o grande carvalho

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R. N. FERREIRA

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Page 1: O grande carvalho

R. N. FERREIRA

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Desconhecido

Revolta de pascoa, 24 de Abril de 1916, Dublin, Irlanda.

Stavam todos reunidos, preparados pra instituir a Republica da Irlanda e nos tornarmos independentes do Reino Unido, se uniu a nossa irmandade os Voluntários Irlandeses irlandês e

outros 200 membros do Cumann na mBan, uma organização paramilitar feminina. Todos reunidos com o mesmo proposito de liberdade, a sensação de termos o nosso próprio governo parecia estar cada vez mais perto, e isso era algo excitante e instigante.

EEu fazia parte do exercito, era capitão, meu nome era Ryan

Johnson, era branco de cabelo que batia ate abaixo das orelhas, eram castanhos e ondulados, possuía olhos fundos e azuis, de nariz fino e queixo redondo que deixava evidente uma cicatriz, tinha 1,84 m de altura e um porte físico atlético, fruto de uma obsessão por esportes.

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Capitão não era uma patente tão alta, mas isso não me desmerecia nem um pouco, eu tinha plena consciência da minha capacidade e logo seria promovido e estava esperando que ela viesse quando meu país fosse independente. Nós estávamos no Parque Phoenix indo em direção ao um obelisco situado no parque, o local era imenso, o maior parque fechado da Europa. Nós estamos em 16 naquele momento, prontos para encontrar com outros 50, quando algo me chamou a atenção, pedi para que os outros fossem na frente enquanto eu e outros dois averiguávamos uma coisa, ao chegar perto de onde uma luz estranha estava sendo irradiada avistei uma arvore, um carvalho grande, parecia ter pelo menos uns 300 anos, ate ai tudo bem, mas a arvore possuía várias figuras dentre elas, uma parecia contornar o tronco do Quercus. Eu fiquei olhando por um tempo e me aproximei, neste ato pude perceber que eram as figuras que estavam brilhando, já era estranho uma arvore refletir luz, agora uma arvore que a produz era sinceramente algo que eu jamais esperaria encontrar. Estava com medo, mas também estava muito curioso e essa curiosidade me fez tocar a arvores, tocar as figuras e tocar aquele desenho que a contornava, e ao tocá-lo, tudo ficou escuro de repente.

Ficou tudo escuro por um momento, e durante esse tempo eu tentei lembrar se fechara ou não os olhos quando toquei na arvore, quando pensei nisso senti que não havia nada de estranho em mim, que não havia nada que estivesse me impedindo de abrir os olhos, após concluir isso ainda permaneci com a vista cerrada, então comecei a abri-los, mas ao poucos ate me acostumar com a luz que parecia estar mais forte, como se o sol já estivesse se pondo. Estranhei um pouco ate ver o carvalho com os mesmos desenhos, fiquei tranquilo por saber que continuava no mesmo lugar, mas isso não durou muito, pois olhei para trás e tive uma visão nada animadora; estava no meio de um descampado onde tudo estava cercado por um capim amarelado que batia ate a cintura e onde a única sombra era aquele carvalho, havia

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ainda ao fundo algumas montanhas cobertas de neve, mais embaixo havia uma floresta onde se podia ver arvores grandes e pequenas, todas em tons amarelados, provavelmente o outono deveria estar chegando.

Fiquei um tempo analisando tudo a minha volta ate me deparar com a visão de um castelo ao longe, estava a leste de mim. Tudo parecia calmo, como se eu fosse o único ser vivo a quilômetros, queria eu estar certo disso, criei coragem e sai da arvore, após varias tentativas de tocá-la na esperança de voltar para casa, fui andando pelo capim na direção do castelo ate começar a escutar alguns barulhos peculiares, pareciam passos, mas eu não conseguia ver nada, nem mesmo o capim se mexendo por causa da movimentação.

Parei e olhei para os lados, ate que de repente comecei a sentir umas coisas na perna, quando olhei mais de perto pude ver homenzinhos escalando as minhas pernas, deviam ter uns quatro centímetros de altura; mexi as pernas em um movimento de vai em vem para que eles soltassem (uma ação quase que automática), quando os vi peguei um susto e pensei estar sonhando, olhei para baixo para ver se eles haviam saído das minhas pernas, fiquei animado por tê-los tirado, mas me virei para o lado do carvalho e me levantei, os raios de sol ofuscaram minha visão, mas pude perceber quando três pequeninos pularam em mim, e aturdido pelo sol acabei tropeçando e caindo com as criaturinhas por cima de mim.

A vista melhorou devida a sombra projetada pelo capim, então pude vê-los nitidamente, pareciam bonequinhos de maquete; estavam vestidos com roupas feitas de folhas, pétalas e filetes de capim que eram usados como cordas para que a roupa não se desfizesse. Eles olharam para mim e falaram: quem é você e o que faz nas nossas propriedades? Isso tudo é terra dos Minimoes, ate os limites do descampado, após já é Delfrem, terra dos gigantes iguais a você. − é devo me desculpar, eu não sabia, na verdade eu não sou daqui. – disse com cara mais de curioso do que espantado. Aqueles serezinhos

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eram incríveis pareciam com humanos, com apenas alguns traços distintos.− e de onde você é gigante de vestes esquisitas?− sou de Dublin, Irlanda. – falei já sabendo que eles não entenderiam. Não gostei muito quanto falaram da minha roupa, mas era compreensível já que eu era o único de farda ali. – mas e vocês senhores Minimoes, onde fica sua casa e onde estamos exatamente? Que lugar é este?− Como assim você não sabe? Estamos no reino de Frowzen, nas planícies de Mirhaj, em Kinossus. E com relação a minha casa, você estava lá agora a pouco, estávamos nos preparando para dormir e de repente vimos você, surgiu do nada.− Pois é, estou me perguntando ate agora como isso aconteceu, mas o que Kinossus é o nome do planeta? E Frowzen?− Planeta? Kinossus é tudo isso aqui, ate depois dos mares, e Frowzen é o nosso reino, é toda essa extensão de terra aqui, faz fronteira com Delffen e Gulffren, São um dos poucos reinos ainda não dominados pelas trevas. Como isso tudo não é familiar para você?− é que eu não sou mesmo daqui, de Kinossus. – já estava cansado de dizer que eu não pertencia aquele lugar.− você é algum tipo de mago ou praticante de magia? Só homens assim dizem que não pertencem a lugar nenhum.− eu posso lhes garantir que não sou isso ai que você disse. Na verdade magia não existe né? – após dizer isso, percebi nos olhos deles que aquilo soou quase como um insulto, uma blasfêmia.− como assim magia não existe? Como ousa dizer tais palavras? Você não está em condições de falar tal afronta.− peço-lhes perdão, não foi minha intenção em momento algum. Nunca quis lhes desrespeitar. – após dizer aquilo, fiquei refletindo, ainda não tinha notado, mas tanto eu, como ele, estávamos falando a mesma língua. – por favor, aceitem minhas desculpas e se puderem me respondam, como sabe falar minha língua?

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− ah, simples, falamos ela há séculos, ela veio junto com os anciões. Eles eram homens muito sábios que tentavam aprender a língua e a cultura dos outros povos, e nisso também ensinavam a língua e a cultura deles.− é e você sabe onde eu os encontro?− hehe – eles sorriram – o ultimo morreu há anos. Engraçado...− o que é engraçado?− você perguntar sobre seus semelhantes, como se nunca os tivesse visto ou ouvido falar neles. Não saber a história de seu povo é um mau sinal.− mas é por que eu não sou daqui, pelo menos não deste mundo. Digam-me, vocês podem falar mais sobre eles?− receio que não, não são do nosso tempo, o máximo que sabemos é o que o patriarca conta a nós.− Patriarca?− é... O pai de todos. O mais velho e mais sábio do reino.− e vocês poderiam me levar até ele? Podem me amarrar, eu não vou resistir e nem tentar fugir, só quero saber sobre os tais anciões.− hum, tudo bem. Não se preocupe você não tentou nos atacar, então não temos porque lhe fazer mal. Não será preciso te prender.− muito obrigado!− não tem de que, nós Minimoes somos um povo pacifico, só atacamos se nos atacarem primeiro ou tentarem tomar nossas terras.

Fiquei calado depois disso e apenas assenti com a cabeça. Apoiei-me nos cotovelos e me inclinei para frente, pedi aos Menimoes que ficassem dentro do meu bolso, e então puxando as pernas para trás e levando meu tronco para frente eu pude levantar e ir ate o Quercus, quando estava perto escutei uns barulhos, faltavam poucos minutos para que o sol desaparecesse no horizonte, me virei calmamente e notei ao longe no descampado duas criaturas estranhas, já estava escurecendo e eu não pude ver com nitidez quem era, mas os Minimoes sabiam quem eram aquelas duas figuras, apesar de escuro

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eles deduziram que se tratava de dois Coletores, mas segundo os Minomoes, eles estavam longe de suas terras.− mas o que será que esses coletores querem por aqui? – disse o Minimoe de cabelo vermelho.− não sei, mas eles não são coisa boa, então acho melhor a gente não ficar para descobrir. – respondeu o Minimoes de cabelo cinza. – vamos logo para o carvalho, vamos logo gigante, corre!

Antes que ele terminasse de dizer a palavra “corre” eu já estava apostos, então comecei a correr, mas não durou muito já que estava a menos de dez metros da arvore, cheguei perto do tronco e os Minimoes pularam do meu bolso e escalaram a arvore, olhei para trás e aquelas criaturas já estavam bem perto.− Droga! Deixem-me entrar, por favor! – estava desesperado, não queria morrer ali, justo naquele lugar.

Fiquei de costas para á arvore, e naquele momento pude ver nitidamente como aqueles monstros eram, na verdade as bestas que eu havia visto eram montaria de dois seres com feições reptilianas que trajavam armaduras vermelhas, as criaturas, as quais eles estavam montados pareciam dinossauros, uma versão um pouco mais robusta dos raptores.

Um deles veio mais rápido estava prestes a me fincar suas garras em mim, ele pulou na minha direção com as unhas prontas para me dilacerar, quando por alguns segundos eu pude ouvir uma voz dizendo qualquer coisa em um idioma estranho, então de repente sentir o chão se abrir e eu começar a escorregar por um túnel que estava me dando uma situação estranha, como se eu estivesse diminuindo a cada momento, ao chegar ao final do túnel percebi que estava em local enorme, parecia um corredor já que as paredes davam para uma porta imensa feita de madeira, com a figura de uma rosa aberta no centro do portão feito de prata com detalhes em ouro. Tirando a porta, o resto era basicamente terra e raízes, foi nesse momento que percebi que estava de baixo da terra, mas como é seres

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tão pequenos seriam capazes de fazer aquilo? O local onde eu estava era imenso e creio que ate para pessoas do meu tamanho, cavar tudo aquilo seria difícil.

Enquanto pensava sobre varias questões com relação aquele lugar e aquelas criaturinhas eu fui me aproximando do portão, e ao chegar perto dele eu bate, mas ao bater percebi que ele não estava trancado, então sem me acanhar abri o caminho e ao olhar através da abertura, vi seres do meu tamanho, mas não iguais a mim, eram muitos uma cidade inteira ou talvez mais de uma, ao entrar quase todos olharam para mim e logo reconheci três rostos familiares, eram os Minimoes que há poucos minutos estavam no meu bolso, como cresceram tanto de uma hora para outra? Mas logo deixei essa pergunta de lado e vi que na verdade fora eu quem havia diminuído.− você ate que não é tão estranho visto de perto. – disse o pequeno de cabelo cinza, que agora já não era tão pequeno. – ah e a proposito, meu nome é Flint, e esses são Doyal e Matthew.− bem, prazer em conhecê-los. Meu nome é Ryan.− hum, bom nome, mas agora me explica, porque veste essas roupas esquisitas?− de onde eu venho, elas não são esquisitas. - sorri quando ele fez a pergunta. Na verdade essa roupa tem haver com o meu cargo, soldados por aqui usam armadura, estou certo?...− sim está.− era uma pergunta retorica, mas já que respondeu tudo bem. Retomando, então, aqui se usa armadura, mas de onde eu venho, a gente deixou de usar armaduras e passou a usar farda, que é isso que eu estou usando.− ah, entendi, mas acho que armaduras protegem bem mais, isso ai não aguentaria nem o primeiro golpe de espada.− mais no meu tempo já não usamos espadas, as armas são mais sofisticadas, e isso não é para guerrear, é apenas para saber a minha patente.

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− agora entendi. Vocês usam isso apenas para que saibam o que você faz, mas na guerra vocês usam armadura?− não usamos mais armaduras, as armas são diferentes.− hum... Agora me diz uma coisa, o que é retorica?− arg.. Depois eu explico tudo para você, agora eu preciso que vocês me levem ate o seu Patriarca, por favor.

Os três olharam e em coro disseram: tudo bem. Eles se viraram e saíram andando, fui os acompanhando, andando pelo meio da mundial, aquele lugar era imenso com varias barras de madeira, bares e restaurantes, alguns prédios com ate três andares onde Minimoes moravam, havia também varias casas mais tradicionais por toda a parte, tudo era iluminado por uma luz incandescente que ficava suspensa ao teto do lugar, uma camada de madeira que pertencia a arvore. Depois de andar um pouco, chegamos ao centro do lugar onde havia um tubo que provavelmente levava ate o topo do carvalho, o pegamos e seguimos ate o topo, o tubo era aberto preso a algumas hastes de madeira que davam estabilidade, fomos passando por varias sessões onde havia escolas, maternidades, postos médicos, bibliotecas, etc. depois de uns instantes encontramos o topo, uma parte bem ampla com galhos que iam para todos os lados, uma cobertura de folhas que cobria tudo, mas deixava um espaço no topo em circulo para a luz passar, também servia como observatório, percebi isso logo depois que sai do elevador, olhei para cima e vi uma escada que dava acesso a algo que parecia um telescópio, fiquei muito curioso, cheio de vontade de subir aquelas escadas e olhar através daquelas lentes.

Fomos andando com eles por uma trilha feita entre os galhos na direção oeste, andamos ate chegar a um grande galho que subia na vertical, e depois se encurvava para seguir uma trajetória diagonal ate o limite das folhagens. Chegando ao ramo, entramos por uma abertura semicircular que dava acesso a um conjunto de degraus que seguiam em espiral, transpassamos os degraus e chegamos à passarela que ficava entalhada no galho, eu já estava cansado, se tivesse no meu

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tamanho normal aquela distancia não seria nada, mas agora eu estava com apenas quatro centímetros e aquele carvalho de fato era enorme.

Após andar bastante, nos deparamos com outro grande portão, esse dava acesso ao lugar onde o Patriarca estava, mas diferentemente do portão anterior, esse era todo em madeira, como se o Patriarca pouco se importasse com bens e luxo. Ainda havia outro detalhe diferente, os entalhes do portão não eram uma rosa, mas era a imagem de um homem grande com as mãos formando uma plataforma onde um homem pequeno estava. O local era rico em detalhes, antes da porta havia degraus com alguns entalhes, mostrando talvez a construção do lugar, aquele templo era uma fundação circular onde as paredes cheias de vitrais subiam e se afunilavam em formato ogival, assim com as trepadeiras que acompanhavam a parede e se uniam quando chegavam à extremidade do teto, dando a impressão de uma gaiola; na base o piso ainda se seguia formando uma varanda em volta da edificação. Depois algum tempo de observações, vi Doyal e Matthew abrindo a grande porta, e quando eu pensava que não teria mais nada para vislumbrar me deparei com o interior do salão, que era tão rico em detalhes que eu quase não prestei atenção do senhor que estava sentado ao fundo, de frente para a porta.

Tudo ali tinha um ar diferente do que eu conhecia, eu não estava crente, mas, contudo que acontecera ate agora a única palavra que me vinha à mente era a palavra magia, uma explicação vaga e ilógica, mas como justificar tudo aquilo que havia me acontecido de maneira logica? O salão possuía oito colunas, quatro de cada lado que partiam do trajeto das extremidades do portão e iam formando uma passarela ate o trono onde o Patriarca estava sentado, havia um tapete vermelho que contrastava com o dourado do teto, nas colunas havia trepadeiras, assim como nas paredes externas, no interior junto aos vitrais, que iam de encontro a um vitral maior situado atrás do

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Patriarca, estavam entalhados na parede todo o percurso feito pelos Minimoes, de uma terra distante ate chegar ali naquele carvalho.

Girei o rosto por todo o lado analisando cada canto daquele lugar, ate que escutei uma voz enquanto estava distraído.− Compreende tudo que vê? – disse o Patriarca com a voz morosa.− como? – escutei o que ele havia dito, mas distraído não pude entender a questão. Virei-me para ele e ao fazer isso fui recebido com um sorriso afável e sincero, no momento em que ele sorriu senti, como se uma brisa refrescante passasse por mim espanando todo o salão, e levantando um pó dourado que me causou a mesma sensação de quando levanto rapidamente e tenho a impressão de ver faíscas correndo por todos os lados; senti-me tonto com aquele efeito, mas era tudo psicológico, na verdade nunca me sentira tão bem e realizado.− perguntei se você compreende tudo o que está vendo aqui. – repetiu o senhor de modo gentil.− é... Creio que quase tudo.− então me diga o que você vê?− é tanto os vitrais, como os entalhes representa a história de seu povo, o como vocês chegaram ate aqui e o que vocês passaram para chegar, mostra também todos os Patriarcas que já estiveram no trono, e mostra a arvore no local mais alto a tornando o símbolo mais importante aqui.− está certo senhor Ryan. A arvore é sim o símbolo de maior significado já que representa a vida, mas faltou você falar sobre o trono e o porquê dele estar situado abaixo da arvore. Não é pelo fato de estarmos abaixo dela, mas pelo fato de estarmos responsáveis por ela, como um peso cada Patriarca carrega o peso da vida e do bem estar de cada Minomoe que mora aqui. Disseram-me que você não crê muito em magia, senhor Ryan.− ate um tempo atrás eu não precisava crer.− não precisava? Fala como se magia fosse algo condicional, algo que só existe se você quiser ou precisar que exista.

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− e ela não é? De onde eu venho não existem Minimoes e Coletores e ninguém resolve as coisas com magia?− claro que não, vocês acabaram com tudo. Exterminaram qualquer tipo de possibilidade dentro de vocês mesmos, vocês quantificaram a magia e a transformaram em engenharia, em mecânica e química, vocês se perderam dentro de uma realidade que vocês forçaram. As crianças de seu mundo acreditam em nós e em outras criaturas, vai chama-las de loucas ou dizer que elas são muito imaginativas? Você mesmo está nos vendo, talvez tão nítida e vividamente quanto qualquer humano já viu.− então está me dizendo que a magia existe; que ela é verdade e que ela é essencial?− sim, estou. Por que não seria?− ah, mas posso estar sonhando, tudo é possível quando se sonha.− o que você acha que os sonhos são?− é... Eles são uma reação psíquica, algo que nosso cérebro criar para descansarmos.− mais algo que vocês tentam quantificar. Os sonhos são a única ultima coisa que sobrou da magia, é quando seu consciente adormece você finalmente acorda e sente todo o mundo a sua volta, você pode fazer tudo que quiser lá, por que você crê que pode. Diga-me, se você realmente acreditasse poder voar, você voaria?− isso é impossível, a gravidade me impediria?− claro que sim, você crê nisso.− A magia de certa forma precisa sim que acreditemos, mas ela não deixa de existir pela falta de fé, a magia está em tudo, no mundo de vocês, ela ganhou o nome de milagre, coisas as quais vocês não podem explicar ou quantificar, mas a magia não é uma forma ilógica de explicação, ela é mais do que isso. A magia é aceitação.− aceitação de que?− de que somos fortes o suficiente para pararmos uma chuva de flecha ser realmente acreditarmos nisso. A magia é libertação, é quando você

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quebra as cordas e resolve andar e acreditar no que você realmente quer acreditar, ela é vida.

Naquele momento eu simplesmente assenti, não havia mais nada a ser dito, vi todos os meus argumentos caírem por terra, teria ficado louco com aquele choque, mas ele falou de uma forma tão bonita e gentil que eu apenas aceitei.− tudo bem, o senhor já me provou que magia realmente existe e com tudo que já me aconteceu ate agora, não existe outra explicação, afinal nem sonhos são tão reais. Mas não exatamente para isso q eu estou aqui, preciso que o senhor me conte sobre os anciões.− tudo bem. Creio que lhe ajudarei a entender melhor sobre eles e sobre você, jovem Ryan.

Fiquei ainda mais curioso quando ele disse que me ajudaria a entender melhor sobre mim mesmo, estava ansioso para que tudo fosse esclarecido.

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Revelação

O Patriarca se levantou de seu trono, e andando calmamente veio em minha direção, pediu para que eu lhe desse as mãos, e meio receoso eu as estendi e no mesmo instante ele as pegou e apalpando-as começou a me analisar. Apalpou meus braços, ombros e meu rosto, fiquei um tanto sem graça, mas me senti inclinado a perguntar se ele era cego?

Ele sorriu e disse: se eu fosse cego eu me levantaria e viria andando ate você sem sequer pedir para que você fizesse algum som?− ah, mas a gente conversou durante um tempo.− nós estamos em uma sala fechada de teto oval, o som aqui é refletido por todos os lados.− mas não é tão difícil de identificar o ponto de partida.− eu não memorizo tudo sabia.− mais não é preciso.

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−Arg. Está bem! Você me pegou, mas eu não sou cego – então ele levantou a cabeça. Todo aquele tempo conversara comigo de cabeça baixa e olhos semicerrados, ele era um pouco mais baixo que os outros, talvez pela idade, eles tinha cabelos prateados que iam ate a cintura e uma barba que terminava próxima do umbigo, era branco de aparência pálida, usava uma bata verde musgo e um manto de tecido mais grosso cor de vinho, o rosto enrugado com a sobrancelha baixa, o nariz grande e redondo, e bolsões nos olhos. Quando ele abriu os olhos pude ver que eram azuis, mas sua íris já estava um pouco opaca e quase não se via a pupila.

Depois de falar aquilo ela pegou de dentro da manga um óculos e o pôs na face, as lentes eram enormes e o davam a impressão de que os olhos dele iriam saltar para fora. − Pronto garoto, satisfeito? Agora você descobriu que eu uso óculos. – disse ele meio sarcástico e encerrou com um grande sorriso.

Sorri também junto, não pude me segurar, e emendando disse: ah você fica até bem de óculos.− da de brincadeira comigo garoto, eles óculos deixam meus olhos enormes.

Fiquei sem saber o que dizer então resolvi mudar logo de assunto. − mas me diga por que se levantou? Vamos a outro lugar?− como eu disse, eu não me lembro de tudo, vamos para a biblioteca, tenho uma história para te contar.− tudo bem!

Naquele momento; Flint, Doyal e Matthew que permaneceram calados o tempo todo, simplesmente me olharam e disseram em coro: Boa sorte!− daqui para frente é com você – complementou Flint.

Quando estávamos chegando perto do Portão, O senhor retirou de sua outra manga um molhe de chave, pegou uma das chaves e enfiou em um buraco localizado entre as portas, então a abriu.

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Naquele momento eu havia ficado estupefato, abismado e cada vez mais crente com relação à magia; a mesma porta por onde eu entrara no salão depois de ter passar por um passarela, tornara-se a porta que dava acesso a uma imensa biblioteca. − Como você fez isso? Mesmo sendo magia, mas eu passei por essa porta e não havia biblioteca nenhuma.− quando se é patriarca você recebe alguns privilégios. – ele sorriu como se estivesse se gabando pelo que acabara de dizer.− hum... Entendo, ah diga-me, como é o seu nome mesmo?− é uma boa pergunta garoto. A visão não foi, a única coisa que eu perdi com o tempo, depois de tantos anos sendo chamado de “patriarca, grande Pai, etc.” eu mesmo não quis mais lembrar meu nome, me chame como você achar conveniente, só não seja grosseiro.

Já estava pensando em chama-lo de velho, mas com aquela condição imposta, preferi continuar a chama-lo de Patriarca.− bem, então continuarei a te chamar de patriarca, me diga como conseguiu me deixar tão pequeno?Nós nunca sobreviveríamos e nem prosperaríamos tanto tempo se não tivéssemos nossas arte-manias. O Carvalho é protegido com um grande circulo místico, que cobre um raio de 15 metros a partir da arvore. Qualquer um que esteja dentro deste circulo está vulnerável a magia de encolhimento, é claro que podemos usá-la individualmente e encolher apenas o que quisermos.− e foi isso que aconteceu? Vocês encolheram apenas eu?− na verdade não, encolhemos os dois coletores, foi preciso já que eles poderiam tentar cortar a arvore ou ir buscar mais soldados.− hum, compreendo. É você poderia me ensinar tal magia?− poderia se você realmente se dedicasse, mas com que proposito?− O de tentar sobreviver, aqui, eu posso estar seguro, mas não vou poder ficar aqui para sempre, tenho que sair e tentar encontrar um meio de voltar para casa, e uma magia como essa poderia me ajudar a me esconder quando fosse necessário.

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− entendo sua linha de raciocínio e não me oponho em ensinar você, desde que nunca use isso para se aproveitar de qualquer coisa. Vejo o quanto é honesto e justo, não perca isso Ryan.− tudo bem e muito obrigado!− não há de que.

Enquanto conversávamos, íamos nos afastando cada vez mais do portão e entrando cada vez mais fundo naquela biblioteca, havia inúmeras estantes e uma quantidade interminável de livros, ate que depois de andarmos vários metros por um corredor, finalmente chegamos em uma área circular com pequenas mesas e um grande livro aberto em cima de uma bancada, havia uma luz incandescente e unidirecional, em cima do livro. Aproximamo-nos dela e então o Velho perguntou: está pronto garoto?− é... estou sim! – estava um pouco inseguro, mas não podia hesitar ali.

O grande Pai assentiu com a cabeça dizendo tudo bem e então começou a ler:

Kinossus, Principio, ano um.

No inicio não havia mais do que uma terra vazia e duas divindades, seres capazes de qualquer coisa, um era branco e o outro era completamente negro, ambos se completavam e se unindo deram inicio a Kinossus, uma grande extensão de terra que se elevou acima das águas, logo que a terra se fez e começou a gerar vida, os dois ficaram felizes e logo se apaixonaram, criaram luzeiros que dividiriam o dia em manha e noite, criaram as estações e começaram a dar nome a todo que surgia.

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Anos de evolução se passaram e todos os seres finalmente amadureceram, começaram a caminhar pela terra e a se alimentar de frutos e de animais menores, tudo parecia perfeito, pois o trabalho das duas divindades parecia então completo, e tudo o que restava a eles era a eternidade de contemplação e a vida a dois. Estando contente de finalmente poder dar e receber mais atenção de seu amado, Morgana (as trevas) foi ate Primus (a luz) e declarou seu amor a ele, disse o quanto estava feliz, mas tudo o que escutou foi: tem algo errado com as criaturas que nós criamos. Falou isso depois de um tempo de observação, quando Morgana escutou isso e percebeu que ele não tinha dado a mínima para o que ela acabara de dizer, ela se afastou e chorou durantes dias.

O choro de Morgana gerou um grande período de tormenta na terra, pois sua tristeza se refletiu em tufões, trombas d’água, tempestades terríveis e um grande aumento do nível do mar, tudo isso agitou Kinossus e fez com que as criaturas entrassem em pânico, milhares de espécies buscando refugio. O movimento intenso das marés fez com grandes pedaços de terro se desprendessem e se deslocassem para longe do continente, fez também com que vulcões entrassem em erupção e criassem novas ilhas, consequentes do resfriamento da lava ao entrar em contato com a água.

Primos quando viu o sofrimento de sua amada quase destruir a terra que ambos haviam construído, foi ate ela e tentou acalmá-la, perguntando por que ela estava daquele jeito, e então ela disse a ele, que estava com ciúmes por que ele dava mais atenção aos seres abaixo de seus pés do que a ela que era sua amada; quando escutou tal resposta, Primus se sentiu muito culpado e se desculpou com Morgana, mas pediu para que ela parasse de chorar ou então destruiria tudo aquilo que eles dois haviam construído.

Ela acabou cedendo, mas pediu a ele, que deixasse aqueles seres cuidarem de suas próprias vidas, ele também teve que ceder e jurou a ela que a partir daquele momento ele seria apenas dela, mas

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mesmo tendo feito tal juramento, a Luz via o desespero e a necessidade que suas criações tinham de alguém que as guiassem, elas estavam perdidas e não sabiam por onde começar; eram como crianças pequenas que necessitam de colo e compreensão. Chegou um momento que Primus não aguentava ver aqueles que ele, depois de um tempo começou a chamar de filhos, passar por tantas provações, e acabou soltando lagrimas sobre Kinossus, que diferente das lagrimas de Morgana, se converteram em seres parecidos com Primus, provavelmente reflexos dos sentimentos que ele tinha por aquelas criaturas.

Os reflexos receberam o nome de Anciões, por surgirem como grandes homens brancos de bata cinza, com aparência idosa, sem qualquer pelo no corpo, possuíam olhos cinzas que costumavam brilhar a noite. Os tais Anciões começaram a se aproximar de todos os seres, sentimento herdado de primus, os grandes seres de luz começaram então a instruir as criaturas para que finalmente elas pudessem seguir por si só.

Em uma noite muito escura, Luz e Trevas dormiam, mas Morgana por algum motivo não conseguiu pegar no sono aquela noite, se levantou e olhou para seu amado com olhares contemplativos, mas logo foi pega por estranhas luzes que ainda piscavam em Kinossus, resolveu então sair de fininho para que Primus não despertasse, e foi ver mais de perto que luzes eram aquelas, se deparou então com seres que lembravam muito aquele que ela acabara de ver dormindo. Ela ficou furiosa e entendeu do jeito dela, o que havia acontecido, pensou ela que Primus não havia cumprido com sua promessa, mas não sabia que aquilo havia acontecido por acidente, e tomada em ira nem fez questão de tomar satisfação e foi logo culpando seu amado, que não teve tempo nem meios para se defender contra as acusações de sua amada.

A única palavra que ele conseguiu e precisou dizer, depois de tantas palavras ofensivas que saiu da boca de Morgana, foi: CHEGA!

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Disse isso em um brado que ressoou com trovão em Kinossus. Ele olhou para sua amada e disse, finalmente: eu cansei! Cansei de seu ciúme, e cansei de você tentando me controlar e não buscando me entender. Depois daquilo ele saiu, antes mesmo que Morgana pudesse ou tentasse dizer ou fazer algo, ele foi embora e afastou-se das Trevas, para finalmente poder ajudar como podia aqueles seres.

Depois daquilo, Morgana não tentou mais, compreende-lo, e com o coração cheio de ódio só conseguia pensar em meios para prejudicar todo o trabalho de Primus. Dedicou-se então a corromper todos os seres que podia, os amaldiçoando e os enchendo com trevas para que eles sabotassem e destruíssem tudo pelo que Primus tinha trabalhado, quando a Luz viu o que a Treva estava tramando, tentou criar formas de inibi-la, mas ela estava determinada ver a Luz cair.

Chegou um momento em que os dois já quase não tinham poderes, pois a mentalidade das criaturas havia crescido muito e isso começou a inibir a capacidade dos dois de influenciar diretamente nas ações dos seres, mas tanto o trabalho de Primos de ajudar e melhorar a vida das espécies, como o trabalho de Morgana de corromper as criaturas e de arruinar a Luz, já estavam quase completos. A ultima coisa que Morgana pôde fazer foi corromper um dos Anciões, o que mudaria tudo de maneira drástica, mas assim como Morgana, Primus também possuía um ultimo trunfo e deixou para usá-lo no momento mais oportuno.

Aquele Ancião que havia se corrompido começou a destruir os outros Anciões e a se apossar de todas as terras que eram de direito dos seres de Kinossus, instituindo uma forma de governo que aniquilaria qualquer forma de resistência por parte das forças rebeldes que pudessem vir a se levantar. Quando tudo estava indo de acordo com o que Morgana queria, esta pensou então ter ganho a batalha, mas tudo mudou no momento em que Primus se levantou e usou seu ultimo trunfo, ele fez com que o ultimo Ancião tivesse um momento de lucidez e visse tudo aquilo que ele tinha feito, o Ancião ao ver toda a

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destruição e toda a dor que ele havia gerado, olhou para cima e gritou tão alto que todo o firmamento tremeu, então aproveitando que todos o estavam escutando, disse suas ultimas palavras antes que o mal lhe dominasse outra vez: peço perdão a todos que machuquei e por tudo que vocês perderam graças a mim, mas lanço a vocês uma luz, algo que poderá lhes salvar, Um herói virá, quando poucos reinos ainda estiverem de pé, esse guerreiro vem de terras longínquas, mas carrega consigo o mesmo sentimento de insatisfação e de vontade de ser livre, ele não falará suas línguas, então encarrego aos sacerdotes saberem e ensinar a todos a língua de seu salvador. Quando o céu escurecer e tudo parecer estar perdido, ele decidirá o que fazer, nesse momento haverá apenas silencio e no momento seguindo um grande brado, que se estenderá por cada planície, montanha, rios e grutas, e é esse brado que encerrará tudo...

Antes que o velho pai terminasse, eu já sabia o termino daquela profecia, e fiquei estupefato, paralisado durante um tempo, pois tudo o que eu realmente queria era sair daquele mundo e voltar para a terra, mas agora me via metido em algo muito maior do que eu, quando ele falou aquelas palavras, ele realmente via em mim o salvador citado na história, então como falar para ele que eu não era quem ele estava esperando?− me desculpe, mas é que...

Mal comecei a falar e fui interrompido pelo patriarca, que disse:− não diga nada, todo profecia demora um tempo para realmente ser compreendida, e mesmo parecendo simples, não diga nada agora, creio que você terá tempo para de fato medir as alternativas e pesar sua escolha.− mais eu não...− não atormente seu coração assim, garoto, não vai adiantar nada pensar em tal coisa, isso não vai te fazer voltar para sua terra. Tenho algo a te dizer; independente de profecia ou qualquer coisa que seja,

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cada um tem a sua fé e a sua forma de ver as coisas, mas tudo isso depende de amadurecimento, como aconteceu com você. Veio aqui crente que magia não existia, no entanto passou a crer depois que viu que a magia de fato é real, apesar de maduro, você ainda crê apenas em coisa palpáveis, viu que a magia era tão real quanto você e acreditou, falta-lhe fé.

Depois daquilo eu realmente não tinha mais nada a dizer, então optei por me manter calado e mudar o assunto, então perguntei a ele, quando me ensinaria, a magia, então ele me respondeu sorrindo, que me ensinaria logo, e perguntou se eu estava com pressa?

Disse que sim, e ele completou falando: então devemos continuar, só vou fazer uma coisa... – ele pegou mais uma vez o molho de chaves, pegou uma chave diferente agora, eu ainda não tinha me acostumado com aquilo e só me senti mais estranho quando vi o que ele iria fazer em seguida.

Ele tocou a palma da mão no chão, e um circulo se desenhou no assoalho, após isso, uma porta apareceu do nada, e usando aquela nova chave, ele abriu a nova entrada dando acesso a uma sala completamente branca, entramos por ela e logo a biblioteca desapareceu.− Bem, é aqui que iremos começar. – disse o Patriarca com jeito de professor.− E onde é aqui?− é um livro em branco. Um lugar onde sua história começará.

Fiquei instigado naquele momento, realmente parecia incrível tudo aquilo, e mesmo sendo um homem realista, me senti ótimo em ver meus sonhos, em ver que um mundo como aquele realmente era possível, mas ainda assim eu continuava pensando em Dublin, na minha vida lá e em tudo que eu havia feito.

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Magia

Dentro da sala branca passou-se um tempo ate que o Pai de todos olhasse para mim e perguntasse se eu estava preparado, feito a pergunta ele olhou para suas mãos e as esfregou; pude notar que ao fazer aquilo, suas mãos começaram a ficar vermelhas ate ficarem incandescentes. Das suas mãos saiam faíscas, e dessas faíscas surgiam pequenos pontos de luz, que como vagalumes, iam se espalhando pela sala.

Toda aquela cena parecia ensaiada, algo para criar certa expectativa, uma previa para que eu me distraísse e então me surpreendesse com o final, e foi o que aconteceu. Depois de um tempo o vendo esfregar as mãos e vendo as faíscas dançarem ao meu redor, escutei ele bater as mãos, e em um movimento rápido de jogá-las para cima, ele produziu fogo, um fogo que se cresceu e logo se afunilou transformando-se em uma fita vermelha, que se dividiu e se dispersou pelo local, como tinta, e essa tinta gerou animais que começaram a correr e a pular entre nós, e por fim dispersaram-se em fumaça.

Fiquei pasmo, sem palavras, aturdido com tudo aquilo, não havia piscado e nem queria piscar em nenhum momento, pois jamais tinha visto tão glorioso espetáculo...– Sabe como eu fiz isso? – perguntou o pai velho.

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– com magia? – estava boquiaberto, não conseguia pensar em muita coisa.– a pergunta não é com o que, mas como.– você disse alguma coisa.– você me ouviu falar algo?– não... – desisti, não sabia e nem fazia ideia da resposta que ele queria.– primeiramente, a magia nada mais é do que uma necessidade. – ele parecia e se encaixava perfeitamente no papel de professor.– necessidade de que? – estava curioso, e comecei a desconfiar, que ele gostava de perguntas.– o que é necessário para você? Viver? Sentir? Se expressar? A magia engloba tudo isso e muito mais, ela é acima de tudo a necessidade de amar, não apenas a si ou ao outros, mas amar o que você faz. Agora você já sabe me dizer como eu fiz aquilo?– você sentiu uma necessidade e precisou expressar isso por meio da magia?– quase isso, é ai que entra outro ponto importante. Não basta apenas sentir, deve estar concentrado, estar tranquilo. Quando se está sereno e não se tem mais nada na mente além de algo, como querer crescer, ou querer fazer fogo, você deve sentir isso dentro de você se expandindo pouco a pouco ate não poder mais conter, quando isso acontecesse, você sente a necessidade de saber mais; de mostrar aquilo para todos; é ai que vem o amor, pois quando se ama sente-se uma necessidade de conhecer e não se está totalmente preenchido ou completo, antes de saber totalmente a respeito. É só ai; quando se descobre o verdadeiro nome daquilo que se senti, é que se pode usar. – mas e o fato de o senhor não ter dito nada?– bem, vou lhe dar um exemplo: na sua terra se usa o fogo, não é?– sim.– pois bem, vocês não conhecem de fato o fogo e o seu nome, apenas o nomearam assim, porque lhes conveio, então mesmo sentindo a

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necessidade e querendo expressá-la, falta-lhes o conhecimento, falta-lhes o amor, sendo assim, vocês acabam precisando de um meio, uma forma, um tipo de catalizador para suprir aquela necessidade. A mesma coisa funciona com as palavras, quando não se tem certeza, ou não se está pronto, usa-se a palavra, mas a partir do momento em que você tem plena consciência daquilo que está sentindo você mesmo se torna o catalizador.– hum... – assenti, senti que ainda não estava preparado, mas queria aprender o mais rápido possível.– está vendo a sala?– sim por quê? – não havia entendido o sentido da pergunta.– e o que você vê?– nada, está tudo branco.– exato, tome isso como um estimulo já que lhe falei, que para fazer magica sua mente precisa estar fazia. Pense em sua mente como uma pagina em branco, algo que precisa ser preenchido, mas que como qualquer espaço, precisa de um passo inicial e organizado para que tudo saia bem.– acho que entendi.– então me mostras oras, estou esperando. – disse ele sorrindo.

Sem dizer nada eu fichei os olhos e comecei a me concentrar, fiz tudo o que ele dissera: relaxei meu corpo e minha mente e tentei imaginar minha mente como algo vazio, tudo ficou escuro e imaginando tudo o que ele havia feito, sentia necessidade de chamar o fogo, não como eu o conheço, mas como ele realmente é, e fazendo isso comecei então a vê-lo dentro de mim, primeiro como uma faísca, depois como uma pequena chama que logo cresceu e começou a preencher toda a minha mente. Escutei um som ao longe, som este que iniciava com um chiado – ssrs...

Abri os olhos e levantei as mãos disposto a chamar as chamas, mas minhas mãos só produziram raspas de fogo que não duraram mais

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que um segundo. No começo não entendi por que eu não consegui fazer fogo, estava tudo indo tão bem.– os pensamentos às vezes podem nos pregar peças, sua velocidade é mais rápida que qualquer coisa, o que faz com que quase não os percebamos em certos momentos. Você não notou, pois estava de olhos fechados, perdido de mais, mas seu corpo reagiu. – disse o velho pai, como quem já esperava que aquilo acontecesse.– reagiu a que? Não entendi ainda.– você hesitou, foi isso que aconteceu.– eu nã... É, eu hesitei sim. – era difícil admitir, mas no ultimo segundo passou uma pergunta pela minha cabeça. E se... a pergunta começava assim e isso já era mais do que suficiente para que a magia não desse certo.– não se preocupe. Você não foi mal. É seu primeiro contato de fato com magia e é natural que coisas assim aconteçam, é para isso que estamos aqui.

Sorri com aquilo e disse: tudo bem, vamos tentar de novo. Eu estava realmente convicto de que aprenderia magia.

Após aquela primeira experiência com magia, eu fui me esforçando e melhorando cada vez mais, foram se passando horas e dias, os dias se tornaram semanas e as semanas se tornaram meses...Parávamos para comer e ele aproveitava para me contar sobre sua vida e todas as coisas que ele já havia feito e visto, me contava também sobre os seres que eu encontraria em minha jornada, eu também com o tempo comecei a falar de mim e sobre a minha vida na terra, sobre os lugares que eu já havia visitado e sobre o estilo de vida que a maioria das pessoas levava.

Depois de longas conversas e treinos, os meses se tornaram anos ate que...– mostre-me o que você aprendeu durante todo esse tempo. – disse ele com um tom de admiração e confiança. Ele realmente acreditava em mim e isso só me engrandecia e me fazia crer também.

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O meu semblante já havia mudado depois daquele tempo, eu não havia percebido quanto tempo havíamos passado naquele lugar, isolados de tudo e de todos, mas sabia que eu estava diferente, um novo homem, e essa sensação era ótima. Perguntei a ele certa vez, se ele podia ficar tanto tempo longe de suas funções como patriarca, mas ele não foi objetivo, disse que fazia anos que não fazia algo assim.– tudo bem. – sorri

Mais uma vez fechei meus olhos e depois de anos treinando, esvaziar a mente já havia se tornado fácil; tentei fazer fogo novamente e dessa vez estava crente de que conseguiria, já não havia mais duvidas em meu coração e eu me admirava do quando eu havia progredido desde aquele dia.– Ssreffin – disse devagar enquanto abria os olhos, meus olhos tornaram-se vermelhos com tons azuis e amarelos, coloquei minhas mãos para cima e delas saíram cavalos de fogo que começaram a cavalgar pelo salão e saltaram para minhas mãos e subiram como um, formando uma fênix.

Palmas foi o que eu ouvi depois.– isso é magia garoto, acreditar em si mesmo já é magia.

Fiquei feliz com aquelas palavras, a aprovação dele naquele momento havia significado muito para mim. Pisquei algumas vezes, e a ultima foi mais prolongada, como se minhas pálpebras estivessem pesadas.– bem, agora você já pode seguir sua jornada. Boa sorte!

Olhei em volta e ainda estava no salão ogival, como se nunca tivesse saído dali, a impressão que tive ao ver tudo aquilo era que todo aquele tempo não havia passado de alguns minutos.– tudo era um sonho? Estava surpreso, espantado e toda a minha confiança e o que eu havia aprendido pareciam ter sumido. Como se eu nunca os tivesse de verdade.– após anos de aprendizado, você ainda não conseguiu libertar sua mente o suficiente. – olhou-me com desaprovação.

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– como assim anos? Não se passou nem alguns minutos.– me diga sinceramente, qual a diferença de um sonho e de agora?– é, um sonho não é real de verdade.– um sonho não é real de verdade? Existem pessoas não só aqui, mas no seu próprio mundo que vivem em um sonho, porque não querem crer em suas realidades, outras não conseguem sonhar porque se prenderam de mais a coisas palpáveis. Sonho e realidade, garoto, não passam de um estado de espirito, não existe diferença entre um e outro. Se você sonha voar, então acorda e não voa porque está na realidade, se você continuasse vendo aquilo como um sonho, você voaria? – não, existem vários aspectos, a gravidade é um deles...– você já tentou? Alguém em seu mundo já tentou?

Tentei pensar em alguém que realmente tivesse tentado, mas não encontrei ninguém, todos que sonharam em voar usaram meios artificiais para isso, ou seja, não conheciam a palavra certa, apenas a denominação dada por eles para tal fenômeno.– pois bem - disse ele – quero que você realmente reflita sobre isso, nos conhecemos ha anos, e sendo sonho ou não, tudo o que você aprendeu, tudo q eu sei e que você sabe não deixou de existir, é isso que eu quero que você veja, sonho ou não, as coisas que você viu, fez e aprendeu permanecem, basta você crer.– espere um pouco.– não, garoto. Passei muito tempo com você, agora é a sua vez de andar com seus próprios pés, a jornada é sua e não minha, é você que está lutando por uma causa, por uma existência não eu.

Ele virou-se e se sentou no trono, eu não pude fazer nada a não ser me virar e ir embora, estava triste por aquilo, mas o que fazer? Ainda me via preso à realidade palpável, ha coisas que eu não tinha certeza se eram ou não reais; não queria, mas era assim que eu me sentia.

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Despedi-me dos Minimoes que eu havia conhecido, e Flint se aproximou de mim e me entregou um mapa de kinossus.– tome, acho que vai ser importante, espero que te ajude.– muito obrigado, Flint.– não tem de que, tome cuidado. Você é novo por aqui, e existem muitos perigos lá fora.– pode deixar. – depois de um tempo convivendo com eles, percebi o quanto eram emotivos e o quanto valorizavam uma boa amizade, algo difícil de encontrar em qualquer lugar.

Retornei ao meu tamanho normal, olhei para aquele carvalho e lembrei-me do rosto do Patriarca, aquele ultimo olhar me deixou triste e desorientado, mas eu precisava seguir em frente. Peguei o mapa e logo a minha frente estava Delffen, terra dos humanos, mas apesar de humano aquela terra não me era familiar. Não sabia o que encontrar, mas esperava que eles fossem pacíficos assim como os Minimoes, pelo menos pacíficos comigo já que eu também era humano.

Andei algumas dezenas de metros até sair de Frowzen, terra dos Minimoes e entrar em Delffen. Sai da área descampada e segui por uma floresta que começava com arvores secas e ao longo do percurso era coberta por arvores mais vistosas e cheias de vida,