o papel da esquerda na américa latina (2)

Upload: antonio-mota-filho

Post on 06-Jul-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    1/20

    O PAPEL DA ESQUERDA NA AMÉRICA LATINA: as contradições e liites do!ro"eto social#li$eral

    Antonio Mota% &anda So'to( )Militantes da Ins'r*+ncia S,o Pa'lo-

    Res'o: O artigo é uma contribuição ao debate sobre a situação atual na América

    Latina e tem como objetivo apontar alguns elementos de análise da conjuntura latino-

    americana e, particularmente, brasileira. Parte-se de um panorama histrico da eleição

    de governos centro-es!uerda na região e, a partir da", busca-se compreender os limites

    sociais e econ#micos do projeto pol"tico desses governos. O te$to está organi%ado em

    tr&s seç'es( na primeira apresentamos o conte$to histrico da América Latina no )im do

    século ** !ue )oi o pano de )undo para a eleição dos re)eridos governos+ em seguida,

    nos dedicamos análise dos governos de Lula da ilva levantando as continuidades e

    rupturas ocorridas ao longo de seus dois mandatos+ por )im, discutimos os limites

    inerentes ao prprio modelo social-liberal desenvolvido no rasil. / importante

    ressaltar !ue esse te$to )oi escrito a duas mãos com tintas vermelhas. 0om isso, o te$to

    também se prop'e a instigar um amplo debate dentro da nossa organi%ação acerca do

    1 2estrando em 3istria 4con#mica pela 5niversidade de ão Paulo.6

     7outoranda em 0i&ncias ociais pela 5niversidade 4stadual Paulista 89:lio 2es!uita;ilho< = 0ampus de 2ar"lia>P é pes!uisadora sobre o ?overno Lula da ilva e a pol"tica e$terna pra ol"via @6B-61C.

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    2/20

     poss"vel )im de um bloco histrico e os desa)ios lançados s organi%aç'es !ue se

    a)irmam socialistas. / preciso centrar a lupa no avanço das )orças capitalistas na

    América Latina, sem perder de vista o hori%onte de sua articulação desigual e

    combinada com a economia mundial e o cenário pol"tico !ue se )orma.

    Pala.ras#c/a.e: América Latina+ rasil+ ocial-liberalismo

    %0 Introd'ç,o

    A eleição do governo 2acri na Argentina, a maioria parlamentar oposicionista na

    Dene%uela e a derrota de 4vo 2orales no plebiscito sobre a reeleição presidencial

    apro)undam a crise pela !ual passam os governos ditos 8populares< e de 8es!uerda< na

    América Latina. 4ssa crise também se e$pressa no rasil com mais intensidade a partir 

    da reeleição de 7ilma Eousse)) em 61F. Podemos caracteri%ar essa crise em tr&s

    dimens'es( econ#mica, pol"tica>ideolgica e social. 7o ponto de vista econ#mico, a

    crise e$pressa-se na especiali%ação de produção de mercadorias de bai$o conte:do

    tecnolgico+ o deslocamento do centro dinGmico da economia para o mercado

    internacional+ revitali%ou atividades t"picas de uma economia colonial vigorando o

    lati):ndio, baseado na monocultura, na e$ploração de mão de obra barata e na

    depredação do meio ambiente @A2PAHO, 61, pág. FIC. 0om isso a região

    apro)undou sua inserção na economia mundial como plata)orma de valori%ação

    )inanceira. A dimensão pol"tica e ideolgica da crise se e$pressa no abandono do

    socialismo como perspectiva estratégica pelo Partido dos Jrabalhadores - PJ e a

    despoliti%ação decorrente do neoliberalismo !ue restringe a pol"tica a uma !uestão

    administrativa, de gestão da pol"tica econ#mica. Kuanto dimensão social, podemos

    caracteri%ar os governos do PJ como social-liberal, baseada em uma pol"tica econ#mica

    ortodo$a com nuances sociais como é caso da valori%ação do salário m"nimo,

    trans)er&ncia condicionada de renda @olsa ;am"lia e ene)"cio de Prestação

    0ontinuadaC, e$pansão do crédito, criação de novos postos de trabalho.

    6. O a.anço do neoli$eraliso na A1rica Latina e o 2Consenso de3as/in*ton4

    A partir da segunda metade década de 1M, o capitalismo entra num per"odo de grave

    crise econ#mica, o !ue abre espaço para uma ampla cr"tica terica e pol"tica social-

    democracia e macroeconomia Nenesiana. 4les seriam responsáveis por ampliar a

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    3/20

     participação do 4stado na economia, o !ue prejudicaria a iniciativa privada e os

    mecanismos de mercado. 4sse é o conte$to em !ue se desenvolve de )orma mais clara o

    !ue chamamos de 8neoliberalismo

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    4/20

    0om isso, as economias latino-americanas iniciam um novo per"odo de sua inserção na

    economia mundial, caracteri%ado por Paul inger como uma 8depend&ncia desejada<

    @H?4E, 1QC. Ou seja, a pol"tica econ#mica neoliberal apro)unda a depend&ncia

    econ#mica da região e busca inserir a América Latina de )orma subordinada no

    capitalismo )inanceiri%ado.

    A retrica neoliberal rea)irmava !ue a região reencontraria a trajetria do crescimento

    econ#mico sustentado assim !ue promovesse os ajustes )iscais e institucionais

    necessários a diminuir a atuação do 4stado na economia, desmontar pol"ticas

    8desenvolvimentistas

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    5/20

    2ovimentaç'es ;inanceiras @0P2;C, 0ontribuição para ;inanciamento da eguridade

    ocial @0O;HC, do Hmposto de Eenda e criando a 0ontribuição de Hntervenção no

    7om"nio 4con#mico @0H74C.

    As contradiç'es do neoliberalismo )i%eram-se notar também em outros pa"ses

    sulamericanos. o 4!uador, aps uma grave crise econ#mica, o governo adotou a

    dolari%ação da sua economia em de janeiro de 6.

    O caso mais grave das conse!u&ncias do neoliberalismo na região )oi a crise da

    Argentina em 61. 4m meio a uma grave crise )inanceira, )ruto da pol"tica econ#mica

    adotada pelo governo 2enem e seu ministro da economia 7omingo 0aballo, o

     presidente ;ernando de la E:a renuncia em 6 de de%embro de 61. O vice-presidente

    havia renunciado em outubro, o !ue abriu uma crise institucional, !ue piorou ainda mais

    a situação econ#mica.

     a Dene%uela, o neoliberalismo iniciou-se de com o segundo mandato de 0arlos Andrés

    Pére% @1Q-1BC. 0uriosamente, no seu primeiro mandato @1MF-1MC Andrés Pére%

    havia assumido uma pol"tica econ#mica nacionalista e de es!uerda, reali%ando a

    nacionali%ação das ind:strias petrol")era de )erro. A resist&ncia popular )oi rápida e já no

    )im de )evereiro de 1Q ocorreu o chamado 8caracaço

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    6/20

    5R67ICO 8% # Sal9rio nio real ensal )%;-

    7onte: HP4A

    A sindicali%ação também diminuiu ao longo dos anos 1, o !ue somado ao conte$to

    de reestruturação produtiva, aumento do desemprego e crescente repressão aos

    movimentos sociais diminuiu sensivelmente a !uantidade de greves ocorridas no

     per"odo. 4m 1Q, ocorreram apro$imadamente F greves, já em 1 )oram em

    torno de S greves.

    5R67ICO 8( ? Estiati.a de *re.es no @rasil )%;

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    7/20

     passiva dos pa"ses da região na )ase )inanceiri%ada do capitalismo, desmontou serviços

     p:blicos por meio da privati%ação e retirou direitos sociais e trabalhistas. o entanto,

    não é correto compreender a histria a partir de uma perspectiva un"voca( se o

    neoliberalismo certamente representou um avanço da burguesia sobre a classe

    trabalhadora latino-americana, também impulsionou a resist&ncia popular. 0om isso,

     jovens, estudantes, sem-terra, )uncionários p:blicos, intelectuais, ind"genas e outros

    setores se destacaram no combate ao neoliberalismo.

    7iante de  uma 8crise orgGnica

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    8/20

    lançada a 0arta de Princ"pios, em !ue novamente pode-se comprovar a radicalidade

     presente no in"cio do partido( 8o $% recusa&se a aceitar em seu interior, representantes

    das classes exploradoras' (ale di)er, o $artido dos %rabal*adores é um partido sem

     patr+es>YYY.pt.org.br>Yp-content>uploads>61F>B>cartadeprincipios.pd) Z. Acessado no dia 6>F>61I.S 7ispon"veis em( X http(>>novo.)pabramo.org.br>content>encontros-nacionais-do-pt-

    resolucoesZ. Acessado no dia 6>F>61I.I 7ispon"vel em( Xhttps(>>YYY.pt.org.br>Yp-content>uploads>61F>F>mani)estode)undacaopt.pd)Z . Acessado no dia 6>F>61I.

    http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/03/cartadeprincipios.pdfhttp://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/03/cartadeprincipios.pdfhttp://novo.fpabramo.org.br/content/encontros-nacionais-do-pt-resolucoeshttp://novo.fpabramo.org.br/content/encontros-nacionais-do-pt-resolucoeshttp://novo.fpabramo.org.br/content/encontros-nacionais-do-pt-resolucoeshttp://novo.fpabramo.org.br/content/encontros-nacionais-do-pt-resolucoeshttp://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/03/cartadeprincipios.pdfhttp://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/03/cartadeprincipios.pdf

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    9/20

    tend&ncia ou bloco pol"tico e cada ve% menos vinculada a uma real inserção em

    algum movimento social. 0onsagra-se a )igura do militante pro)issional, e as

     possibilidades de 8liberação< são disputadas segundo uma correlação de )orças

    de)inida nos processos de encontros cada ve% mais massivos e despoliti%ados. O

    controle de postos na má!uina burocrática partidária pode ser decisivo para almejar uma vaga na disputa eleitoral, !ue, por sua ve%, abre o acesso ma!uina burocrática

    das administraç'es municipais ou mandatos parlamentares !ue, pouco a pouco, se

    convertem nas bases reais da ação partidária @HAH, 616, pág. FSFC.

    Aos poucos, palavras como 8socialismo

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    10/20

    em 66. 0om isso é poss"vel notar mais uma moderação da prática e do discurso

     petista( a rejeição aos patr'es presente na 0arta de Princ"pios de 1M dá lugar

    rejeição da burguesia parasitária @lati)undiários e a grande )inançaC. Os empresários

    8produtivos< estariam convidados a apoiar e participar ativamente do governo. 0om

    isso há mais uma in)le$ão( da de)esa do 8socialismo< petista passa-se ao anticapitalismo

    e desse ao anti-neoliberalismo.

    7e acordo com 2ar$ e 4ngels é a partir desse ne$o de alianças !ue se pode demonstrar 

    como os diversos partidos são e$press'es pol"ticas mais ou menos ade!uadas das

    re)eridas classes dominantes e suas )raç'es, !ue operam em consonGncia com os

    interesses de classes, e, portanto, com aceitação das restriç'es impostas pelo capital,

    nacional e internacional e em particular pela grande )inança @2AE*, 4?4L, 1MQ, p.FC.

    A condução da pol"tica econ#mica receberá especial atenção no governo de Lula. Os

    ministérios !ue comp'em a chamada 8e!uipe econ#mica< do governo tiravam poucas

    substituiç'es, ao contrário do !ue ocorreria com os diversos outros ministérios, !ue

    recorrentemente serviram como instrumento de barganha do governo com sua base

    aliada. O 2inistério da ;a%enda teve somente uma alteração( a !ueda de Antonio

    Palocci = médico !ue havia sido militante da )amosa organi%ação  iberdade e uta

    @LibeluC = e a ascensão de ?uido 2antega+ o do Planejamento, duas( a substituição de

    ?uido 2antega = !ue assumira a presid&ncia do 74 antes de assumir a ;a%enda = 

     por elson 2achado e sua troca por Paulo ernardo. 9á o anco 0entral não teve

    nenhuma mudança( o ban!ueiro 3enri!ue 2eirelles permaneceu )rente da instituição

    durante os dois mandatos de Lula. em mesmo as acusaç'es de remessa ilegal de

    divisas levantadas contra 2eirelles pelo então Procurador-?eral da Eep:blica a)etaram

    seu cargo. Jemendo poss"veis nervosismos do mercado !uanto a uma poss"vel mudança

    no comando do anco 0entral, Lula deu ao presidente do 0  status de ministro, o !ue

    lhe garantia )oro privilegiado.

    O governo também contornou a luta de classes ao internali%ar os con)litos sociais no

    aparelho de 4stado, alocando nos ministérios tanto os representantes do capital, como

    representantes do trabalho.

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    11/20

    A manutenção dos pilares da pol"tica macroecon#mica gerou grandes tens'es já nos

     primeiros momentos do governo, algumas delas originadas de )ora do PJ = vinda

    intelectuais e movimentos sociais outrora aliados ao petismo = e outras, de militantes

    trotsistas de dentro do prprio partido, como )oi o caso de 3eloisa 3elena @ALC,

    Luciana ?enro @EC, abá @PAC e outros parlamentares !ue )oram e$pulsos do PJ e

    deram in"cio a construção e )undação do POL @400O, 61S, p. 6MC.

    As primeiras medidas do governo trataram rapidamente de a)irmar !ue os termos

    a)irmados na 0arta ao Povo rasileiro eram cr"veis. 5ma das primeiras propostas de

    emenda constitucional remetida pelo governo ao 0ongresso di%ia respeito re)orma da

     previd&ncia dos servidores p:blicos )ederais. 0uriosamente, o e$-presidente ;30,

     pouco tempo antes do )im do seu mandato a)irmara !ue( 8 #u gostaria de ter feito areforma da previd3ncia, porque *o0e o maior problema da taxa de 0uros é que o estado

    é obrigado a gastar mais do que ele arrecada' $rincipalmente porque n/s gastamos 45

    !6 bil*+es, que corresponde a 267 do orçamento, pra manter tr3s mil*+es de pessoas,

     s/ de funcionários p8blicos' #u tentei muito' #u lamento não ter conseguido

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    12/20

    Programa olsa ;am"lia, criado também 6B por meio da 2edida Provisria 1B6. O

    salário m"nimo teve uma !ueda em seu valor real em 6B, mas já em 6F apresenta

    uma t"mida valori%ação de B,MT e, em 6S, uma valori%ação de MT. 5m aspecto

    importante da valori%ação do salário m"nimo é !ue ele também valori%a bene)"cios

    sociais, bem como outras )ormas de rendimento !ue o tomam por base. Jambém a

     partir de 6F o crédito para pessoas )"sicas e jur"dicas começa a se e$pandir 

    @AEOA, O5RA, 61, pág. ISC.

    4m 6I, a condução da pol"tica econ#mica so)re uma mudança parcial com a

    substituição de Antonio Palocci por ?uido 2antega. 2antega, um economista de

    histria tradição dentro do PJ, apro)unda a estratégia de valori%ação real do salário

    m"nimo e de trans)er&ncias diretas de renda, principalmente por meio do olsa ;am"liae do ene)"cio de Prestação 0ontinuada @P0C.

     o entanto, a pol"tica econ#mica s so)reria uma maior alteração no conte$to da crise

    de 6Q, !uando o governo brasileiro desenvolveu uma pol"tica anti-c"clica, mas ainda

    sem romper com o tripé macroecon#mico. A pol"tica econ#mica, por meio da redução

    de impostos, centra-se ainda mais na ampliação da demanda por bens de consumo

    duráveis( automveis @redução de HPH para carros populares e motosC+ utens"lios da

    chamada 8linha branca

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    13/20

    )racassada do governo Eousse)) de impulsionar um novo ciclo de crescimento a partir 

    de um maior ativismo do 4stado burgu&s esbarra nos limites estruturais do capitalismo

    dependente e )inanceiri%ado, em !ue nem a autocracia das classes dominantes nacionais

    combina-se com as e$ig&ncias de ajuste )iscal permanente do grande capital

    internacional. Para superar os impasses inerentes a uma economia dependente na atual

    conjuntura do capitalismo teria sido necessário um processo de ruptura radical com as

    classes dominantes nacionais e internacionais e o )ortalecimento da classe trabalhadora.

    eria necessário, portanto, !ue o governo assumisse o lado da classe trabalhadora contra

    as burguesias. o entanto, a estratégia dos governos petistas seria a da conciliação de

    classes )ortalecendo aspectos da ação estatal !ue pudessem soldar essa conciliação.

    4n!uanto houve algum crescimento econ#mico, )oi poss"vel para o 4stado estabelecer uma espécie de conciliação entre capital e trabalho em !ue ambos obtiveram ganhos. o

    entanto, é importante ressaltar !ue esses ganhos se deram dentro de um marco estrutural

    de)inido( a submissão aos marcos do capitalismo )inanceiri%ado e da democracia

     burguesa. Jranscender esses limites já não )a%ia parte do hori%onte pol"tico do governo.

    Assim, podemos apontar um aspecto central !ue articula os elementos econ#micos,

     pol"ticos e sociais dos governos petistas( a aceitação do modelo social-liberal converge

    com a paulatina perda de radicalidade do PJ e seu en!uadramento dentro dos marcos da

    institucionalidade da democracia burguesa.

    uperar o neoliberalismo em sua totalidade teria e$igido dos governos do PJ romper 

    com as classes dominantes, )ortalecer a classe trabalhadora e lançar as bases para um

    conjunto de re)ormas !ue levassem crescente politi%ação e radicali%ação da

    democracia. Ou seja, o governo teria de ter apro)undar uma estratégia de poder !ue se

    mantivesse vivamente calcada nos movimentos sociais e nas disputas da classetrabalhadora contra as classes dominantes. o entanto, a via de menor resist&ncia, ou

    seja, a!uela completamente delimitada pelos marcos da institucionalidade, de)inida a

     priori pelas classes dominantes, tolheu os governos petistas de assumirem uma pol"tica

    radical e lançarem as bases para uma poss"vel transição socialista. A esperança pelo

    socialismo brasileiro, um socialismo novo, marcadamente democrático, ecossocialista,

    )eminista e contrário a !ual!uer tipo de opressão novamente )oi novamente posta de

    lado.

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    14/20

    Assim, por um lado, é bem verdade !ue a classe trabalhadora conseguiu melhorias

    materiais. o entanto, essas melhorias não lhe permitiram superar o !uadro de

    supere$ploração da )orça de trabalho, ampliar direitos, apro)undar a consci&ncia de

    classe e radicali%ar a pol"tica @L504, 61BC. 5m e$emplo disso são os empregos

    gerados de 6 a 61( cerca de ST das vagas de emprego abertas pagava até 1,S

    salário m"nimo, o !ue nos permite a)irmar !ue se tratam de vagas mal remuneradas em

    !ue provavelmente predomina a precari%ação da )orça de trabalho @PO032A, 61,

     pág. 1C. 4ssas melhorias )oram possibilitadas por um crescimento econ#mico de bases

    )rágeis, !ue ampliou a vulnerabilidade e$terna e consolidou o rasil como uma

     plata)orma de valori%ação do capital )ict"cio @PA5LAH, 6QC. Para além do !ue,

    8desconectados de postura anticapitalista, os gan*os materiais conquistados levam

    água para o moin*o do estilo individualista de ascensão social, embutindo valores de

    competição e sucesso no lulismo< @H?4E, 616, pág. 11C.

    A )ragilidade dessas melhorias )ica mais evidente no atual momento de crise econ#mica.

    Eecentemente, o anco radesco apresentou estimativas de !ue cerca de F milh'es de

     pessoas !ue haviam ingressado na chamada 8nova classe média< retornaram s classes

    7 e 4M. ;undamentalmente isso se deve ao aumento do desemprego e a !ueda dos

    salários reais. 7e acordo com a Pes!uisa 2ensal de 4mpregos do H?4, a massa derendimento real dos trabalhadores @ou seja, a soma de todas as remuneraç'es pagas aos

    trabalhadoresC tem ca"do m&s aps m&s a partir de janeiro de 61S.

    4n!uanto isso, os lucros dos grandes bancos nacionais aumentaram. O lucro do Hta:

    teve em 61S o maior lucro da histria do sistema bancário brasileiro, a bagatela de

    E\6B,BS bilh'es de reais. O radesco, por sua ve%, teve um lucro de E\1M,1 bilh'esQ

    A prioridade do governo )ica mais claro !uando analisamos o volume de gastosdestinados ao pagamento de juros e amorti%aç'es da d"vida p:blica e a!uele destinado

    ao olsa ;am"lia. A t"tulo de ilustração do nosso argumento, em 61S o pagamento de

     juros e amorti%aç'es )oi BS ve%es maior do !ue a!uele destinado ao olsa ;am"lia. A

    menor relação entre eles ocorreu em 61B, !uando o total gasto com juros e

    M 7ispon"vel em( Xhttp(>>YYY.valor.com.br>brasil>FBQSBFI>crise-devolve-!uase-F-milhoes-classes-d-e-eZ. Acessado em 6>F>61I.Q 7ispon"vel em(X http(>>g1.globo.com>economia>negocios>noticia>61I>6>lucro-do-

    itau-unibanco-atinge-r-6BBS-bilhoes-em-61S.htmlZ eXhttp(>>g1.globo.com>economia>negocios>noticia>61I>1>lucro-do-bradesco-cresce- para-r-1M1-bilhoes-em-61S.htmlZ. Acessado em 6>F>61I

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    15/20

    amorti%aç'es )oi cerca de 6 ve%es maior do !ue o total do olsa ;am"lia. Os valores

    estão compilados na tabela abai$o(

    Amorti%ação e 9uros da

    7"vida

    Dariação

    Anualolsa ;am"lia

    Dariação

    Anual6F

    E\ S.1F.M1B.S16,M -E\

    S.SBB.6SM.BM,1-

    6S

    E\ IBI.QF.MFI.I1,F1 6STE\

    I.QMB.MQ.F1S,6FT

    6I

    E\ IFQ.SFI.61.M11,1 6TE\

    Q.1FS.BMQ.FF,M1QT

    6M

    E\ I11.Q1Q.F6.1QB,MI -ITE\

    .666.6.11,1BT

    6Q

    E\ SS.B.6B.1F,MQ -TE\

    1.Q11.1IQ.QM,1MT

    6

    E\ IF1.QB.1FI.FQ1,M 1ST E\16.F1M.F1.IBQ,

    1ST

    61

    E\ SQ.IQ.IBQ.QI,F -MTE\

    1F.BII.1S.I1,1IT

    611

    E\ MQ.1F6.IBI.16S,B 1QTE\

    1M.6QB.1F.M6,6T

    616

    E\ MSB.6FI.B6.QM,61 ITE\

    6.6QQ.QMM.MQM,BB1MT

    61B

    E\ M1Q.Q66.1FB.6F,6M -STE\

    6F.Q.1M.1,6BT

    61F E\ MQ.IMB.1S.SQB,QS BIT E\6M.1Q.M6S.I1S, T

    61S

    E\ I6.6BB.BI.MIB,6 -6TE\

    6M.IS.B1.BB,6T

    7onte: 4laboração prpria com dados do Portal da Jranspar&ncia

    3ouvesse o governo optado por )ortalecer a classe trabalhadora, o cenário econ#mico

    teria sido di)erente. 4m ve% de o peso da crise econ#mica ter sido jogado sobre as costas

    da classe trabalhadora, o grande capital teria de abrir mão de seus grandes lucros.

    O pro)essor André inger, caracteri%a bem como )oi poss"vel a conciliação de classes

     promovida pela pol"tica dos governos do PJ e caracteri%a-a como um 8re)ormismo

    )raco

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    16/20

    As condiç'es para o programa de combate pobre%a viriam da neutrali%ação do

    capital por meio das concess'es, não do con)ronto. A manutenção da tr"ade juros

    altos, superávits primários e cGmbio )lutuante )aria o papel de acalmar o capital. 7e

    outro lado, a simpatia passiva dos trabalhadores, para !uem a ativação do mercando

    interno e a recuperação do mercado de trabalho representavam bene)"cios reais,garantiu a pa% necessária para não haver radicali%ação @...C @H?4E, 616, pág.

    1QQ.

    Jrata-se, portanto, de um re)ormismo !ue teve um e)eito duplo sobre a capacidade de

    ação da classe trabalhadora( se por um lado permitiu um maior acesso a bens e serviços

    até então restritos classe média tradicional e s classes dominantes, por outro, limitou

    a possibilidade de sua radicali%ação pol"tica.

    Jrata-se do avesso do !ue importantes tericos mar$istas tinham em mente !uando

    apontaram a ligação e$istente entre re)ormas sociais e revolução socialista. / o caso,

     por e$emplo, de Eosa Lu$emburgo !ue, em sua pol&mica com 4duard ernstein, a)irma

    categoricamente !ue é imposs"vel contrapor mecanicamente re)ormas e revolução. Para

    Lu$emburgo, caberia ao partido social-democrata desenvolver a passagem dessas

    re)ormas para a superação radical do modo de produção capitalista por meio da

    revolução socialista. 7e acordo com Lu$emburgo(

    Para a social-democracia, a luta prática cotidiana por re)ormas sociais, pela melhoria

    da condição do povo trabalhador dentro da ordem social e$istente, em )avor de

    instituiç'es democráticas, constitui... o :nico caminho capa% de guiar a luta de classe

     proletária e de trabalhar rumo ao objetivo )inal, tomada do poder pol"tico e a

    superação do trabalho assalariado. Para a social-democracia, há um ne$o inseparável

    entre a re)orma social e a revolução social, na medida em !ue a luta pela re)orma

    social é um meio, en!uanto a trans)ormação social é um fim @L5*425E?O, 611

    ]1Q^, pág. 6C.

    e hoje o governo petista debate-se para se salvar de uma grave crise econ#mica e

     pol"tica !ue dei$a s claras o caráter autocrático das classes dominantes brasileiras, !ue

    torce o nari% até mesmo para o 8re)ormismo )raco< desenvolvido nos governos petistas,

    é por!ue o prprio PJ, ao longo de seus governos, garantiu s classes dominantes as

    condiç'es materiais de desenvolver-se e apro)undar sua hegemonia.

     o entanto, essa constatação ainda dei$a em aberto uma pergunta !ue teima em manter-

    se viva e atual( )rente a esse cenário desa)iador, que fa)er:

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    17/20

    0 *'isa de concl's,o: Os liites do social ? li$eraliso na A1rica Latina eas tareas da esF'erda

    Ao longo desse artigo buscamos apontar elementos da histria recente da América

    Latina !ue marcaram a ascensão e !ueda de dois 8ciclos< mais ou menos de)inidos( o do

    neoliberalismo, !ue até a metade da década de 1 mostra-se avassalador, mas !ue no

    )im do século ** passa por intensa cr"tica+ e o ciclo do !ue chamamos de 8social-

    liberalismo

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    18/20

    5rge, portanto, a )ormação de uma alternativa de es!uerda radical para o pr$imo

     per"odo, !ue seguramente será de maior polari%ação e de grandes embates entre os

     projetos das classes dominantes e os da classe trabalhadora.

     ão temos nenhum tipo de pretensão de )ormular nesse trabalho algum tipo de

    8receituário< a ser seguido pela es!uerda latino-americana. osso objetivo é mais

    apontar elementos de uma sa"da es!uerda para o per"odo pelo !ual ;uestra

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    19/20

    da es!uerda revolucionária aps o stalinismo, o avanço do neoliberalismo e da 8ps-

    modernidaderasil entre o $assado e o ?uturo. ão Paulo( 4ditora ;undação PerseuAbramo e oitempo 4ditorial, 61.

    4AH7, 7aniel. Os irredutíveis. ão Paulo( oitempo, 61.

    04JEO 74 4J57HO P5LH0O @04PC.  #l ladrillo= >ases de la $olítica #con/mica del @obierno Ailitar B*ileno. antiago, 16.

    ?EARHAO, 9osé+ ?EOH, 2auro+ ;EA[A, ?alvão @org.C.  ?ome Cero= aexperi3ncia brasileira. 2inistério do 7esenvolvimento ocial. ras"lia( 27A, 61.

    74O, Anderson.  < consolidação da social democracia no >rasil= forma tardia dedominação burguesa nos marcos do capitalismo de extração prussiano&colonial . Jese

    @7outorado em 0i&ncias ociaisC. ;aculdade de ;iloso)ia e 0i&ncias, 5niversidade4stadual de ão Paulo, 2ar"lia, 611.

    74POEJ4, 3enri!ue ;ernando uini.  < política de crescimento econômico do governo ula= O Programa de Aceleração do 0rescimento = PA0. 7issertação@2estrado em 4conomia Pol"ticaC, Ponti)"cia 5niversidade 0atlica de ão Paulo, ãoPaulo, 611.

    ?O[ALD4, Eeinaldo. Desenvolvimento 9s avessas. Eio de 9aneiro( LJ0, 61B.

    3OR, 9osé 2art"ne%.  >ases para uma

  • 8/18/2019 o Papel Da Esquerda Na América Latina (2)

    20/20

     ``````. .uest+es de organi)ação da social&democraia russa ]1F^. Hn( LO5E4HEO,Hsabel @org.C. 4osa uxemburgo= textos escol*idos. ão Paulo( 54P, 611. D.1

    2AE*, Uarl+ 4?4L, ;riedrich. %extos. ão Paulo( Al)a = Omega, 1MQ. v. B.

    PA5LAH, Leda 2aria. >rasil deliverG. ão Paulo( 6Q.

    P27. Hma ponte para o futuro. ras"lia( ;undação 5lsses ?uimarães, 61S.

    PO032A. 61

     ``````. 61

    A2PAHO 9E., Plinio de Arruda.  #tapa -uperior do Imperialismo, 4eversão ;eocolonial e 4evolução >rasileira. Hn( 0AJ4LO EA0O, Eodrigo. @Org.C.

     #ncru)il*adas da