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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA WAGNER LUIZ L. CALDERANO O MESSIAS: UMA ANÁLISE HISTÓRICO-TEOLÓGICA DE JESUS DE NAZARÉ São Paulo 2010

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  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA

    WAGNER LUIZ L. CALDERANO

    O MESSIAS: UMA ANLISE HISTRICO-TEOLGICA DE

    JESUS DE NAZAR

    So Paulo 2010

  • Agradecimentos

    Agradeo primeiramente a Deus,

    causa primria de minha motivao, motivo de ter conseguido chegar at aqui e

    poder grato dizer: at aqui o Senhor me ajudou;

    Agradeo a minha amada esposa Simone,

    pelo seu companheirismo constante, por estar sempre ao meu lado me apoiando,

    compreendendo-me quando ausente estive fazendo teologia, por me inspirar com

    seu jeito, sua beleza e inteligncia;

    Agradeo aos meus pais Sebastio e Rita,

    porque se hoje cheguei at aqui devo muito a vocs que ensinaram o menino o

    caminho que se deve andar, sempre me incentivaram a estudar e nunca deixaram

    de sustentar minha vida em orao;

    Agradeo aos meus professores,

    pela pacincia e dedicao em ensinar, vocs so fontes de conhecimento, em

    especial Prof. Dr. Jos Roberto por sua amizade e por orientar-me nesta

    pesquisa;

    Agradeo a minha Igreja,

    por ter me incentivado nessa caminhada teolgica, em especial meu amigo e

    pastor Fernando Rocha por acreditar em mim;

    Agradeo ao meu querido irmo e amigo Weslei,

    companheiro constante nessa caminhada e amigo de todas as horas, foi difcil

    mas chegamos l;

    Agradeo a todos os meus amigos e familiares,

    que direta ou indiretamente me ajudaram e me apoiaram durante esta caminhada

    acadmica.

  • Resumo

    A presente pesquisa tem por objetivo analisar o ttulo de Messias (Cristo)

    atribudo a pessoa de Jesus de Nazar. Este (Jesus) que filho de seu povo e de

    seu tempo, ou seja, Israel. Por isso, a pesquisa retorna a perodos importantes da

    histria de Israel apontando para as expectativas messinicas que com o passar

    do tempo foram sendo geradas na mente do povo.

    Assim, no primeiro captulo, o trabalho volta na histria de Israel, desde o

    xodo do Egito at o cativeiro helenstico. No segundo captulo, dando

    continuidade ao perodo de cativeiros vivido por Israel, apresentado a brutal

    dominao romana da Palestina, os grupos religiosos que emergiram nesse

    momento turbulento da histria do povo judeu e suas expectativas de um Messias

    que viria libert-los do domnio estrangeiro. E por ltimo, no terceiro captulo, ser

    analisada a questo da messianidade de Jesus de Nazar, chamado o Cristo,

    Filho de Deus, e os ttulos messinicos atribudos a ele, tais como: Filho do

    Homem, Filho de Deus, Filho de Davi e Kyrios. Por fim, tambm a questo de sua

    autoconscincia messinica ser apresentada.

    Palavras chave: Messias, Jesus de Nazar, Cristo, Israel, povo.

  • Abstract

    The present study has the aim to analyze the title of Messiah (Christ) that

    had been given to the person of Jesus of Nazareth. This (Jesus) who is son of his

    people and his time, in others words, son of Israel. So this study returns to main

    periods of the history of Israel pointing to the messianic expectations that where

    being generated in the people mind through the time.

    Thus, in the first chapter, the research goes back in the history of Israel,

    since the exodus from Egypt until the Hellenistic captivity. The second chapter,

    continuing the Israel captivity periods, presents the brutal Roman domination over

    Palestine and the religious groups that emerged during this turbulent moment of

    the history of the Jewish people and their expectations in a Messiah that would set

    them free from the foreign domination. And at last, in the third chapter, the

    messiahship of Jesus of Nazareth (known as the Christ, the son of God) is

    analyzed as the messianic titles that had been given to him such as: Son of Man,

    Son of God, Son of David and Kyrios. Finally, the self awareness Jesus is also

    presented.

    Key-words: Messiah, Jesus of Nazareth, Christ, Israel, people.

  • Sumrio

    INTRODUO ......................................................................................................11

    CAPTULO 1 FUNDO HISTRICO

    AS ORIGENS DE ISRAEL: POVO ALIANADO COM

    DEUS................................................................................................12

    1.1 Surge a monarquia em Israel.................................................13

    1.2 Breve histrico de dominaes estrangeiras:

    do cativeiro assrio ao helenstico...........................................17

    CAPTULO 2 A SOCIEDADE NO TEMPO DE JESUS DE NAZAR E AS

    EXPECTATIVAS MESSIANICAS..........................................................................20

    2.1 Imprio Romano.....................................................................20

    2.2 Partidos religiosos.................................................................22

    2.2.1- Os saduceus..........................................................................22

    2.2.2- Os fariseus............................................................................23

    2.2.3- Os essnios...........................................................................24

    2.2.4- Os zelotas..............................................................................24

    CAPTULO 3 JESUS DE NAZAR: O MESSIAS..............................................26

    3.1 Ttulos messinicos...............................................................30

    3.1.1- Filho do Homem....................................................................31

    3.1.2- Filho de Deus........................................................................32

  • 3.1.3- Filho de Davi..........................................................................33

    3.1.4- Kyrios.....................................................................................33

    3.2 A autoconscincia messinica de

    Jesus de Nazar..............................................................................34

    CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................37

    BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................39

  • Introduo

    A expresso Messias no cristianismo herana histrica do povo judeu.

    Por isso, retornaremos na histria de Israel para compreendermos melhor em que

    momento histrico foram sendo desenvolvidas as expectativas messinicas que

    alimentavam a mente do povo judeu nos dias de Jesus de Nazar. Nessa incurso

    na histria de Israel, procuraremos apresentar os perodos de maior relevncia na

    construo dessas expectativas messinicas judaicas. Desde o perodo em que

    Israel era uma nao de tribos, passando pelos diversos perodos de cativeiros,

    at o perodo de dominao romana, onde ento surge Jesus de Nazar.

    A partir do momento que o pano de fundo histrico for desenhado, e as

    concepes messinicas forem ficando mais claras, apresentaremos um estudo

    de cunho teolgico-evangelical, com o objetivo de mostrar que Jesus de Nazar,

    de fato, foi e o Messias esperado, e que o seu messianismo era totalmente

    diferente das esperanas messinicas correntes em seus dias. O que podemos

    antecipar que seu messianismo se caracteriza por toda sua ao, ou seja, sua

    vida, ministrio, morte e ressurreio.

    nesse nterim que se pode perguntar: de Nazar vem alguma coisa boa

    (Jo 1,46)? E responder, sim: Jesus de Nazar! Sendo assim, nas pginas a

    seguir, o que se pretende apresentar um breve estudo sobre o Messias: Jesus

    de Nazar.

    Captulo 1 Fundo Histrico

    As origens de Israel: povo alianado com Deus

  • Quando se prope a falar dos acontecimentos do primeiro sculo da era

    crist e da pessoa de Jesus de Nazar em especial, no h como desvincul-lo da

    histria da qual emergiu. Por esse motivo que devemos analisar as origens do

    povo de Israel. Povo da qual nascem s esperanas messinicas judaicas das

    quais muitas sero refletidas, posteriormente, na pessoa de Jesus de Nazar e no

    cristianismo subseqente, e at os dias de hoje.

    Segundo Jorge Pixley, a data para o comeo da histria de Israel 1220

    a.C., a data estimada para o xodo (2004, p.13). A sada ou o xodo de Israel

    da escravido do Egito um evento singular em toda sua histria que marca

    tambm a sua origem. Fato que este evento relembrado todos os anos na

    celebrao da Pscoa e traz a memria o Deus que os tirou da terra do Egito, da

    casa da servido (x 20,2). Porm, para que a histria dos patriarcas pr-

    israelticos no seja esquecida, Pixley nos diz o seguinte:

    Quando as tribos israelticas em Cana aceitaram como

    prpria a histria da libertao da escravido (o xodo), no

    rechaaram sua prpria pr-histria. As tradies patriarcais

    de Abrao, Isaac e Jac conservam a memria dos lderes,

    anterior formao da aliana tribal, que deu origem a Israel

    (apud Pixley-2004, p.21).

    Sendo assim, podemos afirmar que Israel contava sua histria a partir do

    xodo (Os 11,1; Jz 19,30; 1Rs 6,1; Jr 7,25) e no a partir dos patriarcas, por mais

    que eles tenham papel importantssimo no que diz respeito a unidade das tribos

    devido a genealogia Abrao, Isaque e Jac.

    No entanto, de fato com Moiss e Josu que Israel ganha vida como um

    povo livre e independente, sem dominao estrangeira sobre si. Nesse estado de

    liberdade, fugidos do cativeiro egpcio esse povo faz aliana com Deus para se

    manterem livres. Essa aliana exigia completa lealdade a Deus: no ters outros

    deuses diante de mim (x 20,3). Por isso, Deus era verdadeiramente seu rei, no

    havia nenhuma instituio humana de realeza estabelecida em Israel.

  • O Israel tribal tambm no tinha um culto estabelecido em um templo, ou

    seja, o Deus transcendente de Israel no tinha um espao particular, mas

    acompanhava seu povo. Nesse contexto de aliana o regime social, poltico e

    religioso era mantido, ou melhor, coordenado pelo prprio Deus. Assim, sobre as

    circunstncias do Israel tribal, nos diz Richard A. Horsley e John S. Hanson, que

    tornou-se um ponto de referncia para as geraes subseqentes, um ideal

    utpico com que comparavam a sujeio posterior a reis e imprios estrangeiros e

    a julgavam contrria a vontade de Deus (1995, p.24). Nesse sentido os relatos

    bblicos corroboram com essa idia, ou seja, de que o Deus de Israel manteve o

    interesse de conservar seu povo livre de escravido estrangeira, porm a histria

    de Israel toma outros rumos.

    1.1 - Surge a monarquia em Israel

    Com a idade do ferro, aproximadamente 1200-1000 a.C., depois de 200

    anos de lutas com os povos que habitavam as regies montanhosas de Cana (Jz

    5), comea nascer o desejo de uma monarquia em Israel. Nesse sentido que

    Gerson Leite de Moraes explica:

    talvez por causa disso seja compreensvel que houvesse por

    parte de vrios grupos israelitas a tentativa de construir um

    Estado em Israel, ou seja, centralizar o poder atravs de uma

    monarquia terrestre, que poderia formar um exrcito

    permanente para enfrentar os inimigos. Esse tipo de

    pensamento comea a ganhar mais fora nas tribos de Israel

    [...] quando os chamados Povos do Mar, tambm

    conhecidos como Filisteus conseguem hegemonia na

    regio, tornando-se, ento, os herdeiros do domnio egpcio-

    cananeu. (2004, p.9)

    Com nova tecnologia militar, os guerreiros filisteus podiam operar

    tranquilamente nas regies montanhosas de Cana e assim subjugar os povos

    circunvizinhos. Em 1Sm 13,19 temos um relato bblico interessante sobre

  • esta situao: Ora em toda a terra de Israel nem um ferreiro se achava, porque

    os filisteus tinham dito: Para que os hebreus no faam espada nem lana. Essa

    presso externa causada pelos filisteus em parte nos explica o surgimento da

    monarquia em Israel.

    Uma primeira tentativa de instalar a monarquia em Israel ocorre com

    Abimeleque de Siqum (Jz 9), porm sua realeza dura muito pouco. Com sua

    morte os homens das tribos de Israel divididos em a favor ou contra a monarquia

    retornaram para suas casas e um outro juiz volta a governar Israel. No entanto, a

    monarquia chega a Israel. E com Saul, da tribo de Benjamim. Saul soube se

    aproveitar da atual situao de Israel frente s presses internas (grupos que

    desejavam a monarquia) e externas (filisteus). Assim comanda um exrcito de

    voluntrios das tribos de Israel em luta contra os amonitas (1Sm 11). No sucesso

    dessa luta armada, houve uma forte mobilizao para convert-lo em rei sobre

    Israel. Que segundo o texto de 1Sm 11 os lderes do povo ungiram Saul como rei

    no antigo santurio de Gilgal, o que culminou no incio da monarquia em Israel.

    Contudo, seu reinado dura pouco tempo. Sobre os motivos de seu fracasso

    como rei, Moraes resume:

    Do ponto de vista teolgico, temos a informao de que o

    reinado de Saul foi reprovado por Deus devido a sua

    desobedincia (1Sm 15). Do ponto de vista sociolgico e

    poltico, a grande dificuldade do reinado de Saul foi que ele

    parece no ter conseguido estabelecer uma dinastia ou

    corte, um aparelho burocrtico (Estado). Seu fracasso deu-

    se certamente porque ele tomou como base para seu

    reinado a sociedade israelita sem classes. (apud Morais-

    2004, p.12)

    Com isso, sua reprovao divina e inexperincia poltica, surge Davi, da

    tribo de Jud, no cenrio de Israel. Este que j antes da morte de Saul lhe causa

    cimes por seus feitos militares (1Sm 18, 6-16). Com a morte de Saul ento

    Davi que consegue solucionar o problema da monarquia em Israel. Chamado a

  • cidade de Hebrom, Davi coroado rei de Jud (2Sm 2, 1-7) e depois de lutar com

    os herdeiros de Saul e vencer tambm proclamado pelos ancios do povo rei de

    todo Israel (2Sm 5, 1-5).

    Ungido rei de Israel, com prestgio militar e um sistema burocrtico

    diferente (um simples exemplo so os impostos que eram cobrados dos povos

    conquistados para sustento do exrcito), Davi d incio de fato a um Estado, a

    uma monarquia em Israel.

    Davi era um rei temente e adorador de Iahweh, Deus de Israel, e com isso

    foi muito habilidoso para no se opor a Deus, mas sim juntos reinarem sobre o

    povo. Em todo texto bblico Davi lembrado como sendo um bom rei, isso

    provavelmente por seus xitos nas guerras e pelo cuidado que teve em seu

    reinado em no passar por cima das tradies das tribos de Israel.

    Contudo, Davi introduz algumas novidades que mudaram o culto em Israel.

    Primeiro, estabelece Jerusalm, que ficou conhecida como Cidade de Davi, como

    capital de seu reino. E segundo, trouxe a arca da Aliana, onde ficavam as tbuas

    da lei dadas a Moiss para sua nova capital (2Sm 6). A partir de agora as tribos de

    Israel e o culto a Iahweh passam a serem administrados da capital Jerusalm, a

    cidade de Davi.

    Os feitos de Davi levam Israel a uma estabilidade econmica e a um lugar

    de destaque na regio de Cana. Talvez por esses motivos que surgem as

    expectativas messinicas davdicas, onde um futuro rei deveria estabelecer um

    reino igual ou superior ao de Davi, ou seja, o novo Messias teria que por Israel em

    destaque entre as naes novamente.

    Com a morte de Davi seu filho Salomo assume o reino de Israel. Porm,

    este no tem a mesma habilidade administrativa que seu pai e isso vai causar

    grandes problemas a Israel. Salomo investe esforos na construo de um

    templo para Iahweh, Deus de Israel em Jerusalm. Nessa empreitada Salomo

    abusa da cobrana de impostos, pois alm dos tributos materiais ele introduz o

    tributo em trabalhos forados, a corvia (1Rs 5). Terminada a obra do templo,

    Salomo d continuidade a essa poltica construindo novos empreendimentos

    (1Rs 9,15-24).

  • Essa administrao de Salomo trouxe prejuzos no relacionamento entre

    ele (o rei) e o povo, pois fugia da proposta de viverem de maneira livre e

    independente. Por esse motivo que as tribos de Israel se rebelam contra ele.

    Primeiro, Jeroboo da tribo de Efraim, se revolta contra Salomo, porm no

    obtm xito inicial e se refugia no Egito (1Rs 11,26-40). No entanto, com a notcia

    da morte de Salomo, Jeroboo retorna e sob a sua liderana dez tribos se

    rebelam e dividem o reino de Israel. Sendo, o reino de Israel, no Norte, governado

    por Jeroboo e o pequeno reino de Jud, no Sul, que d continuidade a dinastia

    davdica (1Rs 12).

    Porm, com a construo do templo a dinastia davdica monopolizou a

    religiosidade de todo o Israel em seu favor, pois a aliana davdica endossava a

    vontade de Deus em perpetuar o trono de Davi (2Sm 7; Sl 89). Conforme Moraes:

    Essa teologia da aliana davdica foi fundamental para

    engravidar a mente do povo que foi para o exlio [...]

    justamente porque optou pela monarquia humana em

    detrimento do reinado de Iahweh. A aliana davdica

    prometia que Israel no seria para sempre subjugado e um

    dia viria um novo rei guerreiro, o prometido desde os

    primrdios, ou seja, o Messias, que restauraria a hegemonia

    israelita perante os olhos do mundo. (apud Moraes-2004,

    p.15)

    Por esse motivo, de expectativas messinicas nascidas no perodo

    monrquico, analisaremos a seguir como foi o perodo de dominaes

    estrangeiras pelas quais passou Israel, pois mais a frente analisaremos quais as

    esperanas que foram sendo geradas no meio do povo exilado.

    1.2 - Breve histrico de dominaes estrangeiras: do cativeiro assrio ao

    helenstico

    Divididos em reino do Norte e do Sul (o que enfraqueceu Israel num todo),

    o povo da aliana passa a ser dominado e subjugado por diversos imprios

  • seqencialmente. Primeiro, (Pixley, 2004, p.62-73) o reino do Norte com sua

    capital Samaria sitiada, cai em poder dos assrios em 722 a.C. e Jud, do reino do

    Sul, desde 734 a.C. j estava submisso como reino vassalo. Nesse perodo de

    cativeiro Assrio alguns profetas importantes para a histria de Israel

    desempenharam seus ministrios, gerando esperanas messinicas para os

    cativos, tais como: Osias, Ams e Miquias.

    Em seguida com o reino enfraquecido, Jud conquistada pelos

    babilnicos em 605 a.C. A Babilnia torna-se ento a nova potncia hegemnica

    na Palestina. Porm, somente em 587 a.C. com Nabucodonosor, Jerusalm

    sitiada, seus muros e seu templo so destrudos e a cidade incendiada. Com isso,

    os babilnicos aplicam uma poltica de deportao, onde a famlia real e muitos

    dos habitantes de Jerusalm so levados cativos a Babilnia. Nesse perodo de

    submisso babilnica alguns dos profetas que atuaram foram: Jeremias, Ezequiel

    e o Dutero-Isaas (40-55).1

    Pouco tempo depois, sob o comando de Ciro, os persas em 539 a.C.

    derrotam os babilnicos. Domnio que pelos prximos 200 anos,

    aproximadamente, a Prsia estabeleceria sobre o Oriente Mdio. Werner H.

    Schmidt, aponta algumas mudanas estabelecidas pelos persas:

    Os primeiros reis persas respeitavam as tradies dos povos

    subjugados e incentivavam os cultos autctones. Condiz

    bem com esta atitude que j depois de um ano (538) Ciro

    teria ordenado que o templo de Jerusalm fosse reconstrudo

    e que os utenslios do templo, levados para Babilnia,

    fossem devolvidos. O edito foi conservado em Ed.6, 3-5 em

    aramaico [...] A reconstruo do templo ocorreu apenas de

    520 a 515 a.C., por insistncia dos profetas Ageu e Zacarias

    [...] No tempo de Ciro destacou-se Sesbazar, que foi

    encarregado de entregar os utenslios do templo e tambm

    colocou a pedra fundamental do santurio (Ed. 5,14ss). Era

    1 A respeito das divises do livro de Isaas sugerimos a leitura do livro de Werner H. Schmidt

    (1994), Introduo ao Antigo Testamento.

  • funcionrio persa assim como Zorobabel que atuou um

    pouco mais tarde e nele se depositaram mais uma vez

    esperanas messinicas (Ag. 2,23; Zc. 6,9), que, no entanto,

    no se cumpriram. (1994, p.33-34)

    Com essa poltica conciliadora dos persas, por volta de 450 a.C., Esdras e

    Neemias, chegam Palestina, um aps o outro, para por em ordem a situao.

    Eduard Lohse explica:

    Neemias se preocupou com a construo de uma muralha

    ao redor da cidade de Jerusalm. Pediu aos judeus o

    juramento de que no se casariam com membros dos povos

    vizinhos estrangeiros. Esdras ensinou aos habitantes de

    Jerusalm a lei, promulgando-a em nome do rei. A partir da,

    o culto da comunidade judaica ficou sob proteo do governo

    persa. Assim, ela pde desenvolver sua vida, segundo as

    prescries da lei, sem obstculos. (2000, p.13)

    Depois desse perodo de hegemonia persa, inaugura-se a era helenstica

    com a vitria de Alexandre Magno sobre o rei persa Dario III, na batalha de Isso

    (333 a.C.). Segundo Horsley e Hanson a dominao dos babilnicos e dos persas

    empalidece em comparao com a opresso que veio em conseqncia da

    conquista de Alexandre Magno e seus sucessores macednios (1995, p.28).

    Visto que, a fora de combate do exrcito grego era muito grande, os judeus, logo

    reconhecem a superioridade militar e se submetem pacificamente ao poderio

    grego, por esse motivo, os judeus puderam continuar, como no domnio persa,

    seu culto livremente.

    Junto com a dominao grega, veio tambm seu modo de viver, ou seja, a

    Palestina agora se abre a influncia grega, sua lngua, cultura e herana religiosa.

    A influncia grega foi to grande que construram teatros, ginsios, impuseram

    sua lngua como lngua comum do povo, e assim, os judeus logo se adaptaram

    as novas circunstncias e se orientavam por elas.

  • Contudo, com a morte prematura de Alexandre Magno em 323 a.C. o

    poderoso imprio grego comea a desmoronar. Schmidt resume em poucas

    palavras como foram os anos seguintes a morte de Alexandre:

    a Palestina foi submetida por um sculo ao domnio do reino

    (egpcio) dos ptolomeus (301-198), para depois ser integrada

    ao reino dos selucidas (198-64 a.C.). Um fato marcante foi,

    aps a ascenso ao trono do selucida Antoco IV Epfanes,

    a rebelio dos macabeus em repdio a cultos estranhos. No

    ano de 63 a.C. a Palestina caiu sob o domnio romano. (apud

    Schmidt-1994, p.34)

    Todos esses acontecimentos: a libertao do Egito pelas mos de Moiss,

    o estabelecimento da monarquia de fato, com Davi, passando pelos cativeiros

    assrio, babilnico, o retorno a terra por meio dos persas, o domnio do forte

    exrcito grego de Alexandre at o domnio romano, fizeram com que uma teologia

    messinica fosse desenvolvida, assim gerando esperanas de um novo rei que

    trouxesse novamente a autonomia poltica a Israel. E justamente agora, no

    cenrio palestinense, sob domnio romano que surge o Carpinteiro de Nazar2.

    Em meio a uma sociedade onde o ambiente era de intensa turbulncia. Por isso,

    analisaremos mais detalhadamente no prximo captulo esse perodo.

    Captulo 2 - A sociedade no tempo de Jesus de Nazar e

    as expectativas messinicas

    Num estudo sobre Jesus de Nazar impossvel no passarmos pela

    Palestina do primeiro sculo, pois nesse momento da histria que se d incio a

    seu ministrio pblico. Por isso, a partir de agora se faz necessrio apresentarmos

    a situao poltica, econmica e social da Palestina sob dominao romana que

    2 Segundo G. Verms a profisso de Jesus de Nazar permanece incerta, porm a tradio crist

    o chama de carpinteiro baseada no fato de seu pai ter sido um e tambm devido aos relatos das

    pessoas de Nazar registradas nos evangelhos: o carpinteiro (Mc 6, 3), ou o filho do carpinteiro

    (Mt 13, 55).

  • nas palavras de Moraes era uma verdadeira panela de presso prestes a

    estourar (2004, p.17).

    2.1- Imprio Romano

    A dominao romana (Horsley e Hanson, 1995, p.43) sobre a Palestina se

    deu por volta de 63 a.C. pelas mos de Pompeu. Aps a violenta conquista de

    Pompeu, seguiu-se um longo perodo de lutas entre faces asmonias e

    exrcitos romanos rivais em busca do controle da rea. Os efeitos dessa guerra

    civil na Palestina foram a devastao do pas, cobrana de altos impostos e

    agitao social. A brutalidade com que os romanos tratavam os habitantes da

    Palestina os induzia submisso. Contudo, esse tipo de comportamento brutal e

    exploratrio por parte dos romanos levava alguns grupos religiosos da Palestina a

    desejarem a libertao dessa poltica opressora.

    Em 40 a.C., em meio ao caos poltico da guerra civil romana surge Herodes

    I, o Grande. Este conseguiu ser reconhecido por deciso oficial do Senado

    romano como rei da Palestina (Lohse, 2000, p.32), isso devido sua habilidade em

    manobras polticas. Quando Jesus nasceu ele que reinava na Palestina (Mt 2,1;

    Lc 1,5). Depois de submeter o povo judeu com a ajuda das legies romanas,

    Herodes que era um admirador da cultura grega, empreendeu grandes

    construes gregas, tais como: termas, teatros, ginsios e templos, que segundo

    Lohse, desagradou muitos judeus, todavia, tentou tambm cativ-los, ampliando

    e reformando o Templo. Este recebeu de novo a mesma forma arquitetnica do

    tempo do rei Salomo (2000, p.34).

    Juan Mateos e Fernando Camacho nos informam que:

    com a morte de Herodes (ano 4 a.C), o reino foi dividido

    entre seus trs filhos, com o consentimento do imperador

    Augusto, que, no entanto, deixando de dar ateno ao

    testamento de Herodes, no outorgou o ttulo de rei a

    nenhum dos trs. (2003, p.9)

    Lohse complementa essa informao dizendo que

  • Augusto procedeu, praticamente, conforme o testamento de

    Herodes. Antipas e Felipe foram nomeados tetrarcas, ou

    seja, pequenos prncipes. Arquelau no recebeu ttulo de rei,

    mas somente um inferior, o de etnarca. Para o povo, essas

    diferenas de ttulos nada significavam. Considerou os

    governantes como reis. Por isso, o Novo Testamento chama

    de reis Arquelau (Mt 2,22) e tambm Herodes Antipas em

    Mc 6,14 e Mt 14,9. (apud Lohse-2000, p.36)

    Arquelau era o mais odiado pelos judeus, o que levou o imperador Augusto

    no ano 6 d.C. destitu-lo do poder e exil-lo na Glia. Seu domnio ficou nas mos

    do governador (procurador) romano. Mateos e Camacho nos informam da

    importncia do governador romano:

    O governador romano no passava de supervisor, ao passo

    que o aristocrtico Sindrio agia como autntico governo. O

    titular do sumo sacerdcio, que era ao mesmo tempo

    presidente do Sindrio, era qualificado de chefe de Estado.

    verdade que os sumos sacerdotes eram nomeados e

    depostos ao sabor da vontade do governador romano. (apud

    Mateos e Camacho-2003, p.13)

    No tempo de Jesus, Pncio Pilatos quem exercia o cargo de procurador

    da Judia (26-36 d.C) e foi ele que segundo os evangelhos condenou Jesus

    morte (Mt 27,1-25; Mc 15,1-15; Lc 23,1-26; Jo 18,28 ss.; 19,1-22). Em meio a

    esse regime de dupla autoridade, ou seja, de um lado o romano e de outro o

    judaico, os conflitos foram contnuos. Com isso, surgem alguns partidos religiosos,

    uns a favor e outros contra esse regime poltico opressor. Vejamos a seguir alguns

    pontos relevantes desses partidos religiosos.

    2.2 - Partidos religiosos

    Na poca de Jesus de Nazar, nos informa Leonhard Goppelt que Israel

    estava dividido em partidos religiosos claramente distintos. Partindo do cunho

  • teocrtico da coletividade judaica, esses grupos tinham tambm o carter de

    partidos polticos (2003, p.65). Por esse motivo, analisaremos quatro dos partidos

    religiosos de maior relevncia no tempo de Jesus: saduceus, fariseus, essnios e

    zelotas.

    2.2.1. Os saduceus

    So conhecidos por esse nome por causa do sumo sacerdote do tempo do

    rei Salomo, Sadoc, (1Rs 2,35) de quem as grandes famlias sacerdotais

    descendiam. Eram, ento, o partido da aristocracia judaica, cujos membros,

    ocupavam altos cargos sacerdotais e, com isso, detinham alm do poder religioso

    o poder poltico da nao. Mateos e Camacho nos informam o seguinte:

    Eram muito conservadores no campo religioso e igualmente

    no campo poltico, porm abertos influncia da cultura

    grega helenista. Adaptavam-se ao domnio romano;

    chegaram a uma composio, uma espcie de acordo no

    escrito: eles procuravam manter a ordem, ocupando os

    postos dirigentes, para que assim os romanos os deixassem

    tranqilos. Aceitavam a injustia da dominao estrangeira

    contanto que no comprometesse sua posio nem pusesse

    em perigo o seu poder. (apud Mateos e Camacho-2003,

    p.35)

    Em relao s doutrinas, sabemos que os saduceus, rejeitavam a doutrina

    farisaica da ressurreio dos mortos e tambm negavam a existncia de anjos e

    espritos. A vida dos saduceus era focada no que terreno, por isso, tiravam o

    maior proveito de sua situao de poder.

    2.2.2. Os fariseus

    O nome fariseus deriva da palavra hebraica persim que traduzida

    literalmente, significa: os separados. Constituam o partido religioso formado em

    sua grande maioria por leigos devotos que dirigidos por letrados buscavam levar

  • as prticas religiosas ao extremo. Acreditavam que o cumprimento da Lei ou Tor

    era o requisito mais importante da vida, por isso, supunham que ao homem s

    restava estud-la e p-la em prtica em todos os aspectos da vida.

    Os pontos principais da doutrina farisaica (Mateos e Camacho, 2003, p.36)

    eram: a imortalidade da alma, a ressurreio dos mortos (onde os justos

    ressuscitaro para a vida eterna na glria do reino messinico e os pecadores

    para o castigo eterno) e a existncia de anjos e espritos. Tinham, tambm, a

    demasiada preocupao em pagar o dzimo e se manterem puros, ou seja,

    resumindo, sem terem contato com pessoas que no observasse a Lei como eles

    (isso esclarece os diversos conflitos que os evangelhos relatam entre Jesus e os

    fariseus).

    Em relao s expectativas messinicas dos fariseus, Lohse nos informa o

    seguinte:

    Os fariseus desenvolveram a expectativa da ressurreio

    dos mortos em uma doutrina coerentemente formulada,

    diferenciando-se dos saduceus (At 23,8), e cultivaram uma

    forte esperana messinica. Se o povo se preparar em

    pureza e santidade para a vinda do Messias, este, ento,

    aparecer como filho de Davi, a fim de reunir as tribos

    dispersas de Israel e erigir de novo o reino. (apud Lohse-

    2000, p.73-74)

    Assim, os fariseus esperavam que a libertao de Israel das mos

    opressoras, aconteceria por intermdio da interveno de Deus, contudo, para

    que esse momento chegasse mais rpido seria necessrio a prtica rigorosa da

    Lei.

    2.2.3. Os essnios

    Os essnios eram um partido religioso judaico independente, ou seja,

    viviam em comunidades afastadas. Foi um partido que rompeu com o sistema

    poltico e religioso de seu tempo. Eram mais extremistas que os fariseus, pois

  • estes ainda respeitavam as instituies, j os essnios entendiam que o culto e o

    templo estavam corrompidos por terem um sacerdcio indigno. Esperavam que o

    prprio Deus o restaurasse.

    Seu radicalismo levou-os a considerarem-se o povo exclusivo de Deus, por

    isso estudavam as Escrituras em suas comunidades aguardando o juzo divino

    que os salvariam e condenaria todos que no fizessem parte de seu grupo.

    2.2.4. Os zelotas

    No segundo volume da obra lucana3 encontramos, provavelmente, o

    fundador do partido dos zelotas: Judas, o galileu, que nos dias do recenseamento

    atraiu o povo atrs de si (At 5,37). Os zelotas eram um partido ativista e em sua

    maioria composto pelas classes oprimidas, porm, diferentes dos fariseus e

    essnios, aguardavam o reinado de Deus no de braos cruzados, mas partiram

    para a luta armada em busca da libertao de Israel do domnio romano. Lohse

    aponta algumas das motivaes dos zelotas que os levavam a essas aes

    revolucionrias:

    Quem reconheceu o imperador como seu senhor e lhe pagou

    impostos, infringiu, na perspectiva dos zelotas, o primeiro

    mandamento, que prescreve honrar somente a Deus. Os

    zelotas se recusavam a se submeter ao domnio do

    imperador romano e a cham-lo de Kyrios (senhor). No

    estavam dispostos a aguardar com pacincia a futura

    transformao messinica, como os fariseus, mas queriam

    determinar o curso da histria pelo prprio agir. (apud Lohse-

    2000, p.75-76)

    Em resumo, como nos diz Mateos e Camacho:

    Deixando de lado os saduceus, que no desejavam

    mudana alguma, havia duas posies em face da chegada

    3 Encontramos essa diviso da obra do evangelista Lucas em: Histria da Literatura Crist

    Primitiva - uma introduo ao Novo Testamento aos Apcrifos e aos Pais Apostlicos de Philipp

    Vielhauer.

  • do reinado de Deus: a primeira, prpria dos fariseus e dos

    essnios, atribua a mudana exclusivamente interveno

    divina; a segunda, prpria dos zelotas, queria efetuar a

    mudana, contando com a ajuda de Deus, mediante a fora

    das armas. (apud Mateos e Camacho-2003, p.46)

    No tarefa fcil sintetizar as diversas maneiras como esses grupos

    concebiam a libertao de Israel e as expectativas messinicas que os moviam,

    porm, basicamente, o que se props foi apresentar o contexto e o ambiente,

    enxertado de ideologias, em que Jesus de Nazar comea seu ministrio.

    Portanto, como se pode observar da sociedade do tempo de Jesus sob

    domnio romano que a grande esperana de Israel era o reinado de Deus, que

    havia de mudar o curso da histria, libertando o povo de todas as injustias e

    opresses sofridas, e assim, dar incio a poca de justia, paz e prosperidade

    anunciada pelos profetas do Antigo Testamento, principalmente depois das

    difceis experincias de dominaes estrangeiras.

    Captulo 3 - Jesus de Nazar: o Messias

    Rino Fisichella nos diz que o messianismo no especifico de Israel,

    porm um fenmeno peculiar em Israel, porque foi vivido e compreendido como

    um fenmeno poltico e religioso de maneira particular (Fisichella. In: Pacomio, L.

    & Mancuso, V. (Org.); 2003 p.482), ou seja, em Israel, ele indica uma esperana

    de ver a interveno salvfica de Iahweh, sendo possvel observar em sua histria

    uma leitura messinica em diferentes pocas, porm mantendo sempre viva essa

    esperana de salvao. E isso, muito significativo para os escritos do Novo

    Testamento.

    Em consonncia com a idia acima, Jurgen Moltmann, nos diz que: no

    existe a cristologia incondicional. A condio histrica da cristologia a promessa

    do Messias do Antigo Testamento e a esperana judaica fundamentada na Bblia

    Hebraica (2009, p.21). Complementando essa idia I. Howard Marshall nos diz o

    seguinte:

  • Continua a existir uma grande divergncia entre estudiosos

    que defendem que os Evangelhos sinticos oferecem um

    panorama bastante confivel sobre a forma como Jesus agia

    e falava, e os que sustentam serem duvidosas as narrativas

    dos Evangelhos e que o Jesus histrico era

    significativamente diferente da forma retratada nos

    Evangelhos. Logo, devo agir de acordo com a primeira

    posio, tomando a direo oposta a que foi adotada por

    Bultmann, e assim discutir a teologia de Jesus da maneira

    como nos apresentada pelos evangelistas, com base no

    slido pressuposto de que as apresentaes de Jesus, que

    encontramos nos Evangelhos sinticos, esto prximas o

    suficiente da realidade histrica, de forma a nos permitir

    utiliz-las para compreender sua mensagem e sua misso.

    (2007, p.39)4

    Sendo assim, visto que at o exato momento a pesquisa preocupou-se em

    apresentar o pano de fundo histrico da qual emergiu as expectativas messinicas

    judaicas, e tambm, o contexto e o ambiente turbulento que foi o da Palestina do

    primeiro sculo em que Jesus de Nazar nasceu, cresceu, desenvolveu seu

    ministrio terreno, foi crucificado e ressuscitou. A partir de agora pretende-se

    analisar de fato, o movimento de Jesus de Nazar5, focando em especial o

    ttulo/nome de Messias, o Cristo, Ungido de Deus, partindo dos pressupostos

    acima citados.

    4 Temos cincia da discusso do Jesus histrico e o Cristo da f (querigma), porm como o

    escopo de nossa pesquisa no pormenorizar essa discusso e cremos ser possvel encontrar o

    Jesus histrico por meio dos Evangelhos, sugerimos para maiores detalhes sobre o assunto a

    leitura de Teologia do Novo Testamento de Joachim Jeremias (1977).

    5 Segundo Gerd Theissen, em Sociologia do Movimento de Jesus, o movimento de Jesus de

    Nazar um fenmeno de renovao intrajudaico despertado por Jesus, onde segundo Theissen

    o cristianismo primitivo dividi-se em duas frentes, o helenstico e o palestinense, sendo este ltimo

    o que caracterizou o movimento de Jesus.

  • Para tal, intento, iniciaremos apresentando uma breve explicao sobre o

    significado do verbo hebraico (ou aramaico) (mashiah), e seu

    correspondente, em grego (Christos). Sucintamente, ambos, significam:

    untar, pintar, ungir, ungido ou ser ungido. Como j vimos acima (no incio do

    surgimento da monarquia em Israel com Saul, Davi e seus sucessores), a tradio

    judaica conhece a uno de reis que foram institudos legtimos ungidos de

    Iahweh (1Sm 9,16; 16,12-13; 2Sm 23,1) e tambm a uno do sumo sacerdote

    (Lv 4,3-5) e, mais raramente, de profetas (1Rs 19,16; Is, 61,1; Sl 105,15).

    Com isso, nota-se a importncia do Messias, o Ungido, para Israel, e

    conseqentemente, para os escritos do Novo Testamento.

    Heinz-Josef Fabry e Klaus Scholtissek nos do algumas informaes

    interessantes em relao ocorrncia da palavra Christos no Novo Testamento:

    No Novo Testamento, h 529 ocorrncias de christos, e duas

    vezes aparece transcrio grega messias (Jo 1,41; 4,25).

    Esse ttulo , por conseguinte, a designao cristolgica

    mais comum no Novo Testamento; ele se acha em todos os

    escritos neotestamentrios (com exceo dos 25 versculos

    de 3Joo), 270 apenas em Paulo. (2008, p.78)

    Oscar Cullmann corrobora com a idia acima de que a designao

    cristolgica mais comum do Novo Testamento seja a de Messias ou Cristo, pois

    cita em sua cristologia:

    Para nos convencermos da importncia que davam a este

    ttulo, basta lembrar que, desde a poca do Novo

    Testamento at nossos dias, Messias chegou a ser para os

    cristos o ttulo cristolgico por excelncia [...] Desde muito

    cedo, os cristos adquiriram o hbito de associar o ttulo de

    Cristo ao nome de Jesus. Jesus Cristo, pois, significa

    Jesus-Messias. J nos mais antigos escritos cristos que nos

  • chegaram, as Epstolas de Paulo, o termo Cristo mostra a

    tendncia a converter-se em nome prprio (embora Paulo,

    invertendo as vezes a ordem usual, escreve o Cristo Jesus,

    evidenciando, assim, que no esquece a verdadeira

    significao deste ttulo). Na poca apostlica, o verdadeiro

    sentido do ttulo Messias , pois, conhecido. Deveramos

    sempre nos lembrar, ao ler o Novo Testamento, que no

    esprito de seus autores, Jesus Cristo significa

    corretamente Jesus o Messias. (2008, p.150)

    Sendo assim, na mesma linha de Cullmann, George Eldon Ladd, confirma a

    importncia do ttulo e seu uso singular na teologia paulina:

    O ttulo e conceito de Messias (Christos = Mashiah = ungido)

    o mais importante de todos os conceitos cristolgicos,

    historicamente falando, se no teologicamente, porque

    tornou-se no modo central de designar a compreenso crist

    da pessoa de Jesus. Isto provado pelo fato de Christos,

    que propriamente um ttulo designativo de ungido, logo

    tornou-se um nome prprio. Jesus tornou-se conhecido no

    s como Jesus, o Cristo ou Messias (At. 3,20), mas como

    Jesus Cristo ou Cristo Jesus. S ocasionalmente Paulo fala

    de Jesus; ele quase sempre usa o nome composto; e ele fala

    com mais freqncia de Cristo do que de Jesus. (2001,

    p.127)

    No restam dvidas da singular importncia que carrega o ttulo

    messinico Cristo, para a igreja primitiva e o cristianismo, que por intermdio do

    apstolo Paulo ganha tambm o status de nome prprio, ou seja, Jesus Cristo o

    Messias. Tanto verdade que esse ttulo/nome passa a dar nome nova f, pelo

    fato de que os discpulos de Jesus de Nazar foram, primeiramente, chamados de

    cristos em Antioquia (At 11, 26).

  • Contudo, surge uma questo que procuraremos responder de forma

    pontual e objetiva: por que Jesus de Nazar manifestava uma singular reserva

    quanto ao uso do ttulo Messias cada vez que se fazia para designar sua pessoa e

    sua obra (Mc 1,43ss; 5,43; 8,27-30; Lc 22,63-71)?

    Fabry e Scholtissek nos informam o seguinte, que o prprio Jesus, em

    vida, se confrontou com expectativas salvficas messinicas de diferentes

    coloraes (apud-Fabry e Scholtissek-2008, p.85), ou seja, no contexto em que

    Jesus de Nazar viveu havia diversas expectativas messinicas na mente do

    povo, sendo a de um messias nacionalista-poltico da linhagem de Davi a idia

    predominante. Se o propsito de Jesus fosse oferecer ao povo de Israel tal reino

    davdico, poltico e terreno, eles o teriam aceitado de imediato e lutado por ele at

    a morte, pois o que o povo desejava era um rei para libert-los de Roma e no um

    salvador para redimi-los dos pecados.

    Seguindo essa mesma linha de pensamento Ladd diz:

    messias sugeria s mentes dos judeus um filho real de

    Davi, que seria ungido por Deus para trazer a Israel o

    livramento poltico do jugo dos pagos e para estabelecer o

    reino terreno, e fica evidente de imediato que seria

    necessrio a Jesus utilizar o termo somente com grande

    reserva. Tivesse Jesus publicamente proclamado ser o

    Messias, aquela proclamao seria recebida pelo povo como

    uma chamada para que se ajuntasse para a rebelio contra

    Roma. (apud Ladd-2001, p.131)

    Nesse sentido James D. G. Dunn afirma que tal papel Jesus rejeitou [...]

    para Jesus, ento, a confisso de si prprio como o Messias significava um mal-

    entendido de sua misso. Conseqentemente ele desencorajava tal confisso

    (2009, p.114). bvio que nesse sentido Jesus no quer que difundam uma

    opinio errada sobre ele, pois isso poderia suscitar um entusiasmo messinico

    falso.

  • Resumindo, o messianismo que Jesus de Nazar exerceu foi de um carter

    bem diferente do que esperava a mentalidade popular. Ele era o Messias, mas

    no o poltico, conquistador e guerreiro que a mente de seus contemporneos

    ansiavam e esperavam. O messianismo de Jesus se caracteriza por toda sua

    ao, isto , a misso toda de Jesus de Nazar, desde sua morte e ressurreio,

    no simplesmente pelo cumprimento (seja de qual tipo for) de expectativas

    messinicas, por mais que tenham sido depositadas em sua pessoa. Seu

    ministrio terreno, sua morte na cruz e sua ressurreio dentre os mortos so

    decisivos para a avaliao de sua messianidade. Somente assim, juntando esses

    fatores, que podemos criar a imagem adequada de Jesus Cristo, ou seja, o

    Jesus terreno no pode ser compreendido sem o Cristo ressuscitado, e este, e

    no outro o Messias, Jesus de Nazar, que atuou entre ns.

    Contudo, os escritos neotestamentrios pressupem a f em Jesus de

    Nazar, o Cristo, e relatam sua vida a luz da f crist. Sendo assim, o Novo

    Testamento aplica alm de Cristo outros ttulos messinicos a pessoa de Jesus,

    o que veremos a seguir.

    3.1 - Ttulos messinicos

    Filho do Homem, Filho de Deus, Filho de Davi e Kyrios so os ttulos mais

    usados pelos escritores do Novo Testamento, sendo que esses ttulos no se

    chocam entre si, mas se interpretam mutuamente, resplandecendo ainda mais o

    testemunho daquele a qual se referem. Por se tratarem de temas muito extensos

    e discutidos, procuraremos, ento, analisar brevemente cada um desses ttulos

    atribudos a Jesus de Nazar.

    3.1.1. Filho do Homem

    Esse ttulo messinico tem sua origem no Antigo Testamento, mais

    especificamente, nos livros dos profetas Ezequiel e Daniel 7. Ladd nos diz que a

    expresso ocorre no livro de Ezequiel (cerca de noventa vezes) como o nome

    particular pelo qual Deus se dirige ao profeta (apud Ladd-2001, p.139). Onde em

  • Ezequiel tem o significado literal do termo, ou seja, filho do homem

    simplesmente homem, pertencente ao seu gnero humano. Em Daniel j h um

    contraste com essa idia, pois o filho do homem agora aquele que aparecer no

    fim dos tempos para julgar o mundo, ou seja, uma figura escatolgica

    messinica celestial que trs o reino aos santos afligidos sobre a terra (apud

    Ladd-2001, p.140).

    Segundo consenso de vrios estudiosos (Cullmann, Ladd, Moltmann,

    Fisichella, G. Verms, e outros), esse foi o ttulo favorito que Jesus usou para

    fazer referncia a si prprio (Mt 8,20; 11,19; Mc 2,10; 2,28). Fisichella diz que essa

    expresso

    aparece nos evangelhos 82 vezes, sempre e somente nos

    lbios de Jesus [...] todos os textos relativos a essa

    expresso podem ser reduzidos a trs categorias: a) o

    ministrio terreno do filho do homem; b) sua paixo, morte e

    ressurreio; c) sua glria escatolgica e o respectivo retorno

    no final dos tempos. (apud Fisichella In: Pacomio, L. &

    Mancuso, V. (Org.); 2003, p.302).

    Se enquadrando nesse vis, Ladd complementa:

    Jesus ser o Filho do Homem celestial e glorioso, vindo com

    as nuvens, para julgar os homens e para inaugurar o Reino

    glorioso. Entretanto, em antecipao desta manifestao

    apocalptica como o Filho do Homem, Jesus o Filho do

    Homem enviado incgnito entre os homens, cujo ministrio

    no reinar em glria, mas sofrer e morrer em humilhao

    pelos homens. O Filho do Homem futuro, celestial, j est

    presente entre os homens, mas de uma forma que eles

    dificilmente esperariam. (apud Ladd-2001, p.149)

  • Sendo assim, Filho do Homem no Novo Testamento refere-se diretamente

    a pessoa de Jesus de Nazar que com esse ttulo quis identificar a si mesmo e a

    sua misso, e assim, interpretar seu oficio messinico a seu prprio modo.

    3.1.2. Filho de Deus

    Encontramos esse ttulo em diversas passagens do Antigo Testamento (x

    4,22; 2Sm 7,14; Sl 2,7; 89; Ml 2,10; e outros). Cullmann (2008, p.356) nos informa

    que esse ttulo era empregado de trs maneiras diferentes: primeiro, o povo de

    Israel inteiro chamado filho de Deus; em segundo lugar, o rei porta este ttulo;

    e finalmente, certos comissionados especiais de Deus, tais como os anjos. Ele

    acrescenta tambm a noo deste ttulo no Oriente e no helenismo onde

    nas antigas religies orientais principalmente os reis eram

    considerados como gerados por deuses. Esta crena estava

    particularmente espalhada no Egito, onde os faras

    passavam por ser filhos do deus sol R. Ela atestada

    tambm, porm, com menor clareza, na Babilnia e na

    Assria. Para a poca do Novo Testamento, pode-se pensar

    tambm nos imperadores romanos e no ttulo de divi filius

    que lhes era conferido. (apud Cullmann-2008, p.355)

    Com essa herana histrica o ttulo usado no Novo Testamento para

    exprimir a relao de Jesus com Deus, ou seja, revelar a relao absolutamente

    nica que h entre eles: exatamente a de filiao. John Stott diz que a afirmao

    de que Jesus o Filho de Deus foi mais que messinica e descreve seu

    relacionamento nico e eterno com Deus (Mt 11,27; Jo 5,17; 10,30; 14,10-11)

    (2007, p.32). Dizer ento, que Jesus Filho de Deus, somente exprime a

    realidade da relao de Jesus de Nazar com Deus.

    3.1.3. Filho de Davi

    evidente que os Evangelhos e o Novo Testamento, em geral,

    reconhecem a tradio do ttulo Filho de Davi (Mt 1; 9,27; 12,23; Lc 3; Rm 1,3),

  • pois como j vimos acima, a herana veterotestamentria j havia alimentado as

    mentes do povo de Israel na esperana de um rei guerreiro da casa de Davi

    (2Sm 7). Por isso a cautela de Jesus em relao ao uso do ttulo (Mc 12,35-37)

    para que o povo no tivesse uma interpretao inadequada do Messias.

    Horsley e Hanson nos informam que a questo da imagem de um rei

    davdico simbolizava substancialmente aquilo que este agente de Deus faria:

    libertar e restaurar a sorte de Israel, como o fizera o Davi original (1995, p.92).

    Contudo, Ladd complementa afirmando que Jesus de fato o Filho de Davi; mas

    somente isto no suficiente (apud Ladd-2001, p.135), ou seja, Jesus da

    descendncia de Davi, porm sua messianidade no se resume somente ao uso

    desse ttulo messinico e sua libertao vai alm da libertao e restaurao

    poltica.

    3.1.4. Kyrios

    O ttulo messinico Kyrios de origem grega: , e significa Senhor.

    Giovanni Iammarrone nos informa que:

    os judeus dos dois ltimos sculos comearam a se dirigir a

    Deus empregando o termo absoluto Kyrios ao lado do

    hebraico Adon. Este termo foi utilizado na Septuaginta para

    indicar Iahweh. Tal uso pode explicar a adoo do termo no

    Novo Testamento. Nos escritos do Novo Testamento, Kyrios

    aparece 719 vezes, com diversos significados. (Iammarrone.

    In: Pacomio, L. & Mancuso, V. (Org.); 2003, p.689)

    Contudo, quem mais foi chamado de Kyrios foi Jesus Cristo. s vezes

    como forma de tratamento (como no exemplo de Marta e Maria em Lc 10,40), e s

    vezes como ttulo que expressa sua messianidade e proclama sua glria e

    soberania sobre a histria humana (At 1,6; 2,33-36; Rm 10,9; Fp 2,9-11). Sendo

    assim, Kyrios no Novo Testamento refere-se a Jesus de Nazar, porm

    ressuscitado e exaltado.

  • 3.2 - A autoconscincia messinica de Jesus de Nazar

    Vimos at este ponto da pesquisa que os Evangelhos e os demais escritos

    do Novo Testamento apresentam Jesus de Nazar como o Messias e, alm disso,

    vo interpretando a sua vida e lhe atribuindo ttulos messinicos que expressam a

    f da comunidade primitiva e nos servem at os dias hodiernos. Leonardo Boff diz

    que os ttulos que a f atribuiu exprimem exatamente quem era Jesus desde seu

    nascimento at sua cruz: o esperado das naes, o salvador do mundo, o Filho de

    Deus, Deus mesmo feito condio humana (1986, p.40). Contudo, outra pergunta

    se apresenta: Jesus de Nazar declarou-se Messias e teve nesse sentido uma

    autoconscincia messinica?

    Boff (1986, p.41) nos apresenta alguns indcios que apontam que Jesus de

    Nazar tinha conscincia de seu messiado, ou seja, para ele Cristo no comea

    seu ministrio pregando a si prprio, mas o Reino de Deus,6 o que pressupe que

    Jesus se entende como o Messias, porque prega, presencializa e j esta

    inaugurando o Reino de Deus. Outra caracterstica importante apontada por Boff

    a relao de Jesus com Deus, isto , sua filiao. Para ele quem chama a Deus

    de Abba-Pai (Mc 14,36), sente-se e seu Filho (1986, p.107). Nesse sentido Boff

    complementa:

    Cremos que sua experincia profunda do Pai e da

    correspondente filiao constituam o fundamento da

    conscincia de Jesus de ser o Enviado e o Inaugurador do

    Reino de Deus. Jesus no veio pregar o Messias, o Cristo, o

    Filho de Deus, mas para viver, com palavras e atos, o Filho

    de Deus, o Cristo, e o Messias. No porque a comunidade

    chama a Jesus de Filho de Deus e Cristo, Ele feito Cristo e

    Filho de Deus. Mas porque de fato o foi, pode a comunidade

    6 Como no nosso objetivo desenvolver o tema Reino de Deus, sugerimos a leitura da obra de

    Leonardo Boff: Jesus Cristo Libertador (1986) e tambm: Reino de Deus e Esperana Apocalptica de Gottfried Brakemeier (1984).

  • com razo cham-lo de Filho de Deus e Cristo. (apud Boff-

    1986, p.107-108)

    Para Boff no h dvidas que Jesus tinha conscincia de ser ele o Messias,

    o Cristo e o Filho de Deus. Fabry e Scholtissek concordam com Boff nesse sentido

    e complementam dizendo que:

    O anncio de Jesus em palavras e atos tem por base uma

    pretenso de autoridade provocantemente alta, que est em

    conexo direta com o reinado de Deus anunciado. A

    autoridade da misso de Jesus tem sua peculiaridade, ou

    seja, no tem uma derivao histrica. Por isso, Jesus tem

    conscincia de seu envio por Deus, de sua tarefa e da

    autorizao de Deus, de sua autoridade que se funda em

    Deus. Se Jesus no se reconheceu expressis verbis como o

    Messias, uma autocompreenso messinica no sentido mais

    amplo no lhe pode ser negada. Jesus se sabia determinado

    a conduzir Israel para o reinado de Deus. A ligao entre a

    soberania rgia manifesta de Deus e uma figura mediadora,

    que est em proximidade especial com ele, j caracteriza a

    expectativa do ungido no judasmo primitivo, a qual por isso

    tambm se prestou, nesse aspecto, para a interpretao da

    pessoa de Jesus. (apud Fabry e Scholtissek-2008, p.84-85)

    Para encerrarmos o assunto, pois est claro que muitos autores concordam

    que Jesus de Nazar de fato tinha uma conscincia messinica, e cremos,

    baseado nas palavras dos evangelistas em Mt 16,20; Lc 2,39-52 e outros, faremos

    uso das palavras de Iammarrone que nos diz:

    que as narrativas evanglicas, embora tendo surgido no

    contexto da confisso de f ps-pascal em Jesus como

    Senhor, no aumentam indevidamente seu

    autoconhecimento histrico, e muito menos o falsificam, pois

    so expresses de uma compreenso mais profunda por

  • parte da comunidade crist daquilo que ele historicamente

    ouviu e pensou a respeito de si e de sua misso salvfica.

    Jesus teve sempre conscincia de sua identidade pessoal

    nica, do mesmo modo, ele teve sempre conscincia de sua

    misso salvfica e os Evangelhos nos testemunham que ele

    esteve aberto aos modos e s formas como ela vinha se

    realizando concretamente, segundo a vontade do Pai que a

    ele se revelava nos fatos humanos cotidianos e a qual ele se

    sentia sempre sujeito, obediente (Mc 14,36) (apud

    Iammarrone. In: Pacomio, L. & Mancuso, V. (Org.); 2003,

    p.135)

    Sendo assim, no restam dvidas que por mais que Jesus de Nazar no

    se tenha reconhecido expressis verbis como o Messias, fica clara sua

    autoconscincia de sua misso, pois no se anuncia a si mesmo, mas anuncia o

    Reino de Deus. E mais, relaciona-se com Deus chamando-o de Pai, consciente

    que seu Filho e entende que a autoridade de sua misso salvfica est

    fundamentada em Deus.

    nesse sentido que os Evangelhos e todo o Novo Testamento testificam

    da pessoa de Jesus de Nazar e foram escritos para que creiamos que Jesus o

    Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida em seu nome (Jo

    20,31).

    Consideraes finais

    bvio que na presente pesquisa sobre o Messias, Jesus de Nazar,

    muitos pormenores de sua vida, ministrio pblico, morte e ressurreio no foram

    abordados ou simplesmente passaram despercebidos pelo crivo do autor. At

    porque como nos diz o evangelista Joo: Jesus fez muitas coisas e se todas elas

    fossem relatadas uma por uma, creio que nem no mundo inteiro caberiam os livros

  • que seriam escritos (Jo 21,25). Contudo, o que se props foi uma anlise

    de cunho crist-evangelica, com o simples objetivo de realar a pessoa de Jesus

    Cristo, o nazareno, como o Messias.

    Por isso, a preocupao de uma anlise histrica, retornando ao xodo do

    Egito, passando pelos diversos perodos de dominaes estrangeiras, at a

    dominao romana. Assim, em meio ao desenrolar da histria as expectativas de

    libertao messinicas foram sendo geradas. Isso foi apresentado de modo que

    apontasse sempre para o momento de Jesus de Nazar na histria de Israel.

    Tambm uma anlise teolgica foi apresentada, onde apontasse para a

    relevncia da pessoa de Jesus, o Cristo, nos primrdios da Igreja e em todo o

    decorrer da histria do cristianismo at os dias de hoje. Por isso, sintetizamos

    alguns ttulos messinicos que, corretamente, foram sendo interpretados e

    atribudos a Jesus de Nazar na pregao do evangelho e no caminhar da Igreja.

    Isso, sem nos esquecermos de analisar as dificuldades que o prprio Jesus teve

    que enfrentar em seu tempo, por causa das errneas interpretaes e

    expectativas messinicas correntes que estavam impregnadas nas mentes de

    seus contemporneos.

    E por fim, uma breve anlise de sua autoconscincia messinica foi

    tambm apresentada, onde se apurou que sim, o simples Carpinteiro de Nazar

    era consciente de sua misso salvfica autorizada por Deus.

    Assim, se encerra a presente pesquisa, acreditando que a mesma possa

    ser o arcabouo de um futuro trabalho mais detalhado da vida daquele que foi e

    que o maior homem de toda a histria: Jesus de Nazar, o Messias.

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