o mito do desenvolvimento economico

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Cel so f llrtado o MI TO DO DESENVOLVI MENTO ECON6M ICO (t e-xw (!,xll"lIfdo da prim ei ra paf[(!' de- O ,Miro do DutNlv;ld",tntD&o"hI"ko, P uz e TnT'R, 1974) EDiÇÃO EB PAZ E TERRA CoIc(IoO .....

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Page 1: O Mito Do Desenvolvimento Economico

Celso f llrtado

o M ITO DO DESENVOLVIMENTO ECON6MICO

(te-xw (!,xll"lIfdo da primeira paf[(!' de- O ,Miro do

DutNlv;ld",tntD &o"hI"ko, Puz e TnT'R, 1974)

3ª EDiÇÃO

EB PAZ E TERRA CoIc(IoO ..... ,"" ~

Page 2: O Mito Do Desenvolvimento Economico

, SUMARIO

t. A profecia do colapso '"'' ''' '' "''' '',,,, ',,''''''' ' "'' '' 7

2, A evolução estrutural do sistema capitalista"""" 15

3, As grandes empresas nas novas relações centro-periferia"""""" ",,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,, ,,, ,,,, ,, 4 3

4, Opções dos países periféricos """""""""""'''''''' 67

5, O miro do desenvolvimento econômico """ '''' '' '' 79

l

A PROFECIA DE COLAPSO

Os micos têm exercido lima inegável influênc ia so­bre a mence dos homens qU(! se empenham em compre­ender a realidade social. Do /JOIl !tullwge, com que sonhou Rousseau , à idéia mi lenar do desapareci mento do Esta­do, em Marx. do ·· princípio populacional" de Maltl:ms à concepção wal rasiana do equilíbrio gera l, 0$ cientistas sociais t~m sempcc buscado apoio em algum postulado enmizado num sistema de valores qm: raramence che­gam a explicitar. O miro congrega um conj unto dt' hi­póteses que não podem se r testadas. Contudo essa não é uma dificuldade maior, pois o trabalho an:dítico se rea­liza cm um níve l muito mais próximo d,l realidade. A função principal do mitO é orientar, num plano intui ti­vo, a consrrw;âo daquilo que Schumpeter chamou de f l i ­

Jã() do processo socia l, sem a qual o trabalho ana lít ico não rt:ria qualquer semido. Assim, os mitOS opccam como faróis que iluminam o campo de pe rcepção do cientista social, pc rmici r\do-lhe ter lima visão clara de certos pro­blemas e nada ver de oueros, ao mesmo tempo em que lhe proporciona conforto inrelecntal, pojs as discrimina-

7

Page 3: O Mito Do Desenvolvimento Economico

çõcs ,'alomivas que- reati~a $urge-m no seu espírito como um r(/ltX~ <1.:1. rto:a lidade objcci\·a. '

/I. lifer;lturJ sobre desenvolvimento económico do (dtimo qu.:I.1to de século nos dá um e-x('mplo meridiano

desse p3j)C1 diretor dos mitos nas ciências wl.'iais: pelo m('IlOS 90% do qltl' aí cnconU'Jmos se funda na id{Oi~, que se d~ por evidente, segundo a qual o dmm,()ft,jmelllo trQnt­

mia" t:l l I IU:II vem sendo pr3fiClldo pelos países que lidera·

mm a revolução indumial, pode ser univt'l'salilado. Mais preriS:lmente: preteoor-se que os p3drões de consumo d.:l. minoria da hum3nidadt, <Iu(' atu:llmemr vi"l: nos p3íscs

altameOle industrializados, são acessí"eis às gr:mdcs mas­S:l~ de popul2.ção cm r.tpid.:l. t'Xpansão que formam o cha­mado Terceiro l-.!undo. Em iMia cormilui, segUrJlTlC'nlt', uma prolongaçio do milo dv ~rtJJ" e-kmemo essencial

na idtologia din:lora da rt'\'olução burguesa, dC'1lHO da qual Se:' (fiOU a atual sociedade industrial.

C.om o C3mpo de visão da n:alidade c1ehmitado por

essa idéia direl'Or:I, 0$ economiSlas paw.ram a dedicar o mdhor de sua inugiruçio a conceber. complrxos t'SqIK:ma$

do processo de acumulação de capital no qual o impulso dinâmi<o é eixo pelo progrtsSO tecnológico, cmdéquia concebida fora m- qualquer contexto social. Pouca ou oc­nhum~ aten(io foi dada as cooStquências, no plano cuhu­ralo de um cn:scimcnco expDflcncial do e"StoqUt: de capi tal.

lu gr.lndes meHópolcs moot"rnas, com seu ar irrcspirável,

Cf('Sc('1lte crimimtlidadc, d(·{l· riO I"'.Ição dos serviços públicos, (u8:\ da jllventude: na llllticlIltura. surgir,lm como um pesa­delo 110 sonho de progresso lim':lf cm quc se embalavam os tróricos dv crescimentO. t.'ltnos atenção ai nda se havia dado ao impacw 110 meio físico de um sis tem a de decisões cujos vbjclivos ll lt imos $.1:0 Sit ti sfa:ter inu.·rcsS('S prO\'ados. Dar a irritação caus,'1da entre muitos l.-('onomist',l5 Jx:lo estudo Tlx Umio lo Gmll'fh, prepar.\do por u m g rupo interdiscip linar, no M.1.T., para o cham.ldo Clube de Rom a.!

Não se ntct-ssi t ll concordar com todos os aspc-ctOS nwuxlolóSicos desst" escudo, to mimos ainda com suas con­clUSÕl"S, para perct:ber li importância fundamental '1"(' cem. Graças a de foram trazidos para o p rimeiro plano da dis­cussão probltmas cnlCiais que' os C'Conomisras do desen­vo lv ime-nto K vnôm k o cr.Har.lm Stmpre de- dt:ixar na som­bra. Pela primeira \ ' eZ dispomos d(· um conjunto de dados repr!'sentativos de aspt'CfOs fundamentais da cstmtum c:

de algumas t'endências gcrais daquilo que Se começa a cha­mar de SiStema económico pl!lII{'tário. Mais a inda: dispo­mos d(' um con juntu de informaçõt-s '111{- nos pérm item

formular alsumas queStÔf.'s d e fundo rc:lacionadas com o fm uro dos chamacll.lS países subd("$(.·nvolvidos.

Em verdad", a pr.hica dé con~lfução d(' modelos re­presentativos da esrfILCllra (' do fll ncion:IIll('mo a curto

pra;w de grandes conjUflt05 de :uividadcs econômicas não dil ta de hoje. E flt rI: o f,,/IIr,f1fl «olfomiq/fi dos fisiocrat as fmll -

9

Page 4: O Mito Do Desenvolvimento Economico

ceSt'S e as matrizes de u..-omidf decorreram dois séculos.

durant(· os quais algo se aprendeu sobre 3 interdependência

das 3tjvidades cconÔmicas. No úlc imo quarto de século,

foram elaborados complexos modelos d(' ('(onomias nacio­

nais de dimensõe-s relativamente re<luzidas. mas ampla­

ml'me abertas ao m undo exterior, l'omo a da Holanda. ou

de amplas dimensões e mais aurocemradas, como a dos

Estados Unidos, O conheçtmellto :a.n:alítico proporciona· do por esses modelos permitiu formular hipóteses sobre o

comportamento a mais longo prazo dl' c('rtas variá\'eis,

particularmtnte da demand:j de proclmO$ cOtlsid('rados ele valor estratégico pelo govemo dos Estados Unidos, Esses

eslUdos puseram em e,' idência o fiHo de que a economia

norte-americana tenele a sef creSCl'ntt'nll.'ntt' tltpmdmu de

recursos n:io reno\'áveis produzidos fo!'J. do p.1ís, É esta,

se.-guramente. uma conclusão de grande importância, que

está na base da política de crescente rJ!xrll/rp da t'Conomia

dos Estados Unidos t' de (ortalecim('mo das grandes em·

pr<.'Sas ("J.pazes de promo\'er a cxplor.lção de fl:('nrsos natu­

rais em escala J>lanct~ria. As projeçõcs a mais longo pmzo ,

feit:\s no quadro analítil'O a que acabamos de nos referi r.

baseiam-se implicitamente na idéia de quc a fromeira ex­

terna do sistema r: ilimitada, O conceitO de reservas dinâ­

micas, função do volurnt' de iO\'estimenlOs programados f'

de hipóteses sobre o progrt'SSO das t~nicas , $('f'\'e para

tranquil iur os espíritos mais indagadores. Como a políri -

10

ca dt: defesa dos recllrsos nlo rcprodutín"is compete aos 150-vernos 'ê 'não às emp~ q ue os exploram, c como as infor­mações e a capacidade l:t:lt:l aprtciá-Ias estão principalmeme com as emp!'t'Sa.S, o problcrruI tende ii. ser perdido de vista.

A importância do estudo feito pa.r.t o Clube dt' Roma deri\'a exatamenle do (:Ito de que nde foi abandooada 11

hipótese de UI1) sjsrema aberto no que concerne a ftonteira dos recursos naturaIS, Nio se encontra aí qualquer prro­cupa.çào com ruptito l Cf'CS('ente depmr/;'Ic;a dos IXlíscs altam('nte industrializados t"iJ-à-m dos ~ul'$()S naturais dos demais países, (' mULto mellOS com as cO(lsequêocias p.'\t:l estes ultimos do uso predatório pt-Ios p ri meiros de f;l.is recursos. A novidade l"Stá em <)\1(' ° sistema pôd~' ser

(<<h.ldo em escal;l. plancr-;(ria. nllma primeit':l aproxi~a.

ç:lo. no que se ref{'re aos recursos não reno\';i\'t"is, Uma \'("Z

{('(hado o sistema, os autores do I:stUdo formuluram -$t" a seguillte questão: que acoOt~'C('rn se o dm1nfJ/viIlNIIIf) trtmÓ­

mito. para o qual estão ~ndo mobilizados tOOOS os povos da term, chegar efetivamftllft: a concret izar-st", isto C:, se as aluais formas de vida Jos povos ricos chegarem detiva· mentI: l\ uni\'t'rs:tlizat-se? A r~posta a t'SSlI pt-tgunta é cla· ra, sem ambigUidades: st' ta l acontecesse.-, 11 pressão sobre os r~lIrsm não reno\';i\'cis e a poluiçJo do meio ambiente seriam de tal ordem (ou. alternat ivam('nte. o cusrodo con· trole da poluição stria tilo elevado) qu(' ° sistema econó­mico mundial entraria necessariamente cm colapso.

11

Page 5: O Mito Do Desenvolvimento Economico

.(\nu .. 'S de cons~dl"rar que significado r(-al cabe:- atri­

buir a e»3 profecia, COlwc:m abordar um problema mais

geral, que o homem moderno tem tratado de eludir .. Refi­ro-me ao carnt~r prcdat6cio do procéSso dt- ci\'ilizat;io.

particular~me da \':lriame desse processo ~nstndrada pela r~volução indusrrial. A evidencia ii CJual nia podemos es­capar é qUI: em nossa civilização a criação de t ,(,lqr Konô­

mico provoca, na sramle ma ior ia dos casos. prOCt'1$OS

irreversíveis de dt"gradação <lo mundo físico. O economis­

(a limita () seu campo de obsEnaç-Jo a processos j>3rciais, preteJ.ldcndo ignorar que nscs processos provocam cres­

c~nte$ modificaçÕt-s no mundo (ísico. ' A maioria deles Ir,lIIsforma e'nergia livre ou disponível. sobre' a qual o ho­me!TJ tem per(eito comando, em energia não clisponín'L

Demais das conseqW:ncias de natun:u d ireramenw eco­nômica, ~ processo provoca e levação da tCmpemlll (a m(-dia de (t·nas áreas do planeta cujas C0I1$e(!O&t1cias a mais

longo pmlO dificilmente poderiam ser exageradas. A at itude ingtllll:l consiste em imaginar qU(' problemas dessa

.. --- - - .... ordem serão solucionados necessariamente pelo pr?sresso tecnológico, como St· a aluai acc-lNação do progressu tecnológico não c:s t iv~sse contribuindo para agravá-los.

Kiio se tr:u<t de especular se llort(<lR/tllft a c iência t: a técni­ca capacit:lfT\ o homem para solucionar eSt/: ou aquele pro­

blema criado por nossa ci vilização. Trnta-~ apenas dr: re­conhecer que o que chamamos de c riaçãodt' w.lor ecOrlÔmico

12

tem como COfl If:1p.:mi<b pTOCt1SOS Jrr~'C1'$íveis nu mundo rí!iKO. cup) conseq~ncil-( U-.Immos de ignorJ r. C.oO\im não

pc'(tler dt' vista que na civilizaç;io industriai o futuro esd

f'm g'oIooC' pa.rtc: condiciorucJo por ~:isõc-s que já for.un tomadas no p:tSwlo dou que f'Stio sendo 1Oma.:las no pn-­

senrc cm (lIllÇÃo dC' um (Uno horizonte temporal. A medi­d" t·m ,!ue :l\'ança a acumulaçlo de e<tpital. maior i: a u1(C'f(lept'ndencia eml"\' o (l1Iuro I: o p.u.udo. ConShliil·nte.

mtlltt, aurn('nCl a jlll!n::ia do ~islema, t: as corfe{OCs de rumo

torna.m-se: mais lenloU 00 exigem m:aior es(on;o.

I. Nlu I rnru pfOI,6,,,o.oburWr aqui ~ rpiuemolflR'l dn clfna"", ;;oe, ..

~i, fltol<k l)ih Iv}, u.I",'l1lOJS qllll:' :as ci~lICi,"" snci:l" -e.nc<'!:tm flC) m~>o • d~ rr.l"ca dJ \'id~ ~ (d . W,II",lm n,ItIq·.INlnJJ ... ,_ li N,,,J, Jt. wt>ta>

/)NWJtNtJ, IIMil. 19I1.p.,;4). r ;o.b~ \Xtd.'ffJrmorll.!l'\l\I tl1r:!.mnlr ~ mmo 0" .;umIJkmrfl'~"1 a "upJrr.çlo roml'r.tn l ''''' · ~ I -roml'fct'n!,lo t~plrl'atln - ,!os J'fOCf'S1OS ).1)\ i ~\I . O miro Ifl'rudu< 1)(1 ,",pó.iro um ti .. · mrmv li ,,,,rimin:odo. que ~'<'lIurb>. "alI) d~ ron>l>t'ffru.ão. o q ..... 1 (1)1\$,1 .. • ~, !<'j;1I000 Wcbl·r, tm "("~pcJ.r pur ."'~'1'.t'lçiQO SC"Iu.do ou !> conJun. ro ~'S",IK~U'"I) qUl:'" " 'm cm vi~.~- (çÍ Ma~ W~bt-r, t~.I"d S.(/III.

Pmf. I 'J7 1 , I .. I. p .. S) .. \'('",~ r~mbhn J. 1'",1111<[, Iii rMwHJ ,'" ~it-m

'-1"<1,1'""0,1973 .. 1. (( .. D.H .. "!~'$, Ixnrn\ L Mt'aOjo'lo's, JO/'S~" R~ndrn. Wdh~m W. IkhrroJ III , 1"11« Lu,.,,! :. (;""'111. NO\A YQI'k, 1'J72 f.. p;>r4 )

'1'I('W<k>Iu,la, J. W. fOftI:"$t~r. 'l"'" O)It;I"'KI, U.r"br;dg~. M:I$$ .. 197 L

Page 6: O Mito Do Desenvolvimento Economico

}. Um Jus l)OUCOS «onomUI:lS 'I''''' ~ ,em prrocup,ado ~N.ITlC'mc (Qm

C'Uf problmD. o pi'olC1.SOf ~tSClI-ROt"gm. nos diz: -Alguns o:cono­m'S,:&!i ,';m-., rt{ .. ndotoo ("'fock qut' o homnn não Itm capacw;b.k pU:I , tiuO\! driu\lir m:I(~flIOU etM:rg:ia - ' -c-rdadr 'lU" d«orn-dl Prime-u,," U1 cb TtTmod,n.'m,u, Con,udo nmhum tknt~ .. ln pi1«1t tu ... ,,« (oloc:l<lo a quim .. qOt$rio: tm qtl(' ,,0110 ('()f\$'s' c um ptoc:tSSO t(onoj..

mico) .. 0 ConlO.ducm<K o p ' OCH$O KOoom,co como um lodo ..

~nflOolo "r,irlmem .. do porllO de VIS" !imo. Vi:-!I: dt ,mediatO <I"" k" (r~11 C! .. um I-'f(I(CSloO póltcl.ll, f HnlnKnlO por urm. (rom .. ,,,. a'r~­

.. {-sda qwl m""fll c .. ntrgr" m im .. rnmb.~ mm o miO do univ('f. 50 ,mutilaI. Ir. !df>OSla i q~do C'm {l~ mn.",'c ~ pro«$fO I ,im­pi"", fi .. nc:m proo:lul no;:m (OOSOIT.e I'Nlbll~nt'r8i:l; limi\a-SC' ~ ab$oo"Cr C:Ii reJCl lu maréria-mc.-rgia d .. rorma rom inua. Pod~11"I05 C$1:lr «nos de <JI>C" III<'SITIO o mai, ardo",*, pari id~rio d~ Itst' !l:gul"Kk> • qUlI os !tellr­

$OS !};I I ur:.; s n:l<,b ,Em I ,-er com ~ criaçlo de \'alor rnncordari finaln~ru \'

f m que O;SIf' alguma di(~l'I"nça cnl tt' o <juc cne r.1 e o <llI(" ,ai ..lo proo.:cuo referido ... Do pomo ..lt VI $U <,b e~rm()J;nSmK'll, l IIUI~ri,.ent'rgi~ <;'1)1 rl

no prQ("~'SU) l"("onôm,~'() num e'St~1u <k bt,lx.! rNrf"pltl c ~i JcJe num cst!ldo de '11rlS .>llrrJPld: Ct, Grorgt"K\I. R0t'8en, N .. TIN f.'lIroJ>y l -IIu' ,,/I(i rbt ÚMIM;r Prohl,,,,, (ollf~rfnda "rooulKlada na Un"'etSluade ue

Alalnnu, \970. \'e~-I'C' tam~m • ..lo ~mo1lI,ltor, TlIt EottrrJp) Útil'"'''' rk &_N 1!'«f1J, úmbnuge. Man .. 1971.

14

2

A EVOLUÇÃO ESTRUTURAL DO SISTEMA CA PITALISTA

As clucubraçcks sobre o destino de nossa ci\'ilização, por fascinan l~S (Ju~ QCa$ionalmente pareçam, são de redu· údo impacto sobre o espirito do homt'ffi com um. A psi· co10gia humana é tal que d ificillTlt'ntc podemos nos con· ccnrrar por muito t ~mpo em problemas que superam um hotiw nre temporal relativamenre cuno. ""'teu objecivo é mais lim itado e prr:ci so t' pode ser sint t"( izado t'm uma pt'r· guma si mples: que opções Se aprt"Senta m aos países que sofreram II deformação do subdes(' ll \'olviffiento. em face das presentes tendências do sistema capi tal ista ? De qwe ponto de vistll O estud o a que ances nos referimos podc lcr u tilidade nessa exploração do futuro?

Desde logo, temos de reconhecer o irre!ll ismo do mo· dc10 urilizildo paro projetar a economia mund ia l c, couse· qUelltemenre, a irn'k-vância das conclusõcs clt taclfsm icas aptescncadas, Como admi t ir que um modelo baseado na observação do comportamento histórico das \\funis econo· mias industrial izadas e na presente eStrutura deStas possa servir para pro jetar as tendências a longo pm:lo do proces· 50 (Ie industri21iução cm CSC21a p lancrári2? Com efeito. a

Page 7: O Mito Do Desenvolvimento Economico

{'$Irutura (lo modelo se funel:t na estri ta observaç:iodo bJoco de' e<:ouomias que lideraram o proct"SSO de industriali?a­ção. que puderam miliwr os n:cursos naturais de m:tis fáci l acC'sso e <Jue lo~raram o romrole de grande F"e dos r«ursos não renová\"{·is qUi: se encontram nos pai§C'S sub­

dt'smvolvidos. ~ Não se t("Jla aqui de simplificação meTO­dológica, de primeira aproximaçio a ser rorrigida quando se disponrn de informaçl:>escomplemC'ntares. Trata-se sim­plesmente de uma. {'$lnHUra. que reflete uma. observação inadequada da realidade, ponanw inscrvível para proje. tal" qualquer I(·ndência deSta ôltima.

A questão que- "em imecliaumente ao espíriro f a SC'gui nte: dispomos de suucieme conhC'(Ímenw da C'stru­lura da economia mundial (011, simplesmen te, da do (on­junta das economias mpi talistas) pam projetlllCndências significativas da mesma a longo pralo? M,'smo quc n1l0 eStejamos dispostos a dar uma irreSlfi t:l resposta :lfirnlat j_

\'a a essa questão, não podemos deixar de fCt:onh«er que existe ampla informação sobre o proCl"SSO (Ie induscri:IJi· :ação em países de di \·crsos graus dt' desenvolvimenlO 1:<0-nômico. Porque dispomos (k-s.sa informação, já mio ~ VOs­sh'el aceitar a lese, esposad!l pejos autOres do escudo. .segundo a (IUal "à m<:<Iidn em quI:' o rcsto da economia mundial se desenvoJvt'r tconomicame!lf(. da seguir:! 00-sicamemé' os padrÕC's (Ie consumo dos Estados Unidos. "1

A accirnçào<!cssa doutrina implica io:nomr a tspecificidade

16

do ft~nômeno do subdesenvo lv imento. A ela se deve a ('on­fusão entre cconomi,l subdesenvolvida e "país jovem "; {' a d a se de\'e li concepção do desenvolvimento como uma scqüência de fases necessárias, à la Rostow.

Capnlf a natureza do subdesen volv im en to não é tarefa fáci l: mu itas são as sua s dimensões. e as q ue são facilmente visíveis nem sempre são as mais significari­vaso M as se a lgo sabemos com seg uran ça ~ que subde­sen vo lvimento nada te m a ver com a idade d e uma so­ciedud(' ou de um país. E tam bém sabemos que o pa­râmetro para med i- lo t o g rau de ac umulação de capi ­tal aplicado aos processos pr odutivos e o grau de acesso ao arsenal de bens fi na is que caracterizam o q ue se convencionou cham.ar de esti lo de vida moderno. Mes ­mo pa ra o observador supe rfi cial pa rece evidente q ue o subd ese nvolvi me nc o está ligado a uma maior hete ro­ge ne idade tec no lógica, a q ual reflete a natu reza das re­lações externas desse tipo de" eco no mi a.

Quando observamos de forma panorâmica a econo­mia mund ial no correr do século X IX, parcicuh.trmente na sua seg unda metade, percebemos q ue as enorm es trans­formações ocorridas ordenam-se em torno d ~' do is pro­cessos: o primeiro diz. respeito a uma considerável acele­ração na acumulação de capital nos sistemas de p rodução. e o segundo, a uma não menos considerável intcnsifição do comércio imernacional. Ambos os processos eogen-

) 7

Page 8: O Mito Do Desenvolvimento Economico

dl'.u"J.m aumento! substanciais da produth'idadt' do fa­ror U':loolho. d:lndo origem a um fluxo CI't"SCt'ntt' dt' t'x­cedent!' que st' ria utilizado pRta intensificar ainda mais a

acumulação t' para tinancia r ;l ampli:lção t' di"el'lificaçio do consumo privado t' público. Como foi apropriado é$SC

exct'dentt' t: como foi oric-ntada sua utiliuçiIo con$tituc-m O problema fundamental no t'studo da t'voluçio do o ­pitalismo induStriaI t'm seu proct'sso de amadu recimt'n­to. Duralll t' uma primein (lIst, grande pMtC do r('({' rido t'xcedt'nte (oi canalizado para a Gri-Bretanha, transfor­

mando·se Lond res no CC-lItro orientador das linanf.tS do mundo capitalista. Financiando os invest imelllos in(ra­rst rutu rnis r m todo o mundo tm (u nção dos i ntt'~s

do combcio internacional. ;I. Grã·Bretanha promovc:u t' consolidou a implantação dr um sim'ma dc divisão in­ternacional do cubalho que marcaria detini tjv;l.meme a evolução do capitalismo industrial. Esse' sim·ma favo­

receu li concentt.lçlo geográfi ca do proce-sso dl' acumu­lação de capital, pelo simples fat o de quto, t'm (':l z.io das econumias externas e das economias de cscala dto produ­

ção, as lIti \'i(lades industriais - às qU;lis corrcspondia o selOr da demanda em mais nípida expansão - f('ndem li

aglomerar-se. A ~ contra o projeto britânicodt' economia mun­

dial logo 5t' ft'z semir. A S<'guOOa f.ue da c\'oluçio do capi­

taJismo industrial está marcada por t'SS3 reaçio: é ° período

18

de consolidaç-Jo dos ÚJUm<lJ tamQmum n"ôo""iJ dos paises .:;u<e forma riam o clube das ecooomias desenvolvidas no sk­:1.110 amaI. A forma como ocorreu ess:a tom3l:la de consciên­cia COl"lSrimj capílulo {asc:inant <e da hisrÓfia modt'rna. mas ~ maft<ri3 que t'SCapa a nosso intt'1"t'SSt' imediaro. 8 3Sta assina­lar que, em toda parte. o êxito da rcaçio ('S1","'e l igado a uma ct'ntrali;,:ação das dt'("iSÕt'S ecooômicas bem maior do que aqurda que oovia conhecido o mpitalismo industrial britânico e'm sua fase de consolidaçio. Em al,gumas partt's. essa maior cemrali~ç3o s<eria obt ida por meio da preem i­nência do sistema bancário, o q ual conhect' ria imporrnn{e' evolução csrnltunl: an OUtras, o Estado nacional assum ili fu nções mOl is amplas na di ~'Po do proccsso de acumula­ção.} Por roda parte' essa ocirotaçio lcvou a. alianças <k- clas­ses e grupos sociais - bUlSuesia industrial. comercial e finan cei ra . propnt'tários rurais, burocracia esratal - em tomo dt" um "projeto nariona]"', com repercussões sig niti­Cllt iv,u na evolução do cap ital ismo industrial . Ao passo que' na f.'lS<: bri eâ,niCll o com!!rclo interm.ciollal crescia mais rapi­damcnte do que a produ,lo no (('ntro do siStema. a rendên­cia agora ser;{ em sentido inverso. A t'volUfIo dos tcrmos de imerclmbio tendt' a St"f desfavorávd à periferia do sistema _ isro f,:lOS países fO{lle.'Cooores de produtos primários­t' II acumulação contin,ua a concentrar-se no ct'lU ro. 3g01'.1 !fllllsformado num grupo de países ('m d istintos graus de Jndustriaüzação. J.lorourr;o laJo. II. (l0"",1 forma asS~lmida pelo

19

Page 9: O Mito Do Desenvolvimento Economico

CJpitalismo - maior ccmr.lli~ção d(' dt"('is&os no plano naciooal - facilita a conc('nr["~io do JXlder t'Cooomico e a tmersênóa de grandes empresas. Os nlt."rrados inrunacio­fia is tcnd<"m a ser conuolados por grupos de cmpre$as, cancJizadas em gmus divel'SO$.

Por que es{c (- não aquele pars passou a linha demar­C'arória,t' ('nrrou p.11"3 odube dos paísrs desenvoh'idos nt'S$:I segunda (ast crucial da evolução do capitalismo indusui­ai, <Iu~ s<- situa enrre os :IOOS 70 do século p~ssado e n priffi{'iro confl ito mundial, é problema cuja respos!; .. per­{ence mais à História do que à anál ise econômiC2. Em ne­nhuma partC essa pamgt'm ocorrt"U no quadro do Jaim:­foi rr. foi st'mpre o resultado de uma politica deliocrada­mcnte conc('bida com esSé fim. O que imeressa assinalar ~ qut' a linha demarcatór ia I('nd{·u a acC'OIuar-se. Como a induSHiali~çào em cada época se molda em função do grau de 3cumulaç-Jo alcançado pclos países que lideram o proccsso, o esforço rclarivo re-querido para dar os primei­ros passos tende a UeKe( com o It:mpo. Mais ainda: uma vez que o atnl.S(l relafivo akanç:a ce!Co pomo. o processo d" indusrrialiwçio sofre impormntes mod ificaçlks qual i­~ativ as. Já nào $C' orie0l3 elt· par;!. formar um. sislema «o­nômico nacional e sim par.!. complelar o sim·ma «Ol'lÓmi­co imcrt\acional. Algumas indÚStrias sur8~'m inte,l,;radas:l certas ati ... idaues t'''portadoras, c Outras como comple'ffit'nto de' alividadt"S importadoras. Dt' uma forma ou de otura,

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elas ampliam o grau de' in {egra~-ão do sistema «onômico internacional. Nas faS('~ de crise: demo último, procUr:l-S(· r«!uúr o cometido de importaç~··dt' ((·nas aljvidades industriais, o que leva ocasionalmrmr ii instalação dC' in· dústrias illtC'gmdoras do sistema tronômico no níV("1 naci­onal. Assim, por um proc('sso inve'oo, através de' um es­forço para ~t:duú~ a inst"ahj]idade resultante da forma dé' inserção na economia internacional, molda-se um sistema industr ial com um maior ou menor gl"3u de intl'gmção.

Esse siscé'ma induslrial formado cm torno de um mercauo pN!vianl{'nte abastecido do exterior, \·ale dizrr. (·ngendrado pdo processo de- ~substi 1Ujção de importa­çÕ("$~ , é específi co das <"("onomias subdescnvolvidrl5. Apre­sem3 aracreríscicas próprias que <levem ser tidas em con· u em qualquer eXe' r(Ício de projeção do conjunto da economia mundial. P;l r.!. comprct:n<kr o que há de pró. prio nesse no\"o tipo de inclustri,llização, é nec~ss,í rio dar \Ilguns passos atrás e' rdl cti r sob~ a si luação <laqueIes ' subconjuntos t"Conômjcos que se imé'graram ao sislema mpitalisla imernacional. na fas<- de hcgt'monia britânica, (' pC'rO)ant'ct'ram como exportadores de produtos primá­rios. 11:1 (ase subseqUt'nte ue ampliação do ccnt ro do 5i5ft' · ma. Nessas economias, os incrementos de: prod~lividaue resulram (undamemalme1lll" de cxpansão das t xponaçÕt's e nàouo processo de acumulação e dos avanços If:'(nológicos q ue' acompanha\'3m no crntro do sistema essa acumula-

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ção. Tnt~w~-sc de mcorporar r«uNO$ prodmivos subur;­li~O$ou rc<:C"Ilte!lXmc: :.dquiridos. como no caso da mio­dC"-obra Imi"(:Inte. :l um sistema produu\"O que crt'SCi~ hori:ront:.ltTklltc". &ses aumentOS de prodm i\·idade ckcor­

rem do que em tronomia, :. !XIrrir de Ricardo, ~ dum;!. dr ~vamag(·ns compaf1l.riva5~. A doutrina li!x-r:al. medi­ante.1 qual os ingleses com I~nt~ con\·lcçio Juslifi(:jram o seu projC'1O Je divi!>1o intt·rnacional do trnbalho. apoiava­k nC'$$a Iri das vantagens compara tivas.

Que paf$C's - com abundância dC' t(·rm.~ não IItiliza­das c a possibilidadC' dC' n:cc-bC'r imigrantes (ou de uti lil:l r mais imens::unente uma m;1o-dt..oora integrada num sis­(C'ma prl-Cõ\pi lal isla) - hajam opcado pela via Je- m("OO( t"t:1istência d;tS \-amagens comparativas nlio l de surptt('n­der. Afinal de comas. a Grã-Bretanha também rsGl\·a CIp­tando pelas \-antagens compal"lH ivas quando rtdulia a pou­ca coisa a sua agricultur'!' e se concentrava na indústria t

rntSmo na produção de c1U"vão. que em parte e:'l"po(la\'a. O que cria a di{trença fundamtnta l e dj origcm ~ linha divi­sória enHe dl'sen\'ol"i mento C" subdt'Sel1vulvimelltu ~ ':l oril'ntaÇ"~o dada à utilização dO~'xc(-dt'nte C'nge-ndr:ldo pelo incremenlO de produtividade. A 3.tividade indumi3.1 u::n · de a conccntr:tr grande parle do excedente em pOUClIS mãos e 3. conserva-lo sob o control(> do grupo social di~t"ólmem(> compromel ido com o processo produtivo. Por oUlro lado. como o apit;:!1 inYl'rtido lU indúSlria eSI;'i sc-ndo COll$(;l.n-

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:tf1"l("fltl' renovado, a porta fica pnm:tIlffitt'lT1(n~ aberta p.1ta a In[f(xluçio ck moy~õts. Onsa (orm;!, um sIstema mdU$uial tC1lde a crescer por SU1S próprias (orças. a me­nos q\.lC" seja submnido I insuílciênci.1 de denu.fl(b. crl'U­\":l. Explia-SI'. :.wim. que ~utlts ~íSt$ qlK' procuraram cri3.r um siSll'ma l'CollÔmico nacioru:l. n~ SC'sum!a {;Ue da t \"OJut;ào do (:jpHallsmo Industrial. hajam protegido ati­vid:ulc-s "ólsrícolas ~ OUl ras, C]IK' não o{e-reeiam "\"antagens compa.rativas". Mediante tua proteç;io eles asseguravam dem:tncU. ao SCtot indu5I1ia1. compensando amplamente com incrementos de produti\'idadc I"Itstl' SCtOC o qUI' JX'r­dl~m na.s demais atividadts "poxegldu".

Nos países em qtIf" as Vl1ntagt'ns comparath-as UIU­

me-m a forma de tspt"CiJ.liuçio na tlfportaçào de produtos primáTlos (panicubrmeme os produtos agrícob.s). o C'x­cede-ntC adicion~! :assUITlC" a forma de um iocTCnx-nto das imponaçõts. Co/lXl a e$pecialiuç:1o nilo requer ncom im­pila modIficações nos métodos produtivos. e a acumula­ção se te'l liu com recursos locais (abenu.ra de Iceras, es­tradas e conmuções rurais, crescimento de rebanho etc.),' o incremento dJ capacidade (XI r.I imporlar permanece dis­ponível paf'J ser Ufil i1.l1do na aquisição de ~ns d(.' consu­

mo. D<.'ssa forma: é pelu lado da demanda dt' Ix-ns fioais dC' consumo quC' esses países '$t' inserem m3.is profunda­ITlC"n!(.' na civjl il:açio industrial. Esse dado f {undamental p;ua comprccndC'r o sentido qUI' ne les romad, em {ase

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subseqUente, o prOl:esso de indumiali7.açdo. Não € minha intenção abordar aqui. cm detalhl.'. o probll':ma da

especificidade dess:. indust rialização fu ndada na I:hamada

Msubsrirui(ào de jmpof\'a<Õt"s~; limjrar·mC'-ei a assinalar

que da rende a reproduzir em miniatura sisu'mas indus­

triais apoiados em um processo muilO mais amplo de acu­mulação de capital. Na prática, essa miniacurização assu­me a forma d~ instalaçiío no país em tjuesdo de uma série de subsidiárias de empresas dos paíSt'S cçntricos. o que reforÇ'1 a tC'oclência parn reproduç2o (II.' padrõcs de consu­mo de sociC'<lades de muito mais elevado 0;\'('1 de renda média. !}Jí resulca a conhecida síndrome (te tendência à conccncraçà'o da renda, tào familiar a todos os que ('Sc u­dam a industrializaçào dos p'díses suhdesenvolvidos.

A r-.i.p ida induStrial ização da periferia do mundo capitalista, sob a di reção dC' empresas dos países cêmricos,

que se OOser\'ou a part ir do segundo confl ito mundial. corresponde a uma terceim fase.- na evolução do C1Ipiralis­

mo industrial. Essa {.'\SC: se inil' iOll com um procC'SSO de

imcgrllÇ"~o das tconomias nacionais que formam o Ctntro du si stema. Da fo rmulação da Carta de Havaml e criação

do GA"l1" aO Kennedy Round, passando pela formação do Mercado Comum Europeo , fomm dados passos consider:!­veis no S('mido de t'Stnlrul1r um espaço «ooômico unifi­

cado 110 c('nero do sisu'ma capital ista. O 11lO\'imemo (Ic capitais, dcmro desse espaço em vias de unificação, alcan-

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çou volume considenivel (princ il>a lmcnte dos Estados U nidos para a Europa oc idental, mtas (também , em fase mais rC'Ct'ntc. em sentido inverso), o que permitiu q ue grandes t'mprt'S8S 5(' implantassem em lodos os subsis{cma~ nacionais e tamb~m <)ue as esrmru ras oligopolisras vies­sem a abmnger o conjunto desses subsistemas, A forma­ção, a pareir da scglind,\ metade dos anos 60, de um im­portante mercado intcrnacion:tl Q(' capitais const itu i o

coroamemo des..~ processo, pois permi te às grandes em­p resas l i~rar-se de muitas d;ls lim itaçocs criadas pd os sis temas mÓoerlÍ.rios to' fi nanceiros nal: ionais.

Dessa fo rma, os sistemas nacionais, que cons li tuí­mm os marcos delimitadores do processo de indus triali za­ção na fast' an terior, foram perdendo ind;vidualidade no

centro do si steJn:' capitalisra, liem que surgisse d:lr;ttneo­te Outro marco para substituí-los, '!e lldcu a criar-se lima si tuação de alguma forma similar i\ que pre"ak'Ci:. na épo­ca cm qUE':I Grl-Drctanha era sozi nha o centro do s iSI{'ma capi ta lista. Da mesma (orma que o elupres:irio ing lês. que, fi nanciava o seu projelO na City, se sent ia livrt: pam locali­zar li sua atividade em qualquer pan e do mundo, a filial "illlE'rnac;ional" de: lima empresa americana ou italiana que é diriMida do Luxcmburso ou da Suíça ~ambém se sente livre: p.1m iniciar Oll ampliar suas 3tividades nesw 0\1 na­que/(· país financ iando-se da forOla que lhe convém, em função de seus próprios ob;etivos de expansão. A diferen-

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ça com o ant igo mQ(/cJo britânico est' em qU(' o emprt'Sá­rio ifl(k~Ic.lU;1 1 foi subsriw ído pc.-la grande ('rnl,r(cS3.

Se- enCOlllnmos simi litudcs com o anll80 mQ(/t'lo brir-.i.mco, Cilbe reconhecer q ut' também do sigowcati ­V;l$ as semelhanças com o capI tal ismo dA f:ilS(" de consol i­dação dos sistemns nacionaIs. Com c:fdto, foi no quadro deste 1111i l110 q ue li grande cmprtsa nssu lll iu o papel de centrO de dec i ~iio capaz de influir cm iroporcantcs seto­re5 de ntividac.JC$ I'conômic:ts. A g rnnde empresa ~uer

um grau de coordenação cl a~ decisOts econôm icas mu ito ma is avan~"':tdo tio que aquclt' que corrtspondc :tos mer­cados :uom izados. Essa maior coordcnaçio foi inicialmen· u, alcançada mc-diant t' a t utela do sistema band rio ou dm:,tamente de órgãos do govl!' rno. Mu, li mcchJa em q ut' as grandes empresas fo ram adquinndo maturidade t' foram .se dotando de: direçÕC"S profissionais, tenderam a desenvolw:, r regras (te conv j,·ência que permitiam a tro­ca do mínimo de inform ações nccnsá rias para il!kgurar umll cerla courdl'nação de dcci:sõ<-s. Essa evol uçl o se f('7. inicia lmente n05 EHado$ Unidos, onde a gT":mde riquC'za de experiência permitiu explonr múltiplas possibilida­des. /I. lendência à concentração que criou cm certos ra­mos situaçÕC's dI;' ,·jrtu;J.1 monopólio provocou rc:aÇÕt's in­versas de defC'u do inl ert'ssC' públtco, como as leis amitruslt' do fim do século paSS-1<10. F« hada a porta ao monopólio, foi neceuirio desen\'olvl'r formas de coorde-

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naç-do mais su tis. O 0li80l'ólio consti tui o corQ;Jmemo dt'ssa evoluflo: ele permite que um pequeno g rupo de g r:.mdes firmas criem ba rreiras à C'ntrnda ce Olllr-U em um sC'to r de ar ividade econ6mica C:' administrem canjun. laOlellte os preços de ceItOS 1>rOOulos, conservando, con­eudo, autonom ia fi nanceirn, tecnológica e ad ministrari · va . A adminisu:açfio dos pTl:çO! crill vantagem relat iva pilra as emprC'us que mais ino\'am cantO em processos p rodutivos q uanto na innoduç:to de novos produtos em dett'rmlOado setor. À ciferença da concorrência tradicio· nal dC' preços, quC' se tradu z cm red uçio cos lu((05. debililamenro fin3 nct" iro, fechamC'nto de flibricas ou. no C'.uodC' que $C' im ponha um monopolista, em c:levaçio de preços e redução dC' demanda , o m undo dos oligopó".. lios $C' assemelha mu ito mais a um:1 corrida em que, sal­vo acidente, todos alcançam o ob jelivo fi nal. sendo mai­o r a recompensa dos que cheg:1m na freme. t um espor­te ao qual só t(:m acesso CaI\ll>t'Ôt'S , como as finais de \XIj mbleclon.

A forma olJgopolista de coordenaç\io de decisões, graças à sua t norme flexibilidade, pôtle ser t ransplantada para o cspaço $(.'mi-unificado que $C' eSlá consti tU indo no centro du sistC'n)a capitalista. Favorecendo por Iodas as form3S li inovaç2o. o oligopólio const itu i poderoso instru­rneoto dC' exp3nsão «ollÔmica. Gra(as illiberdade d E' a.ção de que vêm gozando as firmas ol igop6licas, o com€rcio d I!'

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poodmos m;mufat\l rados em~ os p;aíses cem ricos cresceu com t!x traO(d iniria rap!ck~ no correr cios úllimos dc:-cê­nios. Por outro I .. do, II enorme capacidade fi nanceira que essas formas (endem a acumular Jeva-u a bUKaI" a di\"(~rsi­licaçio, dando origem aoconglomerado internacional, que é a forma maIs :ava~ .. dôl empr~ moderna.

À primtiu. ",ista. pode p4l recer que a grande em­pres .. dtrt,· .. sua f01"Çil principalmente du economias de ~b de produção. Isso é apenu cm parte vrrd:ade. As economiu de t"SÇ,da são fundal1"lt'ntais n .. metalurgia, na química básica. p4lptl (' OUl ras indústrias de processo comínuo C" rambém ali onde õI mio·dt-uU1""iI i utiliz:adõl de forma imensi \'a e o tmbalho poc/e S('r organ iudo em cadeia. Tudo isso responde apcn:.1$ por uma parrt cio enor­me procf"UO df" coneen traçio da indústri .. moderna. A. sua grande força (I (·tiv~ de (Iue (·lõI rraba.J ba cm \1lCTC;adQS organizados. está em condições de admini$tr.u OS prl.'ço$ e, portõlnto. de $e a~st"gurar auwfinanciamcnco (' poclrr planejar suas at i\' idlldc$ a longo prazo . :-"Ias n1l.o M dÍlvi­d(1 de qU(' foram as indústrias do primr iro ti lXl quc cons­ti t\l íram o campo uperimemal o: nI C/ue se (lesenvol\"e­ram as t f(.O iulS oli!;opoh stas. Isso porque. onde as cconomias de escala slo import3ntes. a~ imobi lizaçÕ<'S de ("apitai s:io cOlIsider:{veis, o que fa cilira a criação de barrt'iras à enl rJda de 00\ '0$ s6cios no clube. Somenu quando essas b3trei ras 510 sólidu é- possí\'cl adminisrrar

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pl"e{OS r pl1nelllT'"a longo pf:l.zo. Drmais. nesse tipo (Ir

indús tria é mu itO mais difícil manter ocultOS os planos ele expansão. Por últ imo. nu indúSfri:15 qur produzem artigos homogênros. OS cusros de produçio $ào relativa­

mente transparrO!rs, na medida em que u técnicas sio conhecidas. t nalllf31. po.namo, que ha ja m sido as empressas desse grupo as primeiras que se organizaram internacionalmente como olig0p6lios. E foi a t','oloçio

no país ânr rico da emprrsa oligopólica internacional produtOra de insumos industriais que dru origem a uma

das primei ras fam íl ias de empresas d!vc: rsificadas. Com t"fd to. i mec.lida qur as grandes empresas internacionais

se foram capacitando J>ll ra administrar os preços dos me­tais niio-ferrosos, tornou-se' imeressantt' para rias trans­formarem-se em g randes util izadoras desses metais .

Por outro lado, para plam:jar II produção de cobre a lon­go prazo era necrssário conh('cer a evolução da economia do :tlum ínio. por txemplo. Daí a rmcrgrncia de novas form as de oligopólio visando a coordenar a ecooomia não

de um produto. mas de um conjunto de produtos até certo pomo substituíveis. Exemplo claro dessa rvoluçio

f dado pelas g randes companh ias de peHóloo: d as ren­deram a diversificar-se no ca.mpo da petroquímica e da. rnorme família dr jndlísttias que daí parte; mas tam­Mm procuraram insrabr-SC' nos setores concorremes, do

carvilo à energia :nÔmi(":l.

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Se observamos em conjunto 3.S duas linhas dr diver­sificação, a n'rtical e a horizontal, Y('mos ljue uma ('rnprt· sa qm- 5(' expandt nessas du:lS dircçõcs ttode a ser kvada a controlar ati\'idades tconômicas na aparência [()ulmente desconl'((adas umas das oUU'J.$. A partir de certo momen­to, as .... Jntagens da diversificação passam a Str estritamen­te de caráter financeiro, pois o excesso de Jiquidn de um sctor pode ser utilizado nout ro, ocasion~lmcnte mais di ·

nâmico. Ora, cs!.(' tipo de coordenaçã.o pode ~r obtid~ por

mtio de instituições financ('iras, por <Idinição.muiw mais

flexíveis. Esse processo t\'Olutivo teMle, portamo, ~ levar

a uma coordrnação financeira, atra\'és <Ie insti tuições bano cárias e semelhantes, e a uma coordenação oligopolisla,

. no plano operacional. As observaçÕts qU(' vimos de fazer $t' baseiam na ob·

servação da CSlnllura tconômic-a nOtl('·americana, }'Iuito

menos informação dispomos acerta das formas que estão

assumindo os olig0p6lios no espaço l'Conômico, mais he­

terosê'nco, ('m processo de unificação no cemro da ccono­

mia capiralista. Sabemos, sim, ljUC os r('(ursos financeiros postos ii disposição das grandes emp~ crt'sceram consi­

deravelmente, que os sistemas bancários rucionais euro­pc-us passaram por um rápido e drástico processo de

retSlruturação em base regional e que o sim'ma bancario

nOrle-americano se rxpandiu internacionalmente de for­ma v('f(iginosa. Também sabemos que as grandes ~mpre -

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sas operam im~rnacionalnl~nte atravk de centros de d«i­silo que escapam. em grande medida, ao controle dos go­

\'ernos nacionais dos mIX-cti\'os paíst:S. A c\'olução e5tnl[Ural dos países cinrricos reria ne­

cessarianle!He de repc:rcut ir nas relações e<:onômicas in­(('rnacionais. Neste te rr~no, mais qut' t'ffi qualqlll' f OUtro, ;I graudt' t'mpn:sa k'va Vantagem. Com efeito, somente ela está em cond ições de administrar recursos aplicados si­multaneamenté cm di , 'crsos países, É natllral, pon:llltO, que as amigas uansaçôes internacionais, organiudas por intermediários- que t'Sf*'ula\'am com esroques ou ioga­vam Ilas bolsas de m~rcador i (l5, \'enham sendo progressi­vamente substituídas por transações entre empresas per­tenCellrl'S li um grupo, cuj~s :lCivjdades estão articuladas. A mroi.:ia que a~ atividadl'S «onÔmic-.lS forantseodo or­ganizadas dentro dos pafst'S cêntricos para JX"rmit i, um planejamento das atividades das empresas a mais longo

prozo, impôs-se li necessidade tle também planej:lf :'ls rrun­saçõcs illternacionais mediante contraros dt suprimellfO a longo prn:,w. instalação d,' subsidiárias ou ouml.S formas

<k' anicuJação. Operandn simu ltaneamente em vários países e rt"Jli­

zanclo lransaçõcs internacionais enHe membros de um mesmo grupo, as grandes emprt'sas tenderam a desenvol· ver sofisricadas técnicas de admillistraç-Jo de preços, que eXigem na prá.tica uma grande d isciplina d~l1 tru (los

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oligop6lios. o mt"Smo produto pode Sotr vendido:ll prt~ diyenos cm \':i rias paísc:s, indcpcndenemt'11te dos custOS

locais tk produçao. c: as preços pnlticados nas rransaÇÕt"S

internacionais dentro de um mesmo grupo slo fixados ren­do cm COnta. as diversidades de: políticas fiscais, as proble­m:u cambiais t tC. Essas rk"nica.s são pnttiC"3das no quadro dos oligop6lios. pOTlanro não devem de$Org;1.ni~r os mer­cados ncm impwir o crescimento (lcslC"$. O intcrt.'ssc par­ticular que apresenta o seu e-studo reside em que elas per­

mirem. e ntrever a vcrdadeira significaçào da gran.dt" (.'lIlp reu dentro da economia capi talista mocle-rna.

O traço mais C"3ractcríst icodo capitalismo na sua fase

c\'olutiva atual está em que ele prescinde de: um Estado, Illlcional ou multinacional, (om a Ilrt'tcnsão de estabde­

CCI critérios de- illf("-lJt gm~1 discipl inadores do coujumo du ali \'i\b.des eronôm icas. Não que os Estados $C prcocu­pt'm menos, hoje em dia, com o interc:sS(" colc-tivo. À medi­

da que a.s economias ganharam em estabilidade. li açAo do EStado no plllno social pôde ampliar-se. M:l$, como !anto

a ('Stabilidade quanto a expans.'lo dess:ls cconomills depen.­dem fundamentalmente das t ransaçoo intt' rnacionais e

estaS estào sob o controle- das g randes cmprt"S."l$, as rd3-ç«s dos Estados nacionais com estas últimas u:nde-ram a

ser rdaçcks de poder. Em primeiro lugar, a gnmdt"" empre­

sa controla 3 ino,'3Çio - a introduçào de novos processos e novos produtos - dent ro das economias nacionais, cer-

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lamente- o prmcipal instrumento de expando internacio­

nal; em segundo lugar. das .sào ~ponsávels por grande pane das ttllns:tções in terrucion:m e det2m prAticamente ~ imci:iIIIV'.1 nf"Sse tt"rITOO; em terC"tiro lugu, operam inter­

n1Klonalmente sob oncntaçJo que escapa em grande parte i:! lIÇ"lo isol3da de qual<.Jue- r governo; e, cm qUartO, nan­Itm uma grande liqllldt"~ (ora do comrole dos 1»ncos cen­trai, e- têm (:icil acesso ao rnucado financeiro imernacional.

O <Iue dissemos no parngrafo anterior de-ve se- r en­tt"ndido nilocomode<línio da atividade polÍtica, {IUS (orno transform3{ào das funções dos Estados e emergência de nova forma de ofganiução poIíUC'A, cujo perfi! ainda se f"Sti <kfi nindo. Não $C Ik"cessita mui ,a perspicácia para

perceberqut", a partir do segundo connilo mWldial, o sis; tema Cápitalista operou com unidade de comando políti­co. apoiado e-m um sisrcm:l unificado de scgurnnça. À exi.s­Iê-ncia dessa re lativa unidade- de comando político se deve a rápida recons<ruçào das economias da Europa ocidental e do]apllo. o processo de "descolonização", a organi:t.açio

do Mercado Comum Europeu, a açào pen;istente do GATT visando 110 d<:sarmamemo tarirário, os gtllndt"S movimen­tOS (Ie capua! que permitiram il.s grandes empresas adqui­nr a pr«minência internacional, a 3ceitaÇio do padrão­

dólar como substüuto do antigo padrão-ouro. A d ificul­dade para entender ~se processo está cm que o raciocínio .lJlalógico muitO pouco (I()S ajuJlI. nem" caso. É perfeira-

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mente claro que a rutela política norte-americana (oi um ruuhado ~na(Ural- do último conflitO mundial. Que o maior sacrifício humano t Konômico neS5(' confli to haja cabido 1 UnIão Soyiélica e que II dtslmição do poder mi­litar c polílico da Alemanha e do Japão haja ~('jciado os Estados Unidos dentro do Clmpo C'''pitalista são dados da história que devemos aceitar como tais. O que- ifl teru-5.'\ lISsin;.lar é que, cstabelrcida a prct'mÃnência política nort(' -anleriona, criafllm-se condiçõcs !XIra que st dessem profundas modificaçiXs estruturais no sistema capitalista. Não se pode afirmar que tssas moditicaçíXs hajam sido descjJdas t: muito menos planejadas pelos centros políti­cos ou l'Conômicos dos Estados Unidos. A "erdade r: que delas resuhou um crcscimenlo eronômico muito mais in­tenso e um:!. elevação d(' nív('is de vida rdativamenu· mui­tO major na Europa ocidental (' no Jap;10. Aparentemente, os no(t('-ameriamo~ superesTimaram a '~Jntagcm relativa que já haviam obtido no campo econôm;Cn. ou superesri­mamm as Ilmeaças de subvrrsão social e a C'Jp3cidaclc da União Soviética para ampliar a sua esrem dr influência. Em todo caso, eles organizaram um sistema de segurança abrangente do conjuntn do mundo rnpi n!.l ista e por essa forma exerceram uma ('(('(iva tutda polírica sobre OS Ena­dos nacionais que' formam esse mundo.

É possí,'e1 que a tUlela política norte-americana haja sido facilmente aceita pelo (ato de que. no plano econ.ô-

mIco. ela não se ligou a um projeto definido em lermos dI' .ntert'SStS norte-americanos: (oi apresencada como um ins­trumento de cHesa da -ciyiJizaçio ocidental -, o qLK', para rins práticos, confundia-st em grllOde medida com a de(e­$a do sisrema capitalista. Cri.9u·$C". 3ssim, uma superes­lruml"ll política I'm ní\'e! muilO aho, com a missão pnnCl­pai de desobstruir o terreno ali omk' os resíduos dos antigos Estados nacionais persistiam ('m criar barreiras enm os IXlíscs. A reconsrmçio estrutural operou-se a l'arti rdaeco­nomia incernacional. No plano interno, os Estados nacio­nais ampliaram a sua atu:lçio para re<:onsuui( as in(,:a­estrutu ras, modernizar as inst ituiçõts, intensificar 1-capital ização. ampliar a força de trabalho t'tc. Tudo isso contribuiu, evidentemente, parJ reforçar a posiçio das S.(lIndes empresas dentro de cada país. Mas foi a ação no platw> internacional, promovida pela superestrutura polí­tica, qur abriu a porta às tnmslormaçt'.oes de fundo, tra:.:en­do as grandes emprt'sas para uma posição de podrr ~'iJ.J­r/is dos Estados nacionais.

A reunificação do Wltro do sistema capitalista cons­titui, possive!mentt'. a mais impt)f(:&ntt' conS('(jüência do segundo confl ito mundial. Esse centro $C" aprestnca, hoje t'm dia. como um conjun.to de cerca de SOO mIlhões dr pts~s. O scu <juadro político consiste num rcgjme de tutela, sob conuolt' notle-ame-ricano, dentro do qual os Estados nacionais 8o~am, ainda que' em graus di"t'"rsos, dr

II

Page 17: O Mito Do Desenvolvimento Economico

considcrn"d autOnomia. Nada p.1T«"e impedi r quc a ('$­

!futura su!X'ôor de pcxIcr evolua numa ou nouera clireção, stja para reforçar ainda mais a posição none--amcricana. seja para adm itir uma certa part icipação de out ros Esta­dos nacionais. l iambfm não st' exclui a hipótese de que um d<· terJJlinado Esrado nacional procure aumemar a sua autonomia. O problema principal quc se coloca neste úl­timo caso t de relaçõcs com as grandes empresas. Em pri­meiro lugar, lU g r-.mdes empresas do próprio país, as quais já não poderão operar com a mesma flt:x ibilidade dcncro dos oligopólios internacionais e, muito provavelmenrt'. pt.' rderão terreno para as suas rivais ou passarão, parcial­mente. para o controle de uma subsidiária localizada cm

omro país. O produto bruw do l·cntrO do sistema capiralisca

sup<·ra·de mu iw , no começo dos anos 70. J ,5 rr ilhào de dólares. O accsso a tosse imenso lIlerc~do, caracterizado por (o(lsider3vel hom08cneidade nos padrôes de consumo, COlIsrit ui O privilégio supremo das grandes empresas. Den­tro desse vasto me-rcado, a chamada '·l,<onomia interna­

cional" consti tui o setor em mais rápida expansão e aquele em que- as grandes empres.1S go~m do máximo de liber­dade de ação. Toda ten tati va de compart imentação desse espaço da parle de qu::alqucr Estado nacional. mesmo os Estados Unidos, encontrar.l: resist2ncia decid ida das gran­des empresas. Por outro lado, roda {('mativa de ("(lmpar-

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:,menraçiio r~dm.irá o ritmo da acumulação e da expansão -; :onômica no conjunto do sist/,.°ma e mais particu larmen­::- no subsistema que ha ja (Ornado a ini ciativa de isol ar-se. :i. menos que p retenda modif'ienr o estilo de vida de sua ;opu lação e, de alguma forma, perder cm gmnde parte as v.t.nragens que significa integ rar o celH ro do sistema capi­: .>lisra, qualquer país, independelltemente de seu tama­:1 ho. tcd de conviver com as grandes empresas, di rigidas :::!c dentro ou de fora de suas fronteiras, respeitando a Jutonomia de que necessitam para jntegrar oLigopóJios InternaCiOnaiS.

No correr do últ imo quarro de século, o produto bru ­,0 do ccorro do sistema capital ista mais que triplicou, e as =elaçôes comcn.:iai s eOtrt" as economias nacionais que for· :nam esse con junto cresceram com vt::l()(·idade ainda mai ­

or. Esse crescimento se fez em g rande parte no sentido de maior homogene ização. declinando relat ivamem{' os Es~

rad os Unidos e aum emando com excepcio nal imensidade

J renda per capita d aque les países em que esta cra relativa­

me nte baixa, como o Japão e a Irál ia . Mas, se ~ verdade

que o crescimento nos Estados Unidos foi relativamente

lemo, também o é que foram as grandes em presas nortc:~

~mcricanas as que mais se expandiram no plano internacio­

nal. Essa expansão, na m aioria dos casos, não assumiu r­forma de increm ento das transaç<"";es comerciais d os Esta­

dos Unidos com os países em que operam as subsidiárias

Page 18: O Mito Do Desenvolvimento Economico

dI.' SU.iS grandes empresas. As empresas none-americanas

er3m 15 que estavam mais bem preparadas para explorar as novas possibilidad('S criadas pelas reformas estruturais

ocorridas no sistl.'ma capiraHsta nesse pt"ríodo, S('ja em ra­;t:ão do maior poder financei ro de que gozavam, seja por causa do avanço tecnológico que ha\'iam ganho em cam­

pos fundamentais. Mas, ao evoluir o c~OIro do sistema capital ista no sentido de m~ior homogeneização, 1S con­

se-qiil'ncias na ('conomia narre-americana !lia se fizera m esperar. O mais rápido crescimento da p rodutividade fO .... .1

dos Estados Unidos provocou um:!. dt:sloc3ção da balança

comercial desse país, que tendeu a ser im-adido por im­

!l0n açõcs provenientes das out ras nações industriais. Sen­do o dólar uma moeda ··reserva·', o resulmdo foi o endivida­

mento a curto prazo dos Estados Unidos numa escala que ate: emão parecera inconcebivel. Ess,'l siruaçio provocou

duas cons(-qi.iências importan tes. de natu reza di v{'rsa. A primeira consist iu na formação de uma mass,,\ de liquidez que facil itaria o rápido clescllvolvimemo do mercado fi­

nanceiro internacional, ampliando IISsi m o grau de (iber·

dade de- ação das grandes empresas. A segunda foi o r('(o­nheciméTltO de que o siStema monelário internacional amai

se baseia no dólar e não no ouro. O tilto de que a emissão

de dólar S{'ja privilég io do gOVl.""rno dos Estados Un idos constitui prova irrefutá\'e1 de que esse país exerce com

exclusividade a tutela do conjunto do si${ema capital ista

J! possível qUt: essa tutda. no fumro , seja panilhada com Outros países, su.bsliluindo-se o dólar por umll moeda dE.' conta caucionada por um conjunto de: bancos celllJ1lis. Poder emitir moeda de curso forçado internacional. indt:­pendentemente da própria situa~"ào J(" balam;2 de paga· memos. é privilég io rc-al . Comprt."C"nde·.5C. portal\fo, que 05 norte-amt:ricanos se empl:n h,·m cm nào aoondoná·!o. O rt'"gime de paricladescambiai$ fi xas. prolongado por ramo (empo. fund ava-se na hipótese otimisra de que o di(eren­cial de produtividade enrrt os Estados Unidos e as demais C"<onomias industr ialiu das se lruntt·ria. FOr:! dessa hipó­tese, de somente $t' ria opt'ucional num mundo em que as relações éConômjcas illlt:rnacionais crI'SC(!"S5(:m lentamen­te' ou se apoiaSSem cm atividadt'S em que as vantagens comparnrivas se fundas$em em (enBm('nos naturnis. O ah.~ndono {Ia con\'ersibi lidadl' do (16lar em ouro e da fix i­dez das p.1ridades cambiais t'rml: as principais moedas sig­nifica quc· o dólar se rt":msfU(/ilO\L em cemro de gravidade do sistema de fonna expl(Ci ta..

Fizemos (efe(êncJa ao (.1tO de que as subsidiárias das grandes empresas norte-americanas que operam nos dem:ti s palses do u mro capi tal ista têm crescido com in­tensidade maior do que suas ma.triles. Aprovcitando-se de condições favorh'l'Ís que oferecem esses países e de

• ouuas ainda mais \·antajow que encontrnm na periferia do sistema capitalis ta, essas subsidiárias S(' I:xpandC'm r;J -

39

Page 19: O Mito Do Desenvolvimento Economico

pidamenre t" tendem a cria r rdações :Issi métricas com a metrópole. Por outro lado, durante o longo período das paridades fixas , t'mpresas de Outros países indusuiais em qu~ a produrividade crescia rapidamente. part icularmente o Japão e a República Feder.al da Alemanha. implanta­ram -se solidamente no m~rcado ~Ione-americano. Criou­se, assim. uma situaçio estrutural pela qual as importa­ções tendem a crt'SCt'r mais. fOrtemt'fHe do que as expor­rações. Enfrtntar essa situação com simples medidas cam­biais significa elevar ptriodicameotc 0$ pr~os das im­pímaçõcs indispensáveis t' abrir a porta à deg radação dos termos ele intercâmbio. Dessa rorma. o êxi to considerá­vel das empresas IIOr!~ -america llas 11 0 eXH:rior tem a sua contnlpartjda de problemas paT'.t OUtrOS sctores da eco­nomia. À medida que as fendências rereridas se agravam e prolongam , vai su rgindo uma área de rricção entre as grandes emprt."SllS e OUt ros serores da sociedade- norte­americana . É di(J'cil especular sobre a evolução de um p.rocesso tão complexo como esse, mas não s(: pode ex­cluir a hipótese de que eI~ tenha importantes consc-qü­Eneias na estrutllraçao política do mundo capi ta lista. Se o processo de rri cção st" agrava, ~ possível que su rja uma tendência a direrenciar mais claramente o sistema de tu ­teia política do mundo capitalistll dos interesses mais especificos do EStado nacional n.o(tc-arnerjcano. J\ pre­sente crise política polarizada no caso do Watergate, pela

40

qual o poder legislativo prOCLL(a rrcuperat parte das atri­buições constitucionais que lhe foram subtraídas pe lo poder executivo no correr dos últimos anos, pode consti ­tuir O prcllldio de importantes reajustamentos no plano polít ico-institucional. O reforço do poder legis lativo impJicará. muitO provavelmente. maior mobilização dos intéres~s que confl i(3m com as grandes empresas, ao mesmo tempo em que poderá reduzir ii cap:lcidade do governo dos Estados Unidos para exercer a tUlela inter­nacional. Nesta hipótesc, é perfei tamente possí"eI que o sistema de tutela se reestruture em baStl mais "interna­cionais··.

Nota;

I. Os aUlorn de Tw Il/tlllI TO 8~nh ~ e~pJfc i!OI sob~ a metodolosi~ :klorada: "A ba$e do [~{odu, dil~n\, é o reconh"'lm<:nlo do filIO de que a mrxt!<''' de um si ~l ema - as móhll'!;lS rel;lÇÔn circulares. imcrronrc­[-'<ias com i mero~lo de Itmpo. qlK" e~l$lem entre $tUS componemcs­i frtqikn termme lao IrnlJOnantt n:a dtletmmaçlo <k $tU comporla­ll'Il"llIO quaolo o ~ os compotlfOtcs l00i\">duars dcs Il1f'Smos. - (op. Cll ••

p. ~ I I. E ~emam mlll a<:hanu.·: " ... um elt'\·" 1o 8f'1U de agreg~ ~ ~rio Mte (lOOIO ptl':l fucr o muddo complNnsi\ocl ... F'(lflreitlS nad on;tj, nlo ~ ridas em conta. Desigualdades n~ disuibUlçil.o de ah­mentoS. dos ret'II(1OI t do Cllmal C'$do inclufdas imphcit:U1Xmc "V' dadoc, mas nio são coJcubd:u ~ic; r~re nem mosr radu na p!OCiu­

~'. (p. !J.t).

Page 20: O Mito Do Desenvolvimento Economico

2 Thi !:lIIm " VW·tI). 01'. COI •• p . 109. :'I. Sob"" aopncifici<bde di indusuialruçkl ... fard~ na Eu"'r;,. pml­

cubrrn.ntt 00 quo: ,.....,..ila ...... '""pc'Cu:" in" n ucion;o ... '~ )~'$t II 1 !"aN­lko dilliclI de A. G. l"$t hcnkroo, E"' IH#I,r lu(tll- ,mln.,s lN J," _ N"I ptnp"(/,,.. Úmb",Jgt. ,\b$$ .• 1966. prl"olp<lllfl<'nt. 11<1$ pdg",;u ' . )0. Vejam· S<' t:>mbt'm ll. GiB •. "Ba"ki ng and 1",lu<!ri3Ii~alllln in 1:1,1'''1*. 1870-1914". <.' II . SuI,!'I., "''''ostat<.' and lhe Indu:\uial t('wlul iOI1, I 700-1914", em Til. ,"JIJJU" '! ,.c 'OfM,ioll d"i,gido ('o r Cario M. a.ipol l~. 3" ",Iunlot Jc TIx FINI"'~ 1(l1li" '11" . bw~") t{ f.""f'<, Lon­drn, 1973.

.2

3

AS GRANDES EMPRESAS N AS NOVAS RELAÇÕES CENTRO-PERIFERIA

As modificaçocs est runmlis ocorriJas 00 centro, :'I

que fize mos referência, devem ser tidas em con ta cm qual­quer tentativa de identificação das tend2-11cias evolutivas lltuais do conjunto do sistema capitalisla. Em priroeiro lugar, ~ nl:(essário ler em conta que o processo de unillca­ção abri u caminho a uma COllsideci\"d intensiticação do cresci m{'nco no próp'rio cencro, Com efeito. a taxa média de crescimento do bloco de países que formam o centro m:li .~ que duplicou no correr do último quano de século, com rcsp"ito à taxa histórica de (tt>scimento desses mes· mos países. Em scgundo lugar, ampliou-se considcravd· mente o fosso q ue já separava o cemro da periferia do sis­lema, o que em grande parte é simples constqliência da inrensificaçiio do crescimento no Cf'llIro. Em tercciro lu­gar, as relações comerciais entre países cêntricos e I~rjfé­

ricos, mais ainda c.\o que tUtre países cfntricos, Inlllsfor­maram-se p rogrt"ssivamenre em opernçõcs internas das grandes empresas.

Não haveo<lo conhecido a f.'!St" de formação de um sistema e<:onômico nacional dorado de relati va aUtonomia

43

Page 21: O Mito Do Desenvolvimento Economico

- fase qut" permiriu integrar as estruturas internas c homogenei:r.aT a tecnologia -, as economias periféricas conhecem um proct"sso dI: agravação das disparidades in­

ternas à medida que se indust riali:t,lm g uiadas pela subs­tituiç-;io de importações. Fiztmos referrncia a esse fato, conscqüfncia inelutiÍwl da rentativa de reprodução em um país pobre das formas de vida de países que já akança­ram ní\'çis muito mais altos de' acumulação d<: c:.'piral.

On\, esse ti po de indusrrialilação, quc cm períodos ame­riores tropeçava em obstáculos considtráveis criados pela

falta de capi tais, pela dificuldade de acesso à tecnologia, pela pequenez do mercado interno, realiza-${" <1nmlmcmc

com extraordinária rapidez graças 11 cooperação dos oligop6lios internacionais. Utilizando tecnologia amorti­zada . algumas vezt'$ equipamelLCos já também amortiza­dos e mobilizando capital local. as ,grandes empresas cstiio cm condiçõcs de in~talar indústrias na maior p:!rte dos países da iX'ri(eria, cm particular se ('s.~as indúStrias se in­tcgram parcialmentt' com at ividades de importaçào.

Sobra dizer qUI: a industrialização que illualmente.se realiza na periferia sob o controle das grandes empresas f: processo qualitativamente distinto da industrialização que, cm etapa anterior, con hecer,lIn os paíSl'$ cêntr icos e, ainda mais, da qm: nestes prossegue no presente. O dinamismo económico no ccnrro do sistcma de<'orre do fluxo de novos produtos c da eJ(>vação dos salários reais que pt'rmiu." a

expansão do consumo de massa. Em coneraste. o capitalis­

mo periférico engend ra o mimetismo cultural e requer

permanente concentração da renda a fim de que as mino­

rias possam reproduzir as formas de consumo dos países

ctntricos. Esse ponto é fundamental para (,) conhecimenw

da estrutura global do sistema capitalista. Enquanto no

C'Jpitalísmo cênuico a acumulação de capiral avançou no

correr do úlrimo século, com inegável estabilidade na re­

panição da renda, funcional como social, no capitalismo

periférico a industrialização wm provocando crescente

concent'~ção.

A evolução do sistema capiralista, no último q uarto

de século, caracterizou-se por um processo de homoge­

neilação e integração do centro, um disranciamento cres·

cente entre o cenrro e a periferia c uma ampliação consi­

derável do fosso que, dentro da periferia, separa lima

minoria privilegiada e as gmndes massas da popula~'ào.

Esses processos não são independentes uns dos outros: de­

vem ser considerados dentro de um mesmo quadro

evolurivo. A integração do cemro permitiu intensificar a

sua taxa de crescimento econômico. o que responde em

gmnde pane pela ampliação do fosso que o separa da peri-, feria. Por OUtro Jado, a intensidade do crescimemo no cen-

tro cond iciona a orientação da indusrrialização na )X'rife­

ria, pois as minorias privilegiadas desta última procuram

reproduzi r o estilo de vida do cencro. Em outras palavras:

45

,

Page 22: O Mito Do Desenvolvimento Economico

quanto mais intenso for O fluxo d~ novos produtos no <en·

trO (es.st' fluxo t funçio <resenlle da Tt'nda média), mais

r:ipida ~r-.i a <on<entnçio da renda na p!:(iferia. A im~ificaçio do <rescimento 00 <enrro decorre: d;l

ação de "ários fatom, sendo um dos m.1is importantt'S as economias de- I.'scala de produção permitidas prla crt'SCt"nte

homogl.'nei:açilo e uniticação dos ancisos mercudos nacio­

nais. Como a industrialização, que se ~liza concorniran­

tcO}('Iltt' na periferia, ap6ia-Sf" na substituição de Importa­

ções. no qu.1dro de pequenos mCf"C''wos, {: natural que os desnf,·cis de produtividade rendam a aum('ntar, e ades· continuidade" ~'strutural dentro do sistema apitalista, a ampliar-st-. Calx notar que o CreKl.'nt(' controle da ativida­

dl'l"Cor18mica no <entro pelas grandes e m prt-sas c a o rienta­

çio do progrt"SSO técnico para a produçio em massa tOrn:lm

ainda mais difícil , no q uadro do mp~ta l i5mo. a criação tar­

d ia de sistemas ccon8micos nacIOnais. EvidentenlC'nte, a si­tuaÇio ''aTia na periferia, entre paíSt'!, cm função da popula­

ção, da d isponibil idade de recu rsos naturais, do nível de renda amériormeme a lcançado. (lo dinamismo das expor­

tações trlld icion.1is, da capacidade exn:rml de cnd ividamento

etc. Em países de gnlndC' população, a simples eoneentr.l­ção dOi rffida pode permitir a formação de um mercado su­ficienternt-nte amplo e diversificado.

Q ue se pod~ dizer sobr~ as tendências evolutivllS das

rdaçÕ<.-s cntre o cent ro t :l ~riferia a p;1rtir do quadro

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!~ lrUlur:l.l que vimos de esbo)oir? F.izemos rdefineia ao ;Jco de que uma das aracterfsr icas dt-sSt" quadro f :l. eres,

't."nrr. inl~malizaçiodcmrod:l$ gra.ndes ('mprtsaS das rra.n­,4ÇOO eQl11erClais em re fl3im. Também observamos q~ :r.lnde parte das "óltividades IIldu)triais na periferia surgia .nrtl)mda com !luxos de import;:açio. ~ forma, uma :num;1 em l'r('$i\ <.:om rola unidades induSl riais em um p3ís :rntrico (ou em mais de um). cm v:trios países pcri(( (ieos

C' as rransaçt'ies comerciais enrre essas distintas unidad es produlivas. A situação t simll:H i. de uma emprf"Sa qur se Integra. ,·ertialment(' dentro de um país: oper:l uma miw

dt." carrlo, uma siderurgi;a. unu f.i.bria de tubos ('te. Exis­

te, ('uuetamu. uma dift'rença importante decorren(e do t'ato dto ljue no p rimeiro nso as d istintas unidades pnxlu­ti,'u estio inseridas cm sisttmas monetários diversos: sur­

Se". portanto, o probltma de transformar uma mOC"da COl

OUlr:l , o que rcqut'"r encUUlrar OUlra empf("sa qu(' realize uma operaçio cqui,·aknte trn scm ido inverso, ou provo­

car essa operação dl.'mro da mesQla rmprC"Sa ou out r:!. do mC'Smo grupo. Tl'1ld ieionalmente, ~ssas opcraçôes de eom­ptnS:l{ão oSlo feitas pelos bancos. Comudo, dada a situaç-lo crr.íril"-a l-:lmbial e moncl1ria de mll itos p.,í~ JX'rif(ricos. uma gr.lndc empct'Sa quc oper-... imernacionalmeme pcxll' pnferi r criar. da ml'sma, os fluxos cOIl)penSlllórios. d I a"

brlC'Ceooo um sis tema dr pre-ços interno qur pt'rmita pla­

n<.-jar suas 3tividadC$ a mais longo prazo.

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Page 23: O Mito Do Desenvolvimento Economico

Tomemos. um caso qUê' não é típicu, m~s que déSCO­brc o funJo do problema. Imagi nemos urna em.presa pc_ trolí(cra opcraooo na Venezuela de ames das atuais com­plicaçé5n fiscais. Essa empresa produzia para o mercado interno uma CI:rta quantidade de petróleo. cujos preços podiam ser mais ou menos manipulados de tOrm:! a per­mi t ir que da obti vrsst' a quantidade de moeda local ne­cessária P.11':\ cobd r todos os seus dispêndios. locai s. Uma pam' da produção St'ria exponaua par;t pagar os insumos imporNdos, inclusive a de-precjnçào do capital. O restO da produção (de longe a maior partd seria exponada r corresponderia ao lucro líquido do capital inv~t ido. Ncs­sa sicuaçào extrema, a empresa pode ignorar a existência de tax:tS de câmbio: se os custos cm moeda local aumen­tam. também aumenta o preço do pet róleo que ela ",:nde localmente. Considerrmos agorJ- o caso mais rt'31 de uma indúst ria de máquinas de costura, cujo produto ~ total­mente \'endido no mercado interno. A Tt.--cei ta das vendas. depois de cobertos os gastoS locais, é levada ao Banco Cen­traI para ser rr.msformada em dh'isas. a fi m de pagar OS insumos importados c remunerar o capital. Se O Banco ~ntr:al cria dificuldades na remessa de dividendos, a cm­presa poderoi ser temada a elevar arbitrariamente os custos dos insumos importados: materiais cspcciais, patentes, assisr~ncia técnica etc. Suponhamos que casos como eue st' multipliquem. surgindo de rodos os lados empn:-sas nessa

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silllaç-lo; aumentaria a pressIo sobre a balança de Ing .. -mentos e depreciar-se-ia persistentcmeme o câmbio dt, forma mais acentuada do que se estaria rlevando o nivel interno dos preços. Como o ClIJlital está cofltabilil3do em dólares, a rentabilidade Kl1t1ente poderia ser mantida se 0$

pftl;'OS de \'eoda da empresa crcsctSS-eJ7\ rt'la tj\'ameme, o que tenderia a fr~r a :ui\'Id:ule Hldusrrial. Imaginemos, al ternativamente, um QUlro cenário para a nossa indústria de máquinas de COSturJ. Suponhamos qw: o induStriai obrenha inremameme lima receita suficierm: para cobri r OS seus custOS em moe·da 100000I , indusi\'(' impostos e gas­tos financeiros locaIS; que em seguida exporte peças de m~uirw para a marrá ou OUtras subsidioirias, de forma a compensar os insumos que importa: e que, com o resto da capacid~de produtiva. desc-n\'o]va uma linha de produção par-J o mercado imernacional. obtendo uma r«eifa cm divisas para rem,unet .. r o capi tal. Por esta (orma, a c:mpre­$;I; consegue praticamente i50Jar-se do Sistema cambial do i»is da subsidiária. Como a empresa está interessada em exp.tndir-St", ela terá de prJ.ticar uma polírica de preços, tanto no mercado imerno corno no eXlt'mo, capaz de fo­m{'mu a \'enda do produ~o. Cont udo em cada plano de produção ela teci de distribuir SWt capacidade produti\'ll entre 05 dois mrrc2d05, tcndo em coma que, a partir d~ certo ní"d, a rt'Ceila em moeda 10Clll1 de\'(' sofrc-r o deságio da trJnsferincia cambial. Suponhamos qUC' a empresa II.

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mit<, as suas vendas no mercado interno ao necessário para cobri r os gaSTOS cm moeda local c que compense as impor­tações de insumos com w:ndas de peças dirt'las à matriz. Neste C3$O, o lucro bnuo corresponde às vendas no merca­do imernaciOl1al . Comparnndo esse lucro com o capital in­venido na subsid iária, a empresa obtém a taxa de rentabili­dade sem passar pelo sistema monetário do país da subsidiária. Se a mesma empresa realiza operações dessa natureu com várias subsidiárias, ê natu ral que indague que fatores (eSpoTJdem pelas diferenças de rentabil idade entre estas últimas. Admitindo-se que a tecnologia seja aproxi­madamente a mesma, os principais fato res caus:Ulres da di­ferença de rentabilidade serão: esca la de produção, econo­mias cx:ternas locais, o CUStO dos i,nsumos que não poc.1em ser importados e o dos impostos locais em (l'rmOS de pro­dum final. Os rrê~ primeiros fat'Ores estão csrfci tam('Il[C li­gados à dimensão do mercado interno. Desta forma, se ad­mitimos que o nível dos imposTOs é o mesmo, a rentabilidade relativa IYdSSa a depender da dimensão relati va do m('rcado interno e do custo da mão-de-obra em termos de produção final. Ora, o efei to posi tivo da dimensão do mercado tocoll tcnd{' a um pomo de saturação, o qual varia de ind(lstria para indúst ria. À medida que p'dm. determinada indústria esse ponto de s.1curação é alcdnç'ddo, o (atar fundamental passa a ser o CUStO da mão-de-obra em termos de proouto final vendido no mercado internacional.

Se observamos de ouno ânSulo o quadro que vimos de esboçar, vemos que a grande em presa, ao organi;t.'l.r um ;;istema produtivo que se estcnde do centro :\ periferi.a. consegue, na realidade. incorporar à ~onom j:1 do (entro os recursos d<.' mão-de-obJ1l oorJta da périferia. Com efei­to, uma g rande empresa que orienta 5<.' IIS investimentos para a periferia está em condiçõcs de aumentar sua capaci­dade competi t iva gmç'J.S à IItil ização <li: uma mlio-<lc-obra mais barata em termos dos produtos que lança no merca­do. A situação é sim ilar à das "mpl'{'sas qU(' utilizam imi­grantes temporários, pagando a estes salários muito mais baixos do que os que prevalecem no país. Imaginemos uma empresa americana que se situasse próxima da fron­tci ra com o México, mas em terr it6rio dos Estados Uni­dos. e mjJjzasse mão-de-obra mexicana paga em moeda mexicana segundo o nível dos salários do México. Esses trabalhadores continuariam a residir em seu país (atnwes­sando a fronteira di:uiamence) e a realizar os seus gllSws no Mêxico. Imag inemos, demais. que essa empresa expor­tasse para o México mer~-adorias no valor exaco dos gastOS que real i;:asse em pesos mexicanos. A 1(',gisJação wcial qu~ prevalece hoje em dia em praricamence todo o mundo impede esse tipo de "exploração" da mão-de-obra, mas se considera como normal que a mesma fábrica americana se insta le do I:ldo mexicano da fronceira , utilize mão-dC'-obra local acompanhando os salários locais e venda a sua pro-

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dUç20 nos Estados Unidos. Uma fórmula intermediária que vem sendo amplamente pr.Hicada consiste em atrair OS imigrJores n:mporácios e pagar-lhes salários superio­res aos qut' prevalecem cm seus países de origem , mas inferiores aos salários q ue seriam pagos aos Habalhado­res originários do país cêntrico. Em vários países da Eu­ropa ocidental. a mão-de-obra estrang{·ira, considerada como "(cmpodria'-, aproxima-se de I 0% da força de 1[3-

balho, alcançando, no caso da Suíça, um terço da mão­de-obnl não-espt"cia lizada.

Não existe estimuiva do volume dl' mão-de-obra barata uti lizada diret ameore nos países periféricos pelas grand,'s empresas na produção manufatureira que estas

' destinam ao mercado lntl'maÔonal. Mas, em razão dos CUSIOS crcscemes da mão-de-obra imigrame temporária, sob pressão dos sindicams locais e dos problemas sociais que se apresen.tam quando 3. massa de trabalhadores soci­almente desimeg'.Idos cresce além de certos limi[(.-s, é de' espernr que 3. utili.x.1~'io da mão-de-obra dircramenre na periferia tc.-nda a ser a solução preferida pelas grandes em­presas. Por outro lado. essa solução rende a rc.-(orçar a posi­ção d,-ssa$ empresas I:i$-à-I' is dos Estados nacionais. Em síntese; está configurando-se uma siruação que permita à grande empresa urili:tar récnica e capi tais do CCntro I: mão­dc-obra (e capital) da pt"riferia, aumentando consideravel­mente o seu poder de manobra, o que reforça a tendência

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já anreriormentt' wft'rid:1 ii ~inll:roac i on3I i zaçio" das 3ti­vKladcs econümil'as dentro do sislc.-ma capiralist1\.

Dissemos anrl.'fiormenreqlle fot:lm as arividades eco­nômi("";l.S inlrmacionais as qUl' mai~ rapi<lamente cres(e­t:lm, no último quarro de sécu lo, 00 cemoo do sim·ma capitalist:l. Ora , as [dações (Iue ~ tstão éSlal>elt.:clkio t'nt~ o centro t' a periferia no qU3.c lro <Ias grandrs empresas vêm dando origem II um novo tipo de- :1.[ ;\'j<bde internacional quc pode vir a cOfl.Slituir o st'gmenlo em mais cipida rx­p;tns.âo do conjunto do siSIt"m:t. Cabt- indagar se ê ad<:qua­do com inuar a chamar t":>liótS :11 ividades de .. i nternacionlis··. Quando o economista pells... rtn lermos de com~rcio in­trrnacional, tl'nJ rm visr:1 IflIn$..1ç(le.\ enl re unidadc-s ('(:0-nômicas integradas em distintas economias nacionais. O problema {: mt"no~ dc imohilidade de fatorrs, como dei­xam emender as formulaçôes dos primeiros economistas que leori:al.ram sobre essa maréria, do que de exisrênci3 de sistemas relativamente autônomos de CUStoS c: préÇos. Em outras pal:wras: a parti r do mom('oro em quc se: postula II existilncia de um sistema l""Conômico nacion:.l, dentro do qual os recursos produtivos posslLcm um ··c u.~to de opor­IUnidade~ dado pelo melhor uso <]ue deles ~e Ixxle fazer, a opção ('011"<.' produzir para o mercado iuterno o bem A ou produzir outro bem para o me[(:ldo externo e imporlar o bem A deve ter uma solução ótima. É evidente que, se se ITata de múltiplas opções, ("Stendendo·se em pt"rídos de

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[t'mpo di versos . com repercussões retroarivas um~l.S sobre

as .outras, o problema nunca poderá ser ;'Idequadamenre

equacionado e. muito menos, obt ida a sua solução. Mas

isso é diferente de dizer que li teoria e5rá "errada".

Ora, a part ir do momemo em que a cat\~soria "siste­

ma econômico nacional" não pode ser rida em coma, o

(e'Orema não poderá ser formulado. Voltem05 ao exemplo

da fáb rica de máquinas decosr!l.ra que k insrala num país da periferia c remunera o seu cap ita l com IXlrte da propria

produção que exporta. Neste caso, niio existe uma conera­

partida de importações, mas isso não invalida li teoria das

vamagens comparativas. As importações. no caso, esdo subst ituídas pelo fluxo de caJ;liral e tecnologia que marca a presença no ~ís da ,grande cmprCSll dirigida do exterior.

Tudo se passa como !.C () país pi:riférico, que d ispõe de um

estoque de mão-de-obra. tjvesse de optar entre: a) usar

part(o dessa mão-de-obra para produzir o bem X destinado

ao mercado externo. e poder assim pagar as máquinas de

cosrura importadas; 01.1 b) com parte dessa mão-ele-obra remunerar capir'JI e té<:nie-a do exterior que se instalam no

país e, em combinação com Outro conringl'nre de mão.de­

obrA, produzem atluelas mesmas máquinas decoslUta para o mercado inr(·m o. ESSt' f".lciocínio Sé"ria correto se o marco

de referência dentro do qual as decisões são tomadas cs(i­

vesse conStitUído pelo sistema cconômico nacional. Em

omras paJaVf"ds: caso a congruência das dccisões fosse esta-

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belecida imt'rn:lmellft', figurando o preço dos rccUNOS externos como simples parornet ro do problema. Ora. a (t'­alidadc parece ser fOcalmente {Iistinra. As decisãcs são w· madas pela gl'.nde c-rnprc-S3, parJ a qual o o.lS(O da mão· de-obra de um p~(5 periférico, em termos de um artigo que ela produz neSSE' país ~ comercializa no exterior, é um

si mplts dado. A grande ~mprcsa que exporta capital e técoica dos

Euados Unidos para o M€xiro e instala nesle país uma

f:ibrica cuja produç'lo se destina ao mercado norte-ameri­cano - havendo nos Estados Unidos ronsider:ivd desem­prego (o cusw social da mão-de-obra é zero) - tOma de­cisões a panir de um marco que supera II economia nortt'-afficricana considerada t'm sentido est rito. A gran_ de empre-sa que desvia rcCUfSOS financeiros de um país ~

riférico, porqu!:' os Sillários neste começam a subir. pam investi·los cm outrO ond!:' a mão·de-obra é mais barata ramJx:m está tOmando decisões a parrir d(' um marco mllis

amplo. O problema não se limiu, enrretamo. ao ~mbito csrrti lo das opções no uso de recursos cs.cassos concebidos absrmramenre. A \'('rdade é que a grande empresa t('m C0l110 dif{'rriz máxima expandir-se. e para isso ela rende a ocupar posições nas dis.l inlas áreas do sisrema capitalista. O s paí.se'S do Centro do sjslCI11a cuns!ilUtm. dt muito. as áreas mais importantes. r.tzio pela qual o c-sforço rec· nol6gico eSlâ principalmeme orjemado par.!. atuar nCSSt'S

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I",ísc:s. Os planos d~ produç'lo nos pa.íses periféricos (':SIão condicionados por ~ ori~maçio lecnológlCll. t os mer· cados int~nos desses países sio moldados à convmitncia da ação glob;al da tmpres.l.

Seria cquh'ocado deduzir das OOstf'\'açõcs acima qut as gnodN rmprrsas alUam fon dr qualquer malto de re· rerinci:l, o que implicaria nega(, senão ncion3hdade, ptlo mcOO$ eficiEnci:\ :tOcompomumntodrlu. Mas p.1ft"(C" fon ue dúvida quI.' esse cnmponamcnro, muilO rreqil('nlr. m('nlr, mnscendt de qualqucr marco cOrrt'SpondtJl lt :\ um si$le"ma ('(onómico nacional. Mais ainda: nos I»iSt"s pcri(frlcos,:\ CrtSCtlllt 3Ção dessas emprcsu lende :\ (riu esUUIUr.u t'Conômicas com tcsptito ti quaiS dificilrf\('nlC pode-sr pc-nSlr:l p:mir do conctilO de' mum:\ tconômico IIxional. O m~rco du g(llndts trnptts3S rende" a ser (ada \'("'~ mais OCOlljlUllodo sistema capitalista, marco em· qUt tJlglooo um univcrsn «onómico de grande htlcroge"OC'i­dade. cuja maior dcscontinuidade dcciva do (osso tXiSfcn­I\' (·mre O centro e a pcrifrria. Nl'Sse mundo dto grande" complrxidaJe, chdo dr fromtiras nacionais, com im('nsa variedóld(' de sim-mas monrdrios c fiSC:tis, onde pululam qU('rtlas políllcaslocaisqut'O(3$ionalmellle se prolonsam tm sutrras - ludo isso sob uma rOida frouxa e" pouco insliwoonaliuda -,:as granc:ks C"fTIprcw não podem prt· u .. oder mais do que a[(anç:u situações subócimas. Não obstante os irYl(/l50S rtCuoos que dt<lic:tm it oolençio de

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informações c.- os sofisticados meios que ulililam para da­botllr essas informações, conslruir complrxos moddos, si­mular cenários ('IC . , na pr:ítica dt'\'cm cOnle"ntar-se com regras SImples; o excepcional êxi tO de algumas ~ atribuí­do pelos cmninas da profissão i inluiçio de MholTX'flS ex­traordin:írios ~ , rt"pcrindo-~ assim uma \·elhalegenda cU hist6ria política.

A idéia, esposada por alguns eSludiosos da evoluçio IIt1.Jal do capitalismo, segundo a qual as economias cénrricas lendem a uma imtgração crt"scente tm âmbilO nacionaJ, diante a planificação illdi(Pfit 'd, ou à carteJização e" in­ttrptlK'll"'Jção dos gl"'Jndrs grupos com os órgãos do Esta­do, tem um elememo de v("rdade, mas deiu de lado o rssencial da e\'Olução do capitalismo no último quarto de século. t (or.a de dú\·ida que. nos últimos trésdecênios, as l'Conomias capitalistas industrializadas vêm operando com um gmu de coordenação im("roa muito superior ao que­ames se considerava compatível com lima Konomia de mel"Glclo. Essa coordenação, de inspimçiio keynesiana, cons· titu i rssencial mente \1m3 conqu ista de ripo social: grolÇas a ela, os C\lSCOS humanos c sociais de operação das econo· mias capitalistas foram consideravelmente reduzidos. Tam­bém é prov:h-cI que essa maior coorclenaçio haja repercu­cido dr (orma posiri\'3 nas caxas de crescimento (ef('remes a prazos médios e longos. Mas isso é apenas uma hip6resc. Pouca dúvida exisce, enrre(3.IHO, <1e que 3. elevação das la-

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xas de crcscim~lHo esd ligada às econom ias de cscal, imcnso intercâmbio tel'nol6gico e ao movimento de c

tais qu~ acompan haram o p rocesso de integração das,

nomias cênt ricas. Sem o esforço si mu lt~nco de maior

ordenaçao interna, a nível nacional, a expansão im el

cional sob a égide das grandes empresas ceria, rnuiw I vave!mente, provQC;jdo desajustes locais. maior conc

tração geográfica da atividade «onômic.l e. possi \'el m te, reaçôes no plano político que quiçá viesse m a rcra!·

o p rocesso de integnu .. 'ào cêm rica. É sabido, por exemt= que o (orte d inamismo do seter externo dá origem a II

sôes internas (Jut" seriam pa n icu larmeme g ra \'cs se cs

economias não houvessem desenvolvido técn icas tão! fl st icadas de coordenação a n ível i . .nrt"(no. Dessa fom

também se pod e afi rmar que esse avanço da coordcnaç a nível in terno, ace lerou a iurtg ração a nível imernaci

nal. Em sínrcsc: a ação d os Esrados naciona is, no cem

d o sistema, ampl iou·$c cm determ inadas d i rcçõcs para a

segurar a esraç. il idade interna, Sem .\ q ual as fricções r p lano internacional sedam inevitávcts; m as, por Outro lad,

modificou·sc quali tat ivamen te,;\ fi m de adaprar·sc à an

ação das g randes empres.'\s estrut uradas cm oligop6lio:. q ue têm a inicia tiva no plano r<.-cnoJÓ8 ico e siio o verda

d ei ro elemento motor no plano internacional.

As complexas (elaçÔE's q ue existem cntrt' os gover

nos dos pafses cêm ricos. isoladamente ou em subgrupo

,.

(os "dez mais ricos", :l Comunidade' Eronômica Européi;J. Ctc.). eorre t$St$ go\'ernos e' as grandes empresas (t$IU.

em C3.SO$ P"luiculal'C'S, aluando coordt'nadame'nt~), entre des e as mSlHuiçÕl'S imernacionais (C"5taS, quase sempre' sob o col1ttQlC' do govC'rno nont'4mcricano), fiNlll11("me emrt é!es t' o próprIO go\'emo dos Estados Unidos. ruja posiçJo htgetnônlca em pomos pmiculare5 i muitas \ 'C·

zt'S concest;l({a - loeh essa rede de rdaçÔC"5 dificilmenrt pode se-r percebida com dareu. Não somente porque (ai· tam esllldos monogr:lficos sobft mUItos de SctIS aspectOS (und3menran, mu. principalmente. pol'<lue ela euá e'm processo de C'Sfnl[tlf3çiO. " cxperie-ncia tem demonstrado quc a margem de manobra dc que gozam os Estados p<lrn alwr no plano t'CoI'IÔmicoé ft llllivamel1tc C'St~ira. ~ uma C'conomia sofre uma dcslocõlç'lo, as preSSÕC$ C'x,te rnas para que o respectivo govrrno adOI~ certas medidas pode ser cOl1sj(lcrável. Essas pressOCs s:'io exercidas por outrOS ga-. vemos, por insti tuições imt'rn:lciouais c dirctameme pc. I:IS AP'JJldcs empresas. Cabe rderir que eStas últimas dis,­põtm de \1m;! massa de I'C'cursos líquidos bem superior ao conjunto das re~e r\';I.S dos b.aneos centrais. A si tuação do governo dos Estados Unidos é certamente csptdal, entn; multll~ mlÕeS pejo (ato de que cmitl' li mO<.~a tjlle cons(i· tui a bm do sistema monetário internacional. Contudo a rxperi&ncill de 1912 pôs em e"idêJKia que ° sovemo des· se plís n~o se pode lançar numa polít ica de ~plenoempre·

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go" descuf"'Jnuo-sc das repí'rcuss&:s na balança dI: paga­

nu"mos. St o endividamento externo a cuno pra7.O passa de cerca cO[a crítica. as grnndC'S empresas podem exercer

uma pressão sobre o dólar capaz de obrigar o governo nor­t~-am {'ri(ano a ter de escol hrr entre desvalorizar a moeda

ou mudar o rumo da políl ica in.terna.

Qualquer <..'Specula{ào sobre a evolução. nos próxi­mos anos, da T( .. de de relações <[U!: forma a nova superes­

trutura do sistema capital is ta em processo de unificação tem vator est ritamente o:plorarório. Duas linhas gc:rnis parecem dt'i'ini{-se: por um lado, o procC'Sso dI: integração

teode a reforçar as grandes empll."Sas, por outro, a necessi­dade de assegurar estabil idade. em âmbito interno de cada subsistema nacional. requer crcs.ceme efi ciência e sofisti"

c .. ç:io na açio dos Estados. A si tuação corrl:nte hoje em dia é de aliança entre g randes empresas com os govern.os res­

pectivos para obter vanragells intNllllS e externas .. Mas lam­bém se obsl:' rva a açiio conjunta de empr("sas originárias dI:' paíst's discinroo visando a f."lzer preSSiio sobr~ os governos, inclusive o próprio. A experiência tem demOllslrado que

o conerole do capital de uma grande empresa por um go­verno n3.o afela necf"SSariamenre de forma substan.cia ! seu

mm.porramemo n<.'Ssa matt:ria. As emprCS3S. por maiores que se-jam, são organ izações rdarivamence simples no que respeirll aos seus objecivos. Sendo altamente burocrat iza­

das, elas possuem grande coerência interna, o que facilita

e requer a clareza de objerivos. O Estado, numa sociedade de classes e onde grupos concorrentes competem e quase $("mpr~ se dividem de alguma fo rma o poder, conSlitui

uma instituição muito mais complexa, de objeri\'os me­

nos dctinidos e cambiames, portamo, menos linear em sua evolução. Não há dúvida de que ~I.S grandes empresas

enfeixam um considernvel poder no p lano social. pois con­

trolam as formas de invenç-jo mais poderosas. que sãoaque­las fundadas na técnica e no controle do aparelho de pro­

dução. Mas quando a sociedade, ou St'g mencos desta, reage à asfixia criada pelo uso desse poder, as ondas que $(" le­

vamam rép<'(CUtem nas estruturas do Estado, de onde oca­sionalmente partem iniciat ivas corretivas. Pode-se admi­

tir a hipótcse de q ue a própria expansão internacional das grandes empresas favoreça a liberação d o Estado da tutela

que elas hoje exercem nos seus respeni\'os países. Em ou­tras palavras: ii medida que se apóie imernacionalmenre

para ampliar o scu poder, a grande empresa possivelmente enCOntrará mais dificuld3cle para assumir o mando, co­

bri r-se com o mamo do "i nteresse nacional"' dentro do próprio país. Haveria uma provindaniz.açio dos Estados,

mas uma represcmari vidade mais efetiva dos distimos seS­m~ntos da socie<bde civil m paciul.ria o poder políl ico para

eX("Tcrr o papel diretor da vida social qu(" S(" faz cada vez mais Ol'Ct'$sário" Se a evoluçlo se realiza nessa dirt(ão, é de

admitir q ue surjam tensões eoere Estados nacionais e gran-

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des empresas, ou ,gmpos de grandes empres.'\S. tensões es­sas que passarão a ser imporrante (Mor nas transformações do siStema em seu conjunto: el:u poder:io :\gr-.war-st: e abrir brechas C'ap3:t.es de acarretar muraçõcs qualitati vas rcorien­fadoms de todo o p rocesso I:voluti"o; mas também pode­rão prOvocar rcaçõc:'s no pla no da sUpE'resrrurul"".l nuelar, levando a uma maior ill stirucionali),~'l\olo desta e à consti­tuição de órgãos docados de poder coercitivo, cujo objeti­vo seria preserva r a integ ridade do sistema.

O que se disse no parágrafo ante rior siio simples conjecturas ~ugeridas pela obsel'V'.tção de c('rras tendên · cias da e, 'olução ('stmtural do siStema capitali~(a. Não pre­tendem sig nificm que a~ lutas de classes scr-Jo atenuadas e muito menos que tiS(' Estado, scmi provindaniz.'ldo. mas ainda assim um Estado responsável pela eStabi lidade de uma sociedade de classes, sem o simples administrudor de um consenso que pE'rrnc.-aria toda 3. "ida S()(.·ial. .É possí"cl q ue as c/asses naoo lhadoras v"nham a ter um pt'So crt'S· cl.'nre na orjentação de um Estado q ue devt' t'mender-sc com o sistema de g randes empresas a parti r de posiçõcs de força . Nesta hipótcse, $Ceia de admitir qUI: a evolução das classes trabalhadoras se faça no sentido de crescellle iden ­tificação com as sociooades nacionais a que pertencem, ou melhor, COI11 um projeto de dcscnllolvimenro social que pode ser monirorado a pareir do Estado de cujos ccmros de Occisão parricipam. Não significa isso ncct-SSariamt'nte

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-jue tendam para um '/(láOll(dilmo, c sim que suas preocu­pações [endrriam a focaliza r-se no plano da ação política sobr" o qual terão crescente influt:ncia. ParalclamC' nte , o peso crescente dos grupos di rigentes das grandes empre­sas na classe capital ista não padeci deixar de influenciar a \·isão que· esta tem do mundo. no sentido do diptlJJt»Itt11

do quadro nacional. O sen tir-se membro de uma "classe inrernl\Cional ", que hoje é carac{crística dos quadros su­periores da burocracia das grandes empresas, renderia a ser uma atitude gC'nerali zada das ca madas superiores da classe Clpitalista. A distância ent re 11 atitude ideológica dessas camadas e a classe dos pt.'QlIcnos capitalistas ainda não presos na rede de subconrrat isra5 das ,g randes empre­sas tenderia a am]>Jiar-se. A pequena empresa local, ames apresentada como anacronismo de al to CUSlO social, passa a Sef deft'ndida como parte de uma paisagem cultural ameaçada. Ente(' o poujtldism~ e a defesa da qual idade de vida existe lima imporraOle evolução com repercussão na relação de forças entre as classes sociais.

O papel da supcrt'strutura [m cbr do sistema capita­lista não se li mita a promover fi ideologia da integração e a, ocasionalmente, :ubitrur em conflitos regionais. Essa supcresttutur.t tem uma história. que está essencialm,eme ligadi ii ddimitação das frome;ras do siStema. Pode-se admitir, no plano da conje-ctul"".t, que as economias capita­listas cêmricas sempre tenderiam, em um:! fase de sua his-

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16ria, a um processo ct' integraçio, Mas não há dlÍ"ida de <Iut a rapjdet com que a\':lf1çou essa inlcgnçiu no último qumo de skulo e a forma 'IU(' tia assumiu l'SI ~O dirtla­mente ligadas à exj~l&1cia de um grupo de países nào ca­pitalistas, considerJd()$ (omo amt':lça externa e interna para o sistema capitalista pclos grupos dirig<-mes deste. !). rá­pida e entusiástica ;lecitação pelos gr:upos ca!?j talist~ di­rigentl'S, na Alemanha e no Japão, da liderança norte­ame(ieana não seria fácil oe txpliur sem o clima psicológico criado pela guma fria. A mobilização psico­lógica foi essencial para delimitar a (ronteirA, mas ti coo­solidação desta r('(lucreu nrgociar com o adversário um conjunto de regras de compommento. Calx 11 superes­tnlrun tutdar a função dl' velar pcla integridaclt das {ron­teioo e de ('mender-se com o adversário em qualquer mo­mentO cm que problemas de solução pendente ou novos ameaçam tScap3r do controle mÚllIo. À Olt'dida que se acordou um sistema básico de comunicação e que os imt­r<'SSeS fundamentais dos dois blocos {oram mutuamentc I'ÇcoohC('idos, c riar~m-se possibilid:ules para (fIações ('('0-

oôml(;lS mutuameme \"Anlajosas. Quc essas possibilida­des hajam sido t'"Xplor.u!as rapida~nlt pçlasgrandesem­prtsas constitui dm indicação da mraordimiria capaeida­de dt"SS:\s orgamzações pat'~ alU3r no plano inttrnacional. li bst um fato de coosi&r.Í\·t:l importância, pois \'em te­

"tlar 1 ofXKiu..de que tcm as graodts empresas de ad~p-

tat-$t' a d istintas formas dto organização social. Tru ta-$(' de simples ind icação de vinualidade, pois o comportamento das gmndes empresas ~ tudo menos ideologicamente IWU­tro. A ação re<enre da empresa. rJT no Chile eSI:! aí para demonsrrnr que muitas dclas não rduram, em um~ (on­frontaç-Jo (·m que o ell'mento ideológico eslá presente, a pC3ticar atos de \'erd~dei ro banditismo internacional. Con­rudo OUlras experiências, como a da G uiné. r{'velam que elas lambtlm Se! estão prepar:lOdo para defender os seus interesses km dar demasiada atenção a querelas ideol6S i­(as locais. Paf«e (CrtO que uma mutação social num país im.J?Orrame do ccntro do sistema capimlista, implicando rt'l irur das grnnd('s empresas o conrrole da tecnologia t: da orienraçio das formas de consumo, não poderia ocom:r sem prO\'oCllf grandt' rt'ação. ,M.IS rudo leva a crer que as grandes empresas, em rocc dc uma si mação de difícil rcvcr­sibilid3.de, adaptar-se-iam, pois numa burocracia scmpll' 1(,l1de a prevalecer o instinw de sobre\·j,·el)cia, aiMa que isso requeira ampmaçõt.-s import3mes em nÍl·eI dos di ri­gentes ocasIonaIS.

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O PÇÕES DOS PAÍSES PERIFÉRICOS

As novas (ormas que cstli assumindo o capitalismo nos paísc-s periféricos não são indepcndrmcs da evolução global do siStema . Conrudo, parece jnegli\'eI que a perife­ria tem crC$Ccnre importância nessa e\'olução, não SÓ por­que os pgíses cêUl rieos serão c:ada vez mais dependentes de I"t(ursos nawrais não .reprodutíveis por ela fornecidos, mas raml.Xm polque as s rJ/ldc:s ('mp~ etleontnlmo na exploração de sua mio-de-obra oorala um dos principais pontos de apoio para firmar-se no eonjuntô do sistema. Mas, se é difícil rspecular sobre tendências com resprito 3OecO[ ro, ainda mais o é no que se refert à periferia, cujas CSt ruwras sociais c quad ro inst itucional foram pouco es­tudados, ou foram vistos sob a luz distorcida das analosi­as com outros processos .históricos.

O dado m:üs imporrante a assi nalar, no que eonc(.' rn l1" aos países periférjeos ~m mais avançado processo de in­dumializaç-Jo, é a considerá\'eI dificuldad~ de coordena­ção de suas economias no plano intrrno, em razão da for .. ma como se ~srio aniculando com a econornia intrrnacional no quadro das grandes empresas. Se diflculdadt"S de coor-

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denação ;mcrna existem nos paíst'S cintricos. conrorme observamos, o problema assu~ muito maior compl~xi· dade na pc-ri(tria. Não me refiro ia. situação clássica do~· queno país ond e: o nível dos gaSIOS públicos e a siluaçio

da balança de pagamentos rcl1ercm as decisões (ornadas por wn3 gl':mde empres.l exportado .... de recursos oam· rnis. A si tuação é disri ma, mas Ill' ffi por isso mais cômoda naqueles paí~s cm que as principais ativj<lades industrio ais ligadas ao mtrcado intt' rno são controladas por gran­des emprt'SaS com projetas próprios de expansão imerna­ciona\' dos quais pouco conh«imenlo têm os governos dos paíSC$ em que elu amam. Essa debil idade do ESI~o. como inSlrumC'OIQ de direção e coordenação das :llh·ida· dcs econômicas, ('ffi run{ão de algo que ~ possa definir como o i ntercs~ da (olct;" idade local, passa a ser Um (a­

tol' signi fi cativo no proccs.w evolutivo. Impotente tm coi­sas íundament1lis, o Estado tcm, COJlCudo, gnndes respon­sabilidades na construção c operação de 5erviço~ básicos . na garJnria de uma ordem jurídica, na imposição de dis­cipli na às massas trabalhadof'ls. O crescimento do apare­lho t$fafal é ine\'icâvel, c a necessidad<, de aperfeiçoamen­to de seus quadros superiores passa a ser uma cxig~ncia d:.ls grandt"S empresas 'Iue in\'('$tt'm no país.

Assim, a crcscenu.' inscrç30 du t<'onomjas ptriféri­cas no campo de ação imernaciona[ das sr,U1dcs empresas está comri buindo p.u"J a modernização das burocracias

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Page 33: O Mito Do Desenvolvimento Economico

C'Stauis, as qU:lis t! .. IlJ~ram ii ganhar cun$ i(!~r.h·('1 aulOou­

:tlia. Sc-ndo por um lado imporentes e por OUtro ncccss;Í ri­.u r dicitntt"S. essas burocrJci:l5 ttr.dtm a multiplicar ini­ciativas cm dif'(-çõe~ diverS3S. A orierlmç!o das ariviJ:ulcs ccunômicas, impondo a conccmrJç3.o da rend:l e acarre· tando a cocxiStência de form:l5 sunluiÍ ria$ de consumo com J miséria das gt:l.lld~s massas, ê origem de tensões sociais que n·ptrcmcm necessariamenre no plano pol;\lco. O 8-laI"lo, incapa:t p.1t:l. modificar a rderida oriemaçio, exaure­se na luta contra os SC-U$ Jeitos. As fn.lSlrnçÕC$ políticas 1(\-'3m i instabilidade institucional e ao conerole do Esta· do pdas ForÇ3s Armad:ls, o que comribui para rcforÇlr Jinda mais o seu caráler burocrático. Em síntese: ° cr("S­ceme cont role "int~rnacional" das :1t j\'idades ('('onóm i C',L~

dos países periféricos acmeta uma pr~'Coce autonomia do l parclho buroct:ltico ~s[atl l . Fft'(IUentemcme. esse apue­lho f com rolado de fora do país. mas por toJa pane elr ~sd sujeiro l ser empol!;ado por grupos surgidos do pro­c~ político local. Não obstante, prc.·\"a!ece o sc-ntimento de impot~ncia que resulta da dClXndfncia em que se en· contram as il tividades económicas fundamentais de cen­tf05 de dtdsão ext t"mos ao JY.Ifs.

A relati va auwnomia das burocracias '-I ue cOlllrolam 0$ Esudos na p<'riferia reOett, em (erra medida. as modi­ficações ocorridas na Sl.IJ",'rCStnltura politi('3 do cunjunto do sistema capi talisfa. A destruição das formas lrodicio-

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nais de colonialismo dc\'t' ser entendida como parte {lo processo de destruição das barrtira~ inSlilUcionais que comp3rtimenra\"Wl o mundo Clipimlim . À medida que li t<'Onomia intrmaciona! passou a sef princip3lrnente con­tro!acl;a pelas gr.lIl«S empresas. ii ação dirtu dos Es,ados do cemro sobre as adminimaçÔ<.'S dos países da periferia tornou·$(' desnecessária, sendo corrtnternt'n te denunciada como discriminatória a favor de empresas de certa nacio­f1.l icllde. É S;1bido qu~ CS~ processo se re;a!izoll de forma irrtgular: cm alguns rasos. populações Hcxpi triadasH cons­tituem fone grupo de pressão, exigindo a presença direla ou indirtta da antiga metrópole, o que dá lugar a (ormas apenas disfarçadas de colonia!isnlo: OUtr.u \ 'Clt'$, grupos di rigentes, ame:çados de perder o controle do sistema de podtr local, apelam para o apoio político extt"tno. Mas, de maneirn geral, a intt"r.·en~o dircta dos governos dos paí. sc.'s CtO! ricos nos paísc-s da periferia tendeu a St"r t"xcepcio· nal, pondo·se à parte ai imer.·ençõts none·amcricanas li­gadas à -defesa- das fronteirns du sistema.

IXnt ro desse quadro CStnUUfll l. as burocrncias que di rigt m a maioria dos países periféricos a\'llllçaram consi· deravdm~me num processo de aUfo·icl~ntificação com 0$ -i nteresses nacionais" respctli,·os. Se bem qu~, em tIISQS

p.1rticu!arts, esses imen-sscs se confundam com os do pe. queoo grupo que controla o aparelho do ESladO, via de (egra a concepção ce inltmst' narinnll i. mais ampla ~

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Page 34: O Mito Do Desenvolvimento Economico

':iS :1 a melhoria das condiçõcs de vida de um ,g rupo impor­

:Jnu.' da }JQpulação, quaS(' s('mpre constituído pelas pes­

soas integradas no ~[Qr "moderno~ da economia .

Um dos setores cm que os Estados periféricos tem exercido sua autOnomia. em face às grandes empresas, é o ':0 controle dos rttursos naturais não renováveis do res­

?«,ci vo país. A ex.pansão do sistema. no centro. depende .:ada vez mais de acesso às fomes desses r("('ursos, localiza­

Jas,O;l ptri(eria. Fjzemos re{erêocia:' si t uaç'.to dos Estados

Unidos, que é, desse pontO de visr-a. um país p rivilegiado. .1. demanda de rt('Ursos naturais nào cresce paralelamente

~om a rendaptr (tlpita : a partir de cen o nível de renda. ela

:end(' a estabi lizar-se. Por exemplo: ° consumo de cobre ::-ar habitant(' triplicou nos Estados Unjdos entre 1900 t' .940, mas permaneceu t'Srávcl eocre este último ano e

: 970; o consumo de aço por habitante dessc mesmo !>aís : resceu mais de trés v('zes ('l1 trt' 1900 t' 1950. mas perma­

~c-<eu ('S tável ('nt re este líltimo ano e 1970. 1 Por Outro

.Jdo, o consu mo de meta is l:>ela indústria pode ser maior

)u menor, indepcodentl:mentc.' do nível de renda, em fun­

;,io da natureza das exponações do país. Contllllo se se [em

~m conraque o nÍ'-'cl de rcnda média doconjumo da popu­

.J.ção do centro do sistema, excluídos: 0$ Estados Unidos, é

.:rterior à metade do dC'S te país, faz-se evidente que a de­

:nanela de metais conti nuar{ a crescer no centro ainda

?or muitos anos de forma bem mais intensa do qu(' a po-

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pulação. Se a isso se ac(cscenta que as reservas ue mais fácil exploração, dos países cêntricos. esrão se esgotan­do, é flici l compret'nder a crescente "dept'lIdência" des­ses países vis·à-vis dos recursos não renováveis da perife . ria. Essa dependência cont inuará aumentando méSmo que se esrabilize ° consu l,TIo dos referidos recursos no centro, o que de ne",huma maneira é provlivt'l que acomeça em

futuro previsível. A utíliuçlo das rescr.-as de «"Cursos naturais como

um inStrumento de poder pelos Estados periféricos requer uma articulação encre países que, de nenhuma forma. é tarefa rneil. Ma!> que essa articulação se t'steja reali:.t:ando. com evidenu: êxito no CMO do petróleo, const itui ind ica­ção c.la sofist icação considerável que esrão alcançando as burocracia.~ qut· comrolam t'sses Estados. t vcrdade que as grandes empresas n(om sempre st'rlo hostis li essa política, pois, tl'.l[anclo-~e de produlO de demõ\lH,Ia ineláscica. a de­vação dos preço~ não poderá deixõlr de ter repercussão la­vorável em S!'l l f~turnm("nto , pois quase sempre significa e!("v;lção dos lucrus. Evidenu:mcme, a situação será djfe· rente se os pa{ses periféricos vi~arem :I um controle (Oca I da produção e comt"rciali zõlçiio desses produtos. Mesmo assi"l, o :lV]\OçO que- t1:m as gr.mdes empresas. no que res­peita a c:lpaeid:lde de orManÍ7~1çãu t: a tecnologia. assegu­ra-lhes a po5sibi lidade de conti nuarem negoci:lndo em posição de força por muito tempo.

Page 35: O Mito Do Desenvolvimento Economico

Ocorre, ('otretanco, que os recursos não renováveis mn is importantes. cu jos pr~os podem ser c feti vame nte contmlaclos pt:" los país(:s pt"riféricos - ~mpre que estes lo~ rem articu lar-se de for ma eficu -. estão muito dcsi· g ua lmenre distribuídos. O caso r<."Ccme do pctróko pôs em cvidê-nc ia as consideráveis r rolnsferêocias de recursos que podem ocorrer dt'OIm da ptÓpda periferia como con · scqüênc ia dess<: tipo de polírica. Os benefícios reais para certOS pais<-s s.'io import:lntt"s. mas essc:s p.,ises abrigam uma pequena minoria da populaçiio que vive na periferia. Grande parte dos novos recursos linanceiros de que dis­põem tcr,10 quase necessariameme que S<' T in\'crt idO$ no

centro do sistema. Ocorre. assim. uma trnnsferênci" d (· ,uivos que transformará p:lrt<.' da popu lação dos pa íses bendiciários em rentistas. sem qu<' a estrmura da ecol1o· .mia capi tal iHa St:' moditiquc de forma s('nsÍ\'cL -rambém é possí\'el q ue os países bcncliciários colO<luem ii disposição de outros p<\íscs pe riféricos p:.rn· dos r«ursos referidos .

"tis. se tais r«ursos são ut ilizados para refof\~r o proc<:s· so de desenvolvimento tal qual esfe se rea li za at ualmenrc

- por exemplo. P.U3 cria r infrae:struwra c indlís rrias bá· s icas geradoras dc economias exte rnas para as grdnd('S empr('StIs -. as relações e nt re o cl'!mro e a per iferia não $C

modilicar-lo de fo rma S('nsível. A politica de d('"açí'lo <los prt'ÇOS relar i\'os dos pro·

duros não faci lmente substituíveis. que ('xporram o:s pa.í.

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ses pcri(t ricos, constirui scguramente um marco na evo. lução desses llaíst's. :'1as. con(ormr indicamos, não sig ni­fica mudança dr rumo no processo 1:'\'Olurivo do conjunto

do sistema capitalista. Não sc I:'xclui a hip&ese de que a posiçio inu:rnaciooal das grandes empresas seja ~(orÇ;t­

da. encarr('gando-se das dI.' absorvrf grnndc parte dos no­vos / ecU(SC)S líquidos encaminhados para o mrrcado fi­nanceiro internacional. Uma ptqut'na parte da população pt'ri(érica. localizada em uns poucos paísn, terá ac('S$Q às formas mais avançadas de consumo, (' alguns Estados po. derio ascender a um papd hegemónico em cerras áreas circun5Critas. Conrudo. as modificações no conjunlO da periferia seria pouco jX«'ept í,'eis.

Mas f possí"eI que a expt'riência adquirida no seror dos rt.'Curws nlio reno\'á\'ei~ venha a ser utilizada na defesa do valor real do uaoolho. qut rxploram nos países perifé­

ricos as Sf1lndes empresas. Conforme foi assinalado anrrs. a rápida t:'xpansiio da economia internacional _ sefOr mais

di nâmico do sistema capi talista - tende :I fUllda r-$t na uti lização das grand~s res('TV'.lS de mão-de-obra har.Ha que rxisu~m na periferia.. Apr~ntam.·sr aqui dois problemas: o (Ia apropriação dos frutos da expansão econômica e o da ori~ntação g~ra l do processo de acumulação. Dada a gran­

. de disEnridade de nh'eis de vida que se obSt"rva atualmen­

tr na periferia, as grand<-s empresas estão I'!m posiçio de

forÇol para COOSCI'\'llr os sal:iri06 ao mais baixo nível. Toda

Page 36: O Mito Do Desenvolvimento Economico

?ressão no Stmido de elevá-los poder:! ser contida com Jm desvio dos iov('Scimenlos para OUlras ~rtas que ofere­~am coodiç&'$ mais favorávcil. A grande empresa que pro­.:iuz artigos manufaturados lU ptrift'ria para o mercado do .:eOlro tcm uma margem de manobra (anlO maior qu.amo mais baixos são os salários que paga. E.ssa margem permi­te-lhe, seja t"Xpandir o mercado a.cuno pr2.l0. seja aumen­tar sua capacidade- de amofinanciamtmo. Em qualqu('( dos dois casos. quaOlo maior a margem, ma ior a p.me do "alor agregadoqlK' pcrm:lOe<:e fora do país pcriféricoonde se localiu a indústria. Tudo se passa como se o moolho fOS$(' um recurso que se exporta. sendo a taxa de salário o preço de exportação, Se o con junlO dos países periféricos d('Cidisse dobrar. em tcrmos de lllOI:da internacional, o preço de exportaçio da força de trabalho. o resultado S(' ria similar ;ao que ocorre quando aumemam os pr~os de um produto de exportaÇ'ioquc goza <Ic um3 demanda inclástica no CCOlTO. Em rttal idadc, essa tle\'ação tem tido lugar cm siwaçÕC'S esp<;dais. Assi m, OS optririos da indústria do cobre no Chile já ha\'iam conseguido. anos atrás. elevar considera\'elme1Ut' o seu sallirio com rtspcito:roo "preço de ofena- da mão-de-obra nesse t»ís. Essa ele\'ação poderia ter sido lenda mais lonse. mas o governo chileno prefe­riu urilizar O ~todo do imposlO direro para ampliar a margem do \'alor agregado <k$sa indústria que efll. relido no país. Se s(' trata de indústria manufatureifll. com múlti·

pias linhas de prodUÇ'dO. cujO$ prtt;OS de expon:açào l»­dem ser F.cilmeme manipulados. a via fiS(1l.I torna-se de­ut iliuç'do mais difíci l. Com efeito. como conhecer a ren­t'abi lidade da filial de uma grande emprc$.1 instalada num país do $Uru.-S ll.' asiático se 0$ prt'Ços de todos os insumos mihudos são administrados p..-la m:m i:t, assim como os preços dos produtos exportados?

~ difícil oonjClur-.u sobre IImll <-1evação gfral dos sa­I;{rios reais nas ati\'idad<-$ exportadoras dos paíkS pt'ri(f­ricos. Como a ta-"'3 de salário V'oltia muito entre países pt­

rif~ricos. as conseqü;ncias scriam distintas de país par:! ])'Iís, particularmente se a elevação fosse fell3 no sentido de nuior igualização. Não .se pode' perdl'r de \'i5Ia que a uma t('Cnologia similar pode-m corresponder di \'t'r$OS ní­veiS de produtividade- física da m?io-dt'-obra em função do nível geral de desenvolvimento do p.1.ís. A unificaçào das t a ~~s de salário. nas :ui\' idades e ~J>0rmdor-.lS indusuiais dos país periféricos. tenderia. portanto. a beneficiar aque­les com maior :1\'aoço (l'lativo indmtri31. O probJt.'ma é cert2mt.'()[C multo mais complexo do quc 3 d(;\':lçào do PI't'ÇO de um produto homogê:noo que- gou de demanda ;l'It' lástica no centro. Mas é por «se caminho que. m3is ctdo ou mais tarJe. OS países periféncos ter-:io de z\'ançar para apropriar·se de uma parrda nulor do fruto da pró­pria força de trabalho. ~ as 8fll1nd~ t'mprt'S:lS continuam a pagar na periferia salários correspondenlC'S ao M preçO de-

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Page 37: O Mito Do Desenvolvimento Economico

of(' rr:l~ da (orç:t de [!"2b:;.lho, O p róprio processo de indus­[riali~ção dos países pçrl (~r;cos com ribuu'á par .. aumen­[;Ir o fosso que os sc:p:ua do cc-ne to du sislc-ma.

A política <Ic· c1evaçiio da [axa de- sa lá rio real :.1 que nos " .'ferimos nos paTÚSf:lfos :UltCrlott'S rc ria COmO conSt"­q iiência direla fi cri:\\-iio de um d i(t' rem:ial de salár ios C: 1l­

ue o selOr ligado a cxpor!ação c u resto da t'Conomia local. Daí re-suharia a formaç;lo de: uma nUVA C-dmada social, semi­integrad .. nas formas ~ modc(n:l$~ de consumo. Como o

gr-.IU da 3cumubçlo a!c-.mçado 1'1:1 economia não permite gcneraliJl'.ar essa [aX:!. de saUrio. u (undo do probk rna do sulxlescnvolvimcmo não st' modifica na.. P2ra alcançar esse fundo. seria ne<C'Ss:.r io q UI:: 0$ rt."Curros retidos no pais JX"­ri férico pude.(scm st' r ur i li:.udos cm u m processo cumu la­tivo. \'isando a modificar:l C:SHUtUr;J. do siu (·ma econô mi ­

ro no sent ido de uma clXscelUt" homogcnci:tação. A ques,ão lí lt im a t"Slá na or iel\taç:io do proce$50 de :1C\lmulação, e

esSôl oriem ação conr inuaria nas miios das g r:lndes empré­$:15. ASSllm ir essa oricnu.ç-Ao. Ville dil,.c r, t:S tabelc-cer p rio­ridades cm fllll{"lo dc objetivos sociais cot'rcnu.'s e compa­tíveis com O e~forço de acumulação seria a única for ma <te li}x'rar a cconomi;l d a [mela das gr'lIldcs empresas. Esse C3min ho n1l0 ~ f;lei l, e é n:ll ur.ll que as burocracias q U {'

controlam os Estados no mundo pçrif~ rko se simam pou ­co alrJ.Cdas por ele. ConfUdo. :as tensões sociais crescentes que C"ngC"ndram as 2tu3is tendências C'Stru!Urais do sistc-

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nu. podC'r.50 fUfçar mUII:tS deuas bunxr.aci;u a adocar "". mm/lOS imp~·iSlo., inclw,,''r o de Um:J. prtoC"Upaçlo do:-­uva com o. imr~ lIOCialS t o de- busca de formas de­~'OIl\'jYlncl~ ton\:u ~nrKkt: tmp!""" que R"fam compu;. ,·t,S com um~ olltnll1Çio inl~"OU. do JX"OCt$SO de- dc:scnvul· .. im.mco.

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Page 38: O Mito Do Desenvolvimento Economico

o MITO DO DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO

Se deix:l.moo de lado as conj('('wras e nos limitamos a observar o quadro estrutural presente do sistema capitalis­ta, "emos que o processo de acumulação tende a ampliar o fosso entre um centro em crescente homogentizaçio e uma constelação de «ono.mias periféricas, cujas disparidades cont inuam a acentuar-se. Com efeito, a crescente hegemonia das grandes empresas na oriemação do processo de acumu­lação lradu~-se, no cenrm, por tUna tendência à homoge­neizaç'do dos pad rões de consumo e, nas e<:onomias periféri­cas, }Xlr um distanciamento das formas de vida de uma minoria priv ilegiacl3 com respeito à massa da população. Essa oriemação do processo de acumulação é, por si SÓ, sufi­cieme para que a pressão sobre os recursos não-reproducívcis seja substancialmente inferior à qw: está na oose das proje~ ções alarmistas a que fizemo~ a.ntcs referênci:t.

Cabe distingui r dois cipo~ de pressão sobre os (ecur~ sos. A primeira está ligada à idéia de freio malthusiano: referc-se à dispon ibilidade de terra aIlívcl a ser utilizada nn contexto da ag ricu ltura de subsistência. Nos paíscs cm que o padrão tle vida de uma grande parte da população se

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aproxima <lo ni\'(~1 de subsisttncia. a disponibilidade d" t~rrn aráveis (ou ii possibilidade de intenSificar o S('u cul· [IVO mffiiamc pequenos aUmêl\COS de custos de prod uçio ('ffi termos dc miio-dc-obr:1 não-espcciali;.ea(la) é (am! dt'Ci­sivo na detcrminaçãoda taxa de rrcsciml"1lIQ demográfico. Não há dú\'iua d(' que o acesso às tcrras pode sef dificu lt a­do por falOres institucionais c que a arena local de ali­m(>nW$ pode ser rt:-duzida pela ampliação de cullUrns de exportação. Nos dois casos, aumenta a pressão sobre os recursos, se existc uma densa população mml dependente da agricultura de subsistçncia. Os efeitos desse tipo de: pressão sobre os recursos somente st' propagam quando ii popu lação H:m a possibilidade de ("migrar: J(> maneira, geral, d e5 se esgotam demro das frontei ras de (ada país. O que interessa assinalar r: qU{' CSSC' t ipo de pressão sobn.· os r,-<:ursO$ pode provocar calamidadc-s em :íreas dclim il a~

das. como atualmt:nre ocorre no Sahcl africano, mas em pouco afera o fi.mcionamenw do conjunto do sistema.

O segundo! ipo de prC'Ssão sobre os. recursos f: causa­do pelos efeitos direcos c illdirecos da elevação do nívd de consumo das populaçõcs, e está esueirameme ligado à ori ­('mação gcral do processo de descIl\'olvim(·nto. O fatO de (llU: a rt'nda se manrenh<l cOlIsideravel mente concrntr:lda nos países d,· mais ;lho nível de vida agrava a pressão s0-

bre os recursos que gera. Ill'(:tssariamentt' . o processo de crescimento económico. 1amocm S(' pode afirmar <Iue a

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Page 39: O Mito Do Desenvolvimento Economico

cresccnte conccllIraÇ'io da relld3 no ct'nrro do sistema, isto é, a 3mpli3Ç1'io do fosso que scp;lra ii periferia dcsS(' CelUto, conStitui filtor adicion.11 do aumemo da pressão sobre os recursos não reproduth·cis. Com cfeim, S(' fOS5l: mais bem distribuído no conjunto do sistC'ma capitalista. o cresci ­mcaro dcpcuderia menos d3 introdução de novos produ · lOS finais e m;'tis da difus;io do uso d~ producos mais co­nh('ddos, o que significaria um mais baixo coeficiente de d~sperdício. A capi talização tende a ser tolmo mais imen· sa quanro mais o crC'scimtnro estC'ja orientado para a in· trodução de novos produtos finais, valt' dizer, para o cn­C ll rt~m('nro da vida útil dt· bens já incorporados ao P;l(rjn,lônio das peSSO'JS e da coleri,'idade. Dessa fo rm,l, a simples concent ração gt-o,gráfica da renda, ('m benefício dos países que goz;lm d(' mais alIO nívd de consumo, ell­gendra rJY.tior pressão sobrc os f('Cu rSQs não rcproduríveis.

Se o primeiro t ipo de press.'i.o sobre os [('(u('Sos é 10-cali7.;IJo (' cria o seu próprio freio, o segundo (: cumulaI ivo e eXC'ITt' pn'ssão sobre o conjuntO do sistema. As proj('çÕtS alarmistas do estudo Tbt !il/li!i Ui gl'Qllllh se re(efem c:ssen· cialmr:nre a esse segundo tipo de pt't'ss30. As [dações r:n­Irc a acumulação de capit;ll e a press:io sobre os recursos. que estio na base das projrçõcs, fundam-Se: cm observa­çÕt's empiriGlS e podem ser aceitas como uma prim.eira apwxi mação válida. O quc nito se IJOtk acC'itar é a hipótc. se, também implícita nessas !>ro;t-ÇÔ('s, segundo a qual os

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atuais padrõt-5 de consumo dos p3í~s ricos tende'fi age· nernli1:3r·~ em escala planetária. Esta hipótese está em comradiç-jo dir(:[3 coro a oriemação ger'!! do descnvoh'i· OX'0t0 que se relli1.l1 3tl13lmcnrC' no conjuruo do sistema. da qual resulta a C'xclusão das grandes massas que vivem nos paísc'S periféricos das benesses cdadas por esse desen· volvimemo. Ora. 550 exatamente C'sscs excluídos que for· mam a massa dC'mográfica em t:ípida expansão.

A popula,ào do mundo capitalista cstâ form;lda nes­tes anos 70 por aproxi(l)adameme 2,S bilhões de indjvf· dllOS. Desse toraI. c(' rc:\, de SOO mil hõcs vj"C'm no centro do sistema, e l,i bilhão. em sua pcrifs: ria. A [eudtocia evolutiva clessrs dois conjuntos populacionais esrá defini­da em suas linh3S fundamentais e não C'xis[(' evidência de que venha a modiflc:l.r·S<' 00 COUCf dos p róximos J~ên ios

('m const:9Uêná, d(' um ou OU[(O tipo de pressão sobre os ret'ur$OS, a 4ue nos referimos. Sendo assim, e se se exclui a hipótese de um fluxo migratório su bstancial da periferia para o centro, é de admitir qoe a população do conjunto de países cêntricos alcance dentro de um século 1,2 bilhão de habitantes. t\ opiniiio de que ('ssa massa demográfica (t'lldt' a C'stabilila(·se nos p(óximos dccêníos é aceita JXh maioria Jos estod iosos da matéria. O quadro formado ~Jo sC.'8ondo subconjuntO dt>mo,gráfico é muitO mais comple­xo em sua dinâmica. t\ prt'ssão sobrC' os recursos de pri­meiro tipo de:s('mpenha, nC'sce caso. papel fundamt mal.

82

Page 40: O Mito Do Desenvolvimento Economico

Contudo. se se tcm em coma a CStrutuf"d de.- idade dessa

populaçlo. da qual cerca de ~tade se encontr:\ atualmcn­te ab.tixo da ,dade dI: procriação. pg.rece (ora de dúvida

que as laxas de natalidade se manteria elevadas por algu­mas gt'rJçÕ/:'s. É essa uma das con~iitnci:as ela orientação do desenvolvimento que, ao concentrar:l 1'('lId:l em bem:­

fic io d os países ricos e das minorias ricas dos paíst'S po­bres. redu;,: o efcito da elc"a\'ão do ní\'e l de rtl1d11 na taxa de nat'Jt idadc-. com respeito ao conjunto do sistt'rna. Po:xlt'­

~ admili r como pro\'IÍ\'el que. no correr do próxi mo sécu­lo. a populaç-Io da periferia dobre a cada H anos. o que significa que ela puslIrn de 1,7 bilhão par;!. l3.6 bilhões.

Sendo assim. a população dos países cênrricos St' multipli­(";I.(-5('- l a por I ,), e. a dos paíSC3: periféricos, por 8, do que

re-sulrnria <J.11é ° coojunlo da pOplllaçio passaria de 25 b i-

1llÕt$ parn 14,8 bilhões. ou seja, se mulriplicar-se-ia por 5,9. N o que diz ITspdto à pressão sob~ os recursos do

segundo tipo, istO i. a pressão cumulativa cnpaz de gernr

tensõe~ no conjunto do sistema. interessa mcnos a d ivisão

enrrl" centro-periferia do <llIe a divisão {'ntre aqueles que

se ocnc(jciam d o proceiSO de acumula,lo de capiml e 3qlle­

les cuja condi(.iio dc vida somente i afctada por t'SS(' pro­

ctuO de (orma marginal ou indirel"a. Ou seja. i mais im­

portantt' o fosso qu~ a aluaI orit'nt:açãodo ocs(.'nvolvitn('f\to cria dentro dos pa(scs pc-rifçricos do que o OUlro fosso qut'

cxistt' E'ntrE' estt's c o centro do sistt'(l1a. As inform:açoo

8)

rdat ivu ii di5tribui~da renda nos JXlíses pcrifé-ricos p'~m

I:'m evidência que a parcda d~ popul:lç;1o quI:' I't'produz as forrou de COIISUmo dos p.1íscs cênrricos i reduzida. Ade­mais, e55:! pucda não parI:'« dev<IIr-k de forma significa· t h'a com a industriali~o. O fundo do problt'ma E lOim· plts: o nível de rcndJ da populaç1o dO$ (»íses ct-nfricos i. CTII' média, ccn:a de dez vt'zes mais elevado 110 qllE' (I da popu!;lção dos p;.íses !X'ri(irkQS. Portar)to, li minoria que nc.'Sl C$ paíscs reprodu:.: as fotlnas de vida dos p,,{ses ctmricos dt'\'1: dispor Ile uJl'l3 renda C('rC':l de dt'l. vezts maior <lo q UI'

• rC'nda per capila do próprio pais. Mais prt'Clsamente': a paKda lllÚirna da popul~.lo do "",is pcnfirico cm que'S­t:lo qu~ pode ter auSlO 1as formas dt vida dos pa.í~s

Cêllrficos i til' 109l. 1\('Sta situaçio hmrrt', o rC'$10 da po­pulaçOO. 90%. não po<lctla i>OOrt'\wt'r, pOIS sua rcnda sc­ria ~'II>. No caso t{pico da prt'scme siwaÇ"lo na lX' ri{eria ,

emre um ft'1'ço e a tTlC't;;Klc da renda é apropriada pela mai­oria qut' reproduz os padrõt'S <k vid;t dO$ Irdí~s c(~nlrkos.

I: P outr.l !"ln .. (enne IIlcfadt' t' dois tl:rços) di\·idt-S(' dt' íOrrT\a nui! ou mt'nos dt'5rl>ual com:l musa. da populaç-.io: I\CS$(' caso. >lo minoria privilt',;iada não p<xk Ir muitoalim de ~% ela população do p:!is.

Os 5<:t dt' pri\'ilcgiados d~ pw(t ria correspoocl<:'m.

prneTltt'n'It'mr, a 85 mlU~ dt pessoas: d('Sfar'tt. o con­Iumo da popul:açio que utrct' t(",uva pressio sobre os rt­

cursos alcança K8~ milhiln. 1'1,1 qU.1dro du pro~ões qu<:'

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tllemos, C$SC' subconjunto populacional alcanç-Jria, den­tro de um século. 1,88 bilhão. D<-ml forma, enquanto a população do muodo capitalista aumentaria S.9 \ 'e"ZC$. a do conjunto populacional que efetiY,lmente e)terce pres­

são sobrt" OS rL'Cursos aumentaria 2, 1 veu-s. Se a popula­

ção que exerce forte prcs~io sobre os recu rsos dohrar, c. ad(-mais, se a renda mexlia dessa população tambtm do­bnlT (Intes que o ponto de relativa satll r:l(ão na Utili:t.1ção dos recursos não-renov:iv6s for 3lrnnçado. temos dI? admi­tir que essa pressão muito prov3velmCntl' crescerá cerca de quatro vt':.tt"s no correr do próximo século. Cabe acres­ccnWT que essa pr<.'ss.,'io '1uat ro vezC$ m:iior se realiUl so­

bre uma base de recursos 'subscancialmcllto: menor. Con­tlldo seria irrca[ist,1 imaginar que um ri tmode crescimento dessa ordcm nl pressão sobre os recorsos constitui algo forol da capacidade de concrole do homem, mesmo na hi­pótese de {pJ!: a tecnologia continue a ser orienrada cm sua concepção e ut ilização por empresas pri vadas. Esta all r­

m~oimplicãcte~hectr {)ue ~ essa (Im;l presSlio considerá,'cI, cabendo assm.1lar {)\Ie pane crescente cicia , " se t xt'rcern sobn: os r{'corso~t\Jalrn('nte local iz .. dos na periferia do siS!trna.

Omrodado importante a a~inalaré o crcsn:nte peso da minoria pri"iltgi:lda dos pafS€'S periféricos no ranjunro

da popula~-ão que dc-sfnlta de alm nivel de vida no siw:ma capital ista. Sendo mtnos de \ 0% 3tualml"nte, a pankifXl-

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çio dess:l. minoria tenderia :.i suptr.lr um n:M.-U. na proj~­çio ,\ue (iz{·mos. Of"~. Se Se lem em coma que- os f.naJos Ja pcri(eci;l. muilO plO' ·:l\"dml·nlC.' estl rIo em condi~Ors

dt :lJ)ropriar.S(: J e uma jXlK"f1a mlliQt da rtnd.1 do ('onjun· 10 do siStema. mt:di:ance a ,"llionuçlo dos rC"(ursos não Tt"produri"ei$ e dp. mão-<!e.oon 'Iue cxpOnam. a hipúlesc que formulamos de cmbili~o. a nfvtl de ~ %. do grupo pri,'ilegiado deve $tr considerAda como um mínImo. Se a mdhora nos termos de Incercâmbio pl:rmile l.Jut' os}% Se de\'effi a 10%. a mlOoria prJ\' IIt'!;lacb J3 pc:ri(t'ria Sl(pt"r;J'

ria (>!l1 IIIhnt'rn ;I popubç:io do cenHO do siSlc:ma. ESla tendênci3 também opcl'J.r:'l no St'nlido d~· rC"dull( a pl"t'S. siio sobre os n'C"Ursos. pois a .:Iml'llaçiiQ do /Iúmo,:rodos que d:m aú'~s.o aos alros ni~'cis d(' consumo signifj ('3. l.Juc o crescimenco se está 1"('"J.lix.al"ldo na Sent ido de fTIlIior difu­s.io dos plJl'Õt'S dt' consumo já (,ol"l h tci~.

O a\lln~llIO rcbti\'o do Ol"im{'f(J d~ pri\'ilt'giwos dos paísts pt'ri(t<ricO$ n:io impede. Cnlrecuneo, quc 5(" m:mCt­nha t' apro(und(! o fo~ .. () 'Iue e~iste l'mre d~ c a maioria .Ia PI.lpula~~io de :!Cus lespeni \'os p:lis.cs. Com efeito, st' ohscrvamos o sisttma capital isca em st'u conjunto. "cmos que 11 tendêndu c\"nlu!Í\"i1 pn:dominanrl: f: no Scmido dt' I!xdmr nove pc:ssoas /:01 dC2 dos principais benefícios do dt'scnvoh'imcnro; e, Se observamos cm particular o con­junco dos IXiíS<'S ptri(,:r;cos, consr::lfamos que aí a tt"ndên­eia ~ no scmido dt' excluir dtltno,'e pessoas em ,·itlt~.

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Essa massa crescente de excluídos, em termos absolutOS e relativos, que se concentra nos países jX>riféri eos. eonsri­wi por si mfcsma um fator de peso na ~voluçlio do sistema. Nào se pode ignor:u a possibil idade d,· qU(' ocorram ém determinados paises, e mesmo d(,' form,1 gt'ncrali~ada. mutações no sim'ma d(· poder político. sob a pr~o des­sas massas, com modificações dr fundo na oricmação I)e­

mi do proct'sso de d('5t'nvolvimento. Quaisquer qut' St'jam as no\'aS relaçÔl's (IUe se conStimam entre os Estados dos países ptrifúicos (. as grandl'S emprts2S, a no\':I oricntaçio do deselwolvimento teria de ser num sentido muito mais igualitário, favon;'cenclo as formas colt'ti\'aS dto consumo t' reduzindo o desJX'rdício provoc;l<lo pela l'Xlfcma diversi ­ficação dos amais padrões dt cónsumo privado dos gnlpos p(iviJcgüIJos. Nnta hipótese, a prcs:>ão sobre os r('cursos muito provllvelmcntt' S(' red u:tÍria.

O hori:Wllle de possibilidades c\'oluti \'as que se aore aos países periféricos i, sem dúvida, amplo. Num extre­mo, ptmla.$C' a hipótese de ~rsjsrência das tendrnctas que prevalC'(e.-rnm no último quarto de.- s&ulo à illft'nsa concentração da renda ('01 benefício de.- reduúda minoria.

No cenero. e'slá ° fortalecimento das burocrnci:as que con· crolam os Escados na jX'rifcria - lendrncia que se vem manifestando no período re'ellle - l" <JuC' le"a a uma melhurn p('t$is(elllc dos (('rOlOS dc imerdmbio e a uma ~mpliõi\'ào da minoria privilegiada ('m derrimr!lto do cton-

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no do s istema; no olllro ext remo, surge.- a possibilidade de.­modificações políticas de.- fundo. sob a pressão das crescen­

tes massas exc!uíd:.s dos frutos do desenvolvim~nto. O que' t('ode a :tC'am,' [a( ffiut/;'mças substanri\'as n:. orientação do

processo de descuvol\'im\:'nto. Esta (erc{>ira possibilidade.-.

combinada com a melhof'd I~rs i s tt:nte dos termos de inu'r­

câmbio. corresponde :10 mínimo de pressão sobre os recur· sos. assim como a ~rsistfncia das t~ndêllcias acuais ii. ~'on­cenlraçiio dil (enda engendf"d o máximo de pt('ss:io,

II. conclusão geral qU(' surge é quc a hip6tesc de ex·

tensão ;lO conjunto do sistema capitalista das formas de consumo que prev:llecc:m acualmemc nos paísrs cêntricos

nào rrm cabimento dt'ntro das possi~ilid:ldes evolut ivas aparenres desse sislema. E t: essa a ra~ão peb qual lima

ruptura catac::lfsmica, num horizonte prcvisíve-l. carece de verossirnilhanç:l. O iTlteresse principal do modelo que leva

a ess,1 pr('\'i$.10 de mpmm catadísmic<l eSlá {'m que de

propo.rciona uma demonstr:lção (:lbal de que o t"slilo de vida cri3do pelo capitalismo indusrrial sempre scr:i o pri­

vilég io de uma minoria. O custo. t'(ll termos de depreda­ção do mundo físico, deSS(' estilo de vida ~ de (ai forma (·Ie\'ado que toda tCllIati"à de 8t' nNali~á.lo le\';lfia

inexol"'..Ive!meme 30 colapso de nxb ulna ci vilização. pon­

do cm risco ,1 sobre\'i\'ênciu da espécie humana. Temos assim a prova caool de que o dtltllVOll'illlflltl) n'I)//6I1/i(() -,

idéia de qut' oSpQ/:Qj po/lm podem algum dia desfnHar das

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formas de vida dos atuais pot.'Os rieOJ - é simplesmenre irre:ll izável. Sabemos ~gora de forma irrefurável que as economias da periferia nunca serio deJt1ll ',,/fJidd-l . no senti­do de sim ilares às economias que formam o arual centro do sisrema capitalista. Mas, como dt'sconhl:cer que essa id(-ia rem sido de grandt' m ilidade pa(a mobili~r os po­vos da !X'riferii\ e le"1i-los a aceit;lr enormes sacrifícios para legilima( a destruição de formas de culluras flr(fl;(flj . para explirar c fal{'f (QIIIPI'emdtr ii Iltms;dade de" destruir ° meio físico, para justificar fo(mas dr dep('udência qu(' reforçam o caráler predatório do sist('ma prod utivo? Cabe, porran ­roo afirmar que fi idéia de desenvolvimento econômico é um simples mico. Graças a ela, tem sido possívd desviar as arençõc°s da tart"fa básica de identificação dtls nccessida­d('s fundamentais da colctividadt e das possi bilidades que abrem ao homem ° avallço da ÓénC'Ía. para cor"enrrá-las rm objrlivos abstratos. como são os illllf!JlÍllltnfOJ. as expor­f(/çÕeS e o cresâ/lltllUi. A importância principal do modelo de Tb,limin fI] grou-'fb é haver contribuído. ainda qu(' não haja sido o seu propósitO, para. destruir esse mitO. segura­mente um dos pitares da doutrina que serve de cobertu ra à dominação dos povos dos paíst°s periféricos denrro da no\'a eSHutura do sistema capitalista.

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