o mal-estar na cultura

O Mal-Estar na O Mal-Estar na CulturaCultura

Felicidade versus CivilizaçãoFelicidade versus Civilização

Dr. Pedro Carlos PrimoDr. Pedro Carlos Primo

Considerações geraisConsiderações gerais

Esta palestra usa como referência o texto: Esta palestra usa como referência o texto: O O Mal-Estar na culturaMal-Estar na cultura, escrito por Sigmund , escrito por Sigmund Freud, em 1930Freud, em 1930

O Mal-Estar na culturaO Mal-Estar na cultura é uma obra de é uma obra de natureza ampla, envolvendo as ciências natureza ampla, envolvendo as ciências humanas, sociais e a própria cultura em geral.humanas, sociais e a própria cultura em geral.

O mal-estarO mal-estar a que se refere Freud é inerente à a que se refere Freud é inerente à própria cultura e nos acompanha “própria cultura e nos acompanha “ab initio”ab initio”, , desde a origem do que conhecemos como desde a origem do que conhecemos como cultura cultura


Qual a causa desse mal-estar?Qual a causa desse mal-estar?

Freud pôde transmitir neste escrito dois Freud pôde transmitir neste escrito dois aspectos fundamentais:aspectos fundamentais:

Uma espécie diferente, nova, de Uma espécie diferente, nova, de mal-estarmal-estar, que , que poderíamos denominar de inerente à cultura ou de poderíamos denominar de inerente à cultura ou de estruturaestrutura. O idioma inglês tem uma expressão para . O idioma inglês tem uma expressão para istoisto:”built in”,:”built in”, isto é, que é feito com a coisa mesma isto é, que é feito com a coisa mesma

Este tipo de mal-estar presente na cultura não tem Este tipo de mal-estar presente na cultura não tem uma causa externa uma causa externa e por isso não se resolve com mais e por isso não se resolve com mais cultura cultura


O Mal-Estar na Cultura O Mal-Estar na Cultura foi escritofoi escrito após após O Futuro de O Futuro de uma Ilusão, texto uma Ilusão, texto que trata especificamente a que trata especificamente a respeito do papel da religião na vida e na sociedade, respeito do papel da religião na vida e na sociedade, do ponto de vista da psicanálise.do ponto de vista da psicanálise.

O Futuro de uma IlusãoO Futuro de uma Ilusão recebeu críticas de amigos recebeu críticas de amigos de Freud, de alguns simpatizantes da psicanálise e de Freud, de alguns simpatizantes da psicanálise e principalmente do amigo Romain Rolland, para o qual principalmente do amigo Romain Rolland, para o qual a tomada de posição de Freud sobre a religião lhe a tomada de posição de Freud sobre a religião lhe pareceu excessivamente dura. pareceu excessivamente dura.


O Mal-Estar na CulturaO Mal-Estar na Cultura é uma obra que é uma obra que aparentemente tem um caráter muito menos aparentemente tem um caráter muito menos específico, pois se trata da cultura em geral, e específico, pois se trata da cultura em geral, e não somente de um aspecto dela como a não somente de um aspecto dela como a religião.religião.

No entanto, isto é só a primeira vista, pois o No entanto, isto é só a primeira vista, pois o assunto do qual se ocupa é muito preciso, pois assunto do qual se ocupa é muito preciso, pois à medida que se aprofunda na leitura da obra à medida que se aprofunda na leitura da obra se vai aclarando mais e mais a sua precisão. se vai aclarando mais e mais a sua precisão.

O mal-Estar– a palavra O mal-Estar– a palavra chavechave

Trata-se de um Trata-se de um "Mal-estar" "Mal-estar" (esta é a palavra chave)(esta é a palavra chave) que acompanha a cultura desde suas origens. Há que que acompanha a cultura desde suas origens. Há que se destacar que a posição de Freud é muito clara, não se destacar que a posição de Freud é muito clara, não existe neste trabalho nenhuma nostalgia de algum existe neste trabalho nenhuma nostalgia de algum tempo passado ou época nos quais as coisas teriam tempo passado ou época nos quais as coisas teriam sido melhoressido melhores

Este Mal-estar a que se refere Freud é inerente à Este Mal-estar a que se refere Freud é inerente à própria cultura e nos acompanha desde o início, desde própria cultura e nos acompanha desde o início, desde a origem do que conhecemos como cultura. A questão a origem do que conhecemos como cultura. A questão central é: central é: o que no texto se entende como Mal-o que no texto se entende como Mal-Estar?Estar?

Sentimento oceânico de Sentimento oceânico de união com o “união com o “Todo”Todo”

Freud inicia seu ensaio, Freud inicia seu ensaio, O Mal-Estar na O Mal-Estar na CulturaCultura, a partir de uma reflexão sobre , a partir de uma reflexão sobre o sentimento oceânico de união com o o sentimento oceânico de união com o ““Todo”Todo” que existe em todo ser humano, que existe em todo ser humano, segundo crê seu amigo Romain Rolland, segundo crê seu amigo Romain Rolland, com quem Freud manteve uma regular com quem Freud manteve uma regular correspondência e onde este tema foi correspondência e onde este tema foi enfocado enfocado

Fonte da religiãoFonte da religião

Para Rolland a fonte da religião pode Para Rolland a fonte da religião pode remontar-se a um sentimento muito particular, remontar-se a um sentimento muito particular, ao qual denominou de ao qual denominou de sentimento oceânicosentimento oceânico, , não vinculado diretamente à fé religiosa. não vinculado diretamente à fé religiosa.

Rolland define este sentimento de estar unido Rolland define este sentimento de estar unido ao ao TodoTodo, como prova que há uma energia que , como prova que há uma energia que os sistemas religiosos captam e aproveitam. os sistemas religiosos captam e aproveitam. Porém, para Freud a fonte da religião é outra, Porém, para Freud a fonte da religião é outra, trata-se do trata-se do desamparo infantil e da nostalgia desamparo infantil e da nostalgia pelo pai.pelo pai.

Estado de desamparo Estado de desamparo infantilinfantil

É nesse estado de desamparo profundo diz É nesse estado de desamparo profundo diz Freud que se remonta a origem da religião e Freud que se remonta a origem da religião e não no sentimento de união com o Todo, não no sentimento de união com o Todo, como defendia seu amigo Roland.como defendia seu amigo Roland.

No entanto, Freud chama atenção para este No entanto, Freud chama atenção para este sentimento oceânico como chave para a sentimento oceânico como chave para a demarcação do nosso Eu.demarcação do nosso Eu.

Desamparo e a angústia Desamparo e a angústia da solidãoda solidão

O ser humano tenta fazer de tudo para O ser humano tenta fazer de tudo para fugir do desamparo e da angústia da fugir do desamparo e da angústia da solidão, daí sua necessidade constante solidão, daí sua necessidade constante de construir e elaborar sistemas de construir e elaborar sistemas religiosos e ideologias salvadoras, como religiosos e ideologias salvadoras, como uma uma “Weltanschauung”“Weltanschauung”

Fuga do desamparo e da Fuga do desamparo e da angústia da solidãoangústia da solidão

Por isso leva a cabo diversos procedimentos, Por isso leva a cabo diversos procedimentos, tais como:tais como: distrair-se em alguma atividade, distrair-se em alguma atividade, procurar satisfações substitutivas, procurar satisfações substitutivas, sublimar a pulsão ou canalizá-la para satisfações sublimar a pulsão ou canalizá-la para satisfações

artísticas e científicas.artísticas e científicas. ou se narcotizar com drogas, etc., ou se narcotizar com drogas, etc.,

Tudo isso a fim de fugir do desamparo, conquistar a Tudo isso a fim de fugir do desamparo, conquistar a felicidade e afastar o sofrimento. felicidade e afastar o sofrimento.

Felicidade versus Felicidade versus civilizaçãocivilização

A resposta de Freud relacionada ao Mal-estar na A resposta de Freud relacionada ao Mal-estar na cultura e a felicidade versus civilização se fez esperar cultura e a felicidade versus civilização se fez esperar bastante, pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi bastante, pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi sendo publicado paulatinamente. sendo publicado paulatinamente.

Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona uma idéia de quais são as armas com que a uma idéia de quais são as armas com que a psicanálise conta para lutar contra esta espécie de psicanálise conta para lutar contra esta espécie de inimigo interno, esse inimigo interno, esse cavalo de Tróiacavalo de Tróia que vem com a que vem com a cultura. cultura.

Não somente as armas que conta, senão também as Não somente as armas que conta, senão também as que a psicanálise recomenda e as que contra-indicaque a psicanálise recomenda e as que contra-indica

Felicidade versus Felicidade versus civilizaçãocivilização

A resposta de Freud relacionada ao Mal-Estar na A resposta de Freud relacionada ao Mal-Estar na cultura e a felicidade versus civilização se fez esperar cultura e a felicidade versus civilização se fez esperar bastante, pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi bastante, pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi sendo publicado paulatinamente. sendo publicado paulatinamente.

Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona uma idéia de quais são as armas com que a uma idéia de quais são as armas com que a psicanálise conta para lutar contra esta espécie de psicanálise conta para lutar contra esta espécie de inimigo interno, esse inimigo interno, esse cavalo de Tróiacavalo de Tróia que vem com a que vem com a cultura. cultura.

Não somente as armas que conta, senão também as Não somente as armas que conta, senão também as que a psicanálise recomenda e as que contra-indicaque a psicanálise recomenda e as que contra-indica

Felicidade versus Felicidade versus civilização civilização

Para análise desse mal-estar na cultura Freud Para análise desse mal-estar na cultura Freud parte do tema da felicidade, ou seja, o parte do tema da felicidade, ou seja, o problema do fim e propósito da vida humana, problema do fim e propósito da vida humana, no qual a religião tem um papel importante. no qual a religião tem um papel importante.

A via que segue para chegar ao tema da A via que segue para chegar ao tema da felicidade é a clássica: felicidade é a clássica: o livro IV da "Ética a o livro IV da "Ética a Nicómaco" de AristótelesNicómaco" de Aristóteles, que parte , que parte precisamente do mesmo ponto: "o bem precisamente do mesmo ponto: "o bem supremo de nossas atividades é, segundo supremo de nossas atividades é, segundo consentimento geral, consentimento geral, a felicidadea felicidade."."

A procura da felicidadeA procura da felicidade

Os métodos mais comuns que as Os métodos mais comuns que as pessoas, geralmente, usam para fugir do pessoas, geralmente, usam para fugir do desprazer e conquistar a felicidade são: desprazer e conquistar a felicidade são:

Meio químico para anular o desprazer: Meio químico para anular o desprazer: a a drogadroga..

Evitar o desprazer dominando as Evitar o desprazer dominando as necessidades: necessidades: o yoga, o budismoo yoga, o budismo..

Transladar as metas da pulsão, evitando o Transladar as metas da pulsão, evitando o "não" da realidade exterior: "não" da realidade exterior: a arte.a arte.

A procura da felicidade A procura da felicidade

Romper, simplesmente, com a realidade: Romper, simplesmente, com a realidade: o o eremita.eremita.

Romper com a realidade e substituí-la por Romper com a realidade e substituí-la por uma outra nova: uma outra nova: a psicose.a psicose.

Afiançar a decisão do cumprimento da Afiançar a decisão do cumprimento da felicidade, sem afastar-se da realidade e felicidade, sem afastar-se da realidade e sem evitar o desprazer, mas deslocando a sem evitar o desprazer, mas deslocando a meta da libido: meta da libido: o amoro amor

A procura da felicidade A procura da felicidade

Freud em suas reflexões sobre os destinos e Freud em suas reflexões sobre os destinos e caminhos particulares que cada indivíduo caminhos particulares que cada indivíduo procura para encontrar a felicidade faz sua a procura para encontrar a felicidade faz sua a frase de Frederico, o Grande: "Em meu frase de Frederico, o Grande: "Em meu domínio cada homem pode atingir a bem-domínio cada homem pode atingir a bem-aventurança a sua maneira.“aventurança a sua maneira.“

Freud também recorda o que diz Kant: os Freud também recorda o que diz Kant: os piores tiranos são aqueles que querem obrigar piores tiranos são aqueles que querem obrigar ao povo a ser feliz, segundo a maneira que ao povo a ser feliz, segundo a maneira que eles, os tiranos, indiquem-lhes eles, os tiranos, indiquem-lhes

Programa do Princípio do Programa do Princípio do PrazerPrazerSer FelizSer Feliz

Segundo Freud é irrealizável, e, por sua Segundo Freud é irrealizável, e, por sua vez, é impossível também abandoná-lo.vez, é impossível também abandoná-lo.

Cada um ensaia seu próprio caminho, Cada um ensaia seu próprio caminho, segundo três tipos de eleição:segundo três tipos de eleição:

vínculos sentimentais.vínculos sentimentais. satisfações narcisistas.satisfações narcisistas. realizar-se mediante a ação. realizar-se mediante a ação.

O caminho da neuroseO caminho da neurose

O caminho da neurose, não é isento de criação, pois os sintomas O caminho da neurose, não é isento de criação, pois os sintomas são satisfações substitutivas, sendo que também indicam o são satisfações substitutivas, sendo que também indicam o caminho a sua maneira, caminho a sua maneira, pois cada qual inventa um pouco pois cada qual inventa um pouco os seus próprios sintomas os seus próprios sintomas

A neurose é uma resposta às exigências culturais, pois a cultura A neurose é uma resposta às exigências culturais, pois a cultura exige respeito a seus ideais. O neurótico é aquele que diz exige respeito a seus ideais. O neurótico é aquele que diz "basta!","basta!", e o diz com seus sintomas. e o diz com seus sintomas.

O neurótico não pode suportar a frustração que a cultura exige O neurótico não pode suportar a frustração que a cultura exige em lugar de seus ideais.em lugar de seus ideais.

SublimaçãoSublimação

A sublimação é um dos destinos da pulsão e A sublimação é um dos destinos da pulsão e por sua vez, exerce um grande papel na por sua vez, exerce um grande papel na economia psíquica individual e na própria economia psíquica individual e na própria civilização, pois sem a sublimação pulsional civilização, pois sem a sublimação pulsional não teríamos civilização e nem cultura, não teríamos civilização e nem cultura, conforme afirmou Freud, ao longo de sua obraconforme afirmou Freud, ao longo de sua obra

Sobre esta questão lembrar a importância que tem o Sobre esta questão lembrar a importância que tem o

supereu (ideal do eu) nessa operação de sublimação supereu (ideal do eu) nessa operação de sublimação dos impulsos que geralmente são de natureza sexual e dos impulsos que geralmente são de natureza sexual e agressiva agressiva

O supereu (superego)O supereu (superego)

O supereu (superego), além de exercer, as O supereu (superego), além de exercer, as funções de auto-observação e de consciência funções de auto-observação e de consciência moral (voz da consciência), contém nossos moral (voz da consciência), contém nossos níveis de aspiração mais elevados, na níveis de aspiração mais elevados, na condição de ideal do eu.condição de ideal do eu.

Classicamente, o supereu é o herdeiro do Classicamente, o supereu é o herdeiro do

complexo de Édipo e se forma a partir das complexo de Édipo e se forma a partir das identificações com os pais e da interiorização identificações com os pais e da interiorização das exigências e das interdições parentais. das exigências e das interdições parentais.

O conflitoO conflito

O conflito que um indivíduo enfrenta na procura da O conflito que um indivíduo enfrenta na procura da satisfação para suas necessidades pulsionais pode satisfação para suas necessidades pulsionais pode não estar diretamente ligado às forças que compõem à não estar diretamente ligado às forças que compõem à repressão como a moralidade, a vergonha e a repressão como a moralidade, a vergonha e a repugnância. repugnância.

Mas ao choque entre os ideais elevados de seu Mas ao choque entre os ideais elevados de seu supereu e a gratificação de suas pulsões, pois um supereu e a gratificação de suas pulsões, pois um supereu com altos níveis de exigências culturais, supereu com altos níveis de exigências culturais, sociais e morais, torna-se crítico e severo com sociais e morais, torna-se crítico e severo com qualquer desejo que venha desviar a pessoa de seus qualquer desejo que venha desviar a pessoa de seus ideais e de sua sublimidade. ideais e de sua sublimidade.

O amor de meta inibidaO amor de meta inibida

O amor de meta inibida funda laços sociais, enquanto O amor de meta inibida funda laços sociais, enquanto o amor sexual plenamente realizado não cria laços o amor sexual plenamente realizado não cria laços sociais fora do casal. Por isso diz Freud que a cultura sociais fora do casal. Por isso diz Freud que a cultura ameaça o amor sexual.ameaça o amor sexual.

A vida sexual do homem culto tem recebido grave A vida sexual do homem culto tem recebido grave dano, impressiona-nos às vezes pensar que esta se dano, impressiona-nos às vezes pensar que esta se encontra em processo involutivo.encontra em processo involutivo.

Muitas vezes a gente crê discernir que não é só a Muitas vezes a gente crê discernir que não é só a pressão da cultura, senão algo que está na essência pressão da cultura, senão algo que está na essência da função sexual mesma, e que nos nega a satisfação da função sexual mesma, e que nos nega a satisfação plena e nos leva por outros caminhos. plena e nos leva por outros caminhos.

A Solução da psicoseA Solução da psicose

Além da solução neurótica, Freud se refere à Além da solução neurótica, Freud se refere à solução radical da psicosesolução radical da psicose

A psicose, essa forma de fuga da realidade com A psicose, essa forma de fuga da realidade com sua própria solução, visitou as casas de nossos sua própria solução, visitou as casas de nossos criadores mais fecundos. E não é por acasocriadores mais fecundos. E não é por acaso

O último procedimento para afastar o sofrimento O último procedimento para afastar o sofrimento da vida que é examinado por Freud é o do amor da vida que é examinado por Freud é o do amor

A solução pelo amorA solução pelo amor

O amor nos coloca numa situação paradoxal, pois, O amor nos coloca numa situação paradoxal, pois, precisamente ao amarmos é quando nos colocamos precisamente ao amarmos é quando nos colocamos mais a mercê do outro e consequentemente, ao mais a mercê do outro e consequentemente, ao alcance dos infortúnios e das dificuldades da vidaalcance dos infortúnios e das dificuldades da vida

Há seres humanos que resolveram este problema, Há seres humanos que resolveram este problema, transformando o amor sexual num amor sexual de transformando o amor sexual num amor sexual de meta inibida, e assim se consegue um amor que não é meta inibida, e assim se consegue um amor que não é oscilante, que não sofre as vicissitudes da oscilante, que não sofre as vicissitudes da contingência, nem desenganos, nem decepções, nem contingência, nem desenganos, nem decepções, nem tormentas e nem desilusões tormentas e nem desilusões

Destinos e caminhosDestinos e caminhos

Claro está que todos estes destinos e Claro está que todos estes destinos e caminhos particulares dependem de uma série caminhos particulares dependem de uma série de fatores que há de se levar em conta de fatores que há de se levar em conta

Os caminhos para organizar a libido e a vida Os caminhos para organizar a libido e a vida sexual do ser de linguagem que somos, e que sexual do ser de linguagem que somos, e que dá como resultado nossos modos de gozo e dá como resultado nossos modos de gozo e nossos entraves particulares, esses caminhos nossos entraves particulares, esses caminhos nem sempre são acessíveis e nem sempre são nem sempre são acessíveis e nem sempre são fáceis, nunca é de mais dizê-lo fáceis, nunca é de mais dizê-lo

O amor sexual plenoO amor sexual pleno

O amor sexual pleno é mais bem algo anti-social, O amor sexual pleno é mais bem algo anti-social, e até poderia dizer-se que vive um pouco dessa e até poderia dizer-se que vive um pouco dessa anti-socialidade. É disto que este amor respira. anti-socialidade. É disto que este amor respira. Por isso Freud diz: a cultura ameaça este amor Por isso Freud diz: a cultura ameaça este amor plenopleno

Além do amor de meta inibida há o chamado amor Além do amor de meta inibida há o chamado amor

cortês que foi um invento do século XII, por isso cortês que foi um invento do século XII, por isso que José Ortega e Gasset diz (quiçá em seus que José Ortega e Gasset diz (quiçá em seus "Estudos sobre o Amor") que "o amor é um estilo "Estudos sobre o Amor") que "o amor é um estilo literário" literário"

Por que fracassa o Por que fracassa o programa do princípio do programa do princípio do prazer?prazer?

Se os seres humanos querem a ausência da dor e do Se os seres humanos querem a ausência da dor e do desprazer e almejam vivenciar intensos sentimentos desprazer e almejam vivenciar intensos sentimentos de prazer é porque o princípio de prazer rege o de prazer é porque o princípio de prazer rege o psiquismopsiquismo

Dominar as paixões, ou psicanaliticamente falando, as Dominar as paixões, ou psicanaliticamente falando, as pulsões é menos doloroso do que uma paixão (pulsão) pulsões é menos doloroso do que uma paixão (pulsão) não dominadanão dominada

Freud na segunda tópica postula um algo além do Freud na segunda tópica postula um algo além do princípio do prazer que chamou de pulsão de morte e princípio do prazer que chamou de pulsão de morte e que, por sua vez, se opõe ao princípio do prazer. É que, por sua vez, se opõe ao princípio do prazer. É esse além, o principal responsável pelo fracasso do esse além, o principal responsável pelo fracasso do programa do princípio do prazer programa do princípio do prazer

POR QUE SE JOGA A POR QUE SE JOGA A CULPA NA CULTURA?CULPA NA CULTURA?

Jogar a culpa na cultura pelos males da Jogar a culpa na cultura pelos males da civilização, não é justo, pois a cultura, como civilização, não é justo, pois a cultura, como mesmo afirmava Freud, protege o homem da mesmo afirmava Freud, protege o homem da natureza e regula suas relações sociaisnatureza e regula suas relações sociais

O homem primitivo compreendeu muito O homem primitivo compreendeu muito cedo que para sobreviver devia viver em cedo que para sobreviver devia viver em comunidade comunidade

A pulsão e sua relação com A pulsão e sua relação com o mal-estar na civilizaçãoo mal-estar na civilização

Definitivamente há uma relação conflituosa entre Definitivamente há uma relação conflituosa entre pulsão e civilização que jamais será ultrapassada, pulsão e civilização que jamais será ultrapassada, uma vez que ela é da uma vez que ela é da ordem estruturalordem estrutural e por isso e por isso produtora de desarmonia nos laços sociaisprodutora de desarmonia nos laços sociais

Em relação ao instinto pode dizer-se que não há Em relação ao instinto pode dizer-se que não há no ser humano este "saber" inscrito no corpo ou no ser humano este "saber" inscrito no corpo ou nos genes, que seja utilizável de modo imediato, nos genes, que seja utilizável de modo imediato, como se fosse uma caixa de ferramentascomo se fosse uma caixa de ferramentas

A pulsão e sua relação com A pulsão e sua relação com o mal-estar na civilizaçãoo mal-estar na civilização

Para compreender o mal-estar na cultura, é Para compreender o mal-estar na cultura, é preciso compreender o limite que esta impõe à preciso compreender o limite que esta impõe à sexualidade humana, pois além de sexualidade humana, pois além de circunscrever a satisfação sexual, a cultura circunscrever a satisfação sexual, a cultura exige outros sacrifícios, como pôr entraves à exige outros sacrifícios, como pôr entraves à agressividade dos homens agressividade dos homens

Pode se dizer que a pulsão de morte é o Pode se dizer que a pulsão de morte é o maior obstáculo à cultura, é uma das maior obstáculo à cultura, é uma das causas do causas do Mal-estar na CulturaMal-estar na Cultura

Eros e Thánatos e sua Eros e Thánatos e sua relação com a civilizaçãorelação com a civilização

Através da mitologia das pulsões – (Eros e Através da mitologia das pulsões – (Eros e Thánatos) podemos acompanhar o texto Thánatos) podemos acompanhar o texto freudiano - O Mal-estar na Culturafreudiano - O Mal-estar na Cultura

Neste texto Freud denuncia em toda extensão Neste texto Freud denuncia em toda extensão o desamparo humano, retirando qualquer o desamparo humano, retirando qualquer garantia de superá-lo, seja por meio da arte, garantia de superá-lo, seja por meio da arte, da religião ou da ciênciada religião ou da ciência

O Mal-estar e a religiãoO Mal-estar e a religião

Freud no capítulo II faz uma breve observação a respeito da Freud no capítulo II faz uma breve observação a respeito da religião: as vezes, esta consegue poupar a muitos seres humanos religião: as vezes, esta consegue poupar a muitos seres humanos a neurose, mas a um preço elevadoa neurose, mas a um preço elevado

Qual é este preço? Qual é este preço?

Paralisar a inteligência e infantilizar-los psiquicamenteParalisar a inteligência e infantilizar-los psiquicamente

Ademais a religião deforma o mundo com uma interpretação Ademais a religião deforma o mundo com uma interpretação delirante, ou seja, uma interpretação louca dos fatos delirante, ou seja, uma interpretação louca dos fatos

Finalmente, leva-os a aceitar o destino, e a fazê-los depender da Finalmente, leva-os a aceitar o destino, e a fazê-los depender da vontade divina. "Deus o quis assim", tal é a frase de resignação vontade divina. "Deus o quis assim", tal é a frase de resignação do religioso ante a vida que lhe toca viver do religioso ante a vida que lhe toca viver

A questão de uma A questão de uma WeltanschauungWeltanschauung

Era, pois inevitável que, no final de sua vida, Era, pois inevitável que, no final de sua vida, Freud voltasse, de maneira mais Freud voltasse, de maneira mais sistematizada, seu interesse para os sistematizada, seu interesse para os fenômenos culturais e sociológicos fenômenos culturais e sociológicos

É quando escreve O Mal-estar na cultura, O É quando escreve O Mal-estar na cultura, O Futuro de uma ilusão, Por que a Guerra e A Futuro de uma ilusão, Por que a Guerra e A Questão de uma Weltanschauung Questão de uma Weltanschauung


Freud diz que a relação mais problemática entre as Freud diz que a relação mais problemática entre as WeltanschauungenWeltanschauungen

É a que se estabelece entre a religiosa e a científicaÉ a que se estabelece entre a religiosa e a científica

Por reconhecer que aquilo que a ciência oferece para Por reconhecer que aquilo que a ciência oferece para a humanidade é muito pouco e muito severoa humanidade é muito pouco e muito severo

Comparado com as onipotentes ofertas proporcionadas Comparado com as onipotentes ofertas proporcionadas pelas ilusões religiosas. pelas ilusões religiosas.


Frente às dificuldades da condição humana, Frente às dificuldades da condição humana, com seu desamparo, sua fragilidade, seu com seu desamparo, sua fragilidade, seu desconhecimento, sua perplexidade frente à desconhecimento, sua perplexidade frente à morte, a religião oferece todas as respostas e morte, a religião oferece todas as respostas e reasseguramentos desejados reasseguramentos desejados

A ciência, pelo contrário, faz-nos ter que lidar A ciência, pelo contrário, faz-nos ter que lidar com o desconhecido e trabalhar para chegar a com o desconhecido e trabalhar para chegar a um conhecimento eficaz, não nos poupando a um conhecimento eficaz, não nos poupando a visão de nossa própria finitude e limitaçõesvisão de nossa própria finitude e limitações

O sentimento de culpa e O sentimento de culpa e o mal-estar na culturao mal-estar na cultura

A cultura está unida indissoluvelmente com A cultura está unida indissoluvelmente com uma exaltação do sentimento de culpa, que uma exaltação do sentimento de culpa, que quiçá chegue a atingir um grau dificilmente quiçá chegue a atingir um grau dificilmente suportável para o indivíduosuportável para o indivíduo

Existem duas origens para o sentimento de Existem duas origens para o sentimento de culpa: o medo à autoridade e o temor ao culpa: o medo à autoridade e o temor ao supereu. A união de ambos resulta muito supereu. A união de ambos resulta muito efetiva para o desenvolvimento da cultura efetiva para o desenvolvimento da cultura


o preço pago pelo progresso da cultura reside na o preço pago pelo progresso da cultura reside na perda de felicidade por aumento do sentimento de perda de felicidade por aumento do sentimento de culpaculpa

A evolução da sociedade requer o controle dos A evolução da sociedade requer o controle dos instintos sexuais e agressivos do indivíduo, de maneira instintos sexuais e agressivos do indivíduo, de maneira que existe uma estreita relação entre civilização, que existe uma estreita relação entre civilização, repressão e neuroserepressão e neurose

Quanto mais avança a primeira, mais necessária se Quanto mais avança a primeira, mais necessária se faz a segunda e maior é a frustração gerada faz a segunda e maior é a frustração gerada


Sob a coação do processo civilizatório, a Sob a coação do processo civilizatório, a agressividade se converte em agressividade se converte em sentimento de culpa sentimento de culpa

Este sentimento de culpa não se percebe Este sentimento de culpa não se percebe como tal, como tal, senão que permanece senão que permanece inconsciente ou se expressa como um inconsciente ou se expressa como um mal-estarmal-estar


O sentimento de culpa seria o mal-estar da O sentimento de culpa seria o mal-estar da culturacultura

o preço que pagamos por vivermos em o preço que pagamos por vivermos em sociedade, reprimindo a sexualidade e a sociedade, reprimindo a sexualidade e a agressividade agressividade

Sob esta óptica, o mal-estar é estrutural, Sob esta óptica, o mal-estar é estrutural, próprio do processo civilizatório e da próprio do processo civilizatório e da organização do psiquismo humanoorganização do psiquismo humano

Pulsão destrutiva, Pulsão destrutiva, agressivaagressiva

Freud o segue texto do Mal-Estar na Cultura, Freud o segue texto do Mal-Estar na Cultura, no qual afirma:no qual afirma:

Que é na pulsão destrutiva, agressiva, advinda Que é na pulsão destrutiva, agressiva, advinda da pulsão de morte, que se encontra o maior da pulsão de morte, que se encontra o maior entrave para culturaentrave para cultura

Em função do ser humano não poder existir Em função do ser humano não poder existir plenamente fora da civilização plenamente fora da civilização

Civilização e o mal-estarCivilização e o mal-estar

A civilização torna a existência humana A civilização torna a existência humana problemática, por não ser mais natural, ou problemática, por não ser mais natural, ou seja, as leis da natureza são substituídas pelas seja, as leis da natureza são substituídas pelas leis da culturaleis da cultura

Em razão de que, se por um lado, a Em razão de que, se por um lado, a civilização em si, provoca um mal-estar, por civilização em si, provoca um mal-estar, por outro lado, sem civilização não teria outro lado, sem civilização não teria humanidade, seríamos só outros primatas humanidade, seríamos só outros primatas regidos pela natureza regidos pela natureza

Desigualdade provocada Desigualdade provocada pela natureza pela natureza

Se buscarmos a igualdade para todos os Se buscarmos a igualdade para todos os homens, existirá uma objeção muito homens, existirá uma objeção muito óbvia a ser feita:óbvia a ser feita:

a de que a natureza, por dotar os a de que a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e indivíduos com atributos físicos e capacidades mentais diferentes capacidades mentais diferentes introduziu injustiças contra as quais não introduziu injustiças contra as quais não há remédio há remédio

A Sociedade do A Sociedade do EspetáculoEspetáculo

O que diria Freud hoje da nossa sociedade atual, O que diria Freud hoje da nossa sociedade atual, denominada por Debord de "sociedade do denominada por Debord de "sociedade do

espetáculo?”espetáculo?”

Sociedade onde o poder - seja qualquer que seja sua Sociedade onde o poder - seja qualquer que seja sua inclinação - para perpetuar-se em sua situação de inclinação - para perpetuar-se em sua situação de privilégio instala o "espetáculo" privilégio instala o "espetáculo"

Onde a realidade é totalmente escamoteada pela Onde a realidade é totalmente escamoteada pela manipulação das massas através da midia e da manipulação das massas através da midia e da propaganda, feitas onipresentes e oniscientes, muitas propaganda, feitas onipresentes e oniscientes, muitas vezes apenas para vender ilusões e mistificações. vezes apenas para vender ilusões e mistificações.


Nesta sociedade, a midia é pletora da informação Nesta sociedade, a midia é pletora da informação

na verdade desinforma sistematicamente na medida na verdade desinforma sistematicamente na medida em que não expõe, ou o faz de forma distorcida, em que não expõe, ou o faz de forma distorcida, justamente aquilo que efetivamente interessa saber e justamente aquilo que efetivamente interessa saber e informar informar

Ambas – midia e propaganda - se empenham em Ambas – midia e propaganda - se empenham em fragmentar o raciocínio lógico e destruir a noção de fragmentar o raciocínio lógico e destruir a noção de história, promovendo um eterno e autônomo presente, história, promovendo um eterno e autônomo presente, Na ignorância ou na negação de um passado Na ignorância ou na negação de um passado conectado ao futuro conectado ao futuro


Nesta sociedade, a irracionalidade a tudo permeia, a Nesta sociedade, a irracionalidade a tudo permeia, a produção econômica é regida por demandas produção econômica é regida por demandas artificialmente criadas e a única lógica vigente é a de artificialmente criadas e a única lógica vigente é a de permanência do poder, que usa de todos os recursos permanência do poder, que usa de todos os recursos para perpetuar-se para perpetuar-se

““O espetáculo se confunde com a realidade, ao irradiá-O espetáculo se confunde com a realidade, ao irradiá-la", diz Debord. Claro que tudo isso está muito longe la", diz Debord. Claro que tudo isso está muito longe dos argumentos sustentados pela Weltanschauung dos argumentos sustentados pela Weltanschauung científica, psicanalítica, em sua luta contra a ilusão científica, psicanalítica, em sua luta contra a ilusão


Por dificultar o acesso à realidade, por Por dificultar o acesso à realidade, por alimentar sistematicamente ilusões, por negar alimentar sistematicamente ilusões, por negar a castração simbólicaa castração simbólica, essa "sociedade do , essa "sociedade do espetáculo" dá margem ao que muitos espetáculo" dá margem ao que muitos chamam de novas formas de subjetivação:chamam de novas formas de subjetivação:

Como os novos transtornos de caráter, os Como os novos transtornos de caráter, os transtornos de ordem narcísica, as transtornos de ordem narcísica, as personalidades bordelines, e os transtornos personalidades bordelines, e os transtornos alimentares que são, por sua vez, as novas alimentares que são, por sua vez, as novas edições das histéricas dos tempos de Freudedições das histéricas dos tempos de Freud

O campo do mal-estar O campo do mal-estar contemporâneocontemporâneo

As “religiosidades do espetáculo” com sua As “religiosidades do espetáculo” com sua irracionalidade mortíferairracionalidade mortífera

Presa fácil dos discursos totalizantes ou Presa fácil dos discursos totalizantes ou hegemônicoshegemônicos

Alimentam toda sorte de fanatismos políticos e Alimentam toda sorte de fanatismos políticos e religiosos, associados à promessa de religiosos, associados à promessa de felicidade felicidade

O mundo das patologias O mundo das patologias narcísicas narcísicas

A midia, especialmente a toda-poderosa A midia, especialmente a toda-poderosa televisão, bombardeia-nos ininterruptamente televisão, bombardeia-nos ininterruptamente com imagens de sucesso sexual e financeiro, com imagens de sucesso sexual e financeiro, mostrando um novo Olimpo, onde desfilam os mostrando um novo Olimpo, onde desfilam os atuais deuses cheios de beleza, juventude, atuais deuses cheios de beleza, juventude, dinheiro e fama dinheiro e fama

Ela promete o acesso a este Olimpo, desde Ela promete o acesso a este Olimpo, desde que sigamos suas instruções de consumo, que sigamos suas instruções de consumo, insistentemente propagadas através da insistentemente propagadas através da publicidade publicidade

As dificuldades da As dificuldades da conciliaçãoconciliação

Como conciliar Eros e Thánatos e os processos de Como conciliar Eros e Thánatos e os processos de civilização/cultura, se ambas as forças em seus limites civilização/cultura, se ambas as forças em seus limites máximos, representam elementos contra o processo máximos, representam elementos contra o processo civilizatório? civilizatório?

Ora, se o processo de civilização pressupõe e impõe Ora, se o processo de civilização pressupõe e impõe formações homogêneas em detrimento daquilo que é formações homogêneas em detrimento daquilo que é heterogêneo, reforçando a massificação que heterogêneo, reforçando a massificação que pressupõe a fascinação amorosa e a identificação pressupõe a fascinação amorosa e a identificação narcísica que leva à indiferenciação e à massificação, narcísica que leva à indiferenciação e à massificação, o Mal-estar continuao Mal-estar continua

Civilização e anulação Civilização e anulação dos espaços dos espaços

O que está em questão é a progressiva O que está em questão é a progressiva anulação de espaços que acolham o anulação de espaços que acolham o imprevisto, a paixão, o perturbador, a imprevisto, a paixão, o perturbador, a singularidade, o estranho e a diferençasingularidade, o estranho e a diferença

Por outro lado, é impossível não pensar nos Por outro lado, é impossível não pensar nos interstícios dessa relação paradoxal (entre interstícios dessa relação paradoxal (entre Eros e Thánatos e os processos de Eros e Thánatos e os processos de civilização/cultura) através das sutilezas que o civilização/cultura) através das sutilezas que o texto: O mal-estar na Cultura nos mostra texto: O mal-estar na Cultura nos mostra

A questão que Freud nos A questão que Freud nos ofereceoferece

É impossível também não deixar de perguntar: por que somos É impossível também não deixar de perguntar: por que somos sempre tão infelizes e desamparados em nossa aventura da sempre tão infelizes e desamparados em nossa aventura da vida?vida?

Em Mal-estar na cultura, Freud afirma que as causas do Em Mal-estar na cultura, Freud afirma que as causas do

sofrimento psíquico são três: sofrimento psíquico são três:

O poder superior da naturezaO poder superior da natureza

A fragilidade de nossos próprios corposA fragilidade de nossos próprios corpos

Inadequação das regras que procuram ajustar as relações Inadequação das regras que procuram ajustar as relações mútuas dos seres humanos na família, no estado e na mútuas dos seres humanos na família, no estado e na sociedadesociedade

A questão que Freud nos A questão que Freud nos ofereceoferece

Em Totem e Tabu Freud já tinha defendido a Em Totem e Tabu Freud já tinha defendido a tesetese

que ele retoma no Mal-estar na Cultura, de que que ele retoma no Mal-estar na Cultura, de que a civilização só pode existira civilização só pode existir

porque o poder do grupo submete os indivíduos porque o poder do grupo submete os indivíduos que abrem mão de seu poder pessoal em prol que abrem mão de seu poder pessoal em prol da convivência com seus semelhantes da convivência com seus semelhantes

A essa tese já fora A essa tese já fora defendida por Hobblesdefendida por Hobbles

Em 1651, no Em 1651, no LeviatãLeviatã, Hobbes descreve a , Hobbes descreve a natureza humana assim:natureza humana assim:

““Ao homem é impossível viver quando seus Ao homem é impossível viver quando seus

desejos chegam ao fim, tal como quando seus desejos chegam ao fim, tal como quando seus sentidos e imaginação ficam paralisadossentidos e imaginação ficam paralisados

A felicidade é um contínuo progresso do A felicidade é um contínuo progresso do

desejo, de um objeto para outro, não sendo a desejo, de um objeto para outro, não sendo a obtenção do primeiro outra coisa que o obtenção do primeiro outra coisa que o caminho para conseguir o segundo caminho para conseguir o segundo

As novas formas de As novas formas de subjetividade da atualidade subjetividade da atualidade

Estas novas formas estão circunscrevendo o Estas novas formas estão circunscrevendo o campo do mal-estar contemporâneocampo do mal-estar contemporâneo

ao traçar um paralelo entre o mal-estar na ao traçar um paralelo entre o mal-estar na atualidade e o mal-estar na psicanáliseatualidade e o mal-estar na psicanálise

e coloca de um modo surpreendente e e coloca de um modo surpreendente e interessante, dois "emblemas da interessante, dois "emblemas da modernidade": Marx e Freud modernidade": Marx e Freud

As novas formas de As novas formas de subjetividade da atualidadesubjetividade da atualidade

Pondera-se que a modernidade foi construída em Pondera-se que a modernidade foi construída em torno do ideário da revolução, a ser promovida pelo torno do ideário da revolução, a ser promovida pelo sujeito coletivo que tem em Marx o representante da sujeito coletivo que tem em Marx o representante da materialização teórica dessa utopia, que marcou de materialização teórica dessa utopia, que marcou de forma indelével os séculos XIX e XX forma indelével os séculos XIX e XX

Na medida em que se acreditou na revolução como Na medida em que se acreditou na revolução como modelo, através do qual o sujeito coletivo sempre modelo, através do qual o sujeito coletivo sempre poderia reinventar um elemento radical e básico da poderia reinventar um elemento radical e básico da psicologia humana, o mundo marxista se fez a psicologia humana, o mundo marxista se fez a representação teórica e política da potência desejante representação teórica e política da potência desejante do sujeito coletivo do sujeito coletivo

As novas formas de As novas formas de subjetividade da atualidadesubjetividade da atualidade

Freud é enunciado como o catalisador Freud é enunciado como o catalisador possível das transformações da possível das transformações da individualidade ou seja,individualidade ou seja,

o desejo se faz o único meio através do o desejo se faz o único meio através do

qual o sujeito pode reinventar seu eu e qual o sujeito pode reinventar seu eu e traçar uma outra história traçar uma outra história

Os herdeiros destes ilustres Os herdeiros destes ilustres emblemas da modernidade emblemas da modernidade

sabemos que os herdeiros de Marx transformaram seu sabemos que os herdeiros de Marx transformaram seu pensamento numa ordem mecanicista e econômicapensamento numa ordem mecanicista e econômica

Os de Freud transformaram, de maneira paradoxal,Os de Freud transformaram, de maneira paradoxal, O discurso freudiano numa modalidade de O discurso freudiano numa modalidade de

pensamento fundado na exaltação da individualidade e pensamento fundado na exaltação da individualidade e no registro do desejo, sendo que tal individualismo é a no registro do desejo, sendo que tal individualismo é a marca registrada da sociedade moderna, denominada marca registrada da sociedade moderna, denominada por Debord de por Debord de "sociedade do espetáculo” e por "sociedade do espetáculo” e por Verdú de "capitalismo de ficção"Verdú de "capitalismo de ficção"

ConclusãoConclusão

Para Freud a cultura exige o sacrifício da Para Freud a cultura exige o sacrifício da satisfação sexual. No satisfação sexual. No mundo ocidentalmundo ocidental a a exigência cultural é seguir o preceito bíblico: exigência cultural é seguir o preceito bíblico: "amarás a teu próximo como a ti mesmo", "amarás a teu próximo como a ti mesmo", porém este quase nunca é seguido, ademais é porém este quase nunca é seguido, ademais é um amor de meta inibidaum amor de meta inibida

Freud se pergunta de que meios se vale a Freud se pergunta de que meios se vale a cultura para controlar a agressão que se opõe cultura para controlar a agressão que se opõe à ela? Trata-se de uma formação psíquica que à ela? Trata-se de uma formação psíquica que Freud denominou de supereu (superego) Freud denominou de supereu (superego)

ConclusãoConclusão

O Mal-Estar na Cultura reexamina considerações a O Mal-Estar na Cultura reexamina considerações a respeito do sentimento de culpa, sua relação com o respeito do sentimento de culpa, sua relação com o supereu, as relações de ambos com a cultura e com supereu, as relações de ambos com a cultura e com uma clínica possível da cultura: uma "patologia das uma clínica possível da cultura: uma "patologia das comunidades culturais“comunidades culturais“

Quando Freud pesquisa psicanaliticamente a origem Quando Freud pesquisa psicanaliticamente a origem do supereu, e de que se alimenta este, de que se do supereu, e de que se alimenta este, de que se "engorda", resulta quiçá que este “remédio de controle "engorda", resulta quiçá que este “remédio de controle é “pior do que a doença”“. Porém é um remédio que, é “pior do que a doença”“. Porém é um remédio que, no entanto, tem-se que ingerir. Melhor dito: que já foi no entanto, tem-se que ingerir. Melhor dito: que já foi ingerido. Como vimos em todo este texto ingerido. Como vimos em todo este texto

O Mal-Estar na CulturaO Mal-Estar na CulturaFelicidade versus CivilizaçãoFelicidade versus Civilização

Pedro Carlos PrimoPedro Carlos Primo

PPsiquiatra/psicanalista, mestre em saúde mental siquiatra/psicanalista, mestre em saúde mental pela universidade de León – Espanha.pela universidade de León – Espanha.Pós-graduado em tecnologia da informação pela Unesp.Pós-graduado em tecnologia da informação pela Unesp.

E-mail E-mail [email protected]@telepsi.med.brSite: www.institutotelepsi.med.brSite: www.institutotelepsi.med.br

o mal-estar na cultura

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