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O LUGAR DA JUSTIÇA NO ESTADO DE EXCEÇÃO THE PLACE OF JUSTICE IN THE EXCEPTION STATE Lucas Piccinin Lazzaretti RESUMO O texto presente discute qual é o papel da justiça no estado de exceção levando em conta autores como Carl Schmitt e Giorgio Agamben que tanto se dedicaram a elucidar e inovar as teorias aqui comentadas. Ambos usam de definições sobre o soberano para então pormenorizar o papel deste personagem no estado de exceção como também delimitar o que seria de fato um estado de exceção, para só assim entender onde a justiça é cabível. Passando pelo conceito de justiça no estado de natureza e estado civil para só então chegar ao estado de exceção, busca-se demarcar em que ponto se encontra a justiça, avaliando as diferenças e semelhanças de cada forma de organização, para finalmente fazer a avaliação de qual é a verdadeira natureza da justiça dentro do estado de exceção. PALAVRAS-CHAVES: ESTADO DE EXCEÇÃO, JUSTIÇA, CARL SCHMITT, GIORGIO AGAMBEN ABSTRACT The present text discuss where is the place of justice in the exception state knowing writers like Carl Schmitt and Giorgio Agamben who dedicated themselves so much to elucidate and innovated the theories here explained. Both uses the definitions about sovereign to detail the place of this character in the exception state as also to define what would be the real exception state, to finally understand where the justice is possible. Passing through the concept of justice in the nature state, and civil state to them find the exception state, search define in what point the justice is, estimating the differences and the similarities from each form of organization, to finally do the evaluation of which is the nature of justice inside of the exception state. KEYWORDS: EXCEPTION STATE, JUSTICE, CARL SCMITT, GIORGIO AGAMBEN INTRODUÇÃO 5472

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O LUGAR DA JUSTIÇA NO ESTADO DE EXCEÇÃO

THE PLACE OF JUSTICE IN THE EXCEPTION STATE

Lucas Piccinin Lazzaretti

RESUMO

O texto presente discute qual é o papel da justiça no estado de exceção levando em conta autores como Carl Schmitt e Giorgio Agamben que tanto se dedicaram a elucidar e inovar as teorias aqui comentadas. Ambos usam de definições sobre o soberano para então pormenorizar o papel deste personagem no estado de exceção como também delimitar o que seria de fato um estado de exceção, para só assim entender onde a justiça é cabível. Passando pelo conceito de justiça no estado de natureza e estado civil para só então chegar ao estado de exceção, busca-se demarcar em que ponto se encontra a justiça, avaliando as diferenças e semelhanças de cada forma de organização, para finalmente fazer a avaliação de qual é a verdadeira natureza da justiça dentro do estado de exceção.

PALAVRAS-CHAVES: ESTADO DE EXCEÇÃO, JUSTIÇA, CARL SCHMITT, GIORGIO AGAMBEN

ABSTRACT

The present text discuss where is the place of justice in the exception state knowing writers like Carl Schmitt and Giorgio Agamben who dedicated themselves so much to elucidate and innovated the theories here explained. Both uses the definitions about sovereign to detail the place of this character in the exception state as also to define what would be the real exception state, to finally understand where the justice is possible. Passing through the concept of justice in the nature state, and civil state to them find the exception state, search define in what point the justice is, estimating the differences and the similarities from each form of organization, to finally do the evaluation of which is the nature of justice inside of the exception state.

KEYWORDS: EXCEPTION STATE, JUSTICE, CARL SCMITT, GIORGIO AGAMBEN

INTRODUÇÃO

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Muitos são os fatos históricos que nos levam a ver que alguns grupos ao tomarem o poder usam-no de forma abusiva cometendo verdadeiros genocídios. Não sendo necessário ir tão longe na história pode-se verificar somente no século XX diversos desses fatos, a serem citados; o holocausto da segunda guerra mundial, o apartheid na África do Sul, e mais recentemente a perseguição exacerbada de pessoas de origem arábica por parte dos Ocidentais, mais especificamente os EUA. Esses são meros exemplos de fácil percepção, muitos outros poderiam ser citados usando como palco os golpes militares na América Latina, por exemplo.

O que traz a curiosidade sobre esses fatos supracitados, é que na sua maioria tiveram um forte embasamento político e jurídico para que existissem. O caso nazista é onde isso fica mais evidente tanto no fator político quando no jurídico. Uma Alemanha revoltosa com sua condição deprimente usou de teorias jurídicas para justificar seus atos. Mais incrível ainda é perceber que muitos desses casos tiveram como embasamento jurídico uma só visão teórica, no caso a teoria do estado de exceção. Por mais que se pense que a partir de Carl Schmitt essa teoria toma consistência e aceitabilidade, é de conhecimento dos estudiosos que muito antes – Roma – essa teoria já era usada. Sendo que ela normalmente é associada a governos abusivos e extremistas surge uma questão a ser imposta a esse assunto. Existe Justiça no Estado de Exceção? E por conseqüência outra indagação subseqüente a segue; Se existe justiça no Estado de Exceção, como e para quem ela é aplicada? Tentaremos elucidar essas questões focando na primeira e usando a segunda como sustentação confirmativa para a explicação.

1. O SOBERANO

Carl Schmitt começa o seu livro Teologia Política com a frase, “Soberano é quem decide sobre o Estado de Exceção” [1]. É um trabalho mental complicado entender o papel do soberano sem entender o estado de exceção, como também é muito complicado fazer o caminho contrário. Definir o soberano antes é fundamental, pois é ele quem engendra o estado de exceção, é também ele quem governará sobre essas condições e por isso é quase impossível imaginar um estado de exceção sem um soberano. É necessário entender a visão de Carl Schmitt que nitidamente, contra o positivismo limitado, se coloca como um autor que justifica os atos e a existência do estado sendo resultado de decisões políticas. Devido a isso, para Carl Schmitt o estado tal qual o conhecemos está a encargo de um soberano, mesmo sendo esse estado um estado democrático, pois surgindo a necessidade do estado de exceção o soberano se colocará a frente do governo tomando suas decisões de acordo com a sua autoridade.

O soberano ao tomar frente do governo no estado de exceção está se colocando como um sujeito acima das leis, pois suas decisões devem ser regularmente cumpridas, jamais questionadas e sobre tudo o próprio soberano não deve sofrer conseqüências de suas decisões. Ou seja, ele deve ter uma grande liberdade para tomar decisões e fazê-las valer. A decisão do soberano no estado de exceção tem poder ilimitado, já que ele é o mantenedor da lei na sua pessoa. Agamben nos fala que “o soberano tendo o poder legal de suspender a validade da lei, coloca-se legalmente fora dela.” [2], sendo assim o soberano afasta as leis existentes em um estado civil comum e começa a ditar as suas

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próprias leis sobre uma forma de decisões por ele tomada. O que lhe dá essa capacidade de transformar as suas decisões em normas é o poder por ele concentrado, o mesmo poder que lhe deu a possibilidade de afastar as leis contratadas no estado civil. O soberano tem em suas mãos a máquina do estado, a força de impor, e é essa força que faz com que ele declare o início e o fim do estado de exceção como também é essa força que faz com que ele mantenha o controle sobre o estado de exceção.

Giorgio Agamben em seu livro “Estado de Exceção” usa um conceito por ele chamado “Força de Lei”. Segundo o autor a força de lei consiste na aplicação de uma lei sem que ela exista, tendo essa lei um vigor destacável. Existem normas que estão em vigor, mas não se aplicam, por outro lado, certos atos que não têm valor de lei e o adquirem.

Sendo assim é fácil perceber que o Estado Civil não foi totalmente suspendido, ele está apenas adormecido – parcial ou totalmente – enquanto o soberano toma certas atitudes para que ele possa voltar a ser executado em sua plena forma. Para tanto o soberano necessita do poder que as leis possuíam no Estado Civil para governar sem mais problemas fora deste Estado Civil.

A visão habitual que se faz do soberano é de um tirano que usa de seus poderes ao seu bel prazer, e impõe sofrimento a muitos apenas por considerar correto unicamente a sua forma de ver o mundo. É claro que não se podem descartar as possibilidade de existir um soberano cruel, já que os exemplos se mostram abundantes nos nossos tempos, porém é importante ressaltar que o soberano, segundo a teoria, não é um tirano, ao moldes gregos, mas muito mais um ditador, aos moldes romanos. Explica-se; a ditadura romana era uma instituição de caráter extraordinário. Só era usada em situações extraordinárias, verdadeiras situações de emergência, como uma crise interna ou até mesmo uma guerra. O ditador era nomeado por um ou pelos dois cônsules devido aos seus conhecimentos para sanar o problema existente e tinha um tempo limite para permanecer no poder, já que seus poderes eram grandes e os romanos avistavam o quão perigoso era deixar um só homem com tanto poder no governo por tempo ilimitado. Por mais que os seus poderes fossem demasiados grandes e seus dizeres normalmente fossem aceitos como lei, os seus poderes não eram ilimitados, tendo restrições nos seus atos. O ditador era colocado no cargo para solucionar um problema público e agia visando o bem público. O tirano por outro lado pode ser visto como um ditador que deturpou a sua posição. Enquanto o ditador tomava atitudes em prol de um bem maior, um bem público, o tirano tomava atitudes em prol de privilegiar-se ou privilegiar grupos próximos a ele. Essa diferenciação é necessária, pois como podemos ver o soberano deve ter um caráter muito mais próximo ao ditador romano do que ao tirano. Roma foi a pioneira na institucionalização do estado de exceção com a criação do posto de ditador.

Modernamente o soberano tem uma associação maior com a teoria hobbesiana que postula “Autoritas, non veritas facit legem.”. O soberano faz a lei por ter a autoridade necessária para tal. Hobbes diz que não deve haver desobediência à autoridade do soberano, pois para ele nenhum homem que tem com ele o poder soberano pode ser condenado à morte com a devida justiça, sendo que por virtude da própria instituição do soberano, qualquer sujeito é autor dos atos e do julgamento desse mesmo soberano. Por isso se um súdito tentar depor seu soberano e for morto, é esse súdito o autor de sua própria condenação.

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O soberano moderno é quem decide sobre o estado de exceção já que sua decisão tem força de lei, como também suas decisões deveriam ser voltadas para a restituição do Estado Civil, existente antes do estado de exceção.

2. O SOBERANO E O HOMO SACER

Depois de delimitado o que de fato é o soberano e como ele se encaixa no estado de exceção, é necessário conhecer a segunda figura que protagoniza diretamente no estado de exceção. Essa figura é denominada por Giorgio Agamben de Homo sacer. O homo sacer é uma obscura figura do direito romano arcaico, revitalizada por Agamben para explicar o estado de exceção moderno. O homo sacer era um sujeito que poderia ser morto por qualquer um sem que fosse necessário cumprir o ritual requerido pelas normas prescritas no rito jurídico. Pode-se exemplificar que qualquer cidadão poderia matar o homo sacer sem ser acusado de homicida e ao mesmo tempo o homo sacer não precisaria ser morto de acordo com as tradições ou as normas jurídicas existentes. A vida insacrificável e também matável é a vida sacra.

A idéia de existir um homo sacer vem de acordo com os nossos dias, porque segundo Agamben a política moderna tornou-se uma biopolítica, e o corpo biológico do cidadão ocupa uma posição importante nas estratégias do poder estatal.

Sacer tem uma interpretação ambivalente. Tanto pode ser visto como sagrado, quanto pode ser visto como nefasto, maléfico. Isso torna a sacralidade de interpretação ambígua. No caso em questão utiliza-se a segunda interpretação. Portanto se o homo sacer é alguém que pode ser violado é preciso entender os motivos pelo qual ele pode ser violado e para tanto é preciso confrontar o homo sacer com o soberano. Colocando-os em forma de comparação, o homo sacer e o soberano, têm muitas divergências ululantes, porém outras nem tanto. A primeira grande diferença a ser notada é que o soberano não pode ser morto por ninguém, e nem ao menos sofrer qualquer tipo de tentativa de homicídio. Já o homo sacer pode ser morto por qualquer um, e ninguém é acusado de homicídio por tomar-lhe a vida. Em contrapartida existe algo em que os dois são semelhantes, mas por motivos diferentes. Ambos não possuem ritual prescrito para os seus extermínios. O homo sacer não está protegido por um ritual, pois sua existência é irrelevante para o grupo que o submete e como ele não pode ser considerado um sujeito, tal como os outros cidadãos, ele está à parte dos rituais e ordenamentos; a sua vida é tomada pelo simples fato de ela poder ser disponibilizada sem gerar a mínima conseqüência. No caso do soberano não há um ritual prescrito para o seu homicídio, pois o seu homicídio nem ao menos pode ser cogitado. Como o soberano é totalmente inviolável e inalcançável, qualquer norma ou rito que estabeleçam alguma possibilidade de afetar sua vida estão indo contra a sua soberania, e sendo ele o soberano nada pode afrontá-lo. Os motivos são extremamente opostos, mas ambos se equivalem na falta de um rito e na extraordinária em que se situam.

Schmitt coloca o soberano no comando do Estado da mesma forma que coloca Deus no comando do universo, usando o sistema cartesiano para base de sua explicação. Isso vem de acordo com o que diz Agamben na idéia de homo sacer. Todos nós estamos

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suscetíveis a influência de Deus, tal como o homo sacer está suscetível a influência do soberano.

Por isso confrontando as duas figuras do estado de exceção é facilmente perceptível qual é o papel de cada um e quais são as possibilidades restritivas que cada um sofre ou impõe. Portanto, “soberana é a esfera na qual se pode matar sem cometer homicídio e sem celebrar um sacrifício, e sacra, isto é matável e insacrificável, é a vida que foi capturada nesta esfera.”[3] Assim, o “soberano é aquele em relação ao qual todos os homens são potencialmente homines sacri e homo sacer é aquele em relação ao qual todos os homens agem como soberanos.”[4]

No entanto é preciso que fique claro que sacra é a vida apenas na medida em que está, de uma forma ou de outra, presa à exceção soberana. Sabendo-se isso pode voltar a já mencionada biopolítica e entender que por muito tempo o homem permaneceu sendo o que uma vez fora para Aristóteles; um simples animal vivente e capaz de existência política. O homem moderno é um animal em cuja política está em questão: a sua vida de ser vivente. Não podemos nos furtar de ver que o homem moderno está tão preso à vida política quanto o soberano está à autoridade. Uma vez que negligenciamos a nossa participação política corremos sérios riscos de nos encaixarmos ou de deixarem nos encaixar na condição de homo sacer, e sendo essa condição instalada, o caminho reverso se não é impossível o é quase. “O totalitarismo do nosso século (século XX) tem o seu fundamento nesta identidade dinâmica de vida política e, sem esta, permanece incompreensível.” [5]

Agora tendo o conhecimento sobre os agentes que participam do estado de exceção – no caso o soberano e o homo sacer – pode-se então começar a demarcar o ambiente em que estes agentes estarão imersos. Como esse trabalho busca saber se a justiça se encontra de fato no estado de exceção é preciso então saber onde a justiça se encontra nas outras formas de estado, no caso o estado de natureza e o estado civil, para daí então chegar à conclusão desejada.

3. AS DIFERENTES FACES DA JUSTIÇA.

Ao buscar entender o que de fato é a justiça, antes se faz pertinente saber em que lugar está situada essa justiça. No presente trabalho dividiremos a justiça em três ambientes predeterminados. O estado de natureza – ou estado natural –, o estado civil, e por fim o estado de exceção, que é onde pretendemos chegar. Essa divisão nasce devido à enorme diferença que existem nesses estados, como pontuam autores conceituados tal como os contratualistas Hobbes, Rousseau, Kant, e o decisionista Carl Schmitt. Como o trabalho tem sido embasado por autores que discutiram o papel do soberano e a possibilidade da existência do estado de exceção a visão de muitos filósofos não será utilizada, pois não vem de acordo com o desejado por esse trabalho. Kant, por exemplo, não aceita a possibilidade de existir um estado de exceção, como o jusnaturalista que é. Kelsen como kantiniano e positivista supõe haver uma norma fundamental – suprema – do ordenamento jurídico e por isso um soberano que ditar normas divergentes da norma fundamental não está protegendo o estado, mas ao contrário está destruindo o estado.

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Devido a essas impossibilidades teóricas usaremos autores como Hobbes e Carl Schmitt para exemplificar o papel da justiça nos estados antes mencionados, excluindo em parte as opiniões positivistas.

Para dar início falaremos do Estado de natureza na visão hobbesiana. Hobbes no Leviatã diz que o estado de natureza é qualquer situação em que não há um governo que estabeleça a ordem. O homem, naturalmente egoísta, quando em contexto de ausência de norma e com a ausência de um sistema repreensivo viveriam em um eterno conflito, uma verdadeira guerra de todos contra todos. E por mais que não haja uma batalha de fato, ela, como hipótese racional guarda latente sua possibilidade. Hobbes acredita que a organização social não se deu pela boa vontade de um para com os outros, mas sim pelo medo de todos gerado pela insegurança do estado de natureza.

O estado de natureza pode ser entendido simplesmente como a condição anterior a constituição da sociedade civil. Os autores contratualistas tendem a admitir a existência de um estado de natureza, por mais que alguns admitem que o estado de natureza possa nunca ter existido, mas julgam ser necessário fazer essa construção para compreender melhor a formação da sociedade civil. A justiça no estado de natureza não existe, há só o arbítrio e a violência nesse estado. Não há a quem recorrer, como também não há meios seguros para se proteger e para se sentir abraçado por um senso de justiça. Devido a isso alguns autores chegam a dizer que não há nenhuma justiça no estado de natureza, o que é muito bem aceito, pois a justiça tal qual a conhecemos tem um caráter social, igualitárias e limitadas das vontades privadas.

O estado civil como pode se observar é a organização necessária que os homens constituem na busca de segurança e de certa forma de justiça. É importante frisar que o estado civil nasce da necessidade de organização, para que as relações sejam reguladas ao invés de se submeterem ao arbítrio e à violência. Isso terá uma grande importância na teorização do estado de exceção.

No estado civil os homens reunidos em uma multidão de indivíduos compactuam e começam a constituir um corpo político. É uma pessoa artificial criada sobre o nome de estado. Hobbes crê que essa multidão cria e compactua o estado, porém o soberano está à parte desse contrato. O soberano, para Hobbes, não fica a mercê das idéias e normas contratadas pela multidão, muito pelo contrário, a multidão se abriga próximo as influências do soberano, pois ele lhes dá proteção e segurança. Obviamente o soberano ditará as regras que bem entender, mas Hobbes vê que para aquela multidão súdita é melhor ter a proteção controlada de um soberano do que ter um estado de natureza onde a insegurança permeia.

No estado civil a justiça é feita de uma forma tutelada pelas mãos do estado. Parte-se da premissa que todos são bons cumpridores de deveres e nenhum dos contratantes pode ser condenado sem um devido julgamento. É preciso provar a culpa do réu para que ele possa ser condenado no estado civil, já que a presunção que lhe calha é a de que em regra, as regras são cumpridas, ou quando descumpridas, o são por motivos justificados publicamente.

Mesmo em um estado democrático em que o povo é o soberano e há uma representatividade política eleita por voto o estado se mostra presente de uma forma imponente sobre os seus cidadãos. A diferença é que no estado civil de Hobbes o

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soberano pode tomar a atitude que quiser sobre a vida dos súditos de acordo com sua vontade, e já no estado civil democrático o estado até chega a exibir sua força sobre o cidadão, mas não pode ser abusivo e tampouco injusto.

A justiça no estado onde há um contrato social não pode ser vista como plenamente aplicada. Existe o que pode se chamar de “quase justiça”, onde existem normas que visam ajustar o convívio social, mas essas mesmas normas não atingem totalmente o seu objetivo gerando então um efeito de quase justiça. É utópico imaginar um estado onde a justiça se mostre plena, mas é essa busca pela justiça demonstrada na “quase justiça” que faz do estado civil um templo da sociedade pacífica e organizada.

Tendo exposto a diferença entre o estado de natureza e o estado civil pode-se explicar como a justiça se relaciona com o estado de exceção. Porém antes se faz importante explicar o estado de exceção, pois a justiça entra como uma peça de sustentação nessa teoria, tal como o soberano e o homo sacer.

4. O ESTADO DE EXCEÇÃO

Para poder entrar de fato no estado de exceção antes delimitamos o que era o estado de natureza, que por mais hipotético que seja é uma forma de teorizar o estado antes do contrato social, como também delimitar o estado civil, fornecendo-se segurança e uma “quase justiça” aos cidadãos. O estado de exceção deve ser visto como uma espécie de mutação dentro do estado civil. Nunca o estado de exceção pode partir do estado de natureza, isso pelo simples fato de que o estado de exceção em sua essência vem para revitalizar e reorganizar de forma precisa o contrato civil que antes existia. Sendo assim, para que o estado de exceção seja instaurado é antes preciso que exista um estado civil, por conseqüência que exista um contrato social com cidadãos, e por último que exista se não um soberano já escolhido ou aceito pelo menos que tenha um sistema capaz de produzir um soberano, com formas de lhe fornecer os subsídios necessários para o poder.

O caminho mental que se faz para se chegar ao estado de exceção é de fato simples, mas nem sempre aceito devido aos diversos exemplos práticos que vieram a deturpar a sua teoria. Em princípio o estado de exceção deveria partir de uma necessidade imposta por condições alheias a vontade dos governantes. Esse é um dos motivos pelo qual ele é legítimo, já que o próprio estado civil partiu da necessidade de se organizar para que houvesse uma certa segurança. O estado de exceção deve vir quando a organização do estado civil começa a se desfazer ou dá indícios disso. Ou seja, o estado de exceção é um mecanismo de proteção à organização de um Estado. Agamben pontua que “o estado de exceção não é, portanto, o caos que precede a ordem, mas a situação que resulta de sua suspensão.”[6] Como exemplos a serem citados pode se dizer que em uma guerra civil, um estado de sítio, uma guerra internacional, o estado de calamidade pública, entre tantos outros motivos são fatos pertinentes à declaração do estado de exceção por parte do soberano.

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Para os positivistas que tudo querem normatizar, o estado de exceção não passa de uma aberração, que vai contra todos os princípios jurídicos estabelecidos por um estado. Para filósofos desta vertente tudo que cessa o poder e a continuidade do estado de direito está na verdade eliminando o estado. Já na visão política de Carl Schmitt tem o estado de exceção não elimina o estado, mas ao contrário, garante que ele continue a existir através de medidas mais rígidas aplicáveis por um período de tempo. “A ordem jurídica como toda ordem, repousa em uma decisão e não em uma norma.”[7] Devido a isso o propósito do estado de exceção é muito mais a suspensão do direito de uma forma normatizada do que o fim do estado constituído. “Em estado de exceção, o Estado suspende o direito por fazer jus a autoconservação.”[8]

Além da imprecisão que gira em torno do estado de exceção, que para uns afasta o estado e para outros afasta apenas o direito, resta um questão que é de fundamental importância para compreender toda a teoria. A violência que vulgarmente foi usada pelos grandes soberanos dos estados de exceção do século XX é um ponto importante tanto para compreender o papel do soberano quanto para observar como o direito se enquadra no estado de exceção. Como já se sabe durante o estado de exceção medidas enérgicas são tomadas para atingir os objetivos desejados; que deveria ser o maior de todos a volta ao estado civil, preferencialmente democrático. Se no estado civil a violência, ou melhor pontuando, a força é empregada pelo estado para mostrar a sua autoridade e poder, porém o direito é quem rege essa força de forma a manter um equilíbrio e alguma imparcialidade entre cidadão e estado, no estado de exceção essa idéia de equilíbrio é de certa forma afastada, o que começa a dar a ilusão de um possível caos no direito. No entanto “com toda evidência, de fato, a violência que é exercitada no estado de exceção não conserva nem simplesmente põe o direito, mas o conserva suspendendo-o e o põe excetuando-se dele.”[9] Esse é um ponto delicado, pois como sabemos o soberano é quem decide sobre o estado de exceção, sua decisão é tida como lei e ele possui a força para impor as suas decisões. Com o direito afastado durante o estado de exceção não há para onde o cidadão recorrer, e por isso o cidadão passa a exercer um papel de súdito tal como Hobbes teorizava ao invés de ser um cidadão com direitos plenos. Percebe-se que o soberano, portanto se confunde tanto com o estado de exceção, do qual ele é o coordenador; como também com o direito, que é suspenso sendo o soberano o novo criador de normas sobre forma de decisões; quanto também com a violência que é vista como sendo emanada da figura do soberano. “O soberano é o ponto de indiferença entre violência e direito, o limiar em que a violência traspassa em direito e o direito em violência.”[10]

Sendo o soberano o detentor da força de lei e da força propriamente dita não é de se admirar que todos os seus súditos – e não cidadãos – poderão ser postos na condição de homo sacer perante o Estado, comandado pelo soberano. Eis que surge aqui outra questão de suma importância. No Estado civil presume-se que o cidadão é sempre inocente, e o estado é quem, em caso de dúvida, deve provar a sua possível culpa, o que nos trás a mente a expressão jurídica “In dubio pro reo”. No caso do Estado civil é perceptível e aceitável os motivos pelos quais o estado julga o cidadão como sempre sendo inocente. O estado civil é organizado e tem bases de sustentação fortes. Por mais que o cidadão não seja de fato inocente o abalo que ele pode causar ao Estado é capaz de ser reparado sem problemas maiores, já que o Estado se mostra solidificado como instituição. No estado de exceção a idéia é oposta. No estado de exceção pressupõe-se um estado fragilizado que necessita de reparos urgentes. Sendo assim quaisquer atentados contra a força, contra legitimidade ou até mesmo contra a estrutura do estado

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em si são vistos como algo de sumo perigo. No estado de exceção o súdito não pode de forma alguma se mostrar contra o estado. No estado de exceção o súdito deve procurar fazer tudo que o estado ordena, sem nenhum deslize ou negligência, pois “o gesto mais inocente ou o menor esquecimento podem ter as conseqüências mais extremas.”[11] O Estado durante o estado de exceção não se dá ao luxo de fazer investigações pormenorizadas para atestar realmente se o súdito tem ou não culpa sobre o que ele é indiciado. No estado de exceção o súdito deve se cuidar ao máximo para que nunca seja acusado por algo, já que caso o seja, a sua vida nua – homo sacer – pode estar prestes a terminar ao pretexto de manutenção do estado. É claro que podemos indagar acerca do extremismo que é a punição durante o estado de exceção. Mas devemos levar em conta, sempre, que o Estado se encontra fragilizado, sob ameaças de se extinguir, e a menor traição, o menor ato contrário ao estado, a menor faísca possível por gerar uma enorme explosão, ou seja, tratar-se-á o súdito como se fosse um inimigo de guerra.

O que os ocidentais presenciaram e continuam a presenciar com a teoria do estado de exceção foi em sua grande maioria uma deturpação do que é de fato essa teoria. Estados civis, com soberanos insanos usaram dos argumentos de “necessidade” para cometer verdadeiras atrocidades, buscando depois legitimidade para os seus atos. “O totalitarismo moderno usou do estado de exceção para permitir eliminação física não só dos adversários políticos, mas também de categorias inteiras de cidadãos que, por qualquer razão, parecem não integráveis ao sistema político.”[12] A ressalva que deve ser feita é que o estado de exceção não é, de forma alguma, um mecanismo legitimador de chacinas, com o qual os seus facínoras se identificam para poder cometer atos deploráveis, como “no caso americano de combate ao terrorismo” onde “o estatuto jurídico foi anulado, produzindo, dessa forma, um ser juridicamente inominável e inclassificável, semelhante aos judeus no estado nazista.” [13] Nesse caso houve uma visível perseguição por razões não esclarecidas totalmente feita sob a máscara de um eminente perigo à vida do estado americano.

Não podemos, no entanto, limitar os exemplos apenas aos de origem nefasta. Há também outros exemplos a serem observados, como o caso citado por Chaim Perelman, em que a Bélgica em estado de guerra teve o parlamento dissolvido e por isso passou todo o poder concentrado para o soberano, que nessa situação foi o rei da Bélgica. O estado de necessidade se mostrou iminente e o soberano concentrou o poder político para que a ordem não fosse por total perdida.

O estado de exceção não nasce de uma vontade soberana como muitos pensam, ou pelo menos não deveria nascer. Lembrando o primeiro instituto de exceção que foi o posto de ditador romano logo chegamos à visão que a necessidade é quem faz um estado de exceção e por conseqüência um soberano que comandará sob esse estado de exceção. Durante o século XX muitos foram os exemplos do contrário, em que um soberano com um certo apresso de camadas seletas em um país ou com carisma populista usou de seu cargo para gerar uma falsa necessidade e então instaurar um estado de exceção. O motivo que levou o homem a deixar a desorganização para trás, para daí então partir em busca de uma civilização adequada a um bom convívio entre todos foi certamente a necessidade de tudo isso. A mortandade gerada por um convívio sem diretrizes a serem seguidas é demasiada, sendo que o método empregado será sempre a exibição e sobrevivência do mais forte, portanto foi a necessidade de um convívio regulador de condutas quem fez o homem criar um corpo fictício onde todos os cidadãos integram e participam do funcionamento desse corpo, tal como células em um corpo biológico.

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Sendo que a necessidade é quem criou o Estado, somente ela é quem pode ocasionar um afastamento do Estado para que o corpo seja curado de uma eventual doença que o aflige. Os totalitarismos modernos ao tentarem criar doenças no estado, como faz um hipocondríaco, só trouxeram mais desorganização e insegurança para os seus cidadãos. Por conseqüência em todos esses movimentos dados a invocar um estado de exceção só trouxeram ao mundo a desconfiança sobre essa teoria como também a desconfiança sobre os papéis do cidadão e principalmente da justiça dentro do estado de exceção. O cidadão dentro do estado de exceção se comportará como o homo sacer, mas como de fato ficará a justiça? Sendo a vida do cidadão transformada em vida nua, pode algo o proteger do poder soberano?

5. O LUGAR DA JUSTIÇA NO ESTADO DE EXCEÇÃO.

Esses questionamentos são recorrentes ao estudar esse tema. Para finalmente entender qual é o papel da justiça no estado de exceção é bom lembrar o papel da justiça no estado civil. Como já foi mencionado no estado civil, em que os cidadãos constituem um estado na busca de organização e justiça esse último conceito nunca é de fato alcançado. A justiça que é uma idéia onde alguns preceitos são aceitáveis para todos ou pelo menos para a maioria dos cidadãos, englobando preceitos morais, religiosos, culturais entre tantos outros. É praticamente impossível se imaginar um estado em que a justiça seja plena para todos. Porém, não nos é difícil visualizar um estado onde a justiça seja buscada de todas as formas cabíveis, e onde as normas e o sistema usem de toda a sua capacidade para alcançar o ideal de justiça por tantos imaginado. Essa “quase justiça” é o que nos convence de viver em um estado civil, onde sabemos que não há a plenitude de justiça, mas nos confortamos ao saber que é um estado onde a busca incessante de justiça é empenhada, ou pelo menos deveria ser. Ao nascer uma necessidade e então um estado de exceção com um soberano, o direito é afastado por um tempo visando controlar mais aproximadamente o poder do soberano. Ou seja, o direito que era usado como um importante mecanismo para a viabilização da justiça é de repente afastado o que nos faz perceber que a justiça também será enfraquecida. Retomando que o soberano não encontra bloqueios para as suas decisões e que para eles todos se comportam como homens nus, a justiça nesse caso se limita a decisão do soberano, e sendo que a justiça para um único homem não pode ser considerada justiça, percebe-se a extinção da justiça no estado de exceção. Não devemos imaginar o afastamento do direito juntamente da justiça como a vinda do caos. Na verdade se observado o estado de exceção veremos que já que a necessidade o causou não temos todos os sistemas e sustentações para uma aplicação da justiça. O estado se encontra fragilizado e qualquer atentado contra este é de sumária importância. É como se as proporções fossem devidamente aumentadas no estado de exceção. Enquanto no estado civil, uma investida de um cidadão contra o estado tem proporções pequenas, por suposto que a pena empregada pelo estado não deve ser grande. No entanto, no estado de exceção onde qualquer investida de um cidadão contra o estado tem grandes proporções, obviamente a pena empregada será drástica. Sendo assim, a justiça, tal como o direito, não existem no estado de exceção, ou melhor dizendo, existem mas são afastadas de tal forma que não venham a surtir efeito. As decisões do soberano tomam forma de direito, restando ao súdito acatar sem questionar o grau de justiça empregado,

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até porque qualquer questionamento pode ter uma resposta desagradável. O direito e a justiça não foram afastados apenas pela vontade do soberano – isso deve ser lembrado –, foram afastados para que não atravancassem o caminho do soberano que deve ser sempre a busca de reorganização e estabilização de um estado civil.

Com tudo que foi anteriormente explicitado fica mais fácil fazer uma observação analítica de como se comporta tanto a justiça no estado de exceção, não só teoricamente, mas também na prática. Essa análise será possível ser feita se visualizarmos o cidadão que se encontra participando e vivendo no estado civil e repentinamente se vê imerso no estado de exceção. É sobre esse prisma que a justiça no estado de exceção deve ser analisada, até porque o parâmetro de justiça no estado civil é o que – por extensão – será empregado no estado de exceção.

Portanto, ao pontuar se há ou não justiça no estado de exceção, e se o cidadão será de alguma forma protegido por essa possível justiça é preciso ver como a mesma situação se daria no estado civil. Ou seja, no estado civil o cidadão requer do estado proteção baseado no pressuposto que o contrato social faz com que esse cidadão se enquadre nas regras sociais em troca de proteção contra algo que fuja dessas regras sociais. Em uma metáfora; o cidadão aprende as regras do jogo e pede ao juiz para que esse o defenda dentro das regras do jogo. No entanto, o juiz só pode fazer o que lhe é possível, e devido a essa chance de falha é que dizemos que no estado civil há uma “quase-justiça”. O estado busca aprimorar as regras do jogo, bem como proteger aos que jogam, mas sempre é passível de falha, até porque é um sistema criado e aplicado por humanos.

No estado de exceção, em contrapartida, aquele cidadão que buscava se enquadrar nas regras do jogo vê as regras suspensas não em detrimento dos jogadores, mas em detrimento do próprio jogo. Ou seja, a suspensão da justiça no estado de exceção surte efeitos para o cidadão, mas não é feito em detrimento do cidadão. A justiça, que era um dos principais motivos pelo qual os cidadãos aceitavam o contrato social, é afastada buscando manter a existência desse contrato social. Pode se dizer que não há, factualmente, uma justiça aplicada no estado de exceção, há por outro lado, a intenção de justiça. Destarte, a justiça não deixa de existir como conceito, ela é apenas afastada como prática, por um determinado período de tempo. É essa característica que diferencia o estado de exceção do estado de natureza. Enquanto no estado de natureza a justiça social nem ao menos é conceituada, no estado de exceção ela é só conceituada, para depois de sanada o problema que transformou o estado civil em estado de exceção, essa justiça possa voltar a ser conceito e prática, já então em um estado civil.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Por fim, é importante salientar de todo o quanto o estado de exceção nos é atual, ainda mais por todo o histórico triste, porém presente, do século XX, com seus governos de separação étnica. A justiça entra como sub-tema pertinente dentro do estado de exceção, já que vislumbrando o acontecido recentemente nos EUA podemos ter uma pequena perspectiva de como um estado organizado pode no comando de pessoas perversas e

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descontroladas desempenhar uma verdadeira caçada a semelhantes, por pura ideologia cultural.

Tentamos através desse texto mostrar o estado de exceção através de seus agentes, no caso o soberano e o homo sacer, demonstrando o papel de cada qual, para só então percebermos o quão diferenciada é a teoria, da deturpação que foi feita invocando o seu nome, através de um forjado estado de necessidade.

Importante lembrar o caminho correto para a instauração de um estado de exceção, donde é antes preciso existir um estado civil, para só então surgir uma eventual necessidade que fragilizará o estado a ponto de erguer um soberano capaz de solucionar o problema visando o retorno ao estado civil antes existente. Caminhos onde um soberano gera um estado de exceção para tomar atitudes sob forma de lei não passam de uma mentira fétida que busca sustentação em uma teoria secular, já que nos é conhecido o instituto romano da ditadura.

Quanto à justiça que era no fundo o nosso tema de pesquisa dentro do estado de exceção, uma coisa ficou claramente demarcada. Não pode se encontrar uma justiça dentro do estado de exceção, porém não é porque ela não existe na prática que a justiça é simplesmente descartada a ponto de ser ignorada tal como imaginam poder se fazer com o direito. A justiça juntamente com o direito foram afastados, mas é de responsabilidade do soberano que governa o estado de exceção a busca pela reorganização civil, com óbvia revitalização do direito e por conseqüência da justiça. Sendo assim, a justiça de fato não é exercida no estado de exceção, mas pelo fato de o objetivo do estado de exceção ser sanar a necessidade em busca da volta do estado civil em nenhum momento a justiça deixou de existir, evidentemente, foi apenas ligeiramente afastada, para posteriormente voltar ao estado com toda sua plenitude. Aos soberanos que se esconderam no estado de exceção, resta a marca histórica de facínoras e tiranos, mas visando com clareza essa teoria podemos tentar evitar a criação de novos estados homicidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Editora Boitempo, 2004.

_____. Homo sacer – o poder do soberano e a vida nua. Editora UFMG, 2004

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo, Abril Cultural, 1973. (col. Os pensadores)

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HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo, Abril Cultural, 1974. (col. Os pensadores)

PERELMAN, Chaim. Lógica Jurídica. Editora Martins Fontes, 2004.

SCHMITT, Carl. Teologia Política. Trad. Elisete Antoniuk. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2006.

_____. La Dictadura – desde los comienzos del pensamiento moderno de la soberanía hasta la lucha de clases proletária. Editora Alianza, 2007.

[1] SCHMITT, Carl, Teologia Política, pg. 7.

[2] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder soberano e a vida nua, pg. 23.

[3] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua. Pg. 91.

[4] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua. Pg. 92.

[5] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua.Pg. 155.

[6] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua, pg. 25.

[7] SCHMITT, Carl, Teologia Política, pg. 11.

[8] SCHMITT, Carl, Teologia Política, pg. 13.

[9] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua, pg. 72

[10] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua, pg. 38

[11] AGAMBEN, Giorgio, Homo Sacer – o poder do soberano e a vida nua, pg. 60

[12] AGAMBEN, Giorgio, Estado de exceção, § 1.2

[13]AGAMBEN, Giorgio, Estado de exceção. § 1.3

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