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Maria Luiza Dias Garcia Coordenadora dos Serviços de Orientação Profissional da Clínica LAÇOS e do Instituto Pieron. Terapeuta de família e de casal. O papel da família no processo de escolha profissional

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Maria Luiza Dias Garcia

Coordenadora dos Serviços de Orientação Profissional da Clínica LAÇOS e do Instituto Pieron.

Terapeuta de família e de casal.

O papel da família no processo de escolha profissional

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FAMÍLIA E DIVERSIDADE

Casal.

Família

– Nuclear.

– Monoparental.

– Homoafetiva.

– Estendida.

– Adotiva.

– Poliafetiva.

– Reconfigurada.

– Mosaico.

– Dos meus, dos teus, dos nossos.

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Processos identificatórios

“Para um adolescente, definir o futuro não é somente

definir o que fazer, mas, fundamentalmente, definir

quem ser e, ao mesmo tempo, definir quem não ser.”

Rodolfo Bohoslavsky

(1977, p. 53; 2003, p. 28)

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“O grupo familiar constitui o grupo de participação e referência fundamental, e é por isso que os valores desse grupo constituem bases significativas na orientação do adolescente, quer a família atue como grupo positivo de referência, quer opere como um grupo negativo de referência.”

Rodolfo Bohoslavsky (2003, p. 33)

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Socialização e escolhas

• Multideterminação

• Subjetividade – características pessoais

• Vínculos significativos estabelecidos

• Meio ambiente

• Fatores socioeconômicos

• Oportunidades de estudo

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• A relação conjugal é um produto de fantasias.

• Cada membro tem um projeto pessoal, com raízes na sua

família de origem."

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• A família apresenta expectativas em relação aos seus membros e também com a chegada de um bebê. Muito antes do filho ser concebido, ele já possui características e talvez até já torça para um time de futebol.

• Via processo de socialização, o indivíduo ocupa um lugar social no grupo primário e mais tarde em outros grupos dos quais participará (escola, igreja, clube, entre outros).

• Por meio da identificação com as figuras significativas, aprendemos modalidades de ação no mundo e também um modo particular de conceber a realidade e as profissões existentes nela.

• Nossos interesses desenvolvem-se durante todo o ciclo vital pessoal e do nosso grupo familiar, sendo que apreendemos e significamos as experiências por meio de lentes presentes em nosso mundo subjetivo.

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• Humores também são aprendidos

• Identificação com os adultos

• Modelos de repetição

• Reprodução das modalidades de ação

• Desenvolver-se é aprender

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– Aprendemos por meio do que vivenciamos.

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A família oferece um modelo do que fazer com o que sentimos.

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Nas palavras de Bohoslavsky (1997, p. 53; 2003, p. 27-28)

“Será preciso analisar os vínculos com o ‘outro’. Referimo-nos não só ao psicólogo, mas ao fato de que a escolha sempre se relaciona com os outros (reais e imaginados). O futuro nunca é pensado abstratamente. Nunca se pensa numa carreira ou numa faculdade despersonificadas. Será sempre essa carreira ou essa faculdade ou esse trabalho, que cristaliza relações interpessoais passadas, presentes e futuras. Deve-se examinar as relações com os outros com os quais se estabelecem relações primárias (membros da família, do mesmo ou do outro sexo como, por exemplo, o casal) e aqueles outros com os quais se mantém uma relação de natureza secundária (fundamentalmente professores, psicólogos ou técnicos, desde o bedel que atende numa faculdade, a primeira pessoa que conhece, desse mundo, em que se quer ingressar, até o responsável pelas bolsas de uma instituição, que pode determinar ou influir diretamente sobre o futuro de quem escolhe).

O futuro implica em desempenhos adultos e se trata, novamente, de um futuro personificado. Não há nenhum adolescente que queira ser engenheiro ‘em geral’ ou psicólogo ‘em geral’. Quer ser como tal pessoa, real ou imaginada, que tem tais e quais possibilidades ou atributos e que supostamente, os possui em virtude da posição ocupacional que exerce. Isso quer dizer que o ‘queria ser engenheiro’ nunca é somente ‘queria ser engenheiro’, mas ‘quero ser como suponho que seja Fulano de tal, que é engenheiro e tem tais ‘poderes’, que quisera fossem meus’.”

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Famílias e seus estilos

• Famílias que se apresentam com o desejo de que o

jovem seja feliz

• Famílias que querem exercer o total controle

• Famílias desengajadas

• Famílias cujo primeiro critério diz respeito às

condições do mercado de trabalho

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TRANSMISSÃO PSÍQUICA ENTRE GERAÇÕES

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A herança ancestral recebida por via da transmissão psíquica entre gerações pode ser considerada como um dos fatores de

influência no momento da escolha profissional.

A qualidade das identificações estabelecidas nos vínculos importantes (vividos na primeira formação na família ou com figuras significativas substitutas) pode promover a repetição

de padrões disponíveis no grupo de origem, já que os modelos observados e vivenciados na infância são

extremamente poderosos.

Os processos identificatórios marcam a existência das novas gerações. Na vida adulta, podem até ser neutralizados,

transformados, substituídos por novos aprendizados, mas estarão lá na memória individual, como uma referência.

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A importância de se evidenciar tais

processos ao sujeito da escolha, para que

ele possa ganhar independência em

relação aos legados familiares e

administrar seu mundo interno com maior

autonomia, garante que a frase de Goethe,

tão largamente citada na literatura sobre

transgeracionalidade, ganhe sentido:

“aquilo que herdaste de teus pais,

conquista-o para fazê-lo teu”.

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A escolha como sintoma do grupo familiar

O sujeito da escolha como paciente identificado na família.

• Relato – Cláudio e suas opções

Nutrição

Modelo

Teatro

Consulte: Dias, Maria Luiza. Pensando a família no processo de escolha profissional. In: Barros, Delba

Teixeira Rodrigues, Lima, Mariza Tavares & Escalda, Rosângela (orgs.). Escolha e inserção profissio-nais: desafios para indivíduos, famílias e instituições. São Paulo: Vetor, p. 267-268, 2007.

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Herança e Sucessão

• Filho(a) com futuro formatado – quando o nível de

diferenciação entre os membros da família é

prejudicado.

• “Síndrome do príncipe herdeiro” (Puga, 2011)

• Príncipe coroado que representa o potencial familiar.

• Junção dos sistemas familiar e empresarial.

Exemplo: A família de Paulo – relato.

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• "Cuando los padres comieron uvas

verdes, los hijos tienem dentera“.

Henry Dicks

In: Dicks, Henry. Tensiones Matrimoniales.

Buenos Aires: Ed. Hormé/Editorial Paidós,, 1970.

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• Em certos casos, é necessário

trabalhar no contexto da família.

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OBJETIVOS DA TERAPIA FAMILIAR

• Gerar espaço de continência para a expressão de conflitos;

• Desvendar significados inconscientes;

• Compartilhar a natureza dessas relações;

• Manejar/ Modular;

• Diminuir as Cisões/ Promover a Integração.

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• A psicoterapia de base psicanalítica

trabalha com a interpretação do

inconsciente grupal, das defesas

compartilhadas, por meio do manejo da

transferência e da contra-transferência.

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Trata-se de uma tendência a interpretar sua experiên-cia baseado no passado. Faz emergir um fantasma inconsciente que deforma os sentimentos e as reações de um indivíduo em seu relacionamento com outro. Transferimos um relacionamento do passado para o presente. Os indivíduos são propensos a reproduzir no presente as atitudes adotadas no início de sua vida em família. O ator ignora a natureza repetitiva de seu ato. Trata-se da reedição de uma antiga relação vivenciada.

A transferência é um fenômeno universal.

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Caso Brian Pelman - relato

• Chanlat, Jean-François (coord.). O

Indivíduo na Organização –

dimensões esquecidas. SP: Ed. Atlas,

volume II, 2001.

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MITOS FAMILIARES

MANDATOS

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Depoimento – legado transgeracional

• 1ª entrevista: mãe e filha de 17 anos

• A mãe pondera que a filha pode escolher o que quiser,

mas que admite que ficaria contente se optasse por

Medicina e que acha útil ter um médico na família.

Surge a seguinte história na conversa sobre as famílias

de origem:

• A menina relata que desde pequena desejava ser pediatra

e que isto perdurou até o 9º ano do Ensino Fundamental.

In: Castanho, Gisela M. Pires & Dias, Maria Luiza (orgs). Terapia de família com

adolescentes. Dias, Maria Luiza. Transmissão, herança e sucessão: identidade do

adolescente e escolha profissional. São Paulo: Guanabara Koogan, pp. 119-126, 2014.

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• Ao perguntar sobre as profissões dos familiares, descubro que o pai fez o curso de Administração e a mãe o de Enfermagem. A mãe me conta que seu pai era advogado, dono de Tabelião e sua mãe do lar, sendo que este casal teve 3 filhos: a mais velha, era pediatra; o filho do meio, Engenheiro Naval; ela, a caçula, dirigiu-se ao curso de Enfermagem. Relata que seu pai fez de tudo para demovê-la desta escolha, argumentando que este curso não lhe daria autonomia. Conta que a irmã pediatra, aos 40 anos, teve morte súbita em um final de semana em que seus pais haviam reservado uma pousada para reunir toda a família, em uma cidade de campo. Esta experiência foi muito impactante para todos e a adolescente tinha, nesta ocasião, 2 anos. Os filhos da irmã falecida, primos da adolescente, tinham 9 e 11 anos. A mãe da adolescente encontrava-se grávida do seu segundo filho. Na época em que optou por enfermagem, afirmou a seu pai que queria cuidar do paciente e não tratá-lo, ao que seu pai foi contra. Conta que sua irmã ganhou do pai uma pulseira de brilhantes quando se formou em Medicina na USP; que seu irmão ganhou um carro; que ela ganhou um anel modesto de formatura. Há 25 anos trabalha em enfermagem na Indústria, em que acredita ter um pouco mais de autonomia do que se estivesse em um Hospital.

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• A mãe da adolescente afirma que tem conhecimento que seu pai queria ter sido médico, mas que seu avô lhe disse que Direito era a única coisa que ele iria pagar. Então, ele não fez Medicina, segundo conta, para poder trabalhar junto com a Faculdade de Direito e poder continuar a sustentar a família.

• Falamos da identificação com a Tia, do legado que lhe foi deixado: reparar as faltas de todos – do avô que não fez o curso que queria; da mãe, que não pode atender aos desejos de seu próprio pai; da família, de poder salvar os que correm risco de vida ou adoecem.

• Digo-lhe que sua situação era tal, que talvez tivesse a fantasia de que os pais pudessem se interrogar por que a mais velha morreu e não foi ela. A mãe responde-me bastante emocionada dizendo que isto já havia passado por sua cabeça e que sua mãe lhe contara que pensara em abortar, quando se viu grávida pela terceira vez.

• Cabe lembrar que a adolescente apresenta outros interesses, embora preserve a Medicina como uma possibilidade: Moda, Arquitetura, Desenho, Administração, gosta de crianças e de mexer com o corpo e é jogadora de vôlei.

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• As imagens e os afetos aderidos ao processo da

escolha vão determinar as aceitações e resistências a

áreas do mundo ocupacional e condicionam a

modalidade operatória diante da escolha e da pesquisa

no mundo das profissões.

Tudo o que se interpõe no caminho da

escolha da profissão é assunto do

orientador.

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• Observar os diversos tipos de articulações entre os

espaços psíquicos e suas dimensões (intra, inter e

transpsíquica).

KAËS, René. Lógicas Del inconsciente e intersubjetividad. Trazado de una problemática. In:

Psicoanálisis de las configuraciones vinculares. Lógicas Coletivas. Práticas Vinculares. Buenos Aires:

Asociación Argentina de Psicologia y Psicoterapia de Grupo, Tomo XXXII, número 2, 2009.

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• Apresentar atividades a serem vivenciadas

no processo de Orientação Profissional

(individual ou em grupo), como sugestões

facilitadoras ao acesso, por parte do

orientador e orientando, às representações

da família sobre o momento de escolha

profissional do jovem. Tais tarefas auxiliam

também na obtenção de informações sobre

as expectativas e visões da família sobre o

orientando, participando a família ou não

das sessões de orientação.

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Opção metodológica em OP

• Inclusão da análise do

imaginário familiar

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1. Entrevistar os pais sobre o porquê de seu nome, como ele foi escolhido e por quem: Possibilita o acesso a algumas impressões sobre a atitude dos pais em relação ao filho e à escolha profissional, uma vez que a justificativa revela as expectativas frente ao mesmo, até mesmo antes de seu nascimento. Uma mãe pode responder, por exemplo, que escolheu o nome Carolina porque nos seus próprios 15 anos, identificou-se muito com este nome e que gostaria de tê-lo recebido ela mesma; o pai pode argumentar que era o nome de uma personagem importante de uma mini série de TV, a quem apreciou muito pela beleza, carisma e força, atributos que deseja encontrar em sua própria filha.

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2. Solicitar que o estudante peça uma carta a seus pais dizendo como vêem seu momento de escolha profissional:

Os pais tendem a revelar o modo como percebem o momento de desenvolvimento do(a) filho(a), denunciando expectativas sobre ele(a) e como vêem seu lugar na família. Em Dias (pp. 85-88, 1995), você encontrará 6 cartas analisadas. Uma única sentença, pode ser plena de significados, por exemplo, a mãe que disse, na cartinha à filha, “Penso que você ainda é muito nova para tomar essa decisão, sinto que se as dúvidas continuarem você deve dar um tempo para deixar esta ansiedade se acalmar e talvez aflorar ideias novas”, ao sugerir que a filha se acalme e aguarde “ideias novas”, pode estar informando à ela que não acha as atuais ideias muito boas, que as considera apenas fruto da ansiedade e do autodesconhecimento. Pode ser rico o diálogo estabelecido com os pais do orientando, mesmo que por redação.

Dias, Maria Luiza. Pensando a família no processo de escolha profissional. In: Barros, Delba

Teixeira Rodrigues, Lima, Mariza Tavares & Escalda, Rosângela (orgs.). Escolha e inserção profissionais: desafios para indivíduos, famílias e instituições. São Paulo: Vetor, pp. 259-275, 2007.

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3. Frases para completar sugeridas por Rodolfo

Bohoslavsky (pp. 114-115, 1977):

• O autor oferece uma sugestão de frases incompletas,

sendo algumas dirigidas ao tema da família. O

orientador profissional poderia tomá-las para si e

adicionar outras que considere interessantes. Como o

estudante precisa “inventar” a segunda parte da frase,

sendo que a primeira parte é somente o estímulo, acaba

por expor conteúdos pessoais. Por exemplo, com o

início de sentença “Minha família...”, podemos

encontrar: “gostaria que eu estudasse mais”; “espera

que eu cuide da empresa de meu pai”.

Bohoslavsky, Rodolfo. Orientação Vocacional - estratégia clínica. São Paulo: Livraria Martins

Fontes Ltda, 3ª ed. 1976, 12ª ed. 2007.

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4. Genoprofissiograma:

Solicita-se ao orientando que construa o genograma de sua família, anotando a profissão relativa a cada parente. Imaginemos, a título de exemplo, uma família na qual todos os membros do sexo masculino são dentistas, sendo que a profissão é muito valorizada no seio da família e a segurança de herdar uma clientela no consultório do pai seduza o estudante. Podemos, mesmo, encontrar uma situação inversa: uma diferenciação tal, de modo que todos os membros da família têm opções profissionais diferentes e atuam sobre o estudante com a expectativa de que ele venha a inovar na sua própria escolha, ficando quase proibido interessar-se por alguma profissão já presente no universo de sua família. Muitas vezes, será a confecção do genograma, o veículo que viabilizará a exposição dos temas presentes no mundo simbólico da família e dos afetos aderidos a eles.

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5. Histórias e uso do humor:

Após a leitura de “tirinhas” de piadas, pode-se

refletir sobre o que aqueles conteúdos dizem ou

não a respeito do orientando. O material pode

apontar diversos temas: atitude da família,

vínculo com o estudo, escolha, ansiedade diante

do vestibular etc. O orientando poderá também

desenhar seu próprio cartoon, falando de algo

sobre sua própria experiência em família. Você

encontra tirinhas que poderá utilizar em Dias (pp.

43-47, 2002).

Dias, M Luiza. Profissão: no rumo da vida. São Paulo: Ática, 2002.

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6. Role-playing do papel dos pais:

O orientando é solicitado a construir uma cena em

família, na qual poderá experimentar as diversas

posições no sistema familiar: será ele mesmo, a mãe, o

pai etc.

Segundo Lucchiari (p. 61, 1993), esta técnica tem por

objetivo oportunizar a tomada de consciência da

expectativa do pai e da mãe a respeito da escolha

profissional do filho e trabalhar a percepção do jovem

sobre a escolha profissional de seus pais e sua

influência na sua escolha.

Lucchiari, Dulce Helena Penna Soares. Pensando e Vivendo a Orientação Profissional.

São Paulo: Summus Editorial, 1993.

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7. Brasão de família:

Construção de 1 a 3 símbolos.

Solicita-se ao orientando que construa uma imagem

em estilo de brasão sobre a família e que explique

a mensagem contida nela.

Pode-se também trabalhar com o continuum passado-presente-futuro, solicitando-se uma imagem para cada um dos três momentos no ciclo de vida da família.

Trata-se de uma antiga tradição do uso e porte de brasão, representando a dinastia da família através dos séculos. A Heráldica - arte de formar e descrever brasões de armas - iniciou-se por volta do século XII, apesar de sua origem ser remota. Os símbolos pessoais e familiares são muito antigos. A Heráldica surge quando estes símbolos foram utilizados dentro de escudos de combate. O orientando poderá criar sua própria imagem, no modo que quiser. O foco deve estar na análise dos significados expressos no brasão. Imaginemos, a título de exemplo, a situação de um jovem que no desenho do brasão de sua família, representou o grupo com um símbolo de coragem. Esse tema passou a ser pensado a partir dessa atividade e foi possível verificar que este era o valor que alicerçava suas escolhas: desejava fazer carreira como investigador de polícia e, como esporte, iniciar o alpinismo. Foi possível pensar no processo de OP, se o estudante preservaria este valor da valentia e, com isso, iria repetir o estilo familiar, ou se iria adquirir liberdade para ousar pensar em novas alternativas.

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• Tais atividades operam como

facilitadores da tomada de

consciência dos fatores

envolvidos na psicodinâmica

da família e suas relações com

a escolha profissional do

jovem.

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• “Acredito que auxiliar o orientando a perceber a rede de significações

com as quais opera e a compreender a construção que se encontra

subjacente às suas escolhas e não-escolhas (como também às possíveis

ansiedades e conflitos ocultos em suas preferências ou rejeições)

corresponde ao principal papel do orientador profissional. Ao adotar

uma abordagem clínica em OP, o orientador poderá atuar por meio da

interpretação do discurso e do uso de outros recursos técnicos

variados. Cabe lembrar que o orientando tem papel principal nesse

processo e que o orientador pode ser visto como um coadjuvante, um

facilitador ou co-construtor dessa estrutura simbólica, à qual a escolha

se referencia. O orientador proporciona experiências e identifica

elementos que convidam o orientando a refletir sobre sua realidade e

seu vínculo com o futuro. Atividades, dinâmicas e até mesmo testes,

sobretudo os de sondagem de interesses, funcionam como recursos

adicionais para promover o autoconhecimento e a facilitação da escolha,

podendo ser utilizados como parte de um processo mais amplo, que

inclui a entrevista como principal recurso.”

In: Castanho, Gisela M. Pires & Dias, Maria Luiza (orgs). Terapia de família com adolescentes. Dias, Maria Luiza.

Transmissão, herança e sucessão: identidade do adolescente e escolha profissional. São Paulo: Guanabara

Koogan, pp. 263-264, 2014.

Papel do orientador

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Papel da família

• Orientar

• Apoiar

• Investigar junto com o estudante

• Utilizar os recursos da comunidade para auxiliar na pesquisa

• Emitir opiniões claras

• Conceder autonomia

• Proporcionar um processo de orientação vocacional

• Acompanhar

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PERIGO! Idealização do mundo

• Do parceiro amoroso

• Da família

• Do futuro

• Da profissão

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Narcisismo

• Tendência do indivíduo para buscar formas perfeitas,

idealizadas, que lhe espelhe a melhor imagem.

A exigência do “espelho” torna inviável a continência

dentro do casamento ou do grupo familiar, das

necessidades e características de seus membros.

Ilusão de que se vai poder passar pela vida e constituir

família sem vivenciar e manejar conflitos.

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Alteridade

• Relação entre pessoas diferentes. Presença do outro com movimento próprio. Na relação de espelho, aquilo que se espera do outro é também aquilo que se quer ver nele como extensão dos próprios desejos. Isto colide com a noção de alteridade, já que todos são diferentes.

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DITADOS POPULARES

• “Cada panela tem sua tampa”

• “Cada pé torto tem seu chinelo”

• “A outra metade da laranja”

Noção de encaixe perfeito (cara-metade ou alma gêmea):

Nesta visão, a união amorosa é um encaixe de duas peças diferentes, com funções opostas, mas que se encaixam perfeitamente, constituindo uma totalidade funcional.

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Histórias da infância: contos clássicos

Cinderela A Bela e a Fera

Rapunzel

Branca de Neve A Bela Adormecida

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Barbie Butterfly - Príncipe - Mattel

• A partir de 3 anos

• O boneco da linha Barbie Butterfly traz o lindo Príncipe do novo DVD da Barbie. Ele vem vestido em sua túnica e botas reais e usando asas de libélula. www.saciperere.com.br/.../imagem1.jpg

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Crescemos ouvindo músicas românticas

que nos estimulam a sonhar!

“Carne e unha, alma gêmea, bate coração,

as metades da laranja

dois amantes, dois irmãos

duas forças que se atraem

sonho lindo de viver

estou morrendo de vontade de você.”

Almas Gêmeas

Compositor: Peninha

Interpretação: Fábio Jr

www.letrasdemusicas.com.br

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O velho e o novo

coexistem!

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Idealização do mundo ocupacional

• Sonhos realizáveis, adaptáveis?

• Luto

• Autoestima

• Autoimagem/autoconceito

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Um curso é completo? O emprego é o dos sonhos?

Uma carreira é suave?

Produção e percurso dependem de:

• Capacitação

• Foco

• Tolerância à frustração

• Perseverança

Recursos que se exercitam no seio da família.

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Representações:

como percebemos nossa presença e a de outros no mundo

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Bibliografia :

• Bohoslavsky, Rodolfo. Orientação Vocacional - estratégia clínica. São Paulo: Livraria Martins Fontes Ltda, 3ª ed. 1976, 12ª ed. 2007.

• Dias, Maria Luiza. Pensando a família no processo de escolha profissional. In: Barros, Delba Teixeira Rodrigues, Lima, Mariza Tavares & Escalda, Rosângela (orgs.). Escolha e inserção profissio-nais: desafios para indivíduos, famílias e instituições. São Paulo: Vetor, pp. 259-275, 2007. _____. Profissão: no rumo da vida. São Paulo, Ática, 2002. _____. Família e escolha profissional. In: Vários autores/sem organizador. A Escolha Profissional em Questão. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.

_____. O que é Psicoterapia de Família?. São Paulo: Brasiliense, 1991.

_____. Famílias & Terapeutas – casamento, divórcio e parentesco. São Paulo: Vetor, 2006.

• Puga, José Luis Gobbi Lanuza Suarez de, Wagner, Adriana & cols. O processo educativo e a empresa familiar. In: Desafios psicossociais da família contemporânea – pesquisas e reflexões. Porto Alegre: Artmed, pp. 191-200, 2011.