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O IMPACTO DO SETOR DE MOTO-TAXI NA CIDADE DE POÇOS DE CALDAS - MG Por: Adriana Cavini, aluna de graduação do curso de administração da PUC-Minas em Poços de Caldas Maria José Scassiotti de Souza, docente e pesquisadora do curso de Administração da PUC-Minas em Poços de Caldas Gestão e Conhecimento, v. 3, n. 1, julho/novembro 2006 http://www.pucpcaldas.br/graduacao/administracao/nupepu/online/inicial.htm

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O IMPACTO DO SETOR DE MOTO-TAXI NA CIDADE DE POÇOS DE

CALDAS - MG

Por:

Adriana Cavini, aluna de graduação do curso de administração da PUC-Minas em Poços

de Caldas

Maria José Scassiotti de Souza, docente e pesquisadora do curso de Administração da

PUC-Minas em Poços de Caldas

Gestão e Conhecimento, v. 3, n. 1, julho/novembro 2006

http://www.pucpcaldas.br/graduacao/administracao/nupepu/online/inicial.htm

O IMPACTO DO SETOR DE MOTO-TAXI NA CIDADE DE POÇOS DE CALDAS - MG Adriana Cavini, Maria José Scassiotti de Souza

Gestão e Conhecimento V. 3, n. 1, art. 4, julho,novembro 2006 PUC – Minas campus Poços de Caldas ISSN 1808-6594

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RESUMO

O serviço de moto-taxi, prestado em quase todas as cidades brasileiras, é um gerador de

empregos, ao mesmo tempo em que é um fator de preocupações, tanto com a segurança

de seus usuários como com os aspectos legais da atividade. Neste trabalho procura-se

fazer uma análise desse segmento de mercado, bem como de sua atuação econômica,

relacionando os diversos aspectos envolvidos, desde a geração de emprego e renda, as

características dos participantes desse mercado de trabalho, a discussão política envol-

vendo a atividade, os aspectos econômicos e tributários, enfim, uma visão que se propõe

ampla e que busca a realização de um trabalho pioneiro neste setor.

Palavras Chaves – Mercado de trabalho, política, tributação.

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INTRODUÇÃO:

A velocidade com que as mudanças ocorreram no final do século XX exigiu a

busca de alternativas que atendessem as novas necessidades dos indivíduos nos seus

deslocamentos, à medida que as distâncias aumentavam e o tempo diminuía. O caos

social gerado pela explosão demográfica nos grandes centros aliado ao desemprego

provocado pela recessão econômica, foram um dos aspectos que fizeram surgir o setor

de moto-táxi no país, que até a década de noventa não existia. Este fato explica a polê-

mica originada em âmbito nacional sobre a regulamentação ou não do setor e a repre-

sentatividade e notoriedade na cidade de Poços de Caldas, por ser uma alternativa de

transporte rápido e barato, sendo um produto substituto da linha de transporte urbana

que atualmente está restrito ao transporte coletivo e taxistas. O objetivo deste trabalho é

analisar uma amostra do setor de moto-táxi e seus aspectos políticos, sociais e econômi-

cos na cidade de Poços de Caldas.

Em dezembro de 2000, na gestão do Prefeito Geraldo Thadeu Pedreira dos San-

tos, foi aprovada a Lei nº. 7.367 (Poços de Caldas, 2000), que dispõe sobre a implanta-

ção e regulamentação no âmbito municipal, dos serviços de moto-entrega. Apesar de

aprovada a lei, a regulamentação prevista em seu artigo 14 ainda não foi devidamente

concretizada pelo Executivo Municipal.

O surgimento do segmento de moto-táxi ocorreu em meados da década de no-

venta, em decorrência da crise econômica e do crescimento desordenado dos centros

urbanos e do caos no trânsito gerado por grandes congestionamentos, o que acabou in-

centivando o aumento no uso de motocicletas por parte da população. Outro fator que

contribuiu para o surgimento deste serviço foi o desemprego crescente e a queda da ren-

da familiar. No início, o uso deste tipo de serviço era restrito a pessoas conhecidas, pos-

teriormente a idéia difundiu-se, principalmente com o barateamento das linhas telefôni-

cas e o advento do aparelho celular, surgindo assim as agências prestadoras destes ser-

viços, onde o cliente efetua a solicitação e é prontamente atendido de acordo com suas

necessidades.

Este segmento se fortaleceu devido ao enfraquecimento da economia incapaz de

gerar emprego e renda. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-

ca), entre 1999 e 2002 a renda média do brasileiro caiu cerca de 14% (quatorze por cen-

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to). Antes da crise, os gastos com transporte, segundo estudo realizado pelo IPEA (Insti-

tuto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) representava em torno de 8% (oito por cento)

nas famílias mais pobres e era a principal despesa entre os serviços públicos. Com a

crise econômica a renda familiar caiu e o preço dos transportes subiu cerca de 25% (vin-

te e cinco por cento) conforme constatou a Associação Nacional das Empresas de

Transportes Urbanos (NTU). Este foi um fator relevante na diminuição do número de

usuários dos transportes públicos no país e na crescente demanda pelos serviços de mo-

to-táxi, que veio suprir a necessidade das classes menos favorecidas.

Um número cada vez maior de pessoas que se encontram sem oportunidade de

ingressar no mercado de trabalho formal acaba ingressando em trabalhos que oficial-

mente não existem. O governo cada vez mais se preocupa com esta classe trabalhadora,

que não paga impostos e afetam diretamente o sistema tributário brasileiro. Esta econo-

mia clandestina, também chamada de parte não contada do sistema de troca, contribuiu

para o crescimento da economia informal. Dados levantados pelo IBGE (2003) revelam

que o setor informal corresponde a uma média de 40% (quarenta por cento) das ocupa-

ções em cidades de pequeno e médio porte. A redução da economia formal provocou a

concorrência com serviços mais baratos oferecidos por profissionais não regulamenta-

dos, que não pagam tributos nem se submetem à legislação vigente.

O transporte por moto-táxi responde atualmente por 32% (trinta e dois por cen-

to) dos transportes informais, segundo levantamento do NTU (2001) (Graf. 01).

Gráfico 1: Índice de transporte ilegal nas principais cidades brasileiras

Fonte: NTU 2001

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ANÁLISE DO SETOR:

Um entrave enfrentado por este setor no município de Poços de Caldas é o fato

de grande parte dos moto-boys atuarem também na condição de motos-taxistas, ativida-

de irregular e clandestina, sendo vedada tanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

quanto pelo Código Brasileiro de Trânsito, que no artigo 231, inciso VII, diz que não se

pode transitar "efetuando transporte remunerado de pessoas ou bens, quando não for

licenciado para esse fim, salvo casos de força maior ou com permissão da autoridade

competente", o que pode ocasionar infração média (quatro pontos), multa de cerca de

R$ 80,00 (oitenta reais) e até retenção do veículo.

Uma outra barreira que os motos-taxistas enfrentam é a questão de estaciona-

mento principalmente na região central de Poços de Caldas. As motocicletas são esta-

cionadas de qualquer forma nas ruas, colocadas entre automóveis, dificultando mano-

bras e prejudicando o fluxo do trânsito. Usuários da Zona Azul se queixam por quase

não haver vagas para estacionar, já que as motos, que estão isentas do pagamento dessa

taxa, ocupam o espaço que daria para estacionar o veículo. Porém esta situação foi par-

cialmente sanada pela implantação recente dos bolsões de estacionamento de motos,

prevista na Lei nº. 7.230 de Julho de 2000 (Poços de Caldas, 2000), que reserva as es-

quinas do centro da cidade para estacionamento exclusivo de motocicletas.

A proibição da atividade poderia causar danos à economia local, pois o serviço

estimula o comércio de motocicletas e equipamentos nas concessionárias e oficinas da

região. A administração local deve assumir um papel catalisador de forças sociais para

apoiar o serviço de moto-táxi como muitos prefeitos já estão fazendo.

Como não há qualquer tipo de fiscalização sobre a atividade na cidade, o número

de agências e, consequentemente, a quantidade de motoqueiros cresce vertiginosamente,

uma vez que muitos jovens e pais de família encontram nessa atividade a única forma

de sustento. Isso, contudo, começa a gerar dificuldades para os próprios motos-taxistas,

já que o aumento da concorrência entre eles é um fator a mais para complicar quem tra-

balha nesta profissão.

Em entrevista realizada com a Presidente do Sindicato dos Motos-Taxistas de

Poços de Caldas, Sra. Adriana Moraes, o sindicato foi fundado em 2.000, com aproxi-

madamente cem motos-taxistas filiados, que trabalhavam em sete agências: Bad Boy,

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Precisão, Rapidinho, Rapi-10, Vermelhinho, Expresso Duas Rodas e Ligeirinho. Hoje

existem cerca de 17 agências na cidade, com aproximadamente quatrocentos motos-

taxistas e ninguém está filiado ao Sindicato, que hoje só existe no papel. A Sra. Adriana

informou que o setor continua sem a devida regulamentação na cidade, apesar de existir

uma Lei aprovada pela Câmara Municipal no ano de 2000, que regulamenta o setor de

moto-entrega, mas o transporte de passageiros encontra-se atualmente em estudos para

aprovação pelo Legislativo Municipal. A falta de regulamentação do setor faz com que

não exista recolhimento de nenhuma espécie de tributo, e o Sindicato luta pela aprova-

ção do projeto de lei que colocaria este segmento inserido na economia formal da cida-

de.

As informações geradas com os dados obtidos na pesquisa de campo realizada

entre os dias 21 de Abril de 2006 a 01 Maio de 2006 com 140 motos-taxistas, propicia-

ram a elaboração do perfil dos trabalhadores do setor de moto-táxi na cidade de Poços

de Caldas, Minas Gerais. Diante da atual situação da categoria frente ao poder público,

que reivindica a regulamentação destes profissionais, a pesquisa provocou receio e/ou

desconfiança de muitos, podendo comprometer os resultados, fato este evidenciado que

dos 140 questionários aplicados, somente 75 foram concluídos. Dentre o público abor-

dado, foi identificado que a categoria de motos-taxista, em sua maioria é composta por

indivíduos entre 18 e 35 anos, sendo 44% na faixa de 18 a 25 anos e 41% entre 26 e 35

anos, perfazendo um total de 85%, sendo que dentre os primeiros, possuem pouca ou

nenhuma experiência profissional. Durante a coleta de dados nenhum moto-taxista do

sexo feminino foi identificado, fato este que contradiz com a realidade local e nacional,

visto que já é notória a presença de mulheres neste segmento. (Graf. 01).

Faixa etária

FAIXA ETÁRIA

45%

40%

12% 3%

18 à 25 26 à 35 36 à 45 >46

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Apesar de apresentarem nível de escolaridade compatível com os patamares do

país, dado que 40% possuem ensino médio completo, 22% ensino médio incompleto e

22% ensino fundamental completo, nenhum dos respondentes possuem ou cursam ensi-

no superior e apontam que a escassez de oportunidades formais de emprego e qualifica-

ção profissional que atendam as exigências do mercado, ajuda a compor a dramática

estatística nacional do IBGE que aponta 01 desempregado para cada grupo de 04 jo-

vens, visto que os trabalhadores deste setor não estão ainda regularizados. (Graf. 02).

Escolaridade

A expectativa de atuarem nesta atividade, a princípio por um curto período, aca-

ba não se concretizando, pois a falta de planejamento familiar, comum entre as classes

de menor poder aquisitivo pode ser identificada ao detectar que dentre estes indivíduos

45% são casados (Gráf. 03), 29% possuem 01 filho, 13% 02 filhos e 13% 03 ou mais

filhos. Vale ressaltar ainda, que dentre o público entre 18 e 25 anos solteiros, 18% afir-

mam possuir 01 filho, podendo estar associado ao fato de que 43% afirmem estar neste

setor há 03 anos ou mais. (Gráf. 04). Extrapolando estes dados para o universo aproxi-

mado de motoqueiros em Poços de Caldas, que gira em torno de 400 (quatrocentos)

motoqueiros, teremos aproximadamente 450 crianças dependentes da renda gerada pelo

setor de moto-táxi na cidade.

ESCOLARIDADE

17%

20%

24%

39%

0%

0%

1º inc. 1º comp. 2º inc. 2º comp. sup. Inc. sup.comp.

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Quantidade de filhos

Estado civil

Grande parte dos entrevistados estão há mais de três anos trabalhando como mo-

to-taxistas, pois apesar da ilegalidade existe estabilidade para estes profissionais (Graf.

05). O desemprego apontado por 83% dos entrevistados como causa da opção de se

trabalhar no setor e apenas 7% devido a melhor remuneração gera dúvidas (Graf. 06),

visto que se levada em consideração a remuneração média mensal da cidade, atualmente

estipulada em R$ 400,00 e a média elaborada com base nos dados obtidos na pesquisa,

que supera R$700,00, pode ser um atrativo para o crescente número de trabalhadores

neste setor, além da flexibilidade de horários e o não pagamento de tributos devido a

falta de regularização do setor.

Mesmo que 52% dos trabalhadores do setor apontem a legalização da categoria

como principal reivindicação (Graf. 07), muitos a vêem com receio, visto que caso o

fato se concretize, aproximadamente 40% dos trabalhadores seriam impedidos de atuar

no setor, dado o número de vagas que seriam disponibilizadas segundo anteprojeto de

lei atualmente em discussão na Câmara Municipal, que contemplaria um moto-taxista e

um moto-entregador a cada mil habitantes, perfazendo um total de 360 vagas.

QUANTIDADE DE FILHOS

43%

27%

13%

17%

0 1 2 3 ou mais

ESTADO CIVIL

47%

48%

5%

Solteiro Casado Divorciado

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Obs: Legalização é o motivo mais citado, mas também é muito forte o desejo de

serem respeitados e terem mais segurança.

PERÍODO NA FUNÇÃO

27%

28%

45%

até 1 ano 1 à 3 anos > 3 anos

POR QUÊ OPTOU PELA PROFISSÃO?

84%

5%4% 4% 3%

Desemprego Melhor Remuneração Complemento de Renda

Flexibilidade Profissão

A OPINIÃO A RESPEITO DO QUE FALTA AO SETOR

52%36%

7% 5%

Legalização Respeito e Segurança Normas Comuns Não Opinou

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Após entrevistas realizadas com os vereadores Marcus Togni e Renato Manto-

vani, com os proprietários de três agências de moto-táxi da cidade e com a Presidente do

Sindicato dos Moto-Taxista, Adriana Moraes, foi informado que este número está sendo

negociado para 1,5 moto-taxista e 1,5 moto-entregador por mil habitantes, o que eleva-

ria as vagas para 540.

O Sr. Renato Mantovani, vereador da Câmara Municipal de Poços de Caldas in-

formou que o projeto de lei de autoria do vereador Marcus Togni, que dispõe sobre a

regulamentação do serviço de transporte de passageiros por moto-táxi, encontra-se em

discussão nas comissões pertinentes, devendo ser votado dentro de aproximadamente

quarenta dias. No dia 24 de abril de 2006, o presidente da Câmara, vereador Marcus

Togni, esteve reunido com proprietários de agências e com os motos-taxistas para apre-

sentar e discutir o projeto de lei de sua autoria. Segundo ele, hoje são cerca de 500 a 600

pessoas trabalhando neste setor, e o Legislativo não pode ignorar este fato, pois eles

geram uma “economia substancial”. (sic?)

Durante a pesquisa ficou evidenciado o desejo da maioria dos entrevistados

quanto à legalização e regulamentação do setor, fato este apontado pelos trabalhadores

do setor como saída da clandestinidade, respeito da sociedade e das autoridades para

com estes profissionais, além de poderem usufruir de linhas de financiamento diferenci-

adas para compra dos veículos, como as ofertadas aos taxistas e outros.

Segundo uma entrevista com um representante do setor de taxistas, o serviço de

moto-táxi não afetou muito os taxistas, pois o público-alvo desse setor é a terceira idade,

pessoas munidas de bagagem e turista que procuram comodidade e segurança. Os usuá-

rios de moto-táxi são jovens e pessoas que buscam um transporte rápido e de baixo cus-

to.

Foram entrevistados três proprietários de agências de moto-táxi com o intuito de

levantar dados relevantes à pesquisa. O primeiro entrevistado foi o proprietário da Em-

presa A. Sua empresa teve a fundação no ano de 1997, seu proprietário alega que o mo-

tivo que o levou a investir no setor foi falta de opção, o investimento inicial da empresa

foi de R$5.000,00 (cinco mil reais). Como dificuldades encontradas o proprietário rela-

tou que a resistência por parte das empresas de transporte coletivo e autoridades em

aceitar o serviço foi muito grande.

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Quando perguntado como o setor receberia a regulamentação ele nos respondeu

que bem, já que a regulamentação traria respeito para a classe. A empresa A, trabalha

igualmente com transportes de pessoas e com entregas, não existindo um serviço que se

destaque mais que o outro, já que ambos têm o mesmo valor. O estabelecimento não

sofre nenhum tipo de tributação já que não é legalizado, o alvará de licença é expedido a

ele como moto-entrega.

A empresa iniciou suas atividades com 10 motos e hoje conta com 30 motos. Os

motos-taxistas pagam à agência uma taxa diária de R$5,00 (cinco reais). Ao longo des-

ses anos 11(onze) motoqueiros sofreram acidentes e 01 (hum) desses foi fatal. Mesmo

com estes índices a empresa não oferece seguro nem benefícios aos motoqueiros. O

proprietário estima um lucro anual de R$12.000,00 (doze mil reais). Quando perguntado

a respeito da lei municipal nº. 7.367, que dispõe sobre a regulamentação do setor, ele foi

preciso em afirmar que seria muito bom se esta regulamentação acontecesse, pois pode-

rão trabalhar de forma mais honesta e sem incômodos.

O proprietário está satisfeito com o sindicato que o representa e afirma que é

muito bom ter alguém para lutar com eles. Como sugestões para o setor ele propõe que

sejam oferecidos cursos e treinamentos aos motoqueiros.

O segundo entrevistado foi o proprietário da Empresa B, que teve o início de su-

as atividades também em 1997, o proprietário trabalhava como motoqueiro e resolveu

abrir seu próprio negócio, seu investimento inicial foi de R$1.500,00 (um mil e qui-

nhentos reais), suas principais dificuldades foram encontrar mão de obra e a concorrên-

cia com outras agências.

Quando perguntado sobre o impacto que a regulamentação causaria, ele afirma

que ela traria maior credibilidade aos trabalhadores e acredita ser necessário sua implan-

tação o quanto antes. Como no caso da empresa A, a empresa B não distingue os servi-

ços de transporte de passageiros de entregas, ambos tem o mesmo peso. O alvará de

licença é expedido também como moto-entrega e não existe tributação. Na data de fun-

dação a empresa B contava com 05 motos, hoje o número é de 25 motos. Os motoquei-

ros pagam à agencia uma taxa diária de R$6,00 (seis reais), já aconteceram cinco aci-

dentes nesta agência desde sua abertura, 01 (hum) deles teve vítima fatal e assim como

na empresa A não existe nenhum tipo de seguro aos trabalhadores. Não nos foi forneci-

do pela empresa B estimativa de lucro. Sobre o sindicato ele afirma que falta colabora-

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ção à presidente, como sugestões para o setor ele ressaltou regras e normas comuns a

todas as agências.

O terceiro e último entrevistado, é o proprietário da empresa C, fundada em

2002, não foi divulgado investimento inicial e seu proprietário afirma ter investido no

setor por falta de perspectiva de investimento em outras atividades, suas maior dificul-

dade foi encontrar profissionais capacitados. Quando questionado sobre os impactos que

uma regulamentação traria ele foi preciso em afirmar que só vê impactos positivos de

melhoria nos serviços.

O enfoque da empresa C, ao contrário das anteriores, é no transporte de passa-

geiros. A empresa também a exemplo das anteriores não paga impostos e seu alvará é

expedido como moto-entrega. No inicio de suas atividades a empresa contava com uma

moto, hoje são vinte motos. A taxa diária é de R$7,00 (sete reais). Nesses quatro anos

de funcionamento nenhum acidente ocorreu. O proprietário não informou sua estimativa

de lucro anual, como também não opinou sobre a lei de regulamentação do setor. A res-

peito do sindicato o proprietário afirmou que ele precisa ser reestruturado, como suges-

tões para o setor ele considera importante cursos de aperfeiçoamento específicos à área

de atuação e a legalização. (Graf. 08).

Podemos concluir ao final das três entrevistas que apesar de algumas diferenças

peculiares a cada empresa, todas caminham com pensamentos parecidos a respeito do

que é necessário para uma estruturação do setor, como a própria legalização, cursos de

especialização, entre outros.

O setor de moto-táxi representa uma concorrência ao transporte urbano formal

da cidade. Por isso foi feita uma entrevista informal com o Sr. Braga, gerente da Circul-

SUGESTÕES

44%

36%

17%3%

Legalização Normas/Cursos Não Opinou Qualificação

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lare, concessionária do transporte coletivo da cidade de Poços de Caldas. Embasado no

posicionamento do Secretário Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana, Sr.

José Carlos Xavier, do Ministério das Cidades, o Sr. Braga informou que o setor de

transporte público regulamentado garante a regularidade, a confiabilidade e a segurança

necessárias ao deslocamento das pessoas, mesmo em horários e em áreas de baixa de-

manda, classificado que é como serviço de caráter essencial. A proliferação do transpor-

te informal, dentre eles o moto-táxi, aumenta os custos do transporte coletivo por redu-

zir o número de passageiros dos sistemas convencionais, o que implica em aumento na

tarifa final paga pelos usuários. Outro fator citado pelo Sr. Braga, é a ausência de res-

ponsabilidade social do serviço clandestino, pois está livre de encargos, tributos e regu-

lamentação, não contribuindo com a arrecadação de impostos, não oferecendo nenhum

tipo de assistência ao empregado, que não possui nenhum direito social ou trabalhista,

não seguindo nenhum tipo de lei nem fiscalização de nenhum órgão público, abalando

consideravelmente o equilíbrio econômico-financeiro dos setores formais, além da falta

de atendimento a idosos e a categorias específicas especiais com direito a gratuidades

que o transporte coletivo formal é obrigado a atender. No aspecto relativo à segurança, o

serviço de moto-táxi coloca em risco o condutor e o passageiro, pois o tipo de veículo é

inadequado para uso constante em transporte de pessoas. Por este motivo, os motos-

táxis atuam basicamente nas cidades de pequeno e médio porte, não sendo utilizado em

grandes centros urbanos, onde existe somente a moto-entrega.

Questionado sobre os danos ocasionados pela proliferação dos motos-taxistas na

cidade sobre o transporte coletivo, o Sr. Braga nos informou que o impacto foi muito

grande. Segundo dados da empresa, o IPK, Índice de Passageiros por Kilômetro, teve

uma redução de 20% (vinte por cento) desde 2000, o que é muito representativo. (Graf.

09).

Graf. 09: Índice de Passageiros por Kilômetro (IPK). Fonte NTU (2001)

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Diante destes fatos, a empresa Circullare é contra a regulamentação do setor de

moto-táxi, tendo inclusive entrado com notificação extrajudicial e em seguida com noti-

ficação judicial à Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, para as devidas providên-

cias, pois os danos causados ao sistema são enormes, pois as motos realizam viagens

mais curtas, porta a porta, retirando grande quantidade de passageiros do sistema regu-

lar.

Para combater este tipo de concorrência desleal e procurar manter a competitivi-

dade, a empresa lançou o Circullinho, que são ônibus menores, com linhas mais curtas e

a um preço mais acessível, que conta com a presença somente do motorista, inexistindo

o cobrador de passagens.

A empresa Circullare também apóia a implantação da Tarifa Cidadã. As gratui-

dades e os passes escolares representam 19% no custo da tarifa e os tributos represen-

tam 29% na composição destes custos. Na opinião do Sr. Braga, estas gratuidades deve-

riam ser assumidas pela seguridade social do governo federal, que teria recursos desti-

nados a este fim e a carga tributária deveria ser reduzida de uma maneira justa, tendo

em vista que o transporte público é tão essencial quanto a cesta básica, a saúde e a edu-

cação.

ASPECTOS POLÍTICOS:

Em pesquisa documental realizada no site da Câmara Municipal de Poços de

Caldas foi levantado alguns aspectos políticos referentes ao setor de moto-táxi na cida-

de. Em agosto de 2002, a vereadora Raulina Adissi, encaminhou ao Prefeito Municipal

de Poços de Caldas a Indicação nº. 601/2002, um estudo para a regulamentação da ati-

vidade de moto-táxi pelas empresas já instaladas na cidade. A vereadora diz no docu-

mento que:

“é público e notório que as empresas de moto-táxi prestam serviços ainda não

regulamentados por lei; ou seja, atuam em verdadeira clandestinidade e ocasionando

transtornos aos pedestres nas calçadas e também ao trânsito, uma vez que as grandes

quantidades de motocicletas estacionadas ao longo das ruas centrais, ocupam várias

vagas de estacionamento".

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A respeito do estudo proposto pela vereadora Raulina Adissi, o vereador Mauro

Tramonte disse, em 20 de setembro de 2002, que:

“com a legalização, pode-se exigir seguro total para os pilotos e os passageiros,

toucas descartáveis para os usuários quando da utilização do capacete; recolhimento de

impostos em favor do município, limitação do número de motos, exigência de vistorias

permanentes, motos com o ano de fabricação limitado, uniforme de identificação da

firma, capacete com viseiras de cor clara para fácil identificação; motos com números

de identificação grandes e visíveis para a ideal identificação para o caso de penalida-

des.”

Em 26 de setembro de 2002, através do Requerimento nº. 251/2002, o vereador

Mauro Tramonte solicitou a realização de uma Audiência Pública sobre o serviço de

"moto-táxi". Em outubro de 2002 ocorreu a primeira audiência pública com a presença

do Delegado Regional de Segurança Pública, Dr. Lacy de Souza Moreira; Delegado de

Trânsito, Dr. Carlos Camargo, diretor do DEMUTRAN, Sr. Rúbens Alves e a presiden-

te do Sindicato dos Motos-taxistas, Sra. Adriana Moraes. Na época, o Delegado de

Trânsito, Dr. Carlos Camargo, disse que

“...a Constituição Federal autoriza o transporte coletivo e individual de passagei-

ros que, segundo ele, é o primeiro respaldo constitucional para a implantação do servi-

ço. Explicou tratar-se de uma concessão do Poder Executivo estadual e municipal. No

entanto, o estado e o município, não têm condições de transportar toda a população. Por

meio de concessões, o Poder Executivo outorga ao particular, a uma empresa ou a um

indivíduo o direito de realizar o serviço de transporte de massa ou individual, sabendo-

se que esses serviços só podem ser colocados em prática, devidamente regulamenta-

dos.”

Atualmente o vereador Marcus Togni elaborou um anteprojeto, que encaminhou

ao Executivo e, agora, espera o novo projeto voltar à Câmara para votação. O vereador

salientou ainda que desde 1996 tenta regulamentar e melhorar o serviço de moto-táxi e

moto-entrega.

“Estamos atrasados 10 anos. A lei já poderia estar vigorando, o pessoal já pode-

ria estar trabalhando regulamentado. Se tudo isso tivesse acontecido, os motos-taxistas

estariam gerando renda para o município e trabalhando legalmente no serviço que esco-

lheram”.

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No dia 24 de abril de 2006, ele esteve reunido com donos de agências e com mo-

tos-taxistas da cidade para explicar como funcionará o trabalho das motos se porventura

for aprovado o projeto de Lei que regulamenta o serviço. Em nova reunião no último dia

28 de abril, o vereador Marcus Togni afirmou que o projeto de lei visa melhorar a ima-

gem da categoria no município. A presidente do Sindicato, Sra. Adriana Moraes, disse

que algumas mudanças têm que ser feitas no anteprojeto.

“Na última reunião com o vereador Marcus Togni, nós combinamos que iríamos

nos encontrar novamente depois que tivéssemos analisado o que foi proposto. Estuda-

mos o caso e agora estamos aqui para pedir um prazo ao Presidente, pois queremos su-

gerir algumas modificações no anteprojeto. Achamos importante que as alterações se-

jam feitas de acordo com a realidade do serviço de moto-táxi”.

ASPECTOS SOCIAIS:

Os serviços de moto-táxi são rápidos, modernos e ágeis. Mas também são muito

perigosos. O crescente número de moto-taxistas na cidade preocupa cada vez mais os

órgãos responsáveis. Este setor apresenta um nível crescente de desenvolvimento em

todas as cidades do país, pois necessita de um investimento inicial baixo e fácil contato

com clientes. Ainda são poucas as cidades do país que tem o serviço de moto-táxi regu-

lamentado. Um dos maiores argumentos contra a regulamentação é a imprudência dos

pilotos. Para a segurança dos passageiros que utilizam o serviço de moto-táxi, é impres-

cindível muita atenção do motorista, além do uso de capacetes e toucas descartáveis.

Além dos riscos inerentes à atividade de moto-taxista por serem veículos de transporte

bastante inseguros, ainda há os perigos provocados pela falta de higiene na utilização

dos capacetes. Todas as motocicletas são obrigadas a pagar uma taxa anual de seguro, o

DPVAT, para cobrir os gastos com indenizações em acidentes de trânsito. Pesquisa rea-

lizada pelo IPEA nas principais capitais brasileiras indica que, de cada 100 acidentes

com motos, 71 geram vítimas, quando para os automóveis essa proporção é de 07 víti-

mas a cada 100 acidentes.

Segundo estudos apresentados no VI Congresso Brasileiro e IV Congresso Lati-

no-Americano sobre Acidentes e Medicina de Tráfego pelo Dr. Dirceu Rodrigues Alves

Jr., o índice de morbidade com motos é de 69%. No ano de 2004, 34% dos motoqueiros

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mortos no trânsito tinham entre 21 e 25 anos. 73% dos acidentes com motos comprome-

tem os membros inferiores. Estes dados revelam o grave problema social gerado para o

país com o custo de resgate, tratamento, internação, cirurgia, e também afastamento e

aposentadoria para o INSS.

A instituição de cursos específicos de direção defensiva para motos-taxista pode

ser o começo do trabalho de conscientização da segurança para legalização do setor. Em

muitas cidades que já estão com o serviço regulamentado, o moto-taxista deve participar

de cursos e apresentar uma série de documentos, inclusive de antecedentes criminais.

Com a evolução deste setor, já se cogita numa habilitação diferenciada com uma catego-

ria específica, como existe para transporte em Kombi/vans, táxis e ônibus.

É imprescindível o envolvimento de todos os segmentos, do governo, dos sindi-

catos, das indústrias fabricantes de motocicletas, para a busca de soluções que reduzam

o problema social ocasionado pela morte ou pela incapacidade definitiva destes jovens

motoqueiros.

ASPECTOS ECONÔMICOS:

O serviço de moto-táxi faz parte do ciclo da cadeia produtiva de uma cidade, a-

inda mais Poços de Caldas que se trata de uma cidade turística. Sendo uma região gera-

dora de turistas, o serviço de moto-táxi atua indiretamente na cadeia produtiva do turis-

mo. A unidade de transporte dos motociclistas faz um elo entre a rede hoteleira e qual-

quer estabelecimento do comércio de Poços de Caldas do qual o hotel necessite de ser-

viços, principalmente produtos de alimentação ou alguma urgência na falta de algum

produto. O serviço de moto-táxi é rápido e tem custo reduzido, o que gera vantagem na

hora de utilizar o serviço.

A regulamentação do setor fortaleceria o sindicato da categoria da cidade, que

atualmente está inoperante, com a obrigatoriedade dos motos-taxistas pagarem a Con-

tribuição Sindical.

O setor de moto-táxi como citado em diversas partes deste trabalho ainda não é

regulamentado, o que impede informar dados de tributação já que não existe nenhuma

base de cálculo. Com uma possível regularização as agências de moto-táxi seriam obri-

gadas a recolher os seguintes impostos: ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer

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Natureza); IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica), que poderia ser o SIMPLES; En-

cargos Trabalhistas: no caso dos motoqueiros trabalharem como contratados, FGTS,

PIS, INSS e COFINS.

Conforme consulta ao plantão fiscal da Receita Federal em Poços de Caldas, em

tese o serviço de transporte de pessoas é tributada como pessoa física. Conforme fl. 19

do Manual de Imposto de Renda da Pessoa Física, “é tributável 60% (sessenta por cen-

to) no mínimo, do rendimento de trabalho individual no transporte de passageiros quan-

do o veículo for de propriedade do contribuinte ou locado e conduzido exclusivamente

por ele”. Portanto o contribuinte tem como base tributária 60% dos seus rendimentos,

dos quais seria abatido suas despesas e após isso verificado a faixa de retenção de seu

imposto de renda.

A falta de regulamentação do setor de moto-táxi onera a economia do município,

pois os trabalhadores deste segmento não recolhem nenhum tipo de tributo. Se aprovada

a lei que regulamenta o setor, os motos-taxistas se enquadrariam como autônomos no

Código Tributário Municipal, Atividade nº 6025-9.

Baseado em uma simulação podemos ter uma idéia de quanto o município deixa

de recolher pela falta de regulamentação do setor. Se levarmos em consideração que a

categoria de moto-taxista seja considerada como autônomo, o pagamento do ISSQN –

Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, que seria recolhido pelos aproximada-

mente 500 (quinhentos) motos-taxistas existentes, tendo como base levantada uma ren-

da média mensal de R$ 700,00 (setecentos reais), numa alíquota de 5% (cinco por cen-

to) (em Poços de Caldas a alíquota do ISSQN varia de 2% a 5%), teríamos um expressi-

vo valor de R$ 17.500,00 (Dezessete mil e quinhentos reais) acrescidos à receita muni-

cipal mensalmente. Todas as agências de moto-táxi faturam juntas uma média de R$

90.000,00 (Noventa mil reais) por mês, considerando a taxa diária média de R$ 6,00

(seis reais) cobrada de cada moto-taxista. O recolhimento do ISSQN destas empresas

seria numa média de R$ 4.500,00 (Quatro mil e quinhentos reais) por mês. Estes valores

representam uma simulação, devido ao fato do anteprojeto que regulamenta o setor ain-

da estar em estudo pelas respectivas comissões da Câmara Municipal, o que impossibili-

ta a veiculação de informações pertinentes ao projeto de lei e, portanto, não podermos

consultar nenhuma fonte legal a respeito da tributação que o setor passaria a contribuir.

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CONCLUSÃO:

A união de todos os setores envolvidos e dos profissionais da área é muito im-

portante. Só assim pode-se mostrar à população que os motos-taxistas merecem o res-

peito de todos. A cordialidade, a educação, a circulação correta no trânsito e o respeito

aos cidadãos é fundamental para que a categoria seja bem vista pela população.

O serviço de moto-táxi trouxe para o passageiro rapidez, bom preço e atendi-

mento personalizado e para os motos-taxistas representou uma chance de emprego e

renda. O serviço possui uma desvantagem em relação às outras modalidades de trans-

porte, pois não atende a demanda de portadores de necessidades especiais, crianças e

gestantes, nem oferecem descontos a estudantes e idosos. A concorrência do moto-táxi

fez com que o preço cobrado pelos taxistas diminuísse, o que ofereceu uma vantagem à

população. Os taxistas reclamam da situação, mas admitem que há espaço para todo

mundo no mercado. Para os motos-taxistas vencerem o desafio de conquistar novos

clientes depende, antes de tudo, de afastar a idéia freqüente de que existe uma associa-

ção entre a profissão e o crime - principalmente o tráfico de drogas -, além de terem de

enfrentar a concorrência dos próprios colegas, manterem o instrumento de trabalho em

boas condições e mostrarem eficiência e segurança.

Estimular a organização dos motos-taxistas no sindicato representativo da classe

pode ser um meio de diminuir a informalidade e aumentar a segurança. Mesmo quando

não há mais como abolir a oferta desse serviço, ainda é possível adotar medidas para

preservarem passageiros e motoristas. Com a votação do anteprojeto que tramita na

Câmara Municipal, o sindicato dos motos-taxistas já está se fortalecendo, pois o mesmo

é um vínculo na negociação entre os trabalhadores e o Legislativo e o Executivo Muni-

cipal.

O setor de moto-táxi é uma realidade na cidade de Poços de Caldas há 10 anos.

Criar uma legislação específica que fiscalize e monitore essa atividade diminuiria o im-

pacto da clandestinidade do serviço de moto-táxi, pois o mesmo participa das ligações

empresariais de forma indireta por isso, se este serviço for realmente proibido, além de

tirar empregos de muitos pais de família, afetará significativamente a economia do lo-

cal.

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As pesquisas foram de extrema importância para entender como surgiu o serviço

de moto-táxi. O setor foi praticamente introduzido como uma alternativa e pressão da

nova forma de vida gerada pelo crescimento demográfico acelerado e a expansão das

periferias. Se a sociedade continuar crescendo dessa maneira desorganizada resultará no

aumento cada vez mais impactante de serviços clandestinos, como a única opção aos

excluídos.

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