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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO DIREITO BRASILEIRO E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS PAIS DÉBORA ALEGRANSI Itajaí, julho de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO DIREITO BRASILEIRO E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS PAIS

DÉBORA ALEGRANSI

Itajaí, julho de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO DIREITO BRASILEIRO E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS PAIS

DÉBORA ALEGRANSI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professora MSc. Maria Fernanda Girardi

Itajaí, julho de 2006

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iii

AGRADECIMENTOS

Devo agradecimento a várias pessoas pela

conclusão deste trabalho.

Primeiramente agradeço aos meus pais, dos

quais recebi o dom mais precioso... A VIDA!

Trabalharam dobrado, sacrificaram seus sonhos

para me favorecer, sendo muito além de pais,

mas amigos e companheiros mesmo nas horas

em que meus ideais pareciam distantes e

intangíveis.

Agradeço a minha querida e amada irmã que

esteve junto nos momentos de desespero,

sempre me apoiando.

Agradeço principalmente a minha querida

orientadora de conteúdo, a professora Maria

Fernanda Girardi, pela paciência, ensinamento e

disposição no decorrer desta jornada árdua.

Agradeço a todos os meus grandes amigos, os

quais conviveram comigo nos momentos mais

adversos e que estarão sempre presentes de

algum modo em minha vida.

Obrigada Senhor Deus, que me iluminou,

trazendo-me conforto nos momentos mais difíceis,

de angústia e tristeza pelos quais passei, e que

graças ao Senhor superei e estou aqui.

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DEDICATÓRIA

Dedico carinhosamente a conclusão deste

trabalho às pessoas que sempre estiveram ao

meu lado, de alguma maneira me dando força e

torcendo para um dia assistir de perto a minha

vitória.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, julho de 2006

Débora Alegransi Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pel[a] graduand[a] Débora Alegransi, sob o título o

Instituto do Poder Familiar: abordagem histórico - evolutiva, foi submetida em

[Data] à banca examinadora composta pelos seguintes professores: [Nome dos

Professores ] ([Função]), e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

[Local] , [Data]

[Professor Título Nome] Orientador e Presidente da Banca

[Professor Título Nome] Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil

ART. Artigo

p. Página

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

STJ Superior Tribunal de Justiça

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Casamento

“É o contrato de direito de família que tem por fim promover união do homem e

da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais,

cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”1.

Dano

“Na responsabilidade civil, crucial para a sociedade, é a existência ou não de

prejuízo experimentado pela vítima. Portanto, o dano é o principal elemento

daqueles necessários à configuração da responsabilidade civil”.2

Destituição ou perda do Poder Familiar

“Sanção aplicada aos pais pela infração ao dever genérico de exercerem o pátrio

poder de acordo com regras estabelecidas pelo legislador, e visam atender ao

maior interesse do menor. É sanção de maior alcance e corresponde á

infringência de um dever mais relevante, de modo que, embora não se revista de

inexorabilidade, não é como a suspensão, medida de índole temporária. Ademais,

a destituição é medida imperativa e não facultativa”.3

1 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 27 ed.atual. por Francisco José Cahali, com anotações ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 6. p.19 2 DA SILVA, Américo Martins. O dano moral e sua reparação civil. 2 ed. Revista atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p.25. 3 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 27 ed.atual. por Francisco José Cahali, com anotações ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 6. p.411.

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Extinção do Poder Familiar

“O poder familiar se extingue pela morte dos pais ou do filho, pela emancipação

do filho, pela maioridade do filho, pela adoção e pela decisão judicial decretando a

perda do poder familiar”.4

Família

“No direito positivo brasileiro atual, a expressão ‘família’, na acepção jurídica do

termo, não se limita mais à noção religiosa católica. Família, consoante dispõe a

lei, é a entidade constituída pelo casamento civil entre homem e mulher; pela

união estável entre o homem e a mulher; e pela relação monoparental entre o

ascendente e qualquer de seus descendentes”.5

Família monoparental

“É a entidade familiar constituída por um ascendente e o seu descendente”.6

Pais

“Ascendentes imediatos do sexo masculino e feminino”.7

Poder Familiar (ou Pátrio Poder)

“Pode ser definido como um conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e

bens do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por

amos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica

lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho”.8

Reparação do dano

4 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 241. 5 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. São Paulo: RT, 2004.v. 5. p. 44. 6 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. p. 261. 7 CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário compacto do direito. 2. ed. Ver. E ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 8 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 18. ed. Aum, e atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 447.

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“A reparação nada mais é do que fazer o reparo no que foi danificado, fazer

conserto, fazer restauração, etc... A reparação constitui ato pelo qual alguém está

obrigado a restabelecer o seu estado original (...)”9

Reparação de danos morais

“Tem como escopo, antes de tudo, a preocupação em manter a harmonia e o

equilíbrio que orienta o Direito e lhe constitui o elemento animador, a ampla

reparação dos danos morais constitui obrigação fundamental; faz parte de um

mecanismo mantenedor da harmonia e do equilíbrio sócias”.10

Responsabilidade Civil

“A responsabilidade civil por ser repercussão do dano privado, tem por causa

geradora o interesse em restabelecer o equilíbrio jurídico alterado ou desfeito pela

lesão, de modo que a vítima poderá pedir a reparação do prejuízo causado,

traduzida na recomposição do statu quo ante ou numa importância em dinheiro”.11

Responsabilização Civil dos Pais

“Os pais são civilmente responsáveis pelos atos dos filhos menores que estejam

em sua companhia e sob sua guarda”.12

Suspensão do Poder Familiar

“É, pois, uma sanção que visa a preservar os interesses do filho, afastando-o da

má influência do pai que viola o dever de exercer o poder familiar conforme a

lei”.13

União estável 9 DA SILVA, Américo Martins. O dano moral e sua reparação civil. p. 307. 10 DA SILVA, Américo Martins. O dano moral e sua reparação civil. p. 324. 11 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17 ed. Aum. E atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. v.7. p. 20. 12 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p.422. 13 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 457.

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“É a relação íntima e informal, prolongada no tempo e assemelhada ao vínculo

decorrente do casamento civil, entre sujeitos de sexos diversos, que não possuem

qualquer impedimento matrimonial entre si”.14

14 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. p. 213.

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SUMÁRIO

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RESUMO ......................................................................................... XV

INTRODUÇÃO.................................................................................... 1

CAPÍTULO 1....................................................................................... 4

O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR: ABORDAGEM HISTÓRICO-EVOLUTIVA ....................................................................................... 4

1.1 PÁTRIO PODER EM ROMA ANTIGA....................................................... ..4

1.2 PÁTRIO PODER NO DIREITO BRASILEIRO ANTERIOR À PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988............................................................................................. 10

1.3 A FAMÍLIA, O PÁTRIO PODER E A CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988...............................................................12

1.4 O PÁTRIO PODER NA LEI Nº 8.069/90................................................... 17

CAPÍTULO 2..................................................................................... 22

O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO.................................................................................... 22

2.1 CONCEITUAÇÃO...................................................................................... 22

2.2 CARACTERÍSITICAS DO PODER FAMILIAR..........................................24

2.3 TITULARIDADE E SUJEITOS DO PODER FAMILIAR............................ 27

2.4 O EXERCICIO DO PODER FAMILIAR..................................................... 29

CAPÍTULO 3..................................................................................... 34

A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS PAIS FRENTE AO INSTITUTO DO PODER FAMILIAR: EXTINÇÃO, DESTITUIÇÃO, SUSPENSÃO E REPARAÇÃO DE DANOS..................................... 34

3.1 DA EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR.................................................... 34

3.2 DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR................................................ 38

3.3 DA PERDA OU DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR.......................... 39

3.4 DA REPARAÇÃO DE DANOS.................................................................. 41

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 48

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 51

ANEXOS........................................................................................... 55

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objeto o instituto do Poder

Familiar no Direito Brasileiro. Seu objetivo principal é verificar, com base,

principalmente, na doutrina e legislação brasileira, o instituto do Poder Familiar

enfatizando a Responsabilização Civil dos Pais. Seus objetivos específicos

são: obter dados históricos e atuais sobre o Poder Familiar, a partir da doutrina

e legislação pátria; verificar, legal e doutrinariamente, a configuração da

Responsabilização Civil dos Pais perante os filhos que se encontram sob seu

Poder Familiar. Quanto à metodologia empregada, registra-se que a Fase de

investigação e na do Relatório dos Resultados foi utilizado o Método Indutivo.

Observou-se, ao final, que o não cumprimento dos deveres paternos, ou o

abuso na consecução dos mesmos, acarretará, para o genitor faltoso, na

esfera cível, conseqüências jurídicas, tais quais: perda ou suspensão do Poder

Familiar e/ou indenização por eventuais danos causados aos filhos menores.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o instituto do

Poder Familiar no Direito Brasileiro e a Responsabilização Civil dos pais.

Seus objetivos são: institucional: produzir uma

monografia para obtenção de grau de bacharel em Direito pela Universidade

de Vale do Itajaí – UNIVALI; b) geral: verificar, com base, principalmente, na

doutrina e legislação brasileira, o instituto do Poder Familiar e a

Responsabilização Civil dos Pais; c) específicos: obter dados históricos e

atuais sobre o instituto do Poder Familiar, a partir da doutrina e legislação

pátria; verificar, legal e doutrinariamente, a configuração da Responsabilização

Civil dos Pais perante os filhos que se encontram sob seu Poder Familiar.

A opção pelo tema deu-se ao grande interesse da

acadêmica pelo Direito de Família brasileiro, levando-a a aprofundar seu

conhecimento no instituto do poder familiar.

Quanto à metodologia15 empregada, registra-se que nas

Fases de Investigação e do Relatório dos Resultados – expresso nesta

monografia - foi utilizado o Método Indutivo. Nas diversas fases da Pesquisa,

foram acionadas as Técnicas do Referente16, da Categoria17, do Conceito

Operacional18 e da Pesquisa Bibliográfica.

15“Na categoria metodologia estão implícitas duas categorias diferentes entre si: método de investigação e técnica”. Conforme PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 7 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002, p.87 (destaque no original). 16 “Referente é a explicação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. In:

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2

A monografia se encontra dividida em três capítulos. Para

tanto, inicia-se, no Capítulo 1, uma abordagem histórico-evolutiva do instituto

do Poder Familiar, desde a origem e evolução da família, direcionando-se para

sua origem histórica em Roma Antiga, evolução no Brasil, até a promulgação

da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

No Capítulo 2, tratar-se-a do instituto do Poder Familiar

no atual Direito Brasileiro, fornecendo as bases conceituais, pressupostos para

a caracterização do Poder Familiar, a titularidade e o exercício do mesmo.

No Capítulo 3, por sua vez, apresentar-se-a a

responsabilização civil dos pais frente ao instituto do Poder Familiar, ou seja,

consubstanciada na possibilidade de extinção, suspensão e destituição deste

Poder, inclusive na reparação de danos, se existentes, também foram

utilizadas jurisprudências como forma ilustrativa.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes hipóteses: a) O pátrio poder de Roma Antiga, embora seja o

precursor do atual Poder Familiar brasileiro, em muito se difere deste, em

relação à autoridade paterna;

b) A função atual do Poder Familiar brasileiro é a

proteção, em todos os sentidos, dos filhos enquanto menores de idade e não

emancipados;

PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. p. 62 17 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia” In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. p. 31 18 “Conceito operacional (cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para efeitos das idéias que expomos” In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. p. 56

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3

c) O exercício do Poder Familiar por parte dos genitores

implica no cumprimento de vários deveres. A inobservância destas obrigações

resultará em várias conseqüências jurídicas que, na esfera cível, podem ser

denominadas Responsabilização Civil dos Pais.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados comentários sobre a

confirmação ou não das hipóteses levantadas.

Em virtude da existência de elevado número de categorias e

conceitos operacionais, importantes para a melhor compreensão deste trabalho,

optou-se pela elaboração de um rol específico.

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CAPÍTULO 1

O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR: ABORDAGEM HISTÓRICO-EVOLUTIVA

1.1 PÁTRIO PODER EM ROMA ANTIGA19

Preliminarmente, é importante ressaltar que, em Roma

Clássica, a família pode ser entendida como o complexo de pessoas

submetidas à patria potestas20 de um chefe, que é o paterfamilias. A pátria

potestas não se extingue pelo casamento dos filhos que, tenham a idade que

tiverem, sejam casados ou não, continuam a pertencer à família do chefe.

O caráter arcaico do poder que o paterfamilias tinha

sobre seus descendentes era revelado pela total, completa e duradoura

sujeição destes àquele, sujeição esta que tornava a situação dos

descendentes semelhante a dos escravos, enquanto o paterfamilias vivesse.

Conforme Marky21,

O paterfamilias exercia um poder de vida e de morte sobre seus

descendentes (ius vitae ac necis), o que já era reconhecido pela

Lei das XII Tábuas (450-451 a.C). Esse poder vigorou em toda

sua plenitude até Constantino (324-337 d.C). O paterfamilias

19 Idade Antiga é aquela que vai de 4000 a.C à 3500 a.C até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C e início da idade média, século V. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Antiga 20 Entende-se por pátria potestas “Poder jurídico que o paterfamilias tem sobre os seus filhos legítimos de ambos os sexos e que se estendeu sobre os descendentes legítimos dos filhos, sobre os estranhos que ingressaram na família por adoção e sobre os filhos naturais legitimados”.In: MARKY, Thomas. Curso elementar de direito romano. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 154. 21 MARKY, Thomas. Curso elementar de direito romano. . 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 155.

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5

podia matar o filho recém-nascido, expondo-o (abandono), até que

uma constituição dos imperadores Valentiniano I e Valêncio (em

374 d.C) proibisse tal prática. A venda de filho era também

possível. O filho vendido encontrava-se na situação especial de

pessoa in mancipio, pela qual ele conservava seus direitos

públicos. Continuava cidadão romano. Quanto aos seus direitos

privados, todavia, ele os perdia. No direito clássico tal venda só se

praticava para fins de emancipação ou para entregar a vítima o

filho que cometer um delito (noxae datio). Originariamente o

paterfamilias podia casar seus filhos, mesmo sem o

consentimento destes. No direito clássico, porém, exigia-se o

consentimento dos nubentes. Por outro lado, o pátrio poder, tão

amplo originariamente, incluía o direito de o pai desfazer o

matrimônio de filhos a ele sujeitos.

Nos tempos antigos, quando se deu a formação da

família romana, dentro de um ambiente de exaltado misticismo, o pátrio poder

era quase absoluto. Neste sentido, Meira22 diz que,

O “pater” tinha sobre seus filhos um poder tão grande como o que

exercia sobre os escravos. Mas embora pudesse rejeitar os

recém-nascidos e até abandoná-los, já não podia matá-los, desde

a promulgação da Lei XII Tábuas. Quanto aos filhos, em geral, o

pater dispunha do direito de vida e morte (jus vitae necisque).

Essa medida extrema, entretanto, não podia ser executada

livremente, pois dependia do que ficasse decidido num conselho

de família, composto pelos membros mais idôneos e mais idosos.

Também o pater podia vender os filhos como escravos, além do

Tibre.

Mais adiante, Meira23 assevera que, o paterfamilias

dispunha de poderes exagerados, pois era ele quem fazia e desfazia quanto

ao patrimônio da família, por testamento, chegando ao absurdo de destinar o

patrimônio a quem bem entendesse, mesmo que deixasse seus herdeiros no

22 MEIRA, Raphael Corrêa de. Curso de direito romano. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1987. p.137 e 138.

23 MEIRA, Raphael Corrêa de. Curso de direito romano. p. 138.

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6

prejuízo. Também com seu poder, podia nomear tutor aos filhos, casava-os e

contraía por eles os esponsais, possuía um domínio total, que não havia a

quem recorrer.

No direito Romano antigo, o pátrio poder visava somente

o interesse do chefe de família, ninguém podia opinar ou ter suas próprias

vontades satisfeitas.

Ao contrário da família moderna24, baseada no

casamento do chefe que, assim, fundara a sua família, a família de Roma

antiga é de base patriarcal: tudo gira em torno de um paterfamilias ao qual,

sucessivamente, se vão subordinando os descendentes, até que ocorra a

morte do chefe25.

Segundo Cretella Júnior26,

Na família romana, tudo converge para o paterfamilias do qual

irradiam poderes em várias direções: sobre os membros da família

(pátria potestas), sobre a mulher (manus), sobre as pessoas “in

mancípio” (mancipium), sobre os escravos (dominica potestas),

sobre os bens (res) que lhe pertencem (dominium).

O sui júris é o pater familias; a mulher sui júris é a

materfamilias. Esta, entretanto, nunca tem o pátrio poder e, por isso não

transmite a outrem a sua família, “o que levou Ulpiano a dizer de modo feliz

24 A Idade Média teve início na Europa com as invasões germânicas, no século V, sobre o Império Romano do Ocidente. Essa época estende-se até o século XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano. In: http://www.suapesquisa.com/idademedia. 25 POLETTI, Ronaldo. Elementos de direito romano público e privado. 1.ed. Brasília, DF: Livraria e Editora Brasília Jurídica, 1996. p. 143.

26 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito romano: o direito romano e o direito civil brasileiro. 6. ed.rev. e aum,. Rio de Janeiro: Forense, 1978. p.110.

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7

que a mulher, do ponto de vista civil, é o começo e o fim de sua própria

família”27.

Conforme elucida Alves28, os poderes do pater familias

enfeixados na patria potestas são absolutos: “o pater famílias pode ser

comparado a um déspota.”

Para Cretella Júnior29, “quando morre o paterfamilias, as

pessoas colocadas imediatamente sob sua potestas tornam-se sui júris e os

homens agora patres, formam novas famílias”.

Cretella Júnior30 menciona, ainda, que,

O paterfamilias dispõe do patrimônio da família como coisa sua,

enquanto vivo, deixando-o por testamento a quem quiser, mesmo

em prejuízo dos herdeiros. Por sua vez, o filiusfamilias não tem,

em princípio, personalidade jurídica, não podendo praticar atos

jurídicos, tornar-se credor ou devedor, nem ser proprietário. (...)

Aos poucos se atenua o rigor da patria potestas e o filiusfamilias já

pode representar o pater em certos atos jurídicos. Na República, o

filius representa o pater até para contrair obrigações.

Importante se faz ressaltar que para Coulanges31, a

família se compunha de pai, mãe, filhos e escravos. Por menor que este grupo

fosse, precisava ter disciplina; então, o que havia nas casas deste grupo era a

religião doméstica, o deus que os gregos chamavam de senhor do fogo

27 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito romano: o direito romano e o direito civil brasileiro. p.113.

28 ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano II. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, item 277 29 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito romano: o direito romano e o direito civil brasileiro. p.116 e 117.

30 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito romano: o direito romano e o direito civil brasileiro. p.113.

31 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga, estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma. Bauru-São Paulo: Edipro, 1998. p. 75.

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doméstico, este ficava acima do poder do pai, pois se tratava de crença

existente na alma humana.

Para Coulanges32,

O pai é o primeiro junto ao fogo doméstico: ele o acende e o

conserva; é ele o pontífice. Em todos os atos religiosos a função

mais elevada é desempenhada pelo pai; é ele que degola a

vítima; é sua boca que pronuncia a fórmula de oração que deve

atrair sobre si e os seus a proteção dos deuses. A família e o culto

são perpetuados através dele; tão somente o pai representa toda

a seqüência dos descendentes. O culto doméstico repousa sobre

ele. Ele pode quase dizer como o hindu: sou eu que sou o deus.

Quando a morte chegar, ele será um ser divino que os

descendentes invocarão.

Já a mulher, na visão de Coulanges33, não era colocada

em uma posição tão elevada, participava de atos religiosos, mas não era a

senhora do fogo doméstico, tanto na morte como na vida esta não passa de

um membro de seu esposo pois, para todos os atos da vida religiosa, ela

necessitava de um chefe e, para todos os atos da vida civil, ela necessitava de

um tutor.

A Lei de Manu dizia que a mulher, durante sua infância

dependia de seu pai; durante sua juventude, de seu marido; com a morte do

marido, dependia de seus filhos; se não tivesse filhos, dos parentes próximos

do marido; pois uma mulher não deveria nunca governar-se por sua vontade.34

32 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga, estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma p.75.

33 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga, estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma. p. 75 e 76.

34 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga, estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma. p.77.

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Necessário se faz observar que existiam vários direitos

que eram atribuídos ao pai, um deles seria, para Coulanges35:

Direito de reconhecer o filho por ocasião de seu nascimento ou de

rejeitá-lo. Este direito é concedido ao pai pelas leis gregas tanto

quanto pelas leis romanas. Por mais bárbaro que seja, não está

em contradição com os princípios sobre os quais está fundada a

família. A filiação, mesmo incontestável, não basta para permitir a

admissão ao círculo sagrado da família: são necessários o

consentimento do chefe religioso e a iniciação ao culto. Enquanto

o filho não estiver associado à religião doméstica, nada significará

para o pai.

No Direito Romano Antigo, o pai podia até mesmo vender

seu filho, visto que ele podia dispor de toda a propriedade da família, podendo

o filho ser encarado como uma propriedade, já que seus braços e seu trabalho

constituíam fonte de renda. Assim Coulanges36 leciona que,

(...) o pai, podia a seu critério, conservar para si este instrumento

de trabalho ou cedê-lo a outro. Ceder, neste caso, era a

designação que se dava à venda do filho.(...). Parece certo que o

filho vendido não se convertia totalmente em escravo do

comprador. O pai podia estipular no contrato que o filho lhe seria

revendido. Mantinha, assim, seu poder sobre ele, e após tê-lo

retomado, ainda podia vende-lô novamente. A lei das Doze

Tábuas autorizava tal operação até três vezes, mas declarava que

depois da venda tripla o filho seria, enfim, liberado do poder

paterno. Pode-se julgar por isso quanto no direito antigo a

autoridade do pai era absoluta.

Como pôde ser observado o paterfamilias, próprio da

organização romana antiga, tinha poderes absolutos e, com relação à prole,

detinha, inclusive o poder de vida e morte, venda, entre outros.

35 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga, estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma, p.79.

36 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga, estudos sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma. p. 80.

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1.2 PÁTRIO PODER NO DIREITO BRASILEIRO ANTERIOR À

PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO

BRASIL DE 198837.

Era defensável a posição do Código Civil de 1916, antes

da promulgação da atual Constituição Federal, onde deferia a proeminência do

marido no exercício do pátrio poder, conforme se depreende do artigo 380 do

Código Civil de 1916, que assim prescrevia:

Art. 380. Durante o casamento compete o pátrio poder aos pais,

exercendo-o o marido com a colaboração da mulher. Na falta ou

impedimento de um dos progenitores passará a outro a exerce-lô

com exclusividade.

Parágrafo Único. Divergindo os progenitores, quanto ao exercício

do pátio poder, prevalecerá a decisão do pai, ressalvado à mãe o

direito de recorrer ao juiz para solução da divergência.

O artigo acima citado deixa claro que é o marido quem

exerce o pátrio poder durante o casamento, por ser ele o chefe de família.

Neste sentido, elucida Santos que,

O pátrio poder, quem exerce é o pai, independentemente de

qualquer interferência da mulher, se bem que a ambos os pais o

filho deva respeito e sobre este ambos tenham autoridade. (...)

Dando preferência ao pai, para o exercício do pátrio poder, não

quer o Código dizer que não deva ele ouvir sua mulher em tudo

que diga respeito aos interesses do filho. O que a lei quer

significar é que, em qualquer hipótese, mesmo havendo

divergência entre os cônjuges, prevaleça a vontade paterna, não

existindo quanto ao exercício do pátrio poder por parte do marido

qualquer restrição por influência da mulher.

37 Doravante denominada Constituição Federal de 1988.

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Prosseguindo, ainda na idéia de Santos38, este diz que,

O pai exerce o pátrio poder por si mesmo, sem nenhuma

influência da mulher, a não ser que voluntariamente cumpra o

dever de aceitar sugestões suas e lhe ouça a opinião, em atenção

à sua posição de mãe, sempre sincera nos seus desejos de que

sejam bem solucionados os interesses do filho, para sua felicidade

e bem estar. Mas não pode, com apoio na lei, a mulher se opor,

de qualquer forma, ao que queira o marido fazer no exercício do

pátrio poder.

O Código Civil de 1916, em seu artigo 382 rezava que,

“Dissolvido o casamento pela morte de um dos cônjuges, o pátrio poder compete

ao cônjuge sobrevivente.”

Então, para Santos39,

Com a morte de um dos cônjuges, é produzido o efeito de

transferir o pátrio poder ao cônjuge sobrevivente. Assim é que,

morto o marido, o pátrio poder passa a ser exercitado pela mulher.

Em face do texto legal, é indiferente que o sobrevivente seja o pai

ou seja a mãe. Tanto assim que o Código não fala em morte do

marido, mas, sim, em morte de um dos cônjuges.

Pode-se perceber que no instituto do pátrio poder anterior

à promulgação da atual Constituição Federal, o pai detinha o pátrio poder,

podendo pedir opiniões à mãe, sem perder a sua autoridade, mas caso este

faltasse, à mulher (e mãe) caberia o exercício exclusivo do pátrio poder.

38 SANTOS, João Manuel de Carvalho. Código Civil Brasileiro Interpretado. 9. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1978. p.45.

39 SANTOS, João Manuel de Carvalho. Código Civil Brasileiro Interpretado. p.51

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1.3 A FAMÍLIA, O PÁTRIO PODER E A CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

A Constituição da República Federativa do Brasil,

promulgada em 05 de outubro de 1988, trouxe grandes alterações no que se

refere à família e ao Pátrio Poder, pois foi proclamada a plena igualdade de

direitos e deveres do homem e da mulher na vida conjugal e, também garante

aos filhos a total igualdade de direitos e qualificações para os matrimoniais ou

não, e os adotados, isto de acordo com o pensamento de Oliveira40.

Pela primeira vez na história brasileira, a Constituição

Federal de 1988 aborda a questão da criança como prioridade absoluta, e a

sua proteção é dever da família, da sociedade e do Estado. Em seu artigo 226,

reconheceu, como espécies de família, além da matrimonial, a família formada

pela união estável e pela monoparental.

Cretella41 diz que,

(...) pela primeira vez, no Direito brasileiro, é reconhecida a união

estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar, nos

termos da lei, desde que a estabilidade seja legítima, e que as

regras jurídicas constitucionais protegem a entidade familiar como

instituição.

De acordo com o conceito de Lisboa, a união estável é a

relação íntima e informal, prolongada no tempo, a qual se assemelha ao

40 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. A Constituição Federal e as inovações no direito de família. In: COLTRO, Antônio Carlos Mathias (Org.). O direito de família após a Constituição Federal de 1988. São Paulo: Celso Bastos e Instituto de Direito Constitucional, 2000. p. 23-24.

41 CRETELLA Júnior, José. Comentários à constituição brasileira de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. p. 4529.

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vínculo decorrente do casamento civil, entre sujeitos de sexos diversos, os

quais não possuem qualquer impedimento matrimonial entre si.42

Para Fachin43, a união estável e as uniões livres são

fontes das relações de família, onde a lei não fixa um período mínimo de

tempo para que fique caracterizada, importando somente preencher os

requisitos como, diversidade de sexos, inexistência de impedimento

matrimonial entre os conviventes, exclusividade, notoriedade ou publicidade da

relação, aparência de casamento perante a sociedade, coabitação, fidelidade,

informalização e durabilidade.

A relação monoparental, de acordo com a idéia de

Lisboa, é a entidade familiar constituída por ascendente e o seu descendente,

onde a Constituição faz o reconhecimento expresso de tal relação, no intuito

de proteger os interesses da entidade familiar existente entre a mãe solteira e

sua prole e o avô ou avó e seu neto ou neta.44

Lisboa45 afirma que,

há relação monoparental entre qualquer dos pais e seus filhos,

ante a morte, o desaparecimento ou ausência do outro genitor;

entre qualquer dos avós e seus netos, ante a morte, o

desaparecimento ou a ausência dos pais; entre qualquer dos

bisavós e seus bisnetos, ante a morte, o desaparecimento ou a

ausência dos avós e dos pais; e assim por diante.

42 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 2.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p.213.

43 FACHIN, Luiz Edson. Elementos Críticos do direito de família. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 228.

44 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, p. 261. 45 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, p. 261.

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Lisboa assevera ainda que podem ser consideradas

relações monoparentais, além daquelas existentes entre o ascendente e o

descendente, as relações familiares entre o tio ou tia e o sobrinho ou sobrinha,

as relações familiares entre os irmãos, e entre primos, sendo possível também

a relação familiar entre o cônjuge viúvo e o parente ascendente ou

descendente do outro.46

Conforme prescrevia o Código Civil de 1916, a família

tem origem no casamento, mas de acordo com a regra jurídica constitucional

vigente, o fato natural – a união estável do homem e da mulher – é suporte

jurídico bastante para ser reconhecido pelo Estado, que lhe dá proteção,

reconhecendo-a.47

Para Wald48, “o texto da vigente Constituição não deixa

mais dúvida de que ficou abolida a figura do chefe da sociedade conjugal.(...)

Revogados, em conseqüência, todos os dispositivos do Código Civil que

concediam prerrogativas ao marido.”

Com relação ao poder familiar Gomes49 elucida que,

O instituto do pátrio-poder resulta de uma necessidade natural.

Precisa o ente humano, durante sua infância, de quem o crie e

eduque, ampare e defenda, guarde e cuide dos seus interesses,

em suma, tenha a regência de sua pessoa e seus bens. As

pessoas naturalmente indicadas para o exercício dessa missão

são os pais. A eles confere a lei, em princípio, esse ministério,

organizando-o no instituto do pátrio-poder.

46 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, p. 264. 47 CRETELLA Júnior, José. Comentários à constituição brasileira de 1988, p. 4526. 48 WALD, Arnold. O novo direito de família. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 82. 49 GOMES, Orlando. Direito de Família. 14 ed. Rio de Janeiro, Forense, 2002. p. 299.

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Então, continuando ainda o pensamento de Gomes50,

este menciona que, recentemente veio à compreensão de que o poder

atribuído ao pai deve ser exercido no interesse do filho, perdendo assim a

organização despótica inspirada no direito romano, deixando de ser um

conjunto de direitos do pai sobre a pessoa dos filhos, amplos e ilimitados para

se tornar um complexo de deveres.

Para Diniz51, o conceito de poder familiar na atualidade

seria,

(...) conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do

filho menor não emancipado, exercido em igualdade de

condições, por ambos os pais, para que possam desempenhar os

encargos que a norma jurídica lhes impões, tendo em vista o

interesse a proteção do filho. Ambos têm, em igualdade de

condições, poder decisório sobre a pessoa e bens de filho menor

não emancipado. Se, porventura, houver divergência entre eles,

qualquer deles poderá recorrer ao juiz a solução necessária,

resguardando o interesse da prole (CC, art. 1690, parágrafo único)

De acordo com a abrangência do poder familiar, Diniz52

elucida ainda que,

A hipótese-padrão é a da família na qual o pai e a mãe estão vivos

e unidos pelo enlace matrimonial ou pela união estável, sendo

ambos plenamente capazes. Nesta circunstância o poder familiar

é simultâneo, o exercício é de ambos os cônjuges ou conviventes;

havendo divergência entre eles, qualquer deles tem o direito de

recorrer ao juiz, para a solução do problema, evitando-se que a

decisão seja inexorável. Deveras é o que dispõe o trigo 1.631 e

parágrafo único do Código Civil: Durante o casamento compete o

50 GOMES, Orlando. Direito de Família. p. 299. 51 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. V. 5, 18 ed., São Paulo: Saraiva, 2002. p. 447.

52 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 449.

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poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles

passará o outro a exercê-lo com exclusividade. Divergindo os

progenitores quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado

a qualquer deles recorrer ao juiz para a solução do desacordo.

Também elucida Cretella que, de acordo com os deveres

dos pais e dos filhos: “Cabe aos pais o dever de assistência, de criação e de

educação dos filhos menores. Quanto aos filhos maiores, eles têm o dever de

ajudar e de amparar os pais na velhice, na carência e na enfermidade.53

A Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, traz em seu artigo 227 que,

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança

e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,

à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência

familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão.

Portanto, o direito à educação é o primeiro dos direitos

que o constituinte enumera entre os direitos sociais, antepondo-o à saúde,

capitulado em segundo lugar.

Com efeito, saúde e educação caminham juntos, sendo a

educação um dever do Estado. Já o direito à profissionalização compete

privativamente à União, à família, à sociedade e ao Estado, com absoluta

prioridade, assegurar à criança e ao adolescente a profissionalização,

tratando, em conjunto, de orientá-los mediante testes educacionais, para a

profissão que, no futuro, irão exercer, cabendo a estes também, assegurar à

criança e ao adolescente o direito à convivência familiar, integrando-a no lar,

53 CRETELLA Júnior, José. Comentários à constituição brasileira de 1988. p.4550.

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propiciando-lhe condições favoráveis a que se ocupa com tarefas da casa, seu

ambiente, normal, por excelência.

Ainda se torna importante ressaltar que a regra jurídica

constitucional determina, que é dever da família, da sociedade e do Estado,

colocar “a salvo” de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão a criança e o adolescente.54

E mais, de acordo com a Constituição Federal, seu artigo

229, “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos

maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou

enfermidade.”

Então, com base em preceitos constitucionais, percebe-se

que, atualmente, o pátrio poder é exercido por ambos os pais, em igualdade de

condições, detendo homens e mulheres os mesmos direitos, tendo

responsabilidade sobre seus filhos até sua maioridade, no mínimo.

1.4 O PÁTRIO PODER NA LEI Nº 8.069/90

A Lei nº 8.069/90, denominada Estatuto da Criança e do

Adolescente, é fruto do esforço conjunto de milhares de pessoas e

comunidades empenhadas na defesa e promoção das crianças e

adolescentes, tendo por objetivo a proteção integral destes, de uma maneira

em que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu pleno

desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e

religioso55.

54 CRETELLA Júnior, José. Comentários à constituição brasileira de 1988. p.4540-4543. 55 BRASIL. Lei n°8.069/90. 3ªed, 2000.p.11-13.

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A criação desta lei tem a intenção de que haja

contribuição para a mudança de mentalidade na sociedade brasileira, a qual

infelizmente, está habituada a se omitir diante das injustiças de que são

vítimas crianças e adolescentes, e se houver respeito à lei, a opressão e o

abandono darão lugar à justiça, à solidariedade e ao amor56.

Menciona Carvalho57 que,

O Estatuto da Criança e do Adolescente eliminou todo e qualquer

ranço de autoridade paterna, proclamando, de uma vez por todas,

a igualdade de condições do pai e da mãe, na gestão do pátrio

poder, paridade essa que o legislador de 1962 não teve coragem

de decretar, sem rebuços.

Alguns artigos da Lei 8.069 reproduzem e aprofundam as

normas constitucionais do artigo 227 da Constituição Federal. Então o artigo 3°

ao estabelecer que a “criança e o adolescente gozam de todos os direitos

fundamentais inerentes à pessoa humana...” inclui a omissão da mãe que, por

não fazer valer o direito do filho, de ver reconhecida sua filiação paterna,

expõe-no a privações, como descumprimento do dever maternal. Afinal, um

dos direitos fundamentais inerentes ao ser humano é o de ter um pai58.

Em seu artigo 4°, o Estatuto da Criança e do Adolescente

estabelece, em primeiro lugar, que são deveres da família, da comunidade, da

sociedade em geral e do Poder Público assegurar os direitos das crianças e dos

adolescentes e dar-lhes a proteção essencial. Tais entidades são aí referidas

como formas básicas de convivência, ou seja, é a comunidade quem recebe

56 BRASIL. Lei n°8.069/90. 3ªed, 2000.p.14 57 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p. 183 58 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder.1ed. Rio de Janeiro: AIDE editora e Comércio de Livros Ltda, 1995. p.201.

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benefícios imediatos do bom tratamento dispensado às crianças e adolescente e

também prejudicada caso o comportamento seja prejudicial á boa convivência59.

Já a responsabilidade da família, é reconhecida como um

dever moral, decorrente da consangüinidade e do fato de ser o primeiro ambiente

em que a criança toma contato com a vida social, sendo a família quem, em

primeiro lugar, pode conhecer as necessidades, deficiências e possibilidades da

criança, estando, assim, apta a dar a primeira proteção. Caso a família for omissa

ao cumprimento de seus deveres ou se agir de maneira inadequada, estará

causando graves prejuízos à criança ou ao adolescente, bem como a todos os

que se beneficiariam com seu bom comportamento e que poderão sofrer os males

de um eventual desajuste psicológico ou social60.

Em se tratando de Poder Público relacionado com a criança

e adolescente, o Estatuto refere-se ao Estado, pois não poderia se atribuir

responsabilidade por meio de lei, a uma entidade que não tivesse competência

constitucional para tratar do assunto61.

Rodrigues,62 elucida que,

O artigo 21 deste, faz parte de um conjunto de mudanças bastante

significativas no quadro institucional-legal do País, mudanças,

essa, que refletem o que vem ocorrendo na sociedade. Inovando

em várias dimensões no que se refere aos direitos da criança e do

adolescente, o Estatuto foi também inovador ao reconhecer o

papel da mulher na sociedade e o direito à igualdade jurídica

recentemente conquistado por ela. Nesse sentido, o Estatuto

acompanha o disposto na Constituição de 1988. No seu artigo

226, § 5°, a Constituição determina que direitos e deveres na

59 BRASIL. Lei n°8.069/90. p. 22 e 23. 60 BRASIL. Lei n°8.069/90. p. 23. 61 BRASIL. Lei n°8.069/90. pág. 23. 62 BRASIL. Lei n°8.069/90. p.97-98.

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sociedade conjugal sejam exercidos em igualdade de condições

pelo homem e pela mulher, aí incluídos, é óbvio, os que dizem

respeito à guarda e cuidados com os filhos.

Com relação ao pátrio poder, o artigo 21 do Estatuto da

Criança e do Adolescente63 reza que,

O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai

e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil,

assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de

discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a

solução da divergência.

Segundo Gomes64 os direitos e deveres compreendidos

no pátrio poder não competem exclusivamente aos pais que constituíram

família matrimonial. A própria mãe pode exercê-lo, não sendo casada(...).

Neste sentido concorda Carvalho65, elucidando que, não

se pode perder de vista que o pátrio poder não decorre do casamento, mas de

ambos os pais, tanto mãe como pai. Então é irrelevante se, ao contrair

casamento anulável, um dos cônjuges está ou não de boa fé.

Diniz66 complementa, dizendo que, durante o casamento,

compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles

passará o outro a exercê-lo com exclusividade. Divergindo os progenitores

quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer

ao juiz para solução do desacordo.

63 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência.5 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p.49.

64 GOMES, Orlando. Direito de Família, p.390. 65 CARVALHO, João Andrades. Tutela, Curatela, Guarda, Visita e Pátrio Poder, p.183. 66 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p.449.

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Cabe ressaltar alguns conceitos e comentários sobre o

pátrio poder na ótica do Estatuto da Criança e do Adolescente. Para Silva67, é

“um feixe de direitos e deveres sob os quais os pais criam, educam e assistem

moral e materialmente os filhos menores.”

Destarte, concebe-se hoje o pátrio poder – ou poder

paternal – como uma missão confiada a ambos os pais para a regência da

pessoa e dos bens dos filhos, desde a concepção até a idade adulta. É função

exercida no interesse dos filhos; é mais um múnus legal do que propriamente

poder68.

É importante perceber que, a Lei n° 8.069/90 foi criada

para conferir direitos à criança e ao adolescente que, anteriormente, não

havia, pois a eles é assegurado uma qualidade de vida, tendo o Estado,

também, o dever de assegurar certos direitos, na falta de seus pais.

No capítulo seguinte, serão apresentados os atuais

contornos do instituto do Poder Familiar, tais como: sua conceituação,

titularidade, características, atribuições, entre outros.

67 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 5 ed.São Paulo: RT, 1989. p.38. 68 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p.451.

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CAPÍTULO 2

O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO

2.1 CONCEITUAÇÃO

No Brasil, o poder familiar não é mais tido como um

direito absoluto e discricionário do pai, mas sim como um instituto voltado à

proteção dos interesses do menor, a ser exercido pelo pai e pela mãe, em

regime de igualdade, conforme determina a Constituição Federal, artigo 5°, I, e

226, § 5°69.

Para se adequar a esta igualdade, foi substituída a

expressão “pátrio poder” por “poder familiar”. Silva diz que o poder familiar é o

conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos

bens dos filhos não emancipados, tendo em vista a proteção destes(...) É o

múnus público, imposto pelo Estado, aos pais, a fim de que zelem pelo futuro

de seus filhos”

O Código Civil de 2002 veio afirmar a igualdade de

participação do homem e da mulher na família, direito este já garantido pela

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, como dito acima, pois

apesar de toda a mudança ocorrida, a substituição do vocábulo pátrio poder

pelo vocábulo poder familiar não tirou o direito/dever de responsabilidade

sobre os filhos, que continua a ser exercido pelo pai e pela mãe.

69 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do pátrio poder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p.48-55

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Rodrigues70 elucida que o pátrio poder é o conjunto de

direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos

filhos não emancipados, tendo em vista a proteção destes.

Na visão de Carvalho71,

O pátrio poder é o complexo de direitos e deveres concernentes

ao pai e à mãe, fundado no Direito natural, confirmado pelo Direito

Positivo e direcionado ao interesse da família e do filho menor não

emancipado, que incide sobre a pessoa e o patrimônio deste filho

e serve como meio para manter, proteger e educar.

Diniz72, conceitua poder familiar como sendo um conjunto

de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não

emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, para

que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impões,

tendo em vista o interesse e a proteção do filho.

Na visão de Lisboa73, há uma série de direitos e deveres

em um casamento civil válido, dentre eles encontram-se o de promoção da

guarda, do sustento e da educação dos filhos, conferindo-se-lhes os meios

possíveis para o desenvolvimento biopsíquico. Cumpre deixar claro que o

exercício do poder familiar independe de casamento civil e sim da filiação.

Logo, os filhos decorrentes de famílias oriundas da união estável e da

monoparental estão sob poder familiar de seus respectivos pais.

Portanto, em resumo, pode-se perceber que o poder

familiar é um conjunto de direitos e deveres, segundo o qual os pais, homem e 70 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. p. 347. 71 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p.176 72 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.447. 73 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. p.267.

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mulher, exercem o poder sobre seus filhos e também sobre os bens dos filhos

menores.

2.2 CARACTERÍSITICAS DO PODER FAMILIAR

O poder familiar segundo o Código Civil de 2002, possui

um caráter protetivo em que, a par de uns poucos direitos, encontram-se

muitos deveres a cargo de seu titular. Pode-se perceber que é de interesse do

Estado assegurar a proteção das novas gerações, pois elas constituem

matéria-prima da sociedade futura. Então o poder familiar nada mais é do que

um múnus público, imposto pelo Estado, aos pais, a fim de que zelem pelo

futuro de seus filhos.74

Ishida75 ressalta que,

O pátrio poder apresenta características bem marcantes: a) é um

munus público, uma espécie de função correspondente a um

cargo privado (poder-dever); b) é irrenunciável: dele os pais não

podem abrir mão; c) é inalienável: não pode ser transferido pelos

pais a outrem, a título gratuito ou oneroso; todavia, os respectivos

atributos podem, em casos expressamente contemplados na lei,

ser confiados a outra pessoa (ou seja, na adoção e na suspensão

do poder dos pais); d) é imprescritível: dele não decai o genitor

pelo simples fato de deixar de exercê-lo; somente poderá o genitor

perde-lo nos casos previstos em lei; e) é incompatível com a

tutela, o que é bem demonstrado pela norma do parágrafo único

do artigo 36 do Estatuto da Criança e do adolescente.

Afirma Rodrigues76 que “o fato de a lei impor deveres aos

pais, com fim de proteger os filhos, realça o caráter de múnus público do pátrio

poder. E o torna irrenunciável.”

74 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. p. 347. 75 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. p.50.

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De acordo com a idéia de Carvalho77 sobre o instituto do

pátrio poder no processo, este diz que,

Seja filho sob pátrio poder, seja órfão, ou seja interdito, toda

pessoa que não exercer os atos da vida civil por si mesma é um

incapaz, total ou parcialmente. Para tornar efetiva e concreta a

proteção a que todos eles fazem jus, a lei consagra

procedimentos adequados.(...) A criança e o adolescente que,

embora submetidos ao pátrio poder, não tenham seus direitos

respeitados, poderão se desvencilhar do mau exercício do múmus

paterno através de “provocação do Ministério Público ou de quem

tenha legítimo interesse”, consoante artigo 155 da Lei n° 8.069/90.

Ainda com relação às características do poder familiar,

Diniz78 afirma que, constitui um múnus público, sendo uma espécie de função

correspondente a um cargo privado, sendo poder familiar um direito-função e um

poder-dever, que estaria numa posição intermediária entre o poder e o direito

subjetivo, é irrenunciável, pois os pais não podem abrir mão dele, é inalienável

ou indisponível, no sentido de que não pode ser transferido pelos pais a

outrem, a título gratuito ou oneroso.

Diniz continua dizendo que, outra característica do poder

familiar é a de ser imprescritível, já que dele não decaem os genitores pelo

simples fato de deixarem de exercê-lo; somente poderão perdê-lo nos casos

previstos em lei e também a de ser incompatível com a tutela, pois, não pode,

portanto, nomear tutor a menor, cujo pai ou mãe não foi suspenso ou destituído

do poder familiar.79

76 RODRIGUES, Direito de Família, 16 ed., Saraiva, 1989. p.148. 77 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p.207. 78 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.448. 79 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.448.

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Como características do poder familiar, Lisboa80 diz que,

este é alienável e, em princípio intransferível, indisponível e que apesar da

irrenunciabilidade do múnus advindo do poder familiar, este torna-se possível

de suspensão ou a destituição.

Ishida81 traz as características do poder familiar como

sendo; “um múnus público; irrenunciável, não podendo aos pais abrir mão dele;

indisponível; inalienável, não podendo ser transferido pelos pais; imprescritível; e

é incompatível com a tutela”.

Diz Carvalho82 que o pátrio poder deve ser indelegável,

não podendo ser transferido por vontade própria dos pais para outras pessoas.

Ainda no pensamento de Carvalho83, “os pais são

responsáveis pela criação dos filhos e essa responsabilidade é indelegável,

enquanto estiverem ambos no exercício do pátrio poder.”

Rizzardo84 traz que,

O pátrio poder é indispensável para o próprio desempenho ou

cumprimento das obrigações eu têm os pais de sustento, criação

e educação dos filhos. Assim, impossível admitir-se o dever de

educar e cuidar do filho, ou de prepará-lo para a vida, se tolhido o

exercício de certos atos, o cerceamento da autoridade, da

imposição ao estudo, do afastamento de ambientes impróprios.

Daí a íntima relação no desempenho das funções derivadas da

paternidade com o exercício do pátrio poder.

80 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. p. 269. 81 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. p. 239. 82 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p.180. 83 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p.181. 84 RIZZARDO, Arnaldo. Direito Civil. Direito de família. Rio de Janeiro:Aide Ed. 1994. p. 901.

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Então como vale perceber, as características do poder

familiar constituem um conjunto muito importante dos pais perante seus filhos.

2.3 TITULARIDADE E SUJEITOS DO PODER FAMILIAR

O Código Civil de 2002 estabelece que “os filhos estão

sujeitos ao poder familiar, enquanto menores”, podendo levar à interpretação

ligeira de serem os pais os únicos titulares ativos e os filhos os sujeitos

passivos dele. Para o cumprimento dos deveres decorrentes do poder familiar,

os filhos são titulares dos direitos correspectivos. Portanto, o poder familiar é

integrado por titulares recíprocos de direitos.85

Elucida Gomes86 que,

O poder familiar compete, no direito comparado, conjuntamente

ao pai e à mãe, mas somente ao pai, na qualidade de chefe de

família. Nas legislações que o atribuem para ambos os pais,

alguns atribuem prevalência à vontade paterna no caso de

divergência, enquanto outros mandam submetê-la à decisão

judicial. Nas que o conferem ao pai, alguns o vinculam à chefia da

família, enquanto outros apenas lhe atribuem o exercício, sendo

titulares ele e a mãe. No direito pátrio, o poder familiar compete

aos pais, exercendo o marido com a colaboração da mulher.

Em alguns comentários de Rodrigues87, este ressalta que

o código Civil conferia ao marido o direito de ser o chefe da sociedade

conjugal, e que somente em sua falta, ou impedimento, poderia ser exercido

pela mulher, e que de acordo com alguns intérpretes, embora ambos os pais

85 DIAS, Maria Berenice. Direito de família e o novo código civil./ coordenação Maria Berenice Dias e Rodrigo da Cunha Pereira, 3 ed., 2. Tir., ver. atual. E ampl., Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 183.

86 GOMES, Orlando. Direito de Família. p. 390. 87 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. p. 398

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fossem titulares do direito, seu exercício não era simultâneo, mas sim

sucessivo, porque a mulher somente era chamada para exercê-lo na falta ou

impedimento do varão. Então, em caso de divergência entre os cônjuges,

prevalecia a opinião do marido, exceto em caso de manifesto abuso de direito.

Encontra-se estabelecido no ECA que o poder familiar

será exercido pelo pai e pela mãe conforme dispuser a lei. O atual código civil

refere-se apenas à titularidade dos pais, durante o casamento ou a união

estável, restando saliente quanto às demais entidades familiares tuteladas

explícita ou implicitamente pela Constituição Federal.88

A convivência dos pais, entre si, não é requisito para a

titularidade do poder familiar, que apenas se suspende ou se perde, por

decisão judicial, nos casos previstos em lei. Do mesmo modo, a convivência

dos pais com os filhos. 89

Venosa, em seu entendimento deixa claro que, nenhum

dos pais perde o exercício do poder familiar coma a separação judicial ou

divórcio.

Como se verifica, sujeitos ativos do poder familiar são os

pais e sujeitos passivos, os filhos menores não emancipados.

88 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p. 183

89 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p. 184

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2.4 O EXERCICIO DO PODER FAMILIAR

Há que se dizer, que o exercício do pátrio poder, ou

poder familiar é, antes de tudo, um compromisso assumido pelos pais para

com a sociedade. A família, núcleo situado dentro de um todo maior, que é o

grupo social, não esgota seus fins em si mesma. O homem é preparado na

família para ingressar na sociedade, e carregará para essa os valores

assimilados naquela. É por isso que, se não se estiver a contento o

desempenho do múnus paterno, devem os pais prestar contas à sociedade,

maior interessada nas peças que a compõem. Eis a razão pela qual o pátrio

poder está subordinado a regras e limites.90

Carvalho91 afirma que, embora esteja vinculado

etimologicamente à figura paterna, o pátrio poder, na constância do casamento

é exercido por ambos os pais, em igualdade de condições.

O exercício do poder familiar dar-se-á nos termos do

artigo 1634 do Código Civil de 2002, que assim prescreve:

Art. 1634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos

menores:

I – dirigir-lhes a criação e educação;

II – tê-los em sua companhia e guarda;

III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

90 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p. 196

91 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p. 182

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IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se

o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder

exercer o poder familiar;

V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil,

e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes,

suprindo-lhes o consentimento;

VI – reclama-los de quem ilegalmente os detenha;

VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços

próprios de sua idade e condição.

No que concerne ao instituto, o atributo preferencial de

poder, o Código Civil reproduz, quase literalmente, as sete hipóteses de

“competências” (a redação é: “Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos

menores:...”) atribuídas aos pais, a saber: a) dirigir a educação e criação; b) ter

direito de companhia e guarda; c) dar consentimento para casar; d) nomear

tutor; e) representar e assistir o filho nos atos da vida civil; f) retomar o filho

contra quem o detenha; g) exigir obediência, respeito e “serviços próprios de

sua idade e condição.”92

Diniz93 elucida que em relação à criação e educação dos

filhos, os pais deverão proporcionar meios materiais para sua subsistência e

instrução, mas conforme com suas condições financeiras e sociais, para poder

lhes dar uma personalidade e boa formação moral e intelectual.

Os pais têm o poder-dever de ter os filhos menores em

sua companhia e guarda para poder dirigir-lhes a formação, regendo seu

92 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha(Org). Direito de família e o novo código civil. p. 186.

93 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 11. ed. Ver., aum. E atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Sariva, 2005. p. 1337.

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comportamento, vigiando-os, pois estes são responsáveis por qualquer ato

lesivo por eles praticado.94

Compete aos pais, conceder e também negar o

consentimento para o matrimônio de um filho menor, mas caso tal denegação

seja injusta, o filho poderá propor ação para suprir esse consenso, que será

dado pelo juiz se caso este julgar conveniente, diante das provas

apresentadas.95

Em se tratando da obediência, Nery Júnior96 comenta

que,

Faz parte do poder familiar a exigência, pelos pais, de que os

filhos lhes devam obediência. Enquanto estiverem sob o poder

familiar, os filhos devem obediência aos pais, bem como lhes

devem respeito. Os pais podem, ainda, atribuir ao s filhos

trabalhos e serviços que sejam apropriados para a sua idade e

condição física e intelectual. Os castigos podem ser impostos mas

moderadamente, pois o castigo infligido imoderadamente

caracteriza hipótese de extinção do poder familiar.

No exercício do poder familiar, incumbe aos pais a

administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade ou não

emancipados, ou seja, na visão de Diniz97, a prática de atos idôneos à

conservação e incremento desse patrimônio, podendo celebrar contratos,

como o de locação de imóveis, pagar impostos, defender judicialmente,

receber juros ou rendas, adquirir bem, aliena-los, se móveis. Contudo, não

94 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. P. 1337. 95 CARVALHO, João Andrades. Tutela, curatela, guarda, visita e pátrio poder. p. 201. 96 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil anotado e legislação estravagante: atualizado até 2 de maio de 2003. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora RT, 2003. p. 732 e 733. 97 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p. 454

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poderá dispor dos imóveis pertencentes ao menor, nem contrair obrigações

que ultrapassem os limites da simples administração, pelo fato de que esses

atos importam em diminuição patrimonial. Mas, se no caso houver provas da

necessidade, a vantagem econômica ou a evidente utilidade da prole, poderá

o pai vender, hipotecar, gravar de ônus real os seus imóveis, desde que haja

prévia autorização do juiz competente.

Diniz98 diz ainda que,

Os pais não responderão pela administração dos bens do filho, a

não ser que ajam com culpa, não estando, ainda, em regra,

obrigados a prestar caução, nem a lhe render contas, mas só

poderão reter quantias de dinheiro pertencentes ao filho se

houverem garantido sua gestão com hipoteca legal.

O usufruto é inerente ao exercício do poder familiar,

cessando com a inibição do poder paternal ou maternal, maioridade,

emancipação ou morte do filho, e o direito a este, em regra, está associado ao

de administração, pois o genitor que detém o poder familiar percebe os frutos

do patrimônio administrado, embora seja possível existir um sem o outro.99

Conforme Pereira menciona,100

O ECA, quando cuida do poder familiar, incumbe aos pais (art.22)

”o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores” e

sempre no interesse destes, o dever de cumprir as determinações

judiciais. Essa regra permanece aplicável, pois aos poderes

assegurados pelo novo Código somam-se os deveres fixados na

legislação especial e na própria Constituição. O dever de guarda

não é inerente ao poder familiar, pois pode ser atribuído a outrem.

98 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.455. 99 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p. 456 100 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p. 186

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Elucida Gomes101, que,

O poder familiar compete, no direito comparado, conjuntamente

ao pai e à mãe, mas somente ao pai, na qualidade de chefe de

família. Nas legislações que o atribuem para ambos os pais,

alguns atribuem prevalência à vontade paterna no caso de

divergência, enquanto outros mandam submete-la a decisão

judicial. Nas que o conferem ao pai, alguns o vinculam à chefia da

família, enquanto outros apenas lhe atribuem o exercício, sendo

titulares ele e a mãe. No direito pátrio, o poder familiar compete

aos pais, exercendo o marido com a colaboração da mulher.

Salienta Venosa102que,

Nenhum dos pais perde o exercício do poder familiar com a

separação judicial ou o divórcio. O pátrio poder ou poder familiar

decorre da paternidade e da filiação e não do casamento, tanto

que o novo Código se reporta também à união estável. A guarda

normalmente ficará com um deles, assegurado ao outro o direito

de visitas.

Em relação à Responsabilização Civil dos pais frente ao

instituto do Poder Familiar, verifica-se que este poderá ser suspenso ou

destituído caso os pais façam mau uso do mesmo em relação aos filhos, que

poderão, ainda, pleitear em juízo reparação por danos morais. Este será o

tema do capítulo final.

101 GOMES, Orlando. Direito de Família. p. 390. 102 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. p. 357

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CAPÍTULO 3

A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DOS PAIS FRENTE AO INSTITUTO DO PODER FAMILIAR: EXTINÇÃO, DESTITUIÇÃO,

SUSPENSÃO E REPARAÇÃO DE DANOS

3.1 DA EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR

Sendo o poder familiar, um múnus que deve ser exercido,

fundamentalmente, no interesse do filho menor, o Estado pode interferir nessa

relação, que, em síntese, afeta a célula familiar.

Exceções à característica da indisponibilidade do poder

familiar podem ser encontradas na extinção do múnus nos casos

contemplados pela lei.103

Lisboa104 apresenta as seguintes hipóteses para a extinção

do poder familiar, quais sejam: morte dos pais ou dos filhos; emancipação

voluntária ou legal; castigo imoderado do filho; deixar o filho em estado de

abandono; praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; e reiterar nas

faltas causadoras da suspensão do poder familiar.

Ressalta Dias105 que,

A morte de um dos pais faz concentrar, no sobrevivente, o poder

familiar. A emancipação dá-se por concessão dos pais, mediante

instrumento público, dispensando-se homologação judicial, se o

103 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. p..273 104 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. p. 273 105 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p.188

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filho contar mais de 16 anos. A natureza da adoção, que imita a

natureza e impõe o corte definitivo com o parentesco original, leva

ao desaparecimento do poder familiar.

Em continuação ao pensamento de Dias106, esta alude que,

a perda, por decisão judicial, por sua vez, depende da configuração das seguintes

hipóteses: a) castigo imoderado; b) abandono do filho; c) prática de atos

contrários à moral e aos bons costumes; d) reiteração de faltas graves aos

deveres inerentes ao poder familiar.

Ainda na visão de Dias107, a extinção do poder familiar é o

término do exercício do poder-dever sobre o filho, por fatores diversos da

suspensão ou da destituição e que não podem ser imputados em desfavor do

detentor, podendo ser requerida em processo para esse fim, ou, ainda, como

medida liminar ou incidental, no curso do processo de adoção.

Caso seja requerida a suspensão ou a extinção do poder

familiar, o juiz determinará a citação do genitor e da genitora, para o oferecimento

de resposta escrita.

Com ou sem resposta escrita, será realizado o relatório de

estudo social e a avaliação psicológica do incapaz, os autos serão, então,

remetidos ao Promotor de Justiça, se ele não for o autor da demanda, para, em

cinco dias, oferecer parecer.

106 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p.188

107 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p.189

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Na seqüência, o julgador sentenciará, em cinco dias, caso

não se faça necessária qualquer outra produção de prova, ainda que em

audiência.108

Dias109, em relação à extinção do poder familiar diz que,

Por sua gravidade, a perda do poder familiar somente deve ser

decidida quando o fato que a ensejar for de tal magnitude que

ponha em perigo permanente a segurança e a dignidade do filho.

A suspensão do poder familiar deve ser preferida à perda, quando

houver possibilidade de recomposição ulterior dos laços de

afetividade.

Importante se faz ressaltar que, no entendimento de

Rodrigues110, o pátrio poder extingue-se pela morte dos pais ou do filho; no

primeiro caso, desaparece o titular do direito; e, no segundo, a razão de ser do

instituto, que é a proteção do menor.

Continuando o pensamento de Rodrigues111, este diz

que, “na hipótese de desaparecimento dos pais, como há mister de continuar

protegendo o menor, impõe-se a nomeação de tutor, que passará a cuidar dos

interesses pessoais e patrimoniais do infante”.

No caso da maioridade, extingue-se o poder familiar, pois

presume a lei que, atingindo a capacidade civil, onde o indivíduo não mais

precisa da proteção conferida pelas regras aqui previstas. A mesma reflexão é

procedente no que concerne à emancipação. Esta, como já foi visto, é a

108 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Pág.273 109 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p. 191.

110 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família, 27 ed.atual. por Francisco José Cahali, com anotações ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. p.415

111 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. p. 415 e 416.

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aquisição da capacidade civil antes da idade legal, sendo esta concedida pelos

pais, pelo juiz ou pela lei, naqueles casos em que se pressupõe ter o indivíduo

adquirido plena maturidade, a despeito de sua idade. Nesses casos, por igual,

liberta-se ele do pátrio poder, por dispensar a proteção que o legislador

concede aos imaturos112.

Referente à adoção, em rigor, não põe termo ao poder

familiar, pois o menor apenas sai da esfera de ingerência do pai natural, para

transferir-se para o poder do pai adotivo. Mas, como o pátrio poder se extingue

na pessoa do pai natural, o legislador incluiu essa hipótese entre as de

extinção referida no art. 1.635, IV, do Código Civil. 113

Ainda sobre a adoção, vem Pereira, afirmar que esta,

retira o filho do poder do pai natural, mas submete-o ao adotante. Desta sorte,

o parentesco civil opera como causa translatícia antes que extintiva, pois,

examinada a relação pelo lado da criança ou do jovem, ele não se acha em

nenhum momento fora do poder parental.114

Contudo, é possível perceber que a extinção do poder

familiar é a forma menos gravosa e complexa, pois a mesma ocorre em

decorrência de razões da própria natureza, as quais não dependem da

vontade dos pais, e no caso do item seguinte verificar-se-á as graves rupturas

dos deveres dos pais para com seus filhos.115

112 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. p. 363. 113 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. p. 364. 114 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 247. 115 RIZZARDO, Arnaldo. Direito Civil. Direito de família. p. 918 e 919.

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3.2 DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR

Dá-se a “suspensão do poder familiar” por ato de

autoridade, após a apuração devida, se o pai ou a mãe abusar de seu poder,

faltando aos seus deveres ou arruinando os bens do filho. A imposição da

pena de suspensão é deixada ao prudente arbítrio do juiz, que tem a liberdade

de não a aplicar, posto que provado o fato determinante, se for prestada

caução idônea de que o filho receberá do pai ou da mãe o tratamento

conveniente.116

Contudo, o artigo 1.637 do Código Civil, vem mencionar

genericamente as causas da suspensão, para que se veja o juiz munido de

certa dose de arbítrio, que não pode ser usado a seu capricho, porém sob a

inspiração do melhor interesse da criança.

Pereira117 elucida que,

Apontado o preceito, como causa da suspensão, o

comportamento dos pais ruinoso aos haveres do filho não

significa que se aguarde a perda, para somente então impor

a medida. Sendo predominante a idéia de proteção,

salvaguarda e defesa dos interesses do filho, admissível

será autorizá-la, em se comprovando que a omissão ou

retardamento pode torná-la infrutífera.

A suspensão, na visão de Rodrigues118

representa medida menos grave, de modo que, extinta a causa

que a gerou e transcorridos dois anos da respectiva sentença,

116 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 434 117 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 434 118 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. p. 359

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pode o juiz cancela-la, se não encontrar inconveniente na volta do

menor para a companhia dos pais.

Dentro da vida familiar, o cuidado com a criação e

educação dos filhos se apresenta como a questão de destaque nos dias de

hoje, pois as crianças estas crianças de hoje serão os homens de amanhã, e

nas gerações futuras é que se assenta a esperança do amanhã.119

Portanto Rodrigues diz que,

Em se verificando que os pais, através de seu comportamento, de

um modo ou de outro prejudicam os filhos, o ordenamento jurídico

reage e, conforme a menor gravidade da falta praticada,

suspende-os, ou os destitui do pátrio poder. (...) Tais sanções têm

menos um intuito punitivo aos pais do que o de preservar o

interesse dos filhos, afastando-os da nociva influência daqueles.

Tanto assim é que, cessadas as causas que conduziram à

suspensão ou à destituição do pátrio poder e transcorrido um

período mais ou menos longo de consolidação, pode o poder

paternal ser devolvido aos antigos titulares.

A suspensão verifica-se em virtude da má conduta do pai

ou por fatos involuntários, sendo estes, quando o titular do pátrio poder é

judicialmente interditado e quando declarado ausente, este somente poderá

ser suspenso do seu exercício por decreto judicial, sendo por tempo

determinado.120

3.3 DA PERDA OU DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR

A destituição do poder familiar é o impedimento definitivo

do seu exercício, por decisão judicial, podendo servir como hipóteses de

119 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. p. 358. 120 GOMES, Orlando. Direito de Família. p. 398.

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destituição o castigo imoderado, o abandono do filho e a prática de atos

contrários à moral e aos bons costumes, sendo esta, uma medida imperativa e

não facultativa.

De alguma maneira, pode-se pensar que no caso da

perda do pátrio poder, o legislador reconhece que o seu titular não está

capacitado para exercer tão alta função, de modo que, para o bem dos filhos,

o destitui daquele encargo, onde só será readmitido após custosamente

convencido de que as causas que anteriormente militavam ora foram

removidas em definitivo.121

O artigo 1.638 do Código Civil atual, cogita três hipóteses

de destituição judicial do poder de ambos os pais. Com efeito, dispõe essa

regra que perde o poder familiar o pai ou a mãe:

I – castigar imoderadamente o filho;

II – deixar o filho em abandono;

III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

(...)

Examinando cada um desses incisos, em relação ao

primeiro, o advérbio “imoderadamente” somente se caracterizará quando for

excessivo o castigo, já no caso do abandono, o qual trata o segundo inciso,

não é apenas o ato de deixar o filho sem assistência material, fora do lar, mas

sim, o descaso intencional pela sua criação, educação e moralidade. No

121 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. p. 412.

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tocante ao terceiro inciso, deve-se evitar que o exemplo dos pais contamine a

formação moral dos filhos.122

Venosa123 em sua concepção diz que,

Os fatos graves relatados na lei devem ser examinados caso a

caso, sevícias, injúrias graves, entrega do filho à delinqüência ou

sua facilitação, entrega da filha à prostituição etc., são sérios os

motivos que devem ser corretamente avaliados pelo juiz.

Abandono não é apenas o ato de deixar o filho sem assistência

material: abrange também a supressão do apoio intelectual e

psicológico. A perda poderá atingir um dos progenitores ou

ambos.

No tocante ao decreto da perda do poder familiar a um

dos genitores, o outro passa a exercê-lo isoladamente, salvo se não tiver

condições, caso em que deverá ser nomeado um tutor ao menor.124

3.4 DA REPARAÇÃO DE DANOS

Primeiramente, em se tratando de matéria de

responsabilidade civil, o poder familiar acarreta ônus aos pais, então, neste

sentido, o artigo 932 do atual Código Civil reza que, são responsáveis pela

reparação civil os pais pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade

e em sua companhia.125

122 RODRIGUES, Silvio. Direito de Família, p. 413 e 414. 123 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família, p. 368. 124 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. p. 369. 125 GONÇALVES, Carlos Alberto. Responsabilidade Civil. 9. Ed. Ver. De acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2005. p.134

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Por outro lado, com relação ao cumprimento ou não dos

deveres paternos, algumas decisões recentes emanadas do Tribunais de

Justiça dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul têm

acolhido a pretensão de filhos que se dizem abandonados ou rejeitados pelos

pais, sofrendo transtornos psíquicos em razão da falta de carinho e de afeto na

infância e na juventude.

Na visão dos referidos Tribunais de Justiça, não basta

pagar a pensão alimentícia e fornecer os meios de subsistência aos filhos.

Estes fazem queixa do descaso, da indiferença e da rejeição dos pais, tendo

alguns, obtido o reconhecimento judicial do direito à indenização como

compensação pelos danos morais, ao fundamento de que a educação abrange

não somente a escolaridade, mas também a convivência familiar, o afeto, o

amor, o carinho, devendo o descaso entre pais e filhos ser punido

severamente por constituir abandono grave.

A questão é polêmica, dividindo opiniões. O Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro, de maneira oposta, proclamou que:

Não há amparo legal, por mais criativo que possa ser o julgador,

que assegure ao filho indenização por falta de afeto e carinho.

Muito menos já passados mais de quarenta anos de ausência e

descaso. Por óbvio, ninguém está obrigado a conceder amor ou

afeto a outrem, mesmo que seja filho. Da mesma forma, ninguém

está obrigado a odiar seu semelhante. Não há norma jurídica

cogente que ampare entendimento diverso, situando-se a questão

no campo exclusivo da moral, sendo certo, outrossim, que, sobre

o tema, o direito positivo impõe ao pai o dever de assistência

material, na forma de pensionamento e outras necessidades

palpáveis, observadas na lei (Ap.2004.001.13664, 4ª Câm., Rel.

Des. Mário dos Santos Paulo, DJE, 4 nov.2004).

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A questão é delicada, devendo os juízes ser cautelosos

na análise de cada caso, para evitar que o Poder Judiciário seja usado, por

mágoa ou outro sentimento menos nobre, como instrumento de vingança

contra os pais ausentes ou negligentes no tratamento com os filhos. Somente

casos especiais, em que fique cabalmente demonstrada a influência negativa

do descaso dos pais na formação e no desenvolvimento dos filhos, com

rejeição pública e humilhante, justifica o pedido de indenização por danos

morais. Simples desamor e falta de afeto não bastam.126

Não se pode olvidar que, por muitos casos, a separação

dos pais se dá de forma traumática, dificultando o relacionamento com os

filhos, do cônjuge que não ficou com a guarda. É bastante comum a mãe,

sofrida e desencantada com a ruptura da sociedade conjugal, criar obstáculos

ao relacionamento do pai com a prole comum.

Todas essas circunstâncias devem ser levadas em

consideração no julgamento de casos dessa natureza, especialmente para não

transformar as relações familiares em jogo de interesses econômicos. 127

De acordo com um julgado retirado da internet, em 22 de

abril foi debatido no STJ se o papel dos pais se limita ao dever de sustento,

bastando prover materialmente o filho, ou se a subsistência emocional também

é uma obrigação legal dos pais. A ação trata da ausência de afeto dos pais

para com os filhos, podendo ser motivo de reparação por dano moral.

126 GONÇALVES, Carlos Alberto. Responsabilidade Civil. p.647. 127 GONÇALVES, Carlos Alberto. Responsabilidade Civil. p. 649 e 650.

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Tal discussão se deu pela 4ª Turma do STJ, na qual, em

um recurso especial, foi discutido a possibilidade de pagamento de

indenização por dano moral ao filho em razão de abandono paterno.

O direito à indenização foi estabelecido em segunda

instância, conforme voto do juiz relator Unias Silva, da 7ª Câmara Cível do

Tribunal de Alçada de Minas Gerais, reconhecendo o dano moral e psíquico

causado ao filho pelo abandono do pai. Em primeiro grau, o pedido havia sido

considerado improcedente, tendo o juiz da Vara Cível entendido não haver a

comprovação do dano ao filho, hoje maior de idade, após em segunda

instancia o pedido foi procedente.

A apelação do filho foi atendida com base no artigo 227

da Constituição Federal. O acórdão do TA-MG ressalta que "a

responsabilidade (pelo filho) não se pauta tão-somente no dever de alimentar,

mas se insere no dever de possibilitar desenvolvimento humano dos filhos,

baseado no princípio da dignidade da pessoa humana". A indenização foi

fixada em 200 salários- mínimos.

Há também que se destacar um artigo encontrado no

Espaço Vital128, segundo o qual foi negado provimento, dizendo que não cabe

indenização por dano moral alusivo à abandono afetivo. A conclusão, por

quatro votos a um, é da 4ª Turma do STJ, que deu provimento a recurso

especial de um pai de Belo Horizonte para modificar a decisão do Tribunal de

Alçada de Minas Gerais que havia reconhecido a responsabilidade civil no

caso e condenado o pai a ressarcir financeiramente o filho num valor de 200

salários mínimos.

128 ESPAÇO VITAL: disponível em: http: www.jus.com.br

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Na ação de indenização por abandono afetivo proposta

contra o pai, o filho afirmou que, apesar de sempre receber pensão alimentícia

(20% dos rendimentos líquidos do pai), tentou várias vezes uma aproximação

com o pai, pretendendo apenas amor e reconhecimento como filho. Segundo a

ação, ele recebeu apenas "abandono, rejeição e frieza", inclusive em datas

importantes, como aniversários, formatura no ensino médio e por ocasião da

aprovação no vestibular.

Em primeira instância, a ação do filho contra o pai foi

julgada improcedente, tendo o juiz considerado que não houve comprovação

dos danos supostamente causados ao filho, hoje maior de idade.

Após examinar a apelação, a 7ª Câmara Cível do

Tribunal de Alçada de Minas Gerais, no entanto, reconheceu o direito à

indenização por dano moral e psíquico causado pelo abandono do pai. "A

responsabilidade (pelo filho) não se pauta tão-somente no dever de alimentar,

mas se insere no dever de possibilitar desenvolvimento humano dos filhos,

baseado no princípio da dignidade da pessoa humana". A reparação foi fixada

em 200 salários mínimos (hoje, R$ 60.000,00), mais juros de mora.

No recurso para o STJ, o advogado do pai afirmou que a

indenização tem caráter abusivo, sendo também uma tentativa de

"monetarização do amor". Alegou que a ação de indenização é fruto de

inconformismo da mãe, ao tomar conhecimento de uma ação revisional de

alimentos, na qual o pai pretendia reduzir o valor.

A defesa afirmou que, a despeito da maioridade do filho,

o pai continua a pagar pensão até hoje. Em seu parecer, o Ministério Público

opinou pelo provimento do recurso do pai. "Não cabe ao Judiciário condenar

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alguém ao pagamento de indenização por desamor", afirmou a promoção

ministerial.

Por maioria, a 4ª Turma deu provimento ao recurso do

pai, considerando que a lei apenas prevê, como punição, a perda do poder

familiar, antigo pátrio poder. "A determinação da perda do poder familiar, a

mais grave pena civil a ser imputada a um pai, já se encarrega da função

punitiva e, principalmente, dissuasória, mostrando eficientemente aos

indivíduos que o Direito e a sociedade não se compadecem com a conduta do

abandono, com o que cai por terra a justificativa mais pungente dos que

defendem a indenização por dano moral", observou o Ministro Fernando

Gonçalves, ao votar.

Ao ser provido o recurso, foi considerado ainda que, por

maior que seja o sofrimento do filho - a dor do afastamento - o Direito de

Família tem princípios próprios, que não podem ser contaminados por outros,

com significações de ordem material, patrimonial.

Único a votar pelo não-conhecimento do recurso do pai, o

ministro Barros Monteiro considerou que a destituição do pátrio poder não

interfere na indenização porque "Ao lado de assistência econômica, o genitor

tem o dever de assistir moral e afetivamente o filho", afirmou. Segundo Barros

Monteiro, o pai estaria desobrigado da indenização, apenas se comprovasse a

ocorrência de motivo maior para o abandono.

Por quatro votos a um, a decisão afastou a indenização a

ser paga pelo pai, determinada pelo tribunal mineiro. "Inexistindo a

possibilidade de reparação a que alude o artigo 159 do Código Civil de 1916,

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não há como reconhecer o abandono afetivo como passível de indenização",

reiterou o relator. (REsp nº757411 - com informações do STJ).

Como pôde ser observado, o pagamento por parte do

genitor a título de indenização por danos morais ao filho, trata-se de assunto

novo e, por óbvio, bastante polêmico e contraditório.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciou-se esta pesquisa com o propósito de estudar o

instituto do Poder Familiar no direito brasileiro e a Responsabilização Civil dos

Pais.

Através dos estudos realizados, constatou-se que em

Roma Clássica a família era submetida à pátria potestas de um chefe, ou seja,

o pai detinha todo o poder em suas mãos, poder de vida e de morte sobre

seus descendentes, podendo até mesmo matar o filho recém-nascido se caso

achasse necessário, este poder era tão grande como o que era exercido sobre

os escravos.

Após a promulgação da Lei das XII Tábuas, o pai poderia

abandonar, rejeitar e vender o filho, deixando de lado o direito de matar seu

descendente.

O pátrio poder no direito Romano antigo visava somente

o interesse do chefe de família, pois ninguém podia opinar ou ter suas próprias

vontades satisfeitas, ao contrário da família moderna, baseada no casamento

do chefe, a família de Roma antiga é de base patriarcal, onde tudo gira em

torno do paterfamilias ao qual, sucessivamente, se vão subordinando os

descendentes, até que ocorra a morte do chefe.

A mulher era colocada sempre como dependente de

alguém, porque durante sua infância dependia de seu pai; durante sua

juventude de seu marido, e com a morte do marido, dependia de seus filhos,

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caso não os tivesse, seria dependente de parentes próximos, pois nunca

deveria governar-se por sua própria vontade.

Promulgada a Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, esta trouxe grandes alterações no campo familiar, pois foi

proclamada a plena igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher na

vida conjugal, garantindo também aos filhos prioridade absoluta, sendo a

proteção, o dever da família, da sociedade e do Estado.

Importante também se faz ressaltar para os dias de hoje,

a importância que a Lei n°8.069/90, denominada Estatuto da Criança e do

Adolescente, que tem por objetivo proteger, integralmente, todos os direitos

das crianças, de maneira que cada brasileiro que nasça possa ter assegurado

seu pleno desenvolvimento, partindo das exigências físicas até o

aprimoramento moral e religioso.

Para a realização da presente monografia, foram

levantadas - conforme consta na introdução desta monografia - algumas

hipóteses, as quais passa-se a comentar.

Hipótese primeira - O pátrio poder de Roma Antiga,

embora seja o precursor do atual poder familiar brasileiro, em muito se difere

deste, em relação à autoridade paterna.

Tal hipótese restou totalmente confirmada, pois o poder -

absoluto - que era atribuído, com exclusividade ao paterfamilias, agora deve

ser exercido no interesse do filho, deixando para trás o Direito Romano Antigo,

que visava somente ao interesse do pai sobre as pessoas dos filhos, da

mulher, dos empregados, entre outros.

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Hipótese segunda - A função atual do Poder Familiar

brasileiro é a proteção, em todos os sentidos, dos filhos enquanto menores de

idade e não emancipados.

Esta hipótese se confirmou totalmente, tendo em vista o art.

5°, I e 226 § 5°, ambos da atual Constituição Federal de 1988, combinados com

dispositivos legais do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como do Código

Civil vigente, pois o poder familiar não é mais concebido como um direito

discricionário e absoluto do pai, mas um direito voltado totalmente à proteção dos

interesses do menor, sendo exercido por ambos os genitores, em situação de

igualdade.

Hipótese terceira - O exercício do Poder Familiar por parte

dos genitores implica no cumprimento de vários deveres. A inobservância destas

obrigações resultará em várias conseqüências jurídicas que, na esfera cível,

podem ser denominadas Responsabilização Civil dos Pais.

Conforme dispositivos legais insertos no Código Civil

brasileiro, esta hipótese restou parcialmente confirmada, pois o mau uso do

Poder Familiar acarretará conseqüências jurídicas aos pais como: a

suspensão ou até mesmo a destituição do poder familiar.

Todavia, embora não haja consenso entre os alguns

Tribunais de Justiça pátrios, há, ainda, mesmo que de maneira tímida, a

possibilidade de o filho pleitear, em juízo, reparação dos eventuais danos

morais causados por seus pais.

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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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ANEXOS