o livro do clube dos corações solitários do sargento pimenta
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A engenharia de papel como recurso gráficoTRANSCRIPT
a engenharia de papel como interpretação gráfica
o livro do clube dos corações solitários do sargento pimenta
ana cossermelli
São Paulo — 2009
FAAP — Fundação Armando Alvares Penteado
Trabalho de conclusão da graduação como parte
obrigatória para obtenção de grau de Bacharel em
Desenho Industrial com Habilitação em Design Gráfico.
a engenharia de papel como interpretação gráfica
professores
tccProfessor Mestre Carlos Perrone
Professora Mestre Maria Cecília Consolo
Professor Doutor Miguel de Frias
Professor Paulo Sampaio
orientadorProfessor Mestre Ivan Bismara
dedicado à meus pais
Pelo amor, apoio e dedicação, sempre incondicionais.
i get by with a little help from my friends
o livro do clube dos corações solitários não seria nada sem a ajuda de meus
amigos, e todos que sempre mostraram apoio e curiosidade em relação a este projeto maluco.
La, por sugerir a idéia para que esse projeto finalmente se erguesse, pela ajuda em todos os momentos
em que eu ficava desesperada quando não conseguia idealizá-lo e pela amizade de tantos anos. Thá,
pela presença e amizade nesses 4 anos de São Paulo, apoio e ajuda sempre que possível. Kiara, que se
tornou uma amiga muito importante para mim durante os anos de faculdade; eu não poderia imaginá-los
sem ela. Mana, por se tornar uma grande amiga rapidamente, por sempre animar os meus dias e também
por todo o açúcar! Val, pela amizade e por todas as conversas, mesmo à distância. Luisinho, por toda
honestidade e incentivo durante todas as etapas deste projeto, e pela ajuda sempre que eu precisava. Zé,
pelos conselhos-cabeça sempre necessários, pela companhia nos dias de fazer TCC, e por salvar a minha
monografia e me manter sã durante esse dia caótico. Pedro, por todas as dicas e sempre perguntar como
eu estava. Tenho certeza que o livro não seria o mesmo sem o interesse de todos vocês.
Ivan, pois eu não poderia ter escolhido outro professor para me guiar por esse caminho. Além de me
incentivar e até divertir, com certeza me influenciou muito como pessoa. Os professores de TCC Paulo e
Miguel, por serem grande fonte de inspiração e ajuda durante o árduo processo de criação do livro; e ao
professor Julio Freitas, sem as suas aulas eu não conseguiria descobrir o conceito de meu projeto. Não
posso deixar de agradecer Carol Barton e Sally Blakemore, duas autoras que se mostraram muito mais
que prestativas para ajudar em tudo que eu precisava.
E àqueles que criaram um mundo maravilhoso de música: The Beatles.
10
1.1 introdução
1 a engenharia de papel como interpretação gráfica
1.2 justificativa
1.3 objetivo
1.4 resumo
1.5 abstract 20
19
18
17
16
2.1 contextualizando os livros móveis e a engenharia de papel
2 pesquisa
2.5 fundamentação teórica
2.5.1 livros lidos/relacionados
2.5.2 periódicos 64
61
24
2.5.3 web
2.6 pesquisa de campo
65
2.6.1 público alvo
2.6.2 editoras e engenheiros gráficos
2.6.3 entrevistas 73
68
67
2.6.4 produtos 87
2.2 o pop-up como recurso gráfico
2.3 as possibilidades da engenharia de papel
2.4 a linguagem e a influencia do elemento tridimensional 54
48
42
1.6 palavras-chave 21
2.6.5 análise e síntese 90
11
3 conceituação
3.3 painel semântico do projeto
3.5 o conceito
103
98
3.4.1 texto
3.4.2 imagem
102
4 o livro do clube dos corações solitários do sargento pimenta
4.1 estudos preliminares
4.1.1 cores 111
4.1.2 linguagem gráfica 112
4.1.3 roteiro 116
4.1.4 tipografia 140
4.1.5 títulos 141
4.1.6 formas 144
4.1.7 personagens 146
3.2 painel semântico da linguagem 94
3.4 definição do conceito
4.1.8 composições e cenários 150
106
12
4.3 definições projetuais
4.3.1 árvore do projeto 165
4.3.1 produto final 166
4.3.3 componentes 194
5 detalhamento técnico
200
6.1 modelos
6 aplicações
210
6.1.1 bonecos 211
6.1.2 pré-modelo 213
6.1.3 teste de usabilidade 214
5.1 produção gráfica
2015.2 aproveitamento de papel
2065.4 simulação do alinhamento de peças
2075.5 simulação de faca de corte
2025.3 peças
13
7.1 livros
7 bibliografia
7.2 periódicos e artigos
7.3 web
7.4 índice imagético
8 considerações finais
217218
219
222
228
7.4 referências 221
14
a engenharia de papel como interpretação gráfica
15
16
introdução
Estallido explora a história dos livros móveis, a partir de um artigo escrito pela
historiadora americana Ann Montanaro, de modo à criar uma fonte de pesquisa em
português sobre o desenvolvimento da engenharia de papel durante os séculos.
Procura detalhar a técnica específica do pop-up como um recurso gráfico para
designers, além de evidenciar as possibilidades da engenharia de papel em outros
meios, não apenas o editorial. Também mostra os elementos da engenharia de papel
como uma nova linguagem, a forte influência do elemento tridimensional sobre o
processo de leitura e assimilação de conteúdos, e a importância desses fatores na
mudança da interação entre indivíduo e o objeto livro. E estuda profundamente as
estruturas de papel possíveis de serem criadas, a partir da observação de livros que
ensinam a técnica e livros pop-up já existentes no mercado.
17
justificativa
A pesquisa visa unir toda a história da engenharia de papel e o estudo da técnica do
pop-up com o tema escolhido, aplicando sobre o projeto a visão do design gráfico,
através da interpretação visual.
18
objetivo
Criar um livro objeto autoral que consiga passar o conceito do projeto através de
ilustrações desenvolvidas a partir da interpretação de músicas de uma das bandas
mais importantes da história e exploradas com as técnicas da engenharia de papel,
especialmente o pop-up.
19
resumo
O Livro do Clube dos Corações Solitários: a Engenharia de Papel como Interpretação
Gráfica documenta todo o processo de conceituação e criação do livro O Livro do
Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta. A partir da história dos livros
móveis serão apresentados todos os elementos essenciais para o desenvolvimento
do projeto: os painéis semânticos de conceituação, os estudos iniciais, as cores
escolhidas, o roteiro composto de músicas, os personagens desenvolvidos e a
linguagem gráfica que os influenciou, até os modelos e mock-ups, que culminam no
produto final: O livro.
20
O Livro do Clube dos Corações Solitários: a Engenharia de Papel como Interpretação
Gráfica documents the concept and production process of the book O Livro do Clube
dos Corações Solitários do Sargento Pimenta. In addition to movable books’s history,
it presents all the elements in the project’s development: the concept’s semantic
boards, the initial sketches, the colors picked, the script made up of music, the
characters created and their graphic influences, to the models and mock-ups that lead
up to the final product: The book.
abstract
21
palavras-chave
editoriallivro pop-upengenharia de papellivro objetothe beatlesmúsica
22
pesquisa
23
24
contextualizando livros móveis e a engenharia de papel
Os primeiros livros móveis aparecem na história antes da invenção da própria
impressão. Mecanismos interativos feitos em papel estavam presentes na obra de
Ramón Llull, um místico e poeta catalão da região de Majorca, que viveu no século XIII
(aproximadamente de 1235 a 1316). Seus trabalhos continham estruturas conhecidas
como volvelles, que ele utilizava para ilustrar seus ideais filosóficos. Volvelle, palavra
francesa que significa “para girar,” é uma estrutura composta de discos de papel que
permitem a rotação de partes de papel entre sí ou outras partes de
papel em relação à página. Acredita-se ser a primeira parte móvel que
apareceu em livros e foi uma estrutura utilizada desde a época de Llull
até o século XVIII. As volvelles ilustravam uma variedade de tópicos
científicos incluindo astronomia, matemática, navegação e medicina,
além de tópicos não-científicos como o misticismo, a previsão de sorte
e serviam até para o envio de mensagens secretas e codificadas.
Uma das primeiras volvelles foi criada em 1250 pelo monge
Beneditino Matthew Paris (1200-1259), quando constatou que os
livros de sua abadia que determinavam os feriados católicos eram
PETruS APIANuS, vOlvEllE
25
grandes e pesados, sendo assim difíceis de carregar e manusear. Os livros da época
só poderiam ser lidos quando apoiado no colo dos próprios monges e rotacionados
por inteiro. Portanto, Paris transformou-os em várias tabelas circulares unidas apenas
pelo centro, que rotacionavam independente das outras. Há quem credite Paris como
o criador das volvelles, mas essa afirmação não pode ser comprovada históricamente.
Afinal, ele e Ramón Lull viveram na mesma época.
O surgimento da máquina de impressão, por volta de 1400, é o que torna possível a
produção em larga escala de livros, e qualquer estrutura móvel que fazia parte dos
mesmos. O artista Petrus Apianus foi um dos mestres na área, e criou vários dos mais
belos volvelles em sua época. A característica visual de seu trabalho era simples,
porém a engenharia de papel era sempre bem elaborada, inovadora e revolucionária.
No ano de 1540, Petrus criou um de seus mais desenvolvidos volvelles, o
Astronomicum Caesareum, que era engravado por ele mesmo e pintado a mão com
PETruS APIANuS, ASTrONONOMICuM CAESArEuM, C. 1540
26
aquarela. Volvelles dessa magnitude eram normalmente grandes livros em tamanho,
pois a estrutura de papel era o foco central do livro, o que resultava em livros muito
caros para produzir, já que o processo manual de engravar a chapa de impressão e a
colorização feita a mão, exemplar por exemplar, era árdua. Não eram livros voltados
para o público em geral e o preço do produto final era estabelecido de acordo com o
caro e complexo processo de produção da época. Normalmente, somente a realeza
ou membros da comunidade científica os adquiriam. Estudantes que precisavam das
volvelles para seu aprendizado não podiam pagar pelos livros grandes e coloridos,
portanto Petrus e outros criadores de livros desse tipo começaram a produzir versões
pequenas e mais baratas de seus livros, que eram impressos em preto e branco e em
maior quantidade.
Outra estrutura de papel conhecida como lift-the-flap (lâminas de papel que,
quando levantadas, revelam alguma informação) foi utilizada desde o século XIV,
especialmente em livros de anatomia. Através de várias lâminas, cada uma com uma
parte do corpo, as estruturas deixavam o leitor explorar a profundidade de um torso,
por exemplo. O livro de anatomia De humani corporis fabrica libroruim epitome, de
27
Andreas Vesalius, impresso no ano de
1534 em Basel, na Suíça, continha uma
ilustração móvel do corpo humano em
sete camadas detalhadas.
livros móveis não foram criados para o
público infantil até o começo do século
XIX. O primeiro livro de sucesso dessa
época e voltado para esse público foi
o título Harlequin’s Metamorphoses,
criado pelo londrino Robert Sayer. Em
1765, Sayer desenvolveu o livro que ele classificava como “livro metamorfose”, que
utilizava estruturas de papel que mais tarde seriam conhecidas como turn-up ou
como uma derivação do próprio título, harlequinades. O livro era basicamente um
panfleto dobrado em várias partes. Cada parte continha sua própria meia-ilustração,
assim, o ato de virar cada aba produzia variações divertidas nas cenas originais. O
nome do livro derivou-se do Arlequim, personagem da comédia italiana e comum no
ANDrEAS vESAlIuS, DE HuMANI COrPOrIS fABrICA lIBrOruIM
EPITOME, C. 1544
28
teatro pantomina. O personagem também é figura central dos livros de Sayer, que
logo tornam-se populares entre as crianças, causando muitas cópias do título a serem
vendidas e até plagiadas.
rOBErT SAyEr, HArlEquIN’S METHAMOrPHOSES, C. 1765
29
Os primeiros livros móveis que atendiam ao público infantil e que foram produzidos
em larga escala eram da editora londrina Dean & Son. fundada em 1800 por Thomas
Dean, a editora se intitula de “a criadora de livros móveis para crianças” pouco
tempo depois de iniciar sua produção. Para a criação e montagem dos livros, Dean
cria um departamento especial na editora, com artesãos preparados e as ferramentas
necessárias para o trabalho manual de produção dos livros e suas complexas peças
móveis. Dean também introduziu nos livros móveis uma estrutura inspirada na cortina
veneziana - em que uma ilustração é dividida em várias partes iguais através de
cortes estreitos e que, a partir do puxar de uma aba no canto da página, a ilustração se
transforma em outra. A editora chega a produzir cerca de 50 títulos infantis, de 1860
a 1900. Os livros eram normalmente chamados de livros móveis ou livros brinquedos
na época, e os títulos da Dean & Son são provavelmente os primeiros da história que
leitores de hoje em dia considerariam como pop-ups.
Existiam outras editoras e artistas atuando na época e pode-se notar, em especial, o
despontar de artistas alemães que aproveitavam da técnica da cromolitografia, que
era muito bem desenvolvida em seu país de origem, para seus trabalhos.
30
Foi o alemão Raphael Tuck quem desafiou a posição até então soberana da Dean &
Son no mercado. Tuck se muda para a europa quando jovem e, em 1870, com seus
filhos, cria em londres a Raphael Tuck & Sons que produzia desde papéis de luxo
a bonecas de papel. No quesito de livros móveis, eles publicam a coleção Father
Tuck’s ‘Mechanical’ Series e várias outras séries de livros tridimensionais. Tuck,
como Dean, também investe na criação de uma equipe editorial e de design para a
produção de um grande volume de trabalho de alta qualidade. A editora tem tanto
êxito no mercado, que Raphael Tuck logo se torna cidadão inglês e a Raphael Tuck
& Sons se torna a editora oficial da rainha vitória. A impressão dos produtos que
oferecia era feita na Alemanha, pois, à partir da metade do século XIX, as técnicas
extremamente aperfeiçoadas de impressão colorida e os equipamentos das gráficas
alemãs produziam a melhor qualidade possível para a época, quando se tratava da
reprodução de artes originais.
Ernest Nister, outro editor alemão do século XIX, também começa a produzir
livros móveis e seus títulos não ficam restritos ao mercado europeu, são também
exportados para os Estados unidos. A empresa que Nister funda em 1877 tinha todos
31
os recursos para se firmar no mercado editorial, pois ele possuía em seu escritório
as máquinas necessárias para os mais variados processos de impressão. No entanto,
foi por seus livros móveis de 1890 que o autor foi reconhecido. Seus projetos eram
parecidos com os de seus contemporâneos, porém ele desenvolve as técnicas criadas
até então. A diferença principal estava nas ilustrações com estilo característico de
Nister e a sua maneira de montá-las em cada página de modo a criar perspectiva com
as peças.
ErNEST NISTEr, Our PEEPSHOw, C. 1894
32
O autor mais original do século XIX foi o artista de Munique, Lothar Meggendorfer.
Ele tinha uma visão cômica transpassada em suas ilustrações, e em em suas
engenhosas estruturas e mecanismos de papel. Ele arquitetava rebites e fios de
cobre por trás das peças de papel para que, ao puxar de uma única aba no canto
da página, todas as partes entrariam em movimento, cada uma em seu momento,
dependendo do quanto da aba foi esticada. Suas personagens sempre tinham grande
mobilidade, através de camadas escondidas entre páginas que serviam para facilitar
os mecanismos que criava. O que diferencia Meggendorfer de seus contemporâneos
é que o autor não se contentava com apenas uma ação em cada virar de página.
Ele procurava utilizar das mais variadas técnicas e materiais para criar o elemento
surpresa em cada um de seus livros.
lOTHAr MEGGENDOrfEr, INTErNATIONAlEr CIrCuS, C. 1887
33
Com o início da Primeira Guerra Mundial, poucos livros móveis foram produzidos.
Grande parte da produção era realizada em gráficas alemãs e era necessário trabalho
intensivo para cada livro ser completo.
Acredita-se que, após 1914, a força de trabalho Alemã das gráficas de
impressão eram exigidas para tarefas menos frívolas. 1
Até esse momento, a presença dos artistas alemães era constante e indispensável
para a criação e produção de novos livros móveis. Esses fatos resultaram em uma
pouca produção na época, já que os ingleses e americanos não possuíam os recursos
para criar livros em grande quantidade e com uma boa qualidade de impressão.
Com tal repercusão no mercado de livros móveis da época, “e a escassez de recursos
resultante, foi levado ao fim o que é considerado a Era Dourada desses maravilhosos
livros móveis e livros brinquedos.“ 2
Os livros móveis ressurgem por volta de 1930, com uma nova série de livros móveis
concebida pelo inglês S. Louis Giraud. foram 16 títulos no total, produzidos entre
1929 e 1949, inicialmente em parceria com o jornal Daily Express e mais tarde
1 MONTANArO, A CONCISE HISTOry Of
POP-uP AND MOvABlE BOOkS
2 CArTEr, DIAz, 1999: 01
34
independentemente. Cada exemplar possuía cinco páginas com ilustrações que
saltavam para o tridimensional com o abrir das páginas e podiam ser vistos de todos
os lados e ângulos, muito similar aos livros pop-up modernos. Ao contrário dos
livros alemães produzidos e comercializados até então, os livros tinham um preço
moderado e, por isso, os livros de Giraud atingiram um grande público e foram muito
populares.
Em 1930, com a Grande Depressão se aprofundando, as editoras
americanas procuravam maneiras para incentivar a compra de livros. A
Blue Ribbon Publishing, de Nova york, encontra a receita do sucesso:
utilizar a técnica do pop-up para criar livros de contos de fadas e dos
personagens clássicos de Walt Disney. A editora também foi a primeira
a utilizar o termo “pop-up”, que descrevia o efeito que a técnica trazia
para a sua mais nova série de livros.
Entre 1940 e 1950, um novo grupo de artistas e editoras aparecem no mercado
dos livros móveis. uma série de vários livros pop-up inovadores foi produzido pelo
autor Vojtech Kubašta através da editora Artia, de Praga. Em 1960, esses livros iriam
BluE rIBBON PuBlISHING, PuSS IN BOOTS, C. 1934
35
influenciar o americano Waldo Hunt, que funda a sua própria empresa, a Graphics
International, em los Angeles, para produzir seus próprios livros. Hunt provoca o
ressurgimento dos livros pop-up como conhecemos hoje.
Criando livros domesticamente em Nova York e Los Angeles e
produzindo-os fora dos Estados Unidos, Hunt criou um novo padrão
de livros complexos, porém acessíveis. Utilizando autores, ilustradores
e engenheiros de papel de todas as partes do mundo, Hunt se tornou
o responsável pela criação de milhares de livros pop-up que foram,
subsequentemente, publicados mundialmente. 3
A Graphics International se muda para Nova york em 1964, e a empresa de cartões
mundialmente conhecida Hallmark compra a equipe no final da década. Em 1974,
depois de criar vários títulos para a Hallmark, Hunt volta para a California e funda
a Intervisual Communications, Inc. (ICI) que produz grande parte dos livros pop-up
da atualidade.
3 CArTEr, DIAz, 1999: 01
36
“O waldo Hunt da Intervisual é conhecido como o padrinho dos livros pop-up,” diz
Ron van der Meer, autor britânico de livros pop-up para adultos e contemporâneo de
Hunt, em uma entrevista para Natalie Avella, autora do livro Paper Engineering. Em
1981, van der Meer ofereceu à Intervisual sua idéia de criar um livro sobre navios,
mas Hunt não aceitou o projeto. “Ele me disse que adultos não eram interessados
em pop-ups - que o livro nunca venderia. Então eu levei o projeto para uma
editora britânica e eles ficaram muito
interessados. quando wally descobriu,
ele retornou para o projeto. Era o primeiro
livro sério sobre navegação através dos
séculos. Mais de 400,000 copias foram
criadas do livro Sailing Ships e ele ainda
está sendo vendido — eu ainda recebo
cheques de royalties. O livro vende em
Nova york por 600 dólares.” 4
rON vAN DEr MEEr, SAIlING SHIPS, 1981
4 AvEllA, 2009: 106
37
Como diz Ann Montanaro, colecionadora de livros móveis e fundadora da Movable
Book Society:
Por mais de 700 anos, artistas, filósofos, cientistas e designers
tentam desafiar os limites do livro. Eles adicionaram abas, partes que
rotacionam e peças móveis para realçar o conteúdo encontrado nas
páginas simples e bi-dimensionais. 5
Segundo ela, hoje em dia, o número de livros pop-up no mercado
cresceu de forma espetacular, e cerca de 200 à 250 novos livros pop-up
são produzidos em inglês todo ano.
jANE rAy, SNOw wHITE, 2009
PAul wIlGrESS, ElvIS, 1985
lINDA COSTEllO AND BruCE fOSTEr,
lIGHTHOuSES: A POP-uP GAllEry, 2007
5 AvEllA, 2009: 106
38
Através de observações em algumas das maiores livrarias da cidade de São Paulo,
nota-se que existem muitos títulos disponíveis, especialmente para crianças,
no mercado de livros pop-up brasileiro. Existe uma grande procura por livros da
categoria, afinal a sua característica lúdica transforma as próprias páginas do livro
em brinquedos, fator que atrai as crianças na hora da leitura. No Brasil há poucas
editoras especializadas em livros pop-up, mas várias voltam a sua atenção para esse
segmento, em apenas algumas edições ou projetos específicos.
O gasto com a produção de um livro pop-up é alto, especialmente devido ao
processo manual de montagem, além da necessidade de existir facas especiais para
praticamente todas as páginas do livro, o que encarece ainda mais o projeto. É um
grande investimento para uma editora, por isso é necessário que exista a certeza
que o projeto terá sucesso, tanto na hora de desenvolvimento e montagem como
posteriormente, nas livrarias. uma maneira simples de entender o custo de produção
é calculando a partir do valor de alguns livros no mercado. O livro de Robert Sabuda
Alice’s Adventures in Wonderland, por exemplo, a partir do valor encontrado na
livraria Cultura calcula-se em r$ 14,58/página. Enquanto, em um exemplo surreal,
39
a edição exclusiva do livro Valentino, da editora Taschen, de 738 páginas e valor
total de r$ 5.775,00, sai r$ 7,82/página. Não existem informações, até a presente
data, sobre quais técnicas dos livros móveis são possíveis de reprodução nos parques
gráficos brasileiros. Ainda não é claro se as impressões e manuseio das edições
brasileiras são feitas em outros países, e qual é o impacto no custo da produção.
Atualmente, no Brasil, a categoria de livros pop-up mais explorada é a infantil por
ser um investimento mais seguro para as editoras. A procura por esses livros é mais
constante por pais que necessitam de livros diferenciados para estimular a leitura
de seus filhos e, muitas vezes, eles mesmos também ficam fascínados pelos pop-ups
infantis. Isso não acontece apenas no Brasil. No mercado internacional, a categoria
infantil também domina o mercado. No entanto, podemos encontrar muitos livros
que são voltados à um público adulto ou jovem, e até para quem é interessado na
ténica da engenharia de papel em si. Os brasileiros que se interessam por esses livros
normalmente tem que importá-los para o país, ou comprá-los por valores muito mais
altos nas livrarias nacionais. livros como o ABC3D, onde o abcedário é transformado
em estudo tipográfico tridimensional que se movimenta na página através da
40
interação com o usuário; Trail, subtitulado “poesia de papel”, com pop-ups
realizados apenas em páginas brancas; livros de arquitetura em que edificações
perfeitas saltam de suas páginas; ou a edição 55 da revista Visionaire, intitulada
Surprise! e desenvolvida por autores renomados; são ótimos exemplos que o pop-
up é uma técnica em voga, que não necessariamente deve ser voltada apenas para
o público infantil.
O que impulsiona o consumidor a comprar um livro pop-up são as suas próprias
páginas. O efeito das dobraduras é, sem sombra de dúvidas, o que fascína o leitor —
que inicialmente ignora o texto presente nas páginas para observar por mais tempo
como uma certa dobradura acontece, abrindo e fechando o livro múltiplas vezes. O
pop-up traz à página o efeito de realidade; o tridimensional ajuda o leitor a visualizar
determinada cena ou local de uma maneira muito mais fácil do que apenas o texto
corrido. quando existe a junção da visão tridimensional e do texto, isso transforma o
entendimento e a aprendizagem do leitor em algo intuitivo e eficiente. O pop-up não
é somente lúdico, a técnica também pode ser utilizada de maneira informacional.
DAvID PElHAM, TrAIl, 2007
41
É importante entender o grande potencial da engenharia de papel. A utilização da
técnica influencia o leitor e, para continuar com a evolução que pudemos observar
durante os séculos, é necessario abordar novos temas e atingir novos públicos.
vISIONArE 55: SurPrISE! 2008
42
o pop-up como recurso gráfico
DEsigN gráfiCo é NormALmENtE PENsADo Como UmA AtiviDADE qUE ACoNtECE Em DUAs DimENsõEs mAs, DE fAto, tUDo qUE é mAis ComPLExo qUE Um simPLEs PostEr fUNCioNA Em três DimENsõEs. Natalie Avella
43
Existem várias possibilidades que podem ser exploradas por designers para criar
elementos interativos no universo dos materiais impressos. A engenharia de papel
pode e deve ser utilizada quando for de interesse do designer atingir um objetivo
específico que não é possível ser alcançado através das páginas planas de um livro
normal, onde o 2D não é suficiente.
Classificados como aqueles que criam livros pop-up ou livros com projetos gráficos
diferenciados em sua forma e linguagem, os engenheiros gráficos buscam através da
criação de camadas, rasgos ou novas formas e materiais, inovar a estrutura tradicional
do objeto com que trabalham. A idéia principal por trás dessas intervenções é
transformar o processo de leitura em uma experiência única para o leitor. “O virar da
página ou o puxar de uma aba revela novas dimensões ou camadas, criando surpresa
e abrindo para o espectador novos modos perceptivos,” diz a autora Natalie Avella,
“esse tipo de design não funciona sem a participação.” 6
Os engenheiros gráficos acreditam que livros que utilizam elementos de
interatividade entre objeto e leitor são capazes de passar o seu conteúdo de uma
forma muito melhor e mais completa do que as páginas planas de um livro comum.
6 AvEllA, 2009: 08
44
O leitor participa do design, fazendo os elementos da página entrarem em ação, seja
através do simples movimento de abrir o livro ou o puxar de uma aba, desencadeando
uma cena complexa e interessante.
A técnica de pop-up pode trazer várias funcionalidades para um projeto. Alguns
designers utilizam do pop-up para transformar simples livros em brinquedos
interativos que ensinam coisas importantes para crianças. Outros designers procuram
trazer à vida cenas históricas ou exemplificar edificações complexas, para um público
adulto. A técnica do pop-up pode abranger um público muito variado. qualquer
pessoa é entretida e surpreendida quando existe o uso de elementos tridimensionais
em livros, independente do seu público alvo.
vISIONArE 55: SurPrISE! 2008
45
A publicação de um livro pop-up é um processo de produção que envolve a habilidade
de um grande número de indivíduos. A criação começa a partir do conceito, do autor,
seu roteiro e das ilustrações de um artista. Com o conceito em mãos, o engenheiro de
papel tem o trabalho de ser imaginativo e prático - dar movimento e ação as idéias
dos outros criadores, cuidando para que as peças móveis não quebrem ou amassem,
determinando os pontos de cola e a altura das peças para que o livro possa fechar
corretamente, sem causar danos à arte. O engenheiro de papel também deve cuidar
para que todas as partes estejam dispostas na folha de impressão corretamente,
para não existir desperdicio de papel e, assim, economizar gastos. Algumas vezes,
pode ocorrer do projeto inteiro ficar nas mãos do próprio engenheiro gráfico, que
desenvolve desde a idéia inicial às ilustrações e montagem das peças.
Os livros pop-up são montados à mão na Colombia, Equador, México ou Singapura.
Depois de impressas, as peças são cortadas das páginas com facas de corte especiais
e agrupadas com suas respectivas páginas. “As linhas de produção são criadas e
muitas vezes o trabalho manual de 60 pessoas é o necessário para completar um
único livro.” 7 Eles seguem a risca o projeto do engenheiro gráfico: fazendo as dobras,
7 MONTANArO: A CONCISE HISTOry Of
POP-uP AND MOvABlE BOOkS
46
inserindo abas, conectando pivôs de papel, colando e alinhando peças exatamente
com as impressões, mantendo os ângulos precisos para que, quando montados, os
livros abram e fechem corretamente, sem danificar as peças.
“O engenheiro de papel deve ponderar os pop-ups complexos com a realidade da
produção,” diz Andrew Haslam, autor do livro O Designer e o Livro II, “quanto maior
o número de componentes e pontos de colagem, maior a perda de tempo e custo
do acabamento de cada página, além da exigência de técnicos especializados.” 8
É importante que o designer, além de coordenar o projeto visual do livro
completamente, também se preocupe com a arte final, de modo a minimizar os custos
onde possível. O projeto de um livro pop-up é muito caro,já que podem existir o
trabalho do próprio designer, um possível autor da história, e de um ilustrador; além
da impressão para a criação de mock-ups, afinal acertar todos os ângulos e estruturas
é um processo de tentativa e erro. Também é necessário pensar no equilíbrio entre
os vários elementos do livro. É função dos engenheiros de papel fazer com que
estruturas de papel, imagens e texto funcionem em harmonia de modo a criar um
livro com um bom ritmo página a página.
8 HASlAM, 2007: 200
47
os princípios básicos do pop-up podem ser adaptados e combinados
para fazerem inúmeros modelos tridimensionais. A maioria dos
mecanismos e abas de colagem num livro de pop-up é oculta em
dobras concertina. quando o livro é cuidadosamente aberto com um
bisturi, o segredo de sua construção é revelado. 9
O processo de estudar profundamente livros criados por outros
autores é definitivamente benéfico; observar as maneiras como outros
designers conseguem resolver os possíveis problemas da mecânica das
estruturas de papel ajuda na aprendizagem da técnica. O interessante
da engenharia de papel é que a combinação de estruturas vistas em
diferentes livros podem criar uma nova estrutura, completamente
diferente da original.
9 HASlAM, 2007: 207
AlICE ADvENTurES IN wONDErlAND,
rOBErT SABuDA, 2007
48
as possibilidades da engenharia de papel
As possibilidades da engenharia de papel são infinitas. Obviamente é necessário levar
em conta os limites do material escolhido, seja papel ou outro material alternativo, e
da matemática, afinal ângulos errados podem estragar completamente uma estrutura.
Partindo de cálculos simples e com a utilização da lógica, é possível idealizar
qualquer estrutura 3D que salte das páginas de um livro. A possibilidade está sempre
presente, porém o custo de um projeto que necessita tanto cuidado, planejamento e
testes é normalmente muito alto.
Os livros pop-up que encontramos nas livrarias são, na sua maioria, infantis. Esses
livros abrangem praticamente todas as principais idades do desenvolvimento de
uma criança, ensinando através de estruturas em papel tarefas básicas do dia-a-dia
ou o estímulo da criatividade e fantasia. Esses livros normalmente possuem uma
linguagem visual mais simples ou comunicam-se através de personagens populares
de filmes ou seriados que são voltados para esse mesmo público.
Em uma parte significativamente menor desse mercado encontra-se livros pop-up
que tratam de assuntos pertinentes a um espectador mais maduro, o público jovem e
adulto. Os assuntos normalmente abrangem arquitetura, design e arte.
49
livros históricos ajudam o leitor a entender melhor edificações ou pontos
importantes na história, enquanto outros mostram cores e formas abstratas de modo
a fascinar o leitor pela estrutura, não tanto pela história fictícia. Além disso, muitos
artistas independentes utilizam da engenharia de papel para criar artist books, livros
produzidos manualmente e de tiragem limitada a poucos exemplares. um dos livros
mais famosos voltado para esse público era, inicialmente, um artist book: ABC3D de
Marion Bataille, aquisição essencial para qualquer leitor apaixonado por design e,
acima de tudo, tipografia.
Mas a engenharia de papel e o seu aspecto pop-up não aparecem
somente em livros. O designer Stefan Sagmeister criou um convite de
casamento para um casal de amigos que continha um pop-up delicado
e ornamental, que não necessitava nenhuma impressão — a história de
como o casal se conheceu e o convite para o casamento foram cortados
a laser das partes de papel. Sagmeister também criou um cartão de
visita para seu estúdio que, a partir de algumas dobras e cortes, se
tornava um relógio de sol.
SElf PrOMOTIONAl CArD,
STEfAN SAGMEISTEr, 2000
50
O estúdio de design Trickett & Webb, em parceria com a engenheira de
papel Corina Fletcher, criou um calendário para a Royal Society of Arts
de londres, com o mínimo de impressão possível, cada mês mostra um
elemento da herança cultural da instituição em pop-up.
A característica visual do papel também aparece desde propagandas
publicitárias à animações. O clipe da música Clumsy da artista
americana Fergie, por exemplo. um livro que está sobre uma mesa se
abre para revelar as protagonistas do clipe dentro de um pop-up. Em
cada cena a cantora aparece interagindo com as diferentes páginas do
livro. O cenário é completamente criado em 3D e são dobraduras que
nunca poderiam existir no mundo real pois expandem mais do que o tamanho das
páginas do livro. No entanto, o importante é a característica visual e a movimentação
de pop-up, que está muito bem caracterizada visualmente. Pode-se dizer que é
um processo inverso ao de criar um livro pop-up, enquanto em um livro busca-se
transformar o papel em uma estrutura tridimensional, o clipe marca a utilização de
animação 3D para criar algo que se asssemelha ao papel.
rOyAl SOCIETy Of ArTS CAlENDAr,
COrINA flETCHEr/TrICkETT & wEBB
51
Também no universo da música, a banda britânica Shitdisco criou um clipe para seu
single OK que envolve um livro pop-up sendo manuseado conforme a música toca. Os
membros da banda são transformados em estruturas que tocam guitarra, bateria e até
cantam. Com a ajuda de pessoas que abrem, fecham e puxam as abas do livro, como
um show de marionetes, a banda em formato de papel atua no clipe, por assim dizer.
No âmbito da multimídia, existem vários curtas de animação com aparência de pop-
up e papel, além de propagandas que utilizam dessa característica visual para passar
quaisquer informações necessárias.
Ok, SHITDISCO, 2007
52
A publicidade também utiliza da engenharia de papel.
A marca de mobiliário Nha Xinh produz móveis práticos
e dobráveis e, para enfatizar o conceito e a caterística
dos produtos, eles desenvolveram uma campanha com
os móveis da marca que saltam da página de revistas.
No Brasil, a agência Leo Burnet também criou uma
propaganda diferente e inovadora com pop-ups para a
marca de chiclete Arcor.
Além disso, existem muitos artistas que criam obras
de arte a partir do papel. Transformando o material
em esculturas e universos complexos. Alguns dos
principais mestres dessa arte são Jen Stark, Helen
Musselwhite, Ingrid Siliakus e Elod Beregszaszi.
NHA xIHN , 2009
PrOPAGANDA DO CHIClETE ArCOr,
lEO BurNET, 2009
HElEN MuSSElwHITE, 2009
53
Dois designers muito criativos, Liddy Scheffknecht e Armin B Wagner, mostraram
que não existem limites para a dimensão das estruturas que podem ser criadas com
o papel. Eles desenvolveram o Pop-Up Mobile Office — um escritório móvel, com uma
mesa e cadeira em tamanho real.
Como podemos ver, existem infinitas possibilidades de aplicação das técnicas da
engenharia de papel. Pop-ups gigantes, mundos que surgem de cortes nas páginas e
até um ambiente completamente criado por computador. É uma técnica que atinge e
fascína independente do meio em que está aplicada. E, para que continue a evoluir
é necessário que designers e artistas sempre busquem criar algo diferente quando
deparados com um projeto de papel.
POP-uP MOBIlE OffICE, lIDDy SCHEffkNECHT E ArMIN B wAGNEr2009
54
a linguagem e a influência do elemento tridimensional
EU fAço UmA foLHA DE PAPEL. Em miNHAs mãos Está Um EsPAço totALmENtE Novo EmErgiNDo DA ágUA, E Lá, Por Um iNstANtE, As PossibiLiDADEs Do mUNDo sE ExPANDEm. Joel fischer
55
repetimos o movimento do virar de folhas várias vezes ao longo do dia. Manuseamos
jornais, revistas, livros e simples folhetos com olhar indiferente, sem pensar sobre a
informação disposta em folhas que, um dia, estavam em branco. Apenas absorvemos,
muitas vezes inconscientemente, as informações que alí se encontram. O processo de
leitura do mundo contemporâneo se tornou um “ato de absorção e não de interação
com as páginas.” 10
Em um primeiro momento, tal afirmação não parece condizer com os fatores que
observamos a nossa volta: a quantidade de informação disponível para o público é
vasta, seja através da tecnologia ou do bombardeio visual que sofremos todos os dias.
Porém, esses fatores transformaram a leitura de páginas planas em algo obsoleto.
No mundo moderno, o tempo passa mais rápido e, em consequência disso, a
mente dos indivíduos das novas gerações funciona em uma maior velocidade. Os
indivíduos se adaptam com grande facilidade para receber cada vez mais informação
e responder mais eficientemente a cada estímulo desse mundo exterior, que é
extremamente tecnológico e visual. O processo de leitura se tornou ação memorizada
e, a não ser que o assunto interesse profundamente o leitor, ele é capaz de assimilar
10 AvEllA, 2009: 07
56
o conteúdo de um livro automaticamente. O bloco retangular de papel liso unido
pela espinha com texto disposto nas páginas de maneira homogênea é considerado
lugar comum. O formato do livro é algo que já é conhecido pelo público, é planejado
e previsível.
Keith Smith, autor e encadernador, menciona em seu livro Books Without Paste
or Glue que “tratar um livro como nada além de uma pilha de folhas seria negar o
movimento inerente da evolucão das frentes aos versos. um códice é mais do que um
grupo... Tal estrutura é conectada, cada ideia sucessiva é dependente da anterior. A
ideia não é ‘adicionar’, no sentido de tratar o livro como um recipiente vazio onde as
coisas devem ser presas. Mas sim aprender a ver o poder e potencial de um livro em
branco.” 11 Portanto, é importante entender o grande potencial gráfico de um livro, e
explorar todas as ramificações possíveis que um projeto editorial pode conter para
ser inovador e sobreviver no mundo atual.
A interação entre leitor e página é o que determina a diferença entre a simples
absorção de informação e a criação de um vínculo emocional com o objeto que é o
livro e o assunto que o mesmo trata. Para Smith, a utilização de cortes ou dobraduras
11 AvEllA, 2009: 09
57
tem a capacidade de transformar um
projeto gráfico em algo dinâmico,
criando uma relação mais substanciosa
com o fator tempo. O autor acredita
que uma única folha de papel possuí
um tempo curto pois ela permite a
visualização completa de algo, de uma
só vez. Enquanto uma página que é
dobrada de maneira que surgem quatro
novas páginas “não podem ser vistas simultâneamente, elas são experimentadas no
tempo como uma peça de quatro atos, uma sinfonia de quatro movimentos. Tempo e
movimento são fatores necessários nesse formato.” 12
Joanna Hoffman, artista polonesa que cria livros em formatos incomuns, estuda em
seu ensaio On the Margins of Time a influência do tempo e espaço no processo de
leitura. Ela acredita que a forma que um livro é apresentado é capaz de passar o seu
conteúdo, e que “invenções estruturais como arranjo e diferenciação de páginas,
12 AvEllA, 2009: 08
58
rasgos, dobras, cortes, etc. introduzem valores rítmicos e fazem o objeto se tornar a
orquestração de um fragmento definitivo de espaço e tempo.” 13
O leitor presencia uma nova faceta do objeto, interativa
e dinâmica, que pode ser alterada da maneira que
lhe for necessária. Para Hoffman, a inovação no
formato “induz a ativação de tempo e espaço, motivo
e conteúdo, animação e metamorfose.” 14 O ritmo
transforma o leitor em espectador. Muito além disso,
o leitor torna-se colaborador direto para que o livro
funcione, a partir de seu próprio ritmo e ideias. O leitor
torna-se parte do projeto, reforçando ainda mais a
criação de um vínculo extremamente pessoal entre
indivíduo e objeto.
O movimento gerado pela interação do leitor com as páginas é considerado energia
cinética, que é a grande aliada de designers que procuram desenvolver projetos com
os elementos da engenharia do papel. De simples rasgos nas páginas até os pop-
13 AvEllA, 2009: 08/09
14 AvEllA, 2009: 08/09
59
ups mais complexos, a energia cinética é fator essencial para o efeito desejado ser
realizado e compreendido pelo leitor - quanto mais bem desenvolvidos e planejados
os movimentos das páginas, melhor será a interação e compreensão do conteúdo.
Natalie Avella menciona em seu livro uma pesquisa sobre os livros pop-up do
autor Ron van der Meer. realizada por um professor de psicologia em Amsterdam,
a pesquisa constatou que o leitor retém cerca de 75% de toda a informação dos
livros de van der Meer, enquanto, de um livro normal, o leitor retém apenas 20%.
Portanto, é correto afirmar que o elemento tridimensional tem a capacidade de
mudar a interação e leitura do conteúdo. O processo de leitura de um livro pop-up é
mais complexo, pois requer mais atenção e cuidado. Inicialmente, o leitor interage e
observa os elementos de todas as páginas. Somente em um segundo momento que
o leitor lerá o conteúdo, de maneira mais profunda e atenta, devido aos elementos
tridimensionais presentes na página que provocam o intelecto do leitor. O forte
sentimento de surpresa que ele experimenta a cada página, através da energia
cinética, transforma um livro de engenharia de papel em algo totalmente diferente no
mundo contemporâneo.
60
fundamentação teórica
O livro e o designer II: Como criar e produzir livros de Andrew Haslam foi o único
livro em português utilizado na pesquisa. Publicado no Brasil pela Editora Rosari, o
livro de Haslam comenta brevemente sobre a engenharia de papel mas foi essencial
para a criação do capítulo O POP-uP COMO rECurSO GráfICO. Até o presente
momento não foram encontrados mais livros que tratam do tema pop-up como
elemento técnico ou recurso gráfico em português. Assim, reunir uma bibliografia
particular com livros na sua maioria em inglês serviu de alicerce para o estudo de um
tema ainda pouco tratado no Brasil.
61
livros lidos e relacionados
Paper Engineering Revised & Explanded Edition: 3D design techniques for a 2D
material, da autora Natalie Avella, contém alguns dos melhores projetos gráficos que
utilizam as técnicas da engenharia de papel; de pop-ups à facas de corte pensadas
para atingir um objetivo específico. Além de proporcionar um grande repertório
visual, o livro de Avella foi essencial para a fundamentação teórica deste projeto, em
especial os ideais expressos no capítulo A lINGuAGEM E A INfluENCIA DO ElEMENTO
TrIDIMENSIONAl e pela introdução os artistas e autores Ron van der Meer, Joanna
Hoffman, Keith Smith, Kate Farley e Corina Fletcher.
62
Para a aprendizagem da técnica e criação das estruturas móveis do produto final, foi
consultado, com muita profundidade, o livro Elements Of Pop Up: A Pop Up Book For
Aspiring Paper Engineers de David A. Carter e James Diaz. Esse livro foi essencial
para o entendimento da técnica. Através de muitos detalhes e explicações claras, é
possível entender várias estruturas que podem ser utilizadas individualmente ou em
conjunto para criar pop-ups interessantes. Além desse livro, foram utilizados os livros
de Carol Barton, Paul Johnson e Rob Ives. Esses livros também serviram para embasar
os vários capítulos da pesquisa.
63
Pop-up Paper Engineering: Cross
Curricular Activities in Desigh
Technology, English and Art de
Paul Johnson.
Paper Engineering & Pop-ups for
Dummies de Rob Ives.
The Pocket Paper Engineer, Volume
I: Basic Forms e The Pocket Paper
Engineer, Volume II: Platforms and
Props, de Carol Barton.
periódicos
The Artist as Paper Engineer é um artigo escrito por Carol Barton para a publicação
online The Bonefolder: an e-journal for the bookbinder and book artist que mostra,
de um ponto de vista pessoal, a tragetória da autora como engenheira de papel e as
dificuldades enfrentadas para poder publicar o seu primeiro livro. um artigo cedido
pela própria autora, foi uma leitura muito interessante para poder entendê-la e o
mundo contemporâneo em relação a engenharia de papel.
64
web
A Concise History of Pop-up and Movable Books é um artigo disponível na internet e
escrito pela historiadora de livros pop-up Ann Montanaro. Esse artigo foi de grande
importância para a criação do capítulo CONTExTuAlIzANDO lIvrOS MóvEIS E A
ENGENHArIA DE PAPEl, pois explica a evolução histórica da engenharia de papel de
maneira compreensível e interessante.
65
66
pesquisa de campo
No mercado atual de livros pop-up, o perfil de usuários
predominante é o infantil. As crianças se divertem com
um objeto lúdico que, como resultado, proporciona
o estímulo da imaginação e da leitura, além do
desenvolvimento da perspectiva e do intelecto. Os pais
compram os livros para seus filhos, esperando esses
possíveis resultados. Assim, devido ao grande interesse
desse público, a produção de livros pop-up infantis e a
quantidade deles no mercado é alta. A qualidade varia,
alguns são muito simples em estilo enquanto outros
possuem um projeto gráfico bem pensado e desenvolvido. Nas livrarias brasileiras,
é comum encontrar opções variadas de livros pop-ups nas áreas especificas para
crianças, porém é mais difícil encontrá-los em qualquer outra categoria ou para
qualquer outro público.
67
público-alvo
Existem títulos no mercado internacional para jovens e adultos, mas não na mesma
proporção que os livros infantis. Os interessados por pop-up que se encaixam nesse
novo perfil de usuários muitas vezes acabam comprando os livros infantis pois não
existem títulos disponíveis que tratam de outros assuntos. No entanto, leitores de
outros países tem mais facilidade em encontrar esses poucos livros para jovens
e adultos do que os leitores brasileiros, que normalmente tem que importá-los e
esperar semanas para poder ter o livro em mãos.
Portanto, de modo a atender a demanda por livros voltados para outros públicos
no mercado atual, o público alvo escolhido para este projeto é: jovens e adultos,
apreciadores de música, mais especificamente dos Beatles, aproveitando também o
atual ressurgimento da banda na mídia. Para aqueles interessados em livros objeto,
ilustração e interpretação visual.
68
editoras e engenheiros gráficos
Existem várias editoras que se destacam no segmento de livros pop-up nacionais,
entre elas: Editora Ática, Brinque-book, Editora Caramelo, Ciranda Cultural,
Companhia das Letrinhas, Girassol, Publifolha, Salamandra e Todolivro. No entanto,
os livros publicados em português são, em sua maioria, títulos comprados de editoras
e autores internacionais.
A Ciranda Cultural é a editora mais presente no mercado brasileiro de livros pop-up.
A editora publica os mais variados livros, de infantis à bíblicos e até de literatura
brasileira. Eles possuem 92 títulos em pop-up, classificados como “livros em 3
dimensões”. A maioria desses títulos são de autores internacionais, porém 13 estão
creditados como criação original da Equipe Ciranda Cultural. A renomada editora
Companhia das Letras também entra nesse segmento editorial com 15 títulos sob o
seu selo infantil, Companhia das Letrinhas. A editora Salamandra tem o direito da
publicação da Encicopédia Pre-histórica: Dinosauros, de Robert Sabuda e Matthew
Reinhart, no Brasil. O livro faz parte da coleção de livros Brinquedo da editora,
acompanhado de outros livros infantis interativos, mas desses, apenas 3 livros são
pop-ups. O livro foi impresso na Tailândia, e não no Brasil, segundo as informações
disponíveis no mesmo.
69
No mercado internacional existem grandes e pequenas editoras que publicam livros
pop-up. Entre as mais conhecidas está a Harper Collins, que possui poucos livros
pop-up em seu catálogo, porém entre esses existem livros voltados para um público
diferenciado de jovens e adultos, como o The Pop Up Book of Phobias do Gary
Greenberg e o The Pop Up Book of Sex do grupo Melcher Media. A Little Simon é o
selo infantil da Simon & Schuster que, segundo a própria editora, se
“especializa em livros inovadores para crianças.” 1 Eles trabalham com
muitos autores e engenheiros de papel, incluindo grandes nomes,
como David A. Carter, David Pelham, Matthew Reinhart e Robert
Sabuda, e são responsáveis por mais de 70 livros pop-up no mercado
atual. A Random House, editora que preza trazer para seus leitores
o melhor das categorias de ficção, não-ficção e infantil, possui cerca
de 40 títulos pop-up em seu catálogo. Eles também trabalham com a
dupla Matthew Reinhart e Robert Sabuda, produzindo os três volumes
da série Encyclopedia Pre-historica: Dinosaurs, Sharks and Other
Sea Monsters, Mega-Beasts (apenas o primeiro foi traduzido para o
português.) Além de publicar alguns títulos pop-up para jovens, como
15 lITTlESIMON.COM, 03/05/2009,
11:00
70
o Moon Landing, que celebra o 40˚ aniversário da aterrisagem da Apollo 11 na lua, e
adaptações oficiais em pop-up do Homem Aranha, Incrível Hulk e X-Men em parceria
com a Marvel Characters, Inc.
Provavelmente os autores e engenheiros gráficos mais conhecidos e publicados
no ramo dos livros pop-up, Matthew Reinhart e Robert Sabuda, começaram suas
carreiras separadamente. Robert Sabuda estudou arte no Pratt Institute, em Nova
Iorque, e durante um estágio na Dial Books for Young Readers, ele aprendeu
muito sobre livros infantis e descobriu sua paixão por ilustração infantil. Depois
de pequenos trabalhos, ele começou a escrever suas próprias histórias e ilustrá-
las, eventualmente ele re-descobriu os livros pop-up de sua infância e aprendeu a
técnica a partir deles. Em sua biografia, Sabuda diz que “quando seu trabalho é ser
um artista, você pode fazer tanta confusão quanto você quiser!” 16 Matthew Reinhart,
por sua vez, começou seus estudos com aulas focadas em biologia e medicina, porém
conseguiu participar de algumas aulas de arte e criar seu portfólio. Depois de se
formar no colégio e antes de entrar na faculdade de Medicina, Reinhart se mudou
para Nova Iorque, onde conheceu Robert Sabuda e, por indicação do amigo, começou
16 rOBErTSABuDA.COM, 10/04/2009,
15:00
71
a estudar Desenho Industrial no Pratt Institute. Depois de ajudar Robert Sabuda em
vários de seus livros enquanto ainda estudava, Reinhart resolveu seguir o caminho da
engenharia de papel. Hoje em dia, os dois artistas possuem muitos títulos sob seus
nomes, dividem um estúdio em Nova Iorque e realizam vários projetos em parceria.
Kate Farley é uma artista britânica que escreve e produz manualmente os seus
próprios livros objeto, que normalmente são edições limitadas de 20 cópias. Farley
acredita que o processo de criação de um livro é sobre ”produzir algo que envolve
muitas considerações diferentes que precisam se unir de forma organizada. Não
é questão de jogar imagens em uma estrutura de livro, e sim de considerar todas
as características que um livro oferece. Seqüencia, narrativa, tempo, assim como
conteúdo estrutural e visual.” Para a artista, “quando existe a combinação perfeita do
conteúdo estrutural e visual, você tem um bom livro.” 17
Outro autor que é importante mencionar é Ron van der Meer, o primeiro engenheiro
gráfico que acreditou que adultos podiam ser cativados pelo pop-up tanto quanto as
crianças. Em 1970, Van der Meer se interessava por animação, porém se formou em
Design Gráfico e se especializou na criação de brinquedos. Seus livros normalmente
17 AvEllA, 2009: 38
72
tratam de assuntos especiais e técnicos, como arquitetura, música e psicologia.
Van der Meer possui um olhar interessantíssimo sobre design gráfico em relação ao
processo de criação de elementos pop-up. O autor diz: “Eu não gosto dos truques que
servem só para se mostrar - as minhas páginas são muito mais pragmáticas. Primeiro,
eu olho para o assunto. Segundo, eu olho para ver se tem algo que eu posso adicionar
a ele como designer para transformá-lo em algo que será melhor compreendido.
Terceiro, eu me pergunto se é praticavel em termos de custo e dinheiro. E se você não
tem o porque adicionar algo, deixe quieto.” 18 Sua visão transforma as mecânicas que
cria em seus livros em uma lição para outros designers de todas as possibilidades que
a engenharia de papel pode conter quando unida ao design.
Existem muitas editoras, colecionadores, engenheiros de papel e autores importantes
para a continuidade dessa arte e para a criação de novas publicações, como David A.
Carter, David Pelham, Corina Fletcher, Ellen Rubin, entre outros. Seria praticamente
impossível mencionar todos, porém é importante constar que todos são essenciais
para o desenvolvimento e propagação da técnica no mundo atual e para o futuro.
18 AvEllA, 2009: 106
73
entrevistas
Ann Montanaro é a colecionadora, historiadora e
fundadora da Movable Book Society. Influenciada
pelo hábito de colecionar livros de seu pai, ela
começou a colecionar seus próprios exemplares de
livros pop-up. A partir de sua coleção, ela conseguiu
compilar muitas referências sobre livros pop-up já
publicados. quando ela teve a oportunidade de conhecer um editor, ela comentou
sobre sua pesquisa e, assim, nasceu o livro Pop-Up and Movable Books, uma grande
fonte histórica de pesquisa. Depois da publicação de seu livro, Ann notou um grande
interesse do público sobre a técnica e, em 1993, fundou a Movable Book Society
com a intenção de unir “colecionadores, artistas, curadores, vendedores, produtores
e outros que partilham do entusiasmo e querem trocar informações sobre pop-ups e
livros móveis.” 19 A associação promove convenções bi-anuais, premia engenheiros
de papel com o prêmio Meggendorfer e publica trimestralmente um jornal virtual de
novidades, artigos, informações sobre exibições, entre outros assuntos pertinentes
aos seus membros.
19 THEMOvABlEBOOkSOCIETy.COM,
29/04/2009, 18:00
74
Entrevista por e-mail
13 de maio de 2009
qUANDo voCê sE torNoU
iNtErEssADA Por Livros PoP-UP?
Em 1986 eu participei de um curso
onde um avaliador de livros estava
discutindo o valor do livro. Meu pai
tinha uma grande coleção de livros e
eu sempre via o prazer que ele tinha
em colecioná-los. Durante a tarde, o
avaliador disse “apenas colecione o que
você ama e nunca pense nisso como
um investimento.” Eu pensei sobre um
livro pop-up que eu tinha dado ao meu
sobrinho de presente e perguntei sobre
colecionar pop-ups. Ele respondeu
com a frase acima e no dia seguinte eu
comecei a procurar por outros pop-ups.
qUAL foi A sUA motivAção PArA
CriAr A movAbLE book soCiEtY?
quando eu comecei a colecionar, existia
pouco que eu conseguia encontrar
escrito sobre pop-ups. Bibliotecas
não os compravam, então eles não
apareciam em seus catálogos. Assim,
como uma bibliotecária, eu comecei a
pesquisar quais livros já haviam sido
publicados. Eu precisava saber quando
eu teria uma coleção “completa.” Eu
colecionei muitas referências de livros
e tive a oportunidade de conhecer um
editor que me perguntou “qual livro
você tem em sua cabeça?” Eu disse a ele
sobre as referências e o meu desejo de
escrever uma bibliografia sobre os livros
pop-up publicados em inglês. Depois
que a primeira bibliografia foi publicada,
as pessoas começaram a me enviar
outras referências e a fazer perguntas.
Parecia ser de grande interesse criar
uma sociedade de colecionadores.
75
Em sEU Livro “PoP-UP E movAbLE
books,” qUAL foi o Critério DA
sUA PEsqUisA? voCê iNDExoU
toDos os Livros PoP-UP,
oU ExistiU Um ProCEsso DE
sELEção?
Eu tentei documentar todos os livros
pop-up e livros móveis publicados em
inglês desde 1850.
NA sUA oPiNião, o qUE fAz Um
Livro PoP-UP rELEvANtE? Como
ELE PoDE AtrAir Novos LEitorEs?
um livro pop-up deve ser analisado
do mesmo jeito que um livro plano - a
qualidade da escrita, o encanto, e as
ilustrações adequadas. Porém, em um
pop-up, o outro fator é como o pop-
up pode ajudar contar a história. Eles
acrescentam algo ao conteúdo ou o
sobrepõe? Eles são apenas uma adição
desnecessária, ou eles contribuem ao
contar da história? Eles se movem bem?
Eu acho que crianças se interessam pela
ação na página, e isso as encoraja a ler
o texto para entender o que os pop-ups
estão mostrando.
voCê ACHA qUE os Livros PoP-UP
são, Em sUA mAioriA, APENAs
PArA CriANçAs? PoDEm Livros
PoP-UP sE ExtENDErEm oU sErEm
EsPECifiCAmENtE CriADos PArA
ADULtos?
vários pop ups já foram e ainda
estão sendo criados para adultos. Na
verdade, para mim, vários pop-ups
recentes parecem ser para adultos
e são arquivados erroneamente
nas áreas infantis das livrarias.
Por exemplo, o ABC 3D da Marion
Battaile foi, inicialmente, publicado
como uma edição limitada da própria
artista. quando o livro foi adiquirido e
76
publicado por uma editora, como tratava
do abecedário, o livro acabou na sessão
infantil. Porém, é um livro artístico para
ambos, crianças e adultos. Birdscapes
é outro livro para adultos. Apenas o
preço ($75) já o deixaria fora das mãos
de crianças. Existem vários outros livros
com tema adulto - o kama Sutra, vinhos,
moda, etc.
tECNoLogiA E iNtErNEt
iNfLUENCiAm ProfUNDAmENtE
os CoNsUmiDorEs Nos DiAs DE
HoJE, voCê ACHA qUE ExistE o
risCo DE Livros Não ExistirEm
No fUtUro? os Livros PoP-
UP PoDEm CoNfiAr Em sEUs
ELEmENtos iNtErAtivos PArA
ULtrAPAssAr EssE risCo?
Eu não acredito que livros de papel irão
desaparecer. E eu também não acredito
que livros pop-up irão desaparecer
completamente. O elemento surpresa
quando se abre um pop-up não pode
ser substituído por algo online. Muita
coisa pode ser feita online, mas não é a
mesma coisa que elementos de papel
dobrados movendo na página enquanto
ela é aberta.
voCê tEm ALgUmA iNformAção
mErCADoLógiCA sobrE PoP-UPs,
Como qUANtos PoP-UPs são
PUbLiCADos ANUALmENtE?
Minha melhor estimativa é que são
publicados por volta de 200-250 livros
pop-up em inglês anualmente, desde
os mais baratos e simples até os mais
complexos e caros. Muitos dos livros
não tem alta tiragem. Alguns são apenas
impressos em um único país. Os livros
pop-up de alta tiragem, como os do
autor Robert Sabuda, são tipicamente
licenciados para serem vendidos em
77
vários países. Eu não posso obter informações de editoras sobre a quantidade de
livros que eles publicam, portanto a minha contagem do número de títulos publicados
anualmente é baseada em minha pesquisa pessoal.
Carol Barton é professora e autora de livros pop-up,
além de fundadora da sua própria editora, a Popular
Kinetics Press. Após 25 anos aperfeiçoando sua técnica
de ensino com aulas e workshops, Carol publicou os
dois volumes do The Pocket Paper Engineer, seus livros
que ensinam a técnica do pop-up, através da Popular
Kinetics Press. O perfil de seus alunos varia em idade, sexo e etnia. O seu método de
ensino é eficaz. Carol acredita que não é difícil aprender a técnica do pop-up, pois até
as construções mais complexas partem de uma série de formas simples e fáceis de
aprender.
78
Entrevista por e-mail
27 de maio de 2009
qUANDo voCê sE iNtErEssoU
PELA ENgENHAriA DE PAPEL?
Em relação a datas, me formei no ensino
médio em 1976. Eu comecei a trabalhar
em Glen Echo Park em 1978. Meu
primeiro livro foi publicado em 1981.
NA sUA oPiNião, qUAL é A
imPortâNCiA DE Livros qUE
UtiLizAm A ENgENHAriA DE PAPEL
Nos DiAs DE HoJE? ELEs PoDEm
trANsformAr A PErCEPção Do
LEitor Em rELAção Ao obJEto
Livro?
livros pop-up foram por muito tempo
considerados exclusívos para crianças.
No entanto, hoje existem muitos pop-
ups criados para adultos, assim como
campanhas publicitárias em pop-up
e clipes musicais que utilizam da
aparência visual do pop-up. A surpresa
de virar uma página plana para revelar
a forma dimensinal de um pop-up é o
elemento chave na maioria dos livros
da engenharia de papel. Adicionar uma
página com pop-up em um livro pode
servir para várias funções. Ela pode
trazer o espectador para dentro da
narrativa e solidificar uma idéia com
um modelo tridimensional. Também
pode encorajar leitores a explorar a
página de vários ângulos e perspectivas,
ou desafiá-los a repensar uma idéia
no texto como algo de forma mais
concreta, ou adicionar um novo nível
de interpretação a narrativa. A adição
de um pop-up pode mudar a fluidez e o
ritmo do livro.
E pop-ups podem ser literais ou muito
abstratos, dependendo do que é
79
necessário para realçar a totalidade da
experiência de leitura.
Como é o sEU ProCEsso
CriAtivo? No qUE voCê PENsA
PrimEiro, NA HistóriA oU NA
EstrUtUrA?
Cada livro evolui de maneira diferente.
Algumas vezes eu começo com a
estrutura e escolho um tema que
funcione a partir dela. Outras vezes uma
sequência visual, história ou imagem
serve como o meu ponto de partida;
então eu procuro criar uma estrutura de
livro apropriada para contê-la. Algumas
vezes apenas uma palavra, ou lista de
palavras, é o trampolim para um livro
inteiro. Muitas idéias ficam em meu
pensamento por muito tempo antes
de se tornarem realidade, e outras
idéias são abandonadas ao decorrer do
tempo pois elas perdem a graça e são
substituídas por novas idéias.
o qUE A motivoU A EsCrEvEr E
PUbLiCAr os Livros “tHE PoCkEt
PAPEr ENgiNEEr”?
Depois de 25 anos ensinando como
fazer pop-ups, eu desenvolvi um
método de explicar as técnicas de
construção que funcionavam para a
maioria dos meus alunos, independente
de sua idade ou background. A minha
idéia foi colocar essas técnicas em papel
para atingir um público maior.
APós visitAr o sEU bLog PEssoAL
E o wEbsitE DA PoPULAr kiNEtiCs
PrEss, EU rEPArEi qUE voCê LEvA
As sUAs AULAs E worksHoPs
PArA vários LUgArEs Do mUNDo.
o qUE tE motivA A ENsiNAr
oUtros sobrE PoP-UPs? voCê
ENsiNA PoP-UPs, ENCADErNAção
80
E vAriADAs EstrUtUrAs DE Livros. ENtrE EssAs téCNiCAs, ExistE
ALgUmA qUE voCê PrEfErE?
Eu acho que a engenharia de papel não é apenas divertida, mas também um ótimo
jeito de aprender geometria, design tridimensional, mecânica e resolução funcional
de problemas. Eu amo ensinar as técnicas na sala de aula, e sou inspirada pelos
trabalhos que meus estudantes criam. Os workshops sobre como fazer pop-ups são
as minhas aulas favoritas, mas também gosto de ensinar estruturas como os livros do
tipo túnel e carrossel.
Sally Blakemore é uma autora de pop-ups comerciais,
diretora da Arty Projects Studio, Ltd. em Santa fé, New
Mexico. Ela já trabalhou com as seguintes editoras:
Simon & Schuster, Disney Press, Harper Collins,
Intervisual Books e White Heat, ltd.
Entrevista por e-mail
23 de novembro de 2009
81
voCê Diz qUE AmA o mUNDo Do
PAPEL triDimENsioNAL DEsDE
1994. Como voCê sE iNtEssoU
Por EssE mUNDo?
Em 1979, eu deixei o departamento de
zoología da universidade do Texas, onde
eu era uma ilustradora científica. Eu
mudei para washington, DC e conheci
meu terceiro marido 3 meses depois da
mudança.
Nós fomos apresentados por minha
colega de apartamento na faculdade
que era, na época, editora na Iowa Press.
Rusty trabalhava na Library of Congress
como tradutor russo. Em nosso primeiro
encontro, ele me levou para ver a bíblia
de Gutenberg que fica na Library of
Congress e nós fomos e uma fabulosa
livraria. Eu encontrei o livro de Tor
Lokvig e Jim Diaz, The Haunted House
de Jan Pienkowski, e comprei 20 cópias.
Eu desmontei e reconstrui algumas
para entender como a engenharia
funcionava. Eu nunca havia visto um
livro pop-up antes disso. quando eu era
criança, em ft. worth, Texas, eu tinha
apenas Golden Books. Nós eramos uma
família pobre e não podiamos comprar
livros infantis luxuosos.
Eu já havia trabalhado com impressos
e publicidade em Nova Iorque, na New
York Magazine e também já havia
ilustrado para designers de livro.
quando nos mudamos para Santa fé,
eu era diretora de arte e ilustradora da
John Muir Publications.
quando saí da John Muir que eu
descobri que Jim Diaz tinha levado a
White Heat. Ltd para Santa fé.
Eu bati na porta da empresa e virei
diretora de arte e montadora de livros
82
inovadores e aprendi diretamente de
Jim, como meu mentor. Indiretamente,
através da verificação de imprensas
internacionais e supervisionar o
departamento de arte, eu aprendi como
o negócio funcionava em apenas um
ano e meio. Também conheci Tor Lokvig
em 1994 e sua irmã Jytte (ela vive
em Glorieta, em um famoso campo de
batalha da Guerra Civil). Eu e ela somos
como irmãs agora e eu adorava o pai
de Tor, Gaston, que trabalhava com
papel pela diversão, fazendo flores de
guardanapos para entreter suas crianças
durante o jantar, na Dinamarca.
voCê ACHA qUE CriAr ELEmENtos
triDimENsioNAis Em Um Livro
PoDE trANsformAr A PErCEPção
Do LEitor?
Eu tenho dislexia e sinestesia. Essas
são deficiências que interferem com a
transmissão de texto pelos olhos para
o cérebro. Muitas pessoas criativas tem
essas condições. quando criança, eu
era castigada por não ser capaz de ler, e
chamada de “estupida.” Eu encontrava
conforto em quartos escuros. Eu
descobri que ler no escuro diminuia a
brincadeira de cores criadas pelo texto
preto na página branca.
Eu fui colocada em uma classe de leitura
para “retardados” quando tinha 9 anos
e era excruciante tentar entender a
leitura. Mas eu adorava livros e tudo
que era impresso. quadrinhos, livros de
imagens e até a Biblia de king james,
que mostrava as palavras de jesus em
vermelho na página, que pareciam
quebrar a cor para que eu pudesse ler
com menos dificuldade. Para mim, a
mágica que é encontrada nas capas
de livros, seja ela palavras, illustração
ou arte móvel tridimensional, é a
83
fascinação primária ao abrir um livro.
quando uma criança abre um livro
que salta, cria ambientes e mundos
tridimensionais, ela se torna viva. Elas
são imediatamente levadas para uma
fantasia de illusão e maravilha. Minha
função principal é criar qualquer mágica
para uma mentes jovens e velhas. O
lema da Arty Projects Studio, Ltd.
é “manter o espírito infantil vivo.”
Embora video games de fantasia
sejam fascinantes, a mágica de um
livro animado com esculturas cria um
mundo de animação na mente. Se um
ser humano pode segurar um mundo em
suas mãos, fechar o mundo e colocá-
lo em uma estante para ser revisitado
depois, o objeto cria um espaço privado
de um mundo incrível, tátil e interativo.
Eu gosto de fazer livros com espaços
pequenos de texto, para crianças que
tem deficiências de aprendizado possam
receber informações em pequenas
doses.
Como é o sEU ProCEsso CriAtivo
qUANDo voCê CriA Um DE sEUs
Livros? E, sE voCê CoNsEgUir
EsCoLHEr Um, qUAL é o sEU
fAvorito?
Eu gosto de criar livros que tem um
conceito pesado. O que eu quero dizer
é que eles não são conduzidos apenas
pela história, mas também pelo ritmo
do design de papel, que envolve o leitor.
Eu gosto de utilizar a frente e o verso
das peças de pop-up para criar um novo
ambiente visual dentro das páginas.
Eu crio um conceito e um storyboard
para mostrar o fluxo das peças e dar
o ritmo da história através de abas,
dioramas, pop-ups, e uma variedade de
combinações da engenharia de papel.
84
Eu recebo uma história, se acredito que
ela seria um bom design inovador, crio
um storyboard para o ilustrador, peço
que eles desenvolvam alguns rascunhos
para que eu possa trabalhar no design
tridimensional. Como em Circus: a
Pop-up Adventure que eu criei para
Simon and Schuster, eu vi as ilustrações
de Meg Davenport antes. Ela adorava a
idéia de design de papel e um tema de
circo. Nós fizemos um brainstorm, junto
com dois outros parceiros, e escrevemos
o storyboard.
Em alguns casos eu tenho um conceito,
como um livro que contém elementos
que aparecem e desaparecem e
escrevem a história, ou desenvolvido
especificamente para determinada
estrutura de papel. Eu amo Aesop’s
Fables que criei com Eileen Banashek
para o The Getty Museum de arte
selvagem e design moderno. Circus:
a Pop-Up Adventure é um de meus
favoritos, devido a arte e história. Para a
Disney Press, eu criei um pequeno gift
box no verso do livro Pooh’s Christmas
Box que continha toda uma festa na
parte de dentro. Era um bom elemento
para um livro não muito caro. O NASCAR
Pop-up Guide to the Sport, 2009, é um
livro excitante em que as ilustrações
digitais de Doug Chezem realmente
trouxeram à vida o dia que passei nas
corridas em Phoenix.
quando é necessário lidar com a
manufatura e quem publica, o primeiro
objetivo é atingir o orçamento de
varejo da editora. Então, ser criativo
e ser criativo na manufatura são duas
dinâmicas diferentes de nosso trabalho.
O primeiro é a criação divertida e livre
enquanto o outro é trabalho duro,
fazendo papel caber em uma folha
85
gráfica e desenhar para que a história
flua e a fábrica de montagem possa
fazer o livro “funcionar” para o público
alvo.
Como os PArqUEs gráfiCos
fUNCioNAm NA CHiNA E
tAiLâNDiA?
Eu supervisionei impressões na
Colômbia, Equador, Tailândia, China,
Hong kong, Singapura e Malásia. Embora
eu não fale essas línguas, existe um
entedimento comum na linguagem da
impressão e da engenharia de papel.
Nos comunicamos através de dobras,
trabalhando em conjunto com nossas
mãos como um guia de comunicação. É
muito divertido e recompensador criar
relações com pessoas de todas essas
cultura. Assim que eu completo uma
composição, cortada e montada à mão,
eu envio para a fábrica. Eles fazem um
alinhamento de todas as peças e um kit
de peças é feito para que o ilustrador
possa trabalhar sobre. O alinhamento é
um grande quebra-cabeça com todas as
páginas e peças em uma folha de 101,6
cm x 71,12 cm.
No caso de existirem módulos de som
ou luz, esses serão desenvolvidos
na fábrica, apenas devemos enviar
o som masterizado. Meu irmão, Paul
Blakemore, um engenheiro do som da
Concord Recording, cria arquivos de
som desse tipo. Assim que a fábrica
fecha o preço da composição, nós
sabemos se podemos realizar o projeto
pela quantidade de dinheiro que a
editora quer gastar. Se o valor não está
dentro do orçamento, então temos
que cortar partes de papel do projeto;
modificar as mecânicas para simplificar
a montagem e durabilidade; nós
redesenhamos e cortamos os custos dos
recursos extras como lenticulars (folhas
86
brilhantes, holográficas e adesivas),
lâminados interessantes com textura
ou glitter; portanto, removemos esses
extras ou modificamos a manufatura. É
um processo que dura um ano, as vezes
até dois, para completar.
A fábrica recebe todos os meus arquivos
de arte em alta resolução através do
fTP ou por discos. quando temos nosso
design final, eles imprimem uma prova
do livro. Eles fazem uma cópia impressa
em plotter de verificação das facas.
Se o autor e o editor aprovam, então
os fotolitos são feitos. Eu costumo
viajar para encontrar com os grupos
de estudos preliminares, normalmente
um grupo de 14 mulheres que irão
aprender a montagem e, então, ensinar
mais de 2000 outros em uma das
várias tarefas na linha da montagem.
Eu fiquei em uma fábrica por um
mês, morando nas acomodações para
trabalhadores. Trabalhei diretamente
com algumas garotas chinesas
incríveis, talentosíssimas em dobrar
papel. As fábricas eram enormes e os
trabalhadores tinham de 16 a 24 anos.
Alguns dos 4,000 trabalhadores que
moram lá durante o ano se alimentam
nas praças de alimentação das fábricas,
possuem moradia e são levados em
viagens culturais de curta duração como
parte de seu pagamento. Os salários
são pequenos, mas a cultura serve
de incentivo para os trabalhadores. É
realmente uma indústria incrível.
Não podemos fazer esse trabalho na
América pois a maioria dos americanos
não tem coordenação motora ou visual e
exigem salários inflacionados. Portanto,
não poderíamos produzir esses tipos de
livros.
87
produtos
Não foi realizada uma análise de produtos congêneres, mas sim uma observação de
alguns livros pop-ups inspiradores para a criação do produto final
Os livros Alice’s Aventure in Wonderland e The Chronicles of Narnia de Robert
Sabuda e Enciclopédia Pré-Histórica de Robert Sabuda com Matthew Reinhart são
livros muito similares em estilo por serem do mesmo autor. As ilustrações são bem
desenvolvidas e os pop-ups complexos. O Pequeno Príncipe publicado no Brasil pela
editora Agir, possuí estruturas simples, porém combinam com o estilo das ilustrações
de Antoine de Saint-Exupéry. Wall-E Saves The Day da Disney é um dos livros
com estruturas mais simples, e voltado para o público infantil. The Pop-Up Book of
Phobias de Gary Greenberg, ABC3d de Marion Bataille e The Art of Paper Folding for
Pop-Up de Miyuki Yoshida são alguns dos livros para o público jovem e adulto.
Até o presente momento, a pesquisa encontrou apenas um
outro livro pop-up no qual o tema é os Beatles. O livro foi
lançado em 1985: The Beatles, a story. Através de ilustrações,
ele mostra em pop-ups todas as eras importantes dos Beatles.
No entanto, não foi encontrada uma cópia para análise.
88
89
90
análise e síntese
EssEs Não são Livros, bLoCos DE PAPEL sEm viDA, mAs mENtEs vivAs NAs EstANtEs.gilbert Highet
91
A partir da pesquisa de campo, foi constatado a falta de livros pop-ups dedicados a
o público jovem e adulto. Não significa que esses títulos não existam no mercado,
mas eles se perdem no meio de tantos títulos infantis. Também foi possível descobrir
com a pesquisa quais são os nomes mais conhecidos da engenharia de papel —
eles publicam vários títulos, que são sempre os mais procurados nas livrarias. As
entrevistas com as autoras que trabalham no mercado foi muito esclarecedora.
A parte pessoal sobre a criação de projetos é interessante, porém os aspectos
técnicos são ainda mais, já que são informações não encontradas durante a pesquisa
em nenhuma outra fonte. foi importante estudar vários livros pop-up, que abordam
os mais diferentes assuntos e públicos, para que a inspiração pudesse ficar na hora de
desenvolver o projeto final.
O professor Gilbert Highet disse a frase ao lado sobre a sua própria obra, porém ela
pode ser aplicada a qualquer livro que tenha um projeto gráfico diferenciado.
O livro que tem a preocupação com a engenharia de papel é capaz de criar um mundo
completo em que o leitor pode desviar sua atenção por quanto tempo desejar. O livro
é um mundo vivo, esperando na estante para ser descoberto.
92
conceituação
93
94
painel semântico da linguagem
95
96
97
98
painel semântico do projeto
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100
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texto
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103
imagem
104
105
106
o conceito
lem.bran.çaato ou efeito de lembrarmemóriarecordação que a memória conserva por certo tempopresente
107
A partir do primeiro painel semântico, sobre a linguagem, foi possível definir imagens
e palavras que definem o estilo que a autora busca para o projeto no quesito da
ilustração: delicadeza, felicidade, nostalgia, fantasia. foi possível definir algumas
cores iniciais, que não eram as corretas para o projeto. Com o auxílio de um segundo
painel semântico, sobre o tema escolhido para ser abordado no livro, foi possível
aprimorar e adequar as cores ao projeto. Partindo desses primeiros estudos, foi
possível chegar a uma única palavra que resumisse o conceito: lembrança.
O conceito deste projeto é a lembrança. Através da criação de um artist book — um
livro objeto autoral — de edição limitada (apenas 5 edições na primeira tiragem), a
autora busca apresentar uma visão pessoal sobre o tema escolhido e criar um produto
artístico exclusivo. A afinidade com o tema vem do passado, da família, da recordação.
Todas as ilustrações foram desenvolvidas a partir das músicas dos Beatles, que
remetem a lembrança da própria autora, e deverão remeter também a vida de muitos
dos futuros leitores do produto. A banda dispensa apresentações formais, por serem
uma das maiores influências da música de todos os tempos.
108
o livro do clube dos corações solitários do sargento pimenta
109
110
estudos preliminares
111
cores
112
linguagem gráfica
Como referência de linguagem gráfica, para este projeto, foram escolhidos três
ilustradores: Gemma Correll e Anke Wekmann, duas ilustradoras freelancers de
londres e Marc Johns, um ilustrador canadense, de traço simples e humorístico.
Os ilustradores tem em comum seu traço aparentemente infantil, porém seus
desenhos transmitem maturidade. Crianças podem se identificar, no entanto esses
desenhos não foram feitos especificamente para esse público. A mensagem é melhor
entendida por destinatários jovens e adultos.
Tais caracteristicas enquadram-se perfeitamente no objetivo do livro, uma vez que
trata-se de um tema que abrange um público jovem e adulto, que busca a nostalgia.
113
gemmacorrell
114
marc johns
115
anke wekmann
116
roteiro
all you need is lovestrawberry fields foreveryellow submarinethe fool on a hillthe long and winding roadeleanor rigbynowhere manblackbirdhey judelucy in the sky with diamondssgt. pepper’s lonely heart club band
117
O roteiro foi desenvolvido a partir da escolha pessoal de uma lista com mais de 30
músicas. Como o projeto seria autoral, era necessário que as músicas transmitissem
algum sentimento à autora, para facilitar na hora da interpretação ilustrativa de cada
uma. No entanto, também era necessário avaliar o potencial de cada música como
um pop-up, quais delas funcionariam e quais não funcionariam. As músicas que
contavam uma história ou descreviam um personagem eram mais propícias para esse
desenvolvimento. Enquanto músicas muito abstratas seriam difíceis de interpretar
corretamente.
logo, a lista de 30 músicas foi reduzida a 11. Não foi seguido nenhum critério
com relação a qual album pertenciam as músicas, ou as datas específicas em que
elas foram lançadas. A idéia foi criar uma progressão natural entre as músicas e as
ilustrações, através dos personagens, das estruturas de papel e das cores utilizadas.
Para facilitar a criação e composição de cada “cena” foi criado um colorscript — uma
paleta de cores para cada música, mostrando as cores principais a serem utilizadas
nas respectivas ilustrações. foi importante que as cores também fluissem de uma
página a outra, criando harmonia entre as músicas e a narrativa do livro.
118
all you need is love
LovE, LovE, LovE. LovE, LovE, LovE. LovE, LovE, LovE. tHErE’s
NotHiNg YoU CAN Do tHAt CAN’t bE DoNE. NotHiNg YoU CAN
siNg tHAt CAN’t bE sUNg. NotHiNg YoU CAN sAY bUt YoU CAN
LEArN How to PLAY tHE gAmE. it ’s EAsY. NotHiNg YoU CAN
mAkE tHAt CAN’t bE mADE. No oNE YoU CAN sAvE tHAt CAN’t
bE sAvED. NotHiNg YoU CAN Do, bUt YoU CAN LEArN How
to bE YoU iN timE. it ’s EAsY. ALL YoU NEED is LovE. ALL YoU
NEED is LovE. ALL YoU NEED is LovE, LovE. LovE is ALL YoU
NEED. ALL YoU NEED is LovE. ALL YoU NEED is LovE. ALL YoU
NEED is LovE, LovE. LovE is ALL YoU NEED. tHErE’s NotHiNg
YoU CAN kNow tHAt isN’t kNowN. NotHiNg YoU CAN sEE tHAt
isN’t sHowN. NowHErE YoU CAN bE tHAt isN’t wHErE YoU’rE
mEANt to bE. it ’s EAsY. ALL YoU NEED is LovE. ALL YoU NEED
is LovE. ALL YoU NEED is LovE, LovE. LovE is ALL YoU NEED.
ALL YoU NEED is LovE. ALL YoU NEED is LovE. ALL YoU NEED is
LovE, LovE. LovE is ALL YoU NEED. LovE is ALL YoU NEED. LovE
is ALL YoU NEED. LovE is ALL YoU NEED. LovE is ALL YoU NEED.
LovE is ALL YoU NEED. . .
119
120
strawberry fields forever
LEt mE tAkE YoU DowN, ‘CAUsE i ’m goiNg to strAwbErrY
fiELDs. NotHiNg is rEAL, AND NotHiNg to gEt HUNg AboUt.
strAwbErrY fiELDs forEvEr. LiviNg is EAsY witH EYEs CLosED,
misUNDErstANDiNg ALL YoU sEE. it ’s gEttiNg HArD to bE
somEoNE, bUt it ALL works oUt; it DoEsN’t mAttEr mUCH to
mE. LEt mE tAkE YoU DowN, `CAUsE i ’m goiNg to strAwbErrY
fiELDs. NotHiNg is rEAL, AND NotHiNg to gEt HUNg AboUt.
strAwbErrY fiELDs forEvEr. No oNE i tHiNk is iN mY trEE, i
mEAN, it mUst bE HigH or Low. tHAt is , YoU CAN’t, YoU kNow,
tUNE iN, bUt it ’s ALL rigHt. tHAt is , i tHiNk it ’s Not too bAD.
strAwbErrY fiELDs forEvEr. LEt mE tAkE YoU DowN, ‘CAUsE
i ’m goiNg to strAwbErrY fiELDs. NotHiNg is rEAL, AND
NotHiNg to gEt HUNg AboUt. strAwbErrY fiELDs forEvEr.
LiviNg is EAsY witH EYEs CLosED, misUNDErstANDiNg ALL
YoU sEE. it ’s gEttiNg HArD to bE somEoNE, bUt it ALL works
oUt; it DoEsN’t mAttEr mUCH to mE. LEt mE tAkE YoU DowN,
‘CAUsE i ’m goiNg to strAwbErrY fiELDs. NotHiNg is rEAL, AND
NotHiNg to gEt HUNg AboUt. strAwbErrY fiELDs forEvEr.
ALwAYs kNow, somEtimEs tHiNk it ’s mE. bUt YoU kNow, i
kNow wHEN it ’s A DrEAm. i tHiNk A “No,” i mEAN A “YEs,” bUt
it ’s ALL wroNg. tHAt is , i tHiNk i DisAgrEE. LEt mE tAkE YoU
DowN, ‘CAUsE i ’m goiNg to strAwbErrY fiELDs. NotHiNg is
rEAL,AND NotHiNg to gEt HUNg AboUt. strAwbErrY fiELDs
forEvEr. strAwbErrY fiELDs forEvEr, strAwbErrY fiELDs
forEvEr, strAwbErrY fiELDs forEvEr.
121
122
yellow submarine
iN tHE towN wHErE i wAs borN, LivED A mAN wHo sAiLED tHE
sEA. AND HE toLD Us of His LifE, iN tHE LAND of sUbmAriNEs
so wE sAiLED oN to tHE sUN, tiLL wE foUND tHE sEA of
grEEN, AND wE LivED bENEAtH tHE wAvEs, iN oUr YELLow
sUbmAriNE. wE ALL LivE iN A YELLow sUbmAriNE, YELLow
sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, wE ALL LivE iN A YELLow
sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, AND
oUr friENDs ArE ALL AboArD, mANY morE of tHEm LivE NExt
Door, AND tHE bAND bEgiNs to PLAY. wE ALL LivE iN A YELLow
sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, wE ALL
LivE iN A YELLow sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, YELLow
sUbmAriNE, As wE LivE A LifE of EAsE, Ev’rYoNE of Us HAs
ALL wE NEED, skY of bLUE AND sEA of grEEN, iN oUr YELLow
sUbmAriNE. wE ALL LivE iN A YELLow sUbmAriNE, YELLow
sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, wE ALL LivE iN A YELLow
sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE, YELLow sUbmAriNE.
123
124
the fool on the hill
DAY AftEr DAY, ALoNE oN A HiLL, tHE mAN witH tHE fooLisH
griN is kEEPiNg PErfECtLY stiLL. bUt NoboDY wANts to kNow
Him, tHEY CAN sEE tHAt HE's JUst A fooL. AND HE NEvEr givEs
AN ANswEr, bUt tHE fooL oN tHE HiLL sEEs tHE sUN goiNg
DowN, AND tHE EYEs iN His HEAD sEE tHE worLD sPiNNiNg
'roUND. wELL oN tHE wAY, HEAD iN A CLoUD, tHE mAN of A
tHoUsAND voiCEs tALkiNg PErfECtLY LoUD. bUt NoboDY
EvEr HEArs Him, or tHE soUND HE APPEArs to mAkE. AND HE
NEvEr sEEms to NotiCE, bUt tHE fooL oN tHE HiLL sEEs tHE
sUN goiNg DowN, AND tHE EYEs iN His HEAD sEE tHE worLD
sPiNNiNg 'roUND. NoboDY sEEms to LikE Him, tHEY CAN tELL
wHAt HE wANts to Do, AND HE NEvEr sHows His fEELiNgs,
bUt tHE fooL oN tHE HiLL sEEs tHE sUN goiNg DowN, AND
tHE EYEs iN His HEAD sEE tHE worLD sPiNNiNg 'roUND. HE
NEvEr ListENs to tHEm, HE kNows tHAt tHEY'rE tHE fooLs,
tHEY DoN't LikE Him. bUt tHE fooL oN tHE HiLL sEEs tHE
sUN goiNg DowN, AND tHE EYEs iN His HEAD sEE tHE worLD
sPiNNiNg 'roUND.
125
126
the long and winding road
127
tHE LoNg AND wiNDiNg roAD tHAt LEADs to YoUr Door,
wiLL NEvEr DisAPPEAr, i ’vE sEEN tHAt roAD bEforE it ALwAYs
LEADs mE HErE, LEAD mE to YoUr Door. tHE wiLD AND wiNDY
NigHt tHAt tHE rAiN wAsHED AwAY, HAs LEft A PooL of
tEArs CrYiNg for tHE DAY. wHY LEAvE mE stANDiNg HErE, LEt
mE kNow tHE wAY. mANY timEs i ’vE bEEN ALoNE AND mANY
timEs i ’vE CriED, ANYwAY YoU’vE ALwAYs kNowN tHE mANY
wAYs i ’vE triED, bUt stiLL tHEY LEAD mE bACk to tHE LoNg,
wiNDiNg roAD, YoU LEft mE wAitiNg HErE A LoNg, LoNg timE
Ago. DoN’t LEAvE mE stANDiNg HErE, LEAD mE to YoUr Door.
DA DA, DA DA. . .
128
eleanor rigby
AH, Look At ALL tHE LoNELY PEoPLE! AH, Look At ALL tHE
LoNELY PEoPLE! ELEANor rigbY PiCks UP tHE riCE iN tHE
CHUrCH wHErE A wEDDiNg HAs bEEN, LivEs iN A DrEAm. wAits
At tHE wiNDow, wEAriNg tHE fACE tHAt sHE kEEPs iN A JAr
bY tHE Door, wHo is it for? ALL tHE LoNELY PEoPLE, wHErE
Do tHEY ALL ComE from? ALL tHE LoNELY PEoPLE, wHErE Do
tHEY ALL bELoNg? fAtHEr mCkENziE writiNg tHE worDs of A
sErmoN tHAt No oNE wiLL HEAr, No oNE ComEs NEAr. Look At
Him workiNg, DArNiNg His soCks iN tHE NigHt wHEN tHErE’s
NoboDY tHErE, wHAt DoEs HE CArE? ALL tHE LoNELY PEoPLE,
wHErE Do tHEY ALL ComE from? ALL tHE LoNELY PEoPLE,
wHErE Do tHEY ALL bELoNg? AH, Look At ALL tHE LoNELY
PEoPLE! AH, Look At ALL tHE LoNELY PEoPLE! ELEANor rigbY,
DiED iN tHE CHUrCH AND wAs bUriED ALoNg witH HEr NAmE,
NoboDY CAmE. fAtHEr mCkENziE, wiPiNg tHE Dirt from His
HANDs As HE wALks from tHE grAvE, No oNE wAs sAvED. ALL
tHE LoNELY PEoPLE, wHErE Do tHEY ALL ComE from? ALL tHE
LoNELY PEoPLE, wHErE Do tHEY ALL bELoNg?
129
130
nowhere man
131
HE’s A rEAL NowHErE mAN, sittiNg iN His NowHErE LAND,
mAkiNg ALL His NowHErE PLANs for NoboDY. DoEsN’t HAvE A
PoiNt of viEw, kNows Not wHErE HE’s goiNg to, isN’t HE A
bit LikE YoU AND mE? NowHErE mAN PLEAsE ListEN, YoU DoN’t
kNow wHAt YoU’rE missiNg, NowHErE mAN, tHE worLD is At
YoUr CommAND. LA, LA, LA, LA, HE’s As bLiND As HE CAN bE,
JUst sEEs wHAt HE wANts to sEE, NowHErE mAN CAN YoU
sEE mE At ALL? NowHErE mAN DoN’t worrY, tAkE YoUr timE,
DoN’t HUrrY, LEAvE it ALL tiLL somEboDY ELsE, LENDs YoU
A HAND. DoEsN’t HAvE A PoiNt of viEw, kNows Not wHErE
HE’s goiNg to, isN’t HE A bit LikE YoU AND mE? NowHErE
mAN PLEAsE ListEN, YoU DoN’t kNow wHAt YoU’rE missiNg,
NowHErE mAN, tHE worLD is At YoUr CommAND. LA, LA, LA,
LA, HE’s A rEAL NowHErE mAN, sittiNg iN His NowHErE LAND,
mAkiNg ALL His NowHErE PLANs for NoboDY. mAkiNg ALL
His NowHErE PLANs for NoboDY. mAkiNg ALL His NowHErE
PLANs for NoboDY.
132
blackbird
bLACkbirD siNgiNg iN tHE DEAD of NigHt, tAkE tHEsE brokEN
wiNgs AND LEArN to fLY. ALL YoUr LifE, YoU wErE oNLY
wAitiNg for tHE momENt to ArisE. bLACkbirD siNgiNg iN tHE
DEAD of NigHt, tAkE tHEsE sUNkEN EYEs AND LEArN to sEE.
ALL YoUr LifE, YoU wErE oNLY wAitiNg for tHE momENt to
bE frEE. bLACk birD fLY, bLACk birD fLY iNto tHE LigHt of
tHE DArk bLACk NigHt. bLACk birD fLY, bLACk birD fLY iNto
tHE LigHt of tHE DArk bLACk NigHt. bLACkbirD siNgiNg iN
tHE DEAD of NigHt tAkE tHEsE brokEN wiNgs AND LEArN to
fLY.ALL YoUr LifE YoU wErE oNLY wAitiNg for tHis momENt
to ArisE. YoU wErE oNLY wAitiNg for tHis momENt to ArisE.
YoU wErE oNLY wAitiNg for tHis momENt to ArisE.
133
134
hey jude
HEY JUDE, DoN’t mAkE it bAD, tAkE A sAD soNg AND mAkE it
bEttEr. rEmEmbEr to LEt HEr iNto YoUr HEArt, tHEN YoU
CAN stArt to mAkE it bEttEr. JUDE, DoN’t bE AfrAiD, YoU
wErE mADE to go oUt AND gEt HEr. tHE miNUtE YoU LEt
HEr UNDEr YoUr skiN, tHEN YoU bEgiN to mAkE it bEttEr.
AND ANYtimE YoU fEEL tHE PAiN, HEY JUDE, rEfrAiN, DoN’t
CArrY tHE worLD UPoN YoUr sHoULDEr. for wELL, YoU
kNow tHAt it ’s A fooL wHo PLAYs it CooL bY mAkiNg His
worLD A LittLE CoLDEr. NA, NA, NA, NA, NA NA, NA, NA. NA.
HEY JUDE, DoN’t LEt mE DowN. YoU HAvE foUND HEr, Now
go AND gEt HEr. rEmEmbEr to LEt HEr iNto YoUr HEArt,
tHEN YoU CAN stArt to mAkE it bEttEr. so LEt it oUt AND
LEt it iN, HEY JUDE, bEgiN, YoU’rE wAitiNg for somEoNE
to PErform witH. AND DoN’t YoU kNow tHAt it ’s JUst
YoU? HEY JUDE, YoU’LL Do, tHE movEmENt YoU NEED is
oN YoUr sHoULDEr. NA, NA, NA, NA, NA NA, NA, NA. NA. HEY
JUDE, DoN’t mAkE it bAD, tAkE A sAD soNg AND mAkE it
bEttEr. rEmEmbEr to LEt HEr UNDEr YoUr skiN, tHEN YoU
bEgiN to mAkE it bEttEr, bEttEr, bEttEr, bEttEr, bEttEr,
bEttEr, oH! NA, NA, NA, NA, NA, NA, NA, NA, NA, NA, NA, NA,
HEY, JUDE.
135
136
lucy in the sky with diamonds
137
PiCtUrE YoUrsELf iN A boAt oN A rivEr, witH tANgEriNE trEEs
AND mArmALADE skiEs. somEboDY CALLs YoU, YoU ANswEr
qUitE sLowLY, A girL witH kALEiDosCoPE EYEs. CELLoPHANE
fLowErs of YELLow AND grEEN, towEriNg ovEr YoUr HEAD.
Look for tHE girL witH tHE sUN iN HEr EYEs, AND sHE’s
goNE. LUCY iN tHE skY witH DiAmoNDs, LUCY iN tHE skY witH
DiAmoNDs, LUCY iN tHE skY witH DiAmoNDs, AH. foLLow HEr
DowN to A briDgE bY A foUNtAiN, wHErE roCkiNg HorsE
PEoPLE EAt mArsHmALLow PiEs. Ev’rYoNE smiLEs As YoU
Drift PAst tHE fLowErs, tHAt grow so iNCrEDibLY HigH.
NEwsPAPEr tAxis APPEAr oN tHE sHorE, wAitiNg to tAkE YoU
AwAY. CLimb iN tHE bACk witH YoUr HEAD iN tHE CLoUDs, AND
YoU’rE goNE. LUCY iN tHE skY witH DiAmoNDs, LUCY iN tHE
skY witH DiAmoNDs, LUCY iN tHE skY witH DiAmoNDs, AH.
PiCtUrE YoUrsELf oN A trAiN iN A stAtioN, witH PLAstiCiNE
PortErs witH LookiNg gLAss tiEs. sUDDENLY somEoNE is
tHErE At tHE tUrNstiLE, tHE girL witH kALEiDosCoPE EYEs.
LUCY iN tHE skY witH DiAmoNDs, LUCY iN tHE skY witH
DiAmoNDs, LUCY iN tHE skY witH DiAmoNDs, AH.
138
sgt. pepper’s lonely heart club band
it wAs twENtY YEArs Ago toDAY, sErgEANt PEPPEr tAUgHt tHE
bAND to PLAY. tHEY’vE bEEN goiNg iN AND oUt of stYLE, bUt
tHEY’rE gUArANtEED to rAisE A smiLE. so mAY i iNtroDUCE to
YoU tHE ACt YoU’vE kNowN for ALL tHEsE YEArs? sErgEANt
PEPPEr’s LoNELY HEArts CLUb bAND. wE’rE sErgEANt PEPPEr’s
LoNELY HEArts CLUb bAND, wE HoPE YoU wiLL ENJoY tHE
sHow, wE’rE sErgEANt PEPPEr’s LoNELY HEArts CLUb bAND,
sit bACk AND LEt tHE EvENiNg go. sErgEANt PEPPEr’s LoNELY,
sgt. PEPPEr’s LoNELY, sErgEANt PEPPEr’s LoNELY HEArts CLUb
bAND. it ’s woNDErfUL to bE HErE. it ’s CErtAiNLY A tHriLL.
YoU’rE sUCH A LovELY AUDiENCE, wE’D LikE to tAkE YoU HomE
witH Us. wE’D LovE to tAkE YoU HomE. i DoN’t rEALLY wANt
to stoP tHE sHow, bUt i tHoUgHt YoU migHt LikE to kNow
tHAt tHE siNgEr’s goNNA siNg A soNg AND HE wANts YoU ALL
to siNg ALoNg. so LEt mE iNtroDUCE to YoU, tHE oNE AND
oNLY biLLY sHEArs, AND sErgEANt PEPPEr’s LoNELY HEArts
CLUb bAND, YEAH.
139
140
tipografia
hvd rowdyaller aller lightPara representar as letras das músicas e fazer parte do projeto foram escolhidas
duas tipografias distintas. A tipografia HVD Rowdy, da HVD Fonts, foi escolhida por
sua característica desconjuntada. Na maioria das vezes é utilizada nas músicas mais
psicodélicas, seu alinhamento depende das ilustrações na página e o tamanho dos
caracteres variam entre si. Aparece, às vezes, em pequenas frases quando utilizada
com a Aller. Também foi a tipografia escolhida para representar o título do livro, e
as páginas com os títulos de cada música. A tipografia Aller e sua variação light, da
Dalton Maag Ltd, são utilizadas nas letras das músicas em que existe a necessidade
de clareza na interpretação. O corpo da letra varia de 11pt à 24pt, dependendo de
como a tipografia é aplicada na página. É normalmente alinhada a esquerda, com
grande espaçamento entre linhas. As duas tipografias funcionam bem, em conjunto
ou separadamente e ambas estão de acordo com a linguagem gráfica do projeto.
141
títulos
O título do livro, O Livro do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta,
é uma brincadeira com o título da música dos Beatles que encerra o projeto: Sgt.
Pepper’s Lonely Heart Club Band. Como trata-se de um livro em que todas as músicas
fazem parte do repertório dessa banda fictícia em pop-up, a palavra “livro” substitui a
palavra “banda” na tradução para o português.
Seguindo essa idéia, todos os nomes das músicas que aparecem nas páginas antes
de cada pop-up também foram traduzidas de maneira similar, e sempre aparecem
acompanhados de um símbolo da música.
142
143
144
formas
145
146
personagens
Os personagens principais foram desenvolvidos a partir da narrativa das músicas.
Acima: a menina que representa o Amor em All You Need Is Love, o Marinheiro de
Yellow Submarine, O Louco de The Fool on the Hill, Eleanor de Eleanor Rigby, Zé
Ninguém de Nowhere Man, Melro de Blackbird. Ao lado: Jude de Hey Jude, Lucy de
Lucy in the Sky with Diamonds, e os quatro Beatles, Paul, John, Ringo e George.
147
Apenas duas músicas do roteiro não precisaram de personagens principais,
Strawberry Fields Forever e The Long and Winding Road. Na página seguinte, os Beatles
como Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band.
148
149
150
composições e cenários
151
all you need is love
152
strawberry fields forever
153
yellow submarine
fool on the hill
154
155
the long and winding road
156
eleanor rigby
157
nowhere man
158
blackbird
159
hey jude
160
lucy in the sky with diamonds
161
162
sgt. pepper’s lonely heart club band
163
164
definições projetuais
capa títuloall you need is
love
fool on the hill
the long and winding
road
yellowsubmarine
eleanor rigby
165
árvore do projeto
sgt. pepper
blackbirdnowhere
man
hey jude lucy in the sky
contracapa
166
produto final
167
168
169
170
tudo que você precisa é amor
171
172
campos de morango para sempre
173
174
submarino amarelo
175
176
o louco na colina
177
178
a longa e tortuosa estrada
179
180
eleanor rigby
181
182
zé ninguém
183
184
melro
185
186
ei, jude
187
188
lucy no céu com diamantes
189
190
a banda do clube dos corações solitários do sargento pimenta
191
192
193
194
componentes
20.6
cm
195
58 cm
sobrecapa
196
capa
197
ex libris
198
detalhamento técnico
199
200
Sobrecapa
Impressão: Offset
Papel: Offset, Suzano, 180g/m2
Cores: 4x0
Acabamento: laminação BOPP brilhante
Capa
Impressão: Offset
Papel: Offset, Suzano, 180g/m2
Cores: 4x0
Acabamento: laminação BOPP brilhante
Guarda: Arjowiggins Skin lavender, 270g/m2
Miolo
Impressão: Offset
Papel: Offset, Suzano, 240g/m2
Cores: 4x0
produção gráfica
201
aproveitamento de papel
96 cm
66 c
m
202
peças
203
204
205
206
simulação do alinhamento de peças
96 cm
66 c
m
207
simulação da faca de corte
96 cm
66 c
m
208
aplicações
209
210
modelos
211
bonecos
Ao lado: primeiro mock-up em tamanho reduzido (12 cm x 12 cm) e primeiro teste de
peças. Teste de capa vermelha com o logo em branco. Abaixo: segundo mock-up, em
tamanho real (19 cm x 19 cm) e peças ainda com erros. Teste de capa em tecido preto.
212
Acima: terceiro mock-up, em tamanho real (19 cm x 19 cm), ainda com pequenos
erros nas peças. Teste de capa em papel lâminado. Ao lado: pré modelo, em tamanho
real (19 cm x 19 cm), já com sobrecapa. Detalhe lateral das páginas montadas.
213
pré-modelo
214
teste de usabilidade
215
O livro é ergonomicamente correto. Todas as peças funcionam como deviam, cada
uma interpretando a sua música. Os usúarios que testaram o livro não encontraram
nenhum problema.
A maioria dos leitores não leu a letra das músicas em um primeiro momento. Pode-se
notar que fãs de Beatles, já familiares com as músicas tem a mesma atitude. A letra
passa a ser secundária para esse segmento do público. Porém, também existe uma
minoria que faz o processo inverso, começando pela letra e observando o pop-up
depois.
Algo interessante que foi percebido é que até leitores que conhecem
superficialmente a obra da banda, acabam cantarolando as músicas enquanto
observam o livro. Portanto, o livro atende ao público proposto e também é capaz de
cativar aqueles que não são fãs de Beatles através das ilustrações.
216
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21/11/2009 14:58
227
228
considerações finais
229
O Livro do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta foi, às vezes, um projeto árduo e
estressante. No entanto, acredito que o aprendizado que adquiri da engenharia de papel foi muito grande.
Muitos autores dos livros que compõem a bibliografia deste projeto falam que a técnica é essencial para a
resolução de problemas e depois de um ano imersa neste projeto, eu não poderia deixar de concordar.
Montado completamente a mão, para alcançar um resultado satisfatório no produto final, foram
necessários muitos testes. A compreensão da engenharia de papel é baseada na tentativa e erro. um
ângulo errado ou a cola que escapa do local correto podem estragar o pop-up rapidamente. É o que chamo
de “acidentes invisíveis”. Se tudo está dando certo, algo inesperado acontecerá. As vezes este era um
insight que viria por resolver o problema, outras vezes um erro que resultava numa página amassada.
A criação desse livro me deixou muito feliz. Descobri uma área do design que não sabia que existia,
aprendi muitas lições durante este ano todo e me apaixonei por esses maravilhosos livros e o efeito que
proporcionam as pessoas. Espero que, no futuro, possa expandir a minha coleção e idealizar um novo
projeto de pop-up, que gerem frutos tão maravilhosos quanto esse.
232