o lúdico no processo ensino/aprendizagem da oralidade

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DEPARTAMENTO EPARTAMENTO DE DE C CIÊNCIAS IÊNCIAS S SOCIAIS OCIAIS E H HUMANAS UMANAS Diniz dos Anjos Lopes O Lúdico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Língua Portuguesa no Tronco Comum: O caso da Escola Amor de Deus LICENCIATURA ICENCIATURA EM EM E ESTUDOS STUDOS C CABO ABO-V -VERDIANOS ERDIANOS E P PORTUGUESES ORTUGUESES Universidade de Cabo Verde Setembro de 2010

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Trabalho científico que aborda a temática do Lúdico e o seu impacto no ensino e aprendizagem do modo oral em Língua Portuguesa.

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  • DDEPARTAMENTOEPARTAMENTO DEDE C CINCIASINCIAS S SOCIAISOCIAIS EE H HUMANASUMANAS

    Diniz dos Anjos Lopes

    O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral

    da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: O caso da Escola

    Amor de Deus

    LLICENCIATURAICENCIATURA EMEM E ESTUDOSSTUDOS C CABOABO-V-VERDIANOSERDIANOS EE P PORTUGUESESORTUGUESES

    Universidade de Cabo Verde

    Setembro de 2010

  • Diniz dos Anjos Lopes

    Tema:

    O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral

    da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: O caso da Escola

    Amor de Deus

    Trabalho Cientifico na Universidade de Cabo Verde para a obteno do Grau de Licenciatura em

    Estudos Cabo-verdianos e Portugueses, realizado sob a orientao da Dr. Goreti Freire

  • O jri

    _________________________________________

    _________________________________________

    _________________________________________

  • Dedicatria

    Em memria daquela que me tornouser e que precisou partir mais cedopar a p lan ta r am or nou t r asparagens... bem-haja Magna!!!

    ii

  • Agradecimento

    Este o momento para deixar o meu agradecimento queles que de qualquer

    forma contriburam para que este trabalho seja uma realidade.

    Deixo aqui a minha gratido QUELE que me deu o dom da vida, a fora e

    coragem necessrios, e me tem acompanhado durante a minha vida e que hoje esteja

    nesta paragem. A ELE toda a minha gratido!

    minha orientadora Dr. Goreti Freire, pelo apoio e tempo e pacincia

    dispensados na minha orientao. A ela o meu sincero reconhecimento.

    minha famlia, especialmente aos meus tios, Carlitos, Mateus, Padre Egdio,

    Filipe Carlos, que nos momentos mais difceis deste trabalho estiveram sempre do meu

    lado com as palavras mais encorajadoras possveis, dando fora, amor, carinho, aos

    meus avs, Alzira e Alberto, ao Pai Diniz e aos meus irmos Magui, Ana, Eliseu, Nely,

    Nen, Sofia, Audlia, Dilza, Suely, Denilson e Zemilson.

    minha namorada Vnia e aos meus amigos de caminhada, Alex, Nando e

    Henrique, que foram os meus irmos nos momentos em que precisava deles. A eles um

    agradecimento especial.

    A todos aqueles que de forma directa ou indirecta, contriburam para que este

    trabalho esteja concludos, a minha profunda gratido

    iii

  • N D I C E

    FUNDAMENTAO TERICAFUNDAMENTAO TERICA

    Conceitos e Concepes

    Ldico

    Jogo

    Brincadeira

    Brinquedo

    Ensino-Aprendizagem

    Oralidade

    O Ldico e o Desenvolvimento Humano

    Aspectos Gerais

    A nvel cognitivo e intelectual

    A nvel sociocultural

    A nvel fsico e psicolgico

    O Ldico no Processo de ensino e aprendizagem

    O Ldico no Processo de Ensino e Aprendizagem da Lngua Portuguesa

    O ldico na aula de oralidade de Lngua Portuguesa

    DA TEORIA PRTICA

    Caracterizao da Escola Amor de Deus

    Localizao

    A Estrutura do Espao Fsico

    Objectivos educacionais

    Natureza da escola

    rgos da Gesto Pedaggica e Administrativa

    Directora

    Conselho Directivo

    Subdirector Pedaggico

    Subdirector Administrativo e Financeiro

    Subdirector para Assuntos Sociais e Comunitrios

    Conselho Pedaggico

    Conselho de Disciplina

    Equipa Pastoral

    iv

  • Coordenador da Pastoral

    Anlise dos Materiais didcticos

    Anlise do Programa da Lngua Portuguesa do 1 Ciclo

    Anlise do Manual de Lngua Portuguesa do 1 Ciclo

    Anlise dos dados estatsticos

    Anlise dos dados dos alunos

    Anlise dos dados dos professores

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Interesse dos alunos pelas actividades em funo da idade............................67

    Tabela 2- Relao entre repetncia e interesse pelas actividades....................................68

    Tabela 3 - Relao entre repetncia e idade.................................................................... 69

    Tabela 4 -Relao entre repetncia, ano de escolaridade e idade....................................69

    v

  • ndice de Grficos

    Grfico 1 - Distribuio dos questionrios por turmas....................................................48

    Grfico 2 - Distribuio dos questionrios por faixa etria.............................................49

    Grfico 3 - Distribuio do questionrio por sexo.......................................................... 50

    Grfico 4 - Repetncia dos alunos inquiridos..................................................................50

    Grfico 5 - Repetncia por ano de escolaridade..............................................................51

    Grfico 6 - Implicao da Lngua Portuguesa na reprovao.........................................52

    Grfico 7 - Razes que motivaram reprovaes..............................................................52

    Grfico 8 - Conhecimento do significado do ldico.......................................................53

    Grfico 9 - Utilizao das actividades ldica pelo professor..........................................54

    Grfico 10 - Orientaes para actividades de escuta activa............................................54

    Grfico 11 - Momentos de aula em que o professor utiliza actividades ldicas.............55

    Grfico 12 Interesse pelas actividades desenvolvidas nas aulas..................................56

    Grfico 13 - Importncia das actividades ldicas na aula de Lngua Portuguesa...........59

    Grfico 14 - Habilitaes acadmicas dos professores................................................... 61

    Grfico 15 - Mtodo pedaggico utilizado nas aulas...................................................... 62

    Grfico 16 - Grau de satisfao dos professores com as actividades do programa.........63

    Grfico 17 - Competncias desenvolvidas com as actividades ldicas...........................64

    vi

  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    INTRODUO

    O ensino da lngua portuguesa no ensino secundrio tem evidenciado um grau de

    dificuldade acima da mdia em relao s outras lnguas inglesa e francesa - ensinadas

    no mesmo nvel escolar. Observaes feitas junto das escolas e estudos realizados pelo

    Ministrio da Educao permitem afirmar que os Baixos resultados patentes nesta

    disciplina, em todos os nveis, o grau de proficincia na utilizao da lngua portuguesa

    dos alunos quem do perfil de sada traado nos programas fundamentam os

    constrangimentos do sucesso do ensino da nossa lngua oficial no ensino secundrio.

    Pois o Plano de Estudo para o Ensino Secundrio (1996) salienta que a Lngua da que o

    seu ensino requer uma metodologia diferente. Assim sugere-se a utilizao de mtodos

    ldicos que permitam o desenvolvimento, na sala de aula, trabalhos interessantes que

    facilitam no processo de ensino e aprendizagem da L2, como o caso da Lngua

    Portuguesa em Cabo Verde.As razes pelas quais se optou para abordagem desta temtica tm a ver, por um

    lado, com os motivos anunciados no pargrafo anterior, visto que o professor o grande

    responsvel pela melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, e cabe-lhe

    a tarefa de desenvolver novas prticas didcticas e pedaggicas que permitam aos

    discentes uma maior e melhor aprendizagem. O facto de o modo oral do ensino da lngua portuguesa ser a vertente da lngua

    portuguesa menos trabalhada nas escolas em Cabo Verde e aquela que os alunos

    mostram mais averso e existncia de uma gama de razes para que os nossos alunos

    no participem nas actividades orais na sala de aula, nomeadamente, o medo de errar

    nas pronncias e a m dico a timidez o bloqueio e a falta de prtica em situaes

    concretas de comunicao, dificultam o sucesso dos alunos. Estes factores causam nos

    alunos algum desconforto emocional, principalmente quando a avaliao for oral. Tendo em conta as razes supra citadas, esta investigao tenta-se dar resposta

    seguinte questo: as actividades ldicas ajudam no processo de ensino-aprendizagem do

    modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum na Escola Secundria Amor de

    Deus? A resposta para esta questo, particularmente pode, hipoteticamente ser, a

    seguinte: as actividades ldicas ajudam no processo de ensino-aprendizagem da Lngua

    Portuguesa no Tronco Comum na Escola Amor de Deus, sob as seguintes condies: se

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    estas actividades forem celebradas no programa e no manual; caso sejam bem aplicados

    pelos professores e bem compreendidos pelos alunos e no caso de despertarem

    interesses nos alunos em particular.Para tal, esta investigao tem como principal propsito colaborar para a

    melhoria da prtica pedaggica dos professores da Lngua Portuguesa na modalidadeMas outros fins fizeram nortear o desenvolvimento desta temtica como, saber

    se as actividades ldicas ajudam no processo de ensino-aprendizagem do modo oral da

    Lngua Portuguesa no Tronco comum e de que forma, analisar o programa da disciplina

    de Lngua Portuguesa do 1 Ciclo de Ensino Secundrio, tendo em vista a existncia ou

    no de actividades ldicas que facilitem o processo de ensino-aprendizagem da

    modalidade oral da Lngua Portuguesa, saber se os professores utilizam as actividades

    ldicas como um recurso que ajude no processo de ensino e aprendizagem da

    modalidade oral, analisar a percepo dos professores e dos alunos quanto existncia,

    utilizao e pertinncia das actividades ldicas nas aulas dedicadas oralidade.A construo da problemtica em discusso foi suportada por uma metodologia

    qualitativa e quantitativa, que muito comum para este tipo de estudo. Optmos por

    metodologias qualitativas e quantitativas para podermos fazer a anlise dos contedos

    do programa e do manual, e por ser a metodologia que melhor se adapta abordagem

    adoptada nesta investigao.J a utilizao da abordagem quantitativa, justifica-se por ser uma abordagem

    que possibilita a recolha de dados em menos tempo, sem a necessidade de estar em

    permanente contacto com a escola, os alunos e os professores para recolher os dados

    necessrio para a nossa anlise sobre as convices dos alunos e dos professores do

    Tronco Comum quanto existncia, utilizao, grau de satisfao e resultados das

    actividades ldicas nas aulas de Lngua Portuguesa. Para a sua efectivao utilizou-se

    como instrumento o questionrio1 com perguntas semi-abertas. Este foi aplicado

    pessoalmente a 32 alunos, de ambos os sexos, com idade compreendida entre 12 e 16

    anos, correspondente a 10% dos alunos do Tronco Comum da Escola Amor de Deus. Destes questionrios 50% foram aplicados aos alunos do 7 ano e outros tantos

    aos do 8 ano, distribudos por cinco turmas de cada ano, cabendo a cada turma, uma

    mdia de 10% cada, referente a 3 questionrios por turma, cabendo apenas a uma turma

    de cada ano 4 questionrios.

    1 Cf. em anexo

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    Ainda foram aplicados questionrios aos 4 professores de Lngua Portuguesa

    que leccionam no Tronco Comum na Escola Amor de Deus, distribudos pelas 10

    turmas do 1 Ciclo, sendo 2 do sexo masculino e 2 do sexo feminino.Para o tratamento estatstico dos dados recolhidos junto dos alunos e dos

    professores utilizou-se o software esttico SPSS e posteriormente o Excel.Este trabalho encontra-se estruturado em duas grandes partes: A primeira parte,

    intitulada de Fundamentao terica e a segunda parte, intitulada de Da teoria

    Prtica. A primeira parte comporta todo aparato terico que suporta a parte prtica do

    trabalho. Assim sendo d a conhecer as definies e as concepes sobre o Ldico, o

    jogo, a brincadeira, o brinquedo, ensino-aprendizagem e oralidade. Alm deste sub-

    tpico contempla ainda outros como o Ldico e do desenvolvimento o Humano, a

    relao do ldico com o processo de ensino-aprendizagem e esta com o ensino-

    aprendizagem da Lngua Portuguesa, bem como a implicao do Ldico na aula de

    oralidade.J a segunda parte, contempla a caracterizao da Escola Amor de Deus, a

    anlise do Programa, do manual e a anlise e interpretao dos dados estatsticos

    recolhidos junto dos professores e dos alunos.

    I.I. FUNDAMENTAO TERICA FUNDAMENTAO TERICA

    1.1. Conceitos e Concepes

    1.1.1. Ldico2

    O ldico conceito que serve de ncora para o trabalho que ora se desenvolve.

    Alguns autores j debruaram sobre este assunto, as definies so vrias e de cariz

    diferente.Segundo TEIXEIRA (1995), o termo ldico foi utilizado h milhares de anos

    antes de Cristo, por educadores na Grcia Antiga e continua a ser defendido, com mais

    vigor nos nossos dias. Na Grcia, Plato j defendia que os primeiros anos da infncia

    2 Ldico: Termo abrangente que engloba jogos, brincadeiras e brinquedos, seminteno educativa. Neste mbito tratado como uma actividade espontnea causadora deeduo involuntria.

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    deveriam ser ocupados com jogos educativos praticados por ambos os sexos. J para os

    Egpcios, Romanos e Maias, os jogos ldicos eram tidos como o meio de passar o

    conhecimento, valores e padres de vida social aos jovens aprendizes. A sua utilizao

    vem desde h muito tempo, por povos de diversas civilizaes, cada qual com o seu

    propsito, mas sobre tudo com os propsitos educativo e de transmisso de valores

    moais e ticos. Para reforar esta ideia, a obra Didctica Magna de Comenius, publicada em

    1632, onde ele apresentou a sua concepo de educao (...) prega a utilizao do

    mtodo de acordo com a natureza, e recomendava a prtica de jogos ldicos, devido ao

    seu valor formativo (TEIXEIRA, 1995:39). Neste sentido, trs ideias se tornaram a

    base da nova didctica: naturalidade, intuio e auto-actividade.Isto , a utilizao de actividades ldicas tm um grande poder formativo. O seu

    poder contribui para a definio das bases didcticas, defendidas por Comenius. A

    ludicidade um mtodo eficiente que permite um processo de ensino-aprendizagem

    natural, intuitivo, onde o aluno aprende com actividades por ele criadas e desenvolvidas.ROUSSEAU (1968) apud BITTENCOURT e FERREIRA (2002), tambm da

    opinio que, s se aprende atravs de uma conduta activa; s se aprende a pensar,

    exercitando os sentidos com jogos ldicos. O mesmo autor defende a posio que

    PESTALOZZI j concebia o ldico como um factor decisivo que enriquece o senso de

    responsabilidade e fortifica as normas de cooperao e de construo de conhecimentos.A actividade ldica vista como um factor preponderante para a exercitao da

    mente e da criao do juzo de responsabilidade, factores preponderantes para a criao

    de um esprito cooperativo e solidrio, capazes de fomentar a autoformao.Outro terico que debruou bastante sobre a questo do ldico foi PIAGET

    (1987). de opinio que os jogos no so apenas uma forma de alvio ou divertimento

    para gastar energia, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento

    intelectual. Alm de proporcionar o divertimento e aliviar as tenses, ele composto de

    uma forte componente formativa e construtiva de uma mente saudvel e brilhante.Uma questo que se coloca at os nossos tempos, tem a ver com a definio do

    seu conceito, uma tarefa no muito fcil de ser cumprida. Vrios autores j debruaram

    sobre o assunto e cada um tem uma viso diferente, mas o certo que todos tm um

    aspecto convergente: um termo que se encontra relacionado com jogos, brinquedos,

    brincadeiras e o seu carcter espontneo e divertido. H quem defende que o ldico

    uma atividade ou ocupao voluntria, exercida dentro de certos edeterminados limites de tempo e espao, segundo regras livrementeconsentidas, mas absolutamente obrigatrias, dentro de um fim em si mesmo,

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    acompanhado de um sentimento de tenso e alegria e de uma conscincia deser diferente da vida cotidiana. (HUIZINGA, 1971: 13)

    Nesta acepo, pode-se afirmar que a componente voluntria do ldico,

    associada a certas limitaes que lhe so inerentes, o tempo o espao e as regras livres,

    criam nele uma certa excitao e d-lhe a vivacidade e o prazer. Estes ltimos, so a

    parte mais importante, pois deferem-nas das actividades comuns do dia-a-dia.Na mesma ptica, o ldico so actividades que, por si s, assemelham-se s

    actividades srias, como a limitao do tempo e de espao, a capacidade do

    participante de forma intensa e espontnea e a existncia de regras, que muitas vezes

    pode se confundido com jogos, sustenta (RIZZI, 1997:12).Esta perspectiva confirma a anterior, com a questo da delimitao espcio-

    temporal, a existncia de regras e a sua espontaneidade. O estabelecimento de regras,

    como afirma o autor, faz com que o confundamos com jogos, que o aspecto que se

    comea a desenvolver em seguida.J na sua etimologia, o ldico tem a sua origem na palavra latina " ludus", que

    quer dizer "jogo + suf. -ico. Que tem relao com o jogo enquanto elemento do

    comportamento humano, que distrai e diverte. (Dicionrio da Academia das Cincias

    de Lisboa, 2001:2306).

    1.1.1.2. Jogo

    O termo jogo confunde-se, muitas vezes, com o que acabamos de falar no

    ponto anterior; ldico. So dois termos diferentes que se assemelham em alguns

    aspectos, mas h outros que os deferem, como veremos em seguida.Segundo JULIA (1996), o jogo uma entidade sem definio. O ser que joga

    est em busca do prazer, algo alm da buscas pela sobrevivncia. Por isso que o jogo

    no tem definio. Pois se para definir "o ser" j necessrio um empenho significativo,

    definir "a busca de prazer imaterial do ser" torna-se uma tarefa impossvel.A complexidade da sua definio ficou exposta na posio da autora. Pois, to

    difcil definir o jogo quanto definir o ser, que foi e continua a ser um conceito, ainda que

    ningum consegue definir com perfeio. So termos muito abstractos, que carecem de

    muita reflexo para poder chegar a um conceito aproximado. Nesta tentativa de encontrar uma definio para este termo, a autora admite que

    (...) definir o jogo no tarefa fcil. Quando se pronuncia a palavra jogo cadaum pode entend-la de modo diferente. Pode-se estar a falar de jogos polticos,de adultos, crianas, animais ou amarelinha, xadrez... Por exemplo, no faz-de-conta, h forte presena da situao imaginria; no jogo de xadrez, regraspadronizadas permitem a movimentao das peas. (KISHIMOTO,2000:13).

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    Pois, assim como o ldico, encontrar uma definio para o termo jogo um

    trabalho difcil, uma vez que levam a diversas leituras, conforma a situao em que o

    termo empregue, como se pode verificar na afirmao acima transcrita. Dependendo

    da situao em que o utilizarmos, estamos a referir a uma coisa com sentido

    completamente diferente da que utilizmos num outro contexto.A perspectiva construtivista da opinio que os jogos assumem um papel

    preponderante na formao e construo do indivduo desde a infncia at idade

    adulta. Assim o jogo constitui o plo extremo da assimilao da realidade no ego,

    tendo relao com a imaginao criativa que ser fonte de todo o pensamento e

    raciocnio posterior (PIAGET 1987:85),Porquanto, o jogo um elemento essencial para a realizao do EU.

    importante para que o indivduo assimile as condies a que est exposto e se auto

    realizar, reflectindo na sua forma de pensar e agir futuramente.Do ponto de vista desenvolvimentista o jogo visto como uma actividade

    ldica do ser socializado que comea a ser praticado por volta dos sete anos, quando a

    criana abandona o jogo egocntrico, em proveito de uma aplicao efectiva de regras e

    do esprito de cooperativo entre os jogadores. (PIAGET (1987) apud ALMEIDA,1994:23)

    Neste sentido o jogo entra, nas vrias actividades que engloba o Ldico. Assim

    s os indivduos que j so sociveis podem desempenh-las. Esta sociabilizao

    comea s depois dos sete anos. A partir desta altura a criana j deixou de ser

    egocntrico, passando a ver para o outro e j tem o esprito de solidariedade e de

    partilha. J pode utilizar as regras para brincar e desenvolver-se.Na perspectiva filosfica de SCHILLER apud KISHIMOTO (2000) o jogo

    considerado como vector de harmonia, entre a beleza e o equilbrio, tanto para o fsico

    quanto para o espiritual do homem, sendo concebido a partir da concepo de totalidade

    do homem quando joga e no como soma de elementos indissociveis. Assim, o jogo

    revela-se como princpio de unidade e tambm como princpio de legalidade e

    liberdade.A autora deixa entender que o jogo uma actividade que ajuda a manter

    equilibrado o corpo e a alma. Estes elementos so indissociveis, mostra a unidade

    existente entre o esprito e a matria. Pois, o jogo um conceito difcil de definir, que se caracteriza por ser uma

    actividade que causa divertimento, ludicidade e educao de forma espontnea dentro

    das regras e dos parmetros previamente definidos.

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    1.1.3. Brincadeira

    A brincadeira outro conceito que, muitas vezes, causa engano com o ldico,

    dada a vertente desta que se encontra presente na sua essncia.VYGOTSKY (1984:57), compreendeu a brincadeira, assim como qualquer outro

    comportamento humano como resultado de influncias sociais que a criana recebe ao

    longo do tempo. Vale a pena ressaltar que a brincadeira cria na criana uma Zona de

    Desenvolvimento Proximal (ZDP) e atravs dela que a criana obtm as suas maiores

    aquisies.A ideia do autor eixa sobressair que nenhuma brincadeira pode ser imposta ou

    ter o carcter obrigatrio, caso contrrio, seria qualquer outra actividade, menos

    brincadeira. Mesmo que queiramos que ela tenha efeito educativo, temos que faz-lo de

    forma mais espontnea possvel, como defende o autor acima mencionado e os

    seguintes.Outros autores, como BOMTEMPO (1987), versaram sobre o assunto e tm

    caracterizado a brincadeira como a actividade ou aco prpria da criana, voluntria,

    espontnea, delimitada no tempo e no espao, prazerosa, constituda por reforadores

    positivos intrnsecos, com um fim em si e tendo uma relao ntima com a criana. Nota-se que a actividade de brincar encontra-se intimamente ligada ao mundo da

    criana. caracterizada, assim como o jogo, pela sua espontaneidade e pelo prazer que

    desperta no ser, que lhe inerente.Estas perspectiva ainda defendida por KISHIMOTO, (1997). Ela tambm

    concorda que o acto de brincar importante e faz parte da infncia. Porm, adverte que

    em vrias ocasies, os adultos (pais ou professores) propem determinadas actividades

    para as crianas que parecem no cumprir os critrios acima discutidos, mas que so

    chamadas de brincadeiras pelos prprios adultos.Quem, ainda incidiu sobre esta matria BROUGRE. Ele de opinio que a

    brincadeira uma mutao do sentido, da realidade: as coisas tornam-se outras. um

    espao margem da vida comum, que obedece a regras criadas pela circunstncia .

    (Idem, 1997:99-100)A brincadeira permite imaginar, criar, fugir da realidade, atravs de actividades

    divertidas, criadas em determinadas circunstncias. este aspecto que causa o

    divertimento, que por conseguinte ajuda no desenvolvimento de capacidades fsicas,

    mentais e sociais.

    Pgina 7

  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    Neste sentido brincadeira permite, que compreendamos cdigos, por exemplo de

    uma criana que ainda no sabe falar e que quer brincar. Estas mutaes de sentidos

    que nos permitem compreender que a criana quer brincar naquela circunstncia.Segundo o dicionrio electrnico de Lngua Portuguesa, Houaiss, brincadeira

    so jogo, divertimento, que se encontram relacionados com as crianas; passatempo,

    distraco.Assim confirma-se que um termo que se encontra intimamente relacionada,

    muitas vezes, criando equvocos, com o ldico e com o jogo. Pois, estes termos

    aproximam-se em alguns aspectos.

    1.1.1.4. Brinquedo

    Compete-nos ainda esclarecer, neste ponto o conceito e as diferentes

    concepes sobre o termo brinquedo.O conceito de brinquedo pode ser muitas vezes confundidos com o de

    brincadeira, uma vez que ambos se relacionam. Pois, o brinquedo expressa qualquer

    objecto que serve de suporte para brincadeira livre ou fica atrelado ao ensino de

    contedos escolares. (KISHIMOTO, 1997:27).Referindo relao existente entre brincadeira e brinquedo, a autora

    defende que o brinquedo supe uma relao ntima com a criana e uma indeterminao

    quanto ao uso, ou seja, a ausncia de um sistema de regras que organizam sua

    utilizao.A autora defende que o brinquedo contm sempre uma referncia ao tempo de

    infncia do adulto com representaes vinculadas pela memria e imaginaes. O

    vocbulo brinquedo no pode ser reduzido pluralidade de sentidos do jogo, pois

    conota a criana e tem uma dimenso material, cultural e tcnica. Enquanto objecto,

    sempre suporte de brincadeira.Brinquedo e brincadeira so dois termos que esto praticamente indissociveis.

    Portanto, o brinquedo s passa a ter utilidade quando utilizado para alguma brincadeira

    e algumas brincadeiras, por sua vez esto acarretados a brinquedos. Ou seja, em

    algumas circunstncias estes se misturam para acontecer a actividade de brincar e o

    divertimento que ambos acarretam. Da a existncia no brinquedo da componente

    ldica.Para reforara esta ideia WITTGENSTEIN (1999), filsofo da linguagem,

    acrescenta, os termos "jogo, brinquedo e brincadeira" aproximam-se em certos

    Pgina 8

  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    momentos e afastam-se noutros, apresentando, por um lado, as semelhanas que se

    misturam e se confundem e, por outro, diferenas bastante ntidas. Na perspectiva do desenvolvimento, o brinquedo apresenta-se como a

    oportunidade de desenvolvimento. A brincar, a criana experimenta, descobre, inventa,

    aprende e confere habilidades, alm de estimular a curiosidade, a autoconfiana e a

    autonomia, proporcionam o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da

    concentrao e da ateno, advoga KISHIMOTO (2000).Enfim, para a autora o brinquedo importa o imaginrio para a realidade infantil.

    Suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela fora dos adultos, diminuindo o

    sentimento de impotncia da criana. Brincando, a sua inteligncia e sua sensibilidade

    esto a desenvolver-se. A qualidade de oportunidade que so oferecidas criana

    atravs de brincadeiras e de brinquedos garante que as suas potencialidades e a sua

    afectividade se harmonizem, para o seu desenvolvimento integral (fsico e psicolgico e

    social).

    1.1.3.5. Ensino-Aprendizagem3

    Importa-nos, ainda durante a construo deste trabalho esclarecer o conceito de

    Ensino-Aprendizagem. So vrias as concepes sobre o processo de ensino-

    aprendizagem. Na viso socio-construtivista de VYGOTSKY, visto como um

    processo que se d na interaco entre professor - aluno, aluno - aluno e destes com o

    mundo VYGOTSKY (1994:37-38). Isto , ele comporta aces interactivas em que o

    sujeito que o compe alunos, professore e o mundo exterior se interagem com o

    intuito de construir o conhecimento integrado. O mesmo autor defende que entre o ensino e aprendizagem existe um

    intercmbio activo e recproco em que o ensino impulsiona a aprendizagem. Por isso,

    legitimamos a importncia das amplas intervenes dos professores. Noutras palavras,

    acreditamos que responsabilidade do professor construir percursos e itinerrios para

    fazer o aluno aprender. o espao existente entre o ensino e a aprendizagem, onde

    acontece a interaco para a construo do sabe, que ele chama de ZDP, (Zona de

    Desenvolvimento Proximal). neste espao onde estes dois termos se unem pare se

    tornar num processo, deixando de ser duas entidades separadas.

    3 A nossa inteno no dar a definio de Ensino e de Aprendizagem, comoentidades separadas, mas sim como um processo.

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    Outra concepo foi defendida por CATAPAN (1996). Segundo este autor, um Conjunto de aces e estratgias que o sujeito/educando, consideradoindividual ou colectivamente, realiza, contando com a gesto facilitadora eorientadora do professor, para atingir os objectivos propostos pelo plano eformao, ou ainda constitui essencialmente o trabalho escolar, cujo produtoso os conhecimentos construdos, os conhecimentos dominados e ashabilidades adquiridas. (CATAPAN 1996:25).

    Todavia, assim como VYGOTSKY, CATAPAN tambm enfatiza o ensino-

    aprendizagem como um processo que engloba aces conjuntas de professores e alunos

    com o propsito de construir o conhecimento e adquirir habilidades que facilitam na

    resoluo dos problemas dirios e na satisfao das necessidades que surgem a cada

    instante.Em fim, tendo e considerao as acepes dos dois autores, estamos em

    condies de afirmar que a construo de conhecimento e a aquisio de habilidades

    para a resoluo de problemas e satisfao das necessidades quotidianas, dependem da

    forma como se inter-relacionam os intervenientes no processo de ensino-aprendizagem.

    A boa relao ente professor - aluno, aluno - aluno, professore - aluno - mundo exterior

    so aspectos fundamentais para o sucesso na construo e aquisio das referidas

    habilidades.

    .6.Oralidade

    O conceito de oralidade e as suas concepes, constituem outros aspectos que

    compem este trabalho. A forma como trabalhada na sala de aula e as dificuldades dos

    alunos em fazer o uso desta face da lngua um dos aspectos que fazem com se tenha a

    preocupao de se debruar sobre este aspecto para trabalhar.Segundo o dicionrio electrnico da Lngua Portuguesa Houaiss, a oralidade o

    carcter ou condio de lnguas ou povos grafos; parte oral ou uso falado de uma

    lngua. Ou seja, ela constitui na sua essncia a parte primordial da lngua, uma vez que

    a condio daqueles que no escrevem, s tm esta faceta da lngua para se

    comunicarem. Por outro lado, ela constitui a parte falada de qualquer lngua.O ensino desta vertente da lngua o aspecto que nesta parte nos interessa

    fundamentalmente. Assim a oralidade , talvez, a zona do ensino a aprendizagem da

    lngua materna. AMOR (2001:62). Em parte porque a forma de linguagem que

    primeiro se adquire e se domina, a que ocorre com mais naturalidade, a que permite

    maior espontaneidade e expressividade como suporte permanente da comunicao,

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    durante muito tempo. O oral no foi suficiente e rigorosamente estudado. As descries

    das lnguas, as gramticas, eram no essencial, da lngua escrita.A falta de estudos sobre esta modalidade lingustica dificulta formular qualquer

    afirmao sem ser rigorosamente observada e analisada a fim de poder tomar medidas a

    nvel metodolgicas para o seu ensino.Numa situao de oralidade necessrio compreender o essencial de uma

    informao e apreender o seu sentido de acordo com o contexto, com as intenes

    comunicativas, com o posicionamento do emissor e com as relaes entre os

    interlocutores. As condies de produo de um enunciado oral e dos interlocutores so

    importantes para que se determine correctamente o contedo, o sentido, o objectivo e a

    finalidade de qualquer mensagem.No que diz respeito sua prtica na sala de aula, a mesma autora advoga que a

    comunicao que se pratica na sala de aula caracterizada pelo seu artificialismo face

    as situaes de vida quotidiana (Idem:67). Normalmente na sala de aula, o professor

    usa a fala como estratgia de ensino aprendizagem, para definir o que constitui os

    conhecimentos a transmitir aos alunos atravs da exposio directa ou de questionrios.

    Por isso a actividade de falar ocupa pouco espao nas aulas, assim o aluno limita-se a

    dar as respostas as questes colocadas pelo professor, no h a preocupao em

    desenvolvem a capacidade comunicativa, que lhe permite falar para a resoluo de

    problemas do quotidiano que existem ou que venham a existir. Para colmatar esta lacuna GOMES et All (1991) da opinio que a lngua

    portuguesa deve ser ensinada com a metodologia de Lngua Segunda para que eles

    possam adquirir competncia comunicativa nesta lngua. Assim, segundo AMOR

    (1993), o professor deve perder o monoplio da palavra e orientar os alunos na sua

    descoberta de linguagem atravs de um mtodo activo. Pois ela afirma que (...) numa aula de Lngua Portuguesa, o professor fala incessantemente. Elefala trs ou quatro vezes mais que a totalidade dos alunos (...) monopoliza afala durante a aula (...) (AMOR, 1993: 68).

    Defende ainda que o professor deve aproveitar e valorizar a tendncia natural

    que os alunos possuem para a oralidade. A estimulao da expresso oral gera no aluno

    a desenvoltura, a segurana, a elevao da auto-estima, permite ao aluno exercer o seu

    direito de opinar, em fim, dar um estmulo para que ela adquira e desenvolva a

    capacidade de se expressar oralmente e de resolver os seus problemas do quotidiano.Um aspecto indissocivel do ensino da oralidade a escuta activa. Pois esta

    faculdade um processo voluntrio do qual o autor mobiliza a sua capacidade de

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    ateno, reactiva todos os seus conhecimentos e socializa as suas competncias

    auditivas e de compreenso. (AMOR, 2001:52).A escuta activa uma actividade que permite aos interlocutores aguar a audio

    para poderem se comunicar, ou seja, poderem interagir oralmente entre si. A sua

    utilidade na sala de aula passa pela ateno que desperta no aluno para que se possa

    estar presente na aula em constante interaco com o professor e com os colegas.Segundo GRICE (1969:69), Numa situao comunicativa qualquer falante

    estrutura o seu discurso como uma resposta quilo que lhe foi dado a ouvir. Assim

    sendo, as aulas de comunicao oral devem proporcionar ao aluno o desenvolvimento

    da capacidade de escuta. GOMES et All (1991) acrescentam que se deve proporcionar a

    escuta de textos orais sobre a vida real e nacional de forma a interiorizar as informaes,

    centradas na deteco e compreenso dos aspectos globais e parcelares da mensagem

    relacionadas com temas e outros contedos a tratar em outras reas disciplinares.AMOR (1993) defende que a escuta activa proporciona vrias modalidades de

    trabalho e que numa primeira dessas actividades a produo oral que consiste em levar

    os alunos atravs de actividades simuladas e ldicas a desenvolver a sua competncia de

    comunicao afastando-se gradualmente das frases modelos.

    1.1. O Ldico e o Desenvolvimento Humano

    Neste espao vai-se debruar sobre as perspectivas tericas que versam sobre a

    importncia da utilizao de actividades ldicas como meio para o desenvolvimento

    humano, tanto a nvel fsico, como psicolgico e social.

    1.2.1. Aspectos Gerais

    Nos seus aspectos gerais as actividades ldicas so oportunidades de

    desenvolvimento (SOUZA, s/d: 3)4 na medida em que, a brincar, a criana

    experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. As aces de brincar e

    jogar so indispensveis sade fsica, emocional e intelectual da criana. Contribuem,

    no futuro, para a eficincia e o equilbrio do adulto, defende SOUZA. Alm de estimular

    a curiosidade, a autoconfiana e a autonomia, essas actividades proporcionam o

    desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentrao e da ateno.

    4 SOUZA, M. R. S., A importncia do ldico no desenvolvimento da criana ,Disponvel em , 30/12/2009, 12:28.

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    Brincar um momento de auto-expresso e de auto-realizao. As actividades

    livres com blocos e peas de encaixe, as dramatizaes, a msica e as construes

    desenvolvem a criatividade, pois exige que a fantasia entre em jogo. A utilizao de

    actividades ldicas contribuem para o desenvolvimento das suas capacidades cognitivas

    e afectivas, defende PIAGET (1987).

    .2.A nvel cognitivo e intelectual

    Do ponto de vista cognitivo e intelectual, PIAGET (1987) defende a ludicidade

    como um factor bastante importante para a sade mental do ser humano. um espao

    que merece ateno dos pais e educadores. o espao para expresso mais genuna do

    ser, o espao e o direito de toda criana para o exerccio da relao afectiva com o

    mundo, com as pessoas e com os objectos."Brincar uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento daidentidade e da autonomia. (...) Nas brincadeiras as crianas podemdesenvolver algumas capacidades importantes, tais como a ateno, a imitao,a memria, a imaginao. Amadurecem, tambm, algumas capacidades desocializao, por meio da interao e da utilizao e experimentao de regrase papis sociais." (CRIA-SABINI e LUCENA, 2004:22).

    Nesta perspectiva verifica-se que as actividades de brincar, de jogar, os

    brinquedos, contribuem, e de que maneira, para desenvolves aspectos, sobretudo,

    cognitivo nas crianas, sem deixar de lado os aspectos sociais. Neste processo a criana

    desenvolve e socializa-se, atravs das regras, dos brinquedos e da imitao.

    .3.A nvel sociocultural

    Do ponto de vista sociocultural VIGOSTKY (1984) apud REGO (1995) revela a

    importncia de brincar como um meio, que aproxima a criana do mundo. Assim " (...) a

    brincadeira uma actividade humana qual as crianas so introduzidas constituindo-se

    num modo de assimilar e recriar a experincia sociocultural dos adultos" (REGO

    1995:14).As brincadeiras, os jogos, as actividades audiovisuais, constituem meios

    fundamentais para a criana desenvolver as suas capacidades sociais e culturais. Atravs

    dessas actividades as crianas aprendem a interagir e a se relacionar com outras pessoas

    e com outras realidades culturais.As actividades ldicas so necessidades que as crianas possuem, constituem

    formas de interagir com o meio social. Por meio da brincadeira a criana vai-se

    constituindo como sujeito, opina WAJSKOP (2007). Atravs de brincadeiras, jogos,

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    brinquedos a criana capaz de modificar a realidade e dar-lhe um novo sentido,

    desenvolvendo assim as suas capacidades intelectuais. Todavia, as coisas podem

    representar outras diferentes do que elas realmente so. Garantir esse espao criana

    necessrio a fim de que a mesma possa ampliar seus caminhos e o campo das

    descobertas.O processo de desenvolvimento humano complexo, como tal influenciado

    por diversos factores, um deles o meio, defende PIAGET (1975). Um dos meios que

    influenciam o espao escolar, onde se desenvolve as aces educativas e onde a

    criana d os seus primeiros passos para o seu desenvolvimento acadmico e intelectual.

    Este meio proporciona ao ser humano, alm do desenvolvimento intelectual, o fsico.

    Por isso, este espao deve ter condies que proporcionam o bom desenvolvimento dos

    que l esto. neste aspecto que se pode inserir a vertente ldica. Do ponto de vista da

    Pedagogia as actividades ldicas so vistas como uma oportunidade de desenvolver a

    inteligncia do ser humano em funo de futuras tarefas na ordem social, defende

    (SANTIN 1995:35).O ldico possibilita o estudo da relao da criana com o mundo externo,

    integrando estudos especficos sobre a importncia do ldico na formao da

    personalidade. Atravs da actividade ldica, a criana forma conceitos, selecciona

    ideias, estabelece relaes lgicas, integra percepes, faz estimativas compatveis com

    o crescimento fsico e desenvolvimento e, o que mais importante, socializa-se. H um

    desenvolvimento harmonioso entre o fsico, o psquico e o social.A convivncia de forma ldica e prazerosa com a aprendizagem proporciona

    criana o estabelecimento de relaes cognitivas s experincias vivenciadas, bem como

    relacion-la com as demais produes culturais e simblicas conforme procedimentos

    metodolgicos compatveis com essa prtica.

    .4.A nvel fsico e psicolgico

    Segundo VYGOTSKY apud, REGO (1995), a brincadeira, que faz parte do

    ldico, contribui para o desenvolvimento fsico e psicolgico. Desenvolve a

    imaginao, a capacidade de imitao e de construo de regra. Toda situao

    imaginria traz em si regras de comportamento, ao desempenhar papis sociais, como:

    vendedor, professor, mdico, no qual a criana atravs da imitao se esfora para se

    aproximar de tal papel. Esse esforo permite que a mesma actue em um nvel superior

    ao que se encontra.

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    O mesmo autor defende que ao brincar a criana v-se maior do que j , salta da

    zona de desenvolvimento real para o proximal, compreendem e resolvem problemas,

    levantam hipteses, vivenciam papis, confrontam opinies contrrias s suas,

    vivenciam conflitos, aprendem a cooperar, resolver, solucionar, compartilhar,

    compreender regras e criar outras.Hoje, pode-se afirmar que j foi superado parte do equvoco, de que o contedo

    imaginrio do brinquedo determinava a brincadeira da criana.A criana quer puxar alguma coisa, torna-se cavalo, quer brincar com areia etorna-se padeiro, quer esconder-se, torna-se ladro ou guarda e algunsinstrumentos do brincar arcaico desprezam toda a mscara imaginria (napoca, possivelmente vinculados a rituais): a bola, o arco, a roda de penas e opapagaio, autnticos brinquedos, tanto mais autnticos quanto menos oparecem ao adulto. (BENJAMIN 2002:76-77.)

    Para o autor, quando a criana brinca, alm de conjugar materiais heterogneos

    (pedra, areia, madeira e papel), ela faz construes sofisticadas da realidade e

    desenvolve seu potencial criativo, transforma a funo dos objectos para atender seus

    desejos. Assim, um pedao de madeira pode virar um cavalo; com areia, ela faz bolos,

    doces para sua festa de aniversrio imaginria e, ainda, cadeiras se transformam em

    carros, motos, em que ela tem a funo de condutor, imitando o adulto.A viso scio - construtivista, defendida por VYGOTSKY, v nas actividades de

    brincar, jogar e a utilizao dos objectos que servem de brinquedo, como meios que

    potencializam o desenvolvimento do ser. A brincadeira , assim, a realizao das

    tendncias que no podem ser imediatamente satisfeitas. Esses elementos da situao

    imaginria constituiro parte da atmosfera emocional do prprio brinquedo. Nesse

    sentido, a brincadeira representa o funcionamento da criana na Zona de

    Desenvolvimento Proximal (ZDP) e portanto, promove o desenvolvimento infantil,

    salienta VYGOTSKY (1998).O mesmo autor afirma que no possvel ignorar que a criana satisfaz algumas

    necessidades por meio da actividade do brincar. As pequenas tendem a satisfazer seus

    desejos imediatamente, e o intervalo entre desejar e realizar, de fato, bem curto. J as

    crianas entre dois e seis anos de idade so capazes de inmeros desejos, e muitos no

    podem ser realizados naquele momento, mas posteriormente por meio de brincadeiras.

    VYGOTSKY (1998) diz que,(...) se as necessidades no realizveis imediatamente, no se desenvolvessem

    durante os anos escolares, no existiriam os brinquedos, uma vez que eles parecem ser

    inventados justamente quando as crianas comeam experimentar tendncias

    irrealizveis. (VYGOTSKY 1998:106)

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    Os brinquedos so desenvolvidos para a satisfao das necessidades infantis,

    sobretudo, durante os seus primeiros anos de vida. Estes objectos, associados a algum

    significado (brincadeiras) torna-se um potencial de desenvolvimento das crianas nesta

    altura da vida. A partir desta fase, outros instrumentos e outras ocupaes tomam conta

    do desenvolvimento. Segundo PIAGET apud BARROS (s/d) o desenvolvimento da

    criana acontece atravs do ldico. Ela precisa brincar para crescer, precisa do jogo

    como forma de equilibrar-se com o mundo.A ludicidade, to importante para a sade mental do ser humano, por isso um

    espao que merece ateno dos pais e educadores, na mediada em que torna-se como

    espao de para expresso mais genuna do ser, o espao e o direito de toda a criana

    para o exerccio da relao afectiva com o mundo, com as pessoas e com os objectos.Um elemento essencial da actividade Ldica a brincadeira. O acto de brincar

    facilita o crescimento (WINNICOTT, 1975:36) e, como consequncia, promove o

    desenvolvimento. Uma criana que no brinca no se constitui de maneira saudvel, tem

    prejuzos no desenvolvimento motor e scio-afectivo. Possivelmente tornar-se- aptica

    diante de situaes que proporcionam o raciocnio lgico, a interaco, a ateno etc. Assim, Brincar parte integrante da vida social, afectiva, psicolgica e fsica

    que constitui um processo interpretativo com uma textura complexa, onde fazer

    realidade requer negociaes do significado, conduzidas pelo corpo e pela linguagem,

    advoga (FERREIRA 2004: 84). WALLON diz que atravs da imitao que a criana vive o processo de

    desenvolvimento que seguido por fases distintas, no entanto, a quantidade de

    actividades ldicas que proporcionaro o progresso, e diante do resultado, tem-se a

    impresso que a criana internalizou por completo a aprendizagem, mas, ela s

    comprova seu progresso atravs dos detalhes. No existe na criana um jogo natural,

    portanto (...) a brincadeira pressupe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar.

    (BROUGRE, 1989 apud WAJSKOP, 1999: 29). Portanto as actividades ldicas, em todas as suas componentes, (jogos,

    brincadeiras, brinquedos) so propcias para o desenvolvimento fsico, psicolgico e

    social do ser humano, sobretudo para as crianas, como pode-se notar nas diversas

    perspectivas acima apresentadas. Pois, torna-se como factor primordial do

    desenvolvimento das crianas, uma vez que s se pode falar num adulto bem

    desenvolvido se o seu desenvolvimento for saudvel e contnua, num ritmo ascendente e

    progressivo.

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    1.3O Ldico no Processo de ensino e aprendizagem

    O processo de ensino e aprendizagem muito complexo e exigente. Por isso,

    requer muita inovao e empenho de todos os que nele se envolvem para que se tenha

    um ensino de qualidade e a consequente aprendizagem significativa. Uma forma de conseguir a aprendizagem significativa centra-se na mudana de

    mtodos e estratgias de ensino. Uma das novas tcnicas que hoje pode ser utilizada o

    recurso s actividades ldicas (jogos, brinquedos e brincadeiras), como forma de

    estimular os alunos a aprender e os professores a ensinar.No que tange ao professor, deve-se levar em conta que tem grandes

    responsabilidades na renovao das prticas escolares e, consequentemente, na mudana

    que a sociedade espera da escola, na medida em que ele que faz surgir novas

    modalidades educativas visando novas finalidades de formao, s atingveis atravs

    dele prprio. Assim, o professor o responsvel pela melhoria da qualidade do processo

    de ensino e aprendizagem, cabendo a ele desenvolver novas prticas didcticas que

    permitam aos discentes uma maior aprendizagem. As actividades ldicas tm o poder sobre a criana de facilitar tanto o progresso

    de sua personalidade integral, como o progresso de cada uma de suas funes

    psicolgicas intelectuais e morais. Alm, a ludicidade no influencia apenas as crianas,

    ela tambm traz vrios benefcios aos adultos, os quais adoram aprender algo ao mesmo

    tempo em que se distraem. Desse modo, percebe-se o quo importante a ludicidade no contexto escolar,

    visto que ela proporciona uma maior interaco entre o estudante e o aprendizado,

    fazendo com que os contedos fiquem mais fceis aos olhos dos alunos, os quais ficam

    mais interessados em assistir a aula. Verifica-se, assim, que cabe ao professor usar novas metodologias para o

    ensinar, inserindo actividades ldicas no processo de ensino e aprendizagem.O ldico uma actividade que tem valor educacional intrnseco, mas alm desse

    valor, que lhe inerente, ela tem sido utilizada como recurso pedaggico. TEIXEIRA

    (1995) aponta vrias razes que levam os educadores a recorrer s actividades ldicas e

    a utiliz-las como um recurso no processo de ensino e aprendizagem. Vejamos:As atividades ldicas correspondem a um impulso natural do Homem, e neste sentido,satisfazem uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendncia ldica;O ldico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforo espontneo.

    Ele considerado prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivduo de forma

    intensa e total, criando um clima de entusiasmo. este aspecto de envolvimento

    emocional que o torna uma actividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um

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    estado de vibrao e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se

    desenrola, a ludicidade portadora de um interesse intrnseco, canalizando as energias

    no sentido de um esforo total para consecuo de seu objetivo. Portanto, as atividades

    ldicas so excitantes, mas tambm requerem um esforo voluntrio;As situaes ldicas mobilizam esquemas mentais. Sendo uma actividade fsica e

    mental, a ludicidade aciona e ativa as funes psico-neurolgicas e as operaes

    mentais, estimulando o pensamento;As atividades ldicas integram as vrias dimenses da personalidade: afetiva, motora e

    cognitiva. Como actividade fsica e mental que mobiliza as funes e operaes, a

    ludicidade movimenta a esfera motora e cognitiva, e medida que gera envolvimento

    emocional, apela para a esfera afetiva. Assim sendo, v-se que a actividade ldica se

    assemelha actividade artstica, como um elemento integrador dos vrios aspectos da

    personalidade. O ser que brinca e joga , tambm, o ser que age, sente, pensa, aprende e

    se desenvolve. (TEIXEIRA, 1995: 23). notrio a importncia de recorrer s actividades ldicas no ensino e

    aprendizagem, pois ele tem em si o valor educacional, o prazer e a espontaneidade, que

    so dois aspectos fundamentais que, segundo KISHIMOTO (2000), so duas

    caractersticas do ldico que, facilitam o aluno em aprender e o professor em ensinar.

    Facilita na mobilizao dos conhecimentos internalizados, alm de desenvolver

    capacidades intrinsecamente ligados aprendizagem, como o caso das capacidades

    fsicas, mentais e afectivas. Pois estes aspectos so fundamentais para que qualquer um

    tenha as condies de aprender.A ideia de unir o ldico educao difundiu-se, principalmente a partir do

    movimento da Escola Nova e da adopo dos chamados "mtodos activos". No entanto,

    esta ideia no to nova nem to recente quanto possa parecer. "Em 1632, Comenius

    terminou de escrever sua obra Didctica Magna, atravs da qual apresentou sua

    concepo de educao. Ele pregava a utilizao de um mtodo de acordo com a

    natureza e recomendava a prtica de jogos, devido ao seu valor formativo" (TEIXEIRA,

    1995: 39).Observa-se, pois, que alguns dos grandes educadores do passado j reconheciam

    a importncia das actividades ldicas no processo de ensino e aprendizagem. Brincando

    e jogando, a criana aplica seus esquemas mentais realidade que a cerca, aprendendo-a

    e assimilando-a. Brincando e jogando, a criana reproduz as suas vivncias,

    transformando o real de acordo com seus desejos e interesses. Por isso, pode-se afirmar

    que, por meio das actividades ldicas, a criana expressa, assimila e constri a sua

    realidade. Assim, possvel aprender qualquer disciplina atravs da ludicidade, a qual

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    pode auxiliar no ensino de lnguas, de matemtica, de estudos sociais, e de cincias,

    entre outras."A educao pela via da ludicidade prope-se a uma nova postura existencial,

    cujo paradigma um novo sistema de aprender brincando inspirado numa concepo de

    educao para alm da instruo", defende (SANTOS, 2001:53). Obviamente, um jogo

    ou uma tcnica recreativa nunca devem ser aplicados sem ter em vista um benefcio

    educativo. Nem todo jogo, portanto, pode ser visto como material pedaggico. Em geral, o elemento que separa um jogo pedaggico de um outro de carcter

    apenas ldico este: desenvolve-se o jogo pedaggico com a inteno explcita de

    provocar aprendizagem significativa, estimular a construo de novo conhecimento e

    principalmente despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatria, ou seja, o

    desenvolvimento de uma aptido ou capacidade cognitiva e apreciativa especfica que

    possibilita a compreenso e a interveno do indivduo nos fenmenos sociais e

    culturais e que o ajude a construir conexes. Os jogos devem ser utilizados como proposta pedaggica somente quando a

    programao possibilitar e quando puder constituir-se em auxlio eficiente ao alcance de

    um objectivo, dentro dessa programao. De uma certa forma, a elaborao do

    programa deve ser precedida do conhecimento dos jogos especficos, e na medida em

    que estes aparecerem na proposta pedaggica que devem ser aplicados, sempre com o

    esprito crtico para mant-los, alter-los, substitu-los por outros ao se perceber que

    ficaram distantes dos objectivos. Assim, o jogo no processo de ensino e aprendizagem s tem validade se for

    usado na hora certa, e essa hora determinada pelo seu carcter desafiador, pelo

    interesse do educando e pelo objectivo proposto, jamais deve ser introduzido antes que

    o educando revele maturidade para superar seu desafio, e nunca quando o educando

    revelar cansao pela actividade ou aborrecimento por seus resultados, portanto, "os

    jogos produzem uma excitao mental agradvel e exercem uma influncia altamente

    fortificante sobre os indivduos" (HUIZINGA apud ANTUNES, 1998:46).A utilizao de mtodos activos nos processos de ensino e aprendizagem, como

    as actividades ldicas, foi utilizado nas mais diversas reas do saber, nas cincias, na

    educao fsica, na matemtica, em fim, o que no ficou de fora foi o ensino das

    lnguas, nas suas mais diversas facetas. Assim sendo, " importante mencionar que lngua escrita como a aquisio de um sistema simblico

    de representao da realidade. Tambm contribui para esse processo o desenvolvimento

    dos gestos, dos desenhos e do brinquedo simblico, pois essas so tambm actividades

    de carcter representativo, isto , utilizam-se de signos para representar significados que

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    atravs de jogos e brincadeiras se tornam fceis em decifrar." (VYGOTSKY

    1994:101). Dessa forma, seja na aprendizagem da lngua materna ou da segunda lngua, as

    actividades ldicas estimulam o desenvolvimento da fala e da escrita, propiciando um

    ambiente de descontraco para os estudantes. Portanto a aprendizagem e o

    desenvolvimento esto estritamente relacionados, sendo que as crianas se inter-

    relacionam com o meio objetal e social, internalizando o conhecimento advindo de um

    processo de construo" conclui (VYGOTSKY, 1994:103),Em suma, "o jogo um factor didctico altamente importante; mais do que um

    passatempo, ele elemento indispensvel para o processo de ensino e aprendizagem.

    Educao pelo jogo deve, portanto, ser a preocupao bsica de todos os professores

    que tm inteno de motivar seus alunos ao aprendizado". TEIXEIRA (1995:49).No processo de ensino e aprendizagem as actividades ldicas ajudam a construir

    uma praxis emancipadora e integradora, ao tornarem-se um instrumento de

    aprendizagem que favorece a aquisio do conhecimento em perspectivas e dimenses

    que perpassam o desenvolvimento do educando. O ldico uma estratgia

    insubstituvel para ser usada como estmulo na construo do conhecimento humano e

    na progresso das diferentes habilidades operatrias, alm disso, uma importante

    ferramenta de progresso pessoal e de alcance de objectivos institucionais.

    1.4. O Ldico no Processo de Ensino e Aprendizagem da

    Lngua Portuguesa

    A Lngua Portuguesa uma das disciplinas nucleares do sistema educativo

    cabo-verdiano. Pois, ela ensinada desde o primeiro ano do ensino bsico at ao ltimo

    ano do ensino secundrio. Tambm notrio que a dificuldade no ensino e na

    aprendizagem da mesma tem vindo a aumentar com o tempo. Segundo o PEES (1996)5 (...) o deficiente domnio da Lngua Portuguesa e o insucesso escolar deledecorrente so consequncia da metodologia utilizada no ensino dessa lnguaem Cabo Verde. Efectivamente o portugus foi ministrado, at ao incio dageneralizao da Reforma do Ensino Bsico como se se tratasse da lnguamaterna. Privilegiou-se o estudo do funcionamento da lngua em si como uminstrumento lingustico previamente conhecimento e nessa linha os contedosgramaticais ocupam a maior parte dos programas do Ensino Secundrio

    A aquisio e o desenvolvimento de competncias com vista utilizao prtica da lngua, oral e escrita, pressupem a adopo de uma outra

    5 Plano de Estudo para o Ensino Secundrio

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    metodologia, prpria do ensino aprendizagem de uma Lngua Estrangeirainiciada no Ensino Bsico e retomada no Secundrio.

    Nesse sentido a nova metodologia privilegia a comunicaointeractiva, a qual provoca o adequado comportamento lingustico em situaesdiversificadas e pe nfase no treino e desenvolvimento de aptides decomunicao verbal compreenso e expresso da linguagem oral e escrita nas suas vrias formas. PEES (1996: 8)

    Pois, ainda hoje pode-se notar que, apesar da constatao de uma metodologia

    no adequada para o ensino desta lngua, pouca coisa mudou ou foi feita para um

    melhorar a situao. Por isso pensa-se que as actividades ldicas podem encontrar neste

    espao um lugar activo para agir como uma ferramenta que ajuda o professor na

    mudana de metodologias para ensinar a Lngua Portuguesa. A sua utilizao, como se

    nota mais frente, no ensino vem desde a antiguidade e um mtodo eficaz e divertido

    para se ensinar e aprender, qualquer rea do saber, desde matemtica, da Educao

    fsica, at s Lnguas.A Lngua Portuguesa em Cabo Verde ensinada desde os primeiros anos de

    escolaridade e como Lngua Materna, da advm os problemas que hoje se nota na

    aprendizagem da mesma. Por isso o PEES de 1996 defende o seu ensino com Lngua

    Estrangeira ou ento como Lngua Segunda, defendida por outros autores.Se se verificar a idade em que se comea a ensinar a Lngua Portuguesa em

    Cabo Verde, esta coincide exactamente com o Perodo de Operaes Concretas (07 aos

    11 anos), defendida por PIAGET. Segundo este autor o perodo onde as palavras

    tornam-se instrumento do processo do pensamento e a criana torna-se mais

    comunicativa. Por meio desta concepo da teoria de Piaget, podemos notar uma das

    razes para o ensino de uma Lngua Estrangeira ou uma Lngua Segunda, como o caso

    da Lngua Portuguesa em Cabo Verde. Toma-se como parmetro as teorias de DANTAS que defende o termo ldico

    como sendo a funo de brincar (de uma forma livre e individual) e de jogar (no que se

    refere a uma conduta social que supe regras) (DANTAS 1998: 111). Assim, o jogo

    uma parte inerente do ser humano, sendo encontrado, na Filosofia, na Arte, na

    Pedagogia, na Poesia (com rimas de palavras), e em todos os actos de expresso,

    defende ANDRADE e SANCHES, (2005). Pois, o ldico abarca brincadeiras

    espontneas, jogos com regras e condutas, bem como o uso de brinquedos e materiais

    para a sua efectivao.Nesta perspectiva, o emprego das actividades ldicas, define-se a todo e

    qualquer tipo de actividade alegre e descontrado, desde que possibilite a expresso do

    agir e interagir. Queremos destacar tambm, que embora alguns pesquisadores

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    centralizem a aco do ldico na aprendizagem infantil, o adulto tambm pode ser

    beneficiado com actividades ldicas, tornando o processo de ensino-aprendizagem de

    lnguas mais motivador, descontrado e prazerozo, aliviando certas tenses que so

    carregadas pelo ser humano devido ao constante stress do dia-a-dia.No que diz respeito ao ensino-aprendizagem, as actividades ldicas so

    intencionalmente criadas pelo professor, com vista a estimulao da aprendizagem,

    defende SZUNDY (2005). A utilizao das actividades ldicas como prticas

    pedaggicas tem sido defendida desde h muito por alguns pensadores, filsofos,

    pedagogos, como o caso de COMENIUS na sua obra Didctica Magna em 1632, onde

    apresentou a sua concepo de Educao. Nesta obra, como aponta TEIXEIRA (1995)

    Comenius pregava a utilizao de um mtodo de acordo com a natureza e

    recomendava a prtica de jogos, devido ao seu valor formativo (TEIXEIRA 1995: 39).

    Portanto, h um bom senso em reconhecer a importncia das actividades ldicas, no s

    nas diversas reas do saber, mas tambm no que diz respeito ao ensino-aprendizagem

    das lnguas.As actividades ldicas, geralmente, so mais empregadas no ensino da

    matemtica, contudo, elas devem ser inseridas na prtica de outras disciplinas, como o

    caso das lnguas. Pois, assim, ela facilitar a aprendizagem da mesma e motivar, tanto

    a crianas como a adultos, a aprenderem. Antes, ainda, Plato j havia defendido que a criana aprende atravs de jogos:

    se "ensinava matemtica s crianas em forma de jogo e preconizava que os primeiros

    anos das crianas deveriam ser ocupados com os jogos educativos" AGUIAR,

    (1998:36). A importncia da criana aprender com o ldico muito bem focado por

    outros autores, sendo um deles SILVA (2006), que afirma: "A importncia dos jogos no

    desenvolvimento da criana tem que ser enfatizada" SILVA, (2006:22). atravs destes

    momentos que a Lngua Portuguesa pode ser ensinada ludicamente, beneficiando s

    crianas com as mesmas; uma vez que possibilita o desenvolvimento de habilidades e

    oportunidade para a aprendizagem de capacidades lingusticas slidas. FROEBEL apud

    AGUIAR (1998) foi o primeiro pedagogo a "incluir o jogo no sistema educativo,

    acreditava que a personalidade da criana pode ser aperfeioada e enriquecida pelo

    brinquedo".( AGUIAR, 1998:63) de referir que nem todos os jogos, brincadeiras, brinquedos, ou outra

    actividade que cause entretenimento nas pessoas so considerados ldicos, pois,

    MACHADO (1998), em consideraes feitas sobre o que vem a ser a ludicidade no

    ensino, afirma que nem sempre jogo significa actividade ldica (MACHADO,

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    1998:34). O jogo, para ser ldico precisa produzir uma tenso positiva suficiente para

    no prejudicar a aprendizagem do aluno, tem de lev-lo aprendizagem e no

    frustrao.O brinquedo, como objecto agradvel, no pode ser confundido com um jogo de

    sentido de partidas vs competies, que podem significar obrigao, treino, actividade

    difcil, fanatismo, ansiedade, etc.PIAGET (1972) j defendia que, o jogo no pode ser visto apenas como

    divertimento ou brincadeira para gastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento

    fsico, cognitivo, afectivo e moral (PIAGET, 1972:53), por isso um meio essencial

    para o desenvolvimento integral do ser humano. Ele precisa brincar para crescer, precisa

    do jogo como forma de equilbrio com o mundo.A viso construtivista corrobora da ideia que o jogo construtivo, pois

    pressupe aces do indivduo sobre a realidade, estas aces so carregadas de

    simbolismo, do faz-de-conta, que reforam a motivao e possibilitam a criao de

    novas aces que conduzem aprendizagem. SOUZA (2006) considera o jogo

    importante para o crescimento humano, apresentando a ideia de desenvolvimento

    humano a partir de aces que o sujeito exerce sobre o ambiente. E ao dedicar-se aos

    estudos sobre jogos e embaado nas propostas de PIAGET, ressaltou que os jogos de

    exerccios acompanham o ser humanos desde muito cedo: no perodo sensrio-motor;

    jogos simblicos, no perodo pr-operatrio; e jogos de regras. (PIAGET, 1972:54) As actividades ldicas so de suprema importncia para o processo de ensino-

    aprendizagem da escrita e da leitura, pois elas so tarefas difceis e fastidiosas, que

    podem provocar no aluno frustraes e bloqueio na aprendizagem da lngua. Mas elas

    tornam-se menos difceis e fastidiosas se forem ensinadas de forma ldica. Todavia o

    jogo uma actividade cuja estrutura ajuda na adequao motora necessria para a

    escrita.Ao lado das actividades de integrao da criana na escola, deve-se promover a

    leitura e a escrita juntamente, recorrendo a actividades como a dramatizao, conversas,

    recreao, desenho, msica, histrias lidas e contadas, gravuras, contos e versos.As actividades ldicas, segundo KISHIMOTO (1993), fazem com que as

    crianas, estejam mais aliciadas em actividades fsicas, mais alegres e bem-humoradas,

    mais flexveis com o grupo, desempenhem melhor as tarefas como: sugerir novas ideias

    sobre o uso do brinquedo, novos ttulos para histrias, listas mais ricas de nome de

    animais, de coisas para comer, de brinquedos, etc. Na brincadeira, a criana pode dar outros sentidos aos objectos e jogos, seja a

    partir de sua prpria aco ou imaginao, seja na trama de relaes que estabelece com

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    os amigos com os quais produz novos sentidos e os compartilha, defende CERISARA,

    (2002).A brincadeira de fundamental importncia para o desenvolvimento infantil na

    medida em que a criana pode transformar e produzir novos significados. Em situaes

    dela bem pequena, bastante estimulada, possvel observar que rompe com a relao de

    subordinao ao objecto, atribuindo-lhe um novo significado, o que expressa seu

    carcter activo, no percurso do seu desenvolvimento.Para VYGOTSKY (1998), a criao de situaes imaginrias na brincadeira

    surge da tenso entre o indivduo e a sociedade. A brincadeira liberta a criana das

    amarras da realidade imediata, dando-lhe oportunidade para controlar uma situao

    existente. As crianas usam objectos para representar coisas diferentes do que realmente

    so: pedrinhas de vrios tamanhos podem ser alimentos diversos na brincadeira de

    casinha, pedaos de madeira de tamanhos variados podem representar diferentes

    veculos na estrada. Na brincadeira, os significados e as aces relacionadas aos objectos

    convencionalmente podem ser libertados. As crianas utilizam processos de pensamento

    de ordem superior como no jogo de faz-de-conta, que assume um papel central no

    desenvolvimento da aquisio da linguagem e das habilidades de soluo de problemas

    por elas, defende (MEIRA 2003: 76). Na lngua portuguesa, podem ser utilizados jogos que explorem as

    inteligncias lingusticas, espaciais e pessoais. Aplicando o uso da linguagem para

    facilitar a expresso, compreender textos escritos e orais, construir imagens diversas

    com as palavras e transformar a linguagem em instrumento para a aprendizagem,

    sustenta ANTUNES (2002:44). de levar em conta que as actividades ldicas, como afirma ANTUNES (2000),

    so meios mais eficientes e estimuladores da inteligncia, impem desafios, e geram

    tenses necessrias para a construo da aprendizagem que se prope obter com as

    mesmas. Os jogos, porm, precisam ser pensados, organizados previamente com o

    intuito de atingir seus objectivos. Podem partir de materiais que o professor tenha

    disponvel na sala de aula, mas sempre com ponderao na forma de trabalh-las. O

    professor precisaria ter mais criatividade, vontade, competncia e sensibilidade e,

    sobretudo, humildade na forma como utiliza os materiais em posse para ensinar. de suma importncia o recurso a actividades ldicas, hoje em dia, nas aulas de

    lnguas e no s, pois, elas contribuem para uma formao integral dos alunos, bem

    como do professor, numa altura em que, segundo CURY (2003), o aluno chega escola

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    com excessos de estmulos visuais e sonoros, produzidos pela TV, pelo rdio, pela

    internet, por games, enfim, com uma velocidade de informao to grande que o obriga

    a pensar quase que instantaneamente. Por isso a escola e os professores devem

    acompanhar esse processo. neste sentido que ele defende que as actividades ldicas

    esto, nos nossos dias, a serem exigidas nas prticas pedaggica dos professores, como

    um meio de ensinar sem criar nos alunos a antipatia pela disciplina a ser ensinada. Pois,

    ele afirma que () bons professores possuem metodologia, professores fascinantes

    possuem sensibilidade. Por isso, o que os nossos alunos precisam no so bons

    professores, mas sim professores fascinantes, com sensibilidade de saber utilizar os

    meios que hoje esto disponveis para acompanhar a velocidade de desenvolvimento

    intelectual dos alunos e aproveit-los para ajudar aqueles que ainda no tm, no andam

    mesma velocidade de alguns.A utilizao de recursos ldicos no ensino da Lngua Portuguesa, pode

    minimizar e solucionar alguns dos problemas apresentados pelos alunos no que diz

    respeito utilizao correta da escrita das palavras, bem como nos dar segurana para a

    aplicao de atividades diferenciadas, muitas vezes, vistas por alguns, apenas como um

    passatempo. Diz MACEDO et al (2000) que

    a prtica de atividades ldicas faz com que muitas atitudes fundamentais e muitos

    procedimentos importantes sejam aprendidos e adotados em diferentes situaes, sem

    que haja uma formalidade, um treinamento ou um exerccio repetitivo. (MACEDO et al, 2000: 20)

    1.5. O ldico na aula de oralidade de Lngua Portuguesa

    Trabalhar oralidade na sala de aula pode ser interessante e divertido, desde que o

    professor promova actividades que promovam a interaco de maneira ldica e, que ao

    mesmo tempo faa com que o aluno aprenda.H poucos estudos sobre esta modalidade da linguagem. Segundo GREGORIM

    (1996) a modalidade oral implica um conjunto de recursos que auxiliam a fala na

    comunicao lingustica. Dentre os recurso expressivos, pode-se mencionar o timbre da

    voz, a altura da emisso vocal, o padro de entoao, a linguagem gestual, a presena do

    interlocutor e a capacidade do falante em prender a ateno dos seus ouvintes.Para que se utilize as actividades interessantes que promovem, no s, interaco e

    diverso, mas tambm aprendizagem de forma divertida fundamental que haja mudanas

    metodolgicas que representam inovaes e criatividade na rea do ensino das lnguas,

    neste caso, a Lngua Portuguesa.

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    Considera-se importante que o trabalho com linguagem oral ocorra no interior de

    actividades significativas, como seminrios, teatros, simulaes de programa de

    televiso, rdio, e outros usos pblicos da lngua oral. A partir dessas actividades

    possvel trabalhar aspectos como entoao, dico, gesto e postura que, no caso da

    linguagem oral, so elementos complementares para conferir sentido aos textos. Essas actividades propiciam a veiculao e a anlise das variedades lingusticas

    e demonstrao de seus respectivos valores enquanto meios legtimos de expresso.

    Criam, tambm, para o professor, as normas consensuais que regulam essas ocorrncias

    como: ouvir o outro com ateno, guardar a vez de falar, quando e como intervir, que

    formas utilizar (MAROTE e FERRO, 1994:78).Pois, a prtica da expresso oral fundamental, uma vez que possibilita ao aluno

    desenvolver a carncia de dilogo utilizando-se das actividades ldicas e de

    conhecimento lingusticos e socioculturais e anlise lingustica. A habilidade oral s se

    desenvolve se houver meios, ou seja, actividades interactivas que envolvam os

    participantes, pois oralidade envolve ouvir/escutar. Assim o ouvinte enriquece seus

    conhecimentos podendo dialogar, trocar ideias e cada vez mais ampliar seus

    conhecimentos atravs da interaco que a linguagem oral proporciona.Segundo AMOR (2001:67), A comunicao que se pratica na sala de aula

    caracterizada pelo seu artificialismo face as situaes de vida quotidiana. Normalmente

    na sala de aula, o professor usa a fala como estratgia de ensino aprendizagem, para

    definir o que constitui os conhecimentos a transmitir aos alunos atravs da exposio

    directa ou de questionrios.Por isso a actividade de falar ocupa pouco espao porque o aluno limita-se a dar

    as respostas as questes colocadas pelo professor.Essas situaes, segundo Emlia Amor, resultam numa comunicao marginal

    que no chega a integrar-se na dinmica interactiva da aula.No caso dos alunos cabo-verdianos que esto habituadas a uma comunicao

    oral nica em Lngua Materna, GOMES et Al acrescentam que a lngua portuguesa deve

    ser ensinada com uma metodologia de lngua segunda para que os eles possam adquirir

    competncia comunicativa nesta lngua.Assim o professor deve perder o monoplio da palavra e orientar os alunos na

    sua descoberta de linguagem atravs de um mtodo activo.Defende ainda que o professor deve aproveitar e valorizar a tendncia natural

    que os alunos possuem para a oralidade. Deve recorrer a situaes ligadas a vivncias

    dos alunos e a cultura do seu povo como bases da aprendizagem da comunicao oral

    adequada, til e eficaz na vida real.

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    Os alunos devem ser organizados em grupos de trabalho a fim de discutirem

    temas que podiam ser utilizados para a elaborao de notcias, avisos e anncios,

    proporcionando-lhes o desenvolvimento de actividades comunicativas.Segundo AMOR (2001), a condio fundamental para a aquisio da oralidade

    na sala de aula o uso frequente da lngua, ou seja, aprende-se a falar falandoda a

    importncia do ouvir, compreender para falar e interagir.Ainda de referir que abordagem da oralidade nas salas de intensificou-se a

    partir de 1997 com as propostas do Plano de Estudos para o Ensino Secundrio (PEES)

    que incluem reflexes pedaggicas para desenvolver as habilidades de comunicao

    oral nas aulas de Lngua Portuguesa, tendo o foco na competncia comunicativa para

    que os alunos possam perceber os diferentes efeitos de sentidos e as diferentes

    adequaes da lngua s situaes comunicativas reais.Temos conscincia do empenho da escola cabo-verdiana em cumprir seu papel

    de realizar melhorias para o ensino, como melhorias infra-estruturais, baseada em

    propostas pedaggicas ideias para o ensino e aprendizagem da Lngua Portuguesa

    enquanto Lngua Segunda. Mas ainda nota-se uma concepo do ensino da lngua

    enquanto norma, tirando do aluno a oportunidade de compreender e ampliar suas

    habilidades como um ser falante: habituados a interagir com seus amigos falando,

    opinando, discordando, concordando, os estudantes vem-se fracassados na escola, pois,

    em nome do bem falar e do bem escrever, lhe retirado o direito de usar a palavra.Neste contexto podemos ver uma relao paradoxal: de um lado, a interaco

    entre professores e alunos aproxima-se cada vez mais, de outro, a falta de um plano de

    trabalho que permita ao professor valorizar o conhecimento de mundo do aluno, ou seja,

    necessrio que professores e alunos participem de situaes que os tratem como

    pessoas comunicantes, j que apesar do direito palavra, as condies comunicativas

    reais dos alunos so desconsideradas na escola: o aluno ainda acredita que o papel do

    professor falar e o seu ouvir, calado, a fala do professor, sem direito de relacionar

    seus conhecimentos vigrio aos conhecimentos escolares. Este tipo de ensino leva o

    aluno a aprender a calar, ignorando e desvalorizando o falar e o ouvir.Corrobora com esta ideia CASTILHO (1998:21), para quem a incorporao da

    oralidade nas aulas aproximaria dois mundos, muitas vezes, to opostos: a escola e a

    vida Via de regra o aluno no procede de um meio letrado. Sua famlia enfrenta as

    tenses da vida moderna, uma novidade para muitas delas. A escola deve

    iniciar o aluno valorizando seus hbitos culturais, levando-o a adquirir novas

    habilidades desconhecidas de seus pais. O ponto de partida para a reflexo

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    gramatical ser o conhecimento lingustico de que os alunos dispem ao chegar

    a escola: a conversao. Fala e escritas so habilidades comunicativas que j acompanham os alunos no

    momento em que eles entram na escola, mas parece que na entrada da escola estas

    habilidades se evaporam, pois ao aluno negado o direito palavra que traduz e regista

    seus actos e fatos do quotidiano. necessrio enfatizarmos que a escola precisa perceber que, mais do que uma

    necessidade pedaggica, o uso da lngua representa uma necessidade social, pois a

    construo do conhecimento passa, primeiramente, pelo do real e da interveno do

    sujeito sobre ele. MARCUSCHI (2001: 83) acresce a essas palavras o argumento de que

    O trabalho com a oralidade pode, ainda, ressaltar a contribuio da fala na

    formao cultural e na preservao de tradies no escritas que persistem

    mesmo em culturas em que a escrita j entrou de forma decisiva (...) Dedicar-se

    ao estudo da fala tambm uma oportunidade singular para esclarecer aspectos

    relativos ao preconceito e discriminao lingustica, bem como suas formas

    de disseminao. As reflexes sobre o lugar da oralidade no ensino de lngua intensificam-se cada

    vez mais, apontando para uma grande mudana no tratamento dado a esta modalidade.

    As reformas educacionais investem na discusso do fazer pedaggico, no sentido de

    mudar a ideia de que o papel central da escola ensinar o aluno a escrever, como afirma

    CASTILHO (1998: 13) no se concebe mais que a funo da escola deve concentrar-se apenas no

    ensino da lngua escrita, a pretexto de que o aluno j aprendeu a lngua falada

    em casa. Ora, se essa disciplina se concentrasse mais na reflexo sobre a lngua

    que falamos, deixando de lado a reproduo de esquemas classificatrios, logo

    se descobriria a importncia da lngua falada, mesmo para a aquisio da

    lngua escrita. O ensino de uma Lngua Segunda, como o caso da Lngua Portuguesa em

    Cabo Verde, se torna incompleto se exclui de seus procedimentos metodolgicos os

    elementos pragmticos, principalmente na formao de produtores de textos orais.

    Segundo SEARLE (1984), a competncia prtica est to vinculada natureza humana,

    a todo e qualquer conhecimento social que no se deve conceber um ensino que no os

    valorize.Partilha desta mesma ideia BAKHTIN (1999: 124) para quem a lngua vive e

    evolui historicamente na comunicao verbal concreta, no no sistema lingustico

    abstracto das formas da lngua nem no psiquismo individual dos falantes.A formao de eficientes produtores de textos orais necessita do

    redimensionamento, reorganizao das aces e objectivos didcticos e pedaggicos de

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    primazia pela escola. Por isso, segundo MATENCIO (2001), paralelo s actividades de

    ensino, premeditao e elaborao de projectos educativos, preciso incluir programas

    e actividades que ampliem a formao de professores e melhorem a qualidade da

    interaco em sala de aula, passando de uma aco monloga para uma aco dialgica.Assim, para desenvolver as competncias comunicativas na oralidade

    necessrio desenvolver trabalhos individuais e colectivos, para que se aprenda a falar

    falando, como defende AMOR (2001). O desenvolvimento destas competncias deve-se

    apostar em actividades ldicas de escuta e de produo da fala.

    II. DA TEORIA PRTICA

    O desenvolvimento deste trabalho comporta uma componente prtica, suportada

    pelas teorias anteriormente includas neste trabalho. Esta componente foi desenvolvida

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    na Escola Amor de Deus, com os alunos e professores do Tronco Comum (7 e 8 anos),

    com o propsito de analisar a existncia, a utilizao e a utilidade e efeito do ldico no

    ensino e na aprendizagem da lngua Portuguesa no referido ciclo de ensino secundrio.

    2.1.Caracterizao da Escola Amor de Deus

    2.1.1. Localizao

    A Escola Amor de Deus est situada na Terra Branca, entre os bairros de Bela

    Vista e Eugnio Lima, prxima do Bairro de Tira Chapu. A escola pertence rede de

    escolas da Congregao das Irms Religiosas do Amor de Deus, fundadas pelo

    sacerdote catlico Padre Jernimo Mariano Usera Y Alarcon, natural de Espanha, por

    isso o modelo de educao fundamenta-se no princpio educativo do referido padre:

    Educar por Amor e para o Amor.

    2.1.1.2. A Estrutura do Espao Fsico

    A Escola Amor de Deus ocupa uma rea de 55m2, conforme consta do Alvar n.

    15/1999 de Setembro de 1999. As salas de aula em funcionamento tm uma dimenso

    de 31 a 50 m2. Possui cinco pisos, a saber, o rs-do-cho, o 1. andar, o 2. andar, o 3.

    andar e o 4 andar. No rs-do-cho encontra-se um salo comum/ ptio interno onde os alunos do

    E.B.I vo fazer Educao Fsica quando h muito sol. Esse espao utilizado para

    vrias actividades, uma cantina para os alunos, professores e todos os funcionrios, trs

    casas de banho, dois campos desportivos devidamente equipadas. Acha-se no 1. andar a secretaria, uma sala de espera, uma arrecadao, uma

    sala de reunio, Direco, cinco casas de banho, trs salas de jardim, duas salas do

    Ensino bsico e Integrado (E.B.I) e um salo comum.

    O 2. andar tem nove salas de aulas, uma sala de professores, quatro casas de

    banho, sendo duas destinadas para professores e duas para os alunos e uma para os

    contnuos. No 3. andar encontra-se uma sala de informtica, uma biblioteca, uma sala de

    estudo, cinco salas de aulas, sendo duas destinadas para os alunos do E.B.I e trs para o

    Ensino Secundrio, uma sala de multimdia, um Laboratrio de Biologia, Qumica e

    Fsica e quatro casas de banho.

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  • O Ldico no Processo de Ensino-Aprendizagem do modo oral da Lngua Portuguesa no Tronco Comum: Ocaso da Escola Amor de Deus___________________________________________________

    O 4. andar tem uma capela, uma sala de reunio e trs casas de banho. Tem em fase de acabamento um salo que tem o propsito de servir para

    realizao de eventos e realizao de aulas de educao fsica em tempos de muito sol.

    .3.Objectivos educacionais

    A Escola Amor de Deus tem um iderio educativo que visa um estilo educativo

    inerente aos princpios cristos, direitos democrticos, direitos do homem e s

    liberdades fundamentais estabelecidas na constituio Cabo-verdiana.

    .4.Natureza da escola

    uma escola pblica de gesto privada sem fins lucrativos. Entre a Escola e o

    Ministrio da Educao existe um contracto de patrocnio em que a Congregao coloca

    ao dispor do Ministrio da Educao o seu espao fsico e e