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O MAIOR JORNAL DO ALGARVE Director: Henrique Dias Freire • Ano XX • Nº 876 • Semanário • Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008 Preço: 1 c Pág. 2 FOTO: LUÍS FORRA ACUSADA DE VIOLAR SEGREDO DE JUSTIÇA Ministério Público pede absolvição de inspectora da PJ de Faro pág. 3 FUTEBOLISTA HUGO LUZ VAI ASSINAR PELO FC VASLUI DA ROMÉNIA Acordo vai render mais de 50 mil euros ao Olhanense pág. 8 EX-COMISSÁRIO EUROPEU ANTÓNIO VITORINO DEFENDE: Regionalização é mais-valia no contexto europeu pág. 9 NA ABERTURA DA ÉPOCA DESPORTIVA Centro de Ciclismo de Loulé sem patrocinador principal pág. 22 CÃES PERIGOSOS Menina de 20 meses atacada por rottweiller pág. 24 PORTIMÃO GLOBAL OCEAN RACE APRESENTADA AO PÚBLICO Volta ao Mundo com partida e chegada em Portimão pág. 25 CÂMARA DE ALBUFEIRA INICIOU INSTALAÇÃO Teleassistência domiciliária para idosos pág. 27 SILVES Falta de verbas para recuperar Sé põe em risco os visitantes Pág. 31 CHEFE DE ESTADO-MAIOR DA ARMADA GARANTE: SEGURANÇA da Ria Formosa vai ser reforçada CONTRARIANDO TENDÊNCIA NEGATIVA DE QUASE TODA A REGIÃO Hotéis de Vila Real receberam mais turistas pág. 16 TERESA DE NORONHA EM ENTREVISTA: Vejo a futura evolução do Algarve com optimismo págs. 36 e 37 ESPECIALISTAS TRAÇAM O FUTURO Falámos com Carlos Vieira, o mentor do VI Seminário Internacional pág. 7

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O MAIOR JORNAL DO ALGARVE

Director: Henrique Dias Freire • Ano XX • Nº 876 • Semanário • Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008 • Preço: 1 c

Pág. 2

FOTO: LUÍS FORRA

ACUSADA DE VIOLAR SEGREDO DE JUSTIÇA

Ministério Público pede absolvição de inspectora da PJ de Faro pág. 3

FUTEBOLISTA HUGO LUZ VAI ASSINARPELO FC VASLUI DA ROMÉNIA

Acordo vai render maisde 50 mil euros ao Olhanense pág. 8

EX-COMISSÁRIO EUROPEUANTÓNIO VITORINO DEFENDE:

Regionalização é mais-valiano contexto europeu pág. 9

NA ABERTURA DA ÉPOCA DESPORTIVA

Centro de Ciclismo de Loulésem patrocinador principal pág. 22

CÃES PERIGOSOS

Menina de 20 meses atacadapor rottweiller pág. 24

PORTIMÃO GLOBAL OCEAN RACEAPRESENTADA AO PÚBLICO

Volta ao Mundo com partidae chegada em Portimão pág. 25

CÂMARA DE ALBUFEIRAINICIOU INSTALAÇÃO

Teleassistência domiciliáriapara idosos pág. 27

SILVES

Falta de verbas para recuperar Sé põe em risco os visitantes Pág. 31

CHEFE DE ESTADO-MAIOR DA ARMADA GARANTE:

SEGURANÇA da Ria Formosavai ser reforçada

CONTRARIANDO TENDÊNCIA NEGATIVA DE QUASE TODA A REGIÃO

Hotéis de Vila Realreceberam mais turistas pág. 16

TERESA DE NORONHA EM ENTREVISTA:

Vejo a futura evolução do Algarvecom optimismo págs. 36 e 37

ESPECIALISTAS TRAÇAM O FUTURO

Falámos com Carlos Vieira, o mentor do VI Seminário Internacional pág. 7

36| ||Entrevista|| |Quinta-Feira, 21 de Fevereiro de 2008

EntrevistaHenrique Diascom Helga Simão

TERESA DE NORONHA VAZ, COORDENADORA DO CIEO (CENTRO DE INVESTIGAÇÃO

SOBRE O ESPAÇO E AS ORGANIZAÇÕES) DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE

Somos dos povos que maistrabalham e menos ganham

POSTAL do ALGARVE – O queé que esteve na base do nas-cimento do Centro de Inves-tigação sobre o Espaço e asOrganizações?TERESA DE NORONHA VAZ – OCentro de Investigação sobreo Espaço e as Organizações(CIEO), criado em Junho de2007, resulta de uma necessi-dade clara que existe a nívelregional de concentrar algu-mas competências existentesna Universidade do Algarvepara dar resposta a uma novavisão sobre a problemáticaeconómico-social, particu-larmente quando pensadaao nível regional e local. Estanova visão é multidisciplinar,exige uma busca de soluçõespara os problemas e recolheconhecimentos em diferentesáreas científi cas. As soluçõesque buscamos, quer sejamde natureza teórica ou prá-tica, devem tentar conciliardiferentes perspectivas. Amaior novidade deste centro

de investigação é que procuraestudar uma única questão– a da sustentabilidade dosterritórios e o papel das suasorganizações – recorrendo aotrabalho conjunto de psicó-logos, sociólogos, geógrafos,economistas, gestores, agró-nomos, químicos, arquitectose informáticos.

Que especialidades exis-tem?O centro contempla duas li-nhas que representam doisgrupos de preocupações fun-damentais para todos os terri-tórios que se confrontam coma questão do desenvolvimentosustentável: uma primeirarelacionada com a inovaçãoe organização e utilização doespaço, uma segunda que seocupa das questões relaciona-das com o empreendedorismo,os recursos humanos e a ges-tão estratégica.Com estas duas linhas de in-vestigação todos (e trata-se deinvestigadores e estudantes dedoutoramento) pretendemosestudar concretamente aspossibilidades de crescimentourbano e rural, as melhores

formas de gerir os recursos naturais de que dispomos, a gestão do risco face a catás-trofes naturais, bem como, o papel das organizações públi-cas e privadas, nomeadamente empresas, em tais contextos.

Este Centro poderia ter tido, se estivesse mais amadure-cido, um grande contributo quando da elaboração do Plano de Ordenamento Re-gional?Podia ter sido mais um con-tributo, de facto. Contudo, a criação e o desenvolvimento das organizações (de que o CIEO é um exemplo) têm o seu tempo próprio. Portugal, por razões que se prendem com a sua democracia recente, ainda se confronta, em muitos casos, com falta de amadurecimento institucional. As regiões, ou até os países, passam lentamente por estádios próprios que vão criando as condições ade-quadas ao aparecimento das organizações. Eu acho que não é benéfi co apressar a história, nem tão pouco retardá-la.O Plano de Ordenamento é um esforço muito importante,

mas muito mais importante doque um plano de ordenamentoé conseguir que os agenteseconómicos despertem paraa sua necessidade. Trata-sede um conjunto de medidasde consciencialização e deeducação cívica de naturezatransversal. Os decisores têmneste aspecto uma tarefa ár-dua e continuada pela frente.Por isso, eu diria que embora oCIEO tivesse podido contribuirpositivamente para tal Plano, oseu contributo fi caria sempremuito aquém daquele que éesperado para o conjunto dasinstituições locais (escolas,universidades, associações e,sobretudo, empresas).

Investigadores contribuem para

o desenvolvimentoda região

Quais são as principais tare-fas a desenvolver pelo Centroa médio prazo?O CIEO é apenas uma manifes-tação simples de uma etapaque a Universidade do Algarveatingiu: a de ser capaz de darrespostas com qualidade aos

problemas existentes. Salien-te-se que este centro não é,nem de perto nem de longe,o único que emerge frente àsnecessidades de organizaçãodo conhecimento, ao nível danossa região.Uma referência muito espe-cial para todos os centros deinvestigação da Universidadedo Algarve, cuja tarefa não é sóa de criar conhecimento, mastambém a de ligar as compe-tências dos investigadores danossa Universidade com as dosinvestigadores de tantas ou-tras universidades espalhadaspelo mundo. A Universidade doAlgarve tem uma extensa redede parcerias internacionais enacionais que a abrem para assoluções científi cas e tecnoló-gicas mais actuais, permitindoaos nossos alunos desenvolveras melhores competências emmuitas áreas.O nosso grande desafi o a médioprazo é o de conseguirmos terum conjunto de investigadorescapazes de conciliar os seuscontributos para o desenvol-vimento da região com o aper-feiçoamento de um perfi l cien-tífi co de reconhecido méritointernacional. Parece-nos queo nosso desempenho tenderáa crescer mais em áreas rela-cionadas com o ordenamentodo território (ruralidade, urba-nismo, sistemas de informaçãogeográfi ca, gestão de riscos),com a inovação empresarial(sistemas regionais de inova-ção, transferência tecnológicae organização dos recursoshumanos) e fi nalmente com aidentidade e mobilidade daspopulações (migrações e pro-dução tradicional).

Como é que se desenvolveu oseu percurso profi ssional?Penso que a visão económi-co-social me foi transmitidadesde pequena pelo meu pai,que tinha estudado Finançase que terá tentado cativar-mepara essa área. Sem nenhumsucesso, contudo, pois eu eramais dada às questões da Ge-ografi a. Curiosamente, ambosencontrámos na licenciaturaem Economia um compro-misso. Eram outras épocas,os pais conseguiam ter umaforte infl uência sobre as esco-lhas dos fi lhos. Depois de melicenciar no ISEG, já vivendona Alemanha, procurei en-quadrar-me numa faculdadeque me possibilitasse estudosavançados na área da Econo-mia do Ambiente. Mas não con-segui, as posições disponíveisencontravam-se na área daEconomia Agrária. Enveredeipor essa área e nela preparei omeu doutoramento. Foi muitomais tarde, na Universidade doAlgarve e já defendida a tese,que me foram dadas outrasoportunidade; a pouco e poucofui deixando o meu terrenofi rme da economia agrária eagro-alimentar para procurarnovas áreas na economia re-gional e da inovação.Mas o que eu acho que maiscaracteriza o meu percursoprofi ssional é a componentemulticultural, e essa está-meno sangue: sou um resultadobiológico de duas raças – aindiana e a europeia; um re-sultado cultural de três conti-nentes – a África, onde cresci,a Índia, de meu pai, a Europa,de minha mãe; e um resultadoeducacional de quatro países:Angola, Portugal, Alemanha eFrança (onde tantas vezes esti-ve e que tanto admiro). Há umacerta inquietação em mim,

uma necessidade permanente de busca de novos desafi os e de novas soluções. É esse o estadoque mais me tem motivado no meu trabalho e na forma como o tenho desenvolvido.

A questãodo desenvolvimentodo Algarve é muito

particular

Qual é a leitura que faz do Algarve, ao nível da evolução e desenvolvimento, em com-paração com outros países e regiões da União Europeia?Separemos o discurso sobre o desenvolvimento para o nosso país do discurso sobre o desenvolvimento para o nosso Algarve. Certo, Portugal tem determinantes e obstáculos de crescimento que são co-muns à região. Mas a questão do Algarve é muito particular. Tendo pouca população, temuma óptima localização e um bom clima. A arqueologia do Algarve mostra ter sido esta, uma região preferida pelos po-vos, rica em tempos Romanos, atraindo famílias poderosas e actividades económicas im-portantes. O facto de ser uma região anormalmente exposta ao exterior pela atracção que provoca não é, pois, um fenó-meno novo.Saibamos aproveitar a sualocalização. O aeroporto in-ternacional pode trazer-nos não só turistas mas segundos residentes, a tempo total ou parcial, vindos de países mais avançados e que muito têm para nos ensinar. A proxi-midade do mar permite-nos explorar novas actividadesligadas ao lazer, ao desporto e à aprendizagem, bem como ,aos recursos energéticos e naturais. A vizinhança com Espanha alarga os nossos mer-cados de proximidade a umagrande dimensão.O clima pode ser o nosso gran-de custo ou então, a nossa grande oportunidade. Tudo dependendo da forma como soubermos aplicar as energias alternativas, nomeadamente a energia solar, à disposição dos consumos das famílias e das cidades. Vejo a futura evolução doAlgarve com optimismo. Mas para tal deveremos ainda con-seguir manter uma identidade própria que não se esbata na imensidade de impulsos ex-ternos que por aí vêm.

Como é que essa identidade pode ser aproveitada em termos turísticos?A identidade regional é vendi-da hoje em dia a preços muitoelevados, a nível internacional. Há que cultivar essa identidade não de forma tradicionalista, mas tornando-a a representa-ção histórica e cultural da re-gião, o que requer um especial empenho em termos de estra-tégia para o desenvolvimento da região. Recordo-me de ter sugerido há muito tempo a necessidade da criação de um departamento de marketing dos produtos regionais (gas-tronómicos também) na RTA,com uma única estratégia concertada ao nível de todos os sectores e principalmente do hoteleiro. São os actores regionais os únicos interes-sados; são eles que a devem desenvolver e divulgar. Parece-me ainda que o fortalecimento da identidade regional deve fazer parte de uma estratégia de diversifi cação da actividade

Teresa de Noronha Vaz, professora agregada da Fa-culdade de Economia da Universidade do Algarve,é coordenadora do CIEO – Centro de Investigação

sobre o Espaço e as Organizações. Esta investigado-ra mostra-se optimista em relação à região algarvia, uma das regiões europeias onde, no futuro, melhor se poderá usufruir de uma boa qualidade de vida. Condi-ção fundamental: um desenvolvimento sustentável sópossível com lideranças regionais capazes de cooperarpara implementar as melhores soluções e populaçõesconscientes das suas responsabilidades sociais.Do seu Curiculum vitae ressalta um percurso interna-ecional que lhe permite olhar o Algarve de uma perspec-tiva exterior. Esta investigadora iniciou a sua actividade científi ca com pouco mais de 20 anos, na Universidade de Göttingen, cidade de Gauss – o estudioso, dos irmão Grimm – os contadores de histórias e de Bismarck – opolítico, refere. Nesta cidade viveu, estudou e trabalhoudurante 14 anos. Desde o seu regresso a Portugal, em1991, esta docente universitária também leccionou e investigou em várias universidades europeias, entre as

quais se destacam a Sorbonne, em Paris, a Universidade de Gent, na Bélgica, de Oriel, na Rússia, e a Universidade de Bolonha, que visita anualmente no âmbito de um programa de cooperação.Ao falar-nos do futuro da região, defende desde há muito uma estratégia diversifi cada para a economia do Algarve sem desprezar, contudo, o papel motor do turismo. Teresa de Noronha, que investiga na área de Economia da Inovação e do Conhecimento, suge-re que o turismo, muito para além de ser uma fonte de receitas, deva ser visto como um instrumento de atracção cultural e de conhecimentos para a região. É fundamental benefi ciar do multi-culturalismo que

ç p g

o turismo faculta, mantendo toda a identidade do Algarve e sabendo proteger o bem essencial de que dispomos: o nosso, ímpar, ambiente natural. Ordena-mento do território, abertura das actividades sociais ao segmento turístico e uma maior mobilidade no espaço regional são para esta investigadora alguns dos determinantes fundamentais para um Algarve competitivo e sustentável.

|37||Entrevista||Quinta-Feira, 21 de Fevereiro de 2008|

produtiva para o Algarve, quesempre defendi.

O peso do sector turístico

Acha então que o turismo é omotor das outras actividadeseconómicas no Algarve?De facto sempre centrámos aestratégia de desenvolvimentoregional no sector turístico. Foiimprevidente, embora a reali-dade mostre que o turismo temsido desde há muito o garantedos rendimentos regionais.Mas também foi uma restriçãoà criação de escolhas alternati-vas ou do desenvolvimento decapacidades noutros sectoresde actividade. Os casos maisf lagrantes são os produtosagro-alimentares e a reabili-tação urbana. Estas actividadesteriam trazido para a regiãooutras competências que te-riam alargado a base regionalde conhecimentos. Hoje, ésabido que o desenvolvimentoresulta de tal base, bem como,da capacidade de a transformarem novos processos e novosprodutos.Já não há espaço para duvidarque o turismo se tornou umpilar incontornável da econo-mia do Algarve, mas não podeser o único; há que descobrirquais são as outras aptidõesregionais; quais as áreas dosaber que melhor se podemtransferir para as empresas: Abiotecnologia? A arte? A aqua-cultura? A produção de ener-gias alternativas? Em Abril de2001, dei ao Jornal do Algarveuma pequena entrevista aler-tando para um ciclo vicioso doturismo que comprometeria osector industrial e dos serviços.Parece-me que hoje, sete anospassados, esta necessidadede diversifi cação é óbvia paratodos.

Na altura, essas posiçõesforam lidas como posiçõescontra o turismo?Não sei, talvez. Eventualmentepor má interpretação. A diver-sificação não exclui nenhumdos sectores importantes, pelocontrário, desenvolve a com-plementaridade e explora assinergias entre os sectorese entre as pessoas. Como épossível entender que umaregião turística como a nossatenha demorado tanto tempo aaperfeiçoar a sua gastronomiae tenha deixado o seu sectoragro-alimentar quase desa-parecer?

Hoje, penso que finalmentecaminhamos pelo percursocerto. Por imposição ou porevidência das circunstâncias,os programas de fi nanciamen-to (o actual QREN, por exemplo)já contemplam uma percepçãodiferente dessa necessidadede diversificação e comple-mentaridade. Hoje, já temospolíticos regionais que estãosufi cientemente esclarecidose alertados para a necessidadede entrecruzar várias opções.É impossível desenvolver oturismo sem desenvolver, porexemplo, o ordenamento ur-bano. É impossível desenvolveras empresas sem escolher osmelhores programas para asuniversidades. É impossível terboas instituições públicas semapostar na formação profi ssio-nal e no mérito.

A cooperação entreos diferentes níveis

Quais são os principais cui-dados a ter neste início decaminhada?Há muitos, em tempos de glo-balização a competitividadedas regiões e das empresas éfundamental para a melhoriada economia. Considero a co-operação entre os diferentesníveis de decisão política e osdiferentes agentes económicos

como a maior exigência para o Algarve. Num período em que nós não podemos desperdiçar recursos naturais, em que todos temos de concentrar os nossos esforços fi nanceiros, em que se espera que se organizem os recursos humanos, é fun-damental e imperativo que as pessoas saibam cooperar umas com as outras. Mas também é importante defi nir em torno de que áreas fundamentais se deve cooperar.

Como é que se deve desenvol-ver essa cooperação?Cooperar é saber encontrar decisões comuns. É ter com-portamentos éticos garantes de confi ança e de compromissos. É saber escolher lideranças pelo mérito e não pela infl uência po-lítica. É saber encontrar argu-mentos convincentes pela força da razão e do conhecimento. É produzir soluções práticas para problemas difíceis.Eu acho que a cooperação exi-ge: confiança, competência, mérito e tolerância em qual-quer situação.

A PEDAL representa um empenho conjunto

A criação da Plataforma Em-presarial para o Desenvolvi-mento do Algarve (PEDAL) é

um dos contributos para que essa necessidade possa ser resolvida?A PEDAL representa um em-penho conjunto, é significa-tivo mas ainda incipiente. As empresas que se associaram à Universidade do Algarve, para em conjunto trabalharem, pa-recem conseguir muito mais facilmente do que se esperava falar uma mesma linguagem. Em breve, darão início a pro-gramas de trabalhos conjuntos. Daqui a anos poderemos ver em retrospectiva e analisar a importância deste projecto-pi-loto demonstrativo. Não esque-çamos que em pouco tempo a PEDAL pode esfumar-se com a mesma facilidade com que surgiu e por isso cada avanço representa um vitória. O es-forço para o desenvolvimento do Algarve tem de ser muito mais alargado e tem de ser muito mais concertado. Exige esforços que perdurem no tempo, novas rotinas compor-tamentais e objectivos de longo prazo. Todos gostaríamos de conhecer qual é a visão que os responsáveis regionais têm para o Algarve num horizonte de 30 a 50 anos para em função desta podermos desenvolver as nossas escolhas.

Qual é a leitura que faz da

responsabilidade dos deci-sores regionais em matériade desenvolvimento?Nesta matéria não gostaria deser específi ca. O problema queme coloca é dos tais que dizemrespeito aos decisores políticosdo país, em geral. Perante atransformação que se esperapara a sociedade portuguesa,o melhor exemplo prático éde uma concerto sinfónico: asua qualidade resulta da com-posição, do desempenho domaestro e dos músicos. Umaorquestra deve sempre esco-lher a composição que melhorse lhe adequa. O maestro ajudanesse esforço e ele deve ter amelhor formação; o seu méritoserá reconhecido só se fizerum excelente trabalho. Aosmúsicos cabe escolher os me-lhores instrumentos, exercitaraté à exaustão e, fi nalmente,conseguir tocar muito bem eem consonância com a músicados seus companheiros. O maisimportante neste exemplo é opapel individual de um músicosó, que ao enganar-se podeestragar todo o espectáculo.E mais, mesmo que sejamosmuito bons, não podemos sertodos solistas, não é?Se bem que os decisores regio-nais tenham um papel muitoimportante de regulação, acada um de nós cabe uma dis-

ciplina de trabalho e um papel individual muito específico. Para cada um há um direito, um dever e uma responsabi-lidade.

É uma crítica ao actual estado das coisas?Não é uma crítica. Quando mais estudo mais me apercebo da complexidade dos problemas sociais, económicos e políticos e mais difi culdade tenho em ser crítica. Gosto muito de ouvir os outros quando são críticos, mas tenho difi culdade em eu pró-pria ser crítica. A escolha das prioridades para a execução das tarefas do desenvolvimen-to é cada vez mais complicada num mundo aberto, global e que as novas tecnologias tor-nam assombrosamente veloz. Já mais fácil, é o reconheci-mento da responsabilidade que cada um de nós tem no processo. E essa avaliação não tem tido lugar, tão empenha-dos andam os portugueses em culpar os sucessivos Governos por aquilo que não fi zeram, que frequentemente se esquecem das suas próprias responsabili-dades sociais: a participação, o desempenho, o entusiasmo.

E há alguma razão para essa atitude?Reconheço, pelo quanto tenho viajado pelos países desen-volvidos da Europa, que os portugueses são dos povos que mais trabalham e menos aproveitam; são dos que mais se esforçam e menos ganham. Esta é uma boa razão que leva os portugueses a pensarem em não ter de fazer mais esforços. Porém, o que a nossa sociedade precisa não é de mais esforços, mas de melhor desempenho.Melhor desempenho resulta de um processo de aprendizagem em que aceitamos agir de uma forma mais ref lectida e em conformidade com o que nos é pedido. Aceitamos ser mais disciplinados. Aceitamos que nem sempre a nossa cabeça nos traz as melhores ideias. Aceitamos que as melhores soluções sejam, por vezes, tomadas num âmbito de de-cisão que nos ultrapasse. Não dispondo de informação sobre tudo, cada um de nós não pode ter o melhor conjunto de soluções para os problemas. O bom desempenho resulta da disciplina de comportamentos e do entusiasmo de construir ideais partilhadas.

O que é que o Algarve pre-cisa para desenvolver o seupotencial?De visão, de uma estratégia delongo prazo, de investimentosacertados, de líderes qualifi ca-dos, de melhor formação derecursos humanos.

De que mais necessitaria oAlgarve?O Algarve é uma região compouca população, que recebemuitos visitantes. Tem umapéssima rede de transportespúblicos.É urgente ter um metro desuperfície e uma ligação decomboio rápida a Sevilha. Sóassim teremos mobilidade e

verdadeira abertura para omercado Espanhol. É ridículoque, sem viatura própria, pre-cisemos de quatro horas parachegar à grande cidade maispróxima. A outra grande fragilidade daregião está relacionada comos cuidados de saúde. Tenhoalgumas difi culdades em tecercomentários sobre esta ques-tão, mas reconheço ser difícillutar por melhores condiçõesde vida das populações comuma estrutura de cuidados,como a que temos.A nossa enorme vantagemem termos de localização éo Aeroporto de Faro que temuma função extremamente

importante na dinâmica da região. Este aeroporto inter-nacional procurado pelas low-cost representa também uma mais-valia para a Universidade do Algarve.

Em que termos?Quantas universidades euro-peias estão a cinco minutos de um aeroporto internacional? As condições arquitectónicas e ambientais das infra-estru-turas do Campus de Gambelas são apelativas para qualquer cientista e os preços baixos das viagens permitem à Uni-versidade do Algarve destacar-se em termos nacionais pela oferta de cursos avançados e

É urgente ter um metro de superfície e uma ligaçãode comboio rápida a Sevilha

pela realização de conferên-cias internacionais.Era muito importante que a Universidade do Algarve ex-plorasse as suas potencialida-des divulgando as áreas onde maior projecção internacional já tem.Saliento a área do Ambiente e das Ciências da Vida, nomea-damente do Mar, para as quais todos devem congregar es-forços e constituir um núcleo de interesse, também a nível nacional. Há que projectar este núcleo de conhecimento, que à luz das teorias do co-nhecimento, é talvez um dos maiores trunfos que temos para desenvolver a região.

Já que temos a componenteturística como pilar econó-mico e as Ciências do Mar eda Vida como um cluster doconhecimento, é altura depensarmos que a nossa regiãodeve primar pela questão doambiente. Cuidar do ambien-te significa confrontar, pelomenos os seguintes temas:ordenamento urbano, trata-mento de resíduos, qualidadeda água, transportes públicos,poluição empresarial e ener-gias alternativas. O Algarvetem o benefício de, no futuro,poder quase autosustentar-secom base em energias alter-nativas.

Como vê o futuro do Algarve,face aos desafi os?O Algarve tem um grandepotencial. Daqui a 30 anos,

seria muito triste se não con-seguíssemos viver num Al-garve próspero. Se o Algarve for capaz de cumprir alguns requisitos estratégicos que passam, antes de mais, pela escolha do que sabe fazer bem e pelo aprender a fazer melhor, poderá vir a consegui-lo. Terá de ter a coragem de enumerar as suas fraquezas e enfrentá-las, o que muitas vezes não acontece. Há uma mentalidade individualista que não serve para atingir os objectivos dedesenvolvimento e que deve ser rapidamente corrigida. A questão do desempregoterá de ser acompanhada em permanência pelas entidades regionais e solucionada porreacções rápidas ao nível da estrutura já existente para a formação profi ssional.

A Universidade do Algarve tem uma extensa redede parcerias internacionaise nacionais que a abrem para as soluções científi case tecnológicas mais actuais

O clima pode ser o nosso grande custo ou então,a nossa grande oportunidade

Daqui a 30 anos, seria muito triste se não conseguíssemos viver num Algarve próspero