o livro didático na educação física escolar- a visão dos professores

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  • 8/15/2019 O Livro Didático Na Educação Física Escolar- A Visão Dos Professores

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    Introdução Atualmente, o livro didático vem sendo

    reconhecido, por parcela significativa dosestudiosos da educação, como um materialrelevante ao processo de escolarização. Nocampo amplo da Educação o estudo do livrodidático tem despertado bastante interesse, e nasúltimas décadas houve um crescimentoconsiderável das discussões sobre esse assunto

    (CHOPPIN, 2004; BITTENCOURT, 2004).No caso específico da Educação Física a

    produção e estudo do livro didático permanecempraticamente negligenciados. A ausência deestudos sobre o livro didático na Educação Físicadificulta análises mais abrangentes quanto aosdesdobramentos desse instrumento no ambienteescolar.

    Nos últimos anos, com as transformaçõesocorridas no âmbito da Educação Física,principalmente após a década 1980, os

    professores foram instigados a trabalhar compropostas renovadoras 1 no ambiente escolar.

    1 Consideramos tendências renovadoras aquelas propostas

    que tentaram superar a visão biológica da Educação Física na

    Dentre as diversas reflexões, chama a atençãoas propostas de diversificação dos conteúdos, ouseja, os professores devem ser capazes desuperar o desenvolvimento restrito de conteúdostradicionais, tais como os quatro esportescoletivos, avançando com o desenvolvimentoorganizado das diversas manifestações corporaisque compõe o universo da cultura corporal, queperpassam as questões do corpo e domovimento, dentre elas, destaque para aginástica, a dança, a capoeira, as lutas, os jogos ebrincadeiras, entre outros conteúdos deixados emsegundo plano ao longo da história da EducaçãoFísica na escola (SOARES et al. 1992; BRASIL, 1998).

    Outra proposta bastante recorrente, indicadafrequentemente por professores e pesquisadores,é o desenvolvimento de conteúdos teóricos 2 nas

    escola, viabilizando novos olhares para a área, tais como acrítico-emanciapatório de Elenor Kunz, a cultural de JocimarDaólio, a crítico-superador de Soares et al. e asistêmico/fenomenológica de Mauro Betti, assim como propõeBracht (1999) e Darido (2003).2 Bracht (1986), Betti (1994) e Darido e Rangel (2005) são

    exemplos de autores que estabelecem discussões sobre aimportância das aulas de Educação Física não se pautarem

    Motriz, Rio Claro, v.17 n.1, p.48-62, jan./mar. 2011

    Artigo Original

    O livro didático na Educação Física escolar: a visão dos professores

    Heitor de Andrade Rodrigues 1Suraya Cristina Darido 2

    1 Faculdades Integradas Claretianas, Rio Claro, SP, Brasil2 Instituto de Biociências. UNESP - Univ Estadual Paulista... Campus de Rio Claro,Departamento de Educação Física, Rio Claro, SP, Brasil

    Resumo: Atualmente, o livro didático vem sendo reconhecido, por parcela significativa dos estudiosos daeducação, como um material relevante ao processo de escolarização. No campo da Educação Física aprodução e estudo do livro didático permanecem praticamente negligenciados. Assim, o objetivo dopresente estudo foi avaliar a aplicabilidade de um livro didático da modalidade basquetebol, construídoespecificamente para esse estudo, junto a cinco professores de Educação Física. A metodologia utilizadafoi de natureza qualitativa, tendo a entrevista semi-estruturada como instrumento de coleta de dados. Osresultados apontaram que os professores estabeleceram uma relação crítica frente ao livro didático debasquetebol e indicaram vantagens e desvantagens de sua utilização no contexto escolar.

    Palavras Chave : Livro didático. Educação Física escolar. Processo ensino/aprendizagem.

    The textbook in school Physical Education: a vision of teachers

    Abstract : Nowadays, textbook has been recognized, to a significant portion of education experts, as arelevant material to education process. In the field of Physical Education the textbook’s production and study became practically neglectful. The objective of this study was to evaluate the applicability of a basketballtextbook, built specifically for this study, with five teachers of Physical Education. The methodology used wasqualitative, the interview was a data collection instrument. The results pointed that teachers established acritical relationship against the textbook of basketball and they pointed advantages and disadvantages for itsuse in school context.

    Words Key : Textbook. School Physical Education. Process teaching/learning.

    doi: http://dx.doi.org/2010.5016/1980-6574.2011v17n1p48

    http://dx.doi.org/2010.5016/1980-6574.2011v17n1p48http://dx.doi.org/2010.5016/1980-6574.2011v17n1p48http://dx.doi.org/2010.5016/1980-6574.2011v17n1p48http://dx.doi.org/2010.5016/1980-6574.2011v17n1p48

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    aulas desse componente curricular. Nessesentido, já não basta o desenvolvimento daprática pela prática, sendo indispensável que osalunos reconheçam os motivos pelos quais estãopraticando as manifestações corporais, para tantoos professores são convidados a trabalhar comconceitos ou conhecimentos sobre as diferentespráticas corporais. Ainda em relação à superaçãodo meramente saber fazer nas aulas deEducação Física, considera-se essencial que osalunos aprendam a se relacionar no âmbito daspráticas, assim propõe-se o desenvolvimento deconteúdos atitudinais, baseados principalmenteem normas, valores e atitudes (ZABALA, 1998).

    Por outro lado, os professores vêmenfrentando inúmeras dificuldades na efetivaçãodesse tipo de trabalho, dentre os inúmerosempecilhos que limitam o trabalho dosprofessores destaca-se o número reduzido de

    materiais didáticos que possam dar suporte àspráticas pedagógicas orientadas pelos princípioscitados acima.

    Apenas recentemente é que algumas redespúblicas de ensino iniciaram a elaboração eutilização de livros didáticos na Educação Física.Portanto, considera-se oportuno a EducaçãoFísica inserir-se no âmbito das discussões sobreo livro didático, o que em nosso entendimentopode contribuir significativamente com o trabalhodocente e com a qualidade das aulas.

    Assim, o objetivo da presente pesquisa foielaborar um livro didático do conteúdobasquetebol e avaliar as possibilidades dessematerial junto a cinco professores de EducaçãoFísica.

    Revisão de LiteraturaO que é livro didático?

    A utilização do livro didático é assuntobastante polêmico e recebe críticasprincipalmente sobre seu caráter ideológico.

    Apesar disso, tem sido considerado uminstrumento relevante ao processo deescolarização (BITTENCOURT, 2004).

    Em uma aproximação inicial a definição delivro didático não traz grande dificuldade. Nacompreensão de Batista (2000):

    Trata-se desse tipo de material que faz parte denosso cotidiano: que é adquirido, em geral, noinício do ano, em livrarias e papelarias quasesempre lotadas; que vai sendo utilizado àmedida que avança o ano escolar e que, comalguma sorte, poderá ser reutilizado por outrousuário no ano seguinte. Seria, afinal, aquele

    apenas no substrato corporal, mas em conjunto com essadimensão tratar de forma intencional as informações e osconhecimentos inerentes às práticas corporais.

    livro ou impresso empregado pela escola, paradesenvolvimento de um processo de ensino oude formação (BATISTA, 2000, p. 534).

    Para Munakata (2000) trata-se de um livro quepor inúmeras vezes é transportado de casa paraescola e da escola para casa. Um tipo de livroraramente lido completamente, da primeira àúltima página. Livro que envolve uma gamadiversificada de práticas, fato que indica umarelação de uso e não somente de leitura.

    Choppin (2004) considera que a definição dotermo “livro didático” não é tarefa tão simplescomo pode parecer e que a delimitação desseconceito apresenta-se como um empecilho àspesquisas com esse material. Em sua análise, emdiversas línguas, o livro didático é designado deinúmeras maneiras e nem sempre é possívelexplicitar as características dessasdenominações, por outro lado, a utilização de uma

    mesma palavra nem sempre se refere ao mesmoobjeto.

    Entendemos o livro didático como um materialintimamente ligado ao processo de ensino-aprendizagem, ou seja, elaborado e produzidocom a intenção de auxiliar as necessidades deplanejamento, intervenção e avaliação doprofessor, bem como de contribuir para asaprendizagens dos alunos.

    Para as finalidades desse estudoconsideramos livro didático o conjunto dosmanuscritos produzidos para o professor e para oaluno. O conteúdo do livro do professor e doaluno será idêntico ou semelhante, mas ascaracterísticas de cada um deles serão distintas.O livro do professor traz a discussão do conteúdode forma aprofundada, com textos parafundamentação de informações e conceitos, bemcomo a indicação de princípios noencaminhamento das atividades. Já no livro doaluno o conteúdo é apresentado de maneira maisdinâmica e a ênfase é dada na resolução deproblemas e exercícios.

    Corroborando a idéia de que o livro didáticopressupõe um material ou materiais destinados aprofessores e alunos, Munakata (2000) afirmaque ler/usar o livro didático implica ao menos doisleitores permanentes (professor e aluno), sendoessa relação estrutural no livro didático, já que aausência de um ou de outro descaracterizaria omaterial.

    Críticas e possibilidades dos livrosdidáticos

    Entre os críticos fervorosos do uso do livrodidático, Silva (1988) apresenta inúmerosaspectos que segundo ele “empurram” os

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    professores a utilizar esses materiais. Dentreeles, as péssimas condições materiais da escola,falta de livros, laboratórios e equipamentos; ascondições de trabalho, obrigando a uma vida decorreria e improvisações; pouca flexibilidade dosprogramas oficiais; e as estratégias de marketingaplicadas pelas editoras.

    Silva (1996) ainda destaca que o livro didáticoé a insubstituível “muleta” dos professores,material sem os quais não conseguem caminhar.

    Afirma que a perda da dignidade do professorbrasileiro contrapõe-se a crescente lucratividadedas editoras de livro didático e que o apego cegoaos livros demonstra a perda da autonomia no atode ensinar. Nesse sentido, Silva (1996) apresentaalgumas consequências do uso indiscriminado dolivro didático, dentre elas, pontua a inversão darelação interativa do aluno com o professor, parauma relação unilateral do aluno e as atividades e

    exercícios propostos no livro. Criticaenfaticamente a compreensão do livro comoponto de partida e chegada do conhecimento,ditando de forma inequívoca os conteúdos aserem desenvolvidos em cada componentecurricular.

    Importante perceber que as críticas de Silva (1988; 1996) são em relação às condições detrabalho que levam os professores a adoção dolivro didático, bem como ao uso que osprofessores fazem desse material. Pareceingênuo culpabilizar o livro didático por todas asmazelas da Educação brasileira, além disso, emnossa compreensão o professor preparado paratrabalhar com o livro didático tem condiçõesclaras de identificar possíveis incoerências domaterial, podendo com isso modificar a forma deabordagem ou mesmo descartar seu uso .

    Zabala (1998) apresenta algumas críticasrecorrentes ao livro didático e em seguida asrebate atentando para o papel do professor. Naanálise desse autor, pelas características de suaestrutura, os livros didáticos tratam os conteúdosde forma unidirecional, sem que hajadiversificação das idéias desenvolvidas.Transmitem com frequência os conhecimentos demaneira acabada e dogmática, não havendopossibilidade de questionamento.

    No que diz respeito à metodologia em queestão pautados, os livros didáticos fomentam aatitude passiva, limitando a curiosidade dosalunos. Não favorecem propostas baseadas narealidade, nem mesmo incentivam a comparaçãoentre a realidade e o ensino escolar, impedindouma formação crítica (ZABALA, 1998). Alémdisso, não respeitam o ritmo de aprendizagem

    dos alunos, seus interesses e expectativas,conduzindo a uniformização do ensino.

    Apesar das críticas que podem ser feitas aoslivros didáticos, Zabala (1998) afirma que isso nãoexclui a possibilidade de existência e uso demateriais que não cometam os erros dos livrosconvencionais. Nesse sentido, o papel do

    professor frente a esses materiais seráfundamental. Deverá ser capaz de apresentar aosalunos não apenas as idéias contidas no livro,mas também as de outros materiais, com pontosde vista divergentes, levando o aluno a refletirsobre a complexidade do tema trabalhado.

    Outro aspecto a ser considerado é a propostapedagógica da escola, o livro didático deve estara serviço dos objetivos, conteúdos, metodologiase avaliações adotadas pelo professor emconsonância com o planejamento da escola. Seráum equívoco inverter essa relação, na qual o livrodidático passa a ditar os objetivos a serembuscados pela comunidade escolar.

    O professor também deve estar atento aocomportamento e atitude dos alunos, promovendoconstantemente o debate e reflexão de problemasque se aproximam da realidade dos educandos,favorecendo o protagonismo e minimizando aacomodação e a passividade.

    Ainda sim, as informações dos livros didáticosdevem ser necessariamente complementadascom a apresentação de outros materiais, taiscomo vídeos, imagens, filmes, propagandas erevistas, estratégias que incentivem uma visãoabrangente e diversificada do assunto trabalhado.

    O estudo e construção do livro didáticoperpassam por discussões polêmicas sobre osdesdobramentos e consequências desse materialna escolarização dos alunos. Apesar dasinúmeras críticas, acreditamos que o livro didáticopode de fato colaborar com o trabalho docente,com a promoção das aprendizagens dos alunos ecom fortalecimento da importância da EducaçãoFísica na escola.Livro didático no contexto da EducaçãoFísica

    No conjunto da Educação Básica, diversoscomponentes curriculares compõem o currículoescolar, sendo que a maioria deles possui livrosdidáticos, os quais são anualmente submetidosao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).Nesse contexto, surge o questionamento: Comofica a disciplina de Educação Física no levantedas discussões sobre o livro didático? Por que atéo momento nenhum livro de Educação Física foisubmetido ao PNLD?

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    Na Educação Física, pouco tem sido discutidoa respeito do livro didático e seusdesdobramentos no ambiente escolar. Ramos (2005) em reflexão sobre a natureza da pesquisano campo da Educação Física escolar, apresentatemáticas que necessitam ser mais bemexploradas e indica uma carência de estudos queviabilizem novos olhares para três temasfundamentais: a escola, o aluno e aformação/atuação do professor. No que dizrespeito às pesquisas relacionadas ao aluno e aoprofessor alerta para a lacuna de investigaçõessobre a produção e utilização de livros didáticos.

    Os demais componentes curriculares contamcom um número elevado de livros didáticos. Parase ter uma idéia no levantamento realizado peloLIVRES3, de 1990 até 2007 foram publicados 653livros didáticos de história e 698 de português, jáem relação à Educação Física nenhum livro foi

    catalogado nesse período. E como afirmaChoppin (2004) “é necessário também prestaratenção àquilo que eles silenciam, pois se o livrodidático é um espelho, pode ser também umatela” (CHOPPIN, 2004, p.557).

    Alguns fatores contribuem paracompreendermos essa negligência na EducaçãoFísica e são comuns aos enfrentados no campoamplo da educação, como a condenação total dolivro didático em nome de uma vertente crítica.

    Além disso, fatores específicos dessa área doconhecimento contribuem na configuração dessarealidade.

    Uma dessas razões refere-se ao fato de quehistoricamente a Educação Física esteve atreladaa uma tradição do saber fazer, da realização dosmovimentos, da vivência e experimentação dasbrincadeiras, dos jogos e dos esportes, taiscaracterísticas tornaram difícil estruturar essematerial, assim como conceber sua aceitação

    junto aos docentes e mesmo ao mercadoeditorial.

    Outro fator também contribuiu para asrestrições ao livro didático na Educação Física. Oredirecionamento do pensar a respeito do objetode estudo desse componente curricular na escola,ocorreu a partir dos anos 1980, no mesmoperíodo em que a produção de livro didático eraintensamente criticada. Essas críticas podem terafastado os docentes, ou boa parte deles, daconstrução e reflexão desses materiais (DARIDO et al., 2010).

    3 Trata-se de um grupo de pesquisa que passou a organizar a produção do livro didático no Brasil, mais especificamente na

    Um dos únicos livros didáticos na área deEducação Física é o bastante difundido TrabalhoDirigido de Educação Física, de Teixeira (1983).O material destinado ao Ensino Fundamentalapresenta exemplos de atividades distribuídas emdiversos planos de aulas dos conteúdos deginástica, jogos, esportes coletivos etc. O livro foidisseminado entre os professores da EducaçãoBásica, embora tivesse sido elaborado para osalunos. (DARIDO et al., 2010)

    Em meio à ausência de discussões sobre olivro didático em aulas de Educação Física,algumas medidas isoladas vêm sendo tomadasquanto à elaboração desses materiais.Recentemente o Estado de São Paulo 4, o Estadodo Paraná 5 e o Município de Belo Horizonte6 identificaram a necessidade de oferecer aosprofessores materiais que possam servir de apoioàs aulas e iniciaram a elaboração e divulgação de

    materiais didáticos dessa disciplina.No Estado de São Paulo um grupo reduzido de

    professores foi convidado para elaborar o livrodidático de Educação Física. No ano de 2008 foilançado o livro didático destinado aosprofessores, já no ano de 2009 foi lançado o livrodidático dos alunos, com autoria de outro grupode professores. Tal proposta teve granderepercussão entre os professores, recebendoelogios quanto aos conteúdos veiculados ecríticas quanto à política de elaboração,distribuição e implementação do material(LADEIRA, 2008).

    O livro didático público do Paraná (2007) temcaracterísticas diferenciadas dos demais livrosdidáticos publicados no país, uma vez que tevecomo meta constituir-se em um materialproduzido pelos próprios professores da redepública de Ensino Médio e distribuídogratuitamente. De acordo com os autores da obra,o livro didático de Educação Física representa ummomento histórico, pois pela primeira vez, éconstruído um material que subsidia a práticadocente, trazendo reflexões sobre diversosaspectos que compõem o corpo teórico-prático daárea (PARANÁ, 2007, p.10).

    Outro aspecto que nos chama atenção é queas redes particulares de ensino, tais como,Positivo, COC, Anglo e Objetivo também vemelaborando apostilas com vistas ao promissor

    Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade de São

    Paulo.4 http:// www.rededosaber.sp.gov.br/

    5 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/livrodidatico

    6 http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp

    http://www.rededosaber.sp.gov.br/http://www.rededosaber.sp.gov.br/http://www.rededosaber.sp.gov.br/http://www.rededosaber.sp.gov.br/http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/livrodidaticohttp://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/livrodidaticohttp://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/livrodidaticohttp://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asphttp://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asphttp://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asphttp://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asphttp://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/livrodidaticohttp://www.rededosaber.sp.gov.br/

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    mercado das redes públicas municipais deensino7.

    Portanto, deixar de produzir livros didáticos deEducação Física ou deixar de realizar pesquisassobre esse material não garante que outrosmateriais não sejam elaborados econsequentemente utilizados pelos professores.

    Assim, considera-se oportuno a EducaçãoFísica inserir-se nas discussões do livro didático ecom isso compreender melhor osdesdobramentos de seu uso em aulas dessecomponente curricular.

    Metodologia A metodologia utilizada é de natureza

    qualitativa. Na análise de Triviños (1987) aspesquisas com enfoque qualitativo surgem emcontraposição à atitude tradicional positivista deaplicar aos estudos das ciências humanas osmesmos princípios e métodos das ciênciasnaturais.

    Na visão de Ludke e André (1986), com aevolução dos estudos na área educacional,percebeu-se que poucos fenômenos nessa áreapodem ser submetidos à abordagem analítica,típica das pesquisas experimentais, pois emEducação as coisas acontecem de maneirainextrincável e não é possível isolar as variáveisenvolvidas.

    Na concepção de Demo (1995) são quatro osgêneros de pesquisa no campo das ciênciassociais, dentre elas, cita a possibilidade dapesquisa teórica, que em sua análise dedica-seao estudo de teorias, formulação de referênciasou mesmo a elaboração de conceitos. Baseadonessa diferenciação, na primeira fase desseestudo, debruçou-se sobre a formulação de umaproposta teórica, especificamente na elaboraçãode um livro didático de basquetebol para oprofessor e outro para o aluno.

    Com o livro didático em mãos elencou-se

    alguns critérios para escolha dos sujeitos, dessamaneira os participantes deveriam serprofessores do componente curricular EducaçãoFísica que ministrassem aulas para turmas de 6ºe/ ou 7º ano, que fossem efetivos no cargo e quedemonstrassem interesse em participar doestudo.

    7 Em levantamento realizado pelo Jornal Estado de São Paulo(13/04/2008) cerca de 150 municípios do estado de São Pauloadotaram os sistemas particulares de ensino na EducaçãoInfantil e Ensino Fundamental. No Brasil são 300 os

    municípios incluídos nessa estatística, sendo 690 mil alunosde escolas públicas utilizando os materiais, os quais sãoobtidos por meio de recursos do Fundeb (Fundo deManutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e deValorização dos Profissionais da Educação).

    Em conversas com outros docentes deEducação Física e em algumas participações emcongressos da área, estabeleceu-se contatos comcerca de dez professores da Educação Básica,dentre eles chegou-se a cinco professores que seenquadraram nos critérios adotados edemonstraram disponibilidade em participar dapesquisa. Todos os participantes integram aDiretoria de Ensino de Limeira (SP), sendo quequatro professores trabalham nesse mesmomunicípio e um deles trabalha na cidade de RioClaro (SP).

    Na segunda fase da pesquisa optou-se poruma investigação de caráter exploratório. Ludke e

    André (1986) indicam que a fase exploratória deum estudo é caracterizada por um delineamentomais claro da pesquisa, nos quais questõesessenciais e pontos críticos podem serexplicitados, repensados ou abandonados.

    Nessa fase da investigação os professoresrealizaram a leitura e análise do livro didático debasquetebol e em seguida foram entrevistadosindividualmente. Para apreensão dos dadosutilizou-se entrevista semi-estruturada quepermitiu partir de um roteiro básico de questões,aprofundando e esclarecendo as informações quese julgou necessário, ou seja, caso as respostasfossem insuficientes aos propósitos do estudo opesquisador pode explorar melhor as questõescom a intenção de obter informações maisdetalhadas.

    Nossa intenção com o roteiro de questões foiavaliar a aplicabilidade do livro didático debasquetebol, investigando como o professorvisualiza esse material em sua práticapedagógica.

    Abaixo segue o roteiro de questões utilizadocomo suporte às entrevistas.

    1- Quais foram suas impressões iniciais sobre olivro didático de basquetebol? 2- Quando você vai daraulas de esporte na escola, você utiliza algum livro?

    Qual? 3- Você sente a necessidade de algum materialprévio ou utiliza outros recursos para planejar, aplicar eavaliar as aulas? 4- Em sua opinião, o livro didático debasquetebol poderia dificultar seu trabalho? De queforma? 5- Em sua opinião, o livro didático debasquetebol poderia colaborar com seu trabalho? Deque forma? 6- Como você utilizaria o livro didático debasquetebol? 7- Qual das atividades você consideroumais interessante? Por quê? 8- Qual das atividadesvocê não usaria? Por quê? 9- O que você achou doencadeamento dos temas e das atividades dentro dostemas? 10- Como você acha que pode ser asrespostas dos alunos frente ao livro?

    Válido ressaltar que a entrevista representaum dos instrumentos básicos para coleta de

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    dados na pesquisa qualitativa. Para Ludke e André (1986) a boa entrevista exige algunscuidados do entrevistador, em primeiro lugar agarantia de sigilo e respeito pelos entrevistados.Importante também, criar um ambiente deconfiança, sendo capaz de estimular o fluxonatural de informações e manter-se atento paraouvir com paciência. Alertam ainda, paraimportância de registrar as expressões orais comgravações diretas e anotações de expressões nãoverbais, tais como, entonações, hesitações,alterações de ritmo, entre outros aspectos.

    No primeiro contato com o instrumento decoleta de dados realizou-se, com uma professoracolaboradora, uma entrevista “piloto” com aintenção exclusiva de testar o instrumento decoleta, tentando identificar a clareza na exposiçãodos objetivos do estudo, além de afastarpossíveis inadequações quanto ao roteiro básico

    de questões.Esse estudo foi desenvolvido com o

    consentimento dos indivíduos envolvidos e paratanto os participantes foram esclarecidos sobre osriscos e o direito de desistir a qualquer momento.

    Além disso, obteve-se a aprovação de seuspropósitos e procedimentos por parte do Comitêde Ética em Pesquisa do Instituto de Biociênciasda UNESP de Rio Claro (CEP nº 34/2009,protocolo nº 4701).

    Resultados e DiscussãoNa parte inicial, mais especificamente nos dois

    primeiros itens, apresentou-se o resultado final daprimeira etapa da pesquisa que foi a elaboraçãodo livro didático de basquetebol e na sequênciaprocedeu-se aos resultados obtidos a partir dasentrevistas com os professores.

    O livro didático de basquetebolPara avaliar a visão dos professores quanto ao

    livro didático em aulas de Educação Física serianecessário selecionar algum material com essascaracterísticas.

    Optou-se pela elaboração de um materialespecífico para a presente pesquisa, chegandoassim a um livro didático de basqueteboldestinado ao professor e ao aluno do 6º e 7º anodo Ensino Fundamental.

    A opção por esse nível de ensino foi porconsiderar que boa parte dos professores deEducação Física inicia o ensino dos esportes apartir dessa faixa etária.

    A escolha pelo basquetebol se deu por conta

    de nossas experiências como professores desseesporte na iniciação e também na universidade,fato que nos garantiu apenas a princípio certa

    convicção na seleção e escolha dos conteúdos, jáque não existia estudo que nos desse suporte aorganização do livro didático.

    Nesse sentido, o processo de elaboração dolivro didático de basquetebol foi bastanteinquietante, pois foi necessário fazer escolhas, jáque não se obteve na literatura respostas aquestionamentos importantes na estruturação deum livro didático, como por exemplo: O que oaluno, ao longo dos anos de escolarização, devesaber sobre basquetebol? Ou mesmo, o que éessencial o aluno do 6º ou 7º ano saber sobrebasquetebol?

    Apesar das dúvidas, após algumas reflexõespautadas em experiências, estudos e leituraschegou-se à seguinte configuração do livrodidático de basquetebol.

    Primeiramente, elencou-se quatro grandes

    temas (Tabela 1): “Basquetebol: compreendendoo jogo”, “Basquetebol e suas transformações”,“Basquetebol: a dinâmica do jogo e osfundamentos básicos” e “Basquetebol eDiversidade”. Dentro de cada tema desenvolveu -se alguns sub-temas com intenção de detalhar eaprofundar os temas centrais.

    Nos primeiros sub-temas preocupou-se emapresentar o esporte aos alunos de modo que sefamiliarizassem com os espaços de prática, asregras e com a dinâmica do jogo, nesse sentidopropôs-se os seguintes temas: “Os espaços dobasquetebol”, “A dinâmica do jogo” e “As regrasdo jogo”.

    A maior preocupação, no primeiro tema, eraque o aluno se identificasse com o basquetebol,ou seja, tivesse prazer em conhecer e vivenciar oesporte, afastando possibilidades de repudiar ouresistir à sua prática logo no início das aulas. Nosegundo grande tema explorou-se dois sub-temasrelacionados à história do basquetebol tratandode sua criação e de algumas transformações, sãoeles: “Os primórdios do basquetebol” e“Transformações do jogo”.

    A história do basquetebol foi colocada comoum segundo tema, já que em um primeiro contatocom o esporte talvez houvesse dificuldades com aaceitação desse conteúdo. Isso não quer dizerque a história do basquetebol seja um assuntomenos importante, de fato acredita-se narelevância de contextualizar a criação e astransformações pelas quais passou o basquetebolao longo do tempo.

    Após o conhecimento dos aspectoselementares do jogo, bem como da atribuição desentido aos aspectos históricos, considerou-seoportuno aprofundar os conhecimentos

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    específicos do jogo, nesse sentido chegou-se aum terceiro tema no qual o aluno pudesse seaprimorar no conhecimento e vivência do esporte,para tanto se elaborou dois sub- temas: “Do jogoao esporte” e “Aprimorando o jogo”.

    Finalizando a proposta, deu-se maior ênfaseao tema da diversidade no basquetebol,

    atentando para dois grupos sociais que enfrentamcertas dificuldades de acesso ao esporte, dentreeles, destacou-se dois sub- temas: “Basquet ebolsobre cadeira de rodas” e “Mulheres nobasquetebol”.

    Tabela 1. Temas e sub-temas do livro de basquetebol.TEMAS SUB-TEMAS

    Basquetebol: compreendendo o jogo• Os espaços do basquetebol • A dinâmica do jogo • As regras do jogo

    Basquetebol e suas transformações • Os primórdios do basquetebol • Transformações do jogo Basquetebol: a dinâmica do jogo e os fundamentos básicos • Do jogo ao esporte • Aprimorando o jogo Basquetebol e Diversidade • Basquetebol sobre cadeira de rodas • Mulheres no basquetebol

    Nesse momento o leitor deve estar refletindosobre uma série de temáticas que poderia fazerparte do livro didático, mas que foramdesconsideradas na presente proposta, umexemplo bastante evidente é ausência dobasquete de rua (street basketball) e a discussãoda importância dos negros na consolidação desseestilo de jogar basquetebol.

    Na verdade, ao longo do planejamento econstrução do livro didático de basquetebol optou-se por determinados temas que se considerouimportante em uma primeira aproximação com o

    esporte, por outro lado, para que o material nãoficasse muito extenso alguns temas significativosdeixaram de ser explorados.

    Ainda sim, é importante esclarecer que apresente proposta é apenas uma entre váriaspossíveis, em nenhum momento houve apretensão de considerá-la um modelo a serseguido, mesmo porque existem outros princípiosque podem influir na escolha e seleção dosconteúdos vide as indicações de Soares et al.(1992), tais como a relevância social, acontemporaneidade, provisoriedade doconhecimento, entre outros princípios.

    A descrição dos conteúdos que foramselecionados para o livro didático de basquetebolfacilita o entendimento da concepção deEducação Física expressa no material, contudopara uma compreensão mais detalhada parecerelevante acrescentar o exemplo de um sub-tema.

    Livro didático de basquetebol: o exemplode um tema

    O tema descrito abaixo compõe o livro didáticodo professor.Tema 4 - Basquetebol e DiversidadeSub-tema 1 - Basquetebol em cadeira de rodas

    Objetivo do tema

    Apresentar aos alunos o basquetebol sobrerodas, bem como vivenciar algumas limitaçõesenfrentadas pelos jogadores dessa modalidade.Curiosidade

    O basquetebol sobre rodas foi a primeiramodalidade Para-Olímpica a ser praticada noBrasil, sua introdução deu-se por volta de 1957.Atividade1 – Jogando Sentado.Objetivo do Jogo

    Simular as dificuldades enfrentadas pelos jogadores do basquetebol em cadeira de rodas.Procedimento e divisão das equipes

    O grupo deve ser dividido em duas equipes de10 pessoas, sendo que metade da equipepermanece em pé e metade deve posicionarsentada em alguma região da quadra.Regras

    1- Os jogadores que estão em pé podem darno máximo dois dribles com a bola, mas nãopoderão se deslocar sem a sua posse.

    2- Os jogadores sentados podem se deslocarcom o auxílio dos braços e pernas (arrastando)

    quando estiverem sem a bola, mas quando arecebem não poderão se deslocar com suaposse, assim devem realizar o passe ou oarremesso.

    3- Só é permitido o arremesso aos alunos queestiverem sentados.Variação do Jogo

    Todos os alunos jogando sentadosDiscussão da Atividade

    Questão 1: Quais foram as limitaçõesenfrentadas durante o jogo? Essas limitações sãosemelhantes as que os cadeirantes enfrentam?

    Questão 2: No basquetebol sobre cadeira de

    rodas a cesta é mantida a 3,05 metros do chão,assim como, no basquetebol convencional. Quaisforam as dificuldades encontradas no movimentode arremesso sentado? Imagine você em uma

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    cadeira de rodas em movimento, o arremessoseria mais fácil ou mais difícil de ser executado?

    Questão 3: Inúmeras pessoas com traumasmedulares desejam praticar o basquetebol sobrerodas, mas poucas pessoas têm acesso a essaprática. Enumere algumas dificuldadesenfrentadas pelas pessoas que desejam realizaressa modalidade.

    Observação da discussão: As dificuldadesencontradas pelos jogadores dessa modalidadevão do acesso a quadras com adaptações dosespaços ao acesso de materiais adaptados comoas cadeiras de rodas que chegam a custar R$4,000,00 reais e necessitam de manutençãoconstante.

    Questão: Quais medidas poderiam sertomadas para facilitar o acesso de cadeirantes àprática do basquetebol sobre rodas?Atividade 3 – Conhecendo Outros Esportes emCadeira de Rodas?

    Objetivo da atividade Associar o nome do esporte sobre cadeira de

    rodas com sua respectiva imagem.1- Basquetebol em Cadeira de Rodas2- Tênis em Cadeira de Rodas3- Tênis de Mesa em Cadeira de Rodas4- Atletismo em Cadeira de Rodas5- Esgrima em Cadeira de Rodas

    Figura 1. http://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpg

    Figura 2. http://pan2007.globo.com/ESP/Home/foto/0,,11284717-

    EX,00.jpg

    Figura 3. http://blogdodortaesporteclube.blogspot.com/2008_08_01

    _archive.html Figura 4. http://garagem.odois.org/wp-

    content/uploads/2009/06/610x.jpg

    Figura 5. http://www.barlavento.online.pt/upload/multimedia/1

    169229892.jpg

    Sub-tema 2 - Mulheres no basquetebol

    Objetivo do temaOutro assunto que não poderíamos deixar em

    branco quando o tema é o basquetebol é a

    discussão sobre o espaço ocupado pelasmulheres.Texto para o professor

    Basquetebol: o espaço das mulheres As mulheres que se aventuram pela prática do

    basquetebol não enfrentam apenas asdificuldades próprias do jogo, além disso,enfrentam também o preconceito.

    O basquetebol é bastante difundido entre oshomens, fato que imprime nesse esportecaracterísticas da cultura masculina, conduzindoa uma falsa impressão de que é eminentemente

    masculino. É comum ouvir comentários de que osmovimentos do basquetebol são muito

    http://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpghttp://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpghttp://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpghttp://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpghttp://pan2007.globo.com/ESP/Home/foto/0,,11284717-EX,00.jpghttp://pan2007.globo.com/ESP/Home/foto/0,,11284717-EX,00.jpghttp://pan2007.globo.com/ESP/Home/foto/0,,11284717-EX,00.jpghttp://blogdodortaesporteclube.blogspot.com/2008_08_01_archive.htmlhttp://blogdodortaesporteclube.blogspot.com/2008_08_01_archive.htmlhttp://blogdodortaesporteclube.blogspot.com/2008_08_01_archive.htmlhttp://garagem.odois.org/wp-content/uploads/2009/06/610x.jpghttp://garagem.odois.org/wp-content/uploads/2009/06/610x.jpghttp://garagem.odois.org/wp-content/uploads/2009/06/610x.jpghttp://garagem.odois.org/wp-content/uploads/2009/06/610x.jpghttp://www.barlavento.online.pt/upload/multimedia/1169229892.jpghttp://www.barlavento.online.pt/upload/multimedia/1169229892.jpghttp://www.barlavento.online.pt/upload/multimedia/1169229892.jpghttp://www.barlavento.online.pt/upload/multimedia/1169229892.jpghttp://www.barlavento.online.pt/upload/multimedia/1169229892.jpghttp://garagem.odois.org/wp-content/uploads/2009/06/610x.jpghttp://garagem.odois.org/wp-content/uploads/2009/06/610x.jpghttp://blogdodortaesporteclube.blogspot.com/2008_08_01_archive.htmlhttp://blogdodortaesporteclube.blogspot.com/2008_08_01_archive.htmlhttp://pan2007.globo.com/ESP/Home/foto/0,,11284717-EX,00.jpghttp://pan2007.globo.com/ESP/Home/foto/0,,11284717-EX,00.jpghttp://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpghttp://static.hsw.com.br/gif/parapan-americano-basquete.jpg

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    masculinizados, discurso bastante comum entreaqueles que só assistem jogos masculinos.

    Com isso, as mulheres que ignoram talentendimento reducionista do esporte enfrentambarreiras como críticas à forma de jogar e maisgrave ainda as meninas sofrem comentáriosquanto a orientação sexual.

    Todos esses fatores colaboram naconfiguração de uma realidade que dificulta adifusão do basquetebol feminino.

    Em primeiro lugar as meninas não sãoencorajadas a praticar e a conhecer o esporte,existindo poucas categorias de base formadasexclusivamente por meninas. Outro agravante é obaixo incentivo aos campeonatos femininos,deixados em segundo plano obtendo poucaatenção da mídia e investimentos insuficiente asua divulgação.

    Mesmo nessas condições o basquetebolfeminino brasileiro reina entre os quatro melhoresdo mundo, tendo ficado em 4º lugar no últimoMundial (Brasil, 2006) e 4º lugar na últimaOlimpíada (Atenas, 2004)Curiosidade

    No Pan-Americano de Havana (Cuba, 1991) aseleção brasileira feminina chegou a final dotorneio e enfrentou as donas da casa que haviamganhado brilhantemente da seleção americana nasemifinal. Na véspera do jogo, Fidel Castro tentou

    desestabilizar a equipe brasileira dizendo quesabia como marcar as jogadoras Paula eHortência. No dia da partida Fidel compareceu aoginásio e disse a seguinte frase à técnicabrasileira Maria Helena Cardoso: "Lo siento, perohoy aquí gana Cuba.". Apesar da pressãopsicológica do ditador Cubano, as atletasbrasileiras venceram por 97 a 76.

    Figura 6. https://reader015.{domain}/reader015/html5/0712/5b465651a49e8/5b46565cb8a3e.jpg

    Atividade 1 – Livro: “Saudades do Basquete”

    Objetivo da atividadeTentando discutir um pouco esse assunto com

    os alunos, apresentaremos um pequeno resumodo livro de Thalia Kalkipsakis intitulado“Saudadesdo Basquete”. Livro so bre a história de umagarota que abandona o basquetebol após serchamada de menino.

    Procedimento da atividade A leitura do livro juntamente com os alunos é

    uma experiência rica para discussões, mas casoisso não seja possível leia um resumo eposteriormente apresente algumas questões.Discussão da atividade

    Questão: Vocês conhecem alguma históriaparecida com a de Angie? Seus pais permitemvocês participarem de qualquer atividade? Porexemplo, as meninas jogarem futebol e osmeninos praticarem a dança.

    Questão: A menina que joga basqueteboldeixa de ser menina? E o menino que dançadeixa de ser menino?

    Questão: O esporte tem o poder de mudar aorientação sexual das pessoas?O livro didático de basquetebol: a visão dosprofessores

    Na realização das entrevistas, partiu-se doroteiro básico de questões o que permitiu aosprofessores expressar opiniões, ideias, equestionamentos sobre o livro didático debasquetebol. Para análise dos dados descritosabaixo, realizou-se o cruzamento das informaçõesobtidas nas entrevistas e os dados da revisão daliteratura. A partir desse cruzamento foi possíveldelinear categorias que representam os temassignificativos e recorrentes nas falas dosprofessores. Dentre as categorias, destaca-se: anecessidade de livros didáticos no cotidianoescolar e limitações e vantagens do livro didáticode basquetebol.A necessidade de livros didáticos no cotidianoescolar

    Identificou-se no decorrer das entrevistas queos professores utilizam poucos livros paraplanejar suas aulas e estabelecem uma relaçãobastante crítica quanto à necessidade de livrosdidáticos no cotidiano pedagógico.

    Quando questionados sobre a utilização demateriais prévios para o planejamento das aulas,percebe-se que na maioria dos casos, há poucapreocupação ou pouca tradição noencaminhamento dessa tarefa com o apoio delivros. Dos cinco professores entrevistados quatroapresentaram pouquíssimos livros que lhes dãosuporte ao ministrarem as aulas e apontamrecorrer, principalmente, à internet e a experiênciade outros colegas.

    Apenas um dos professores aponta convicçãoquanto à utilização de livros para planejar suasaulas, no sentido de compreender essa realidadeé possível levantar algumas hipóteses.Primeiramente, devido ao número reduzido de

    livros que se aproximam das necessidades reaisdos professores, já que a maioria deles,publicados na área, não são produzidos com

    http://mbolimpico.zip.net/images/paulhortfid.jpghttp://mbolimpico.zip.net/images/paulhortfid.jpghttp://mbolimpico.zip.net/images/paulhortfid.jpg

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    finalidades didáticas. Uma segunda hipótese, queos professores não têm tempo suficiente paraestudar e planejar. Ou ainda, que as aulas dosprofessores estejam baseadas em suasexperiências anteriores, nesse sentidoreproduzem e adaptam aquilo que aprenderam ouvivenciaram com outros professores, quandoainda eram alunos.

    Tardif e Raymond (2000) estudiosos dossaberes profissionais dos professores, maisespecificamente, os saberes mobilizados eempregados na prática cotidiana, podemcolaborar para o entendimento dessa realidade.Na compreensão dos autores o termo “saber” emsentido amplo engloba os conhecimentos, ascompetências, as habilidades e as atitudes dosdocentes. Afirmam com propriedade que o saberprofissional dos professores está na confluênciaentre várias fontes de saberes provenientes da

    história de vida individual, da sociedade, dainstituição escolar, dos outros atores educativos,dos lugares da formação etc. A idéia defendidapelos autores é de que a prática profissional dosprofessores é bastante influenciada por saberesoriundos da socialização anterior à preparaçãoprofissional formal.

    Quanto a esse assunt o afirmam: “[...] uma boaparte do que os professores sabem sobre oensino, sobre os papéis do professor e sobrecomo ensinar provém de sua própria história devida, principalmente de sua socialização enquantoalunos” (TARDIF e RAYMOND, p. 216, 2000).

    Mas como fica o livro didático na configuraçãodos saberes profissionais? Se considerarmosapenas as influências dos saberes pré-profissionais na construção do saber-ensinar dosprofessores, provavelmente, o papel do livrodidático será bastante limitado no processo deaprendizagem e incorporação dos saberesprofissionais, uma vez que livros didáticos deEducação Física não foram utilizados nas aulasdos atuais professores. Mas Tardif e Raymond(2000) indicam que as experiências de trabalhotambém poderão ser responsáveis na construçãodos saberes dos professores. Assim, é possívelincluir o estudo, a leitura e a utilização do livrodidático pelo professor em seu cotidiano.

    Quanto a isso parece imprescindívelconsiderar o uso das novas tecnologias, emespecial a utilização de sites na internet quedisponibilizam materiais didáticos on-line para osprofessores. A Secretaria Estadual do Paraná, porexemplo, disponibiliza publicamente conteúdos

    interativos sobre diferentes temas da EducaçãoFísica.

    De fato, compreender os motivos que justificam o uso reduzido de livros paraplanejamento das aulas não é tarefa fácil, masem algumas falas dos professores é possívelperceber que a ausência de materiais adequadosà realidade escolar é uma das justificativas. Trêsprofessores afirmam sentir falta de um materialmais organizado, mais próximo da realidade dasaulas e que seja adequado às necessidades dotrabalho docente, tais como uma linguagem maisapropriada a compreensão dos alunos, de fácilmanuseio, nas palavras dos professores ummaterial mais prático.

    [...] sinto a necessidade de livros mais práticos,de sites direcionados, em que haja um grupo depesquisadores e pessoas que apresentematividades para que eu entre no site e possa teruma fonte de idéias para poder adaptar. Sintofalta de um material mais organizado.(Professor 4)

    Ainda sobre a necessidade do livro didático oProfessor 3 acha importante possuir e utilizarmateriais para planejar suas aulas, mas em seuentendimento o uso de materiais para suprirlacunas no planejamento não é algo vital.

    [...] eu vejo que é muito importante você ter ummaterial de apoio, livro didático, umareportagem, um livro de regras, vejo isso comonecessário. Mas é vital? Não acredito que sejavital, mas ajudaria muito. Como disse em minhafala inicial muitos professores dependem dissohoje. (Professor 3).

    O Professor 1, por exemplo, considera que anecessidade de materiais para planejamentoexiste, mas o que considera realmente essencialé o estudo e as trocas entre professores. “Eusinto muita necessidade de troca entre osprofessores, tais como as orientações técnicas daDiretoria, com reuniões e discussões” (Professor1).

    Concluindo sua leitura sobre as necessidadesdo trabalho docente o Professor 1 afirma que oque realmente falta é estudo, representadoprincipalmente, nas oportunidades decompartilhar o trabalho escolar, conhecer outrasexperiências e participar de eventos científicos.

    Percebemos na fala dos professores que apossibilidade de disponibilizar materiais comfinalidades didáticas é algo que pode colaborarcom o trabalho docente, entretanto, um delessalienta que não se trata de uma necessidadevital, ou seja, o material de fato ajudaria, mas suaausência não traz grandes prejuízos à práticadocente. E por fim, o professor 1 afirma que maisdo que materiais didáticos os professoresnecessitam de oportunidades de estudar ecompartilhar experiências.

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    Cassab e Martins (2008) analisando oscritérios adotados para seleção e escolha do livrodidático de ciências, identificam professoressubmetidos, controlados pelo livro didático, maspercebem também aqueles que problematizam aimportância desses materiais e demonstram nãoestarem subjugados ao livro.

    O mesmo parece acontecer com osprofessores de Educação Física analisados, jáque não estabelecem uma relação passiva frenteao livro didático de basquetebol, ao contrário,analisam esse material rigorosamente levando emconta seu cotidiano escolar e as exigências dotrabalho docente. Da mesma forma, apesar dascríticas, os professores não se colocamradicalmente contra o livro didático.Limitações e vantagens do livro didático debasquetebol

    Ao longo das conversas e discussões osprofessores apontaram aspectos positivos enegativos do livro didático de basquetebol e deque forma o livro didático poderia colaborar e/oudificultar o trabalho docente.

    O primeiro aspecto negativo apontado pelamaioria dos professores foi o grande volume dediscussões propostas no livro didático debasquetebol. Três professores consideraram queexiste um número elevado de debates ao longodos temas e que seria muito trabalhosodesenvolvê-los. Acreditam ser muito difícil realizar

    tanta discussão, primeiro porque o tempo de aulaé muito restrito e os alunos têm expectativas emrealizar a prática e em segundo lugar apontam oproblema da indisciplina, além de destacar atradição do “saber fazer” da área como umagravante.

    Fiquei bastante preocupado com o excesso dedebate, é desgastante. O ano passado eu tinha16 salas e fazer isso com todas elas compensa,mas pode ser que o professor não aguente aolongo do processo. Por que a discussão geramuitos conflitos, é preciso brigar com os alunospara realizar. (Professor 1).

    Um dos professores também reclama dovolume de discussões, mas aponta comoalternativa o desenvolvimento das discussões naparte inicial das aulas.

    O que eu acho que não funciona muito são asdiscussões após as práticas, isso porque elesestão muito excitados, o tempo de aula é curto,além do fato de que eles se irritam com ainterrupção da prática. A euforia que a práticaproporciona dificulta a concentração e aatenção na atividade de discussão (Professor4).

    Pensar um livro didático para Educação Físicaexige também considerar a tradição de conteúdosque acompanha a realidade desse componente

    curricular. Assim como apresentam Darido eRangel (2005), a Educação Física na escolapriorizou ao longo da história os conteúdos emsua dimensão procedimental, o “saber fazer” enão o saber sobre a cultura corporal e como serelacionar no âmbito dessa cultura.

    Em pesquisa com sete professores deEducação Física com pós-graduação, Darido (2003) identificou que apesar dos professoresmencionarem a importância dos conhecimentosteóricos (conteúdos com predominânciaconceitual) no desenvolvimento das aulas, poucofoi observado pela pesquisadora.

    Assim como apresenta Darido (2003),compreende-se as dificuldades dos professoresno encaminhamento das discussões propostaspelo livro didático de basquetebol, mas nãopoderíamos deixar de apresentá-las sob pena denos tornarmos reféns da tradição, mesmo porqueuma das funções do livro didático de basquetebolé oferecer subsídios aos professores nodesenvolvimento de conceitos, procedimentos eatitudes.

    Nesse sentido, apresentou-se no livro didáticode basquetebol diversas opções de vivências,práticas e discussões, mas a escolha por uma ououtra forma de abordar o conteúdo é decisãoexclusiva do professor frente aos problemasenfrentados.

    Em relação às dificuldades que o livro didáticode basquetebol poderia proporcionar ao trabalhodocente os professores foram unânimes emdestacar que se ele tivesse que ser seguido naíntegra, do início ao fim, sem adaptações, issocaracterizaria uma grande limitação.

    “Se eu tivesse que seguir aula por aula sim.Mas sabendo que posso adaptar edescartar o que quiser, acho que meajudaria” (Professor 4).

    Ladeira et al. (2008), em pesquisa sobre anova proposta curricular e os livros didáticos darede pública estadual paulista, identificaramreclamações semelhantes as que identificou-seno presente estudo.

    Os 16 professores entrevistados apresentaramcríticas quanto a política de execução daproposta. No relato de alguns deles não houveuma capacitação prévia para utilização dos livrosdidáticos e há por parte da coordenaçãopedagógica das escolas uma cobrança pelaaplicação irrestrita do material (LADEIRA et al.,2008).

    Na presente pesquisa compreende-se o livrodidático como um material curricular flexível,aberto às decisões do professor. Evidentemente,

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    apresenta uma sequência de temas e atividades,mas diferente das conhecidas apostilas esse éum material que deve permitir a escolha, aadaptação, o descarte etc. A concepção de livrodidático, de forma alguma, atende a definição dematerial fechado e de sequência rígida, naverdade trata-se de um instrumento auxiliar dotrabalho docente e da aprendizagem dos alunos enão um referencial único.

    O professor 3 destaca que em sua realidade olivro didático não traria nenhuma dificuldade, maspontua que ao professor acostumado a nãoplanejar as aulas, sem o hábito de realizar leiturase desatualizado quanto à concepção de EducaçãoFísica proposta no livro didático de basquetebol,esse sim teria dificuldades em aceitar e tambémem utilizar o livro. Na compreensão do Professor3 o livro didático de basquetebol pode se tornarum empecilho ao trabalho do professor

    acomodado, já que os alunos podem questioná-losobre o que está sendo ensinado. No caso doprofessor “rola bola”, isso realmente podeacontecer, já que os alunos poderão confrontar oconteúdo do livro didático com o conteúdo dasaulas.

    Ainda sobre aspectos negativos do livrodidático, o Professor 1 faz um questionamentorelacionando o livro didático de basquetebol comas condições de trabalho na escola.

    [...] o livro não é ruim. Ele sofre o mesmoproblema, da apostila do Estado. O que estáruim é a escola, é a situação de debate naescola. Eu tenho 40 alunos por turma e duasaulas por semana, como eles sabem que temsuper pouco espaço para prática eles nãoaceitam o uso do tempo de outra forma. Não éruim ele aprender sobre a história do basquete,sobre as curiosidades. A dificuldade está naescola e não no livro, na estrutura da escola, nonúmero de aluno, na falta de materiais(Professor 1).

    É possível depreender da fala do Professor 1 aexistência de problemas urgentes no cotidianoescolar, tais como, a número excessivo de alunospor turma, a indisciplina, a falta de apoio dadireção, a pouca integração entre os professores,aspectos que dificultam o desenvolvimento dasaulas e obviamente a utilização do livro didático.

    Concorda-se com o professor no sentido deapontar as limitações do livro didático frente auma realidade tão conturbada, mesmo assim,sem deixar de considerar os problemasenumerados acreditamos no potencial decolaboração do livro didático, mesmo em umarealidade tão complexa.

    De fato, melhorar as condições de trabalho naescola exige medidas e soluções plurais, que vãoda formação inicial às políticas públicas de

    incentivo à docência. Consideramos o livrodidático uma dessas possibilidades e não a única,sendo assim, um material com função específicade auxiliar o docente e o aluno no processo deensino aprendizagem.

    No que diz respeito aos aspectos positivos dolivro didático de basquetebol, os professoresapresentam inúmeras vantagens que essematerial poderia proporcionar ao trabalhodocente.

    Os professores acreditam que o livro didáticopode ser um instrumento para guiar o trabalho, jáque apresenta o conteúdo de forma organizada,independentemente da concepção adotada,demonstra uma sequência que pode ajudar nacondução do trabalho.

    O Professor 1 destaca que apesar deconhecer o basquetebol e há bastante tempo

    trabalhar com esse conteúdo, ainda tem umasérie de dúvidas e que encontrou no livro didáticouma fonte de atualização de conceitos e tambémde procedimentos pedagógicos.

    Mas sabe que muita coisa eu tenho dúvida comrelação as regras, até mesmo as informaçõesrelativas à história. Eu não fiz basquete naUniversidade, mas jogo e assisto e além dissoeu gosto. O material pode ajudar bastante nasatualizações das informações sobre o esporte(Professor 1).

    Evidencia-se na fala do Professor 1 apossibilidade do livro didático ser uma fonteprivilegiada de atualização do professor, mas paraque cumpra tal função o livro didático necessitaráde uma revisão periódica, no sentido de adequá-lo as transformações do esporte e doconhecimento que gira em torno do seu ensino-aprendizagem.

    Ainda sobre a possibilidade de o livro didáticoser uma fonte de atualização, na análise doProfessor 3 o material desempenharia um papelfundamental frente aos professoresdesatualizados. Para ele um livro didático, afinadoàs atuais propostas de Educação Física quefogem ao modelo tradicional, é um instrumentoimportante na transformação de professoresformados em uma perspectiva esportivista.

    Apesar de bastante discutível, se o livrodidático basquetebol seria realmente capaz detransformar práticas pedagógicas jásedimentadas, quem sabe os livros didáticospudessem causar, ao menos, a curiosidade, ointeresse, o desconforto, o incômodo, um primeiropasso em direção à mudança.

    O Professor 4 apresenta uma vantagem ligadaa possibilidade de utilizar o livro didático debasquetebol com os alunos. Em sua opinião ter

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    disponíveis textos e imagens a todos os alunos éalgo que permite até a avaliação conceitual dedeterminados conteúdos. “Me ajudaria até a terum material pronto para os alunos colocarem nocaderno, o que me possibilitaria fazer umaavaliação em relação às regras” (Professor 4).

    Cassab e Martins (2008) investigando ossignificados atribuídos por professores deciências na escolha do livro didático apontam queo imaginário desses docentes sobre ascaracterísticas de seus alunos é um aspectobastante relevante na seleção e escolha do livrodidático. Os professores, considerando seusalunos carentes de certas habilidades, adotamcomo critérios de seleção do livro didático alinguagem e os aspectos visuais veiculadosnesses materiais.

    O mesmo parece acontecer com osprofessores participantes de nosso estudo, já queem inúmeros momentos da entrevista fazemmenção às características de seus alunos paraavaliar o livro didático de basquetebol. “Pensandonos meus alunos acho que eles gostariam muito.

    Acho que eles gostariam mais de trabalhar com olivro, do que eu passando as informações semdisponibilizar do livro” (Professor 5).

    Os professores também vislumbram pontospositivos relacionados aos aspectos mais geraisde um livro didático, elencam vantagens queextrapolam a especificidade do livro didático de

    basquetebol, mas que seriam comuns a qualquerlivro didático.

    O professor 4, por exemplo, discutindo suasimpressões na leitura do livro didático debasquetebol expressa que em sua escola,somente ele ministra aulas de Educação Física eem diversos momentos se sente perdido por nãoter outro professor da área para compartilhar ediscutir o trabalho. Quando teve a oportunidadede ler o livro didático de basquetebol percebeu apossibilidade de avaliar seu próprio trabalho, no

    sentido de que o que ele faz também vem sendofeito por outras pessoas, como se isso indicasseque o trabalho está no caminho certo.

    Essa indagação do Professor 4 sobre aavaliação de sua prática, nos faz recorrer àspropostas de Schon (1995) para a formação deprofessores como profissionais reflexivos. Nacompreensão do autor o professor aprendefazendo e refletindo sobre suas ações práticas.Para tanto propõe três momentos distintos: oconhecimento na ação; a reflexão na ação; e areflexão sobre a ação. No que diz respeito àreflexão sobre a ação Rangel et al. (2005)afirmam que esse momento ocorre após a aula,quando o professor passa a refletir sobre os

    acontecimentos da aula, suas decisões, o quedeu certo, o que deu errado, o que precisa serrepensado etc.

    Podemos assim considerar o livro didático debasquetebol como um elemento a colaborar coma reflexão sobre as ações do Professor 4. E porque não vislumbrar a possibilidade do livrodidático ser utilizado no conhecimento da ação ena reflexão na ação, auxiliando o professor natarefa de ressignificar sua prática.

    Nesse sentido, entende-se que o professorpreparado para trabalhar com o livro didático temcondições claras de identificar possíveisincoerências do material, podendo com issomodificar a forma de abordagem ou mesmodescartar seu uso. Ou de outro modo, secompreendem ou vislumbram boas idéias, podemutilizá-las em suas aulas.

    Considerações FinaisO estudo e discussão do livro didático no

    campo da Educação, ainda é assunto bastantepolêmico, nesse sentido, identificamos posturascontrárias ao seu uso em situações de ensino-aprendizagem na escola (SILVA, 1988; 1996) eposturas a favor do uso e estudo maisaprofundado do livro didático no ambiente escolar(LAJOLO, 1996; ZABALA, 1998; BATISTA, 2000;MUNAKATA, 2000; 2003; BITTENCOURT, 2004;CHOPPIN, 2004).

    Na análise de Bittencourt (2004), apesar dasinúmeras críticas que podem ser endereçadas aolivro didático, ele vem sendo considerado uminstrumento indispensável ao processo deescolarização.

    Um primeiro aspecto interessante da avaliaçãodo livro didático de basquetebol por parte dosprofessores foi à identificação e aceitação domaterial, os professores demonstraram interessepela possibilidade de possuir um livro didático deapoio ao trabalho docente e enumeraram umasérie de vantagens e desvantagens de suautilização.

    Apontam, por exemplo, que o livro didáticopode colaborar com a condução das aulas, já quepossui uma sequência organizada de conteúdos.

    A possibilidade de atualização dos professoresdefasados e o aprofundamento de conceitos eprocedimentos pedagógicos por aqueles quecompreendem a proposta é mais um pontopositivo. Apontam como aspecto relevante aspossibilidades do livro didático destinado aoaluno, material que por possuir imagens, textos eexercícios pode ser amplamente utilizado. Porfim, indicam ainda a possibilidade do livro didático

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    Livro didático e Educação Física

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    apresentar-se como um elemento a compor aprática reflexiva do professor.

    Por outro lado, consideram comodesvantagem ou aspecto que pode dificultar autilização do livro didático de basquetebol oelevado volume de discussões e debatespropostos. Indicam a desvantagem que o materialpoderia trazer se não permitisse a adaptação, ouseja, um livro didático fechado dificultaria otrabalho docente. Apontam ainda, que o livrodidático é um empecilho ao professoracomodado. Por fim, demonstram dificuldades deutilização do livro didático em um contextoconturbado, marcado pela falta de apoio e aindisciplina dos alunos.

    Interessante perceber, como é complexa aavaliação e relação que os professoresestabelecem com o livro didático, o que ficaevidente, em nossa análise, é que em hipótesealguma os professores demonstram passividadefrente ao material, apesar de se identificarem comele não o compreendem como um material idealou perfeito.

    Ao contrário, são bastante críticos em relaçãoàs vantagens e desvantagens que o livro podeproporcionar em suas práticas pedagógicas.

    A prática pedagógica em Educação Física vemexigindo dos professores um trabalho cada vezmais intenso de estudo e pesquisa sobre as

    novas propostas para esse componentecurricular, dentre elas, destacamos adiversificação dos conteúdos, o desenvolvimentode conteúdos conceituais e atitudinais, a co-educação, os temas transversais, o planejamentoparticipativo, a construção do projeto políticopedagógico, entre outras propostas.

    Por outro lado, os professores interessadonesse tipo de trabalho não encontram materiaisdidáticos adequados a suas realidades, nessesentido, apontamos o livro didático como uma daspossibilidades de contribuir com o trabalho dosprofessores, bem como, com as aprendizagensdos alunos e com a melhoria na qualidade dasaulas de Educação Física na escola.

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    Endereço:Heitor de Andrade RodriguesRua das Margaridas 1220 Jd. FlóridaFranca SP Brasil14403-274Telefone: (19) 9199.9932e-mail: [email protected]

    Recebido em: 2 de fevereiro de 2010. Aceito em: 15 de setembro de 2010.

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