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O jornalismo cultural na Revista Presença 1
Isadora Maria Gomes da Silva (graduanda)2
Mayara Ferreira (orientadora/mestranda)³
Universidade Federal do Piauí (UFPI)/ Piauí
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar a forma como a Revista Presença
abordava as práticas culturais em suas páginas, no período de 1974 a 2000, identificando os principais
gêneros jornalísticos e formatos textuais utilizados. A Revista Presença é um veículo de jornalismo
cultural, criada durante o período militar brasileiro, por um órgão do Governo do Estado do Piauí,
inicialmente produzida pela Secretaria de Cultura do Estado do Piauí, depois passou a ser organizada pelo
Conselho Estadual de Cultura (CEC). Assim, por meio de uma análise de conteúdo quantitativa e
qualitativa buscou-se compreender quais os principais gêneros jornalísticos utilizados e como isso reflete
os aspectos socioculturais relacionados às publicações da revista.
Palavras-chave: História da mídia impressa. Jornalismo Cultural. Gêneros Jornalísticos
1 Introdução
As décadas de 60 e 70 foram marcadas pelo forte controle do governo em todos
os setores da sociedade brasileira. Assim, a cultura e a imprensa eram influenciadas pelo
Regime Militar. No Piauí, em 1974, a Revista Presença teve sua primeira edição
publicada, produzida por um órgão do governo do Estado, a revista foi criada com o
objetivo proporcionar a sociedade debates sobre as produções culturais piauienses.
A Revista Presença é um veículo jornalístico institucional que traz publicações
de jornalismo cultural. De acordo com Queiroz (2007), o jornalismo institucional
conceitua as práticas jornalísticas no âmbito de uma instituição, ao tempo em que busca
informar com veracidade fatos de interesse público.
O jornalismo cultural, a partir dos conceitos estabelecidos por Piza (2003) é a
1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do 10º Encontro Nacional de História
da Mídia, 2015.
2 Graduanda do oitavo período de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela Universidade
Federal do Piauí. Pesquisadora no Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação - NUJOC. Email:
3 Jornalista pela Universidade Estadual do Piauí - Uespi. Pesquisadora no Núcleo de Pesquisa em
Jornalismo e Comunicação - NUJOC. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal do Piauí - PPGCOM-UFPI. E-mail: [email protected].
área do jornalismo que se dedica à cobertura temática de produções culturais (música,
artes, plásticas, etc). Durante o século XX, o jornalismo cultural se desenvolveu e
publicações com temáticas culturais passaram a ter espaço em veículos da "grande
mídia". Segundo Piza (2003) as revistas contribuíram para esse desenvolvimento,
provocando muita agitação intelectual e artística do século XX, em toda cidade que
vivia efervescência cultural.
Assim, a Revista Presença foi criada com o propósito de divulgar e promover as
atividades culturais no Piauí, em meio a iniciativas do governo do Estado durante o
Regime Militar. Com isso, entender como a Revista Presença como um veículo
institucional aborda o jornalismo cultural por meio da identificação dos gêneros
jornalísticos utilizados em suas publicações foi uma perspectiva escolhida para
compreender como o caráter institucional interferiu na produção da revista. Além de
buscar entender como os aspectos socioculturais presentes na Revista Presença.
O conceito de jornalismo cultural e um breve histórico sobre essa vertente foram
abordados inicialmente para facilitar a compreensão sobre o objeto estudado. Conhecer
e entender o contexto histórico de surgimento da Revista Presença foi um viés escolhido
para se pudesse analisar como a publicação abordava as práticas culturais em suas
páginas.
A amostra corresponde a 15 edições do período de 1974 a 2000. A Teoria dos
Gêneros Jornalísticos foi usada como suporte para investigação, a fim de identificar a
abordagem dada às práticas culturais no Piauí através da utilização dos gêneros
jornalísticos.
2 Jornalismo Cultural: a cultura nas publicações jornalísticas
O jornalismo cultural é uma vertente jornalística, em geral, caracterizada por
abordar assuntos ligados às questões e produções culturais da sociedade em suas
publicações. De acordo com Piza (2003), o jornalismo cultural, dedica-se à avaliação
ideias, valores e arte.
Essa concepção tem como base, a revista inglesa The Spectator (1711), marco do
jornalismo cultural, que tinha como objetivo abordar temas variados relacionados à
cultura de uma forma diferente da academia. Conforme Rêgo (2012), o Jornalismo
desenvolveu desde seu surgimento e no decorrer dois últimos séculos, um intrínseco
relacionamento com a cultura, esta entendida, como a produzida pelas diversas formas
de manifestações artísticas e estéticas em todo o mundo.
De fato, cultura e mídia se hibridizaram ao longo do século 20 e os reflexos
desse relacionamento "intra-uterino" apresentam-se nos dias atuais de forma
tão intrínseca que, em muitos aspectos e em alguns ângulos, é impossível
separá-las. Para a grande maioria dos jovens com idade inferior a 30 anos é
extremamente difícil reconhecer alguma manifestação cultural que não esteja
na mídia, a não ser que este participe de uma comunidade tradicional.
(REGO, 2012, p.105)
No Brasil, as práticas do jornalismo cultural passam a ter um espaço, para
debates sobre livros e artes, a partir da segunda metade do século XIX, com críticos
como Machado de Assis, José Veríssimo e Sílvio Romero. Piza (2003) destaca a
importância das revistas, incluindo na categoria os tabloides literários semanais ou
quinzenais, no desenvolvimento do jornalismo cultural. Afirmando ainda que foram as
revistas, que provocavam muita agitação intelectual e artística do século XX, em toda
cidade que vivia efervescência cultural.
Assim, Melo (2010) diz que só no início do século XX o jornalismo cultural
ganha contornos mais definidos no país, ganhando expressão em 1928, com a criação da
Revista “O Cruzeiro”, que teve como colaboradores, entre outros, Manuel Bandeira,
Raquel de Queiroz e Mario de Andrade, e era ilustrada por Di Cavalcanti e Anita
Malfati.
O jornalismo cultural no Brasil passou por uma modernização durante os anos
1940 e 1950, com a criação de cadernos e suplementos literários. Essa modernização do
jornalismo brasileiro correspondeu ao aprimoramento das técnicas de reportagem e à
qualificação dos jornalistas, a profissionalização que atingiu todas as especialidades.
Da década de 1960 a 1980, o jornalismo, assim como outros setores sociais,
passou a ser regulado e vigiado devido ao Regime Militar, e assim, esses anos foram
marcados pela prisão ou o exílio de nomes da imprensa. Em razão disso, Reis (2013) diz
que o jornalismo alternativo (ou underground, marginal, imprensa nanica, entre outros
nomes) surge como um escape, onde se podia denunciar abusos, tortura, crimes e
criticar as debilidades do regime militar. Devido à produção independente e à pequena
circulação, as publicações jornalísticas alternativas abordavam diversos temas com mais
liberdade.
Ao longo do século XX, a cultura e mídia se hibridizaram e os reflexos desse
relacionamento são perceptíveis atualmente de forma tão intrínseca que, em muitos
aspectos e em alguns ângulos, é impossível separá-las (REGO, 2012). Na presente
realidade, o jornalismo cultural é, inevitavelmente, influenciado pelos padrões
mercadológicos vigentes. Segundo Rêgo (2006, p.01), mesmo a difusão em massa dos
bens simbólicos e produtos culturais a partir da indústria cultural, compreendida com
base no conceito frankfurtiano, através de suportes midiáticos, “surgem reações
conscientes ou inconscientes de resistência, transformação, hibridação e propagação de
culturas como forma de preservar, constituir e dar visibilidade a manifestações
regionais/ locais”.
A revista institucional traz uma possibilidade de divulgar e aprofundar o debate
sobre questões e aspectos culturais mais específicos de determinada região, por não
estar regida por um padrão de mercado. Mas o ponto negativo é que esse tipo de veículo
acaba, inevitavelmente, por ser influenciada pela instituição ou órgão que a produz.
3 Os reflexos do período ditatorial do Brasil no Piauí
Em 1964, o Brasil inicia um período político marcado pela repressão e
cerceamento da liberdade dos indivíduos e dos setores da sociedade. As condições
internas e a pressão internacional anticomunista levaram ao golpe que derrubou João
Goulart e inaugurou uma série de cinco governos militares.
A repressão à liberdade da imprensa foi uma das primeiras atitudes tomadas
durante o governo de Castelo Branco. Barbosa (2014, p. 13) afirma que “esse período
foi marcado por perseguições, restrições à liberdade de imprensa, censura generalizada
aos meios de comunicação e que, muitos deles, resistiram com bravura e determinação
aos limites impostos à liberdade de expressão”.
Além disso, em 1967 foi aprovada uma nova constituição confirmando e
institucionalizando o regime militar e suas formas de atuação, através dos Atos
Institucionais, de uma Lei de imprensa, que cerceava a atividade, e de uma lei de
segurança nacional, que restringia as liberdades civis. De acordo com Reis (2012), em
1968, o general Arthur da Costa e Silva, influenciado por uma série de protestos,
manifestações sociais, passeatas estudantis e greves de operários, decreta em dezembro
de 1968 o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este que foi uma das medidas mais
severas adotada pelo regime, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as
garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.
O Piauí não sofreu fortes modificações em seu cenário administrativo e nas suas
bases políticas de sustentação com a implantação do Regime Militar. Num primeiro
momento, Torres (2010) afirma que o Piauí se beneficiou com mudanças, devido às
boas relações que o governador Petrônio Portella Nunes mantinha com os militares.
Apesar disso, a partir de 1968, as práticas de censura foram intensificadas, por meio do
governo que repassava aos veículos os assuntos que deveriam ser abordados e evitados,
sob o risco de punições como a retirada do ar de emissoras de rádio e televisão ou
fechamento do jornal, e afastamento de jornalistas.
Tavares (2003) mostra que o Piauí durante a década de 1960 era extremamente
dependente de recursos federais para a efetivação de ações administrativas e estruturais.
Até a criação da Secretaria de Cultura o setor cultural estava diretamente relacionado ao
setor educacional, e recebia investimentos que favoreciam, prioritariamente, a Imprensa
Oficial, produzida pelo COMEPI, e o Arquivo Público do Piauí, Casa Anísio Brito.
Em busca de crescimento, Torres (2010) aponta que o governo estadual realizou
a implantação de políticas públicas que favoreciam o desenvolvimento cultural, como a
criação do Conselho Estadual de Cultura (CEC), ocorrida em 12 de outubro de 1965,
pelo Decreto nº 631, durante o governo de Petrônio Portella. O CEC foi criado com o
objetivo de ser o espaço onde os intelectuais podiam discutir e formular estratégias
visando à discussão da História, das riquezas, das potencialidades e da identidade
piauiense. Essa medida foi uma importante ação para o fomento da vida cultural no
Estado.
O cenário cultural do Piauí, sobretudo o da capital, nos anos 1960 e 1970 tinha
uma estreita relação com os acontecimentos políticos e econômicos e com os discursos
em torno do desenvolvimento estadual do período. Alberto Silva durante seu primeiro
mandato (1971 a 1974) como governador do Piauí desenvolveu diversas medidas
voltadas à cultura, como a elaboração do Plano Editorial e a publicação da Revista
Presença, produzida pelo Conselho Estadual de Cultura. Segundo Torres (2010), a
produção cultural passou a ser utilizada como um dos mecanismos favorecedores da
unidade nacional e, no caso específico do Piauí, como um meio de consolidar no
imaginário local que o desenvolvimento poderia ser construído em parceria com o poder
público.
Segundo Rêgo (2013), a Secretaria de Cultura do Piauí foi uma das primeiras a
ser criada no Brasil, na década de 1960, e em meados da década de 70, a secretaria foi
desmembrada e foram criadas a Fundação Cultural do Piauí e a Fundação de Assistência
Geral aos Desportos do Piauí (Fagepi). A Fundação Cultural do Estado foi criada por
meio da lei nº 3320 de 04 de abril de 1975 para auxiliar o CEC e da Secretaria de
Cultura a desenvolver a política cultural do governo e estimular a conservação do
patrimônio natural e cultural do Piauí, Torres (1994). A Secretaria foi responsável pela
edição obras históricas e literárias piauienses, assim como a criação da revista Presença,
por meio da lei número 115, de 02 de abril de 1974.
Os governos posteriores ao de Alberto Silva, em especial o de Dirceu Mendes
Arcoverde (1975-1977), agiram de modo a dar continuidade às ações implantadas como
o incentivo à cultura literária e também a outras manifestações, como as artes plásticas,
além da construção de novos centros de lazer, a exemplo, do Centro de Convenções,
inaugurado em 1976 (TORRES, 2010).
Com o governo de Ernesto Geisel (1974), o país inicia uma abertura política
lenta, gradual e segura, além de, em partes, suspender a censura à imprensa e o AI-5, e a
restauração do habeas-corpus. João Baptista de Oliveira Figueiredo deu em seu
governo continuidade a abertura política e ao processo de transição para democracia.
Em 1979, foi criada a Lei de Anistia e o pluripartidarismo foi reestabelecido. Mesmo
com o movimento das “Diretas Já”, a eleição foi indireta e Tancredo Neves foi nomeado
presidente da república, encerrando assim, o período ditatorial no Brasil.
4 A abordagem dada às práticas culturais através dos gêneros jornalísticos na
Revista Presença
A revista Presença teve sua primeira publicação em maio de 1974, inicialmente
produzida pela Secretaria da Cultura do Estado do Piauí, depois passou a ser organizada
pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC) do Estado do Piauí. A revista surgiu com a
proposta de retratar a cultura local, procurando inseri-la na cultura brasileira.
A revista, desde sua primeira publicação, é distribuída gratuitamente para
Conselhos Estaduais de Cultura, secretarias e fundações culturais, bibliotecas públicas,
universidades, academias de letras e escolas públicas estaduais. As edições da revista
também se encontram disponíveis online, no site do CEC, mas alguns números
precisaram ser digitalizados novamente. Em 2014, essa publicação chegou a 50º edição,
contando com a colaboração de diversos intelectuais piauienses.
O jornalismo institucional, segundo Queiroz (2007), corresponde a “um gênero
que não se caracteriza unicamente pelos princípios históricos do jornalismo tradicional,
mas que também não os despreza totalmente; um jornalismo que, praticado no âmbito
de uma instituição, prescinde da investigação, mas que nem por isso deixa de informar,
com veracidade, os fatos que são de interesse público” (QUEIROZ, 2007, p.132).
Assim, a revista Presença, por ser produzida por um órgão do Governo do Estado Piauí,
caracteriza-se como uma produção de jornalismo institucional.
Analisar como um veículo institucional aborda o jornalismo cultural por meio da
identificação dos gêneros jornalísticos utilizados em suas publicações foi uma
perspectiva escolhida para compreender como o caráter institucional interferiu na
produção da revista. Além, de buscar entender como os aspectos socioculturais estavam
presentes na Revista Presença.
4. 1 Composição da amostra
A pesquisa se desenrolou a partir da análise quantitativa e qualitativa do
conteúdo da amostra composta por 15 edições da revista Presença correspondentes ao
período de 1970 a 2000. É preciso destacar que a periodicidade da revista nessa época
não pode ser delimitada, sendo que sua publicação foi interrompida entre os anos de
1975 e 1983, e entre 1987 a 1993. Além de variar de uma a três publicações por ano.
A amostra foi escolhida de maneira aleatória e corresponde aos números e anos
da revista, seguintes: Número 1, Ano I, 1974; Número 3, Ano II, 1975; Número 5, Ano
III, 1982; Número 7, Ano IV, 1983; Número 9, Ano IV, 1983; Número 11, Ano V, 1984;
Número 13, Ano VI, 1985; Número 17, Ano VIII, 1986; Número 19, Ano VIII, 1987;
Número 21, Ano IX, 1993; Número 23, Ano X, 1994; Número 25, Ano XIII, 1997;
Número 26, Ano XIV, 1999; Número 27, Ano XV, 2000.
4.2 Referencial Teórico Metodológico
O objetivo do presente estudo é analisar o processo desenvolvido no jornalismo
cultural institucional no Piauí a partir das publicações dos órgãos de cultura e educação
do estado e dos municípios. Buscando identificar quais os principais gêneros
jornalísticos e formatos textuais utilizados nas publicações da Revista Presença.
A Teoria dos Gêneros Jornalísticos foi utilizada como suporte para investigação.
Tendo como base a concepção de Marques de Melo que o jornalismo se constitui como
um processo social que se articula a partir da relação (periódica/oportuna)
entre organizações formais (editoras/emissoras e coletividades (públicos receptores), através de canais de difusão (jornal/revista/
rádio/televisão/cinema) que asseguram a transmissão de informações (atuais)
em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos)”.
(MARQUES DE MELO, 2003, p. 17)
Assim, os processos jornalísticos têm suas especificidades que se alteram de
acordo com a estrutura sociocultural, disponibilidade de canais e a natureza do ambiente
político e econômico aos quais estão expostos.
Medina (2001, p.47), com base nos concepções de Bakhtin sobre os gêneros
discursivos, afirma que “o estudo da natureza do enunciado e dos gêneros discursivos
tem uma importância fundamental para ultrapassar as noções simplificadas sobre a vida
discursiva da chamada “corrente do discurso” e sobre a comunicação discursiva”.
Segundo Marques de Melo (2003, p. 41), os gêneros jornalísticos caracterizam-se como
um ponto de partida para “descrever as peculiaridades da mensagem
(forma/conteúdo/temática) e permitir avanços na análise das relações socioculturais
(emissor/receptor) e político-econômicas (instituição jornalística/Estado/corporações
mercantis/movimentos sociais) que permeiam a totalidade do jornalismo”.
José Marques de Melo identificou nas publicações jornalísticas brasileiras cinco
gêneros: opinativo, informativo, interpretativo, diversional e utilitário. Assim, baseando-
se nos estudos de Marques de Melo, Costa (2010, p. 227) apresenta a relação dos
gêneros e formatos da seguinte maneira: nota, notícia, reportagem e entrevista
(jornalismo informativo); dossiê, perfil, enquete e cronologia (jornalismo
interpretativo); editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura e carta
(jornalismo opinativo); história de interesse humano e história colorida (jornalismo
diversional); indicador, cotação, roteiro e serviço (jornalismo utilitário).
Assim, a realização da análise quantitativa do conteúdo possibilita a mensuração
dos números e da classificação dos gêneros e dos textos, para então, analisá-los e
verificar quais interpretações podem ser obtidas a partir números, em relação à realidade
do objeto de estudo.
4.3 Análise Formal Quantitativa
A partir da análise conteúdo quantitativa foi possível observar identificar que os
gêneros informativo, opinativo, interpretativo e utilitário estão presentes nas
publicações. Sendo que se destacam os gêneros informativo (47,86%) e opinativo
(44,1%) representando, aproximadamente, 91,96% dos textos na Revista Presença. Os
formatos textuais identificados dos dois gêneros na amostra foram: notícia, reportagem
e entrevista (gênero informativo) e editorial, artigo, resenha, carta e caricatura (gênero
opinativo). A quantidade de textos e a porcentagem aproximada referente ao espaço que
esses dois gêneros ocupam revista estão expressas nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1: Quantitativo de Gêneros Informativos nas revistas da Amostra
Gênero Informativo Quantidade Porcentagem
Entrevista 9 2,27%
Notícia 143 36,11%
Reportagem 38 9,6%
Fonte: Próprio autor
Tabela 2: Quantitativo de Gêneros Opinativos nas revistas da Amostra
Gênero Opinativo Quantidade Porcentagem
Artigo
Cartas
Caricaturas
125
6
10
31,57%
1,51%
2,52%
Editorial 15 3,78%
Resenha 19 4,79%
Fonte: Próprio autor
Já os gêneros interpretativo e utilitário correspondem a apenas, respectivamente,
1,1% e 0,8%. O perfil é o formato pertencente ao gênero interpretativo detectado, e,
roteiro corresponde ao gênero utilitário. Os dois gêneros aparecem de forma isoladas
nas publicações analisadas. No gráfico da figura 1 corresponde a uma demonstração do
espaço que cada gênero jornalístico ocupa na Revista Presença.
Figura 1: Porcentagem de Gêneros Jornalísticos Identificados na Revista Presença
Fonte: Próprio autor
Na amostra se identificou outros gêneros textuais que não estão relacionados à
linguagem jornalística. Em todas as edições há produções culturais apresentadas de
forma integral como ensaios fotográficos, ilustrações e textos literários como poesias,
contos e roteiros de pelas teatrais. A revista também divulgou discursos de autoridades,
documentos oficiais e relatórios. Todos esses formatos, tanto os jornalísticos quantos os
outros, tratavam dos seguintes temas: arqueologia, arquitetura, artes plásticas, cinema,
dança, educação, esporte, eventos culturais, folclore, fotografia, história, linguística,
literatura, meio ambiente, música, patrimônio histórico, políticas culturais, teatro e
turismo.
4.4 Análise de Conteúdo Qualitativa
Assim como em outras mídias impressas, jornais de circulação diária, na revista
Presença há um maior número de publicações do gênero informativo, especificamente,
no formato de notícia. Seguido por publicações do gênero opinativo, representada pelo
formato de artigo.
Os textos de gêneros informativos publicados na revista têm como temática
principal eventos culturais, peças teatrais, festivais e semanas culturais, exposições de
artes plásticas ou fotográficas, concurso de ilustração ou literários. A Figura 2 apresenta
uma notícia sobre evento de comemoração do aniversário da Escola de Dança de
Teresina, e exemplifica a forma que a revista abordava as temáticas culturais nas
notícias, Alguns eventos de grande porte, como festivais ou semanas culturais tiveram
destaque nas reportagens. As entrevistas traziam sempre como personagem,
personalidades e intelectuais piauienses ou atuantes em setores no Piauí.
Figura 2: Notícia sobre evento de comemoração da Escola de Dança de Teresina
Fonte: Revista Presença, Página 61; Número 19; Ano VIII – Março/Dezembro de 1987
A revista abria espaço para discussões mais aprofundadas sobre questões ligadas
a cultura e a educação, mas temas como arquitetura, arqueologia, história, patrimônio
histórico e turismo também eram assuntos recorrentes nas publicações. É perceptível,
por meio da análise, que a revista manteve seu propósito inicial, o de promover debates
sobre temas relacionados à cultura e a história piauiense, considerando também o
contexto cultural brasileiro, e, as ideias e questões culturais contemporâneas às
publicações. Mas a revista não perde o caráter de veículo institucional, divulgando
iniciativas e feitos do governo. Chegando a publicar discursos, documentos oficiais e
relatórios. Na edição de número 03 de março de 1975 foi publicado um relatório da
Secretária de Cultura transcrevendo as atividades planejadas e executadas pelo órgão
durante o ano de 1974, como é possível observar na figura 3, parte do relatório.
Figura 3: – Relatório do Departamento de difusão da Secretaria da Cultura de 1974.
Fonte: Revista Presença; Página 43; Número 3. Ano II. março de 1975
A revista teve suas publicações interrompidas em dois períodos de 1975 e 1982,
retornando com uma nova configuração no CEC e na Secretaria de Cultura, e de 1987 a
1993. Após a segunda interrupção, a revista voltou com sua vigésima edição e não
realizou interrupções em suas publicações. Segundo Sousa (2014), a revista enfrentou
problemas devido ao descaso de incentivos à cultura piauiense, uma vez que algumas
gestões não repassavam verbas para a elaboração da revista. O que levou aos
conselheiros editoriais a recorrerem a outras entidades públicas, ou até mesmo
particulares. Por isso, em todas as edições da amostra tem anúncios publicitários de
lojas e produtos, e, propagandas de órgãos estatais, como a CEPISA e TELEPISA. Isto
demonstra que mesmo sendo uma publicação institucional produzida por um órgão
estatal, a Revista Presença não conseguia ter sua produção totalmente desvinculada do
mercado.
As políticas culturais, os investimentos (ou a falta deles) e a valorização da
cultura local eram alguns dos debates apresentados na revista. A cultura de uma forma
geral era um tema recorrente, principalmente, nos artigos. Essas discussões sobre a
situação do setor cultural piauiense mostra que a revista buscava uma veracidade em
suas publicações, por não tentar maquiar as problemáticas locais, e, sim, trazer essas
questões de uma forma crítica.
5 Considerações finais
A forma com que a cultura é tratada pela sociedade reflete na abordagem que é
dada pelo jornalismo. Assim, a relação dos indivíduos com as manifestações culturais é,
também, influenciada pelo espaço que os veículos de comunicação dão a elas. Os dados
coletados e analisados levam à interpretação de que a Revista Presença, no período 1974
a 2000, manteve o objetivo de promover debates sobre o setor cultural piauiense.
No período da amostra, a revista abordou a temáticas culturais utilizando textos
dos gêneros de jornalismo informativo (entrevistas, notícias e reportagens) e opinativo
(artigos, cartas, caricaturas, editoriais e resenhas), que ocupam a maior parte dessas
publicações. Já os gêneros de jornalismo interpretativo e utilitário aparecem na revista,
mas de forma isolada.
A Revista Presença se propõe a informar os leitores sobre ações e eventos
culturais, e, a trazer opiniões de artistas, intelectuais e personalidades sobre diversas
temáticas culturais do Piauí. As interrupções de sua produção e as mudanças estéticas
não interferiram no objetivo principal da revista. A revista se propunha a estimular o
senso crítico dos leitores.
O fato da Revista Presença ser um veículo institucional interferiu em suas
publicações fez com que discursos de autoridades, documentos oficiais e relatórios
fossem incorporados ao conteúdo da revista. Ironicamente, a revista também foi afetada
pelo descaso dos órgãos estatais com as atividades e iniciativas culturais, segundo Sousa
(2014), sendo prejudicada por vezes pela falta de recursos. A isso se deve a existência
de anúncios publicitários e propagandas na revista, pois a falta de recursos levou a que
outras instituições públicas e empresas chegassem a financiar a produção da revista.
Mesmo assim, é possível se concluir que apesar de ser um veículo institucional e
sofrer influência do governo do Estado Piauí, a Revista Presença tem liberdade para
abordar as temáticas culturais se comparadas às produções de veículos comerciais.
Assim, é possível concluir que a revista contribuiu para a divulgação das práticas
culturais no estado, lutando constantemente com a situação de descaso com que o setor
cultural é tratado. Além, de promover o debate e a reflexão através de suas publicações.
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