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1 O LEGISLATIVO ESTADUAL E A CONSTITUIÇÃO '3 Exposição do 1 0 Secretário da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Deputado José Laviola, apresentada no pie nário do IV CONGRESSO MINEIRO DE MUNICÍ- PIOS. Belo Horizonte, 30/09/87.

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O LEGISLATIVO ESTADUAL

E A CONSTITUIÇÃO

'3Exposição do 1 0 Secretário da Assembléia

Legislativa do Estado de Minas Gerais,

Deputado José Laviola, apresentada no pie

nário do IV CONGRESSO MINEIRO DE MUNICÍ-

PIOS.

Belo Horizonte, 30/09/87.

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l a SESSÃO LEGISLATIVA DA 11 ! LEGISLATURA- MESA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA -

PRESIDENTE1 9 -VICE -PRESIDENTE29-VICE-PRESIDENTE19-SECRETÁRIO2°-SECRETÁRIO3--SECRETÁRIO49-SECRETÁRIO

Deputado José Neif JaburDeputado Saint'Clair Martins SoutoDeputado Raimundo AlbergariaDeputado José Laviola MatosDeputado Amílcar PadovaniDeputado José Maria PintoDeputado Carlos Eduardo Antunes Pereira

SECRETARIA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

DIRETOR-GERAL SECRETÁRIA-GERALDalmir de Jesus Maria Cõeli Simões Píres

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de forma responsável e plena.Já foi dito reiteradas vezes - e chegou a hora

de se efetivar este principio - que o Pais naomora na União nem reside no Estado, mas vive, trabalha, cresce e produz exatamente no Município.A formação da Nacionalidade foi construída a

partir de sua célula matriz, plantada no Municí-pio. A grande tarefa política de nossa geraçao e,precisamente, retomar a lógica político-adminis-trativa, a fim de que o desenvolvimento nacionaldeixe de ser formulado em gabinetes fechados, distanciados da realidade objetiva, e passe a ex-pressar verdadeiramente a vontade popular, queconhece, melhor que ninguém, as suas necessidadese prioridades.

Já se disse, com extraordináriapropriedade,que Brasilia não tem cabeça nem preparofísicopara pretender administrar, olimpicamente, umarealidade complexa e diversificada como é a bra-sileira, diferenciada dentro dos próprios Esta-dos da Federação em múltiplos aspectos: geográ-ficos, humanos, económicos, sociais, e outros.O grande milagre da unidade nacional, que o Pre

sidente Juscelino Kubitscheck soube traduzir empensamento e ação, consiste precisamente nesseencontro de contrastes e nessa integração de di-ferenças, com pleno respeito às diversidades quefortalecem a própria unidade nacional.O pensamento tecnocrático, que violentou o sau

dável e livre exercício político entre nós, pre-tendeu prender essa diversidade numa camisa-de-força, imaginando que a implantação de meqapro-jetos econômicos, as chamadas obras faraônicas,fosse capaz de irradiar o desenvolvimento de forma homogênea pelo território nacional.Nada se revelou mais falso: o desenvolvimento

produzido por essa concepção autoritária de pla-nejamento central resultou na acentuação das di-ferenças regionais, aumentando odesequilíbriorelativo entre Estados e Regiões, além d''am-

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pliar, em graus significativos, aconcentraçãoda renda.Estudo do Banco Mundial mostra que, nos últi-

mos vinte anos, a concentração da riqueza nasmãos dos 20% mais ricos da população subiu de38%, no inicio do período, para 51%, nesses anos80.De que vale um desenvolvimento que só serve pa

rã agravar as desigualdades sociais e aprofundaros conflitos no interior da sociedade?É a mudança nessa situação que entidades como

a Associação Mineira de Municípios reivindicamcom uma força política cada vez maior.Chegamos ao ponto de saturação da centraliza-

ção administrativa neste País. Chegamos ao pontolimite de um processo que esgotou todas as suaspossibilidades e sufocou a criatividade políticae a ação administrativa de Estados e Municípios.

É neste momento histórico, às vésperas da pro-mulgação de urna nova Carta Constitucional, queeste IV CONGRESSO MINEIRO DE MUNICÍPIOS alcançauma expressão que não se exaure no dia de hoje,mas que se renova numa luta permanente - que é onosso compromisso como políticos e homens públi-cos, nas funções executivas ou legislativas. Ocompromisso de restaurar a atividade política como único instrumento capaz de equacionar os grandes conflitos e as imensas contradições que fer-vilham no corpo da sociedade brasileira.Houve quem dissesse, com espírito maquiavéli-

co, que "fora do poder não há salvação", idéiaválida para os que acham que o poder é apenas ummeio de satisfazer ambições pessoais. Na verda-de, fora da olitica é que não há salvação.O Brasil nao se tornará uma nação moderna, no

campo econômico, e justa, no âmbito social, en-quanto a ação política estiver sujeita à descon-fiança ou à suspeição, porque é a política, defato, o único recurso capaz de encaminhar as de-mandas sociais sem necessidade de recorrer à for

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ça ou aos instrumentos autoritários ou totalitá-rios de poder.Caros companheiros, Srs. Prefeitos, Srs. Verea

dores, Líderes Municipais, o Presidente TancredoNeves, ao despedir-se do Senado para assumiroGoverno de Minas, nos deixou uma lição, que étambém advertência. Disse então: "Nação sem Constituição oriunda do coração de seu povo é naçaomutilada na sua dignidade cívica, violentada nasua cultura e humilhada em face de sua consciên-cia democrática." E advertiu, mais: "Ou promove-mos, com urgência, as grandes transformações quea Nação reclama em altos brados, que só os deli-beradamente surdos não querem ouvir, ou então -não nos iludamos - essas transformações se farãoà nossa revelia, sem nós e até contra nós."Não se engana um povo, impunemente, por todo o

tempo. A grande responsabilidade da classe polí-tica é já e agora, no limiar da nova Constitui-ção e na conseqüente construção do Estado de Di-reito e do Estado Democrático, que, ao contráriodo que muitos pensam, não nasce pronto e acabadopor obra e graça de um texto constitucional.

Devo dizer-lhes que a Assembléia Legislativa deMinas Gerais tem-se ocupado, séria e objetivamente, da discussão e do trabalho constitucional oraem curso e vem-se preparando, já há algum tempo,para a sua função constituinte, que se exerceráapós a promulgação da Constituição Federal. Ain-da recentemente, uma proposição do Legislativomineiro foi incorporada ao substitutivo BernardoCabral - e é uma proposição de alto teor políti-co. De acordo com o art. 49 das Disposições Transitórias do 19 Substitutivo ao Projeto de Cons-tituiçao, caberia às Assembléias Estaduais umaatividade de mera adaptação da Constituição Es-tadual à Carta Magna, configurando agressão des-cabida a todo ' e qualquer principio federativo.A Assembleia de Minas propugnou pela restaura-

ção do principio "instituidor", que se deve re-

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servar, no âmbito de suas competências, às Cons-tituintes Estaduais. Durante todo o exercíciode de 1986, realizou-se nesta Casa o Sim--?ósio "Minas Gerais e a Constituinte", cororepresentantes das principais Universidades eFaculdades de Dieito da Capital e do In-terior, além da participação de constitucio-nalistas eméritos de outros Estados, graças à decisiva colaboração do Instituto Brasileiro deDireito Constitucional, que se associou esponta-neamente à Assembléia de Minas nessa iniciativapioneira no Brasil.A questão tributária foi incisivamente discu-

tida e detalhada naquele Simpósio, originando sugestões que hoje tramitam no âmbito da AssembléiaNacional Constituinte.

Também por iniciativa da Assembléia de Minas,realizou-se em abril deste ano, com reunião pre-paratória nesta Capital e encerramento em OuroPreto, no Dia de Tiradentes, um encontro de Pre-sidentes de Assembléias Estaduais de todo o País,com a presença, ao término dos trabalhos, do Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, De-putado Ulysses Guimarães.

Na defesa da autonomia dos Estados e dos Muni-cípios, a Assembléia Legislativa de Minas, com aadesão das demais Assembléias Legislativas bra-sileiras, firmou, entre outras, as posições se-guintes, constantes do documento "COMPROMISSO DEOURO PRETO":

1) Revisão dos critérios de distribuição de competência tributária, no sentido de prover a su-ficiência material de cada ente integrante da Federação, propondo a criação de um organismo pa-ritário, composto por representantes do Congres-so Nacional, do Poder Executivó Federal, das As-sembléias Legislativas e dos Poderes ExecutivosEstaduais, para planificação do orçamento fede-ral;

2) A isenção de impostos estaduais emunici-

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pais dependerá sempre de deliberação ou ratifi-cação das respectivas Assembléias Legislativas eCâmaras Municipais, caso seja prevista como com-petência da legislação federal;

3) Atribuição, de forma efetiva, ao Poder Le-gislativo da função de controle político do Go-verno, além de ampla competência legiferante. oLegislativo deverá ser o juiz da oportunidade dasprovidências do Estado de Bem-Estar Social, po-dendo, para tanto, interferir na Administração Pública, a fim de suspender atos administrativos eadiar investimentos, mediante "quorum" qualifi-cado de 2/3;

4) Acentuar a competência do Poder Legislativocomo órgão fiscalizador das práticas de execuçãoorçamentária e da política financeira nos âmbi-tos da União, Estados e Municípios;

5) A criação de Estado-membro ou alteração dosrespectivos territórios não deve ser decisão unilateral do Poder Central, mas decorrente de re-solução solidária do Congresso Nacional e dasAssembléias das unidades interessadas;

6) Inserir nas Disposições Transitórias dispo-sitivo que assegure aos Legislativos Estaduais opoder constituinte decorrente para estabelecer asua Constituição em plenitude, atendendo às pe-culiaridades de cada Estado.Em convênio com a Fundação João Pinheiro, a As

sembléia Legislativa, através do seu Conselho deInformação e Pesquisa, está concluindo o projetoConstituintes Mineiras (1891, 1935 e 1947), queserá, certamente, objeto da reflexão e críticados atuais representantes do povo mineiro no Le-gislativo Estadual.Além disso, a Assembléia de Minas implantou urna

nova estrutura orgânica em sua Secretaria, pre-vendo direção própria e específica para os seto-res diretamente vinculados às atividades insti-tucionais e político-parlamentares, exatamentepara fazer frente às exigências relativas à re-

tomada das prerrogativas do Legislativo e às atividades constituintes decorrentes, aplicando, ain-da, cursos de reciclagem, aperfeiçoamento e es-pecialização técnica, no sentido de proporcionaro imprescindível aparelhamento técnico e funcio-nal do Poder.A grande realidade é que, apesar de incompreen

soes quase sempre resultantes de desinformação,o Legislativo vem cumprindo integralmente suasresponsabilidades neste turbulento quadro da transição institucional do País, com iniciativas devulto e com ações programadas que, em breve tem-po, produzirão resultados políticosconsisten-tes.Um poder desarmado e, talvez por isso mesmo,

totalmente tolhido em suas atribuições e compe-tências, soube superar, com altivez e dignidade,as dificuldades e casuísmos de toda ordem que sobre a instituição se atiraram em todo o País.

No entanto, é o Parlamento, sob cujo teto con-vivem correntes contrárias e opostas, o único ca-nal competente para realizar a mediação dos con-flitos políticos que ocorrem dentro da própriasociedade. Dizem, com humor, que a diferença en-tre os estádios de futebol e o Parlamento é que,neste, as torcidas podem conviver dentro de umúnico Plenário e, sobretudo, nos corredores.Faço um apelo, neste instante, à reflexão de

todos os companheiros deste IV CONGRESSO MINEIRODOS MUNICÍPIOS: O legislativo é, poL eelência,a arma de sustentação do projeto democrático detoda e qualquer sociedade. Ainda que esvaziadode sua missão originária de fazer leis, deve re-tomá-la e projetar, de forma crescente, duas funçoes muito esquecidas e que são de sua exclusivacompetencia nas sociedades democráticas.Uma delas, a que me referi há pouco, é a sua

função de representação pluralista, de diferen-tes correntes partidárias, políticas e ideológi-cas, podendo, por isso, exercer uma função de re

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da história brasileira. História que está em nossas mãos.Muito obrigado!