o olhar fotográfico sobre os indígenas argentinos e...

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1 Anais do XI Encontro Internacional da ANPHLAC 2014 Niterói Rio de Janeiro ISNB 978-85-66056-01-3 O olhar fotográfico sobre os indígenas argentinos e chilenos na segunda metade do século XIX: a construção de imaginários sobre a alteridade mapuche em perspectiva transnacional Mateus Favaro Reis * Introdução Esta comunicação tem por objetivo problematizar a abordagem transnacional para a construção de imaginários sobre a alteridade das populações indígenas conhecidas como mapuches na Argentina e no Chile; analisar o papel das fotografias para a resignificação e/ou ocultação de práticas para forjar o “outro” como objeto de conhecimento e de representação; e indagar se as fotografias ligadas à conquista da Araucania sublinham a espetacularidade da irrupção da civilização sobre o cenário do território, como salientaram Julio Vezub, Héctor Alimonda e Juan Ferguson para o cenário argentino. 1 Como se trata de um projeto em seus primeiros passos, apresento o cenário chileno e proponho algumas questões que orientarão o desenvolvimento da pesquisa posteriormente, englobando a discussão na Argentina, conectada com a que se desenvolve no Chile. Almeja-se, portanto, enfocar parte das principais questões relativas ao debate sobre o lugar dos indígenas na formação dos dois Estados Nacionais enfocados. Nesse sentido, busco mostrar de que forma os debates em torno da construção imagética, ao lado dos ensaios e da produção de obras de história, foi importante para a construção de representações responsáveis pela difusão de um imaginário mais geral, que oscilou entre o repúdio e o fascínio daquelas populações que eram vistas, por muitos, como obstáculos para a consolidação territorial e identitária dos dois países do Cone Sul. Assim, procuro problematizar a articulação entre as tentativas para apreender a alteridade a partir da conquista dos territórios, principalmente, os

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Anais do XI Encontro Internacional da ANPHLAC 2014 – Niterói – Rio de Janeiro

ISNB 978-85-66056-01-3

O olhar fotográfico sobre os indígenas argentinos e chilenos

na segunda metade do século XIX: a construção de imaginários

sobre a alteridade mapuche em perspectiva transnacional

Mateus Favaro Reis*

Introdução

Esta comunicação tem por objetivo problematizar a abordagem

transnacional para a construção de imaginários sobre a alteridade das

populações indígenas conhecidas como mapuches na Argentina e no Chile;

analisar o papel das fotografias para a resignificação e/ou ocultação de práticas

para forjar o “outro” como objeto de conhecimento e de representação; e

indagar se as fotografias ligadas à conquista da Araucania sublinham a

espetacularidade da irrupção da civilização sobre o cenário do território, como

salientaram Julio Vezub, Héctor Alimonda e Juan Ferguson para o cenário

argentino.1

Como se trata de um projeto em seus primeiros passos, apresento o

cenário chileno e proponho algumas questões que orientarão o

desenvolvimento da pesquisa posteriormente, englobando a discussão na

Argentina, conectada com a que se desenvolve no Chile.

Almeja-se, portanto, enfocar parte das principais questões relativas ao

debate sobre o lugar dos indígenas na formação dos dois Estados Nacionais

enfocados. Nesse sentido, busco mostrar de que forma os debates em torno da

construção imagética, ao lado dos ensaios e da produção de obras de história,

foi importante para a construção de representações responsáveis pela difusão

de um imaginário mais geral, que oscilou entre o repúdio e o fascínio daquelas

populações que eram vistas, por muitos, como obstáculos para a consolidação

territorial e identitária dos dois países do Cone Sul.

Assim, procuro problematizar a articulação entre as tentativas para

apreender a alteridade a partir da conquista dos territórios, principalmente, os

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relativos aos povos araucanos, ao analisar o processo de construção de

imagens visuais e escritas que tornaram os “outros” um objeto de estudo e

conhecimento.

Em breves linhas, a abordagem de imagens pelos estudos históricos deve

estar atenta para as suas especificidades, representadas, na presente

pesquisa, pelas fotografias. Segundo Maria Eliza Linhares Borges, a fotografia

não deve ser tomada como um mero espelho do real, mas pode ser

questionada e interpretada:

Longe de ser um documento neutro, a fotografia cria novas

formas de documentar a vida em sociedade. Mais que a

palavra escrita, o desenho e a pintura, a pretensa objetividade

da imagem fotográfica, veiculada nos jornais, não apenas

informa o leitor – sobre datas, localização, nome de pessoas

envolvidas nos acontecimentos – sobre as transformações do

tempo curto, como também cria verdades a partir de fantasias

do imaginário quase sempre produzidas por frações da classe

dominante.2

Dentro dessa perspectiva, é necessário um olhar atento sobre as imagens

fotográficas, pois, como salientou Serge Gruzinski, “com o mesmo direito do

que a palavra e a escrita, a imagem pode ser veículo de todos os poderes e de

todas as vivências. [...] O pensamento que desenvolve oferece uma matéria

específica, tão densa quanto a escrita, ainda que frequentemente seja

irredutível a ela [...]”. Para Gruzinski, o debate historiográfico a propósito do

lugar das imagens deve estar atento para os interesses dos grupos que as

veiculam, para os enfrentamentos de visões de mundo e para o que ficou

esquecido. Não concordamos com a afirmação de Gruzinski de que as

imagens sejam um “objeto ocidental por excelência”, mas julgamos ser

interessante ter em mente parte de seus pressupostos teóricos.3

História comparada e transnacional

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Os textos que discutem os pressupostos da história comparada

coincidem ao assinalar o papel desempenhado por Henry Pirenne (Do método

comparativo em história, 1923) e Marc Bloch (Os reis taumaturgos, 1924; Para

uma história comparada das sociedades europeias, 1928), entre outros

autores, para a edificação de suas propostas iniciais, em parte, devido aos

desafios e problemas colocados pelos nacionalismos durante o período entre

guerras.

Bloch hasteou a bandeira da comparação em história e delineou seus

contornos de forma um pouco mais detalhada. Segundo o historiador francês,

comparar envolve “selecionar em um ou mais ambientes sociais diferentes,

dois ou mais fenômenos que se aparentam, em uma primeira olhada,

apresentar suas analogias, descrever as curvas de suas evoluções, constatar

as semelhanças e diferenças, e, na medida do possível, explicá-las”. Ele

assinalou que os estudos comparativos devem estar sempre atentos para certa

semelhança entre os objetos, atrelada a algumas diferenças entre os meios

que os geram. Assim, um dos principais frutos da comparação vincula-se à

possibilidade de iluminação recíproca entre os objetos, ou seja, permite a

elaboração de conclusões mais consistentes.4

As propostas de Pirenne e Bloch, no que tocam à reflexão sobre a

comparação e a sua prática historiográfica, se bem que não tenham

arquitetado um método comparativo bem definido, foram acolhidas de forma

tímida pelos historiadores por mais de meio século.

A fecunda retomada de seus projetos iniciais somente ocorreu de forma

mais clara nas décadas de 80 e 90 nos Estados Unidos, América Latina e

Europa , motivada, em parte, pela rápida ascensão dos debates sobre

integração em diversas partes do Globo.

Não restam dúvidas de que Sanjay Subrahmanyam e Serge Gruzinski,

dentre outros pesquisadores, teceram importantes desafios para os

historiadores que visam extrapolar os âmbitos locais ou comparar objetos em

marcos espaciais e ou temporais diferentes. Subrahmanyam e Gruzinski

convergiram ao enfatizar que é necessário considerar o caráter global e

conectado do período moderno a partir de seus princípios, que promoveram

profundas se bem que tensas e frequentemente assimétricas interações

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entre o âmbito local e supralocal para a conformação das coletividades

humanas sob a possessão das monarquias europeias. Da mesma maneira,

coincidiram ao criticar algumas histórias comparadas, cujos resultados seriam

insuficientes porque saturados de etnocentrismo.5

Às críticas desses historiadores, somaram-se, por vertentes próximas,

mas não superpostas, os desafios colocados pela história cruzada (histoire

croisée), sustentados inicialmente, em 2003, por Bénédicte Zimmermann e

Michaël Werner, que anteriormente havia trabalhado com o recorte teórico dos

transfer studies.6

Em 2004, os dois historiadores dirigiram a obra, com um título

provocativo, De la comparaison à l’ histoire croisée, e ampliaram, em 2006, as

principais questões apresentadas anteriormente. A principal crítica de Werner e

Zimmermann à história comparada relacionou-se à suposição de que a

perspectiva da comparação tende a fixar os objetos no tempo e observá-los

com lentes sincrônicas. Assim, ela seria insuficientemente capaz de apreender

a formação cultural das coletividades humanas, ao contrário da história

cruzada, que quer observar e enfatizar os múltiplos entrecruzamentos

espaciais e temporais.7

Pode-se afirmar que o debate atual sobre as possibilidades da história

comparada necessita receber maior atenção, que dialogue com suas

possibilidades, mas também com seus limites, e ainda não há sinais de que se

arrefecerá brevemente. Ao mesmo tempo em que a história comparada é

objeto de várias críticas, que não visam a sua supressão pura e simplesmente,

encontros nacionais e internacionais alentam os estudos comparativos, são

fundados cursos e revistas de pós-graduação em história comparada, e são

anunciadas obras que a colocam no centro de suas reflexões.8

Penso, portanto, que o artigo escrito por Maria Ligia Coelho Prado trouxe

reflexões extremamente pertinentes para pensar o lugar da história comparada,

ao enfatizar que os estudos comparativos entre os países latino-americanos

são extremamente férteis e merecem receber maiores investimentos.9

Concordo com Prado, que entre comparação e conexão – e entrecruzamento –

, há mais complementação que exclusão, bem como é possível evitar os riscos

do etnocentrismo e das visões dicotômicas. Nesse sentido, os estudos

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realizados por meio de um olhar “transnacional” não necessariamente devem

descartar as possibilidades da comparação. Precisam, por outro lado, observar

o trânsito entre diferentes lugares.

Aliás, Bloch não deixou de considerar a existência de interconexões

entre coletividades humanas vizinhas e contemporâneas, ainda que não

utilizasse os termos da construção teórica atual.10

A pesquisa procurará articular a perspectiva comparada à transnacional,

pois há uma profunda preocupação com aquilo que liga os cenários vistos

como nacionais. Nesse sentido, uma de suas possibilidades é mostrar que o

nacional e o global são complementares.

Assim, buscarei realçar as interconexões entre os atores e as ideias que

circularam por diversos locais e que ultrapassaram as tradicionais fronteiras

nacionais, o que se coloca como o principal desafio a ser enfrentado.

Nas trilhas do imaginário

Não se pode esquecer que uma das fontes para a construção do

imaginário sobre os indígenas que habitavam a região de Arauco foi o poema

épico La Araucana, publicado na Espanha, em 1569, por Alonso de Ercilla, em

que cantou os des(encontros) entre os espanhóis e os nativos. Madrilenho de

nascimento, Ercilla foi para o Peru e acompanhou o governador e capitão geral

da Capitania do Chile, García Hurtado de Mendoza, na luta contra a

sublevação de indígenas na região que passou a ser conhecida como

Araucania (particularmente do grupo que ficou conhecido como mapuches),

entre 1557 e 1559. Suas ideias tiveram uma significativa recepção e

apropriação durante o século XIX. Para citar um exemplo, Andrés Bello leu La

Araucana como um poema de fundação nacional chilena. Ercilla apresentou a

região da capitania como isolada e insular, habitada por um povo guerreiro e

indomável, o que criou, ao longo da história da construção da identidade

nacional chilena, uma espécie de mito das origens.11 Cabe lembrar que Pablo

Neruda, entre outros autores, afirmou que o Chile era uma “invenção de

Ercilla”.12

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Segundo Bárbara Silva Avaria,13 a construção da identidade nacional

chilena ao longo do século XIX mobilizou o referente indígena,

fundamentalmente em relação aos araucanos, ou de forma ainda mais restrita,

os chamados mapuche, devido à construção de uma comunidade imaginada14

que buscava se afastar da hispanidade mais estreita em relação aos antigos

colonizadores, e da necessidade de contar com um aliado importante na

consolidação do território recém-independente. Portanto, alguns personagens

ganharam certa notoriedade, vistos como “heróis” indígenas contra os

conquistadores incas e/ou espanhóis, a exemplo de Lautaro (Toki Leftraru),

Caupolicán (Ñgidol Toki Kalfulikan) e Colo Colo (Ñgidol Toki Kolo-Kolo), nome

de um dos mais tradicionais times de futebol de Santiago. Contudo, a inclusão

real dos indígenas na vida política chilena não ocorreu de forma concreta, pois

ainda eram vistos como inimigos “internos”, além da frequente imagem

difundida de bárbaros indomáveis.

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que esse discurso pode ser

facilmente questionado, se nos amparamos nos estudos que matizam a

suposta “inerente” belicosidade dos povos da Araucania.15 Em segundo, e mais

intrigante do meu ponto de vista, é perceber que, ao contrário dos líderes do

passado, do século XVI fundamentalmente, ocorreu um profundo silenciamento

em relação aos líderes que lutaram contra a invasão de seus territórios durante

a segunda metade do século XIX, a exemplo de Quilapán (Külapang).

Assim, o referente indígena era utilizado como base da formação

nacional, mas sem colocá-la em risco, pois o Chile não possuía um substrato

autóctone tão extenso como o de seus vizinhos, Peru e Bolívia. Em outras

palavras, “por uma parte, era uma especificidade chilena que envolvia valores

desejáveis naquela conjuntura, e por outra, o componente indígena era

excluído na prática, persistindo a imagem mental do bárbaro e do inimigo”.16

Entretanto, é possível afirmar que alguns personagens lutaram contra

esse processo de silenciamento e esquecimento, como o escritor Baldomero

Lillo e o sacerdote capuchino Sigifredo de Frauenhäusl. No primeiro caso, Lillo

publicou um conto de crítica social naturalista, intitulado Quilapán, por meio do

qual constrói uma narrativa de denúncia do etnocentrismo dos conquistadores

chilenos e de suas ideias de superioridade racial frente aos indígenas.17 No

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segundo, o sacerdote capuchino, em nome de outros religiosos que habitaram

a região, “consideraram o mapuche como um cidadão civilizado, de costumes e

práticas econômicas semelhantes às de um chileno, mas digno de proteção por

parte do Estado e da Igreja”.18

Segundo Jorge Pinto, além da imagem acima construída, e da

interpretação que colocava os inídgenas como bárbaros, selvagens e/ou

primitivos, havia outra bem difundida em que os associava “a um sujeito em

trânsito à civilização”, que podiam se “salvar mediante a educação e a ação

protetora do governo”. Em suma, defendia que os indígenas passariam por um

período de incorporação paulatina ao mundo chileno homogeneizado e visto

como civilizado.19

Para o prosseguimento da pesquisa, julgo que é necessário colocar em

diálogo as imagens com os textos escritos, particularmente as fotografias com

os ensaios e textos de história, a exemplo da interpretação de Alejandra Mailhe

sobre as relações entre a fotografia e o ensaio no México da virada do século

XIX para o XX. Segundo a autora argentina, “em geral, a fotografia do século

XIX coloca os indígenas em poses rígidas diante da câmera, limitando-se a

fixar uma tipologia racial despersonalizada, não sugerindo a dinâmica potencial

dos corpos”. Ao analisar a obra El México desconocido, do etnógrafo

norueguês Carl Lumholtz, Mailhe salientou que

texto e imagens trabalham de forma implícita a partir de um

imaginário exotista prévio sobre ‘o mexicano’, forjado a partir

de uma vasta literatura de viagens produzida ao longo do

século XIX, sob os cânones de um olhar romântico ávido por

encontrar, nos canteiros do ‘povo’, a marca de uma

especificidade local/nacional.20

Havia no Chile e na Argentina, como no México do século XIX, textos,

pinturas, litografias e fotografias que configuravam um repertório para definir os

tipos sociais nacionais e populares? É preciso investir também nessas

questões para entender a produção dos fotógrafos chilenos de finais do século

XIX. Além disso, não pode ser menosprezado o fato de que, por exemplo, há

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litografias publicadas pelo francês Pierre Frédéric Lehnert tanto sobre o México

quanto sobre o Chile, em obras francesas, mexicanas e chilenas, como Voyage

pittoresque et archéologique dans la partie la plus intéressante du Mexique, de

Carl Nebel, em 1836; Album pintoresco de la República Mexicana, em conjunto

com Urbano López, em 1850 (editora Julio Michaud y Thomas); além de

inúmeras litografias publicadas nas obras do naturalista francês Claudio Gay,

que viveu no Chile, entre 1828 e 1842, como Consideraciones sobre las minas

de mercurio de Andacollo e Illapel con su posición geológica (Valparaíso,

1837); Historia física y política de Chile (1844-1848) e Atlas de la historia física

y política de Chile (1854), em Paris.21

Aliás, estas duas últimas obras foram continham um extenso estudo sobre

as populações indígenas, particularmente aquelas que viviam na região

conhecida como Arauco. A vasta obra capitaneada por Gay e publicada na

França sob os auspícios do governo chileno foi responsável, por exemplo, pela

difusão de imagens, na forma de litografias, com as quais as fotografias

dialogaram posteriormente, como veremos brevemente em seguida.

A seleção inicial das fotografias para a pesquisa originou-se do projeto

desenvolvido pela Universidade Católica do Chile, intitulado Fotografía

Mapuche, Realidad y Representación, que estão disponíveis para consulta no

sítio web http://www6.uc.cl/proyectos/mapuches/html/menu.html. Assim,

preciso salientar que o material, composto por 40 fotografias, já foi pré-

selecionado e que parto de um recorte do qual não participei inicialmente.

Entretanto, acredito que a pesquisa será válida, mesmo com este recorte, o

qual poderá ser balizado com novas pesquisas nos arquivos chilenos. Além

disso, parte das fotografias está distribuída em arquivos e museus fora do

Chile, o que poderia dificultar a sua realização. A despeito dessas ressalvas,

acredito que é possível traçar significativas questões a respeito das relações

entre as fotografias e as obras textuais, ao incluir o acervo digitalizado da

Biblioteca Nacional do Chile, disponível para consultas on-line.

Segundo Margarita Alvarado P., Pedro Mege R. e Christian Báez A.,22

foram tiradas mais de 900 fotografias por três fotógrafos principais, entre

muitos outros: Christian Enrique Valck (1826-1899), Gustavo Milet (1860-1917)

e Obder Heffer (1860-1945).

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Oriundo da Alemanha, Enrique Valck mudou-se para a cidade de Valdívia

e, junto com seus filhos, Jorge, Enrique e Fernando, produziu uma vasta

coleção de representações fotográficas sobre o sul do Chile. Devido a esse

trabalho em conjunto, é difícil estabelecer a autoria exata das fotos.

Porteño (de Valparaíso) de nascimento, Milet migrou para o sul do país e

se estabeleceu na cidade de Traiquén, em 1890, onde continuou seu trabalho

como fotógrafo, iniciada em sua cidade natal. Sua mais importante contribuição

foi em relação à ampla coleção de retratos realizados sobre os “araucanos”.

Segundo o sítio web do projeto mapuche da Universidad Católica, “estas

fotografias apresentam vistosos telões de fundo frente aos quais os mapuche

posam solenemente acompanhados de variados artefatos. Também fazem

algumas fotografias de exteriores destacando aspectos rituais dessa cultura

[…]”.23

Obder Heffer nasceu no Canadá e se estabeleceu em Santiago no final

do século XIX. Interessado em fotografar aspectos da vida cotidiana tanto da

cidade quanto do campo, “suas viagens o levam à zona da Fronteira, onde

realiza numerosas fotografias do mundo mapuche, a maioria no exterior de

galpões e habitações, mas sempre de acordo com a estética própria da

fotografía daquele período”.24

A seguir, apresento algumas fotografias, para em seguida, elaborar uma

breve interpretação sobre as representações, as quais foram extremamente

importantes para a construção de um imaginário sobre o mundo indígena

naquele período.

Imagem 1 – Jogadores de “Palín”. Gustavo Milet, 1890 aproximadamente

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Imagem 2 – Palín por Pierre Frédéric Lehnert (1854)

Imagem 3 – Obder Helfer, 1890 aproximadamente.

Imagem 4 – Obder Helfer, 1890 aproximadamente.

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Imagens 5 – Gustavo Milet, 1890 aproximadamente

Todas as fotos apresentadas falam mais sobre a intervenção do fotógrafo

e de seus filtros, isto é, de seu capital cultural estético e de sua vontade de

representar as práticas indígenas com uma estética “inventada” que de seu

cotidiano, se estivesse ausente o assédio das lentes.

Por exemplo, a imagem 1 de Milet traz uma mensagem importante para o

observador, a respeito do jogo de Palín. A fotografia que apresenta os

indígenas, já com trajes mesclados, mas ainda descalços, devido à presença

da “civilização”, que os vigia com a presença de cavaleiros bem trajados ao

fundo, passa uma mensagem de hierarquia entre eles. Mas também passa a

ideia de que os próprios indígenas estariam incorporando os costumes do

homem “branco”. Podemos comparar a fotografia de Milet com a gravura

(Imagem 2) de F. Lehmert, publicada no Atlas de la historia física y política de

Chile, de Claudio Gay, em 1854.

Há uma clara diferença entre o movimento na imagem publicada, em

1854, quando comparada à fotografia de Milet. Além disso, os trajes dos

indivíduos representados são bem diferentes. Ainda que seja necessário levar

em consideração o fato das técnicas fotográficas de finais do século XIX não

permitirem a representação do movimento, o que é possível no caso da

litografia, poderíamos questionar se ela respondia ao anseio tanto do fotógrafo

quanto dos indígenas que se dispuseram a participar da cena em demonstrar

que já não precisavam ser temidos pelos demais habitantes que habitavam o

território araucano, em particular, e o Chile, em geral. Isto é, em outras

palavras, a foto produzida quase 40 anos após a litografia mostrava que os

habitantes de Arauco podiam ser incorporados à nação chilena, em

contraposição aos discursos inflamados que propunham o extermínio dessas

populações.

Outras questões, contudo, ficam sem respostas: Por que os cavaleiros

aparecem no canto da foto? Teria sido um descuido do fotógrafo? Ademais, ao

observar uma série de fotografias, é possível identificar alguns “modelos”

indígenas que posaram representando diferentes indivíduos. Quem foram

esses modelos? Por que posaram? É possível encontrar fontes que permitam a

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elaboração de respostas para esses questionamentos? Como interpretavam as

fotografias em que apareciam representando diferentes tipos sociais? Que

posição passaram a desempenhar no interior dessas sociedades, que se viam

diante do dilema de, por um lado, defender seus territórios diante do assédio do

invasor; por outro, estabelecer contatos e realizar negociações com os

representantes estatais?

É importante lembrar que desde o século XVI, ocorreu uma diferenciação

mais geral das populações da Araucania, entre abajinos (nagches) e arribanos

(wenteches), entre vários outros grupos, que se aprofundou durante o processo

de independência do Chile, os quais estabeleciam relações díspares com os

representantes do governo nacional, particularmente em relação aos nagches,

aliados daqueles que lutaram em conjuntos com as tropas independentistas.

Desse modo, não se pode esquecer as divisões internas entre as

populações indígenas. Todos os povos “mapuches” foram fotografados? Essa

é uma pergunta que precisa orientar a presente pesquisa.

Outra questão que intriga os olhares contemporâneos diz respeito às

fotos tiradas por Obder Heffer, pois concedem amplo espaço para a presença

de mulheres. Como no caso anterior, mais do que respostas sobre o mundo

indígena, coloca questionamentos a respeito da seleção do fotógrafo sobre o

universo feminino, que ocupa a centralidade das imagens 3 e 4. As posições

são impostas, estão marcadas por um controle do corpo e, assim como em

outras fotografias, estão marcadas pela dramaticidade.

A imagem 5, de autoria de Milet, é muito instigante também e demonstra

claramente a estética de montagem adotada pelo fotógrafo, pois é bem

ilustrativa a respeito da intervenção do fotógrafo, uma vez que ele adornou as

duas figuras femininas com joias de prata que não faziam parte da

indumentária dos mapuches, pelo menos não de forma expressiva até

começos do século XIX. Certamente, havia um desejo de dotar os indígenas

“chilenos” de aspectos voltados para a exaltação de suas habilidades, como o

manuseio da prata, em comparação aos incas, por exemplo, cujos territórios se

localizavam no Peru e na Bolívia. Havia uma tentativa de valorização da

ascendência indígena “chilena”, em relação aos países vizinhos vistos como

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“inferiores”, inclusive para justificar os avanços dos chilenos em direção ao

norte, antes e durante a Guerra do Pacífico (1879-1883)?25

Para o andamento do projeto, será necessário elaborar uma interpretação

mais complexa sobre a construção de imaginários sobre os indígenas por meio

da fotografia, em debate com algumas obras de antropólogos chilenos

publicadas na última década, mas é possível dizer que dialogaram com a

publicação de obras que os colocavam no centro de um espectro de fascínio e

rechaço ao longo do final do século XIX e princípios do XX.

Além disso, tanto as obras dos historiadores selecionados e o ensaio de

Navarro Rojas quanto as fotografias de Valck, Milet e Heffer apontaram para as

relações assimétricas entre os indígenas e os homens “brancos”, tidos por

“civilizados”. Um bom exemplo disso pode ser observado na montagem das

seguintes fotografias tiradas nos inícios do século XX:

Imagem 6

Imagem 7

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A imagem 6 apresenta uma família “mapuche” em que o longko

(autoridade familiar) aparece como figura central, em destaque por seu caráter

imponente e pela divergência anatômica em relação ao restante do grupo.

A imagem 7 traz a mesma cena estética, como um retrato de uma família

mapuche, mas agora com a presença de um representante dos chilenos

“brancos” em seu centro, que ocupa o lugar do tradicional longko. A mensagem

transmitida por essa montagem fotográfica era bastante clara, até mesmo para

o observador menos atento: a substituição da liderança dos mapuches de um

membro do próprio grupo para um representante ocidentalizado oriundo das

elites chilenas.

As centenas de fotografias produzidas sobre os mapuches no Chile, mas

também na Argentina, permitem diversas leituras e constituem uma instigante

porta de entrada para interpretar as relações entre mundos diferentes que se

chocam em disputas assimétricas, mas que também permitem o

estabelecimento de diálogos ao longo do tempo. Certamente a vasta produção

fotográfica daquele período era alimentada por um desejo de registrar e

“retratar” um mundo, uma realidade cultural, “tal como seria”, que estaria

prestes a desaparecer.

A fotografia aparecia, assim, como uma ferramenta de documentação

“etnográfica”, vista muitas vezes como um discurso imparcial sobre a realidade.

Dessa forma, foi extremamente eficiente na difusão de um imaginário sobre

estas populações, além de transmitir mensagens que contribuíram para a

elaboração de mitos e estereótipos entre a população do Chile ao longo de

todo o século XX.

Com a expansão territorial do Chile e a incorporação do sul do país ao

Estado Nacional, durante os governos oligárquicos, o debate sobre o que fazer

com os indígenas se acentuou. Os indígenas precisavam ser assimilados, em

um contexto que, assim como na vizinha Argentina, eram vistos como fora da

história. Era necessário chilenizar a Araucania, o que no discurso oficial foi

divulgado como a “pacificação” da região.

Contudo, segundo Alonso Azócar Avendaño, particularmente Milet

elaborou uma produção fotográfica pró-indigenista, que permitiu certa

valorização dos mapuches, especialmente na região de Arauco.26 Assim,

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contribuiu para matizar certas visões sobre os indígenas como “bárbaros”. A

despeito disso, pensamos que é possível ver em parte das fotografias de Milet

a recuperação do indígena controlado, e uma clara intervenção do olhar do

“outro” sobre o cenário, as práticas e posições do corpo a registrar.

Houve diálogo entre essas interpretações textuais e imagéticas com as

obras de história produzidas na segunda metade do século XIX? As fotografias,

que em muitos casos circularam como cartões postais ou cartões de visita,

bem como a crônica de Navarro Rojas, provocaram a história como disciplina?

Considerações finais

O debate sobre o lugar dos indígenas nas sociedades latino-americanas

vem ganhando cada vez mais espaço, devido, em grande medida à publicação

de obras que criticaram as interpretações que valorizaram as empreitadas de

incorporação dos territórios indígenas ao Estado nacional contemporâneo.

Nesse sentido, é imprescindível enfocar a produção ensaística e

imagética que se construiu durante o referido processo para compreendermos

as dificuldades que, por exemplo, o Estado nacional chileno enfrentou para

construir uma identidade nacional que, se por um lado, mobilizava o referente

indígena; por outro, no interior de uma operação política excludente, afastava a

possibilidade de vê-los como cidadãos, caso optassem pela não “chilenização”

imposta pelos “pacificadores”.

Mesmo correndo o risco de presentificar ao extremo a pesquisa, e como

se trata de um projeto a ser desenvolvido, cabe terminar a justificativa com

duas perguntas: podemos dizer que as visões mescladas de fascínio e repúdio,

marcantes no século XIX, sobre os “outros” internos desapareceram do cenário

político e acadêmico dos dias atuais? Em um momento de importantes críticas

ao legado da ditadura chilena de 1973 a 1989, qual é o lugar reservado para o

debate sobre os problemas enfrentados pelos indígenas nas últimas décadas?

Além disso, outras perguntas precisam orientar o projeto, particularmente

em no que tange ao reconhecimento de que a heterogeneidade indígena impõe

inúmeros desafios para abordar suas diferentes historicidades, seu dinamismo

cultural e o desempenho como atores políticos. Nesse sentido, a presente

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pesquisa também é relevante por reforçar a interpretação de que é preciso ter

muito cuidado com as representações essencialistas e com as projeções

etnográficas que impedem perceber toda a dinâmica desses povos.

* Universidade Federal de Ouro Preto. Contato: [email protected].

1 VEZUB, Julio. Indios y soldados. Las fotografías de Carlos Encina y Edgardo Moreno durante

la “Conquista del Desierto. Buenos Aires: Elefante Blanco, 2002; ALIMONDA, Héctor; FERGUSON, Juan. La producción del desierto. Las imágenes de la campaña del Ejército argentino contra los indios. Disponível em: http://www.antropologiavisual.cl. Acesso em 20/12/2012. 2 BORGES, Maria Eliza Linhares. História & Fotografia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p. 69.

3 GRUZINSKI, Serge. La guerra de las imágenes. De Cristóbal Colón a “Blade Runner” (1492-

2019). México: Fondo de Cultura Económica, 1994, p. 13-14. 4 BLOCH, Marc. Pour une histoire comparée des sociétés européennes. Revue de Synthèse

Historique, Paris, t. XLVI, n. 136-138, p. 16-18, dez. 1928. Todas as traduções são de minha responsabilidade. 5 Cf. SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected Histories: Notes towards a Reconfiguration of

Early Modern Eurasia. Modern Asian Studies, v. 31, n. 3, p. 735-762, jul. 1997; Idem. Du Tage au Gange au XVI

e siècle: une conjuncture millénariste à l’ échelle eurasiatique. Annales HSS, v.

56, n.1, p. 51-84, jan.-fev. 2001; GRUZINSKI, Serge. Les mondes mêlés de la monarchie catholique et autres “connected histories”. Annales HSS, v. 56, n. 1, p. 85-117, jan.-fev. 2001; Idem. O historiador, o macaco e a centaura: a “história cultural” no novo milênio. Estudos Avançados, São Paulo, USP, v. 17, n. 49, p. 321-342, 2003. 6 WERNER, Michaël; ZIMMERMANN, Bénédicte. Penser l’ histoire croisée: entre empirie et

réflexivité. Annales HSS, v. 58, n. 1, p. 7-36, jan.-fev. 2003. 7 Idem. Beyond Comparison: Histoire Croisée and the Challenge of Reflexivity. History and

Theory, n. 45, p. 30-50, fev. 2006. 8 Heinz-Gerhard Haupt e Jürgen Kocka, em evidente resposta ao artigo publicado por Werner e

Zimmermann em History and Theory, em 2006, publicaram uma coletânea de textos, em 2009, que procurou defender a perspectiva da comparação. Cf. HAUPT, Heinz-Gerhard; KOCKA, Jürgen (Eds.). Comparative and Transnational History: Central European Approaches and new Perspectives. New York: Berghan Books, 2009. 9 PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a história comparada da América Latina. Revista

de História, São Paulo, Departamento de História-FFLCH-USP, n.153, p. 11-33, 2o

semestre 2005. 10

BLOCH, Marc. Pour une histoire comparée des sociétés européennes. Revue de Synthèse historique, Paris, t. XLVI, n. 136-138, p. 19, dez. 1928. 11 Cf. SUBERCASEAUX, Bernardo. Chile o una loca historia. Santiago: LOM, 1999, p. 51-52. 12 NERUDA, Pablo. El mensajero. In: LAGUNAS, José Ramón (Ed.). Don Alonso de Ercilla, inventor de Chile. Santiago: Editorial Pomaire, 1971, p. 9-12. Anteriormente, Neruda havia escrito um poema sobre Alonso de Ercilla em Canto general, de 1950. Cf. Idem. Ercilla. In: Antología general. Lima: Alfaguara, 2010, p. 187. 13 AVARIA, Bárbara S. Identidad y nación entre dos siglos. Patria vieja, Centenario y Bicentenario. Santiago: LOM ediciones, 2008, p. 49-51. 14 ANDERSON, Benedict. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1989. 15 PINTO, Jorge. La formación del Estado y la nación, y el pueblo mapuche. De la inclusión a la exclusión. Santiago: DIBAM, 2000, p. 67. 16 AVARIA, Bárbara S. Identidad y nación entre dos siglos. Patria vieja, Centenario y Bicentenario. Santiago: LOM ediciones, 2008, p. 52. 17 LILLO, Baldomero. Quilapán. In: Sub sole. Santiago: Imprensa Universitaria, 1907, p. 143-160. 18 Cf. PINTO, Jorge. El conflicto Estado-Pueblo Mapuche, 1900-1960. Universum, Talca, v. 1, n. 27, p. 172, 2012. 19 Ibidem, p. 171.

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MAILHE, Alejandra. ¿Es posible conocer al otro? Indagaciones en torno a la relación entre fotografía y ensayo en El México desconocido de Carl Lumholtz. In: SOULAGES, François; SOLAS, Silvia (Comps.). Fotografía y cuerpos políticos. La Plata: Edulp, 2010, p. 95. 21

Nebel viveu no México entre 1829 e 1834. Em 1836, publicou em Paris Voyage pittoresque et archéologique dans la partie la plus intéressante du Méxique, com 50 lithografias a partir de seus desenhos, com a participação de Alexander von Humboldt. Em 1851, publicou em conjunto com George Wilkins Kendall The War between the United States and Mexico Illustrated. 22

ALVARADO, Margarita; MEGE, Pedro; BÁEZ, Christian (Eds.). Mapuche. Fotografías Siglos XIX y XX .Construcción y Montaje de un Imaginario. Santiago: Pehuén, 2001. 23

Disponível em: http://www.uc.cl/proyectos/mapuches/html/menu.html. Acesso em 26/07/2013. 24

Ibidem. 25

De forma bem resumida, o conflito, também denominado de “Guerra do Salitre”, envolveu o Chile, o Peru e a Bolívia numa disputa pelo território, situado entre os três países, que crescia em importância econômica pela exploração do guano e do salitre. O Chile lutou contra a aliança entre o Peru e a Bolívia e, ao final, incorporou a maior parte do território em disputa, como as regiões de Arica e Antofagasta. Algumas ações chilenas foram duramente condenadas pelos países derrotados. A partir de então, as relações entre o Peru e a Bolívia com o Chile passaram por inúmeros problemas. Somente foi assinado um acordo entre o Chile e o Peru em 1929, quando foram fundadas embaixadas recíprocas em Santiago e em Lima. A despeito disso, o Chile, seguido do México e da Argentina, tornou-se o principal porto de acolhida dos milhares de exilados peruanos que criticaram e combateram os governos de Augusto Leguía (1919-1930), Luis Sánchez Cerro (1930-1933), Óscar Benavides (1933-1939) e Manuel Prado (1939-1945). Cf. CAVIERES FIGUEROA, Eduardo. Chile-Perú, la historia y la escuela. Conflictos nacionales, percepciones sociales. Valparaíso: Ediciones Universitarias, 2006; CONTRERAS CARRANZA, Carlos; CUETO, Marcos. Historia del Perú contemporáneo. Desde las luchas por la independencia hasta el presente. 4ª ed. Lima: IEP, 2007, p. 162-169. 26

AZÓCAR AVENDAÑO, Alonso. Fotografía proindigenista: el discurso de Gustavo Milet sobre los mapuches. Temuco: Ediciones Universidad de la Frontera, 2005.