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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO O IMPACTO DAS CONCESSÕES FLORESTAIS NO BRASIL E SUA APLICAÇÃO NA AMAZÔNIA _______________________________________ Gabriela Rzepa Ferreira matrícula nº 101113417 E-mail: [email protected] ORIENTADOR: Prof. Carlos Eduardo F. Young E-mail: [email protected] SETEMBRO DE 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

O IMPACTO DAS CONCESSÕES FLORESTAIS NO BRASIL E SUA APLICAÇÃO NA AMAZÔNIA

_______________________________________ Gabriela Rzepa Ferreira matrícula nº 101113417

E-mail: [email protected]

ORIENTADOR: Prof. Carlos Eduardo F. Young E-mail: [email protected]

SETEMBRO DE 2006

As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor

2

Agradecimento

Agradeço aos meus pais, Antonio José e Margareth, pelo apoio que me deram durante toda a

vida. Ao professor Carlos Eduardo, por ter me orientado com tanta atenção. Agradeço a minha

irmã pela ajuda e paciência mesmo nos momentos mais difíceis. Enfim, agradeço a todos, que

durante a realização deste trabalho, me ajudaram direta ou indiretamente.

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Resumo Este trabalho dedica-se a mostrar a aceleração da derrubada da floresta amazônica e as relações

sociais e econômicas que promovem a destruição. A falta de perspectivas na Amazônia faz com

que a população entenda a destruição da natureza como uma fonte de renda. Com o intuito de

modificar essa dinâmica o governo deseja implementar o sistema de concessões florestais para a

exploração racional da mata. O projeto visa aumentar o mercado de produtos florestais

certificados e desse modo atingir mercados maiores e mais exigentes.

Para analisar esse tema, no primeiro capítulo, teremos um histórico do desenvolvimento da

região, apontando algumas medidas tomadas pelo governo e entendendo suas conseqüências

sociais e econômicas na região. No segundo capítulo, é feito um estudo de caso da aplicação

desse sistema em outros países, analisando seus pontos de sucesso e fracasso. A partir desse

estudo faremos uma comparação com a situação brasileira, discutindo medidas que poderiam ser

bem sucedidas no contexto brasileiro. No terceiro capítulo, é feita uma análise da aplicação do

projeto no Brasil, apontando as medidas necessárias para a implementação e mostrando as falhas

do mercado que devem ser corrigidas para que o modelo seja bem sucedido. Como conclusão,

teremos a visão de que somente a exploração sustentável poderá barrar o avanço da degradação

ambiental e da violência na região. Tornando-se uma fonte de renda e de desenvolvimento que

promove a união entre ganhos econômicos e preservação ambiental.

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ÍNDICE : Introdução............................................................................................................8 Capítulo 1- 1.1- Manejo florestal sustentável ....................................................................11

1.2- Histórico...................................................................................................12

1.3- Processo atual de ocupação......................................................................16

1.4- Os atores do desmatamento......................................................................20

1.4.1- Madeireiras..............................................................................................20

1.4.2- Pecuária....................................................................................................21

1.4.3- Agricultura de grãos.................................................................................23

Capítulo 2 - 2.1 - Peru..............................................................................................................27

2.2 - Camboja ......................................................................................................31

2.3 - Malásia ........................................................................................................33

2.4 - Lições para o Brasil ....................................................................................35

Capítulo 3- 3.1 - As concessões florestais como solução ......................................................37

3.2 - Passos iniciais .............................................................................................40

3.3 - Pagamento pelas concessões.......................................................................42

3.4 - Regulação e fiscalização das atividades.......................................................43

3.5 - Conflito de interesses..................................................................................45

Conclusão...........................................................................................................47

5

Índice de figuras: Figura 1- Aumento do desmatamento nos últimos 10 anos ................................15

Figura 2- O arco do desmatamento......................................................................15

Figura 3 - O crescimento da violência na região amazônica...............................20

Figura 4- Relação entre o tamanho do rebanho bovino na Amazônia

e o desmatamento.................................................................................................22

Figura 5 - O avanço do desmatamento na última década....................................24

Figura 6- Madeira legal versus madeira ilegal.....................................................46

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Introdução

A Amazônia sempre foi conhecida como o “coração verde” do mundo. Esse apelido tem, dentre

outras causas, o fato desta imensa floresta apresentar um dos mais ricos ecossistemas do mundo.

Sua diversidade natural é tamanha que atrai a atenção de estudiosos e instituições preocupadas

com a preservação do meio ambiente.

Infelizmente, com a implementação de políticas de desenvolvimento equivocadas, as estratégias

que visavam o crescimento econômico prevaleceram sobre a preocupação com os recursos

naturais. Dessa forma, instalou-se na região um ciclo econômico no qual a geração de empregos e

a acumulação de capital ficaram associados à destruição da floresta e à grilagem de terras.

Esse trabalho analisa a implementação das concessões florestais como uma atividade econômica

que poderá diminuir o avanço da destruição na floresta amazônica. Com a sanção da lei n°

11.284, sobre a gestão das florestas públicas, o governo pode modificar o movimento sócio-

econômico na direção da preservação ambiental. Dessa forma, os métodos de uso racional dos

recursos naturais se tornam mais atrativos ao investimento que as atuais formas predatórias de

exploração.

Para o melhor entendimento do problema, o estudo é dividido em três capítulos. No capítulo 1,

faremos uma análise da evolução social da região. Inicialmente discutiremos os projetos do

governo para a ocupação e o desenvolvimento. Analisaremos a dinâmica econômica que leva a

expansão da soja e da pecuária, fazendo com que a fronteira agrícola se desloque para dentro da

floresta, causando o aumento da área destruída.

No capítulo 2 teremos uma visão da realidade da aplicação de sistemas de concessões florestais

em diferentes países, como o Peru, o Camboja e a Malásia. Após a análise dos sucessos e

fracassos desses programas, poderemos elaborar uma reflexão sobre o contexto brasileiro,

utilizando as boas práticas internacionais.

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O capítulo 3 é uma análise da lei de concessões florestais (n° 11.284) sancionada pelo presidente

em fevereiro de 2006. Serão estudadas medidas que poderão ser tomadas para promover o

sucesso do projeto, analisando algumas etapas importantes como por exemplo,

a seleção dos concessionários, o cálculo do valor pago e a fiscalização das atividades.

Desse modo, podemos entender que a exploração sustentável da floresta amazônica e o lucro dos

investidores podem torna-se aliados da conservação florestal. Para isso é necessário que haja um

conjunto de medidas que torne o uso racional dos recursos naturais mais lucrativo que a

exploração predatória. No entanto, para que essa conjuntura seja verdadeira, o governo deve

desenhar um modelo onde os agentes não possam desviar da conduta desejada, seja por uma

fiscalização rigorosa ou por prejuízos financeiros.

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Capítulo 1

Para desenvolver o tema do projeto é necessário apresentar o conceito de manejo florestal. Esta é

uma das mais eficientes estratégias para aliar a exploração comercial dos produtos florestais à

preservação ambiental. Em seguida será feita uma apresentação da dinâmica social que promove

o desmatamento da Amazônia. Esse estudo será dividido em três partes, a saber:

Histórico, debatendo os projetos de desenvolvimento, implantados, inicialmente, no governo

militar, e portanto as conseqüências sociais e naturais do movimento da população que buscava

melhores condições de vida;

Processo atual de ocupação, onde é analisada a dinâmica social da região e sua influência sobre

o processo de desmatamento;

Os atores do desmatamento: uma análise detalhada da ação dos principais agentes econômicos,

tendo como foco, seus interesses, seu papel dentro do processo e sua interação com os demais

agentes.

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1.1- Manejo florestal sustentável

O Brasil tem uma grande diversidade de ecossistemas, divididos entre uma vasta gama de

florestas e outras formas de cobertura vegetal. Por ser um país ainda em desenvolvimento e com

grande parte da população vivendo em situação de pobreza, existe uma pressão pelo uso desses

espaços com objetivos econômicos e sociais.

Uma possível forma de conciliar os interesses econômicos e ambientais é o manejo florestal.

Podemos entender o manejo florestal como a utilização racional dos recursos naturais com o

objetivo de aliar exploração com preservação. Essa exploração deve ser feita respeitando os

limites de recuperação da natureza. Assim, é possível explorar comercialmente e preservar os

recursos simultaneamente. Após o período de exploração deve haver uma interrupção nas

atividades exploratórias, assim a natureza poderá se recompor.

Por outro lado, o manejo florestal possibilita que a conservação não se restrinja a unidades de

conservação de proteção integral em terras públicas. É necessário que se estenda a aplicação do

manejo florestal para as propriedades privadas, pois estas ocupam a maior parte do território

nacional.

É importante diferenciar manejo florestal das formas predatórias de extração madeireira que

tradicionalmente foram empregadas no Brasil. Deve-se dar preferência à utilização das técnicas

naturais que menos interfiram no ecossistema, tentando alinhar os ganhos econômicos com os

interesses de preservação.

Alguns exemplos de manejos sustentáveis são:

• Exploração de seringueiras.

• Extração de castanhas.

• Retirada de madeira (utilizando cuidados como, por exemplo, a rotação da terra).

• Estudos farmacológicos sobre novas drogas.

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• Utilização de recursos florestais para a criação de novos produtos, como o “couro

vegetal”.

Esse tipo de ação tem ganhado grande destaque nas discussões entre capitalistas e ambientalistas,

que pela primeira vez estão seguindo na mesma direção e com os mesmos objetivos. A

importância do manejo florestal sustentável está no fato de que esta é uma das melhores maneiras

de aliar os ganhos econômicos com a preservação ambiental. Desse modo, cria-se um grande

incentivo à conservação do ambiente através da busca pela maximização do lucro.

Como forma de incentivar a exploração sustentável das florestas foi recentemente aprovado o

projeto de lei n° 11.284 de fevereiro de 2006.

No citado projeto, o manejo sustentável é definido como:

“Administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais,

respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-

se, cumulativamente ou alternativamente a utilização de múltiplas espécies madeireiras, ou

múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e

serviços de natureza florestal”.

1.2- Histórico

“Em meados dos anos 60 a maior parte das terras da Amazônia pertenciam aos Estados e

municípios. Destas, segundo o IBGE, 87% eram matas e terras exploradas somente pela

população ribeirinha, 1,8% eram lavouras, onde a metade não tinha título de propriedade e,

somente 11% eram terras de pastagens naturais”. (LOUREIRO et PINTO, 2005, p.2).

A Amazônia era constituída principalmente por terras devolutas, ou seja, terras públicas, sem

título de propriedade e ocupada por pequenos posseiros que nela trabalhavam. Não havia,

também, grandes disputas pelas terras pois este era um recurso relativamente abundante na

região.

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O governo atribuía o atraso econômico da região à falta de capitais produtivos, baixa densidade

demográfica e falta de recursos, que comprometiam a viabilidade de investimentos.

Para promover o desenvolvimento e a integração do mercado nacional, os militares iniciaram o

chamado Projeto Rondon: “integrar para não entregar” [ver Sauer,2005]. Com isso, a partir de 64, os

governos militares apoiaram um modelo que oferecia vantagens financeiras para agricultores,

pecuaristas, madeireiros e empresários que, vindos de diferentes partes do Brasil e exterior,

estivessem dispostos a investir e desenvolver a região. Para tanto era necessário retirar a floresta,

pois essa era vista como um empecilho ao desenvolvimento.

“Os projetos agropecuários financiados pelo governo militar representaram o primeiro movimento de um processo

contínuo de formação de extensos domínios privados no interior da Amazônia, trazendo graves conseqüências

sociais e ambientais para a região. A expansão da fronteira capitalista tinha como base a destruição da cobertura

vegetal. A floresta representava “desocupação", "vazio demográfico" e subdesenvolvimento. A expressão legal desta

concepção durante os anos de 1970 era a concessão de títulos sobre seis hectares para cada hectare de floresta

desmatada. Com isso, instalou-se um amplo processo de substituição ecológica, baseado no desmatamento e na

formação de pastagens cultivadas.” (LIMA et POZZOBON, 2005, p.15)

Essa política não foi bem sucedida. Muitos empresários utilizaram os benefícios dados pelo

governo, não para investir na região, mas sim, para a compra de terras principalmente para

especulação. Há casos de uso fraudulento dos incentivos dados pelo governo como o desvio do

investimento para empresas de outras regiões do país ou mesmo criação de empresas fictícias.

Nesses casos os danos sociais foram menores do que nas situações onde as firmas realmente

investiram na Amazônia, pois estes acabaram causando grande devastação da floresta e

concentração fundiária, visto tratar-se de propriedades com grandes extensões de terra, com

quase nenhum emprego e desenvolvimento criados na região [ver LOUREIRO, 2005].

Para garantir a posse das terras aos possíveis investidores, em meados dos anos 70, após o

lançamento do Programa de Integração Nacional (PIN), o governo modificou a legislação, dando

posse das terras aos supostos proprietários já que havia grande dificuldade de separar as terras

particulares das terras públicas. Com isso houve a apropriação por particulares das terras do

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governo. Além disso, investiu-se em infra-estrutura, como estradas (por exemplo, a Belém-

Brasília, Transamazônica e a Cuiabá-Santarém), aeroportos e portos. Essas estradas pioneiras

serviram de rotas para a migração na região e foram planejadas com a finalidade de nortear as

áreas de atividades econômicas, passando a ser denominadas "corredores de desenvolvimento".

Nas margens dos eixos rodoviários iniciou-se, então, uma grande devastação e uma disputa pelas

terras, principalmente pelas mais próximas a estas benfeitorias.

Nesse período, notamos que a pequena propriedade familiar, que era a base tradicional da

ocupação e das atividades da economia amazônica, foi bastante prejudicada. As políticas do

governo promoveram a concentração fundiária nas mãos dos já proprietários de grandes

extensões de terras, incentivando disputas pela terra através de violentos conflitos. Estes vêm

piorando cada vez mais com o passar dos anos.

“Ao longo dos programas nacionais de ocupação da Amazônia, houve um grande êxodo para a

região. Além de agricultores sem terra, atraídos pela possibilidade de conseguir lotes, os

trabalhadores que foram atuar nas obras do governo também permaneceram na região em busca

de melhores oportunidades de vida. Esse êxodo foi tão intenso que o aumento populacional ao

final do período militar foi de cerca de 60%“ (LOUREIRO et PINTO, 2005, p.10).

Esses imigrantes acabaram se instalando nas cidades próximas ou trabalhando para as empresas

da região. A intensa migração para Amazônia funcionou como válvula de escape para os

problemas sociais de outras regiões. A forte ligação entre as políticas de desenvolvimento e a

devastação ambiental é comprovada pelo fato de que os municípios que tiveram o maior

investimento governamental em projetos de pecuária, agricultura e madeireiros, tiveram a maior

devastação e atualmente, são os que apresentam a menor cobertura vegetal.

No ano de 1978, a Amazônia tinha uma área desmatada de 15,3 milhões de hectares de terras,

no ano de 1988 a área era de 37,8 milhões de hectares. Em 1990, a destruição já superava os 41,5

milhões de hectares. Nos últimos anos, a devastação vem alcançando níveis tão altos que em

1999 já se tinha destruído 13,9% de todo o bioma da região.

A tabela abaixo mostra a evolução da área devastada nos últimos anos:

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Figura 1- Aumento do desmatamento nos últimos 10 anos,

Área desmatada nos últimos dez anos (em KM²)

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2002 2003 2004 2005Área 29.059 18.161 13.277 17.383 17.259 18.226 23.266 24.430 26.130 18.79

* estimativa preliminar da taxa anual feita pelo Imazon a partir dos dados do DETER

Fonte Ministério do Meio Ambiente

Figura 2- O arco do desmatamento

Fonte: (Mello, 2004, p. 2)

Pela figura 2, podemos ver uma das principais áreas de devastação. Na divisa das regiões Centro

Oeste e Norte encontra-se o chamado arco do desmatamento, seguindo o traçado da BR-163. A

abertura dessa estrada teve um papel importante na atração de imigrantes, que vieram, sobretudo,

da região Sul e Sudeste. Primeiramente, o objetivo dessa obra era promover o avanço da

agropecuária, principalmente vinda do Mato Grosso e a conseqüente ocupação do que era

considerado um “grande vazio demográfico”. Havia também a expectativa de que fossem

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aproveitados economicamente os grandes depósitos minerais da Amazônia, promovendo, assim o

desenvolvimento da região.

1.3- Processo atual de ocupação

É necessário entender o atual processo de desmatamento na Amazônia para compreender a

dinâmica da economia na região. Podemos, assim, julgar as políticas para a contenção do

desmatamento e sua real eficácia.

No primeiro momento, veremos o madeireiro, que geralmente é o primeiro a entrar na mata ainda

intocada. Seu objetivo é a retirada de algumas poucas espécies de árvores como, por exemplo, o

Mogno, conhecido como o “Ouro Verde da Amazônia”, que tem alto valor comercial. No

entanto, sabemos que esse número de espécies é bastante baixo em relação ao número de total de

espécies de árvores que existem na floresta [ver Young e Steffen; O cofre da conservação

(2006)].

Segundo Young, os madeireiros entram na floresta e retiram somente as árvores que apresentam

valor comercial. A floresta continua viva embora hajam grandes perdas na flora. Muitas árvores

pequenas são derrubadas durante a queda das árvores maiores e parte da floresta é destruída

quando o madeireiro abre as trilhas necessárias para entrar na mata e transportar as toras até uma

estrada ou rio. Em seguida, surge outro problema, a diminuição do número de árvores das

espécies comercialmente valorizadas. O que, em alguns casos como, por exemplo, o do próprio

Mogno, pode levá-lo à extinção, já que nesse caso, existem dificuldades para a sua reprodução.

Porém, é importante ressaltar o fato de que após retirar as espécies de seu interesse, o madeireiro

deixa a floresta. Com a extração da madeira comercializável, o madeireiro sai da mata levando

somente as toras que foram derrubadas e apresentam valor comercial. Dessa forma, após sofrer a

exploração, a floresta tem o poder e se recompor rapidamente. Assim, não haverá uma perda

15

significativa para a natureza. Apesar de ter sido em parte derrubada, a floresta e o ecossistema

continuam vivos e se reproduzem com facilidade.

O maior problema da atividade madeireira ocorre porque em alguns casos existe o interesse não

somente no lucro com a venda das toras, mas também, na transformação da área florestal em

pastagens ou plantações de monocultura, como a soja.

Quando o madeireiro abre caminhos na floresta, ele o faz para poder caminhar ou até para o

transporte da madeira. Seu objetivo é escoar sua produção, o que ocorre em um rio ou a uma

estrada próximos. Dessa forma, a madeira é levada para o seu processamento onde, após passar

por um beneficiamento, será encaminhada para o mercado local. Porém, essas trilhas permitem

um fácil acesso à região. Assim, os pecuaristas têm acesso à área e promovem queimadas para

limpar o terreno e prepará-lo para as suas atividades. Após as queimadas, no entanto, a floresta

não consegue mais se recuperar, pois toda a cobertura vegetal e a fauna da região foram mortas.

Observamos que muitas vezes ocorre uma parceria entre os madeireiros e pecuaristas. O

madeireiro tem interesse em explorar terras intocadas e os pecuaristas, por sua vez, valorizam

menos terras com florestas do que terras limpas. Para eles, a retirada da cobertura vegetal é um

custo adicional ao seu negócio. Consequentemente, os proprietários das terras que apresentam

cobertura vegetal deixam os madeireiros explorarem-nas e estes, como pagamento, entregam a

terra “limpa” para o dono. Podemos, assim, perceber que o fator determinante para o fim da

floresta não é somente a ação dos madeireiros. Estes, no longo prazo só mudam a proporção

existente entre as espécies na área. Os agentes que efetivamente determinam o fim da floresta são

os agricultores e pecuaristas, pois é a partir das queimadas que ocorre a destruição total do

ecossistema.

A transformação da floresta em pastos ou plantações geralmente acontece em locais próximos de

caminhos ou estradas, já que estas facilitam e diminuem os custos do escoamento da produção.

Essa é a causa da grande preocupação dos ambientalistas com os projetos de melhorias de

estradas ou criação de novas rodovias, pois estas vias de acesso poderiam trazer maior facilidade

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de entrada aos pecuaristas e agricultores, promovendo, deste modo, uma aceleração na

devastação.

A falta de recursos e de oportunidades no campo também é um fator que gera devastação na

Amazônia. Com o desemprego, parte da população migra para uma região onde a fronteira

agrícola ainda não esteja definida, instalando-se em alguma área ainda com floresta. Após a

derrubada da vegetação, inicia algumas atividades somente com o objetivo de obter a posse do

terreno. Com isso, essa fronteira torna-se mais estável e valorizada. Após esse processo ocorre a

venda da propriedade. Essa é a forma que a população local encontrou de acumular algum capital

e melhorar suas condições de vida. Desse modo, a fronteira agrícola move-se para o interior da

floresta, agravando ainda mais sua devastação. O trecho abaixo mostra como a grilagem das

terras torna-se possível na região amazônica:

“De acordo com a legislação brasileira, as terras ocupadas e lavradas podem ser reivindicadas

após um ano, no caso de terras devolutas, e após cinco anos, no caso de terras privadas. Estes

prazos facilitam que o demandante de títulos possa repassá - los, num curto espaço de tempo,

podendo, pois, sair em busca de novas posses e, assim, avançando sobre a fronteira. As

reivindicações de títulos, então, devem passar por agências governamentais que irão verificar a

concordância com as leis fundiárias, processar os pedidos de títulos e, finalmente, fornecê- los.” (Sant’Anna, 1999, p. 5)

Abaixo, um esquema da dinâmica da ocupação na Amazônia:

1. Campesinato tradicional – presença antiga (data de dois ou três séculos);

2. Apropriação esparsa das terras por grandes empresas de pecuária – a partir do final dos

anos 1970 e início dos anos 1980;

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3. Frente madeireira formada primeiramente por empresários do mogno associados a

empresas estrangeiras de exportação – facilidade de acesso às novas terras pela abertura

das primeiras estradas;

4. Pecuaristas com o desejo de promover a criação extensiva de gado, através da derrubada da

floresta primária;

5. Pequenos produtores rurais, sem perspectivas de melhorias em suas condições de vida

devastam a floresta para a formação de fazendas;

Juntamente com a grilagem das terras, tem crescido também a violência na região. Inúmeros

assassinatos, ameaças de morte e violação dos direitos humanos têm sido praticados pelos

grileiros para garantir a posse das terras e a continuação dessa estrutura de poder. Como nos

mostra o trecho abaixo:

“A grilagem de terras tem sido, portanto, o pano de fundo das mais variadas formas de violação

dos direitos humanos principalmente no Estado do Pará. Essas violações vão desde a negação

de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, com a extração criminosa dos recursos

florestais, até a expulsão violenta e prisões dos pequenos posseiros. Esses ocupam a terra, há

décadas, mansa e pacificamente. As violações agravam-se com as práticas de trabalho escravo e

culminam com o número assustador de assassinatos de trabalhadores e suas lideranças em

decorrência das invasões dos grileiros.” (Sauer, 2005, p. 29)

Essa apropriação ilícita das terras é a principal forma de concentração fundiária na região. Os

habitantes tradicionais, que vivem do extrativismo e de pequenas lavouras estão perdendo espaço

para as atividades que degradam e por vezes até exterminam totalmente a floresta.

“Aliado a essa estrutura, temos a miopia dos governos que teimam em não agir para evitar essa

situação caótica. Assim, a vida da população mais pobre, dos índios e da própria floresta na

região fica cada vez mais difícil. A dinâmica das lutas sociais, explicadas pela antítese terra

para trabalho (camponeses) versus terra de exploração (empresários e fazendeiros), vêm se

tornando a cada dia mais explosiva” (Sauer, 2005, p. 31).

18

Tabela 3- O crescimento da violência na região amazônica: 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total

Conflitos de terra 35 38 63 60 37 86 53 115 110 136 104 837Assasinatos 12 14 33 12 12 9 5 8 20 33 15 173

Ameaças de Morte 42 54 24 29 11 36 17 46 78 61 103 501Fonte: Cadernos de Conflitos no Campo - Comissão Pastoral da Terra, 2004.

1.4- Os atores do desmatamento

1.4.1- Madeireiras

É imprescindível que tenhamos o perfeito entendimento sobre o negócio das madeireiras no

contexto da Amazônia. A partir dessa atividade abrem-se as portas para a total destruição das

florestas. Existe também o fato de que a exploração de madeira por si só, como já foi mencionado

anteriormente, não derruba totalmente a vegetação. Essa é uma atividade que pode e deve ser

praticada de uma maneira sustentável. Assim ela preservará o meio ambiente e se tornará mais

lucrativa, trazendo, desse modo, um maior desenvolvimento econômico para a região sem que

existam perdas pela destruição da natureza.

O setor florestal brasileiro responde por cerca de 2% do produto interno bruto (PIB) do Brasil,

segundo os dados das contas nacionais. Estimativas conservadoras colocam o setor florestal

brasileiro como o sexto maior do mundo.As atividades madeireiras são responsáveis pela maioria

dos empregos informais do setor, enquanto a indústria de celulose e papel responde por mais de

30% dos empregos formais. Os salários pagos pela indústria florestal giram em torno de

US$7.500 por ano; sendo metade desse valor gerado pelo setor de celulose e papel. Atualmente, a

maior parte das atividades das madeireiras no Brasil é feita pela simples exploração das florestas,

sem utilizar plantações para a exploração. No entanto, a produtividade das florestas plantadas é

19

consideravelmente maior que a de florestas naturais. Embora as plantações só representem 5% da

área florestal, elas fornecem 35% do volume total de madeira [ver MACQUEEN, A. et al. (2004)].

Embora o Brasil seja um grande produtor de madeira, o lucro obtido com a comercialização desta

não é tão grande quanto poderia ser. Existem alguns fatores que impedem a instalação de projetos

de longo prazo que visam a sustentabilidade e a maximização dos lucros. Dentre outros, podemos

destacar os seguintes fatores: baixa densidade populacional, facilidade de acesso através das

rodovias e a insegurança, conseqüência da violência gerada pela questão fundiária na região.

Atualmente, grande parte da exploração de madeira é feita pelo aproveitamento das árvores

existentes em áreas que estão se transformando em pastagens ou áreas agrícolas. A madeira é,

então, um subproduto dessa transformação, sendo, em sua maioria, extraída nas áreas de fronteira

recente. Seu processamento é feito em condições desfavoráveis pois, com o avanço da fronteira,

os equipamentos de beneficiamento tem que ser movidos também. Dessa forma, a madeira

brasileira não atinge os consumidores mais exigentes que, conseqüentemente, pagam um melhor

preço pelos produtos de melhor qualidade.

Aliado ao baixo lucro do setor, aumentou a pressão da população pela diminuição do

desmatamento. Houve um aumento da fiscalização sobre a extração da madeira na Amazônia.

Com isso, o custo da retirada ilegal das árvores aumenta muito, já que em alguns casos os

madeireiros tiveram que adicionar aos seus custos de produção o valor pago na corrupção dos

responsáveis pela fiscalização. Por estes motivos o manejo florestal sustentável vem se tornando

uma opção cada vez mais atrativa para os produtores da região, pois, embora o custo de produção

aumente, existe a possibilidade de alcançar os mercados externos que, por serem mais exigentes,

pagam um preço mais alto pela madeira.

1.4.2. Pecuária

20

A causa principal do desmatamento é a pecuária extensiva e de baixa produtividade, que muitas

vezes está associada à especulação das terras. A conversão de florestas em pastagens nas

fazendas de tamanhos médio e grande é a forma de desmatamento mais comum na Amazônia

Brasileira [ver MARGULIS (2003)]. Muitas vezes a pecuária é feita de forma tão inadequada,

que em pouco tempo a área é degradada. Com isso ela tem que ser abandonada e trocada por

outra área mais produtiva, geralmente outra área recém desmatada. Nesse caso, também

observamos que a baixa produtividade afeta a lucratividade para os produtores, pois, se estes

utilizassem métodos mais adequados e sustentáveis, teriam seus lucros aumentados.

A pecuária é um ator tão importante no desmatamento que podemos relacionar o seu crescimento

a aceleração do desmatamento, como mostra o gráfico abaixo:

Figura 4- Relação entre o tamanho do rebanho bovino na Amazônia e o desmatamento

Tamanho do rebanho bovino (IBGE, 2002) e área desmatada no período de 1990 a 2001 (INPE, 2003). Fonte: (ALENCAR, A. et al., (2004), p. 32)

21

No gráfico temos uma regressão linear onde podemos observar a existência de uma relação direta

entre o rebanho bovino e o desmatamento, sendo o grau de correlação (8,2695) significativo entre

as variáveis.

A expansão da pecuária na Amazônia já é uma atividade econômica tão importante que não está

mais associada exclusivamente à dinâmica do mercado interno, essa expansão também está ligada

ao crescimento do mercado externo de leite e carne. O aumento da demanda externa por carne,

devido ao crescimento desses mercados, juntamente com os bons preços e os incentivos à

exportação estão fazendo essa atividade tornar-se cada dia maior e mais importante para a

economia da região.

Outro fato importante é que o crescimento da pecuária também está ligado à questão dos

subsídios e dos incentivos fiscais dados nas décadas de 70 e 80. Porém, mesmo com a queda

desses subsídios e incentivos na década de 90 muitos recursos foram destinados para a

recuperação de pastos ou compra de máquinas agrícolas.

1.4.3- Agricultura de grãos

O aumento da produção de grãos na Amazônia, principalmente o avanço da soja, é tido como

uma das causas da aceleração do desmatamento. A agricultura de soja tem crescido bastante

devido ao enorme aumento principalmente da demanda externa. Com isso, seu cultivo também

está se expandindo da região Centro Oeste para a região Norte, principalmente na Amazônia.

No entanto, no caso da soja, sua relação com o desmatamento é indireta. A expansão dessa

cultura tem sido, em grande parte, feita em pastagens já formadas pois, desta forma, o custo

inicial de “limpeza” o terreno não é mais necessário. Pelo manejo inadequado, as pastagens

tornam-se rapidamente desgastadas e sua produtividade cai, obrigando os pecuaristas a migrar

para uma nova área. Com isso, os agricultores fazem contratos de arrendamento das terras com os

produtores e, através do uso de fertilizantes artificiais, iniciam suas plantações.

22

Figura 5- O avanço do desmatamento na última década.

Expansão da área plantada de soja nos municípios da Amazônia Legal entre 1990 e 2002

Fonte: (ALENCAR. A. et al., 2004, p. 37)

23

Porém, com o crescimento da demanda de soja, podemos observar que recentemente a expansão

também está sendo feita em áreas de floresta. Devido ao fato do crescimento da agricultura e da

pecuária está ocorrendo na mesma região, está ocorrendo uma valorização dos terrenos, e com

isso seu encarecimento. Desse modo, em alguns casos torna-se mais barato comprar as terras com

cobertura vegetal já que estas são menos valorizadas. A limpeza da área é feita posteriormente

pelos agricultores utilizando em alguns casos a parceria com os madeireiros.

A soja teve um impacto social muito grande no Brasil. Sua expansão esteve ligada à concentração

fundiária e ao desaparecimento de muitos pequenos produtores nas regiões Sul e Centro Oeste.

Houve a geração de desemprego e o empobrecimento da população nativa. Pelo fato dessa cultura

utilizar muita tecnologia o trabalhador rural tornou-se desqualificado, não sendo mais empregado

nessas plantações.

A monocultura de soja é bastante ligada ao setor industrial agrícola e as pesquisas genéticas,

empregando muito capital em inovação. Com isso, tornou-se ainda mais difícil a permanência dos

pequenos produtores no mercado. Estes não podem mais competir com os grandes pois não têm

muitos recursos disponíveis para aplicar em suas lavouras. Podemos citar, também, alguns

impactos ambientais causados pela soja, como por exemplo, compactação e impermeabilização

dos solos, conseqüência do uso de máquinas agrícolas; a erosão; a contaminação por agrotóxicos;

a retirada da vegetação nativa; o assoreamento de rios e reservatórios; o aumento de pragas e

perda de habitat natural de espécies vegetais e animais.

A partir da análise da dinâmica entre os agentes podemos perceber que o desmatamento acontece

como um ciclo, onde os atores interagem entre si. Eles são interdependentes. Um utiliza como

insumo para sua produção um subproduto da ação do outro. O madeireiro derruba algumas

árvores, para isso ele abre estradas para poder escoar sua produção. A partir desse subproduto há

a derrubada da mata por posseiros ou pelos próprios madeireiros em parceria com os pecuaristas.

Estes aproveitam as terras já limpas para poder instalar suas criações. Quando as terras dos

pecuaristas começam a diminuir a produtividade na criação bovina, os agricultores de grãos

fazem contratos de arrendamento, e, para iniciar sua produção promovem a um baixo custo, sua

reconstituição através de fertilizantes artificiais.

24

Sem que haja a atuação de cada um desses agentes, o outro teria maiores custos para instalar-se.

Podemos entender que ao desempenhar suas atividades nesse esquema de destruição, cada agente

facilita a atuação do outro, existindo uma cooperação entre eles.

25

Capítulo 2 Neste capítulo, faremos um estudo da aplicação do sistema de concessões florestais em alguns

países, entendendo os problemas existentes em sua implementação e manutenção. Podemos,

assim, analisar como esses obstáculos foram superados e quais os resultados obtidos.

Dessa forma, teremos uma base empírica para poder antecipar algumas das dificuldades que

certamente irão surgir. Podendo, então, utilizar, após alguma adaptação ao contexto brasileiro,

suas soluções e suas melhores práticas.

O primeiro país a ser estudado será o Peru, que por sua proximidade, é um caso bastante

interessante. Nele teremos uma floresta com as exatas características da nossa e uma dinâmica

social em torno do desmatamento muito parecida com a brasileira.

2.1- Peru

Segundo Serna e Galarza (2005), o Peru é o nono país em áreas florestais do mundo. No entanto,

nas últimas décadas, a exploração não foi feita de forma sustentável, houve muita devastação da

floresta, com um grande desperdício dos recursos naturais. Estima-se que 23% da Amazônia

peruana foram derrubados até o ano de 2003.

Assim como no Brasil, uma das grandes causas do desflorestamento é a utilização das áreas

florestais para o uso agropecuário. Essas ações são ajudadas pela facilidade de acesso

proporcionado pela abertura de estradas.

A madeira peruana está sendo comercializada como uma commodity para exportação. O setor

florestal não se interessou em investir na produção para poder atender as exigências do mercado

26

interno. O país continua dependente das importações de madeira para o abastecimento de sua

demanda interna. Por isso, embora exista um grande potencial, o setor florestal peruano aparece

como responsável por somente 1% do PIB do país. Segundo o WWF, o país sofre uma evasão

fiscal de US$ 8,5 milhões por ano devido à ilegalidade das atividades do setor.

Uma das razões para essa perda é a antiga legislação florestal que permitia a utilização dos

recursos naturais por meio de contratos de exploração. Esses contratos geralmente duravam um

período de 10 anos e tinham o intuito de promover uma exploração racional e a inclusão social

dos pequenos produtores locais. No entanto, eles foram utilizados tanto pelos pequenos

produtores quanto pelos grandes industriais, fazendo com que os objetivos do governo não

fossem alcançados.

Segundo Barreto (2004), o pagamento pelas extrações era feito por meio de uma taxa cobrada de

acordo com as espécies e quantidades extraídas. Porém, a fiscalização não era feita de forma

adequada, fazendo com que os produtores não tivessem nenhum custo adicional por explorar as

áreas acima do que permite o uso racional dos recursos. Esse fator tornou-se um incentivo para

que a exploração fosse feita de forma intensiva. Assim, houve uma grande perda de massa

florestal, pois aliado a grande exploração, os esforços do governo no sentido do reflorestamento

não foram muito fortes. Em uma tentativa de acabar com essas práticas, o governo peruano em

2002, lançou a lei florestal. Essa legislação era uma tentativa de garantir o uso sustentável dos

recursos, tendo como base a implementação das concessões florestais. Com essa finalidade foram

reservados 25 milhões de hectares, cerca de 34% da Amazônia peruana.

Essa lei introduziu o direito de aproveitamento florestal (DAF), que é uma taxa em dólares paga

por hectares das concessões. Outro aspecto importante foi a delegação da responsabilidade de

supervisionar e de controlar suas terras, protegendo a natureza e evitando a ação de atividades

ilegais. Criou-se, então um órgão, o Inrena, para regular e fiscalizar as concessões e seus recursos

naturais.

Uma inovação existente nessa lei é a categorização das áreas florestais. Assim, podemos

classificar as áreas florestais em exploráveis e não exploráveis, tendo em vista a fragilidade dos

27

ecossistemas. Os biomas considerados frágeis ficam protegidos, sobre o controle do Estado, sem

sofrer nenhuma intervenção humana. A vantagem dessa lei em relação a anterior está explicada

abaixo.

O maior espaço de tempo previsto no contrato, 40 anos no lugar dos 10 anos da lei anterior

permitem uma maior estabilidade para que haja investimentos em exploração sustentável.

Considerando-se que esses investimentos têm um período de maturação maior que os demais,

pois dependem do período de recuperação natural, o concessionário passou a ser obrigado a

apresentar um plano de manejo e um planejamento operacional de suas atividades, o que gera

uma garantia maior de uso racional dos recursos. Com a apresentação dessas exigências o

concessionário irá ganhar uma certificação florestal voluntária. Essa certificação garante um

melhor acesso aos mercados internacionais que muitas vezes exigem selos verdes. O pagamento

pelas concessões é feito de acordo com a área, não dependendo mais do volume extraído. Com

isso, cria-se um incentivo ao aumento da eficiência dos produtores, evitando a exploração

irracional. [ver Serna et Galarza (2005)]

Esse novo sistema de concessões ocorreu no início de 2002, acumulando cerca de 20 milhões de

hectares de terras dadas em concessões. A partir dessa experiência, foram feitos alguns

diagnósticos sobre o processo peruano.

As primeiras concessões tiveram alguns problemas. O Inrena, órgão responsável pela fiscalização

do cumprimento dos contratos de concessão, não tinha recursos suficientes para desempenhar

suas tarefas com eficiência. Além disso, alguns lotes estavam ocupados por agricultores,

comunidades locais ou haviam sido desmatados ilegalmente por madeireiros.

A demora no processo causou a desatualização dos inventários florestais, o período de tempo

entre a confecção dos documentos e a posse dos concessionários foi muito grande. Esses

problemas aconteceram principalmente pela falta de recursos financeiros, humanos e físicos

destinados ao desenvolvimento do projeto.

28

“Quanto à sustentabilidade das concessões, os maiores problemas estão ligados a falta de

conhecimento por parte dos concessionários. Primeiramente, os pequenos madeireiros não

tinham uma cultura de organização. Para que eles pudessem participar da concorrência pelas

concessões era preciso estar em cooperativas ou organizações do gênero. Sendo assim, poucos

pequenos produtores tiveram acesso às concessões. Outro problema está associado ao nível

educacional dos concessionários, segundo uma pesquisa do WWF somente 15% dos

concessionários tinha ensino superior completo. Assim era muito difícil promover uma mudança

cultural nos madeireiros, pois esse sistema exigia deles uma maior responsabilidade e um

determinado conhecimento sobre a utilização de práticas de exploração sustentáveis”. (SERNA et

Galarza, 2005, p.40)

Além disso, o sistema financeiro tradicional considera o setor florestal como um setor de alto

risco, sendo assim, os produtores enfrentaram muitas dificuldades de acesso ao crédito e sofreram

com os elevados custos dos juros. Por isso houve um aumento da utilização de recursos dos

mercados informais. Esses empréstimos foram feitos basicamente de duas maneiras:

- Habilito- consiste em fazer um adiantamento de parte do dinheiro, para que o produtor possa, ao

menos, cobrir seus custos de produção. O empréstimo é pago com a venda da madeira, que

geralmente é feita diretamente ao credor, que paga preços um pouco a baixo do mercado pelo

produto.

- Al partir- consiste em conceder um empréstimo ao produtor para que este possa manter sua

atividade. O empréstimo é pago com a divisão da produção final. Geralmente, a divisão entre o

produtor e o credor é de 50%.

Com a utilização desse tipo de financiamento, as margens de lucro dos concessionários foram

bastante reduzidas, comprometendo a sustentabilidade do negócio no médio prazo.

Esses problemas, no entanto, ocorreram pela implantação de um novo regime. Esse sistema está

passando por um amadurecimento para que possa garantir seu sucesso. Devemos entender que

para que os objetivos sejam cumpridos os fatores que atrapalham a rentabilidade do negócio

29

devem ser eliminados. É necessário que sejam disponibilizados mais recursos para que o

monitoramento do processo possa ser feito com mais rigor, garantindo assim, um melhor

cumprimento do manejo sustentável.

Após a implantação das primeiras concessões, ainda existem alguns conflitos sociais. Os

concessionários estão pleiteando, junto ao governo, a posse definitiva de seus lotes. Segundo eles,

as benfeitorias feitas nas terras estão sendo um investimento bastante alto. Por isso, eles

acreditam que deveriam ter garantias futuras de poder usufruir seus benefícios, o que seria um

maior incentivo a novos investimentos.

Existem, também, indícios da continuação da exploração ilegal de madeira, em parques nacionais

e em terras indígenas. Ocorreram, também, denúncias de que os concessionários não estariam

utilizando as técnicas de manejo sustentável. No entanto, pela falta de recursos financeiros e

humanos o governo e os órgãos competentes não podem promover um melhor monitoramento

das atividades dos concessionários.

Os próximos dois países estudados pertencem ao Sudeste asiático. Essa é uma região de grande

exploração madeireira. A importância no estudo desses dois países está no fato de que ambos não

conseguiram garantir, em um primeiro momento, a sustentabilidade em seus lotes de concessão.

Isso aconteceu porque suas instituições públicas não estavam preparadas para assumir a grande

responsabilidade de controlar e fiscalizar o processo de concessões. Atualmente seus governos

estão buscando soluções interessantes para seus problemas ambientais.

2.2 - Camboja

O setor florestal no Camboja é um dos mais importantes da economia. No entanto, por ter saído

recentemente de um período de agitação política, não existem recursos humanos e institucionais

para serem empregados no controle do uso dos recursos naturais. Para evitar que essa falta de

recursos prejudique ainda mais a preservação ambiental, o governo do Camboja proibiu o corte

de árvores exceto por regimes de concessões florestais em 1995. Essa lei não vigorou na prática

30

pois as exportações de madeira ilegal continuaram a ter bastante força na economia do país. [ver

KRATIE, (2005)]

Com a crescente pressão internacional, o governo está sendo obrigado a promover uma reforma

no setor florestal. Órgãos como o FMI, por exemplo, estão exigindo garantias de melhorias na

fiscalização dos recursos naturais para destinar recursos ao país. Por isso, nos últimos 2 anos está

ocorrendo uma aceleração no processo de concessões. Com esse sistema, o governo tem como

objetivo aumentar o gerenciamento de seus ativos florestais, aumentar o valor agregado na

exportação de seus produtos através do melhor processamento e do pagamento dos royalties.

As concessões florestais foram instituídas no País em 1995. Existem 2 tipos de contrato de

concessões:

- Licenças de exploração – São licenças fornecidas pelo departamento de florestas, autorizando

uma empresa a explorar em um curto espaço de tempo um certo local. A princípio essa prática

não é prevista pela legislação florestal do país, pois a exploração acontece fora do sistema de

concessões. Assim sendo, existem dificuldades na fiscalização pois os empresários passam a

contar cm uma flexibilidade bastante grande por não ter determinada exatamente a área a ser

explorada, como acontece em um contrato de concessão.

- Concessões de longo prazo - as companhias têm contratos de exploração de 25- 50 anos.

As empresas são obrigadas a investir na melhoria do processo de beneficiamento da madeira e

pagam royalties ao governo por ter acesso as concessões.

Além do aumento da participação das licenças para a exploração de madeira no país, ainda existe

uma grande ação da exploração ilegal no país. Pela dinâmica política do país e por suas recentes

lutas, a exploração ilegal tem sido feita com a ajuda da força militar tailandesa.

Para evitar que as ações ilegais prejudicassem o sucesso dos contratos legais, o governo do

Camboja assinou um acordo com o World Bank chamado Technical Assistance (TA). Esse

31

projeto consiste na terceirização de parte do controle sobre o setor. A divisão desse projeto foi

feita em:

• Controle da madeira ilegal e verificação da madeira, feito por uma empresa norte

americana.

• Gerenciamento das concessões, feito por uma empresa australiana

• Políticas de reflorestamento, a cargo de outra empresa norte americana

• Aconselhamento legal, feito por uma empresa da Indonésia

Embora o Technical Assistance seja um projeto bastante inovador, o sucesso de implementação

está passando por alguns obstáculos. As dificuldades enfrentadas são a inexistência de leis que

permitam as já instituídas licenças de exploração e a insegurança causada pela violência que

prejudica tanto as atividades de fiscalização quanto a exploração

O problema que podemos ver no Camboja é um total despreparo do governo para lidar com a

preservação do ambiente. Nesse contexto, sem fiscalização, as empresas estão destruindo

rapidamente os recursos naturais do país e, com isso, obtendo grandes lucros, alimentando a

violência e a clandestinidade. É preciso que haja uma reestruturação da política interna para que,

em seguida, a situação do setor florestal em relação às empresas estrangeiras seja resolvida.

2.3 - Malásia

A Malásia é um país que possui grande cobertura florestal. Dessa vegetação, 20% está sob a

forma de plantações de espécies como seringueiras, palmeiras e cacaueiros e somente cerca de

15% está sob forma de parques de preservação ambiental. Grande parte da vegetação da Malásia

já foi explorada, restando somente a chamada floresta residual remanescente. [ver Gregory et Brazee,

(2005)]

32

O início da exploração de madeira na Malásia se deu nos anos 60, com a entrada de

multinacionais inglesas no país. Para que essa atividade fosse feita legalmente, foi introduzido o

sistema de concessões florestais. Assim o governo não perderia a posse de suas terras e garantiria

a sustentabilidade de suas florestas, aumentando suas arrecadações. No entanto, com o passar do

tempo, a maioria das concessões florestais passou a ser feita por empresas de origem malaia.

Com a crescente exploração e o aumento de seus lucros, essas empresas tornaram-se cada vez

mais poderosas no país e a Malásia tornou-se uma das maiores produtoras de madeira tropical do

mundo.

Atualmente, a indústria madeireira malaia está enfrentando grandes desafios, pois com tamanha

devastação ambiental, está ocorrendo uma escassez de matéria prima, o que faz com que seu

preço esteja subindo cada vez mais. A devastação predatória teve início pela exploração das

florestas do país. Por ser um setor de tamanha importância e poder na economia local, o governo

não mantinha uma fiscalização tão rígida quanto o necessário, facilitando as ações ilegais por

parte dos madeireiros que acabaram resultando na destruição de grande parte de suas florestas

exploráveis.

Em resposta à destruição, em 1994 houve uma reformulação do Ato Nacional Florestal. A nova

legislação é mais rigorosa, o que vai de encontro à situação alarmante do país em relação à

escassez dos recursos naturais. Foi decretado um aumento de 50 vezes no valor das multas sobre

desmatamento predatório ilegal, prevendo cadeia para os infratores e autorizou o uso de soldados

do exército no patrulhamento das florestas.

Outra medida bastante interessante para evitar o corte ilegal de árvores foi o emprego de etiquetas

contendo código de barras em todas as concessões florestais do país. Esses códigos de barras são

impressos em etiquetas de plástico que seriam fixadas nas toras de madeira. Com isso, podem-se

ter informações muito importantes como, por exemplo, a espécie da árvore, a região em que ela

foi cortada e a data. Pode-se, dessa forma identificar de que lote de concessão todas as madeiras

foram extraídas e em que período. Essas informações podem impedir a circulação das madeiras

33

ilegais, visto que essa etiqueta pode servir como uma certificação de que a madeira é legal. Desse

modo, o monitoramento do mercado é agilizado, dificultando a circulação das mercadorias ilegais

Com tamanho controle sobre a exploração e com o aumento do preço da madeira, causada pela

escassez, muitas madeireiras estão saindo do país. Além disso, com a diminuição de suas

atividades, houve o aumento da demanda por madeira na América Latina, o que explica em parte

o recente aumento da exploração na floresta amazônica.

2.4 - Lições para o Brasil

Após entender a maneira como as concessões florestais foram aplicadas no exterior podemos

tomar algumas importantes lições para evitar que tenhamos que repetir os erros dos outros países.

A abertura de concessões florestais é uma saída inteligente para a preservação ambiental por

atrelar o manejo sustentável aos ganhos econômicos. No entanto é de suma importância o

entendimento de que não existe nenhuma lei que sozinha garanta o uso racional dos recursos

naturais. É preciso que o controle do governo seja feito de forma firme, honesta e eficiente, pois,

caso contrário a exploração irá comprometer a preservação da natureza.

A fiscalização, como mostrado nos casos analisados, é de suma importância para o sucesso do

sistema de concessões florestais. É através desta que o órgão regulador poderá ter a certeza de

que a legislação está sendo cumprida e os concessionários não estão cometendo infrações. Desse

modo, garantimos que não há nenhuma ação ilegal ou violência por parte dos grileiros e

pistoleiros que atuam na região. Contudo, existe um custo elevado para a implementação

eficiente deste controle.

A estruturação do aparelho fiscal deve ser feita de forma que o controle ocorra dentro e fora dos

lotes de concessão. O controle in loco dá uma maior garantia de que a condição de

sustentabilidade está sendo cumprida. Com essas visitas, o órgão regulador pode ter a certeza de

34

que o concessionário está retirando da floresta somente aquela quantidade de matéria prima

permitida pelas técnicas de manejo sustentável e, ao mesmo tempo, pode conferir se a quantidade

declarada no momento do cálculo para o pagamento é a exata. Aperfeiçoando o modelo de

monitoramento para o cálculo do valor a ser pago pelas atividades dos concessionários.

O controle externo aos lotes de concessão deve ser feito nos mercados. A exemplo da Malásia,

que criou etiquetas contendo uma espécie de certificação de legalidade para a madeira, o Brasil

precisa não somente melhorar o controle sobre a fonte desses produtos, mas também

regulamentar sua comercialização de forma mais rigorosa. Através desses aperfeiçoamentos será

mais difícil escoar os produtos ilegais, gerando assim, um desincentivo para a produção não

racional. Esse incentivo contra a produção ilegal da madeira se dá pelo fato de que os custos de

produção, que antes eram quase zero, serão bastante aumentados, gerando a necessidade de

maiores cuidados para burlar a fiscalização. Com isso, a margem de lucro da atividade será

drasticamente reduzida pois o preço de venda deste produto não terá a mesma tendência de

aumento no curto prazo.

Para que haja um maior controle sobre as atividades do setor, será necessário fazer grandes

investimentos nos órgãos responsáveis. Um grande número de pessoas e recursos terá que ser

disponibilizado para que se possa ter uma vistoria realmente eficiente. Os recursos para esses

investimentos podem ser obtidos, por exemplo, pelos pagamentos dos concessionários. O cálculo

do valor das concessões deve levar em conta todos os custos de manutenção da operação do

sistema. Além disso, os maiores investimentos serão necessários no início do projeto, após sua

implementação serão necessários somente os custos de manutenção.

35

Capítulo 3 3.1- As concessões florestais como solução

Tendo entendido a dinâmica da devastação da Amazônia, é preciso ter em mente que não existe

preservação sem que haja um interesse coletivo voltado para esse objetivo. Assim, existem

algumas soluções que fazem com que os agentes, tanto a sociedade, quanto as empresas privadas

e os grandes capitalistas tenham incentivos para preservar a floresta e não mais para destruí-la.

Com esse objetivo, o governo federal, mais precisamente o Ministério do Meio Ambiente vem

defendendo a lei 11.284/2005, que visa a implementação de um programa de concessões

florestais para uma gestão racional das florestas em áreas públicas. Em fevereiro de 2006, o

projeto já foi aprovado no congresso e sancionado pelo presidente da República.

Segundo essa lei, podemos entender estas concessões florestais como:

“delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal

sustentável para a exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante

licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda as exigências do respectivo edital

de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo

determinado”.

A gestão florestal deve ser feita de acordo com os princípios de proteção ao ecossistema,

estabelecimento de atividades que garantam o uso racional e o desenvolvimento sustentável na

região, respeitando os direitos de acesso das populações locais e buscando a melhoria em suas

condições de vida. Deve haver uma busca pela agregação de valor aos produtos e serviços

florestais, incentivando a diversidade e o desenvolvimento das atividades locais.

Esse projeto de lei tem três objetivos principais:

36

1) Definir o marco regulatório da gestão de florestas públicas;

2) Criar o Serviço Florestal Brasileiro

3) Estabelecer o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal.

O Serviço Florestal Brasileiro terá a função de atuar como órgão gestor do sistema de concessões;

incentivar o desenvolvimento da exploração sustentável das florestas; e gerir o Fundo Nacional

de Desenvolvimento Florestal.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal prevê que até 20% da receita com as concessões

deva ser usada para o custeio desse sistema, incluindo-se recursos para o Serviço Florestal

Brasileiro e para o Ibama.

A outra parte da arrecadação, 80%, poderá ser dividida em 30% para os estados onde se localiza a

floresta pública, 30% para municípios e 40% para o Fundo Nacional de Desenvolvimento

Florestal.

Para isso, o projeto de lei define três formas de gestão das florestas públicas, para que, desse

modo, tenhamos uma produção sustentável no setor florestal:

1) Criação de unidades de conservação, que permitem a produção florestal de forma sustentável

como, por exemplo, as florestas nacionais;

2) Destinação para uso comunitário, sob a forma de assentamentos florestais, reservas

extrativistas, áreas quilombolas, Projetos de Desenvolvimento Sustentável (os chamados PDS);

3) Concessões de manejo florestal, obtidas através de processos de licitação pública e exigindo

pagamento pelo uso dos recursos naturais.

37

Para que possa haver essa concessão, deve-se obedecer a alguns passos determinantes. Dentre

eles a inclusão das florestas no cadastro nacional de florestas públicas e através deste, a

preparação do Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF), que define quais as áreas que poderão

vir a ser objeto de concessão e quais os seus os produtos e serviços exploráveis. Definindo-se a

exclusão nesse cadastro das terras indígenas, áreas ocupadas por comunidades locais e unidades

de conservação.

Após a aprovação desse plano, cada área será individualmente estudada e dividida em unidades

de manejo. Essas áreas terão que receber a autorização do IBAMA para participar do processo de

licitação. Deverão existir unidades de manejo pequenas, médias e grandes, pois, desse modo

pode-se dar acesso aos pequenos, médios e grandes produtores separadamente, diminuindo,

assim, a concentração de terras na região.

Os contratos licitações não implicam em qualquer tipo de posse sobre a terra, eles apenas

autorizam as empresas a fazer o manejo sustentável para exploração de produtos e serviços

florestais. Esses contratos terão prazos que duram de 1 ciclo de exploração até 40 anos,

dependendo do plano de manejo.

O monitoramento e a fiscalização das áreas em concessões serão feitos de três maneiras

diferentes:

- O Ibama fará a fiscalização ambiental dos planos de manejo florestal.

- O recém criado Serviço Florestal Brasileiro fará a fiscalização do cumprimento dos contratos de

concessões.

-Deverá haver uma auditoria, independente das práticas florestais, no mínimo, a cada três anos.

38

Esse Projeto de Lei vem sendo alvo de muitas discussões. Em alguns momentos é elogiado por

entidades ambientalistas que acreditam no maior controle do desmatamento devido à

disseminação dos métodos de manejo sustentável no setor madeireiro. Outro argumento

importante é a criação de uma barreira impedindo o avanço das atividades destrutivas como a

pecuária e a agricultura. As críticas são feitas por entidades ligadas à preservação ambiental que

acreditam que, dessa forma, o governo vá beneficiar as grandes empresas, facilitando o

desflorestamento. Essas instituições têm seus argumentos baseados, principalmente, nas

experiências mal sucedidas de alguns países.

Para o sucesso desse projeto de lei temos que analisar as especificidades da região, levando em

consideração algumas questões estruturais básicas como, por exemplo, a estrutura fundiária. É

preciso ter muito cuidado para que através das concessões, a concentração de terras não seja

aumentada.

Outra questão importante é que para a implementação das políticas propostas nesse projeto deve

haver um maciço aumento da participação e da presença dos órgãos federais, principalmente nas

questões de fiscalização e monitoramento das concessões, pois no contrário teremos o risco de

transformá-las em uma espécie de licença para desmatar. Para que haja esse controle sobre as

atividades dos concessionários, percebemos como é imprescindível que haja um reaparelhamento

e até um reposicionamento das instituições públicas na região, pois, caso contrário, teremos uma

grande exploração da terra e uma imensa diminuição dos recursos naturais que existem hoje.

3.2- Passos iniciais

O projeto de lei irá atuar nas florestas nacionais (FLONAS), fazendo com que esse bem,

considerado público, seja cedido a agentes privados por meio de concessões públicas. Essas

concessões serão feitas por meio de licitações promovidas pelo governo federal. No entanto, para

que o uso sustentável desse recurso seja feito, o governo terá que utilizar alguns recursos

econômicos para garantir que o preceito da sustentabilidade seja alcançado.

39

O estabelecimento de leilões para a alocação de concessões para a exploração madeireira tem

apresentado grandes vantagens em relação à uma alocação arbitrária por parte do governo. Porém

a principal vantagem é a eficiência. [ver Ferraz et Seroa da Motta (1998)]. Utilizando esses

leilões, teoricamente, o governo pode garantir que a empresa vencedora é a que atribui maior

valor à exploração da área.

Para garantir esse uso racional dos recursos, deve-se ter o cuidado de formar um sistema em que

os participantes do leilão tenham o maior incentivo possível para explicitar todas as informações

necessárias ao governo para tomar a decisão de conceder ou não o direito de exploração das

terras.

Para que a condição de sustentabilidade seja assegurada, os participantes do leilão deverão ser

previamente selecionados. Existe a possibilidade de que a seleção seja feita com base na solidez

financeira, no histórico de exploração e manejo sustentável, na proposta de utilização e operação

da área, incluindo sua perspectiva de geração de empregos e no valor atribuído à exploração da

floresta. No entanto, deve haver um programa de seleção bastante cuidadoso. É necessário criar

um sistema de eleição dos candidatos e fiscalização eficiente e factível que evite a assimetria de

informações. O governo deve estar ciente de que nesse caso os participantes não têm nenhum

incentivo para dizer a verdade sobre sua real condição financeira e seu histórico de exploração,

portanto, é provável que sem esses cuidados as empresas viessem a falsificar informações para

ser selecionadas. Uma medida interessante é a aplicação de pesadas multas e sanções as empresas

que em algum momento tenham enviado informações falsas. O governo pode escolher uma

amostra de empresas, com um número inicialmente indeterminado, para sofrer uma auditoria que

investigue melhor os dados enviados.

40

3.3 -Pagamento pelas concessões

Tão importante quanto a seleção dos candidatos a concessionários é o cálculo do valor pago pela

madeira extraída. É através desse cálculo que, dentre outros aspectos, o governo irá garantir o

sucesso do programa. O cálculo deverá levar em conta fatores ambientais e financeiros. Um valor

alto demais poderia penalizar os concessionários e levar à inviabilidade do investimento pela

inelasticidade do mercado consumidor. Um valor baixo demais poderia fazer com que houvesse

desperdícios dos recursos naturais, comprometendo a preservação ambiental.

Os fatores que devem ser levados em conta no cálculo são:

- evitar transferência dos recursos públicos para as empresas privadas

- possibilitar que o preço e o custo de produção da madeira sejam competitivos no mercado

- impedir que haja desperdício dos recursos naturais.

Existem várias teorias sobre como o pagamento dessas concessões deveria ser feito. Dentre elas:

Sistema de tarifas de múltiplas partes – onde o pagamento da concessão é feito através de uma

taxa cobrada a partir da observação ex-post do nível de atividade do concessionário após um

determinado período de tempo. O pagamento varia de acordo com a quantidade de madeira

extraída. Cada unidade de madeira tem um valor, que varia de acordo com o local onde foi

extraído e com a espécie da árvore. Assim, após saber o quanto e quais madeiras foram retiradas

da floresta o governo fará o cálculo do valor a ser pago. Sua vantagem é que o concessionário não

terá incentivos para explorar mais a área do que o sustentável, pois ele terá que pagar a mais por

essa exploração. Suas desvantagens são a necessidade de uma fiscalização bastante forte, para

controlar tanto as quantidades quanto as espécies extraídas nos lotes.

Taxas de concessão – Taxas cobradas no início ou periodicamente durante o período de

concessão. Essas taxas são fixas e o concessionário já tem o conhecimento prévio de quanto e

quando elas terão que ser pagas. Assim, os concessionários terão como vantagem um melhor

horizonte de tempo para seu planejamento financeiro.

41

Uma alternativa interessante para o pagamento das concessões no Brasil pode ser uma mescla

desses dois sistemas. Por exemplo, os concessionários pagam, no início do período, a primeira

parte através de uma taxa fixa pelo início de suas atividades. Após o término de um ciclo de

corte, depois de contabilizar o total de recursos retirados, os concessionários pagariam a segunda

parte, de acordo com um percentual pelo nível de atividade exercido.

O importante é que, para formular esse valor, deve-se ter em mente que ele tem que levar em

conta não só o valor presente como também o valor futuro das madeiras e, além disso, possibilitar

ao governo receita para que haja investimentos no controle do programa. Evitando, dessa forma,

o desperdício de recursos públicos. Aliado a esse fator, deve-se ter em mente que é necessário

permitir aos concessionários que o preço da madeira sustentável seja competitivo frente a

madeira ilegal, já que essa tem um custo de produção extremamente baixo. A pressão

fiscalizadora contra a extração ilegal de madeira deveria ser intensificada como forma de impedir

o aumento da clandestinidade, reduzindo a competição com a madeira legal.

3.4- Regulação e fiscalização das atividades

A fiscalização das atividades dos concessionários é de vital importância para que ocorra a

exploração sustentável da floresta. Ela deve ser feita de forma honesta, rigorosa e aplicando

pesadas sanções às empresas que estejam agindo de forma predatória.

Devemos ter em mente, que a exploração racional é mais custosa que a exploração destrutiva,

fazendo com que exista uma inércia natural das madeireiras na direção da exploração não

sustentável. A fiscalização deve ser vista como um incentivo para o cumprimento das condições

de sustentabilidade das concessões.

Existe uma diferença básica nos objetivos das empresas e do governo. As empresas estão

interessadas em maximizar seus lucros. Dados os padrões de custos, elas buscarão maximizar a

quantidade de madeira extraída. O governo, no entanto, está interessado em permitir uma

maximização da extração florestal, mas de forma sustentável, isto é, mantendo o fluxo de

42

serviços ambientais básicos da floresta. Desta forma existe uma clara contradição de interesses

(Ferraz et Seroa da Motta;1998). Portanto, essa contradição de interesses só poderá ser

equilibrada com um sistema de monitoramento bem desenhado, que evite que os agentes não

tenham incentivos para desviar do comportamento sustentável.

Chamamos de regulação o desenho desse sistema de incentivos e, de monitoramento a

fiscalização do cumprimento desse sistema. O monitoramento tem que ser feito pelas instituições

competentes do governo. Estas têm que receber os investimentos necessários para assim estar

aparelhadas e preparadas para cumprir seus deveres. A regulação pode ser feita através de

instrumentos de controle e comando ou através de instrumentos econômicos. Nos instrumentos de

controle e comando, a agência reguladora determina um teto máximo de recursos naturais que

poderão ser extraídos durante um determinado período de tempo. No caso da empresa extrair

mais madeira que o permitido, haverá o pagamento de multas bastante altas. O outro método é o

controle baseado em instrumentos de mercado. Podemos utilizar a aplicação de taxas e royalties

pagos em função da quantidade extraída. Existe também uma alternativa que é a utilização dos

chamados bonds de performance. Dessa maneira, o governo recebe da empresa uma multa pelo

não cumprimento das condições de sustentabilidade antes mesmo de suas atividades terem

começado. Caso haja o cumprimento dessas condições, a quantia é retornada a empresa após o

período da concessão. Em caso contrário, o recebimento da multa já foi assegurado.

Sabemos que é estritamente necessário que haja um monitoramento eficiente por parte do

governo, pois caso contrário, as condições de sustentabilidade nunca serão cumpridas.

No entanto, sabemos que para que esse controle seja feito da maneira necessária é preciso muito

investimento nos órgãos responsáveis. Deverá haver um reaparelhamento tanto de material

quanto de pessoal nas instituições fiscalizatórias na região. Sem que haja esses cuidados e

investimentos será impossível garantir que o uso dos recursos naturais seja feito de forma

racional. Mais uma vez, a capacidade de financiamento dos recursos gerados pelas concessões

pode ser vital para garantir o melhor funcionamento do sistema.

43

3.5- Conflito de interesses

O conflito de interesses em torno dessa questão deve ser estudado para que, através de algumas

soluções simples, possamos transformar essa aparente divergência em um jogo de “ganho-

ganho”. Os dois lados envolvidos são: de um lado o governo e a população, preocupados com a

preservação dos recursos naturais e com a exploração racional da floresta. Do outro lado, temos a

indústria da madeira, os pecuaristas e agricultores, que visam o aumento de sua rentabilidade e a

maximização de seus lucros.

As empresas não devem ser vistas de forma maniqueísta, devemos entendê-las como simples

investidores. Seu objetivo não é a destruição da natureza e sim a acumulação de capital. A

destruição só acontece porque faz parte da atividade que lhes proporciona maiores ganhos. Com

isso, podemos entender o quanto é importante analisar o jogo de incentivos que será necessário

para que o manejo florestal sustentável seja um melhor negócio para esses agentes.

Sua lógica econômica é praticar a atividade mais lucrativa. Se a exploração racional for mais

rentável ela será feita, pois, dessa forma, os agentes não terão mais incentivos para desviar da

conduta desejada. É imprescindível que o governo entenda essa lógica e saiba usar esses recursos

a seu favor. Para que manejo sustentável se torne uma atividade mais rentável, deve haver a

valorização da madeira legal da Amazônia. A melhora acontecerá através do aumento da

eficiência do processo de beneficiamento. Observamos também que, por ser mal processada

atualmente, a madeira brasileira não alcança os mercados mais exigentes e, por isso, mais

lucrativos.

É preciso um aumento na fiscalização do governo para reprimir a madeira ilegal. O custo de

produção da madeira clandestina é muito baixo, fazendo com que seu preço, conseqüentemente,

também seja. O aumento a fiscalização acarretará em um aumento no custo de produção, fazendo

com que o preço da madeira ilegal suba, aproximando-se do preço da madeira legal. Com isso,

haverá uma queda no volume comercializado de madeira ilegal e um aumento do volume de

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madeira legal, tornando-a mais competitiva. Assim, os investimentos em madeira legal terão uma

maior viabilidade.

“Se uma pessoa for cruzar um deserto, então a pessoa tem que saber quanta água, comida e

outros materiais para levar para poder completar a viagem. No caso de manejo florestal, a

pessoa está embarcando em uma viagem de 25 anos (no caso de áreas de várzea) ou de 30 anos

(no caso de terra firme), e o recurso que está sendo gasto é a madeira de lei na floresta

(complementado por alguma renda de fontes adicionais por pagamento de serviços

ecossistêmicos, tais como o ecoturismo). Se a intensidade de colheita adotada mantém a

viabilidade financeira do projeto ao longo deste período de tempo, então o projeto emergirá no

outro lado com uma floresta em pé (menos as grandes árvores de madeira de lei). Depois do

primeiro ciclo, a floresta pode ser usada para produtos farmacêuticos e, possivelmente, para

renda que pode ser alcançável naquela época a partir de benefícios de carbono e da vontade

para pagar pelo valor de existência da biodiversidade. Isto seria completado por qualquer renda

que poderia ser ganha de manejo das espécies de madeira “branca” (molhe) na floresta,

ecoturismo, etc. A taxa interna de retorno (IRR) exigida é bastante alta (20-25%/ano) para

impedir que a operação canibalize a sua base de capital” (Fearnside, 2003, p. 13).

Abaixo temos um quadro comparando situação da madeira legal com a madeira ilegal:

Figura 6- Madeira legal versus madeira ilegal

Fatores que favorecem a madeira ILEGAL

Fatores que favorecem a madeira LEGAL

Baixo custo de extração Maior qualidade do produto

Maior rentabilidade Obtenção de melhores preços

Corrupção Segurança da legalidade

Falta de fiscalização do governo Valorização do "selo verde"

Preço de mercado mais baixo Possibilidade de exportação

Maior demanda Preservação do meio ambiente

Fonte: Elaboração própria

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Conclusão

Atualmente, a preservação ambiental não é mais vista somente como uma superficialidade. Os

debates sobre o valor do meio ambiente e os males da destruição ambiental ganham cada vez

mais espaço na mídia e nas pautas de reuniões políticas. Por esse motivo a devastação da

Amazônia, assim como as suas possíveis causas e conseqüências, tem sido um motivo de

crescente preocupação no mundo todo.

A devastação da Amazônia começou com os planos de desenvolvimento do período militar. A

baixa densidade demográfica era vista como um empecilho para o crescimento econômico.

Houve então uma grande migração para a região e o início da construção de estradas para

possibilitar o acesso. Com a entrada desse contingente populacional, iniciou-se então uma disputa

por terras, principalmente as próximas às rodovias.

Atualmente, as duas principais causas do desmatamento são a pecuária e a agricultura de grãos,

principalmente a soja. A dinâmica do desmatamento se dá da seguinte forma:

1) Os madeireiros entram na mata em busca de espécies vegetais de grande valor comercial,

como o Mogno. Ao entrar na mata, os madeireiros criam caminhos, para poder escoar sua

produção até as rodovias ou rios próximos. Após retirar da floresta os recursos desejados,

os madeireiros deixam a mata sem causar maiores danos se não uma mudança na

composição florística da região.

2) Os pecuarista, aproveitando o maior acesso a região, graças aos caminhos deixados pelos

madeireiros, promovem queimadas para “limpar” o terreno e, assim poder exercer suas

atividades. Esse processo de apropriação ilícita das terras públicas é chamado de

grilagem.

46

3) Os agricultores aproveitam as terras já “limpas” e inférteis dos agricultores e, através de

fertilizantes artificiais, iniciam a plantação de grãos.

O desmatamento é bastante acelerado nas regiões próximas as estradas, principalmente a BR-163

(Cuiabá- Santarém). Pela facilidade de acesso e escoamento da produção essas terras são mais

valorizadas pelos produtores. Por isso, junto com o aumento da grilagem de terras na região, tem

crescido também a violência. Os grandes latifundiários da região passaram a contar com um

exército pessoal e, assim, garantem a posse de suas terras através de ameaças e mortes. Com isso,

a concentração fundiária aumentou bastante a, em contrapartida, as condições de vida do

campesinato tradicional, que habitava a região anteriormente, piorou sensivelmente.

Os principais agentes do desmatamento são:

- madeireiras

- pecuaristas

- agricultores

Os madeireiros: como já mencionado anteriormente, não são responsáveis diretos pelo

desmatamento embora sua contribuição seja bastante significativa.

Por atuar na clandestinidade, embora o setor tenha um grande potencial no país, suas condições

de processamento não são eficientes. Assim, o produto é de baixa qualidade e por isso, não atinge

às exigências dos mercados internacionais. Por esses fatores o país deixa de desenvolver um

grande setor, que tem todo o potencial para gerar desenvolvimento e recursos para o Brasil.

Os pecuaristas: A causa principal do desmatamento na Amazônia é a pecuária extensiva e de

baixa produtividade, que muitas vezes está associada à especulação das terras.

Essa atividade é exercida de forma tão inadequada que promove uma grande degradação das

terras, estas, em algum tempo tornam-se inúteis para a atividade. Gerando a necessidade de mais

desmatamentos. O desenvolvimento da pecuária está intimamente ligado a aceleração o

desmatamento.

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Os agricultores: O aumento da agricultura de grãos no Brasil está ligado ao aumento da demanda

externa. Esse aumento de demanda faz com que haja necessidade de expandir a fronteira agrícola,

gerando mais desmatamentos. A soja, principalmente, teve um impacto social muito grande no

Brasil. Sua expansão esteve ligada à concentração fundiária e ao desaparecimento de muitos

pequenos produtores nas regiões Sul e Centro Oeste. Assim, houve desemprego e

empobrecimento da população nativa.

Após entendermos a dinâmica da devastação da Amazônia, é preciso ter em mente que não existe

preservação sem que haja um interesse coletivo voltado para esse objetivo.

É necessário que haja soluções para fazer com que os agentes tenham incentivos para preservar a

floresta e não mais para destruí-la.

Esses incentivos devem ser feitos de forma a tornar a exploração sustentável mais vantajosa do

que a predatória.

Dessa forma o governo criou a lei de concessões florestais.

A lei prevê, entre outros:

- Abertura de concessões nas florestas públicas para a exploração de produtos madeireiros e não

madeireiros.

- Criação do serviço florestal brasileiro.

- Criação do Fundo Nacional do Desenvolvimento Florestal.

As concessões serão dadas através do processo de abertura de licitações, que serão selecionadas a

partir de leilões. Estes garantem que o valor auferido nas concessões será o maior possível e,

também garante ganhos de eficiência.

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Para garantir esse uso racional dos recursos, deve-se ter o cuidado de formar um sistema em que

os participantes do leilão tenham o maior incentivo possível para explicitar todas as informações

necessárias ao governo para tomar a decisão de conceder ou não o direito de exploração das

terras.

No entanto, tão importante quanto a seleção dos candidatos a concessionários é o cálculo do valor

pago pelas concessões. É através desse cálculo que, dentre outros aspectos, o governo irá garantir

o sucesso do programa.

Os objetivos do cálculo dos pagamentos são:

- evitar transferência dos recursos públicos para as empresas privadas

- possibilitar que o preço e o custo de produção da madeira sejam competitivos no mercado

- impedir que haja desperdício dos recursos naturais.

Para isso, existem várias formas de cálculo em que o governo pode apoiar-se para cobrar pelas

atividades florestais.

Outro ponto importante é o controle que o governo deve exercer sobre os concessionários e suas

atividades. Devemos ter em mente, que a exploração racional é mais custosa que a exploração

destrutiva, fazendo com que exista uma inércia natural das madeireiras na direção da exploração

predatória. A fiscalização deve ser vista como um incentivo para o cumprimento das condições

de sustentabilidade das concessões.

Existe uma diferença básica nos objetivos das empresas e do governo. As empresas estão

interessadas em maximizar seus lucros. Dados os padrões de custos, elas buscarão maximizar a

quantidade de madeira extraída. O governo, no entanto, está interessado em permitir uma

maximização da extração florestal, mas de forma sustentável, isto é, mantendo o fluxo de

serviços ambientais básicos da floresta. Desta forma existe uma clara contradição de interesses

[ver Ferraz et Seroa da Motta, (1998)]. Portanto, essa contradição de interesses só poderá ser

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equilibrada com um sistema de monitoramento bem desenhado, que evite que os agentes não

tenham incentivos para desviar do comportamento sustentável.

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