o intuito de

atender as demandas profissionais, bem como atender as requisições do Estado.

É na década de 1960, a partir do Movimento de Reconceituação19 que a

profissão buscou romper com as práticas conservadoras e direcionar seu foco

profissional para o interesse daqueles que participavam da sociedade através do

trabalho, a classe trabalhadora.

19

O Movimento de Reconceituação do Serviço Social apresentava a proposta de romper com a tendência funcionalista de reforço ao conservadorismo, em busca de um referencial que desse uma nova fundamentação teórico-metodológica à profissão, rompendo então com o modelo norte-americano até então hegemônico.

42

No Brasil, conforme um dos autores que pesquisaram o Movimento de

Reconceituação, José Paulo Neto20, o movimento assumiu três direções: a primeira,

uma perspectiva modernizadora, a segunda, uma perspectiva de reatualização do

conservadorismo e a terceira, uma perspectiva de ruptura com o Serviço Social

tradicional.

Esse processo de reconceituação do Serviço Social permitiu à profissão

enfrentar a formação tecnocrática conservadora e no período de transição da

década de 1970 para 1980 se processam as bases que servirão para formulação do

novo projeto ético-político profissional e para vivenciar as mudanças que estavam

por vir para a categoria profissional.

2.2 O Serviço Social Contemporâneo na Adoção de Crianças e Adolescentes

De acordo com Iamamoto (2012), a década de 1980 se constituiu como

um período extremamente fértil para a definição dos rumos técnico-acadêmico e

político para o Serviço Social. Nessa perspectiva, as mudanças ocorridas na

profissão foram embasadas no intuito de acompanhar as transformações

econômicas, políticas e sociais verificadas no contexto contemporâneo, bem como

da própria estrutura da conjuntura do Estado e da realidade brasileira. Igualmente,

o Serviço Social deu um salto de qualidade em sua autoqualificação na sociedade [...]. As diretrizes norteadoras desse projeto de desdobraram no Código de Ética Profissional do Assistente Social, de 1993, na Lei da Regulamentação da Profissão de Serviço Social

21 e, hoje, na nova Proposta

de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (IAMAMOTO, 2012, pp. 51-52).

Acrescenta também, a referida autora, que os Assistentes Sociais

ingressaram, nos anos 1990, como uma categoria que também é pesquisadora,

sendo reconhecida pelas agências de fomento, tendo também amadurecido suas

formas de representação político-corporativas, passando a contar com órgãos de

representação acadêmica e profissional reconhecidos e legitimados (como

CFESS/CRESS e ABEPSS)22.

20

Consultar NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1991. 21

Lei 8662/93 que regulamenta a profissão de Serviço Social. 22

Conselho Federal de Serviço Social, Conselho Regional de Serviço Social e Associação Brasileira

43

É nesse panorama que estão os profissionais de Serviço Social,

viabilizadores de direitos, que chamam para si a responsabilidade de uma

conscientização política e uma transformação societária.

Yasbek et al. (2009) afirma que o Assistente Social ocupa posição na

divisão social do trabalho, cujo campo de atuação resulta de “relações históricas,

sociais, políticas e econômicas que caracterizam, definem seu objeto de estudo e

seus usuários” (YASBEK et al., 2009, p. 28).

Daí em diante, o Assistente Social é desafiado a compreender e a intervir

nas novas configurações da questão social, considerando que seu objeto de estudo

e intervenção fundamenta-se na realidade social e tem como matéria prima as

múltiplas expressões dessa questão social. Assim, o Assistente Social inserido

nesse contexto contraditório, com prática de ordem interventiva, atua na dinâmica

social construída de uma dimensão sócio-histórica e política.

Para Fávero (2011), nos anos que se seguiram, houve uma expansão do

Serviço Social, influenciado por essas contradições do processo societário urbano-

industrial.

Sua consolidação como prática institucionalizada se deu à medida que o Estado avançava em seu poder de intervenção no meio social, aumentando o número de instituições estatais. Conforme salienta Iamamoto (1982, p. 83), “[...] o Estado passa a ser, num certo lapso de tempo, uma das molas propulsoras e incentivadoras desse tipo de qualificação técnica, ampliando seu campo de trabalho, conforme estratégias estabelecidas pelos setores dominantes para o enfrentamento da questão social, consolidadas em medidas de política social (FÁVERO, 2011, p. 39).

No âmbito do Judiciário, o Serviço Social, ainda que de forma incipiente,

inicialmente voluntária e posteriormente formalmente, deu sua contribuição a partir

da década de 1940 em São Paulo, com a realização de atividades em instituições

públicas, a exemplo do Juizado de Menores. Conforme a autora,

Nesse período os problemas da infância, via de regra encarados como ‘caso de polícia’, incomodavam a sociedade, que exigia ações concretas com vistas ao seu enfrentamento. Visando influenciar no controle dos chamados ‘problemas sociais’, a normatização jurídica foi espaço privilegiado para tal, sobretudo nas situações relacionadas aos menores de 18 anos de idade, quando a intervenção estava direcionada pelo formalismo e positividade da lei (FAVERO, 2011, p. 39).

de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, respectivamente.

44

No Ceará, somente em 1979, o Assistente Social passou a integrar o

corpo de profissionais no Juizado de Menores (VERAS, 1991). Somente a partir do

Estatuto da Criança e do Adolescente, o que antes era denominado Juizado de

Menores, passou a se chamar Juizado da Infância e da Juventude.

Consequentemente, para Fávero (2011), o Serviço Social ao longo de sua

trajetória no judiciário, ficou reconhecido pela necessidade de intervenção não

apenas no contexto da Justiça infanto-juvenil e das famílias, mas em diversas outras

áreas e em várias frentes e suas atribuições não estão resumidas apenas em

questões relacionadas às medidas judiciais. Nesse sentido, a autora elucida que no

âmbito do judiciário

O Assistente Social apresenta, predominantemente, objetivos e atividades relacionados à sua competência de oferecimento de subsídios para a decisão judicial por meio de estudo social e os de aconselhamento,

orientação e acompanhamento (FÁVERO, 2011, p. 101).

Para a autora, nesse âmbito, os Assistentes Sociais se deparam

constantemente com as mais concretas expressões da questão social, as quais

geram desigualdades, dificuldades e falta de acesso a direitos sociais fundamentais.

De tal modo, os objetivos e atividades dos profissionais nesse âmbito, devem estar

estreitamente vinculados aos direitos dos cidadãos envolvidos. No tocante à adoção,

em especial, essa atuação se constitui de maneira preponderante, considerando a

particularidade e a urgência que envolvem a questão, sem esquecer, sobretudo, do

cuidado que o processo requer, por envolver a defesa em prol dos direitos de

crianças e adolescentes.

2.3 A Instrumentalidade da Profissão no Processo de Adoção

Para Guerra (1999), o Serviço Social desenvolve ações instrumentais

como uma exigência da sua forma de inserção na divisão social e técnica do

trabalho e por sua alocação nos espaços sócio-ocupacionais. É a partir dessas

construções que os profissionais pautam suas ações nos processos e nas ações

com os quais de defrontam na sua intervenção profissional. Para Guerra,

A instrumentalidade do Serviço Social coloca-se não apenas como a dimensão constituinte e constitutiva da profissão mais desenvolvida, referenciada pela prática social e histórica dos sujeitos que a realizam, mas,

45

sobretudo, como campo de mediação no qual os padrões de racionalidade e as ações instrumentais se processam (GUERRA, 1999, pp. 37-38).

Nessa mesma linha de raciocínio, a autora supracitada coloca que sendo

o “fazer” do Assistente Social dado pela sua instrumentalidade, esta dimensão se

apresenta como a mais desenvolvida. Sendo, por isso, “a instrumentalidade do

Serviço Social um campo saturado de mediações [...]” (GUERRA, 1999, p. 38)

Conforme Fávero (2011), na esfera judiciária, para o âmbito da infância e

juventude, os artigos 15023 e 151 do ECA apontam para a necessidade de

assessoria de equipe interprofissional. Equipe esta que especificamente no

Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.

Conforme Ferreira (2010), o papel da equipe técnica é de identificar o

interesse dos pretendentes à adoção. Para tanto, deve lançar mão de todos os

meios disponíveis para o melhor desenvolvimento de seus trabalhos, analisando

com cautela as partes do processo (pretendentes à adoção e genitores biológicos,

quando estes forem conhecidos) e a criança ou adolescente a ser adotado, que

quando possível, deve ser entrevistado, pois sua opinião deve ser considerada,

conforme determinação legal presente no ECA, arts. 28, §1º, e 45, §2º24. Por isso,

para Ferreira

Um estudo social, ou perícia, realizado com base nestes fundamentos, possibilita a determinação do interesse da criança, ou do adolescente, auxiliando na solução jurídica que melhor atenda ao adotando, ou a que seja menos ruim para o seu desenvolvimento (FERREIRA, 2010, p. 62).

No teor da lei, não está explícito qual a área profissional deva integrar os

serviços auxiliares da Justiça da Infância e da Juventude, tratando a lei apenas de

“equipe interprofissional”. Semelhantemente, Fávero (2011) afirma que essas ações

23

Art. 150 Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude. 24

Art. 28 § 1º Sempre que possível a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitando seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações de medida, e terá sua opinião devidamente considerada. Art. 45 § 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento (BRASIL, 1990).

46

oriundas do Poder Judiciário têm solicitado cada vez mais a presença de

profissionais com formação na área social e o Serviço Social tem atuado cada vez

mais nesse sentido.

Uma das formas desse acompanhamento é através da realização do

estudo social, uma competência do Assistente Social, sendo previsto na Lei n.º

8.662/93 de 7 de junho de 1993, lei que regulamenta a profissão, se constituindo a

partir da realização de estudos “sócio-econômicos com os usuários para fins de

benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta

[...]” (FÁVERO, 2011, p. 102).

Para Ferreira (2010), o principal objetivo da equipe interprofissional é

assessorar a Justiça da Infância e da Juventude através do fornecimento de

subsídios por escrito através de laudos, ou verbalmente em audiências. Também

realizando trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento,

acompanhamento, ficando sob imediata subordinação ao Juiz. O que é confirmado

ao se afirmar que

Nos processos de adoção os técnicos são fundamentais não tanto para selecionar, mas para preparar: esclarecer, informar, instruir, educar, conscientizar, desmistificar preconceitos e estereótipos, modificar motivações, desvelar vocações, lapidar desejos [...] a maior parte das pessoas cadastradas está ansiosa para participar deste espaço de reflexão (WEBER, 1999, p. 37).

Para Ferreira (2010), então, o processo de adoção se constitui como um

dos mais importantes na área da Infância e da Juventude, por objetivar a colocação

de crianças e adolescentes em lar substituto, de maneira definitiva e irrevogável.

Dessa forma, o autor considera ser complexa a intervenção dos

profissionais diante do processo de adoção, haja visa a visão “multifocal do

problema”, ou seja, não só dos pretendentes à adoção, mas também, e

principalmente, das crianças e adolescentes que podem ser adotados e em fases

distintas no processo de adoção.

De início, apresenta-se uma fase extraprocessual, a qual se constitui

como “uma fase preliminar de preparação e inscrição das partes interessadas em

adotar (cadastro de interessados à adoção)” (FERREIRA, 2010, p. 96). Nessa fase,

também, cabe ao profissional realizar uma análise da situação da criança ou do

adolescente que porventura necessite ser colocado em lar substituto. Outra fase em

47

que observamos a prática profissional é a fase do processo de adoção propriamente

dita que,

“A intervenção técnica, no processo adotivo, tem por objetivo específico verificar se os requerentes reúnem condições sociais e psicológicas para assumir a adoção e se é caso de a criança ou o adolescente ser colocado à disposição para adoção e se é conveniente esta colocação” (FERREIRA, 2010, p. 97).

E por fim, esse acompanhamento pode ser realizado em fase

extraprocessual, através do acompanhamento às famílias, realizado após a adoção,

no intuito de superar as dificuldades e de evitar que o processo de adoção não seja

satisfatório.

Dentre os instrumentais dos Assistentes Sociais nas Varas da Infância e

Juventude para o acompanhamento de tais etapas do processo de adoção, Fávero

(2011) destaca a realização do estudo social25,elaborar investigação-diagnóstica,

laudos sociais26, perícias27, relatórios28, a partir das técnicas de entrevistas no Fórum

com os pretendentes à adoção, com as crianças individualmente ou em instituições

de acolhimento, bem como realizar visitas domiciliares ou institucionais de

observação, realizar análises de documentações, de informações e do contato com

entidades ou órgãos que promovam o bem-estar social, conforme a solicitação

demande.

25

O estudo social é um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto da intervenção profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos e culturais (FÁVERO, 2011, pp.42-43). 26

O laudo é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social. [...] Enfim, o laudo oferece elementos de base social para a formação de um juízo e tomada de decisão que envolve direitos fundamentais e sociais (FÁVERO, 2011, pp.45-46). 27

A perícia, no âmbito do judiciário, diz respeito a uma avaliação, exame ou vistoria, solicitada ou determinada sempre que a situação exigir um parecer técnico ou científico de uma determinada área do conhecimento, que contribua para o juiz formar a sua convicção para a tomada de decisão. A perícia, quando solicitada um profissional de Serviço Social, é chamada de perícia social, recebendo esta denominação por se tratar de estudo e parecer cuja finalidade é subsidiar uma decisão, via de regra, judicial. [...] Assim, a perícia é o estudo social, realizado com base nos fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos, próprios do Serviço Social, e com finalidades relacionadas a avaliações e julgamentos (FÁVERO, 2011, pp. 43-44). 28

O relatório social, como documento específico elaborado por assistente social, se traduz na apresentação descritiva e interpretativa de uma situação ou expressão da questão social, enquanto objeto da intervenção desse profissional, no seu cotidiano laborativo. [...]. No sistema judiciário, [...] se dá com a finalidade de informar, esclarecer, subsidiar, documentar um autoprocessual relacionado a alguma medida protetiva ou socioeducativa [...], ou enquanto parte de registros a serem utilizados para a elaboração de um laudo ou parecer. Sua apresentação se dá com maior ou menor nível de detalhamento, a depender de sua finalidade [...] (FÁVERO, 2011, pp. 44-45).

48

Sobre esses “instrumentos técnico-operativos são componentes

intrínsecos à intervenção dos assistentes sociais e psicólogos”, pois estes, para a

efetivação do trabalho, acionam esses instrumentais que mediam e potencializam

suas ações. Por isso, segundo Fávero (2011), o uso adequado desses instrumentos,

possibilita o conhecimento dos sujeitos atendidos, possibilitando de forma segura a

intervenção do profissional frente às demandas judiciárias em questão.

Já no período que antecede a adoção, entretanto, uma das novidades

introduzidas pela Nova Lei da Adoção, refere-se à preparação psicossocial e jurídica

dos requerentes à adoção, a ser orientada pela equipe técnica do Juizado da

Infância e da Juventude, conforme previsto no artigo 50, §3º, do ECA29. Para

Ferreira (2010), “a ideia dessa preparação psicossocial decorre da necessidade de

se criar um espaço de discussão e orientação referente aos questionamentos e

temores envolvidos na adoção” (FERREIRA, 2010, p. 110).

Esse trabalho em por finalidade estimular os pretendentes a refletir sobre

os aspectos psicossociais e legais relacionados à adoção. Nesse sentido, conforme

Ferreira (2010), nesses encontros geralmente abordados temas como: apresentação

dos participantes e do conteúdo a serem desenvolvidos, leitura de textos

motivacionais ou filmes, abordagem de temáticas como revelação, desenvolvimento

de criança e adolescente, a adoção e o contexto social, aspectos legais referentes à

adoção, por fim os comentários finais e encerramento.

Nessa etapa da preparação para adoção, cabe ao Assistente Social, além

da realização do curso preparatório, a realização de sindicâncias e visitas

domiciliares, no intuito de ter uma proximidade e conhecimento a respeito do

ambiente doméstico e familiar dos postulantes à adoção. Após a realização desses

procedimentos, o Assistente Social juntamente com o psicólogo elabora estudo

psicossocial para apreciação do Ministério Público e posteriormente para apreciação

pelo juiz, sendo deferido se dá a inscrição do pretendente no Cadastro Nacional de

Adoção.

Após terem o nome inscrito no Cadastro Nacional de Adoção, é iniciada a

etapa seguinte, que é o processo de adoção propriamente dito, que deverá seguir as

29

Art. 50 § 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar (BRASIL, 1990).

49

determinações que constam conforme os artigos 165 a 170 do ECA30. Sendo

novamente realizados entrevistas e estudos sociais ou perícia. A respeito das

entrevistas destaca Fávero (2011), esta visa conhecer as motivações e expectativas

dos candidatos à adoção. A entrevista pode ser feita geralmente com casal,

30

Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de colocação em família substituta: I- Qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro, com

expressa anuência deste; II- Indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro,

companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente vivo; III- Qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos; IV- Indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma cópia da

respectiva certidão; V- Declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao

adolescente. Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão também os requisitos específicos. Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. § 1º Na hipótese de concordância dos pais, esses serão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as declarações. § 2º O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. § 3º O consentimento dos titulares do poder familiar será colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa. § 4º O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na audiência a que se refere o § 3º deste artigo. § 5º O consentimento é retratável até a data da publicação da sentença constitutiva da adoção. § 6º O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança. § 7º A família substituta receberá a devida orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência. Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade. Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, será observado o procedimento contraditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo. Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento, observado o disposto no art. 35. Art. 170. Concedida a guarda ou tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47. Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias (BRASIL, 1990).

50

individualmente ou quando necessário em família. Para a autora, a escolha do tipo

de entrevista se dá pela especificidade da situação. Fávero acrescenta:

A entrevista é um importante instrumento e realizá-la em condições ambientais favoráveis adequadas, que garantam a sua natureza confidencial e com prazo suficiente para repeti-la quantas vezes for necessário, é fundamental para o entendimento das situações na sua complexidade, garantindo que os entrevistados estejam em condições emocionais favoráveis para participarem desse atendimento (FÁVERO, 2011, p. 121)

Em consonância com Fávero (2011), entende-se que a coleta das

informações, através das técnicas de entrevista, além de proporcionar conhecimento

e compreensão da situação, possibilita ao Assistente Social a construção de

alternativas de intervenção. Sendo o diálogo o principal elemento da entrevista,

exigindo do profissional a qualificação necessária para o seu desenvolvimento, tendo

como base os princípios éticos, teóricos e metodológicos para que sejam garantidos

os direitos dos envolvidos.

Sobre esse instrumental, elucida Magalhães (2003) que deve o

profissional no decorrer da entrevista, procurar compreender o sujeito social, a sua

realidade, contradições e relações que consegue estabelecer. Devendo a postura

profissional ser atenta, com uso de linguagem adequada, possível de ser entendida

pelo entrevistado, este deve ser compreendido e visto como sujeito de direitos.

A respeito de outro instrumento, a visita domiciliar, tem o objetivo

“clarificar situações, considerar o caso na particularidade de seu contexto

sociocultural e de relações sociais”, não podendo, ser uma “visita invasiva”

(FÁVERO, 2011, p. 123).

Já no tocante às entrevistas, individuais ou conjuntas, buscam-se

“conhecer as condições (residência, bairro) em que vivem tais sujeitos e apreender

aspectos do cotidiano das suas relações, aspectos esses que geralmente escapam

às entrevistas de gabinete” (MIOTO, 2001, p.148).

Sendo importante destacar que as visitas domiciliares, geralmente, são

determinadas pela autoridade judiciária, de modo que podemos considerar como

algo que deve ser feito com muita cautela, no intuito de se constituir como algo

determinante no processo de adoção, considerando como algo preponderante e

indicativo de reconhecimento de validade diante da leitura da realidade.

51

Mioto (2001) ressalva que pode ocorrer que no decorrer da visita, outros

instrumentos sejam utilizados, a exemplo da observação, para contribuir para uma

melhor análise do estudo que esteja sendo realizado. Fávero (2011) destaca

também outro instrumental realizado pelo Serviço Social, após os estudos acima

apresentados, que é a elaboração de estudo social que

se dá com a finalidade de informar, esclarecer, subsidiar, documentar um auto processual relacionado a alguma medida protetiva ou socioeducativa, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, ou enquanto parte de registros a serem utilizados para a elaboração de um laudo ou parecer (FÁVERO, 2003, p. 45).

Fávero (2003) enfatiza ainda que o estudo social é um processo

específico do Serviço Social, o qual objetiva conhecer de forma crítica e profunda

determinada realidade. Destaca ainda que,

de sua fundamentação rigorosa, teórica, ética e técnica, com base no projeto da profissão, depende a sua devida utilização para a garantia e ampliação de direitos dos sujeitos usuários dos serviços sociais e do sistema de justiça (FÁVERO, 2003, p. 43).

Após esse estudo, as Assistentes Sociais juntamente com as Psicólogas,

darão prosseguimento ao processo com a elaboração de estudo social ou perícia31.

Em seguida, esse documento é encaminhado para apreciação do Ministério

Público32 e, em seguida, é encaminhado para parecer judicial. Nesse momento, é

realizada audiência judicial para que os autos do processo sejam analisados e a

autoridade judiciária profira a sentença judicial.

Sendo essa sentença deferida, será emitida a averbação para a emissão de

novo registro de nascimento, conforme art. 47, §3º33do ECA. Na ocasião, poderá

ocorrer a alteração do nome e prenome do adotado, conforme art. 47, §5º e 6º34do

ECA.

Já se a sentença foi indeferida à adoção, caberá recurso ao processo, em que

deverá ser apresentada apelação, com as devidas razões que a justifique, conforme

31

Presente no art. 167 do ECA, relatado anteriormente, vide nota de rodapé anterior. 32

Conforme no art. 168 do ECA, também relatado anteriormente na mesma nota de rodapé. 33

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão. § 3º- A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência (redação dada pela Lei n.º 12.010, de 29 de julho de 2009) (BRASIL, 1990). 34

Art. 47 § 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome (redação dada pela Lei n.º 12.010, de 29 de julho de 2009). § 6º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1º e 2º desta Lei (redação dada pela Lei 12.010, de 29 de julho de 2009) (BRASIL, 1990).

52

art. 198, II35do ECA. Nesse caso, conforme a situação, a autoridade judiciária irá

emitir seu parecer para a reavaliação do processo.

35

Art. 198 – Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude fica adotado o sistema recursal do Código de Processo Civil, aprovado pela Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e suas alterações posteriores, com as seguintes adaptações: II- em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e de embargos de declaração, o prazo para interpor e para e para responder será sempre de dez dias (BRASIL, 1990).

53

3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO FRENTE À ADOÇÃO: O LOCUS DA PESQUISA

O presente capítulo trará os elementos e as observações que foram

obtidas durante a pesquisa realizada. Inicialmente, serão apresentadas as

informações referentes ao tipo de estudo realizado, o tipo de pesquisa, a

metodologia utilizada, assim como as características inerentes a cada uma dessas

variáveis que envolvem o ciclo da pesquisa.

A apresentação desses dados se constitui como primordial para o

processo de pesquisa, sendo algo intrínseco a esse processo, por concordarmos

com Minayo quando a autora aborda que “entendemos por metodologia o caminho

do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” (MINAYO, 2008, p.

14).

Apresentaremos o caminho percorrido, à luz dos autores utilizados

durante a realização da pesquisa, bem como abordaremos o que obtivemos durante

a prática no decorrer da abordagem dessa realidade.

3.1 Procedimentos Metodológicos da Pesquisa

Apresentar a metodologia é tarefa importante, porquanto, conforme

Minayo (2008), ocupa lugar central para as teorias das ciências sociais, assumindo a

função de desvendar os caminhos da pesquisa, ajudando o pesquisador a refletir e

instigar um novo olhar sobre a realidade. Assim, a pesquisa se estabelece como

Atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação (MINAYO, 2008, p. 16).

Dessa forma, à luz dessa autora, podemos entendê-la como esse

conjunto de ações que são propostas com o intuito de solucionar um problema ou

responder a uma problemática, obedecendo a uma série de procedimentos

sistematizados. A pesquisa que realizamos, conforme seus objetivos é classificada

como uma pesquisa explicativa, porque

essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o

54

tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas (GIL, 2002, p. 42).

Sendo exatamente o que nos propomos a abordar, ou seja, a entender a

atuação do Assistente Social frente a essa nova realidade configurada a partir da

promulgação da Nova Lei da Adoção.

Sob o ponto de vista da abordagem do problema, a pesquisa assume uma

dimensão qualitativa que, conforme Minayo (2008) “responde a questões muito

particulares”. Assim, é definida a pesquisa qualitativa como aquela que

se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpelar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2008, p .21).

Assim, para a obtenção das questões nos utilizamos de estudo de fontes

documentais, por meio da realização de pesquisa bibliográfica, a fim de termos

informações consistentes e legítimas para alcançarmos os objetivos propostos.

Já que a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida com base em material já

elaborado” (GIL, 2002, p. 44). A respeito dessa consulta bibliográfica, é importante

destacar a dificuldade que encontramos no decorrer da pesquisa em localizarmos

material inerente ao Setor de Adoção, que abordasse as atividades e atribuições dos

profissionais que compõem a equipe interdisciplinar, em especial às atividades de

competência do assistente social nesse processo.

A respeito da pesquisa de campo, podemos entendê-lo como uma prática

empírica e por meio dessa pesquisa combinamos diversos instrumentos de

observação, como “entrevistas ou outras modalidades de comunicação e [...] com os

pesquisadores, levantamento de material documental e outros. O trabalho de campo

é uma fase central para o conhecimento da realidade” (MINAYO, 2008, p. 26).

3.2 Setor de Adoção: O Lócus da Pesquisa

Sobre nossa ida a campo, destacamos a extrema dificuldade que tivemos

para colher as informações com as profissionais do setor de adoção. As tentativas

55

para a realização da pesquisa de campo foram iniciadas a partir do dia 13 de março

de 2014, na ocasião em que retornei ao Setor de Adoção, após o término do período

de estágio em dezembro de 2013, para solicitar pessoalmente a contribuição das

Assistentes Sociais para a realização da monografia, tendo recebido resposta

positiva para que nos fosse concedida uma entrevista. Embora não tivessem

marcado uma data específica para tal, acertamos que eu entraria em contato

posteriormente, logo que fosse iniciado o processo de investigação e à ida a campo.

De tal modo, no decorrer do processo de pesquisa e construção do

referencial bibliográfico, fiz novo contato com as Assistentes Sociais, agora por

telefone, por volta do dia 24 de março de 2014, recebi como resposta que

deveríamos analisar a melhor forma de como faríamos para a obtenção dessa

entrevista, considerando as possíveis incompatibilidades de horários que tínhamos,

já que os trabalhos no setor demandavam muito tempo das profissionais. Embora

tenha recebido esse retorno, realizei mais três tentativas de contato telefônico, em

dias seguidos, no intuito de tentar agendar uma data, mas não consegui localizá-las,

pois as profissionais não estavam no setor.

Dessa forma, decidi retornar ao setor, agora em momento oportuno, logo

após o horário do almoço e consegui falar com as três profissionais. Dessa conversa

ficou acertado que, considerando os desencontros e as atividades cotidianas das

profissionais, eu as enviaria o conteúdo das entrevistas para o e-mail pessoal de

cada uma das Assistentes Sociais, e estas me retornariam com suas devidas

respostas.

Desse modo foi feito, enviei o e-mail do conteúdo das entrevistas para o

e-mail das Assistentes Sociais no dia 27 de maio de 2014 e aguardei resposta

durante três dias, como não ocorreu, reenviei e-mail para os destinatários. Após

acompanhar meu e-mail pessoal por aproximadamente uma semana, e não receber

nenhuma resposta. Fiz novo contato através do envio de e-mail no intuito de lembrá-

las do questionário que as havia enviado. Não recebendo nenhum e-mail de

resposta. Esperei por mais uma semana, ainda sem receber nenhum retorno, fiz

contato por telefone e falei com duas das profissionais, e recebi resposta de que

responderiam meu e-mail, o que não havia siso feito por estarem participando de um

curso de capacitação no Fórum e com muita demanda de trabalho.

Recebi e-mail de resposta de uma das Assistentes Sociais, no dia 6 de

junho de 2014, não acontecendo o mesmo com as outras duas profissionais do

56

setor. Após o retorno do e-mail dessa Assistente Social, ainda enviei mais dois e-

mails para mais ratificar se as outras tinham recebido o anexo com o questionário

que subsidiaria minha pesquisa, mas não recebi retorno desde então. Tendo

realizado também outras ligações, mas não consegui falar com nenhuma delas.

Assim, várias foram as tentativas feitas para realizarmos as entrevistas,

conforme havíamos planejado, porém sem sucesso. Por isso diferente do que

havíamos programado para a nossa pesquisa de campo, em que pretendíamos que

o universo e amostra fossem o mesmo quantitativo, totalizando três assistentes

sociais, obtivemos uma amostra de 1 entrevistada no mesmo universo de 3

profissionais.

A nossa pesquisa foi realizada no Setor de Adoção do Juizado da Infância

e Juventude que funciona no Fórum Clóvis Beviláqua em Fortaleza – CE.

Sobre esse setor, a equipe de Adoção é composta interdisciplinarmente

por três Assistentes Sociais, três psicólogas, uma pedagoga e estagiárias

provenientes desses ou de demais cursos. Conforme já mencionamos, embora não

exista uma normatização quanto às atividades desse setor, empiricamente

destacamos algumas destas atividades.

A principal atividade da equipe é subsidiar a autoridade judiciária, com a

efetivação de estudos psicossocial e pedagógico, nas ações cíveis de adoção com

destituição do poder familiar, adoção nacional e internacional, guarda, tutela (de

crianças que não tenham parentesco com os postulantes), cartas precatórias,

procedimento administrativo de cadastro para habilitação à adoção e apresentação

de crianças em situação de acolhimento institucional ao(s) pretendente(s)

habilitado(s). Apoia, tecnicamente, os juízes do Juizado da Infância e da Juventude,

via estudos sociais, psicossociais e pedagógicos.

Destacamos também a realização do Curso de preparação Psicossocial e

Jurídica36, previsto no art. 50, §3º do ECA, que discorre sobre a necessidade de

orientação pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, conforme já

mencionado em páginas anteriores.

A equipe interdisciplinar de adoção, então, organiza reuniões e grupos

com vistas a preparar social e juridicamente os pré-habilitados à adoção, em

parceria com a equipe de Cadastro e a Defensoria Pública.

36

Para fins de conhecimento, disponibilizamos nos Anexos a programação do curso de preparação psicossocial e jurídica do setor de adoção em que foi realizada a pesquisa.

57

Também é neste setor onde os pretendentes à adoção submetem-se a

uma avaliação pela equipe técnica, a fim de que sejam habilitados à adoção e,

posteriormente, vinculados a uma criança ou adolescente, para dar início ao

processo de adoção.

A existência de uma equipe interdisciplinar no Setor de Adoção

materializa as determinações do ECA quando este torna indispensável a proteção

integral de criança e adolescentes, conforme disposto no art. 1º dessa lei.

Constituindo-se como diferentes profissionais que, mediante o trabalho

conjunto e com vistas a alcançar a eficácia e eficiência das suas ações, buscam

garantir a efetivação dos direitos da criança e do adolescente, de forma a identificar

vulnerabilidades e enfrentar a violação de direitos a que muitos já foram submetidos,

como nos casos mais comuns em que crianças que tiveram o direito violados à

convivência familiar e comunitária.

3.3 Dos Resultados da Pesquisa

Para realização das entrevistas com as Assistentes Sociais, elaboramos

roteiro de prévio contendo 11 perguntas, de caráter objetivo e subjetivo. Desse

quantitativo, todas as respostas foram utilizadas para análise dos resultados obtidos

na pesquisa. As questões, de modo geral, abordam de forma direta e objetiva a

prática profissional das Assistentes Sociais no processo de adoção e suas opiniões

pertinentes a esse processo.

As considerações a seguir são provenientes de uma das Assistentes

Sociais do setor de Adoção e conforme mencionado anteriormente obtivemos a

respostas das questões no dia 06 de junho de 2014.

A profissional em questão tem 32 anos de formação e está há 17 anos

como assistente social do Juizado da Infância e da Juventude, tendo atuado

inicialmente na equipe de acompanhamento de adolescente em cumprimento de

prestação de Serviços à comunidade ou medida socioeducativa. E há sete anos

integra a equipe interdisciplinar de adoção.

A Assistente Social passou pelo processo de implantação da Nova Lei de

Adoção, no ano de 2009, acrescenta que todos os profissionais do setor passaram

por um período de capacitação, através de seminários e cursos abordando a lei em

questão e as alterações que esta trazia para o processo de adoção.

58

A esse respeito, quando indagada sobre a nova lei de adoção, a partir de

sua promulgação e das mudanças que trouxe para a adoção, indagamo-la sobre

qual dessas mudanças a Assistente Social considera de maior relevância, de modo

que ela coloca:

Principalmente o estabelecimento de prazo máximo para permanência de crianças em instituições de acolhimento (2 anos), cobrando maior rapidez nos processos de destituição do poder familiar, oportunizando às crianças seu acolhimento por famílias substitutas o mais rápido possível.

No início da entrevista, a Assistente Social afirmou que o termo “adoção”

em si é envolto de tabus e preconceitos e, possivelmente, por esse motivo; além de

outras questões, muitos foram os casos de adoções realizadas sem o aparato da lei

e por isso tenha dificultado a mudança na cultura das pessoas para realizarem a

adoção legal. Mas sobre o processo de adoção atualmente quando indagada sobre

as dúvidas ou questionamentos mais frequentes dos pretendentes à Adoção, a

assistente afirma:

É muito comum a ideia sobre a demora para uma adoção e é preciso esclarecer que isto depende não só do perfil desejado para a criança, mas que também decorre das entregas de criança “por fora” do Cadastro Nacional de Adoção, causando maior espera para os pretendentes que aguardam uma criança respeitando os procedimentos legais. Muito se questiona também sobre a quantidade de crianças nos abrigos e porque não ocorrem logo as adoções. Há o desconhecimento de que nem todas as crianças em unidades de acolhimento estão disponíveis para adoção, pois algumas ainda mantêm vínculos familiares e estão ali provisoriamente. Outros ainda estão em processo de destituição (o que, em muitos casos, infelizmente, ocorre ainda lentamente).

Nesse sentido, observamos na fala da profissional, a falta de

esclarecimentos e divulgação para a sociedade de um modo geral sobre o processo

de adoção. Já que, conforme mencionado, as pessoas geralmente questionam

sobre a quantidade de crianças que se encontram e unidades de acolhimento

institucional e não são encaminhadas para adoção. Pelo motivo, conforme exposto,

de que nem todas essas crianças estão aptas à adoção.

Percebemos, com isso, que o processo de adoção, ainda precisa ser

amplamente debatido e esclarecidos para a sociedade, até mesmo para

desmistificar algumas concepções arraigadas no imaginário das pessoas.

59

Diante dos pressupostos para adoção, conforme mencionado no Estatuto

da Criança e do Adolescente, a partir do art. 39 até o art. 52, foram implementados

novos procedimentos e etapas durante a execução desse processo. Sobre essas

etapas, as quais são obrigatórias durante o processo de adoção, a entrevistada foi

questionada sobre qual delas ela considera mais relevante ou que exija uma maior

complexidade na análise durante sua realização. A assistente social se coloca:

Acredito que todos os procedimentos devem ser cuidadosamente analisados, pois se trata de vidas e muitos riscos podem estar envolvidos. Considero que a avaliação dos pretendentes à habilitação deve ser criteriosa e aprofundada, visando diminuir ao máximo a ocorrência de devoluções de crianças ou adoções por motivações inadequadas. Também ressalta-se a importância do acompanhamento dos estágios de convivência, com suporte para os adotantes e adotandos, visando uma melhor superação das dificuldades na adaptação e êxito na adoção.

Nesse sentido e conforme apresentado à luz de vários autores, Fávero

(2011) afirma que no “âmbito do Judiciário [...] as atividades que os assistentes

sociais implementam se põem estreitamente vinculados aos direitos dos cidadãos

envolvidos” (FÁVERO, 2011, p. 102).

Sobre a sua prática profissional, como a profissional percebe o seu

trabalho? Como considera o papel do assistente social no processo de adoção? A

mesma se coloca como

de fundamental importância, assim como os demais profissionais (psicólogos, pedagogos, advogados, etc), inclusive o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê como indispensável a equipe interdisciplinar. No caso do Serviço Social, nosso ‘olhar’ para as expressões das questões sociais evidenciadas nas situações com que nos deparamos em cada processo, em cada entrevista, em cada dinâmica familiar trabalhada, possibilita análise e desdobramentos específicos, por exemplo, na forma de encaminhamentos adequados a cada caso. Acredito que nossa atuação desvenda aspectos mais amplos de cada situação, considerando seus contextos socioeconômico-culturais, oferecendo subsídios para decisões judiciais mais adequadas.

Sobre a atuação dos profissionais diante do processo de adoção,

observamos constituir-se, de fato, como um papel de relevância diante do processo,

uma vez que passa a ser citado no teor da lei, o que não era observado nos

ordenamentos jurídicos anteriores. Destacamos de modo especial, o papel do

Serviço Social nesse processo, como a própria Assistente Social destaca, pela

profissão possui um “olhar” diferenciado para as questões que são observadas no

60

cotidiano, permite que a intervenção profissional se estabeleça de forma legítima e

por isso consegue ir além das questões superficiais, indo a fundo no que de fato seja

determinante. Percebemos essa importância, também, no decorrer dos

procedimentos realizados junto aos usuários, pois, de acordo com estes últimos

relatam sentir-se mais seguros e esclarecidos a partir da prática profissional e do

acompanhamento das Assistentes Sociais no decorrer de seus processos.

E após a realização de sua prática profissional, a exemplo de visitas

domiciliares e entrevistas, a Assistente Social destaca quais os parâmetros

fundamentam o seu parecer para a elaboração dos relatórios.

Para a elaboração dos relatórios nos baseamos nos fundamentos técnico-operativos e princípios éticos próprios do Serviço Social. Em geral, nos utilizamos de entrevistas, visitas domiciliares e institucionais, além de observações in loco e pesquisa documental pra subsidiar o estudo demandado pela autoridade judiciária. Neste trabalho, o posicionamento do profissional deve ser dirigido pela garantia e ampliação de direitos, denúncia de situações sociais, além de expressar o compromisso com a qualidade dos serviços prestados. No campo sociojurídico, assim como em outras áreas, é comum a alienação e fragmentação do trabalho diante do acúmulo de tarefas no cotidiano; também se verifica o caráter fiscalizador que as práticas judiciais historicamente construíram, todavia é preciso atenção do profissional no sentido de não se limitar e articular-se à rede social.

É importante tecer uma consideração a respeito desse posicionamento

do Assistente Social diante da realização de sua prática profissional no momento da

elaboração do seu parecer, pois conforme a profissional cita, se constitui em um

momento em que se confrontam posturas diferenciadas como a garantia de direitos

versus uma postura fiscalizadora, ambas as quais, geralmente, são observadas no

campo jurídico.

Sobre essa perspectiva, é necessário o cuidado e a exaltação dos

preceitos que regem o Código de Ética profissional e a Lei que regulamenta a

profissão para que o profissional sempre fundamente o seu parecer e sua prática

profissional.

A respeito dos desafios e proposições que venham a contribuir para que,

de fato, ocorra a efetivação dessa Lei e sejam garantidos os direitos de crianças e

adolescentes diante da adoção, a entrevistada se coloca:

Considero que todos os profissionais envolvidos (promotores, juízes, técnicos, defensores públicos, etc) cumprissem com empenho, responsavelmente e com a devida urgência suas atribuições a lei se

61

efetivaria mais facilmente. O maior entrave é que a preconizada ‘prioridade absoluta’ na prática, em muitos casos, continua ‘no papel’.

Na fala da entrevistada, observamos o compromisso e empenho que

todos os profissionais envolvidos no processo devem ter. No final de sua colocação,

a Assistente Social fala, não com essas palavras, sobre uma morosidade que se

observa em algumas questões ditas com “prioridade absoluta” e que “na prática, em

muitos casos, continua no papel”. Sobre isso, é importante pensar a questão do

profissionalismo que deva ter cada um dos envolvidos no cerne da questão, não

somente dos Assistentes Sociais, já que esse tipo de processo se constitui como

realizado por uma gama de profissionais das mais variadas categorias.

A respeito dessa “morosidade”, é importante que, enquanto sujeitos de

direitos e disseminadores desses direitos, fiquemos atentos e possamos exercer

nossa prática fiscalizadora e, mais ainda, orientar aos usuários dos serviços sobre a

cobrança e o acompanhamento constante das questões que os envolve.

A respeito das mudanças já legitimadas, questionamos sobre, no âmbito

do Estado ou da sociedade, em que podem contribuir para melhorias na seara da

adoção? Sobre essa questão, a Assistente Social considera

Que um exemplo seriam as entidades de acolhimento, governamentais ou não, que ainda carecem de muita atenção e adequações a fim de oferecer melhores condições de às crianças e adolescentes que necessitam ser acolhidos, garantindo-lhes os direitos preconizados no ECA. Este é um dos aspectos que necessita de atenção de todos, autoridades, profissionais e sociedade em geral. Há principalmente necessidade de um real compromisso de todos os que trabalham nesta área para que o tempo de acolhimento institucional seja minimizado. É preciso também uma maior articulação entre o judiciário e o sistema de saúde a fim de que desejem entregar os filhos em adoção sejam devidamente assistidas e as crianças inseridas no Cadastro Nacional de Adoção, possibilitando sua adoção pelas pessoas habilitadas.

A entrevistada cita como possíveis contribuições para melhoria no

processo de adoção os entes que as compõem, como a rede que se forma para tal

finalidade. A respeito desse atendimento em rede, constitui-se com um “tecido de

relações e interações que se estabelecem com uma finalidade e se interconectam

por meio de linhas de ação e trabalhos conjuntos” (RIZZINI, 2007, pp. 111-112).

Falar sobre o atendimento em rede na adoção é algo de muita importância,

considerando que é a partir dessa rede que se busca suprir as necessidades

62

imediatas das crianças e adolescentes e durante todo o processo há sempre a

comunicação e o suporte de algumas dessas instituições que compõem essa rede.

A Assistente Social destaca ainda a articulação que deve existir entre o

judiciário e o sistema de saúde, a fim de dar suporte às mães que desejem entregar

as crianças para adoção, e assim possam receber o suporte adequado. Sobre tal

medida, observamos a inexistência de um sistema ou programa que promova tal

medida, constituindo-se como uma das deficiências que podemos apontar nesse

processo.

Por fim, a entrevistada coloca sua percepção acerca do instituto da

adoção a partir da promulgação da Nova Lei, em 2009, de maneira que a assistente

se coloca favorável às mudanças e alterações que foram realizadas, e a considera

como um avanço para a garantia dos direitos das crianças e adolescentes, embora

ainda muito ainda deva ser feito e conquistado nessa seara.

63

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desse estudo nos proporcionou tecermos algumas

considerações a respeito do instituto da adoção e da prática profissional do

Assistente Social diante desse processo.

A respeito da adoção, verificamos que esta não é uma instituição recente,

concluímos que foram significativas as mudanças na legislação, tendo em vista que

as alterações nesse processo vêm se transformando de forma gradativa até atingir

uma mudança significativa através do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Através dessa legislação buscou-se, cada vez mais, a efetivação dos

direitos das crianças e adolescentes, passando a assegurar a estes cidadãos

direitos e benefícios, de forma a criar vínculos de parentesco de modo irrevogável.

Essas alterações visam, sobretudo, o direito à convivência familiar e

comunitária, acelerando os processos de acolhimento institucional e reinserção na

família biológica ou colocação em família substituta.

Embora tenhamos vivenciado por muito tempo no Brasil, com uma forma

de adoção que objetivava atender aos interesses dos casais que não podiam ter

filhos biológicos, ficando em segundo plano o interesse da criança adotada.

E nesse sentido, também, o ECA passa a estabelecer que a adoção se dê

de forma que promova a integração total da criança ou adolescente na nova família,

de forma igualitária de direitos e condições com os filhos biológicos, caso os tenham.

Podemos considerar também que a Lei n.º 12.010/09, denominada Lei de

Adoção não se limitou apenas às questões relativas apenas à adoção em si, mas

essa lei tratou de estabelecer juntamente com o ECA como referenciais legais

relativos às questões oriundas das questões que envolvem a adoção.

Sendo importante destacar as alterações impostas por essa lei, a exemplo

de quando busca definir as crianças e adolescentes que estão em acolhimento

institucional ou familiar. Estabelecendo um prazo limite, de dois anos, para a sua

permanência na instituição.

Conforme Ferreira (2010), outro aspecto considerado relevante foi o de

assegurar ao adotado o direito de conhecer sua origem biológica e ter acesso ao

processo de adoção, conforme art. 48 do ECA, bem como a preferência de

assegurar a colocação da criança em acolhimento familiar em vez do institucional,

conforme art. 34, §1º do ECA.

64

Podemos observar também que a nova lei evidenciou o trabalho técnico

dentro do poder judiciário, a exemplo do Assistente Social judiciário, o qual assume

papel relevante junto às famílias, às crianças e aos adolescentes, objetivando a

garantia da convivência familiar e comunitária da criança e adolescente.

A respeito da nossa pesquisa de campo, diante da impossibilidade de

realizarmos um estudo mais aprofundado sobre as questões e a prática profissional

de todas as profissionais que fazem parte do Setor de Adoção, motivada pela falta

de contribuição de duas profissionais, consideramos que dificultou o aprimoramento

das questões e, sobretudo, a discussão de opiniões e contrapontos que porventura

surgissem.

Ainda assim, empiricamente, observamos que a intervenção do Assistente

Social é de relevância para o direcionamento dos processos a serem trabalhados,

tendo em vista que será um dos profissionais que estará presente em todos os

trâmites do processo, por fazer parte de uma equipe interprofissional, que será

responsável por analisar a questão sob vários ângulos, prevalecendo uma visão

conjunta de opiniões para emissão de um parecer social.

De tal modo, cabe ao Assistente Social judiciário realizar sua prática

profissional de forma a partir das questões que envolvem o processo de adoção,

busque realizar um estudo minucioso e consistente no intuito de dá subsídios para o

parecer do Ministério Público e a decisão final do Juiz.

Assim sendo, o Assistente Social deve realizar sua prática profissional de

modo a superar os preconceitos e estereótipos existentes na sociedade, tendo em

vista que “apesar de a adoção ser uma prática antiga, a falta de estudos científicos

sobre o tema no Brasil fez com que ela permanecesse sendo tratada de forma

preconceituosa, alimentado fantasias e mitos” (WEBER, 1999, p. 45).

Enfim, o papel de todos no processo de adoção se constitui como algo

preponderante para que se percebam melhorias e funcionalidade nas leis que a

regulamentam, ainda que o processo de adoção seja permeado de subjetividade e

emoções, como dúvidas, medo, incertezas. Embora exista essa dimensão subjetiva

no processo, faz-se necessário que esses profissionais busquem realizar sua prática

profissional pautada na ética e na legalidade, procurando entender esses aspectos

subjetivos, sem negá-los.

E para o Assistente Social, tido como profissional mediador e que possui

características conciliatórias, humanitárias e sensíveis, tecer um olhar diferenciado

65

sobre a questão é, acima de tudo, colocar a “alma” e o que existe de mais cuidadoso

em sua prática profissional, para que, a partir dela, sejam despertados a

sensibilidade e o cuidado das demais categorias que exercem essas atividades em

conjunto com o Serviço Social.

Além desse “olhar” sensível, é importante que sejam realizadas de forma

responsável as dimensões que envolvem a prática profissional, a exemplo da

dimensão técnico-operativa e teórico-metodológica, a fim de que venham a legitimar

a categoria profissional perante a sociedade e entre as demais profissões. Não

esquecendo, sobretudo, de pautar essa prática na lei que regulamenta a profissão,

Lei n.º 8.662, de 7 de junho de 1993, tendo como preceitos e tomados como base os

princípios do Código de Ética do Assistente Social.

Desse modo, aliando essas questões legais que permeiam o processo, o

tratamento do seu caráter subjetivo e a competência profissional no decorrer da sua

realização, fará com que sejam superados os mitos e preconceitos relacionados à

adoção, proporcionando a possibilidade a inúmeras crianças e adolescentes a terem

uma nova chance de crescer em um ambiente familiar saudável, que seja capaz de

lhes construir um projeto de vida, em que não se sintam apenas crianças, mas

também filhos.

66

REFERÊNCIAS

ALVIN, Eduardo. A evolução histórica do instituto da adoção. Disponível

em:<http://www.franca.unesp.br>. Acesso em: 17 out. 2013, 15:50:00. AMB – Associação Brasileira dos Magistrados. Cartilha Passo a Passo. Adoção de crianças e adolescentes no Brasil. Brasília, 2007. Disponível em: <https://www.amb.com.br/mudeumdestino/docs/Manual%20de%20adocao.pdf. Acesso em: 24 out. 2013, 17:50:00. ÀRIES, P. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro: Livros

Técnicos e Científicos, 2006. BORGIANNI, Elisabete. Para entender o Serviço Social na área sociojurídica – Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 115, p. 407 - 442, jul./set. 2013. BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil:

promulgada em 5 de outubro de 1988. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. _________. Lei 8.069 de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Brasília, 1990.

_________. Lei 12.010 de 3 de agosto de 2009. Lei da Adoção. Brasília, 2009.

CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina.

Tradução de José Paulo Netto e Balkys Villalobos. São Paulo: Cortez, 1984. FALEIROS, Vicente de Paula. (Coord.). Crianças e Adolescentes, pensar e fazer.

Brasília: CEAD-UNB/FCBIA, 1995. FÁVERO, Eunice Terezinha. Et. al. Estudo social: a realidade da criança, do adolescente e sua família. São Paulo. Cadernos I, CRESS-SP, 2003. _________. O Estudo Social. Fundamentos e particularidades de sua construção na Área Judiciária. (pp. 9 – 51). In: O estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao debate no judiciário, penitenciário e na previdência social /

Conselho Federal de Serviço Social, (org.). 10. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011. FÁVERO, Eunice Teresinha, Magda Jorge Ribeiro Melão, Maria Rachel Tolosa Jorge. O Serviço Social e a psicologia no judiciário: construindo saberes,

conquistando direitos. 4. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011. FERREIRA, Luiz Antônio Miguel. Adoção: guia prático doutrinário e processual com as alterações da Lei n.º 12010, de 03/08/2009 / Luiz Antônio Miguel Ferreira. – São Paulo: Cortez, 2010. FONTES, R. Criança. Revista Presença Pedagógica, v.11, n. 61, pp. 03-05, jan./fev. 2005.

67

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4. Ed. – São Paulo:

Atlas, 2002. GUEIROS, Dalva Azevedo. Adoção Consentida: do desenraizamento da família à prática de adoção aberta. São Paulo: Cortez, 2007. GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade do Serviço Social / Yolanda Guerra. -2.

Ed. Revista – São Paulo: Cortez, 1999. IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1982. _________. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação

profissional / Marilda Villela Iamamoto. – 22. Ed. – São Paulo, Cortez, 2012. KHULMANN Jr., M. Infância e educação infantil – uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998. KHULMANN Jr., Moysés; FERNANDES, Rogério. Sobre a história da infância. In: FARIA FILHO, Luciano Mendes (Org). A infância e sua educação: materiais, práticas e representações. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. MAGALHÃES, S. M. Avaliação e linguagem – relatórios, laudos e pareceres. São

Paulo: Veras, 2003. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: Identidade e alienação. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2003. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e

criatividade. 11 ed. São Paulo: Vozes, 1999. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza; GOMES, Suely Ferreira Deslandes Romeu (orgs.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008, p.9-29. MIOTO, Regina C. T. Perícia social: proposta de um percurso operativo. In: Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 67, 2001. _________. Família, trabalho com famílias e Serviço Social. In: Revista Serviço Social e Sociedade. Londrina, v.12.n.2.,p.163-176, jan-jun, 2010. PICOLIN, Gustavo Rodrigues. A adoção e seus aspectos. [S.l] : 2007. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?iddh=128>. Acesso em: 24 jul. 2012, 20:25:00. PINHEIRO, Â. A criança e o adolescente no cenário da redemocratização: representações sociais em disputa. 2001. 438 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.

68

RIBEIRO, Paulo Hermano Soares et al. Nova Lei de Adoção Comentada. 2. Ed.

São Paulo: J. H. Mizuno, 2012. RIZZINI, I. Pequenos trabalhadores do Brasil. In: PRIORE, M. (Org.). História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000, p. 376-406.

_________. Acolhendo crianças e adolescentes: experiências de promoção do

direito à convivência familiar e comunitária no Brasil / Irene Riziini; Irma Rizzini, Luciene Naiff, Rachel Baptista (coordenação). – 2. Ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF; CIESPI; Rio de Janeiro, RJ: PUC-RIO, 2007. ROSSATO, Luciano Alves et al. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Lei n. 8.0690/1990: artigo por artigo. 5. Ed. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2013. RUFINO, Silvana da Silva. Nos elos de uma filiação multirracial: a adoção inter-racial nos limiares da educação intercultural. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. SARTORI, Vitor Bartoletti. Lukács e a crítica ontológica ao direito. São Paulo: Cortez, 2010. SIMÕES, Carlos. Curso de direito do Serviço Social – Biblioteca Básica do

Serviço Social. 3ª Ed. São Paulo: Cortez, 2009. SOUZA, Hália Pauliv de. Adoção é doação. Curitiba: Juruá, 1999. TONET, I. Educação, cidadania e emancipação humana. Ijuí: Unijuí, 2005. WEBER, L. N. D. Aspectos psicológicos da Adoção. Curitiba: Juruá, 1999. YASBEK, Maria Carmelita; MARTINELLI, Maria Lúcia; RAICHELLIS, Raquel. O Serviço Social brasileiro em movimento: fortalecendo a profissão na defesa de

direitos. Serviço Social & Sociedade, São Paulo: Cortez, ano XIX n.º 95, 2008. Sítios eletrônicos BRASIL. CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Disponível em:<http://reporterbrasil.org.br/2013/07/lentidao-da-justica-e-exigencias-dos-pais-travam-adocao/ >. Acesso em: 1º out. 2013, 16:08:00.

BRASIL. CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/sistemas/infancia-e-juventude/20530-cadastro-nacional-de-adocao-cna->. Acesso em: 11 jul. 2014, 00:34:00.

69

APÊNDICES

70

APÊNDICE A - QUESTIONÀRIO

Questionário para Assistentes Sociais do setor de adoção

1 - Qual o ano de formação em Serviço Social?

2 - E há quanto tempo atua como assistente social do Juizado da Infância e

Juventude?

3 - A Sr.ª acompanhou o processo de implantação da Nova Lei de Adoção?

( ) Sim ( ) Não

4 - A Sr.ª considera satisfatória as alterações que a Nova Lei trouxe para o processo

de Adoção?

( ) Sim ( ) Não

5 - A partir da promulgação dessa Lei, qual mudança(s) considera importante(s)?

6 - Quais as principais dúvidas ou questionamentos dos pretendentes à adoção?

7 - Dentre as etapas ou procedimentos para a adoção, qual (is) a Sr.ª considera mais

relevante ou que exige uma maior complexidade na análise?

8 - Quais os desafios se apresentam para a efetivação dessa lei?

9 - Como considera o papel do assistente social no processo de adoção?

10 - Quais parâmetros a Sr.ª considera para fundamentar o seu parecer na

elaboração de relatórios?

11 - No âmbito do Estado ou da sociedade em que podem contribuir para melhorias

na seara da adoção?

71

ANEXOS

72

ANEXO A – TERMO DE COSENTIMENTO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezada participante:

Sou estudante do curso de graduação na Faculdade Cearense – FAC.

Estou realizando uma pesquisa sob supervisão da professora Luciana Gomes

Marinho, cujo objetivo é conhecer o papel do Assistente Social judiciário frente às

novas regras de adoção.

Sua participação envolve o preenchimento de um questionário. A

participação nesse estudo é voluntária e, se você decidir não participar ou quiser

desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será

mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam

identificá-la.

Mesmo não tendo benefícios diretos em particular, indiretamente você

estará contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção

de conhecimento científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelas

pesquisadoras Idália Sampaio Cunha, fone _____________________, Luciana

Gomes Marinho, fone ____________________ ou pela entidade responsável

Faculdade Cearense, fone ___________________.

Atenciosamente,

Idália Sampaio Cunha Fortaleza, _____ de ___________ 2014.

Matrícula: 10002308

Luciana Gomes Marinho Fortaleza, _____ de ____________ 2014.

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia

deste termo de consentimento.