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O "olhar treinado" e a autoridade do especialista Rafael Zamorano Bezerra 1 [email protected] / [email protected] Museu Histórico Nacional/Ibram/MinC PPGPatrimônio/COC/FIOCRUZ Resumo Neste texto analisou-se a autoridade do especialista exercida pelos conservadores do Museu Histórico Nacional (MHN) formados durante as primeiras décadas do Curso de Museus. Seus práticas eram baseadas nas chamadas "ciências auxiliares da história" e na correta identificação e classificação do objeto musealizado: o "olhar treinado". Buscou-se entender a atuação da autoridade do especialista na formação e na gestão das primeiras coleções do MHN, além do estudo de em um caso específico do ano 2000. A análise de como o especialista mobiliza seus conhecimentos na classificação de objetos é um meio de compreender a própria racionalidade do campo das coleções, em especial no MHN. Palavras-chave: Objeto histórico. Autoridade. Museu Histórico Nacional. Museologia. Who is to be the judge of skill? Presumably, either the expert and the nonexpert. But it cannot be the nonexpert, for he does not know what constitutes skill (otherwise he would be an expert). Nor can it be the expert, because that would make him a party to the dispute, and hence untrustworthy to be a judge in this own case. Therefore, nobody can be the judge of skills. 2 1 Doutor em História. Responsável pelo Núcleo de Pesquisa (Nupes) do Museu Histórico Nacional (MHN). Professor colaborador do Mestrado Profissional em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz) e professor do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProHistoria/Unirio). Coordenador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq-Ibram) e bolsista de Pós-doutorado Júnior do CNPq. 2 WALTON, Douglas. Legal argumentation and evidence. Pennsylvania: Penn State Press. p. 178. [Quem é o juiz da expertise? Presumidamente, tanto o especialista como o leigo. Porém, não pode ser o leigo, por que ele não sabe o que constitui a expertise (de outra forma ele seria um especialista). Não pode ser o especialista, uma vez que ele poderia tomar partido na disputa e, deste modo, desonestamente, ser o juiz do seu próprio interesse. Consequentemente, ninguém pode ser juiz da expertise.] Tradução livre do autor.

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O "olhar treinado" e a autoridade do especialista

Rafael Zamorano Bezerra1 [email protected] / [email protected]

Museu Histórico Nacional/Ibram/MinC PPGPatrimônio/COC/FIOCRUZ

Resumo

Neste texto analisou-se a autoridade do especialista exercida pelos conservadores do Museu Histórico Nacional (MHN) formados durante as primeiras décadas do Curso de Museus. Seus práticas eram baseadas nas chamadas "ciências auxiliares da história" e na correta identificação e classificação do objeto musealizado: o "olhar treinado". Buscou-se entender a atuação da autoridade do especialista na formação e na gestão das primeiras coleções do MHN, além do estudo de em um caso específico do ano 2000. A análise de como o especialista mobiliza seus conhecimentos na classificação de objetos é um meio de compreender a própria racionalidade do campo das coleções, em especial no MHN.

Palavras-chave: Objeto histórico. Autoridade. Museu Histórico Nacional. Museologia.

Who is to be the judge of skill? Presumably, either the expert and the nonexpert. But it cannot be the nonexpert, for he does not know what constitutes skill (otherwise he would be an expert). Nor can it be the expert, because that would make him a party to the dispute, and hence untrustworthy to be a judge in this own case. Therefore, nobody can be the judge of skills.2

1 Doutor em História. Responsável pelo Núcleo de Pesquisa (Nupes) do Museu Histórico Nacional (MHN). Professor colaborador do Mestrado Profissional em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz) e professor do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProHistoria/Unirio). Coordenador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq-Ibram) e bolsista de Pós-doutorado Júnior do CNPq. 2 WALTON, Douglas. Legal argumentation and evidence. Pennsylvania: Penn State Press. p. 178. [Quem é o juiz da expertise? Presumidamente, tanto o especialista como o leigo. Porém, não pode ser o leigo, por que ele não sabe o que constitui a expertise (de outra forma ele seria um especialista). Não pode ser o especialista, uma vez que ele poderia tomar partido na disputa e, deste modo, desonestamente, ser o juiz do seu próprio interesse. Consequentemente, ninguém pode ser juiz da expertise.] Tradução livre do autor.

O saber específico constitui autoridade, sendo, portanto, produtor de autenticidade.

Isto é evidente quando se trata da definição e da resolução de certos assuntos, como no

reconhecimento de autenticidade de artefatos e objetos. No campo de pesquisa da “cultura

material”, onde podemos inserir os estudos da museologia, da arqueologia, da história e da

antropologia, o conhecimento especializado é a principal forma de certificação de

autenticidade.

No caso dos patrimônios culturais, em sua vertente material, a exigência por

autenticidade é muitas vezes baseada em critérios científicos. Isso faz com que o saber

especializado seja a instância autorizada para produzir provas, emitir laudos, identificar

datações e estabelecer autorias. Instâncias análogas são componentes incontornáveis da

constituição de acervos museológicos, tal como ocorre com as coleções do Museu Histórico

Nacional (MHN).

O MHN foi idealizado e inaugurado como parte das comemorações do Centenário

da Independência do Brasil em 1922. Seu idealizador, Gustavo Barroso3, foi um intelectual

polígrafo adepto de uma tradição histórica monumental, com ênfase nos grandes feitos e

nos grandes homens. A história nacional que Barroso imprimiu na instituição ao longo de

35 anos como diretor aproxima-se à produzida pelos historiadores do IHBG, no final do

século XIX e no início do XX. Autores como Joaquim Norberto, Oliveira Lima, Visconde

de Porto Seguro, Vieira Fazenda, Pedro Calmon, Edgar Romero, entre outros, são

recorrentes nas referências citadas nas páginas dos primeiros volumes dos Anais do MHN,

embasando pesquisas que visavam à certificação ou não da autenticidade histórica de

diversos objetos do acervo do Museu. Ao selecionar objetos para o acervo do MHN,

Barroso lhes atribuía valores "histórico" e "nacional". A seleção por si só implica

estabelecer a diferença entre o que é “histórico” e o que não é, pois, como lembra Meneses,

3 Gustavo Barroso foi membro das principais agremiações culturais do país como a Academia Brasileira de Letras, cujo ingresso, com apenas 35 anos, o tornou o membro mais jovem a fazer parte da instituição. Em 1931, passou a integrar o grupo de sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Também fez parte de instituições congêneres do exterior, como a Academia de Ciências de Lisboa e a Sociedade de História Argentina. Em 1934, indicado por Washington Pires, foi nomeado representante do Brasil junto à Comissão Internacional de Monumentos Históricos do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, da Liga das Nações. No mesmo ano, tornou-se responsável pela Inspetoria de Monumentos Nacionais (IMN), criada como um departamento do MHN. A IMN realizou reformas em 35 monumentos de Ouro Preto, sendo desativada em 1937, por conta da criação do SPHAN. Cf. MAGALHÃES, Aline Montenegro. Colecionando relíquias. Um estudo sobre a Inspetoria de Monumentos Nacionais, 1934 a 1937. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2004.

os atributos intrínsecos dos artefatos incluem apenas propriedades de natureza físico

química, ao passo que nenhum atributo de sentido é imanente. O objeto “transforma-se” em

objeto histórico na medida em que é valorado segundo determinados critérios4. Para

Barroso, esses critérios relacionavam-se aos vultos da história pátria, aos grandes

acontecimentos, ao Estado, à Igreja, às elites locais e regionais. O ordinário, o de “valor

utilitário”, os objetos da vida cotidiana e do trabalho deveriam ser conservados em um

museu ergológico5.

Embora não existisse uma política formalizada de aquisição de acervo, a maioria

dos objetos recolhidos por Barroso datava do século XIX. Muitos são oriundos de coleções

particulares, órgãos públicos e de outras instituições de memória, como o Antigo Museu de

Artilharia, o Arquivo Nacional, o Museu Nacional, o Museu Militar e o Museu Naval.

Barroso e os demais conservadores do MHN estudavam minuciosamente medalhas,

condecorações, brasões, selos, moedas e escavações. Trata-se de um método de trabalho

próximo às práticas da tradição antiquária dos séculos XVII e XVIII, tal como observado

por Santos e Magalhães6. A valorização da numismática, importante no estabelecimento de

cronologias e na escrita de uma história política e do estado, significava a preocupação com

uma cientificidade nas atividades do Museu, visto que no MHN o estabelecimento da

nacionalidade convivia com pretensões de cientificidade. Tratava-se de um método de

trabalho que harmonizava o extremo da generalização – na qual a ideia de nação parece ser

o melhor exemplo – e a abrangência da história ilustrada com o detalhamento minucioso da

erudição e das práticas antiquárias.

O MHN uniu, portanto, o “culto da saudade” à pesquisa histórica baseada em fontes

materiais, estudadas através das chamadas “ciências auxiliares da história”. O melhor

4 MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da História: a exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 2 p. 9-42 jan./dez. 1994. 5 De acordo com Barroso, o Museu Ergológico deveria abarcar as seguintes áreas: mobiliário; alimentação; indumentária; moradia; arte naval; transporte; medicina; tecidos; tintas; decorações; esteiras; cestas; cerâmicas; brinquedos; arreios; entrançados de couro; obras de chifre; objetos de tartaruga; carpintaria; trabalhos em madeira; artefatos de cobre; curtume; pescaria; ourivesaria; prataria; ferraduras; marcas de gado etc. BARROSO, Gustavo. Museu ergológico brasileiro, desenvolvimento de estudos folclóricos em nosso país, um esquema ergológico, outras notas. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 3, p. 433-488, 1945. 6 SANTOS, Myrian. S. A escrita do passado em museus históricos. Rio de Janeiro: IPHAN, 2006. MAGALHÃES, Aline. M. Colecionando relíquias. Um estudo sobre a Inspetoria de Monumentos Nacionais 1934 a 1937. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2004.

exemplo da formalização dessas práticas é a criação do Curso de Museus, em 1932, como

um departamento do MHN, tendo sido um dos primeiros cursos do mundo dedicado ao

ensino do que podemos chamar hoje de museologia, que se voltava para a capacitação dos

funcionários do próprio Museu e de instituições afins. Ainda que os museus tenham sido

laboratórios para os mais diversos campos do saber, como a antropologia, a arqueologia, a

história da arte e a história natural, e para um projeto de história nacional (como nos países

latino americanos durante a construção dos estados nacionais, no período pós-

independência) a ideia de investir em conservadores de museus ocorre somente no século

XX. Por muito tempo, os museus, em suas várias tipologias, eram considerados campo de

atuação de arqueólogos, de naturalistas, de antropólogos, de historiadores da arte, de

helenistas e outros especialistas em coleções e em objetos. Os estudos, até então,

concentravam-se nos acervos, na identificação dos artefatos, sobretudo como forma de

decifrar textos, inscrições ou datações, procedências e autorias, que ampliavam o

conhecimento sobre as origens e o desenvolvimento das “civilizações” passadas7.

Foi apenas durante a curta gestão do historiador Rodolfo Garcia (1930-1932) que

foi criado o Curso Técnico de Museus. De acordo com o Decreto nº 21.129 de 7 de março

de 19328, o curso estava ligado diretamente à direção do Museu, com duração de dois anos

e com o objetivo de habilitar técnicos para ocupar o cargo de 3º Oficial do MHN. Assim, a

capacitação dos funcionários do MHN era realizada no próprio Museu, uma vez que seu

decreto de criação especificava estabelecer “[...] um Curso de Museus destinado ao ensino

de matérias que interessam à mesma instituição”.

O quadro de professores era composto pelos funcionários do MHN, incluindo

Gustavo Barroso, professor de Técnica de museus, Sigilografia, Epigrafia e Cronologia. Os

outros professores eram Rodolfo Garcia e Pedro Calmon, professores de História política e

administrativa do Brasil, Joaquim Menezes de Oliva, professor de História da arte, João

Angyone Costa, professor de Arqueologia aplicada ao Brasil, e Edgar de Araújo Romero,

professor de Numismática.

7 SÁ, Ivan Coelho de. As matrizes francesas e origens comuns no Brasil dos cursos de formação em arquivologia, biblioteconomia e museologia. Acervos. Revista do Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 26 dez. 2013. Disponível em: <http://revistaacervo.an.gov.br/seer/index.php/info/article/view/623>. Acesso em: 26 fev. 2014. p. 34. 8 BRASIL. Decreto nº 21.129 de 7 de março de 1932.

Em 1945, Barroso publicou o livro Introdução à técnica de Museus como material

didático do curso e que teve bastante influência na formação de diversos museólogos que

atuaram no MHN e em outras instituições. No livro, Barroso apresenta os conhecimentos

básicos “necessários a um verdadeiro conservador”, o que pode ser entendido como um

resumo do currículo e do conceito do Curso de Museus na época de Barroso. Publicado em

dois volumes, a primeira parte do livro é dedicada ao processamento técnico de acervo, e a

segunda é relativa ao estudo das coleções que compunham o universo do MHN.

Os dois volumes consistem em uma compilação dos conhecimentos de Barroso e de

suas aulas, uma vez que eram utilizados como manual por seus alunos. Tais conhecimentos

incluíam: heráldica, noções de bandeiras, condecorações, armaria, arte naval, viaturas,

arquiteturas, indumentárias, mobiliário, cerâmica, cristais, joalheria, prataria, bronzes

artísticos, mecanismos e instrumentos de suplício.

A ideia do curso era capacitar os conservadores a “lerem” os objetos coletados pelo

Museu, visando à sua classificação. Portanto, as chamadas “ciências auxiliares da história”

tinham um papel fundamental neste trabalho, ainda mais no caso “particular do Museu

Histórico Nacional, que é uma instituição destinada a conservar relíquias do nosso

passado”9. Tais conhecimentos eram fundamentais não somente para a classificação dos

objetos, mas também no reconhecimento de sua autenticidade. Das “ciências auxiliares da

história”, o conhecimento heráldico era um dos mais valorizados, a ponto de Barroso

afirmar o seguinte: [...] é meramente impossível dirigir ou prestar serviços técnicos a um instituto no gênero do Museu Histórico Nacional sem amplos e profundos conhecimentos de heráldica [...]10. [...] é regra fundamental da heráldica não pôr nunca num brasão metal sobre metal, cor sobre cor e pele sobre pele. Todas as armas que não obedecem a esse princípio básico são anteriores à codificação da arte de brasonar, muito antigas, portanto falsas. Consideram-se por isso sujeitas a inquérito, a um estudo minucioso, não podendo ser aceitas sem esse exame11.

A valorização da heráldica como disciplina indispensável para o trabalho nos

museus mostra como a museologia de Gustavo Barroso estava focada nas famílias

9 BARROSO, Gustavo. Introdução à técnica de museus. V. 1. Rio de Janeiro: Olímpica, 1933. p. 14. 10 Id. Ibid. p. 16. 11 Id. Ibid. p. 14.

tradicionais do período colonial e imperial, assim como nos objetos relativos ao Estado. A

correta classificação do objeto histórico, nessa perspectiva, passava pelo reconhecimento

dos elementos heráldicos, sendo sua classificação um dos pilares do trabalho dos

conservadores.

O Curso de Museus possibilitou a criação das bases conceituais e práticas do

trabalho cotidiano dos conservadores. Os Anais do MHN foram o principal meio de

divulgação dessas práticas, e seus artigos e monografias, principalmente os publicados

entre 1940 e 197512, tinham o objetivo de difundir o acervo, aferir ou criticar sua

autenticidade, além de publicar o trabalho realizado no museu, tal como podemos ver no

texto da conservadora Dulce Cardozo Ludolf, publicado em 1952:

Atualmente a palavra museu não mais designa um simples depósito de antiguidades. O museu de hoje é um centro de pesquisas. Seus funcionários esmiúçam a origem, a qualidade e o valor dos objetos, preocupam-se com os problemas técnicos de sua apresentação e de sua conservação, com a influência que exercem sobre a educação dos visitantes. Para atender a todos esses problemas, uma série de especializações se torna necessárias13. [...] no âmbito da pesquisa podemos estabelecer dois campos completamente diversos, ambos importantes. Em primeiro plano, a pesquisa do objeto propriamente dito, atribuição inerente ao conservador e uma das suas principais funções. Qualquer peça que entra no museu é devidamente classificada. Esta classificação demanda uma série de estudos sobre os mais diversos elementos: onde ela foi feita, em que época, a quem pertenceu, qual é a sua finalidade, a que estilo obedece etc. [...]14.

Ludolf atenta para o fato de que houve uma separação entre as especificidades dos

profissionais dos museus de história e dos museus de história natural. Nestes, eles são

considerados “naturalistas”, enquanto que nos museus históricos e artísticos,

“conservadores”. Ao trabalho dos conservadores ela atribuía um caráter científico, cuja

autoridade derivava dos conhecimentos científicos e técnicos, como a autoridade intelectual

12 Corresponde à primeira série dos AMHN. A seriação foi interrompida em 1975 e retomada 20 anos depois, em 1995, sendo publicada interruptamente até os dias atuais. 13 LUDOLF, Dulce Cardozo. A nova diretriz dos museus. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. XIII, ano 1952. p. 152. 14 Id. Ibid. p. 193.

de Gustavo Barroso e os saberes numismáticos de Edgar de Araújo Romero e Luiz Carlos

Poliano, por exemplo:

(...) a atuação dos conservadores é, portanto, cientificamente positiva, daí seu prestígio nos meios culturais. (...) espera-se [dos conservadores] o conhecimento da arte e da história, em todas as suas facetas e suas ligações complexas com as outras ciências; o espírito informativo nas consultas; a paciência e a perseverança nas pesquisas; o gosto estético nas arrumações; a síntese e a precisão na elaboração das etiquetas, guias e catálogos15.

A busca pela precisão na classificação do objeto histórico era presente no trabalho

cotidiano da instituição, como afirmou a conservadora Sigrid Porto de Barros, em 1949:

A pesquisa das fontes históricas ou documentos públicos e privados, preconizada pela Heurística, é parte da vida dinâmica do MHN, e ainda que num trabalho de divulgação fosse abandonada qualquer pretensão crítica, para limitar-se a uma simples enumeração de documentos, ainda assim seria prestado algum serviço à ciência histórica, pois estudiosos de toda parte ficariam sabendo com que material contariam para suas pesquisas e exatamente em que local o encontrariam16. [...] em se tratando de coleções de objetos históricos, quer-nos parecer que o ideal é obter objetos de autenticidade comprovada. Desde que, uma vez estudada a origem da peça e a documentação a ela referente, resulte qualquer dúvida que leve ao emprego da expressão clássica: “atribuído a”, melhor será encaminhar a peça à seção de reservas, onde se aguardará a confirmação ou não de sua autenticidade. A preocupação seguinte será a exposição de objetos, face à absoluta procedência de fatos históricos. Explicamos: entre um grande óleo de personagem de pequena relevância histórica e um objeto simples, mas de alta significação pela influência que exerceu num determinado momento, não há que exitar [sic]: é valorizar o pequeno objeto por uma boa apresentação estética17.

Os conservadores do MHN tinham um papel importante na avaliação e na

autenticação de objetos de valor histórico. Pode-se argumentar que, talvez, um dos

objetivos de Gustavo Barroso ao idealizar o MHN era o de que a instituição atuasse como

instância autorizada na avaliação de objetos históricos e antiguidades, espaço ocupado nos

dias de hoje pelas casas de leilões, colecionadores e críticos de arte. No Regulamento da

15 Id. Ibid. p. 161. 16 BARROS, Sigrid Porto de. Armas que documentam a guerra holandesa. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 10, ano 1949. p. 178. 17 Id. Ibid. p. 180.

Inspetoria de Monumentos Nacionais18 constava o seguinte artigo: “Art. 82. O Museu

Histórico Nacional autenticará os objetos artísticos históricos que lhe forem apresentados

mediante requerimento das partes interessadas e de acordo com a tabela anexa”. Tal

procedimento também é destacado no decreto de criação da instituição, quando versa sobre

as atribuições do diretor:

[Cabe ao diretor] ouvir os chefes de seção sobre a autenticidade e a importância histórica dos objetos a serem adquiridos e a conveniência da aquisição, ainda que a título gratuito, todas as vezes que lhe parecer necessário, assim como sobre o plano de classificação a ser adotado em cada seção ou alterações que este tiver de sofrer, podendo ouvi-los igualmente sobre qualquer matéria de serviço do Museu; [Cabe ao diretor] corresponder-se com quaisquer autoridades e solicitar, sempre que julgar de utilidade, o parecer destas ou de particulares, que tiverem razão para ser consultados e quiserem prestar esclarecimentos acerca da autenticidade e importância histórica de objetos a serem adquiridos19.

Durante as décadas de 1940, 1950 e 1960 era recorrente que os funcionários do

MHN fossem requisitados para atestar a autenticidade de artefatos ou realizar avaliações,

principalmente no campo da numismática, um dos carros-chefes do Museu. Muitos

conservadores do MHN são referência em estudos numismáticos, sendo a disciplina uma

das bases da museologia produzida no MHN, inclusive nos dias de hoje. Como observa

Arnaldo Momigliano, o trabalho dos numismatas foi importante na organização de

cronologias históricas e como fonte primária para uma escrita da história política, religiosa

e militar20.

Deste modo, era recorrente que funcionários do MHN fossem requisitados para dar

parecer sobre coleções e objetos, como em 1947, quando a conservadora Dulce Ludolf foi

convidada para apreciar na Bahia uma moeda de ouro, datada de 1855, e pertencente a

Armando Goes de Araújo. O exemplar pertencera inicialmente ao tio, Inocêncio Marques

de Araújo Goes, advogado, deputado pela Bahia e presidente da Província de Pernambuco.

18 Primeiro departamento federal de proteção do patrimônio, criado por iniciativa de Gustavo Barroso e que funcionou como um departamento do MHN de 1934 a 1937. Sobre a trajetória da IMN, cf. MAGALHÃES, Aline Montenegro. Colecionando relíquias... Op. cit. 19 BRASIL. Decreto Nº 15.596, de 2 de agosto de 1922. 20 MOMIGLIANO, Arnaldo. The Classical foundations of modern historiography. Berkeley, Los Angeles: University of California Press, 1990.

A análise de Dulce Ludolf segue o padrão encontrado em outros trabalhos realizados pelos

conservadores da instituição:

[...] os tipos de anverso e reverso correspondem aos adotados nas moedas do terceiro sistema monetário, terceiro tipo, de D. Pedro II (1853-1889). Falta, porém, no reverso a legenda IN HOC SIGNO VINCES, comum em todas as moedas daquela série, que foi substituída pela inscrição DEOS PROTEGE O BRAZIL, gravada no bordo, que é liso não serrilhado, como ocorre nas outras peças. Esta particularidade é importante de se registrar, pois a inscrição no bordo de moedas é um fato nunca verificado nos exemplares que integram nosso sistema monetário, principalmente tratando-se das séries de ouro, que são sempre serrilhadas21.

A moeda, de acordo com o proprietário, era exemplar único, visto que ele não

encontrou nenhuma informação na Casa da Moeda, o que o levava a crer que a cunhagem

constituísse num ensaio não aprovado, o que se evidenciava pelo fato de não haver

vestígios de circulação na moeda em questão. No entanto, Ludolf escreve ter encontrado

um documento inédito que revelava as circunstâncias de sua cunhagem. O documento

mencionado por Ludolf é uma ata de uma visita que D. Pedro II realizou à Casa da Moeda

em 1855 para assistir aos primeiros trabalhos de uma prensa monetária construída por

operários brasileiros. Durante a visita foram cunhadas 50 moedas de ouro para mostrar ao

imperador o funcionamento da prensa e ao mesmo tempo homenageá-lo. A descrição das

moedas citadas no documento encontrado por Ludolf confere com a análise da moeda da

Bahia. O documento informa que D. Pedro ficou com quatro exemplares (dois de ouro e

dois de prata), sem mencionar o que foi feito com os demais. Assim conclui Ludolf:

Fica assim esclarecido o porquê e em que circunstâncias se efetuou a cunhagem da moeda rara que estudamos e para a qual não houve determinação expressa em lei, uma vez que não se destinava à circulação. Cunhada na presença de D. Pedro II, para demonstrar o funcionamento da nova prensa a vapor, dela tiraram-se apenas 50 exemplares, dois dos quais lhe foram oferecidos. É, pois, sobretudo, uma peça de fantasia, proveniente de cunhagem toda especial, para agradar ao soberano em sua visita à Casa da Moeda. [...]22.

A conservadora ainda procurou informações com os membros da família real, com o

intuito de saber o destino dado aos outros exemplares, contudo nada encontrou. A pesquisa 21 LUDOLF, Dulce. Exemplar único de uma pequena cunhagem. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 8, ano 1947. p. 74-75. 22 Id. Ibid. p. 77. [Grifo da autora].

realizada pela numismata mostra outra faceta do trabalho dos conservadores do MHN: a

busca por indícios que possibilitem o reconhecimento da procedência dos objetos

estudados. Tais informações agregam valor aos objetos em coleção, permitindo, no caso, a

Ludolf afirmar que sua descoberta reveste a moeda “de importância histórica e maior

valor”, ainda mais que no campo numismático, onde a raridade é um elemento de valoração

(e de valorização).

As compras realizadas pela instituição também contavam com pareceres técnicos

dos funcionários, que, além de atestar e pesquisar o valor dos objetos, recomendavam ou

não a efetivação do negócio. Uma citação exemplar disso ocorreu em 3 de novembro de

1960, quando a chefe da Divisão de Numismática e Sigilografia, Yolanda Marcondes

Portugal, encarregou o conservador Antônio Pimentel Winz de negociar com Yeddo

Afonso Moutinho de Solano Barros a compra de medalhas23 para integrar o então recém-

criado Museu da República, que na época funcionava como um departamento do MHN. O

parecer foi favorável à compra, apresenta 20 medalhas “constituídas por peças de grande

raridade”:

Avulta entre esses a série de 14 medalhas de presidente da república de autoria do célebre gravador Augusto Giorgio Girardet, já falecido, que assim, completa, é uma da poucas conhecidas. Foi trabalho dos últimos anos de sua vida a medalha do presidente Dutra, derradeira da série. O preço de cada medalha e da série de medalhas, indicado por seu proprietário está de acordo com o preço pelo quais são vendidos em geral exemplares raros em leilões e casas especializadas. A grande procura por medalhas brasileiras pelos colecionadores e pelos museus recentemente fundados, para suas coleções, tem tornado tais objetos raros no mercado. O bom estado de conservação das medalhas desse conjunto, além das qualidades acima referidas, recomendam sua aquisição24.

Os pareceres sobre autenticidade histórica de objetos emitidos pelos conservadores

do MHN englobavam um vasto universo de objetos. Em 1960, foi encaminhada uma carta

ao MHN por Juvenal Martins Fagundes solicitando a avaliação de um violino de sua

propriedade. A correspondência foi respondida pela conservadora Octávia Corrêa dos

Santos Oliveira, na época chefe da seção de História e Arte Retrospectiva, que “não sendo 23 Cabe ressaltar que, tradicionalmente, o estudo de medalhas (medalhística) não faz parte do universo da numismática, todavia, devido à influência do Arquivo Nacional da França, que juntava as duas tipologias de acervo, optou-se por fazer o mesmo no MHN. 24 MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Correspondência. Ofícios expedidos. Jan. a Jun. 1960. ASDG2 13(3).

propriamente especializada na parte de música e seus instrumentos”, informou que poderia

prestar esclarecimentos no que se referia à parte histórica do objeto. Na primeira

correspondência, a conservadora escreveu que seria complicado autenticar o violino sem

ver o objeto presencialmente: “[...] uma instituição como a nossa ou outra qualquer

especializada no assunto, tal seja a Escola Nacional de Música, não poderá garantir a

autenticidade da peça, sem um exame rigoroso que salvaguarde sua responsabilidade25.

Em outra correspondência, escrita após uma avaliação física do objeto, a

conservadora emitiu o parecer transcrito, em parte, abaixo:

Confirmando tudo o que foi dito na nossa primeira correspondência, que só à vista do objeto poderíamos emitir qualquer conceito ou parecer, passamos a declarar o seguinte: o ano que consta ou que se pode ver pelo ouvido de seu violino em forma de S ou F, está perfeitamente enquadrado na época em que viveu Stradivari, porém logo abaixo vêm as palavras: faciebat e made in Czechoslovakia. Faciebat: imperfeito do verbo latino faciere, isto é fazer, fazia. 2º) Czechoslovakia é um país de criação recente (1918) embora oriundo de estados e municípios antiquíssimos [...]. Portanto, esse made em inglês significando “feito” – de emprego e uso modernos – in Czechoslovakia, quer dizer feito na Czechoslovakia. Isso leva a crer que seu violino, perfeito do ponto de vista técnico, tenha sido feito por um artista tcheco, que tivesse querido dar a seu violino as formas perfeitas e qualidade preciosas de um Stradivarius, teve, no entanto, a honestidade de acrescentar “made in Czechoslovakia”. Pela informação que o sr. Juvenal nos dá, ousamos acrescentar que seu Stradivarius é uma imitação, porquanto em nenhuma parte do mundo, possuidor que tivesse um “Stradivarius” legítimo, iria acrescentar made in Czechoslovakia que anulasse o valor inestimável de seu instrumento26.

O curioso dessa avaliação é que, ao mesmo tempo em que revela uma

“ingenuidade” de Juvenal Fagundes em não identificar algo tão óbvio em seu instrumento,

aponta para a força das inscrições nos objetos. O violino em questão poderia ser original,

mas a simples inscrição made in Czechoslovakia anularia o valor “inestimável” do

instrumento. Pode-se argumentar também sobre o que teria acontecido se o violino fosse

realmente falso, porém sem a inscrição, uma vez que, segundo a conservadora, o violino era

“perfeito do ponto de vista técnico” e “o ano que consta ou que se pode ver pelo ouvido de

seu violino em forma de S ou F, está perfeitamente enquadrado na época em que viveu

Stradivari”.

25 MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Correspondência. Ofícios expedidos. Jan. a Jun. 1960. ASDG2 13(3). 26 MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Correspondência. Ofícios expedidos. Jan. a jun. 1960. ASDG2 13(3).

O “olhar treinado” era um dos principais recursos no trabalho de classificação de

objetos dos conservadores do MHN e dos alunos do Curso de Museus. Nair de Moraes

Carvalho publicou ao longo da carreira diversos artigos sobre o acervo do Museu, que

permitem entender a importância do olhar treinado. Ao dissertar, em 1948, sobre as

porcelanas produzidas pela Fábrica Meissen-Saxe e suas marcas de fabricação, afirma o

seguinte:

A existência dessas marcas nem sempre dá autenticidade às peças apresentadas como de Saxe. O técnico francês Auscher ensina que, se os falsificadores se dão ao trabalho de imitar pasta, esmalte, cores, decorações, também se dão ao trabalho de imitar as marcas. É necessário conhecê-las, mas também ter o olho educado de tal modo que possa aferir autenticidade por outros característicos27.

Nair de Carvalho apresenta diferentes tipos de marcas nas porcelanas, contudo

alerta que "o aspecto decorativo, o colorido, são outros tantos aspectos que auxiliam o

trabalho de classificação. Acima de tudo a prática"28. Em outro artigo, sobre o sabre do

Barão da Vitória, a conservadora fez uma descrição minuciosa do objeto. Cabe ressaltar

que tal detalhamento somente é possível pelo “olhar treinado”, visto que a capacidade

descritiva implica um treinamento específico: domínio da nomenclatura, leitura correta dos

atributos físicos, reconhecimento do material. O olhar treinado insere-se em uma ordem

discursiva própria da prática museológica preconizada por Barroso e desenvolvida no

Curso de Museus. Ainda hoje, entre museólogos, é comum a expressão “museólogos

precisam ter mil olhos de ver”. Em livro clássico da formação de conservadores,

Introdução à técnica de Museus, na parte dedicada à classificação de objetos, Gustavo

Barroso afirma o seguinte:

A parte mais importante [...] da técnica de museus é a classificação dos objetos de quaisquer espécies [...]. Para bem se classificarem as peças que devam ser expostas ao público, mister se faz grande cabedal de conhecimentos especializados que somente a teoria não pode fornecer. É preciso que se alie à prática, às intuições desenvolvidas com o tirocínio. Sem essa base, será impossível identificar com acerto a propriedade dos

27 CARVALHO, Nair de Moraes. Marcas na porcelana de Saxe. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 5, ano 1948. p. 16. 28 Id Ibid. p. 20.

objetos, entender o que se pode chamar sua linguagem, própria ou simbólica, catalogá-los, aferir seu valor e arrumá-los bem29.

Assim, a habilidade descritiva implica conhecimentos técnicos que permitem a

minuciosa descrição e, consequentemente, a correta identificação das marcas, dos símbolos

heráldicos e das ornamentações do artefato. O reconhecimento de tais indícios leva a

conservadora a afirmar que a peça “se autentica por si”.

O Museu Histórico Nacional possui em suas coleções de relíquias militares um sabre de honra que pertenceu ao general José Joaquim Coelho, Barão da Vitória, e foi adquirido a um de seus descendentes. É uma peça que se autentica por si. Verdadeira obra de arte, com copo e guarnição de prata dourada e cinzelada a mão, feita na Inglaterra. Mede da ponta à maçã do punho um metro e dois centímetros. Sabre reto com a cota terminando a 23 centímetros da ponta. Lâmina com ramagens damasquinadas, cujo ouro a ferrugem fez quase inteiramente desaparecer. Guarda em cruz, rematando em volutas de folhagem e com uma orelha voltada para baixo em forma de escudo ibérico, com os canos do chefe chanfrados, na qual se insculpe um medalhão: o feixe litórico em pala sobre um arco santor, entre duas cornucópias voltadas para cima e carregadas de frutos, ramos e flores, tudo circulado pela legenda RESTAURAÇÃO DA BAHIA, MARÇO, 1838. [...] A bainha, medindo 89 centímetros, é de madeira forrada de veludo com guarnições de prata dourada. O veludo acha-se bastante estragado. As guarnições são: bocal, reforço e ponteira com ramagens e volutas cinzeladas em alto relevo, em puro estilo barroco. As argolas para prender ao talim são fixas e representam volutas com folhagens rematadas em pequenos leões deitados. Nas guarnições da bainha e nas várias peças do corpo, contrastes oficiais ingleses: o leão passante em escudo regular, marca geralmente usada na Grã-Bretanha de 1836 a 1845, segundo Cripps e Chaffers and Markham, registrada sob o n. 472 no Dictionnaire des Poinçons Officiels de Benque; a cabeça de leopardo sem coroa, marca de venda inglesa J. e L. maiúscula em ovais, iniciais sem dúvida do artista que confeccionou a peça (Maker Mark). […] Nenhum documento se refere ao oferecimento ao Barão da Vitória do sabre de honra que o museu adquiriu e guarda. Ele é que fala por si na sua legenda, na sua decoração e nos seus contrastes oficiais30.

Expressões como “autentica-se por si”, “fala por si” são recorrentes em outros

textos sobre o acervo, escritos por conservadores do MHN. Outro exemplo é o caso de

artigo produzido para a revista O Cruzeiro de 1949, em que Barroso descreve as espadas

que teriam pertencido a Solano López. Ao fim da Guerra do Paraguai, o exército brasileiro 29 BARROSO, Gustavo. Introdução à técnica de museus... Op. cit. p. 14. 30 CARVALHO, Nair de Morais. O Barão da Vitória no Museu Histórico Nacional. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. III, ano 1942. p. 228. [Grifos meus].

tomou a espada que López carregava na ocasião de sua morte e a enviou em nome do

Conde d’Eu, comandante do Exército Imperial, por intermédio do major José Simeão de

Oliveira, ao imperador D. Pedro II. A espada foi depositada no Museu Militar e nos últimos

anos da monarquia foi transferida para o Colégio Militar. Ao ser criado, o MHN recebeu

vários objetos procedentes do Colégio Militar, entre eles veio a referida espada. Todavia, os

funcionários do MHN perceberam que entre os objetos transferidos havia duas espadas

atribuídas ao presidente do Paraguai como tendo sido tomadas no episódio de sua morte.

De acordo com Barroso, as espadas foram estudadas e verificou-se que apenas uma poderia

ser autêntica. A verdadeira só poderia ser a espada fina, de ponta quebrada na luta, com

punho de tartaruga, guarda e latão cinzelado e estrela de maçã, tendo as armas oficiais da

República do Paraguai no copo dourado a fogo. A outra era um sabre recurvo, ricamente

dourado e lavrado, trazendo na bainha o escudo real da Grã-Bretanha e Irlanda. A peça

falava por si. Era de procedência inglesa e de general do exército inglês. Teria Solano

Lopez duas espadas? Em face dessa dúvida, foi exposta somente a verdadeira espada oficial

do ditador, que os próprios retratos na terminação da campanha documentavam como de

seu uso pessoal e aparecia também nas suas fotografias com o uniforme oficial de gala31.

Não é necessário dizer que um objeto não “se autentica por si”, nem tampouco “fala

por si”. Essa frase só se torna possível diante do know-how do conservador que, ao olhar o

objeto, reconhece nele marcas óbvias ao olhar treinado – como adornos, símbolos

heráldicos, materiais nobres entre outros – e que possibilitam tal afirmação. Essa

obviedade, que poderia passar despercebida ao leigo, significa o domínio de tais símbolos

pelo observador, de tal modo que a autenticidade para ele torna-se evidente porque

autorreferida, fazendo da afirmação “o objeto fala por si” um recurso retórico. Todavia, no

caso da espada de Solano López, outros elementos serviram como autenticadores do objeto.

De acordo com Barroso:

Onze anos após a fundação do museu, o distinto diplomata Heitor Lira, que estivera

algum tempo no castelo do Conde d’Eu, em França, copiando documentos existentes no

valiosíssimo arquivo da família imperial, [...], ofereceu à diretoria do Museu Histórico

Nacional diversas cópias de carta de S. A. o senhor Gastão de Orleans ao Imperador e deste

monarca a vários ministros sobre a guerra do Paraguai. Dois desses documentos elucidam

31 BARROSO, Gustavo. O cruzeiro. 8 de janeiro de 1849. [s.n.p.] [Grifos meus].

perfeitamente o caso das duas espadas de Solano Lopez e autenticam a de procedência

britânica. Em carta datada de Humaitá a 29 de março de 1870, [...] o marechal conde d’Eu

escrevia a d. Pedro II: “Pelo Maciel do vapor Alice mando a V. E. uma espada apanhada no

acampamento de Lopez. Quando estive na Conceição, correu que tinha aparecido entre

nossa gente uma espada do Lopez, muito rica. Mandei que o Camara a procurasse, e ele me

disse que o coronel Joca a tinha descoberto e me entregaria. O Joca porém, entregou-me,

em lugar da espada rica, essa que levava o escudo de armas usados pelos reais da Inglaterra

nos princípios desse século”.

Por sua vez o próprio imperador se refere a essa espada em carta ao Barão de

Muritiba [...] “entregaram-me a caixa e a espada que foi de Lopez?... A espada, embora não

tomada em combate, talvez possa ir para o Museu Militar.32” Como dito anteriormente, a

documentação a que se refere Barroso é indiciária da autenticidade da espada, pois alude a

uma série de autoridades, valorando a espada como um objeto histórico e, portanto, passível

de musealização.

O olhar treinado e o conhecimento especializado fazem-se presentes igualmente na

avaliação realizada pelo conservador Luís Marques Poliano. Em 1941, foi encontrada em

uma obra realizada na Rua Senador Dantas, no Centro do Rio de Janeiro, uma pedra de lioz

com um brasão português. O conservador do MHN foi ao local analisar o achado e

averiguar a procedência. O trabalho realizado teve por base quatro critérios: o local do

achado, documentos de época, trabalhos de historiadores que escreveram sobre a história da

cidade, como Vieira Fazenda e, por fim, os conhecimentos heráldicos do conservador.

Poliano iniciou sua análise descrevendo minuciosamente os hieróglifos presentes na pedra,

procedimento recorrente no trabalho dos conservadores do MHN:

Escudo santico ou francês moderno, posto ao balão, partido; no primeiro caso, cortado, um crescente de lua e, no segundo, três estrelas de seis raios. No segundo partido, seis costelas moventes dos flancos. Elmo e paquife. Sem representação gráfica das cores. As peças do escudo, que estampados de uma reprodução fiel, a bico de pena, de Rui Campelo – dado por outro jornalista como significando “cravos da Índia”, nada mais são do que as armas dos Costas, com a repartição do conhecido erro de substituir a forma clássica destas figuras por ossos humanos. Contudo, era isto precioso ponto de partida. Tratava-se, sem receio de erro, de um escudo português, ou ligado à família dessa origem. Além disso, o

32 Id. Ibid.

material, a posição e a forma do escudo, foram de momento outros valiosos elementos que anotamos, reforçaram nossa convicção, quanto à procedência, quanto à época33.

A descrição técnica, o reconhecimento visual do artefato e de suas características

autoriza o conservador em sua análise, sempre baseada em outros especialistas, como

Santos Ferreira, “importante especialista em heráldica portuguesa”.

Ensina Santos Ferreira que a representação do escudo ao balão foi muito seguida em Portugal a partir do século XVI e que o tipo do escudo francês moderno, ou santico, “só modernamente tem-se vulgarizado em Portugal”, ou seja, a partir dos séculos XVII e XVIII. Escudos impressos e esculpidos, portugueses, dessa época, apresentam-se com essa forma, que por sinal é a adotada no monumental trabalho que estamos citando. Afastamos desde logo a indicação de alguns, que davam essa pedra de armas como ligada à família Fonseca Costa; e a sugestão de outros, que a atribuíam ao Sargento Mor José Fernando Pinto Apoim, autor do risco do Convento onde foi encontrada, e de outras notáveis construções, aqui e em Minas34.35

Todavia, Poliano diz-nos que foi no trabalho de José de Souza Machado que obteve

algo de concreto para a identificação do brasão esculpido na pedra encontrada. Trata-se de

um extrato de carta de brasão, passada em 30 de janeiro de 1685 a Marcos da Costa da

Fonseca, então morador da capitania do Rio de Janeiro.

Conta-nos aquele autorizado especialista que em 1897 adquiriu um manuscrito ao livreiro de Braga Joaquim José da Cunha, que por sua vez o recebera do bibliófilo Pereira Caldas. [...] Acham-se ali inscritas 488 cartas heráldicas, na sua quase totalidade inéditas. Muitas delas se referem a brasileiros e a pessoas residentes no Brasil, e quanto a sua autenticidade não há dúvida, porque tanto a letra quanto a assinatura do eclesiástico foram confrontadas com o livro de registro de brasões do mesmo cartório35.

O conservador do MHN atenta para a diferença da descrição e da orientação do

símbolo heráldico mencionado na carta das armas esculpidas na pedra. Ainda assim, para

Poliano, essa divergência não tem força para invalidar a relação que existe entre a pedra e a

carta, “para nos afastarmos da convicção em que estamos, de que ambas se referem a

33 POLIANO, Luis Marques. Uma pedra brasonada do Rio Antigo. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 4, ano 1943. p. 159. 34 Id. Ibid. p. 161. 35 Id. p. 162. [Grifos meus]

Marcos da Costa”. O conservador do MHN ressalta que não são raras as disparidades entre

o brasonado das cartas e sua respectiva execução, seja em pedra ou em outros suportes,

como porcelana. “[...] não vacilamos em identificar a pedra com a mercê àquele antigo

habitante desta cidade. Morador do Rio de Janeiro, mandou fazer em Portugal a pedra

pouco depois de 1685, quando lhe foi dado o direito de ostentar o brasão de armas36.”

Sobre o local do achado, o conservador indica que, originalmente, a pedra estava

localizada em outro logradouro. Citando Vieira Fazenda, salienta que

[...] o trecho entre a Rua da Assembleia e Sete de Setembro até o oratório do Bom-sucesso teve os nomes de Marcos da Costa e do Provedor da Fazenda: o primeiro porque, na esquina da Rua da Assembleia, primitivo caminho para São Francisco e depois Rua de Antonio Luís Ferreira, morou o juiz da alfândega Marcos da Costa Castelo Branco [...]37.

Com essas indicações Poliano afirma “ter localizado precisamente a posição da

sesmaria concedida em 1705 a Marcos da Costa da Fonseca, ou Marcos da Costa, como

está indicado naquele documento”38. Sobre o local do achado ser tão distante do local de

origem, o conservador afirma, baseado em documentos de época e em algumas suposições,

que possivelmente a casa brasonada, após ter sido comprada pelas freiras da Ajuda, teve a

pedra removida, e que durante os aterros realizados na cidade por volta de 1761 pelo Conde

de Bobadela foi utilizada como entulho, ficando enterrada até 1941.

O olhar treinado e os conhecimentos heráldicos foram determinantes também na

classificação e na valoração de uma peça do acervo do MHN em 2001. Trata-se de um fato

ocorrido por ocasião das restaurações de coches, ou “carruagens”, que entraram para as

coleções do MHN entre 1947 e 1948. Os coches foram doados ao MHN por Joaquim

Ferreira Alves, proprietário de uma antiga casa funerária em Lisboa, e eram utilizados para

cortejos fúnebres de famílias ricas portuguesas. As correspondências entre Gustavo

Barroso e o ministro das Relações Internacionais do Brasil demonstram o interesse que tal

doação gerou. O então diretor do MHN escreveu, em 1945, que a importância histórica de

tal doação era tanta “[...] que a diretoria do Museu dos Coches de Lisboa, um dos mais

36 Id. p. 164. 37 Id. p. 170 38 Id.Ibid. p. 171

ricos do mundo na matéria, se bateu para que essas viaturas históricas não deixassem o

país”39.

Durante muitos anos os coches ficaram expostos no MHN em local conhecido como

Pátio da Minerva, ambiente inadequado para o controle de luz e umidade, o que acabou

ocasionando danos de conservação às peças. Apesar das afirmações de Barroso sobre o

valor histórico das viaturas, em correspondência de 1964, um chefe de seção do MHN

informa que “comprovadamente, nenhuma delas apresenta a menor historicidade para o

Brasil”40, uma vez que “ao entrarem em desuso em Portugal foram sendo adaptadas ao

serviço fúnebre, recebendo para tanto decoração severa”41. Ao longo dos anos seguintes, o

estado de conservação foi se agravando significativamente, até que, em 2001, um projeto de

restauração foi colocado em prática.

A restauração dos primeiros coches conservou a pintura fúnebre, respeitando o

princípio técnico de manter as características físicas de quando entraram para as coleções

do MHN. Porém, durante o processo de restauração, retirou-se a camada pictórica original

de cor negra de um dos coches, assim como os motivos fúnebres. Ao deparar-se com um

símbolo heráldico embaixo da pintura, a equipe solicitou a chamada da diretora do MHN e

especialista em heráldica, Vera Tostes, também formada no Curso de Museus e professora

de heráldica da Escola de Museologia da UNIRIO, que prontamente reconheceu um brasão

encimado por uma coroa, “claramente identificada como a de duque”. A pintura fúnebre foi

retirada e a diretora pôde então usar seus conhecimentos heráldicos e identificar o símbolo.

“Era o início da pesquisa heráldica, que [...] identificaria o objeto que há 58 anos encontra-

se no Museu como carro de cortejo fúnebre.42” Tostes identificou uma diferença43 na coroa

de duque em questão. Segundo ela, trata-se de um lambel, “adotado inicialmente na França,

39 MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Dicop. Doc., nº5 Proc. Nº18/46. 40 Id. Ibid. 41 Id. Ibid. 42 TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. De viatura a coche real: a importância da heráldica na restauração das carruagens do MHN. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 36, ano 2004. p. 209-224. Página citada, 214. 43 Diferença no vocabulário heráldico significa os símbolos que servem para apontar alguma distinção, e podem variar de diversas formas.

posteriormente usado na Inglaterra e, espalhando-se pelos demais países, tornou-se uma das

formas de distinguir os membros da família real”44.

Em Portugal, semelhante simbologia foi adotada e “os demais infantes e mesmo o

filho do príncipe herdeiro traziam o mesmo lambel, com figuras colocadas nos pingentes.”

Assim, a coroa que aparece no brasão do coche é a de duque. É formada por folhas de

acanto, que deixam aparentes cinco florões – essa particularidade chama a atenção, uma

vez que a diferença do lambel remete-nos às armas do príncipe herdeiro e, portanto, o

escudo deveria ser encimado pela coroa de príncipe. [...]

O conhecimento heráldico viabilizou que se colocasse uma nova luz sobre o objeto

museológico que há quase 60 anos, no museu, é identificado como viatura de cortejo

fúnebre. A descoberta do brasão real português com a diferença e o lambel confirma que

pertenceu a um príncipe herdeiro do trono. Tanto a datação do coche, cujas características

remetem à segunda metade do século XVIII e início do XIX, quanto a correspondência

preservada no arquivo do Museu, única fonte documental hoje existente informando que

duas viaturas adquiridas seriam “peças de valor histórico para o Brasil”, fundamentam a

evidência de o coche ter pertencido à Imperatriz, quando viúva de D. Pedro, o que é

reforçado pela simbologia heráldica45.

Nesses dois casos, o olhar treinado possibilitou a identificação ou a reclassificação

do objeto histórico e, consequentemente, sua valoração histórica.Todavia, o vínculo com o

herdeiro do trono português e sua estética agregam um valor a mais ao coche, que se tornou

umas das peças mais divulgadas do acervo, com destaque no site da instituição, espaço

exclusivo na museografia e em catálogos.

Os casos descritos aqui mostraram determinados procedimentos de crítica e de

produção de autenticidade, que ora agregaram valor aos objetos coletados pelo MHN, ora

questionaram suas autenticidades e, por vezes, geraram a necessidade de reclassificação do

acervo. Efetivamente, os conservadores formados pelo Curso de Museus dispunham de um

arsenal prático e de conhecimentos específicos, principalmente em heráldica e em

numismática, que os autorizavam a realizar este tipo de trabalho, dado que mostra a força

44 TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. De viatura a coche real: a importância da heráldica na restauração das carruagens do MHN... Op. cit. p. 218. 45 46 Id. p. 222.

que o Curso de Museus teve, notadamente a disciplina Técnica de Museus, na formação

destes profissionais que constituíam uma autoridade especializada no assunto.

A autoridade do especialista, exercida inicialmente pelos conservadores do museu,

baseia-se na experiência e nos saberes técnicos e eruditos daqueles que declaram ou

atestam autencidade histórica a um determinado artefato. O conhecimento das chamadas

disciplinas auxiliares da história, comuns ao antiquarianismo e à erudição, o domínio de um

vocabulário específico, necessário a “correta” descrição do artefato, e o “olhar treinado”,

que implica na “cultura visual” do especialista, capaz de reconhecer uma pincelada ou a

sutil diferença entre uma porcelana legítima e outra falsificada, foram as principais

características identificadas no método de trabalho dos conservadores do MHN.

Em suas atividades de classificação e autenticação do acervo, os conservadores

operavam, também, com indícios que comprovavam a procedência, a datação e,

consequentemente, a autenticidade dos artefatos. Quando necessário, os conservadores

mobilizavam, ainda, outras autoridades, referenciando historiadores, críticos e eruditos

renomados, como Vieira Fazenda e Joaquim Norberto, além, obviamente, de diversas

fontes textuais. Não se tratava de uma pesquisa científica propriamente dita, mas de

pesquisa aplicada que busca fundamentar (ou refutar) a autenticidade dos objetos. Em

outras palavras, o papel dos conservadores era fornecer a fundamentação histórica e, com

ela, permitir a classificação dos objetos nas categorias “histórico” e “nacional”,

procedimento que valorava, concomitantemente, suas dimensões documental, monumental,

testemunhal e relicária.

Por outro, ficou claro o quanto esse conhecimento ainda é residualmente presente e

ainda necessário à instituição. Este foi o caso da restauração de uma berlinda fúnebre,

reclassificada graças aos conhecimentos heráldicos de diretora da MHN que soube “ler” o

símbolo heráldico encontrado sobre a pintura fúnebre da porta da berlinda, reconhecendo

nele as diferenças que o identificavam como pertencente ao herdeiro do trono português, no

início século XIX.

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