o novo estádio municipal de braga

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1 A Engenharia do Estádio Municipal de Braga

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  • 1

    A Engenharia do Estdio Municipal de Braga

  • 2

  • 3

    Estdio Municipal, Braga

    Escrever sobre o Projecto de Engenharia do Estdio no falar da gravidade, da anulao dos momentos, da traco e da compresso. Escrever no falar da empatia entre duas disciplinas, a Arquitectura e a Engenharia, que foram sempre uma s, mas de um projecto de vida e no sobre a vida de um projecto. Durante 3 anos Engenheiros e Arquitectos propuseram-se alterar o lugar de uma pedreira, para que aquele stio, que era para ns o mundo todo, pudesse ficar melhor. Eduardo Souto de Moura, Arquitecto

  • 4

    Histria

    O local era um monte com uma pedreira no seu topo e o Cliente pretendia um

    estdio com 30.000 lugares. Eduardo Souto de Moura imaginou um estdio com

    apenas duas bancadas como num teatro grego, uma seria escavada na pedra;

    a outra surgiria do cho, isolada. Uma opo mais convencional, com 4

    bancadas, tinha entretanto sido desenvolvida. Aceitando o risco e o seu maior

    custo, o Cliente optou pela soluo mais arrojada.

    Havia pouca informao geotcnica disponvel mas a rocha visvel na pedreira

    deu-nos confiana para iniciar o estudo. A questo era saber se encontraramos

    rocha boa em toda a profundidade, necessria para garantir as inclinaes quase

    verticais dos taludes que a soluo de projecto exigia. Quanto tempo levaria a

    escavar o monte numa profundidade de cerca de 50 m e qual seria o custo desta

    obra? Estvamos no incio de 2000 e o Estdio deveria estar concludo at finais

    de 2003.

    Informao preliminar recolhida em diversas fontes e um estudo geotcnico

    preliminar aliviou as nossas preocupaes fundamentais: existia rocha em

    profundidade mas teramos que ir adaptando o projecto ao nvel de fracturao e

    aos lisos que fossemos encontrando. Veios e bolsas de saibro poderiam

    aparecer, como sempre com o granito. O prazo da obra no seria um problema

    se a empreitada pudesse comear depressa e o custo da escavao poderia ser

    reduzido significativamente, vendendo o material escavado.

    A empreitada de escavao veio a iniciar-se em Agosto de 2000. Nesta altura,

    era j conhecida a orientao desfavorvel da famlia principal de diclases do

    talude Sul, o que obrigou desde logo ao lanamento de uma empreitada

    especfica de conteno daquele talude. Os mtodos de escavao e o tamanho

    dos blocos que produziriam eram as principais condicionantes das inclinaes

    que viramos a obter. Idealmente, os taludes deveriam ser verticais. Partindo do

    layout geral e considerando margens para fazer face a problemas que pudessem

    ocorrer durante a escavao, a geometria do grande buraco foi definida e a

    metodologia e sequncias de operao foram especificadas. A obra foi sendo

    desenvolvida com um acompanhamento permanente e o projecto ajustado em

    funo do que se ia encontrando. A situao mais dramtica da obra acabou

    sendo o aparecimento de um veio de saibro, ligeiramente oblquo em relao

    face do talude Sul, que no tinha sido possvel detectar no Estudo Geotcnico.

    Afectando fortemente a inclinao do talude e obrigando a um complicado

    sistema de conteno, a soluo foi mover a implantao do estdio em cerca de

    20 m para Norte de modo a assegurar que o talude possuiria uma espessura de

    rocha suficiente na sua face exterior.

  • 5

    A cobertura constituiu o segundo grande desafio para a equipa. Ela deveria reforar a ideia da integrao do Estdio no

    ambiente envolvente. Deveria ser to leve e simples quanto possvel: arcos, trelias, postes, cabos e membranas no

    encaixavam no conceito.

    Uma cobertura suspensa como a do Pavilho de Portugal na Expo 98 acabou por surgir como a soluo natural.

    Dispnhamos da rocha para ancorar os cabos e a reaco da cobertura na bancada nascente ajudaria a estabiliz-la. A

    dvida era o comportamento dinmico de uma cobertura com um vo de 220 m e o facto de que teria de ser construda a

    50 m de altura (a pala do pavilho de Portugal tinha sido construda com escoramento total a partir do solo).

    Clculos preliminares intensivos e o estudo de estruturas semelhantes, em especial de uma ponte de tubos construda na

    Argentina, revelaram a viabilidade da soluo. Por outro lado, jogando com a geometria e o peso da laje de cobertura

    seria possvel aspirar ao equilbrio dos momentos na fundao, para combinaes permanentes de aces. Infelizmente,

    no decurso do projecto, a incluso do programa (bares, instalaes sanitrias, etc) e os necessrios ngulos de viso

    levaram alterao da inclinao dos montantes da bancada Nascente, afastando-nos daquele objectivo original.

    Uma estrutura de lminas paralelas garantiria a rigidez necessria da Bancada Nascente e permitiria a integrao de

    todos os bares, escadas e equipamentos necessrios.

    Numa atitude conservadora, estvamos ainda agarrados ideia de uma cobertura contnua. Esta soluo, no entanto,

    no permitia iluminao natural para o relvado. A diviso da cobertura em duas teve ento de ser encarada e testada.

    Foram efectuados estudos usando uma abordagem esttica do vento, sendo a distribuio dos coeficientes de presso

    estabelecida usando a bibliografia. O peso e a espessura da laje de cobertura foram inicialmente definidos de modo a

    anular as foras ascendentes do vento.

    A primeira anlise dinmica foi feita na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, atravs de um modelo

    tridimensional de elementos finitos com o qual foi possvel estabelecer os modos de vibrao e as suas frequncias. A

    resposta estrutural da cobertura aco do vento em estado limite ltimo foi igualmente calculada.

    Estes resultados mostraram que a soluo com duas lajes independentes era possvel mas que a interaco dinmica

    entre a cobertura e o vento deveria ser aprofundada em estudos posteriores.

    O clculo dos esforos principais nos montantes e a adequabilidade do solo de fundao revelou igualmente a

    razoabilidade da soluo.

  • 6

    O processo de construo foi estudado e uma soluo

    de lajes pr-fabricadas deslizando sobre os cabos,

    solidarizadas entre si no final, demonstrou ser

    exequvel (tinha sido esta a soluo adoptada no

    aeroporto Dulles, em Washington, h cerca de 30

    anos).

    A estimativa de custos mostrou que a soluo se

    poderia encaixar no oramento.

    Outros aspectos foram ainda estudados e confirmados

    para validar a soluo: em dias ventosos seria um

    estdio com duas bancadas confortvel para os

    espectadores? As sombras dos cabos na zona central

    da cobertura afectariam as transmisses televisivas?

    A ventilao e exposio ao Sol do relvado seriam

    adequadas?

    O Conceito foi ento validado e o Projecto de

    execuo iniciou-se.

    Prmios

    Prmio Secil Arquitectura 2004

    Prmio Secil Angenharia 2005

  • 7

    Arquitectura e Engenharia

    O programa era novo para toda a equipa. Sem ideias

    pr-concebidas, comemos do zero. Juntamente com o

    Arquitecto visitmos diversos Estdios construdos

    recentemente na Europa, analisando e questionando as

    suas opes.

    Para este projecto, Souto de Moura pretendia que as

    necessidades tcnicas da construo determinassem o

    desenvolvimento do Projecto. Para alm, naturalmente,

    do que resulta da definio dos espaos, o resultado

    esttico da obra adviria de um intenso, exigente e

    estimulante dilogo entre a arquitectura e a engenharia,

    em que o processo de busca de solues s terminava

    quando o resultado agradava a ambas. Critrios claros e

    rigorosos eram acordados para disciplinar as

    necessidades tcnicas da construo. As solues

    tcnicas deveriam segui-los: alinhamentos, traados,

    espessuras, arestas tudo era sujeito a critrios cuja

    validade era dada pela inexistncia de solues ad-

    hoc.

    Rigor, leveza e simplicidade formal eram os objectivos a

    perseguir.

    O resultado devia ser simples na forma e na sua lgica

    construtiva. Mas a simplicidade formal s alcanada

    atravs de um demorado e contnuo processo de

    aproximaes sucessivas que termina, no raras vezes,

    em solues bem diferentes das ideias que deram

    origem ao debate.

    Toda a equipa estava permanentemente disponvel para

    questionar opes anteriores, deixando mesmo que por

    vezes o tempo ajuizasse sobre a adequao das

    solues adoptadas, simultaneamente de um ponto de

    vista estrutural e arquitectnico. No Estdio de Braga,

    solues foradas acabaram sempre por, com o

    tempo, ser alteradas.

    Arquitectos e Engenheiros trabalharam em conjunto

    com vista a atingir um fim comum, que no era visto

    como exclusivo de uns ou de outros.

    A ideia inicial de encaixar o Estdio na pedreira, com

    apenas duas bancadas, iniciou um processo de Projecto

    em que as solues encontradas foram resultando da

    confirmao e consolidao de ideias cuja viabilidade

    era, partida, desconhecida. A escolha inicial do

    caminho a seguir assentou mais frequentemente na

    sensibilidade e no instinto do que em resultados

    conhecidos. Seguiu-se-lhe o indispensvel processo de

    investigao e confirmao, em que o critrio de

    aceitao das solues assentava numa rigorosa

    anlise de custo/benefcio (funcional, tcnico,

    econmico e esttico). Estvamos conscientes dos

    riscos inerentes ao desafio sistemtico dos limites

    convencionais, controlando-o atravs de uma intensa

    metodologia de investigao. Anlise de risco,

    redundncias, estudo do mesmo problema por equipas

    independentes, cruzando resultados, permitiram-nos ir

    gradualmente reduzindo as margens de segurana

    adicionais com que inevitavelmente partamos.

    Este processo, que aproveita todos os recursos e

    espao que lhe forem alocados, tinha que ser

    convergente. O seu fruto era afinal a construo de uma

    obra havia prazos e custos para cumprir. O

    pragmatismo e flexibilidade para isso necessrios

    tiveram que estar presentes e foi preciso aceitar os

    limites que no conseguimos ultrapassar.

    A variedade e complexidade dos problemas tcnicos

    que este projecto colocou constituram um grande

    desafio para toda a equipa mas, simultaneamente, uma

    oportunidade de aprender que no desperdimos.

    Uma palavra sobre o papel do Cliente - sem a sua

    confiana e entusiasmo, em especial do Sr. Presidente

    da Cmara de Braga, o sucesso do Projecto no teria

    sido possvel.

    gratificante chegar ao fim da obra e constatar que

    falar da estrutura do Estdio tambm falar da sua

    Arquitectura e que explicar a sua Arquitectura contar a

    histria dos problemas que a Engenharia foi tendo que

    enfrentar.

  • 8

    Dado o seu carcter inovador, estiveram envolvidas no seu projecto diversas entidades nacionais e internacionais,

    tendo sido realizados 3 estudos do seu comportamento ao vento (rgidos e aeroelsticos).

    A drenagem das guas pluviais da cobertura feita ( semelhana da do Pavilho de Portugal na EXPO 98), s

    para um lado, sendo recolhida por dois aquedutos em ao inox, saindo em consola do talude. O caimento da

    cobertura conseguido por variao do comprimento dos diversos pares de cabos ao longo da cobertura.

    O remate das duas lajes de beto da cobertura feito com uma trelia de seco transversal triangular, inicialmente

    concebida como viga de rigidez e que acabou sendo o suporte dos projectores de iluminao e das colunas de som.

    A cobertura apoia-se em duas grandes vigas que fazem o coroamento das duas bancadas nascente e poente,

    onde feita a ancoragem dos cabos.

    Descrio Geral

    O Estdio Municipal de Braga est localizado em Dume, no recinto do Complexo Desportivo de Braga, que integrar

    igualmente um pavilho desportivo e uma piscina olmpica.

    O seu elemento mais visvel , sem dvida, a cobertura. composta por cabos full locked coil aos

    pares, afastados entre si de 3,75m, sobre os quais apoiam duas lajes de beto que cobrem as duas

    bancadas do Estdio. Trata-se de uma estrutura indita no s pelo seu vo (202m) como tambm pelo

    facto de os cabos serem livres na zona central.

  • 9

    A bancada nascente estruturalmente constituda por

    montantes (consolas) com 50m de altura que, ao serem

    furadas, do apoio s lajes dos diversos pisos de foyers

    do Estdio. A sua estabilizao longitudinal assegurada

    pelas lajes existentes sob os degraus das bancadas. Da

    bancada nascente salienta-se a esbelteza dos montantes

    que tm apenas 1,00m de espessura.

    Depois da cobertura, a bancada poente talvez o elemento

    estruturalmente mais complexo, pela diversidade de

    problemas encontrados: montantes ancorados em rocha e

    em saibro, funcionamento de conjunto da estrutura com o

    solo, compatibilizao do funcionamento estrutural de

    estruturas com rigidezes muito diferentes, fundaes sobre

    banquetas instveis. De entre as diversas solues

    encontradas, difcil destacar uma como digna de especial

    referncia.

    O chamado relvado afinal o edifcio que se esconde

    debaixo dele. Possui dois pisos e ocupa toda a rea do

    relvado. Alberga um parque de estacionamento, os

    balnerios e todos os servios de apoio ao EURO 2004.

    No coloca particulares dificuldades estruturais, para alm

    do controle das consequncias da retraco e das

    variaes trmicas, que levou utilizao de aparelhos de

    apoio no apoio da laje do relvado, especialmente bem

    integrados pela Arquitectura.

    A escavao e conteno de taludes necessria para a

    construo do Estdio por si s uma grande obra. Deu

    origem escavao de 1.700.000 m3 de saibro e rocha e

    obrigou conteno de grandes taludes de rocha em que,

    infelizmente, as diaclases tinham uma orientao

    desfavorvel. A conteno do talude foi feita com uma

    malha de ancoragens e pregagens que asseguram a sua

    estabilidade.

    O comportamento dos taludes avaliado por um conjunto

    de inclinmetros e clulas de carga, ligados ao sistema de

    monitorizao do Estdio.

    Um complexo desta dimenso obrigou naturalmente

    realizao de um conjunto importante de infra-estruturas de

    que se destacam o desvio de um colector de saneamento

    de Braga que atravessava o terreno, a canalizao de uma

    linha de gua e a galeria tcnica

  • 10

    A Cobertura

    A cobertura do Estdio constitua naturalmente o maior desafio pela sua dimenso e inovao. No h no mundo nenhuma

    cobertura semelhante.

    O conceito que se pretendia materializar era o de um conjunto de cabos em catenria espaados entre si de 1.875

    m e suspensos das vigas de coroamento dos montantes, dando apoio a duas lajes independentes de beto que

    cobrem cada uma das bancadas.

    A geometria escolhida para a cobertura resultava do compromisso entre o objectivo do Arquitecto (arco invertido

    muito abatido) e o valor dos esforos produzidos na estrutura pela componente horizontal das foras dos cabos.

    A seleco do tipo de cabos constituiu, tambm, uma importante deciso dado ser determinante para a definio das

    caractersticas formais e tecnolgicas da cobertura. Duas opes se colocavam: cabos do tipo full locked coil e cabos

    embainhados. Estudadas as diferentes caractersticas das duas solues em termos de durabilidade, dispositivos de

    ancoragem e dimensionamento, optou-se pela soluo full locked coil, que conduz a seces inferiores.

    Em fase de concurso, dada a grande importncia da tecnologia especfica de cada fabricante de cabos, definiu-se que a

    execuo da cobertura seria uma empreitada de Concepo/Construo, em que era dada liberdade aos concorrentes para

    propor alteraes ao projecto original, desenvolvido pela afassociados. A proposta vencedora do concurso do ASSOC-

    Obras Pblicas, ACE / Soares da Costa propunha uma soluo com cabos full locked coil (da Tensoteci) que diferia da

    soluo original em trs aspectos: os cabos eram agrupados em pares afastados entre si de 3.75m, a espessura das lajes

    de cobertura era uniforme e as lajes seriam desligadas das vigas de coroamento.

    A responsabilidade do projecto da cobertura passou deste modo a ser partilhada pela equipa de projecto da afassociados e

    pelo Adjudicatrio ASSOC-Obras Pblicas, ACE / Soares da Costa / Tensoteci.

    As coberturas suspensas colocam desafios especiais aos engenheiros estruturais. Estes desafios so causados

    fundamentalmente pela aco do vento e pelo processo construtivo.

    Pela sua dimenso e condies fronteira, uma cobertura deste tipo no pode ser calculada com recurso a valores

    regulamentares, recomendaes normativas ou experincias anteriores.

  • 11

    O estudo do comportamento desta cobertura requer que se repensem

    todos os procedimentos usuais de projecto a partir dos seus fundamentos,

    desde o estabelecimento dos valores das aces a considerar at

    previso da resposta da estrutura passando pela possvel interaco entre

    ambos. Tornou-se, assim, necessrio recorrer a modelos fsicos (ensaios

    em modelo reduzido) que completassem os usuais modelos matemticos

    (algoritmos processados por clculos automticos em computador) que, no

    caso presente, por muito sofisticados que fossem no eram suficientes

    para, por si s, estimar o valor das solicitaes, nomeadamente da aco

    do vento, e representar o consequente comportamento da estrutura.

    Daqui resultou a necessidade de realizar uma quantidade aprecivel de

    clculos e de ensaios independentes quer sobre a soluo inicial quer

    sobre a soluo final da cobertura que sero descritos adiante.

    O processo de construo tambm apresentou grandes desafios. Como

    construir as palas muitos metros acima duma base slida, numa rea

    enorme e de uma maneira eficiente? E qual o efeito do processo

    construtivo na geometria final dos cabos e consequentemente das palas?

    Esta soluo de cobertura requer, naturalmente, uma estrutura que

    resista a grandes esforos horizontais, gerados pelos cabos, a uma

    grande altura acima das fundaes. Como tal, exige-se um

    dimensionamento cuidado dos montantes das bancadas nascente e

    poente. Nesta ltima existe ainda uma excelente rocha grantica cota

    dos cabos da cobertura, para onde se transmitem as foras desses

    mesmos cabos.

  • 12

    A anlise e o efeito do vento

    Na vizinhana do local do Estdio, em Merelim, tinha sido instalada uma

    estao meteorolgica moderna e automtica, embora data do projecto,

    registasse apenas trinta meses de existncia. Este anemmetro fornece

    valores das velocidades mdia e mxima e suas direces a cada dez

    minutos. Esses dados so depois tratados segundo procedimentos

    estatsticos estabelecidos14 que permitem produzir curvas com as

    velocidades a considerar no local do Estdio, para as diversas direces do

    vento.

    Para obter a descrio do vento de projecto no local da obra para

    perodos de retorno de 100 anos foram usados os dados do anemmetro

    da Estao Meteorolgica de Merelim tratados estatisticamente e

    convenientemente corrigidos para ter em conta os escassos trinta meses

    de registos.

    Na anlise dos valores extremos dos dados do anemmetro de Merelim

    recorreu-se ao mtodo de Leiblein para velocidades de rajada

    independentes. Admitiu-se uma distribuio de extremos de Fisher Tippet

    tipo 1 com base no quadrado das velocidades do vento.

    Para a determinao dos efeitos da topografia envolvente na velocidade

    mdia e na intensidade de turbulncia do escoamento do ar na vizinhana

    do Estdio foram realizados ensaios em tnel de vento sobre modelo rgido

    escala 1:1500. Estes ensaios foram realizados na Rowan Williams Davies

    & Irwin Inc. (RWDI, Canad).

    A obteno do historial de presses dinmicas, em vrios pontos da

    cobertura, provocadas pela aco do vento de projecto para cada uma das

    direces consideradas foi efectuada a partir de ensaios em tnel de vento

    sobre modelo rgido escala 1:400. A cobertura do modelo estava

    instrumentada com sensores de presso em 200 posies distribudos pela

    sua face superior e inferior. O registo das medies era feito de forma

    automtica, tendo sido obtidas as respectivas sries temporais para ventos

    em 36 direces distintas. Estes ensaios foram realizados na Rowan

    Williams Davies & Irwin Inc. (RWDI, Canad).

  • 13

    O clculo da resposta da estrutura aco dinmica do vento descrita pelo historial de presses anteriormente obtido foi

    realizado de duas formas distintas.

    A primeira, foi uma anlise dinmica determinista no domnio do tempo, por integrao directa passo a passo das equaes

    de equilbrio dinmico da estrutura baseadas numa anlise elstica e linear de um modelo de elementos finitos de casca

    com matriz de rigidez geomtrica que se assumiu como constante. A matriz de rigidez geomtrica foi obtida a partir dos

    esforos axiais dos cabos devidos s cargas permanentes. Com esta anlise obteve-se a resposta dinmica da estrutura

    aco dinmica do vento. O deslocamento mximo calculado foi de 47 centmetros.

    A segunda, foi uma anlise dinmica probabilista pelo Mtodo da Decomposio Ortogonal. Este mtodo baseia-se no

    princpio de que um campo de presses multivariado e no estacionrio pode ser eficazmente simplificado projectando-o

    num espao gerado pelos vectores prprios da matriz de covarincia do campo original. Esta tcnica apresenta duas

    grandes vantagens. Em primeiro lugar, os novos campos (modos de presso) so mutuamente no correlacionados. Em

    segundo lugar, o contedo energtico do campo multivariado completo normalmente bem representado por um nmero

    reduzido de componentes no espao transformado, permitindo a representao do campo efectivo de presses por meio de

    poucos modos de presso. Com esta formulao obtm-se a estimativa da componente quasi-estacionria e da componente

    ressonante da resposta da estrutura em termos de tenses e deformaes. Estes valores foram usados no dimensionamento

    de diversos elementos estruturais da cobertura.

    Velocidades mximas do vento - Anemmetro em Merelim e em Obra (Julho 2003)

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

    dia

    velo

    cid

    ade d

    o v

    ento

    (m

    /s)

    Obra (velocidade mxima)

    Merelim (velocidade mxima)

    A modelao matemtica com base nos resultados dos ensaios em tnel de vento daqueles primeiros modelos fsicos no

    permite garantir a no ocorrncia de um comportamento aeroelstico da cobertura. Alis, este tipo de comportamento das

    estruturas requer estudos especializados de grande complexidade. O problema mais delicado consiste na possibilidade do

    fluxo do vento em volta da estrutura provocar um comportamento ressonante dessa estrutura. Estas excitaes podem ser

    foradas desprendimento de vrtices ou interactivas divergncia, galope ou flutter (esvoaar). Todos estes tipos de

    comportamento tm definies tecnicamente especficas15.

    Embora tenha sido considerado que um tal comportamento seria muito improvvel, considerou-se conveniente desenvolver

    modelos fsicos aeroelsticos a serem testados em tnel de vento

    A estabilidade aerodinmica da soluo inicial ficou demonstrada por ensaios sobre um modelo aeroelstico escala 1:200

    realizado no Danish Maritime Institute (DMI, Dinamarca).

    A no ocorrncia de fenmenos de instabilidade aeroelstica da soluo final foi provada por ensaios sobre um modelo

    igualmente aeroelstico escala 1:70 realizado no Politcnico de Milano.

    Ambos os ensaios demonstraram a estabilidade aeroelstica da cobertura, tendo o deslocamento mximo medido sido

    quase igual ao deslocamento calculado.

    Todavia, na zona central, onde existem apenas os cabos, possvel que estes possam exibir algum daqueles

    comportamentos dinmicos. Assim, decidiu-se que os pares de cabos sero ligados entre si e que a eles sero adicionados

    pequenos amortecedores.

    Com o intuito de confirmar a validade da estimativa dos valores do vento de projecto com base nos registos do

    anemmetro de Merelim e de dissipar eventuais dvidas acerca da intensidade de turbulncia do escoamento do ar no local

    do Estdio instalou-se um anemmetro no local da obra cujos registos tm vindo a ser comparados com os da estao

    meteorolgica de Merelim.

    Apresenta-se a ttulo exemplificativo o grfico correspondente s velocidades mximas referidas a perodos de 10 minutos do passado ms de Julho. Salienta-se a coerncia entre os valores medidos nos dois locais.

  • 14

    Para estudar a sensibilidade dos esforos de flexo da laje de cobertura a

    variaes das foras nos cabos realizou-se uma anlise probabilista.

    Considera-se a cobertura composta por uma laje em beto armado

    apoiada em n cabos e consideram-se os momentos flectores em m

    pontos da laje. Para uma determinada combinao de aces, os n cabos

    tm instaladas foras dadas pelo vector . Vrios factores podem produzir

    uma variao aleatria dessas foras (desvios na aplicao do pr-

    esforo, distribuies no uniformes da temperatura, fluncia diferencial).

    Considera-se que estes efeitos so representados pelo vector de

    variveis aleatrias com valor mdio e desvio padro . O problema

    consiste, ento, em estimar a probabilidade, Pf, dos momentos flectores

    aleatrios M resultantes serem maiores do que os momentos resistentes

    Mu nos m pontos da laje. Na resoluo deste problema faz-se uso de uma

    simulao estocstica com base no mtodo de Montecarlo conjugada

    com o Mtodo Orientado de Simulao para a gerao das variveis

    aleatrias .

    O escoamento das guas pluviais

    O escoamento das guas pluviais da cobertura feito no sentido do talude nascente, com um caimento de um por cento,

    que conseguido atravs da variao de comprimento dos pares de cabos que a suportam. Duas grandes grgulas em

    ao inox duplex, suspensas das lajes de beto encaminham a gua para os aquedutos, tambm eles em ao inox,

    encarregados de a levar at rede de guas pluviais e linha de gua existente no recinto do Estdio. Estes aquedutos

    com cerca de 40 m de comprimento, dos quais 27 em consola, apoiam-se nas banquetas do talude em pilares de

    comprimento varivel, uma vez que as banquetas apresentam uma inclinao significativa. A estabilidade lateral destes

    aquedutos garantida por um par de escoras ancorado rocha do talude.

    As dimenses destes dois dispositivos foram estabelecidas atravs do estudo do escoamento da gua, tendo em conta a

    altura da queda, limitada inferiormente pelo deslocamento previsvel da cobertura sob a aco do vento.

  • 15

    O processo de construo

    O processo de construo desta cobertura tem trs problemas fundamentais: a pormenorizao das palas, o sistema

    de montagem e o efeito do processo de montagem nas formas dos cabos suspensos.

    A espessura da laje de beto armado de 200 milmetros, tendo este valor resultado do compromisso entre a

    necessidade de massa estabilizadora e a minimizao do seu peso. Claro, por razes prticas e econmicas, o

    escoramento e a cofragem tinham de ser evitados. Portanto, a considerao de elementos pr-fabricados era

    inevitvel. Os elementos escolhidos foram painis com as dimenses tipo de 1,8 metros por 3,75 metros. Por baixo,

    tm uma chapa de ao que d o acabamento e que se estende para fora dos limites do beto pr-fabricado para

    fornecer a cofragem para a execuo in situ das juntas entre os painis. Os painis tm ainda peas metlicas que

    permitem a sua interligao, com parafusos, durante o processo de montagem

    Os elementos pr-fabricados so montados sobre os cabos, no topo das bancadas. Cada novo elemento ligado ao

    elemento prvio com parafusos, e os elementos deslizaro ao longo dos cabos por gravidade. Quando todos os

    elementos estiverem colocados, as juntas transversais e longitudinais entre os painis so betonadas.

  • 16

    Controlo de geometria e monitorizao

    O carregamento correspondente instalao dos cabos e dos painis pr-fabricados da cobertura constituiu um verdadeiro

    ensaio de carga dos elementos estruturais do Estdio, por esta razo a resposta de todo o sistema estrutural, em termos

    de tenses e deformaes, foi acompanhada com cuidado especial de modo a poder identificar e analisar antecipadamente

    possveis desvios em relao ao comportamento terico previsto.

    O acompanhamento fase a fase da resposta da estrutura

    durante a montagem da cobertura bem como a sua

    interpretao mecnica foram uma garantia de que no

    haveria surpresas na geometria final pretendida para o sistema

    de cabos que do forma a esta cobertura nica.

    A forma final da cobertura seria sempre funo do peso da

    cobertura, da fora instalada nos cabos e da rigidez dos

    elementos de suporte (viga de coroamento e montantes das

    bancadas). A importncia relativa de qualquer um destes

    factores foi avaliada e o acompanhamento da resposta da

    estrutura incluiu obrigatoriamente as parcelas referentes a

    cada um deles.

    Para este efeito tornou-se necessrio efectuar um controlo

    apertado de todas as cargas aplicadas aos cabos da cobertura.

    Em conjunto com o registo das cargas aplicadas, as operaes

    de controlo geomtrico com recurso aos levantamentos

    topogrficos e a recolha e tratamento da informao fornecida

    pelo sistema de monitorizao (instrumentao interna da

    estrutura e instrumentao dos macios rochosos e fundaes)

    foram imprescindveis para a anlise do comportamento da

    estrutura durante a montagem da cobertura do Estdio.

    O acompanhamento do comportamento dos elementos estruturais do Estdio durante a montagem da cobertura foi

    realizado recorrendo informao recolhida pelo sistema de instrumentao instalado, nomeadamente:

    Clulas de carga nos cabos da cobertura | Instrumentao interna da estrutura de beto (extensmetros clinmetros e

    termmetros nos montantes da Bancada Nascente) | Instrumentao dos macios rochosos e fundaes | Clulas de carga

    nas ancoragens ao terreno | Inclinmetros in place.

  • 17

    A organizao e a interpretao dos dados recolhidos durante

    todo o processo permitiram que, no espao de tempo que

    decorreu at final da montagem dos elementos da cobertura, os

    modelos matemticos usados em fase de projecto fossem

    continuamente aferidos e, eventualmente, corrigidos para serem

    coerentes com os valores medidos em obra. Assim se definiram

    os critrios para o estabelecimento da correco a efectuar

    geometria terica de referncia da cobertura para ter em conta o

    comportamento real da obra e as condies climatricas da data

    em que foi realizado o ajuste final de geometria previsto desde

    incio.

    Salienta-se que a existncia de desvios na geometria da

    cobertura e/ou nas foras instaladas nos cabos em relao aos

    valores previstos, obrigaria a uma anlise cuidada da sua

    repercusso na forma final da cobertura e nas foras finais dos

    cabos (tendo presente os limites regulamentares usados em

    fase de projecto).

    Em fase de servio, a monitorizao estrutural do novo Estdio

    Municipal de Braga ser realizada atravs de um sistema de

    controlo electrnico de diversos parmetros estruturais, tanto

    estticos como dinmicos. O referido sistema ser gerido

    informaticamente, permitindo o registo de dados discretos ou o

    registo quase em contnuo, de acordo com a natureza da

    grandeza a medir e a localizao do instrumento.

    Alm dos sensores de instrumentao esttica j mencionados

    (quer na estrutura de beto, quer nos macios rochosos)

    salienta-se a monitorizao de carcter dinmico constituda por

    3 acelermetros triaxiais colocados nos pontos de maior

    amplitude de vibrao da cobertura e por clulas medidoras da

    presso do vento em vrios pontos da face inferior e superior

    das palas da cobertura.

  • 18

    A Bancada Nascente

    Percorendo a alameda de acesso ao estdio, atinge-se a Bancada Nascente cota +98.00. A

    bancada apoia-se em dezasseis lminas verticais (montantes) de espessura constante e igual

    a 1,0 metro, que arrancam cota +87,80 e atingem a cota +142.85. O acesso s bancadas

    faz-se por rampas alternadamente descendentes e ascendentes. As rampas descendentes

    permitem cruzar um amplo espao existente imediatamente abaixo da cota do relvado, dando

    acesso Bancada Poente. As rampas ascendentes permitem ter acesso aos lugaras das

    bancadas superior e inferior, e a todas as reas de apoio existentes nesta bancada como as

    zonas de circulao, as instalaes sanitrias, os camarotes e os bares.

    A circulao vertical realiza-se por escadas localizadas entre montantes que, apartir da cota

    +110, tm os patamares intermdios em consola (para fora dos montantes). Existem ainda

    dois elevadores panormicos que permitem o transporte de cargas e pessoas entre as cotas

    +98 e a cota +112. As infraestruturas hidrulicas e elctricas circulam no interior dos

    montantes e das lajes, desde o nivel da fundao at ao nvel da cobertura.

  • 19

    Estruturalmente, a Bancada Nascente funciona sem qualquer junta de

    dilatao. Assim, o conjunto dos 16 montantes com as lajes dos pisos

    e das bancadas, estabilizam a estrutura desta bancada tanto s

    aces verticais como s horizontais.

    Desde o incio do projecto que se percebeu que uma cobertura

    suspensa entre as duas bancadas, teria como principal

    condicionante a estrutura do lado Nascente, em que a anoragem dos

    cabos feita a mais de 50 metos da cota de fundao. A estrutura

    desta Bancada deveria assim ajustar-se o mais possvel a esta

    realidade, tendo havido a preocupao de ajustar a geometria dos

    montantes de modo a que a resultante da combinao das aces

    gravticas da bancada com as elevadas foras transmitidas pela

    cobertura minimizasse os desiquilibrio de momentos ao nvel da

    fundao. Numa primeira fase, este objectivo foi parcialmente

    atingido. Com o evoluir do projecto e com a implementao das

    exigncias de funcionalidade do Estdio, o equilibrio ao nvel da

    fundao no foi totalmente conseguido, mantendo-se no final um

    razovel ajuste da soluo.

    Na anlise da estrutura da Bancada Nascente utilizaram-se diversos

    programas de clculo de estruturas bidimensionais e tridimensionais

    representativos de toda a estrutura da bancada. Ao nvel das aces,

    a ssmica condicionou o dimensionamento dos elementos verticais,

    devido ao elevado peso existente cota mais alta, isto , ao nvel da

    cobertura. Dado tratar-se de uma estrutura sem juntas de dilatao, a

    temperatura e a retraco revelaram-se igualmente aces de grande

    importncia no dimensionamento final. Foi devido a estas aces que,

    o piso cota +93,24 foi projectado completamente desligado dos

    montantes, criando-se um sistema de prticos independentes que, no

    entanto, se apoiam na fundao dos montantes.

    Os montantes so em beto armado (C35/45 + A500). As faces laterais

    so em beto vista, tendo a arquitectura desenhado toda a

    estereotomia das cofragens. Para a circulao horizontal existem trs

    grandes aberturas circulares, uma com 14 metros de dimetro e as

    outras duas com 8,5 metros, que so atravessadas por lajes com uma

    extenso de aproximadamente 125 metros.

    As lajes dos pisos apoiam-se nos montantes e em vigas metlicas

    sempre que o local de apoio so as aberturas circulares. Nesta zona as

    vigas metlicas funcionam em conjunto com as lajes como vigas mistas.

    As escadas so em beto armado e apoiam-se entre montantes,

    vencendo um vo livre de 6,5 metros. No topo dos montantes existe uma

    viga de grande rigidez segundo a direco dos cabos da cobertura (viga

    de coroamento), que garante a transio entre os cabos da cobertura e

    os montantes.

    Ao nvel das fundaes, apareciam os trs tipos de estratos definidos no reconhecimento geolgico-geotcnico (ZG1,

    ZG2 e ZG3). Esta heterogeneidade mereceu especial importncia tendo-se efectuado vrias anlises representativas

    do comportamento global da estrutura com interaco solo-estrutura. Atendendo sensibilidade da estrutura a

    assentamentos de apoio manifestada nos modelos numricos, optou-se por uma substituio dos terrenos de

    menor qualidade por beto ciclpico, garantindo assim que toda a estrutura est fundada sobre rocha.

  • 20

    A Bancada Poente

    A bancada Poente do estdio encontra-se encaixada num macio grantico cuja cota superior corresponde ao nvel da praa que lhe d acesso.

    nesta bancada que, durante o Euro 2004, ficaro instaladas todos

    os jornalistas e VIPs, contando ainda com reas reservadas

    restaurao. As reas ocupadas pelos pisos abaixo da cota do

    relvado (+98.00), destinam-se a zonas de circulao, balnerios,

    posto mdico, bombeiros, etc. A circulao vertical processa-se por

    escadas e por elevadores que, na sua maioria, so panormicos.

    A relao dos espaos de circulao situados sob as bancadas

    com o marcante talude rochoso, caracterizado por cortes

    irregulares e fortemente diaclasado, tinha que ser privilegiada no

    Projecto. Nesse sentido, a estrutura das zonas de circulao e

    comunicaes verticais deveria ser o mais leve possvel, deixando

    o protagonismo para a rocha e a sua ligao com os montantes de

    apoio da cobertura.

    Tirando partido do facto da praa superior (Poente) se encontrar

    mesma cota da cobertura, a estabilizao da estrutura s aces

    horizontais transmitidas pelos cabos da cobertura conseguida por

    ancoragens directas ao macio. Existem nesta zona de transio,

    entre a cobertura e o macio, dezoito montantes com uma

    espessura constante igual a 1,0 metro, que se ajustam s

    irregularidades do talude.

  • 21

    As lajes dos pisos so invertidas, isto , alinham a sua face inferior com

    a face inferior das vigas que lhe do apoio. Sobre estas lajes inferiores

    existem lajes mistas que se apoiam em blocos de beto e que vencem

    vos de aproximadamente 2,4 metros. Deste modo, entre a laje inferior e

    as lajes mistas, conseguem-se espaos com altura livre de

    aproximadamente 65 cm, utilizados para a passagem de condutas das

    Instalaes Hidrulicas, Elctricas e AVAC.

    Os degraus das bancadas so pr-fabricados e apoiam-se em vigas

    inclinadas em beto armado e pr-esforado, continuas ao longo de 16

    alinhamentos na direco dos eixos dos montantes. Imediatamente

    abaixo dos degraus das bancadas, colocam-se painis pr-fabricados.

    Dadas as caractersticas do macio de fundao, as fundaes da

    estrutura so do tipo directo (sapatas). O apoio de pilares e montantes

    em zonas do macio bastante fragmentado e na proximidade da crista

    de taludes, obrigou a que fossem executadas estabilizaes locais com

    recurso a ancoragens definitivas.

    A estrutura da bancada Poente, sendo porticada, poderia, tal como

    acontece com a maioria das estruturas deste gnero, ser considerada

    auto-suficiente para travamento segundo o plana horizontal. Dada a

    esbelteza dos pilares e o modo quase sempre excntrico com que as

    vigas se apoiam, limitou essa possibilidade. Houve assim que tirar

    partido das lajes cota 112 e 116, pisos 2 e 3 respectivamente, que

    funcionando como diafragmas horizontais rgidos, conferem um

    adequado travamento s aces horizontais apesar do reduzido nmero

    de ligaes destas aos montantes. A irregularidade existente ao nvel

    dos pisos e a configurao das bancadas (inclinadas), obrigou a que

    todo o clculo se efectuasse sobre modelos tridimensionais globais.

    Nestes modelos representaram-se vigas, lajes, pilares e paredes, de

    acordo com os espaos requeridos pela Arquitectura.

    Esta estrutura, dotada de um elevado grau de hiperestacidade, muito

    sensvel a asentamentos de apoio, o que obrigou a um grande cuidado

    no controlo de possveis assentamentos no s atravs do clculo da

    estrutura considerando a interaco solo/estrutura, mas tambm ao

    melhoramento e uniformizao do comportamento do solo de fundao.

    As reaces da cobertura e as componentes horizontais da reaco das

    bancadas determinaram o dimensionamento dos montantes. Sendo esta

    uma pea fundamental para a estabilidade global do estdio, e

    encontrando-se os montantes fundados em zonas de caractersticas

    geotcnicas diversas, houve que desenvolver modelos representativos

    da interaco solo/estrutura que permitiram confirmar o

    dimensionamento das ancoragens e confirmar o estado de compresso

    permanente entre os montantes e o talude em rocha. Desta forma foi

    possvel confirmar o equilbrio global dos montantes em relao s

    cargas a eles transmitidas e proceder ao seu dimensionamento interno,

    incluindo as fundaes.

  • 22

    O nvel superior das ancoragens transmite de um modo

    quase directo a maior percentagem de carga horizontal ao

    macio rochoso. O nvel inferior de ancoragens desempenha

    uma papel fundamental na correco da orientao da

    reaco do montante na sua fundao, cuja resultante fica

    assim orientada para o interior do macio, necessrio face ao

    estado de fracturao do macio sob a fundao.

    Em face da sensibilidade da estrutura a assentamentos e

    atendendo ao papel fundamental que as ancoragens

    desempenham no equilbrio global da estrutura do Estdio,

    houve que definir um faseamento construtivo que viabilizasse

    a entrada em funcionamento da estrutura conforme

    projectado. O facto de haver vrias peas pr-esforadas e de

    5 montantes se encontrarem fundados em saibro reforaram

    essa necessidade. Esta necessidade contrariava no entanto a

    questo de a fora das ancoragens no dever ser aplicada na

    totalidade antes de ser executada a cobertura, uma vez que

    lhe corresponderia uma compresso exagerada no macio.

    Foram ento simulados e calculados diversos cenrios para

    diversos faseamentos possveis, tendo-se concludo pela

    aplicao de apenas 20 % da fora das ancoragens antes da

    execuo da cobertura, deixando para depois o

    tensionamento final, o que obrigou verificao da

    capacidade resistente das diferentes peas tendo em vista os

    esforos resultantes da aplica co destas cargas numa

    estrutura hiperesttica j construda.

    A construo dos montantes 1 a 5, assentes em saibro (mais

    deformvel portanto) iniciou-se com a construo de uma viga

    de fundao ancorada ao macio tendo sido de imediato

    aplicada a totalidade da fora prevista, de modo a que a

    estrutura final fosse construda j depois dos assentamentos

    se verificarem. Nos montantes assentes sobre rocha ( 6 a 18

    ), de modo a minimizar os efeitos dos assentamentos que o

    elevado estado de fracturao do macio fazia prever, foram

    realizadas ancoragens provisrias que lhe conferiram um

    estado de pr-compresso, e que foram sendo desactivadas

    em simultneo com o tensionamento das ancoragens

    definitivas.

  • 23

    O Relvado

    A entrada das viaturas para o estdio faz-se atravs de um tnel pr-fabricado com o topo em

    abobada, inserido num dos taludes que delimitam a Poente o relvado. O acesso a partir do

    tnel d ligao directa ao piso -2 (+87,80). Nesta rea existe um amplo espao para

    estacionamento de viaturas ligeiras e autocarros. Junto rea da Bancada Poente localiza-se

    o programa definido pela UEFA para utilizao durante o EURO2004, onde se destaca um

    auditrio, salas de recepo, salas de trabalho, etc. Ainda neste piso, localizam-se as

    cisternas para rega de segurana contra incndios, assim como outras infraestruturas

    elctricas do estdio. O piso -1, cota +93,24, consiste num amplo espao de circulao entre

    as bancadas Nascente e Poente e ainda numa rea destinada aos balnerios de jogadores,

    treinadores e rbitros. Esta rea delimitada por uma parede em beto vista. O relvado

    localiza-se cota +98,0 e tem uma dimenso de aproximadamente 125x80 m2. Em todo o

    contorno do campo de jogos (relvado), existe um fosso fechado por um gradil metlico, que

    permite a entrada de luz para o piso -1 e, simultaneamente, a circulao nesta zona de

    pessoas e viaturas em caso de emergncia. A drenagem do relvado assegurada por um

    sistema de drenos instalados sobre o relvado e ainda por pendentes superficiais. As guas

    drenadas so conduzidas a uma caleira perifrica, ao longo do permetro do relvado.

    semelhana do que acontece nas Bancadas Nascente e Poente, as infraestruturas

    elctricas e hidrulicas existentes nas reas em que exista beto vista, tais como:

    iluminao, sistemas de deteco de incndio, CCTV, etc, encontram-se no interior destes

    elementos (lajes e pilares).

  • 24

    Estruturalmente, a zona ocupada pelo Relvado formada

    por pilares de seco circular com dimetro constante de

    0,70 metros, que apoiam as lajes fungiformes dos pisos -1 e

    0. Estes pilares tm um espaamento regular em planta com

    9,35 m numa das direces e 7,5 m na outra. A laje do piso -

    1 macia e tem uma espessura total constante de 0,35 m.

    A laje que d apoio ao campo de jogos tem uma espessura

    constante de 0,50 m e suporta, para alm das cargas

    prevista no relvado, toda o sistema que constitui o relvado e

    perfaz uma espessura mdia total de 1,10 metros, onde se

    incluem os sistemas de impermeabilizao e drenagem

    inferior. No topo dos pilares existem capiteis troncocnicos

    com um dimetro mnimo de 0,70 m e mximo de 3,90 m.

    Existem pilares fundados imediatamente abaixo do piso -1 e

    outros sob a laje trrea do piso -2. A diferente rigidez entre

    estes dois tipos de pilares, foi o motivo para a colocao de

    aparelhos de apoio em neoprene cintado no topo dos pilares

    mais rgidos (fundados abaixo do piso 1), evitando assim

    esforos exagerados resultantes da retraco do beto e de

    gradientes trmicos. A necessidade da colocao destes

    aparelhos de apoio condicionou a configurao final do

    remate entre o topo dos pilares e o capital troncocnico,

    criando-se um aspecto visual idntico entre os pilares com

    aparelho de apoio e os que no o tm (com continuidade).

    As fundaes so do tipo directas (sapatas).

  • 25

    Escavao geral e conteno

    Para se construir o estdio no interior de um Monte Castro, foi necessrio retirar aproximadamente 1,7

    milhes de m3 de material rochoso. Apesar do primeiro reconhecimento geolgico-geotcnico realizado

    no local, revelar um granito heterogneo, com boas caractersticas mecnicas em algumas zonas

    apresentando-se noutras bastante alterado, o decorrer da escavao, confirmou um cenrio pior: o talude

    maior (Nascente) tinha apresentava-se bastante diaclasado, com inclinaes na direco do prprio

    talude variando entre 45 e 50. Esta realidade inviabilizou a obteno de uma parede vertical como

    pretendido inicialmente, obrigando criao de banquetas e conteno de todo o talude. A escavao

    teve assim que decorrer de um modo muito mais lento j que a conteno prevista em projecto

    (ancoragens e pregagens) deveria de evoluir, de cima para baixo, ao ritmo da escavao. Apesar disso,

    houve zonas em que no foi possvel evitar deslizamentos de blocos, da resultando as superfcies

    visveis do talude de rocha os lisos. Como resultado destes deslizamentos e de uma falha entretanto

    detectada, com uma orientao NW-SE, houve que proceder a uma translao do Estdio para Poente

    em relao ao inicialmente previsto em cerca de 20 metros. Para a estabilizao dos taludes utilizaram-se

    ancoragens e pregagens definitivas, realizadas com vares em ao de alta resistncia com dimetros 36

    e 32 mm respectivamente. A fora instalada nas ancoragens de 600 kN e o ao do tipo 835/1030.

    O Talude Poente, com dimenses muito menores que o nascente, apresentava problemas de

    estabilizao muito menores que o Nascente j que a inclinao das famlias de diclases principais era

    favorvel. A estabilizao deste talude foi garantida tambm com a utilizao de pregagens e

    ancoragens.

    Os taludes foram instrumentados com 10 clulas de carga nas ancoragens e com quatro inclinmetros in

    place com um comprimento total de 20 metros/cada. As leituras destes sensores tm sido regularmente

    acompanhadas de modo a serem avaliadas eventuais fenmenos no espectveis no macio.

    Futuramente, tanto as clulas de carga como os inclinmetros in place sero integrados no sistema

    global de monitorizao da estrutura do estdio que far uma gesto automtica e permanente de todos

    os sensores instalados

  • 26

    Infra-estruturas

    O terreno onde se vai localizar o Complexo era

    atravessado por uma linha de gua que corria ao

    longo do vale e por um colector de saneamento da

    cidade de Braga. Ambos tiveram que ser

    desviados, provisoriamente primeiro, durante a

    construo e definitivamente no final. A linha de

    gua foi canalizada sob a actual Praa Nascente,

    descarregando num canal a cu aberto. O desnvel

    entre a praa nascente e a sua ligao a jusante,

    vencido atravs de diversas quedas de gua. O

    colector de saneamento segue agora dentro da

    galeria tcnica que liga o Estdio Rotunda, sob a

    avenida de acesso. Esta galeria, realizada com

    box-culverts pr-fabricados, transporta ainda os

    cabos de alimentao de electricidade, telefones e

    o ramal de abastecimento de gua.

    A implantao de qualquer destas infraestruturas

    obrigou execuo de valas com profundidades

    significativas (15 m nalguns casos) e adopo de

    solues diversas para a sua fundao, dada a

    heterogeneidade dos solos atravessados, que iam

    desde a rocha (na zona do Estdio) at grandes

    espessuras de material aluvionar na zona do vale.

    Quantidades Gerais

    Empreitada de Escavao Agosto 2000 a Fevereiro 2002 Volume de rocha escavada 1.013.515m Volume de saibro escavado 698.496 m

    Empreitada de Conteno de Taludes Agosto 2000 a Fevereiro 2002 Ancoragens 5.504 m Pregagens 724 m

    Empreitada de Estruturas Fevereiro 2002 a Setembro 2003 Beto 88.958 m Ao A500 em armaduras ordinrias 14.722.495 kg Ao em perfis e chapas 1.006.81 kg Ao Inox 107.296 kg Cofragem 230.580 m Cabos em Full Locked Coil na cobertura 1.3.736 m (517.657 kg)

    Arranjos Exteriores Junho 2003 a Setembro 2003 reas pavimentadas 37.530 m reas ajardinadas 9.800 m

  • 27

    Anexo Galeria de Desenhos

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