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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA Rio de Janeiro 2019 O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA

Rio de Janeiro 2019

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

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Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Maj Com GLAUBER JUAREZ SASAKI ACÁCIO

Rio de Janeiro 2019

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S586o Silva, Mateus Fernandes Brum da

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro. /Mateus Fernandes Brum da Silva. 一 2019. 110 f ; 30 cm.

Orientação: Glauber Juarez Sasaki Acácio. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares)

一 Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019. Bibliografia: fl 105-110. 1. GLOBALISMO 2. EXÉRCITO BRASILEIRO 3. METACAPITALISMO

4. AMBIENTALISMO I. Título.

CDD 363.7057

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Maj Cav MATEUS FERNANDES BRUM DA SILVA

O Globalismo e o papel do Exército Brasileiro

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Aprovado em _____ de_______________ de________.

COMISSÃO AVALIADORA

_________________________________________________ Glauber Juarez Sasaki Acácio – TC Com QEMA - Presidente

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________ Enio Corrêa de Souza – TC Com QEMA - 1º Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

___________________________________________________ Anderson Luiz Alves Figueiredo - Maj Eng QEMA - 2º Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

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A todos os brasileiros, de ontem, hoje e

sempre, que ajudaram a formar e manter

esta única e maravilhosa nação.

Ao professor Olavo Pimentel de Carvalho,

por ter avisado sobre os perigos contra a

nação, quando ninguém acreditava.

Ao eterno Comandante do Exército,

General-de-Exército Eduardo Villas-Bôas

pela serenidade e firmeza em um dos

momentos mais graves da vida nacional.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, TC Com GLAUBER, meus sinceros agradecimentos pela

paciência durante a elaboração deste trabalho. Agradeço pelas orientações e

sugestões que facilitaram a conclusão deste trabalho, sem jamais prejudicar o

andamento dos mesmos.

Aos companheiros Maj VILLA e Maj MACHADO, pela preciosa ajuda nas sugestões

de bibliografia e troca de ideias.

Aos meus pais Ronaldo e Inez, e a minha esposa Camila, pelo apoio incondicional.

A Deus e a todos meus amigos que me ajudaram nesta tarefa.

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo apresentar a ideologia globalista e seus impactos para a nação brasileira. Teve por objetivo, também, apresentar as estratégias globalistas, em particular o ambientalismo, o globalismo pedagógico e a revolução cultural, que tem como agentes os metacapitalistas encastelados nas Organizações Internacionais, como ONU e UNESCO. De igual forma, este trabalho objetivou apresentar o papel do Exército Brasileiro frente a este movimento, visto que o mesmo, por atacar frontalmente os estados-nação, atenta diretamente contra a missão constitucional da Força Terrestre de defesa da Pátria. Palavras-chave: Globalismo, Exército Brasileiro, Metacapitalismo, Ambientalismo, ONU, UNESCO.

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ABSTRACT

This paper aimed to present the globalist ideology and its impacts on the Brazilian nation. It also aimed to present the globalist strategies, in particular environmentalism, pedagogical globalism and the Cultural Revolution, whose agents are the metacapitalists embedded in the International Organizations, such as the UN and UNESCO. Similarly, this paper aimed to present the role of the Brazilian Army in facing this movement, due the frontal attack on the nation-states that directly undermines the Terrestrial Forcer constitutional mission of defense the Fatherland. Keywords: Globalism, Brazilian Army, Metacapitalism, Environmentalism, UN, UNESCO.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 11

1.1 PROBLEMA........................................................................................... 19

1.2 OBJETIVO............................................................................................. 20

1.2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................ 20

1.2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO...................................................................... 20

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO............................................................... 20

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................. 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................... 25

2.1 O GLOBALISMO ................................................................................... 25

2.2 OS MOVIMENTOS GLOBALISTAS E SEUS OBJETIVOS.................... 27

2.3 AS ESTRATÉGIAS DO MOVIMENTO GLOBALISTA............................ 32

2.4 O PAPEL CONSTITUCIONAL DO EXÉRCITO...................................... 34

3 METODOLOGIA.................................................................................. 36

3.1 TIPO DE PESQUISA........................................................................... 36

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA....................................................................... 36

3.3 COLETA DE DADOS............................................................................ 36

3.4 TRATAMENTO DE DADOS................................................................... 36

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO.................................................................... 37

4 O GLOBALISMO E SUAS ORIGENS................................................... 38

4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA: DA IDEIA DE IMPERIO À PAZ DE

VESTFÁLIA ...............................................................................................................38

4.2 GLOBALISMO MODERNO E A AÇÃO INDIRETA: DA REVOLUÇÃO

FRANCESA AO MOVIMENTO COMUNISTA............................................................41

4.3 METACAPISTALISTAS E OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS........47

4.4 REAÇÃO SOBERANISTA: BREXIT, TRUMP E BOLSONARO..............50

5 ESTRATÉGIAS GLOBALISTAS............................................................ 59

5.1 O GLOBALISMO ECOLÓGICO...............................................................60

5.2 O GLOBALISMO PEDAGÓGICO.......................................................... 68

5.3 GLOBALISMO E A REVOLUÇÃO CULTURAL...................................... 78

6 O PAPEL DO EXÉRCITO BRASILEIRO................................................88

7 CONCLUSÃO...................................................................................... 99

REFERÊNCIAS.....................................................................................104

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1 INTRODUÇÃO

O Globalismo é uma ideologia e um movimento extremamente difuso. As

definições em relação a este fenômeno são bastante diversas e, por vezes,

possuem pontos de divergência. O mesmo é apresentado em um espectro que

abrange desde uma simples confusão com a noção de globalização1 até o extremo

de um Governo Mundial Totalitário2

Além da diversidade de definições, o Globalismo é também abordado com

diferentes nomenclaturas, sendo reconhecido nas expressões “Governança Global”,

“Nova Ordem Mundial”, “Poder Mundial”, “Elite Global” ou simplesmente “Governo

Mundial”. Para fins práticos, as expressões acima descritas serão tratadas como

sinônimos de Globalismo.

Segundo Felipe G. Martins3 (2018), o Globalismo seria uma ideologia que

acredita que os problemas atuais são melhor abordados dentro de uma perspectiva

global. Neste sentido, as instâncias decisórias nacionais seriam substituídas, em

certa medida, por instâncias decisórias supranacionais, com destaque evidente para

as Organizações Internacionais, em especial a ONU.

Alexandre Costa (2015), usa a expressão “Nova Ordem Mundial”, definindo-a

como um conjunto de iniciativas que teriam como objetivo a criação de um governo

mundial, que, embora pudesse estar estruturado em camadas, seria centralizado em

uma entidade global. Ou seja, a “Nova Ordem Mundial” – expressão por vezes

polêmica e com ares conspiratórios – seria a materialização da ideologia globalista

em termos políticos e geopolíticos.

No tocante à concepção político-ideológica, Sérgio de Avelar Coutinho (2010)

utiliza-se do termo “Governança Global”, caracterizando-a como uma nova ordem

mundial caracterizada por um sistema transnacional de gestão. Estabelecer-se-ia

1 As diferenças fundamentais entre globalização e Globalismo estão muito bem especificadas em Globalismo: Bastidores do Mundo - Debate entre Olavo de Carvalho e Paulo R. de Almeida, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=CkgQhnApLow&t=1738s>. Acesso em 21 de março de 2019; e na entrevista de Felipe G. Martins à InfoMoney disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=IH8LP1dawK4&t=1908s>. Acesso em 21 de março de 2019. 2 Uma prospecção da inevitabilidade do totalitarismo de um governo global está sintetizada no artigo “E se o mundo estivesse sob um só governo?”, da Superinteressante, disponível em <https://super.abril.com.br/cultura/e-se-o-mundo-estivesse-sob-um-so-governo/>. Acesso em 21 de março de 2019. 3 Filipe G. Martins é Professor de Política Internacional, Analista Político e Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais.

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um pacto global, onde seria aceita uma autoridade normativa, judiciária e executiva

que transcenderia a soberania das nações. Evidentemente, os Organismos

Internacionais, e, novamente, em especial, a ONU, destacam-se como potenciais

candidatos a exercerem esta “autoridade global”.

Olavo de Carvalho (2009), faz a abordagem do Globalismo caracterizando-o

como um movimento revolucionário. Neste sentido, apresenta-o como um projeto

civilizacional completo, que abrangeria a "mutação radical não só das estruturas de

poder, mas da sociedade, da educação, da moral e até das reações mais íntimas da

alma humana”. Este aspecto revolucionário do Globalismo será central no presente

trabalho, tendo em vista os impactos que gera para o Brasil e, em particular, no que

é de interesse nesta obra, para o papel de seu Exército.

Paul James (2006), em sua obra Globalism, Nationalism, Tribalism: Bringing

Theory Back In, define o Globalismo como a ideologia dominante associada a

diferentes formações históricas dominantes, de extensão global. Esta definição, mais

abrangente, afirma, portanto, que existiam formas “pré-modernas” ou tradicionais de

globalismo, muito antes do advento do capitalismo. Esta definição possibilita

remontar ao Império Romano e talvez, antes mesmo disto, aos gregos do século V

a.C.

Neste sentido, pode-se fazer um paralelo entre duas obras que tratam ou

advogam sobre o globalismo. A primeira delas, escrita pelo já citado filósofo Olavo

de Carvalho (2015), O Jardim das Aflições, tem como tese fundamental a ideia de

Império no mundo Ocidental e as sucessivas tentativas de criá-lo. Idealmente, o

objetivo seria a criação de um Império Global, em uma espécie de reedição do

Império Romano. A finalidade da recriação de uma “Roma global”, poderia ser

sintetizado na meta consubstanciada no termo Pax Romana. Esta seria, adaptando-

se ao tempo atual, a Paz Mundial, gerada por meio da criação de um Império que

tudo regularia, como Roma a seu tempo.

Tratando sobre a segunda obra, pode-se dizer que Immanuel Kant (2008), em

À Paz Perpétua, escrita originalmente em 1795, materializa a ideia da paz mundial

por meio de uma sociedade internacional regulada. Neste caso, o filósofo prussiano

advoga pela criação de organismos supranacionais que evitariam a guerra entre os

Estados. Ou seja, o Império global previsto no Jardim das Aflições não viria pela

expansão de uma nação em particular, como Roma em sua época, ou os EUA nos

tempos atuais. Este seria gerado artificialmente, por meio da criação de uma

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burocracia tecnocrata de nível mundial que definiria o que cada nação deveria fazer.

Aparentemente, este modelo kantiano de globalismo é o mais presente nos dias

atuais, tendo em vista as ações presentes da ONU e outras organizações

internacionais neste sentido.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, com o impacto profundo que o morticínio

causou em todo o planeta, as ideias contidas na citada obra de Immanuel Kant

começaram a sair do papel. A Liga das Nações, materialização do organismo

supranacional previsto pelo filósofo prussiano, surge no pós-guerra como meio de se

evitar uma repetição dos horrores da Grande Guerra. Esse modelo falhou,

primeiramente pela ausência dos EUA na Liga (embora a ideia tenha partido do

presidente americano Woodrow Wilson), e, posteriormente, pela conjuntura descrita

por E. H. Carr, em sua obra Vinte Anos de Crise (1939), onde conclui que o

idealismo kantiano estava gerando o resultado contrário ao que se propunha e um

novo conflito estava na iminência de ocorrer. De fato, o mundo entraria em uma

guerra ainda maior alguns meses depois do lançamento da obra, em setembro de

1939: a Segunda Guerra Mundial.

Paralelamente, o capitalismo liberal demonstrava toda sua eficiência como

modelo econômico, pelo menos até 1929. Dentro deste escopo, este sistema gerou,

em seu desenvolvimento, em especial na América, grandes fortunas pertencentes

aos magnatas da indústria e das finanças, com destaque para Rockfeller, Carnegie,

J.P. Morgan, entre outros, e manteve famílias tradicionais, como os Rothschild, na

Inglaterra. Entretanto, paradoxalmente, o sistema liberal que alçou estas famílias à

casa dos bilhões de dólares, a partir deste momento, passa a ser um risco aos

ganhos destes mesmos bilionários. Neste sistema de livre mercado, novos atores e

novas ideias poderiam sobrepujar antigos arranjos, diminuindo o poderio econômico

destes agentes, até então vitoriosos no mundo liberal.

O que se depreende deste paradoxo é bastante óbvio: por mais capacidade

financeira que os magnatas pudessem acumular, esta situação jamais seria

estabilizada sem a posse do poder político e burocrático. Ainda assim, em países

com um sistema de livre mercado, onde os níveis de interferência estatal fossem

reduzidos, não seria suficiente para estes agentes a posse deste poder, pois não

haveria meios para estabilizar seus ganhos políticos em nações com Estados fracos

e não interventores.

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Completa-se, assim, o paradoxo. Os grandes capitalistas transcendem sua

condição, passam apoiar movimentos estatizantes e tornam-se aquilo que Olavo de

Carvalho (2004), em seu magistral artigo História de Quinze Séculos, chama de

metacapitalistas. Ou seja, movimentos como o Comunismo, Socialismo ou qualquer

outro de caráter estatizante, passam a ser apoiados pelas grandes fortunas.

No prosseguimento, a crise de 1929, causada pelo crash na Bolsa de Nova

Iorque, supostamente, expõe as fraquezas do sistema liberal. Medidas estatizantes

alcançam até mesmo os EUA. Utilizando-se das ideias de Jonh Maynard Keynes, o

presidente americano Franklin Delano Roosevelt cria o New Deal, quando o Estado

americano passa a intervir fortemente no mercado, a fim de resolver os problemas

causados pela crise. Em última análise, tendo sido causada deliberadamente ou

não, a crise de 1929 depurou o mercado, sobrevivendo apenas aqueles com maior

condição financeira, que, agora, passavam a ser uma espécie de sócios

preferenciais dos governos, estabilizando sua situação sob o guarda-chuva de um

Estado cada vez mais poderoso.

Neste sentido, um estudo sobre a economia fascista a aproxima bastante do

que foi o New Deal. Tanto na Itália de Mussolini, quanto na Alemanha de Hitler, o

cálculo econômico ainda era baseado no mercado, entretanto, este era controlado

pelo Estado destes dois países por meio de empresas preferenciais. IG Farben e

Bayer na Alemanha são exemplos claros deste modelo, e a economia chinesa da

atualidade não foge muito destes padrões. As ligações da IG Farben com a

Standard Oil4 , da família Rockfeller, sugerem o movimento de apoio de uma grande

fortuna a um modelo político-econômico de Estado forte, assim como não é difícil

identificar movimentos de famílias influentes, como os Clinton, na ascensão da

China, cujo modelo, bastante semelhante ao fascista, é a síntese do desejado pela

Elite Financeira Ocidental5. As ligações de George Soros, grande magnata do

4 VIDFILE STORE. Support by the Corporations from UK and US for the Nazis Until 1945. Youtube, 2018. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=oNUED8goXrs>. Acesso em 25 de junho de 2019. 5 CARVALHO, Olavo de. O Brasil perante os conflitos da Nova Ordem Mundial (Palestra OAB/SP em 06 de agosto de 2004). Youtube, 2011. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DNGkOCi9Zi8&t=265s>. Acesso em 25 de junho de 2019.

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mercado financeiro, com movimentos neonazistas da Ucrânia6 também sinalizam

esse movimento em direção do apoio a ideologias de Estado forte e centralizador.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, cujos horrores e morticínio foram

ainda maiores do que o da Primeira Guerra Mundial, a ideia da criação de um

organismo supranacional de modelo kantiano reaparece. Diferentemente de sua

antecessora, a Organização das Nações Unidas (ONU) atinge sucesso em sua

criação e desenvolvimento, com a adesão maciça dos países do mundo. Estava

criada e estabilizada uma instância com potencial para se tornar uma burocracia de

alcance global.

Aqui tem-se, então, a simbiose perfeita da ideia Imperial no mundo Ocidental:

grandes capitalistas bilionários desejam ter o controle sobre o processo político-

social, a fim de se tornarem um poder dinástico durável por diversas gerações. Após

duas guerras mundiais uma instância supranacional foi criada, com potencial para

ser uma burocracia global. Não é difícil ligar os pontos. A maneira evidente de

controlar o processo político-social, em um mundo globalizado pelo mercado, é

apossar-se desta organização e instrumentalizá-la para que se torne uma instância

de governança global.

Entretanto, há dois óbices neste caminho. O primeiro é que o liberalismo não

atua, no Ocidente em especial, apenas no campo econômico. Ideias liberais no

campo político, muito restritas à arranjos locais e nacionais, como a democracia

representativa, a liberdade de expressão e de religião, e a própria aceitação das

diferenças culturais, são empecilhos para o poder global. Neste sentido, a Nação

norte-americana, não seu establishment, mas a Nação gerada nos ideais dos

Founding Fathers, são, com efeito, o maior “inimigo interno” do globalismo ocidental.

Na visão de Alexis de Tocqueville, em sua obra Da Democracia na América, escrita

em 1835, os EUA seriam uma das grandes nações do mundo pois eram os únicos a

sintetizar os aspectos do liberalismo econômico e político, em particular o fervor da

participação democrática e o livre mercado, com a moral judaico-cristã. Estes pilares

são diametralmente opostos à ideologia globalista e estão sendo combatidos

diariamente pelo estamento burocrático global, de maneira bastante clara.

6 ENGDAHL, F.William. George Soros: An American Oligarch's Dirty Tale Of Corruption. Signs Of The Times (website), 2015. Disponível em: <https://www.sott.net/article/297928-George-Soros-An-American-oligarchs-dirty-tale-of-corruption>. Acesso em 25 de junho de 2019.

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O segundo é que o ideal de dominação global não é exclusividade do mundo

Ocidental. Dois outros movimentos paralelos tinham, e ainda têm, em seus escopos,

planos de dominação global. São eles o Comunismo e o Islamismo. Porém, como

será visto mais a frente, estes dois movimentos não tem a envergadura do

Globalismo ocidental e acabam sendo instrumentalizados por ele em alguns

aspectos.

Sobre o Globalismo islâmico, ele é identificável na base mesma da doutrina do

Profeta Maomé. O sentido globalista da religião e da ideologia política do islã,

aspectos que acabam se fundindo, em última análise, é bem descrito por Kissinger

(2015), na obra Ordem Mundial. Os islâmicos, basicamente, dividem o mundo em

dar al-Islam, a “Casa do Islã” ou o domínio da paz, governado por um Califado; e o

dar al-harb, o domínio da guerra, não islâmico. A missão do islã seria incorporar

essas regiões ao seu mundo, a fim de alcançar a paz universal. Não difere muito

daquilo que já foi descrito como a busca da Pax Romana. A estratégia para alcançar

este estado de coisas é a Jihad, dever obrigatório de todo islâmico no sentido de

expandir sua fé por todo o mundo, por qualquer meio.

O Comunismo sintetiza sua vocação global na derradeira frase do Manifesto

Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels (1848): “Trabalhadores do mundo: uni-

vos”. A obra apresenta a ideia da luta de classes como motor da história,

independentemente do sentido nacional, prevendo que o mundo caminhava,

irremediavelmente, para a dialética final entre os proletários e a burguesia, cujo

desfecho seria a implantação do Comunismo em todo mundo e, de novo, da paz

mundial. Iniciativas para a materialização deste intento foram iniciadas com a

participação do próprio Karl Marx e Engels, na criação da Primeira Internacional

(1864). Nascia, desta forma, um Movimento Comunista Internacional (MCI), que

ainda teria uma Segunda Internacional em 1889. Entretanto, o sucesso da

implantação deste novo sistema ocorre somente quase 70 anos depois do

Manifesto, na Rússia, em 1917.

Neste sentido, em 1919, já com a estrutura de um país de dimensões

continentais sob seu controle, o Movimento Comunista Internacional cria a Terceira

Internacional, a Internacional Comunista ou Comintern, com alcance global. Por

meio deste órgão central, combinado com a atuação dos serviços secretos da

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própria URSS (KGB) ou de países satélites, como a StB, na Checoslováquia7,

difundiram ideias e técnicas de tomada do poder em todo o mundo. O Comintern

encontrou no Ocidente um conjunto de nações receptivas à subversão, infiltrando

vários aparatos importantes como a mídia, universidades, Forças Armadas, entre

outros8.

No entanto, a revolução proletária, prevista por Karl Marx, jamais aconteceu,

nem mesmo na Rússia, e demorava-se cada vez mais nos países capitalistas,

mesmo com todo o aparato subversivo. Assim, a concepção revolucionária original

marxista começou a ser alvo de críticas, em especial devido ao fato dos proletários,

nas duas Guerras Mundiais, terem preferido suas lealdades nacionais em vez da

lealdade de classe, e pelo fato do sistema capitalista estar elevando o padrão de

vida destes mesmos proletários, os quais, embora ainda explorados, perderam seu

“ardor” revolucionário.

Surgem, desta constatação, os estudos da chamada Escola de Frankfurt e as

análises do então prisioneiro do governo fascista da Itália, Antonio Gramsci. Em

ambos os casos, de maneira resumida, a conclusão sobre o motivo pelo qual a

revolução prevista por Marx não ter acontecido eram os aspectos culturais

incorporados pela sociedade burguesa, que funcionavam como uma espécie de

“amortecedor” da luta de classes. Neste sentido, o foco do movimento não deveria

ser mais a classe proletária diretamente, mas sim o recrutamento de intelectuais na

direção da criação de um novo senso comum, a chamada Revolução Cultural, que

prepararia o campo para o advento da sociedade comunista.

Porém, com a denúncia dos crimes de Stalin em 1956, no XX Congresso do

Partido Comunista da União Soviética, e com a queda da URSS em 1991,

decretando a derrota do sistema comunista na Guerra Fria, esta ideologia parecia

estar com os dias contados. A própria Rússia encontra outra sistema de ideias,

ainda que preservando algumas instituições e estratégias da antiga URSS, com

base nas ideias de Alexander Dugin: o Eurasianismo.

Mas o comunismo sobrevive. Após a queda do URSS, observou-se um

fenômeno bastante inesperado para um país supostamente comunista. Praticamente

7 KRAENSKI, Mauro; PETRILÁK, Vladimir. 1964. O Elo Perdido. O Brasil nos Arquivos do Serviço Secreto Comunista. Campinas. Vide Editorial, 2017

8 BEZMENOV, Yuri. A Subversão nos Países alvo da Extinta URSS (Los Angeles, 1983). Youtube, 2013. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=xgJD4YJ2TOc&t=505s>. Acesso em 29 de junho de 2019.

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no dia seguinte à queda da União Soviética, surgiram bilionários russos9.

Teoricamente, em um país cujo capitalismo e o mercado não existiam, isso seria

impossível. O fato é que, como já comprovou Ludwig Von Mises (2016), é impossível

cálculo econômico sem cálculo de preços e é impossível o cálculo de preços fora de

uma economia de mercado. Em síntese, a economia comunista era intrinsecamente

impossível e mesmo na URSS, ainda que clandestinamente, o capitalismo existia.

No dia seguinte à queda do gigante comunista ele apenas apareceu para o mundo.

Este fato se apresentou para a elite globalista ocidental como uma

oportunidade. O comunismo não vai acontecer, mas sua estratégia no campo

cultural tem grande potencial. Além disso, ao final, caso um sistema comunista,

socialista, progressista, ou qualquer nome que se dê para o controle totalitário

estatal prospere, os grandes capitalistas não perdem suas fortunas. Ao contrário,

apoiam-se no poder estatal para mantê-las. Na verdade, o grande inimigo do

globalismo ocidental não era o Comunismo e o Islamismo – este último com ainda

menor capacidade de ação – mas sim o liberalismo e a cultura Ocidental,

materializada por dois polos, Europa e EUA, com destaque para este último.

Pois assim, em última análise, o que se apresenta no mundo hoje é a

instrumentalização da Jihad islâmica e da Revolução Cultural Comunista por

parte dos globalistas ocidentais. A primeira serve de estratégia para subjugar

culturalmente a Europa e a segunda para apossar-se do poderio Norte-americano.

Em particular, a primeira não tem ação efetiva no Brasil, mas a segunda possui

ações claras no país. Portanto, a ameaça considerada é a Guerra Cultural

empreendida pelos globalistas ocidentais utilizando-se das estratégias

culturais. É a partir deste momento que o Globalismo passa a mostrar seu caráter

revolucionário citado por Olavo de Carvalho, já pontuado anteriormente neste

trabalho.

Após as definições e o breve histórico do Globalismo até os dias atuais, resta

evidente que a ação desta ideologia política é uma ameaça às soberanias nacionais,

e o Brasil não foge à regra. Porém, a ameaça à soberania é de teor mais profundo

que aquelas clássicas discutidas em instâncias militares, como violação do território,

espaço aéreo, entre outras. O aspecto cultural presente na estratégia do Globalismo

9 FONTENELLE, Ênio. Globalismo & Brasil. Youtube, 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DkpcAKyO7lY&t=1040s>. Acesso em 29 de junho de 2019.

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coloca-o em posição de ataque a algo maior que a simples soberania, o coloca em

choque direto com aquilo que se define como Pátria.

Estado, país, nação, soberania e Pátria, embora conceitos afins, possuem

diferenças fundamentais. Certamente, de todos estes conceitos, aquele que mais

profundamente segue na direção da identidade nacional é o conceito de Pátria.

Diferente do Estado, cujo conceito tende às características político-administrativas;

país, que evoca a localização territorial; nação, que engloba as similitudes no campo

humano; e soberania, que significa liberdade de tomar decisões sem pressões

exteriores, a Pátria engloba todos estes aspectos adicionando os fatores históricos

que, em última análise, são os geradores dos valores nacionais e de sua cultura.

Pátria vem do mandamento bíblico “honrar pai e mãe”, é a materialização dos

grandes feitos em comum, por todos os brasileiros, de todas as épocas. É o

“acidente capital” a defender.

Não é por acaso que a palavra aparece apenas uma vez na Constituição

Federal do Brasil de 1988, justamente no Artigo 142, que trata da missão

constitucional das Forças Armadas:

IArt. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.(grifos nossos) (BRASIL, 1988)

Desta forma, fica claro o antagonismo entre a missão constitucional das

Forças Armadas e a ideologia globalista, que, em sua estratégia de dominação

global, pretende defrontar-se com a ideia de Pátria e de Estado-Nação. No trabalho,

entretanto, o foco da análise será o papel da Força Singular Exército Brasileiro,

identificando as ameaças e as ações que pode tomar contra esse antagonista.

1.1 PROBLEMA

Os movimentos globalistas identificaram nos Estados Nacionais os maiores

obstáculos à consecução dos seus objetivos de poder. Desta forma, atacam as

culturas e os valores dos países a fim de vencer sua resistência e criar um mundo

mais homogêneo.

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O Exército Brasileiro, por ser integrante das Forças Armadas, tem como

missão constitucional defender a Pátria, a qual se sintetiza, principalmente, nos

valores histórico-culturais.

O presente trabalho de conclusão de curso será desenvolvido em torno

do seguinte problema: de que forma o Exército Brasileiro pode contribuir na

Defesa Nacional, no tocante à ameaça globalista?

1.2 OBJETIVOS

Como forma de ajudar a elucidar o problema proposto, seguem abaixo os

seguintes objetivos do trabalho.

1.2.1 Objetivo geral

Estabelecer de que forma o movimento globalista ameaça a integridade

nacional e a defesa da Pátria e o papel do Exército Brasileiro a face a este

movimento.

1.2.2 Objetivos específicos

a) caracterizar o globalismo;

b) apresentar o histórico do globalismo;

c) apresentar os principais movimentos globalistas;

d) apresentar a noção de metacapitalismo e suas consequências para o

globalismo;

e) apresentar as estratégias globalistas

f) apresentar o papel da ONU e das diversas Organizações

Intergovernamentais e não-governamentais no processo globalista.

g) apresentar a missão constitucional do Exército Brasileiro.

h) apresentar o papel do Exército frente ao globalismo.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

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O presente trabalho estará limitado ao estudo dos principais movimentos

globalistas da atualidade, com foco no Globalismo Ocidental, seus objetivos,

estratégias, seus impactos e a geração de responsabilidades para o Exército

Brasileiro, baseado nas missões constitucionais das Forças Armadas, das quais faz

parte.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O Globalismo é um assunto envolto de mistérios e teorias conspiratórias

mas que tem entrado na pauta de discussões pelas evidências que confirmam

sua existência as quais vêm se apresentando, em particular, após o fim da

Guerra Fria. Em última análise, este movimento, ou o combate contra ele, foi o

pano de fundo decisivo das eleições americanas e teve grande impacto no

sufrágio brasileiro, mesmo que as pessoas não estejam familiarizadas com a

fonte de seu poder, mas apenas com seus reflexos e consequências.

Alguns discursos de autoridades de nível nacional e mundial materializam

a relevância e atualidade deste estudo. O primeiro é um discurso do atual

presidente dos Estados Unidos da América, Donald J. Trump, em 2015, ainda

em campanha presidencial:

O nosso movimento é sobre buscar substituir um establishment político fracassado e corrupto por um novo governo controlado por vocês: o povo americano. O establishment em Washington e as corporações financeiras e de mídia que o financiam, existem com apenas um objetivo: proteger e enriquecer a si mesmo. O establishment possui trilhões de dólares em risco nesta eleição. Aqueles que controlam o poder em Washington e os grupos globais de interesses especiais eles se unem com pessoas que não estão preocupadas com seu bem-estar. A nossa campanha representa uma verdadeira ameaça existencial, como eles nunca viram. Esta não é apenas uma eleição para quatro anos: é uma encruzilhada na história da nossa civilização para determinar se nós, o povo, iremos ou não retomar o controle do governo. O establishment político que tenta nos parar, é o mesmo que foi responsável pelos nossos acordos econômicos desastrosos, pela imigração ilegal em massa, e pelas políticas externa e econômica que sugaram o sangue do nosso país. O establishment político trouxe a destruição das nossas fábricas, nossos empregos, que vão para a China e outros países, em todo o mundo. Há uma estrutura global de poder que está tomando todas as decisões econômicas que saquearam a nossa classe trabalhadora, acabaram com as riquezas do nosso país e colocaram dinheiro nos bolsos de algumas corporações e entidades políticas. Esta é uma luta pela sobrevivência da nossa nação. Esta será a nossa última chance de salvá-la. Essa eleição irá determinar se somos uma nação livre ou se temos apenas a ilusão de uma democracia e somos controlados por um punhado de

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lobbystas globais manipulando o sistema. E ele é manipulado. Esta é a realidade. Vocês sabem. Eles sabem. Eu sei. Todo mundo sabe.10 (grifos nossos).

Embora não seja veiculado na mídia nacional, este discurso descreve o ponto

nevrálgico da eleição americana. Não foi por acaso que os analistas mainstream

erraram tão miseravelmente nas análises sobre a corrida presidencial nos Estados

Unidos. Desconsiderada a existência do globalismo, por interesse de ocultá-lo ou

por ignorância sobre a sua existência, não se teve acesso à chave explicativa que

geraria a prospecção correta do processo eleitoral. Assim, revela-se a relevância

fundamental desse assunto para orientação política no mundo atual.

Outro discurso que demonstra a importância e atualidade do assunto

globalismo é o discurso de posse do Ministro das Relações Exteriores do Brasil,

Ernesto Araújo, do qual extraímos os seguintes trechos de interesse para este

trabalho:

Diz o lema do Barão: Ubique Patriae Memor. Normalmente se traduz como “em todos os lugares, lembrar-se da pátria.” Aqui, os senhores me perdoarão a um professor de latim frustrado, que nunca fui, antes de querer ser diplomata, para dizer que está errada essa tradução. Memor é uma primeira pessoa. Então, na verdade é: “em todos os lugares, eu me lembro da pátria.” É um compromisso de vida pessoal que cada um de nós assume, e não uma simples anotação na agenda. Onde quer que seja, eu me lembro da pátria. E “eu me lembro da pátria” aqui não significa simplesmente que, quando estamos no exterior, devemos pensar no Brasil. Significa, se nós pensarmos no conceito de Aletheia: eu sinto essa verdade profunda que é a pátria, eu sinto o que é ter uma pátria e lembrar-se da pátria, portanto, como uma verdade central, essa verdade que liberta e que só se pode conhecer pelo amor. Lembrar-se da pátria. Não é lembrar-se da ordem liberal internacional, não é lembrar-se da ordem global, não é lembrar-se do que diz o último artigo da Foreign Affairs ou a última matéria do New York Times. É lembrar-se da pátria como uma realidade essencial. Não estamos aqui para trabalhar pela ordem global. Aqui é o Brasil. Não tenham medo de ser Brasil. Não tenham medo. [...] Vamos fazer alguma coisa pelas nossas vidas e pelo nosso país. Mergulhemos no oceano de sentimento e na esperança do nosso povo. Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a ordem global. O Itamaraty existe para o Brasil, não existe para a ordem global. [...] Nós buscaremos as parcerias e as alianças que nos permitam chegar aonde queremos, não pediremos permissão à ordem global, o que quer que ela seja. Defenderemos a liberdade e a vida. Defenderemos o direito de cada povo de ser o que é, com liberdade e dignidade, com a dignidade que unicamente a liberdade proporciona. Quem ama, luta pelo que ama. Então nós admiramos quem luta, admiramos aqueles que lutam pela sua pátria e aqueles que se amam como povo, por isso admiramos por exemplo Israel, que nunca deixou de ser uma nação, mesmo quando não tinha solo – em contraste com algumas nações de hoje, que mesmo tendo seu solo, suas igrejas e seus castelos já

10 Discurso legendado disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=WeEmqOHV0L0>. Acesso em 25 de março de 2019.

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não querem ser nação. Por isso admiramos os Estados Unidos da América, aqueles que hasteiam sua bandeira e cultuam seus heróis. Admiramos os países latino-americanos que se libertaram dos regimes do Foro de São Paulo. Admiramos nossos irmãos do outro lado do Atlântico que estão construindo uma África pujante e livre. Admiramos os que lutam contra a tirania na Venezuela e em outros lugares. Por isso admiramos a nova Itália, por isso admiramos a Hungria e a Polônia, admiramos aqueles que se afirmam e não aqueles que se negam. O problema do mundo não é a xenofobia, mas a oikofobia – de oikos, oikía, o lar. Oikofobia é odiar o próprio lar, o próprio povo, repudiar o próprio passado. [...] Para destruir a humanidade é preciso acabar com as nações e afastar o homem de Deus, e é isso que estão tentando, e é contra isso que nos insurgimos. O globalismo se constitui no ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento humano. Nação, natureza e nascimento, todos provém da mesma raiz etimológica e isso se dá porque possuem entre si uma conexão profunda. Aqueles que dizem que não existem homens e mulheres são os mesmos que pregam que os países não têm direito a guardar suas fronteiras, são os mesmos que propalam que um feto humano é um amontoado de células descartável, são os mesmos que dizem que a espécie humana é uma doença e que deveria desaparecer para salvar o planeta. Por isso a luta pela nação é a mesma luta pela família e a mesma luta pela vida, a mesma luta pela humanidade em sua dignidade infinita de criatura. [...] Quando eu era criança, ouvia, e adolescente também, ouvia muita gente dizendo: “O mundo caminha inexoravelmente para o socialismo”. Mas não caminhou. Não caminhou porque alguém foi lá e não deixou. Hoje escutamos que a marcha do globalismo é irreversível. Mas não é irreversível. Nós vamos lutar para reverter o globalismo e empurrá-lo de volta ao seu ponto de partida. [...] Não deixem o globalismo matar a sua alma em nome da competitividade. Não acreditem no que o globalismo diz quando diz que para ter eficiência econômica é preciso sufocar o coração da pátria e não amar a pátria. Não escutem o globalismo quando ele diz que paz significa não lutar11.(Grifos nossos)

Esse discurso do Ministro Ernesto Araújo materializa não só a

importância do estudo do Globalismo, mas suas relações com a Pátria e a luta

pela sua sobrevivência, substância mesma deste trabalho, acrescido dos

impactos para o Exército, que, constitucionalmente, tem esse dever de

defendê-la. Além disso, as citações de outros países que estariam nesta luta

contra o Globalismo, demonstram que o assunto está acima da Geopolítica. Os

esforços geopolíticos atuais serão reflexos deste antagonismo entre os

11 Discurso do ministro Ernesto Araújo durante cerimônia de Posse no Ministério das Relações Exteriores – Brasília, 2 de janeiro de 2019. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/ministro-das-relacoes-exteriores-discursos/19907-discurso-do-ministro-ernesto-araujo-durante-cerimonia-de-posse-no-ministerio-das-relacoes-exteriores-brasilia-2-de-janeiro-de-2019> . Acesso em 25 de março de 2019.

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globalistas e os soberanistas. Neste sentido, além do impacto para as políticas

internas do Brasil, a análise deste assunto pode orientar a prospecção das

alianças que o Brasil poderá ser integrante, ou ao menos das relações

bilaterais preferenciais que irá praticar. Pode-se observar que a aproximação

do Brasil com os Estados Unidos e com Israel, demonstrada claramente desde

a posse do presidente Jair Bolsonaro, encaixa-se perfeitamente neste escopo

descrito pelo Ministro das Relações Exteriores. A criação do Prosul,

recentemente anunciada, pode ser considerada um reflexo dessa dicotomia,

quando enquadrada como uma reação ao Foro de São Paulo, organização de

características globalistas. Uma aproximação com o Reino Unido (embora não

citado no discurso) devido ao Brexit, movimento claramente anti-globalista, com

Hungria, Polônia e com a Itália, podem ser previstas em breve, também fruto

dessa disputa contra os ideólogos e praticantes do Poder Mundial. Os reflexos

para assessoramentos no sentido de Defesa Nacional, a partir de uma

perspectiva da política externa com este olhar, são evidentes.

Em síntese, é bastante provável que o assunto a ser estudado neste

trabalho seja um dos mais importantes fenômenos políticos da atualidade. Os

fatos geopolíticos, psicossociais, culturais e econômicos, que podem parecer

difusos para um observador que ignora o globalismo, sintetizam-se na luta, que

vem de séculos, de uma aristocracia que deseja um poder mundial e que, com

o avanço dos meios tecnológicos e psicológicos, pode finalmente transformar

a ideologia em realidade. Analisar o fenômeno e descrever meios de fazer face

a ele é, portanto, uma atividade de extrema relevância e urgência

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O GLOBALISMO

O Globalismo é um movimento difuso, conforme já foi descrito na introdução

deste trabalho. Existem várias definições e nomenclaturas, conforme já foi

apresentado. Uma explicação que sintetiza e abarca as já citadas e que apresenta,

de forma resumida, as suas origens imediatas, e que servirá de boa orientação para

o transcurso deste trabalho, é este trecho da entrevista de Filipe G. Martins ao

InfoMoney, em 03 de dezembro de 2018:

Globalismo [...] seria uma ideologia […] que acredita que todos os problemas que nós temos hoje no mundo são melhor abordados, melhor atacados, se feitos desde uma perspectiva global, ou seja, não nas instâncias decisórias nacionais, mas nas instâncias decisórias supranacionais. E como que isto se dá? Esta ideologia, embora seja anterior a isto, nós temos figuras como Kant12 que já falava de algum modo em ideias que poderiam ser classificadas como globalistas, mas essas ideias ganham força, sobretudo, após a Primeira Guerra Mundial (…) nós temos um saldo até então não conhecido de mortes, de fome, de miséria e aquilo causa, evidentemente, um impacto muito grande em estudiosos, em empresários e uma série de pessoas que tomam nas suas mãos a missão de buscar de algum modo uma paz. E é aí, o diagnostico que eles fazem era, basicamente, de que o problema todo da guerra tinha relação com os nacionalismos, com as nações, com as soberanias e acreditavam que nós havíamos chegado num momento que se justificava a criação de organismos internacionais para tomar o destino das nações, das relações internacionais, nas suas próprias mãos. A gente tem, dentre as coisas mais conhecidas, que influenciam de algum modo, ainda que resguardando um pouco a soberania, os 14 pontos do Woodrow Wilson, então presidente americano que propunha, dentre outras coisas a criação da Liga das Nações, já com essa perspectiva de buscar, dentro de algo que remetia muito a Kant, a paz e a prosperidade por meio da distribuição de democracias […] o objetivo declarado era basicamente esse, nós queremos a paz e para obter a paz, era diagnostico deles, nós precisamos diluir a força das nações, por que as nações se chocam, as nações entram em guerra, as nações levam aos conflitos e isto não é bom porque agora a guerra tomou uma proporção muito grande. Então, eu diria que do ponto de vista teórico-conceitual a gente tem que classificar o globalismo mesmo como uma ideologia, como um projeto de poder. [...] Interessante notar nisso aí, é que, como eu disse, o objetivo declarado deles é alcançar a paz, alcançar a prosperidade, mas segundo alguns críticos já de primeira hora, como E. H. Carro e o próprio Churchill eles não conseguiram isso, não só não conseguiram isso como causaram uma guerra ainda maior, ainda maior do que a Primeira Guerra Mundial, que foi a Segunda Guerra Mundial. O saldo de mortes maior, fome maior,

12 Filipe G. Martins refere-se à já citada obra À Paz Perpétua, de Immanuel Kant, que no ano de 1795 já advogava pela criação de organismos supra-nacionais para enfrentar o problema da guerra e alcançar a paz.

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problemas econômicos também, [...] Grande Depressão e tudo mais, não diretamente relacionado com isso, mas também maior que havia na Primeira Guerra Mundial. Então se mostrou bastante ineficaz. A partir desse momento que que eles começaram a dizer: então não basta a ideia da paz, não basta a ideia da prosperidade, nós precisamos identificar um grupo de problemas globais para que esses problemas globais justifiquem também uma ação global. Então eles falam num processo de spillover, de esparramamento […] Você tem ali, sempre, na base, uma coisa de natureza política, eu diria filosófica até, e também um projeto de poder, então não se restringe a economia, como muitas vezes algumas pessoas parecem pensar. Naquele momento eles começam com esses estudos e dão ali esta justificativa, então se tem esse processo de spillover, significa basicamente que os problemas começam a se esparramar para além das fronteiras e uma vez que os problemas estão para além das fronteiras, o argumento deles é que as nações já não dão mais conta de resolver esses problemas por conta própria, sozinhas, então precisaria de instâncias superiores, em primeiro momento com cooperação dos estados para lidar com os problemas. Cooperação com os estados: legal, não tem nenhum problema, soberania preservada. Mas a tendência que a gente assistiu desde a década de 40, década de 50, foi cada vez consolidar estas organizações em torno de uma burocracia permanente[...]vinda de fora, muito pouco transparente, não sujeita a nenhum tipo de controle democrático, ou seja, nós não votamos para colocar essas pessoas lá, são pessoas indicadas e como não há transparência, eu não sei quais são essas pessoas, não tenho o mapeamento completo delas […] há algo muito parecido no que acontece num sistema de poder interno, algumas poucas pessoas tem acesso a elas, seriam ali, digamos, que os lobbystas com alcance global, pessoas que tem capacidade de influenciar, de formar o pensamento dessas pessoas e é basicamente, que acostuma acontecer, via, sobretudo, as grandes fundações internacionais. O caso mais notório seria a Open Society do George Soros, que tem todo um aparato pronto para dialogar com essas pessoas, dar a elas subsídios do que pensar, do que defender, do que dizer, de qual mensagem adotar, e que a longo prazo acabam influenciando essas pessoas. Então qual situação que nós temos? Nós temos, basicamente, uma tentativa de transferência de poder das instâncias representativas das democracias liberais, dentro do pais, dentro de uma nação, com representantes eleitos, representantes colocados lá pela vontade popular, bem ou mal, e que tem um nível maior de transparência, que podem ser afetados em alguma medida pela população, para instâncias supranacionais ou transnacionais com poder decisório, mas que não são transparentes, não são passíveis de nenhum tipo de controle democrático e também são inacessíveis ao cidadão comum13. (Grifos nossos)

O mesmo Filipe G. Martins arrisca um conceito mais abrangente do

Globalismo, no Seminário Globalismo, promovido pelo Ministério das Relações

Exteriores, em sua palestra Globalismo: teoria da conspiração ou fenômeno político

observável?, onde expõe:

13 Entrevista de Filipe Martins à InfoMoney – Globalismo, ONU e mudança climática, feita em 03/12/2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IH8LP1dawK4>. Acesso em 26 de março de 2019.

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Globalismo é a tentativa de instrumentalização político-ideológica da globalização, com a finalidade de promover uma transferência do eixo do poder decisório das nações para um corpo difuso de burocratas cosmopolitas e apátridas que responde não às comunidades nacionais de eleitores, mas a um restrito conjunto de agentes de influência com acesso privilegiado a esses burocratas, o que, no limite, significa a substituição das democracias liberais representativas por um regime tecnocrático e pouco transparente no qual o poder decisório está concentrado nas mãos de alguns poucos privilegiados.(grifos nossos)14

2.2 OS MOVIMENTOS GLOBALISTAS E SEUS OBJETIVOS

Serão abordadas, neste trabalho, duas visões sobre o Globalismo ou Nova

Ordem Mundial, em alguns pontos antagônicas, em alguns pontos convergentes, de

Alexandre Dugin15 e Olavo de Carvalho, retiradas de um debate entre os dois, que

foi transformado no livro Os Estados Unidos e a Nova Ordem Mundial – Um debate

entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho16, debate este ocorrido no ano de 2011.

Existem outras abordagens diversas, mas a extensão do assunto Globalismo exige

que se decida por alguma linha de pensamento. A ameaça principal a ser

considerada, para o caso do Brasil, é o chamado Globalismo Ocidental, ponto

de convergência entre os dois contendores.

DUGIN (2012) apresenta a Nova Ordem Mundial a partir de um ponto de vista

Norte-Americano e a partir de um ponto de vista não americano. Sobre o ponto de

vista Norte-Americano apresenta três vias distintas:

1) Criar um Império Americano stricto sensu, com a consolidação técnica e social de uma área central desenvolvida (Cerne Imperial), ao passo que os espaços externos permaneceriam divididos e fragmentados em estado de permanente perturbação (próximo ao caos); parece que os neocons são a favor de tal padrão. 2) Criar uma unipolaridade multilateral em que os Estados Unidos cooperariam com os poderes amistosos na resolução de problemas regionais (Canadá, Europa, Austrália, Japão, Israel e possivelmente outros países) e fariam pressão nos “países canalhas” (Irã, Venezuela, Bielorússia, Coreia do Norte) ou também em países hesitantes que estão lutando para assegurar sua independência regional (China, Rússia, etc). Os democratas e Obama parecem inclinados a agirem assim.

14 MARTINS, Filipe G. Globalismo: Teoria da Conspiração ou Fenômeno Político Observável? In: Seminário Globalismo, Ministério das Relações Exteriores, Youtube, 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OlywuFI5V4k&t=50s>. Acesso em 26 de junho de 2019. 15 Alexandre Dugin é um cientista político russo, teórico da escola contemporânea de geopolítica russa Neo-Eurasiana, ideólogo e líder do Movimento Eurasiano e autor do livro A Quarta Teoria Política. 16 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit.

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3) Promover a globalização acelerada com a criação do Governo Mundial e uma rápida destituição da soberania dos Estados Nacionais em função da criação dos Estados Unidos do Mundo que seria governado pela elite global em termos legais. Esse é o projeto do Conselho de Relações Internacionais (CFR) representado pela estratégia de George Soros e suas fundações. Apesar da diferença evidente entre essas três imagens de futuro há alguns pontos essenciais em comum: em qualquer dos casos os Estados Unidos têm interesse em afirmar sua dominação estratégica e política; há um reforço do seu controle e enfraquecimento dos outros atores globais; há uma gradual ou acelerada destituição da soberania dos Estados atualmente mais ou menos independentes; há uma promoção de valores “universais” que refletem os valores do mundo ocidental: democracia liberal, parlamentarismo, livre mercado, direitos humanos, etc No mundo contemporâneo, portanto, nos encontramos num campo geopolítico permanente e forte, em cujo cerne se situa os Estados Unidos e cujos raios de influência – seja estratégica, econômica, política, tecnológica, da informação, etc. - permeiam todo o resto do mundo, dependendo da vontade de aceitá-los, nos diferentes países ou atmosferas étnicas ou religiosas. Forma-se uma espécie de “rede imperial global” operando em escala planetária17. (Grifos nossos)

Sinteticamente, para Alexandre Dugin, os Estados Unidos da América têm um

projeto de dominação do mundo, mantendo-se como nação soberana, enquanto as

outras ou estariam no caos, ou estariam, de alguma forma, subordinadas.

Entretanto, podemos observar que, na terceira linha de ação, sobre a criação de um

Governo Mundial, o autor russo cita uma elite global cujo o centro de poder não

necessariamente é o Estado ou a política interna americana, mas o Conselho de

Relações Internacionais (em inglês Council Of Foreign Relations). Ou seja, neste

caso, a própria soberania nacional norte-americana seria um empecilho para a

consecução dos objetivos, algo não esclarecido ou não revelado por Dugin, não se

sabe se por desatenção ou por motivos político-ideológicos.

Ele prossegue, desta vez apresentando a Ordem Mundial de um ponto de

vista não americano, que seria apenas uma defesa contra o Imperialismo dos EUA,

dividindo-os em duas categorias. Sobre a primeira categoria, de estados que não se

contentariam em entregar sua soberania a uma autoridade supranacional exterior:

O desejo de conservação da soberania representa a contradição natural e o ponto de resistência diante das tendências pró-americanas ou globalistas. Esses países dificilmente têm uma visão alternativa da futura Ordem Mundial; o que eles querem é preservar, sob a forma atual, o seu status quo de Estados nacionais e fazer ajustes ou se modernizarem se necessário. Entre os membros desse grupo de Estados Nacionais há quatro tipos de atores: 1) Aqueles que tentam adaptar suas sociedades aos padrões ocidentais e manter relações amigáveis com o ocidente e com os EUA, mas no sentido

17 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 32-35.

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de evitar a perda direta de soberania: Índia, Turquia, Brasil e, até certo ponto, a Rússia e o Cazaquistão. 2) Aqueles que estão dispostos à cooperar com os Estados Unidos sob a condição de não interferência em seus assuntos internos: Arábia Saudita, Paquistão, etc. 3) Aqueles que, ainda que cooperando com os EUA, observam estritamente as particularidades de suas sociedades, realizando um filtro permanente do que é e do que não é compatível, na cultura ocidental, com sua própria cultura, ao mesmo tempo em que tentam usar os dividendos recebidos nessa cooperação para fortalecer a independência nacional, como a China; 4) E há aqueles que tentam oferecer oposição direta aos Estados Unidos, rejeitando valores ocidentais, a unipolaridade e a hegemonia Americana: Irã, Venezuela e Coreia do Norte18. (grifos nossos)

A segunda categoria seriam “grupos subnacionais, movimentos e

organizações que se opõem, como estruturas do campo geopolítico, ao

americanismo por razões ideológicas, religiosas e/ou culturais”. Lista então três

projetos ou ideias:

1) A mais famosa ideia é a do mundo islâmico, que representa a utopia do Estado Mundial Islâmico (Califado Mundial). Esse projeto é oposto tanto à arquitetura americana como à dos Estados nacionais modernos. Bin Laden é o símbolo dessa tendência de ideias e a queda das torres gêmeas do World Trade Center, no 11 de setembro, é a prova da importância e da seriedade dessa rede. 2) Um outro projeto poderia ser definido como o plano neo-socialista representado pela esquerda sul-americana e, pessoalmente, por Hugo Chavéz. Esse projeto é, grosso modo, uma nova edição da crítica marxista ao capitalismo fortalecida pelo sentimento nacionalista ou, em alguns casos, étnico (zapatistas, Bolívia). Alguns regimes árabes poderiam ser considerados da mesma linha (como a Líbia de Kaddhafi, até recentemente). A Ordem Mundial Vindoura, nesse caso, é apresentada como a revolução socialista global precedida por campanhas anti-americanas em cada país. Esse grupo identifica a Transição como a encarnação do imperialismo clássico criticado por Lênin19. 3) O terceiro exemplo pode ser encontrado no projeto Eurasiano, também, conhecido como projeto multipolar ou dos “Grandes Espaços”, que propõe justamente um modelo alternativo ao da Ordem Mundial baseado no princípio das civilizações e de grandes espaços. Esse projeto pressupõe a criação de diferentes entidades políticas, estratégias e econômicas transnacionais unidas pela comunidade de civilização e de seus valores principais, em alguns casos religiosos e, em alguns, seculares e culturais. Esses blocos seriam formados por Estados integrados que representariam os pólos do mundo multipolar. A União Europeia poderia ser um exemplo formal disso. Teríamos também a União Eurasiana (Projeto do Presidente N. Nazrbayev do Cazaquistão), a União Islâmica, a União Sul-Americana, a União Chinesa, a União de todo o Pacífico, etc. O grande espaço Norte-

18 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 39-40.

19 Fica bastante claro que o autor está tratando do Foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro em 1990, e conjugava as forças da esquerda da América Latina para um projeto de tomada de poder. Esse projeto teve sucesso entre os anos de 1999 e 2015, restando apenas o governo venezuelano de Nicolás Maduro.

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Americano seria considerado como um dos vários pólos mais ou menos iguais, nada mais20. (grifos nossos)

Em resumo, os movimentos globalistas seriam o Norte-Americano, que

tem o centro de poder nos Estados Unidos da América; o Islâmico, difuso, cuja

liderança seriam grupos como a Al-Qaeda, e que tem como objetivo a criação de

um Califado Mundial; A neo-socialista, cujo o centro de irradiação seria a

América do Sul, como o objetivo de realizar uma revolução socialista global. O

Eurasianismo, neste contexto, seria uma contraposição a ideia de dominação

global, advogando a criação de “Grandes Espaços”, incluindo uma União Sul -

Americana, da qual o Brasil faria parte. A atual presença da Rússia na

Venezuela, último bastião da UNASUL, pode ser entendida neste contexto,

embora existam outras explicações. A presença da China explicar-se-á mais a

frente pelas definições de Olavo de Carvalho.

CARVALHO (2012) adota outra divisão dos movimentos globalistas:

as forças históricas que hoje lutam por poder no mundo se concertam em três projetos de dominância global, os quais chamarei provisoriamente de "russo-chinês", "ocidental" (às vezes chamado equivocadamente de "anglo-americano") e "islâmico".

Cada um deles tem uma história bem documentada, que mostra suas origens remotas, as transformações que sofreram através do curso do tempo e o atual estado de sua implementação. Os agentes que personificam estes projetos hoje são, respectivamente:

1. A elite dirigente da Rússia e da China, sobretudo os serviços secretos destes dois países. 2. A elite financeira ocidental, tal qual representada sobretudo pelo Clube Bilderberg, o Council on Foreign Relations e a Comissão Trilateral.

3. A Irmandade Muçulmana, os líderes religiosos de vários países islâmicos e alguns governos de países islâmicos.

Destes três agentes, só o primeiro pode ser concebido em termos estritamente geopolíticos, já que seus planos e ações correspondem a interesses nacionais e regionais bem-definidos. O segundo, que está mais avançado na implementação de seus planos de governo mundial, se coloca explicitamente acima de quaisquer interesses nacionais, inclusive os dos países onde ele se originou e que servem como suas bases de operações. No terceiro, os conflitos de interesses entre os governos nacionais e o objetivo abrangente de um Califado Universal sempre terminam sendo resolvido em favor do último, o qual, embora existindo atualmente apenas como um ideal, goza de uma autoridade simbólica fundada sobre mandamentos corânicos que nenhum governo ousaria desafiar abertamente.

As concepções de poder global que estes três agentes se esforçam por implementar são muito diferentes umas das outras, porque elas brotam de inspirações heterogêneas e às vezes incompatíveis.

Portanto, eles não são forças similares, espécies do mesmo gênero. Eles não lutam pelos mesmos objetivos e, quando recorrem ocasionalmente às mesmas armas (por exemplo, a guerra econômica),

20 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 41-42.

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eles o fazem em diferentes contextos estratégicos, nos quais o emprego de tais armas não serve necessariamente aos mesmos objetivos.

Embora nominalmente as relações entre eles sejam de competição e disputa, às vezes até de natureza militar, há vastas zonas de fusão e colaboração, tão flexíveis e mutáveis quanto se possa imaginar . Este fenômeno desorienta os observadores, produzindo todo tipo de interpretação equivocada e fabulosa, algumas sob a forma de "teorias conspiratórias", outras como refutações auto-proclamadas "realistas" e "científicas" destas teorias.

Muito embora elas tentem levar em conta a totalidade dos fatores disponíveis, o projeto russo-chinês enfatiza o ponto de vista geopolítico e militar, o projeto ocidental o econômico e o islâmico a disputa entre as religiões.

[...]

Assim, pela primeira vez na história do mundo, as três modalidades essenciais de poder -- político-militar, econômico e religioso -- encontram-se personificados em blocos supranacionais distintos, cada um deles com seus próprios planos de dominação mundial e seu modo peculiar de ação.

[...]

Embora nos debates atuais estes três blocos sejam quase invariavelmente designados por nomes de nações, Estados e governos, descrever suas interações como uma disputa entre nações ou interesses nacionais é um hábito residual da velha geopolítica que não nos ajuda de modo algum a entender a presente situação.

É apenas no caso russo-chinês que o projeto globalista corresponde simetricamente aos interesses nacionais e que os principais agentes são os respectivos Estados e governos. Isto se dá pela simples razão de que o regime comunista, governando lá por décadas, dissolveu ou eliminou todos os outros possíveis agentes. A elite globalista da Rússia e da China é o governo destes dois países.

Por sua vez, a elite globalista ocidental não representa nenhum interesse nacional e não se identifica com nenhum Estado ou governo em particular, embora controle vários deles. Pelo contrário: quando seus interesses se chocam com os das nações onde ela se originou (e isto necessariamente acontece), ela não hesita em se voltar contra sua própria pátria, em subjugá-la e, se necessário, destruí-la.21

Os globalistas islâmicos servem, a princípio, aos interesses gerais de todos os Estados muçulmanos, unidos no grande projeto de um Califado Universal. Divergências surgidas de choques entre interesses nacionais (como, por exemplo, entre o Irã e a Arábia Saudita) não se mostraram suficientes para abrir feridas incuráveis na unidade de longo-prazo do projeto islâmico. A Irmandade Muçulmana, principal líder do processo, é uma organização transnacional: ela governa alguns países e em outros é o partido da oposição política, mas sua influência é onipresente no mundo islâmico22. (grifos nossos).

É mister observar que dois movimentos descritos por Olavo de Carvalho

e Alexandre Dugin são mais ou menos coincidentes: o “ocidental”, embora

abordados sob diferentes aspectos, e o “islâmico”, abordados de maneira

bastante semelhante.

21 O discurso de Donald J. Trump, em parte transcrito neste trabalho (pág 8), confirma parcialmente esta tese.

22 CARVALHO, Olavo de; DUGIN, Alexandre. Op. Cit. pp 45-48.

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Partindo desse referencial teórico serão desenvolvidas as diferentes

abordagens dos movimentos do Globalismo. No entanto, as estratégias

identificadas, neste trabalho, são referentes ao globalismo “ocidental”, cuja ação é a

mais presente no Brasil.

2.3 AS ESTRATÉGIAS DO MOVIMENTO GLOBALISTA

Com a finalidade de simplificar os trabalhos de investigação das estratégias

do movimento globalista, estas serão divididas em quatro vertentes, cada uma tendo

uma obra literária como referência principal. Estas vertentes dão origem a três

estratégias que serão apresentadas neste trabalho. São elas o globalismo ecológico,

o globalismo pedagógico e o globalismo por meio da revolução cultural, este último

englobando a vertente da mudança cultural e da instrumentalização dos intelectuais.

A referência da vertente ecológica está descrita em O Império Ecológico, ou

A subversão da ecologia pelo globalismo23, de Pascal Bernardin, cuja síntese o

próprio autor apresenta na introdução da obra:

A presente obra mostrará que a ideologia ecológica preenche todas essas condições sem nenhuma exceção. Ela visa a provocar uma mudança de paradigma (idêntica àquela apregoada pela Nova Era), uma modificação do conceito de Deus, do homem e do mundo com consequências inestimáveis. Assim, colapsa a concepção cristã do homem, criado por Deus e colocado ao centro da Terra, substituída pela perspectiva holística que nos quer o

produto - mal - da evolução, o ápice da cadeia evolutiva. [...] A Criação é portanto sacralizada, sem referência ao Criador. A ecologia, o respeito pela Criação, obra de Deus, é subvertida e veicula uma concepção pegã e revolucionária da natureza. O homem, e ainda mais o indivíduo, apaga-se diante dos imperativos da 'gestão sustentável' do planeta. De tal modo a antropologia cristã, norma cultural e social que subsiste ainda, ao menos inconscientemente, nos espíritos,

desaparece, e a civilização global pode ser edificada24.(grifos nossos)

No tocante à vertente da reforma educacional será utilizada outra obra de

Bernardin, Maquiavel Pedagogo, ou o ministério da reforma psicológica25. Segundo

o autor:

23 BERNARDIN, Pascal. O Império Ecológico, ou A subversão da ecologia pelo globalismo. Campinas.Vide Editoral, 2015.

24 Op. Cit. pp 12-13

25 _________________. Maquiavel Pedagogo, ou ministério da reforma psicológica. Campinas.Vide Editoral, 2013.

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Uma revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está em curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da Educação que, formados todos nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os departamentos de educação de diversas instituições internacionais: Unesco, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE. Na França, o Ministério da Educação e os IUFMs estão igualmente submetidos a sua influência. Essa revolução pedagógica visa a impor um “ética voltada para a criação de uma nova

sociedade e a estabelecer uma sociedade intercultura l26. (grifos nossos)

A vertente da mudança cultural encontrará suporte na obra Nova Era e a

Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci27, de Olavo de Carvalho. No

prefácio à segunda edição da obra, em 1994, uma passagem apresenta um aspecto

importante dessa estratégia, adaptado pelos “intelectuais” brasileiros:

A geração que, derrotada pela ditadura militar, abandonou os sonhos de chegar ao poder pela luta armada e se dedicou, em silêncio, a uma revisão de sua estratégia, à luz dos ensinamentos de Antonio Gramsci. O que Gramsci lhe ensinou foi abdicar do radicalismo ostensivo para ampliar a margem de alianças; foi renunciar à pureza dos esquemas ideológicos aparentes para ganhar eficiência na arte de aliciar e comprometer; foi recuar do combate político direto para a zona mais profunda da sabotagem psicológica. Com Gramsci ela aprendeu que uma revolução da mente deve preceder a revolução política; que é mais importante solapar as bases morais e culturais do adversário do que ganhar votos; que um colaborador inconsciente e sem compromisso, de cujas ações o partido jamais possa

ser responsabilizado, vale mais que mil militantes inscritos28.

A vertente da instrumentalização dos intelectuais, insere-se de certa forma na

vertente da mudança cultural, mas merece um destaque devido à sua descrição,

mais pormenorizada, feita por Flávio Gordon, no livro A Corrupção da Inteligência –

Intelectuais e Poder no Brasil29, materializada no trecho do prefácio da obra, de

autoria de Rodrigo Gurgel

:

Intelectuais sérios conhecem algumas das características fundamentais do marxismo: a pretensão de não só explicar o mundo em sua completude, mas reconstruí-lo por meio da revolução total, isto é, a destruição da ordem, das estruturas governamentais aos costumes mais arraigados da população; o maquiavelismo absoluto, para o qual toda prática é sempre oportuna e está previamente justificada se servir, de forma tática ou estratégica, à conquista do poder, ou seja, dispensa-se, por princípio, qualquer preocupação ética; para desagregar, confundir e, se possível,

26 Op. Cit. p. 9.

27 CARVALHO, Olavo. Nova Era e a Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci. 4. Ed. Campinas.Vide Editoral, 2014

28 Op. Cit. pp. 22-23.

29 GORDON, Flávio. A Corrupção da Inteligência. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2017.

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estabelecer o caos, vociferar contra tudo apontando interesses escusos e irreveláveis mesmo quando não existem, de maneira que restem apenas os próprios marxistas como exemplos de honestidade.

Se tais deletérias particularidades só constassem de embolorados e esquecidos manuais, escritos, entre o final do século XIX e início do XX, em russo ou alemão, o leitor poderia sorrir, até mesmo com menosprezo, desviar sua atenção e recolocar este volume na prateleira. Mas nosso problema, grave problema, é que neste exato momento, em universidades, colégios, editoras e redações, há profissionais pensando e agindo de acordo com essas premissas — e difundindo-as como se representassem a verdade e o caminho para se construir uma sociedade perfeita.

Este é o primeiro motivo que faz de A corrupção da inteligência, de Flávio Gordon, um livro fundamental. Ao longo de suas páginas, o leitor descobrirá os antecedentes do processo que, no Brasil, perverteu a produção artística e intelectual, abrindo às ideias marxistas todos os setores da vida: das rodas de samba à Academia Brasileira de Letras, dos sindicatos às universidades, das associações de bairro ao Palácio do Planalto, dos terreiros de umbanda à CNBB — uma teia de controle ideológico que abarca a programação televisiva, as políticas editorais, a escola de nossos filhos, a filosofia e a teologia, a produção literária e os comentaristas, aparentemente isentos, das rádios, da Web, dos jornais.

[...]De todos os setores corrompidos pela ideologia marxista, o jornalismo e a universidade são os mais visíveis. Em ambos pretende-se destruir a coerência, minar a lucidez e, repetindo o que os esquerdistas fazem na política, “eliminar o dissenso e a heterogeneidade”, como bem sintetiza Gordon.30 (grifos nossos)

Cabe ressaltar que a análise de como os movimentos Globalistas estão

tentando alcançar seus objetivos é da maior relevância, porque estas estratégias

são materializadas em ações efetivas observáveis, portanto acessíveis ao estudo

para fins de comprovação da afronta destes movimentos aos preceitos da Defesa

Nacional.

2.4 O PAPEL CONSTITUCIONAL DO EXÉRCITO

O referencial teórico do papel constitucional será o Artigo 142 da Constituição

Federal do Brasil de 1988:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes

constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem31. (grifos nossos)

30 Op. Cit.

31 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

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Destaca-se a destinação constitucional de defesa da Pátria, tendo em vista

que os indícios apontam para uma tentativa de destruição dos valores pátrios por

parte dos movimentos globalistas, afrontando, portanto, com essa obrigação por

parte das Forças Armadas, das quais o Exército faz parte.

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3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

O presente estudo será realizado, principalmente, por meio de uma

pesquisa bibliográfica, pois baseará sua fundamentação teórico-metodológica na

investigação sobre os assuntos relacionados ao globalismo em livros, manuais,

vídeos e artigos de acesso livre ao público em geral, incluindo-se nesses aqueles

disponibilizados pela rede mundial de computadores.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo do presente estudo são os principais movimentos globalistas

da atualidade. Como principais amostras serão utilizadas três do tipo não

probabilísticas e classificadas como sendo de por acessibilidade, sendo elas o

movimento globalista ocidental, o Eurasianismo (também conhecido como

esquema russo-chinês) e o Islâmico.

As amostras que serão utilizadas são atividades desenvolvidas por estes

esquemas globalistas, as quais, embora não abarquem a totalidade das ações

estratégicas desses movimentos, sintetizam sua ação. Será dado destaque ao

movimento globalista ocidental pois este é o que está apresentando ações de

maneira mais visível, em especial no Brasil.

3.3 COLETA DE DADOS

Conforme Departamento de Pesquisa e Pós-graduação (Exército) (2012), a

coleta de dados do presente trabalho de conclusão de curso dar-se-á por meio da

coleta na literatura, realizando-se uma pesquisa bibliográfica na literatura

disponível, tais como livros, manuais, revistas especializadas, jornais, artigos,

internet, monografias, teses e dissertações, sempre buscando os dados pertinentes

ao assunto. Nessa oportunidade, serão levantadas as fundamentações teóricas para

a comprovação ou não da hipótese levantada.

3.4 TRATAMENTO DOS DADOS

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Conforme Departamento de Pesquisa e Pós-graduação (Exército) (2012), o

método de tratamento de dados que será utilizado no presente estudo será a

análise de conteúdo, no qual serão realizados estudos de textos para se obter a

fundamentação teórico para se confirmar ou não a hipótese apresentada.

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

A metodologia em questão possui limitações, particularmente, quanto à

profundidade do estudo a ser realizado, pois não contempla, dentre outros aspectos,

o estudo de campo e a entrevista com pessoas diretamente ligadas aos

processos em estudo. Porém, devido ao fato de se tratar de um trabalho de

término de curso, a ser realizado em aproximadamente seis meses (ver item 4

CRONOGRAMA), o método escolhido é adequado e possibilitará o alcance dos

objetivos propostos.

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4 O GLOBALISMO E SUAS ORIGENS

Estamos no presente trabalhando discretamente com todo vigor para arrancar essa força misteriosa chamada soberania das garras dos Estados-nação do mundo. Todo o tempo, negamos com nossa fala o que estamos fazendo com nossas mãos, pois impugnar a soberania dos Estados-nação do mundo ainda é uma heresia pela qual um estadista ou homem público pode … ser banido ou desacreditado.

Arnold Toynbee32

Definir de forma definitiva o que é o Globalismo é uma tarefa ainda em

desenvolvimento. A multiplicidade de atores, estratégias e objetivos espalham-se por

diversas ações de agentes históricos durante vários séculos. COSTA (2015) observa

que uma interpretação completa e unificada deste panorama político internacional

não é tarefa para uma pessoa, já que além de todo dinamismo de processos, a

totalidade dos fatos relevantes para a compreensão do assunto seria impossível de

ser abarcada pela mente de um só indivíduo.

O Globalismo pode ser abordado como uma ideologia, concepção geopolítica

e como um movimento revolucionário. O ponto de vista no estudo do fenômeno pode

tomar como base o propósito do movimento, os objetivos que pretendem alcançar

bem como suas ações efetivas no intento de alcançar estes mesmos objetivos. A

apresentação de uma perspectiva histórica pode apresentar um panorama geral

deste fenômeno, conforme será realizado a seguir.

4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA: DA IDEIA DE IMPÉRIO À PAZ DE VESTFÁLIA

O Império não é uma teoria: é uma realidade. É, em primeiro lugar, uma realidade contínua. Excetuando-se o período que medeia entre a queda de Roma e o Reinado de Carlos Magno, não se passou um dia, na História do Ocidente, em que alguma nação, povo, reinado, não empenhasse o melhor de si no esforço de elevar-se a Império ou como tal não fosse reconhecido pelos demais. E mesmo nesse período, o Império não cessa de existir: Transfere-se para Bizâncio. É, em segundo lugar, uma realidade problemática: em contraste com a unidade estável e o crescimento orgânico de Roma, o Império do Ocidente, sem jamais desaparecer de todo, morre aqui para renascer ali, muda de centro e de contorno, de antagonistas e protagonistas, de doutrinas e de métodos, sempre inquieto, proteiforme, Leviatã a agitar-se nervosamente

32 Apud, OLIYNIK, Anatoli. Organizações Globalistas e a Nova Ordem Mundial. Anatolli, um blog conservador, 2012. Disponível em: <http://www.anatolli.com.br/blog/organizacoes-globalistas-e-a-nova-ordem-mundial-2/>. Acesso em 05 de junho de 2019.

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no fundo das águas, sempre sonhando com a estabilidade do poder, sempre condenado à metamorfose das guerras, das revoluções, das mudanças de povos e fronteiras. É, em terceiro lugar, a realidade decisiva. (….) jamais houve no Ocidente uma só doutrina, monárquica ou republicana, revolucionária ou reacionária, escravagista ou libertária, que não fosse absorvida para servir de pretexto e reforço na luta pelo Império.(CARVALHO, 2015)

O globalismo como ideologia não é um fenômeno do mundo atual. A tese

central (MARTINS, 2016) é a de que os problemas são melhores abordados de

forma global, em oposição a arranjos locais, tendo em vista que certos óbices são

comuns a espaços geográficos diversos, cujas soluções escapam às limitações de

autoridades de menor escalão. É neste sentido que Paul James (2016) observa que

o Globalismo, como expansão da ideologia de uma classe dominante, é um

fenômeno já observado nos arranjos do Império Romano e até mesmo em aspectos

da civilização grega, remontando ao século V a.C.

Um estudo sobre a História da Humanidade pode levar a uma interpretação

de que, na verdade, o Globalismo é a ideologia dominante desde o surgimento das

primeiras civilizações. Obviamente, as pretensões globais limitavam-se ao espaço

conhecido e, até então, possível de ser conquistado. Mas a tendência ao

expansionismo, sem o respeito à ideia, ainda que primitiva, de soberania, perpassa

a humanidade até 1648, com a Paz de Vestfália.

Desde os Sumérios, em especial com o reinado de Sargão da Acádia (2270 a

2215 a.C.), e a formação pelo mesmo do Império Acadiano, na região da

Mesopotâmia, verifica-se que a ideia de expansão imperial é a tônica das

civilizações humanas. Mesmo no Oriente, a China, após sua unificação, por volta de

221 a.C., considerava-se o centro da ordem mundial, em certo sentido, o único

governo soberano do mundo. Seu raio de ação não seria um estado soberano da

China, mas sim “Tudo que Existe sob o Céu” (KISSINGER, 2015).

A culminação desta tendência, no mundo ocidental, se dá com o advento do

Império Romano. O período imperial durou por volta de 500 anos, mas, em especial

nos dois primeiros séculos, Roma obteve um período de prosperidade e estabilidade

política nunca antes vistos, materializados na expressão Pax Romana. Os avanços

no campo do Direito, arquitetura, expansão da moral religiosa cristã deixaram

marcas indeléveis no que seria o berço da civilização do ocidente: a Europa.

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A partir da queda do Império Romano, em 462, o que se observa no

continente europeu é uma constante busca pela sua recriação. A decadência da

antiga ordem imperial criada não fora substituída eficazmente por nenhuma outra. O

auge deste intento ocorre no reinado de Carlos Magno, em 800. Porém, o mesmo

não consegue retomar todos os domínios romanos. Por volta do século XIII, seus

sucessores deram o nome do território que havia ficado sob domínio de Carlos

Magno de Sacro Império Romano-Germânico, que, debilitado por guerras civis,

desapareceria menos de um século mais tarde. (KISSINGER, 2015).

Em 1519, Carlos torna-se o imperador do Sacro Império Romano-Germânico,

com uma concentração massiva de poder político, obtida, em geral, por meio de

casamentos estratégicos. Seu potencial para refundar o antigo Império levou o papa

Clemente a declarar que Carlos seria força secular que faria “a paz e a ordem serem

restabelecidas” na cristandade. Entretanto, o novo imperador não conseguiu impedir

que a França possuísse uma política autônoma e não conseguiu impedir a cisão na

cristandade, gerada por meio da Reforma Protestante. (KISSINGER, 2015)

Com a Paz de Habsburgo de 1555, Carlos concedeu aos príncipes do Império

escolher a orientação confessional de seus territórios, reconhecendo o

protestantismo nos domínios imperiais. Com a morte do imperador, essa cisão no

seio do cristianismo geraria instabilidades que se arrastaram por quase um século,

alcançando seu auge no período de 1618 a 1648.

A Guerra dos Trinta anos (1618-48), em termos resumidos, ocorreu após uma

tentativa de um principado protestante assumir a sucessão no Sacro Império

Romano-Germânico. Seguido à repressão católica contra este intento protestante, o

que se verificou foi uma união dos “hereges” contra a mesma, causando uma guerra

de grandes proporções, cujo resultado foi um morticínio de 8 milhões de pessoas.

Sob o olhar do aspecto religioso, da França, católica, esperava-se o apoio na

repressão aos protestantes. Entretanto, o ministro-chefe, o cardeal Richelieu, quebra

o paradigma da autoridade pessoal do governante, circunscrita pela tradição e pela

religião. Criou a ideia do Estado como entidade permanente e abstrata em si,

independente da personalidade do governante, interesses familiares ou princípios

universais da religião. Esta criação seria conhecida como razão de Estado, unidade

básica das relações internacionais. (KISSINGER, 2015).

Neste sentido, uma unificação no coração da Europa não atenderia uma

“razão de Estado” francesa. Desta forma, visto que havia um desequilíbrio em favor

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dos católicos no conflito interno do Sacro Império Romano-Germânico, a França

passa a apoiar a coalizão Protestante, equilibrando o conflito. Esse equilíbrio gerou

uma indefinição, e a guerra começou a se arrastar por muitos anos.

É neste momento, ainda que para atender um interesse francês de manter a

Europa Central dividida, que temos o grande salto paradigmático das relações

internacionais e da ordem mundial: A Paz de Vestfália. Após uma série de

encontros na região de mesmo nome, o que se decidiu foi pela criação de um novo

princípio. Ficou consagrada a igualdade entre Estados soberanos, a despeito de

diferenças de poder militar ou sistema político. O Estado, não o império, a dinastia

ou a confissão religiosa, foi consagrado como a pedra fundamental da ordem

europeia. Ficou estabelecido o conceito da soberania do Estado (KISSINGER,

2015).

Como conclusão da análise histórica até agora desenvolvida, pode-se

observar que, ao contrário da visão comum, o Globalismo, consubstanciado na ideia

de império, é anterior ao conceito de soberania dos Estados-nação. Diferente da

noção de que a abordagem global seria a evolução de arranjos locais que não mais

são capazes de resolver seus problemas, o advento da razão de Estado, baseado

em equilíbrio de poder entre as nações, surgiu como uma solução para os

crescentes conflitos causados pelos seguidos projetos imperiais, os quais nunca se

estabilizavam. Não é o globalismo uma evolução do nacionalismo, e sim este último

uma evolução do primeiro. Mas o Leviatã imperial não se acalmou por completo no

fundo das águas no mundo Ocidental, como será visto mais à frente.

4.2 GLOBALISMO MODERNO E A AÇÃO INDIRETA: DA REVOLUÇÃO

FRANCESA AO MOVIMENTO COMUNISTA

Após Vestfália a humanidade enfrentou um longo período de paz,

interrompido por pequenos conflitos que na verdade eram ajustes de interesses

nacionais conflitantes, sem o envolvimento da Europa inteira.

A quebra desse “contrato” de paz através do equilíbrio se deu por meio da

Revolução Francesa. A força dos ideais da revolução parecia tão irresistível para os

seus pregadores e discípulos que nada havia de justificar que não se espalhassem

pelo mundo inteiro. Da maneira que fosse. A consequência natural seria a ascensão

de um grande líder que conduzisse o processo de disseminação da ideologia.

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Napoleão Bonaparte assumiu esse papel e a guerra se instalou em toda Europa

novamente.

No entanto, pela primeira vez a esta se deu sob o comando de um líder que

surgiu como consequência de uma revolução popular, fazendo com que a ideia de

que apenas o Exército lutasse caísse por terra. Os ideais tinham de ser espalhados

por todo o mundo e isso deveria ser tarefa de todo o povo francês e não apenas da

parcela armada. Assim, pela primeira vez cria-se a ideia da Guerra Total, através de

uma Ação Direta, algo posteriormente sintetizado na Obra-prima Da Guerra, de

Clausewitz.

Mais uma vez a tentativa da paz através de uma unificação global de ideais

não funcionou. A França foi derrotada pela Rússia que marchou até o seu território.

Buscando a paz, no entanto, os demais países entenderam a importância da França

para o restabelecimento da balança de poder na Europa e, consequentemente, para

a paz europeia, não impondo sanções excessivas ao país. E esse expediente

funcionou por mais cem anos, tendo o seu fim na eclosão da Primeira Guerra

Mundial, que, analisando superficialmente, foi criada por um erro de cálculo dentro

do próprio sistema Vestfaliano, forçado pelo desequilíbrio causado pelas unificações

de Alemanha e Itália. Essas unificações, apoiadas no nascimento da Geopolítica,

por meio de organicistas como Ratzel e Kjellen, deram, em especial à Alemanha,

novas propostas imperiais.

Ao fim da Grande Guerra uma infeliz amnésia histórica se deu, liderada logo

pela França, e a Alemanha derrotada não foi reincluída propriamente no concerto

das nações. O erro de avaliação do Tratado de Versalhes somado a um utópico

movimento pacifista desarmamentista liderado pelo presidente dos EUA, Woodrow

Wilson, juntamente com a ascensão da ideologia comunista na Rússia, foram o

fermento perfeito para a fornalha de movimentos fascistas e nacionais-socialistas

que nasceram na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler. Nasciam, assim,

novos projetos de império.

Cada um, a seu modo, queria moldar o mundo à sua imagem e semelhança.

O Movimento Comunista cria a sua internacional em 1919 e assume uma estratégia

da dominação pela subversão. O nazismo e o fascismo tinham motivações

relacionadas ao ressurgimento do Império Romano como forma de restabelecer a

ordem na Europa, sendo que Hitler aliou isso a uma tentativa de unificação de todos

os povos da Alemanha – o pangermanismo, sob forte influência do geopolítico Karl

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Haushofer – algo semelhante ao objetivo do Império Romano-Germânico. De outro

lado, os EUA queriam ser “a cidade brilhante no alto da colina” um exemplo para o

mundo, que alcançaria a paz aplicando seus ideais de democracia e livre mercado.

A Guerra Mundial era inevitável. A Inglaterra e a França não tinham

capacidade de atuar como a balança do equilíbrio europeu. Os EUA, que tinham

esse potencial, estavam se recuperando de uma crise financeira, voltando-se muito

para dentro do próprio país. Na verdade, Roosevelt entendia a necessidade de

entrar na guerra cedo, restabelecendo o equilíbrio antes que fosse tarde, mas o

povo americano não teve essa visão.

Atacados, os EUA entram decisivamente na guerra, já quando a Alemanha

colecionava as primeiras derrotas frente à União Soviética e no Norte da África.

Assim como a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra era um conflito total que

envolvia um esforço de guerra de toda a nação e que tinha como estratégia principal

uma ação direta e decisiva sobre o inimigo.

Mas o fim da guerra representa o auge e ao mesmo tempo o fim da Ação

Direta de Clausewitz. A bomba atômica é a prova da eficácia da estratégia do

general prussiano – o Japão se rendeu apesar de todas as reservas culturais

contrárias a uma rendição – mas ao mesmo tempo sua disseminação como

estratégia por todos tiraria da guerra sua razão de ser, pois uma hecatombe nuclear

não traria benefícios políticos nem para vencedores nem para vencidos.

O fator atômico realça a importância de um autor que já era consagrado: Sun

Tzu. Ao contrário de Clausewitz, o sábio chinês via a vitória duradoura através de

uma longa e paciente ação indireta, apresentando como a mais genial das vitórias

em uma guerra aquela conquistada sem “desembainhar a espada”. A ação direta e

decisiva poderia acontecer, mas com um inimigo já amaciado pelas diversas ações

indiretas, no campo cultural e moral principalmente.

A nação que, mesmo antes mesmo das explosões nucleares, já tinha adotado

essa estratégia era a União Soviética. Tendo assumido o Comunismo marxista-

leninista em 1917, julgou que a guerra para a dominação mundial, e sua

consequente paz duradoura, se daria pela tomada do poder pelo proletariado de

cada país e não através de uma guerra direta contra as nações democráticas. Para

coordenar essa empreitada criaram a Internacional Comunista e reforçaram o

Movimento Comunista Internacional, cuja estratégia era tomar cada país através da

subversão.

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Após o fim da Segunda Guerra emergem como duas potências os EUA e

URSS, sendo esta última ainda não possuidora de armas nucleares. Essa situação

se mantém até 1949, quando a URSS obtém também o poder atômico. As potências

obviamente tinham seus interesses conflitantes, mas como agir?

A guerra seria a resposta adequada, como continuação da política por outros

meios, mas que objetivo político poderia ser alcançado através de uma guerra

nuclear? As duas superpotências ficaram, aparentemente, entre duas opções: a

inação completa ou a destruição mútua.

A URSS e posteriormente os demais países comunistas apresentaram a

terceira via: a infiltração ideológica, a subversão e a revolução cultural, estratégia já

em andamento desde 1919. A ação da KGB e da CIA dariam o tom do conflito: uma

guerra indireta, desenvolvida através de conflitos locais de baixa ou média

intensidade e muita ação no submundo da espionagem e da subversão. O nome

Guerra Fria foi genialmente cunhado para definir esse conflito.

Analisando o início da Guerra Fria, pela grande vantagem da KGB e da

ideologia comunista no campo da ação indireta, a maioria das pessoas apostariam

em uma vitória comunista. Na verdade, estudos atuais provam que a infiltração da

KGB era ainda maior que o até então considerado exagerado cálculo Marcatista

poderia prever. McCarthy via comunistas em todos os lugares, e era criticado por

isso, mas na verdade seu erro foi não ver que eles estavam em todos os lugares e

mais um pouco.33

Algumas revoluções comunistas deram fruto, como na China, Cuba, Coréia

do Norte, Leste Europeu e a ação dos revolucionários comunistas era muito intensa

em todas as partes do mundo. Porém, como todos sabem, entre 1989 e 1991 se dá

o processo de “derrota” comunista e de “vitória” da democracia ocidental americana

e seu livre mercado.

Muitos podem interpretar que houve um erro estratégico na aplicação da

subversão comunista, mas é uma visão errada. O que fez o comunismo ruir foi o

próprio comunismo na sua tentativa de criar um sistema econômico sem livre

mercado, o que foi comprovado por Ludwig Von Mises como algo impossível, tese

que a História confirmou sem nenhuma margem de dúvida. A tentativa de criar uma

sociedade coletiva, sem o livre mercado gerou em si mesma um monstro de

33 CARVALHO, Olavo de. Palestra 'O Totalitarismo Islâmico':Olavo de Carvalho. Youtube, 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fkc3vA0uXU8>. Acesso em 29 de julho de 2019.

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ineficiência indestrutível que, aliado com a inflexibilidade de uma ideologia utópica,

causou o maior genocídio que o mundo jamais havia visto34.

O comunismo deu errado, tenta sistematicamente se reformular, mas não

quer enxergar os erros de suas premissas básicas, cuja mudança descaracterizaria

a própria ideologia. Entretanto, o Movimento Comunista Internacional (MCI) tinha a

União Soviética como um de seus braços e não o contrário. Na realidade o MCI

iniciou-se com a publicação do Manifesto Comunista de 1848, portanto quando

finalmente alcançou o poder em um país, o movimento já tinha quase 70 anos.

As variações do comunismo, ou socialismo, se deram antes mesmo da

tomada do poder na Rússia, e não se abalaram com a queda da sua maior

representante. Novamente atuando nas sombras, continuou agindo através de uma

Guerra Cultural, mudando as mentalidades de maneira exagerada e

propositadamente lenta, cujos resultados está começando a alcançar. Neste ínterim,

suas estratégias, e mesmo estruturas e pessoal, foram sendo absorvidas para

finalidades globalistas de outros grupos, que de igual forma, absorveram partes da

própria doutrina de Marx e principalmente, partes da estratégia de Gramsci. A

Perestroika, de Michael Gorbatchev, marca esta síntese35.(ler o capítulo de novo e

melhorar)

Internacionalista, o comunismo, após a Perestroika, se abstém de dizer o

próprio nome, mas funde-se com os movimentos globalistas e mantém seu objetivo

político: a dominação mundial pela revolução para alcançar a paz duradoura através

da ausência de conflitos, criada por um Estado global que, ao engolir a sociedade,

transformar-se-ia ele mesmo na sociedade, abolindo-se. Uma inversão evidente,

mas que convence muitas pessoas36.

34 COURTOIS, Stephane [et. al]. O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil: Biblioteca do Exército Ed, 2000. 35 BERNARDIN, Pascal. O Império Ecológico, ou A subversão da ecologia pelo globalismo. Campinas.Vide Editoral, 2015. Ver Capítulo II – A Perestroika. pp 41-80. 36 A profecia da “autodissolução do Estado” na apoteose dos tempos é somente uma figura de linguagem, um jogo de palavras, uma pegadinha infernal. Marx explica que, como tudo pertencerá ao Estado, este já não existirá como entidade distinta, mas a própria sociedade será o Estado. É uma curiosa inversão da regra biológica de que quando o coelho come alface não é o coelho que vira alface, mas a alface que vira coelho. Se o Estado engole a sociedade, não é o Estado que desaparece: é a sociedade. Que a sociedade dominada, esmagada e anulada não sinta mais o peso da dominação não quer dizer que esta não exista, mas que o dominado está exausto e estupidificado demais para tomar consciência dela. É o totalitarismo perfeito em que, nas palavras de Antonio Gramsci, o poder do Partido-Estado já não é percebido como tal, mas se torna “uma autoridade

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Essa fusão, no entanto, não é uma inovação no Comunismo. Na verdade,

trata-se de uma adaptação de um trecho do próprio Manifesto Comunista de Marx e

Engels:

O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção na mão do Estado, isto é, do proletariado organizado como classe dominante, e para aumentar o mais rapidamente possível o total das forças produtivas.37(grifos nossos)

O proletariado organizado como classe é, obviamente, o Partido Comunista.

Este se torna, quando assume o poder, aquilo que se chama de Nomeklatura. Marx

previa que o Partido arrancaria o capital da burguesia e centralizaria o poder

econômico nas mãos do Estado. Isto é, evidentemente, o caminho para o

totalitarismo. Dominados os poderes político e econômico, sob uma mesma

entidade, a capacidade de impor decisões e suprimir toda e qualquer reação é

enorme.

Entretanto, os comunistas observaram que não era tão simples essa tomada

do poder econômico. A Elite Globalista é a síntese dos interesses. Comunistas

querem poder econômico e megacapitalistas querem poder político. Em vez de

brigarem pelo poder, unem-se em um plano de escala global para consolidar o poder

econômico e político e fazer um “mundo melhor”. A Elite Globalista é a Nomenklatura

versão 2.0. O Metacapitalismo, apresentado logo a seguir, é explicado dentro deste

contexto.

Como vimos, as diferenças entre visões de cada potência sobre sua própria

Ordem Mundial se resolviam através de guerras, conflitos de ação direta cuja vitória

refletia um melhor posicionamento para ganhos políticos. A Ordem Mundial

globalista toma a coisa pelo reverso e faz do objetivo político o acidente capital a ser

conquistado, mesmo desbordando a necessidade da guerra violenta e evidente.

“A Guerra é a continuação da política por outros meios”, diria Clausewitz.

Porém a inversão genial da frase, por Lenin, dá o tom do que se trata o conflito

cultural atual: “A política é a continuação da guerra por outros meios”. Imagine-se a

onipresente e invisível como a de um imperativo categórico, de um mandamento divino”.(CARVALHO, 2013) 37 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. 1. Ed. Boitempo, 1998. p.58.

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importância dessa sentença, quando os meios para se fazer uma guerra clássica

foram praticamente extintos pelo poder atômico.

4.3 METACAPITALISTAS E OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS

Desde o advento das grandes instituições globalistas, dos conglomerados privados de imenso poder econômico e das impagáveis dívidas públicas, o poder decisório que antes era apenas influenciado pelos titãs das finanças e da economia passou a ser totalmente dirigido por eles. Diante deste deslocamento do centro do poder real, toda análise fundada superficialmente no campo diplomático do jogo entre as nações está condenada ao erro desde seu nascedouro. Criticar o 'imperialismo americano' por ser causa de ações globalizantes, por exemplo, chega a ser um identificador de alto nível de ignorância política por parte do seu emissor38

O que se desenhou até aqui foi o histórico do globalismo, seus fenômenos

modernos que influenciaram guerras mundiais e a ascensão da ação indireta como

forma de alcançar objetivos antes tidos como possíveis de serem atingidos apenas

com as ações armadas. Neste sentido, BARNET & MÜLLER (1974), resumem bem

essa mudança dos meios militares para outros meios, apontando “os homens que

dirigem empresas globais” como aqueles que, finalmente, tem a possibilidade de

administrar o mundo:

Os homens que dirigem as empresas globais são os primeiros homens na história que possuem a organização, a tecnologia, os recursos e a ideologia para fazer uma tentativa plausível de administrar o mundo como uma unidade integrada. O visionário global do passado era um homem que enganava a si mesmo ou era um místico. Quando Alexandre, o Grande, chorou às margens do rio porque não havia mais mundos a conquistar, o seu sofrimento teve origem em nada mais substancial do que a ignorância de seu cartógrafo. À medida que as fronteiras do mundo conhecido se expandiam, uma sucessão de reis, generais e homens fortes de variados estilos tentaram fundar impérios em escala ainda mais colossal, mas nenhum deles conseguiu transformar em realidade duradoura seus sonhos privados. O sistema napoleônico, o Reich Milenar de Hitler, o Império Britânico e a Paz Americana deixavam traços, mas nenhum deles conseguiu criar coisa alguma que se aproximasse de uma organização global para administrar o planeta que resistisse mesmo por uma geração. O mundo, ao que parece, não pode ser governado por ocupação militar, embora esse sonho custe a desvanecer-se39

38 COSTA, Alexandre. Introdução à Nova Ordem Mundial . 1. Ed.Campinas: Vide Editorial, 2015, p. 57. 39 BARNET, Richard J., MÜLLER, Ronald. Poder Global – A Força Incontrolável das Multinacionais. Distribuidora Record, 1974, p. 13.

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A primeira dúvida que pode vir a mente é o motivo pelo qual grandes

empresários capitalistas estariam interessados em administrar o mundo. Cada um

deles, após as disputas e vitórias no sistema de livre mercado, acumularam grandes

fortunas e grande influência. Não faria sentido modificar um sistema que os tornou

tão bem-sucedidos.

Entretanto, Olavo de Carvalho, em seu artigo História de Quinze Séculos,

sintetiza a mudança de posição dos megacapitalistas e o surgimento daquilo que

batizou de metacapitalistas:

Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a “justiça social” do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso. Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apoiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço.40

Flávio Gordon (2017), não deixa de perceber essa simbiose entre os

megacapitalistas e comunistas, ou adeptos do estado forte, em seu livro A

Corrupção da Inteligência: 40 CARVALHO, Olavo. História de Quinze Séculos. Jornal da Tarde, 17 de junho de 2004, disponível em: <http://www.olavodecarvalho.org/semana/040617jt.htm>. Acesso em 04 de junho de 2019.

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Quem conhece os trabalhos do historiador britânico Anthony Sutton, em especial os livros The Best Enemy Money Can Buy e Wall Street and the Bolshevik Revolution, sabe que a revolução bolchevique de 1917 foi, em parte, patrocinada por grandes financistas de Wall Street interessados na queda do tsar. Há indícios de que a própria viagem de Trotski de Nova York até a Rússia tenha sido pessoalmente bancada por Jacob Schiff, do banco Kuhn, Loeb & Co. Em 1911, o cartunista Robert Minor, ele próprio bolchevique, publicou no St. Louis Dispatch um cartoon significativo a esse respeito. Nele, Karl Marx em pessoa, com um livro intitulado Socialismo embaixo do braço, era saudado com entusiasmo em Wall Street por financistas como John D. Rockefeller, J.P. Morgan, John D. Ryan e George W. Perkins, além de Teddy Roosevelt. Essa simbiose, em tese paradoxal, entre o grande capital e o comunismo fora notada também pelo romancista britânico H.G. Wells em seu livro Rússia nas Sombras: “O grande negócio não é de forma alguma antipático ao comunismo. Quanto mais ele cresce, mais se aproxima do coletivismo.” 41

Os exemplos de John D. Rockfeller, Ford e George Soros, entre outros, dá

provas do acerto nas definições acima expostas. A maneira encontrada por estes

metacapitalistas para gerar influência nos meios políticos é através de suas

fundações42. Em um estudo sobre o financiamento aos movimentos sociais e demais

atividades que tem como objetivo a mudança da sociedade, verifica-se que grande

parte dos fundos absorvidos por estes movimentos são provenientes destas

fundações.43

Mais à frente, no decorrer deste trabalho, serão tratadas as estratégias

globalistas, dentre as quais destacamos as culturais, pedagógicas e ambientais. O

método de ação dos metacapitalistas, no sentido de administrar o mundo, dá-se pela

instrumentalização dessas vertentes, através do financiamento de organizações e

movimentos “progressistas” e, principalmente, por meio do lobby destes mesmos

movimentos nas organizações internacionais.

Cria-se, assim, um círculo vicioso. Os movimentos contrários a sociedade, já

existentes na mesma, porém sem expressão, são alavancados pelos financiamentos

destas mesmas fundações. Em breve, os meios midiáticos, também, em sua

maioria, dominados por estes mesmos bilionários, os apresentam como eventos de

grande importância, como partes fundamentais da sociedade civil organizada, com

41 GORDON, Flávio. A Corrupção da Inteligência . 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2017. p.150.

42 COSTA, Alexandre. Seminário Globalismo: Alexandre Costa, autor do livro Introdução à Nova Ordem Mundial, Youtube, 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yAw-ZId77tM>. Acesso em 02 de outubro de 2019. 43 CARVALHO, Olavo de. O Brasil perante os conflitos da Nova Ordem Mundial (Palestra OAB/SP em 06 de agosto de 2004). Youtube, 2011. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DNGkOCi9Zi8&t=265s>. Acesso em 25 de junho de 2019.

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direito a representatividade nas instâncias nacionais e internacionais. Logo, estas

ganham legitimidade por meio de instituições como UNESCO, ONU, Banco Mundial,

Comissão Europeia, dentre outros. Alexandre Costa (2015), resume essa estratégia

dos grandes banqueiros:

Por controlarem os bancos, controlam os investimentos, o crédito e o valor das mercadorias e serviços; financiando os partidos se misturam ao Estado; suas fundações, institutos e universidades influenciam a opinião pública, publicam artigos científicos, incentivam movimentos e campanhas; com sua mídia homogênea promovem hábitos e revolucionam valores no mesmo ritmo que seus conglomerados privados engolem a concorrência por usufruírem de sua promíscua relação com o Estado. Um ciclo perfeito. 44

O que ocorre, desta forma, é uma maneira sutil de desbordar o sistema

democrático representativo clássico, por meio de uma legitimidade artificialmente

criada para certos movimentos sociais os quais, na realidade, apenas apresentam

pretextos adornados com contornos morais falsos, cuja finalidade é avançar uma

agenda específica destes mesmos magnatas.

E essa agenda é necessariamente internacionalista, intercultural, multicultural.

Nada mais que nomes bem apresentáveis para globalista. As culturas e fronteiras

nacionais e sua moral com base religiosa e tradicional têm que ser necessariamente

demolidas. A sociedade administrada com vistas à eficiência econômica, conduzida

por técnicos, com base na mais pura ciência, só é possível com a derrubada das

tradições. Estas, em geral, são as geradoras das identidades das nacionalidades e

civilizações. Obviamente, os administradores e condutores deste admirável mundo

novo serão os próprios metacapitalistas, cujo exemplo de eficiência serve de

legitimidade para ditar o que todos podem ou não fazer com base na nova moral do

tecnicismo.

4.4 REAÇÃO SOBERANISTA: BREXIT, TRUMP E BOLSONARO

A verdade é como um leão, você não precisa defendê-la. Deixe-a solta e ela

se defenderá a si mesma.

Santo Agostinho

44 COSTA, Alexandre. Introdução à Nova Ordem Mundial . 1. Ed.Campinas: Vide Editorial, 2015, p. 30.

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Para se entender melhor a reação soberanista no mundo, iniciar a análise

pelo fenômeno do Brexit é bastante didático. Isto se dá pois é possível afirmar que a

União Europeia (UE), bloco do qual os britânicos escolheram sair, pode ser

considerada uma espécie de experimento de globalismo em menor escala.

De maneira bastante sintética, a União Europeia possui um Parlamento e uma

Comissão, dentre outras instituições, esta última formada por burocratas não eleitos.

Ryan McMaken e Carmen Elena Dorobat sintetizam as características globalistas e

antidemocráticas da UE:

A UE é uma organização secreta e totalmente isolada do povo europeu, o qual não detém absolutamente nenhum poder de supervisão sobre ela. A UE não é gerida por pessoas eleitas. O próprio Parlamento Europeu é totalmente impotente para impedir ou revogar os atos da Comissão Europeia (que é o corpo executivo da União Europeia). Os membros da comissão não são eleitos, mas sim designados pelos governos dos estados-membros. Sendo um conglomerado formado por dezenas de comissões anônimas e secretas, a UE é um paraíso para um burocrata. Pessoas extremamente poderosas permanecem praticamente anônimas, seguras para impingir seus infindáveis esquemas intervencionistas sem jamais temer qualquer punição dos eleitores. Praticamente ninguém é capaz de citar os nomes dos mais poderosos indivíduos da UE, seja dos cinco presidentes da UE ou de outros poderosos membros das organizações pertencentes à UE. Como bem disse um observador: "De que adiantaria eu saber quem eles são? Ninguém tem nenhum poder sobre eles. 45

Observa-se, por esta descrição, que a conformação da UE se assemelha

àquilo que foi descrito como o objetivo final do globalismo. Uma instância de

governança global técnica, com capacidade decisória localizada acima daquela

tradicionalmente exercida pelos estados-nação. A forma é a mesma, apenas o

alcance é menor. Em vez de exercer poder sobre o globo, a UE o faz apenas no

continente europeu.

A primeira nação do mundo a limitar o poder do seu soberano foi o Reino

Unido. Embora constitua uma monarquia até os dias atuais, foi neste país que surgiu

a ideia de limitar o poder estatal, na famosa Carta Magna. Seus conservadores, com

destaque para Edmund Burke, já adiantavam os perigos da queda da tradição e da

45 DOROBAT, Carmen Elena; McMAKEN, Ryan. O Reino Unido e sua eventual saída da União Europeia – quais implicações?. Mises Brasil, 2016, disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2442>. Acesso em 28 de setembro de 2019. .

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centralização do poder na mão de poucos em nome de ideais belamente adornados,

com destaque para as críticas de Burke à Revolução Francesa.46

De igual maneira, o problema das migrações, com o perigo da imigração

islâmica se adensando a cada dia, contribuiu para uma virada de opinião da

população inglesa. Ficava claro que as leis ditadas pela UE impediam que a vontade

popular britânica se fizesse valer, principalmente no tocante à resistência à essa

ocupação dos seguidores de Maomé. Flávio Morgenstern resume o porquê de o

povo inglês ser o pioneiro no combate ao globalismo:

A Carta Magna, o primeiro grande documento conservador do mundo, foi o que tornou a Inglaterra a monarquia mais respeitada do mundo, a um só tempo em que combina a ideia de representatividade popular de maneira muito mais avançada e funcional do que as democracias modernas: uma carta que limita o poder do rei, nunca permitindo que o monarca tenha mais poder do que o reconhecido pelo povo. A Comissão Europeia, por acaso, possui uma Carta Magna? Enquanto não possuir, os britânicos estão muito mais corretos do que Globo News, Guardian e CNN em preferirem ser súditos de Sua Majestade.(grifos nossos)47

Seguindo na ordem cronológica, outro país que vinha sendo conduzido por

ideais globalistas era os EUA. A administração democrata de Barack Obama dava

sinais claros deste intento. As reformas no sistema educacional, no sistema de

saúde pública, suas políticas de imigração, dentre outras medidas tomadas por sua

administração, embora camufladas de boas intenções, no sentido da justiça social,

nada mais eram que estágios preparatórios para avanços do globalismo.

Uma das características principais do governo democrata foi uma política de

comércio exterior que prejudicava a economia americana, além de uma diminuição

do poderio bélico da superpotência norte-americana. O crescimento chinês, o

tratado com o Irã e a instabilidade no Oriente Médio foram marcas da administração,

que causou, intencionalmente ou não, um enfraquecimento da nação mais poderosa

do mundo.

46 BURKE, Edmund. Reflexões Sobre a Revolução na França. Vide Editorial. 1.Ed, 2017.

47 MORGENSTERN, Flávio. Brexit: o que você deve saber e a Globo News não te conta. Senso Incomum, 2016. Disponível em: <https://sensoincomum.org/2016/06/25/brexit-globo-news-nao-conta/>. Acesso em 05 de junho de 2019. .

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Depois de vários anos observando a degradação deliberada da América48, o

povo americano, com destaque para aqueles que haviam perdido seus empregos

em nome da eficiência da mão-de-obra barata chinesa e para aqueles que

percebiam que as tradições que levaram os EUA ao posto de destaque entre os

países do mundo estavam sendo demolidas, elegeu um improvável candidato do

Partido Republicano: Donald J. Trump.

Embora não tenha sido noticiado propriamente pela imprensa nacional, o

grande sustentáculo da candidatura de Trump foi o combate ao globalismo e a

valorização das nações do mundo. Discursos de campanha, como o já elencado

neste trabalho, demonstram claramente esta vertente. O termo America First, e o

lema Make America Great Again, evidentemente, foram cunhados como plataforma

de uma valorização da nação americana, mas outras declarações demonstram que

o nacionalismo do atual presidente americano significa o respeito as nações do

mundo, com cada um valorizando a sua. Alguns trechos do discurso de posse do

presidente Trump pontuam o aspecto centralizador dos governos anteriores,

aspectos globalistas presentes em setores como a educação e o novo movimento

nacionalista que estava a surgir:

O que realmente importa não é qual partido controla nosso governo, mas se nosso governo é controlado pelo povo. [...] Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos. Todos estão ouvindo vocês agora. Vocês vieram aos milhões para se tornar parte de um movimento histórico, do tipo que o mundo nunca viu antes. Ao centro deste movimento está uma convicção crucial de que uma nação existe para servir aos seus cidadãos. [...] Mas, para muitos de nossos cidadãos, uma realidade diferente existe. Mães e crianças presas na pobreza das zonas carentes de nossas cidades, fábricas enferrujadas espalhadas como lápides pela paisagem de nosso país. Um sistema educacional cheio de dinheiro, mas que deixa nossos jovens e belos estudantes desprovidos de conhecimento. E o crime as gangues e as drogas que roubaram tantas vidas e roubaram tanto potencial não realizado de nosso país. [...] Vamos procurar amizade e boa vontade com as nações do mundo - mas vamos fazer isso com o entendimento de que é o direito de todas as nações colocar seus próprios interesses em primeiro lugar.

48 BOWERS, Curtis. Agenda: Grinding America Down-Legendado. Youtube, 2017.Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=qXwNtD3bHcM>. Acesso em 29 de setembro de 2019.

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Nós não buscamos impor nossa maneira de viver sobre ninguém, mas, em vez disso, deixar que ela brilhe como um exemplo a ser seguido.(grifos nossos)49

Outros discursos demonstram claramente a vertente soberanista do

presidente americano. O mais recente discurso do republicano, na 74ª Assembleia

Geral da ONU, é bastante direto e claro no combate ao globalismo:

A nossa era é uma de grandes desafios, grandes riscos e escolhas claras. A linha divisória essencial por todo mundo e ao longo da História é mais uma vez colocada à prova. É a divisão entre aqueles cuja a sede de poder os faz cair na fantasia de que estão destinados a mandar nos outros e aquelas pessoas e nações que querem apenas mandar em si mesmas. [...] Os americanos sabem que, num mundo onde outros procuram conquista e dominação, a nossa nação tem que ser forte em riqueza em poder e em espírito. É por isso que os EUA defendem vigorosamente as tradições e os costumes que nos fizeram aquilo que somos. Como o meu país amado, cada nação representada neste edifício tem uma história prezada, uma cultura e um legado que valem a pena defender e celebrar, o que confere a cada um o seu potencial e virtudes peculiares. O mundo livre deve abraçar seus alicerces nacionais não deve tentar apaga-los ou substituí-los. Olhando ao redor e por todo este planeta grande e maravilhoso, a verdade é simples e clara: se você quer liberdade, tenha orgulho de seu país; se quer democracia, agarre-se à sua soberania; e se que paz, ame a sua nação. Líderes sábios sempre colocam o bem de seu próprio e do seu próprio país povo primeiro lugar. O futuro não pertence aos globalistas, o futuro pertence aos patriotas. O futuro pertence a nações independentes e soberanas, que protegem seus cidadãos e respeitam seus vizinhos e honram as diferenças que tornam cada país especial e único. [...] Uma burocracia sem rosto opera em segredo e enfraquece o governo democrático. A mídia e as instituições acadêmicas promovem atentados descarados à nossa história, tradições e valores. [...] Os burocratas globais não têm direito algum em atacar a soberania de nações que desejam proteger a vida inocente. [...] Sob qualquer circunstância os EUA permitirá que entidades internacionais pisem nos direitos de nossos cidadãos, incluindo o direito à legítima defesa.(grifos nossos)50

No Brasil o movimento soberanista iniciou-se de forma difusa, talvez se

mantendo desta forma até hoje. É preciso, primeiramente, compreender que o país

vinha sendo governado por duas vertentes globalistas. O PSDB, na pessoa de

49 G1. Veja e leia a íntegra do discurso de posse de Donald Trump. 2017 disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/veja-integra-do-discurso-de-posse-de-donald-trump.ghtml>. Acesso em 28 de setembro de 2019. . 50 TRUMP, Donald J. Discurso legendado. In: "O futuro não pertence aos globalistas" - Discurso fantástico discurso de Trump na casa do inimigo. Youtube, 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mo8KfcMqAfI>. Acesso em 29 de setembro de 2019.

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Fernando Henrique Cardoso, estava mais alinhado com a vertente do Diálogo

Americano (DI), fortemente influenciado por personalidades da Comissão Trilateral,

entidade globalista liderada pela família Rockfeller e integrado por várias

personalidades de relevância mundial. Este convidou Luiz Inácio Lula da Silva, do

Partido dos Trabalhadores, para reuniões do Diálogo, o qual concordou com o

programa, entretanto não participou diretamente.51

A futura administração do Partido dos Trabalhadores, sob a liderança de Lula,

manteve-se ligada aos objetivos propostos pelo DI, entretanto, em conjunto com

Fidel Castro e, posteriormente, Hugo Chavéz, conduziram um programa paralelo,

lançado para alcançar os objetivos elencados na organização criada por Lula e

Castro, em 1990: O Foro de São Paulo. O objetivo principal era “fazer renascer o

socialismo revolucionário internacional a partir da América Latina”. 52

As primeiras reações ocorreram nas manifestações de 2013, que tiveram

motivações confusas. Iniciaram-se como um movimento contra o aumento de

passagens na cidade de São Paulo e passaram, posteriormente, a ser um

movimento contrário à ação da polícia paulista contra o movimento anterior. Neste

momento, os movimentos de esquerda tomaram as ruas.

No mesmo espaço, outras pessoas passaram a defender pautas não

programadas pelos progressistas, indo para as ruas de camisas amarelas, iniciando

movimentos contra o governo, de esquerda à época, liderado por Dilma Rousseff, do

Partido dos Trabalhadores (PT).

Paralelamente a isto, as manifestações em redes sociais aumentaram,

criando movimentos contrários às pautas do governo, solidificando interações entre

opositores da pauta progressista que antes não se conheciam. Mesmo assim, o

Partido dos Trabalhadores conseguiu reeleger sua candidata, em um pleito que foi

colocado sob suspeita.

Entretanto, todos os problemas reprimidos durante 12 anos de governo

começaram a causar impactos na economia, junto com todos os escândalos de

corrupção que vinham se arrastando desde a descoberta do Mensalão em 2005,

passando pelo Petrolão em 2014.

51 COUTINHO, Sérgio A. A. Cenas da Nova Ordem Mundial: uma visão do mundo como ele é. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 2010, pp. 96-103.

52 Ibid. pp. 142-146.

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A Operação Lava-Jato descortinou esse esquema de corrupção na Petrobrás,

com suas delações premiadas que indicavam não apenas um desvio de verbas, mas

sim uma continuidade de um plano de poder já apresentado desde o Mensalão.

Desta forma, autores conservadores que previram este plano – e foram

ridicularizados por causa disto – ganharam destaque. Principalmente devido às

denúncias sobre a articulação do Foro de São Paulo, por meio da disseminação nas

redes sociais, assunto desconsiderado pela mídia nacional.

Uma obra que ficou entre as mais vendidas por muito tempo é do ano de

2013: O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota53, de Olavo de

Carvalho, coletânea de textos do autor compilada por Felipe Moura Brasil, apresenta

contrapontos conservadores contra toda a hegemonia progressista trabalhada

durante anos no Brasil. Com as redes sociais, estes argumentos foram sendo

apresentados ao grande público, além de todas as obras e autores contrários ao

progressismo, apresentados por Carvalho neste livro.

Esta obra, além do que já foi citado, apresentava o globalismo de maneira

organizada. Um dos capítulos da coletânea de textos é exclusivamente sobre o

globalismo. Desta forma, um assunto que já tinha alguma expressão no exterior,

principalmente nos EUA e Inglaterra, começou a ser discutido no Brasil.

Paralelamente, os brasileiros, alarmados com o desvelamento da corrupção e

com os planos do Foro de São Paulo, procuraram exemplos e referências para se

contraporem ao domínio da pauta progressista/globalista. Os valores cultuados nas

Forças Armadas e sua eficiência nas missões recentes, com destaque para o

Exército, foi uma das referências neste sentido. Ocorreram até mesmo

manifestações no sentido de uma intervenção militar, logo rechaçada pelo próprio

Exército, mas compreendida pelo seu comandante como uma busca pelo resgate

dos valores que ainda se mantinham na Força Terrestre.

Todo este processo culminou com as maiores manifestações populares da

história do Brasil, que levou ao Impeachment da presidente Dilma Rousseff. O vice-

presidente Michel Temer assumiu o comando da nação, mas esta substituição não

foi suficiente para aplacar a vontade de mudança que existia no seio da nação.

Desta forma, na vertente eleitoral, encontraram um inexpressivo deputado

federal, que, no entanto, desde que assumiu seu primeiro mandato, no início da

53 CARVALHO, Olavo de. O Mínimo Que Você Precisa Para Saber Para Não Seu Um Idiota. 1. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2013.

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década de 90, vinha combatendo a pauta progressista e não havia se envolvido em

escândalos de corrupção. Sendo, além disso, citado por juízes e delatores de casos

de corrupção como um dos poucos a não se envolverem em escândalos, Jair

Messias Bolsonaro surgiu como um improvável candidato à presidência da

República.

Durante sua campanha, foi agregando elementos do liberalismo econômico,

pautas conservadoras e, em contato com Olavo de Carvalho e elementos ligados à

administração de Donald Trump, foi incorporando pautas referentes ao combate ao

globalismo. Aglutinando a maior parte dos movimentos contrários ao progressismo

do governo da época, venceu as eleições em 2018.

Não se pode afirmar que o eleitorado que, contra todas as previsões da

grande mídia, elegeu Bolsonaro Presidente da República tenha a noção exata das

forças globalistas que agiam e agem sobre o Brasil. Entretanto, sentia diariamente

seus efeitos e, mesmo sem identificar o agente causador, identificou no atual

mandatário do Brasil uma força que se contraporia àqueles mesmos efeitos.

A escolha do lado soberanista fica, porém, bastante clara, em especial

considerando-se a escolha de Ernesto Araújo como Ministro das Relações

Exteriores do governo. Seu discurso na posse ministerial, já transcrito, em parte,

neste trabalho, demonstra firmemente este intento antiglobalista por parte do

governo. Este confronto com as forças que perseguem uma governança global fica

ainda mais evidente em alguns trechos do recente discurso do Presidente Bolsonaro

na Organização da Nações Unidas, proferido em 24 de setembro de 2019:

Durante as últimas décadas, nos deixamos seduzir, sem perceber, por sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade, mas o poder absoluto. A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo identidade mais básica e elementar, a biológica. O politicamente correto passou a dominar o debate público para expulsar a racionalidade e substituí-la pela manipulação, pela repetição de clichês e pelas palavras de ordem. A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu. E, com esses métodos, essa ideologia sempre deixou um rastro de morte, ignorância e miséria por onde passou. [...] A ONU pode ajudar a derrotar o ambiente materialista e ideológico que compromete alguns princípios básicos da dignidade humana. Essa

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organização foi criada para promover a paz entre nações soberanas e o progresso social com liberdade, conforme o preâmbulo de sua Carta. [...] Todos os nossos instrumentos, nacionais e internacionais, devem estar direcionados, em última instância, para esse objetivo. Não estamos aqui para apagar nacionalidades e soberanias em nome de um “interesse global” abstrato. Esta não é a Organização do Interesse Global. É a Organização das Nações Unidas. Assim deve permanecer.54(grifos nossos)

Em todos os casos elencados – Brexit, eleições de Trump, nos EUA e

Bolsonaro, no Brasil – observa-se uma espécie de indignação dos grandes meios de

comunicação no tocante às suas vitórias. Ao que tudo indica, estes fenômenos não

estavam previstos nos planos de governança globais, dos quais a grande mídia é

um instrumento. Todos eles ocorreram apesar de todo um aparato midiático e

cultural contrário. As redes sociais propiciaram a difusão das Fake News, não há

como negar. Mas propiciaram, também, a difusão da verdade, sem filtros de jornais

e mídia culturalmente dominados. E a verdade defendeu-se a si mesma.

54 BOLSONARO, Jair. Discurso de abertura da 74a Assembleia Geral da ONU, 24 de setembro de 2019. Disponível em: <https://www.defesa.gov.br/noticias/61168-discurso-do-presidente-da-republica-jair-bolsonaro-na-abertura-da-74-assembleia>. Acesso em 30 de setembro de 2019.

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5 ESTRATÉGIAS GLOBALISTAS

PARET(2015), descreve a definição de Clausewitz sobre estratégia, tratando-

a como “o uso do combate, ou da ameaça do combate para a consecução do

objetivo da guerra em que ela é empregada”. Com efeito, a origem do termo

estratégia, surgido na Grécia, definia-se como a arte de comandar tropas em

combate, como o ardil da guerra, conduzido pelo strategicós, ou seja, o General.

Assim, o termo confundiu-se por muito tempo a uma arte relacionada à guerra

propriamente dita.

A definição evoluiu para outros campos com o passar do tempo, espraiando-

se para outras áreas da vida humana. O Ministério da Defesa do Brasil, no manual

MD 35-G-01 Glossário das Forças Armadas, descreve a estratégia como a “arte de

preparar e aplicar o poder para conquistar e preservar objetivos, superando óbices

de toda ordem”, significado do termo tal qual será entendido neste trabalho.

Desta forma, será analisada a forma de aplicação de poder para alcançar

objetivos globalistas e quais óbices estes tentam superar para alcança-los. É mister

relembrar, de forma reduzida e resumida, o objetivo principal do Globalismo, qual

seja, modificar as instâncias decisórias nacionais para instâncias supranacionais e,

no limite, para instâncias mundiais. Evidentemente, os óbices são identificados nos

movimentos, hábitos e culturas que afrontam essa ideologia, destacando-se os

Estados Nacionais e suas Forças Armadas, o Cristianismo e a cultura Ocidental.

Uma síntese da estratégia globalista encontra-se em uma passagem do livro

O Império Ecológico, de Pascal Bernadin, tratando sobre Antonio Gramsci. Observe

a coordenação entre as estratégias globalistas e suas interações para a consecução

dos objetivos globalistas:

A presente obra almeja mostrar que a revolução ecológica formará o esqueleto das revoluções ideológica, religiosa, ética e cultural veiculadas pela ditadura pedagógica. As ideias de Antonio Gramsci são portanto indispensáveis na compreensão do globalismo e da perestroika.55

Ou seja, não são estratégias estanques. A ecológica oferece o pretexto, a

pedagógica dissemina a ideia iniciada pela ecológica, aumentando seu escopo para

outras áreas. A cultural, alimentada pelas duas anteriores, serve como consolidação

55 BERNARDIN, Pascal. O Império Ecológico, ou A subversão da ecologia pelo globalismo. Campinas.Vide Editoral, 2015, p. 60.

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do objetivo, atuando na disseminação através de meios culturais, intelectuais e

midiáticos. Passaremos a detalhar cada uma delas a seguir.

5.1 O GLOBALISMO ECOLÓGICO

A Ecologia é a principal pauta do globalismo. É essa a opinião de Alexandre

Costa (2019), Filipe G. Martins (2018) e, evidentemente, Pascal Bernadin (2015). A

explicação desta preferência é bastante simples. O meio ambiente e as alegadas

mudanças climáticas causadas pelos impactos da ação humana não respeitam

fronteiras. Desta forma, alertas cataclísmicos demandam ações que ultrapassariam

as capacidades dos Estados Nacionais e até mesmo da junção de vários países. A

solução para os mesmos exigiria uma ação coordenada global. A Organização das

Nações Unidas, na Conferência de Estocolmo de 1972, deixa bem claro este

aspecto:

O meio ambiente não é compartimentável: é um sistema de inter-relações que se estende a todos os setores da sociedade. Toda ação sobre essas relações “verticais” supõe um conjunto de relações “horizontais” que nossas estruturas institucionais muitas vezes não são capazes de determinar Para progredir para um mundo de paz e prosperidade, é preciso necessariamente que as instituições internacionais evoluam e possam melhor gerar e planificar o impacto do homem sobre a Terra. Enfim, a natureza dos problemas de meio ambiente, a considerar sua complexa interdependência, impõe escolhas políticas. Não seria possível haver uma escolha clara nem ação eficaz, sem uma concessão no que diz respeito às estruturas de decisão em todos os níveis – local, nacional, internacional – a fim de assegurar que as políticas a serem implementadas sejam sempre o reflexo, não a vontade de um grupo – por mais poderoso que seja –, mas o interesse geral [e com o intuito de engajar toda a população] (grifos nossos) 56.

Antes de prosseguir com a análise, cumpre ressaltar que se apresentam, de

maneira evidente, duas vertentes possíveis para o problema ambiental e a maneira

como a ONU e outras instituições apresentam a solução para o mesmo: o perigo

climático e ambiental realmente é uma ameaça séria para a vida do planeta ou é

apenas um pretexto para a concentração das decisões em instâncias de nível

global.

56 Ibid. p. 354.

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Para analisar este cenário, é preciso verificar os argumentos e,

principalmente, as previsões feitas por estas mesmas instituições. Neste sentido, o

principal documento, elaborado pelo Clube de Roma, foi o relatório, transformado

em livro, Limites do Crescimento57, cujo teor inspirou a pauta da Conferência de

Estocolmo da ONU de 1972, de onde foram retiradas algumas citações acima.

Em resumo, o relatório previa consequências catastróficas causadas pelo

aumento desenfreado da produção industrial no planeta, que, aliado com o

esgotamento de recursos e o aumento da população, acarretaria em uma crise sem

solução, caso não se tomassem medidas urgentes para prevenir a catástrofe.

Obviamente, as soluções tendiam para a centralização de decisões em instâncias

globais.

É preciso dizer que esse tipo de retórica não é algo inédito. Thomas Malthus,

no século XIX, já previa um futuro catastrófico para a humanidade. O artigo O erro

de Malthus, publicada no Jornal de Negócios, de autoria de Luis Queiros, faz um

paralelo entre o malthusianismo e o Clube de Roma:

Afinal, o erro de Malthus foi o de não ter previsto que os recursos à disposição da Humanidade iriam crescer também de maneira exponencial, nos 180 anos que se seguiram. Mas isso nunca ele poderia ter previsto, porque esses recursos ainda não eram conhecidos. Tratava-se das imensas reservas de energia fóssil (carvão, petróleo e gás natural) que a natureza acumulou durante milhões de anos. Essas reservas (mais do que a tecnologia ou do que o aumento da produtividade!) têm permitido assegurar o crescimento exponencial dos recursos, exigido pelo crescimento da população, também ele exponencial. Curiosamente, em 1972, aparece um outro estudo, encomendado pelo Clube de Roma. Trata-se do famoso "Limites do Crescimento", da autoria de uma equipa de cientistas que usaram um modelo desenvolvido pelo professor Jay Forrester, do MIT. O estudo retoma as ideias do crescimento exponencial da população e do consumo dos recursos, e do seu conjecturável esgotamento. E volta a falar da iminência de uma catástrofe. Quase quarenta anos passados sobre essa publicação, de novo parece não se terem confirmado tais previsões. Porém alguns autores, mais pessimistas ou mais prudentes, aconselham a não tirar conclusões precipitadas. E o estudo continua a ocupar muitas páginas e a gerar muita discussão.58(grifos nossos)

57 MEDDOWS, Donella [et. al.]. Limites do Crescimento. Editora Perspectiva, 1973.

58 QUEIROS, Luis. O erro de Malthus. Jornal de Negócios, 13 de abril de 2009. Disponível em: <https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/o_erro_de_malthus>. Acesso em 2 de setembro de 2019.

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Walter Williams (2015), apresenta uma refutação à ideia de que a

concentração populacional seria causa de catástrofes e ainda apresenta outras

previsões que, igualmente, não se realizaram:

O principal problema, só para começar, é que não há absolutamente nenhuma relação entre um grande número populacional, desastres ambientais e pobreza. Os entusiastas das políticas de controle populacional devem considerar a República Democrática do Congo e suas míseras 29 pessoas por quilômetro quadrado como sendo o ideal ao passo que Hong Kong e suas 2.510 pessoas por quilômetro quadrado devem ser um pesadelo. No entanto, os cidadãos de Hong Kong usufruem uma renda per capita de US$ 52.000, ao passo que os cidadãos da República Democrática do Congo, um dos países mais pobres do mundo, sofrem com uma renda per capita de US$ 648. E isso não é uma anomalia. Alguns dos países mais pobres do mundo são aqueles que têm as menores densidades populacionais. [...] O professor Paul Ehrlich, biólogo da Universidade de Stanford, em seu best-seller de 1968, The Population Bomb [A Bomba Populacional] previu que haveria uma enorme escassez de comida nos EUA e que "já na década de 1970 ... centenas de milhões de pessoas irão morrer de fome neste país". Ehrlich previu que, entre 1980 e 1989, 65 milhões de americanos literalmente morreriam de fome, e que, até 1999, a população americana encolheria 22,6 milhões de habitantes. Sua previsão para a Inglaterra era ainda mais desesperadora: "Se eu fosse um apostador, apostaria uma quantia substancial de dinheiro que a Inglaterra deixará de existir até o ano 2000". No primeiro Dia da Terra, celebrado em 1970, Ehrlich alertou: "Dentro de dez anos, todas as mais importantes vidas animais nos oceanos estarão extintas. Grandes áreas costeiras terão de ser evacuadas por causa do fedor de peixe morto". Apesar de todo este notável currículo, Ehrlich continua até hoje sendo um dos favoritos da mídia e do mundo acadêmico.59 (grifos nossos)

Os erros de previsão não param por aí. O climatologista e professor da USP,

Ricardo Felício, tem alertado sobre a faceta geopolítica das alegadas mudanças

climáticas. Em sua apresentação no Senado Federal60, o mesmo apresenta dados

do próprio IPCC (Painel do Clima da ONU) que indicam que a tese da relação de

gás carbônico com o aumento da temperatura do planeta é extremamente fraca.

Afirma ainda que, basicamente, todas as previsões catastróficas dos últimos 60 anos

erraram.

59 WILLIAMS, Walter. O mito do superpovoamento e a obsessão do controle populacional,

Mises Brasil, 2015. Disponível em:< https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2060>. Acesso em 02 de setembro de 2019.

60 FELÍCIO, Ricardo. Prof Ricardo Felicio no Senado Federal – Mudanças climáticas e

aquecimento global – Parte 2, Youtube, 29 de maio de 2019. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=cJYn7qdyuy4>. Acesso em 02 de setembro de 2019.

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Arremata, ao final, que o motivo destes alertas é de caráter geopolítico,

visando diminuir o agronegócio, a industrialização e dar legitimidade ao bloqueio de

territórios soberanos para sua própria exploração, citando o exemplo do Brasil, cujo

território já possui cerca de 60% de reservas indígenas e outras reservas

ambientais. Carlos Henrique Rubens Tomé da Silva, consultor legislativo do Senado

Federal para as áreas de Meio-Ambiente e Ciência e Tecnologia, no Boletim

Legislativo nº 6, de 2011- Estocolmo’72, Rio de Janeiro’92 e Joanesburgo’02 : as

três grandes conferências ambientais internacionais, pontua a proposta apresentada

pelo Clube de Roma, corroborando com o aspecto geopolítico citado por Felício:

O relatório destaca a enorme desigualdade entre os países do Norte (que representam a minoria da população do planeta, consomem a maior parte dos recursos naturais e desfrutam de melhor qualidade de vida) e os do Sul (onde milhões de habitantes sofrem com carências básicas, como a escassez crônica de alimentos). Embora o Clube de Roma tenha sido financiado e tenha recebido apoio de industriais e banqueiros, enfatizou que a produção industrial e a exploração dos recursos naturais precisavam ser revistas e até estagnadas. O ponto principal da proposta foi a defesa do crescimento zero, o que impossibilitava o desenvolvimento dos países mais pobres. 61 (grifos nossos)

Outros pesquisadores, como Luiz Molion62, também têm apresentado

conclusões semelhantes às do professor Ricardo Felício. Embora seja clara a

divergência entre especialistas, a mídia vem apresentado matérias pontuando que o

consenso científico sobre o aquecimento global antropogênico seria de 97%63. Aqui

encontramos o ponto de convergência entre a estratégia ecológica e a estratégia de

instrumentalização dos intelectuais, que, como será visto mais a frente, tem o

objetivo de dar ares de confirmação às demais ações globalistas.

61 SILVA, Carlos Henrique. Boletim Legislativo nº 6, de 2011- Estocolmo’72, Rio de Janeiro’92 e

Joanesburgo’02 : as três grandes conferências ambientais internacionais, Senado Federal, 2011. Disponível em:<https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/boletins-legislativos/boletim-no-6-de-2011-estocolmo72-rio-de-janeiro92-e-joanesburgo02-as-tres-grandes-conferencias-ambientais-internacionais >. Acesso em 04 de setembro de 2019.

62 MOLION, Luiz. Prof Luiz Molion no Senado Federal – Mudanças climáticas e aquecimento

global – Parte 1, Youtube, 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eaWeJ4amaBw >. Acesso em 02 de setembro de 2019.

63 CALIXTO, Bruno. Para 97% dos cientistas aquecimento global é causado pela ação humana,

Época, 27 de outubro de 2016. Disponível em:<https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2013/06/para-97-dos-cientistas-aquecimento-global-e-causado-pela-acao-humana.html >. Acesso em 07 de outubro de 2019.

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Neste sentido, o documentário do Channel 4 britânico, The Great Global

Warming Swindle (A Grande Farsa do Aquecimento Global)64, com comentários de

diversos cientistas, mostra como a farsa do consenso foi montada pelo IPCC e como

o fundo político e geopolítico é que na verdade se impõe sobre os aspectos

científicos, indicando a existência de uma agenda de objetivos que em nada

coincidem com as pautas ecológicas. Entretanto, esta argumentação, contrária aos

alarmistas do aquecimento global, ganhou muito pouco espaço na mídia.

Desta forma, é lícito concluir que há fortes indícios de que a preocupação

ambiental se apresenta apenas como um pretexto para uma estratégia criada a

priori, portanto antes das conclusões apresentadas pelo Clube de Roma, trabalho

apoiado e aproveitado por metacapitalistas ocidentais.

A teoria geopolítica que nasceu influenciada nos trabalhos deste Clube – A

Teoria da Tríade – caracteriza-se pela formação de 3 blocos que dominariam

diversas partes do globo, com centros nos EUA, Europa e Japão, mas deixando

clara a liderança americana sobre os outros blocos. Em resumo: uma instância de

governo global coordenando outras instâncias de governos regionais de grande

escala.

Os condutores desta mudança geopolítica seriam os integrantes da Comissão

Trilateral, criada por David Rockfeller. Este, apoiado por Zbignew Brzezinsk,

Professor da Universidade de Colúmbia, objetivava controlar o sistema monetário

internacional. MAFRA (2006), descreve os objetivos no tocante, particularmente, ao

Brasil:

Entre outros, tinha por objetivo, no que se referia ao Brasil, o estudo de um sistema de pressões sobre o mesmo, relativo à liberação de ajuda, particularmente financeira, que somente seria prestada mediante diversas concessões, tais como:

-Redução do aparato militar. -Discussão para alteração da missão constitucional das Forças

Armadas. -Diminuição das exigências da burocracia e das empresas estatais. -Programa de privatização.

-Adesão às propostas “malthusianas” de redução da população.65

64 DURKIN, Martin. A Grande Farsa do Aquecimento Global / The Great Global Warming Swindle. Youtube, 17 Ago 2011. Disponível em :<https: //www.youtube.com/watch?v=tp vpiBiuki4>. Acesso em 04 de setembro de 2019. 65 MAFRA, Roberto. Geopolítica: Introdução ao Estudo. São Paulo: Sicureza, 2006

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Observe que uma Organização Não-Governamental (Clube de Roma), emite

um relatório com alarmismo climático devido a supostas alterações causadas pelo

homem no meio-ambiente e este cria pretextos para um dos metacapitalistas

ocidentais (Rockfeller) crie uma Comissão que, controlando o sistema monetário e,

portanto, a ajuda financeira a países em desenvolvimento, solapa as soberanias por

meio da exigência de concessões diversas para prestar o apoio.

A ligação entre grandes nomes da política com metacapitalistas, conforme já

explicado, materializa-se de forma bastante evidente na Comissão Trilateral.

MAFRA(2006), descreve a formação desta elite tecnocrata global:

Foram apresentados três blocos (Tríade), previstos inicialmente como base – os Estados Unidos da América, a Europa e o Japão – de onde eram originários os seus principais integrantes, representando a elite mais influente de vários países – banqueiros, industriais, cientistas, economistas, militares, políticos e outros – e que comporia o núcleo da Comissão Trilateral. Nesse núcleo, segundo alguns autores, estariam também, um ex-presidente, três secretários de Estado e um ex-Chefe do Estado-Maior Conjunto, todos dos Estados Unidos da América, bem como um francês, antigo Vice-Presidente da Assembleia Parlamentar da OTAN. 66 (grifos nossos)

Fica, com o exemplo da Trilateral, materializado o real objetivo do alarmismo

ambiental e climático: criar instâncias de governança global. Entretanto, é

necessário analisar o modo de atuação destas instâncias, no tocante à forma de

governança. Ou seja, qual seria a legitimidade destes poderes para aplicar esta

mesma governança.

Em geral, particularmente no Ocidente, a legitimidade dos poderes se apoia

na democracia. Entretanto, o sufrágio popular universal implica em um risco de não

obtenção do controle desejado das agendas que se pretende aplicar. De nada

adiantaria alcançar momentaneamente um poder global se este estivesse submetido

às veleidades da democracia. O status quo anterior certamente ressurgiria, assim

que a população percebesse os reais objetivos dos grupos de influência planetária.

Assim sendo é essencial denegrir o regime democrático como algo ineficaz.

Alexander King, do Clube de Roma, explicita este aspecto de maneira clara:

[os tecnocratas internacionais] são as eminências pardas de ‘diversos países. Suas existências permitem resolver o problema constitucional clássico: como conciliar o poder de uma indispensável, mas esotérica, elite

66 Ibid.

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de especialistas com os direitos dos homens e dos parlamentares no centro de um governo democrático’. Além disso, escapando das pressões políticas nacionais [quer dizer, não ter satisfação a dar aos eleitores], ele [o tecnocrata internacional] pode ser influente, [e] facilitar uma coordenação de diferentes políticos nacionais.67

O Clube de Roma deixa ainda mais claro a aversão à democracia:

A democracia não é panaceia. Ela não pode organizar tudo, e também não conhece os seus próprios limites. É preciso encarar os fatos, por mais sacrílega que esta injunção possa parecer. Tal como se pratica atualmente, a democracia não é a mais adequada para as tarefas que nos aguardam. A complexidade e a natureza técnica de muitos problemas de hoje nem sempre permitem aos representantes eleitos tomarem decisões apropriadas no momento certo. Entre os políticos no poder, poucos são suficientemente informados do caráter mundial dos problemas a resolver, e muito poucos, talvez nenhum, estão conscientes das interações desses problemas.68(grifos nossos)

A Comissão Trilateral acompanha novamente o Clube de Roma em um

relatório intitulado A crise da democracia. Relatório para a comissão Trilateral sobre

a governabilidade das democracias:

Al Smith certa vez disse que ‘o único remédio aos males da democracia é ainda mais democracia’. Nossa análise sugere que atualmente esse remédio serviria apenas como combustível jogado ao fogo. Ao contrário, certos problemas de governança dos Estados Unidos de hoje provêm de um excesso de democracia – ‘excesso de democracia’ tomado no mesmo sentido utilizado por David Donald para falar da revolução jacksoniana, a qual levou à Guerra de Secessão. O que precisamos é de um grau mais elevado de moderação da democracia. Na prática, esta moderação se manifesta em dois âmbitos. Em primeiro lugar, a democracia não é senão um dos métodos que permitem estabelecer uma autoridade, e não é necessariamente aplicável universalmente. Nos inúmeros âmbitos, o saber, a experiência e o talento podem prevalecer sobre a democracia na designação de uma autoridade [levando assim a uma ditadura tecnocrata]. [...] Os filósofos gregos sustentaram que a melhor constituição combinada diferentes formas de governo. [...] A democracia é mais perigosa por si mesma aos Estados Unidos do que na Europa e no Japão, onde ainda se existe uma herança residual de valores tradicionais e aristocráticos. [...] Temos constatado que há limites desejáveis ao crescimento econômico. Há também limites desejados à expansão ilimitada da democracia.69 (grifos nossos)

67 BERNARDIN, Pascal. O Império Ecológico, ou A subversão da ecologia pelo globalismo. Campinas.Vide Editoral, 2015, p. 373.

68 Ibid, p. 374. 69 Ibid.

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67

As ligações entre a Trilateral e o Clube de Roma, e o caráter ditatorial de

alcance universal ficam claros, em especial nas duas últimas frases da citação

acima. A conjunção de esforços para derrubar o caráter nacional e democrático

entre estas e outras instituições aparece de forma evidente nos seus relatórios e

trabalhos. Estas organizações iniciam o trabalho que vai ganhando legitimidade até

alcançar os mais altos organismos internacionais. O documento Tendências da

educação relativa ao meio ambiente, da UNESCO, do ano de 1977, demonstra, de

maneira inequívoca, o caráter globalista da revolução ecológica:

Muitos autores retornaram à questão para enfatizar que todas as discussões, bem como as declarações de intenção que se multiplicaram, especialmente no curso dos últimos cinco anos, não resultaram em nada, enquanto os valores ecológicos não tiveram o direito de serem citados junto às atividades tecnológicas, científicas, econômicas e políticas. O que ainda nos falta é um código de conduta, a ser usado por indivíduos e sociedades, que seja minuciosamente estabelecido sobre a base de critérios de uma nova ética de escala planetária. Nada de surpreendente no fato de ainda não termos atingido nossos objetivos pois a tarefa é imensa, e consiste em nada menos que a modificação de ideologias, das motivações, e, portanto, do modo de vida de quatro bilhões de seres humanos.70 (grifos nossos)

Não há como ser mais claro no objetivo globalista. Este estabelecimento do

“código de conduta” a ser estabelecido “sobre a base de critérios de uma nova ética

de escala planetária” dar-se-á pela vertente pedagógica do globalismo, assunto do

próximo subcapítulo, vertente da qual a UNESCO é um dos principais agentes.

Recentemente, o Brasil, em particular, sofreu os impactos do alcance

globalista da estratégia ecológica. Conforme já foi abordado anteriormente, o

governo brasileiro atual possui uma vertente soberanista, vertente esta que só

alcançou o poder devido à existência de uma democracia no país. De forma

distorcida, o que se observou foi uma orquestração criada pela mídia nacional e

internacional sobre as queimadas na Amazônia, e que estas teriam relação com a

política ambiental do governo, ameaçando a vida no Planeta Terra.

Uma análise nos dados sobre as queimadas nos últimos anos, no entanto,

demonstra que as mesmas se encontram abaixo da média histórica. Estes mesmos

dados, referentes a períodos anteriores, mostram anos com números bem maiores

70 Ibid, p.388.

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de focos de incêndio na região. Não houve, no entanto, nada semelhante à

campanha internacional contra o governo brasileiro à época71.

O auge da histeria sobre o assunto foi alcançado com as declarações do

presidente Francês Emanuelle Macron e a publicação do artigo Who Will Invade

Brazil to Save Amazon? (Quem Vai Invadir o Brasil para Salvar a Amazônia),

modificado para Who Will Save The Amazon (And How)?72, (Quem vai salvar a

Amazônia(e como)?), mantendo, entretanto, o texto original, cujo teor contém um

cenário hipotético de ultimato e invasão do Brasil, com direito a bombardeio em suas

estruturas estratégicas:

A data hipotética é 5 de agosto de 2025. O Brasil continua a ter um governo que defende ampliar as atividades econômicas na Amazônia e que questiona a utilidade da proteção ambiental. E, por isso, está prestes a ser atacado pelos Estados Unidos, que já não são mais governados por Donald Trump. O presidente americano dá um ultimato ao nosso país: se não cessar o "desmatamento destrutivo" em uma semana, os EUA iniciarão um bloqueio naval ao Brasil e lançarão ataques aéreos para destruir infraestrutura estratégica brasileira.73

Embora a ameaça à soberania do país se apresentasse de forma evidente,

observou-se muitas campanhas dentro do próprio Brasil contra o governo, como se

a gravidade da perda da independência nacional fosse menor que impactos

ambientais imaginados. A explicação é simples: o sistema educacional de alcance

global, já implementado pelo Brasil, apoiado por livros, filmes, notícias e artigos,

criam no imaginário popular essa histeria apocalíptica relativa ao meio-ambiente, a

ponto de se desejar até mesmo o fim da humanidade no intuito de salvá-lo.

Foi observado, portanto, dentro do próprio Brasil, recentemente, a conjunção

das três estratégias elencadas neste trabalho, sintetizadas no tema queimadas na

Amazônia: o globalismo ecológico, originando a discussão; o pedagógico formando

a base educacional da ética ambientalista; e o cultural, omitindo e manipulando

71 ULIANO, André Borges. Em qual ano o INPE registrou o maior número de focos de queimadas? Gazeta do Povo, 2019. Disponível em <https://www.gazetadopovo.com.br/instituto-politeia/inpe-queimadas/>. Acesso em 13 de outubro de 2019. 72 WALT, Stephen M. Who Will Save The Amazon (and How)? Foreign Policy, 05 de agosto de 2019. Disponível em < https://foreignpolicy.com/2019/08/05/who-will-invade-brazil-to-save-the-amazon/>. Acesso em 07 de outubro de 2019. 73 BBC (Brasil). Professor de Harvard considera cenário polêmico: ‘quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia’. BBC, 06 de agosto de 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-49253621>. Acesso em 07 de outubro de 2019

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dados, bem como imprimindo definitivamente no imaginário nacional esta mesma

ética.

5.2 O GLOBALISMO PEDAGÓGICO

Duas habilidades que a educação deve desenvolver no estudante são o senso das relações e proporções no mundo real e o senso das nuances e ambiguidades na linguagem. Daí a importância da matemática e das línguas em todo ensino. As duas estão estreitamente ligadas: sua articulação permite perceber as coisas com nitidez e verbalizá-las com exatidão. Não é preciso dizer que isso não serve só para os estudos e o trabalho, mas entra na constituição da personalidade, da consciência e dos valores pessoais.

Nem é preciso informar que esse efeito não se produz espontaneamente: sua conquista depende de uma luta interior. Conduzir a alma nessa luta é a mais alta finalidade da educação, que por isso mesmo recebe seu nome da raiz “ex ducere” = “conduzir para fora”: letras e números transportam a alma para além do seu horizonte imediato de sensações e reações, abrindo-lhe o acesso à dimensão da cultura, da História, do espírito.

Sem ter chegado até aí, ninguém está apto a participar utilmente de um debate público. Tão logo sai do círculo da sua prática corriqueira para opinar sobre questões maiores, a alma impropriamente educada está tão desguarnecida, tão fora do seu elemento, que em sua performance as funções da percepção e da linguagem se invertem.

Se a percepção normalmente serve para a orientação na realidade e a linguagem para a articulação e expressão das realidades percebidas, no homem mal instruído que se debate com questões elevadas a capacidade de aprender direto da percepção torna-se muito reduzida, e desenvolve-se em seu lugar o hábito de criar falsas impressões a partir da linguagem: ele reage às palavras por associações emocionais diretas, sem passar pela referência aos fatos percebidos. Daí uma atmosfera de falsa coerência, em que a simples coordenação de emoções dentro da psique funciona como substitutivo do senso de realidade: basta que a reação do indivíduo a uma ideia lhe seja habitual e familiar para que ele creia saber toda a verdade a respeito.(CARVALHO, 2000)

“Conduzir para fora” as potencialidades do ser humano, elevar seu espírito e

construir sua personalidade por meio do acesso à dimensão da História e de sua

cultura. O objetivo daquilo que chamamos de educação nos parece bastante

evidente quando colocado nos termos corretos. “Perceber as coisas com nitidez e

verbalizá-las com exatidão”. As funções da linguagem, matemática e outras matérias

básicas do meio educacional apresentam-se como a “caixa de ferramentas”

oferecidas para o ser humano para a construção de sua vida.

A educação, entretanto, precisa de uma metodologia, ou seja, de modelos

para transmitir o conhecimento necessário para alcançar os objetivos citados. Essa

metodologia pode ser resumida em escolher quais assuntos e matérias devem ser

ensinados e a maneira como serão transmitidos. A isto se chama pedagogia.

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Em termos práticos, podemos identificar, pelo menos no mundo ocidental, que

os primeiros esforços pedagógicos, no sentido de sistematizar a difusão da

educação com a máxima eficiência possível, ocorreu no seio da Igreja Católica. Em

especial na Idade Média, a criação da Escolástica e das primeiras universidades são

a materialização desse esforço74. Neste sentido, destacam-se os agrupamentos das

matérias básicas, que visavam atingir os objetivos educacionais acima citados. O

Trivium e o Quadrivium, sistematizavam, em duas fases, as habilidades básicas que

o ser humano deveria possuir para então ter acesso aos conhecimentos superiores,

que, no período, eram os assuntos teológicos.

Em relação ao Trivium, este era formado pelas matérias gramática, lógica e

retórica. Estes estudos ofereciam ao aluno o domínio do discurso, tornando-o capaz

não apenas de entender o que lhe fosse apresentado, mas também de expressar de

forma clara e distinta as conclusões a que chegasse. A lógica fazia com que

qualquer raciocínio que lhes fosse apresentado pudesse ser levado às últimas

consequências e testado em busca de erros e inconsistências. A retórica,

finalmente, tornava o estudante capaz de transmitir o seu conhecimento de forma

agradável e eficiente.75

O Quadrivium dava continuidade, no campo dos números, àquilo que o

Trivium havia oferecido no campo do discurso, com as matérias aritmética, música,

geometria e astronomia. Esses dois campos formam as chamadas Sete Artes

Liberais e encerram a educação básica do ser humano. Observa-se que o caminhar

por estas Sete Artes compreende exatamente a apreensão das “proporções no

mundo real e o senso das nuances e ambiguidades da linguagem”. Sem este passo,

qualquer ideia de senso crítico ou de debate e trocas de ideias cai no vazio. Sílvio

Medeiros afirma que se o Brasil dedicasse seu ensino nos sete anos do Trivium o

país seria uma potência educacional76. De fato, sem o domínio da linguagem é

74 WOODS, Thomas. A Igreja Católica – O Sistema Universitário (Episódio 05). Youtube, 12 de maio de 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=I6dIcJ2U9w0&list=PL6NFCzHi1sfI8a-wo_UVjY4okQkpwIexs&index=5>. Acesso em 15 de julho de 2019. 75 RAMALHETE, Carlos. A Escolástica e a Verdadeira Formação Intelectual. Homem Eterno, 04 de outubro de 2016. Disponível em: <http://homemeterno.com/2016/10/a-escolastica-e-a-verdadeira-formacao-intelectual/>. Acesso em 11 de julho de 2019. 76 MEDEIROS, Sílvio. Educação instrumentalizada: como as ideologias sequestraram o sistema escolar. Youtube, 28 de setembro de 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AXnF5RjeyJw>. Acesso em 11 de julho de 2019.

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impossível ao ser humano organizar minimamente seus pensamentos e avançar nos

estudos mais complexos.

Mais importante que o entendimento da educação como ferramenta para o

desenvolvimento, a aplicação correta da linguagem e do senso das proporções é

essencial para a liberdade humana. Essas técnicas, ao contrário do que se propaga,

oferecem ao homem a capacidade de apreender as coisas diretamente da realidade

e fazer com que as ideologias passem no campo das provas e contraprovas, por

meio do correto entendimento da lógica no fundo de cada uma delas. Para entidades

com planos de dominação, este tipo de pedagogia teria necessariamente que ser

abolida.

5.2.1 Maquiavel Pedagogo: a instrumentalização da educação pelos

Organismos Internacionais

Não há campo de batalha mais importante, na guerra ideológica, que a escola. A infância, a adolescência e a juventude são momentos cruciais numa estruturação mental fadada a acompanhar o indivíduo e desenhar sua relação com a realidade para o resto da vida. Logo, o aparato de construção e transmissão do saber é tradicionalmente alvo predileto de todo grupo com vocação a definir os destinos da sociedade. E não é de se estranhar a luta ferrenha travada por todos contra todos para ocupar a máquina educacional.77

A instrumentalização contemporânea da educação apresenta-se como o uso

de uma falsa pedagogia como forma de implementar uma ideologia. Desta vez, esta

é, claramente, o globalismo. Esta instrumentalização educacional é gerenciada pelas

entidades globais escolhidas para desempenharem o papel essencial na

implementação dessa nova ordem: as Organizações Internacionais

Intergovernamentais, em especial a UNESCO, a OCDE, o Conselho da Europa e a

Comissão de Bruxelas, entre outras:

Uma revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está em curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da Educação que, formados nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os departamentos de educação de

77 LAMBERT, Jean-Marie. A tragédia pedagógica da Base Nacional Curricular Comum. Jornal Opção, 04 de agosto de 2017. Disponível em: <https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/tragedia-pedagogica-da-base-nacional-curricular-comum-101490/>. Acesso em 25 de julho de 2019.

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diversas instituições internacionais: Unesco, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE. […] Essa revolução pedagógica visa impor uma “ética voltada para a criação de uma nova sociedade” e a estabelecer uma sociedade intercultural […] A partir de uma mudança de valores, de uma modificação das atitudes e dos comportamentos, bem como de uma manipulação da cultura, pretende-se levar a cabo a revolução psicológica e, ulteriormente, a revolução social.78

O autor verifica como finalidade desta revolução uma “sofisticada

reapresentação da ideologia comunista”. Entretanto, mais a frente, faz presente que

essa finalidade não exclui a hipótese globalista, muito pelo contrário, a reforça:

Além disso, reconhecer tais origens, admitir que nos encontramos face a uma temível manobra criptocomunista, não exclui, em absoluto, a hipótese globalista da convergência entre capitalismo e comunismo. Mais ainda, essa segunda hipótese supõe a presença de um forte elemento criptocomunista na sociedade posterior à desaparição da cortina de ferro.79

É licito relembrar as considerações feitas na introdução deste trabalho, em

especial na convergência entre os metacapitalistas e os meios de ação da

Revolução Cultural de cunho comunista. Esta ocorreu exatamente após “à

desaparição da cortina de ferro”, com a Perestroika. A finalidade seria o

desenvolvimento de sociedades de Estado forte a fim de estabilizar as fortunas

destes mesmos metacapitalistas. A “convergência entre capitalismo e comunismo”

descrita pelo autor é exatamente isto. O elemento criptocomunista é apenas parte da

estratégia do globalismo. Assim, será considerado que o objetivo é a implantação de

uma governança global de cunho estatista e regulatória, ou seja, a implantação da

ideologia globalista.

Nesse ínterim, as técnicas de manipulação psicológica estão no centro da

estratégia da reforma pedagógica. O autor as descreve no capitulo I da obra, com

destaque para o “conformismo”(pág. 18), “normas de grupo”, baseados na

experiência de Sherif (pág. 19), “pé na porta”(pág. 20) e “porta na cara” (pág. 22). No

entanto cabe aqui dar maior peso à “dissonância cognitiva”, que se utiliza das

anteriores para alcançar seus objetivos:

A teoria da dissonância cognitiva, elaborada em 1957 por Festinger, permite perceber o quanto nossos atos podem influenciar nossas atitudes, crenças,

78 BERNADIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo, ou ministério da reforma psicológica. Campinas.Vide Editoral, 2013, p. 09. 79 Ibid. p. 13.

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valores ou opiniões. Se é evidente que nossos atos, em medida mais ou menos vasta, são determinados por nossas opiniões, bem menos claro nos parece que o inverso seja verdadeiro, ou seja, que nossos atos possam modificar nossas opiniões. A importância dessa constatação leva-nos a destacá-la, para que, a partir dela, se tornem visíveis as razões profundas da reforma do sistema educacional mundial. Verificamos anteriormente que é possível induzir diversos comportamentos, apelando-se à autoridade, à tendência ao conformismo ou às técnicas do “pé na porta” ou da “porta na cara”. Os fundamentos que servem de base a esses atos induzidos repercutem em seguida sobre as opiniões do sujeito, modificando-as (dialética psicológica). Assim, encontramo-nos diante de um processo extremamente poderoso, que permite a modelagem do psiquismo humano e que, além disso, constitui a base das técnicas de lavagem cerebral. […] Em particular, se um indivíduo é levado a cometer publicamente (na sala de aula, por exemplo) ou frequentemente (ao longo do curso) um ato em contradição com seus valores, sua tendência será a de modificar tais valores, para diminuir a tensão que lhe oprime. Em outros termos, se um indivíduo foi aliciado a um certo tipo de comportamento , é muito provável que ele venha a racionalizá-lo. […]Dispõe-se, assim, de uma técnica extremamente poderosa e de fácil aplicação, que permite que se modifiquem os valores, as opiniões e os comportamentos e capacita a produzir uma interiorização dos valores que se pretende inculcar. Tais técnicas requerem a participação ativa do sujeito, que deve realizar atos aliciadores os quais, por sua vez, os levarão a outros, contrários às suas convicções. Tal é a justificação teórica tanto dos métodos pedagógicos ativos como das técnicas de lavagem cerebral (grifos do autor).80

Ao ler uma explicação alarmante sobre um tema de tamanha importância – a

educação – naturalmente se tem a tendência de duvidar que algo de tamanha

magnitude e maquiavelismo esteja, de fato, sendo aplicado. O autor, dessa forma,

lança mão de várias citações. Por exemplo, na WCEFA (Conferência mundial sobre

educação para todos), a Declaração mundial sobre a educação para todos opinava

que “os métodos ativos, fundados sobre a participação, são particularmente aptos a

garantir essa aquisição (de valores úteis)”.81

Outra técnica, que induz à dissonância cognitiva, pelos mesmos motivos

citados é a dramatização. Colocar um estudante em participação ativa em uma peça

onde pode assumir um papel contrário aos seus valores, evidentemente, vai causar

os efeitos já descritos no tocante à dissonância cognitiva. Observa-se, por meio do

trecho abaixo, da obra L'école et les cultures, da OCDE, do ano de 1989, que esta

técnica é incentivada por organismos internacionais:

Para que as experiências multiculturais dos alunos não sejam deixadas ao acaso dos encontros, pode-se mesmo simular, nas dramatizações, as quais se inspiram na dinâmica de grupo, o encontro de pessoas

80 Ibid. pp. 23-24. 81 Ibid. p. 24.

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pertencentes a culturas diversas. Já são propostas estratégicas de ensino e técnicas que oferecem aos alunos a possibilidade de explorar sistematicamente situações standart, de exercer metodicamente seu julgamento (o que permite descobrir como funcionam os mecanismos de julgamento) de clarificar valores que eles encontram ou descobrem e de colocar à prova os princípios das diversas crenças. Há quem sustente que essas técnicas podem ser introduzidas nas escolas, e que já é hora de fazê-lo; outros há que sustentam opinião contrária, condenando essa inflexão do ensino para um sentido subjetivista e quase terapêutico.(grifos do autos)82

A síntese dessa estratégia de manipulação disfarçada de técnica educacional

é a pedagogia centrada no aluno. Neste sentido, o sentimento de participação e o

envolvimento do educando são os meios mais adequados para mudanças de

atitudes e valores. Um trecho do International symposium and round table, Qualities

required of education today, da Unesco, deixa bem claro este objetivo:

A importância do envolvimento das ideias anteriores do aluno no processo educacional está agora em vias de ser tornar mais amplamente aceita. Ao invés de ser ignoradas, essas ideias são cada vez mais consideradas como recursos para o ensino. Além disso, o próprio ensino é concebido com o intuito de mudar as crenças do aluno e desenvolver modos alternativos de compreensão das situações. Além do reconhecimento da importância do envolvimento dos conhecimentos e crenças anteriores do aluno, essa nova perspectiva sobre o ensino insiste igualmente sobre a centralidade do aprendiz no processo de ensino. A maior parte dos ensinamentos, para serem assimilados, exigem indivíduos que tenham fortes motivações para aprender e que sejam ativamente envolvidos, física e/ou mentalmente, no tratamento de informações. Sob tais condições, os ensinamentos podem reorganizar as ideias dos alunos e agir sobre elas. [...]A experiência prova que, para ocorrer uma mudança, as crenças precisam ser reveladas e reconhecidas, e que as mudanças têm mais chances de se produzir quando as pessoas estão envolvidas nos programas de ação nos quais tarefas são empreendidas.(grifos nossos)83

A citação acima é quase um estudo de caso sobre como aplicar as técnicas

de dissonância cognitiva. Existem dezenas de outras citações sobre esse aspecto

sendo potencializado por organizações internacionais. O que se apresenta é o

modo de mudar atitudes dos alunos, o qual, claramente, é a aplicação de técnicas

de manipulação psicológica, não de ensino. Entretanto, ainda faltam a amplitude e

a direção da mudança.

82 Ibid. p. 29. 83 Ibid. p. 81-83.

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Sobre a amplitude, não há dúvidas que se trata de um projeto mundial. Um

trecho da Declaração mundial sobre a educação para todos (Unesco) apresenta de

forma basta evidente este objetivo:

A sociedade futura deve poder contar com seu sistema educacional para os inculcar (novos valores e atitudes), se quisermos encontrar soluções válidas para esses múltiplos problemas. Ao mesmo tempo, é necessário que compreendamos que esses problemas não são somente interdisciplinares, mas também internacionais e que eles não podem, portanto, ser resolvidos em nível nacional. […] O ponto mais importante é que deveria haver um currículo universal, internacional e padrão, estabelecido sob os auspícios das Nações Unidas. Em particular, esse currículo padrão deveria ser difundido a partir das séries de manuais internacionais padronizados e de um currículo internacional padrão ensinado pelos professores que receberam uma formação padronizada. […] Enquanto uma geração não tiver recebido os ensinamentos de um currículo internacional padrão, todos raciocinarão segundo os velhos esquemas mentais que, por fim, são fatais para a humanidade. Assim, desejamos receber a anuência voluntária dos diferentes parceiros da educação, famílias, organizações profissionais, associações religiosas e culturais, administrações e exército. Para o bem de todos, desejamos receber seu apoio na internacionalização e padronização da educação.(grifos nossos) 84

A gravidade da exposição acima é de tamanho equivalente à gravidade da

ignorância relativa ao tema. Isto é dito pois esse projeto já está sendo

implementado, em diversos lugares do mundo. Nos EUA, o nome que se dá à

padronização de currículos é Commom Core e no Brasil existe a Base Nacional

Comum Curricular. É notório verificar que os assuntos que estão adentrando os

ambientes escolares no mundo todo são os mesmos, causando os mesmos

movimentos culturais em regiões diferentes do globo. As pautas identitárias, das

minorias e de cunho progressista aparecem como matéria de ensino em diferentes

países. Jean-Marie Lambert, no texto A tragédia pedagógica da Base Nacional

Curricular Comum pontua de maneira precisa este fenômeno:

Em resumo, o substrato estratégico dos métodos de ensino – herdado do educador americano John Dewey e da doutrina behaviorista skinneriana – transforma a sala de aula em laboratório de psicologia. Trabalha a emoção, o afeto, a intuição e o reflexo em detrimento do intelecto. Por exposição sistemática a determinadas imagens e ideias, visa estimular atitudes e crenças em detrimento do raciocínio e do conhecimento. O objetivo, na realidade, é construir um modelo antropológico global. Uma espécie de “cidadão Coca-Cola”, idêntico nos Estados Unidos, na Índia, na França ou no Brasil e movido por um pacote único de relativismo

84 Ibid. p. 86.

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moral, feminismo radical, gayismo e materialismo filosófico com tonalidades perceptíveis de anti-ocidentalismo. No Brasil, o processo de internalização passou por vários textos normativos hoje aperfeiçoados e sintetizados na forma da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Tem equivalente nos Estados Unidos sob o nome de “Common Core”, é conhecido nos países francófonos como “Tronc Commun” e aparece em vários idiomas sob etiquetas distintas. Contrariamente à pretensão dos seus defensores, portanto, o documento não foi gestado nas entranhas da sociedade pátria. Nasceu antes no aparato ideológico estadunidense e europeu para subsequente irradiação a partir de um ponto único. (grifos nossos) 85

Os assuntos coincidentes nas diversas partes do mundo, levam à direção

que se está estabelecendo para este projeto mundial. Ou seja, para quais caminhos

a mudança de valores, produzida por manipulação psicológica, está sendo

conduzida. A autora da citação acima pontua o relativismo moral, feminismo radical,

e outras de cunho anti-ocidental. Na linguagem das organizações internacionais a

isto se chama ensino multicultural ou intercultural. O Documento de referência da

Conferência mundial sobre a educação para todos oferece a direção mundialista

desse intento:

Consciência mundial: a emergência da educação mundial e da educação para o desenvolvimento Presentemente, no norte como no sul, os educadores começam a reconhecer a necessidade de considerar a educação para o desenvolvimento numa perspectiva mais mundial. Os programas de educação para o desenvolvimento e de educação mundial contribuem para inculcar nos alunos uma atitude mundialista, ensinando-lhes principalmente a reconhecer e a evitar os preconceitos culturais e a encarar com tolerância as diferenças étnicas e nacionais. Esses programas se esforçam por vincular os grandes problemas às realidades de caráter mundial, principalmente as questões concernentes ao meio ambiente, à paz e à segurança, à dívida internacional, às medidas contra a pobreza, etc., em todos os conteúdos específicos da educação fundamental. 86

Essa citação revela vários aspectos do globalismo já tratados neste trabalho e

a serem tratados mais à frente. Em primeiro lugar relembra a questão do spillover

citado por Filipe G. Martins. Ou seja, “relacionar os grandes problemas às realidades

de caráter mundial” é reconhecer que esses problemas se espalharam para além

das fronteiras, tendo que, obrigatoriamente, serem abordados sob a perspectiva 85 LAMBERT, Jean-Marie. A tragédia pedagógica da Base Nacional Curricular Comum. Jornal Opção, 04 de agosto de 2017. Disponível em: <https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/tragedia-pedagogica-da-base-nacional-curricular-comum-101490/>. Acesso em 25 de julho de 2019. 86 BERNADIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo, ou ministério da reforma psicológica. Campinas.Vide Editoral, 2013, p. 70.

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global. Entre os vários assuntos, aparece, ainda que sem destaque, o meio

ambiente, pauta principal do globalismo, cujo objetivo é exatamente forçar a ideia do

spillover e gerar uma falsa necessidade de ação global. Tendo todos esses assuntos

como currículo obrigatório nas escolas desde o ensino fundamental, espera-se que

os futuros Intelectuais, que passarão por esses bancos escolares mundializados,

pautem suas ideias dentro deste escopo, causando uma Revolução Cultural, não

mais somente dentro da escola, mas por meio do jornalismo, da mídia e,

principalmente, das artes, show business e literatura, entrando no imaginário

popular. Isto, obviamente, gera um círculo vicioso, fazendo com que a ação dos

Intelectuais realimente a estratégia educacional, dando-lhe ares de confirmação.

Deste ponto em diante começa o que neste trabalho foi chamado de estratégia

cultural.

Olavo de Carvalho (2011) explica de maneira bastante clara como essa

estratégia educacional contribui com a queda das soberanias nacionais:

Você veja que a dissolução das soberanias nacionais faz parte deste programa da Nova Ordem Mundial, assim, cem por cento! Isso é item fundamental! Como é que você faz pra destruir as soberanias nacionais? Eu digo: é simples! Você começa por criar normas de educação que sejam aplicadas uniformemente em todo o mundo. Vocês sabem que o Brasil tem ministro da educação apenas pra uma coisa: ir até a sede da ONU e perguntar "qual é a receita, mestre?" O cara chega lá e o pessoal diz: "tá aqui. Adote isso aqui." Foi o que fez o Paulo Renato. O serviço dele consistiu nisso. E é assim no mundo inteiro. Se você for na Zâmbia, os parâmetros educacionais são os mesmos. E os parâmetros educacionais vêm todos com aquela conversa mole politicamente correta: "coitadinhos dos gays, coitadinhos das minorias, coitadinhos de não sei o quê." E você pensa que aderindo a isso você está indo contra o imperialismo e a Nova Ordem Mundial! Mas é ele (o imperialismo) que está pagando pra você dizer isso! Todas essas questões, gays, minorias, são irrelevantes. Todas elas. Só interessa a função que desempenham no conjunto. (...) O que importa é que deve haver um monte de movimentos sociais. Um monte! Quanto mais movimentos sociais, mais eles criam conexões, redes internacionais. Você crie, por exemplo, sei lá, a Associação em prol das Crianças Carentes de Cor Verde com Bolinhas. Então, imediatamente, aquilo será integrado na rede internacional criada pela ONU, vai circular verba pra esse movimento, e você criará lealdades internacionais que serão muito mais profundas do que qualquer lealdade nacional. Qualquer pessoa ligada a qualquer movimento social no mundo está, politicamente falando, com um vínculo muito mais forte com a rede internacional do que com o seu país. Então, imediatamente, acabam as soberanias. Você não precisa acabar com elas no papel. Porque a grande mudança social, cultural e política que está sendo implantada no mundo não é uma obra de improviso. (grifos nossos)87

87 CARVALHO, Olavo. O Brasil perante os conflitos da Nova Ordem Mundial (Palestra OAB/SP em 06 de agosto de 2004). Youtube, 2011. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DNGkOCi9Zi8&t=265s>. Acesso em 25 de junho de 2019.

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Em resumo, a instrumentalização contemporânea da educação tem como

agente as Organizações Intergovernamentais, financiadas pelos metacapitalistas,

como já citado neste trabalho. Estas utilizam-se de técnicas não-aversivas de

manipulação psicológica, disfarçadas de pedagogia educacional, para mudança de

atitudes e valores. Pretendem criar, por meio destas mudanças, uma nova moral a

nível internacional, através de padronização de currículos no mundo inteiro, sob os

“auspícios da Nações Unidas”. A nova moral é mundialista, procura abordar os

problemas sob perspectiva global e, sob o pretexto de combater preconceitos, adota

um ensino multicultural, colocando o aluno no centro do processo como meio de

facilitar a mudança de seus valores anteriores. O objetivo é causar uma revolução

cultural, mudando o mapa mental da humanidade inteira, como recurso preparatório

para a aceitação da governança ou, no limite, do governo global.

5.3 O GLOBALISMO E A REVOLUÇÃO CULTURAL

A estratégia cultural do globalismo abarca as vertentes da mudança cultural e

da instrumentalização dos intelectuais, visto que uma influencia e realimenta a outra.

De igual modo, a mudança e consequente revolução cultural está enquadrada como

um efeito da estratégia anterior – o globalismo pedagógico – e, também, a

realimenta.

O mais conhecido teórico da Revolução Cultural é Antônio Gramsci. O

revolucionário italiano foi prisioneiro do regime fascista de Mussolini, tendo escrito a

célebre obra Cadernos do Cárcere88, na qual desenha uma nova estratégia para

tomada do poder pelos comunistas. Olavo de Carvalho, em sua obra A Nova Era e a

Revolução Cultural, sintetiza de forma precisa os conceitos gramscistas:

Gramsci transformou a estratégia comunista, de um grosso amálgama de retórica e força bruta, numa delicada orquestração de influências sutis, penetrante como a Programação Neurolinguística e mais perigosa, a longo prazo, do que toda a artilharia do Exército Vermelho. Se Lênin foi o teórico do golpe de Estado, ele foi o estrategista da revolução psicológica que deve preceder e aplainar o caminho para o golpe de Estado.

88 GRAMSCI, Antônio. Cadernos do Cárcere. Civilização Brasileira, 1999.

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[...] Gramsci concebeu uma dessas ideias engenhosas, que só ocorrem aos homens de ação quando a impossibilidade de agir os compele as meditações profundas: amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista enquanto ainda vivendo num quadro externo capitalista. Assim, quando viesse o comunismo, as resistências possíveis já estariam neutralizadas de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com a maior naturalidade.89 (grifos nossos)

Essa revolução psicológica tem um método específico para ser empreendida.

Trata-se do conceito de hegemonia:

O poder é o domínio sobre o aparelho de Estado, sobre a administração, o exército e a polícia. A hegemonia é o domínio psicológico sobre a multidão. A revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente. Não é preciso dizer que o poder, fundado numa hegemonia prévia, é poder absoluto e incontestável: domina ao mesmo tempo pela força bruta e pelo consentimento popular – aquela forma profunda e irrevogável de consentimento que se assenta na força do hábito, principalmente dos automatismos mentais adquiridos que uma longa repetição torna inconscientes e coloca fora do alcance da discussão e da crítica.90(grifos nossos)

Fica bastante evidente a ligação deste conceito com aquilo que foi descrito no

subcapítulo anterior. O domínio psicológico, obviamente, será melhor empreendido

se iniciado desde a mais tenra idade, sob controle do Estado, ou seja, na escola.

Portanto, a estratégia anterior também é fruto das ideias de Antônio Gramsci. É por

meio da pedagogia instrumentalizada que nascem os “automatismos mentais

adquiridos que uma longa repetição torna inconscientes”. Ou seja, a estratégia

pedagógica é a preparação inicial para a conquista da hegemonia:

Gramsci está menos interessado em persuasão racional do que em influência psicológica, em agir sobre a imaginação e o sentimento. Daí sua ênfase na educação primária. Seja para formar os futuros “intelectuais orgânicos”, seja simplesmente para predispor o povo aos sentimentos desejados, é muito importante que a influência comunista atinja sua clientela quando seus cérebros ainda estão tenros e incapazes de resistência crítica.91(grifos nossos)

89 CARVALHO, Olavo. Nova Era e a Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci. 4. Ed. Campinas. Vide Editoral, 2014, p.57. 90 Ibid. 91 Ibid. p. 60.

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Apenas cabe ressaltar que os fins agora estão ampliados. O objetivo era a

implantação do comunismo. Agora é o globalismo, que absorve as estratégias

comunistas de tomada de poder em seu desenvolvimento. Também é preciso

relembrar a ascensão da estratégia da ação indireta, já descrita neste trabalho, em

cuja ação o gramscismo se enquadra como uma solução para continuar agindo,

mesmo quando as ações militares de grande vulto têm sido deixadas como uma

opção quase inviável devido ao poder atômico.

Dando continuidade, o papel dos intelectuais é analisado por Gramsci. Neste

sentido, Flávio Gordon (2017) pontua que o pensador italiano os classifica como

“organizadores” responsáveis pela reforma moral da sociedade. Divide, ainda, os

intelectuais entre tradicionais e orgânicos.

Cabe destacar o papel dos Intelectuais Orgânicos. Estes seriam aqueles que

teriam consciência de classe, ou seja, aqueles que direcionam seus esforços no

sentido de difundir e apresentar interpretações e versões do mundo conforme a

visão de sua classe, com o objetivo de alcançar a hegemonia.

No caso de Gramsci, ao tratar do Intelectual Orgânico, há uma ampliação do

termo Intelectual. Neste escopo, pode ser incluído todo um ramo de profissões e

áreas, como músicos, atores e outros elementos do show business. Desde que

sirvam para a conquista da hegemonia, mesmo tratando-se de pessoas sem o

menor grau de intelectualidade real, são assim considerados:

Ao fim e ao cabo, o intelectual orgânico define-se tão somente pela defesa e promoção dos interesses e valores de sua classe. Nesse sentido, o conceito gramsciano de “intelectual” passa a incluir indivíduos de diversas profissões e atividades, mesmo as mais distantes — por vezes, até mesmo opostas — da ideia ortodoxa de atividade intelectual. Um ator, um cineasta, um publicitário, um jornalista, um comediante, um roqueiro, um rapper, um cantor de axé, um agitador profissional, uma top model, uma drag queen, um apresentador de programa de auditório, um padre progressista… No esquema gramsciano, todos esses são intelectuais orgânicos em potencial, conquanto trabalhem, sabendo ou não disso, em favor da hegemonia comunista.92(grifos nossos)

Com essa evidente instrumentalização da suposta intelectualidade,

complementada com a cooptação dos intelectuais tradicionais, inicia-se a

modificação do senso comum. A escola, já instrumentalizada, cria novos valores e

atitudes. Os Intelectuais Orgânicos, na sequência, consolidam, em pessoas com

92 GORDON, Flávio. A Corrupção da Inteligência . 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2017, p. 64.

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valores já pré-programados, novos modos de sentir e pensar. Completa-se o ciclo,

com uma ação de massa. Por isso a ampliação do termo intelectual, antes restrito a

inteligências superiores, agora rebaixados a meros difusores populares de um senso

comum pré-concebido.

Não é preciso ter uma inteligência muito acima da média para saber que,

dentre a ocupação de espaços desenvolvida pelos Intelectuais Orgânicos, a tomada

dos meios de opinião pública é fundamental. Neste sentido, Flávio Gordon sintetiza

a forma como os condutores da opinião pública, já cooptados pelo novo senso

comum, criam sentimentos e impressões sem, necessariamente, faltar com a

verdade:

Como se obtém o poder de determinar a média da opinião pública? É simples. Basta que a classe falante cole naqueles que destoam de seus valores rótulos tais como “fanáticos”, “extremistas”, “ultrarreligiosos”, “reacionários” ou “polêmicos”, fazendo com que pareçam portar uma visão parcial e radical do mundo, alheia à racionalidade padrão da opinião pública. Assim, a excêntrica visão de mundo de uma casta social minoritária acaba fazendo as vezes da normalidade sadia, ao passo que os valores da maioria são ridicularizados e desprezados como aberrações patológicas, fruto de mentalidades pouco esclarecidas.93(grifos nossos)

Essa sistemática de marcação não se limita aos meios de mídia. Ela

transborda para outros ambientes, em especial em faculdades, corpos docentes de

escolas e universidades, dentre outras instâncias. O efeito evidente desta técnica é

aquilo que é conhecido como a espiral do silêncio. Mesmo fazendo parte da opinião

majoritária do país, por não saber disto, e por tomar por consenso aquilo que parece

ser o correto pela visão da mídia, o cidadão médio evita ou tem extrema discrição

em apresentar sua verdadeira opinião, por medo de ser ridicularizado:

Um componente essencial da espiral do silêncio é o natural temor humano de isolamento em relação ao aconchego da opinião média. Apresentar um ponto de vista, ou mesmo informação, que escape ao nível médio de conhecimento produz em quem o faz a curiosa sensação de ser um alienígena. Em festas, bares, casa de amigos, o sujeito que não opina conforme a média arrisca gerar constrangimentos e ser tratado com desconfiança. Com isso, opiniões ainda que numericamente majoritárias — mas incapazes de ocupar o “centro” da indústria de formação de opinião — vão pouco a pouco silenciando, recolhendo-se a meios de expressão privados e desconectados uns dos outros. O que antes talvez fizesse

93 Ibid. p. 51.

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parte da cultura geral passa agora a encerrar-se num gueto, numa subcultura.94(grifos nossos)

Assim completa-se o outro braço da hegemonia. Se por um lado é necessário

impor um relativismo moral, apresentando, desde a escola, uma nova escala de

valores e atitudes, por outro, é fundamental negar o acesso ao contraditório. Não há

incentivo, em Gramsci, na luta dialética entre os discursos comunistas e burgueses

ou tradicionais, a fim de provar que o primeiro é superior ao segundo. Isto seria

contraproducente. É mais seguro negar o acesso à argumentação contrária,

ridicularizando-a ou suprimindo-a de antemão. É neste sentido que o consenso,

mesmo artificial, é condição primordial para a hegemonia

Trata-se, portanto, de colocar as novas ideias nos seus devidos lugares, por

ação ou omissão, organizando uma cultura preexistente:

Cabia-lhes [aos intelectuais] a tarefa fundamental de organizar a cultura, ou seja, prepará-la para a chegada dos comunistas ao poder. O problema é que, para organizar uma cultura preexistente, era preciso antes desorganizá-la. Isso Gramsci não disse a ninguém. E seus herdeiros, tampouco, quiseram arcar com as consequências sociais daquela desorganização ativa e sistemática.95(grifos nossos)

A primeira fase da “desorganização” é a disseminação do relativismo moral.

Ou seja, derrubar a ideia de que haveria alguma hierarquia de valores entre várias

morais existentes. Apresentar a moral tradicional cristã como algo superior a

qualquer outra escala de valores é tratado como um retrocesso. O resultado do

relativismo moral é a extinção da própria moral, que, obviamente, vai causar um

rebaixamento ético e comportamental. Olavo de Carvalho (2015), sintetiza o

caminho da queda da moral até o rebaixamento completo de uma sociedade:

No homem sem maiores interesses morais, o conceito esvaziado não tem mais função, e será simplesmente esquecido. Mas, se esse homem for um letrado, ele não suportará ser o único a sentir como sente. Invariavelmente, criará argumentos para demonstrar que aquilo que ele não sente inexiste no mundo objetivo. Sua incapacidade para discernir o bem e o mal exceto como convenções vazias será usada como “prova” de que toda lei moral é uma convenção vazia, e a deformidade da sua psique será erigida em padrão de medida moral para toda a humanidade. Mas um homem não vive muito tempo em estado de abstinência moral. Após ter

94 Ibid. p. 53. 95 Ibid. p. 64.

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solapado as bases de todo critério moral objetivo, ele continuará a ter ódios e afeições, repugnâncias e desejos, que, na esfera intelectual, farão brotar outros tantos correspondentes juízos morais elaborados racionalmente. Não podendo suportar indefinidamente a insegurança de admitir que esses juízos são meras preferências subjetivas, não melhores ou piores do que quaisquer outras, ele cairá na tentação de argumentar a favor delas, de lhes dar uma expressão e fundamento intelectual; e, ao fazê-lo, criará um novo critério de moralidade, que não consistirá em outra coisa senão na ampliação universalizante dos gostos perversos de um indivíduo. A linguagem abstrata da filosofia moral terá se tornado uma arma a serviço de fins egoístas, de um ego inflado que remoldará o mundo à sua imagem e semelhança. As aspirações subjetivas dos indivíduos, porém, não são tão diferentes umas das outras, sobretudo na época de cultura de massas que padroniza os desejos da multidão, e por isto o filósofo moral improvisado logo terá o grato prazer de descobrir que suas ideias são compartilhadas por milhões de pessoas iguais a ele, muitas das quais já vinham produzindo, com os mesmos fins, outras tantas filosofias morais coincidentes. Aí ele encontrará o argumento decisivo a favor do seu sistema: o argumento do número. Seu sistema pessoal de racionalizações será enobrecido e investido de validade universal como expressão das “aspirações da nossa época”. Mas como os desejos da multidão, moldados pela cultura de massas, se condensam todos no triângulo áureo sexo-dinheiro-fama, as novas éticas nascidas do embotamento moral não consistirão em outra coisa senão num sistema de racionalizações que transformará esses três desejos em hipóstases de valores morais universais e em fundamentos máximos de toda conduta eticamente válida. Completa-se assim a inversão: as paixões mais baixas e vulgares ergueram-se ao estatuto de mandamentos divinos, cuja violação sujeita o homem a padecimentos interiores, quando não à execração pública ou a penalidades legais.96(grifos nossos)

A degradação completa de uma sociedade nacional, mesmo que não se

preste aos fins originais comunistas, previstos por Gramsci, interessam

sobremaneira ao globalismo. Países inteiros em crise aumentam a possibilidade e

probabilidade de intervenção dos organismos internacionais, além de reforçar o

discurso catastrófico destes mesmos organismos. Servem como um excelente

argumento em favor da queda da capacidade da governança nacional, justificando a

transferência para instâncias de governança global, objetivo final da ideologia

globalista. Alexandre Costa (2015), compartilha desta mesma ideia de que a crise

interessa a todo e qualquer movimento globalista:

Sejam comunistas, islâmicos ou bilionários, para implantar seus planos, não basta o poder sobre as instituições da nossa sociedade, é necessário destruir as instituições e o que estas simbolizam, é preciso inverter os valores e rebaixar a capacidade racional da maioria, corrompê-la com

96 CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições – de Epicuro à ressurreição de César: Ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil. 3. ed. Campinas: Vide Editorial, 2015, p. 84.

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esmolas e desmoralizá-la com vulgaridades. Só com uma civilização destruída se pode implantar outra. O próprio David Rockefeller diz que a Nova Ordem vai emergir do caos. Pior: diz ele ainda que para a população aceitar a Nova Ordem Mundial, falta apenas a crise certa.97(grifos nossos)

Não há dúvidas que esta queda de valores morais atingiu o Brasil, ainda que

não tenha degradado o país a ponto de ser necessária uma intervenção

internacional. É preciso identificar o momento em que isto ocorreu. Esta análise é

sobremaneira importante, porque servirá, analogicamente, para compreender o

papel do Exército no enfrentamento desta ameaça, e os erros de vitórias táticas e

operacionais que não se convertem em vitórias políticas.

A dominação cultural exercida pela esquerda, ou pelos “progressistas”, é um

resultado direto de uma estratégia cunhada por uma das grandes mentes da

intelectualidade militar e geopolítica brasileira: Golbery do Couto e Silva.

Paradoxalmente, foi durante o Governo Militar, quando se combateu mais

arduamente o ideário comunista, de armas na mão, que foi entregue o aparato

necessário para a conquista da hegemonia esquerdista no Brasil. Flávio Gordon cita

Roberto Schwarz98, confirmando o aumento da hegemonia de esquerda após o

movimento que levou os militares ao poder em 1964:

Entretanto, para surpresa de todos, a presença cultural da esquerda não foi liquidada naquela data, e mais, de lá para cá não parou de crescer. A sua produção é de qualidade notável nalguns campos, e é dominante. Apesar da ditadura da direita, há relativa hegemonia cultural da esquerda no país. Pode ser vista nas livrarias de São Paulo e Rio, cheias de marxismo, nas estreias teatrais, incrivelmente festivas e febris, às vezes ameaçadas de invasão policial, na movimentação estudantil ou nas proclamações do clero avançado. Em suma, nos santuários da cultura burguesa a esquerda dá o tom. Esta anomalia — que agora periclita, quando a ditadura decretou penas pesadíssimas para a propaganda do socialismo — é o traço mais visível do panorama cultural brasileiro entre 64 e 69.99(grifos do autor)

97 COSTA, Alexandre. Introdução à Nova Ordem Mundial . 1. Ed.Campinas: Vide Editorial, 2015. p.26. 98 SCHWARZ, Roberto. “Cultura e política, 1964-1969”. In: O pai de família e outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. 99 GORDON, Flávio. Op. Cit. p. 190.

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Gordon complementa o que foi afirmado por Schwartz, pontuando a

continuidade dessa hegemonia e sua expansão, aparentemente sem uma

resistência efetiva do governo da época:

A hegemonia cultural de esquerda continuou crescendo no período posterior àquele analisado pelo autor. Na década de 1970, aliás, foi que ela se tornou verdadeiramente establishment, quando representantes da arte engajada, egressos do Teatro de Arena e do Centro Popular de Cultura, ambos ligados ao PCB, passaram a dominar a cena artística nos então emergentes veículos de comunicação de massa. Esses artistas e intelectuais (gente como Dias Gomes, Janete Clair, Bráulio Pedroso, Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Pontes, Armando Costa, Lauro César Muniz, entre tantos outros) foram alguns dos responsáveis por consolidar a indústria cultural brasileira, fornecendo conteúdo dramatúrgico para o cinema e para as grandes redes de tevê surgidas à época, notadamente Tupi e Globo. Tal processo foi complementar à ocupação das redações por comunistas e filocomunistas, como vimos anteriormente, consolidando o predomínio de uma visão de mundo esquerdista nos dois principais pilares da comunicação de massa, o jornalismo e o entretenimento. 100(grifos nossos)

O que se observa é que o Governo Militar, desde o seu início, aparentemente,

não apresentou esforços efetivos no sentido de controlar a invasão dos espaços

culturais ocupados pela esquerda. A censura pode ser interpretada como uma

tentativa neste sentido, mas ocorreu sob uma perspectiva amadora, e não cumpriu

esta finalidade (GORDON, 2017).

Entretanto, o aumento das guerrilhas, particularmente no ano de 1968, gerou

a chamada estratégia da panela de pressão, cunhada pelo já citado Golbery do

Couto e Silva. Em entrevista à revista Veja, em 2011, Olavo de Carvalho descreve

este fenômeno:

O governo militar se ocupou de combater a guerrilha, mas não de combater o comunismo na esfera cultural, social e moral. Havia a famosa teoria da panela de pressão, do general Golbery do Couto e Silva. Ele dizia: “Não podemos tampar todos os buraquinhos e fazer pressão, porque senão ela estoura”. A válvula que eles deixaram para a esquerda foram as universidades e o aparato cultural. Na mesma época, uma parte da esquerda foi para a guerrilha, mas a maior parte dela se encaixou no esquema pregado por Antonio Gramsci, que é a revolução cultural, a penetração lenta e gradual em todas as instituições de cultura, mídia etc. Foi a facção que acabou tirando vantagem de tudo isso – até da derrota, porque a derrota lhes deu uma plêiade de mártires. 101(grifos nossos)

100 Ibid. 101 CASTRO, Gabriel. Olavo de Carvalho: esquerda ocupou vácuo pós-ditadura. Veja, 3 de abril de 2011. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/brasil/olavo-de-carvalho-esquerda-ocupou-vacuo-pos-ditadura/>. Acesso em 13 de outubro de 2019.

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O general Agnaldo Del Nero Augusto, em sua obra A Grande Mentira, detalha

esse antagonismo existente entra a esquerda revolucionária brasileira, dividida entre

a estratégia da luta armada e a estratégia gramscista. Os primeiros, adeptos da luta

armada, foram chamados pelo autor de “os de gatilho” e os demais foram batizados

de “os de pena”, adeptos da revolução pela via intelectual. Neste livro é apresentada

a vitória militar incontestável contra a guerrilha, mas, também, todo o processo de

formação da intelectualidade brasileira que, atuando desde dentro do Brasil e no

exterior, por meio de uma organização chamada Frente Brasileira de Informações,

forjou, em particular após a anistia de 1979, toda a posterior hegemonia cultural que

proporcionou a chegada do poder das vertentes progressistas no Brasil102.

Pode-se afirmar, portanto, que este suposto antagonismo, na verdade,

apresentou-se como uma estratégia de complementariedade, e não como uma

rivalidade entre duas vertentes que se negavam. A alta cúpula política e militar

decidiu resolver o problema de forma imediata, sem a visão holística e de longo

prazo que seria necessária para consolidar a vitória militar, transformando-a em

vitória política. A escolha golberiana, de entregar o espaço cultural para os

comunistas, certamente pode ter esvaziado a guerrilha, facilitando sua derrota. Mas

a falta de análise prospectiva transformou a vitória militar, a posteriori, em uma

acachapante derrota política.

Nos anos que se seguiram, toda a narrativa construída por décadas de ação

cultural tornou-se hegemônica. O próprio governo militar tinha isolado os líderes

conservadores e liberais durante o regime. Após a passagem do poder para os civis,

a única força política e cultural restante era a esquerda, consolidada, particularmente

no Partido dos Trabalhadores (PT).

Filhos que eram de uma ideologia internacionalista, após anos de luta cultural,

assumiram o poder pelas vias democráticas, priorizando suas alianças externas,

materializadas no Foro de São Paulo. Durante os 13 anos de governo, deram

continuidade à luta pela hegemonia cultural. Os financiamentos de filmes

ideologicamente alinhados, as mudanças ainda mais profundas na educação, em

particular no ensino fundamental, a hegemonia na mídia, são exemplos desta ação,

102 AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. A Grande Mentira. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 2001.

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que só foi detida pelo advento da Internet, pela ação de alguns intelectuais

conservadores brasileiros e instituições como o Exército e as igrejas cristãs.

O resultado final foi uma crise no país, aumento desenfreado da violência,

descalabro econômico e corrupção sem precedentes. Entretanto, a crise e o

desvelamento evidente da corrupção mostraram a força da hegemonia conquistada

na área cultural: mesmo com todas as evidências, o PT levou seu candidato ao

segundo turno das eleições, com quase 30% dos votos. Sem essa conquista,

construída por muitas décadas, certamente o partido e toda sua ideologia seria

jogada no esquecimento, ainda mais quando um país vizinho, a Venezuela, que

comungava da mesma doutrina, chegou a um estado de deterioração que o coloca

próximo a uma situação de estado falido.

Em resumo, foram apresentados os aspectos fundamentais que caracterizam

o processo para se criar uma Revolução Cultural e como esta se deu no Brasil.

Também foi demonstrado como uma visão restrita ao campo militar,

desconsiderando os aspectos culturais, quase levou, a longo prazo, à destruição da

identidade nacional e do Brasil como país soberano. O estudo crítico desta fase da

História do Brasil certamente cria reflexos na definição do papel das Forças

Armadas, em particular do Exército. É isto que será tratado, na sequência.

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6 O PAPEL DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Conforme já foi abordado, de maneira bastante evidente, o papel do Exército

Brasileiro está consubstanciado na sua destinação constitucional, prevista no caput

do artigo 142 da CF/88. A Defesa da Pátria e a Garantia da Lei e da Ordem,

subordinada à inciativa dos poderes constitucionais, são as destinações nominais

das Forças Armadas, onde enquadra-se a Força Terrestre.

A simplicidade aparente desta missão prevista na Carta Magna brasileira é

logo desmontada por uma simples pergunta: no que consiste a Defesa da Pátria?

Como já foi tratado na introdução, o conceito de Pátria abarca todos os aspectos dos

conceitos de Estado, Nação e País, voltando-se de maneira mais evidente para

aquilo que é reconhecido como identidade nacional, conduzindo aos aspectos

histórico-culturais que determinam a individualidade e diferenciação do Brasil em

relação às demais nações do mundo.

Evidentemente, a defesa física de nossas fronteiras contra os ataques diretos

de nações estrangeiras é a finalidade precípua do Exército e demais Forças

singulares, e isto jamais deve ser esquecido ou relegado ao segundo plano. É para

isso que ele existe, por isso tem fuzis, carros de combate, obuses, doutrina,

técnicas, táticas e procedimentos. Quanto mais profissional neste aspecto a Força

Terrestre for, mais estará apta a fazer frente às agressões armadas. Entretanto, as

conjunturas necessárias para possuir uma força em condições de enfrentar as

ameaças desta natureza são extremamente complexas. Ignorar perigos à Defesa

Nacional que não envolvam ações militares diretas, argumentando que não estão no

escopo da destinação do Exército é abandonar a Pátria à própria sorte. Para

homens que juraram defendê-la com o sacrifício da própria vida, isto é inaceitável.

A missão do Exército é vencer, não é lutar, isto deve ficar claro. Aliás, este

ensinamento não é nenhuma novidade. Sun Tzu, há mais de dois mil anos, já

ensinava que a mais alta Arte da Guerra é vencer sem lutar. Consequentemente,

além de fazer frente a quem possa estar ameaçando fisicamente a nação, deve-se,

com efeito, identificar aqueles que querem vencê-la sem lutar. E fazer frente a essa

ameaça com quaisquer meios que forem necessários.

O conceito mesmo de vitória é bastante fugaz. Os mais poderosos exércitos

do mundo experimentaram derrotas em guerras nas quais venceram todas ou quase

todas as batalhas, inclusive aquelas consideradas decisivas. As ações dos EUA no

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Vietnã e Iraque, bem como as da URSS no Afeganistão são exemplos deste

aspecto. Esta característica da aplicação e da utilidade da força, demonstra o acerto

de Clausewitz, quando analisava a subordinação política da guerra. Uma passagem

de sua obra-prima Da Guerra sintetiza os perigos de não saber o que se pode obter

com o emprego de uma força armada:

O primeiro, o mais importante, o ato de apreciação mais decisivo de um homem de Estado ou um comandante-chefe executa, consiste na apreciação correta do tipo de guerra que leva a efeito, a fim de não a tomar por aquilo que ela não é e não querer fazer dela aquilo que a natureza das circunstâncias lhe impede que seja.103

Neste ponto, cabe ressaltar que empregar uma força armada, neste caso o

Exército Brasileiro, não significa apenas colocá-la em ação em uma guerra. Esse é,

particularmente, o caso do Brasil, visto que não há no horizonte visível uma

probabilidade de conflito armado imediato contra o país. Neste sentido, o Sistema de

Planejamento do Exército – SIPLEX/2017, em sua Fase IV – Concepção Estratégica

do Exército, elenca como prioridades, dentre as Estratégias de Emprego, a

Dissuasão e a Presença.

A Dissuasão, descrita como uma demonstração “aos possíveis agressores,

que a resposta será de tal forma violenta e efetiva, que sua vitória será muito

improvável” envolve o desenvolvimento e a manutenção de uma Força Terrestre

altamente adestrada, com eficiência logística e equipamentos adequados para fazer

valer tal dissuasão. Exemplos, como o dos EUA, podem indicar que a concentração

de unidades e tropas em bases, em um menor número de cidades, aumentaria a

eficiência e a operacionalidade do Exército, contribuindo para a dissuasão. Portanto,

um assessoramento poderia ser apresentado neste sentido.

Neste ponto, observa-se que a citação de Clausewitz se aplica. É preciso

apreciar corretamente o tipo de guerra que está sendo conduzida contra a nação. É

preciso identificar a ameaça e fazer frente a ela. Jamais tomar por “aquilo que ela

não é e que a natureza das circunstâncias impede que seja”.

A verdade é que a natureza das circunstâncias impede que a Força Terrestre

alcance a dissuasão no nível que deseja e na necessidade real de um país das

dimensões e riquezas do Brasil. Os óbices econômicos, em primeira instância,

103 CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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aparecem como um evidente gargalo para a operacionalidade, que poderiam ser

minimizados por uma concentração de unidades, como já citado. Entretanto, a

questão psicossocial, expressão do poder nacional por muitas vezes esquecida,

entra em cena como um dos centros de gravidade para alcançar o nível de Defesa

que o Brasil necessita.

De forma evidente, não se faz um juízo contrário à Estratégia de Dissuasão e

a correção de elencá-la como prioridade. Apenas será apresentado que esta deve

ser alcançada por meio de ações sucessivas, na qual a Estratégia da Presença é um

importante passo. Neste sentido, a Concepção Estratégica do Exército apresenta os

dois aspectos fundamentais da Estratégia da Presença:

- o primeiro, direcionado à expressão militar, no qual a presença militar, no território nacional, tem por finalidade cumprir a destinação constitucional, sendo efetivada pela criteriosa articulação das organizações militares no território nacional e pela capacidade de rápido deslocamento de tropas para qualquer região do País, caracterizando a mobilidade estratégica. -no segundo aspecto, direcionado às expressões psicossocial e política, baseia-se no desenvolvimento da mentalidade de defesa e pela integração da expressão militar à sociedade. As Estratégias da Dissuasão e da Presença estão intimamente ligadas, ou seja, o sucesso de uma contribui para o sucesso da outra. 104(grifos nossos).

O que não fica claro neste documento é a prioridade das prioridades. Quando

a Presença de algum modo dificultar a Dissuasão, ou esta última criar óbices para a

primeira, qual deve ser escolhida. A concentração de unidades em bases, para

aumentar a operacionalidade e eficiência da Força Terrestre, é um exemplo desta

dicotomia. Este aspecto, de fato, poderia contribuir significativamente para a

Dissuasão, mas traria impactos severos para a Presença, mesmo considerando-se

um incremento na mobilidade estratégica.

O desenvolvimento da mentalidade de defesa e a integração da expressão

militar à sociedade. Estes são os pontos capitais que elevam a Estratégia de

Presença à condição de prioridade. Analisando-se a conjuntura nacional, toma-se a

guerra por aquilo que ela é. A guerra é ideológica e cultural e, para piorar a situação,

o aspecto cultural não exclui de maneira alguma a ocorrência, mesmo a curto prazo,

de um conflito com características convencionais. A crise na Venezuela é um

exemplo claro. É preciso atuar nas duas frentes. 104 BRASIL. Ministério da Defesa. Sistema de Planejamento do Exército - SIPLEx/2017 – Fase IV: Concepção Estratégica do Exército. Brasília, 2017.

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Sobre a Presença, de algum modo, seu sucesso, ou impressão de sucesso,

é mensurável. Essa medida é dada pelas pesquisas de opinião relativas aos níveis

de confiabilidade das instituições, onde as Forças Armadas aparecem

constantemente nas primeiras colocações. É importante ressaltar a impressão de

sucesso, porque o objetivo da Estratégia da Presença não é somente fazer com que

o povo confie em seu Exército, mas, principalmente, que desenvolva mentalidade de

defesa, que, no limite, vai proporcionar a dissuasão necessária. Evidentemente, a

confiança e aceitação é o primeiro passo, mas as ações de presença, em geral

consubstanciadas na vertente “mão amiga” da Força (Operação Pipa, combate a

epidemias, etc) ou em Operações de Garantia da Lei e da Ordem, não são

suficientes para alcançar os objetivos finais da citada estratégia.

Sobre esse aspecto, é mister observar, na mesma Concepção Estratégica do

Exército, a articulação da Força Terrestre:

A articulação, que de forma abrangente diz respeito à localização das Organizações Militares (OM) do Comando do Exército no território nacional, é condicionada pela evolução histórica do Brasil, por questões econômicas e pela importância da Estratégia da Presença de organizações militares em todos os rincões em um país com dimensões continentais. 105 (grifos do autor)

De fato, o Exército está presente em todos os rincões, com mais de 600

Organizações Militares espalhadas pelo país, entre unidades operacionais, tiros de

guerra, unidades de apoio e ensino. Neste sentido, é importante ressaltar que, além

de unidades militares essas organizações são também escolas de civismo. Em cada

Organização Militar, além de sua destinação principal, sempre há soldados sendo

formados e qualificados, e, neste ínterim, aprendendo sobre os valores militares, e, o

mais importante, sobre os valores nacionais.

A importância dos conteúdos atitudinais e dos valores não pode ser relegada

para segundo plano devido as necessidades da instrução militar, voltada para

técnicas, táticas e procedimentos. Novamente, é preciso atuar nas duas frentes, e o

equilíbrio correto entre a necessidade de instrução militar e o desenvolvimento dos

valores e atitudes é o segredo do sucesso do Exército em sua missão de defender a

Pátria contra toda e qualquer ameaça. De forma alguma a Força Terrestre pode

105 Ibid.

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perder a oportunidade de influenciar culturalmente a nação, aproveitando-se da já

conquistada presença e articulação nacionais.

Neste sentido, o Plano Estratégico do Exército, descrito no Boletim Especial

do Exército Nr 6, de 12 de dezembro de 2017, elenca alguns objetivos estratégicos

que têm essa direção. O objetivo 14.3.1 – “ Implementar ações para transformar o

Exército em uma “Escola de Líderes”, inclusive para a nação”, sintetiza o que foi

apresentado anteriormente.106

A efetivação da Força Terrestre como Escola de Líderes é fundamental para

contribuir decisivamente com a efetiva participação da nação no tocante à

mentalidade de defesa. Somando-se a articulação e o profissionalismo da instrução

militar, com o desenvolvimento de valores e atitudes gestado em pessoas que, fruto

dos ensinamentos sobre liderança, têm condições de reproduzi-los no ambiente civil,

o resultado esperado é uma sociedade menos receptiva às mudanças culturais

nocivas e mais propensa a entender e aceitar as necessidades de defesa da nação.

Essa é a base sólida para criar as condições para o desenvolvimento das indústrias

de defesa, aumentos orçamentários e outros aspectos que, enfim, irão gerar as

condições para a dissuasão necessária.

Desta forma, pode-se afirmar que a manutenção da articulação e da

Estratégia de Presença como forma da divulgação dos valores, ainda que no bojo da

instrução militar, é a forma que o Exército encontrou de manter-se preparado para

enfrentar tanto a ameaça “convencional” como as ameaças difusas ou culturais.

Se a guerra é cultural, o Departamento de Educação e Cultura do Exército

(DECEx), evidentemente, apresenta-se como uma ferramenta para influenciar neste

sentido. De igual maneira, as Escolas de Formação e os Colégios Militares são

escolas de civismo, e a difusão dos valores nos estabelecimentos subordinados ao

citado Departamento é, certamente, um dos seus principais objetivos.

Neste sentido, o papel do DECEx cresce ainda mais de importância, pois,

além de repassar os citados valores, seus estabelecimentos formam os líderes,

militares e civis, que serão essenciais na difusão dos mesmos. O sucesso e o

reconhecimento de suas escolas, academias e institutos são materializados em

rankings de escolas públicas e notas em testes nacionais e internacionais. O mérito

106 BRASIL. Ministério da Defesa. Boletim Especial do Exército Nr 06/2017. Brasília, 12 de setembro de 2017. .

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deste feito pode ser creditado a seu método peculiar de ensino, cuja modernização

deve ser conduzida com extremo cuidado.

As evoluções tecnológicas e as necessidades de acompanhamento da

conjuntura são indutoras de modernizações e atualizações, portanto, iniciativas

desta natureza são muito bem-vindas. Entretanto, alguns aspectos do ensino,

principalmente no tocante à atualização curricular, podem gerar mudanças de

orientação que impactam sobremaneira na sociedade. Os trechos abaixo do artigo

Colégios Militares praticam o pensamento único, de Tião Torres, publicado no site

Esquerda Online, exemplifica o objetivo de mudança curricular:

Admitindo a existência de instruções específicas sobre as ciências militares, que devem seguir sobre responsabilidade direta das Forças Armadas, fica uma questão: porque os currículos das outras áreas de ensino, sobretudo da área de Humanas, não se subordinam as normais gerais do Ministério da Educação? Porque são as Forças Armadas que devem elaborar o que os alunos destas instituições devem aprender sobre, por exemplo, a História do Brasil? Ao invés de aprovar o projeto escola sem partido, que atenta arbitrariamente contra a livre atividade dos professores nas nossas escolas e universidades, o Congresso Nacional deveria aprovar uma imediata revisão dos currículos do ensino militar brasileiro. Aliás, como fizeram vários países latino-americanos, que passaram por períodos de ditaduras militares, como a Argentina, por exemplo. 107(grifos nossos)

Neste mesmo artigo, prossegue com uma citação do ex-Capitão Ivan

Cavalcanti Proença:

Efetivamente, sem prejuízo, é claro, da formação específica militar, deve haver uma subordinação quanto ao currículo alheio às práticas e teorias desse universo militar. Tal enquadramento ao Ministério da Educação, a quem se subordinam as diversas secretarias de Educação do país, favoreceria uma ausência das chamadas ‘lavagens cerebrais’, do dirigismo curricular.108(grifos nossos)

O aviador reformado Sued Castro Lima pontua sua insatisfação pela falta de

ação dos sucessivos governos civis neste sentido:

Qual o produto final do sistema de ensino militar? Que tipo de cidadão está sendo formado pelas corporações castrenses? Qual o pensamento sobre o

107 TORRES, Tião. Colégios Militares praticam o pensamento único. Esquerda Online, 05 de dezembro de 2018. Disponível em: < https://esquerdaonline.com.br/2018/12/05/colegios-militares-praticam-o-pensamento-unico/>. Acesso em 28 de setembro de 2019. 108 Ibid.

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país e sobre sua força armada? Qual o nível de sua qualificação profissional? São questões sobre as quais não há pesquisa científica de qualidade e cujas respostas permanecem desconhecidas por parte do poder político a quem se subordinam estas instituições, o que torna pertinente a indagação: sem conhecer profundamente o pensamento militar como pode o comando supremo exercer o mando efetivo?” “Quando eventualmente sou questionado sobre as razões que levaram os últimos governos civis a não intervir com firmeza nesse quadro, respondo com razoável convicção ser tal omissão fruto do desconhecimento da importância do problema associado à elevada dose de pusilanimidade política.109(grifos nossos).

Obviamente, o total enquadramento do ensino militar ao Ministério da

Educação significa colocá-lo sob toda a metodologia de mudança psicológica

mundialista já minuciosamente analisada no subcapítulo Globalismo Pedagógico,

deste trabalho. Por isso é preciso repetir: as modernizações do ensino dentro do

Exército devem ser cuidadosamente avaliadas, para que não sejam simplesmente

um cavalo de Tróia de uma ideologia totalmente contrária às características e

valores da instituição e da nação.

O Partido dos Trabalhadores, em sua Resolução Sobre Conjuntura, também

lamenta não ter realizado a modificação curricular nas Escolas Militares:

Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação.110(grifos nossos).

As citações acima elencadas demonstram a importância e a influência que os

currículos das escolas militares possuem e a necessidade de modificá-los para a

consecução de objetivos políticos e culturais.

O DECEx possui, ainda, instituições de extrema relevância no tocante a

preservação do patrimônio histórico cultural do Exército. Em um estudo, mesmo que

superficial, da História do Brasil, pode-se depreender que o patrimônio histórico

cultural do Exército praticamente confunde-se com o do Brasil, fruto de sua ação

histórica constante e decisiva na História do País.

109 Ibid. 110 PARTIDO DOS TRABALHADORES(Diretório Nacional). Resolução sobre conjuntura. Brasília, 17 de maio de 2016. Disponível em: <https://pt.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolu----es-sobre-conjuntura-Maio-2016.pdf. Acesso em 28 de setembro de 2019.

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Portanto, dentro do sistema DECEx, destaca-se a Diretoria do Patrimônio

Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx). Este órgão tem por finalidade, dentre

outras, supervisionar as atividades e eventos do Sistema Cultural do Exército e

cooperar com o Sistema de Ensino, na busca da elevação do nível técnico-

profissional e cultural dos quadros.

O DPHCEx, dentre as várias atividades e iniciativas que desenvolve, como

seus monumentos e museus, traz como destaque um importante influenciador no

pensamento nacional: A Biblioteca do Exército (BIBLIEx). Suas obras incluem os

assuntos de Defesa Nacional, assunto cuja difusão praticamente é feita quase que

exclusivamente por este órgão, e visões sobre política, cultura e História que, por

muitas vezes, diferem das presentes no movimento editorial brasileiro, cujas versões

tem se direcionado cada vez mais para uma hegemonia dita “progressista”.

A existência e difusão dessas obras, além de proporcionar a possibilidade de

leitura sobre esses diversos assuntos, apresenta-se como a possibilidade de

referências bibliográficas para trabalhos científicos, não necessariamente

conduzidos por militares.

Neste tocante, a abertura de instituições como a Escola de Comando e

Estado-Maior do Exército (ECEME) para pesquisas conduzidas por cidadãos

provenientes do meio acadêmico civil é de grande relevância na direção da

disseminação dos nossos valores e da mentalidade de Defesa111. A ECEME criou

recentemente o lema que sintetiza o aspecto da defesa nacional que se apresenta

por meio deste trabalho: “O saber na defesa da Pátria”. Este é induzido, obviamente,

pelos militares, mas difundido e aprofundado por toda a sociedade, particularmente

pelo núcleo integrado de civis e militares que vai sendo criado naquela escola. 111 Trata-se do Programa de Pós-Graduação em Ciência Militares, do Instituto Meira Mattos da

ECEME. “O Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares do Instituto Meira Mattos (PPGCM-IMM) é um curso de excelência em pesquisa científica na área de Defesa Nacional e situa-se no âmbito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). O PPGCM-IMM é o único em uma instituição militar que tem cursos Mestrado e de Doutorado, ambos acadêmicos, reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), bem como um programa de pós-doutorado. Seu programa de pós-graduação é especializado em duas linhas de pesquisa: Gestão da Defesa e Estudos da Paz e da Guerra. O Instituto conta com um corpo docente extremamente qualificado, capazes de pesquisar em diferentes áreas temáticas no campo da Defesa Nacional, Relações Internacionais, Economia da Defesa, Ciência Política, Geopolítica, entre outros. O objetivo do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares é construir e disseminar conhecimento em ciências militares, fortalecendo a sinergia entre o segmento militar e a sociedade, formando profissionais, dotados de pensamento crítico, capazes de influenciar, com rigor conceitual e metodológico, o pensamento e as práticas relevantes para o desenvolvimento do Brasil, nas áreas afetas à Defesa Nacional”.(fonte: http://www.ppgcm.eceme.eb.mil.br/pt/institucional/o-programa-pt-br. Acesso em 13 de outubro de 2019)

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Como conclusão, cabe ressaltar as observações do antigo Comandante do

Exército, General-de-Exército Eduardo Villas-Boas. Em sua entrevista no dia 27 de

julho de 2017 para a Folha de São Paulo, pontua sobre os valores do Exército como

norteadores da sociedade:

Folha - Pesquisa Datafolha recente mostrou que as Forças Armadas são a instituição do país em que a população mais confia hoje, enquanto a Presidência, o Congresso e os partidos são as instituições menos confiáveis. Como interpreta esses dados? Eduardo Villas Bôas- Esses números nos impõem uma imensa

responsabilidade. As Forças Armadas, que constituem um corte vertical da sociedade e possuem representantes de todo o espectro social, são reconhecidas por serem uma reserva de valores, como integridade, ética, honestidade, patriotismo e desprendimento. Elas sempre estiveram presentes em momentos importantes da história de nossa nação. Algumas vezes, com o Braço Forte e, inúmeras vezes, com a Mão Amiga. Por conseguinte, essa confiança configura um capital intangível que nos é muito caro. Demonstra que a maioria esmagadora da população nos observa atentamente e nos avalia. .112(grifos nossos).

Os valores são uma constante nas declarações do Comandante. Anexado a

esse destaque dado aos valores, o General Villas-Boas, no seminário, organizado

pela Editora Insight, Brasil: Imperativo Renascer, no TJ-RJ, em 23 de janeiro de

2018, fala da identidade nacional e dos perigos da ideologia:

Cometemos o erro de, durante a Guerra Fria, permitir que a linha de fratura passasse por dentro e dividisse a nossa sociedade, foi aí que perdemos o sentido de coesão, perdemos essa ideologia do desenvolvimento, sentido de projeto, ficamos um país à deriva. Extremamente perigoso, como disse, pela nossa dimensão, pela nossa estrutura, porque as forças centrífugas estão se fortalecendo e corremos o risco de uma fragmentação, se não uma fragmentação territorial, mas já está a caminho uma fragmentação social. Nesse período, permitimos incorporar ideologias, aliás, dizem que, quando as ideologias ficam velhas, elas se mudam para a América do Sul. E incorporamos tanto ideologias políticas como ideologias sociais que estão nos desfigurando como nação e alterando a nossa identidade.113(grifos nossos).

112 VICTOR, Fábio. Gen Ex Villas-Bôas – saída da crise deve vir da eleição de 2018. DefesaNet. 29 de julho de 2017. Disponível em: < http://www.defesanet.com.br/crise/noticia/26586/GenEx-Villas-Boas---Saida-da-Crise-deve-vir-da-eleicao-de-2018/>. Acesso em 13 de outubro de 2019. 113 VILLAS-BÔAS, Eduardo. Seminário Brasil: Imperativo Renascer – Editora Insight. Rio de Janeiro, 23 de Janeiro de 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-jan-28/tendemos-transformar-problemas-ideologias-general>. Acesso em 13 de outubro de 2019.

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Neste mesmo seminário, apresenta em resumo, o que foi tratado nesse

trabalho, ou seja, a ascensão da ação indireta como meio de aplicação da ideologia

globalista:

Do ponto de vista político, o frei Leonardo Boff deu uma explicação, muito simples e claro, ele disse que combater o capitalismo com base na luta de classe traz em si um problema, uma desvantagem porque coloca as classes em oposição, mas combater o capitalismo com base nessas ideologias, principalmente no ambientalismo, faz com que todas as classes se coloquem do mesmo lado e entrem em consonância. Mas a inteligência brasileira não tem percebido é que depois do processo de descolonização — em que os países não têm mais liberdade de ação de exercer seu imperialismo por meio das Forças Armadas no setor — o fazem por meio dessas ideologias, instrumentalizadas pelos organismos internacionais, por organizações não governamentais e assim eu acho curioso que a parcela mais à esquerda do nosso espectro político incorporou totalmente esse novo imperialismo. Imperialismo do final do século XX, do início do século XXI e nós somos de uma passividade incrível, porque temos 80% da Amazônia preservada e admitimos levar lições de países que têm 0,3% das suas florestas originais. A média mundial de preservação das florestas mundiais é de 25%, aproximadamente.114(grifos nossos).

Em outro trecho, sintetiza o que foi pontuado nesse capítulo, confirmando

aquilo que foi apresentado como o papel do Exército:

Em uma simplificação, podemos considerar quatro funções, a primeira e a função primordial da defesa é dissuasão, de exercer a capacidade dissuasora, a dissuasão não é um fim em si mesmo ela se insere junto com outros fatores como o poder econômico, como a vontade política, como a ação da diplomacia para que se obtenha a liberdade de ação necessária ao país agir de acordo com os seus interesses exercer a liderança que pretender.[...]. E a história é repleta de exemplos de países que viveram situações até extremamente graves, catastrófica em função de perda da capacidade de dissuasão. Nós temos a capacidade dissuasória assegurada na América do Sul, mas não ainda internacional, e precisamos fazer, daí a importância dos projetos em andamento, como, por exemplo, submarino nuclear da Marinha, os caças, os Gripen da Força Aérea, a força de blindados do Exército, a nossa força de mísseis e foguetes, enfim, tão logo consolidamos esses projetos teremos adquirido essa capacidade de dissuasão, que nos permitirá voltarmos com mais liberdade de ação para dentro de nós mesmos e para a América do Sul. O segundo aspecto, a segunda função da defesa, e as Forças Armadas, aí em especial o Exército, pela capilaridade, eles são guardiões da identidade nacional. Essa, e aí já me referi a esse processo que estamos vivendo, que pode levar a uma perda dessa identidade, nós perdemos a nossa essência e as Forças Armadas pelo processo que me referi, da formação da nacionalidade, elas são de certa forma, guardiões desse, até mesmo dos valores nacionais. Isso tem se refletido, por exemplo, em setores que demandam uma intervenção militar. A pesquisa indicou que 43% da população brasileira pede uma intervenção militar,

114 Ibid.

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isso na minha opinião é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no país. Uma intervenção militar seria um enorme retrocesso hoje, mas na verdade interpreto também aí como uma identificação da sociedade, os valores que as Forças Armadas expressam, manifestam e representam. E as pesquisas de opinião mostram também que, invariavelmente, as Forças Armadas estão em primeiro lugar no índice de credibilidade perante a sociedade. .115(grifos nossos).

Em síntese, o papel do Exército é de fato a Defesa da Pátria. Esta envolve a

preparação para a guerra convencional e sua eventual condução, mas também o

enfrentamento às ameaças difusas, como indutor da mentalidade de defesa no

âmbito de toda a população e como difusora dos valores que são essenciais para a

manutenção da existência e da identidade nacional. O principal objetivo deste

trabalho foi apresentar uma maior materialização das tais “ameaças difusas”,

mostrar sua existência e, principalmente, suas estratégias e modos de agir. Com a

apresentação do papel do Exército, pode-se perceber que, em muitos aspectos, a

instituição já possui mecanismos para enfrentá-las. Cabe aperfeiçoar estes

mecanismos e não os deixar em segundo plano.

115 Ibid.

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7 CONCLUSÃO

O Globalismo é uma ameaça às soberanias nacionais. Ameaça esta que se

torna ainda mais relevante pois trata-se de uma entidade difusa, proteiforme, a qual

tem a capacidade de mudar de agentes durante várias gerações mantendo seus

objetivos. Este trabalho teve como objetivo apenas apresentar uma diminuta parte

do movimento, com a finalidade de mostrar que ele existe. Não foi objetivo esgotar o

assunto, apresentar todos os seus agentes e todas as suas estratégias. Este é um

trabalho para muitas cabeças ao longo de muito tempo. É preciso começar.

Um dos aspectos fundamentais do Globalismo é que o mesmo não é um

movimento novo. Restou comprovado, pela apresentação de casos históricos,

analisados sob outro ponto de vista, que esta ideologia acompanha a humanidade

desde que as primeiras civilizações começaram a se desenvolver, fixando territórios

e, portanto, criando bases para sua expansão até o limite do possível.

As soberanias nacionais começaram a ganhar protagonismo e a serem

respeitadas, com efeito, apenas no século XVII, após a Guerra dos Trinta Anos. O

arranjo que deu fim àquele conflito foi uma novidade bastante eficiente e inovadora.

O Estado Nacional seria a base das relações entre os povos, não mais a luta pela

criação de um Império. A ordem mundial dar-se-ia pelo equilíbrio de poder.

O Brasil e todos as demais nações do mundo tem sua soberania respeitada

com base nestes princípios. A identidade nacional de cada país foi sendo forjada

neste escopo. Em particular os países que eram anteriormente colônias, apoiaram-

se neste princípio para conseguir sua independência e criar sua própria identidade.

Esta identidade, forjada pelos feitos históricos em comum e pela cultura criada no

seu desenvolvimento, chamamos de Pátria.

O Globalismo moderno, consubstanciado pela fusão do poder político e

econômico a nível mundial é contrário a estes princípios. De modo diverso ao que

ocorria no passado, onde a conquista do poder mundial nasceria necessariamente

da expansão ilimitada de um só país até a conquista total, o movimento atual

procura a criação direta de uma instância de governança apoiada nos Organismos

Internacionais criados após a 2ª Guerra Mundial. Em particular a ONU e seus

organismos subordinados e afins tornaram-se o bunker destes agentes.

A forma de atuar, no sentido da destruição das pátrias do mundo, divide-se

em várias estratégias, algumas das quais foram pontuadas neste trabalho.

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Inicialmente, é preciso apresentar problemas que excedam as fronteiras dos países,

cuja gravidade de consequências seja catastrófica, envolvendo a necessidade de

uma coordenação global. Neste sentido, o papel do ambientalismo no conjunto das

iniciativas globalistas é fundamental. Principalmente a partir do início da década de

1970, relatórios de ONGs e Organizações Internacionais apresentavam cenários

prospectivos catastróficos em matéria de meio-ambiente, cujas causas teriam origem

na ação do homem, em particular após a industrialização. Esta iniciativa visava criar

uma necessidade de coordenação em níveis acima dos poderes estatais dos países,

aumentando o poder da ONU e outras Organizações Internacionais. Tinha como

objetivo secundário a paralização do crescimento dos países em desenvolvimento,

em vista de evitar que competissem com os demais países ricos e que não

reforçassem sua posição como Estado-Nação.

Esta noção de cooperação coordenada a nível global teria necessariamente

que passar por uma revisão da mentalidade da humanidade como um todo, ainda

muito ligada às culturas e costumes nacionais. Assim, com destaque para a

UNESCO, os globalistas traçaram uma estratégia de mudança de atitudes e crenças

por meio de técnicas de dominação psicológica embutidas nas normas pedagógicas

a serem seguidas pelos países. As modificações no ensino foram realizadas de

forma coordenada pelos Organismos Internacionais, principalmente no sentido de

sua padronização. Este aspecto explica a decadência da educação no mundo todo,

não apenas no Brasil, embora este último venha sendo degradado neste aspecto de

maneira ainda mais acentuada que os demais.

No prosseguimento da linha estratégica, a infiltração de Intelectuais

Orgânicos nas elites das sociedades nacionais seria de grande efetividade. Com a

base formada nas escolas, cuja pedagogia já havia se “mundializado”, estes

ocupariam cargos importantes nas Universidades, prosseguindo na modificação de

atitudes neste nível de ensino, de onde saem as lideranças das nações. De igual

forma, o posicionamento de pessoas nas artes, mídia, show business, sistema

judiciário, entre outras instâncias, proporcionariam o fechamento do sistema de

dominação da ideologia globalista.

O resultado final desta estratégia é a criação daquilo que é comumente

chamado de establishment, ou seja, uma elite que transcende as instâncias

decisórias democráticas, assumindo-as desde cima. Ainda assim, mesmo com os

cargos decisórios tomados nas mais diversas instâncias, desde essa posição era

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preciso conduzir uma revolução cultural, de modo a terminar de controlar o último

elemento faltante para o controle absoluto da sociedade: o povo.

Neste sentido, a condição essencial para a consubstanciação da revolução

cultural é a padronização total das ideias, pela exclusão sistemática das outras. A

isto dá-se o nome de hegemonia. Ou seja, a fim de completar a aceitação de uma

governança global, por meio do aumento do Estado e subordinação dos mesmos

aos Organismos Internacionais, era necessário apagar toda e qualquer resistência,

ridicularizando-a ou simplesmente ocultando-a.

É neste ínterim que atuam os movimentos que defendem a soberania de

seus países. Furar a hegemonia criada pelo establishment é o objetivo principal

daqueles que se defrontam contra esta ameaça. Como foi apresentado no trabalho,

a missão do Exército Brasileiro, descrita na destinação constitucional das Forças

Armadas, é a defesa da Pátria. Logo, fazer frente às ameaças a esta entidade, seja

qual natureza que esta apresente, é missão destas Forças.

De modo claro, a destinação de defesa da Pátria é mais voltada para aquelas

que a ameacem de maneira física e evidente, ou seja, ameaças de cunho bélico,

envolvendo ações militares. Entretanto, com o avançar da arte da guerra, em

particular com o aumento do poder de destruição dos armamentos, meios de ação

indireta ganharam vulto, desbordando o poder militar, conquistando diretamente os

objetivos políticos por outros modos. A revolução cultural, ou a guerra cultural,

conduzida pelos poderes globalistas é a forma encontrada para alcançar estes

objetivos.

Disto deduz-se que, embora tenha que prosseguir na preparação para fazer

frente às ameaças de cunho bélico, principalmente no sentido da estratégia de evitar

o conflito pela dissuasão, é também papel do Exército, e das outras Forças

Armadas, fazer frente às ameaças difusas, ideológicas ou culturais.

A forma de fazer isto é sintetizada em furar a hegemonia. A ideia gramsciana

de hegemonia foi criada pois este ideólogo comunista sabia que qualquer resistência

ao discurso padronizado poderia criar discussões e movimentos contrários aos

objetivos dos que tinham como finalidade o domínio total das consciências. Não era

intenção mostrar a superioridade das ideias comunistas ou globalistas, em confronto

com as de cunho soberanista, tradicionalista ou nacionalista. Era necessário e mais

producente extirpar o discurso adversário e reduzir a discussão dentro de um

escopo onde a ideia dominante sairia sempre ganhando.

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Neste sentido, entidades como as igrejas cristãs e as Forças Armadas são

um empecilho. Em particular, o Exército possui uma articulação efetiva no território

nacional, um sistema de instrução próprio, valores e atitudes arraigados, cuja

modificação é muito difícil. Além de sua articulação e sistema de instrução, possui

um sistema de educação e cultura diverso do resto da nação, sendo pouco atingido

pelas reformas globalistas. Neste sistema, possui entidades e organizações que

atuam no sentido da preservação da memória e cultura nacionais, bem como

aquelas que atuam no sentido de difundir obras com vertentes e versões diferentes

das visões hegemônicas.

Com o advento da Internet, a existência destes fronts contrários aos ideais

globalistas foram fundamentais para o enfrentamento cultural desta ameaça. A prova

desta afirmação é situação recente da história nacional. O país vinha sendo

governado por partidos que eram subordinados a entidades de cunho

internacionalista (Diálogo Interamericano e Foro de São Paulo), e dominaram as

elites de várias instâncias nacionais. A mudança observada nas eleições de 2018,

as manifestações populares que se iniciaram em 2013 e tiveram seu auge em 2016,

são um fruto indireto da existência de pessoas e entidades que conseguiram

retardar a conquista da hegemonia, abrindo os olhos dos seus nacionais a tempo de

salvarem sua pátria. O objetivo final – o povo – não foi conquistado. Por pouco. Sem

dúvida os valores mantidos, cultivados e disseminados pelo Exército foram

fundamentais.

Concluindo este trabalho, pode-se afirmar que a ameaça globalista é real,

está agindo sobre o Brasil e quase obteve êxito total. No tocante ao Exército

Brasileiro, restou claro que esta entidade teve e tem um papel fundamental na

defesa do país contra esta ameaça. De maneira evidente, a Força Terrestre não

agiu sozinha, as demais Forças Armadas, entidades religiosas, intelectuais e outras

personalidades foram fundamentais. Mas, dentre estas forças, o destaque do

Exército é bastante claro, visto sua articulação em todo o território e suas instâncias

e métodos de ação que geram capacidade de atuar na guerra cultural.

A mensagem final dirige-se para aqueles que hoje se preparam ou ocupam

os mais altos cargos decisórios da Força Terrestre. A profissionalização do Exército

é uma medida urgente e essencial para incrementar a capacidade de defesa da

Pátria. Entretanto, a condução da Transformação necessária para atingir este

objetivo jamais poderá prescindir da atuação política e psicossocial da Força, tendo-

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as como componentes do problema. O Exército e a Pátria são frutos da vontade do

povo. Ela – a vontade popular – é que, em última instância, decidirá sobre os rumos

destas instituições. Poderes alheios externos sabem disso e procuram dominar as

consciências, da maneira que for necessária. É, também, papel do Exército,

influenciando outras instituições e a Pátria como um todo, evitar este mal e conduzir

o Brasil para o caminho da defesa de sua identidade e existência.

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