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- GUIA DE LEITURA - PARA O PROFESSOR O grande e maravilhoso livro das famílias Mary Hoffman / Ros Asquith Tradução Isa Mesquita Faixa etária a partir de 6 anos 40 páginas TEMAS Pluralidade cultural / Comportamento / Relações familiares A AUTORA Mary Hoffman nasceu em 1945, em Eastleigh, Inglater- ra. Licenciou-se em Linguística pela University College London. É autora de mais de noventa livros infantojuvenis, entre álbuns e romances, de sucesso internacional. Entre eles estão Meu primeiro livro de contos de fadas (Companhia das Letrinhas, 2003) e Bem- -vindo à família! (Edições SM, 2014). Mary tem três filhas adultas, que trabalham na área de artes, e vive em Oxfordshire, Inglaterra, com o marido e três gatos. A ILUSTRADORA Ros Asquith nasceu em Sussex, Inglaterra, e formou-se pela Camberwell School of Art, em Londres. Trabalhou como designer gráfica e muralista antes de se tornar cartunista nos anos 1980. De lá para cá, além dos cartuns que publica regularmente no jornal inglês The Guardian, escreveu e ilustrou mais de sessenta li- vros para crianças e jovens: Eu era uma adolescente encanada (Edi- tora 34, 2004), Como sobreviver aos melhores anos da nossa vida (Editorial Presença, 2001), Bem-vindo à família! (Edições SM, 2014), entre outros. Tem dois filhos e vive em North London, Inglaterra. O LIVRO Em linguagem simples e com ilustrações divertidas, O grande e ma- ravilhoso livro das famílias oferece a oportunidade de o professor debater com alunos dos primeiros anos do En- sino Fundamental o conceito de família e as profundas modificações pelas quais essa instituição tem passado nos últimos tempos. Os diversos modelos de família, apresentados com humor e sensibilidade, estimulam a identificação do leitor com o tema tratado, levando-o a refletir sobre a própria história e os vários tipos de cotidiano existentes, desafiando precon- ceitos e convidando à discussão.

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Page 1: O grande e maravilhoso livro das famílias - smbrasil.com.br pai poderia adorar sua filha, mas não lhe legar os bens. Já na Idade Média, o significado do termo voltou a ser res

- GUIA DE LEITUR A -PA R A O P R O F E S S O R

O grande e maravilhoso livro das famílias

Mary Hoffman / Ros AsquithTradução Isa Mesquita Faixa etária a partir de 6 anos40 páginas

TEMAS Pluralidade cultural / Comportamento / Relações familiares

a autora Mary Hoffman nasceu em 1945, em Eastleigh, Inglater-ra. Licenciou-se em Linguística pela University College London. É autora de mais de noventa livros infantojuvenis, entre álbuns e romances, de sucesso internacional. Entre eles estão Meu primeiro livro de contos de fadas (Companhia das Letrinhas, 2003) e Bem--vindo à família! (Edições SM, 2014). Mary tem três filhas adultas,que trabalham na área de artes, e vive em Oxfordshire, Inglaterra,com o marido e três gatos.

a ilustradora Ros Asquith nasceu em Sussex, Inglaterra, e formou-se pela Camberwell School of Art, em Londres. Trabalhou como designer gráfica e muralista antes de se tornar cartunista nos anos 1980. De lá para cá, além dos cartuns que publica regularmente no jornal inglês The Guardian, escreveu e ilustrou mais de sessenta li-vros para crianças e jovens: Eu era uma adolescente encanada (Edi-tora 34, 2004), Como sobreviver aos melhores anos da nossa vida (Editorial Presença, 2001), Bem-vindo à família! (Edições SM, 2014), entre outros. Tem dois filhos e vive em North London, Inglaterra.

o livro Em linguagem simples e com

ilustrações divertidas, O grande e ma-

ravilhoso livro das famílias oferece a

oportunidade de o professor debater

com alunos dos primeiros anos do En-

sino Fundamental o conceito de família

e as profundas modificações pelas quais

essa instituição tem passado nos últimos

tempos. Os diversos modelos de família,

apresentados com humor e sensibilidade,

estimulam a identificação do leitor com

o tema tratado, levando-o a refletir sobre

a própria história e os vários tipos de

cotidiano existentes, desafiando precon-

ceitos e convidando à discussão.

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O g r a n d e e m a r a v i l h O s O l i v r O d a s f a m í l i a s • m a r y h O f f m a n / r O s a s q u i t h

OBRA EM CONTEXTO

q u a l a o r i g e m da pa l av r a “fa m í l i a”?

Mesmo com o conceito já estabelecido em nosso imagi-

nário, vale a pena retomar a etimologia da palavra. Família é

derivada do latim famulus, que significa “escravo doméstico”,

“servo”. O termo era utilizado na Roma Antiga para designar

todos os que estavam sujeitos ao pater familias: não só escravos

e servos, mas também os animais. Portanto, em sua origem,

o termo família estava mais ligado ao patrimônio e à riqueza

do que aos laços de sangue. O vocábulo gens, de genere, que

significa “gerar”, é que se referia às pessoas com parentesco

genético, tal como a família nuclear que conhecemos hoje:

pai, mãe e filhos.

Só na idade pós-clássica a noção se ampliou, vindo a

representar não somente os escravos e o patrimônio, mas o

grupo de pessoas que viviam juntas. Naquele período, por-

tanto, o termo família passou a designar o conjunto de todos

os que estavam subordinados ao potestas (ou seja, ao poder e

ao domínio) do pater familias, incluindo os servos, os filhos

e a mulher do patriarca.

O elemento aglutinador ainda não era a consanguinida-

de: uma filha que se casasse com uma pessoa de fora do clã

familiar, por exemplo, deixava de pertencer à “família”. Do

mesmo modo, segundo as leis de Direito de então, nem sequer

os laços de afeto contavam para transmissão da herança: um

pai poderia adorar sua filha, mas não lhe legar os bens.

Já na Idade Média, o significado do termo voltou a ser res-

tringido: começou a se ater apenas ao grupo unido por laços de

sangue, estendido eventualmente para os laços formados por

adoção. Posteriormente, com a Revolução Francesa, surgiram

no Ocidente os casamentos laicos e, depois, com a Revolução

Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios

para cidades maiores, construídas ao redor dos complexos

industriais. Tamanhas mudanças demográficas estreitaram os

laços familiares e provocaram nova configuração das famílias

(que se tornaram menores e mais nucleares), delineando um

cenário similar ao que existe hoje. Parte das mulheres come-

çou a sair de casa para trabalhar e, em consequência disso, a

educação dos filhos passou a ser partilhada com as escolas. Os

laços de sangue

É possível termos ideia do poder designado a um chefe de família na Roma Antiga, bem como das diferentes leis que regiam seus estatuto social e regras morais, ao acom-panhar a descrição feita pelo arqueólogo e historiador francês Paul Veyne no ensaio “Do ventre materno ao testamento” (em História da vida privada 1. São Paulo: Com-panhia das Letras, 2009). Nesse ensaio, Veyne discorre sobre algumas especificida-des da formação familiar e sobre o poder dado ao chefe de família na Antiguidade, cujas decisões levavam em consideração outras questões, além dos laços de sangue: “O nascimento de um romano não é ape-nas um fato biológico. Os recém-nascidos só vêm ao mundo, ou melhor, só são rece-bidos na sociedade em virtude de uma de-cisão do chefe de família. [...] Em Roma um cidadão não ‘tem’ um filho: ele o ‘toma’, ‘levanta’ (tolkre); o pai exerce a prerrogati-va, tão logo nasce a criança, de levantá-la do chão, onde a parteira a depositou, para tomá-la nos braços e assim manifestar que a reconhece e se recusa a enjeitá-la”.

revolução francesa

Durante os agitados anos da Revolução Francesa (1789-1799), pautados por inten-sa agitação política e social, as fronteiras entre vidas pública e privada sofreram transformações expressivas.

Nesse período, o domínio público ampliou-se sobremaneira sobre o privado, a ponto de os interesses pessoais serem vistos como ofensa aos ideais revolucioná-rios (e, portanto, passíveis de penalidades).

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idosos também deixaram de contar com o apoio direto dos

familiares, sendo, em muitos casos, entregues aos cuidados de

instituições de assistência.

O conceito de família, portanto, é algo fluido, que se trans-

forma ao longo dos tempos, acompanhando as mudanças

religiosas, políticas, econômicas e socioculturais do contexto

de que faz parte.

qual o significado da palavra “família” hoje?

O conceito dicionarizado de “família” designa todo grupo

de pessoas ligadas pela descendência ou pela adoção, que se

inter-relacionam de forma regular e recorrente de acordo com

determinados comportamentos socialmente reconhecidos.

Hoje, papéis e funções são termos importantes para se pensar

o funcionamento familiar, porque são eles que estabelecem a

posição de cada membro no grupo.

Pai, mãe e filhos biológicos ou adotados: essa é a estrutura

nuclear com a qual a ideia de família costuma ser representada.

Como não poderia deixar de ser, a estrutura familiar sofreu o impacto dessa crescente anulação da vida privada.

De acordo com historiador Lynn Hunt, em seu ensaio “Revolução Francesa e vida privada” (em História da vida privada 4. São Paulo: Companhia das Letras, 2009), a família foi o âmbito em que, por exem-plo, a invasão da autoridade pública se fez mais evidente. Assim, “a legislação da vida familiar mostrava as preocupações heterogêneas dos governos revolucionários; tratava-se de conservar o equilíbrio entre a proteção da liberdade individual, a preser-vação da unidade familiar e a consolidação do controle do Estado”.

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Mas não é sempre assim, dado que, como dito anteriormente,

o conceito de família, assim entendido, não é universal: os

grupos familiares se organizam e modificam-se conforme

cultura, o espaço e o tempo em que vivem. Por exemplo, em

determinadas tribos africanas as famílias são constituídas por

um homem e várias mulheres que coabitam a mesma casa. Já

em regiões como o Paquistão, existe a tradição de os familiares

escolherem os parceiros de seus filhos para a constituição de

uma nova família, e assim por diante.

que tipos de família existem?

Além das famílias de estrutura nuclear tradicional (pai, mãe,

filhos), há as que se formam em torno do pai ou da mãe apenas.

Trata-se de variações da estrutura nuclear tradicional devido a

múltiplos fatores (escolha por criar sozinho/a um filho, óbito do

pai ou mãe, não reconhecimento da função parental, abandono

de lar ou adoção de crianças por uma só pessoa etc.).

Há, ainda, famílias que se constituem de forma mais ex-

tensa, unindo ao núcleo mais próximo os parentes diretos ou

colaterais, ou seja, não só as relações entre pais e filhos, mas

também entre avós, pais, enteados e netos.

Existem também as famílias comunitárias, nas quais o papel

parental é descentralizado e as crianças são de responsabili-

dade de todos os membros adultos, ao contrário dos sistemas

familiares tradicionais, em que a total responsabilidade pela

criação e educação das crianças cabe aos pais e à escola.

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Baseadas na ligação conjugal entre duas pessoas do mes-

mo sexo, as famílias homoafetivas podem incluir crianças

adotadas ou filhos biológicos de um ou ambos os parceiros.

pa r a q u e “s e rv e” u m a fa m í l i a?

À diferença do que acontece com os animais, o ser huma-

no nasce completamente indefeso: o bebezinho necessita de

cuidados e afeto, alguém que o alimente e lhe dê suporte para

mantê-lo vivo. A família, como rede significativa de pessoas

que lhe dão apoio, é fundamental no processo de desenvol-

vimento, tanto no âmbito psicofísico – nutrição, conforto,

abrigo e proteção –, como no âmbito da sociabilidade, no que

se refere aos primeiros ensinamentos morais e éticos repassa-

dos a cada um dos indivíduos do grupo familiar de origem. É

a família que primeiro oferece e transmite os parâmetros de

subjetivação e, também, de acomodação a determinada cultura,

sendo matriz de identidade, comportamento e socialização.

matriz de identidade, com-portamento e socialização

As interações familiares constituem a base de nossa socialização. Os pais ou as figuras que ocupam funções parentais são matrizes de identidade, sendo elementos fundamentais para a “formação do eu”. As dinâmicas do apego, envolvidas no cuidado adulto aos bebês, são vitais para seu desenvolvimento psicossocial. O processo, complexo e deflagrado muito precocemente, passa por uma série de mecanismos de identificação com as figuras de apego, por meio das quais o bebê irá aos poucos se reconhecer para, num terceiro momento, delas se diferen-ciar, constituindo assim sua singularidade ou, em outras palavras, as bases para a construção da própria identidade.

Mas não só os pais colaboram para isso. Em outro registro, e em tempos diferentes, irmãos, avós, tios e outros membros significativos do núcleo familiar expandem o universo afetivo da criança, levando-a a jogos mais ampliados de identificação/diferenciação (envolven-do rivalidades, reciprocidade, valores, empatia, afetos compartilhados etc.), por meio dos quais ela poderá exercitar suas habilidades sociais rumo ao amadureci-mento psicossocial e ético.

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NA SALA DE AULA

a n t e s da l e i t u r a

Hoje sabe-se que as crianças entram em contato com o mundo

da escrita antes mesmo de saberem ler, atribuindo significados

ao que veem a partir do que já conhecem. Portanto vale a

pena deixar a criança manipular o livro, saboreá-lo livremente,

especialmente as imagens, despertando assim sua curiosidade

sobre o assunto. Esse contato corpo a corpo com o objeto-livro é

sempre bem-vindo, ainda mais para aquelas crianças que estão

em fase inicial de leitura.

Além da observação do livro, vale estimular o pequeno leitor

a criar hipóteses, a antecipar o conteúdo que vai ler. Pode-se,

por exemplo, lançar perguntas a partir da observação livre da

capa: “O que as ilustrações indicam?”, “O que pode nos contar

um livro com esse título?”, “De que assunto ele trata?”, “Quem

são o autor e o ilustrador?”, “Você os conhece?”. Em seguida,

folheando o livro, pode-se perguntar: “O texto é longo ou

curto?”, “De que modo as palavras se apresentam no papel?”.

Perguntas como essas, além de atiçar a curiosidade dos alunos,

certamente vão estimulá-los a criar hipóteses.

O ideal é combinar diversas “estratégias de leitura”, fazendo

também uma sondagem inicial sobre os recursos visuais do

texto (extensão, tamanho dos tipos, disposição das palavras

na página, título, subtítulo...) e ativando, também, conhe-

cimentos pessoais sobre o tema: “O que é uma família para

você?”, “Como é a sua família?”, “Em sua opinião, por que o

nome deste livro é O grande e maravilhoso livro das famílias?”

e assim por diante.

Realizar previsões sobre o que se lerá, fazer ligações com

o dia a dia e, posteriormente, reter o significado geral do tex-

to, concordando ou discordando dele, lançando hipóteses e

fundamentando-as são caminhos importantes para conduzir

o aluno em direção ao tema tratado. Um modo de oferecer-lhe

recursos de leitura de que poderá lançar mão quando estiver

diante não apenas deste, mas de qualquer texto. Uma forma

de ajudá-lo a perceber, a exemplo de Paulo Freire (1921-1997),

que a leitura do mundo precede a leitura da palavra.

Organizando o espaço da sala de aulaUma forma divertida de trabalhar o livro é alterar a organização da sala, criando um espaço agradável de conversa. Para isso, por que não propor a mudança da posi-ção das carteiras, incentivando todos a se sentar em roda? Que tal no chão? Além de possibilitar o surgimento de um clima mais acolhedor, garante-se um momento em que todos do grupo poderão se olhar e se ouvir.

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d u r a n t e a l e i t u r a

Nem sempre a produção oral do aluno é trabalhada de forma

sistemática em sala de aula. Isso decorre da visão de que a criança

adquire essa habilidade espontaneamente no contato cotidiano

com os outros, sem necessidade de mediação do professor. En-

tretanto, é possível ensinar o aluno a colocar-se oralmente em

situações diversas, como as requeridas em uma apresentação

ou em uma roda de história. Quando falamos sobre oralidade,

falamos sobre a necessidade de estimular o aluno a preparar

seu discurso e nele mergulhar, ou seja, sobre a importância de

atentar para a articulação ordenada daquilo que vai dizer.

Nesse sentido, proponha uma leitura compartilhada. Ini-

cialmente o professor pode ler o livro em voz alta e os alunos

acompanham a leitura. Depois, sugira a eles que leiam em voz

baixa e escolham trechos que serão lidos para a turma. Se, por

um lado, a leitura em voz alta é um instrumento importante

para se chegar ao sentido, ressaltando o ritmo, a sonoridade, a

musicalidade, a expressividade da palavra, por outro, a leitura

silenciosa é a maneira mais habitual no cotidiano, devendo

ser igualmente estimulada, pois potencializa a introspecção e

a reflexão sobre o texto.

a p ó s a l e i t u r a

Terminada as rodadas de leitura, passemos a mais perguntas:

“De qual trecho você mais gostou e por quê?”, “Quais as passa-

gens mais engraçadas e por quê?”, “Que trecho o intrigou mais

e por quê?”, “Quais aspectos de sua família lhe vieram à cabeça

durante a leitura?”, “Que imagens mais lhe chamaram a atenção?”.

Isso pode ser feito inicialmente em duplas e depois abrindo

a discussão para toda a turma, com mediação do professor, que

pode aproveitar a ocasião para naturalizar as diferenças entre

os variados tipos de família – tema central do livro.

Esta também é uma boa oportunidade para estimular as

crianças a ouvir com atenção, intervir, formular e responder

a perguntas, manifestar opiniões e acolher as dos outros. E

também o momento de adequar intervenções precedentes, de

estimular as crianças a relatar experiências, ideias e opiniões

de forma clara e ordenada em ambientes que extrapolam os

vivenciados no âmbito privado e familiar.

Por que ler para os alunos?Como explica o educador Rubem Alves (1933-2014): “todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domi-na a técnica, se ele surta sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não do-mina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas, a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele quer está possuído pelo texto que lê. Por isso acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de ‘concertos de leitura’”.

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Depois desse amplo trabalho com o livro, os alunos certa-

mente terão um entendimento global do que foi lido e visto.

Estarão aptos a desenvolver as habilidades de reflexão, inter-

pretação e síntese, avaliando melhor o que leram e, certamente,

desenvolvendo ferramentas para leituras vindouras.

Atividade 1 Cenas de família

Sugira que cada aluno desenhe ou pinte, em uma grande

cartolina, a cena de uma família (a própria ou alguma do

livro), a partir das questões listadas a seguir. Esta atividade

pode ser feita em parceria com a área de Artes:

• Quem faz parte de sua família? Sua família é grande ou

pequena?

• Em que tipo de casa vive sua família?

• Em sua família, todos foram ou vão para a escola?

• Em sua família, todos trabalham?

• Para onde sua família costuma ir durante as férias?

• Como são as refeições em sua casa? Quem as prepara? Onde

compram os alimentos?

• Você tem animais de estimação? Você os considera parte

de sua família?

• Há festas e celebrações em sua casa? Como são essas co-

memorações?

• Como sua família se locomove na cidade?

• Como vocês compartilham os sentimentos alegres e tristes?

Depois de finalizados os trabalhos, proponha que cada um

apresente a família desenhada – uma boa oportunidade de

retomar as discussões sobre diferenças. Os trabalhos poderão

ser expostos em um mural, em lugar visível na escola, para

que crianças de outras turmas possam apreciá-los.

Atividade 2 Do livro ao sujeito

Refletir sobre o lugar ao qual se pertence, resgatando sua

origem e aproximando-se dos familiares e responsáveis, é

algo fundamental para que os alunos estabeleçam relações

com o livro que acabaram de ler, indo, portanto, do livro ao

Para saber maisLivros para o aluno

• alBergaria, Lino de. Álbum de famí-lia. São Paulo: Edições SM, 2005.

A convivência entre gerações comomodo de resgate do passado e de cons-trução de futuro.

• HOFFMAN, Mary e ASQUITH, Ros.Bem-vindo à família! São Paulo: EdiçõesSM, 2014.

Há muitas formas de as crianças chegaremà sua família, como mostra este livro infor-mativo de forma leve e bem-humorada.

• martins, Georgina. Minha família écolorida. São Paulo: Edições SM, 2005.

Somos fruto da mistura de etnias, hábitos etradições, como mostra a família de Ânge-lo, em que todos diferem entre si.

• parr, Todd. O livro da família. SãoPaulo: Panda Books, 2006.

As diferenças entre famílias, apresentadasem frases curtas e abordando temas comoadoção e diferença raciais e socioculturais.

• zaKzuK, Maísa. A árvore da família.São Paulo, Panda Books, 2007.

Um convite para o pequeno leitor des-cobrir as origens familiares e construir aprópria árvore genealógica.

• ziraldo. Um amor de família. SãoPaulo: Melhoramentos, 2009.

Rivalidades e afetos familiares demons-trados com graça e humor na família dobichinho da maçã.

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sujeito – apreendendo o conteúdo não apenas na teoria,

mas a partir de aspectos importantes da própria história.

Uma boa dica de atividade é levar os alunos a trabalhar

a origem de seu nome próprio. O nome é o que temos de

“mais nosso, mais forte”, trata-se da primeira marca que

nos identifica como indivíduos pertencentes a uma família.

Além disso, o estudo do nome é conteúdo privilegiado

para os alunos das fases iniciais do Ensino Fundamental

I, pois está diretamente ligado à história de vida de cada

um de nós: trata-se de uma palavra carregada de signifi-

cado e, por isso, ideal para o início da aprendizagem da

linguagem escrita.

Proponha então que cada aluno volte-se para a origem

do próprio nome, partindo das seguintes questões: “Como

meus pais escolheram o nome que tenho?”; “Qual a história

do meu nome? Há algum significado nele?”; “Gosto dele?

Por quê?”; “Tenho algum apelido? Qual? De onde veio?”.

Os textos listados a seguir, embora destinados a leitores

mais velhos, podem ser usados como apoio, com mediação

do professor, para a “investigação” dos nomes próprios.

Eles tratam, de maneiras diversas (inclusive por serem de

Documentários para o professor

• Camelos também choram (Die Geschichtevom Weinenden Kamel). Direção: Byam-basuren Davaa e Luigi Faloni. Alemanha,Mongólia, 2003. 93 min.

Uma família de pastores viaja em busca deum músico para resolver a rejeição de umcamelo pelo seu filhote. Nessa travessia,os hábitos dessa comunidade familiar sãorevelados.

• Bebês (Babies). Direção: Thomas Balmès.França, 2010. 80 min.

Mostra o primeiro ano de vida de quatrobebês pertencentes a diferentes regiõesdo mundo, demonstrando as várias pers-pectivas culturais que influem na criaçãodas crianças.

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gêneros diferentes), da importância que os nomes car-

regam e seu determinismo na história de cada um deles.

Utilize-os, lendo em voz alta os trechos mais acessíveis

durante a atividade:

• “Nasceu uma ninfa”, Carlos Drummond de Andrade (em

Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das letras, 2012).

• Morte e vida Severina (Auto de Natal pernambucano), João

Cabral de Melo Neto (Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007).

• “Nomes de gente”, Geraldo Azevedo e Renato Rocha (Adi-

vinha o que é, MPB4. São Paulo: Ariola,1983).

Uma atividade complementar a essa é trabalhar a iden-

tidade familiar pela via dos documentos pessoais. Peça

para as crianças trazerem a certidão de nascimento e o RG

pessoal e/ou dos pais. Em duplas, sugira que comparem os

dados de seus documentos com os de um colega (nome,

data de nascimento, sexo, estado, cidade, números). Esta

é uma boa ocasião para explicar que todas as pessoas têm

um nome e um sobrenome, que deverão ser registrados

em cartório, algo fundamental para a inclusão social

(matricular-se no posto de saúde, na creche, na escola...).

Como finalização, proponha a construção de uma

árvore genealógica – uma maneira sempre interessante de

registrar a história da família.

elaBoração do guia Luciana Marques Ferraz (doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, psicóloga e professora do Ensino Fundamental); preparação Malu Rangel; edição e redação do Boxe “matriz de identidade, comportamento e socialização” Graziela R. S. Costa Pinto; revisão Carla Mello Moreira.