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1 5G Americas Série de Estudos TCI para o Desenvolvimento: TeleSaúde na América Latina agosto de 2016

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5G Americas Série de Estudos TCI para o Desenvolvimento: TeleSaúde na América Latina agosto de 2016

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Conteúdo

Preâmbulo ............................................................................................................................................................... 3

Introdução ............................................................................................................................................................... 4

A saúde e as telecomunicações ....................................................................................................................... 7

Telesaúde na América Latina .......................................................................................................................... 13

Evolução de telesaúde na América Latina e principais eventos ..................................................... 14

Políticas nacionais de telemedicina da OMS por região ................................................................... 18

Implementando a telesaúde ....................................................................................................................... 20

Jogos e TCI focados EM crianças com autismo - Brasil ..................................................................... 20

Aplicações em dispositivos móveis para uma dieta balanceada – Peru...................................... 22

Pesquisa: MOOC de medicina - Venezuela ............................................................................................ 24

Caso primário: programa de telesaúde incluI educação a distância - Brasil .............................. 25

Olhando para o futuro… ................................................................................................................................... 27

Exclusão de responsabilidade ........................................................................................................................ 29

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PREÂMBULO

A América Latina é uma região onde convergem muitas realidades e setores diferentes da sociedade. Além de reduzir as desigualdades de desenvolvimento econômico, os desafios futuros estão presentes em várias outras áreas, como a saúde, educação, segurança pública, estabilidade democrática e muitas outras.

Esses desafios também incluem a implementação da Tecnologia de Comunicação e Informação (TCI). Isso requer um impulso em desenvolvimento horizontal para ampliar a convergência entre setores diversos e aumentar e aprimorar a qualidade de vida para os cidadãos da América Latina.

O BrechaCero.com foi criado para atingir essa meta, focando especificamente no uso de redes banda larga sem fio. Esse blog é produzido pela 5G Americas para promover e divulgar esse tipo de iniciativa TCI. Esse blog é de acesso aberto e oferece informações sobre muitas iniciativas, serviços e tendências, analisando o uso da tecnologia para melhorar a qualidade de vida. Várias pessoas também estarão apoiando o blog, como analistas e outros representantes do setor que serão entrevistados e contribuindo com colunas.

O BrechaCero.com também deve publicar uma série de documentos sobre questões específicas. O blog estará divulgando informações adicionais sobre o uso da TCI para apoiar o desenvolvimento em diferentes verticais e será uma fonte permanente de informações para consulta futura.

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INTRODUÇÃO

A maioria dos países da América Latina atinge o critério para a América Latina ser classificada como uma região emergente. Ou seja, a região enfrenta grandes desafios de crescimento em várias áreas socioeconômicas, como a saúde, e especialmente em termos de acesso universal à saúde.

As Tecnologias de Comunicação e Informação (TCIs) representam uma oportunidade para ampliar a cobertura de sistemas de saúde regionais. É possível ampliar a cobertura através de programas públicos de alcance nacional que contam com a participação de entidades do setor público, como universidades e hospitais, do setor privado e investimentos de companhias do setor de TCI.

A saúde é uma dos Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável para 2030, que fazem parte do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP). A ONU anunciou que o nível de mortalidade infantil evitável caiu mais de 50% desde 1990, enquanto a mortalidade materna caiu 45% e o número de novas infecções HIV foi reduzido em 30% entre 2000 e 2013. Mesmo assim, as Nações Unidas observou que mais de 6 milhões de crianças abaixo de 5 anos de idade morrem todos os anos e 16.000 menores perdem suas vidas diariamente por causa de doenças evitáveis, como o sarampo e tuberculose, e explicou que a AIDS já é a maior causa de morte entre adolescentes na África sub-Saara1.

Para evitar essas mortes, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável incluem o compromisso de eliminar as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e outras doenças contagiosas até 2030. As Nações Unidas anunciou que essa meta pode ser alcançada através de campanhas de tratamento e prevenção, educação, vacinação e de saúde sexual e reprodutiva.

A região apresenta vários desafios para controlar o crescimento de vários tipos de doença: desde doenças não transmissíveis como a obesidade, diabete e câncer, até outras ameaças mais tradicionais, como a tuberculose, dengue ou malária. A região também está trabalhando para aumentar a saúde de mães e recém-nascidos, ampliar a infraestrutura de saúde e aumentar a disponibilidade de serviços.

1 http://www.undp.org/content/undp/es/home/sdgoverview/post-2015-development-agenda/goal-3.html

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De acordo com os Indicadores Básicos de 2015 da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), a taxa de “mortalidade evitável” na América Latina em 20012 foi 272 mortes para cada 100.000 habitantes; em 2010, a taxa média regional caiu 10,5% para 230,9 mortes evitáveis para cada 100.000 habitantes. O relatório destaca que houve uma redução de mortes prematuras evitáveis em termos reais, embora existem grandes diferenças entre países da região. A OPAS destacou a importância de continuar reduzindo esse índice e trabalhar com a adoção de sistemas de saúde para aprimorar os serviços de saúde e ajudar a reduzir o número de “mortes evitáveis”. A organização também destacou a importância de programas de saúde preventivos para melhorar dietas, promover atividade física, reduzir o número de fumantes e enfrentar outras questões.

Nesse contexto, sistemas de saúde equipados poderiam ampliar o atendimento para muitos setores da sociedade com a inclusão de TCIs. Isso seria um passo importante em uma região de tamanho continental e com falhas de infraestrutura onde uma parcela da população não tem acesso à saúde.

Dentro da atual conjuntura, as tecnologias sem fio podem representar uma alternativa para ampliar a cobertura de saúde e servir populações que vivem em locais remotas da América Latina. Essas tecnologias devem oferecer acesso mais rápido a pesquisas e reduzir o tempo necessário para obter uma segunda opinião médica em casos específicos. Mesmo assim, os Estados devem agir de maneira positiva para garantir a implementação dessas alternativas. Além de leiloar radiofrequências, eles devem simplificar a regulamentação sobre a implementação de redes como forma de incentivar o desenvolvimento de redes de banda larga sem fio.

Além disso, programas nacionais de TeleSaúde serão capazes de vencer as falhas de infraestrutura e reduzir distâncias, aumentando o intercâmbio de informações. Muitas iniciativas públicas e privadas apoiam a implementação de aplicativos e/ou serviços que facilitam acesso da população aos serviços de saúde. Exemplos incluem aplicativos que desempenham várias funções, como sugestões para controle de peso ou deita, até controles periódicos para doenças que exigem terapias complexas.

Iniciativas para implementar TCIs com o objetivo de ampliar a cobertura de saúde dependerão muito de tecnologias móveis, especialmente a tecnologia de banda larga 2 A “mortalidade evitável” é um indicador que quantifica as mortes prematuras causadas por problemas de saúde que poderiam ser evitadas com a prevenção de enfermidades, ou atrasando a morte através de cuidados médicos tempestivos e efetivos.

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móvel, principalmente por que muitos aplicativos de TeleSaúde devem ser instalados em smartphones ou tablets e precisam de conexões constantes. Os governos de cada mercado regional também enfrentam o desafio adicional de apoiar a venda e adoção em massa desse tipo de dispositivo.

Em situações onde existe um alto nível de penetração, observamos que um grande número de pessoas acessam os serviços de saúde através de serviços móveis. De acordo com um relatório da Ovum publicado pela 5G Americas, em 2015 a América Latina possuía 706 milhões de linhas móveis, incluindo 377 milhões acessos de banda larga móvel (323 milhões HSPA e 54 milhões LTE).

A Ovum também destacou que a crescente adoção regional de serviços de banda larga móvel. A banda larga móvel deve atingir 696 milhões de acessos em 2020 - representando 88% de todas as assinaturas móveis naquela época. Ou seja, a disponibilidade de banda larga móvel em maior escala cria uma grande oportunidade de implementar serviços de TeleSaúde capazes de alcançar uma grande parcela da população através de uma grande variedade de soluções.

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A SAÚDE E AS TELECOMUNICAÇÕES

Existem vários nomes para os serviços de telecomunicação utilizados pela Saúde: eSaúde, Cibersaúde, TeleSaúde e Telemedicina3. A Organização Mundial de Saúde (OMS) observa que esses tipos de serviço representam um meio eficiente e seguro de apoiar a saúde e área correlatas4. Dentro dessa ampla definição, a maioria das práticas do setor de saúde que envolve as telecomunicações é classificada como TeleSaúde, especialmente hoje, quando as TCIs são fortemente ligadas com a saúde, até em seus processos mais básicos.

Por esse motivo, é importante implementar uma série de políticas públicas regionais para reunir os setores de Saúde e TCI. Também será importante permitir que organizações públicas, como universidades e hospitais, desenvolvem seus próprios projetos alinhados com um plano nacional de implementação. Iniciativas do setor privado que pretendem conectar pacientes com vários tipos de enfermidade com os serviços de saúde e a medicina e iniciativas público-privadas também são importantes.

Em linhas gerais, a TeleSaúde é um componente de um processo que está transformando a saúde diariamente e está cada vez mais presente em alguns dos sistemas de saúde mais eficientes, que são especialmente dependentes em informações e comunicações. A TeleSaúde é uma ferramenta que deve ser usar canais digitais para aprimorar os fluxos de informação, com a meta de apoiar os serviços de saúde e os sistemas de gestão.

As recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e a União Internacional de Telecomunicações (UIT) para programas nacionais de TeleSaúde descrevem vários contextos que podem existir quando no momento de implementar esse tipo de programa. Em geral, esses contextos podem ser resumidos da seguinte forma:

3 Nesse documento, a expressão TeleSaúde se refere a todas essas abordagens. 4 Marcelo D’Agostino, Najeeb Al-Shorbaji, Patricia Abbott, Theresa Bernardo, Kendall Ho, Chaitali Sinha e David Novillo-Ortiz. Em “Iniciativas de eSaúde para transformar a saúde na região das Américas”. Panam Public Health Review 35. 2014. Páginas 5 e 6.

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Contexto nacional para implementação de eSaúde5

De acordo com ambas as organizações, o contexto nacional pode ser classificado como:

- Experimentação e adoção inicial, onde os ambientes de TCI e de viabilização ainda estão em fases iniciais. Dentro desse ambiente limitado, um país não consegue cumprir com todas suas obrigações internacionais de emitir relatórios sobre a saúde pública. Países que se encontram nesse contexto devem focar na promoção de eSaúde, criando conscientização e estabelecendo uma base para investimento, educação da força de trabalho e implementação de eSaúde em serviços e sistemas prioritários6.

- Desenvolvimento e construção, onde o ambiente de TCI está crescendo mais rapidamente que o ambiente de viabilização. Existe muita atividade TCI,

5 Em “Conjunto de Ferramentas para uma estratégia de eSaúde nacional – Parte 1: Conceito de eSaúde:”. OMS - UIT. Página 21 6 Ibid

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aprendizagem na prática e muito risco para projetos devido à falta de padronização e compromisso com investimento a longo prazo. As agências de apoio e doadores ainda fornecem recursos e o envolvimento do setor privado está crescendo. É possível constatar alguns exemplos de investimento do governo em áreas como a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de alto desempenho. As parcerias público-privadas são comuns nesse contexto, e a eSaúde ainda é considerada parte de um esforço maior de apoiar a TCI e o desenvolvimento econômico em geral. Os aplicativos de TeleSaúde podem oferecer serviços valiosos e é nesse contexto que frequentemente aparecem os primeiros sucessos e impactos sobre os resultados de saúde. As principais metas nesse ambiente são acesso à saúde e qualidade de atendimento. Nesse contexto, um plano nacional deve focar em fortalecer o ambiente que apoia a TeleSaúde, criando segurança jurídica, estabelecendo o contexto de políticas públicas para uma oferta mais abrangente de serviços de TeleSaúde e identificando os padrões que devem ser adotados para evitar a construção de sistemas verticais cada vez maiores7.

- Ajuste de escala e integração, quando o ambiente de viabilização já é maduro o

suficiente para apoiar a adoção de TCIs em maior escala. Esse contexto inclui aspectos que só podem ser desenvolvidos a nível nacional, como a adoção de padrões e medidas legislativas, a incorporação de serviços de TCI e saúde e investimento em políticas de treinamento. O público está adotando TCIs e os profissionais de saúde já conhecem alguns aspectos dessas tecnologias. Nesse ambiente, os objetivos da TeleSaúde são custo e qualidade. Os sistemas de saúde frequentemente são muito caros e sensíveis à qualidade e segurança, por esse motivo o foco está em eficiência de sistemas e processos8.

A OPAS também promove o aprimoramento da saúde através de ferramentas e metodologias inovadoras de TCI. A meta é atingir a cobertura universal, criando sociedades mais justas e democráticas. A tecnologia é empregada para garantir um sistema de saúde de maior qualidade e acessibilidade. Os Estados também podem apoiar essas iniciativas promovendo a colaboração entre os vários departamentos de

7 Ibid 8 Ibid

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TCI e saúde e interagindo com o setor privado durante a fase de planejamento de metas.

O ecossistema de TeleSaúde também inclui start-ups focados em uma pequena parcela da população e doenças específicas. Eles conseguem gerar grandes melhorias que aumentam a qualidade de vida do paciente. Essas iniciativas não são restritas ao setor privado, mas também são desenvolvidas por vários tipos de empreendedor. Ou seja, esse tipo de iniciativa recebe o apoio de uma grande parte da população.

De acordo com a Visiongain, uma empresa de consultoria, a disponibilidade de smartphones de baixo custo aumentou acesso às lojas de aplicativos e mais de 100.000 aplicativos móveis de saúde estão disponíveis hoje. A lista inclui aplicativos gratuitos, focados basicamente em dieta ou exercício, além de aplicativos premium com conteúdo profissional, diagnóstico por imagens e recursos para controlar doenças específicas.

Além disso, as TCIs são muito úteis para avaliar a efetividade dos sistemas de saúde em si e como controles financeiros. Muitos governos do mundo inteiro reconhecem a necessidade de incorporar TCIs em seus sistemas de saúde. Existe uma tendência geral de desenvolver uma estratégia integrada e nacional para maximizar a capacidade atual desses sistemas.

A Visiongain informa que governos implementaram medidas de austeridade econômica que estão obrigando os ministérios e departamentos de saúde a otimizarem seus custos. Nesse contexto, as iniciativas de saúde móvel podem oferecer economias através do diagnóstico, controle e comunicação remota de pacientes.

A Visiongain também observa que o setor de saúde móvel gera renda para as operadoras de redes, desenvolvedores de software e gestores de plataformas de dados. Estima-se que o mercado de saúde móvel gerou receitas globais de aproximadamente US$ 10,3 bilhões em 2015.

Isso mostra que o setor de TCI desempenha um papel importante, por que garante conectividade e ativamente trabalha para oferecer o público acesso a sistemas de

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saúde através de aplicativos, smartphones ou outros dispositivos conectados que podem ser usados para monitorar o paciente.

Esses dispositivos terão um papel cada vez mais importante no futuro quando as tecnologias móveis são implementadas para a Internet das Coisas (IdC). Através da IdC, objetos, máquinas e dispositivos poderão conectar entre si através de redes de banda larga móvel, sem intervenção humana. Esses dispositivos incluem carros, outros veículos, motores e sensores capazes de transmitir informações através da Internet.

Com a IdC, será possível implementar sistemas de controle remoto para pacientes com qualquer tipo de doença, aumentando a precisão e eficiência dos serviços de saúde. Essa situação também deve gerar benefícios econômicos e sociais, aumentando a qualidade de vida em geral. De acordo com várias pesquisas e previsões da GSMA, a IdC deve representar mais de 10% do mercado global em 2020.

Cada país precisa colaborar e criar as condições necessárias para apoiar o desenvolvimento desse tipo de tecnologia e aumentar a adoção. Essas condições incluem a oferta das radiofrequências recomendadas pela UIT para o desenvolvimento de serviços de banda larga móvel (um total de 1300 MHz em cada mercado até 2020).

Além disso, o mercado requer regulamentação que facilita a criação de redes sem fio e garantir acesso em locais remotos, beneficiando uma parcela ainda maior da população com acesso ás iniciativas de TeleSaúde. O trabalho de ampliar o alcance de aplicativos de saúde baseados em tecnologias móveis também requer um alto nível de penetração de smartphones. Ou seja, as pessoas precisam adquirir dispositivos para poder aproveitar dos aplicativos.

É claro que o trabalho político necessário para apoiar as iniciativas de TeleSaúde exige um esforço mais abrangente e colaboração entre vários setores. Esse trabalho inclui a criação de um marco legislativo para otimizar o desempenho de redes e regras que facilitam o crescimento dos vários setores envolvidos, apoiando o setor de saúde, ampliando acesso ao atendimento médico, facilitando a implementação de redes e incentivando a adoção de dispositivos acessíveis.

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TELESAÚDE NA AMÉRICA LATINA

O primeiro relato de TeleSaúde nas Américas é de 1925. De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL)9, a TeleSaúde começou quando o hospital Maynard Columbus enviou um telegrama pedindo uma antitoxina para combater uma epidemia de difteria na comunidade local. O pedido de informações foi enviado da Alaska, e foi a primeira tentativa de colaboração bem sucedida mesclando a tecnologia moderna com métodos tradicionais de comunicação.

Ao longo dos anos, outros eventos revelam o desenvolvimento global do relacionamento entre a TCI e a medicina. O diagrama a seguir, da CEPAL, descreve essa evolução:

A TeleSaúde também avançou na America Latina. A CEPAL informa que as primeiras experiências regionais começaram no final dos anos 60. Mesmo assim, foi durante a última década do século 20 e a primeira década do século 21 que os programas e inovações em TeleSaúde começaram a crescer nessa região.

9 “Desenvolvimento de TeleSaúde na America Latina. Questões conceituais e status atual”. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Santiago de Chile, outubro de 2013

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EVOLUÇÃO DE TELESAÚDE NA AMÉRICA LATINA E PRINCIPAIS EVENTOS

1968 Dr. Ramiro Iglesia recebe o primeiro eletrocardiograma do espaço. 1975

México: IMSS-COPLAMAR, apoio médico através de redes de rádio. CLIDDA, ISSSTE iniciam suas operações.

1985

O México oferece assistência emergencial usando a Telemedicina México: o programa CEMESATEL do Hospital Infantil de México Federico Gómez.

1986 Argentina, a Rede de Pesquisa Nacional, OPAS, WASHINGTON/ARGENTINA com 2000 unidades hospitalares e de saúde conectadas.

1992 Argentina: Primeiro Congresso Mundial da Fundação de Informática Médica. 1994 Costa Rica: Primeira videoconferência do Hospital Infantil em Libéria, UNED. 1995 México: ISSSTE inicia o programa nacional de TeleSaúde. 1996 México: Dr. Adrián Carbajal, cirurgias assistidas por robôs, Costa Rica: programa nacional de TeleSaúde, que mais tarde

seria desenvolvida muito lentamente. 1997 México: IMSS-Solidaridad-SEP-UNAM, educação de saúde através do EDUSAT. 1998 Argentina: Hospital Garrahan se conecta com a Patagônia para oferecer consultas remotas. Hoje, está conectado com

outros centros médicos da região. 1999 México: CUDI. 1999 Argentina: Federação Argentina de Cardiologia. Primeiro Congresso de Cardiologia Virtual. 2000 Argentina: Fundação para a informática médica. I Congresso Ibero-Americano para a Internet em Informática Médica. 2000 Sistema Nacional e-México: Treinamento para gerentes de empresas estatais usando ensino a distancia. Serviços de

telemedicina no Centro Nacional de Ortopedia. Panamá: reunião com o grupo do Arizon Telemedicine Program. 2001 México: Programa de Ação de Telemedicina e-Saúde (redes e Internet). 2002 Panamá: Projeto nacional de TeleSaúde para radiologia e telepatologia. Brasil: projeto do homem virtual da USP. 2003 Comunidade Europeia – início do @lis - Rede do Plano de implementação de projetos de TeleSaúde: Healthcare Network,

TELMED, EHAS, RedCLARA, Saúde para todos, incluindo os países a seguir: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Cuba. Brasil: Projeto BHTelessaúde implementado em Minas Gerais e HealthNet em Pernambuco.

2003 Argentina: Instituto Oftalmológico Zalvidar, primeira experiências em telemedicina. 2004 IMSS, tratamento clínico eletrônico a segundo e terceiro níveis Comunidade Europeia - RedCLARA criada, Europa -

América Latina 2005 Panamá: início de programa de telemedicina rural. 2006 Colômbia: Resolução 1448 oferece condições apropriadas para instituições oferecendo serviços de telemedicina. Brasil:

Criação do Laboratório América Latina - Europa para inovação e excelência em telesaúde, organizando seu primeiro Seminário. Brasil: Criação da Rede Universitária de Telemedicina. Equador: Plano Nacional de TeleSaúde.

2007 Brasil: Plano Nacional de TeleSaúde inclui nove estados, 900 cidades e 10 milhões de pessoas. Colômbia: Plano Nacional de TeleSaúde, lei 1122, 2007, oferece recursos de TeleSaúde em regiões de difícil acesso. Comunidade Europeia: Projeto Eurosocial, incluindo um componente de telemedicina, usado para trocar experiências. Inclui os países a seguir: México, Bolívia, Brasil, Equador, Panamá, Argentina, Costa Rica, Chile, Honduras, Paraguai e Peru. México: Programa de Ação Específica de Telemedicina 2007 - 2012. eLAC 2007, Plano de Ação para a Sociedade de Informação na América Latina e o Caribe. . Primeiro seminário em Rio de Janeiro.

2007 Associação Americana de Telemedicina, Seção da América Latina e o Caribe (ATALACC). 2008 México: Testes operacionais entre instituições e o estado. eLAC 2010: II, Plano de Ação Regional, San Salvador. 2009 México: Programa de pós-graduação em TeleSaúde e telemedicina. Colômbia: acordo 03, inclui planejamento para

atividades de telemedicina. SELA realiza Primeiro Seminário Regional de eSaúde e Telemedicina: conexão e acesso para bem-estar social. Criação do comitê assessor da CEPAL para eSaúde. Criação de grupos de protocolos políticos regionais para a TeleSaúde na América Latina. II Encontro do Laboratório de Inovação e Excelência em TeleSaúde do Brasil: apresentação da Revisão América Latina de TeleSaúde.

2010 México: Fórum Nacional de Ensino a Distância. El Salvador: inicia planejamento de um programa nacional de telesaúde. Quito: Criação da Associação Ibero-Americana de Telemedicina e TeleSaúde. Argentina: a província de Mendoza inicia projeto de telemedicina. OPS e OCTA: Estruturando TeleSaúde Pan Amazônica. eLAC 2015: III Plano Regional, Argentina.

2011 OPS: Criação do grupo de eSaúde; aprovação de um programa de eSaúde para as Américas pelos estados membros. Venezuela: Inicia formulação de programa nacional de eSaúde.

2012 Watson Marlow, Bolívia e Peru iniciam formulação de projetos nacionais. Criação do Comitê Latino Americano de Melhores Práticas em TeleSaúde (incluindo ministros de saúde e universidades da América Latina, CEPAL, IDB, OPS e ATALACC).

As tecnologias médicas usadas para diagnóstico por imagens avançaram durante as últimas décadas. Mesmo assim, esses avanços requerem mais largura de banda para

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transmitir dados em tempo real, uma questão que apresenta dificuldades desde o início da Internet.

Com o progresso tecnológico, a implementação global e regional de planos de TeleSaúde aumentou. Projetos podem ser implementados para oferecer consultas remotas e até controle remoto de pacientes, aproveitando da crescente velocidade da banda larga. Velocidades mais altas também aumentam a eficiência do atendimento médico.

Da mesma forma, essas iniciativas podem aproveitar da banda larga sem fio para alcançar área remotas que antes eram inacessíveis e não tinham acesso às tecnologias de TeleSaúde. Além disso, as velocidades maiores de tecnologias sem fio permitem a realização de estudos mais complexos em centros de saúde remotos.

Na América Latina, vários indicadores socioeconômicos revelam problemas de desigualdade social. De acordo com o Banco Mundial, o índice Gini de países regionais variou entro 53,7 e 41,9 pontos entre 2011 e 201510. O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PDNU) também destacou que 1,5 milhões de pessoas que vivem nessa região passarão a viver abaixo da linha de pobreza até o final de 2016, devido à desaceleração recente do crescimento econômico. A Organização das Nações Unidas alertou que esse número se soma aos 1,7 milhões de pessoas da América Latina que já viviam abaixo da linha de pobreza (com menos de 4 dólares por dia) em 2014.

Essas desigualdades também existem no setor de saúde, especialmente no acesso ao atendimento médico. De acordo com a CEPAL, essa brecha existe em função da falta de investimento público em saúde. De acordo com a OPS, o investimento mínimo recomendado em um sistema de saúde pública de alta qualidade é de 8% do PIB, mas esse número não foi alcançado em 2011. O relatório revela que países como Uruguai, Costa Rica, Brasil e Argentina investiram aproximadamente 6% do PIB no setor de saúde11.

10 Dados do Banco Mundial. Inclui Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Ecuador, El Salvador, Honduras, Panamá, Paraguay , Perú, a República Dominicana e Uruguay. Informações de 2011 -

2015. Disponível em http://datos.bancomundial.org/indicador/SI.POV.GINI 11 “Desenvolvimento de TeleSaúde na America Latina. Questões conceituais e status atual”. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Santiago de Chile, outubro de 2013. Página 60.

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De acordo com a UNDP, apesar dessas complicações a região conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil e aumentou sua capacidade de combater doenças, com alguns países liderando a inovação global em acesso universal a prevenção e tratamento do HIV/AIDS. Do outro lado, a taxa de mortalidade materna continua em alta e a área de saúde reprodutiva ainda precisa de muito trabalho. A expectativa de vida regional é uma média de 74,3 anos12.

A TCI é outro setor que precisa de desenvolvimento para implementar a TeleSaúde. A América Latina ainda apresenta desigualdades que precisam ser eliminadas para oferecer mais cobertura, especialmente na comunicação sem fio. De acordo com estimativas da Ovum publicadas pela 5G Americas, até o final de 2015 a região contava com 375 milhões de conexões de banda larga móvel, embora o relatório revela que 48% das linhas móveis ainda usam a tecnologia GSM.

Além disso, os mercados da América Latina não estão adotando a LTE de maneira uniforme. Na média, a LTE representou 8,9% de todas as linhas na região em 2015. As diferenças entre mercados variam de 48,9% em Uruguai e apenas 0,11% em Nicarágua; a região também inclui mercados como El Salvador e Cuba, onde a LTE ainda não chegou.

Mesmo assim, as tecnologias de banda larga devem crescer de maneira consistente na América Latina, representando 88% de todas as 791 milhões de linhas móveis até 2020. As tecnologias móveis representam uma grande oportunidade para a implementação da TeleSaúde, aumentando o escopo e penetração desses serviços e o adoção de aplicativos que aumentam a capacidade da população de controlar sua saúde e prevenir doenças.

Ao mesmo tempo, os governos regionais devem criar condições onde a TCI poderá alcançar um índice de penetração adequado para a implementação de uma grande variedade de diferentes projetos de TeleSaúde. Uma área que requer mais atenção é o espectro, necessário para a implementação mais eficiente de serviços de banda larga sem fio. A regulamentação será necessária para facilitar a implementação de redes, além de legislação sobre a concorrência para reduzir os obstáculos enfrentados pelos vários provedores de serviços de telemedicina.

12 “Sobre a América Latina e o Caribe”. PNUD

http://www.latinamerica.undp.org/content/rblac/es/home/regioninfo/

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A TeleSaúde é necessária para aumentar a qualidade dos sistemas de saúde regionais. A TeleSaúde pode aumentar o número de serviços disponíveis e acelerar diagnósticos e tratamentos. A TeleSaúde também pode reduzir barreiras geográficas, facilitar serviços e aumentar a qualidade de atendimento. Mesmo assim, a região ainda não está aproveitando de todo o potencial da TeleSaúde.

De acordo com informações da OMS, a Citel observa que a disponibilidade de serviços de telemedicina depende do nível nacional de renda. Ou seja, países com mais renda mostram mais adoção dos serviços de TeleSaúde, enquanto países com níveis médio - alto, médio - baixo e baixo de renda apresentam pouca diferença em termos de adoção.

A OMS também observou que aproximadamente 30% dos países da América Latina possuem uma agência responsável pelo desenvolvimento e planejamento de projetos de TeleSaúde. Esse número é semelhante ao nível reportado em países desenvolvidos.

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POLÍTICAS NACIONAIS DE TELEMEDICINA DA OMS POR REGIÃO

A nível de país, essas políticas estão em processo de desenvolvimento e são regionalmente desiguais. De acordo com a OMS, essas iniciativas são concentradas em atendimento primário e dirigidas às regiões mais afastadas. Mesmo assim, as atuais iniciativas públicas sugerem um futuro positivo para a ampliação da TeleSaúde na América Latina.

De acordo com o relatório “Iniciativas de eSaúde na América Latina (LATAM) Impacto e Direção Futura da eSaúde”, divulgado pela Frost & Sullivan em dezembro de 2015, os principais mercados regionais contam com um plano governamental para o desenvolvimento da TeleSaúde. Como se pode observar na tabela a seguir, estas iniciativas são acompanhadas pelo setor privado de saúde e companhias de telecomunicações apenas no Brasil, sendo que o setor de telecomunicações também está participando ativamente na Colômbia.

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Mas, de acordo com o relatório da Frost, outros mercados da região ainda carecem de apoio do setor privado. Esse suporte é essencial para o desenvolvimento da TeleSaúde para beneficiar a sociedade, já que essas políticas representam a principal alternativa para uma grande parcela da sociedade em muitos países.

Como se pode observar nas páginas a seguir, a região conta com uma grande variedade de experiências implementadas por órgãos de âmbitos distintos. Esse fato confirma que as alternativas de TeleSaúde não são desenvolvidas apenas pelos Estados, mas também pelo setor privado e outros órgãos, como Universidades.

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IMPLEMENTANDO A TELESAÚDE

O setor da Saúde é responsável por vários problemas, desde a alimentação até a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, doenças infecciosas ou problemas de saúde mental. Na América Latina, podemos observar vários projetos implementados por diversos setores da sociedade em diferentes áreas do setor da saúde.

Abaixo, Brecha Cero apresenta uma série de exemplos dos usos distintos das TCI no setor.

JOGOS E TCI FOCADOS EM CRIANÇAS COM AUTISMO - BRASIL

Um grupo formado pelo Departamento de Informática do Centro Técnico Científico da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Brasil, criou uma série de jogos que auxiliam no tratamento de crianças e jovens com problemas de autismo, ajudando-os a superar dificuldades de compreensão, interação social e fala. O aplicativo pode ser usado em dispositivos eletrônicos com os sistemas operacionais Android, iOS ou Windows, podendo ser baixado ou jogado online.

O projeto conta com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias Auxiliares, da Fundação Carlos Chagas Hijo do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), alem de receber apoio do Instituto de Pesquisas Ann Sullivan, especializado em autismo.

Para a criança, o uso de dispositivos como smartphones e tablets também simplifica acesso a jogos que ajudam a melhorar suas interações com o ambiente. Os jogos online apresentam uma oportunidade para os usuários interagirem com outras pessoas à distância. A tecnologia de banda larga móvel também apresenta oportunidades para conectar com uma quantidade maior de pessoas.

O autismo é uma desordem global que afeta a capacidade do indivíduo de comunicar-se, estabelecer relações e comportar-se adequadamente. A doença também está associada com comportamentos repetitivos, como arrumar objetos obsessivamente ou seguir rotinas muito específicas. Os sintomas podem oscilar entre leves a muito severos. É importante detectar o autismo, que pode ser diagnosticado a partir dos 6 meses de idade, para possibilitar intervenções pontuais de comportamento, cognição e fala, e permitir que as crianças com autismo sejam capazes de cuidar de si mesmas, interagir socialmente e comunicar com outras pessoas.

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O primeiro jogo desenvolvido foi o Aiello, que tem como objetivo o desenvolvimento das crianças autistas pelo meio de uma plataforma integrada. O jogo foi criado pelo Departamento de Informática do Centro Técnico Científico da PUC Rio, com o apoio de fonoaudiólogos e psicólogos renomados, é gratuito e disponível desde Julho de 2012 para crianças entre 5 e 9 anos com o objetivo de aprimorar seu vocabulário, além de apoiar a aprendizagem e identificação de figuras geométricas.

O aplicativo foi atualizado, de acordo com as melhorias sugeridas por parentes e educadores baseado em suas experiências com alunos e filhos. O aplicativo passou a incluir novos desafios como reconhecimento de voz, cores, números e novas palavras, aumentado o grau de dificuldade do jogo e aumentando o desenvolvimento das crianças.

O jogo ajuda as crianças a aumentar sua concentração e vocabulário, sem infantilizar seu comportamento. Por exemplo, as crianças podem jogar dentre de um ambiente controlado que as ajudam a focar sem distrações externas. Os resultados positivos obtidos pelas crianças autistas não só motivou a criação de outros jogos, mas ajudaram parentes a estimularem seus filhos com Síndrome de Down.

Outro jogo destinado às crianças autistas é o PAR (de “Peço, Ajudo, Recebo”). Usando uma mesa sensível ao toque, o objetivo é estimular a integração entre jovens de 12 a 17 anos. O jogo pode ser personalizado de acordo com as necessidades do paciente e incentiva a interatividade entre jovens autistas e outros participantes.

ComFiM (Comunicação pela Troca de Figuras para Dispositivos Móveis) é uma alternativa desenvolvida pela PUC com o objetivo de estimular a comunicação entre crianças autistas. O jogo conta com fases individuais e colaborativas, promovendo interações graduais entre usuários ao longo das fases. O jogo é ambientado em uma granja, onde as crianças com problemas de autismo são responsáveis e, levando em conta as principais características das crianças, devem colaborar entre si para realizarem determinadas tarefas. O jogo pode ser personalizado de acordo com necessidades individuais. Como a maioria dos jogos, grande parte das ações é realizada usando as funções “Te dou” e “Me dê” para aprimorar a interação social.

A implementação destes jogos destaca como as TCIs podem apoiar o setor de saúde. Esses jogos podem ser acessados via smartphones e, por esse motivo, a iniciativa pode ser expandida para outras áreas, aproveitando do menor custo destes

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dispositivos em relação a outros mais complexos. Isto evidência a importância de conexões de alta velocidade, que geram um ambiente mais colaborativo e possibilitam a interação entre parentes e terapeutas para oferecer um maior gama de opções e apoiar crianças autistas.

APLICAÇÕES EM DISPOSITIVOS MÓVEIS PARA UMA DIETA BALANCEADA – PERU

O Instituto Nacional de Saúde (INS) do Peru desenvolveu um aplicativo que tem como objetivo melhorar os hábitos alimentares da população. O app, chamado INS CENAN, foi disponibilizado pelo Centro Nacional de Alimentação e Nutrição (CENAN) e foi desenvolvido para ajudar o usuário a seguir uma dieta balanceada em seu dia-a-dia.

O sobrepeso e a obesidade tornaram-se um grande problema em muitos países ao redor do mundo e o Peru não é exceção. De acordo com o próprio INS, 6 em cada 10 peruanos enfrentam esse tipo de problema. O aplicativo recomenda alimentos de acordo com as atividades diárias realizadas pelos usuários, buscando reduzir possíveis desequilíbrios de saúde relacionados a maus hábitos alimentares.

INS CENAN é gratuito para baixar e está disponível para smartphones e tablets com sistema operacional Android.

Para utilizá-lo, o usuário deve baixar o aplicativo e informar seus dados pessoais como nome, número do RG e e-mail. Usuários devem então preencher um formulário para calcular o índice de massa corporal e obter recomendações personalizadas. A medição do perímetro abdominal também é importante, e não deve ultrapassar 88 cm para mulheres e 94 cm para os homens.

O aplicativo também possui uma calculadora de calorias. Desta maneira, permite ao usuário escolher um produto da lista de alimentos para o café da manhã, almoço e janta, incluindo bebidas e calcular o número total de calorias ingeridas. O aplicativo inclui vídeos educativos sobre as porções adequadas por gênero e peso.

O CENAN é o órgão de regulamentação técnica do INS, encarregado, a nível nacional, de promover, programar, executar e avaliar pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias nas áreas de alimentação e nutrição humana. O órgão administra o sistema de vigilância nutricional e fiscaliza a qualidade dos alimentos, principalmente em programas sociais, propondo ações para gerar hábitos alimentares saudáveis e

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contribuindo para um melhor estilo de vida ao reduzir fatores que causam danos à saúde pública, como desnutrição crônica, anemia, doenças relacionadas a hábitos inadequados de alimentação e nutrição.

O aplicativo tem caráter preventivo, transformando-o em uma importante ferramenta para o desenvolvimento de planos de saúde nacionais. O objetivo é reduzir o número de pessoas que poderiam desenvolver complicações relacionadas ao sobrepeso. Ao sugerir uma série de alimentos, o aplicativo também ajuda a evitar uma série de doenças como a hipertensão.

O aplicativo pode ser usado em dispositivos pessoais como tablets ou smartphones, ou seja, permite a inclusão de uma grande parcela da população. Estes dispositivos oferecem uma interação constante com sua dieta diária e permitem não somente regular as calorias consumidas, mas também adaptar a alimentação para prever futuras aflições.

Do ponto de vista da saúde pública, o aplicativo é uma ferramenta importante. Primeiro, porque aproveita de outras ferramentas amplamente disponíveis no mercado, como os smartphones. Segundo, é um sistema de controle rápido e simples de usar, que não exige muito tempo do usuário para manter uma dieta adequada.

Existe também um grande universo de possíveis usuários. De acordo com dados da Osiptel, o órgão regulador de telecomunicações do Peru, em setembro de 2015 o mercado contava com 33,6 milhões de linhas telefônicas móveis. Isto representa uma penetração equivalente a 112,5% da população. De acordo com o órgão, o país contava com 15,4 milhões de usuários de internet móvel no final de 2015.

Isto significa que os serviços móveis transformam-se em um importante canal para o aplicativo no mercado. Embora muitas linhas ainda não incluem acesso à internet móvel, existe um grande número de usuários ativos. O fato de o aplicativo ser gratuito para todos os usuários é uma vantagem interessante na implementação de políticas públicas preventivas.

Medidas para aumentar a cobertura banda larga móvel incentivam o desenvolvimento desse tipo de aplicativo. Com mais cobertura, um número maior de pessoas é beneficiado. Alem disso, a inclusão de medidas que reduzem o preço dos smartphones, como redução dos impostos de importação, ajudam a aumentar o número de usuários do aplicativo.

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A expansão da banda larga móvel não é só uma oportunidade para difundir o aplicativo, mas também para aumentar suas funcionalidades. Isso significa que a banda larga mais rápida deve incentivar o desenvolvimento de iniciativas de TeleSaúde no Peru.

PESQUISA: MOOC DE MEDICINA - VENEZUELA

A Faculdade de Medicina da Universidade Central da Venezuela (UCV) implementou o programa SOS Telemedicina, em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF – siglas em inglês). Os Cursos Online Massivos e Abertos (MOOC – siglas em inglês) são uma alternativa gratuita, massiva e online para ensinamento e aprendizagem de profissionais da saúde.

Os cursos online do SOS Telemedicina são uma iniciativa acadêmica com o propósito de capacitar profissionais da saúde com conteúdos uteis e relevantes. O programa oferece cursos gratuitos online para qualquer público com acesso à internet e domínio da língua espanhola. No total, são 11 cursos com suporte de docentes e pós-graduandos da Faculdade de Medicina da UCV. Os cursos utilizam tecnologias de informação e comunicação (TCIs) e os últimos avanços da área de saúde.

Os MOOC são cursos abertos disponíveis online. Estas iniciativas são interessantes do ponto de vista da inclusão educativa, por alcançarem um número maior de pessoas e oferecerem cursos em várias áreas. Destaca-se neste sentido a possibilidade de qualquer pessoa acessar os cursos sem a necessidade de atender requisitos acadêmicos ou ingressar em uma faculdade. Além disto, não existem restrições geográficas e os estudantes mais flexibilidade de acesso.

As MOOC oferecidas pela UCV e que fazem parte do programa SOS Telemedicina Cursos incluem Tecnologias de Comunicação e Informação, Pediatria, Infectologia, Neurologia, Amamentação Materna, Nutrologia, Gastroenterologia, Neonatologia, Pneumonologia e Pediatria Social; assim como Ginecologia - Obstétrica com especialização em Medicina Materno-Fetal, endocrinologia ginecológica e ginecologia infanto-juvenil.

Cada curso inclui aulas e tutoriais apresentados por profissionais de educação superior. Assim, cada curso terá referências bibliográficas, seminários e materiais de

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apoio disponíveis para download. O curso online conta com instrumentos de avaliação para a obtenção do Certificado emitido pelo programa SOS Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade Central de Venezuela.

O programa busca transformar-se em uma ferramenta para a formação e educação de profissionais da área da saúde. O conteúdo do curso será complementado e atualizado para melhorar a capacidade técnica, criar um ambiente de trabalho colaborativo e aperfeiçoar o tratamento em clinicas remotas.

CASO PRIMÁRIO: PROGRAMA DE TELESAÚDE INCLUI EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - BRASIL

O Programa TeleSaúde Brasil Redes está disponível no estado do Sergipe através da Fundação Estadual de Saúde (Funesa), em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado (SES) e o Sistema Único de Saúde (SUS). É uma ação social do governo federal buscando melhorar a qualidade do tratamento médico básico ao integrar educação e serviços usando ferramentas tecnológicas de informação e comunicação (TCIs).

O programa começou em 2013, oferecendo assistência e educação à distância. Atualmente, conta com integração entre as equipes de Saúde da Família do Núcleo Científico do Estado, e tem como desafio implementar 250 pontos em todo o Sergipe e já criou 133 pontos em 70 cidades.

O programa inclui móveis, computador, impressora, fone de ouvido, webcam e Internet, para garantir acesso através de uma plataforma virtual onde são realizadas as tele-consultas. Cada profissional pode requerer assistência de um tele-consultor (médico, odontológico ou enfermeiro) com experiência em assistência primária de saúde.

O programa também inclui educação à distância por via de aulas online, webinars e cursos. O objetivo é promover uma melhora na qualidade do atendimento básico do SUS, redução nas cargas horárias de turnos, presença de profissionais da saúde em locais de difícil acesso, agilizando o atendimento e otimizando os recursos do sistema.

Nacionalmente, o Programa de TeleSaúde Brasil Redes busca melhorar a qualidade de atendimento do SUS, integrando educação e serviços através das TCIs. O Programa

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iniciou-se em 2007 com o Projeto Piloto para apoiar o Atendimento Básico com a participação dos Núcleos de TeleSaúde universitários dos estados do Sergipe, Amazonas, Ceará, Pernambuco, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, qualificando aproximadamente 2.700 equipes em Estratégias de Saúde Familiar por todo o país. O programa beneficia 10 milhões de pacientes do SUS pelo Brasil afora.

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OLHANDO PARA O FUTURO…

As iniciativas de TeleSaúde na América Latina abrangem vários setores da sociedade e diferentes aspectos de saúde. Muitos Estados estão incorporando projetos a nível nacional.

Este cenário é positivo para o futuro, apesar do fato que a situação requer monitoramento constante e não deve depender exclusivamente de iniciativas Estatais. É importante criar uma infraestrutura regulatória para apoiar o setor privado e incentivar o trabalho em conjunto. Organizações estatais como Universidades também tem um importante papel a cumprir.

É importante levar em conta que, em termos gerais, as políticas públicas de TeleSaúde são destinadas ao atendimento imediato. No entanto, muitas iniciativas privadas estão focadas em controle preventivo ou monitoramento de doenças crônicas, duas questões de grande importância para a qualidade de um sistema de saúde nacional.

Outra pauta regional é o trabalho em conjunto das várias áreas do Poder Executivo de cada país. Isto requer colaboração entre os setores de Saúde e TCI, assim como a implementação de políticas que busquem objetivos em comum, uma abordagem essencial para o sucesso dos projetos de TeleSaúde.

O desenvolvimento da rede de telecomunicações é fundamental para criar um projeto integral de TeleSaúde, particularmente na América Latina, onde esse tipo de iniciativa garante acesso às zonas rurais, que mais precisam de atendimento. Isso significa que redes de banda larga são particularmente importantes para a implementação da banda larga móvel.

Adicionalmente, as redes de banda larga móvel não são apenas uma ferramenta importante para conectar regiões sem redes cabeadas. Elas também incentivam o crescimento de aplicativos para controle e prevenção de doenças e potencializam o crescimento deste tipo de iniciativa.

Neste ponto, além de disponibilizar espectro, os Estados precisam criar condições que incentivam a adoção de novas tecnologias de banda larga sem fio e facilitar a implementação de redes e a adoção massificada de dispositivos. Os governos

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precisam aumentar a participação do setor TCIs em suas iniciativas de TeleSaúde, não somente para ampliar a conectividade, mas para criar aplicativos e conteúdo também.

Basicamente, a oportunidade de crescimento da TeleSaúde na América Latina não depende somente do trabalho em conjunto dos setores públicos de TCI e Saúde, mas também requerem investimentos do setor privado e melhorias nos serviços de telecomunicações, especialmente sem fio, para garantir uma cobertura mais ampla destes programas.

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