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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma 11ª aula: Textos complementares A estrada da vida GEAEL Transcrito do livro Obras Póstumas, Allan Kardec A questão da pluralidade das existências há muito tempo preocupa os filósofos, e mais de um viu, na anterioridade da alma, a única solução possível dos problemas mais importantes da psicologia; sem esse princípio, encontraram-se parados a cada passo e acolhidos num impasse de onde não puderam sair senão com a ajuda da pluralidade das existências. A maior objeção que se possa fazer a essa teoria é a ausência da lembrança das existências anteriores. Com efeito, uma sucessão de existências inconscientes umas das outras; deixar um corpo para retomar logo um outro sem a memória do passado, equivaleria ao nada, porque isso seria o nada do pensamento; isso seria tantos pontos de partida novos, sem ligação com os precedentes; isso seria uma ruptura incessante de todas as afeições que fazem o encanto da vida presente e a esperança mais doce e mais consoladora do futuro; isso seria, enfim, a negação de toda responsabilidade moral. Semelhante doutrina seria tão inadmissível e tão incompatível com a justiça de Deus, quanto aquela de uma só existência com a perspectiva de uma eternidade absoluta de penas para faltas temporárias. Compreende-se, pois, que aqueles que formam semelhante idéia da reencarnação a repilam, mas não é assim que o Espiritismo no-la apresenta. A existência espiritual da alma, nos diz ele, é sua existência normal, com lembrança retrospectiva indefinida; as existências corpóreas não são senão intervalos, curtas estações na existência espiritual, e a soma de todas essas estações não é senão uma parte mínima da existência normal, absolutamente como se, numa viagem de vários anos, se parasse de tempos em tempos durante algumas horas. Se, durante as existências corpóreas, parece nela haver solução de continuidade pela ausência da lembrança, a ligação se estabelece durante a vida espiritual, que não tem interrupção; a solução de continuidade não existe, em realidade, senão para a vida corpórea exterior e de relação; e aqui a ausência da lembrança prova a sabedoria da Providência que não quis que o homem fosse muito desviado da vida real, onde tem deveres a cumprir; mas, no estado de repouso do corpo, no sono, a alma retoma em parte o seu vôo, e aí se restabelece a cadeia interrompida somente durante a vigília. A isso se pode ainda fazer uma objeção e perguntar que proveito se pode tirar de suas existências anteriores para a sua melhoria, se não se lembra das faltas que se cometeu. O Espiritismo responde primeiro que a lembrança de existências infelizes, juntando-se às misérias da vida presente, tornaria esta ainda mais penosa; é, pois, um acréscimo de sofrimentos que Deus quis nos poupar; sem isso, freqüentemente, quanto não seria nossa humilhação pensando no que fomos! Quanto ao nosso adiantamento, essa lembrança é inútil. Durante cada existência, damos alguns passos adiante; adquirimos algumas qualidades e nos despojamos de algumas imperfeições; cada uma delas é, assim, um novo ponto de partida, em que somos o que nos houvermos feito, em que nos tomamos por aquilo que somos, sem ter que nos inquietarmos com aquilo que fomos. Se, numa existência anterior, fomos antropófagos, o que isso nos faz se não o somos mais? Se tivemos um defeito qualquer do qual não resta mais os traços, é uma conta liquidada, com a qual não temos nada a nos preocupar. Suponhamos, ao contrário, uma falta da qual não se corrigiu senão a metade, o saldo se reencontrará na vida seguinte e é em corrigi-lo que é preciso se fixar. Tomemos um exemplo: um homem foi assassino e ladrão; disso foi punido, seja na vida corpórea, seja na vida espiritual; arrepende-se e se corrige da primeira tendência, mas não da segunda; na existência seguinte, ele não será senão ladrão; talvez grande ladrão, mas não mais assassino; ainda um passo adiante e ele não será senão pequeno ladrão; um pouco mais tarde, não roubará mais, mas poderá ter a veleidade de roubar, que sua consciência neutralizará; depois um último esforço, e, todo traço da doença moral tendo desaparecido, será um modelo de probidade. Que lhe faz então o que foi? A lembrança de ter morrido no patíbulo não seria uma O ódio é uma manifestação dos mais primitivos sentimentos do homem animal, que ainda guarda no espírito em evolução os resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de amor-próprio.

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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma

11ª aula: Textos complementaresA estrada da vida

GEAEL

Transcrito do livro Obras Póstumas, Allan Kardec

A questão da pluralidade das existências há muito tempo preocupa os filósofos, e mais de um viu, na anterioridade da alma, a única solução possível dos problemas mais importantes da psicologia; sem esse princípio, encontraram-se parados a cada passo e acolhidos num impasse de onde não puderam sair senão com a ajuda da pluralidade das existências.

A maior objeção que se possa fazer a essa teoria é a ausência da lembrança das existências anteriores. Com efeito, uma sucessão de existências inconscientes umas das outras; deixar um corpo para retomar logo um outro sem a memória do passado, equivaleria ao nada, porque isso seria o nada do pensamento; isso seria tantos pontos de partida novos, sem ligação com os precedentes; isso seria uma ruptura incessante de todas as afeições que fazem o encanto da vida presente e a esperança mais doce e mais consoladora do futuro; isso seria, enfim, a negação de toda responsabilidade moral. Semelhante doutrina seria tão inadmissível e tão incompatível com a justiça de Deus, quanto aquela de uma só existência com a perspectiva de uma eternidade absoluta de penas para faltas temporárias. Compreende-se, pois, que aqueles que formam semelhante idéia da reencarnação a repilam, mas não é assim que o Espiritismo no-la apresenta.

A existência espiritual da alma, nos diz ele, é sua existência normal, com lembrança retrospectiva indefinida; as existências corpóreas não são senão intervalos, curtas estações na existência espiritual, e a soma de todas essas estações não é senão uma parte mínima da existência normal, absolutamente como se, numa viagem de vários anos, se parasse de tempos em tempos durante algumas horas. Se, durante as existências corpóreas, parece nela haver solução de continuidade pela ausência da lembrança, a ligação se estabelece durante a vida espiritual, que não tem interrupção; a solução de continuidade não existe, em realidade, senão para a vida corpórea exterior e de relação; e aqui a ausência da lembrança prova a sabedoria da Providência que não quis que o homem fosse muito desviado da vida real, onde tem deveres a cumprir; mas, no estado de repouso do corpo, no sono, a alma retoma em parte o seu vôo, e aí se restabelece a cadeia interrompida somente durante a vigília.

A isso se pode ainda fazer uma objeção e perguntar que proveito se pode tirar de suas existências anteriores para a sua melhoria, se não se lembra das faltas que se cometeu. O Espiritismo responde primeiro que a lembrança de existências infelizes, juntando-se às

misérias da vida presente, tornaria esta ainda mais penosa; é, pois, um acréscimo de sofrimentos que Deus quis nos poupar; sem isso, freqüentemente, quanto não seria nossa humilhação pensando no que fomos! Quanto ao nosso adiantamento, essa lembrança é inútil. Durante cada existência, damos alguns passos adiante; adquirimos algumas qualidades e nos despojamos de algumas imperfeições; cada uma delas é, assim, um novo ponto de partida, em que somos o que nos houvermos feito, em que nos tomamos por aquilo que somos, sem ter que nos inquietarmos com aquilo que fomos. Se, numa existência anterior, fomos antropófagos, o que isso nos faz se não o somos mais? Se tivemos um defeito qualquer do qual não resta mais os traços, é uma conta liquidada, com a qual não temos nada a nos preocupar. Suponhamos, ao contrário, uma falta da qual não se corrigiu senão a metade, o saldo se reencontrará na vida seguinte e é em corrigi-lo que é preciso se fixar. Tomemos um exemplo: um homem foi assassino e ladrão; disso foi punido, seja na vida corpórea, seja na vida espiritual; arrepende-se e se corrige da primeira tendência, mas não da segunda; na existência seguinte, ele não será senão ladrão; talvez grande ladrão, mas não mais assassino; ainda um passo adiante e ele não será senão pequeno ladrão; um pouco mais tarde, não roubará mais, mas poderá ter a veleidade de roubar, que sua consciência neutralizará; depois um último esforço, e, todo traço da doença moral tendo desaparecido, será um modelo de probidade. Que lhe faz então o que foi? A lembrança de ter morrido no patíbulo não seria uma

O ódio é uma manifestação dos mais primitivos sentimentos do homem animal, que ainda guarda no espírito em evolução os resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de amor-próprio.

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tortura, uma humilhação perpétuas? Aplicai este raciocínio a todos os vícios, a todas as manias, e podereis ver como a alma se melhora passando e repassando pela estamenha da encarnação. Deus não é mais justo por ter tornado o homem árbitro de sua própria sorte pelos esforços que pode fazer para se melhorar, do que ter feito a sua alma nascer ao mesmo tempo que seu corpo, e de condená-la a tormentos perpétuos por erros passageiros, sem dar-lhe os meios de se purificar de suas imperfeições? Pela pluralidade das existências, seu futuro está em suas mãos; se leva muito tempo para se melhorar, disso sofre as conseqüências: é a suprema justiça; mas a esperança jamais lhe é obstruída.

A comparação seguinte pode ajudar a fazer compreender as peripécias da vida da alma.

Suponhamos uma longa estrada, sobre o percurso da qual se encontram, de distância em distância, mas em intervalos desiguais, florestas que é preciso atravessar; à entrada de cada floresta, a estrada larga e bela é interrompida e não retoma senão na saída. Um viajor segue essa estrada e entra na primeira floresta; mas lá, não mais vereda batida; um dédalo inextricável no meio do qual se perde; a claridade do Sol desapareceu sob o espesso maciço das árvores; ele erra sem saber para onde vai; enfim, depois de fadigas extraordinárias chega aos confins da floresta, mas abatido de fadiga, rasgado pelos espinhos, machucado pelos calhaus. Lá, reencontra a estrada e a luz, e prossegue seu caminho, procurando se curar de suas feridas.

Mais longe, encontra uma segunda floresta, onde o esperam as mesmas dificuldades; mas já tem um pouco de experiência e dela sai menos contundido. Numa, encontra um lenhador que lhe indica a direção que deve seguir e impede-o de se perder. A cada nova travessia a sua habilidade aumenta, se bem que os obstáculos são mais e mais facilmente superados; seguro de reencontrar a bela estrada na saída, essa confiança o sustenta; depois sabe se orientar para encontrá-la mais facilmente. A estrada termina no cume de uma montanha muito alta, de onde avista todo o percurso desde o ponto de partida; vê também as diferentes florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes que experimentou, mas essa lembrança nada tem de penosa, porque alcançou o objetivo; é como o velho soldado que, na calma do lar doméstico, se lembra das batalhas às quais assistiu. Essas florestas disseminadas sobre a estrada são para ele como pontos negros sobre uma condecoração branca; ele diz a si mesmo: “Quando estava nessas florestas, nas primeiras sobretudo, como me pareciam longas para atravessar! Parecia-me que não chegaria mais ao fim; tudo me parecia gigantesco e intransponível ao meu redor. E quando penso que, sem esse bravo lenhador que me recolocou no bom caminho, talvez estaria ali ainda! Agora que considero essas mesmas florestas, do ponto de vista onde estou, como me parecem pequenas! Parece-me que, com um passo, teria podido transpô-las; bem mais, a minha vista as penetra e nelas distingo os menores detalhes; vejo até as faltas que cometi.”

Então, um velho lhe diz: – Meu filho, eis-te no fim da viagem, mas um repouso indefinido te causaria logo um tédio mortal, e ficarias a lamentar as vicissitudes que experimentaste e que deram atividade aos teus membros e ao teu Espírito. Vês daqui um grande número de viajores sobre a estrada que percorreste, e que, como tu, correm risco de se perder no caminho; tens a experiência, não temes mais nada; vai ao seu encontro e, pelos teus conselhos, trata de guiá-los, a fim de que cheguem mais cedo.

– Vou com alegria, redargüe nosso homem; mas, ajuntou, por

que não há uma estrada direta do ponto de partida até aqui? Isso pouparia, aos viajores, passar por essas abomináveis florestas.

– Meu filho, replica o velho, olha bem nelas e verás que muitos evitam um certo número delas; são aqueles que, tendo adquirido mais cedo a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegar; mas essa experiência é o fruto do trabalho que as primeiras travessias necessitaram, de tal sorte que não chegam aqui senão em razão de seu mérito. Que saberias, tu mesmo, se por ali não tivesses passado? A atividade que deveste desdobrar, os recursos de imaginação que te foram necessários para te traçar um caminho, aumentaram os teus conhecimentos e desenvolveram a tua inteligência; sem isso, serias novato como em tua partida. E depois, procurando tirar-te dos embaraços, tu mesmo contribuíste para a melhoria das florestas que atravessaste; o que fizeste é pouca coisa, imperceptível; mas pensa nos milhares de viajores que o fazem também, e que, trabalhando todos para eles, trabalham, sem disso desconfiarem, para o bem comum. Não é justo que recebam o salário de seu trabalho pelo repouso do qual gozam aqui? Que direito teriam a este repouso se nada tivessem feito?

– Meu pai, refete o viajor, numa dessas florestas, encontrei um homem que me disse: “Sobre a borda há um imenso abismo que é preciso transpor de um salto; mas, sobre mil, apenas um consegue; todos os outros lhe caem no fundo, numa fornalha ardente e estão perdidos sem retorno. Esse abismo eu nunca vi.”

– Meu filho, é que não existe, de outro modo isso seria uma armadilha abominável estendida a todos os viajores que viessem em minha casa. Eu bem sei que lhes é preciso superar as dificuldades, mas sei também que, cedo ou tarde, as superarão; se tivesse criado impossibilidades para um único, sabendo que deveria sucumbir, teria sido cruel, e com mais forte razão se o fizera para o grande número. Esse abismo é uma alegoria da qual vais ver a explicação. Olha sobre a estrada, nos intervalos das florestas; entre os viajores, vês os que caminham lentamente, com um ar feliz, vês esses amigos que se perderam de vista nos labirintos da floresta, como estão felizes em se reencontrarem na saída; mas, ao lado deles, há outros que se arrastam penosamente; são estropiados e imploram a piedade dos que passam, porque sofrem cruelmente das feridas que, por sua falta, fizeram a si mesmos através das sarças; mas disso se curarão, e isso será, para eles, uma lição da qual aproveitarão na nova floresta que terão que atravessar, e de onde sairão menos machucados. O abismo é a figura dos males que sofrem, e dizendo que sobre mil só um o transpõe, esse homem teve razão, porque o número dos imprudentes é muito grande; mas errou dizendo que, uma vez caído dentro, dele não se sai mais; há sempre uma saída para chegar a mim. Vai, meu filho, vai mostrar essa saída àqueles que estão no fundo do abismo; vai sustentar os feridos da estrada e mostra o caminho àqueles que atravessam as florestas.

A estrada é a figura da vida espiritual da alma, sobre o percurso da qual se é mais ou menos feliz; as florestas são as existências corpóreas, onde se trabalha para o seu adiantamento, ao mesmo tempo que para a obra geral; o viajor que chega ao objetivo e que retorna para ajudar aqueles que estão atrasados, é a dos anjos guardiães, missionários de Deus, que encontram a sua felicidade em seu objetivo, mas também na atividade que desdobram para fazerem o bem e obedecerem ao supremo Senhor.

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 3

O que se pode transformar intimamente (IV)Ney Pietro Peres — Manual Prático do Espírita

AVArezA

Aquele que acumula sem cessar, e sem beneficiar nin‑guém, terá uma desculpa válida ao dizer que ajunta para deixar aos herdeiros?— É um compromisso com a consciência má.

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Terceiro,capítulo XII — “Perfeição Moral”, pergunta 900.

Rico dá o que te sobra; faze mais; dá um pouco do que te é necessário, porquanto o de que necessitas ainda é supér-fulo, mas dá com sabedoria.

Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVI. Não se pode servir a Deus e a Mamon.

Emprego da riqueza — Cheverus.

A avareza diz respeito igualmente ao apego específico ao dinheiro e aos objetos materiais que possuímos. O homem áva-ro é o egoísta que nega o auxílio pecuniário a quem lhe bate à porta, desprezando as oportunidades de servir, e até mesmo de ouvir a quem lhe venha pedir socorro.

O ávaro centraliza sua preoculpação na aquisição do di-nheiro ou nas diversas formas de enriquecimento. Para ele, o objetivo principal da existência é o dinheiro e o que ele propor-ciona para usufruto.

A atmosfera vibratória do avaro é certamente obscura, densa. Ele tem grande dificuldade em sentir a inspiração que vem de mais alto, em captar sugestões mais nobres com relação ao seu proceder.

É exatamente a eles que a ironia do destino causa os maio-res impactos quando a desventura os atinge. A queda é grande e o sofrimento, profundo, pois retira o que lhes é mais valioso: o dinheiro. Guardamos, em diferentes gradações, as manifesta-ções de avareza, que também se refletem nas nossas preocupa-ções diárias, com maior ou menor intensidade. A importância que damos aos nossos pertences e as inquietações que tantas vezes nos desequilibram, pelo fato de termos perdido esse ou aquele objeto de maior estima, representam nosso apego a eles.

O zelo demasiado quando relutamos em emprestar algu-mas das nossas quinquilharias, com receio de perdê-las ou des-gastá-las, é igualmente uma forma de avareza, como também um aspecto do ciúme.

A mania de guardar por tempo indeterminado, até mesmo sem usar, jóias, roupas ou outros pertences pessoais, reagindo em dar a alguém que mais necessite, sem justificativas, caracte-riza também o avaro.

Nenhum benefício real, dentro dos valores eternos que os Aprendizes do Evangelho já conheceram, pode resultar da avare-za e, por isso mesmo, precisa ser identificada e combatida.

Como exemplo de desprendimento dos valores materiais,

lembremos um episódio da vida do estimado benfeitor espiri-tual, dr. Bezerra de Menezes. Certo dia, ao consultar em seu gabinete médico uma senhora de parca posses, entregando-lhe o receituário, ouviu suas lamentações, pois ela não contava com numerário suficiente para a compra dos remédios. Então, o magnânimo médico, não encontrando em seus bolsos o corres-pondente em moeda corrente, entregou à senhora o seu anel de formatura, para que com ele obtivesse dinheiro que lhe permi-tisse medicar a criança doente que trazia ao colo.

ÓdIO, remOssO, VIngAnçA, AgressIVIdAde

ÓdIO

Em suma, a cólera não exclui certas qualidade do coração; mas impede de fazer muito bem e pode levar à pratica de muito mal. Isto deve ser suficiente para induzir o homem a esforçar-se para domina-la. O espírita é concitado a isso ainda por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristas.

Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo IX. Bem-aventurados os brandos

e pacíficos. A cólera.

— O que é o ódio?— O ódio é uma manifestação dos mais primitivos sen-

timentos do homem animal, que ainda guarda no espírito em evolução os resquícios do instinto de conservação, sob as for-mas de defesa, de amor-próprio.

— Quais os vários modos pelos quais o ódio se manifes‑ta em nós?

— Desde os aspectos mais sutis, dissimulado na hipocrisia social e nas formas de antipatias, aos atos mais cruéis e brutais de violência.

— Como o ódio se apresenta dentro de nós?— Como um sentimento, uma emoção incontida, um im-

pulso que, ao nos dominar, expressamos através de palavras ofensivas, quando contraímos o coração, cerramos os maxila-res, fechamos os punhos e soltamos faíscas vibratórias de baixo padrão, sintonizados com as entidades malévolas, que assim podem nos envolver, instigando-nos até ao crime.

— E até que limites pode o ódio nos levar?— Nesses momentos, podemos ser levados a cometer os

atos mais indignos de violência, de agressividade, causando dis-sensões e até mortes, contraindo, muitas vezes, as mais penosas dívidas em nossa existência.

— Quais os motivos que nos levariam a odiar alguém?— Em geral, os ódios são despertados pelas humilhações

sofridas, ou quando injustiçados, maltratados, traídos no afeto, na confiança ou quando ofendidos. Encontramos, igualmente,

GEAEL

4 11ªaula:Separaçãodosreinosesuadestruição.Cativeiro.AreconstruçãodeJerusalém.

em muitas antipatias indecifráveis que possamos sentir por al-guém, os ódios recônditos de outras existências, quase sempre frutos de nossas paixões.

— As manifestações de ódio só sempre instiladas pelos espíritos inferiores?

— Podemos realmente deixar campo aberto para as infil-trações das entidades maldosas, que estão quase sempre à es-preita para nos levar aos cometimentos do ódio. Entretanto, es-ses auxiliares que nos ajudam no nosso fortalecimento no bem, pelos testes que nos proporcionam, só conseguem nos atingir quando descemos aos níveis vibratórios ao alcance deles. Está, realmente, em cada um de nós, as origens das manifestações de ódio.

— Quais os sentimentos decorrentes do ódio?— Junto ao ódio encontramos o rancor, que é a permanên-

cia dele nas promessas feitas a nós mesmos de revide. A vin-gança é sua decorrência. A agressividade às vezes externa um estado íntimo também decorrente das nossas manifestações de ódio, rancor, cólera. Invejas, cobiças, ciúmes, inconformações, ressentimentos podem gerar ódios.

— É o ódio a ausência de amor?— Amor e ódio são sentimentos opostos. Um pode dar lugar

outro em frações de segundos, dentro de nossas reações íntimas. Muitos ódios refletem expressões de um amor ainda possesivo, em criaturas que foram preteridas nos seus afetos mais profun-dos. Os arrependimentos copiosos por males antes nutridos em ódios distantes são os primeiros lampejos de um amor despeita-do, fazendo finalmente vibrar as fibras sensíveis do coração que assim quebra a casca endurecida que o envolve.

Aquele que odeia está a reclamar direitos. Aquele que ama dá de si sem esperar recompensa.

— Como podemos combater o ódio?— Perdoando aos que nos ofendem. E o nosso Divino Mes-

tre já no deu a fórmula: “não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete”, ou seja, infinita e plenamente.

— O que fazer quando o ódio nos invade a alma?— O primeiro passo é segurá-lo de todos os modos, não

deixá-lo expor-se à vontade. Calemos a boca, contemos até dez ou o cem, caso seja preciso. Logo em seguida, procuremos um local onde possamos nos recolher: aí iremos nos acalmando e mentalmente trabalharemos para serenar nosso ânimo exaltado. Então analisemos as origens dos nossos impulsos de violência e, progressivamente, dosemos e amorteçamos os nossos sentimen-tos com as luzes reconfortantes do Evangelho. Tomemos uma página esclarecedora de um livro ao nosso dispor e meditemos recorrendo ao Amigo Protetor. Não demorará muito e já nos re-equilibraremos, vendo a fogueira que conseguimos ultrapassar.

mágOAs, ressentImentOs, IncOnfOrmAções

É muito comum ouvirmos algumas pessoas dizerem: “Ah! Eu perdoei fulano, mas não esqueço o que ele me fez!”

Nesse caso, perguntamos, será que houve mesmo o perdão?Houve um começo, uma parte digamos, um entendimento

racional da necessidade de perdoar. Em outras palavras, mental-mente o indivíduo se dispôs a não alimentar rancor ou idéias de

vingança. Está, por ele mesmo, convencido de não odiar.No campo emocional, no entanto, ainda ficaram impregna-

dos os resquícios daqueles sentimentos, que, embora não iden-tificados como impulsos de cólera, manifestam-se sutilmente em forma de mágoas, ressentimentos, inconformações, desgos-tos, amarguras e descontentamentos.

Acautelemo-nos quando esses sentimentos, ou esses lam-pejos de impressões, estiverem ainda presentes em nossas emo-ções, nos nossos solilóquios, curtidos no silêncio, ao flutuar va-gamente a nossa imaginação.

Não nos deixemos levar ou iludir por essas manifestações desavisadas. Elas são ainda modos de expressão do ódio que está ali nos corroendo e desagregando a nossa resistência.

Guardar ou manter em nós os ressentimentos, as mágo-as, as inconformações é nos deixar envolver, ainda, pelas teias da cólera; é não termos realmente perdoado. Isso é enganoso e muito grave no nosso comportamento. São as maneiras de não aceitação das ofensas recebidas. Atingidos em nosso orgulho, sentimo-nos assim e permanecemos, então, ruminando incon-formações, amarguras. É o amor-próprio ferido, os direitos que exigimos, a retratação de quem nos feriu.

Renunciemos corajosamente a esses direitos e inconforma-ções, mesmo cobertos de razões, e deixemos que o tempo e o amadurecimento natural realizem as transformações naqueles que julgamos terem errado conosco. Façamos a nossa parte, per-doemos incondicionalmente, sem quaisquer restrições.

VIngAnçA

Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição, do Cristo: “Perdoai aos vossos inimigos”, que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita, como tam-bém não, é cristão. A vingança é uma inspação tanto mais funesta quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza.

Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XII. Amai os vossos inimigos.

A Vingança — Júlio Olivier.

‑ Como se apresenta em nós a vingança?- A vingança se manifesta no nosso íntimo como uma rea-

ção carregada de forte emoção, por uma ofensa a nós dirigida. São também as formas dos revides, em discussões acaloradas, quando trocamos grosserias, os propósitos violentos de vingar crimes cometidos a familiares. Em geral, são as emoções mui-to fortes do ódio que levam as criaturas a atos criminosos de vingança.

‑ É comum o sentimento de vingança?Quem é agredido por palavras ou ações, dificilmente pas-

sa por tais situações sem revidar aos impropérios ouvidos ou às pancadas recebidas. Estamos longe de oferecer a outra face àquele que nos bata numa. A atitude, a disposição íntima de quem é agredido, para ser fiel ao ensinamento evangélico, deve se revestir de uma coragem muito grande, e de um autocontrole gigantesco. O que em geral ocorre é a perda total do equilíbrio, desencadeando-se lutas corporais, ou discussões em altas vozes, com palavras de baixo calão.

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 5

— Como, nos nossos dias, podemos vencer os impulsos de vingança?

— Mantendo-nos vigilantes no equilíbrio interior, alicer-çado num profundo amor ao próximo, sem nos deixar cair nas teias da nossa animalidade inferior. Ainda aqui, o perdão é o antídoto.

— Podemos angariar conquistas nos capacitando ao perdão?

— O bom combate se inicia dentro de nós e as conquistas, mesmo quando lentamente obtidas, vão aumentando nossa ca-pacidade de perdoar. Para avaliar nossa atual condição, observe-mo-nos diante das situações em que alguém nos fira, até mesmo fisicamente, e analisemos os sentimentos que ainda despontam em nossa alma, a intensidade deles, até que altura eles nos domi-nam e até onde conseguimos esquecer o fato e as criaturas que nos atingiram. Se os guardamos por muito tempo, e alimentamos as emoções desagradáveis, é sinal de alerta, que nos deve levar à meditação na tolerância e a redobrar nosso esforço no perdão, prosseguindo para melhores resultados.

— Como justificar o combate à vingança?— Para não sermos infratores às leis de causa e efeito, de

ação e reação, para não fazermos ao próximo o que não gostarí-amos que alguém nos fizesse. Pelo sentido de saldar os erros co-metidos no passado, não mais repetindo-os na atual existência. E pelo amor Universal que a todos une, numa confraternização de verdadeiros irmãos que já receberam os exemplos dignifi-cantes de um Mestre como Jesus.

“A vingança é um dos últimos remanescentes dos costu-mes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XII. A Vingança — Júlio Oliver.) Embora não sejam as ocorrências de vingança re-vestidas de tanta crueldade como nos tempos bárbaros, parece acontecer, em nossos dias, com surpreendente freqüência, como resultado das ofensas não-perdoadas: as mortes por vingança, os crimes por desonra em casos passionais, os ódios incontidos, fazendo vítimas etc.

“O homem do mundo, o homem venturoso, que por uma palavra chocante, uma coisa ligeira, joga a vida que lhe veio de Deus, joga a vida do seu semelhante, que só a Deus pertence, esse é cem vezes mais culpado do que o miserável que, impelido pela cupidez, algumas vezes pela necessidade, se introduz numa habitação para roubar e matar os que se lhe opõem aos desíg-nios. Trata-se quase sempre de uma criatura sem educação, com imperfeitas noções do bem e do mal, ao passo que o duelista pertence, em regra, à classe mais culta.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XII. Item 15. O duelo — Agostinho.)

Poderá hoje, entre os seguidores da Doutrina dos Espíritos, ou entre seus leitores, constituir-se em grande dilema a questão que deriva dessa abordagem do espírito de Santo Agostinho, ou seja, o da defesa pessoal, na contingência de ser atingido por as-saltantes na rua ou em sua própria casa. Deve o espírita portar arma para se defender? Preocupado com sua segurança e com a de seus familiares, no receio de serem violados na integrida-de física e até moral, precisam, portanto, estar prontos para se protegerem? Mesmo que essa defesa implique na morte de algum assaltante? Entendemos que quem tem amor no coração

nada deve temer. A segurança está na confiança que devemos ter na Justiça Divina, na proteção dos Amigos Espirituais, na aceitação das provas reservadas a nós e a nossos familiares, por mais cruéis que possam ser. É preferível não se arriscar em eliminar a vida de alguém, e por isso mesmo é preferível evitar o uso de armas. A Espiritualidade tem recursos muito maiores de proteção do que possamos imaginar, e os mesmos podem ser colocados em ação em frações de tempo.

AgressIVIdAde

Se ponderasse que a cólera nada soluciona, que lhe altera a saúde e compromete a sua própria vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vitima. Mas, outra consideração, sobretudo, deveria contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentira remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa pro-funda não sentiria se, num acesso de arrebatamento, come-tesse um ato de que teria de arrepender-se por toda a vida!

Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo IX. Bem-aventurados os

brandos e pacíficos. A cólera.

Podemos, de maneira geral, identificar as nossas manifes-tações de agressividade nos diferentes campos, que compreen-dem as emoções, os pensamentos, as palavras e os atos.

No campo das emoções

Os impulsos de agressão brotam no nosso campo emocio-nal como reflexos do ódio, do rancor, dos desejos de vingança, da cólera. A agressividade pode ser um estado permanente no indivíduo, para com tudo e para com todos, como um sintoma da cólera, situação que retrata o endurecimento do sentimento de criaturas nos estados íntimos mais penosos e difíceis. São as pessoas fechadas no entendimento, inflexíveis no coração.

A agressividade pode, no entanto, apresentar-se momenta-neamente em algumas ocasiões, principalmente quando reagi-mos às ofensas recebidas. Mesmo aí, é também conseqüência da nossa condição ainda primitiva de reações animais, em que os instintos ancestrais de defesa emergem das camadas profundas, embora muito vivas, do nosso subconsciente.

Em ambos os casos, permanente ou momentânea, a agres-sividade surge como impulso emocional, de maior ou menor intensidade, dependendo da condição da criatura, do seu grau de consciência e do esforço que realiza no combate à predomi-nância do mal.

O Aprendiz do Evangelho, que busca localizar essas ocor-rências, deve dirigir suas atenções para as manifestações do campo emocional.

É esse o seu terreno de trabalho, é nele que conscientemente vai exercendo seu domínio, refreando, inicialmente, seus impul-sos, para controlar-se e, em seguida, trabalhando mentalmente, de modo a dosar, com o conhecimento, novas disposições, novos sentimentos, como alguém que substitui uma emoção forte de violência por uma vibração suave de carinho.

6 11ªaula:Separaçãodosreinosesuadestruição.Cativeiro.AreconstruçãodeJerusalém.

No campo dos pensamentos

Quando cedemos às emoções e nelas nos envolvemos, fi-camos impregnados daqueles sentimentos de animosidade que levam ao campo mental os correspondentes impulsos, gerado-res de pensamentos agressivos. São os diálogos íntimos que têm lugar no nosso consciente, quando nos deparamos brigando dentro de nós mesmos com alguém, nos armando assim das disposições de transmitir a outrem o veneno que armazenamos mentalmente.

Emitimos ondas vibratórias densas na direção de quem nos provocou. Ficamos, às vezes, horas arquitetando e elabo-rando, detalhe por detalhe, todas as palavras que iremos dirigir ao nosso algoz, que já se tornou nossa vítima, antes mesmo do entrevero.

A agressão por pensamento talvez seja a maneira mais co-mum em que expressamos a nossa cólera. Embora essa forma ainda não tenha se concretizado numa realidade física, direta, de agressão, já provocou seus efeitos maléficos pelas vibrações emitidas ao nosso contraditor.

Do domínio obtido na nossa esfera emocional, onde possa-mos teu conseguido atenuar e controlar as erupções do vulcão que regorgitava em impulsos de violência, vamos agora sanear a nossa atmosfera mental, afastando dos nossos pensamentos as idéias de revide, os planos de vingança, os propósitos de reivin-dicar direitos por ofensas injustas etc. Para isso, alimentamos os nossos pensamentos com idéias de tolerância, de perdão, de renúncia. Vamos nos desarmando dos projéteis mentais que es-tamos lançando ao próximo, envolvido nas nossas tramas. Va-mos suavizando nossas emissões mentais, até conseguirmos vi-brar amor em nosso íntimo, sem restrições ou condicionamen-tos, em direção do nosso opositor. Não importa qual virá a ser a reação ou aceitação do nosso contestador; importa, sim, a nossa atitude de tolerância e perdão para com ele, importa realizar a nossa parte, dar o nosso testemunho evangélico.

No campo das palavras

Imantados nos envolvimentos magnéticos de ódio, pode-mos reproduzir ou devolver agressões, concretizadas nas pala-vras pronunciadas com intensa carga vibratória, em altos sons, de efeitos desequilibradores. A força magnética da palavra so-mam-se os componentes emocionais e mentais. São verdadeiros petardos explosivos que lançamos àqueles que agredimos com a nossa voz.

Os impropérios pronunciados, os desaforos, as ofensas que dirigimos são as diversas maneiras de agredirmos por palavras. E quando não represamos de início a torrente de palavras que jorra continuamente numa discussão, é mais difícil nos domi-nar depois. Como é desagradável e penoso o clima que se sente numa discussão, numa troca de ofensas. Os contendores ficam pálidos, mudam de expressão, se desequilibram, tremem, se en-venenam mutuamente e permanecem por muito tempo nesse estado, nervosos, alterados, em profunda infelicidade. E para quê? Com que proveito?

De nada adiantam as gritarias, as altas vozes. São maus

costumes que em nada ajudam. “Uma boa palavra auxilia sem-pre”, mas pronunciada serenamente, com profundidade, aí sim ela penetra e cala, transformando a criatura que a recebe.

Conter as palavras que possam ser pronunciadas, com res-quícios de ódio, rancor, é o grande desafio aos Aprendizes do Evangelho. Articulá-las exclusivamente quando houver a certe-za que ao serem pronunciadas efetivamente beneficiarão criatu-ras e induzirão bons propósitos.

Muito cuidado, portanto, no “falar” e sobre “o que falar”, lembrando sempre que não será por muito falar que seremos ouvidos ou convenceremos alguém, a não ser simplesmente pe-las nossas atitudes e pelos nossos exemplos, incluindo-se entre esses o silenciar nas horas propícias.

No campo dos atos

A agressividade atinge sua manifestação mais desagradá-vel e perigosa quando transborda incontidamente para o cam-po dos atos físicos, das agressões corporais. É o que assistimos, às vezes, entre amigos, colegas ou familiares, que, trocando ofensas, chegam às lutas corporais, não raro com ferimentos, fraturas e escoriações dos contendores, quando não aos extre-mos casos de morte.

É incrível observar, em nossos dias, a crescente onda de vio-lência entre as criaturas, a reagirem por nada, sacando uma arma e cometendo, até involuntariamente, trágicos crimes.

É o que constatamos nos casos mais chocantes, comenta-dos pelos jornais, nos crimes passionais, nas próprias diligên-cias policiais e nos campos de encontros esportivos. E como se não bastasse, o assunto é explorado pela imprensa, rádios e emissoras de televisão, com requintes de competição, nas dispu-tas de maiores audiências, pelos seus produtores, além de ocu-parem os temas preferidos nos filmes policiais e de guerra, onde a melhor técnica e todo o avanço na arte cinematográfica são utilizados para evidenciar os aspectos mais terríveis e depri-mentes da violência humana. As platéias continuam vibrando com as demonstrações de força e desamor. Transfere-se, para o relacionamento entre as criaturas na sociedade, o mesmo com-portamento observado e induzido pelos exemplos degradantes, apresentados nos filmes, jornais, revistas, programas de rádio e de televisão.

Somos induzidos, pelas imagens que se fixam subconscien-temente, a cometer os mesmos atos de agresssividade, as mes-mas demonstrações de violência. E nesse contexto o Aprendiz do Evangelho é solicitado a dar com esforço os seus testemu-nhos de brandura, compreensão e perdão, desenvolvendo sua capacidade de não se deixar levar pelos impulsos de agressão física, incompatíveis com seus ideais de amor e tolerância, que podem muitas vezes pegá-lo de surpresa, em momentos como no trânsito, no relacionamento familiar, no trabalho, nas aglo-merações, nos salões de espetáculos etc.

(continua no próximo número)

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 7

1. A divisão de canaãÀ medida que foi envelhecendo, Salomão foi se distan-

ciando cada vez mais de seus súditos. Escorchava-os com pe-sados impostos, com exceção da tribo de Judá, da qual era originário. Esta situação desembocou na revolta do ano de 937 a.C., em que as tribos do Norte (Israel) separaram-se e fizeram de Samaria sua capital. Ocorreu, assim, a divisão de Canaã em dois reinos: Judá, ao sul, tendo Jerusalém como ca-pital e Israel, ao norte. A Judá, além desta tribo propriamente, agregou-se a tribo de Benjamin. Todas as demais tribos cons-tituíram o reino de Israel.

Jerobão foi o primeiro rei de Israel, após a cisão. Roboão, filho de Salomão, sucedeu-o no reino de Judá. Os dois reis iniciaram uma série de hostilidades, não havendo mais paz entre o norte e o sul. Seus filhos os sucederam e prosseguiram também nestas hostilidades.

Começa assim, para o povo judeu, um período crítico, de grandes sofrimentos e escuridão. A luz divina, entretan-to, nunca deixou de brilhar entre eles. Foi a época dos gran-des profetas, dos grandes médiuns, intérpretes dos Espíri-tos Superiores, dos Mentores Espirituais da nação. Dentre estes grandes médiuns de Israel, destacamos Elias e Eliseu; de Judá, destacam-se, entre outros, Isaías, Jeremias, Oséias, Amós, Ezequiel, Miquéias, Zacarias.

2. Idolatria em IsraelEm 875 a.C. sobe ao trono de Israel o rei Acab, que se

casa com Jezabel, uma pagã. Esta quer impor o culto de Baal ao povo, colocando ídolos nos templos e instituindo rituais pagãos. Elias, inspirado pelo Plano Espiritual, adverte Acab do perigo que o reino estava correndo, entregando-se a ado-ração dos ídolos e afastando-se do Deus único. Faz esta ad-vertência com grande coragem, pois estimulado por Jezabel, o rei havia mandado matar os sacerdotes de Jeová. Elias é perseguido e esconde-se.

Depois de certo tempo, passada a onda de perseguição contra os sacerdotes, Elias regressa a Israel e propõe a Acab que lhe permita um confronto com os sacerdotes de Baal, para que ele ponha à prova a força do Deus único contra Baal. Reúnem-se 400 sacerdotes do Baal, a quem Elias propõe que façam surgir fogo na lenha que havia sido preparada para esse teste. Os sacerdotes fizeram invocações e rituais; não consegui-ram fazer fogo. Elias, então, mandou encharcar a lenha com bastante água; implorou a Deus que lhe permitisse forças para acender o fogo. A lenha incendiou-se mostrando a superiorida-de de Deus sobre os ídolos. Diante disso, Elias mandou degolar os 400 sacerdotes de Baal, num ensinamento violento que o comprometeu espiritualmente. Séculos depois, vamos reencon-trá-lo, reencarnado como João Batista, o qual foi degolado por Herodes. E de quem disse Jesus: “foi o maior dos profetas”.

Acab, rei de Israel, foi morto numa das muitas batalhas que travou com os sírios. Sucedeu-o seu filho Jorão. Enquanto

isso, em Judá, Ocozias, neto de Acab, torna-se rei. Jezabel, a idólatra, permanece em Israel. Entretanto, Eliseu, o profeta sucessor de Elias, havia predito o fim da dinastia de Acab. E este fim se realizou da seguinte forma: Jeú, filho de Josa-fat, reuniu uma tropa e foi ao encontro de Jorão, acampado em Jezrael após haver travado uma luta contra Hazael, rei da Síria. Percebendo a aproximação de Jeú, Jorão aliou-se a Ocozias, rei de Judá, e partiu ao encontro do adversário. Jeú fere mortalmente a Jorão e persegue a Ocozias matando-o também. Assim termina a geração de Acab, pois Ocozias, ape-sar de reinar em Judá, era seu neto.

Jezabel foi a Jezrael e tentou atrair Jeú. Este, entretanto, mandou que a atirassem pela janela. Assim foi morta Jezabel. Jeú completou a destruição da família de Acab e mandou ma-tar os adoradores de Baal.

3. mais matançasAtalia, mãe de Ocozias, quando soube da morte do fi-

lho, pretendeu, ela mesma, colocar sobre sua cabeça a coroa de rainha de Judá. Para isso mandou matar todos os filhos de Ocozias. Um deles, porém, foi salvo: Joás. A criança foi mantida sempre em segredo, até que, quando adolescente foi apresentada pelos seus partidários como o verdadeiro rei de Judá. Isto estimulou uma revolta que provocou a morte de Atalia. Joás passou a reinar.

Jeroboão II (783-743 a.C.), descendente de Jeú, reina depois em Samaria. Em seu reinado há esplendor e prospe-ridade. E muita corrupção. Surge uma classe de oprimidos que deu motivo à advertência do profeta Amós — enviado de Judá para Israel “apressais a vinda do dia da violência, deita-dos em leitos de marfim”.

Jeroboão II morre. Na época, o império assírio está em franca expansão. O reino de Israel vê-se envolvido entre o Egito e a Assíria, rivais. Cai na anarquia e vinte anos depois (em 722) desapareceu para nunca mais se reagrupar. Nesses momentos de angústia surge a voz do profeta Oséias (também de Judá, a serviço de Israel): “volta Israel, ao Senhor teu Deus, pois foi tua iniqüidade que te fez cair”.

4. Os problemas do reino de JudáApós passar por um certo período de paz e harmonia, o

reino de Judá começa também trajetória de sofrimento. Estas vicissitudes começaram com o reinado de Acaz (736-716), filho de Joatão. Reinou ele dezesseis anos em Jerusalém, pe-ríodo em que se entregou a adorar ídolos. Mandou fundir es-tátuas para representar divindades estrangeiras. É o período em que encontramos o profeta Isaías, que predisse a vinda do Messias: “uma virgem conceberá e dará à luz um filho que se chamará Emmanuel” .

Os reis da Síria atacam Judá. Acaz pede auxílio aos assí-rios pagando-os com a prata e o ouro dos vasos do templo de Salomão. Os assírios vencem os sírios mas, fortalecidos com

Escola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma11ª aula: Separação dos reinos e sua destruição. Cativeiro. A reconstrução de Jerusalém.GEAEL

8 11ªaula:Separaçãodosreinosesuadestruição.Cativeiro.AreconstruçãodeJerusalém.

esta vitória, voltam-se também contra Judá. Em 701 a.C., Se-na-guariba, rei assírio, já tinha Judá em seu poder: Ezequias, filho de Acaz, havia se submetido e, inclusive, aceito a influ-ência religiosa do invasor. Os sucessores de Ezequias — Ma-nassés e Amon — acomodam-se com a situação. Permitiam que se adorassem ídolos dentro do próprio Templo. Foi Josias quem restabeleceu a liberdade e reimplantou as tradições re-ligiosas no ano 640 a.C.. Nessa época descobriram o Deutero-nômio, que segundo alguns havia sido escrito 70 anos antes, com os ensinamentos das principais tradições religiosas dos hebreus. Josias aplicou estes ensinamentos; expulsou os sa-cerdotes idólatras e fez nova aliança com Deus, prometendo não mais se afastar da Lei.

5. Últimos dias de JudáNesse período de restauração religiosa encontramos o pro-

feta Jeremias, que muito colaborou com Josias. No ano 612 a.C., os assírios foram derrotados pela Babilônia. Jeremias pre-viu que esta vitória traria grandes dores para Judá. Realmente, pois os egípcios tentando salvar os assírios quiseram enfrentar os babilônios. Josias tentou opor-se e foi morto numa batalha, em 609 a.C. Joacaz, seu filho, que o sucede, governa apenas três meses. Foi deposto pelo rei do Egito, que colocou em seu lugar Joaquim, irmão de Joacaz. O Egito não pôde sustentar por muito tempo sua hegemonia sobre Judá; Jerusalém cai nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, que saqueia a cidade, inclusive o Templo. Levou Joaquim e sua família pri-sioneiros para a Babilônia. Levou também parte da população jovem, principalmente guerreiros e artesãos. Somente ficou em Jerusalém a parte mais miserável da população. Designado por Nabucodonosor, Matatias (Sedecias, para os babilônios), tio de Joaquim, passou a reinar em Jerusalém.

Sedecias faz um pacto com o Egito pensando em libertar Judá do jugo babilônico. Os egípcios não o sustentaram por muito tempo e, em 586 a.C., a cidade não mais suportou o cerco dos babilônios e rendeu-se. Sedecias foi preso, levado para a Babilônia onde lhe mataram os filhos em sua presença e o cegaram.

Jeremias, o profeta, lamenta: “como está solitária a cida-de outrora tão povoada”.

6. exílioToda Judá estava assim, submetida. Desapareceram os

dois reinos. Lemos em Jeremias: “Se algum dia eu te esque-cer, Jerusalém, que minha mão direita fique paralisada. Que minha língua fique colada ao meu palato”. Embora escravos, muitos ansiavam por restabelecer o reino de Judá. Contudo, a maioria foi-se dispersando: do cativeiro passou para outras nações e nunca mais regressaram a Judá.

Ezequiel, outro profeta, deportado para a Babilônia, entretanto reanima o povo: “Reunirei meu povo, como um pastor reagrupa sua ovelhas”. É evidente, aqui, que o Pastor (Jesus) está sempre reunindo as ovelhas dispersas da casa de Israel e Judá — a representação de todos os homens que se desviam das leis de Deus.

Foram mais de 50 anos de exílio na Babilônia. Um pe-

ríodo onde se destaca a figura grandiosa de Daniel. Quan-do Nabucodonosor levara os homens válidos como escravos para a Babilônia solicitara também a seus auxiliares que escolhessem um bom número de garotos, inteligentes e bem apresentáveis, a fim de que lhes fossem ensinadas as leis e os costumes da Babilônia. Entre estes garotos estavam Daniel, Ananias, Misael e Azarias que, em babilônico, passaram a chamar-se: Baltazar, Sidrac, Misac e Abdenago. Dentre estes, Daniel foi o que mais se destacou. Chegou até a ocupar um dos três cargos mais importantes da Babilônia, por determi-nação de Nabucodonosor. Contudo, a inveja dos babilônios o denunciou ao rei como fiel seguidor de Jeová e não dos deuses babilônicos. Foi atirado à cova dos leões, onde sobreviveu.

Ciro II, O Grande (557-529 a.C.), rei da Pérsia, começa a conquista da Mesopotâmia. Nabucodonosor, já falecido, fora su-cedido por Baltazar, seu filho, inferior ao pai. Foi morto por Ciro, que submeteu toda a Babilônia. Em 538 a.C., Ciro proclama um édito que permite aos judeus que o quiserem, regressar à sua pátria. Em seu édito, Ciro dizia que Deus o havia encarregado de reconstruir o templo de Jerusalém. Devolveu os vasos e objetos do templo que haviam sido retirados por Nabucodonosor.

7. restauraçãoVolta, então, um grupo para Jerusalém decidido a recons-

truir o Templo e a restaurar o Reino de Judá. A região estava dominada por uma série de povos idólatras, que muito difi-cultaram a reconstrução do Templo e das muralhas de Jeru-salém. Foi Neemias que, com plenos poderes conferidos por Artaxerxes, sucessor de Ciro depois de Dario, que conseguiu concluir a restauração das muralhas.

Restaurada Jerusalém, os judeus defrontam-se com mui-tos problemas. Entram em choque com os pagãos que ocupa-vam a Palestina. Há pobreza física e misérias morais. Havia necessidade de uma espécie de codificação de todos os ensina-mentos de Moisés para o disciplinamento do povo. Neemias, o governador, ajudado por Esdras, o escriba, proclama a Lei de Moisés como lei de Estado para toda a Judéia. Fundava-se, assim, o judaísmo. Estávamos em 397 a.C..

Por volta de 330 a.C., Alexandre, o Grande, transforma o mundo da época. Impõe-se o pensamento grego a todos os povos. Os judeus não fogem a esta influência. O Moisaísmo os une, embora muitos deixem a Palestina.

Restaurada Jerusalém, os judeus voltavam periodica-mente a Jerusalém, para orarem no Templo. A vida social dos judeus, assim, passa a girar em torno do Templo.

São conquistados pelos Lágides, do Egito, dos quais per-manecem escravos de 301 a 198 a.C.. Depois passam a ser dominados pelos Seleucidas (Antioco, da Síria), de 198 a 167 a.C.. Antioco IV inicia uma feroz perseguição religiosa, que dá origem à guerra santa chefiada pelos Macabeus, de 167 a 134 a.C.. A Judéia reconquista a independência, mas os reis Has-moneus (descendentes dos Macabeus) revelam-se grandes tira-nos. Antipater chama o general romano Pompeu para ajudá-lo e toma conta do poder evidentemente custodiado pelos roma-nos. Herodes, o Grande, pagão, nascido em Edom (37 a 4 de nossa era) o. sucede como rei de Judá sob domínio de Roma.

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 9

A beleza é uma coisa de convenção, e relativa a cada tipo? O que constitui a beleza para certos povos não é para outros uma horrível fealdade? Os negros se acham mais belos do que os brancos e vice‑versa. Nesse conflito de gos‑tos, há uma beleza absoluta e em que consiste ela? Somos realmente mais belos do que os Hotentotes e os Cafres, e por quê?

Esta questão que, à primeira vista, parece estranha ao objeto de nossos estudos, a ele se refere, todavia, de maneira direta, e toca o próprio futuro da Humanidade. Ela nos foi sugerida, assim como a sua solução, pela passagem seguinte de um livro muito interessante e muito instrutivo, intitulado: As revoluções inevitáveis no globo e na Humanidade, por Charles Richard.

O autor dedica-se a combater a opinião da degeneres-cência física do homem desde os tempos primitivos, e refuta, vitoriosamente, a crença na existência de uma raça primitiva de gigantes, e se dedica a provar que, do ponto de vista da força física e do talhe, os homens de hoje valem os antigos, se não os ultrapassam mesmo.

Passando à beleza das formas, assim se exprime, às pági-nas 44 e seguintes:

“No que toca à beleza do rosto, à graça da fisionomia, a esse conjunto que constitui a esté-tica do corpo, a melhoria é ainda mais facilmente constatada.

“Basta, para isso, lançar um olhar sobre os tipos que os meda-lhões e as estátuas antigas nos transmitiram intactos através dos séculos.

“A iconografia de Visconti e o museu do conde de Clarol são, entre várias outras, duas fontes onde é fácil haurir os elementos variados desse estudo interessan-te.

“O que toca, primeiramente, nesse conjunto de figuras, é a rudeza dos traços, a animalida-de da expressão, a crueldade do olhar. Sente-se, com um arrepio involuntário, que se tem relações com pessoas que vos cortariam sem piedade em pedaços, para vos dar a comer às suas moréias,

assim como fazia Polion, rico gastrônomo de Roma e familiar de Augusto.

“O primeiro Brutus (Lucius-Junius), aquele que fez cor-tar a cabeça aos seus dois filhos e assistiu, de sangue-frio ao seu suplício, se parece a um animal de rapina. Seu perfil sinis-tro empresta à águia e ao mocho o que esses dois carniceiros do ar têm de mais selvagem. Não se pode duvidar, vendo-o, que não haja merecido a vergonhosa honra que a história lhe confere; se ele matou os seus dois filhos, certamente degolou sua mãe pelo mesmo motivo.

“O segundo Brutus (Marius), que apunhalou César, seu pai adotivo, precisamente na hora em que este mais contava com o seu reconhecimento e seu amor, lembra em seus traços um tolo fanático; não tem mesmo essa beleza sinistra que o artista descobre, freqüentemente, nessa energia exagerada que impele ao crime.

“Cícero, o brilhante orador, o escritor espiritual e profun-do, que deixou uma tão grande lembrança de sua passagem neste mundo, tem um rosto esborrachado e comum que devia torná-lo muito menos agradável ao ver do que ao escutar.

“Júlio César, o grande, o incomparável vencedor, o herói

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma

11ª aulas: Textos complementaresTeoria da beleza

GEAEL

Transcrito do livro Obras Póstumas, Allan Kardec

Dizem que no passado, os átomos de nosso corpo foram estrelas

10 11ªaula:Separaçãodosreinosesuadestruição.Cativeiro.AreconstruçãodeJerusalém.

dos massacres, que fez sua entrada no reino das sombras com um cortejo de dois milhões de almas, que matara, quando vivo, foi também tão feio quanto o seu predecessor, mas num outro gênero... Seu rosto magro e ósseo, montado sobre um longo pescoço, mal ornado a propósito de uma maçã do rosto saliente, fá-lo antes parecer a um grande palhaço feirante do que a um guerreiro.

“Galba, Vespasiano, Nerva, Caracala, Alexandre Severo, Balbino, não são somente feios, são horrendos. Num museu dos antigos tipos de nossa espécie, quase que não se encon-tram, aqui e ali, algumas figuras a salvar de um olhar sim-pático. A de Cipião, o Africano, de Pompeu, de Cômodo, de Heliogábalo, de Antinoo o favorito de Adriano, são desse pequeno número. Sem serem belas, no sentido moderno da palavra, essas figuras são, entretanto, regulares, de um aspec-to agradável.

“As mulheres não são muito melhor cuidadas do que os homens, e dão lugar às mesmas notas. Lívia, filha de Augusto, tem o perfil pontudo de uma fuinha; Agripina, dá medo ver, e Messalina, como para confundir Cabanis e Laváter, assemelha-se a uma gorda criada, mais amorosa de boa sopa do que de outra coisa.

“Os Gregos, é necessário dizê-lo, estão geralmente menos mal do que os Romanos. Os rostos de Temístocles e de Milcíades, entre outros, podem ser comparados aos mais belos tipos modernos. Mas Alcebíades, esse antepassado tão distante de nossos Richelieu e de nossos Lauzun, cujas explosões galantes enchem, só por eles, a crônica de Atenas, tem, como Messalina, muito pouco o físico de seu emprego. Ao ver os seus traços solenes e sua fronte de pensador, é tomado antes por um jurisconsulto apegado ao seu texto de lei, do que por esse audacioso fogazão, que se fazia exilar em Esparta, unicamente para enganar esse pobre rei Ágis, e se vangloriar depois de ter sido o amante de uma rainha.

“Qualquer que seja a pequena vantagem que pode ser concedida, sobre esse ponto, aos Gregos sobre os Romanos, quem se dá ao trabalho de comparar esses velhos tipos com os de nosso tempo, reconhecerá, sem dificuldade, que o progresso se fez nesse caminho como em todos os outros. Somente, será bom não esquecer, nessa comparação, que aqui

se trata de classes privilegiadas, sempre mais belas do que as outras, e que, conseqüentemente, os tipos modernos a se opor aos antigos deverão ser escolhidos nos salões, e não na espe-lunca. Porque a pobreza, ai!, em todos os tempos, e sob todos os aspectos, jamais foi bela, e é precisamente assim para nos fazer vergonha e nos forçar a dela nos libertar um dia.

“Não quero, pois, dizer, está tão longe, que a fealdade desapareceu inteiramente de nossas frontes, e que o cunho divino se encontra, enfim, sob todas as máscaras que velam uma alma; longe de mim uma afirmação que poderia tão facilmente ser contestada por todo o mundo. Minha pre-tensão se limita unicamente a constatar que, num período de dois mil anos, tão pouca coisa para uma Humanidade que tem tanto a viver, a fisionomia da espécie melhorou de maneira já sensível.

“Creio, além disso, que as mais belas fisionomias antigas são inferiores àquelas que podemos diariamente admirar em nossas reuniões públicas, nas festas e até no corrente das ruas. Se não temesse ferir certas modéstias, e também excitar certos ciúmes, cem exemplos conhecidos de todos, no mundo contemporâneo, confirmariam a evidência do fato.

“Os adoradores do passado têm, geralmente, a boca cheia de sua famosa Vênus de Médicis, que lhes parece o ideal da beleza feminina, e não se acautelam que essa mesma Vênus passeia, todos os domingos, nos bulevares de Arles, tirada em mais de cinqüenta exemplares, e que há poucas de nossas cidades, particularmente entre as do Sul, que não possuam algumas delas.

“... Em tudo o que acabamos de dizer, não comparamos nosso tipo atual senão ao de povos que nos precederam de alguns milhares de anos somente. Mas, se remontarmos mais longe nas idades, perceberemos as camadas terrestres onde dormem os restos das primeiras raças que habitaram o nosso globo, a vantagem em nosso favor virá a ser, nesse ponto, sensível, e toda degeneração a esse respeito será eliminada por si mesma.

“Sob essa influência teológica, que deteve Copérnico, Tycho-Brahe, que perseguiu Galileu, e que, nestes últimos tempos, obscureceu um instante o gênio do próprio Cuvier, a ciência hesitava em sondar os mistérios das épocas antedilu-vianas. O relato bíblico, admitido ao pé da letra no seu sen-tido mais estreito, parecia ter dito a última palavra de nossa origem e dos séculos que a separam de nós. Mas a verdade, impiedosa em seu crescimento, acabou por romper a casaca de ferro na qual queriam aprisioná-la para sempre, e para mostrar a nu as formas até aqui ocultas.

“O homem que vivia antes do dilúvio, em companhia dos mastodontes e dos ursos das cavernas, e outros grandes mamíferos hoje desaparecidos, o homem fóssil, em uma palavra, por tanto tempo negado, foi enfim encontrado e a sua existência colocada fora de dúvida. Os trabalhos recentes dos geólogos, particularmente os de Boucher de Perthes,1 de Filippi e de Lyell, nos permitem agora apreciar os caracteres físicos desse venerável antepassado do gênero humano. Ora, 1 Ver as duas sábias obras do Sr. Boucher de Perthes: Do homem antedilu‑viano e de suas obras., broch. in-4, e Das Ferramentas de Pedra, broch. in-8.

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apesar dos contos imaginados pelos poetas sobre a beleza original, apesar do respeito que lhe é devido como ao antigo chefe de nossa raça, a ciência foi obrigada a constatar que ele era de uma fealdade prodigiosa.

“Seu ângulo facial não ultrapassava muito 70º; suas mandíbulas, de um volume considerável, estavam armadas de dentes longos e salientes; a fronte era fugente, as têm-poras achatadas, o nariz esborrachado, as narinas largas; em uma palavra, o pai venerável devia se assemelhar muito mais a um orangotango do que aos seus filhos distantes de hoje. Foi ao ponto que, se não tivessem se encontrado, junto dele, machados de sílex que fabricara, e, em alguns casos, os animais que tinham ainda as marcas das feridas produzidas por essas armas informes, ter-se-ia podido duvidar do papel importante que desempenhou na nossa filiação terrestre. Não só sabia fabricar os machados de sílex, mas ainda maças e pontas de lança da mesma matéria. A galanteria antedilu-viana ia mesmo até confeccionar braceletes e colares com as pequenas pedras arredondadas, que ornamentavam, nesses tempos recuados, o braço e o pescoço do sexo encantador, que se tornou muito mais exigente depois, assim como todos disso podem se convencer.

“Não sei o que pensarão a respeito as elegantes de nossos dias, cujas espáduas cintilam de diamantes; quanto a mim, eu o confesso, não posso me defender de uma emoção profunda, pensando nesse primeiro esforço do homem apenas liberto do animal, para comprazer-se em sua companhia, pobre e nu como ele, no seio de uma natureza inóspita, sobre a qual a sua raça deve reinar um dia. Ó nossos distantes antepas-sados! Se já vos amáveis, sob as vossas faces rudimentares, como poderíamos duvidar de vossa paternidade a esse sinal divino de nossa espécie?

“Está, pois, manifesto que esses informes humanos são nossos pais, uma vez que nos deixaram marcas de sua inte-ligência e de seu amor, atributos essenciais que nos separam do animal. Podemos, pois, examinando-os atentamente, desembaraçados das aluviões que os cobrem, medir com um compasso o progresso físico alcançado pela nossa espécie, desde o seu aparecimento sobre a Terra. Ora, esse progresso que, ainda há pouco, podia ser contestado pelo espírito de sistema e os preconceitos de educação, adquire aqui uma tal evidência que não há senão que reconhecê-lo e proclamá-lo.

“Alguns milhares de anos poderiam deixar dúvidas, algumas centenas de séculos as dissipam irrevogavelmente...

“... Quanto somos jovens e recentes em todas as coi-sas? Ignoramos ainda o nosso lugar e o nosso caminho na imensidade do Universo, e ousamos negar os progressos que, por falta de tempo, não puderam ainda ser suficientemente constatados. Crianças que somos, tenhamos, pois, um pouco de paciência, e os séculos, aproximando-nos do objetivo, nos revelarão os esplendores que escapam na distância, aos nos-sos olhos apenas entreabertos.

“Mas, desde hoje, proclamamos altamente, uma vez que a ciência já no-lo permite, o fato capital e consolador do pro-gresso, lento mas seguro, de nosso tipo físico para esse ideal

entrevisto pelos grandes artistas, através das inspirações que o céu lhes envia para nos revelar os seus segredos. O ideal não é um produto enganoso da imaginação, um sonho fugi-dio destinado a dar, de tempos em tempos, logro às nossas misérias, é um objetivo marcado por Deus para o nosso aper-feiçoamento, objetivo infinito, porque só o infinito, em todos os casos, pode satisfazer ao nosso espírito e oferecer-lhe uma carreira digna dele.”

Dessas observações judiciosas, resulta que a forma dos corpos se modificam num sentido determinado, e segundo uma lei, à medida que o ser moral se desenvolve; que a forma exterior está em relação constante com o instinto e os apetites do ser moral; que quanto mais os seus instintos se aproximam da animalidade, mais a forma, igualmente, dela se aproxima; enfim, que à medida que os instintos materiais se depuram e dão lugar aos sentimentos morais, o envoltório exterior, que não está mais destinado à satisfação das necessidades grossei-ras, reveste formas cada vez menos pesadas, mais delicadas, em harmonia com a elevação e a delicadeza dos pensamentos. A perfeição da forma é, assim, a conseqüência da perfeição do Espírito: de onde se pode concluir que o ideal da forma deve ser aquela que reveste os Espíritos no estado de pureza, a que reveste os poetas e os verdadeiros artistas, porque eles penetram, pelo pensamento, nos mundos superiores.

Há muito tempo se diz que o rosto é o espelho da alma. Esta verdade, tornada axiomática, explica esse fato vulgar, que certas fealdades desaparecem sob o reflexo das qualida-des morais do Espírito, e que, muito freqüentemente, prefere-se uma pessoa feia dotada de eminentes qualidades, àquela que não tem senão a beleza plástica. É que essa fealdade não consiste senão nas irregularidades da forma, mas não exclui a finura dos traços necessários à expressão dos sentimentos delicados.

Do que precede se pode concluir que a beleza real con-siste na forma que mais se distancia da animalidade, e reflete melhor a superioridade intelectual e moral do Espírito, que é o ser principal. O moral influindo sobre o físico, que apropria às suas necessidades físicas e morais, segue-se: 1º que o tipo da beleza consiste na forma mais própria à expressão das mais altas qualidades morais e intelectuais; 2º que, à medida que o homem se eleva moralmente, seu envoltório se aproxi-ma do ideal da beleza, que é a beleza angélica.

Tendo este artigo sido lido na Sociedade de Paris, foi objeto de um grande número de comunicações, apresentando todas as mesmas conclusões. Não citaremos senão as duas seguintes, como sendo as mais desenvolvidas:

Paris, 4 de fevereiro de 1889. - (Médium Srª Malet):

Pensastes bem, a fonte primeira de toda bondade e de toda inteligência é também a fonte de toda beleza. O amor engendra a perfeição de todas as coisas, e ele mesmo é a perfeição. – O Espírito é chamado a adquirir essa perfei-ção, essa essência é o seu destino. Deve, pelo seu trabalho, se aproximar dessa inteligência soberana e dessa bondade

infinita; deve, pois, revestir, cada vez mais, a forma per-feita que caracteriza os seres perfeitos.

Se, nas vossas socieda-des infelizes, sobre os vossos globos ainda mal equilibra-dos, a espécie humana está longe dessa beleza física, isso decorre de que a beleza moral está mal desenvolvi-da ainda. A conexão entre essas duas belezas é um fato certo, lógico, e do qual a alma, desde este mundo, tem

a intuição. Com efeito, sabeis todos o quanto é penoso o aspecto de uma encantadora fisionomia desmentida pelo caráter. Se ouvis falar de uma pessoa de mérito reconhecido, a revestis em seguida com os traços mais simpáticos, e ficais dolorosamente impressionado em vista de uma fisionomia que contradiga as vossas previsões.

Que concluir disso? senão que, como todas as coisas que o futuro mantém em reserva, a alma tem a presciência da beleza à medida que a Humanidade progride e se aproxima de seu tipo divino. Nunca tireis argumentos contrários a esta afirmação da decadência aparente em que se encontra a raça mais avançada deste globo. Sim, é verdade, a espécie parece degenerar, abastardar-se; as enfermidades se abatem sobre vós antes da velhice; a própria infância sofre de doenças que não pertencem habitualmente senão a uma outra idade da vida; mas é uma transição. Vossa época é má; ela acaba e cria; acaba um período doloroso e cria uma época de regeneração física, de adiantamento moral, de progresso intelectual. A raça nova, da qual já falei, terá mais faculdades, mais cordas ao serviço do espírito; será maior, mais forte, mais bela. Desde o começo, pôr-se-á em harmonia com as riquezas da criação que a vossa raça, indiferente e fatigada, desdenha ou ignora; tereis feito grandes coisas por ela, e disso se aproveitará e caminhará no caminho das descobertas e dos aperfeiçoamen-tos, com um ardor febril do qual não conheceis a força.

Mais avançados também em bondade, os vossos descen-dentes farão o que não soubestes fazer desta Terra infeliz, um mundo feliz, onde o pobre não será nem repelido, nem des-prezado, mas socorrido por instituições generosas e liberais. A aurora desses pensamentos já chega; seu clarão nos chega por momentos. Amigos, eis o dia, enfim, em que a luz brilhará sobre a Terra obscura e miserável, onde a raça será boa e bela segundo o grau de adiantamento que houver conquistado, onde o sinal colocado no rosto do homem não será mais o da reprovação, mas um sinal de alegria e de esperança. Então, a multidão dos Espíritos avançados virá formar entre os colo-nos desta Terra; estarão em maioria e tudo será concedido diante deles. A renovação se fará e a face do globo será muda-da, porque essa raça será grande e poderosa, e o momento em que ela vier marcará o começo dos tempos felizes.

Pamphile. (Paris, 4 de fevereiro de 1869.)

A beleza, do ponto de vista puramente humano, é uma questão muito discutível e muito discutida. Para bem julgá-la, é necessário estudá-la com curioso interesse, aquele que está sob o encantamento não poderia ter voz no capítulo. O gosto de cada um entra também em linha de conta nas apre-ciações que são feitas.

Não há de belo, de realmente belo, senão o que o é para todos: e essa beleza é eterna, infinita, é a manifestação divina sob os seus aspectos incessantemente variados, é Deus em suas obras, em suas leis! Eis a única beleza absoluta. – Ela é a harmonia das harmonias, e tem direito ao título de absoluta, porque não se pode conceber nada de mais belo.

Quanto ao que se convencionou chamar belo, e que é ver-dadeiramente digno desse título, não é necessário considerá-lo senão como uma coisa essencialmente relativa, porque se pode sempre conceber alguma coisa de mais bela, de mais perfeita. Não há senão uma única beleza, senão uma única perfeição, que é Deus. Fora dele, tudo o que decoramos com esses atribu-tos, não são senão pálidos reflexos da beleza única, um aspecto harmonioso das mil e uma harmonias da criação.

Há tanto de harmonias quanto de objetos criados, conseqüentemente, tantas belezas típicas determinando o ponto culminante de perfeição que pode alcançar uma das subdivisões do elemento animado. – A pedra é bela e diver-samente bela. Cada espécie mineral tem as suas harmonias, e o elemento que reúne todas as harmonias da espécie possui a maior soma de beleza à qual a espécie pode atingir.

A flor tem as suas harmonias; ela também pode possuí-las todas ou isoladamente, e ser diferentemente bela, mas não será bela senão quando as harmonias que concorrem para a sua criação estiverem harmonicamente fundidas. Dois tipos de beleza podem produzir, pela sua fusão, um ser híbrido, informe, repugnante de aspecto. Há então cacofonia! Todas as vibrações eram harmônicas isoladamente, mas a diferença de sua tonalidade produziu um desacordo no encontro das ondas vibrantes; daí o monstro!

Descendo na escala criada, cada tipo animal dá lugar às mesmas observações, e a ferocidade, a astúcia, a inveja mesmo, poderão dar nascimento a belezas especiais, se o princípio que determina a forma está sem cruzamento. A har-monia, mesmo no mal, produz o belo. Há o belo satânico e o belo angélico; a beleza enérgica e a beleza resignada. – Cada sentimento, cada reunião de sentimentos, desde que a reunião seja harmônica, produz um tipo de beleza particular, da qual todos os aspectos humanos são, não degenerescências, mas esboços. Também é verdadeiro dizer, não que se é mais belo, mas que mais se aproxima da beleza real à medida que se eleva para a perfeição.

Todos os tipos se unem harmonicamente no perfeito. Eis porque há o belo absoluto. – Nós que progredimos, não possuímos senão uma beleza relativa, fraca e combatida pelos elementos desarmônicos de nossa natureza.