o objectivo deste documento é que o usem como revisão de ...º... · duas moléculas de piruvato...

31
O objectivo deste documento é que o usem como revisão de conteúdos e através dele percebam quais os pontos mais importantes da matéria. Recomendo os casos clínicos do Devlin porque vos ajudam a consolidar conhecimentos mas não são necessariamente para decorar. Bom estudo! Boa sorte! Joana Franco 2010/2011

Upload: trinhliem

Post on 20-Sep-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O objectivo deste documento é que o usem como revisão de conteúdos e através dele

percebam quais os pontos mais importantes da matéria. Recomendo os casos clínicos do

Devlin porque vos ajudam a consolidar conhecimentos mas não são necessariamente para

decorar.

Bom estudo! Boa sorte!

Joana Franco

2010/2011

1 – Metabolismo Glicídico

A – Glicólise

Introdução

A glicólise é a sequência de reacções que metabolizam uma molécula de glicose em

duas moléculas de piruvato com produção concomitante de duas moléculas de ATP.

O piruvato pode depois ser fermentado a lactado (fermentação láctica) ou etanol

(fermentação alcoólica)

A glicose é o único combustível utilizado pelo cérebro em situações normais e o único

utilizado pelos glóbulos vermelhos de todo.

Em situações aeróbias, o piruvato é metabolizado a dióxido de carbono e água através

do ciclo de Krebs e a cadeia transportadora de electrões.

Na ausência de oxigénio, o piruvato é convertido em lactato.

o No músculo, a fermentação láctica é utilizada quando a necessidade de

energia suplanta a capacidade de transporte de oxigénio (por exemplo,

durante o exercício físico intenso). O músculo funciona em anaerobiose até ao

ponto em que a acumulação de lactato faz descer o pH até ao ponto em que a

própria via de produção de lactato é inibida.

Fig.1

A glicólise acontece no citosol e compreende 3 fases.

Fase 1

A Fase 1 consiste na conversão da glicose em frutose 1,6-bifosfato através de duas

fosforilações e uma isomerização.

O objectivo é encurralar a glicose na forma de um composto que pode ser facilmente

clivado em unidades de três carbonos.

o Primeira fosforilação:

Catalisada pela hexocinase.

Há gasto de uma molécula de ATP.

Impede a difusão da glicose para fora da célula e estabiliza-a.

Não compromete a glicose para a via da glicólise pois existem outras

vias que podem utilizar glicose 6-fosfato.

o Isomerização:

Formação de frutose 6-fosfato

o Segunda fosforilação:

Catalisada pela fosfofrutocinase (PFK).

Há gasto de uma molécula de ATP.

A reacção é irreversível.

A PFK é uma enzima alostérica que marca o ritmo da glicólise.

Formação de frutose 1,6-bifosfato.

Fase 2

Clivagem da frutose 1,6-bifosfato em gliceraldeído 3-fosfato (GAP) e dihidroxiacetona

fosfato (DHAP).

o O gliceraldeído 3-fosfato dá continuidade à via.

o Reacção reversível mas que devido à utilização do gliceraldeído 3-fosfato no

resto da via, o equilíbrio é deslocado no sentido da sua produção.

o Figurativamente é como se duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato fossem

formadas pois o GAP e a DHAP são isómeros

Fase 3

A fase 3 da glicólise compreende uma série de reacções de oxidação, fosforilação e

desfosforilação que levam à redução do NAD+ em NADH e à formação de duas

moléculas de ATP por molécula de GAP (total de 4 ATPs).

Deve dar-se especial atenção à seguinte reacção:

o Estes são os últimos passos da formação do piruvato que levam à libertação de

uma molécula de ATP.

o A reacção catalisada pela piruvato cinase é praticamente irreversível.

Corresponde à transferência de um grupo fosforil a partir do

fosfoenolpiruvato (PEP) para uma molécula de ADP.

Equação geral da Glicólise

1 molécula de glicose

2 moléculas de ATP

2 moléculas de ADP

2 moléculas de NAD+

2 fosfatos inorgânicos

2 moléculas de piruvato

4 moléculas de ATP

2 moléculas de NADH e 2

Hidrogeniões

2 moléculas de água

Destinos do Piruvato/NADH

O NAD+ tem que ser regenerado para que a glicólise possa prosseguir.

o Através da metabolização do piruvato.

Fermentação láctica

Fermentação alcoólica

Oxidação completa (ciclo de Krebs e cadeia transportadora de

electrões)

Regulação da Glicólise

Nas vias metabólicas, em geral, todas as reacções essencialmente irreversíveis são

potenciais locais de controlo.

Na glicólise os locais de controlo correspondem às reacções catalisadas pela:

o Hexocinase

o Fosfofrutocinase

o Piruvato Cinase

A actividade destas enzimas é controlada pela ligação reversível de efectores

alostéricos ou por modificação covalente.

A quantidade destas enzimas varia segundo a regulação da sua transcrição

(hormonas).

o Fosfofrutocinase (PFK)

É o elemento de controlo mais importante.

A reacção que catalisa corresponde ao passo que compromete a

glicose para a via da glicólise pois esta reacção é exclusiva desta via.

No fígado, o ATP inibe-a alostericamente (diminui a sua afinidade para

a frutose 6-fosfato.

O AMP reverte o efeito inibitório do ATP.

O citrato (intermediário do ciclo de Krebs) também inibe a PFK

aumentando o efeito inibitório do ATP.

Um nível elevado de citrato significa que os precursores

biossintéticos são abundantes e que a glicose não deve ser

degradada na glicólise.

A glicólise é estimulada quando a quantidade de energia diminui.

o Hexocinase

É inibida pelo seu produto, glicose 6-fosfato (sinaliza que a célula já

não precisa de mais glicose para energia ou como precursor

biossintético).

A inibição da fosfofrutocinase leva à inibição da hexocinase por

acumulação de substratos a montante.

No fígado:

Existe uma isoforma da hexocinase, a glicocinase (ou

hexocinase IV).

A hexocinase IV só fosforila a glicose quando esta é abundante

pois tem 50 vezes menos afinidade para a glicose que a

hexocinase.

O papel da hexocinase IV no fígado é fornecer glicose para

produção de glicogénio (molécula de armazenamento de

glicose) e de ácidos gordos

A pouca afinidade da hexocinase IV para a glicose faz com que

esta esteja disponível principalmente para o cérebro e

músculos em períodos de escassez de glicose e que ela possa

ser armazenada em períodos de abundância.

o Piruvato cinase

Catalisa o terceiro passo irreversível da glicólise.

Controla a velocidade de saída de piruvato.

A frutose 1,6-bifosfato (produto do passo irreversível anterior) activa a

piruvato cinase.

O ATP inibe-a alostericamente de forma a abrandar a glicólise.

A alanina (um aminoácido que pode ser sintetizado em um passo para

formar piruvato – ver metabolismo proteico) pode inibir

alostericamente a piruvato cinase para sinalizar que os precursores

biossintéticos são abundantes.

Inibida por fosforilação reversível

Cascata de sinalização desencadeada pela glucagina e mediada

pelo AMPc leva à fosforilação da piruvato cinase diminuindo a

sua actividade.

B - Gliconeogénese

É a síntese de glicose a partir de precursores não-glicídicos.

Converte piruvato em glicose.

Os precursores principais são:

o Lactato

o Aminoácidos (proveniente da proteólise)

o Glicerol (proveniente da hidrólise de triacilglicerois)

Acontece principalmente no fígado e alguma quantidade no rim.

Ajuda a manter os níveis de glicose no sangue a um nível que permita que o cérebro e

os músculos consigam ter glicose suficiente para as suas necessidades metabólicas.

A gliconeogénese não é o reverso da glicólise devido à existência de passos muito

exergónicos (passos irreversíveis catalisados pela hexocinase, fosfofrutocinase e

piruvato cinase) que são contornados por outras enzimas.

Regulação da Gliconeogénese/Glicólise

A glicólise e a gliconeogénese são controladas de forma coordenada para que dentro

da célula uma via esteja relativamente inactiva enquanto a outra está muito activa.

O ritmo da glicólise é determinado pela concentração de glicose enquanto o da

gliconeogénese é determinado pela concentração de lactato e outros precursores da

glicose.

Locais de controlo:

o Interconversão de frutose 6-fosfato em frutose 1,6-bifosfato (último passo da

Fase 1 da glicólise)

Fosfofrutocinase na glicólise

Frutose 1,6-bifosfatase na gliconeogénese.

Inibida pelo AMP

Activada pelo ATP e citrato

Um nível elevado de AMP indica que existe pouca carga energética e

sinaliza a necessidade de formação de ATP e consequentemente de

activação da glicólise e inibição da gliconeogénese.

Um nível elevado de ATP ou citrato indica que existe uma carga

energética alta e que os precursores biossintéticos estão elevados e

portanto a glicólise deve ser inibida e a gliconeogénese deve ser

activada.

o Interconversão do fosfoenolpiruvato em piruvato (último passo da glicólise,

primeiro da gliconeogénese a partir do piruvato)

Piruvato cinase na glicólise

Piruvato carboxilase na gliconeogénese

Activada pelo acetil-CoA

Inibida pelo ADP

A gliconeogénese é assim favorecida quando os precursores

metabólicos estão abundantes.

Regulação hormonal:

o Através da alteração do ritmo da expressão genética (transcrição ou

degradação do mRNA) das enzimas intervenientes nas vias.

o Insulina:

A concentração aumenta no período pós-prandial.

Estimula a expressão da fosfofrutocinase e piruvato cinase.

o Glucagina:

A concentração aumenta em períodos de jejum.

Inibe a expressão da fosfofrutocinase e piruvato cinase.

Estimula a produção de enzimas gliconeogénicas, a fosfoenolpiruvato

carboxilase e a frutose 1,6-bifosfatase

C – Ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico)

Generalidades

O processamento aeróbio da glicose começa com a oxidação completa dos seus

derivados a dióxido de carbono – ciclo de Krebs.

É a via final comum à oxidação de todas as moléculas combustíveis (aminoácidos,

ácidos gordos e glícidos) sendo que a maior parte delas entra no ciclo sob a forma de

acetil-CoA.

Acontece na mitocôndria.

A função do ciclo de Krebs é conseguir electrões de alta energia a partir de compostos

de carbono e usá-los na formação de NADH e FADH2. O NADH e FADH2 são depois

utilizados na cadeia transportadora de electrões para a formação de ATP.

Formação de Acetil-CoA a partir do piruvato

Na matriz mitocondrial.

Descarboxilação oxidativa.

o Catalisada pelo complexo piruvato desidrogenase.

o Reacção irreversível.

o É a ligação entre a glicólise e o ciclo de Krebs.

A coenzima A é um transportador de muitos grupos acil para o ciclo.

Ciclo de Krebs propriamente dito

O oxaloacetato reage com o

acetil-CoA e água para formar

citrato e CoA.

Isometrização do

citrato a isocitrato

Oxidação e descarboxilação do isocitrato

em α-cetoglutarato

(isocitrato desidrogenase)

Descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato

em succinil-CoA

(α-cetoglutarato desidrogenase)

Hidrolisação da CoA do Succinil-CoA para

formar succinato

Oxidações e hidratação do succinato para

regenerar o oxaloacetato

NAD+

NADH + H+

CO2

NAD+

CoA

NADH + H+

CO2

GDP

Pi

GTP

CoA

ATP

NAD+

H2O

FAD

NADH + H+

FADH2

Regulação

Complexo piruvato desidrogenase

o A formação de acetil-CoA a partir de piruvato compromete os átomos de

carbono provenientes da glicose para o ciclo de Krebs ou para a formação de

ácidos gordos.

o Altas concentrações dos produtos do complexo inibem a reacção:

Acetil-CoA

NADH

o A fosforilação do complexo inactiva-o. Uma fosfatase (retira o fosfato) reactiva

o complexo.

o Piruvato e ADP activam o complexo inactivando a fosfatase.

O piruvato e o ADP são moléculas sinalizadoras de que a carga

energética da célula está baixa.

Isocitrato desidrogenase

o Estimulada por:

ADP

o Inibida por:

ATP

NADH

α-cetoglutarato desidrogenase

o Inibida por:

Succinil-CoA

NADH

ATP

O ritmo do ciclo de Krebs é diminuído quando a célula tem uma alta concentração de

ATP.

A isocitrato desidrogenase e a α-cetoglutarato desidrogenase são os locais primários

de controlo do ciclo de Krebs.

D – Cadeia transportadora de electrões e fosforilação oxidativa

Introdução

Cadeia transportadora de electrões é um sistema de transportadores de electrões

localizados na membrana interna da mitocôndria

A cadeia transportadora de electrões é responsável pela oxidação de NADH e FADH2

em presença de O2 (aceitador final de electrões) com aproveitamento da energia livre

para a formação de ATP (fosforilação oxidativa).

A oxidação completa de 1 mol NADH resulta na produção de aproximadamente 2,5

moles de ATP.

A oxidação completa de 1 mol FADH2 resulta na produção de aproximadamente 1,5

moles de ATP.

A cadeia transportadora de electrões não é mais do que um sistema de reacções de

oxidação-redução ligadas.

Complexos da cadeia transportadora de electrões

A energia libertada durante a remoção dos electrões do NADH e FADH2 e durante a

sua transferência entre os complexos da cadeia transportadora (reacções exergónicas)

é usada para bombear protões através da membrana interna da mitocôndria da matriz

para o espaço intermembranar.

A cadeia é constituída por 4 complexos enzimáticos que catalisam reacções parciais.

o Complexo I:

NADH-ubiquinona óxido-redutase

Catalisa a transferência de electrões do NADH para a ubiquinona (UQ).

Bombeia 4 protões por cada 2 electrões transferidos para a

ubiquinona.

o Complexo II:

Succinato-ubiquinona óxido-redutase (succinato desidrogenase)

Catalisa a transferência de electrões do succinato para a ubiquinona

(UQ)

o Complexo III:

Ubiquinol-citocromo c redutase

Catalisa a transferência de electrões do ubiquinol (forma reduzida da

ubiquinona após os passos anteriores) para o citocromo c.

Espaço intermembranar

Matriz

Bombeia 4 protões por cada 2 electrões transferidos do ubiquinol para

ao citocromo c.

O citocromo c vai funcionar como um transportador de electrões.

o Complexo IV:

Citocromo c oxidase

Catalisa a transferência de electrões do citocromo c para o O2

formando água havendo acoplamento do bombeamento de protões

(4 electrões/4 protões).

Inibido por cianeto (CN-) que impede a transferência de electrões

ligando-se ao complexo.

Fosforilação oxidativa

A ATP sintetase (“complexo V”) usa a energia do gradiente electroquímico (diferença

de concentração de protões nos dois lados da membrana interna da mitocôndria)

produzido pelos protões resultantes da transferência de electrões para a produção de

energia sob a forma de ATP.

A ATP sintetase dirige a síntese de ATP pelo movimento de protões a favor do

gradiente electroquímico.

Espaço intermembranar

Matriz

O movimento de protões através da ATP sintetase provoca uma alteração

conformacional com alteração do local de ligação do ATP, libertando-o e permitindo a

ligação de um ADP e um Pi à subunidade catalítica.

A velocidade de síntese de ATP pela ATP sintetase é determinada pela velocidade de

utilização de ATP pela célula que por sua vez regula a velocidade de funcionamento da

cadeia transportadora de electrões.

Quando as necessidades energéticas da célula são baixas, o ATP acumula-se e o

gradiente de protões deixa de ser usado para a síntese de ATP.

o A magnitude do gradiente de protões aumenta até que a energia necessária

para bombear protões através da membrana, a partir da matriz, contra o

gradiente eléctrico existente, fique igual à energia libertada durante a

transferência dos electrões de NADH para O2. Neste ponto é atingido o

equilíbrio e o transporte de electrões pára.

O ADP e o NAD+ estimulam a ATP sintetase.

À medida que o ATP é sintetizado, a magnitude do gradiente de protões diminui uma

vez que os protões se movem através da ATP sintetase.

Shuttle malato-aspartato

No coração e no fígado, os electrões do NADH citosólico são levados para a

mitocôndria através deste shuttle.

1- Os electrões são transferidos do NADH para o oxaloacetato formando malato

(redução do oxaloacetato).

2- O malato atravessa a membrana mitocondrial e é reoxidado pelo NAD+ para

formar NADH e oxaloacetato (malato desidrogenase).

3- Para poder voltar ao citosol, o oxaloacetato tem que ser transaminado (ver

metabolismo proteico) a aspartato.

4- O aspartado volta ao citosol onde é desaminado (ver metabolismo proteico) para

regenerar o oxaloacetato.

E- Via das fosfopentoses

Introdução

Funciona paralelamente à glicólise e ao ciclo de Krebs.

Produz poder redutor na forma de NADPH e pentoses/hexoses intermediárias.

O NADPH serve como dador de hidrogénio e electrões para a biossíntese.

A via é altamente influenciada pelas necessidades de NADPH.

Ocorre no citosol.

Tem duas fases: oxidativa e não oxidativa

Fase oxidativa

É uma forma de cortar a cadeia de carbonos de uma molécula glicídica removendo um

carbono de cada vez.

o Oxidação e descarboxilação da glicose 6-fosfato para formar ribose 5-fosfato e

NADPH.

o Reacção, em parte, catalisada pela glicose 6-fosfato desidrogenase (G6P).

A via pode parar neste ponto:

o NADPH pode ser usado para reacções biossintéticas redutoras.

o Ribose 5-fosfato pode ser usada como precursor para a síntese de nucleótidos.

Fase não-oxidativa

Quando o NADPH é mais necessário para a célula do que a ribose 5-fosfato, esta é

rearranjada para formar intermediários da glicólise e consequentemente ser

reaproveitada ajuste das necessidades da célula.

Para que as interconversões aconteçam, forma-se primeiramente xilulose 5-fosfato a

partir da isomerização da ribose 5-fosfato. Estas duas moléculas são então utilizadas

nas interconversões.

Esta fase corresponde a 3 reacções de transcetolisação e transaldolisação que levam à

formação de alguns intermediários da glicólise:

o Frutose 6-fosfato glicose 6-fosfato

o Gliceraldeído 3-fosfato

Vias de destino do NADPH:

o Biossíntese de ácidos gordos

o Biossíntese de colestrol

o Biossíntese de nucleótidos

o Biossíntese de neurotransmissores

o Redução do glutatião (molécula

causadora de stress oxidativo) a

glutationa

o Monooxigenases do citocromo

P450 (enzima hepática)

F – Metabolismo do glicogénio

Introdução

O glicogénio é uma forma de armazenamento de glicose facilmente mobilizável.

Os resíduos de glicose estão unidos por ligações α-1,4 glicosídicas e a cada 10 resíduos

é criada uma ramificação através de ligações α-1,6 glicosídicas.

Responsável por manter estável a quantidade de glicose no sangue entre as refeições.

O glicogénio encontra-se no fígado e no músculo (concentração maior no fígado).

o Fígado regula a glicemia em relação às necessidades de todo o organismo.

o Músculo utiliza o glicogénio para consumo energético próprio.

Glicogenólise

Consiste na degradação do glicogénio a glicose.

A glicogénio fosforilase é a enzima chave da glicogenólise.

o Cliva as ligações entre os resíduos glicosil (glicose 1-fosfato) que compõem o

glicogénio entre C-1 de um resíduo glicosil e C-4 do seguinte (tendo em conta

que os resíduos estão unidos por ligações α-1,4) através da adição de um

fosfato inorgânico (Pi).

o A glicose 1-fosfato não se difunde para fora da célula.

o A glicose 1-fosfato é facilmente convertida em glicose 6-fosfato

(fosfoglucomutase).

A razão pela qual a glicogénio fosforilase utiliza o fosfato inorgânico para clivar os

resíduos de glicose em vez de os hidrolisar é que desta forma já não há necessidade de

gastar ATP para fosforilar a glicose (o Pi fica na molécula – glicose 1-fosfato).

A glicogénio fosforilase só consegue efectuar este processo até encontrar um

obstáculo – a ramificação.

o As ligações α-1,6 não são clivadas pela glicogénio fosforilase.

o Termina a clivagem a uma distância de 4 resíduos da ramificação.

As ligações α-1,6 exigem a acção de outras duas enzimas:

o Transferase – transfere um bloco de 3 resíduos de uma ramificação (que está a

ser degradada) para outra mais exterior. Resta apenas um único resíduo nesta

ramificação que está unido à molécula de glicogénio por uma ligação α-1,6.

o α-1,6-glucosidase ou enzima desramificadora do glicogénio – hidrolisa a

ligação α-1,6 libertando glicose.

Esta molécula de glicose é fosforilada pela hexocinase formando

glicose 6-fosfato.

No fígado:

o O fígado contem a enzima hidrolítica glicose 6-fosfatase que cliva o grupo fosforil

da glicose 6-fosfato para formar glicose livre e o fosfato inorgânico.

Esta enzima é a mesma que conclui a gliconeogénese.

Não existe na maioria dos outros tecidos o que faz com que a glicose 6-

fosfato fique retida para a produção de ATP

A actividade da glicogénio fosforilase utiliza o fosfato piridoxal (PLP), um derivado da

vitamina B6.

Glicogénese

Consiste na síntese do glicogénio a partir de glicose.

Utiliza uridina difosfato glicose (UDP-glicose) em vez da glicose 1-fosfato.

o A UDP-glicose é uma forma activa de glicose tal como o acetil-CoA é uma

forma activa de acetato.

o A UDP-glicose é sintetizada a partir da glicose 1-fosfato e uridina trifosfato

(UTP) numa reacção catalisada pela UDP-glicose pirofosforilase.

o Esta reacção seria reversível se o pirofosfato (PPi) não fosse rapidamente

hidrolisado em 2 Pi a hidrolisação é altamente exergónica tornando a

reacção total praticamente irreversível e direccionando-a no sentido da

formação da UDP-glicose.

Uma unidade UDP-glicose é adicionada ao C-4 terminal do glicogénio para formar a

ligações α-1,4. A UDP é retirado da molécula de glicogénio em crescimento.

o A reacção é catalisada pela glicogénio sintetase (enzima chave da regulação da

síntese de glicogénio).

A glicogénio sintetase só adiciona resíduos de glicose quando a cadeia

já tem mais que 4 resíduos.

O inicio da síntese de glicogénio precisa de um primer – glicogenina

(um oligossacárido de unidades de α-1,4-glicose)

o A glicogenina sofre um processo de “autoglicolização” em que

catalisa a adição de 8 moléculas de glicose doadas pela UDP-

glicose.

Uma enzima ramificadora é necessária para criar as ligações α-1,6 que fazem do

glicogénio um polímero ramificado.

o Uma ramificação é criada quebrando uma ligação α-1,4 de forma a transferir

um bloco de 7 resíduos para uma cadeia mais interior. Estes 7 resíduos têm

que provir de uma cadeia de mais de 11 resíduos de forma a deixar pelo

menos 4 que podem assim sofrer a acção da glicogénio sintetase.

o A ramificação do glicogénio é importante porque:

Aumenta a solubilidade do glicogénio

Deixa a descoberto um maior número de resíduos terminais (os

resíduos tornam-se mais acessíveis)

Visão geral do metabolismo do glicogénio

Regulação da glicogenólise/glicogénese

Alostérica – por metabolitos da célula que sinalizam o estado energético da célula.

Glicogénio fosforilase

o Inibida pelo ATP e glicose 6-fosfato (ou glicose, no fígado).

o Fosforilação leva ao estado activo.

Glicogénio sintetase

o É regulada por modificação covalente (fosforilação) que leva ao estado

inactivo.

Hormonal – leva à fosforilação das enzimas

o A glucagina e epinefrina levam à degradação do glicogénio.

O exercício físico leva à libertação de epinefrina.

O fígado responde mais à glucagina mas a estimulação conjunta de

glucagina e epinefrina leva à resposta máxima.

o Insulina inactiva a degradação e estimula a síntese de glicogénio

(desfosforilação da glicogénio sintetase e fosforilase).

Epinefrina:

Verde – enzima activa Rosa – enzima inactiva

Nota: a fosforilase cinase também pode ser parcialmente activada pelo cálcio iónico e o efeito

é conjunto com o da epinefrina importante no músculo

Síntese Degradação

2 – Metabolismo lipídico

Introdução

Papel metabólico dos ácidos gordos:

o São precursores biossintéticos dos fosfolípidos e glicolípidos.

o Modificação de proteínas.

o São moléculas combustíveis.

o Os seus derivados podem ser hormonas ou mensageiros intracelulares.

A degradação e síntese de ácidos gordos são processos praticamente contrários um ao

outro.

A maior parte dos lípidos ingeridos são triacilglicerois.

A – Lípidos na dieta

O local de maior acumulação de lípidos (triacilglicerois) é o citoplasma das células do

tecido adiposo. Estas células são especializadas para a síntese e armazenamento de

triacilglicerois.

Os triacilglicerois provenientes da dieta são degradados a ácidos gordos e um

monoacilglicerol para que sejam absorvidos pelo epitélio intestinal e posteriormente

passarem para o sistema linfático e depois para a corrente sanguínea.

o No lúmen intestinal, são incorporados em micelos formados com o ácido dos

sais biliares e que propiciam a digestão dos triacilglicerois pelas enzimas

pancreáticas.

o Nas células do epitélio intestinal, os triacilglicerois são ressintetisados e

transferidos para os quilomicra - uma lipoproteína transportadora de

triacilglicerois.

A parte proteica das lipoproteínas é chamada apolipoproteína.

Os quilomicra ligam-se a lipoproteínas lipases primeiramente no

tecido adiposo e no músculo – no músculo podem ser oxidados para

formação de energia.

B – Utilização de ácidos gordos como combustível

Introdução

3 fases:

o Triacilglicerois são degradados a ácidos gordos e glicerol que são libertados do

tecido adiposo para a corrente sanguínea e transportados para os tecidos com

necessidade energética.

o Nos tecidos, os ácidos gordos são activados e transportados para a

mitocôndria para serem degradados.

o Os ácidos gordos são degradados em acetil-CoA que pode ser utilizado no ciclo

de Krebs.

Fase 1

Lipólise:

o Corresponde à hidrólise dos triacilglicerois por lipases formando ácidos gordos

e glicerol.

o As lipases são activadas pela epinefrina e glucagina e inibidas pela insulina.

Os ácidos gordos não são solúveis no plasma e por isso ligam-se à albumina (proteína

transportadora presente no plasma) para serem transportados para os tecidos.

O glicerol é absorvido pelo fígado, fosforilado e oxidado para formar dihidroxiacetona

fosfato que é isomerada a gliceraldeído 3-fosfato (intermediário da glicólise e

gliconeogénese). Pode ser convertido a glicose ou piruvato.

Fase 2

A oxidação dos ácidos gordos acontece na mitocôndria.

Antes de entrarem na matriz mitocondrial, os ácidos gordos são activados através da

ligação à Co-enzima A formando acil-CoA isto acontece na membrana externa da

mitocôndria e a reacção é catalisada pela acil-CoA sintetase.

Há gasto de uma molécula de ATP. No entanto a reacção é bastante

favorável pois o equivalente a duas moléculas de ATP é hidrolisado com

Ácido gordo Acil-CoA

libertação de um pirofosfato (PPi) que é rapidamente hidrolisado tornando

a reacção irreversível.

É necessário um mecanismo de transporte para fazer com que os acil-CoA de cadeia

longa entrem na membrana mitocondrial interna.

o O acil-CoA é conjugado com a carnitina para formar acil-carnitina e

a CoA é libertada.

Reacção catalisada pela carnitina aciltransferase I (ou

carnitina palmitoil transferase I).

o A acil-carnitina passa então para a membrana interna da

mitocôndria.

o O grupo acil é novamente transferido para a CoA.

Reacção catalisada pela carnitina aciltransferase II (ou

carnitina palmitoil transferase II).

A carnitina volta para lado citosólico.

Fase 3 – β-oxidação

O acil-CoA é degradado pela via da β-oxidação.

o Consiste em reacções sequenciais de oxidação pelo FAD, hidratação, oxidação

pelo NAD+ e tiólise pela CoA.

o Forma-se FADH2, NADH e acetil-CoA.

o Resulta um acil-CoA com menos 2 carbonos que o inicial. Este volta a sofrer as

mesmas reacções até todo o grupo acil ter sito transformado em blocos de

acetil-CoA.

O palmitoil-CoA é um acil-CoA de 16 carbonos que é muito vulgar necessita de 7

ciclos de reacções para ser completamente degradado.

No caso dos ácidos gordos de cadeia impar:

o São oxidados da mesma forma mas no final resultam uma molécula de acetil-

CoA (em vez de duas) e uma molécula de propionil-CoA (composto de 3

carbonos).

o O propionil-CoA entra no ciclo de Krebs depois de ter sido convertido a

succinil-CoA (reacção dependente da vitamina B12 ou cobalamina).

C – Síntese de corpos cetónicos

O acetil-CoA produzido na β-oxidação só entra no ciclo de Krebs se a degradação de

ácidos gordos e glícidos estiver equilibrada porque a sua entrada depende da

disponibilidade de oxaloacetato (normalmente formado a partir do piruvato).

Podemos encarar os corpos cetónicos como uma forma transportável de unidades de

acetil-CoA.

Corpos cetónicos:

o Compostos formados a partir do acetil-CoA no fígado, passam para a corrente

sanguínea e são transportados para os tecidos periféricos.

Acetoacetato

3-hidroxibutirato

Acetona

o O músculo cardíaco e o córtex renal usam acetoacetato preferencialmente à

glicose.

o O cérebro pode adaptar-se à sua utilização em períodos de jejum prolongado

ou diabetes.

o Acetoacetato e 3-hidroxibutirato:

Condensação de duas moléculas de acetil-CoA para formar

acetoacetil-CoA.

Acetoacetil-CoA condensa-se com mais uma molécula de acetil-CoA

com formação de HMG-CoA e CoA.

O HMG-CoA é então clivado para formar acetoacetato e 3-

hidroxibutirato

o Acetona:

Proveniente da descarboxilação espontânea do acetoacetato.

Provoca o “hálito cetónico”.

HMG-CoA

Quando a quantidade de acetoacetato em circulação está elevada, a lipólise é inibida

no tecido adiposo.

D – Síntese de ácidos gordos

Introdução

Acontece no citosol.

O ácido gordo é aumentado a partir da adição sucessiva de unidades de carbonos –

acetil-CoA e malonil-ACP.

O poder redutor para a síntese é dado pelo NADPH.

Nos organismos mais complexos, a síntese de ácidos gordos é levada a cabo por um

sistema enzimático chamado ácidos gordos sintetase.

Formação do malonil-CoA

Carboxilação do acetil-CoA a malonil-CoA

o Reacção irreversível.

o Catalisada pela acetil-CoA carboxilase (tem como grupo prostético a biotina).

É a enzima reguladora do metabolismo dos ácidos gordos.

o É necessária a hidrólise de uma molécula de ATP.

o O CO2 activado (HCO3-) é transferido para o acetil-CoA.

Ciclo de enlongação na síntese de ácidos gordos

Os intermediários estão ligados a uma proteína transportadora de grupos acil – ACP.

o Podemos pensar na ACP como uma CoA gigante.

o Forma-se acetil-ACP e malonil-ACP.

A enlongação de ácidos gordos é catalisada pela ácidos gordos sintetase e consiste na

adição sucessiva de unidades acetil-ACP e malonil-ACP com reduções e

descarboxilações concomitantes.

O ciclo de enlongação termina no composto C16 – o palmitato.

Posterior enlogação é conseguida através de outros sistemas enzimáticos acessórios.

Equações gerais da síntese de ácidos gordos

Síntese do malonil-CoA:

Síntese do palmitato:

Total:

Transporte de acetil-CoA e fontes de NADPH para a síntese de

ácidos gordos

A síntese do palmitato requer 8 moléculas de acetil-CoA.

o O acetil-CoA é formado a partir do piruvato na mitocôndria por isso tem que

ser transportado para o citosol para ser utilizado na síntese de ácidos gordos.

Esta barreira é ultrapassada através de um bypass pelo citrato que transporta grupos

acil através da membrana interna da mitocôndria.

o O citrato é formado na matriz mitocondrial através da condensação do

oxacloacetato com o acetil-CoA.

o O citrato pode atravessar a membrana interna da mitocôndria e no citosol é

clivado pela ATP-citrato liase para voltar a formar acetil-CoA e oxaloacetato.

o Há gasto de uma molécula de ATP.

O oxaloacetato formado no citosol tem que voltar à mitocôndria e a membrana

interna é impermeável necessidade de um sistema de bypass de transporte:

o Primeiro, o oxaloacetato é reduzido a malato pelo NADH .

Reacção catalisada pela malato desidrogenase.

o Segundo, o malato sofre uma descarboxilação oxidadativa pelo NAD+.

Reacção catalisada pela enzima málica.

Há formação de NADPH

o Por último, o piruvato formado volta espontaneamente para a mitocôndria

onde é carboxilado a oxaloacetato.

O sistema de transporte gera NADPH (que pode ser utilizado na síntese de ácidos

gordos) por cada molécula de acetil-CoA transferida para o citosol.

Regulação do metabolismo dos ácidos gordos

A acetil-CoA carboxilase (catalisa a síntese de malonil-CoA a partir de acetil-CoA –

passo inicial da síntese de ácidos gordos) é a enzima mais importante na regulação do

metabolismo dos ácidos gordos.

o É controlada por 3 sinais globais:

Glucagina

Epinefrina

Insulina

o A insulina estimula a síntese de ácidos gordos enquanto a glucagina e

epinefrina têm o efeito inverso.

o Pode também ser controlada pelos níveis de metabolitos:

Citrato – sinaliza que os precursores biossintéticos estão abundantes e

por isso activa a acetil-CoA carboxilase para dar inicio à síntese de

ácidos gordos.

Palmitoil-CoA e AMP – levam à inibição da acetil-CoA carboxilase.

o Fosforilação – inactiva a acetil-CoA carboxilase.