o kitáb-i-Íqán - o livro da certeza

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EDITORA BAHÁÍ - BRASIL

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Explanações de Bahá'u'lláh sobre os princípios básicos e atitudes da Fé Bahá'í para com os Profetas de Deus e Suas missões na história da sociedade. É afirmado a Unidade dos Profetas e a universalidade de Suas Mensagens, elucidando passagens alegóricas do Novo Testamento e do Alcorão, que tem sido causa de desentendimentos entre os líderes religiosos. Shoghi Effendi disse ser este o Livro de maior significado espiritual da Causa e que deve ser sempre lido e relido por toda alma que deseja servir. É a "completa e permanente reconciliação de Seus seguidores".

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  • EDITORA B A H - B R A S I L

  • O KITB-I-QN O Livro da Certeza

  • " este o Dia em que se cumpriu o testemunho do Senhor, o Dia em que o Verbo de Deus se tornou manifesto e Sua evidncia foi firme-mente estabelecida. Chama-vos Sua voz, para aquilo que vos ser pro-veitoso, exortando-vcs a observar o que vos h de aproximar de Deus, o Senhor da Revelao."

    Baha ullh

  • O K I T B - I - Q N O L I V R O DA C E R T E Z A

    REVELADO POR BAH,U,LLH TRADUZIDO PARA O INGLS POR SHOGHI EFFENDI

    2.a edio

    EDITORA BAH' BRASIL Rua Engenheiro Gama Lobo, 267

    RIO DE JANEIRO, BRASIL

  • Ttulo original ingls: The Kitb-i-qn

    The Book of Certitude

    Traduzido do Ingls por Leonora Stirling Armstrong

    Primeira Edio Portuguesa 195 7 Segunda Edio Portuguesa 1977

    Composto e impresso por Estabelecimentos Grficos Borsoi S/A, In-dstria e Comrcio, rua Francisco Manuel, 55 Benfica

    Rio de Janeiro, RJ.

  • Esta mais uma tentativa de apresentar ao Ocidente, embora em linguagem inadequada, este livro ce preeminncia insupervel entre os escritos do Autor da Revelao Bah . de se esperar que possa vir a ser de auxlio a outros em seus esforos por se aproximarem daquilo que h de ser considerado sempre como alvo inatingvel uma apre-sentao digna da linguagem incomparvel de BahVllh.

    SHOGHI

  • PREFCIO

    Kitb-i-tqn o termo persa para O Livro da Certeza. Como o ttulo indica, este livro a palavra criadora de Deus. Foi re-velado em 1862, em dois dias e duas noites, quando BahVllh estava exilado, e anterior ao tempo em que Ele declarou pu-blicamente Sua prpria misso. A revelao deste livro cum-priu uma profecia do Bb, Precursor de BahVllh. Em essncia, esta obra uma finalizao do livro do Bb, 0 Bayan, e constitui uma prova do grau divino daquele jovem Arauto da F Bah' que foi martirizado em Tabriz em 1850 aconte-cimento este que comoveu o Oriente, bem como a muitas pessoas ponderadas em toda a Europa durante as dcadas subseqentes.

    O livro verifica o grau, tambm, e a misso, de cada um dos Fundadores das religies reveladas do mundo e afirma a unidade de Seus ensinamentos. Abrao, Moiss, Cristo, Mao-m so alguns dos Reveladores da Lei Divina das Eras passa-das, sendo-Lhes confiadas a educao moral da humanidade. Sua sucesso um drama csmico que desvela o desgnio do universo. Suas Mensagens tm apresentado progressivamente o padro da sociedade, sua verdadeira histria e seu verdadeiro destino. Tm liberado o esprito coletivo que, de poca em poca, de Era em Era, reanima as almas dos homens, dando vida diria sentido e propsito.

    Graas a esses Manifestantes de Deus, tem a civilizao progredido at alcanar novas alturas, levando um povo intei-ro a uma percepo em harmonia com o tempo em que vive.

  • 4 PREFCIO

    Na primavera e no prolongado vero das brilhantes esta-es dessas Eras passadas para o israel, a cristandade ou nos tempos tranqilos do isl a religio penetrava a atmos-fera e comandava os temperamentos ou os talentos de todo tipo de homem. O denominador comum, a mais persistente carac-terstica dessas culturas distintivas tem sido o senso de depen-dncia de Deus o Impulsor de todas as coisas.

    Aquele que busca a verdade mais esclarecido pelas ex-posies que Bah'u'llh lhe apresenta de muitas das passagens alegricas e abstrusas encontradas nas escrituras judaicas, cris-ts e muulmanas, que vm de longa data confundindo e de-turpando o carter progressivo, evolutivo da Revelao.

    Hoje as Palavras de Bah'u'llh so um chamado univer-sal para se reconhecer mais uma vez a nova Primavera Espi-ritual. Implica o abandono de todo preconceito e toda limita-o que se baseia em padres ancestrais orgulho de raa, na-cionalismo militante, guerra hereditria, sectarismo religioso e tudo mais que possa impedir a humanidade de erguer aquele Reino de Deus na terra, h tanto prometido uma ordem mundial pacfica, com justia para todos.

  • PRIMEIRA PARTE

  • EM NOME DE NOSSO SENHOR, O EXCELSO, O ALTSSIMO

    Homem algum haver de alcanar a orla do oceano da verdadeira compreenso, a menos que se desprenda de tudo o que existe no cu e na terra. Santificai vossas almas, vs povos do mundo, para que atinjais, porventura, o grau de elevao que Deus vos destinou, e assim possais entrar no tabernculo que, segundo ordenou a Providnca, foi erigido no firmamento do Bayn.

    A essncia dessas palavras : os que trilham o caminho da f, os que tm sede do vinho da certeza, devem purificar-se de tudo o que terreno os ouvidos devem eles purificar de palavras fteis, as mentes de vs fantasias, os coraes do ape-go s coisas do mundo, os olhos daquilo que perece. Em Deus devem pr a confiana e, n'Ele se apoiando, prosseguir em Seu caminho. Ento se tornaro dignos das refulgentes glrias do sol da compreenso e sabedoria divinas e recebero uma graa que infinita e invisvel, desde que o homem no pode esperar jamais atingir o conhecimento do Todo-Glorioso, jamais sorver da corrente da sabedoria divina, jamais entrar na mora-da eterna, nem participar do clice da presena e favores divi-nos, sem que ele antes deixe de considerar as palavras e os atos dos homens mortais como padres para o reconhecimen-to e a verdadeira compreenso de Deus e Seus Profetas.

    Considerai o passado. Que grande nmero de homens fossem de alto grau ou humildes em todos os tempos, tm esperado ansiosamente o advento dos Manifestantes de

  • 8 O KITAB-I - QN

    Deus nas pessoas santificadas de Seus Eleitos. Quantas vezes tm eles aguardado Sua vinda; quantas vezes orado para que soprasse a brisa da misericrdia divina; para que a prometi-da Beleza surgisse do vu que a ocultava e se revelasse ao mundo inteiro. E sempre que se abriam os portais da graa, sempre que as nuvens da bondade divina concediam suas chu-vas humanidade e a luz do Invisvel brilhava sobre o horizon-te do poder celestial, todos O negavam e se afastavam de Seu semblante semblante esse do prprio Deus. Para provardes esta verdade, examinai o que foi relatado em cada um dos Li-vros Sagrados.

    Ponderai por um momento e refleti sobre aquilo que deu origem a essa negao da parte dos que buscaram to since-ramente e com tanto anelo. De tal violncia foi seu ataque, que nem lngua nem pena o pode descrever.

    No apareceu at agora nenhum Manifestante da Santida-de sem que fosse alvo de negao, repdio e veemente oposi-o da parte do povo a Seu redor. Assim foi revelado: "Oh a misria dos homens! No lhes vem Mensageiro algum, que no seja objeto de seu escrneo". (1) Diz Ele ainda: "Cada nao tem tramado sinistramente contra seu Mensageiro, que-rendo prend-lo com violncia e disputar, com palavras vs, a fim de invalidar a verdade". (2)

    De modo semelhante, as palavras que emanaram da fonte do poder e desceram do cu da glria so inumerveis e alm da compreenso humana comum. Para aqueles que possuem verdadeira compreenso e perspiccia, basta, certamente, o S-rah de Hd. Ponderai no corao, por algum tempo, aquelas santas palavras e, com desprendimento absoluto, esforai-vos a fim de compreender o que significam. Examinai a conduta admirvel dos Profetas e recordai as recusas e difamaes pro-nunciadas pelos filhos da negao e da falsidade; talvez possais fazer com que o corao humano, semelhante ao pssaro, con-

    (1) Alcoro 36:30 . (2) Alcoro 4 0 : 5 .

  • O LIVRO DA CERTEZA 9

    siga alar seu vo para alm das moradas da negligncia e da duvida, at o ninho da f e da certeza, e sorver profundamente as guas puras da sabedoria antiga, e participar do fruto da rvore do conhecimento divino. Tal a parte que cabe aos puros de corao, daquele po que desceu dos domnios eter-nos da santidade.

    Se vos informardes das ofensas amontoadas sobre os Pro-fetas de Deus e vierdes a compreender as verdadeiras causas das objees expressas pelos seus opressores, apreciareis, se-guramente, o que significa sua posio. Alm disso, quanto mais atentamente observardes as negaes dos que fizeram oposio aos Manifestantes dos atributos divinos, mais firme se tornar a vossa f na Causa de Deus. Faremos nesta Epstola, pois, bre-ve meno das diversas narraes relativas aos Profetas de Deus, para que estas demonstrem o fato de que os Manifestan-tes de poder e glria tm estado sujeitos, em todas as pocas e todos os sculos, a crueldades to atrozes que pena alguma ousa descrev-las. Isso talvez possa fazer com que alguns dei-xem de se perturbar com os clamores e protestos dos sacerdo-tes e insensatos desta poca e fortaleam sua confiana e sua certeza.

    Entre os Profetas houve No. Durante novecentos e cin-qenta anos exortou Ele Seu povo, com fervorosas oraes, con-vidando-o para o refgio da paz e da segurana. Pessoa algu-ma, porm, atendeu ao Seu apelo. Cada dia infligiam a esse abenoado Ser tais sofrimentos e dores que ningum achava possvel Ele sobreviver. Quantas vezes O negavam! Com que malevolncia sussurravam sua suspeita contra Ele! Assim foi revelado: "E quantas vezes se aproximavam d'Ele alguns den-tre Seu povo, tantas vezes O escarneciam. Disse-lhes Ele: "Em-bora de ns zombeis agora, ns zombaremos de vs mais tar-de, do mesmo modo que de ns zombais. No fim sabereis."(3) Subseqentemente, em vrias ocasies, Ele prometeu vitria a Seus companheiros, fixando at a hora, mas quando esta soou,

    (3) Alcoro 11:38.

  • 10 O KITB-I-QN

    a promessa divina no se cumpriu. Por causa disso, alguns den-tre o pequeno nmero de Seus discpulos se afastaram d'Ele, como o testificam os livros mais conhecidos. Estes, certamente, vs os deveis ter examinado, ou se no, havereis de fazer isso,, sem dvida. E, por fim, segundo consta dos livros e das tra-dies, ficaram com Ele apenas quarenta, ou setenta e dois de Seus discpulos. Exclamou Ele finalmente, do mago do Seu ser: "Senhor: No deixes sobre a terra nem sequer um s ha-bitante dentre os incrdulos." (4)

    E agora considerai e refleti, por um momento, sobre a perversidade desse povo. Qual teria sido o motivo de tal nega-o e afastamento de sua parte? Que os teria induzido a re-cusar a despirem-se das vestes da negao e adornarem-se com o manto da aceitao? Alm disso, que poderia ter causado o no-cumprimento da promessa divina e em conseqncia, a rejeio, da parte dos discpulos, daquilo que j haviam acei-to? Meditai profundamente, para que se vos revele o segredo-das coisas invisveis e assim possais inalar a doura de uma fra-grncia espiritual e imperecvel e reconhecer o fato de que o Onipotente sempre prova Seus servos, desde os tempos ime-moriais, e por toda a eternidade continuar a prov-los, a fim de que a luz se distinga das trevas, a verdade se diferencie da falsidade, o certo do errado, o esclarecimento do engano, a fe-licidade da desventura, e as rosas se distingam dos espinhos. Assim mesmo como Ele revelou: "Pensam os homens, ao dize-rem Ns acreditamos que sero deixados em paz sem serem submetidos prova?" (5)

    E aps No, a luz do semblante de Hd brilhou sobre o horizonte da criao. Por quase setecentos anos, segundo dizem os homens, Ele exortou o povo a voltar-Lhe as faces e aproxi-mar-se do Ridvn da Presena Divina. Que chuva de aflies caiu sobre Ele, at que, afinal, Suas adjuraes deram como fru-to uma rebeldia crescente, e Seus assduos esforos no resulta-

    (4) Alcoro 71:26. (5) Alcoro 29:2.

  • O LIVRO DA CERTEZA H

    ram seno na obstinada cegueira de Seu povo. "E para os fal-tos de f, sua descrena apenas lhes aumentar a prpria per-dio." ( 5 - A )

    E depois d'Ele, apareceu do Ridvn do Eterno, do Invis-vel, a sagrada pessoa de Slih, por quem, mais uma vez, o povo foi chamado para o rio da vida imortal. Durante mais de cem anos, Ele os admoestou para que permanecessem fiis aos man-damentos de Deus e evitassem aquilo que era proibido. Infru-tferas, porm, foram Suas admoestaes; em vo, Seu apelo. Por diversas vezes Ele se retirou e viveu na solido. E tudo isso aconteceu embora essa Beleza Eterna no convidasse o povo, seno para a cidade de Deus. Assim como foi revelado: "E tribo de Thamud Ns enviamos seu irmo Slih. meu povo! disse Ele, Adorai a Deus; no tendes outro Deus alm d 'Ele . . . Responderam Slih, nossas esperanas estavam em ti at agora; tu nos probes adorar o que nossos pais adoraram? Em verdade, duvidamos daquilo para que nos chamaste e o temos por suspeito." (6) Tudo isso se provou ser improfcuo, at que, finalmente, se levantou um grande cla-mor e todos caram em perdio completa.

    Mais tarde, a beleza do semblante do Amigo de Deus (7) afastou o vu que a encobria; mais um estandarte da ilumina-o divina se iava. Ele convidou os povos da terra para a luz da retido. Quanto mais apaixonadamente Ele os exortava, mais violentas se tornavam a inveja e a perversidade de todos, salvo daqueles que de tudo se desprenderam, menos de Deus, e que subiram, com as asas da certeza, para o grau que Deus exaltou alm da compreenso dos homens. fato assaz conhecido que uma multido de inimigos O assediaram at que, finalmente, se acenderam contra Ele os fogos da inveja e da rebelio. E aps o episdio do fogo, Ele, a lmpada de Deus entre os homens segundo relatam todos os livros e crnicas foi expulso de Sua cidade.

    (5 a ) Alcoro 35 :39 . CM Alcoro 11 : 6 1 . 62. (7) Abrao.

  • 12 O KITB-I-QN

    E ao terminar Seu dia, veio o tempo de Moiss. Armado com a vara do domnio celestial e adornado com a nvea mo do conhecimento divino, procedendo do Paran do amor de Deus e manejando a serpente do poder e da majestade eterna, Ele brilhou do Sinai da luz sobre o mundo. Chamou todos os povos e raas da terra para o reino da eternidade; convidou-os a participar dos frutos da rvore da fidelidade. Sabeis, certa-mente, da violenta oposio feita pelo Fara e seu povo, e das pedras da v fantasia jogadas pelas mos dos infiis sobre essa abenoada rvore. A tal ponto, que o Fara e seu povo se le-vantaram, finalmente, e fizeram o mximo esforo para extin-guir, com as guas da falsidade e negao, o fogo dessa rvo-re sagrada, esquecidos do fato de que nenhuma gua terrena pode apagar a chama da sabedoria divina, nem vento mortal extinguir a lmpada do domnio eterno. No, outro efeito essa gua no ter, seno o de tornar ainda mais intenso o ardor da chama, e esse vento nada far seno assegurar a preserva-o da lmpada se apenas observasseis com olhos que dis-cernem e andasseis no caminho da santa vontade de Deus e de Seu beneplcito. Como disse bem um dos fiis, um parente do Fara cuja histria narrada pelo Todo-Glorioso em Seu Livro revelado a Seu Amado quando observou: "E disse um homem da famlia do Fara, que era crente mas ocultava sua f Quereis matar um homem por dizer que meu Senhor Deus, quando j vos veio com sinais de vosso Senhor? Se for um mentiroso, sobre ele cair sua mentira, mas se for homem da verdade, uma parte daquilo que ele ameaa haver de cair sobre vs. Em verdade, Deus no guia quem transgressor, mentiroso. " (8) Finalmente, tamanha foi a ini-qidade deles, que esse mesmo crente sofreu uma ignominiosa morte. "Que a maldio de Deus esteja sobre o povo da tirania."

    E agora ponderai essas coisas. Que teria causado to gran-de contenda e conflito? Por que que o advento de todo ver-dadeiro Manifestante de Deus tem sido acompanhado de tama-

    (8) Alcoro 40:28.

  • O LIVRO- DA CERTEZA 13

    nha contenda e tumulto, de to grande tirania e transtorno? E isso, no obstante o fato de que todos os Profetas de Deus, sempre que se manifestavam aos povos do mundo, prediziam, invariavelmente, a vinda de outro Profeta depois deles e esta-beleciam os sinais que haveriam de prenunciar o advento da futura Era. Disso, todos os Livros Sagrados do testemunho. Por que, ento a despeito da expectativa dos homens em sua busca dos Manifestantes da Santidade e apesar dos sinais re-gistrados nos Livros Sagrados foram perpetrados, em to-dos os ciclos e tempos, tais atos de violncia, opresso e cruel-dade contra todos os Profetas e Escolhidos de Deus? Assim mesmo como Ele revelou: "Todas as vezes que vos vem um Apstolo com aquilo que as vossas almas no desejam, vos in-chais de orgulho, acusando alguns de serem impostores e ma-tando a outros." (9)

    Refleti: Qual teria sido o motivo de tais atos? Que teria causado tal conduta para com os Reveladores da beleza do Todo-Glorioso ? Qualquer coisa que tivesse motivado, em tem-pos idos, a negao e oposio daqueles povos, concorre agora para a perversidade do povo desta era. Alegar haver sido in-completo o testemunho da Providncia, tendo sido isso o que tivesse causado a negao da parte do povo, nada mais que blasfmia patente. Quanto estaria longe da graa do Todo-Ge-neroso e pouco em harmonia com Sua providncia benvola e Sua terna compaixo, escolher dentre todos os homens uma alma para guiar Suas criaturas e, por um lado, negar-lhe o tes-temunho divino em sua plenitude e, por outro, infligir severo castigo a Seu povo por se haver afastado de Seu Escolhido! No, em todos os tempos, as mltiplas graas do Senhor de to-dos os seres tm abrangido a terra e todos os que nela habitam, atravs dos Manifestantes de Sua Essncia Divina. Nem por um momento sequer, negou Ele a Sua graa; jamais as chuvas de Sua benevolncia cessaram de cair sobre a humanidade. Tal conduta, pois, no pode ser atribuda seno mesquinhez dessas

    (9) Alcoro 2:87.

  • 14 O KITB-I-QN

    almas que caminham no vale da arrogncia e do orgulho, que se perdem na solido do afastamento, se guiam por sua prpria v fantasia e seguem aquilo que ditam os dirigentes de sua f. Sua preocupao principal apenas a oposio; seu desejo ni-co, desprezar a verdade. Para todo aquele que observe com discriminao, claro e evidente que, se essas pessoas no tem-po de cada um dos Manifestantes do Sol da Verdade tivessem santificado os olhos, os ouvidos e os coraes de tudo o que haviam visto, ouvido e sentido, no teriam sido privadas, cer-tamente, de ver a beleza de Deus, nem se teriam desviado para longe das moradas da glria. Havendo, porm, pesado o tes-temunho de Deus segundo o padro de seu prprio conhecimen-to derivado dos eensinamentos dos expoentes de sua F, e tendo verificado que estava em desacordo com a interpretao limi-tada deles, essas pessoas se levantaram para cometer tais atos indignos.

    Os expoentes da religio, em cada era, tm impedido seu povo de atingir as plagas da salvao eterna, por haverem deti-do firmemente em suas poderosas mos as rdeas da au-toridade. Alguns por cobia de poder, outros por falta de co-nhecimento e compreenso, privaram o povo desse bem. Por sua autoridade e sano, todo Profeta de Deus sorveu do c-lice do sacrifcio e alou vo para as alturas da glria. Que crueldades indizveis no infligiram essas autoridades e esses eruditos aos verdadeiros Monarcas do mundo, quelas Jias da virtude divina! Contentes com um domnio transitrio, priva-ram-se de uma soberania eterna. Assim seus olhos no contem-plaram a luz do semblante do Bem-Amado, nem seus ouvidos escutaram as suaves melodias da Ave do Desejo. Por essa ra-zo todos os Livros Sagrados mencionam os sacerdotes de cada poca. Assim Ele diz: " povo do Livro! Por que s incr-dulo dos sinais de Deus de que tu mesmo foste testemu-enha?" (10) E diz mais: " povo do Livro: Por que vestes a verdade com a mentira? Por que escondes, intencionalmente, a

    (10) Alcoro 3:70.

  • O LIVRO DA CERTEZA 15

    verdade?" (11) E diz ainda: "Dize, povo do Livro, por que motivo desvias os crentes do caminho de Deus?" (12) Eviden-temente, o "povo do Livro" que desviou seus semelhantes do caminho reto de Deus no se refere seno aos sacerdotes da po-ca, cujos nomes e caracteres foram mostrados nos livros sagra-dos e aos quais aludiram os versculos e as tradies neles re-gistrados se fordes observar com os olhos de Deus.

    Com olhar fixo e constante, oriundo dos olhos infalveis de Deus, contemplai detidamente o horizonte do Conhecimento Divino e considerai aquelas palavras de perfeio que o Eter-no revelou, a fim de que talvez se vos tornem manifestos os mistrios da divina sabedoria, os quais se ocultaram, at agora, debaixo do vu da glria e estavam entesourados no taber-nculo da Sua graa. O que motivou, na maior parte, os pro-testos e negaes desses dirigentes religiosos, foi sua falta de conhecimento e de compreenso. Jamais compreenderam ou son-daram aquelas palavras proferidas pelos Reveladores da bele-za de Deus, Uno e Verdadeiro, as quais apontam os sinais destinados a anunciar o advento do futuro Manifestante. Er-gueram, pois, o estandarte da revolta e instigaram malcia e sedio. Obviamente, o que, de fato, significam as palavras das Aves da Eternidade, no se revela seno queles que manifes-tam o Ser Eterno; e s melodias do Rouxinol da Santidade, nenhum ouvido atingir, a no ser o dos habitantes do reino imperecvel. O tirano copta jamais participar do clice toca-do pelos lbios do septa da justia, e o Fara da descrena no poder esperar reconhecer jamais a mo do Moiss da verda-de. Assim mesmo como Ele diz: "Ningum sabe o que signi-fica isso, a no ser Deus e aqueles que possuem conhecimento profundo." ( 1 2 - A ) E, no entanto, quiseram receber daqueles en-voltos em vus a interpretao do Livro, recusando buscar na fonte primitiva do conhecimento, sua iluminao.

    (11) Alcoro 3:71. (12) Alcoro 3:99. (12a) Alcoro 3:7.

  • 16 O KITB-I-QN

    E quando findaram os dias de Moiss e surgiu a luz de Jesus, irradiando-se da aurora do Esprito e abrangendo o mun-do, ento todo o povo de Israel levantou-se em protesto contra Ele, clamando que Aquele cujo advento a Bblia predissera, forosamente haveria de promover e cumprir as leis de Moi-ss, enquanto esse jovem nazareno, que tinha a pretenso de ser o divino Messias, anulara a lei do divrcio e a do sbado as mais importantes de todas as leis de Moiss. Alm disso, que dizer dos sinais do Manifestante que ainda haveria de vir? O povo de Israel, at mesmo no tempo presente, espera aquele Manifestante predito na Bblia! Quantos Manifestantes da San-tidade, quantos Reveladores da Luz eterna, tm aparecido des-de o tempo de Moiss, enquanto Israel, envolto nos mais den-sos vus da fantasia satnica e das falsas idias, ainda espe-ra que o dolo de sua prpria inventiva aparea com os sinais criados por sua imaginao. Assim Deus o castigou pelos pe-cados, extinguiu-lhe o esprito de f e o atormentou com as cha-mas do fogo infernal. E isso no por outra causa, seno porque Israel recusara compreender o significado das palavras revela-das na Bblia relativas aos sinais da Revelao vindoura. Por-que jamais compreendera seu verdadeiro sentido e porque tais acontecimentos, aparentemente, no se realizaram, esse povo per-maneceu privado de reconhecer a beleza de Jesus e de contem-plar o semblante de Deus. E ainda aguarda Sua vinda! Desde tempos imemoriais, at mesmo o dia de hoje, todas as raas e na-es da terra apegam-se a tais pensamentos fantsticos e indig-nos e assim se privam das guas lmpidas que emanam das fon-tes da pureza e santidade.

    Ao desvendarmos esses mistrios, temos citado em Nossas Epstolas anteriores, endereadas a um amigo, no idioma me-lodioso de Hijz, alguns dos versculos revelados aos Profe-tas do passado. E agora, atendendo a vosso pedido, citaremos nestas pginas, novamente, aqueles mesmos versculos, pronun-ciados desta vez nos maravilhosos acentos do Iraque, para que talvez os sequiosos, nas solides do afastamento, possam alcan-

  • O LIVRO DA CERTEZA 17

    ar o- oceano da Presena Divina, e aqueles que enlanguescem nos desertos da separao sejam conduzidos para a morada da reunio eterna. Assim podem as neblinas do erro ser dissipa-das e a luz da verdade divina, em todo esplendor, amanhecer sobre o horizonte dos coraes humanos. Em Deus pomos nossa confiana e Lhe imploramos ajuda, para que talvez mane desta pena aquilo que vivifique as almas dos homens, de modo que todos se levantem do leito da negligncia e escutem o farfa-lhar das folhas do Paraso, na rvore que a mo do poder di-vino, com a permisso de Deus, plantou no Ridvn do Todo-Glorioso.

    Para os dotados de compreenso, est claro e manifesto que, quando o fogo do amor de Jesus consumiu os vus das limitaes judaicas e Sua autoridade se tornou evidente e foi em parte obedecida, Ele, o Revelador da Beleza invisvel, diri-gindo-se um dia aos discpulos, fez referncia a Seu traspasse e, acendendo-lhes no corao o fogo do pesar, disse: "Vou em-bora e venho outra vez a vs." E em outro lugar disse: "Vou e outro vir que vos h de dizer tudo o que Eu no vos disse, e cumprir tudo o que Eu disse." As duas declaraes significam o mesmo se meditardes, com percepo divina, sobre os Ma-nifestantes da Unidade de Deus.

    Quem examinar com discernimento haver de reconhecer que tanto o Livro como a Causa de Jesus foram confirmados na Era do Alcoro. Quanto a nomes, o prprio Maom decla-rou : "Eu sou Jesus." Ele reconheceu a verdade dos sinais, profecias e palavras de Jesus, e testificou serem todos de Deus. Nesse sentido, nem a pessoa de Jesus nem Seus escritos dife-riram da pessoa de Maom e de Seu sagrado Livro, visto que ambos defenderam a Causa de Deus, louvaram-No e revelaram os Seus mandamentos. Assim foi que o prprio Jesus declarou: "Vou embora e venho outra vez a vs." Considerai o sol. Se dissesse agora, "Sou o sol de ontem", diria a verdade. E se, le-vando em conta a seqncia do tempo, pretendesse ser outro sol, estaria ainda dizendo a verdade. De modo semelhante, se

  • 18 O KITB-I-QAN

    dissermos que todos os dias so o mesmo, isso ser certo e ver-dadeiro; e se, referindo-nos a seus nomes e designaes espe-ciais, dissermos que diferem, isso tambm ser verdade. Pois embora sejam iguais, se reconhece em cada um, no entanto, uma designao separada, um atributo especfico, um carter particular. Deves conceber, semelhantemente, a distino, a di-versidade e, ao mesmo tempo, a unidade, que caracterizam os vrios Manifestantes da Santidade, para que possas compreen-der as aluses que o Criador de todos os nomes e atributos faz aos mistrios da distino e da unidade, e descobrir a res-posta tua pergunta sobre a razo por que a Beleza Eterna, em vrias pocas, tem sido chamada por nomes e ttulos di-ferentes.

    Mais tarde, os companheiros e discpulos de Jesus Lhe perguntaram a respeito daqueles sinais que haveriam necessa-riamente de assinalar o regresso de Seu Manifestante. Quando, perguntaram eles, sucederiam essas coisas? Vrias vezes in-terrogavam aquela Beleza incomparvel, e Esta, todas s vezes que lhes respondia, indicava um sinal especial que haveria de prenunciar o advento da Era prometida. Disso do testemu-nhos os relatos dos quatro Evangelhos.

    Este Injuriado citar apenas um desses exemplos, e assim, por amor a Deus, conceder humanidade graas ainda ocultas dentro do tesouro da rvore secreta e santa, para que, porven-tura, os homens mortais no se privem de seu quinho do fruto imortal, e sim, adquiram uma gota das guas da vida eterna, as quais, de Bagd "Morada da Paz" esto sen-do concedidas a todo o gnero humano. No pedimos galardo nem recompensa alguma. "Nutrimos as vossas almas por amor a Deus; nenhuma remunerao buscamos de vs, nem agra-decimento." (13) Isso o alimento que confere a vida eterna aos puros de corao e iluminados de esprito. o po de que se diz: "Senhor, faze descer sobre ns Teu po do cu." (14)

    ( !3 ) Alcoro 76 :9 . (14) Alcoro 5:117.

  • O LIVRO DA CERTEZA 19

    Esse po jamais ser negado a quem o merecer, nem poder jamais faltar. Cresce eternamente na rvore da graa; em to-dos os tempos, desce dos cus da justia e misericrdia. Assim mesmo como Ele diz: "No vs aquilo a que Deus assemelha a boa palavra? A uma boa rvore; sua raiz est firmemente presa e seus ramos se estendem at o cu, dando seus frutos em todas as estaes." (15)

    Oh, que lstima! o homem privar-se de to boa ddiva, dessa graa imperecvel, dessa vida eterna! Cumpre-lhe apre-ciar esse alimento que vem do cu, a fim de que, atravs dos maravilhosos favores do Sol da Verdade, os mortos possam tal-vez ressuscitar e as almas decadas serem reanimadas pelo Es-prito infinito. Apressa-te, meu irmo, para que nossos lbios provem a poo imortal enquanto ainda houver tempo, pois o alento da vida, que ora sopra da cidade do Bem-Amado, no poder durar e a copiosa corrente das palavras santas haver forosamente de parar; nem podero os portais do Ridvn para sempre se manter abertos. Dia vir, seguramente, em que o Rouxinol do Paraso ter alado vo de sua morada terrena para o ninho celestial. Ento, sua melodia no mais se far ouvir, nem a beleza da rosa ser realada. Aproveita, pois, o tempo, antes que finde a glria da primavera divina e a Ave da Eternidade haja deixado de cantar Sua melodia, para que teu ouvido interior no se prive de escutar o Seu chamado. este Meu conselho a ti e aos amados de Deus. Quem quiser, que a Ele se dirija; quem no quiser, que se afaste. Deus, em verdade, independente dele e daquilo que ele possa ver e tes-temunhar.

    So estas as melodias entoadas por Jesus, Filho de Maria, em acentos de majestoso poder no Ridvn do Evangelho, re-velando aqueles sinais que havero de prenunciar o advento do Manifestante subseqente. No primeiro Evangelho, segundo So Mateus, est escrito: E quando perguntaram a Jesus acer-ca dos sinais de Sua vinda, Ele lhes disse: "E, logo depois da

    (15) Alcoro 14:24.

  • 2 0 O KITB-I- IQN

    aflio (16) daqueles dias, escurecer o sol e a lua no dar a. sua claridade, e as estrelas cairo do cu, e os poderes da terra sero abalados; e ento aparecer o; sinal do Filho do ho-mem no cu; e, ento, todos os povos da terra choraro e vero o Filho do homem, que vir sobre as nuvens do cu com grande poder e majestade. E enviar os seus anjos com trombetas e com grande voz." (17) Traduzidas para a lngua persa, (18) essas palavras significam o seguinte: Quando se tiverem reali-zado a opresso e as aflies destinadas a cair sobre a huma-nidade, ento o sol ser impedido de brilhar e a lua de irradiar, as estrelas do cu cairo sobre a terra e os pilares da terra tremero. Nesse tempo, os sinais do Filho do homem aparece-ro no cu, isto , Ele, a prometida Beleza e Substncia da vida, sair do reino do invisvel, quando tiverem aparecido esses sinais, e entrar no mundo visvel. E Ele diz: nesse tempo to-dos os povos e raas que habitam a terra choraro e lamenta-ro e vero aquela Beleza divina vir do cu sobre as nuvens, com poder, grandeza e magnificncia, enviando Seus anjos com grande som de trombeta. De modo semelhante, nos trs outros Evangelhos, segundo So Lucas, So Marcos e So Joo, as mesmas afirmaes so relatadas. T que a elas nos temos re-ferido minuciosamente, em Nossas Epstolas reveladas na ln-gua rabe, no as mencionamos nestas pginas; limitamo-nos a uma referncia apenas.

    Porque os sacerdotes cristos no puderam compreender o que significam essas palavras, nem perceber seu fim e pro-psito, preferindo ater-se interpretao literal das palavras de Jesus, privaram-se, portanto, da abundante graa da Revelao Maometana e de suas copiosas bnos. Os ignorantes dentro da comunidade crist, seguindo o exemplo dos expoentes de sua F, foram de igual modo impedidos de contemplar a bele-

    (16) A palavra grega usada (thlipsis) tem dois significados: presso e opresso.

    (17) S. Matheus 2 4 : 2 9 - 3 1 . (18) A passagem citada por Bah'u'llah em rabe e interpretada

    em persa.

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    za dor Rei da Glria, por no se haverem realizado os sinais que deveriam acompanhar o nascer do sol da Era Maometana. Assim, tm passado pocas e decorrido sculos, e aquele pu-rssimo Esprito j se retirou para as plagas de sua soberania antiga.

    Ainda outra vez o Esprito eterno soprou na trombeta mstica e fez os mortos apressarem-se, de suas sepulturas da negligncia e do erro, para o reino da guia e da graa. En-tretanto, aquela comunidade, ansiosa, ainda exclama: "Quan-do sucedero essas coisas? Quando se manifestar o Prometi-do, objeto de nossas esperanas, de modo que nos possamos levantar para o triunfo da Sua Causa, sacrificar a nossa substncia por amor a Ele e oferecer as nossas vidas em Seu caminho? De maneira semelhante, por causa de tais imagina-es falsas, outras comunidades tm se desviado do Kawthar da infinita misericrdia da Providncia e se ocupado com seus prprios pensamentos vos.

    Alm desse trecho, h ainda outro versculo no Evange-lho em que Ele diz: "Passar o cu e a terra, mas as Minhas palavras no ho de passar." (19) Assim foi que os adeptos de Jesus afirmaram que a lei do Evangelho jamais ser anulada e que, ao manifestar-se a prometida Beleza e revelarem-se todos os sinais, Ele dever reafirmar e estabelecer a lei proclamada no Evangelho, de modo a no deixar no mundo outra F seno a Sua. essa a crena fundamental que sustentam, e com tal convico que, se algum se manifestasse com todos os sinais prometidos, mas promovesse algo contrrio letra da lei do Evangelho, eles, seguramente, haveriam de repudi-lo, recusar submeter-se sua lei, declar-lo um infiel e rir-se dele at o es-crneo. Isso provado por aquilo que sucedeu quando o sol da Revelao Maometana se revelou. Se tivessem, com humildade de esprito, buscado dos Manifestantes de Deus, em cada Era, o que realmente significam essas palavras reveladas nos Livros Sa-grados palavras cuja interpretao errnea faz os homens se

    (19) S. Lucas 2 1 : 3 3 .

  • 22 O KITB-I-QN

    privarem do reconhecimento do Sadratu'1-Muntah, o Objeto final eles, certamente, teriam sido guiados luz do Sol da Verdade e teriam descoberto os mistrios da sabedoria e dos conhecimentos divinos.

    Este servo repartir agora contigo uma gota do oceano insondvel das verdades entesouradas nessas sagradas palavras, a fim de que os coraes discernentes possam talvez compreen-der todas as aluses e implicaes contidas nas palavras dos Manifestantes da Santidade, de modo que a inexcedvel ma-jestade da Palavra de Deus no os impea de atingir o oceano dos Seus nomes e atributos, nem os prive de reconhecer a Lm-pada de Deus, que a sede da revelao de Sua glorificada Essncia.

    Quanto s palavras "Logo depois da aflio daqueles dias" elas se referem ao tempo em que os homens sero oprimidos e aflitos; o tempo em que nem sequer os mais ligei-ros traos do Sol da Verdade restaro, quando o fruto da r-vore do conhecimento e da sabedoria houver desaparecido do meio dos homens e as rdeas da humanidade tiverem cado nas mos dos insensatos e ignorantes, quando se tiverem fechado os portais da divina unidade e compreenso desgnio essen-cial e o mais elevado da criao quando o conhecimento certo tiver cedido lugar v fantasia e a corrupo usurpado a posio da justia. Condies como essas se verificam, hoje, havendo j as rdeas de cada comunidade cado nas mos de dirigentes insensatos, que guiam segundo os prprios caprichos e desejos. A meno de Deus, na sua lngua, tornou-se um nome vazio; em seu meio, Sua santa Palavra apenas uma letra mor-ta. Tal o predomnio de seus desejos, que a lmpada da conscincia e do raciocnio se acha apagada em seus coraes e isso, no obstante haverem os dedos do poder divino des-cerrado os portais do conhecimento de Deus, e a luz do conhe-cimento divino e da graa celestial ter iluminado e inspirado a essncia de todas as coisas criadas, de modo que, em cada uma, desde a menor, se abriu uma porta para o conhecimento

  • O LIVRO DA CERTEZA 23

    e dentro de cada tomo os sinais do sol se manifestaram. E, no entanto, apesar de todas essas mltiplas revelaes do co-nhecimento divino que tm circulado pelo mundo, eles ainda imaginam, futilmente, que a porta do conhecimento est fe-chada e as chuvas da graa tm cessado. Apegando-se v fantasia, desviaram-se para longe do 'Urvatu'1-Vuthq (20) do conhecimento divino. Parece que os coraes no se incli-nam para o conhecimento, nem para a porta que a este conduz, e tampouco pensam eles em suas manifestaes, havendo em sua v fantasia encontrado a porta que conduz s riquezas terre-nas, enquanto que, na manifestao do Revelador do conheci-mento, encontram apenas o apelo ao sacrifcio. Naturalmente, pois, seguram a primeira com tenacidade, enquanto fogem da ltima. Embora em seus coraes reconheam ser uma s a Lei de Deus, emitem de toda parte, no entanto, um novo man-damento e proclamam em cada estao um decreto novo. No se encontram duas pessoas que estejam de acordo sobre a mes-ma lei, pois no procuram outro Deus seno o prprio desejo, e nenhum caminho trilham exceto o do erro. Vem no prest-gio o objetivo final de seus esforos; e consideram o orgulho e a arrogncia como sendo o cumprimento supremo do desejo de seu corao. Julgam que suas srdidas maquinaes sejam supe-riores ao decreto divino; recusam resignar-se vontade de Deus; ocupam-se em planos egostas e seguem pelos caminhos do hipcrita. Com todo o seu poder e todas as suas foras, ten-tam assegurar-se em suas ocupaes triviais, receosos de que o menor descrdito venha a minar-lhes a autoridade ou ma-cular a magnificncia que ostentam. Fossem os seus olhos un-gidos e esclarecidos com o colrio do conhecimento de Deus, descobririam, certamente, que numerosos animais vorazes se tm juntado para rapina, visando os cadveres que so as almas dos homens.

    (20) Literalmente, "the strongest handle" (o mais forte cabo), simbolizando a F Divina.

  • 24 O KITAB-I-QN

    Qual a "aflio" maior do que essa a que aludimos? Qual; a "aflio" mais penosa do que a de uma alma em busca da verdade, desejosa de atingir o conhecimento de Deus, mas que no sabe onde ir ou de quem busc-lo? Pois as opinies tm' divergido lastimavelmente e os caminhos que conduzem a Deus se multiplicaram. Essa "aflio" a caracterstica essencial de toda Revelao. Sem que isso suceda, o Sol da Verdade no se manifestar, porque o amanhecer da luz divina s vir guiar-nos aps as trevas da noite do erro. Por essa razo, em todas as crnicas e tradies, h referncia a essas coisas, isto , que a iniqidade cobrir a superfcie da terra e a escurido envolver a humanidade. Como as referidas tradies so assaz conhecidas, e porque este servo deseja brevidade, Ele no ci-tar o texto dessas tradies.

    Se essa "aflio" (que significa, literalmente, presso) fos-se interpretada como contrao da terra, ou se a v fantasia dos homens imaginasse calamidades similares destinadas a cair so-bre a humanidade, claro e bvio que essas coisas jamais suce-dero. Eles, seguramente, objetaro que esse requisito da re-velao divina no se manifestou. Tal foi, e ainda seu argu-mento. A "aflio", porm, significa a falta de capacidade para adquirir conhecimentos espirituais e compreender a Palavra de Deus. Significa que, ao se pr o Sol da Verdade e ao se par-tirem os espelhos que refletem Sua luz, sofrer a humanidade "aflio" e dificuldades, no sabendo aonde se dirigir para ser guiada. Assim Ns te instrumos na interpretao das tradi-es e te revelamos os mistrios da sabedoria divina, para que tu possas talvez entender o seu significado e ser um daqueles que sorveram do clice da compreenso e dos conhecimentos divinos.

    E agora, quanto s Suas palavras "Escurecer-se- o sol, e a lua no dar a sua claridade e as estrelas cairo do cu."' Os termos "sol" e "lua" mencionados nos escritos dos Profe-tas de Deus no s se referem ao sol e lua do universo vi-svel, mas, antes, so mltiplos os sentidos em que se usara

  • O LIVRO DA CERTEZA 25

    esses termos; em cada instncia, lhes tem sido dada uma signifi-cao especial. Assim, por "sol", em um sentido, entendem-se aqueles Sis da Verdade que surgem do amanhecer da glria antiga, enchendo o mundo da graa abundante provinda do alto. Esses Sis da Verdade so os universais Manifestantes de Deus nos mundos dos Seus atributos e nomes. Semelhantes ao sol vi-svel que, segundo decretou Deus, o Verdadeiro, o Adora-do, assiste ao desenvolvimento de todas as coisas terrenas das rvores, frutas e suas cores, dos minerais da terra e de tudo o que se v no mundo criado os Luminares divinos, tambm, com seu terno cuidado e sua influncia educativa, cau-sam a existncia e a manifestao das rvores e dos frutos da unidade de Deus, das folhas do desprendimento, das flores do saber e da certeza, e das murtas da sabedoria e de sua expresso. Assim que, com o surgir desses Luminares de Deus, o mundo se renova, as guas da vida eterna ma-nam, as ondas da benevolncia se intumescem; juntam-se as nuvens da graa e sobre todas as coisas criadas sopra a brisa da generosidade. o ardor que desses Luminares de Deus pro-mana, a chama imorredoura por eles acesa, que faz arder in-tensamente no corao da humanidade a luz do amor de Deus. mediante a graa abundante desses Smbolos do Despren-dimento que o Esprito da vida eterna se insufla nos corpos dos mortos. Certamente, o sol visvel apenas um sinal do esplen-dor desse Sol da Verdade, desse Sol que jamais ter igual, se-melhante ou mulo. por Seu intermdio que todas as coisas vivem, se movem e tm existncia. Atravs de Sua graa, ma-nifestam-se e a Ele todos voltam. N'Ele, todas as coisas se ori-ginaram e para o tesouro da Sua Revelao todas se tm reco-lhido. D'Ele, procederam todas as coisas criadas e para os de-positrios da Sua lei elas reverteram.

    Esses Luminares divinos parecem limitar-se, s vezes, a designaes e atributos especficos, assim como tendes observa-do e estais agora observando, mas isso s por causa da com-preenso imperfeita, restrita, de certas mentalidades. A no ser

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    isso, eles sempre foram, em todos os tempos, e continuaro sen-do por toda a eternidade enaltecidos acima de qualquer nome laudatorio e santificados alm de qualquer atributo descritivo. A quinta-essncia de nome algum pode esperar ter acesso sua corte de santidade, e os mais elevados e puros de todos os atri-butos jamais se aproximaro do seu reino de glria. Os Profe-tas de Deus esto incomensuravelmente elevados acima da com-preenso dos homens e jamais podero estes os conhecer de outro modo seno por Eles mesmos. Longe de Sua Glria permitir que Seus Escolhidos sejam enaltecidos por qualquer outro, seno por si prprios. Glorificados esto Eles acima do louvor dos homens; excelsos alm da compreenso humana!

    Nos escritos das "Almas imaculadas", o termo "sis" foi aplicado muitas vezes aos Profetas de Deus, queles lumi-nosos Emblemas do Desprendimento. Entre esses escritos se encontram as seguintes palavras registradas na "Orao de Nudbih": (21) "Para onde foram os Sis resplandecentes? Para onde partiram aquelas Luas esplendorosas e Estrelas cin-tilantes?" Tornou-se, assim, evidente que os termos "sol", "lua" e "estrelas" significam primariamente os Profetas de Deus, os santos e seus companheiros aqueles Luminares cujo conhe-cimento se irradiou sobre os mundos visveis e invisveis.

    Em outro sentido, esses termos se referem aos sacerdotes da Era passada que ainda vivem no tempo das Revelaes sub-seqentes, e que seguram nas mos as rdeas da religio. Se esses sacerdotes forem iluminados com a luz da Revelao pos-terior, tornar-se-o aceitveis aos olhos de Deus e brilharo com luz eterna. De outro modo, ainda que sejam aparentemente os mais prestigiosos entre os homens, sero declarados obscureci-dos, j que a crena e a descrena, a certeza e o erro, a feli-cidade e a desventura, a luz e a escurido, dependem, todos eles, da sano de Quem o Sol da Verdade. Qualquer um dentre os sacerdotes de cada era que, no Dia do Juzo, vier a receber da Fonte do conhecimento verdadeiro o testemu-

    (21) "Lamentao" escrita pela Imame Ali.

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    nho da f, ser, em verdade, favorecido com a graa divina, com a erudio e a luz da verdadeira compreenso. Em caso contrrio, ser estigmatizado como um insensato, convicto de negao, blasfmia e opresso.

    claro e evidente, a cada um que observe com discerni-mento, que, assim como a luz da estrela se esvai ante o reful-gente esplendor do sol, do mesmo modo o luminar do conhe-cimento terreno, da compreenso e sabedoria, se desvanece com-pletamente diante das glrias resplandecentes do Sol da Verda-de, do Sol da iluminao divina.

    O fato de se haver aplicado aos dirigentes da religio o termo "sol" em virtude de sua alta posio, seu renome e fama. Referimo-nos aos sacerdotes universalmente reconhe-cidos em cada poca, os quais falam com autoridade e cuja fama est seguramente confirmada. Se forem parecidos com o Sol da Verdade, sero julgados, certamente, os mais nobres de todos os luminares; em caso contrrio, sero reconhecidos como pontos irradiantes de fogo infernal. Assim como Ele diz: "Em verdade, o sol a a lua so ambos condenados ao tormen-to do fogo infernal." (22) Conheceis, sem dvida, a interpre-tao dos termos "sol" e "lua" mencionados nesse versculo; desnecessria , pois, a sua referncia. E quem quer que par-ticipe do elemento desse "sol" e dessa "lua", isto , que siga o exemplo desses lderes que se dirigem falsidade e se afas-tam daquilo que verdadeiro, provm, indubitavelmente, das trevas infernais e a estas haver de voltar.

    E agora, vs que buscais, cumpre-nos aderir firmemen-te ao 'Urvatu'1-Vuthq, para que possamos, porventura, deixar atrs a tenebrosa noite do erro e abraar a luz nascente da guia divina. No deveremos fugir da face da negao e bus-car o amparo da certeza? No nos deveremos livrar do horror das trevas satnicas e apressar-nos para a luz matutina da Be-leza celestial? De tal modo Ns vos concedemos o fruto da

    (22) Alcoro 55:5.

  • 28 O KITB-I-QN

    rvore do conhecimento divino para que possais habitar, com alegria e regozijo, no Ridvn da sabedoria divina.

    Em outro sentido, pelos termos "sol", "lua" e "estrelas" se entendem leis e ensinamentos estabelecidos e proclamados em cada Era, como, por exemplo, as leis da orao e do jejum. Segundo a lei do Alcoro, tais leis, quando a beleza do Pro-feta Maom passara alm do vu, foram consideradas as mais fundamentais e inviolveis de Sua Era. Isso comprovado pe-los textos das tradies e crnicas que, por serem to larga-mente conhecidas, no precisam de meno aqui. Ainda mais, em cada Era, a lei relativa orao ocupa um lugar saliente, sendo universalmente executada. Isso atestam as tradies re-gistradas que se atriburam s luzes provenientes do Sol da Ver-dade, da essncia do Profeta Maom.

    As tradies estabeleceram o fato de que, em todas as Eras, a lei da orao constitui elemento fundamental da Revelao de todos os Profetas de Deus lei essa cuja forma e cujo modo se adaptam s vrias necessidades prprias de cada po-ca. Desde que cada Revelao subseqente venha a abolir os modos, hbitos e ensinamentos que a Era anterior estabelece-ra clara, especfica e firmemente, estes se expressam, em senti-do simblico, pelos termos "sol" e "lua". "A fim de que Ele vos pudesse submeter prova, para mostrar qual de vs so-bressai em aes." (23)

    Alm disso, segundo as tradies, os termos "sol" e "lua" se aplicam orao e ao jejum, assim como se diz: "O jejum iluminao, a prece luz." Certo dia, um sacerdote muito conhecido veio Nos visitar. Enquanto conversvamos, ele se re-feriu tradio anteriormente citada, dizendo: "Como o jejum faz aumentar o calor do corpo, ns o temos comparado, pois, luz do sol; e como a orao noite refresca o homem, diz-se ser semelhante ao esplendor da lua." Percebemos ento que esse pobre homem no fora favorecido com nem sequer uma gota do oceano do verdadeiro entendimento e se desviara mui-

    (23) Alcoro 67:2.

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    to longe da Sara ardente da sabedoria divina. Assim lhe disse-mos gentilmente: "A interpretao que Vossa Excelncia deu a essa tradio a corrente entre o povo. No se poderia inter-pret-la de uma maneira diferente?" Ele perguntou, "Que po-deria ser"?" E replicamos: "Maom, o Selo dos Profetas, o mais ilustre dos Escolhidos de Deus, comparou a Era do Alco-ro ao cu, por causa de seu elevado grau, sua influncia pre-dominante, sua majestade, e porque compreende todas as reli-gies. E como o sol e a lua constituem os astros mais brilhan-tes e proeminentes do cu, do mesmo modo foram ordenados, no cu da religio de Deus, dois orbes radiantes o jejum e a orao. "O isl o cu; o jejum seu sol, e a orao sua lua."

    Esse o propsito fundamental das palavras simblicas dos Manifestantes de Deus. Por conseguinte, a aplicao dos ter-mos "sol" e "lua" s coisas j citadas, se demonstrou e justi-ficou segundo o texto dos sagrados versculos e das tradies registradas. Assim, pois, est claro e evidente que as palavras "escurecer-se- o sol, e a lua no dar a sua claridade e as estrelas cairo do cu" se referem perversidade dos sacer-dotes e anulao das leis firmemente estabelecidas pela Reve-lao Divina, tudo o que foi predito, em linguagem simblica, pelo Manifestante de Deus. Ningum, a no ser o justo, partici-par desse clice; ningum, salvo o piedoso, dele ter um qui-nho. "O justo beber de um clice temperado na fonte de cn-fora" (24)

    Indiscutivelmente, nas sucessivas Revelaes, o "sol" e a "lua" dos ensinamentos, leis, mandamentes e proibies que se estabeleceram na Era precedente e que abrigaram o povo da-quele tempo, obscurecem-se, isto , esto esgotados e j no exercem sua influncia. Considerai agora: tivesse o povo do Evangelho reconhecido o que significam os termos simblicos de "sol" e "lua" e diferentemente dos refratrios e perver-sos buscado o esclarecimento d'Aquele Que o Revelador

    (24) Alcoro 76:5.

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    d conhecimento divino, teria certamente compreendido o pro-psito desses termos e no ficado aflito e oprimido pela escuri-do de seus desejos egostas. Sim, mas porque esse povo no adquirira da prpria Fonte o verdadeiro conhecimento, d finhou, no perigoso vale da perversidade e da descrena. N acordou ainda para perceber que todos os sinais preditos j s manifestaram, que o prometido Sol se levantou sobre o hori^ zonte da Revelao divino e o "sol" e a "lua" dos ensinamen-tos, das leis e da erudio de uma Era anterior j se tornaram obscuros e desapareceram.

    E agora deves tu, com olhar fixo e asas firmes, entrar no caminho da certeza e da verdade. "Dize: Deus; deixa, ento, que eles se entretenham a si mesmos com suas cavilaes." (25) Assim sers tido por um dos companheiros de quem Ele diz: "Aqueles que dizem Nosso Senhor Deus e continuam fiis em Seu caminho, sobre eles, em verdade, descero os an-jos." (26) Ento sers tu testemunha, com os prprios olhos, de todos esses mistrios.

    meu irmo! D o passo do esprito e assim to veloz como um abrir e fechar de olhos, poders transpor as solides do afastamento e da desolao, alcanar o Ridvn da eterna reunio e, em um s sopro, comungar com os Espritos celes-tiais. Pois com ps humanos no podes esperar jamais atra-vessar essas desmedidas distncias, nem atingir teu objetivo. Paz esteja com aquele que for guiado pela luz da verdade, para alcanar toda a verdade, e que, em nome de Deus, se mantiver firme no caminho de Sua Causa, nas plagas da verdadeira com-preenso.

    Eis o que significa o sagrado versculo: "Mas no! Juro pelo Senhor dos Orientes e dos Ocidentes", (27) desde que os referidos "Sis" tm cada um seu lugar prprio para se le-vantar e se pr. E como no puderam os comentadores do Alco-ro compreender o sentido simblico desses "Sis", encontraram

    (25) Alcoro 6:91. (26) Alcoro 41:30. (27) Alcoro 70:40.

  • O LIVRO DA CERTEZA 31

    grande dificuldade em interpretar o versculo j citado. Susten-taram alguns que, em vista do fato de nascer o sol cada dia num ponto diferente, os termos "orientes" e "ocidentes" fo-ram mencionados no plural. Outros escreveram que esse ver-sculo se refere s quatro estaes do ano, porque os pontos em que o sol nasce e se pe variam com a mudana de estao. Tal a profundeza do seu entendimento! Entretanto, persistem em imputar erro e insensatez quelas Jias do conhecimento, queles irrepreensveis, purssimos Smbolos da sabedoria.

    Esfora-te, ento, a fim de compreenderes, mediante essas exposies lcidas, poderosas, concludentes e inequvocas, o que significa o "romper do cu" um dos sinais que d:vero anun-ciar a vinda da Hora Final, do Dia da Ressurreio. Assim como Ele disse: "Quando o cu se romper." (28) Por "cu" se quer dizer o cu da Revelao Divina, que se eleva com a vinda de cada Manifestante e se rompe ao aparecer o subse-qente. "Romper" significa que a Era anterior substituda e anulada. Afirmo por testemunho de Deus! Romper esse cu , para quem possui discernimento, um ato mais poderoso do que romper a abbada celeste! Pondera um pouco. Uma Reve-lao Divina que desde muitos anos se acha firmemente esta-belecida sombra da qual se educaram e nutriram todos os que a abraaram; luz de cuja lei geraes de homens tm sido disciplinadas; a excelncia de cuja palavra os homens tm ouvido ser elogiada por seus pais; de tal modo que olhos humanos nada perceberam a no ser a influncia predominante de sua graa e ouvidos mortais no escutaram seno a majes-tade ressonante do seu mando qual o ato maior do que "romper", pelo poder de Deus, uma Revelao como essa e abo-li-la, com o aparecimento de uma s alma? Reflete: no um ato maior que aquilo que esses homens desprezveis, insensa-tos, imaginam ser o sentido de "romper o cu"?

    Alm disso, considera tu as dificuldades e amarguras das vidas daqueles Reveladores da Beleza Divina. Reflete como

    (28) Alcoro 82:1.

  • 32 O KITAB-I-QN

    eles ss, sem apoio algum, enfrentaram o mundo e todos os seus povos e promulgaram a Lei de Deus! Apesar das mais severas perseguies infligidas a essas Almas santas, preciosas e ternas, elas ainda se mantiveram pacientes, na plenitude de seu poder e, no obstante sua ascendncia, as sofreram e su-portaram.

    De modo semelhante, esfora-te para compreenderes o que significa a "transformao da terra". Deves saber que, quando caem sobre quaisquer coraes as copiosas chuvas da misericr-dia, procedendo do "cu" da Revelao Divina, a terra desses coraes se transforma, verdadeiramente, na terra da sabedo-ria e do conhecimento divinos. V que mirtos de unidade so produzidos no solo dos seus coraes! Que flores de verdadei-ro conhecimento e sabedoria crescem em seus peitos ilumina-dos ! No fosse transformada a terra dos seus coraes, como seria possvel a essas pessoas, que no haviam aprendido uma letra sequer e que jamais viram instrutor algum nem freqen-taram escola proferir tais palavras e mostrar conhecimentos to acima da compreenso comum? Foram moldadas, parece-me, com a argila do conhecimento infinito e amassadas com a gua da sabedoria divina. Assim, pois, foi dito: "O conhecimento uma luz que Deus faz penetrar no corao de quem Ele quei-ra." essa a espcie de conhecimento que , e sempre foi lou-vvel, e no o conhecimento limitado oriundo das mentes ve-ladas e obscurecidas. Esse conhecimento limitado eles at o tomam emprestado um do outro, furtivamente, e disso se vangloriam!

    Oxal pudessem os coraes humanos purificar-se dessas limitaes feitas pelo homem e desses pensamentos obscuros que lhes foram impostos! Assim, talvez, poderiam iluminar-se com a luz do Sol do verdadeiro conhecimento e compreender os mistrios da sabedoria divina. Considera tu agora: se conti-nuasse seco e estril o solo dos seus coraes, como haveriam de receber, jamais, a revelao dos mistrios de Deus e tor-

  • O LIVRO DA CERTEZA 33

    nar-se os Reveladores da Essncia Divina? Assim Ele disse: "No dia em que a terra se transformar em outra terra." (29)

    A brisa da generosidade do Rei da criao causou at uma transformao no mundo fsico se apenas pondersseis nos coraes os mistrios da Revelao Divina!

    E deves compreender agora o sentido deste versculo: "Toda a terra no Dia da Ressurreio ser apenas uma mo-cheia e em Sua mo direita se contero os cus. Louvo-res a Ele! E enaltecido seja Ele, muito alm dos companhei-ros que eles Lhe associam!" (30) E agora, s justo em teu juzo. Tivesse este versculo o sentido que os homens supem, traria isso, podemos perguntar, proveito ao homem? Alm disso, evi-dentemente, nenhuma mo visvel a olhos humanos poderia rea-lizar tais atos, nem ser atribuda, em absoluto, exaltada Essn-cia de Deus, Uno e Verdadeiro. No, admitir tal coisa nada mais que pura blasfmia, uma completa perverso da verda-de. E fssemos supor que esse versculo se referisse aos Ma-nifestantes de Deus, que a realizao de tais atos Lhes fosse exigida no Dia do Juzo, isso tambm pareceria estar longe da verdade e seria, certamente, de nenhum proveito. Ao con-trrio, o termo "terra" significa a terra do entendimento e co-nhecimento, e o "cu", o da Revelao Divina. Reflete como, por um lado, Ele com Sua poderosa mo, transformou num mero punhado a terra do conhecimento e da sabedoria, ante-riormente estendida, e, por outro, desdobrou nos coraes hu-manos uma terra nova e sumamente elevada, fazendo assim bro-tarem no peito iluminado do homem as mais frescas e encan-tadoras flores e as rvores mais altas e poderosas.

    Que reflitas, tambm, como os altos cus das Eras passa-das se dobraram na mo direita do poder, como os cus da Revelao Divina se ergueram pelo imperativo de Deus e se adornaram com o sol, a lua e as estrelas de Seus maravilhosos mandamentos. Tais so os mistrios do Verbo de Deus que ago-

    (29) Alcoro 14:48. (30) Alcoro 39:67

  • 3 4 O KITB-I - QN

    ra se desvendaram e se tornaram manifestos, para que tu possas, qui, perceber a luz matinal da guia divina e extinguir, pelo poder da confiana o da renncia, a lmpada da v fantasia, das imaginaes fteis, da hesitao e da dvida, e possas acender no mais ntimo recndito do teu corao, a luz recm-nasci-da da certeza e dos conhecimentos divinos.

    Sabe tu, verdadeiramente, que o propsito fundamental de todos esses termos simblicos e aluses abstrusas que emanam dos Reveladores da santa Causa de Deus, a provao dos po-vos do mundo; para que, deste modo, o terreno dos coraes puros e iluminados se distinga do solo estril e perecedor. Des-de tempos imemoriais, este o mtodo de Deus entre Suas criaturas, segundo atestam os livros sagrados.

    E, igualmente, deves meditar sobre o versculo revelado no que se refere ao "Qiblih". (31) Quando Maom, o Sol proftico, fugira da aurora de Bath (32) para Yathrib, (33) Ele continuava a voltar o rosto, enquanto orava, na direo de Jerusalm, a cidade santa, at o tempo em que os judeus come-aram a pronunciar palavras indecorosas contra Ele palavras indignas de ser mencionadas nestas pginas e fatigantes para o leitor. Maom ressentia-se fortemente dessas palavras. En-quanto, absorvido em meditao e xtase, contemplava o cu, ouviu a voz benvola de Gabriel, dizendo: "Ns Te vemos do alto, a dirigir a face para o cu; mas Ns queremos que Te voltes para um Qiblih que Te aprouver." (34) Num dia sub-seqente, enquanto o Profeta, com Seus companheiros, profe-ria a orao do meio-dia, e quando j executara duas das Rik' ats prescritas, (35) ouviu Ele novamente a voz de Ga-briel: "Volta Tua face para a sagrada Mesquita." (36) (37)

    (31) A direo em que se deve voltar o rosto ao orar. (32) Meca. (33) Medina. (34) Alcoro 2:144. (35) Prostraes. (36) Em Meca. (37) Alcoro 2 :149.

  • O LIVRO DA CERTEZA 35

    Em meio a essa mesma orao, Maom virou a face subita-mente de Jerusalm e dirigiu-se ao Ka'bih. De pronto, profun-da consternao apoderou-se dos companheiros do Profeta. Isso lhes abalou severamente a f. Tamanho foi seu alarme que mui-tos deles interromperam a orao e cometeram apostasia. Em verdade, Deus no causou essa perturbao por outro motivo seno o de pr prova Seus servos. A no ser isso, Ele, o Rei ideal, facilmente teria deixado de alterar o Qiblih, podendo ter permitido que Jerusalm continuasse a ser o Ponto de Adora-o para Sua Era, e assim no teria privado essa cidade santa

  • 36 O KITB-I-QN

    que segue o Apstolo e podermos distingui-lo daquele que ter-giversa." (39) "Asnos amedrontados fugindo de um leo." (40)

    Se pondersseis essas explicaes no corao, s um pou-co, havereis seguramente de encontrar descerrados diante de vossa face os portais do entendimento e contemplarieis todo o conhecimento com seus mistrios desvendados ante vossos olhos. Tais coisas sucedem apenas a fim de que as almas dos homens se desenvolvam e se livrem da priso do eu e do desejo em que se acham encerradas. De outro modb, aquele Rei ideal , em Sua Essncia, desde toda a eternidade, independente da com-preenso de todos os seres e continuar para sempre enaltecido em Seu prprio Ser, alm da adorao de qualquer alma. Um simples sopro de Sua exuberncia suficiente para adornar toda a humanidade com as vestes da riqueza; apenas uma gota do oceano de Sua abundante graa basta para conferir a todos os seres a glria da vida eterna. Como, porm, o Desgnio Di-vino exigiu que o verdadeiro fosse distinguido do falso, e o sol, da sombra, Ele, em todas as pocas, tem feito carem sobre a humanidade, provindas de Seu reino de glria, chuvas de pro-vaes.

    Se os homens meditassem sobre as vidas dos Profetas da antigidade, viriam a conhecer e compreender to facilmente os mtodos desses Profetas, que deixariam de ser confundidos por tais aes e palavras contrrias a seus prprios desejos mundanos e assim consumiriam com o fogo ardente na Sara do conhecimento divino todo vu que se interpusesse, e permane-ceriam seguros sobre o trono da paz e da certeza. Considerai, por exemplo, Moiss, filho de Tmrn, um dos Profetas excel-sos e Autor de um Livro divinamente revelado. Um dia, Ele, ainda na juventude, antes de haver proclamado Seu ministrio, passava pelo mercado, quando viu dois homens lutando. Um deles pediu a Moiss socorro contra o adversrio e ento Moi-ss interveio e matou a este. Assim atesta a narrativa do Livro

    (39) Alcoro 2 :143 . (40) Alcoro 74:50.

  • O LIVRO DA CERTEZA 37

    Sagrado. Se fossem citados os detalhes, o curso do argumento seria interrompido e prolongado em demasia. Divulgou-se por toda a cidade a notcia desse incidente e Moiss estava cheio de medo, como afirma o texto do Livro. E quando chegou a seus ouvidos esta advertncia: " Moiss! em verdade, os che-fes esto em conselho para Te matar", (41) Ele partiu da cidade e foi residir em Midian, a servio de Shoeb. Ao re-gressar, Moiss entrou no vale santo, na solido do Sinai, e a, da "rvore que no pertence nem ao Este nem ao Oeste", teve a viso do Rei da glria. A ouviu Ele a Voz comovedora do Esprito, que do Fogo ardente Lhe falava, mandando que irradiasse sobre as almas faranicas a luz da guia divina; de modo que, livrando-as do vale sombrio do ego e do desejo, Ele as fizesse alcanar os prados do deleite celestial e, atra-vs do Salsabil da renncia, as salvasse da perplexidade oriun-da de sua separao e as fizesse entrar na cidade tranqila da Presena Divina. Quando Moiss veio a Fara e, segundo Deus ordenara, lhe transmitiu a Mensagem divina, Fara falou de maneira ofensiva, dizendo: "No s aquele que cometeu assas-snio e se tornou infiel?" Assim o Senhor da majestade rela-tou as palavras de Fara a Moiss: "Que ato foi esse que Tu cometeste! s um dos ingratos." Disse Ele: "Eu o fiz, em ver-dade, e fui um dos que erraram. E fugi de vs quando vos re-ceei, mas Meu Senhor Me deu sabedoria e Me fez um de Seus Apstolos." (42)

    E agora pondera em teu corao que tumulto Deus pro-voca. Reflete: como so mltiplas e estranhas as provaes com que Ele experimenta Seus servos. Considera tu como Ele esco-lheu subitamente dentre Seus servos e Lhe confiou a exaltada misso de ser um Guia divino, quele conhecido como homici-da, que confessara, Ele mesmo, Sua crueldade e que por quase trinta anos fora, aos olhos do mundo, criado na casa de Fara e alimentado sua mesa. No poderia Deus, o Rei Onipotente,.

    (41) A1coro 28:20. (42) Alcoro 26:19.

  • 38 O KITAB-I-1QN

    ter impedido de cometer assassnio a mo de Moiss para que Lhe no fosse atrtibudo homicdio, fato este que tanta perple-xidade e averso causou entre o povo?

    Outrossim, deves tu refletir sobre o estado e condio de Maria. To profunda foi a ansiedade desse mais belo semblan-te, to penosa sua situao, que ela deplorava amargamente ha-ver nascido. Isso comprovado pelo texto do sagrado versculo que diz haver Maria, aps o nascimento de Jesus, lamentado seu embarao e exclamado: "Oxal tivesse eu morrido antes disto e sido uma coisa esquecida, inteiramente esquecida!" (43) Deus Nossa testemunha! Tais lamentos consomem o corao e abalam o prprio ser. To grande consternao de alma, ta-manho abatimento de esprito, no poderia ter sido causado se-no pela censura do inimigo e pelas cavilaes dos infiis e per-versos. Pensa: qual a resposta que Maria poderia dar ao povo a seu redor? Como poderia ela afirmar que uma Criana, cujo pai era desconhecido, tivesse sido concebida do Esprito Santo? Por isso foi que Maria, aquele Semblante velado e imortal, to-mou sua Criana e voltou para sa casa. Mal caram sobre ela os olhos do povo, quando se levantaram as vozes, dizendo: " irm de Aro! Teu pai no foi um homem inquo; tam-pouco tua me impudica." (44)

    E agora deves meditar sobre essa to grande convulso, essa provao penosa. Apesar de todas essas coisas, Deus con-cedeu quela Essncia do Esprito, quele conhecido entre o povo como um que no teve pai, a glria de ser Profeta, e d'Ele fez Sua testemunha para todos aqueles que esto no cu e na terra.

    V tu como os mtodos dos Manifestantes de Deus, segun-do ordena o Rei da criao, so contrrios aos mtodos e de-sejos dos homens! medida que vieres a compreender a essn-cia desses mistrios divinos, perceberas o desgnio de Deus, o Encantador divino, o Mais-Amado. Virs a considerar as pa-

    (43) Alcoro 19:22. (44) Alcoro 19:28.

  • O LIVRO DA CERTEZA 39

    lavras e os atos daquele Soberano todo-poderoso como sendo uma e a mesma coisa; de tal modo que, seja qual for o que vejas em Seus atos, o mesmo encontrars em Suas palavras, e o que leres em Suas palavras, isso percebers tambm em Seus atos. Assim que tais atos e palavras so, exteriormente, o fogo da vingana para os mpios, e interiormente, as guas da compaixo para os justos. Se os olhos do corao se abris-sem, perceberiam, seguramente, que as palavras reveladas do

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    do Sheba do Eterno. Suas novas regozijaram mais uma vez o corao e proporcionaram alma alegria incomensurvel. Re-novou Ela todas as coisas, e trouxe, do Amigo incognoscvel, ddivas sem conta e de inestimvel valor. As vestes dos louvo-res humanos no podem esperar jamais ser adequadas Sua nobre estatura; o manto das palavras jamais se poder ajustar a Sua figura resplandente. Sem palavra, desvenda os mistrios mais recnditos; sem falar, revela os segredos das expresses di-vinas. Aos rouxinis que cantam nos ramos do afastamento e da privao, ensina lamentos e gemidos, instrui-os na sutil arte do amor e esclarece-lhes o mistrio que h na entrega do corao. s flores do Ridvn da unio celestial, revela a ternura do apai-xonado e desvenda o encanto da formosa amada. Concede os mistrios da verdade s anmonas do jardim do amor, e aos co-raes dos que amam, confia os smbolos das mais ntimas suti-lezas. Nesta hora, to generosa a emanao de Sua graa, que o prprio Esprito Santo sente inveja! gota concedeu as on-das do mar; nfima partcula, favoreceu com o esplendor do sol. Tal a exuberncia de Suas ddivas, que o mais desprezvel besouro tem buscado o perfume do almiscar, e o morcego a luz do sol. Ressuscitou os mortos com o alento da vida e os fez apressarem-se a sair dos sepulcros dos seus corpos mortais. Es-tabeleceu no assento da erudio o ignorante, e elevou o opres-sor ao trono da justia.

    O universo est prenhe dessas mltiplas graas, aguardan-do a hora em que os efeitos de Suas ddivas invisveis se tor-nem manifestos neste mundo, quando o sedento e aquele que languesce atinjam o Kawthar vivificante do Bem-Amado e o errante, perdido nas solides do afastamento e da inexistncia, entre no tabernculo da vida e alcance a reunio com Aquele por quem seu corao anseia. De quem ser o corao em cujo solo germinem estas santas sementes? Do jardim de que alma brotaro as flores das realidades invisveis? Em verdade, digo, to intensa a flama na Sara do amor. acesa no Sinai do corao, que jamais as guas transbordantes das palavras sa-

  • O LIVRO DA CERTEZA 41

    gradas lhe podero aplacar a chama. Oceanos jamais aliviaro a sede ardente desse Leviat, e essa Fnix do imorredouro fogo em parte alguma pode habitar, a no ser no esplendor que irra-dia do Semblante do Bem-Amado. Portanto, irmo! com o leo da sabedoria, acende no mago de teu corao a lmpada do esprito, e protege-a com o globo da compreenso, para que o sopro do infiel no lhe possa extinguir a flama, nem dimi-nuir o brilho. Assim temos iluminado os cus das palavras com os esplendores do Sol da sabedoria e compreenso divinas, para que teu corao encontre paz e tu sejas um dos que voaram com as asas da certeza, para o cu do amor de seu Senhor, o Todo-Misericordioso.

    E agora, quanto a Suas palavras: "E ento aparecer o sinal do Filho do homem no cu." Significam estas palavras que, quando se tiver eclipsado o sol dos ensinamentos celes-tiais, quando tiverem cado as estrelas das leis divinamente es-tabelecidas, e a lua do verdadeiro conhecimento o educador da humanidade estiver obscurecida; quando os estandar-tes do esclarecimento e da felicidade estiverem virados e a ma-nh da verdade e retido se tiver mergulhado na treva da noi-te, ento aparecer no cu o sinal do Filho do homem. O "cu" quer dizer o cu visvel, pois, ao aproximar-se a hora em que o Sol do cu da justia dever se manifestar e a Arca da sa-bedoria divina sulcar o oceano da glria, aparecer no cu uma estrela para anunciar ao povo o advento daquela mais grandio-sa luz. Do mesmo modo, no cu invisvel, haver de se mani-festar uma estrela que ser um arauto proclamando, aos povos da terra, o romper daquela Manh verdadeira e sublime. Esses sinais duplos, no cu visvel e no invisvel, tm anunciado a Revelao de cada um dos Profetas de Deus, como geralmente se acredita.

    Um dos Profetas foi Abrao, o Amigo de Deus. Antes de Ele se manifestar, Nimrod teve um sonho. Chamou ento os adivinhos, que lhe informaram haver surgido uma estrela no cu. Apareceu, outrossim, um arauto que anunciou por toda a terra a vinda de Abrao.

  • 42 O KITB-I-QN

    Depois d'Ele, veio Moiss, Aquele que conversava com 'Deus. Os adivinhos de Seu tempo advertiram a Fara nestes termos: "Surgiu uma estrela no cu! Ei-la! Prognostica a con-cepo de uma Criana que segura nas mos o vosso destino* e o de vosso povo." Assim tambm apareceu, na escurido da noite, um sbio trazendo novas de jbilo ao povo de Israel, consolando-lhe a alma e tranqilizando-lhe o corao. Testemu-nho disso se encontra nos relatos dos Livros Sagrados. Fsse-mos mencionar os detalhes, esta epstola se tornaria um livro. Alm disso, no Nosso desejo contar histrias dos dias passa-dos. Deus Nossa Testemunha de que at mesmo isto que agora mencionamos devido somente Nossa terna afeio por ti, para que os pobres da terra talvez possam atingir a orla do mar da riqueza e os ignorantes ser conduzidos ao oceano do conhecimento divino, e aqueles que tm sede de compreenso possam participar do Salsabl da sabedoria divina. De outro modo, este servo consideraria um erro grave e uma transgresso lastimvel levar em conta tais relatos.

    Semelhantemente, ao aproximar-se a hora da Revelao de Jesus, alguns dos Magos, cientes de que aparecera no cu a estrela de Jesus, procuraram-na e seguiram-na, at que vieram cidade que era a sede do Reino de Herodes. O domnio de sua soberania naquele tempo abrangia toda aquela terra.

    Disseram os Magos: "Onde est o Rei dos Judeus, que nascido? porque ns vimos no oriente a Sua estrela e viemos ador-Lo." (45) Depois de haverem procurado, descobriram-que em Belm, na terra da Judia, a Criana nascera. Foi este o sinal que se manifestou no cu visvel. Quanto ao sinal no cu invisvel cu do conhecimento e da compreenso divi' nos foi Yahy, filho de Zacarias, quem deu ao povo as boas novas da Manifestao de Jesus. Assim mesmo como Ele reve-lou: "Deus te anuncia Yahy, que dar testemunho do Verbo-de Deus, de um Ser grande e puro." (46) O termo "Verbo"

    (45) S. Matheus 2:2. (46) Alcoro 3:39.

  • O LIVRO DA CERTEZA 43

    refere-se a Jesus, Cuja vinda Yahy predisse. Ainda mais, en-contra-se nas sagradas Escrituras: "Veio Joo Batista pregan^ do no : deserto da Judia e dizendo: Fazei penitncia; porq est: prximo o Reino dos cus." (47) Por Joo se entende Yahy;

    E tambm, antes de se desvelar a beleza de Maom, ma-nifestaram-se os sinais do cu visvel. Quanto aos sinais no cu invisvel, apareceram quatro homens que sucessivamente anunciaram ao povo as boas novas de que nascera aquele Lu-minar divino. Rz-bih, mais tarde chamado Salmn, teve a honra de estar a seu servio. Ao aproximar-se o fim da vida de um deles, este mandava Rz-bih a um outro, at que o quar-to desses homens, percebendo estar prxima sua morte, se di-rigiu a Rz-bih, dizendo: " Rz-bih! Quando tiveres tomado meu corpo e o enterrado, v a Hijaz, pois a h de nascer o Sol de Maom. Feliz s tu, porque vers Seu semblante!"

    E agora a respeito desta Causa maravilhosa e excel-sa: Sabe tu, em verdade, que muitos astrnomos anunciaram o aparecimento de sua estrela no cu visvel. Tambm apare-ceram na terra Ahmad e Kzim, (48) aquelas esplendorosas luzes gmeas que Deus lhes santifique o lugar de descanso!

    De tudo o que j dissemos, torna-se claro e evidente que, antes da revelao de cada um dos Espelhos refletores da Essn-cia Divina, os sinais anunciantes de Seu advento devem por fora se manifestar no cu visvel, bem como no invisvel, no qual se encontra a sede do sol do conhecimento, da lua da sabe-doria e das estrelas da compreenso e das palavras. O sinal do' cu invisvel tem de ser revelado na pessoa daquele homem perfeito que, antes do aparecimento de cada Manifestante, edu-ca e prepara as almas dos homens para o advento do Luminar divino, da Luz da Unidade de Deus entre os homens.

    Referindo-se, agora, a Suas palavras: "E ento todos os povos da terra choraro e vero o Filho do homem, que vir

    (47) S. Matheus 3:1-2. (48) Shaykh Ahmad-i-Ahs'i e Siyyid Kzim-i-Rasht.

  • 44 O KITB-I-QN

    sobre as nuvens do cu com grande poder e majestade." Estas palavras significam que naqueles dias os homens lamentaro a perda do Sol da Beleza Divina, da Lua do conhecimento e das Estrelas da sabedoria divina. Depois, vero o semblante do Pro-metido, a Beleza adorada, descer do cu e mover-se sobre as nuvens. Quer isso dizer que a Beleza Divina se manifestar do cu da Vontade de Deus e aparecer na forma do "templo humano". O termo "cu" significa sublimidade e exaltao, des-de que a sede da revelao desses Manifestantes da Santi-dade, Auroras da Glria antiga. Embora nasam do ventre ma-terno, esses Seres antigos descem, na realidade, do cu da Von-tade de Deus. Ainda que habitem nesta terra, suas verdadeiras moradas so, entretanto, as plagas gloriosas nos reinos do alm. Enquanto andam entre os homens mortais, voam no cu da Presena Divina. Sem ps, trilham o caminho do esprito e, sem asas, se elevam s sublimes alturas da Unidade Divina. Com cada alento fugaz, atravessam a imensidade do espao e a todo instante passam pelos domnios do visvel e do invisvel. So-bre seus tronos est escrito: "Nada em absoluto O impede de se ocupar em alguma outra coisa." E nos seus assentos se ins-creveu: "Em verdade, os mtodos d'Ele diferem todo dia." (49) Esses Seres so enviados atravs do poder transcendente do Ancio dos Dias e surgem de acordo com a excelsa Vontade de Deus, o Rei poderosssimo. Eis o que significa a expresso: "vir sobre as nuvens do cu."

    Nas palavras dos divinos Luminares, o termo "cu" indica muitas coisas diferentes, tais como o "cu do Mando", o "cu da Vontade", o "cu do Desgnio divino", o "cu do Conheci-mento divino", o "cu da Certeza", o "cu das Palavras", o "cu da Revelao", o "cu da Ocultao" e outros semelhan-tes. Em cada caso, Ele d ao termo "cu" um sentido especial que no se revela, salvo queles iniciados nos mistrios divinos, queles que tenham sorvido do clice da vida imortal. Diz Ele, por exemplo: "O cu tem sustento para vs e contm o que

    (49) Alcoro 55:29.

  • O LIVRO DA CERTEZA 45

    vos prometido", (50) embora seja a terra que d tal sus-tento. De modo igual, se tem dito: "Os nomes descem do cu"; entretanto, procedem da boca dos homens. Se limpasses o es-pelho de teu corao, tirando-lhe o p da malcia, compreende-rias o sentido dos termos simblicos revelados pelo Verbo de Deus, que a tudo abarca, tornado manifesto em cada Era, e descobririas os mistrios do conhecimento divino. Antes de con-sumires, no entanto, com a chama do desprendimento absoluto, aqueles vus de v erudio usual entre os homens, no pode-rs contemplar o brilhante amanhecer do conhecimento verda-deiro.

    Sabe tu que h, em verdade, duas espcies de Conheci-mento : a divina e a satnica. Uma emana da fonte da inspira-o divina; a outra apenas o reflexo de pensamentos vos e obscuros. A origem daquela o prprio Deus; a fora motriz desta so os sussurros do desejo egostico. Uma guiada pelo princpio de: "Temei a Deus; Deus ensinar-vos-." A outra nada mais que a confirmao desta verdade: "A erudio o mais lastimvel vu entre o homem e seu Criador." Aquela d o fruto da pacincia, do anelo, da verdadeira compreenso e do amor; enquanto esta nada pode produzir seno a arrogncia, a vangloria e o orgulho. Nas palavras daqueles Mestres do santo Verbo, que tm esclarecido o significado do verdadeiro conhe-cimento, no se pode perceber, de modo algum, o odor destes ensinamentos obscuros que turvaram o mundo. A rvore de tais ensinamentos no dar outro resultado que a iniqidade e a rebeldia, e nenhum fruto produzir, a no ser o dio e a inve-ja. Seu fruto veneno mortal; sua sombra, um fogo voraz. Bem se h dito: "Apega-te ao manto do Desejo do teu cora-o, e pe de lado toda vergonha; manda que se afastem os versados nos conhecimentos do mundo, por grandes que sejam seus nomes."

    O corao, pois, deve ser purificado das vs palavras dos homens e santificado de todo afeto terreno, a fim de que possa

    (50) Alcoro 51:22.

  • 46 O KITB-WQN

    descobrir o sentido oculto da inspirao divina e se tornar o-tesouro dos mistrios do conhecimento divino. Assim se tem-dito: "Quem trilhar o Caminho nveo e seguir as pegadas do Pilar Carmesim, jamais alcanar a sua morada, a no ser que suas mos se desapeguem daquelas coisas do mundo estimadas pelos homens." o primeiro requisito para quem quer que trilhe esse caminho. Pondera isso, pois, para que, com teus olhos desvendados, tu possas perceber a verdade destas palavras.

    Fizemos uma digresso do propsito de Nosso argumento; no entanto, qualquer coisa que seja mencionada serve apenas para confirmar Nosso propsito. Por Deus, embora seja grande Nosso desejo de ser breve, sentimos, todavia, que no podemos restringer Nossa pena. A despeito de tudo o que j menciona-mos, quo inmeras so as prolas que permanecem intatas na concha do Nosso corao! Quantas so as hris do sentido in-terior que ainda esto veladas dentro dos aposentos da sabedo-ria divina! Delas ningum, ainda, se aproximou; hris "que nem homem nem esprito at agora tem tocado." (51) Apesar de tudo quanto se j disse, parece que nenhuma letra de Nosso intuito foi ainda pronunciada, nem sequer um sinal divulgado-em relao a Nosso objeto. Quando ser encontrado algum que busque fielmente e consinta em vestir as roupagens de pe-regrino; que atinja o Ka'bih do desejo do corao e descubra, sem ouvido ou lngua, os mistrios das palavras divinas?

    Por estas explicaes luminosas, concludentes e lcidas, se tornou claro e evidente o sentido de "cu" no versculo j men-cionado. E agora com referncia a Suas palavras, que o Filho do homem "vir sobre as nuvens do cu", o termo "nuvens" significa aquelas coisas que so contrrias aos mtodos e aos desejos dos homens. Assim mesmo como Ele revelou no ver-sculo j citado: "Todas s vezes que vem um Apstolo tra-zendo-vos o que vossas almas no desejam, vs vos inchais de orgulho, acusando alguns de impostores e a outros matan-

    ^ O Alcoro 55:56.

  • O LIVRO DA CERTEZA 47

    do." (52) Essas "nuvens" significam, em um sentido, a anu-lao das leis, a revogao das Revelaes anteriores e dos ri-tos e costumes correntes entre os homens, o enaltecimento dos iletrados fiis acima dos eruditos que se opem F. Em ou-tro sentido, referem-se ao aparecimento daquela Beleza Eterna na imagem do homem mortal, com tais limitaes humanas co-mo a necessidade de comer e beber, a pobreza e a riqueza, a glria e a humilhao, o dormir e o despertar e outras coisas semelhantes que criam dvida na mente dos homens e causam seu afastamento. Todos esses vus so chamados, simbolicamen-te, "nuvens".

    Essas so as "nuvens" que fazem com que se rompam os cus do conhecimento e da compreenso de todos os que ha-bitam a terra. Assim como Ele revelou: "Naquele dia o cu ser rompido pelas nuvens." (53) Do mesmo modo que as nu-vens impedem os olhos dos homens de ver o sol, tambm essas coisas impedem suas almas de reconhecer a luz do Lumi-nar Divino. A isso testifica o que procedeu da boca dos des-crentes, segundo revela o Livro Sagrado: " E disseram: Que espcie de apstolo esse? Toma alimentos e anda nas ruas. A no ser que um anjo seja enviado e apoie Suas advertn-cias, ns no acreditaremos." (54) Outros Profetas, igualmente, tm estado sujeitos pobreza e s aflies, fome e aos males e vicissitudes deste mundo. Porque essas Pessoas santas esta-vam sujeitas a tais necessidades, o povo, em conseqncia disso, perdia-se nas solides de desconfianas e dvidas, aflito pela confuso e perplexidade. Como seria possvel queriam eles saber uma pessoa ser enviada por Deus, declarar Sua as-cendncia sobre todos os povos e todas as raas da terra e se proclamar o objetivo de toda a criao assim mesmo como Ele disse: "Se no fosses Tu, Eu no teria criado todos os que esto no cu e na terra", e, apesar de tudo isso, ainda ficar sujeita a coisas to triviais? Deveis ter sido informados,

    (52) Alcoro 2:87. (53) Alcoro 25:25. (54) Alcoro 25:7.

  • 48 O KITB-I-QN

    sem dvida, das tribulaes, da pobreza, das adversidads e da degradao que sobrevieram a todo Profeta de Deus e Seus companheiros. Deveis ter sabido como as cabeas de Seus disc-pulos foram enviadas de presente a vrias cidades e como se os impediu, lastimavelmente, daquilo que lhes fora ordenado. Cada um deles caiu vtima nas mos dos inimigos de Sua Causa, ten-do que sofrer tudo o que estes decretassem.

    Evidentemente, as modificaes efetivadas em cada Era constituem as nuvens negras interpostas entre os olhos do en-tendimento do homem e o divino Luminar que se irradia da aurora da Essncia Divina. Considerai como os homens, desde muitas geraes, imitam cegamente os pais, sendo ensinados de acordo com os costumes e normas que os ditames de sua F esta-beleceram. Se esses homens, pois, descobrissem subitamente que um Homem que vivia entre eles e lhes era igual no que diz respeito a todas as limitaes humanas, viera a levantar-se com o fito de abolir todos os princpios impostos pela sua F princpios segundo os quais eles haviam sido educados desde sculos, tendo-se habituado a considerar como infiel, corrupto e perverso, qualquer um que os negasse ou lhes fizesse oposi-o ficariam, certamente, velados e impedidos de reconhecer Sua verdade. Tais coisas so como "nuvens" que velam os olhos daqueles cujo ser interior no saboreou o Salsabil do des-prendimento, nem bebeu do Kawthar do conhecimento de Deus. Esses homens, ao saberem dessas circunstncias, ficam to ve-lados que, sem a menor dvida, pronunciam o Manifestante de Deus um infiel e O sentenciam morte. Deveis ter sabido como tais coisas aconteciam no decorrer dos sculos e agora, nestes dias, as estais observando.

    Cumpre-nos, portanto, fazer o mximo esforo para que, graas ao invisvel amparo de Deus, esses vus obscuros, essas nuvens que so provaes mandadas pelo cu, no nos possam impedir de ver a beleza do Seu Semblante luminoso, e para que O possamos reconhecer somente por Ele Prprio. E se pedssemos um testemunho de Sua verdade, ns nos deveria-

  • O LIVRO DA CERTEZA 49

    mos contentar com um, e um s; para que assim atingssemos quele Que a Fonte Primitiva da infinita graa, em Cuja Presena toda a abundncia do mundo se esvaece, e deixsse-mos de cavilar d'Ele, todos os dias, e de nos apegar nossa prpria v fantasia.

    Deus bondoso! No obstante a advertncia pronunciada em tempos passados, expressa em linguagem maravilhosamente simblica e em sutis aluses, com o intuito de despertar os povos do mundo e no os deixar se privarem de sua parte do oceano encapelado da graa divina, sucederam ainda tais coi-sas como j presenciamos! Tambm no Alcoro h referncia a essas coisas, como se v pelo seguinte versculo: "Que po-dem essas pessoas esperar seno que Deus desa para elas encoberto de nuvens?" (55) Alguns sacerdotes, que se prendem firmemente letra da Palavra de Deus, vieram a considerar esse versculo como um dos sinais daquela esperada ressurrei-o oriunda de sua v fantasia. E isso, apesar do fato de have-rem sido feitas referncias semelhantes na maioria dos Livros celestiais e inscritas em todas as passagens que tratam dos si-nais do Manifestante vindouro.

    Diz Ele tambm: "No dia em que o cu emitir uma fu-maa palpvel, a qual haver de amortalhar a humanidade; isto ser um tormento aflitivo." (56) O Todo-Glorioso decretou estas coisas contrrias aos desejos dos homens perversos, exatamente para serem a pedra de toque, o padro pelo qual Ele prova Seus servos, de modo que o justo se distinga do mpio, e o fiel do infiel. O termo simblico "fumaa" refere-se a graves dissenses, revogao e ao desmoronamento dos padres reconhecidos, com a destruio completa daqueles de mentalidade estreita que lhes so os expoentes. Que fu-maa poderia ser mais densa e acabrunhadora do que aquela que atualmente amortalha todos os povos do mundo, tornan-do-se-lhes um suplcio, e do qual eles nenhuma esperana tm

    (55) Alcoro 2:210. (56) Alcoro 44:10.

  • 50 O KITB-I-IQAN

    de livrar-se, por mais que lutem? To feroz esse fogo do eu, ardendo no seu ntimo, que, a cada momento, parecem ser atin-gidos por tormentos novos. Quanto mais se lhes diz que esta maravilhosa Causa de Deus, esta Revelao proveniente do Al-tssimo, se tornou manifesta para toda a humanidade e dia a dia progride e se fortifica, mais se enfurece o ardor do fogo em seus coraes. Quanto mais observam o poder indomvel, a renncia sublime, a constncia inabalvel dos santos compa-nheiros de Deus, os quais, por Ele ajudados, se tornam cada vez mais nobres e gloriosos, tanto mais profunda a conster-nao que lhes consome a alma. Nestes dias louvado seja Deus o poder de Sua Palavra adquiriu tal ascendncia so-bre os homens que no se atrevem a murmurar nem sequer uma palavra. Fossem eles encontrar um dos companheiros de Deus disposto a oferecer, se pudesse, dez mil vidas livre e ale-gremente, em holocausto pelo Amado, to grande seria seu medo que logo professariam sua f n'Ele, enquanto, porm, secreta-mente, Lhe vilipendiando e execrando o Nome! Assim mesmo como Ele revelou: "E quando vos encontram, dizem Acre-ditamos mas quando esto afastados, mordem de ira as pontas dos dedos. Dizei Morri em vossa ira! (57) Deus conhece, em verdade, os prprios recnditos de vossos co-raes."

    Dentro em breve teus olhos vero desdobrarem-se os es-tandartes do poder divino por todas as regies e os sinais de Sua soberania e grandeza triunfantes manifestarem-se em todos os recantos da terra. Desde que a maioria dos sacerdotes no pde entender o sentido desses versculos, nem compreendeu o que significa o Dia da Ressurreio, eles, pois, interpretaram esses versculos insensatamente, de acordo com sua concepo v e errada. Deus, Uno e Verdadeiro, Minha Testemunha! Pouca percepo necessria para que possam inferir, da lin-guagem simblica desses dois versculos, tudo o que intentamos expor, e assim possam atingir, atravs da graa do Todo-Mise-

    (57) Alcoro 3 :119.

  • O LIVRO DA CERTEZA 51

    ricordioso, o resplendente amanhecer da certeza. Tais so os acordes da melodia celestial que a Ave imortal do Cu, chilrean-do no Sadrih de Bah, faz manar sobre ti, a fim de que tu possas, pela permisso de Deus, trilhar o caminho da sabedoria e dos conhecimentos divinos.

    E agora, com referncia s Suas palavras: "E Ele envia-r Seus an jos . . . " Por "anjos" se quer dizer aqueles que, re-forados pelo poder do esprito, consumiram todas as qualida-des e limitaes humanas com o fogo do amor de Deus, e se adornaram com os atributos dos Seres mais excelsos e dos Que-rubim. Aquele homem santo, Sdiq, (58) em seu elogio dos Querubim, diz: "H uma companhia de nossos irmos xiitas atrs do Trono." Diversas e mltiplas so as interpretaes das palavras "atrs do Trono." Em um sentido, indicam que no existe nenhum xiita verdadeiro. Assim como ele diz em outra passagem: "Um verdadeiro crente assemelha-se pedra filoso-fal." Dirigindo-se em seguida ao ouvinte, pergunta: "Tu j viste a pedra filosofal?" Reflete como esta linguagem sim-blica, mais eloqente do que qualquer afirmao, por mais di-reta que seja, atesta a inexistncia do verdadeiro crente. Tal o testemunho de Sdiq. Que consideres agora como so injus-tos e como so numerosos, os homens que, mesmo no conse-guindo aspirar a fragrncia da f, condenam como infiis, no entanto, aqueles por cuja palavra reconhecida e estabelecida a prpria f.

    E agora, por haverem estes santos seres se purificado de todas as limitaes humanas, se dotado dos atributos espiri-