o mito do desenvolvimento economico
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Celso f llrtado
o M ITO DO DESENVOLVIMENTO ECON6MICO
(te-xw (!,xll"lIfdo da primeira paf[(!' de- O ,Miro do
DutNlv;ld",tntD &o"hI"ko, Puz e TnT'R, 1974)
3ª EDiÇÃO
EB PAZ E TERRA CoIc(IoO ..... ,"" ~
, SUMARIO
t. A profecia do colapso '"'' ''' '' "''' '',,,, ',,''''''' ' "'' '' 7
2, A evolução estrutural do sistema capitalista"""" 15
3, As grandes empresas nas novas relações centro-periferia"""""" ",,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,, ,,, ,,,, ,, 4 3
4, Opções dos países periféricos """""""""""'''''''' 67
5, O miro do desenvolvimento econômico """ '''' '' '' 79
l
A PROFECIA DE COLAPSO
Os micos têm exercido lima inegável influênc ia sobre a mence dos homens qU(! se empenham em compreender a realidade social. Do /JOIl !tullwge, com que sonhou Rousseau , à idéia mi lenar do desapareci mento do Estado, em Marx. do ·· princípio populacional" de Maltl:ms à concepção wal rasiana do equilíbrio gera l, 0$ cientistas sociais t~m sempcc buscado apoio em algum postulado enmizado num sistema de valores qm: raramence chegam a explicitar. O miro congrega um conj unto dt' hipóteses que não podem se r testadas. Contudo essa não é uma dificuldade maior, pois o trabalho an:dítico se realiza cm um níve l muito mais próximo d,l realidade. A função principal do mitO é orientar, num plano intui tivo, a consrrw;âo daquilo que Schumpeter chamou de f l i
Jã() do processo socia l, sem a qual o trabalho ana lít ico não rt:ria qualquer semido. Assim, os mitOS opccam como faróis que iluminam o campo de pe rcepção do cientista social, pc rmici r\do-lhe ter lima visão clara de certos problemas e nada ver de oueros, ao mesmo tempo em que lhe proporciona conforto inrelecntal, pojs as discrimina-
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çõcs ,'alomivas que- reati~a $urge-m no seu espírito como um r(/ltX~ <1.:1. rto:a lidade objcci\·a. '
/I. lifer;lturJ sobre desenvolvimento económico do (dtimo qu.:I.1to de século nos dá um e-x('mplo meridiano
desse p3j)C1 diretor dos mitos nas ciências wl.'iais: pelo m('IlOS 90% do qltl' aí cnconU'Jmos se funda na id{Oi~, que se d~ por evidente, segundo a qual o dmm,()ft,jmelllo trQnt
mia" t:l l I IU:II vem sendo pr3fiClldo pelos países que lidera·
mm a revolução indumial, pode ser univt'l'salilado. Mais preriS:lmente: preteoor-se que os p3drões de consumo d.:l. minoria da hum3nidadt, <Iu(' atu:llmemr vi"l: nos p3íscs
altameOle industrializados, são acessí"eis às gr:mdcs masS:l~ de popul2.ção cm r.tpid.:l. t'Xpansão que formam o chamado Terceiro l-.!undo. Em iMia cormilui, segUrJlTlC'nlt', uma prolongaçio do milo dv ~rtJJ" e-kmemo essencial
na idtologia din:lora da rt'\'olução burguesa, dC'1lHO da qual Se:' (fiOU a atual sociedade industrial.
C.om o C3mpo de visão da n:alidade c1ehmitado por
essa idéia direl'Or:I, 0$ economiSlas paw.ram a dedicar o mdhor de sua inugiruçio a conceber. complrxos t'SqIK:ma$
do processo de acumulação de capital no qual o impulso dinâmi<o é eixo pelo progrtsSO tecnológico, cmdéquia concebida fora m- qualquer contexto social. Pouca ou ocnhum~ aten(io foi dada as cooStquências, no plano cuhuralo de um cn:scimcnco expDflcncial do e"StoqUt: de capi tal.
lu gr.lndes meHópolcs moot"rnas, com seu ar irrcspirável,
Cf('Sc('1lte crimimtlidadc, d(·{l· riO I"'.Ição dos serviços públicos, (u8:\ da jllventude: na llllticlIltura. surgir,lm como um pesadelo 110 sonho de progresso lim':lf cm quc se embalavam os tróricos dv crescimentO. t.'ltnos atenção ai nda se havia dado ao impacw 110 meio físico de um sis tem a de decisões cujos vbjclivos ll lt imos $.1:0 Sit ti sfa:ter inu.·rcsS('S prO\'ados. Dar a irritação caus,'1da entre muitos l.-('onomist',l5 Jx:lo estudo Tlx Umio lo Gmll'fh, prepar.\do por u m g rupo interdiscip linar, no M.1.T., para o cham.ldo Clube de Rom a.!
Não se ntct-ssi t ll concordar com todos os aspc-ctOS nwuxlolóSicos desst" escudo, to mimos ainda com suas conclUSÕl"S, para perct:ber li importância fundamental '1"(' cem. Graças a de foram trazidos para o p rimeiro plano da discussão probltmas cnlCiais que' os C'Conomisras do desenvo lv ime-nto K vnôm k o cr.Har.lm Stmpre de- dt:ixar na sombra. Pela primeira \ ' eZ dispomos d(· um conjunto de dados repr!'sentativos de aspt'CfOs fundamentais da cstmtum c:
de algumas t'endências gcrais daquilo que Se começa a chamar de SiStema económico pl!lII{'tário. Mais a inda: dispomos d(' um con juntu de informaçõt-s '111{- nos pérm item
formular alsumas queStÔf.'s d e fundo rc:lacionadas com o fm uro dos chamacll.lS países subd("$(.·nvolvidos.
Em verdad", a pr.hica dé con~lfução d(' modelos representativos da esrfILCllra (' do fll ncion:IIll('mo a curto
pra;w de grandes conjUflt05 de :uividadcs econômicas não dil ta de hoje. E flt rI: o f,,/IIr,f1fl «olfomiq/fi dos fisiocrat as fmll -
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ceSt'S e as matrizes de u..-omidf decorreram dois séculos.
durant(· os quais algo se aprendeu sobre 3 interdependência
das 3tjvidades cconÔmicas. No úlc imo quarto de século,
foram elaborados complexos modelos d(' ('(onomias nacio
nais de dimensõe-s relativamente re<luzidas. mas ampla
ml'me abertas ao m undo exterior, l'omo a da Holanda. ou
de amplas dimensões e mais aurocemradas, como a dos
Estados Unidos, O conheçtmellto :a.n:alítico proporciona· do por esses modelos permitiu formular hipóteses sobre o
comportamento a mais longo prazo dl' c('rtas variá\'eis,
particularmtnte da demand:j de proclmO$ cOtlsid('rados ele valor estratégico pelo govemo dos Estados Unidos, Esses
eslUdos puseram em e,' idência o fiHo de que a economia
norte-americana tenele a sef creSCl'ntt'nll.'ntt' tltpmdmu de
recursos n:io reno\'áveis produzidos fo!'J. do p.1ís, É esta,
se.-guramente. uma conclusão de grande importância, que
está na base da política de crescente rJ!xrll/rp da t'Conomia
dos Estados Unidos t' de (ortalecim('mo das grandes em·
pr<.'Sas ("J.pazes de promo\'er a cxplor.lção de fl:('nrsos natu
rais em escala J>lanct~ria. As projeçõcs a mais longo pmzo ,
feit:\s no quadro analítil'O a que acabamos de nos referi r.
baseiam-se implicitamente na idéia de quc a fromeira ex
terna do sistema r: ilimitada, O conceitO de reservas dinâ
micas, função do volurnt' de iO\'estimenlOs programados f'
de hipóteses sobre o progrt'SSO das t~nicas , $('f'\'e para
tranquil iur os espíritos mais indagadores. Como a políri -
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ca dt: defesa dos recllrsos nlo rcprodutín"is compete aos 150-vernos 'ê 'não às emp~ q ue os exploram, c como as informações e a capacidade l:t:lt:l aprtciá-Ias estão principalmeme com as emp!'t'Sa.S, o problcrruI tende ii. ser perdido de vista.
A importância do estudo feito pa.r.t o Clube dt' Roma deri\'a exatamenle do (:Ito de que nde foi abandooada 11
hipótese de UI1) sjsrema aberto no que concerne a ftonteira dos recursos naturaIS, Nio se encontra aí qualquer prrocupa.çào com ruptito l Cf'CS('ente depmr/;'Ic;a dos IXlíscs altam('nte industrializados t"iJ-à-m dos ~ul'$()S naturais dos demais países, (' mULto mellOS com as cO(lsequêocias p.'\t:l estes ultimos do uso predatório pt-Ios p ri meiros de f;l.is recursos. A novidade l"Stá em <)\1(' ° sistema pôd~' ser
(<<h.ldo em escal;l. plancr-;(ria. nllma primeit':l aproxi~a.
ç:lo. no que se ref{'re aos recursos não reno\';i\'t"is, Uma \'("Z
{('(hado o sistema, os autores do I:stUdo formuluram -$t" a seguillte questão: que acoOt~'C('rn se o dm1nfJ/viIlNIIIf) trtmÓ
mito. para o qual estão ~ndo mobilizados tOOOS os povos da term, chegar efetivamftllft: a concret izar-st", isto C:, se as aluais formas de vida Jos povos ricos chegarem detiva· mentI: l\ uni\'t'rs:tlizat-se? A r~posta a t'SSlI pt-tgunta é cla· ra, sem ambigUidades: st' ta l acontecesse.-, 11 pressão sobre os r~lIrsm não reno\';i\'cis e a poluiçJo do meio ambiente seriam de tal ordem (ou. alternat ivam('nte. o cusrodo con· trole da poluição stria tilo elevado) qu(' ° sistema económico mundial entraria necessariamente cm colapso.
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.(\nu .. 'S de cons~dl"rar que significado r(-al cabe:- atri
buir a e»3 profecia, COlwc:m abordar um problema mais
geral, que o homem moderno tem tratado de eludir .. Refiro-me ao carnt~r prcdat6cio do procéSso dt- ci\'ilizat;io.
particular~me da \':lriame desse processo ~nstndrada pela r~volução indusrrial. A evidencia ii CJual nia podemos escapar é qUI: em nossa civilização a criação de t ,(,lqr Konô
mico provoca, na sramle ma ior ia dos casos. prOCt'1$OS
irreversíveis de dt"gradação <lo mundo físico. O economis
(a limita () seu campo de obsEnaç-Jo a processos j>3rciais, preteJ.ldcndo ignorar que nscs processos provocam cres
c~nte$ modificaçÕt-s no mundo (ísico. ' A maioria deles Ir,lIIsforma e'nergia livre ou disponível. sobre' a qual o home!TJ tem per(eito comando, em energia não clisponín'L
Demais das conseqW:ncias de natun:u d ireramenw econômica, ~ processo provoca e levação da tCmpemlll (a m(-dia de (t·nas áreas do planeta cujas C0I1$e(!O&t1cias a mais
longo pmlO dificilmente poderiam ser exageradas. A at itude ingtllll:l consiste em imaginar qU(' problemas dessa
.. --- - - .... ordem serão solucionados necessariamente pelo pr?sresso tecnológico, como St· a aluai acc-lNação do progressu tecnológico não c:s t iv~sse contribuindo para agravá-los.
Kiio se tr:u<t de especular se llort(<lR/tllft a c iência t: a técnica capacit:lfT\ o homem para solucionar eSt/: ou aquele pro
blema criado por nossa ci vilização. Trnta-~ apenas dr: reconhecer que o que chamamos de c riaçãodt' w.lor ecOrlÔmico
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tem como COfl If:1p.:mi<b pTOCt1SOS Jrr~'C1'$íveis nu mundo rí!iKO. cup) conseq~ncil-( U-.Immos de ignorJ r. C.oO\im não
pc'(tler dt' vista que na civilizaç;io industriai o futuro esd
f'm g'oIooC' pa.rtc: condiciorucJo por ~:isõc-s que já for.un tomadas no p:tSwlo dou que f'Stio sendo 1Oma.:las no pn-
senrc cm (lIllÇÃo dC' um (Uno horizonte temporal. A medid" t·m ,!ue :l\'ança a acumulaçlo de e<tpital. maior i: a u1(C'f(lept'ndencia eml"\' o (l1Iuro I: o p.u.udo. ConShliil·nte.
mtlltt, aurn('nCl a jlll!n::ia do ~islema, t: as corfe{OCs de rumo
torna.m-se: mais lenloU 00 exigem m:aior es(on;o.
I. Nlu I rnru pfOI,6,,,o.oburWr aqui ~ rpiuemolflR'l dn clfna"", ;;oe, ..
~i, fltol<k l)ih Iv}, u.I",'l1lOJS qllll:' :as ci~lICi,"" snci:l" -e.nc<'!:tm flC) m~>o • d~ rr.l"ca dJ \'id~ ~ (d . W,II",lm n,ItIq·.INlnJJ ... ,_ li N,,,J, Jt. wt>ta>
/)NWJtNtJ, IIMil. 19I1.p.,;4). r ;o.b~ \Xtd.'ffJrmorll.!l'\l\I tl1r:!.mnlr ~ mmo 0" .;umIJkmrfl'~"1 a "upJrr.çlo roml'r.tn l ''''' · ~ I -roml'fct'n!,lo t~plrl'atln - ,!os J'fOCf'S1OS ).1)\ i ~\I . O miro Ifl'rudu< 1)(1 ,",pó.iro um ti .. · mrmv li ,,,,rimin:odo. que ~'<'lIurb>. "alI) d~ ron>l>t'ffru.ão. o q ..... 1 (1)1\$,1 .. • ~, !<'j;1I000 Wcbl·r, tm "("~pcJ.r pur ."'~'1'.t'lçiQO SC"Iu.do ou !> conJun. ro ~'S",IK~U'"I) qUl:'" " 'm cm vi~.~- (çÍ Ma~ W~bt-r, t~.I"d S.(/III.
Pmf. I 'J7 1 , I .. I. p .. S) .. \'('",~ r~mbhn J. 1'",1111<[, Iii rMwHJ ,'" ~it-m
'-1"<1,1'""0,1973 .. 1. (( .. D.H .. "!~'$, Ixnrn\ L Mt'aOjo'lo's, JO/'S~" R~ndrn. Wdh~m W. IkhrroJ III , 1"11« Lu,.,,! :. (;""'111. NO\A YQI'k, 1'J72 f.. p;>r4 )
'1'I('W<k>Iu,la, J. W. fOftI:"$t~r. 'l"'" O)It;I"'KI, U.r"br;dg~. M:I$$ .. 197 L
}. Um Jus l)OUCOS «onomUI:lS 'I''''' ~ ,em prrocup,ado ~N.ITlC'mc (Qm
C'Uf problmD. o pi'olC1.SOf ~tSClI-ROt"gm. nos diz: -Alguns o:conom'S,:&!i ,';m-., rt{ .. ndotoo ("'fock qut' o homnn não Itm capacw;b.k pU:I , tiuO\! driu\lir m:I(~flIOU etM:rg:ia - ' -c-rdadr 'lU" d«orn-dl Prime-u,," U1 cb TtTmod,n.'m,u, Con,udo nmhum tknt~ .. ln pi1«1t tu ... ,,« (oloc:l<lo a quim .. qOt$rio: tm qtl(' ,,0110 ('()f\$'s' c um ptoc:tSSO t(onoj..
mico) .. 0 ConlO.ducm<K o p ' OCH$O KOoom,co como um lodo ..
~nflOolo "r,irlmem .. do porllO de VIS" !imo. Vi:-!I: dt ,mediatO <I"" k" (r~11 C! .. um I-'f(I(CSloO póltcl.ll, f HnlnKnlO por urm. (rom .. ,,,. a'r~
.. {-sda qwl m""fll c .. ntrgr" m im .. rnmb.~ mm o miO do univ('f. 50 ,mutilaI. Ir. !df>OSla i q~do C'm {l~ mn.",'c ~ pro«$fO I ,impi"", fi .. nc:m proo:lul no;:m (OOSOIT.e I'Nlbll~nt'r8i:l; limi\a-SC' ~ ab$oo"Cr C:Ii reJCl lu maréria-mc.-rgia d .. rorma rom inua. Pod~11"I05 C$1:lr «nos de <JI>C" III<'SITIO o mai, ardo",*, pari id~rio d~ Itst' !l:gul"Kk> • qUlI os !tellr
$OS !};I I ur:.; s n:l<,b ,Em I ,-er com ~ criaçlo de \'alor rnncordari finaln~ru \'
f m que O;SIf' alguma di(~l'I"nça cnl tt' o <juc cne r.1 e o <llI(" ,ai ..lo proo.:cuo referido ... Do pomo ..lt VI $U <,b e~rm()J;nSmK'll, l IIUI~ri,.ent'rgi~ <;'1)1 rl
no prQ("~'SU) l"("onôm,~'() num e'St~1u <k bt,lx.! rNrf"pltl c ~i JcJe num cst!ldo de '11rlS .>llrrJPld: Ct, Grorgt"K\I. R0t'8en, N .. TIN f.'lIroJ>y l -IIu' ,,/I(i rbt ÚMIM;r Prohl,,,,, (ollf~rfnda "rooulKlada na Un"'etSluade ue
Alalnnu, \970. \'e~-I'C' tam~m • ..lo ~mo1lI,ltor, TlIt EottrrJp) Útil'"'''' rk &_N 1!'«f1J, úmbnuge. Man .. 1971.
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A EVOLUÇÃO ESTRUTURAL DO SISTEMA CA PITALISTA
As clucubraçcks sobre o destino de nossa ci\'ilização, por fascinan l~S (Ju~ QCa$ionalmente pareçam, são de redu· údo impacto sobre o espirito do homt'ffi com um. A psi· co10gia humana é tal que d ificillTlt'ntc podemos nos con· ccnrrar por muito t ~mpo em problemas que superam um hotiw nre temporal relativamenre cuno. ""'teu objecivo é mais lim itado e prr:ci so t' pode ser sint t"( izado t'm uma pt'r· guma si mples: que opções Se aprt"Senta m aos países que sofreram II deformação do subdes(' ll \'olviffiento. em face das presentes tendências do sistema capi tal ista ? De qwe ponto de vistll O estud o a que ances nos referimos podc lcr u tilidade nessa exploração do futuro?
Desde logo, temos de reconhecer o irre!ll ismo do mo· dc10 urilizildo paro projetar a economia mund ia l c, couse· qUelltemenre, a irn'k-vância das conclusõcs clt taclfsm icas aptescncadas, Como admi t ir que um modelo baseado na observação do comportamento histórico das \\funis econo· mias industrial izadas e na presente eStrutura deStas possa servir para pro jetar as tendências a longo pm:lo do proces· 50 (Ie industri21iução cm CSC21a p lancrári2? Com efeito. a
{'$Irutura (lo modelo se funel:t na estri ta observaç:iodo bJoco de' e<:ouomias que lideraram o proct"SSO de industriali?ação. que puderam miliwr os n:cursos naturais de m:tis fáci l acC'sso e <Jue lo~raram o romrole de grande F"e dos r«ursos não renová\"{·is qUi: se encontram nos pai§C'S sub
dt'smvolvidos. ~ Não se t("Jla aqui de simplificação meTOdológica, de primeira aproximaçio a ser rorrigida quando se disponrn de informaçl:>escomplemC'ntares. Trata-se simplesmente de uma. {'$lnHUra. que reflete uma. observação inadequada da realidade, ponanw inscrvível para proje. tal" qualquer I(·ndência deSta ôltima.
A questão que- "em imecliaumente ao espíriro f a SC'gui nte: dispomos de suucieme conhC'(Ímenw da C'strulura da economia mundial (011, simplesmen te, da do (onjunta das economias mpi talistas) pam projetlllCndências significativas da mesma a longo pralo? M,'smo quc n1l0 eStejamos dispostos a dar uma irreSlfi t:l resposta :lfirnlat j_
\'a a essa questão, não podemos deixar de fCt:onh«er que existe ampla informação sobre o proCl"SSO (Ie induscri:IJi· :ação em países de di \·crsos graus dt' desenvolvimenlO 1:<0-nômico. Porque dispomos (k-s.sa informação, já mio ~ VOssh'el aceitar a lese, esposad!l pejos autOres do escudo. .segundo a (IUal "à m<:<Iidn em quI:' o rcsto da economia mundial se desenvoJvt'r tconomicame!lf(. da seguir:! 00-sicamemé' os padrÕC's (Ie consumo dos Estados Unidos. "1
A accirnçào<!cssa doutrina implica io:nomr a tspecificidade
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do ft~nômeno do subdesenvo lv imento. A ela se deve a ('onfusão entre cconomi,l subdesenvolvida e "país jovem "; {' a d a se de\'e li concepção do desenvolvimento como uma scqüência de fases necessárias, à la Rostow.
Capnlf a natureza do subdesen volv im en to não é tarefa fáci l: mu itas são as sua s dimensões. e as q ue são facilmente visíveis nem sempre são as mais significarivaso M as se a lgo sabemos com seg uran ça ~ que subdesen vo lvimento nada te m a ver com a idade d e uma sociedud(' ou de um país. E tam bém sabemos que o parâmetro para med i- lo t o g rau de ac umulação de capi tal aplicado aos processos pr odutivos e o grau de acesso ao arsenal de bens fi na is que caracterizam o q ue se convencionou cham.ar de esti lo de vida moderno. Mes mo pa ra o observador supe rfi cial pa rece evidente q ue o subd ese nvolvi me nc o está ligado a uma maior hete roge ne idade tec no lógica, a q ual reflete a natu reza das relações externas desse tipo de" eco no mi a.
Quando observamos de forma panorâmica a economia mund ial no correr do século X IX, parcicuh.trmente na sua seg unda metade, percebemos q ue as enorm es transformações ocorridas ordenam-se em torno d ~' do is processos: o primeiro diz. respeito a uma considerável aceleração na acumulação de capital nos sistemas de p rodução. e o segundo, a uma não menos considerável intcnsifição do comércio imernacional. Ambos os processos eogen-
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dl'.u"J.m aumento! substanciais da produth'idadt' do faror U':loolho. d:lndo origem a um fluxo CI't"SCt'ntt' dt' t'xcedent!' que st' ria utilizado pRta intensificar ainda mais a
acumulação t' para tinancia r ;l ampli:lção t' di"el'lificaçio do consumo privado t' público. Como foi apropriado é$SC
exct'dentt' t: como foi oric-ntada sua utiliuçiIo con$tituc-m O problema fundamental no t'studo da t'voluçio do o pitalismo induStriaI t'm seu proct'sso de amadu recimt'nto. Duralll t' uma primein (lIst, grande pMtC do r('({' rido t'xcedt'nte (oi canalizado para a Gri-Bretanha, transfor
mando·se Lond res no CC-lItro orientador das linanf.tS do mundo capitalista. Financiando os invest imelllos in(rarst rutu rnis r m todo o mundo tm (u nção dos i ntt'~s
do combcio internacional. ;I. Grã·Bretanha promovc:u t' consolidou a implantação dr um sim'ma dc divisão internacional do cubalho que marcaria detini tjv;l.meme a evolução do capitalismo industrial. Esse' sim·ma favo
receu li concentt.lçlo geográfi ca do proce-sso dl' acumulação de capital, pelo simples fat o de quto, t'm (':l z.io das econumias externas e das economias de cscala dto produ
ção, as lIti \'i(lades industriais - às qU;lis corrcspondia o selOr da demanda em mais nípida expansão - f('ndem li
aglomerar-se. A ~ contra o projeto britânicodt' economia mun
dial logo 5t' ft'z semir. A S<'guOOa f.ue da c\'oluçio do capi
taJismo industrial está marcada por t'SS3 reaçio: é ° período
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de consolidaç-Jo dos ÚJUm<lJ tamQmum n"ôo""iJ dos paises .:;u<e forma riam o clube das ecooomias desenvolvidas no sk:1.110 amaI. A forma como ocorreu ess:a tom3l:la de consciência COl"lSrimj capílulo {asc:inant <e da hisrÓfia modt'rna. mas ~ maft<ri3 que t'SCapa a nosso intt'1"t'SSt' imediaro. 8 3Sta assinalar que, em toda parte. o êxito da rcaçio ('S1","'e l igado a uma ct'ntrali;,:ação das dt'("iSÕt'S ecooômicas bem maior do que aqurda que oovia conhecido o mpitalismo industrial britânico e'm sua fase de consolidaçio. Em al,gumas partt's. essa maior cemrali~ç3o s<eria obt ida por meio da preem inência do sistema bancário, o q ual conhect' ria imporrnn{e' evolução csrnltunl: an OUtras, o Estado nacional assum ili fu nções mOl is amplas na di ~'Po do proccsso de acumulação.} Por roda parte' essa ocirotaçio lcvou a. alianças <k- classes e grupos sociais - bUlSuesia industrial. comercial e finan cei ra . propnt'tários rurais, burocracia esratal - em tomo dt" um "projeto nariona]"', com repercussões sig nitiCllt iv,u na evolução do cap ital ismo industrial . Ao passo que' na f.'lS<: bri eâ,niCll o com!!rclo interm.ciollal crescia mais rapidamcnte do que a produ,lo no (('ntro do siStema. a rendência agora ser;{ em sentido inverso. A t'volUfIo dos tcrmos de imerclmbio tendt' a St"f desfavorávd à periferia do sistema _ isro f,:lOS países fO{lle.'Cooores de produtos primáriost' II acumulação contin,ua a concentrar-se no ct'lU ro. 3g01'.1 !fllllsformado num grupo de países ('m d istintos graus de Jndustriaüzação. J.lorourr;o laJo. II. (l0"",1 forma asS~lmida pelo
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CJpitalismo - maior ccmr.lli~ção d(' dt"('is&os no plano naciooal - facilita a conc('nr["~io do JXlder t'Cooomico e a tmersênóa de grandes empresas. Os nlt."rrados inrunaciofia is tcnd<"m a ser conuolados por grupos de cmpre$as, cancJizadas em gmus divel'SO$.
Por que es{c (- não aquele pars passou a linha demarC'arória,t' ('nrrou p.11"3 odube dos paísrs desenvoh'idos nt'S$:I segunda (ast crucial da evolução do capitalismo indusuiai, <Iu~ s<- situa enrre os :IOOS 70 do século p~ssado e n priffi{'iro confl ito mundial, é problema cuja respos!; .. per{ence mais à História do que à anál ise econômiC2. Em nenhuma partC essa pamgt'm ocorrt"U no quadro do Jaim:foi rr. foi st'mpre o resultado de uma politica deliocradamcnte conc('bida com esSé fim. O que imeressa assinalar ~ qut' a linha demarcatór ia I('nd{·u a acC'OIuar-se. Como a induSHiali~çào em cada época se molda em função do grau de 3cumulaç-Jo alcançado pclos países que lideram o proccsso, o esforço rclarivo re-querido para dar os primeiros passos tende a UeKe( com o It:mpo. Mais ainda: uma vez que o atnl.S(l relafivo akanç:a ce!Co pomo. o processo d" indusrrialiwçio sofre impormntes mod ificaçlks qual i~ativ as. Já nào $C' orie0l3 elt· par;!. formar um. sislema «onômico nacional e sim par.!. complelar o sim·ma «Ol'lÓmico imcrt\acional. Algumas indÚStrias sur8~'m inte,l,;radas:l certas ati ... idaues t'''portadoras, c Outras como comple'ffit'nto de' alividadt"S importadoras. Dt' uma forma ou de otura,
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elas ampliam o grau de' in {egra~-ão do sistema «onômico internacional. Nas faS('~ de crise: demo último, procUr:l-S(· r«!uúr o cometido de importaç~··dt' ((·nas aljvidades industriais, o que leva ocasionalmrmr ii instalação dC' in· dústrias illtC'gmdoras do sistema tronômico no níV("1 nacional. Assim, por um proc('sso inve'oo, através de' um esforço para ~t:duú~ a inst"ahj]idade resultante da forma dé' inserção na economia internacional, molda-se um sistema industr ial com um maior ou menor gl"3u de intl'gmção.
Esse siscé'ma induslrial formado cm torno de um mercauo pN!vianl{'nte abastecido do exterior, \·ale dizrr. (·ngendrado pdo processo de- ~substi 1Ujção de importaçÕ("$~ , é específi co das <"("onomias subdescnvolvidrl5. Apresem3 aracreríscicas próprias que <levem ser tidas em con· u em qualquer eXe' r(Ício de projeção do conjunto da economia mundial. P;l r.!. comprct:n<kr o que há de pró. prio nesse no\"o tipo de inclustri,llização, é nec~ss,í rio dar \Ilguns passos atrás e' rdl cti r sob~ a si luação <laqueIes ' subconjuntos t"Conômjcos que se imé'graram ao sislema mpitalisla imernacional. na fas<- de hcgt'monia britânica, (' pC'rO)ant'ct'ram como exportadores de produtos primários. 11:1 (ase subseqUt'nte ue ampliação do ccnt ro do 5i5ft' · ma. Nessas economias, os incrementos de: prod~lividaue resulram (undamemalme1lll" de cxpansão das t xponaçÕt's e nàouo processo de acumulação e dos avanços If:'(nológicos q ue' acompanha\'3m no crntro do sistema essa acumula-
ção. Tnt~w~-sc de mcorporar r«uNO$ prodmivos subur;li~O$ou rc<:C"Ilte!lXmc: :.dquiridos. como no caso da miodC"-obra Imi"(:Inte. :l um sistema produu\"O que crt'SCi~ hori:ront:.ltTklltc". &ses aumentOS de prodm i\·idade ckcor
rem do que em tronomia, :. !XIrrir de Ricardo, ~ dum;!. dr ~vamag(·ns compaf1l.riva5~. A doutrina li!x-r:al. mediante.1 qual os ingleses com I~nt~ con\·lcçio Juslifi(:jram o seu projC'1O Je divi!>1o intt·rnacional do trnbalho. apoiavak nC'$$a Iri das vantagens compara tivas.
Que paf$C's - com abundância dC' t(·rm.~ não IItilizadas c a possibilidadC' dC' n:cc-bC'r imigrantes (ou de uti lil:l r mais imens::unente uma m;1o-dt..oora integrada num sis(C'ma prl-Cõ\pi lal isla) - hajam opcado pela via Je- m("OO( t"t:1istência d;tS \-amagens comparativas nlio l de surptt('nder. Afinal de comas. a Grã-Bretanha também rsGl\·a CIptando pelas \-antagens compal"lH ivas quando rtdulia a pouca coisa a sua agricultur'!' e se concentrava na indústria t
rntSmo na produção de c1U"vão. que em parte e:'l"po(la\'a. O que cria a di{trença fundamtnta l e dj origcm ~ linha divisória enHe dl'sen\'ol"i mento C" subdt'Sel1vulvimelltu ~ ':l oril'ntaÇ"~o dada à utilização dO~'xc(-dt'nte C'nge-ndr:ldo pelo incremenlO de produtividade. A 3.tividade indumi3.1 u::n · de a conccntr:tr grande parle do excedente em pOUClIS mãos e 3. conserva-lo sob o control(> do grupo social di~t"ólmem(> compromel ido com o processo produtivo. Por oUlro lado. como o apit;:!1 inYl'rtido lU indúSlria eSI;'i sc-ndo COll$(;l.n-
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:tf1"l("fltl' renovado, a porta fica pnm:tIlffitt'lT1(n~ aberta p.1ta a In[f(xluçio ck moy~õts. Onsa (orm;!, um sIstema mdU$uial tC1lde a crescer por SU1S próprias (orças. a menos q\.lC" seja submnido I insuílciênci.1 de denu.fl(b. crl'U\":l. Explia-SI'. :.wim. que ~utlts ~íSt$ qlK' procuraram cri3.r um siSll'ma l'CollÔmico nacioru:l. n~ SC'sum!a {;Ue da t \"OJut;ào do (:jpHallsmo Industrial. hajam protegido ativid:ulc-s "ólsrícolas ~ OUl ras, C]IK' não o{e-reeiam "\"antagens compa.rativas". Mediante tua proteç;io eles asseguravam dem:tncU. ao SCtot indu5I1ia1. compensando amplamente com incrementos de produti\'idadc I"Itstl' SCtOC o qUI' JX'rdl~m na.s demais atividadts "poxegldu".
Nos países em qtIf" as Vl1ntagt'ns comparath-as UIU
me-m a forma de tspt"CiJ.liuçio na tlfportaçào de produtos primáTlos (panicubrmeme os produtos agrícob.s). o C'xcede-ntC adicion~! :assUITlC" a forma de um iocTCnx-nto das imponaçõts. Co/lXl a e$pecialiuç:1o nilo requer ncom impila modIficações nos métodos produtivos. e a acumulação se te'l liu com recursos locais (abenu.ra de Iceras, estradas e conmuções rurais, crescimento de rebanho etc.),' o incremento dJ capacidade (XI r.I imporlar permanece disponível paf'J ser Ufil i1.l1do na aquisição de ~ns d(.' consu
mo. D<.'ssa forma: é pelu lado da demanda dt' Ix-ns fioais dC' consumo quC' esses países '$t' inserem m3.is profundaITlC"n!(.' na civjl il:açio industrial. Esse dado f {undamental p;ua comprccndC'r o sentido qUI' ne les romad, em {ase
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subseqUente, o prOl:esso de indumiali7.açdo. Não € minha intenção abordar aqui. cm detalhl.'. o probll':ma da
especificidade dess:. indust rialização fu ndada na I:hamada
Msubsrirui(ào de jmpof\'a<Õt"s~; limjrar·mC'-ei a assinalar
que da rende a reproduzir em miniatura sisu'mas indus
triais apoiados em um processo muilO mais amplo de acumulação de capital. Na prática, essa miniacurização assume a forma d~ instalaçiío no país em tjuesdo de uma série de subsidiárias de empresas dos paíSt'S cçntricos. o que reforÇ'1 a tC'oclência parn reproduç2o (II.' padrõcs de consumo de sociC'<lades de muito mais elevado 0;\'('1 de renda média. !}Jí resulca a conhecida síndrome (te tendência à conccncraçà'o da renda, tào familiar a todos os que ('Sc udam a industrializaçào dos p'díses suhdesenvolvidos.
A r-.i.p ida induStrial ização da periferia do mundo capitalista, sob a di reção dC' empresas dos países cêmricos,
que se OOser\'ou a part ir do segundo confl ito mundial. corresponde a uma terceim fase.- na evolução do C1Ipiralis
mo industrial. Essa {.'\SC: se inil' iOll com um procC'SSO de
imcgrllÇ"~o das tconomias nacionais que formam o Ctntro du si stema. Da fo rmulação da Carta de Havaml e criação
do GA"l1" aO Kennedy Round, passando pela formação do Mercado Comum Europeo , fomm dados passos consider:!veis no S('mido de t'Stnlrul1r um espaço «ooômico unifi
cado 110 c('nero do sisu'ma capital ista. O 11lO\'imemo (Ic capitais, dcmro desse espaço em vias de unificação, alcan-
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çou volume considenivel (princ il>a lmcnte dos Estados U nidos para a Europa oc idental, mtas (também , em fase mais rC'Ct'ntc. em sentido inverso), o que permitiu q ue grandes t'mprt'S8S 5(' implantassem em lodos os subsis{cma~ nacionais e tamb~m <)ue as esrmru ras oligopolisras viessem a abmnger o conjunto desses subsistemas, A formação, a pareir da scglind,\ metade dos anos 60, de um importante mercado intcrnacion:tl Q(' capitais const itu i o
coroamemo des..~ processo, pois permi te às grandes emp resas l i~rar-se de muitas d;ls lim itaçocs criadas pd os sis temas mÓoerlÍ.rios to' fi nanceiros nal: ionais.
Dessa fo rma, os sistemas nacionais, que cons li tuímm os marcos delimitadores do processo de indus triali zação na fast' an terior, foram perdendo ind;vidualidade no
centro do si steJn:' capitalisra, liem que surgisse d:lr;ttneote Outro marco para substituí-los, '!e lldcu a criar-se lima si tuação de alguma forma similar i\ que pre"ak'Ci:. na época cm qUE':I Grl-Drctanha era sozi nha o centro do s iSI{'ma capi ta lista. Da mesma (orma que o elupres:irio ing lês. que, fi nanciava o seu projelO na City, se sent ia livrt: pam localizar li sua atividade em qualquer pan e do mundo, a filial "illlE'rnac;ional" de: lima empresa americana ou italiana que é diriMida do Luxcmburso ou da Suíça ~ambém se sente livre: p.1m iniciar Oll ampliar suas 3tividades nesw 0\1 naque/(· país financ iando-se da forOla que lhe convém, em função de seus próprios ob;etivos de expansão. A diferen-
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ça com o ant igo mQ(/cJo britânico est' em qU(' o emprt'Sário ifl(k~Ic.lU;1 1 foi subsriw ído pc.-la grande ('rnl,r(cS3.
Se- enCOlllnmos simi litudcs com o anll80 mQ(/t'lo brir-.i.mco, Cilbe reconhecer q ut' também do sigowcati V;l$ as semelhanças com o capI tal ismo dA f:ilS(" de consol idação dos sistemns nacionaIs. Com c:fdto, foi no quadro deste 1111i l110 q ue li grande cmprtsa nssu lll iu o papel de centrO de dec i ~iio capaz de influir cm iroporcantcs setore5 de ntividac.JC$ I'conômic:ts. A g rnnde empresa ~uer
um grau de coordenação cl a~ decisOts econôm icas mu ito ma is avan~"':tdo tio que aquclt' que corrtspondc :tos mercados :uom izados. Essa maior coordcnaçio foi inicialmen· u, alcançada mc-diant t' a t utela do sistema band rio ou dm:,tamente de órgãos do govl!' rno. Mu, li mcchJa em q ut' as grandes empresas fo ram adquinndo maturidade t' foram .se dotando de: direçÕC"S profissionais, tenderam a desenvolw:, r regras (te conv j,·ência que permitiam a troca do mínimo de inform ações nccnsá rias para il!kgurar umll cerla courdl'nação de dcci:sõ<-s. Essa evol uçl o se f('7. inicia lmente n05 EHado$ Unidos, onde a gT":mde riquC'za de experiência permitiu explonr múltiplas possibilidades. /I. lendência à concentração que criou cm certos ramos situaçÕC's dI;' ,·jrtu;J.1 monopólio provocou rc:aÇÕt's inversas de defC'u do inl ert'ssC' públtco, como as leis amitruslt' do fim do século paSS-1<10. F« hada a porta ao monopólio, foi neceuirio desen\'olvl'r formas de coorde-
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naç-do mais su tis. O 0li80l'ólio consti tui o corQ;Jmemo dt'ssa evoluflo: ele permite que um pequeno g rupo de g r:.mdes firmas criem ba rreiras à C'ntrnda ce Olllr-U em um sC'to r de ar ividade econ6mica C:' administrem canjun. laOlellte os preços de ceItOS 1>rOOulos, conservando, coneudo, autonom ia fi nanceirn, tecnológica e ad ministrari · va . A adminisu:açfio dos pTl:çO! crill vantagem relat iva pilra as emprC'us que mais ino\'am cantO em processos p rodutivos q uanto na innoduç:to de novos produtos em dett'rmlOado setor. À ciferença da concorrência tradicio· nal dC' preços, quC' se tradu z cm red uçio cos lu((05. debililamenro fin3 nct" iro, fechamC'nto de flibricas ou. no C'.uodC' que $C' im ponha um monopolista, em c:levaçio de preços e redução dC' demanda , o m undo dos oligopó".. lios $C' assemelha mu ito mais a um:1 corrida em que, salvo acidente, todos alcançam o ob jelivo fi nal. sendo maio r a recompensa dos que cheg:1m na freme. t um esporte ao qual só t(:m acesso CaI\ll>t'Ôt'S , como as finais de \XIj mbleclon.
A forma olJgopolista de coordenaç\io de decisões, graças à sua t norme flexibilidade, pôtle ser t ransplantada para o cspaço $(.'mi-unificado que $C' eSlá consti tU indo no centro du sistC'n)a capitalista. Favorecendo por Iodas as form3S li inovaç2o. o oligopólio const itu i poderoso instrurneoto dC' exp3nsão «ollÔmica. Gra(as illiberdade d E' a.ção de que vêm gozando as firmas ol igop6licas, o com€rcio d I!'
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poodmos m;mufat\l rados em~ os p;aíses cem ricos cresceu com t!x traO(d iniria rap!ck~ no correr cios úllimos dc:-cênios. Por outro I .. do, II enorme capacidade fi nanceira que essas formas (endem a acumular Jeva-u a bUKaI" a di\"(~rsilicaçio, dando origem aoconglomerado internacional, que é a forma maIs :ava~ .. dôl empr~ moderna.
À primtiu. ",ista. pode p4l recer que a grande empres .. dtrt,· .. sua f01"Çil principalmente du economias de ~b de produção. Isso é apenu cm parte vrrd:ade. As economiu de t"SÇ,da são fundal1"lt'ntais n .. metalurgia, na química básica. p4lptl (' OUl ras indústrias de processo comínuo C" rambém ali onde õI mio·dt-uU1""iI i utiliz:adõl de forma imensi \'a e o tmbalho poc/e S('r organ iudo em cadeia. Tudo isso responde apcn:.1$ por uma parrt cio enorme procf"UO df" coneen traçio da indústri .. moderna. A. sua grande força (I (·tiv~ de (Iue (·lõI rraba.J ba cm \1lCTC;adQS organizados. está em condições de admini$tr.u OS prl.'ço$ e, portõlnto. de $e a~st"gurar auwfinanciamcnco (' poclrr planejar suas at i\' idlldc$ a longo prazo . :-"Ias n1l.o M dÍlvid(1 de qU(' foram as indústrias do primr iro ti lXl quc consti t\l íram o campo uperimemal o: nI C/ue se (lesenvol\"eram as t f(.O iulS oli!;opoh stas. Isso porque. onde as cconomias de escala slo import3ntes. a~ imobi lizaçÕ<'S de ("apitai s:io cOlIsider:{veis, o que fa cilira a criação de barrt'iras à enl rJda de 00\ '0$ s6cios no clube. Somenu quando essas b3trei ras 510 sólidu é- possí\'cl adminisrrar
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pl"e{OS r pl1nelllT'"a longo pf:l.zo. Drmais. nesse tipo (Ir
indús tria é mu itO mais difícil manter ocultOS os planos ele expansão. Por últ imo. nu indúSfri:15 qur produzem artigos homogênros. OS cusros de produçio $ào relativa
mente transparrO!rs, na medida em que u técnicas sio conhecidas. t nalllf31. po.namo, que ha ja m sido as empressas desse grupo as primeiras que se organizaram internacionalmente como olig0p6lios. E foi a t','oloçio
no país ânr rico da emprrsa oligopólica internacional produtOra de insumos industriais que dru origem a uma
das primei ras fam íl ias de empresas d!vc: rsificadas. Com t"fd to. i mec.lida qur as grandes empresas internacionais
se foram capacitando J>ll ra administrar os preços dos metais niio-ferrosos, tornou-se' imeressantt' para rias transformarem-se em g randes util izadoras desses metais .
Por outro lado, para plam:jar II produção de cobre a longo prazo era necrssário conh('cer a evolução da economia do :tlum ínio. por txemplo. Daí a rmcrgrncia de novas form as de oligopólio visando a coordenar a ecooomia não
de um produto. mas de um conjunto de produtos até certo pomo substituíveis. Exemplo claro dessa rvoluçio
f dado pelas g randes companh ias de peHóloo: d as renderam a diversificar-se no ca.mpo da petroquímica e da. rnorme família dr jndlísttias que daí parte; mas tamMm procuraram insrabr-SC' nos setores concorremes, do
carvilo à energia :nÔmi(":l.
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Se observamos em conjunto 3.S duas linhas dr diversificação, a n'rtical e a horizontal, Y('mos ljue uma ('rnprt· sa qm- 5(' expandt nessas du:lS dircçõcs ttode a ser kvada a controlar ati\'idades tconômicas na aparência [()ulmente desconl'((adas umas das oUU'J.$. A partir de certo momento, as .... Jntagens da diversificação passam a Str estritamente de caráter financeiro, pois o excesso de Jiquidn de um sctor pode ser utilizado nout ro, ocasion~lmcnte mais di ·
nâmico. Ora, cs!.(' tipo de coordenaçã.o pode ~r obtid~ por
mtio de instituições financ('iras, por <Idinição.muiw mais
flexíveis. Esse processo t\'Olutivo teMle, portamo, ~ levar
a uma coordrnação financeira, atra\'és <Ie insti tuições bano cárias e semelhantes, e a uma coordenação oligopolisla,
. no plano operacional. As observaçÕts qU(' vimos de fazer $t' baseiam na ob·
servação da CSlnllura tconômic-a nOtl('·americana, }'Iuito
menos informação dispomos acerta das formas que estão
assumindo os olig0p6lios no espaço l'Conômico, mais he
terosê'nco, ('m processo de unificação no cemro da ccono
mia capiralista. Sabemos, sim, ljUC os r('(ursos financeiros postos ii disposição das grandes emp~ crt'sceram consi
deravelmente, que os sistemas bancários rucionais europc-us passaram por um rápido e drástico processo de
retSlruturação em base regional e que o sim'ma bancario
nOrle-americano se rxpandiu internacionalmente de forma v('f(iginosa. Também sabemos que as grandes ~mpre -
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sas operam im~rnacionalnl~nte atravk de centros de d«isilo que escapam. em grande medida, ao controle dos go
\'ernos nacionais dos mIX-cti\'os paíst:S. A c\'olução e5tnl[Ural dos países cinrricos reria ne
cessarianle!He de repc:rcut ir nas relações e<:onômicas in(('rnacionais. Neste te rr~no, mais qut' t'ffi qualqlll' f OUtro, ;I graudt' t'mpn:sa k'va Vantagem. Com efeito, somente ela está em cond ições de administrar recursos aplicados simultaneamenté cm di , 'crsos países, É natllral, pon:llltO, que as amigas uansaçôes internacionais, organiudas por intermediários- que t'Sf*'ula\'am com esroques ou iogavam Ilas bolsas de m~rcador i (l5, \'enham sendo progressivamente substituídas por transações entre empresas pertenCellrl'S li um grupo, cuj~s :lCivjdades estão articuladas. A mroi.:ia que a~ atividadl'S «onÔmic-.lS forantseodo organizadas dentro dos pafst'S cêntricos para JX"rmit i, um planejamento das atividades das empresas a mais longo
prozo, impôs-se li necessidade tle também planej:lf :'ls rrunsaçõcs illternacionais mediante contraros dt suprimellfO a longo prn:,w. instalação d,' subsidiárias ou ouml.S formas
<k' anicuJação. Operandn simu ltaneamente em vários países e rt"Jli
zanclo lransaçõcs internacionais enHe membros de um mesmo grupo, as grandes emprt'sas tenderam a desenvol· ver sofisricadas técnicas de admillistraç-Jo de preços, que eXigem na prá.tica uma grande d isciplina d~l1 tru (los
oligop6lios. o mt"Smo produto pode Sotr vendido:ll prt~ diyenos cm \':i rias paísc:s, indcpcndenemt'11te dos custOS
locais tk produçao. c: as preços pnlticados nas rransaÇÕt"S
internacionais dentro de um mesmo grupo slo fixados rendo cm COnta. as diversidades de: políticas fiscais, as problem:u cambiais t tC. Essas rk"nica.s são pnttiC"3das no quadro dos oligop6lios. pOTlanro não devem de$Org;1.ni~r os mercados ncm impwir o crescimento (lcslC"$. O intcrt.'ssc particular que apresenta o seu e-studo reside em que elas per
mirem. e ntrever a vcrdadeira significaçào da gran.dt" (.'lIlp reu dentro da economia capi talista mocle-rna.
O traço mais C"3ractcríst icodo capitalismo na sua fase
c\'olutiva atual está em que ele prescinde de: um Estado, Illlcional ou multinacional, (om a Ilrt'tcnsão de estabde
CCI critérios de- illf("-lJt gm~1 discipl inadores do coujumo du ali \'i\b.des eronôm icas. Não que os Estados $C prcocupt'm menos, hoje em dia, com o interc:sS(" colc-tivo. À medi
da que a.s economias ganharam em estabilidade. li açAo do EStado no plllno social pôde ampliar-se. M:l$, como !anto
a ('Stabilidade quanto a expans.'lo dess:ls cconomills depen.dem fundamentalmente das t ransaçoo intt' rnacionais e
estaS estào sob o controle- das g randes cmprt"S."l$, as rd3-ç«s dos Estados nacionais com estas últimas u:nde-ram a
ser rdaçcks de poder. Em primeiro lugar, a gnmdt"" empre
sa controla 3 ino,'3Çio - a introduçào de novos processos e novos produtos - dent ro das economias nacionais, cer-
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lamente- o prmcipal instrumento de expando internacio
nal; em segundo lugar. das .sào ~ponsávels por grande pane das ttllns:tções in terrucion:m e det2m prAticamente ~ imci:iIIIV'.1 nf"Sse tt"rITOO; em terC"tiro lugu, operam inter
n1Klonalmente sob oncntaçJo que escapa em grande parte i:! lIÇ"lo isol3da de qual<.Jue- r governo; e, cm qUartO, nanItm uma grande liqllldt"~ (ora do comrole dos 1»ncos centrai, e- têm (:icil acesso ao rnucado financeiro imernacional.
O <Iue dissemos no parngrafo anterior de-ve se- r entt"ndido nilocomode<línio da atividade polÍtica, {IUS (orno transform3{ào das funções dos Estados e emergência de nova forma de ofganiução poIíUC'A, cujo perfi! ainda se f"Sti <kfi nindo. Não $C Ik"cessita mui ,a perspicácia para
perceberqut", a partir do segundo connilo mWldial, o sis; tema Cápitalista operou com unidade de comando político. apoiado e-m um sisrcm:l unificado de scgurnnça. À exi.sIê-ncia dessa re lativa unidade- de comando político se deve a rápida recons<ruçào das economias da Europa ocidental e do]apllo. o processo de "descolonização", a organi:t.açio
do Mercado Comum Europeu, a açào pen;istente do GATT visando 110 d<:sarmamemo tarirário, os gtllndt"S movimentOS (Ie capua! que permitiram il.s grandes empresas adquinr a pr«minência internacional, a 3ceitaÇio do padrão
dólar como substüuto do antigo padrão-ouro. A d ificuldade para entender ~se processo está cm que o raciocínio .lJlalógico muitO pouco (I()S ajuJlI. nem" caso. É perfeira-
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mente claro que a rutela política norte-americana (oi um ruuhado ~na(Ural- do último conflitO mundial. Que o maior sacrifício humano t Konômico neS5(' confli to haja cabido 1 UnIão Soyiélica e que II dtslmição do poder militar c polílico da Alemanha e do Japão haja ~('jciado os Estados Unidos dentro do Clmpo C'''pitalista são dados da história que devemos aceitar como tais. O que- ifl teru-5.'\ lISsin;.lar é que, cstabelrcida a prct'mÃnência política nort(' -anleriona, criafllm-se condiçõcs !XIra que st dessem profundas modificaçiXs estruturais no sistema capitalista. Não se pode afirmar que tssas moditicaçíXs hajam sido descjJdas t: muito menos planejadas pelos centros políticos ou l'Conômicos dos Estados Unidos. A "erdade r: que delas resuhou um crcscimenlo eronômico muito mais intenso e um:!. elevação d(' nív('is de vida rdativamenu· muitO major na Europa ocidental (' no Jap;10. Aparentemente, os no(t('-ameriamo~ superesTimaram a '~Jntagcm relativa que já haviam obtido no campo econôm;Cn. ou superesrimamm as Ilmeaças de subvrrsão social e a C'Jp3cidaclc da União Soviética para ampliar a sua esrem dr influência. Em todo caso, eles organizaram um sistema de segurança abrangente do conjuntn do mundo rnpi n!.l ista e por essa forma exerceram uma ('(('(iva tutda polírica sobre OS Enados nacionais que' formam esse mundo.
É possí,'e1 que a tUlela política norte-americana haja sido facilmente aceita pelo (ato de que. no plano econ.ô-
mIco. ela não se ligou a um projeto definido em lermos dI' .ntert'SStS norte-americanos: (oi apresencada como um instrumento de cHesa da -ciyiJizaçio ocidental -, o qLK', para rins práticos, confundia-st em grllOde medida com a de(e$a do sisrema capitalista. Cri.9u·$C". 3ssim, uma supereslruml"ll política I'm ní\'e! muilO aho, com a missão pnnClpai de desobstruir o terreno ali omk' os resíduos dos antigos Estados nacionais persistiam ('m criar barreiras enm os IXlíscs. A reconsrmçio estrutural operou-se a l'arti rdaeconomia incernacional. No plano interno, os Estados nacionais ampliaram a sua atu:lçio para re<:onsuui( as in(,:aestrutu ras, modernizar as inst ituiçõts, intensificar 1-capital ização. ampliar a força de trabalho t'tc. Tudo isso contribuiu, evidentemente, parJ reforçar a posiçio das S.(lIndes empresas dentro de cada país. Mas foi a ação no platw> internacional, promovida pela superestrutura política, qur abriu a porta às tnmslormaçt'.oes de fundo, tra:.:endo as grandes emprt'sas para uma posição de podrr ~'iJ.Jr/is dos Estados nacionais.
A reunificação do Wltro do sistema capitalista constitui, possive!mentt'. a mais impt)f(:&ntt' conS('(jüência do segundo confl ito mundial. Esse centro $C" aprestnca, hoje t'm dia. como um conjun.to de cerca de SOO mIlhões dr pts~s. O scu <juadro político consiste num rcgjme de tutela, sob conuolt' notle-ame-ricano, dentro do qual os Estados nacionais 8o~am, ainda que' em graus di"t'"rsos, dr
II
considcrn"d autOnomia. Nada p.1T«"e impedi r quc a ('$
!futura su!X'ôor de pcxIcr evolua numa ou nouera clireção, stja para reforçar ainda mais a posição none--amcricana. seja para adm itir uma certa part icipação de out ros Estados nacionais. l iambfm não st' exclui a hipótese de que um d<· terJJlinado Esrado nacional procure aumemar a sua autonomia. O problema principal quc se coloca neste último caso t de relaçõcs com as grandes empresas. Em primeiro lugar, lU g r-.mdes empresas do próprio país, as quais já não poderão operar com a mesma flt:x ibilidade dcncro dos oligopólios internacionais e, muito provavelmenrt'. pt.' rderão terreno para as suas rivais ou passarão, parcialmente. para o controle de uma subsidiária localizada cm
omro país. O produto bruw do l·cntrO do sistema capiralisca
sup<·ra·de mu iw , no começo dos anos 70. J ,5 rr ilhào de dólares. O accsso a tosse imenso lIlerc~do, caracterizado por (o(lsider3vel hom08cneidade nos padrôes de consumo, COlIsrit ui O privilégio supremo das grandes empresas. Dentro desse vasto me-rcado, a chamada '·l,<onomia interna
cional" consti tui o setor em mais rápida expansão e aquele em que- as grandes empres.1S go~m do máximo de liberdade de ação. Toda ten tati va de compart imentação desse espaço da parle de qu::alqucr Estado nacional. mesmo os Estados Unidos, encontrar.l: resist2ncia decid ida das grandes empresas. Por outro lado, roda {('mativa de ("(lmpar-
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:,menraçiio r~dm.irá o ritmo da acumulação e da expansão -; :onômica no conjunto do sist/,.°ma e mais particu larmen::- no subsistema que ha ja (Ornado a ini ciativa de isol ar-se. :i. menos que p retenda modif'ienr o estilo de vida de sua ;opu lação e, de alguma forma, perder cm gmnde parte as v.t.nragens que significa integ rar o celH ro do sistema capi: .>lisra, qualquer país, independelltemente de seu tama:1 ho. tcd de conviver com as grandes empresas, di rigidas :::!c dentro ou de fora de suas fronteiras, respeitando a Jutonomia de que necessitam para jntegrar oLigopóJios InternaCiOnaiS.
No correr do últ imo quarro de século, o produto bru ,0 do ccorro do sistema capital ista mais que triplicou, e as =elaçôes comcn.:iai s eOtrt" as economias nacionais que for· :nam esse con junto cresceram com vt::l()(·idade ainda mai
or. Esse crescimento se fez em g rande parte no sentido de maior homogene ização. declinando relat ivamem{' os Es~
rad os Unidos e aum emando com excepcio nal imensidade
J renda per capita d aque les países em que esta cra relativa
me nte baixa, como o Japão e a Irál ia . Mas, se ~ verdade
que o crescimento nos Estados Unidos foi relativamente
lemo, também o é que foram as grandes em presas nortc:~
~mcricanas as que mais se expandiram no plano internacio
nal. Essa expansão, na m aioria dos casos, não assumiu rforma de increm ento das transaç<"";es comerciais d os Esta
dos Unidos com os países em que operam as subsidiárias
dI.' SU.iS grandes empresas. As empresas none-americanas
er3m 15 que estavam mais bem preparadas para explorar as novas possibilidad('S criadas pelas reformas estruturais
ocorridas no sistl.'ma capiraHsta nesse pt"ríodo, S('ja em ra;t:ão do maior poder financei ro de que gozavam, seja por causa do avanço tecnológico que ha\'iam ganho em cam
pos fundamentais. Mas, ao evoluir o c~OIro do sistema capital ista no sentido de m~ior homogeneização, 1S con
se-qiil'ncias na ('conomia narre-americana !lia se fizera m esperar. O mais rápido crescimento da p rodutividade fO .... .1
dos Estados Unidos provocou um:!. dt:sloc3ção da balança
comercial desse país, que tendeu a ser im-adido por im
!l0n açõcs provenientes das out ras nações industriais. Sendo o dólar uma moeda ··reserva·', o resulmdo foi o endivida
mento a curto prazo dos Estados Unidos numa escala que ate: emão parecera inconcebivel. Ess,'l siruaçio provocou
duas cons(-qi.iências importan tes. de natu reza di v{'rsa. A primeira consist iu na formação de uma mass,,\ de liquidez que facil itaria o rápido clescllvolvimemo do mercado fi
nanceiro internacional, ampliando IISsi m o grau de (iber·
dade de- ação das grandes empresas. A segunda foi o r('(onheciméTltO de que o siStema monelário internacional amai
se baseia no dólar e não no ouro. O tilto de que a emissão
de dólar S{'ja privilég io do gOVl.""rno dos Estados Un idos constitui prova irrefutá\'e1 de que esse país exerce com
exclusividade a tutela do conjunto do si${ema capital ista
J! possível qUt: essa tutda. no fumro , seja panilhada com Outros países, su.bsliluindo-se o dólar por umll moeda dE.' conta caucionada por um conjunto de: bancos celllJ1lis. Poder emitir moeda de curso forçado internacional. indt:pendentemente da própria situa~"ào J(" balam;2 de paga· memos. é privilég io rc-al . Comprt."C"nde·.5C. portal\fo, que 05 norte-amt:ricanos se empl:n h,·m cm nào aoondoná·!o. O rt'"gime de paricladescambiai$ fi xas. prolongado por ramo (empo. fund ava-se na hipótese otimisra de que o di(erencial de produtividade enrrt os Estados Unidos e as demais C"<onomias industr ialiu das se lruntt·ria. FOr:! dessa hipótese, de somente $t' ria opt'ucional num mundo em que as relações éConômjcas illlt:rnacionais crI'SC(!"S5(:m lentamente' ou se apoiaSSem cm atividadt'S em que as vantagens comparnrivas se fundas$em em (enBm('nos naturnis. O ah.~ndono {Ia con\'ersibi lidadl' do (16lar em ouro e da fix idez das p.1ridades cambiais t'rml: as principais moedas significa quc· o dólar se rt":msfU(/ilO\L em cemro de gravidade do sistema de fonna expl(Ci ta..
Fizemos (efe(êncJa ao (.1tO de que as subsidiárias das grandes empresas norte-americanas que operam nos dem:ti s palses do u mro capi tal ista têm crescido com intensidade maior do que suas ma.triles. Aprovcitando-se de condições favorh'l'Ís que oferecem esses países e de
• ouuas ainda mais \·antajow que encontrnm na periferia do sistema capitalis ta, essas subsidiárias S(' I:xpandC'm r;J -
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pidamenre t" tendem a cria r rdações :Issi métricas com a metrópole. Por outro lado, durante o longo período das paridades fixas , t'mpresas de Outros países indusuiais em qu~ a produrividade crescia rapidamente. part icularmente o Japão e a República Feder.al da Alemanha. implantaram -se solidamente no m~rcado ~Ione-americano. Criouse, assim. uma situaçio estrutural pela qual as importações tendem a crt'SCt'r mais. fOrtemt'fHe do que as exporrações. Enfrtntar essa situação com simples medidas cambiais significa elevar ptriodicameotc 0$ pr~os das impímaçõcs indispensáveis t' abrir a porta à deg radação dos termos ele intercâmbio. Dessa rorma. o êxi to considerável das empresas IIOr!~ -america llas 11 0 eXH:rior tem a sua contnlpartjda de problemas paT'.t OUtrOS sctores da economia. À medida que as fendências rereridas se agravam e prolongam , vai su rgindo uma área de rricção entre as grandes emprt."SllS e OUt ros serores da sociedade- norteamericana . É di(J'cil especular sobre a evolução de um p.rocesso tão complexo como esse, mas não s(: pode excluir a hipótese de que eI~ tenha importantes consc-qüEneias na estrutllraçao política do mundo capi ta lista. Se o processo de rri cção st" agrava, ~ possível que su rja uma tendência a direrenciar mais claramente o sistema de tu teia política do mundo capitalistll dos interesses mais especificos do EStado nacional n.o(tc-arnerjcano. J\ presente crise política polarizada no caso do Watergate, pela
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qual o poder legislativo prOCLL(a rrcuperat parte das atribuições constitucionais que lhe foram subtraídas pe lo poder executivo no correr dos últimos anos, pode consti tuir O prcllldio de importantes reajustamentos no plano polít ico-institucional. O reforço do poder legis lativo impJicará. muitO provavelmente. maior mobilização dos intéres~s que confl i(3m com as grandes empresas, ao mesmo tempo em que poderá reduzir ii cap:lcidade do governo dos Estados Unidos para exercer a tUlela internacional. Nesta hipótesc, é perfei tamente possí"eI que o sistema de tutela se reestruture em baStl mais "internacionais··.
Nota;
I. Os aUlorn de Tw Il/tlllI TO 8~nh ~ e~pJfc i!OI sob~ a metodolosi~ :klorada: "A ba$e do [~{odu, dil~n\, é o reconh"'lm<:nlo do filIO de que a mrxt!<''' de um si ~l ema - as móhll'!;lS rel;lÇÔn circulares. imcrronrc[-'<ias com i mero~lo de Itmpo. qlK" e~l$lem entre $tUS componemcsi frtqikn termme lao IrnlJOnantt n:a dtletmmaçlo <k $tU comporlall'Il"llIO quaolo o ~ os compotlfOtcs l00i\">duars dcs Il1f'Smos. - (op. Cll ••
p. ~ I I. E ~emam mlll a<:hanu.·: " ... um elt'\·" 1o 8f'1U de agreg~ ~ ~rio Mte (lOOIO ptl':l fucr o muddo complNnsi\ocl ... F'(lflreitlS nad on;tj, nlo ~ ridas em conta. Desigualdades n~ disuibUlçil.o de ahmentoS. dos ret'II(1OI t do Cllmal C'$do inclufdas imphcit:U1Xmc "V' dadoc, mas nio são coJcubd:u ~ic; r~re nem mosr radu na p!OCiu
~'. (p. !J.t).
2 Thi !:lIIm " VW·tI). 01'. COI •• p . 109. :'I. Sob"" aopncifici<bde di indusuialruçkl ... fard~ na Eu"'r;,. pml
cubrrn.ntt 00 quo: ,.....,..ila ...... '""pc'Cu:" in" n ucion;o ... '~ )~'$t II 1 !"aNlko dilliclI de A. G. l"$t hcnkroo, E"' IH#I,r lu(tll- ,mln.,s lN J," _ N"I ptnp"(/,,.. Úmb",Jgt. ,\b$$ .• 1966. prl"olp<lllfl<'nt. 11<1$ pdg",;u ' . )0. Vejam· S<' t:>mbt'm ll. GiB •. "Ba"ki ng and 1",lu<!ri3Ii~alllln in 1:1,1'''1*. 1870-1914". <.' II . SuI,!'I., "''''ostat<.' and lhe Indu:\uial t('wlul iOI1, I 700-1914", em Til. ,"JIJJU" '! ,.c 'OfM,ioll d"i,gido ('o r Cario M. a.ipol l~. 3" ",Iunlot Jc TIx FINI"'~ 1(l1li" '11" . bw~") t{ f.""f'<, Londrn, 1973.
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AS GRANDES EMPRESAS N AS NOVAS RELAÇÕES CENTRO-PERIFERIA
As modificaçocs est runmlis ocorriJas 00 centro, :'I
que fize mos referência, devem ser tidas em con ta cm qualquer tentativa de identificação das tend2-11cias evolutivas lltuais do conjunto do sistema capitalisla. Em priroeiro lugar, ~ nl:(essário ler em conta que o processo de unillcação abri u caminho a uma COllsideci\"d intensiticação do cresci m{'nco no próp'rio cencro, Com efeito. a taxa média de crescimento do bloco de países que formam o centro m:li .~ que duplicou no correr do último quano de século, com rcsp"ito à taxa histórica de (tt>scimento desses mes· mos países. Em scgundo lugar, ampliou-se considcravd· mente o fosso q ue já separava o cemro da periferia do sislema, o que em grande parte é simples constqliência da inrensificaçiio do crescimento no Cf'llIro. Em tercciro lugar, as relações comerciais entre países cêntricos e I~rjfé
ricos, mais ainda c.\o que tUtre países cfntricos, Inlllsformaram-se p rogrt"ssivamenre em opernçõcs internas das grandes empresas.
Não haveo<lo conhecido a f.'!St" de formação de um sistema e<:onômico nacional dorado de relati va aUtonomia
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- fase qut" permiriu integrar as estruturas internas c homogenei:r.aT a tecnologia -, as economias periféricas conhecem um proct"sso dI: agravação das disparidades in
ternas à medida que se indust riali:t,lm g uiadas pela substituiç-;io de importações. Fiztmos referrncia a esse fato, conscqüfncia inelutiÍwl da rentativa de reprodução em um país pobre das formas de vida de países que já akançaram ní\'çis muito mais altos de' acumulação d<: c:.'piral.
On\, esse ti po de indusrrialilação, quc cm períodos ameriores tropeçava em obstáculos considtráveis criados pela
falta de capi tais, pela dificuldade de acesso à tecnologia, pela pequenez do mercado interno, realiza-${" <1nmlmcmc
com extraordinária rapidez graças 11 cooperação dos oligop6lios internacionais. Utilizando tecnologia amortizada . algumas vezt'$ equipamelLCos já também amortizados e mobilizando capital local. as ,grandes empresas cstiio cm condiçõcs de in~talar indústrias na maior p:!rte dos países da iX'ri(eria, cm particular se ('s.~as indúStrias se intcgram parcialmentt' com at ividades de importaçào.
Sobra dizer qUI: a industrialização que illualmente.se realiza na periferia sob o controle das grandes empresas f: processo qualitativamente distinto da industrialização que, cm etapa anterior, con hecer,lIn os paíSl'$ cêntr icos e, ainda mais, da qm: nestes prossegue no presente. O dinamismo económico no ccnrro do sistcma de<'orre do fluxo de novos produtos c da eJ(>vação dos salários reais que pt'rmiu." a
expansão do consumo de massa. Em coneraste. o capitalis
mo periférico engend ra o mimetismo cultural e requer
permanente concentração da renda a fim de que as mino
rias possam reproduzir as formas de consumo dos países
ctntricos. Esse ponto é fundamental para (,) conhecimenw
da estrutura global do sistema capitalista. Enquanto no
C'Jpitalísmo cênuico a acumulação de capiral avançou no
correr do úlrimo século, com inegável estabilidade na re
panição da renda, funcional como social, no capitalismo
periférico a industrialização wm provocando crescente
concent'~ção.
A evolução do sistema capiralista, no último q uarto
de século, caracterizou-se por um processo de homoge
neilação e integração do centro, um disranciamento cres·
cente entre o cenrro e a periferia c uma ampliação consi
derável do fosso que, dentro da periferia, separa lima
minoria privilegiada e as gmndes massas da popula~'ào.
Esses processos não são independentes uns dos outros: de
vem ser considerados dentro de um mesmo quadro
evolurivo. A integração do cemro permitiu intensificar a
sua taxa de crescimento econômico. o que responde em
gmnde pane pela ampliação do fosso que o separa da peri-, feria. Por OUtro Jado, a intensidade do crescimemo no cen-
tro cond iciona a orientação da indusrrialização na )X'rife
ria, pois as minorias privilegiadas desta última procuram
reproduzi r o estilo de vida do cencro. Em outras palavras:
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,
quanto mais intenso for O fluxo d~ novos produtos no <en·
trO (es.st' fluxo t funçio <resenlle da Tt'nda média), mais
r:ipida ~r-.i a <on<entnçio da renda na p!:(iferia. A im~ificaçio do <rescimento 00 <enrro decorre: d;l
ação de "ários fatom, sendo um dos m.1is importantt'S as economias de- I.'scala de produção permitidas prla crt'SCt"nte
homogl.'nei:açilo e uniticação dos ancisos mercudos nacio
nais. Como a industrialização, que se ~liza concorniran
tcO}('Iltt' na periferia, ap6ia-Sf" na substituição de Importa
ções. no qu.1dro de pequenos mCf"C''wos, {: natural que os desnf,·cis de produtividade rendam a aum('ntar, e ades· continuidade" ~'strutural dentro do sistema apitalista, a ampliar-st-. Calx notar que o CreKl.'nt(' controle da ativida
dl'l"Cor18mica no <entro pelas grandes e m prt-sas c a o rienta
çio do progrt"SSO técnico para a produçio em massa tOrn:lm
ainda mais difícil , no q uadro do mp~ta l i5mo. a criação tar
d ia de sistemas ccon8micos nacIOnais. EvidentenlC'nte, a situaÇio ''aTia na periferia, entre paíSt'!, cm função da popula
ção, da d isponibil idade de recu rsos naturais, do nível de renda amériormeme a lcançado. (lo dinamismo das expor
tações trlld icion.1is, da capacidade exn:rml de cnd ividamento
etc. Em países de gnlndC' população, a simples eoneentr.lção dOi rffida pode permitir a formação de um mercado suficienternt-nte amplo e diversificado.
Q ue se pod~ dizer sobr~ as tendências evolutivllS das
rdaçÕ<.-s cntre o cent ro t :l ~riferia a p;1rtir do quadro
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!~ lrUlur:l.l que vimos de esbo)oir? F.izemos rdefineia ao ;Jco de que uma das aracterfsr icas dt-sSt" quadro f :l. eres,
't."nrr. inl~malizaçiodcmrod:l$ gra.ndes ('mprtsaS das rra.n,4ÇOO eQl11erClais em re fl3im. Também observamos q~ :r.lnde parte das "óltividades IIldu)triais na periferia surgia .nrtl)mda com !luxos de import;:açio. ~ forma, uma :num;1 em l'r('$i\ <.:om rola unidades induSl riais em um p3ís :rntrico (ou em mais de um). cm v:trios países pcri(( (ieos
C' as rransaçt'ies comerciais enrre essas distintas unidad es produlivas. A situação t simll:H i. de uma emprf"Sa qur se Integra. ,·ertialment(' dentro de um país: oper:l uma miw
dt." carrlo, uma siderurgi;a. unu f.i.bria de tubos ('te. Exis
te, ('uuetamu. uma dift'rença importante decorren(e do t'ato dto ljue no p rimeiro nso as d istintas unidades pnxluti,'u estio inseridas cm sisttmas monetários diversos: sur
Se". portanto, o probltma de transformar uma mOC"da COl
OUlr:l , o que rcqut'"r encUUlrar OUlra empf("sa qu(' realize uma operaçio cqui,·aknte trn scm ido inverso, ou provo
car essa operação dl.'mro da mesQla rmprC"Sa ou out r:!. do mC'Smo grupo. Tl'1ld ieionalmente, ~ssas opcraçôes de eomptnS:l{ão oSlo feitas pelos bancos. Comudo, dada a situaç-lo crr.íril"-a l-:lmbial e moncl1ria de mll itos p.,í~ JX'rif(ricos. uma gr.lndc empct'Sa quc oper-... imernacionalmeme pcxll' pnferi r criar. da ml'sma, os fluxos cOIl)penSlllórios. d I a"
brlC'Ceooo um sis tema dr pre-ços interno qur pt'rmita pla
n<.-jar suas 3tividadC$ a mais longo prazo.
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Tomemos. um caso qUê' não é típicu, m~s que déSCObrc o funJo do problema. Imagi nemos urna em.presa pc_ trolí(cra opcraooo na Venezuela de ames das atuais complicaçé5n fiscais. Essa empresa produzia para o mercado interno uma CI:rta quantidade de petróleo. cujos preços podiam ser mais ou menos manipulados de tOrm:! a permi t ir que da obti vrsst' a quantidade de moeda local necessária P.11':\ cobd r todos os seus dispêndios. locai s. Uma pam' da produção St'ria exponaua par;t pagar os insumos imporNdos, inclusive a de-precjnçào do capital. O restO da produção (de longe a maior partd seria exponada r corresponderia ao lucro líquido do capital inv~t ido. Ncssa sicuaçào extrema, a empresa pode ignorar a existência de tax:tS de câmbio: se os custos cm moeda local aumentam. também aumenta o preço do pet róleo que ela ",:nde localmente. Considerrmos agorJ- o caso mais rt'31 de uma indúst ria de máquinas de costura, cujo produto ~ totalmente \'endido no mercado interno. A Tt.--cei ta das vendas. depois de cobertos os gastoS locais, é levada ao Banco CentraI para ser rr.msformada em dh'isas. a fi m de pagar OS insumos importados c remunerar o capital. Se O Banco ~ntr:al cria dificuldades na remessa de dividendos, a cmpresa poderoi ser temada a elevar arbitrariamente os custos dos insumos importados: materiais cspcciais, patentes, assisr~ncia técnica etc. Suponhamos que casos como eue st' multipliquem. surgindo de rodos os lados empn:-sas nessa
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silllaç-lo; aumentaria a pressIo sobre a balança de Ing .. -mentos e depreciar-se-ia persistentcmeme o câmbio dt, forma mais acentuada do que se estaria rlevando o nivel interno dos preços. Como o ClIJlital está cofltabilil3do em dólares, a rentabilidade Kl1t1ente poderia ser mantida se 0$
pftl;'OS de \'eoda da empresa crcsctSS-eJ7\ rt'la tj\'ameme, o que tenderia a fr~r a :ui\'Id:ule Hldusrrial. Imaginemos, al ternativamente, um QUlro cenário para a nossa indústria de máquinas de COSturJ. Suponhamos qw: o induStriai obrenha inremameme lima receita suficierm: para cobri r OS seus custOS em moe·da 100000I , indusi\'(' impostos e gastos financeiros locaIS; que em seguida exporte peças de m~uirw para a marrá ou OUtras subsidioirias, de forma a compensar os insumos que importa: e que, com o resto da capacid~de produtiva. desc-n\'o]va uma linha de produção par-J o mercado imernacional. obtendo uma r«eifa cm divisas para rem,unet .. r o capi tal. Por esta (orma, a c:mpre$;I; consegue praticamente i50Jar-se do Sistema cambial do i»is da subsidiária. Como a empresa está interessada em exp.tndir-St", ela terá de prJ.ticar uma polírica de preços, tanto no mercado imerno corno no eXlt'mo, capaz de fom{'mu a \'enda do produ~o. Cont udo em cada plano de produção ela teci de distribuir SWt capacidade produti\'ll entre 05 dois mrrc2d05, tcndo em coma que, a partir d~ certo ní"d, a rt'Ceila em moeda 10Clll1 de\'(' sofrc-r o deságio da trJnsferincia cambial. Suponhamos qUC' a empresa II.
mit<, as suas vendas no mercado interno ao necessário para cobri r os gaSTOS cm moeda local c que compense as importações de insumos com w:ndas de peças dirt'las à matriz. Neste C3$O, o lucro bnuo corresponde às vendas no mercado imernaciOl1al . Comparnndo esse lucro com o capital invenido na subsid iária, a empresa obtém a taxa de rentabilidade sem passar pelo sistema monetário do país da subsidiária. Se a mesma empresa realiza operações dessa natureu com várias subsidiárias, ê natu ral que indague que fatores (eSpoTJdem pelas diferenças de rentabil idade entre estas últimas. Admitindo-se que a tecnologia seja aproximadamente a mesma, os principais fato res caus:Ulres da diferença de rentabilidade serão: esca la de produção, economias cx:ternas locais, o CUStO dos i,nsumos que não poc.1em ser importados e o dos impostos locais em (l'rmOS de produm final. Os rrê~ primeiros fat'Ores estão csrfci tam('Il[C ligados à dimensão do mercado interno. Desta forma, se admitimos que o nível dos imposTOs é o mesmo, a rentabilidade relativa IYdSSa a depender da dimensão relati va do m('rcado interno e do custo da mão-de-obra em termos de produção final. Ora, o efei to posi tivo da dimensão do mercado tocoll tcnd{' a um pomo de saturação, o qual varia de ind(lstria para indúst ria. À medida que p'dm. determinada indústria esse ponto de s.1curação é alcdnç'ddo, o (atar fundamental passa a ser o CUStO da mão-de-obra em termos de proouto final vendido no mercado internacional.
Se observamos de ouno ânSulo o quadro que vimos de esboçar, vemos que a grande em presa, ao organi;t.'l.r um ;;istema produtivo que se estcnde do centro :\ periferi.a. consegue, na realidade. incorporar à ~onom j:1 do (entro os recursos d<.' mão-de-obJ1l oorJta da périferia. Com efeito, uma g rande empresa que orienta 5<.' IIS investimentos para a periferia está em condiçõcs de aumentar sua capacidade competi t iva gmç'J.S à IItil ização <li: uma mlio-<lc-obra mais barata em termos dos produtos que lança no mercado. A situação é sim ilar à das "mpl'{'sas qU(' utilizam imigrantes temporários, pagando a estes salários muito mais baixos do que os que prevalecem no país. Imaginemos uma empresa americana que se situasse próxima da frontci ra com o México, mas em terr it6rio dos Estados Unidos. e mjJjzasse mão-de-obra mexicana paga em moeda mexicana segundo o nível dos salários do México. Esses trabalhadores continuariam a residir em seu país (atnwessando a fronteira di:uiamence) e a realizar os seus gllSws no Mêxico. Imag inemos, demais. que essa empresa exportasse para o México mer~-adorias no valor exaco dos gastOS que real i;:asse em pesos mexicanos. A 1(',gisJação wcial qu~ prevalece hoje em dia em praricamence todo o mundo impede esse tipo de "exploração" da mão-de-obra, mas se considera como normal que a mesma fábrica americana se insta le do I:ldo mexicano da fronceira , utilize mão-dC'-obra local acompanhando os salários locais e venda a sua pro-
"
dUç20 nos Estados Unidos. Uma fórmula intermediária que vem sendo amplamente pr.Hicada consiste em atrair OS imigrJores n:mporácios e pagar-lhes salários superiores aos qut' prevalecem cm seus países de origem , mas inferiores aos salários q ue seriam pagos aos Habalhadores originários do país cêntrico. Em vários países da Europa ocidental. a mão-de-obra estrang{·ira, considerada como "(cmpodria'-, aproxima-se de I 0% da força de 1[3-
balho, alcançando, no caso da Suíça, um terço da mãode-obnl não-espt"cia lizada.
Não existe estimuiva do volume dl' mão-de-obra barata uti lizada diret ameore nos países periféricos pelas grand,'s empresas na produção manufatureira que estas
' destinam ao mercado lntl'maÔonal. Mas, em razão dos CUSIOS crcscemes da mão-de-obra imigrame temporária, sob pressão dos sindicams locais e dos problemas sociais que se apresen.tam quando 3. massa de trabalhadores socialmente desimeg'.Idos cresce além de certos limi[(.-s, é de' espernr que 3. utili.x.1~'io da mão-de-obra dircramenre na periferia tc.-nda a ser a solução preferida pelas grandes empresas. Por outro lado. essa solução rende a rc.-(orçar a posição d,-ssa$ empresas I:i$-à-I' is dos Estados nacionais. Em síntese; está configurando-se uma siruação que permita à grande empresa urili:tar récnica e capi tais do CCntro I: mãodc-obra (e capital) da pt"riferia, aumentando consideravelmente o seu poder de manobra, o que reforça a tendência
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já anreriormentt' wft'rid:1 ii ~inll:roac i on3I i zaçio" das 3tivKladcs econümil'as dentro do sislc.-ma capiralist1\.
Dissemos anrl.'fiormenreqlle fot:lm as arividades econômi("";l.S inlrmacionais as qUl' mai~ rapi<lamente cres(et:lm, no último quarro de sécu lo, 00 cemoo do sim·ma capitalist:l. Ora , as [dações (Iue ~ tstão éSlal>elt.:clkio t'nt~ o centro t' a periferia no qU3.c lro <Ias grandrs empresas vêm dando origem II um novo tipo de- :1.[ ;\'j<bde internacional quc pode vir a cOfl.Slituir o st'gmenlo em mais cipida rxp;tns.âo do conjunto do siSIt"m:t. Cabt- indagar se ê ad<:quado com inuar a chamar t":>liótS :11 ividades de .. i nternacionlis··. Quando o economista pells... rtn lermos de com~rcio intrrnacional, tl'nJ rm visr:1 IflIn$..1ç(le.\ enl re unidadc-s ('(:0-nômicas integradas em distintas economias nacionais. O problema {: mt"no~ dc imohilidade de fatorrs, como deixam emender as formulaçôes dos primeiros economistas que leori:al.ram sobre essa maréria, do que de exisrênci3 de sistemas relativamente autônomos de CUStoS c: préÇos. Em outras pal:wras: a parti r do mom('oro em quc se: postula II existilncia de um sistema l""Conômico nacion:.l, dentro do qual os recursos produtivos posslLcm um ··c u.~to de oporIUnidade~ dado pelo melhor uso <]ue deles ~e Ixxle fazer, a opção ('011"<.' produzir para o mercado iuterno o bem A ou produzir outro bem para o me[(:ldo externo e imporlar o bem A deve ter uma solução ótima. É evidente que, se se ITata de múltiplas opções, ("Stendendo·se em pt"rídos de
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[t'mpo di versos . com repercussões retroarivas um~l.S sobre
as .outras, o problema nunca poderá ser ;'Idequadamenre
equacionado e. muito menos, obt ida a sua solução. Mas
isso é diferente de dizer que li teoria e5rá "errada".
Ora, a part ir do momemo em que a cat\~soria "siste
ma econômico nacional" não pode ser rida em coma, o
(e'Orema não poderá ser formulado. Voltem05 ao exemplo
da fáb rica de máquinas decosr!l.ra que k insrala num país da periferia c remunera o seu cap ita l com IXlrte da propria
produção que exporta. Neste caso, niio existe uma conera
partida de importações, mas isso não invalida li teoria das
vamagens comparativas. As importações. no caso, esdo subst ituídas pelo fluxo de caJ;liral e tecnologia que marca a presença no ~ís da ,grande cmprCSll dirigida do exterior.
Tudo se passa como !.C () país pi:riférico, que d ispõe de um
estoque de mão-de-obra. tjvesse de optar entre: a) usar
part(o dessa mão-de-obra para produzir o bem X destinado
ao mercado externo. e poder assim pagar as máquinas de
cosrura importadas; 01.1 b) com parte dessa mão-ele-obra remunerar capir'JI e té<:nie-a do exterior que se instalam no
país e, em combinação com Outro conringl'nre de mão.de
obrA, produzem atluelas mesmas máquinas decoslUta para o mercado inr(·m o. ESSt' f".lciocínio Sé"ria correto se o marco
de referência dentro do qual as decisões são tomadas cs(i
vesse conStitUído pelo sistema cconômico nacional. Em
omras paJaVf"ds: caso a congruência das dccisões fosse esta-
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belecida imt'rn:lmellft', figurando o preço dos rccUNOS externos como simples parornet ro do problema. Ora. a (t'alidadc parece ser fOcalmente {Iistinra. As decisãcs são w· madas pela gl'.nde c-rnprc-S3, parJ a qual o o.lS(O da mão· de-obra de um p~(5 periférico, em termos de um artigo que ela produz neSSE' país ~ comercializa no exterior, é um
si mplts dado. A grande ~mprcsa que exporta capital e técoica dos
Euados Unidos para o M€xiro e instala nesle país uma
f:ibrica cuja produç'lo se destina ao mercado norte-americano - havendo nos Estados Unidos ronsider:ivd desemprego (o cusw social da mão-de-obra é zero) - tOma decisões a panir de um marco que supera II economia nortt'-afficricana considerada t'm sentido est rito. A gran_ de empre-sa que desvia rcCUfSOS financeiros de um país ~
riférico, porqu!:' os Sillários neste começam a subir. pam investi·los cm outrO ond!:' a mão·de-obra é mais barata ramJx:m está tOmando decisões a parrir d(' um marco mllis
amplo. O problema não se limiu, enrretamo. ao ~mbito csrrti lo das opções no uso de recursos cs.cassos concebidos absrmramenre. A \'('rdade é que a grande empresa t('m C0l110 dif{'rriz máxima expandir-se. e para isso ela rende a ocupar posições nas dis.l inlas áreas do sisrema capitalista. O s paí.se'S do Centro do sjslCI11a cuns!ilUtm. dt muito. as áreas mais importantes. r.tzio pela qual o c-sforço rec· nol6gico eSlâ principalmeme orjemado par.!. atuar nCSSt'S
I",ísc:s. Os planos d~ produç'lo nos pa.íses periféricos (':SIão condicionados por ~ ori~maçio lecnológlCll. t os mer· cados int~nos desses países sio moldados à convmitncia da ação glob;al da tmpres.l.
Seria cquh'ocado deduzir das OOstf'\'açõcs acima qut as gnodN rmprrsas alUam fon dr qualquer malto de re· rerinci:l, o que implicaria nega(, senão ncion3hdade, ptlo mcOO$ eficiEnci:\ :tOcompomumntodrlu. Mas p.1ft"(C" fon ue dúvida quI.' esse cnmponamcnro, muilO rreqil('nlr. m('nlr, mnscendt de qualqucr marco cOrrt'SpondtJl lt :\ um si$le"ma ('(onómico nacional. Mais ainda: nos I»iSt"s pcri(frlcos,:\ CrtSCtlllt 3Ção dessas emprcsu lende :\ (riu esUUIUr.u t'Conômicas com tcsptito ti quaiS dificilrf\('nlC pode-sr pc-nSlr:l p:mir do conctilO de' mum:\ tconômico IIxional. O m~rco du g(llndts trnptts3S rende" a ser (ada \'("'~ mais OCOlljlUllodo sistema capitalista, marco em· qUt tJlglooo um univcrsn «onómico de grande htlcroge"OC'idade. cuja maior dcscontinuidade dcciva do (osso tXiSfcnI\' (·mre O centro e a pcrifrria. Nl'Sse mundo dto grande" complrxidaJe, chdo dr fromtiras nacionais, com im('nsa variedóld(' de sim-mas monrdrios c fiSC:tis, onde pululam qU('rtlas políllcaslocaisqut'O(3$ionalmellle se prolonsam tm sutrras - ludo isso sob uma rOida frouxa e" pouco insliwoonaliuda -,:as granc:ks C"fTIprcw não podem prt· u .. oder mais do que a[(anç:u situações subócimas. Não obstante os irYl(/l50S rtCuoos que dt<lic:tm it oolençio de
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informações c.- os sofisticados meios que ulililam para dabotllr essas informações, conslruir complrxos moddos, simular cenários ('IC . , na pr:ítica dt'\'cm cOnle"ntar-se com regras SImples; o excepcional êxi tO de algumas ~ atribuído pelos cmninas da profissão i inluiçio de MholTX'flS extraordin:írios ~ , rt"pcrindo-~ assim uma \·elhalegenda cU hist6ria política.
A idéia, esposada por alguns eSludiosos da evoluçio IIt1.Jal do capitalismo, segundo a qual as economias cénrricas lendem a uma imtgração crt"scente tm âmbilO nacionaJ, diante a planificação illdi(Pfit 'd, ou à carteJização e" inttrptlK'll"'Jção dos gl"'Jndrs grupos com os órgãos do Estado, tem um elememo de v("rdade, mas deiu de lado o rssencial da e\'Olução do capitalismo no último quarto de século. t (or.a de dú\·ida que. nos últimos trésdecênios, as l'Conomias capitalistas industrializadas vêm operando com um gmu de coordenação im("roa muito superior ao queames se considerava compatível com lima Konomia de mel"Glclo. Essa coordenação, de inspimçiio keynesiana, cons· titu i rssencial mente \1m3 conqu ista de ripo social: grolÇas a ela, os C\lSCOS humanos c sociais de operação das econo· mias capitalistas foram consideravelmente reduzidos. Também é prov:h-cI que essa maior coorclenaçio haja repercucido dr (orma posiri\'3 nas caxas de crescimento (ef('remes a prazos médios e longos. Mas isso é apenas uma hip6resc. Pouca dúvida exisce, enrre(3.IHO, <1e que 3. elevação das la-
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xas de crcscim~lHo esd ligada às econom ias de cscal, imcnso intercâmbio tel'nol6gico e ao movimento de c
tais qu~ acompan haram o p rocesso de integração das,
nomias cênt ricas. Sem o esforço si mu lt~nco de maior
ordenaçao interna, a nível nacional, a expansão im el
cional sob a égide das grandes empresas ceria, rnuiw I vave!mente, provQC;jdo desajustes locais. maior conc
tração geográfica da atividade «onômic.l e. possi \'el m te, reaçôes no plano político que quiçá viesse m a rcra!·
o p rocesso de integnu .. 'ào cêm rica. É sabido, por exemt= que o (orte d inamismo do seter externo dá origem a II
sôes internas (Jut" seriam pa n icu larmeme g ra \'cs se cs
economias não houvessem desenvolvido técn icas tão! fl st icadas de coordenação a n ível i . .nrt"(no. Dessa fom
também se pod e afi rmar que esse avanço da coordcnaç a nível in terno, ace lerou a iurtg ração a nível imernaci
nal. Em sínrcsc: a ação d os Esrados naciona is, no cem
d o sistema, ampl iou·$c cm determ inadas d i rcçõcs para a
segurar a esraç. il idade interna, Sem .\ q ual as fricções r p lano internacional sedam inevitávcts; m as, por Outro lad,
modificou·sc quali tat ivamen te,;\ fi m de adaprar·sc à an
ação das g randes empres.'\s estrut uradas cm oligop6lio:. q ue têm a inicia tiva no plano r<.-cnoJÓ8 ico e siio o verda
d ei ro elemento motor no plano internacional.
As complexas (elaçÔE's q ue existem cntrt' os gover
nos dos pafses cêm ricos. isoladamente ou em subgrupo
,.
(os "dez mais ricos", :l Comunidade' Eronômica Européi;J. Ctc.). eorre t$St$ go\'ernos e' as grandes empresas (t$IU.
em C3.SO$ P"luiculal'C'S, aluando coordt'nadame'nt~), entre des e as mSlHuiçÕl'S imernacionais (C"5taS, quase sempre' sob o col1ttQlC' do govC'rno nont'4mcricano), fiNlll11("me emrt é!es t' o próprIO go\'emo dos Estados Unidos. ruja posiçJo htgetnônlca em pomos pmiculare5 i muitas \ 'C·
zt'S concest;l({a - loeh essa rede de rdaçÔC"5 dificilmenrt pode se-r percebida com dareu. Não somente porque (ai· tam esllldos monogr:lficos sobft mUItos de SctIS aspectOS (und3menran, mu. principalmente. pol'<lue ela euá e'm processo de C'Sfnl[tlf3çiO. " cxperie-ncia tem demonstrado quc a margem de manobra dc que gozam os Estados p<lrn alwr no plano t'CoI'IÔmicoé ft llllivamel1tc C'St~ira. ~ uma C'conomia sofre uma dcslocõlç'lo, as preSSÕC$ C'x,te rnas para que o respectivo govrrno adOI~ certas medidas pode ser cOl1sj(lcrável. Essas pressOCs s:'io exercidas por outrOS ga-. vemos, por insti tuições imt'rn:lciouais c dirctameme pc. I:IS AP'JJldcs empresas. Cabe rderir que eStas últimas dis,põtm de \1m;! massa de I'C'cursos líquidos bem superior ao conjunto das re~e r\';I.S dos b.aneos centrais. A si tuação do governo dos Estados Unidos é certamente csptdal, entn; multll~ mlÕeS pejo (ato de que cmitl' li mO<.~a tjlle cons(i· tui a bm do sistema monetário internacional. Contudo a rxperi&ncill de 1912 pôs em e"idêJKia que ° sovemo des· se plís n~o se pode lançar numa polít ica de ~plenoempre·
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go" descuf"'Jnuo-sc das repí'rcuss&:s na balança dI: paga
nu"mos. St o endividamento externo a cuno pra7.O passa de cerca cO[a crítica. as grnndC'S empresas podem exercer
uma pressão sobre o dólar capaz de obrigar o governo nort~-am {'ri(ano a ter de escol hrr entre desvalorizar a moeda
ou mudar o rumo da políl ica in.terna.
Qualquer <..'Specula{ào sobre a evolução. nos próximos anos, da T( .. de de relações <[U!: forma a nova superes
trutura do sistema capital is ta em processo de unificação tem vator est ritamente o:plorarório. Duas linhas gc:rnis parecem dt'i'ini{-se: por um lado, o procC'Sso dI: integração
teode a reforçar as grandes empll."Sas, por outro, a necessidade de assegurar estabil idade. em âmbito interno de cada subsistema nacional. requer crcs.ceme efi ciência e sofisti"
c .. ç:io na açio dos Estados. A si tuação corrl:nte hoje em dia é de aliança entre g randes empresas com os govern.os res
pectivos para obter vanragells intNllllS e externas .. Mas lambém se obsl:' rva a açiio conjunta de empr("sas originárias dI:' paíst's discinroo visando a f."lzer preSSiio sobr~ os governos, inclusive o próprio. A experiência tem demOllslrado que
o conerole do capital de uma grande empresa por um governo n3.o afela necf"SSariamenre de forma substan.cia ! seu
mm.porramemo n<.'Ssa matt:ria. As emprCS3S. por maiores que se-jam, são organ izações rdarivamence simples no que respeirll aos seus objecivos. Sendo altamente burocrat iza
das, elas possuem grande coerência interna, o que facilita
e requer a clareza de objerivos. O Estado, numa sociedade de classes e onde grupos concorrentes competem e quase $("mpr~ se dividem de alguma fo rma o poder, conSlitui
uma instituição muito mais complexa, de objeri\'os me
nos dctinidos e cambiames, portamo, menos linear em sua evolução. Não há dúvida de que ~I.S grandes empresas
enfeixam um considernvel poder no p lano social. pois con
trolam as formas de invenç-jo mais poderosas. que sãoaquelas fundadas na técnica e no controle do aparelho de pro
dução. Mas quando a sociedade, ou St'g mencos desta, reage à asfixia criada pelo uso desse poder, as ondas que $(" le
vamam rép<'(CUtem nas estruturas do Estado, de onde ocasionalmente partem iniciat ivas corretivas. Pode-se admi
tir a hipótcse de q ue a própria expansão internacional das grandes empresas favoreça a liberação d o Estado da tutela
que elas hoje exercem nos seus respeni\'os países. Em outras palavras: ii medida que se apóie imernacionalmenre
para ampliar o scu poder, a grande empresa possivelmente enCOntrará mais dificuld3cle para assumir o mando, co
bri r-se com o mamo do "i nteresse nacional"' dentro do próprio país. Haveria uma provindaniz.açio dos Estados,
mas uma represcmari vidade mais efetiva dos distimos seSm~ntos da socie<bde civil m paciul.ria o poder políl ico para
eX("Tcrr o papel diretor da vida social qu(" S(" faz cada vez mais Ol'Ct'$sário" Se a evoluçlo se realiza nessa dirt(ão, é de
admitir q ue surjam tensões eoere Estados nacionais e gran-
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des empresas, ou ,gmpos de grandes empres.'\S. tensões essas que passarão a ser imporrante (Mor nas transformações do siStema em seu conjunto: el:u poder:io :\gr-.war-st: e abrir brechas C'ap3:t.es de acarretar muraçõcs qualitati vas rcorienfadoms de todo o p rocesso I:voluti"o; mas também poderão prOvocar rcaçõc:'s no pla no da sUpE'resrrurul"".l nuelar, levando a uma maior ill stirucionali),~'l\olo desta e à constituição de órgãos docados de poder coercitivo, cujo objetivo seria preserva r a integ ridade do sistema.
O que se disse no parágrafo ante rior siio simples conjecturas ~ugeridas pela obsel'V'.tção de c('rras tendên · cias da e, 'olução ('stmtural do siStema capitali~(a. Não pretendem sig nificm que a~ lutas de classes scr-Jo atenuadas e muito menos que tiS(' Estado, scmi provindaniz.'ldo. mas ainda assim um Estado responsável pela eStabi lidade de uma sociedade de classes, sem o simples administrudor de um consenso que pE'rrnc.-aria toda 3. "ida S()(.·ial. .É possí"cl q ue as c/asses naoo lhadoras v"nham a ter um pt'So crt'S· cl.'nre na orjentação de um Estado q ue devt' t'mender-sc com o sistema de g randes empresas a parti r de posiçõcs de força . Nesta hipótcse, $Ceia de admitir qUI: a evolução das classes trabalhadoras se faça no sentido de crescellle iden tificação com as sociooades nacionais a que pertencem, ou melhor, COI11 um projeto de dcscnllolvimenro social que pode ser monirorado a pareir do Estado de cujos ccmros de Occisão parricipam. Não significa isso ncct-SSariamt'nte
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-jue tendam para um '/(láOll(dilmo, c sim que suas preocupações [endrriam a focaliza r-se no plano da ação política sobr" o qual terão crescente influt:ncia. ParalclamC' nte , o peso crescente dos grupos di rigentes das grandes empresas na classe capital ista não padeci deixar de influenciar a \·isão que· esta tem do mundo. no sentido do diptlJJt»Itt11
do quadro nacional. O sen tir-se membro de uma "classe inrernl\Cional ", que hoje é carac{crística dos quadros superiores da burocracia das grandes empresas, renderia a ser uma atitude gC'nerali zada das ca madas superiores da classe Clpitalista. A distância ent re 11 atitude ideológica dessas camadas e a classe dos pt.'QlIcnos capitalistas ainda não presos na rede de subconrrat isra5 das ,g randes empresas tenderia a am]>Jiar-se. A pequena empresa local, ames apresentada como anacronismo de al to CUSlO social, passa a Sef deft'ndida como parte de uma paisagem cultural ameaçada. Ente(' o poujtldism~ e a defesa da qual idade de vida existe lima imporraOle evolução com repercussão na relação de forças entre as classes sociais.
O papel da supcrt'strutura [m cbr do sistema capitalista não se li mita a promover fi ideologia da integração e a, ocasionalmente, :ubitrur em conflitos regionais. Essa supcresttutur.t tem uma história. que está essencialm,eme ligadi ii ddimitação das frome;ras do siStema. Pode-se admitir, no plano da conje-ctul"".t, que as economias capitalistas cêmricas sempre tenderiam, em um:! fase de sua his-
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16ria, a um processo ct' integraçio, Mas não há dlÍ"ida de <Iut a rapjdet com que a\':lf1çou essa inlcgnçiu no último qumo de skulo e a forma 'IU(' tia assumiu l'SI ~O dirtlamente ligadas à exj~l&1cia de um grupo de países nào capitalistas, considerJd()$ (omo amt':lça externa e interna para o sistema capitalista pclos grupos dirig<-mes deste. !). rápida e entusiástica ;lecitação pelos gr:upos ca!?j talist~ dirigentl'S, na Alemanha e no Japão, da liderança norteame(ieana não seria fácil oe txpliur sem o clima psicológico criado pela guma fria. A mobilização psicológica foi essencial para delimitar a (ronteirA, mas ti coosolidação desta r('(lucreu nrgociar com o adversário um conjunto de regras de compommento. Calx 11 superestnlrun tutdar a função dl' velar pcla integridaclt das {ronteioo e de ('mender-se com o adversário em qualquer momentO cm que problemas de solução pendente ou novos ameaçam tScap3r do controle mÚllIo. À Olt'dida que se acordou um sistema básico de comunicação e que os imtr<'SSeS fundamentais dos dois blocos {oram mutuamentc I'ÇcoohC('idos, c riar~m-se possibilid:ules para (fIações ('('0-
oôml(;lS mutuameme \"Anlajosas. Quc essas possibilidades hajam sido t'"Xplor.u!as rapida~nlt pçlasgrandesemprtsas constitui dm indicação da mraordimiria capaeidade dt"SS:\s orgamzações pat'~ alU3r no plano inttrnacional. li bst um fato de coosi&r.Í\·t:l importância, pois \'em te
"tlar 1 ofXKiu..de que tcm as graodts empresas de ad~p-
tat-$t' a d istintas formas dto organização social. Tru ta-$(' de simples ind icação de vinualidade, pois o comportamento das gmndes empresas ~ tudo menos ideologicamente IWUtro. A ação re<enre da empresa. rJT no Chile eSI:! aí para demonsrrnr que muitas dclas não rduram, em um~ (onfrontaç-Jo (·m que o ell'mento ideológico eslá presente, a pC3ticar atos de \'erd~dei ro banditismo internacional. Conrudo OUlras experiências, como a da G uiné. r{'velam que elas lambtlm Se! estão prepar:lOdo para defender os seus interesses km dar demasiada atenção a querelas ideol6S i(as locais. Paf«e (CrtO que uma mutação social num país im.J?Orrame do ccntro do sistema capimlista, implicando rt'l irur das grnnd('s empresas o conrrole da tecnologia t: da orienraçio das formas de consumo, não poderia ocom:r sem prO\'oCllf grandt' rt'ação. ,M.IS rudo leva a crer que as grandes empresas, em rocc dc uma si mação de difícil rcvcrsibilid3.de, adaptar-se-iam, pois numa burocracia scmpll' 1(,l1de a prevalecer o instinw de sobre\·j,·el)cia, aiMa que isso requeira ampmaçõt.-s import3mes em nÍl·eI dos di rigentes ocasIonaIS.
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O PÇÕES DOS PAÍSES PERIFÉRICOS
As novas (ormas que cstli assumindo o capitalismo nos paísc-s periféricos não são indepcndrmcs da evolução global do siStema . Conrudo, parece jnegli\'eI que a periferia tem crC$Ccnre importância nessa e\'olução, não SÓ porque os pgíses cêUl rieos serão c:ada vez mais dependentes de I"t(ursos nawrais não .reprodutíveis por ela fornecidos, mas raml.Xm polque as s rJ/ldc:s ('mp~ etleontnlmo na exploração de sua mio-de-obra oorala um dos principais pontos de apoio para firmar-se no eonjuntô do sistema. Mas, se é difícil rspecular sobre tendências com resprito 3OecO[ ro, ainda mais o é no que se refert à periferia, cujas CSt ruwras sociais c quad ro inst itucional foram pouco estudados, ou foram vistos sob a luz distorcida das analosias com outros processos .históricos.
O dado m:üs imporrante a assi nalar, no que eonc(.' rn l1" aos países periférjeos ~m mais avançado processo de indumializaç-Jo, é a considerá\'eI dificuldad~ de coordenação de suas economias no plano intrrno, em razão da for .. ma como se ~srio aniculando com a econornia intrrnacional no quadro das grandes empresas. Se diflculdadt"S de coor-
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denação ;mcrna existem nos paíst'S cintricos. conrorme observamos, o problema assu~ muito maior compl~xi· dade na pc-ri(tria. Não me refiro ia. situação clássica do~· queno país ond e: o nível dos gaSIOS públicos e a siluaçio
da balança de pagamentos rcl1ercm as decisões (ornadas por wn3 gl':mde empres.l exportado .... de recursos oam· rnis. A si tuação é disri ma, mas Ill' ffi por isso mais cômoda naqueles paí~s cm que as principais ativj<lades industrio ais ligadas ao mtrcado intt' rno são controladas por grandes emprt'SaS com projetas próprios de expansão imernaciona\' dos quais pouco conh«imenlo têm os governos dos paíSC$ em que elu amam. Essa debil idade do ESI~o. como inSlrumC'OIQ de direção e coordenação das :llh·ida· dcs econômicas, ('ffi run{ão de algo que ~ possa definir como o i ntercs~ da (olct;" idade local, passa a ser Um (a
tol' signi fi cativo no proccs.w evolutivo. Impotente tm coisas íundament1lis, o Estado tcm, COJlCudo, gnndes responsabilidades na construção c operação de 5erviço~ básicos . na garJnria de uma ordem jurídica, na imposição de discipli na às massas trabalhadof'ls. O crescimento do aparelho t$fafal é ine\'icâvel, c a necessidad<, de aperfeiçoamento de seus quadros superiores passa a ser uma cxig~ncia d:.ls grandt"S empresas 'Iue in\'('$tt'm no país.
Assim, a crcscenu.' inscrç30 du t<'onomjas ptriféricas no campo de ação imernaciona[ das sr,U1dcs empresas está comri buindo p.u"J a modernização das burocracias
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C'Stauis, as qU:lis t! .. IlJ~ram ii ganhar cun$ i(!~r.h·('1 aulOou
:tlia. Sc-ndo por um lado imporentes e por OUtro ncccss;Í ri.u r dicitntt"S. essas burocrJci:l5 ttr.dtm a multiplicar iniciativas cm dif'(-çõe~ diverS3S. A orierlmç!o das ariviJ:ulcs ccunômicas, impondo a conccmrJç3.o da rend:l e acarre· tando a cocxiStência de form:l5 sunluiÍ ria$ de consumo com J miséria das gt:l.lld~s massas, ê origem de tensões sociais que n·ptrcmcm necessariamenre no plano pol;\lco. O 8-laI"lo, incapa:t p.1t:l. modificar a rderida oriemaçio, exaurese na luta contra os SC-U$ Jeitos. As fn.lSlrnçÕC$ políticas 1(\-'3m i instabilidade institucional e ao conerole do Esta· do pdas ForÇ3s Armad:ls, o que comribui para rcforÇlr Jinda mais o seu caráler burocrático. Em síntese: ° cr("Sceme cont role "int~rnacional" das :1t j\'idades ('('onóm i C',L~
dos países periféricos acmeta uma pr~'Coce autonomia do l parclho buroct:ltico ~s[atl l . Fft'(IUentemcme. esse apuelho f com rolado de fora do país. mas por toJa pane elr ~sd sujeiro l ser empol!;ado por grupos surgidos do proc~ político local. Não obstante, prc.·\"a!ece o sc-ntimento de impot~ncia que resulta da dClXndfncia em que se en· contram as il tividades económicas fundamentais de centf05 de dtdsão ext t"mos ao JY.Ifs.
A relati va auwnomia das burocracias '-I ue cOlllrolam 0$ Esudos na p<'riferia reOett, em (erra medida. as modificações ocorridas na Sl.IJ",'rCStnltura politi('3 do cunjunto do sistema capi talisfa. A destruição das formas lrodicio-
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nais de colonialismo dc\'t' ser entendida como parte {lo processo de destruição das barrtira~ inSlilUcionais que comp3rtimenra\"Wl o mundo Clipimlim . À medida que li t<'Onomia intrmaciona! passou a sef princip3lrnente contro!acl;a pelas gr.lIl«S empresas. ii ação dirtu dos Es,ados do cemro sobre as adminimaçÔ<.'S dos países da periferia tornou·$(' desnecessária, sendo corrtnternt'n te denunciada como discriminatória a favor de empresas de certa naciof1.l icllde. É S;1bido qu~ CS~ processo se re;a!izoll de forma irrtgular: cm alguns rasos. populações Hcxpi triadasH constituem fone grupo de pressão, exigindo a presença direla ou indirtta da antiga metrópole, o que dá lugar a (ormas apenas disfarçadas de colonia!isnlo: OUtr.u \ 'Clt'$, grupos di rigentes, ame:çados de perder o controle do sistema de podtr local, apelam para o apoio político extt"tno. Mas, de maneirn geral, a intt"r.·en~o dircta dos governos dos paí. sc.'s CtO! ricos nos paísc-s da periferia tendeu a St"r t"xcepcio· nal, pondo·se à parte ai imer.·ençõts none·amcricanas ligadas à -defesa- das fronteirns du sistema.
IXnt ro desse quadro CStnUUfll l. as burocrncias que di rigt m a maioria dos países periféricos a\'llllçaram consi· deravdm~me num processo de aUfo·icl~ntificação com 0$ -i nteresses nacionais" respctli,·os. Se bem qu~, em tIISQS
p.1rticu!arts, esses imen-sscs se confundam com os do pe. queoo grupo que controla o aparelho do ESladO, via de (egra a concepção ce inltmst' narinnll i. mais ampla ~
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':iS :1 a melhoria das condiçõcs de vida de um ,g rupo impor
:Jnu.' da }JQpulação, quaS(' s('mpre constituído pelas pes
soas integradas no ~[Qr "moderno~ da economia .
Um dos setores cm que os Estados periféricos tem exercido sua autOnomia. em face às grandes empresas, é o ':0 controle dos rttursos naturais não renováveis do res
?«,ci vo país. A ex.pansão do sistema. no centro. depende .:ada vez mais de acesso às fomes desses r("('ursos, localiza
Jas,O;l ptri(eria. Fjzemos re{erêocia:' si t uaç'.to dos Estados
Unidos, que é, desse pontO de visr-a. um país p rivilegiado. .1. demanda de rt('Ursos naturais nào cresce paralelamente
~om a rendaptr (tlpita : a partir de cen o nível de renda. ela
:end(' a estabi lizar-se. Por exemplo: ° consumo de cobre ::-ar habitant(' triplicou nos Estados Unjdos entre 1900 t' .940, mas permaneceu t'Srávcl eocre este último ano e
: 970; o consumo de aço por habitante dessc mesmo !>aís : resceu mais de trés v('zes ('l1 trt' 1900 t' 1950. mas perma
~c-<eu ('S tável ('nt re este líltimo ano e 1970. 1 Por Outro
.Jdo, o consu mo de meta is l:>ela indústria pode ser maior
)u menor, indepcodentl:mentc.' do nível de renda, em fun
;,io da natureza das exponações do país. Contllllo se se [em
~m conraque o nÍ'-'cl de rcnda média doconjumo da popu
.J.ção do centro do sistema, excluídos: 0$ Estados Unidos, é
.:rterior à metade do dC'S te país, faz-se evidente que a de
:nanela de metais conti nuar{ a crescer no centro ainda
?or muitos anos de forma bem mais intensa do qu(' a po-
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pulação. Se a isso se ac(cscenta que as reservas ue mais fácil exploração, dos países cêntricos. esrão se esgotando, é flici l compret'nder a crescente "dept'lIdência" desses países vis·à-vis dos recursos não renováveis da perife . ria. Essa dependência cont inuará aumentando méSmo que se esrabilize ° consu l,TIo dos referidos recursos no centro, o que de ne",huma maneira é provlivt'l que acomeça em
futuro previsível. A utíliuçlo das rescr.-as de «"Cursos naturais como
um inStrumento de poder pelos Estados periféricos requer uma articulação encre países que, de nenhuma forma. é tarefa rneil. Ma!> que essa articulação se t'steja reali:.t:ando. com evidenu: êxito no CMO do petróleo, const itui ind icação c.la sofist icação considerável que esrão alcançando as burocracia.~ qut· comrolam t'sses Estados. t vcrdade que as grandes empresas n(om sempre st'rlo hostis li essa política, pois, tl'.l[anclo-~e de produlO de demõ\lH,Ia ineláscica. a devação dos preço~ não poderá deixõlr de ter repercussão lavorável em S!'l l f~turnm("nto , pois quase sempre significa e!("v;lção dos lucrus. Evidenu:mcme, a situação será djfe· rente se os pa{ses periféricos vi~arem :I um controle (Oca I da produção e comt"rciali zõlçiio desses produtos. Mesmo assi"l, o :lV]\OçO que- t1:m as gr.mdes empresas. no que respeita a c:lpaeid:lde de orManÍ7~1çãu t: a tecnologia. assegura-lhes a po5sibi lidade de conti nuarem negoci:lndo em posição de força por muito tempo.
Ocorre, ('otretanco, que os recursos não renováveis mn is importantes. cu jos pr~os podem ser c feti vame nte contmlaclos pt:" los país(:s pt"riféricos - ~mpre que estes lo~ rem articu lar-se de for ma eficu -. estão muito dcsi· g ua lmenre distribuídos. O caso r<."Ccme do pctróko pôs em cvidê-nc ia as consideráveis r rolnsferêocias de recursos que podem ocorrer dt'OIm da ptÓpda periferia como con · scqüênc ia dess<: tipo de polírica. Os benefícios reais para certOS pais<-s s.'io import:lntt"s. mas essc:s p.,ises abrigam uma pequena minoria da populaçiio que vive na periferia. Grande parte dos novos recursos linanceiros de que dispõem tcr,10 quase necessariameme que S<' T in\'crt idO$ no
centro do sistema. Ocorre. assim. uma trnnsferênci" d (· ,uivos que transformará p:lrt<.' da popu lação dos pa íses bendiciários em rentistas. sem qu<' a estrmura da ecol1o· .mia capi tal iHa St:' moditiquc de forma s('nsÍ\'cL -rambém é possí\'el q ue os países bcncliciários colO<luem ii disposição de outros p<\íscs pe riféricos p:.rn· dos r«ursos referidos .
"tis. se tais r«ursos são ut ilizados para refof\~r o proc<:s· so de desenvolvimento tal qual esfe se rea li za at ualmenrc
- por exemplo. P.U3 cria r infrae:struwra c indlís rrias bá· s icas geradoras dc economias exte rnas para as grdnd('S empr('StIs -. as relações e nt re o cl'!mro e a per iferia não $C
modilicar-lo de fo rma S('nsível. A politica de d('"açí'lo <los prt'ÇOS relar i\'os dos pro·
duros não faci lmente substituíveis. que ('xporram o:s pa.í.
73
ses pcri(t ricos, constirui scguramente um marco na evo. lução desses llaíst's. :'1as. con(ormr indicamos, não sig nifica mudança dr rumo no processo 1:'\'Olurivo do conjunto
do sistema capitalista. Não sc I:'xclui a hip&ese de que a posiçio inu:rnaciooal das grandes empresas seja ~(orÇ;t
da. encarr('gando-se das dI.' absorvrf grnndc parte dos novos / ecU(SC)S líquidos encaminhados para o mrrcado financeiro internacional. Uma ptqut'na parte da população pt'ri(érica. localizada em uns poucos paísn, terá ac('S$Q às formas mais avançadas de consumo, (' alguns Estados po. derio ascender a um papd hegemónico em cerras áreas circun5Critas. Conrudo. as modificações no conjunlO da periferia seria pouco jX«'ept í,'eis.
Mas f possí"eI que a expt'riência adquirida no seror dos rt.'Curws nlio reno\'á\'ei~ venha a ser utilizada na defesa do valor real do uaoolho. qut rxploram nos países perifé
ricos as Sf1lndes empresas. Conforme foi assinalado anrrs. a rápida t:'xpansiio da economia internacional _ sefOr mais
di nâmico do sistema capi talista - tende :I fUllda r-$t na uti lização das grand~s res('TV'.lS de mão-de-obra har.Ha que rxisu~m na periferia.. Apr~ntam.·sr aqui dois problemas: o (Ia apropriação dos frutos da expansão econômica e o da ori~ntação g~ra l do processo de acumulação. Dada a gran
. de disEnridade de nh'eis de vida que se obSt"rva atualmen
tr na periferia, as grand<-s empresas estão I'!m posiçio de
forÇol para COOSCI'\'llr os sal:iri06 ao mais baixo nível. Toda
?ressão no Stmido de elevá-los poder:! ser contida com Jm desvio dos iov('Scimenlos para OUlras ~rtas que ofere~am coodiç&'$ mais favorávcil. A grande empresa que pro.:iuz artigos manufaturados lU ptrift'ria para o mercado do .:eOlro tcm uma margem de manobra (anlO maior qu.amo mais baixos são os salários que paga. E.ssa margem permite-lhe, seja t"Xpandir o mercado a.cuno pr2.l0. seja aumentar sua capacidade- de amofinanciamtmo. Em qualqu('( dos dois casos. quaOlo maior a margem, ma ior a p.me do "alor agregadoqlK' pcrm:lOe<:e fora do país pcriféricoonde se localiu a indústria. Tudo se passa como se o moolho fOS$(' um recurso que se exporta. sendo a taxa de salário o preço de exportação, Se o con junlO dos países periféricos d('Cidisse dobrar. em tcrmos de lllOI:da internacional, o preço de exportaçio da força de trabalho. o resultado S(' ria similar ;ao que ocorre quando aumemam os pr~os de um produto de exportaÇ'ioquc goza <Ic um3 demanda inclástica no CCOlTO. Em rttal idadc, essa tle\'ação tem tido lugar cm siwaçÕC'S esp<;dais. Assi m, OS optririos da indústria do cobre no Chile já ha\'iam conseguido. anos atrás. elevar considera\'elme1Ut' o seu sallirio com rtspcito:roo "preço de ofena- da mão-de-obra nesse t»ís. Essa ele\'ação poderia ter sido lenda mais lonse. mas o governo chileno preferiu urilizar O ~todo do imposlO direro para ampliar a margem do \'alor agregado <k$sa indústria que efll. relido no país. Se s(' trata de indústria manufatureifll. com múlti·
pias linhas de prodUÇ'dO. cujO$ prtt;OS de expon:açào l»dem ser F.cilmeme manipulados. a via fiS(1l.I torna-se deut iliuç'do mais difíci l. Com efeito. como conhecer a rent'abi lidade da filial de uma grande emprc$.1 instalada num país do $Uru.-S ll.' asiático se 0$ prt'Ços de todos os insumos mihudos são administrados p..-la m:m i:t, assim como os preços dos produtos exportados?
~ difícil oonjClur-.u sobre IImll <-1evação gfral dos saI;{rios reais nas ati\'idad<-$ exportadoras dos paíkS pt'ri(fricos. Como a ta-"'3 de salário V'oltia muito entre países pt
rif~ricos. as conseqü;ncias scriam distintas de país par:! ])'Iís, particularmente se a elevação fosse fell3 no sentido de nuior igualização. Não .se pode' perdl'r de \'i5Ia que a uma t('Cnologia similar pode-m corresponder di \'t'r$OS níveiS de produtividade- física da m?io-dt'-obra em função do nível geral de desenvolvimento do p.1.ís. A unificaçào das t a ~~s de salário. nas :ui\' idades e ~J>0rmdor-.lS indusuiais dos país periféricos. tenderia. portanto. a beneficiar aqueles com maior :1\'aoço (l'lativo indmtri31. O probJt.'ma é cert2mt.'()[C multo mais complexo do quc 3 d(;\':lçào do PI't'ÇO de um produto homogê:noo que- gou de demanda ;l'It' lástica no centro. Mas é por «se caminho que. m3is ctdo ou mais tarJe. OS países periféncos ter-:io de z\'ançar para apropriar·se de uma parrda nulor do fruto da própria força de trabalho. ~ as 8fll1nd~ t'mprt'S:lS continuam a pagar na periferia salários correspondenlC'S ao M preçO de-
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of(' rr:l~ da (orç:t de [!"2b:;.lho, O p róprio processo de indus[riali~ção dos países pçrl (~r;cos com ribuu'á par .. aumen[;Ir o fosso que os sc:p:ua do cc-ne to du sislc-ma.
A política <Ic· c1evaçiio da [axa de- sa lá rio real :.1 que nos " .'ferimos nos paTÚSf:lfos :UltCrlott'S rc ria COmO conSt"q iiência direla fi cri:\\-iio de um d i(t' rem:ial de salár ios C: 1l
ue o selOr ligado a cxpor!ação c u resto da t'Conomia local. Daí re-suharia a formaç;lo de: uma nUVA C-dmada social, semiintegrad .. nas formas ~ modc(n:l$~ de consumo. Como o
gr-.IU da 3cumubçlo a!c-.mçado 1'1:1 economia não permite gcneraliJl'.ar essa [aX:!. de saUrio. u (undo do probk rna do sulxlescnvolvimcmo não st' modifica na.. P2ra alcançar esse fundo. seria ne<C'Ss:.r io q UI:: 0$ rt."Curros retidos no pais JX"ri férico pude.(scm st' r ur i li:.udos cm u m processo cumu lativo. \'isando a modificar:l C:SHUtUr;J. do siu (·ma econô mi
ro no sent ido de uma clXscelUt" homogcnci:tação. A ques,ão lí lt im a t"Slá na or iel\taç:io do proce$50 de :1C\lmulação, e
esSôl oriem ação conr inuaria nas miios das g r:lndes empré$:15. ASSllm ir essa oricnu.ç-Ao. Ville dil,.c r, t:S tabelc-cer p rioridades cm fllll{"lo dc objetivos sociais cot'rcnu.'s e compatíveis com O e~forço de acumulação seria a única for ma <te li}x'rar a cconomi;l d a [mela das gr'lIldcs empresas. Esse C3min ho n1l0 ~ f;lei l, e é n:ll ur.ll que as burocracias q U {'
controlam os Estados no mundo pçrif~ rko se simam pou co alrJ.Cdas por ele. ConfUdo. :as tensões sociais crescentes que C"ngC"ndram as 2tu3is tendências C'Stru!Urais do sistc-
77
nu. podC'r.50 fUfçar mUII:tS deuas bunxr.aci;u a adocar "". mm/lOS imp~·iSlo., inclw,,''r o de Um:J. prtoC"Upaçlo do:-uva com o. imr~ lIOCialS t o de- busca de formas de~'OIl\'jYlncl~ ton\:u ~nrKkt: tmp!""" que R"fam compu;. ,·t,S com um~ olltnll1Çio inl~"OU. do JX"OCt$SO de- dc:scnvul· .. im.mco.
78
o MITO DO DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
Se deix:l.moo de lado as conj('('wras e nos limitamos a observar o quadro estrutural presente do sistema capitalista, "emos que o processo de acumulação tende a ampliar o fosso entre um centro em crescente homogentizaçio e uma constelação de «ono.mias periféricas, cujas disparidades cont inuam a acentuar-se. Com efeito, a crescente hegemonia das grandes empresas na oriemação do processo de acumulação lradu~-se, no cenrm, por tUna tendência à homogeneizaç'do dos pad rões de consumo e, nas e<:onomias periféricas, }Xlr um distanciamento das formas de vida de uma minoria priv ilegiacl3 com respeito à massa da população. Essa oriemação do processo de acumulação é, por si SÓ, suficieme para que a pressão sobre os recursos não-reproducívcis seja substancialmente inferior à qw: está na oose das proje~ ções alarmistas a que fizemo~ a.ntcs referênci:t.
Cabe distingui r dois cipo~ de pressão sobre os (ecur~ sos. A primeira está ligada à idéia de freio malthusiano: referc-se à dispon ibilidade de terra aIlívcl a ser utilizada nn contexto da ag ricu ltura de subsistência. Nos paíscs cm que o padrão tle vida de uma grande parte da população se
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aproxima <lo ni\'(~1 de subsisttncia. a disponibilidade d" t~rrn aráveis (ou ii possibilidade de intenSificar o S('u cul· [IVO mffiiamc pequenos aUmêl\COS de custos de prod uçio ('ffi termos dc miio-dc-obr:1 não-espcciali;.ea(la) é (am! dt'Cisivo na detcrminaçãoda taxa de rrcsciml"1lIQ demográfico. Não há dú\'iua d(' que o acesso às tcrras pode sef dificu lt ado por falOres institucionais c que a arena local de alim(>nW$ pode ser rt:-duzida pela ampliação de cullUrns de exportação. Nos dois casos, aumenta a pressão sobre os recursos, se existc uma densa população mml dependente da agricultura de subsistçncia. Os efeitos desse tipo de: pressão sobre os recursos somente st' propagam quando ii popu lação H:m a possibilidade de ("migrar: J(> maneira, geral, d e5 se esgotam demro das frontei ras de (ada país. O que interessa assinalar r: qU{' CSSC' t ipo de pressão sobn.· os r,-<:ursO$ pode provocar calamidadc-s em :íreas dclim il a~
das. como atualmt:nre ocorre no Sahcl africano, mas em pouco afera o fi.mcionamenw do conjunto do sistema.
O segundo! ipo de prC'Ssão sobre os. recursos f: causado pelos efeitos direcos c illdirecos da elevação do nívd de consumo das populaçõcs, e está esueirameme ligado à ori ('mação gcral do processo de descIl\'olvim(·nto. O fatO de (llU: a rt'nda se manrenh<l cOlIsideravel mente concrntr:lda nos países d,· mais ;lho nível de vida agrava a pressão s0-
bre os recursos que gera. Ill'(:tssariamentt' . o processo de crescimento económico. 1amocm S(' pode afirmar <Iue a
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cresccnte conccllIraÇ'io da relld3 no ct'nrro do sistema, isto é, a 3mpli3Ç1'io do fosso que scp;lra ii periferia dcsS(' CelUto, conStitui filtor adicion.11 do aumemo da pressão sobre os recursos não reproduth·cis. Com cfeim, S(' fOS5l: mais bem distribuído no conjunto do sistC'ma capitalista. o cresci mcaro dcpcuderia menos d3 introdução de novos produ · lOS finais e m;'tis da difus;io do uso d~ producos mais conh('ddos, o que significaria um mais baixo coeficiente de d~sperdício. A capi talização tende a ser tolmo mais imen· sa quanro mais o crC'scimtnro estC'ja orientado para a in· trodução de novos produtos finais, valt' dizer, para o cnC ll rt~m('nro da vida útil dt· bens já incorporados ao P;l(rjn,lônio das peSSO'JS e da coleri,'idade. Dessa fo rm,l, a simples concent ração gt-o,gráfica da renda, ('m benefício dos países que goz;lm d(' mais alIO nívd de consumo, ellgendra rJY.tior pressão sobrc os f('Cu rSQs não rcproduríveis.
Se o primeiro t ipo de press.'i.o sobre os [('(u('Sos é 10-cali7.;IJo (' cria o seu próprio freio, o segundo (: cumulaI ivo e eXC'ITt' pn'ssão sobre o conjuntO do sistema. As proj('çÕtS alarmistas do estudo Tbt !il/li!i Ui gl'Qllllh se re(efem c:ssen· cialmr:nre a esse segundo tipo de pt't'ss30. As [dações r:nIrc a acumulação de capit;ll e a press:io sobre os recursos. que estio na base das projrçõcs, fundam-Se: cm observaçÕt's empiriGlS e podem ser aceitas como uma prim.eira apwxi mação válida. O quc nito se IJOtk acC'itar é a hipótc. se, também implícita nessas !>ro;t-ÇÔ('s, segundo a qual os
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atuais padrõt-5 de consumo dos p3í~s ricos tende'fi age· nernli1:3r·~ em escala planetária. Esta hipótese está em comradiç-jo dir(:[3 coro a oriemação ger'!! do descnvoh'i· OX'0t0 que se relli1.l1 3tl13lmcnrC' no conjuruo do sistema. da qual resulta a C'xclusão das grandes massas que vivem nos paísc'S periféricos das benesses cdadas por esse desen· volvimemo. Ora. 550 exatamente C'sscs excluídos que for· mam a massa dC'mográfica em t:ípida expansão.
A popula,ào do mundo capitalista cstâ form;lda nestes anos 70 por aproxi(l)adameme 2,S bilhões de indjvf· dllOS. Desse toraI. c(' rc:\, de SOO mil hõcs vj"C'm no centro do sistema, e l,i bilhão. em sua pcrifs: ria. A [eudtocia evolutiva clessrs dois conjuntos populacionais esrá definida em suas linh3S fundamentais e não C'xis[(' evidência de que venha a modiflc:l.r·S<' 00 COUCf dos p róximos J~ên ios
('m const:9Uêná, d(' um ou OU[(O tipo de pressão sobre os ret'ur$OS, a 4ue nos referimos. Sendo assim, e se se exclui a hipótese de um fluxo migratório su bstancial da periferia para o centro, é de admitir qoe a população do conjunto de países cêntricos alcance dentro de um século 1,2 bilhão de habitantes. t\ opiniiio de que ('ssa massa demográfica (t'lldt' a C'stabilila(·se nos p(óximos dccêníos é aceita JXh maioria Jos estod iosos da matéria. O quadro formado ~Jo sC.'8ondo subconjuntO dt>mo,gráfico é muitO mais complexo em sua dinâmica. t\ prt'ssão sobrC' os recursos de primeiro tipo de:s('mpenha, nC'sce caso. papel fundamt mal.
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Contudo. se se tcm em coma a CStrutuf"d de.- idade dessa
populaçlo. da qual cerca de ~tade se encontr:\ atualmcnte ab.tixo da ,dade dI: procriação. pg.rece (ora de dúvida
que as laxas de natalidade se manteria elevadas por algumas gt'rJçÕ/:'s. É essa uma das con~iitnci:as ela orientação do desenvolvimento que, ao concentrar:l 1'('lId:l em bem:
fic io d os países ricos e das minorias ricas dos paíst'S pobres. redu;,: o efcito da elc"a\'ão do ní\'e l de rtl1d11 na taxa de nat'Jt idadc-. com respeito ao conjunto do sistt'rna. Po:xlt'
~ admili r como pro\'IÍ\'el que. no correr do próxi mo século. a populaç-Io da periferia dobre a cada H anos. o que significa que ela puslIrn de 1,7 bilhão par;!. l3.6 bilhões.
Sendo assim. a população dos países cênrricos St' multipli(";I.(-5('- l a por I ,), e. a dos paíSC3: periféricos, por 8, do que
re-sulrnria <J.11é ° coojunlo da pOplllaçio passaria de 25 b i-
1llÕt$ parn 14,8 bilhões. ou seja, se mulriplicar-se-ia por 5,9. N o que diz ITspdto à pressão sob~ os recursos do
segundo tipo, istO i. a pressão cumulativa cnpaz de gernr
tensõe~ no conjunto do sistema. interessa mcnos a d ivisão
enrrl" centro-periferia do <llIe a divisão {'ntre aqueles que
se ocnc(jciam d o proceiSO de acumula,lo de capiml e 3qlle
les cuja condi(.iio dc vida somente i afctada por t'SS(' pro
ctuO de (orma marginal ou indirel"a. Ou seja. i mais im
portantt' o fosso qu~ a aluaI orit'nt:açãodo ocs(.'nvolvitn('f\to cria dentro dos pa(scs pc-rifçricos do que o OUlro fosso qut'
cxistt' E'ntrE' estt's c o centro do sistt'(l1a. As inform:açoo
8)
rdat ivu ii di5tribui~da renda nos JXlíses pcrifé-ricos p'~m
I:'m evidência que a parcda d~ popul:lç;1o quI:' I't'produz as forrou de COIISUmo dos p.1íscs cênrricos i reduzida. Ademais, e55:! pucda não parI:'« dev<IIr-k de forma significa· t h'a com a industriali~o. O fundo do problt'ma E lOim· plts: o nível de rcndJ da populaç1o dO$ (»íses ct-nfricos i. CTII' média, ccn:a de dez vt'zes mais elevado 110 qllE' (I da popu!;lção dos p;.íses !X'ri(irkQS. Portar)to, li minoria que nc.'Sl C$ paíscs reprodu:.: as fotlnas de vida dos p,,{ses ctmricos dt'\'1: dispor Ile uJl'l3 renda C('rC':l de dt'l. vezts maior <lo q UI'
• rC'nda per capila do próprio pais. Mais prt'Clsamente': a paKda lllÚirna da popul~.lo do "",is pcnfirico cm que'St:lo qu~ pode ter auSlO 1as formas dt vida dos pa.í~s
Cêllrficos i til' 109l. 1\('Sta situaçio hmrrt', o rC'$10 da populaçOO. 90%. não po<lctla i>OOrt'\wt'r, pOIS sua rcnda scria ~'II>. No caso t{pico da prt'scme siwaÇ"lo na lX' ri{eria ,
emre um ft'1'ço e a tTlC't;;Klc da renda é apropriada pela maioria qut' reproduz os padrõt'S <k vid;t dO$ Irdí~s c(~nlrkos.
I: P outr.l !"ln .. (enne IIlcfadt' t' dois tl:rços) di\·idt-S(' dt' íOrrT\a nui! ou mt'nos dt'5rl>ual com:l musa. da populaç-.io: I\CS$(' caso. >lo minoria privilt',;iada não p<xk Ir muitoalim de ~% ela população do p:!is.
Os 5<:t dt' pri\'ilcgiados d~ pw(t ria correspoocl<:'m.
prneTltt'n'It'mr, a 85 mlU~ dt pessoas: d('Sfar'tt. o conIumo da popul:açio que utrct' t(",uva pressio sobre os rt
cursos alcança K8~ milhiln. 1'1,1 qU.1dro du pro~ões qu<:'
84
tllemos, C$SC' subconjunto populacional alcanç-Jria, dentro de um século. 1,88 bilhão. D<-ml forma, enquanto a população do muodo capitalista aumentaria S.9 \ 'e"ZC$. a do conjunto populacional que efetiY,lmente e)terce pres
são sobrt" OS rL'Cursos aumentaria 2, 1 veu-s. Se a popula
ção que exerce forte prcs~io sobre os recu rsos dohrar, c. ad(-mais, se a renda mexlia dessa população tambtm dobnlT (Intes que o ponto de relativa satll r:l(ão na Utili:t.1ção dos recursos não-renov:iv6s for 3lrnnçado. temos dI? admitir que essa pressão muito prov3velmCntl' crescerá cerca de quatro vt':.tt"s no correr do próximo século. Cabe acresccnWT que essa pr<.'ss.,'io '1uat ro vezC$ m:iior se realiUl so
bre uma base de recursos 'subscancialmcllto: menor. Contlldo seria irrca[ist,1 imaginar que um ri tmode crescimento dessa ordcm nl pressão sobre os recorsos constitui algo forol da capacidade de concrole do homem, mesmo na hipótese de {pJ!: a tecnologia continue a ser orienrada cm sua concepção e ut ilização por empresas pri vadas. Esta all r
m~oimplicãcte~hectr {)ue ~ essa (Im;l presSlio considerá,'cI, cabendo assm.1lar {)\Ie pane crescente cicia , " se t xt'rcern sobn: os r{'corso~t\Jalrn('nte local iz .. dos na periferia do siS!trna.
Omrodado importante a a~inalaré o crcsn:nte peso da minoria pri"iltgi:lda dos pafS€'S periféricos no ranjunro
da popula~-ão que dc-sfnlta de alm nivel de vida no siw:ma capital ista. Sendo mtnos de \ 0% 3tualml"nte, a pankifXl-
85
çio dess:l. minoria tenderia :.i suptr.lr um n:M.-U. na proj~çio ,\ue (iz{·mos. Of"~. Se Se lem em coma que- os f.naJos Ja pcri(eci;l. muilO plO' ·:l\"dml·nlC.' estl rIo em condi~Ors
dt :lJ)ropriar.S(: J e uma jXlK"f1a mlliQt da rtnd.1 do ('onjun· 10 do siStema. mt:di:ance a ,"llionuçlo dos rC"(ursos não Tt"produri"ei$ e dp. mão-<!e.oon 'Iue cxpOnam. a hipúlesc que formulamos de cmbili~o. a nfvtl de ~ %. do grupo pri,'ilegiado deve $tr considerAda como um mínImo. Se a mdhora nos termos de Incercâmbio pl:rmile l.Jut' os}% Se de\'effi a 10%. a mlOoria prJ\' IIt'!;lacb J3 pc:ri(t'ria Sl(pt"r;J'
ria (>!l1 IIIhnt'rn ;I popubç:io do cenHO do siSlc:ma. ESla tendênci3 também opcl'J.r:'l no St'nlido d~· rC"dull( a pl"t'S. siio sobre os n'C"Ursos. pois a .:Iml'llaçiiQ do /Iúmo,:rodos que d:m aú'~s.o aos alros ni~'cis d(' consumo signifj ('3. l.Juc o crescimenco se está 1"('"J.lix.al"ldo na Sent ido de fTIlIior difus.io dos plJl'Õt'S dt' consumo já (,ol"l h tci~.
O a\lln~llIO rcbti\'o do Ol"im{'f(J d~ pri\'ilt'giwos dos paísts pt'ri(t<ricO$ n:io impede. Cnlrecuneo, quc 5(" m:mCtnha t' apro(und(! o fo~ .. () 'Iue e~iste l'mre d~ c a maioria .Ia PI.lpula~~io de :!Cus lespeni \'os p:lis.cs. Com efeito, st' ohscrvamos o sisttma capital isca em st'u conjunto. "cmos que 11 tendêndu c\"nlu!Í\"i1 pn:dominanrl: f: no Scmido dt' I!xdmr nove pc:ssoas /:01 dC2 dos principais benefícios do dt'scnvoh'imcnro; e, Se observamos cm particular o conjunco dos IXiíS<'S ptri(,:r;cos, consr::lfamos que aí a tt"ndêneia ~ no scmido dt' excluir dtltno,'e pessoas em ,·itlt~.
86
Essa massa crescente de excluídos, em termos absolutOS e relativos, que se concentra nos países jX>riféri eos. eonsriwi por si mfcsma um fator de peso na ~voluçlio do sistema. Nào se pode ignor:u a possibil idade d,· qU(' ocorram ém determinados paises, e mesmo d(,' form,1 gt'ncrali~ada. mutações no sim'ma d(· poder político. sob a pr~o dessas massas, com modificações dr fundo na oricmação I)e
mi do proct'sso de d('5t'nvolvimento. Quaisquer qut' St'jam as no\'aS relaçÔl's (IUe se conStimam entre os Estados dos países ptrifúicos (. as grandl'S emprts2S, a no\':I oricntaçio do deselwolvimento teria de ser num sentido muito mais igualitário, favon;'cenclo as formas colt'ti\'aS dto consumo t' reduzindo o desJX'rdício provoc;l<lo pela l'Xlfcma diversi ficação dos amais padrões dt cónsumo privado dos gnlpos p(iviJcgüIJos. Nnta hipótese, a prcs:>ão sobre os r('cursos muito provllvelmcntt' S(' red u:tÍria.
O hori:Wllle de possibilidades c\'oluti \'as que se aore aos países periféricos i, sem dúvida, amplo. Num extremo, ptmla.$C' a hipótese de ~rsjsrência das tendrnctas que prevalC'(e.-rnm no último quarto de.- s&ulo à illft'nsa concentração da renda ('01 benefício de.- reduúda minoria.
No cenero. e'slá ° fortalecimento das burocrnci:as que con· crolam os Escados na jX'rifcria - lendrncia que se vem manifestando no período re'ellle - l" <JuC' le"a a uma melhurn p('t$is(elllc dos (('rOlOS dc imerdmbio e a uma ~mpliõi\'ào da minoria privilegiada ('m derrimr!lto do cton-
87
no do s istema; no olllro ext remo, surge.- a possibilidade de.modificações políticas de.- fundo. sob a pressão das crescen
tes massas exc!uíd:.s dos frutos do desenvolvim~nto. O que' t('ode a :tC'am,' [a( ffiut/;'mças substanri\'as n:. orientação do
processo de descuvol\'im\:'nto. Esta (erc{>ira possibilidade.-.
combinada com a melhof'd I~rs i s tt:nte dos termos de inu'r
câmbio. corresponde :10 mínimo de pressão sobre os recur· sos. assim como a ~rsistfncia das t~ndêllcias acuais ii. ~'oncenlraçiio dil (enda engendf"d o máximo de pt('ss:io,
II. conclusão geral qU(' surge é quc a hip6tesc de ex·
tensão ;lO conjunto do sistema capitalista das formas de consumo que prev:llecc:m acualmemc nos paísrs cêntricos
nào rrm cabimento dt'ntro das possi~ilid:ldes evolut ivas aparenres desse sislema. E t: essa a ra~ão peb qual lima
ruptura catac::lfsmica, num horizonte prcvisíve-l. carece de verossirnilhanç:l. O iTlteresse principal do modelo que leva
a ess,1 pr('\'i$.10 de mpmm catadísmic<l eSlá {'m que de
propo.rciona uma demonstr:lção (:lbal de que o t"slilo de vida cri3do pelo capitalismo indusrrial sempre scr:i o pri
vilég io de uma minoria. O custo. t'(ll termos de depredação do mundo físico, deSS(' estilo de vida ~ de (ai forma (·Ie\'ado que toda tCllIati"à de 8t' nNali~á.lo le\';lfia
inexol"'..Ive!meme 30 colapso de nxb ulna ci vilização. pon
do cm risco ,1 sobre\'i\'ênciu da espécie humana. Temos assim a prova caool de que o dtltllVOll'illlflltl) n'I)//6I1/i(() -,
idéia de qut' oSpQ/:Qj po/lm podem algum dia desfnHar das
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formas de vida dos atuais pot.'Os rieOJ - é simplesmenre irre:ll izável. Sabemos ~gora de forma irrefurável que as economias da periferia nunca serio deJt1ll ',,/fJidd-l . no sentido de sim ilares às economias que formam o arual centro do sisrema capitalista. Mas, como dt'sconhl:cer que essa id(-ia rem sido de grandt' m ilidade pa(a mobili~r os povos da !X'riferii\ e le"1i-los a aceit;lr enormes sacrifícios para legilima( a destruição de formas de culluras flr(fl;(flj . para explirar c fal{'f (QIIIPI'emdtr ii Iltms;dade de" destruir ° meio físico, para justificar fo(mas dr dep('udência qu(' reforçam o caráler predatório do sist('ma prod utivo? Cabe, porran roo afirmar que fi idéia de desenvolvimento econômico é um simples mico. Graças a ela, tem sido possívd desviar as arençõc°s da tart"fa básica de identificação dtls nccessidad('s fundamentais da colctividadt e das possi bilidades que abrem ao homem ° avallço da ÓénC'Ía. para cor"enrrá-las rm objrlivos abstratos. como são os illllf!JlÍllltnfOJ. as exporf(/çÕeS e o cresâ/lltllUi. A importância principal do modelo de Tb,limin fI] grou-'fb é haver contribuído. ainda qu(' não haja sido o seu propósitO, para. destruir esse mitO. seguramente um dos pitares da doutrina que serve de cobertu ra à dominação dos povos dos paíst°s periféricos denrro da no\'a eSHutura do sistema capitalista.
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