o fogo purificador da provação

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A474 Alves, Silvio Dutra O fogo purificador da provação./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 162p.; 14,8x21cm 1. Cristianismo. 2. Vida Cristã. 3. Tribulação. 4. Paciência. 5. Fé. I. Título. CDD 207

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Sumário

Até Que Nível de Prova se Pode Suportar? 4

Refinados no Fogo das Provações 10

Antídoto Feito do Próprio Veneno 12

Lapidar um Diamante Exige um Trabalho Paciente

15

“A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7) 19

O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas Nossas Aflições

21

Salmo 119.67 - Conhecendo o Bem que Há na Aflição

24

Encontros com Deus na Hora da Aflição 37

Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela Provação?

39

“É o suficiente para o discípulo ser como o seu mestre." (Mateus 10.25)

43

“No mundo tereis aflições" (João 16.33) 45

Este Terrível Vento Leste! 47

A Provação Bíblica da Fé 63

Fardos Inevitáveis da Vida 64

A Prova da Vossa Fé 72

Tendo Bom Ânimo num Mundo de Aflições

79

Abatidos mas não Destruídos 82

Aflições Aliviadas 84

O Bom Efeito da Tribulação 87

Quebrantamento na Aflição 94

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Até Que Nível de Prova se Pode Suportar?

Antes de tudo, devemos ter em permanente

consideração que há sempre um controle da

parte de Deus para que não sejamos provados além daquilo que possamos suportar e que Ele

também nos dá a graça necessária para que

sejamos livrados (I Cor 10.13).

Todavia, nem sempre o cristão está consciente desta verdade, ou ainda que a conheça, pode

considerar que seja possível que Deus falhe naquilo que nos prometeu, ou então que haja

alguma situação excepcional à qual a promessa

divina não se aplique, porque poderá, a seu juízo,

pensar que ficam excluídas as provações às quais nós mesmos tenhamos dado causa, por

um mau comportamento ocasional, ou por

negligência dos nossos deveres espirituais para com Deus.

Não devemos esquecer que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13), ou seja, ela será

sempre concedida por Deus àqueles que têm

também usado de misericórdia para com o seu

próximo, livrando-os assim de muitos juízos que lhes viriam da parte de Deus, caso não fossem

misericordiosos.

Daqui aprendemos também que a misericórdia de Deus sempre acompanha os Seus juízos

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corretivos, e assim, não permitirá que sejamos

provados além das nossas forças, e se

compadecerá de nós, dando-nos, a Seu tempo, o escape.

Para quem pensa que não é possível triunfar sobre determinados tipos de provações,

especialmente aquelas que são muito pesadas, a

vida do apóstolo Paulo nos foi dada como

exemplo, para que saibamos que não há grau de provação que seja maior do que a graça de Jesus.

Veja o seu próprio testemunho em I Cor 11.3-33/12.1-10:

11.3 São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais;

muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.

24 Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um;

25 fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite

e um dia passei na voragem do mar;

26 em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em

perigos na cidade, em perigos no deserto, em

perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos;

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27 em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes;

em frio e nudez.

28 Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com

todas as igrejas.

29 Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não

me inflame?

30 Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que

diz respeito à minha fraqueza.

31 O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto.

32 Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos

damascenos, para me prender;

33 mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.

12.1 Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do

Senhor.

2 Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu

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(se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o

sabe)

3 e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)

4 foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.

5 De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim

mesmo, salvo nas minhas fraquezas.

6 Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para

que ninguém se preocupe comigo mais do que

em mim vê ou de mim ouve.

7 E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para

me esbofetear, a fim de que não me exalte.

8 Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.

9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De

boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder

de Cristo.

10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,

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nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.

Vemos assim, pelo testemunho de Paulo, que não há provação que possa vencer o cristão,

quando ele se consagra inteiramente à vontade

e ao serviço de Deus.

Há muitos cristãos que estão sofrendo terríveis injustiças e perseguições, todavia, nenhum

deles tem motivo para se afastar do Senhor, ou

alegar que foi abandonado por Ele.

Nenhum deles terá razão quando afirmar que foi desamparado pela justiça, e que servir a Deus não foi afinal um bom negócio, porque suas

tribulações aumentaram em vez de

diminuírem.

Ainda que nos obriguem a comer o pão da aflição, diariamente, Deus untará com seu santo óleo as nossas feridas, e abrandará as nossas

dores, e trará paz e sossego aos nossos corações.

Este é um mundo adverso, no qual os inimigos do homem podem ser até mesmo os da sua

própria casa. O reino das trevas está presente no

mundo e sempre estará até que Cristo volte para inaugurar o Seu reino de paz e justiça eterno e

perfeito.

Assim, enquanto estivermos no mundo, necessitaremos da paciência e da perseverança,

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e sobretudo da fé para buscarmos socorro e

auxílio no Senhor, para que sejamos

fortalecidos, tal como Paulo, em nossas

fraquezas.

Lembremos que se diz que: “...através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de

Deus.” (At 14.22b).

Porque há necessidade das tribulações para que tanto o corpo, e especialmente a alma, sejam

quebrados por Deus, e uma vez crucificados tais desejos, o espírito possa assumir de novo o

comando que lhe fora reservado por Deus desde

o princípio, e daí se dizer o seguinte em Rom 5.3-

5:

“3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação

produz a perseverança,

4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;

5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos

corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”

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Refinados no Fogo das Provações

Deus quer que sejamos tal como Ele é, ou seja,

que sejamos seus imitadores.

Deus é paciente, longânimo, perdoador, benigno, amoroso, justo, e tudo o mais que é

condizente com o Seu caráter bom e perfeito.

Então teremos que aprender a ser pacientes, longânimos, perdoadores, benignos, amorosos, justos etc.

Assim, para o propósito de aprendermos a paciência, o Senhor permitirá que passemos por

várias tribulações, para que sejamos pacientes

de modo prático e verdadeiro.

E para que possamos também louvar a glória da

sua graça, que sempre nos assistirá e nos livrará de todas essas tribulações, conforme ele nos

tem prometido fazer, se tão somente

permanecermos firmes na fé, aguardando

pacientemente pelo seu socorro.

Assim, isto não poderá ser feito sem estarmos em comunhão com Cristo, porque é a força da

Sua graça que nos capacitará ao exercício da

paciência.

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De igual modo, para sermos amorosos, justos, serenos, perdoadores e misericordiosos, o

Senhor permitirá que sejamos submetidos a várias injustiças, tanto contra nós, como contra

as pessoas que nos sejam queridas.

De maneira que, aprenderemos a receber a implantação dos atributos divinos em nossa

nova natureza, recebida na conversão, do Espírito Santo, por meio do fogo da fornalha da

provação.

Então, teremos que aprender a clamar muitas vezes, apresentando nossas petições ao Senhor,

em meio às nossas tristezas e aflições, para acharmos consolo e graça para suportarmos

tudo com paciência e bom ânimo.

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Antídoto Feito do Próprio Veneno

Quando a Bíblia fala em tribulações,

especialmente no contexto do Novo

Testamento, isto não se refere especificamente a problemas graves e sérios em relação às

nossas condições de saúde física e às demais

diversas áreas do nosso viver, como a

sentimental, emocional e financeira, ainda que isto não seja excluído.

Todavia, a referência mais comum diz respeito às lutas espirituais contra os principados e

potestades das trevas que tentam impedir a todo

custo a nossa consagração a Deus e a

continuidade do nosso empenho na oração, no culto de adoração público, e em tudo o mais que

lhe é devido.

O controle da intensidade e profundidade de todas as nossas tribulações está sob o cuidado de

Deus, de modo que não sejamos atribulados além do que possamos suportar, como se lê em

I Cor 10.13, onde não somente isto é afirmado,

como também que Deus proverá a força que

necessitamos, bem como o livramento destas tribulações no momento oportuno.

O apóstolo Paulo não pediu o espinho na carne que lhe fora enviado, e nem seria de se supor

que ele o pedisse. E assim também nós, não

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devemos pedir tribulações, mas é certo que elas

nos virão à medida da nossa necessidade, para o

nosso benefício e aperfeiçoamento em maturidade espiritual, conforme isto se

encontra controlado pelo Senhor.

Por conseguinte, nunca devemos ficar numa posição de permanente perplexidade e

desânimo enquanto debaixo de aflições, uma vez conhecendo qual é o seu grande objetivo. Ao

contrário devemos ter a firme convicção de que

produzirão afinal em nós um bom fruto, e

também devemos buscar ânimo e força em nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente pela

oração e meditação na Sua Palavra.

O pecado original trouxe a toda a humanidade a morte espiritual e um estado ruim da alma em

desordens de todo o tipo que a tornam totalmente diferente daquela imagem e

semelhança com Deus, que havia sido

designada por Ele em seu conselho eterno.

Deus, em sua infinita sabedoria, tem usado estas desordens que nos afligem para o nosso próprio bem, por extirpar de nós pelo processo da

mortificação pelo Espírito Santo, todas as

nossas paixões carnais, para o qual cooperam

grandemente estas aflições que perturbam a alma, e que não permitem que ela fique

acomodada na condição ruim e mortal em que

entrou por causa do pecado.

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Assim, nos é ordenado por Deus que o invoquemos no dia da angústia, com a sua

promessa de nos livrar para que possamos

glorificá-lo - Salmo 50.15.

Desta forma, as aflições cooperam para o propósito de orarmos incessantemente a Deus,

porque até os nossos próprios pecados diários são para nós, um motivo de grande aflição.

O Senhor conhece perfeitamente a nossa indisposição natural para a oração, e por isso,

em sua sabedoria e amor, permite que sejamos

aproximados dele por este meio que nos leva a buscar nele auxílio e socorro, a saber, as

tribulações.

Assim, Deus prepara o antídoto para a picada mortal do pecado, com o seu próprio veneno,

uma vez que não vivemos, em razão do pecado, num mundo de perfeição de justiça, paz e amor.

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Lapidar um Diamante Exige um Trabalho

Paciente

“Estou muito aflito; vivifica-me, Senhor,

segundo a tua palavra.” (Salmo 119.107)

As aflições são um meio de cura necessário

para o pecado. "Todo ramo que dá fruto, ele o

limpa, para que produza mais fruto ainda.", João 15.2.

Especialmente aqueles que se consagram a Deus e que são usados por ele necessitam de

aflições para que não fiquem inchados pelo

orgulho e vaidade, de modo que possam ser

mantidos humildes diante dele e dos homens. Por isso Paulo aprendeu a ser grato pelos

espinhos na carne - 2 Cor 12.7.

É muito instrutivo observar que o salmista não pediu libertação imediata da sua aflição em seu

clamor dirigido a Deus, antes, lhe pediu para ser vivificado segundo a sua Palavra divina.

Os que têm sido experimentados nisto sabem muito bem que o primeiro e grande efeito das

aflições é o de tentar afastar o nosso espírito e

nossos pensamentos da alegria e comunhão que vínhamos mantendo com Deus. Não há,

portanto, outro meio para sermos firmados

nesta alegria e comunhão quando o vento da

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tempestade da aflição está sobre nós, senão, não

apenas em nos refugiarmos nas boas promessas

da Palavra de Deus para nós, como também em sermos vivificados nas convicções já aprendidas

acerca de tudo o que temos herdado em Cristo,

que inclui não somente coisas agradáveis, mas também a participação em suas aflições e

sofrimentos, em alguma medida.

Com isto nossas graças são renovadas e nos fortalecem a mente e o espírito ainda que

estejamos vagando pelos vales do sofrimento.

Foi isto que nosso Senhor quis ensinar ao apóstolo na sua experiência do espinho na

carne, a saber, que a Sua graça era suficiente

para ele, ou seja, de nada mais necessitava para

ser vitorioso sobre aquilo que o humilhava, senão somente estar fortalecido pela graça.

Além disso o fruto imediato de se suportar as aflições com paciência cristã, no poder do

Espírito Santo, é o fruto pacífico de justiça que

nos torna habilitados a participar mais efetivamente da própria santidade de Deus -

Hebreus 12.11, uma vez removido, pelo extintor

da aflição, o combustível do fogo que acenderia

o nosso orgulho e vaidade.

Somos dados naturalmente à euforia e não à sobriedade. Ao entusiasmo e não ao domínio

próprio. A alegrarmo-nos na carne fora de

medida em razão dos nossos sucessos em

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nossos empreendimentos e orações, e então, as

aflições, geralmente operadas pelas resistências e golpes desferidos pelo inferno

nos trazem ao devido quebrantamento de

espírito e humildade que nos manterão sóbrios, moderados e vigilantes.

Além disso, grandes e fortes paixões carnais só podem ser subjugadas por grandes aflições.

Por isso muitos pensam que haja contradição na verdade que quanto mais tentamos nos

aproximar de Deus por uma correta

santificação, mais somos atribulados. Todavia, isto é verdadeiro e bíblico, pois todos os que se

santificam, vivem isto em suas experiências, e

daí ter afirmado o apóstolo que todo aquele que

quiser servir a Cristo de maneira piedosa será perseguido - 2 Tim 3.12; e que assim nos importa

entrar na posse do reino de Deus através de

muitas tribulações - Atos 14.22.

Por conseguinte, quanto mais experimentarmos da vida de Deus, mais tribulações teremos, porque não somente o

reino das trevas se levantará em maior grau

contra nós, como também o próprio Deus

permitirá isto para que sejamos mantidos em toda vigilância e oração espiritual, que

contribuirão para o nosso aperfeiçoamento na

justiça, no amor e na verdade, e sobretudo para

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aumentar a nossa fé nele por observarmos o seu grande poder para nos livrar.

Não aprenderíamos paciência, longanimidade, paz e misericórdia, a não ser por este meio de

vencer com Deus nas aflições que temos aqui

embaixo. Tudo isto nos prepara portanto para vivermos a vida do céu já a partir da nossa

jornada terrena.

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“A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)

A fé inexperiente pode ser a verdadeira fé, mas

certamente é pouca fé, e é provável que se

mantenha assim enquanto estiver sem provações. A fé nunca prospera tão bem como

quando todas as coisas são contrárias a ela: as

tempestades são seus treinadores, e os

relâmpagos são seus iluminadores.

Quando reina a calmaria no mar, coloque as

velas como quiser, mas o iate não se moverá, pois num oceano adormecido a quilha dorme

também. Mas deixe os ventos soprarem e então

o barco será levado em direção a seu porto

desejado.

Nenhuma flor é de tão lindo azul como aquelas que crescem ao pé da geleira congelada, nem

estrelas brilham tão brilhantemente como

aquelas que iluminam o céu polar; a água não é

tão doce como a que brota no meio da areia do deserto; e nenhuma fé é tão preciosa como a que

vive e triunfa na adversidade.

A fé provada traz experiência. Você não poderia ter crido em sua própria fraqueza caso não

tivesse sido obrigado a passar através dos rios; e você nunca teria conhecido a força de Deus

se não tivesse sido apoiado no meio das

tempestades.

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A fé aumenta em solidez, segurança e intensidade, mais ela é exercitada com a

tribulação. A fé é preciosa, e sua provação é

preciosa também.

Não deixe isso, porém, desencorajar aqueles que são novos na fé. Você vai ter provações

suficientes, sem procurá-las: a porção completa

será medida para você na época devida.

Enquanto isso, se você ainda não pode reivindicar o resultado de uma longa

experiência, seja grato a Deus pela graça que

você tem; louve ao Senhor pelo grau de

confiança santa que tiver alcançado; ande de acordo com essa regra, e você deverá ter ainda

mais e mais a bênção de Deus, até que sua fé

remova montanhas e conquiste

impossibilidades.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

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O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas

Nossas Aflições “Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador

nem sempre o está debulhando,”. (Isa 28:28a)

A debulha da aflição não tem por propósito

causar qualquer dano ao homem interior do

cristão, porque o grão será mantido íntegro na debulha, e dele nada se perderá, senão somente

a sua casca e palha.

O trabalho do lavrador não é somente o de debulhar, mas também de preparar a terra,

cultivá-la, plantar a semente e cuidar da plantação até que chegue o tempo da colheita.

Ora, assim também procede em relação aos cristãos o Grande Agricultor que é Deus.

As aflições dos homens ímpios torna-lhes mais orgulhosos, mas aquelas aflições que nos levam

a orar mais e que nos levam para mais perto de

Deus, tornando-nos mais semelhantes a Cristo, estas são aflições abençoadas.

Por isso Davi disse: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus

decretos." (Sl 119.71)

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Todas as aflições dos cristãos estão debaixo do controle de Deus, porque ele não permitirá que

a pressão sobre o grão não exceda a medida adequada, de modo a não prejudicá-lo. Como

dissemos antes, o seu objetivo é apenas o de

remover o que não serve, a saber, a casaca do

pecado, a palha dos maus hábitos e tudo aquilo que impede o crescimento da graça que foi

plantada por ele nos nossos corações.

“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que

sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos

proverá livramento, de sorte que a possais

suportar.” (I Cor 10.13)

Temos um amplo testemunho nas vidas de muitos cristãos que saíram muito melhorados espiritualmente de í aflições.

É no nosso aperfeiçoamento espiritual até à plena semelhança com Cristo que Deus está

interessado, porque foi para este propósito que

ele nos criou.

Quando usamos a fé que professamos para outros fins, estaremos certamente mercadejando a Palavra de Deus para objetivos

interesseiros egoístas pecaminosos que

afastarão os nossos ouvintes para muito além

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deste alvo proposto pelo Senhor para aqueles

que desejam se aproximar dele.

Assim, a paciência é recomendada na Bíblia para todas as aflições que experimentarmos

porque é para este propósito que as provações nos são enviadas por Deus.

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a

provação da vossa fé, uma vez confirmada,

produz perseverança. Ora, a perseverança deve

ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tiago 1.3,4)

Se não nos armarmos do pensamento que devemos ser pacientes na tribulação e depositar

toda a nossa confiança no Senhor, para sermos

fortalecidos pela sua graça, certamente interromperemos a ação da nossa perseverança

que deve ser completa, para que sejamos

aprovados em nossas tribulações.

Devemos também nos encorajar com o pensamento verdadeiro de que estas aflições são designadas para durarem uma temporada,

caso necessário, com vistas ao refinamento da

nossa fé, I Pedro 1.6. Assim, devemos nos

consolar com a certeza de que Deus proverá o escape, como ele tem sido fiel em fazê-lo com

todos os seus servos ao longo de toda a história

da Igreja.

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Salmo 119.67 - Conhecendo o Bem que Há

na Aflição

“Antes de ser afligido andava errado, mas agora

guardo a tua palavra” (Salmo 119.67)

Neste versículo, você pode observar duas

coisas:

1. O mal na prosperidade - antes de ser afligido

andava errado.

2. O bem na adversidade - mas agora guardo a tua palavra. Antes andava errante, mas agora

atento ao seu dever. Ou, se quiser, aqui está a

necessidade das aflições e a utilidade delas.

1. A necessidade, "Antes de ser afligido andava errado”. Alguns pensam que Davi, personifica a libertinagem e a obstinação de toda a

humanidade. Se assim fosse, no entanto, a

pessoa em quem o exemplo é dado é notável. Se

esta foi a disposição do profeta e homem de Deus, e se ele precisava desta disciplina, muito

mais nós: se ele pôde dizer isto, com verdade de

coração, que ele foi piorado por sua

prosperidade, precisamos ser sempre zelosos conosco; e se não fosse por este flagelo, que nos

aflige, esqueceríamos o nosso dever e a

obediência que devemos a Deus.

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2. A utilidade e benefício das aflições, "mas agora guardo a tua palavra." Guardar a lei é uma

palavra genérica. O uso da vara da disciplina de

Deus é para nos levar para casa com Deus, e a

aflição nos impeliu para fazer melhor uso da sua palavra: ela nos mudou da vaidade para a

seriedade, do erro para a verdade, do orgulho

para a modéstia. E o apóstolo nos diz que o

próprio Jesus Cristo aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu, Heb 5.8, e aqui Davi foi

feito melhor pela cruz.

Podemos observar nas palavras do texto três coisas:

1. A confissão de suas andanças, "andava errado”.

O pecado dá causa às aflições. Há aqui um reconhecimento secreto de sua culpa, que o seu

pecado foi a causa do castigo que Deus trouxe

sobre ele.

2. O método que Deus usou para conduzi-lo ao seu dever, "Eu fui afligido”.

A verdadeira noção e a natureza da aflição para o povo de Deus. A cruz muda a sua natureza, e não é uma punição destrutiva, mas uma

ministração medicinal, e um meio de nossa

cura.

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3. O sucesso ou o efeito do método divino: "Eu tenho guardado a tua palavra".

A finalidade é a obediência, ou guardar a palavra de Deus. A soma de tudo é, eu estava fora do

caminho, mas a tua vara me afligiu, e me levou

para a obediência novamente.

Eu poderia observar muitos pontos, mas a doutrina de todo o versículo é:

Doutrina: Que o fim da aflição que nos vem de Deus, é para reconduzir o seu povo desviado

para o caminho reto.

Vou explicar este ponto por estas considerações.

1. Que o homem é de uma natureza desviada, apto para abandonar o caminho que conduz a

Deus e à verdadeira felicidade. Somos todos assim por natureza: Isa 53.6 “Todos nós, como

ovelhas, nos desviamos.” As ovelhas superam

todas as demais criaturas, quanto a estarem

sujeitas a se desviar, e se não forem cuidadas e guardadas da melhor maneira possível, são

incapazes de se manterem fora do erro, e

quando erram, são incapazes de voltar ao redil

por si mesmas.

Por isso as ovelhas são o símbolo usado pelo Espírito Santo para representar a natureza da

humanidade. Mas isto se dá melhor conosco

depois de termos recebido a graça? Não; nós

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somos, em parte, ainda assim. O melhor de nós,

se for deixado por sua própria conta, quão breve

se desviará do caminho certo? em que erros tristes incorrerá? Sl 19.12: "Quem há que possa

discernir as próprias faltas? Absolve-me das que

me são ocultas.” Desde que recebemos a graça, todos nós temos os nossos desvios; embora os

nossos corações sejam ajustados para andarem

com Deus para o principal na vida cristã, mas

sempre e logo estamos nos desviando da nossa obediência, transgredindo os nossos limites, e

negligenciando o nosso dever. Bem que Davi

tinha razão em dizer, Sl 119.176, “eu ando

desgarrado como ovelha perdida: oh, procura o teu servo!"

Nós nos extraviamos, não somente por ignorância, mas por perversidade de inclinação:

Jer 14.10, “Assim eles gostavam de andar

errantes, e não detiveram os seus pés. “Temos corações que amam vagar; amamos mudanças,

ainda que seja para pior, e assim estaremos

fazendo excursões para os caminhos do pecado.

2. Este pendor para se desviar é muito aumentado e incentivado pela prosperidade,

que, embora seja boa em si mesma, no entanto, por sermos tão perversos por natureza, fazemos

o pior uso dela.

Que os maus se tornam piores por causa da prosperidade, é evidente: Isa 26.10, “Ainda que

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se mostre favor ao perverso, nem por isso aprende a justiça;". A luz do sol em cima do

monte de esterco nada produzirá, senão fedor, e

o sal do mar vai tornar salgado tudo o que cair

nele. Então, os homens ímpios convertem tudo ao seu modo e gosto. Nenhuma misericórdia ou

juízo de Deus farão qualquer gracioso e amável

trabalho sobre eles, mas, se tudo for bem com

eles, tomam mais liberdade para viverem livre e profanamente. O temor de Deus, que é o grande

freio de toda maldade, é menor e praticamente

fica perdido neles quando não veem qualquer

mudança em seu caminhar: Sl 55.19: "porque não há neles mudança nenhuma, e não temem

a Deus.” Este pequeno temor servil que eles têm,

o qual poderia guardá-los de ficarem vagando, é

então perdido, e quanto mais suavemente Deus tratar com eles, mais incrédulos e seguros eles

ficam.

Quando eles se tornam prósperos e sem problemas, ficam mais obstinados do que

nunca. Mas não é assim com o povo de Deus também? Sim, na verdade, Davi, cujo coração

bateu quando ele cortou a orla do manto de Saul

quando estava vagando no deserto, pôde

planejar a morte de Urias, seu servo fiel, enquanto ele Davi estava confortavelmente em

seu palácio.

Perdemos muita ternura de consciência, vigilância contra o pecado, muito desta

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diligência viva que devemos manifestar na realização da vida espiritual, quando estamos

em facilidades e todas as coisas vão bem

conosco. Estamos aptos a entrar na carne

quando temos tantas iscas para alimentá-la; e para aprender a estar contente em Cristo

quando há plena prosperidade é uma lição mais

difícil do que aprender a estar contente quando

se é humilhado, Fp 4.12, e, portanto, se Deus não nos corrigir, cresceremos descuidados e

negligentes.

O princípio de toda a obediência é a mortificação da carne, o que naturalmente não podemos

suportar. Depois que temos nos apresentado e submetido a Deus, a carne estará procurando

sua presa, e se rebelando contra o espírito, até

que Deus arranque suas seduções de nós. Por

isso o Senhor se vê forçado a nos quebrar por diversas aflições para nos conduzir em ordem.

Nós o forçamos a nos humilhar pela pobreza, ou

vergonha, ou doenças, ou por meio de conflitos

domésticos, ou alguma inconveniência da vida natural e animal, e tudo o que valorizamos

muito. Além disso, nossos afetos pelas coisas

celestes definham quando todas as coisas

sucedem conosco neste mundo de acordo com o desejo do nosso coração, e esta frieza e

indolência não são facilmente removidas.

Muitos são como os filhos de Rúben e Gade, Números 32, que quando encontraram

Page 30: O fogo purificador da provação

30

pastagens convenientes do outro lado do Jordão,

estavam contentes com que fosse a sua herança,

sem procurar qualquer coisa na terra

prometida. Então seus desejos são estabelecidos insensivelmente aqui, e têm menos interesse

no bem do mundo vindouro.

3. Quando sucede assim conosco, Deus julga conveniente enviar as aflições. Grande parte da

sabedoria da providência de Deus é para ser observada;

a) Em parte na época de aflição, em que o estado e a postura da alma nos surpreendem, quando

andamos errantes, quando mais precisamos

disto, quando o nosso abuso da prosperidade clama em voz alta por isto; quando as ovelhas se

desviam, o cão é solto para buscá-las. Deus

ordena a sua providência para as nossas

necessidades: 1 Pedro 1.6, “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se

necessário, sejais contristados por várias

provações,”. Ai! muitas vezes vemos que as

aflições são altamente necessárias e oportunas, tanto para evitar uma enfermidade que está

crescendo em nós, ou para nos recuperar de

algum curso mal no qual nos desviamos de

Deus. Paulo estava em perigo de se tornar orgulhoso, e então Deus mandou um espinho na

carne. Esta disciplina é muito boa e necessário

antes de a doença se espalhar longe demais.

Page 31: O fogo purificador da provação

31

b) Grande parte da sabedoria e providência divina também são observadas, em parte, no

tipo de aflição. As várias concupiscências devem ter remédios específicos. O orgulho, a inveja, a

cobiça, a libertinagem, a emulação, têm todas as

suas curas apropriadas.

Todos os pecados se referem a três fontes

impuras: 1 João 2.16, "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a

concupiscência dos olhos e a soberba da vida,

não é do Pai, mas do mundo." A partir dos

desejos (concupiscência) da carne surgem não apenas os atos grosseiros de lascívia, fornicação,

adultério, gula, embriaguez, que assolam boa

parte da humanidade, e surge também um amor

desordenado a prazeres, companhias vãs, e entretenimentos vãos, a complacência carnal,

ou a satisfação carnal.

A concupiscência dos olhos, a avareza e a mentalidade mundana, produzem miséria,

rapinas, contendas, conflitos, ou o desejo imoderado de adquirir casa sobre casa, campo

sobre campo, e toda sorte de bens e confortos

materiais.

Do orgulho (soberba) da vida vem a ambição, conceito elevado de nós mesmos, escárnio e desprezo dos outros, afetação por honra e

reputação no mundo, a pompa, finura de trajes

e inúmeras vaidades, para constranger a outros!

Page 32: O fogo purificador da provação

32

Agora, Deus, que pode se encontrar com os seus servos quando eles estão tropeçando em

qualquer tipo destas coisas referidas, envia as

aflições como seus mensageiros fiéis para detê-

los em sua carreira, para que a carne não possa navegar e levá-los para longe com um vendaval

completo.

Contra os desejos da carne, ele manda doenças e enfermidades; contra os desejos dos olhos, a

pobreza e decepções em nossas relações; contra o orgulho da vida, desgraças e vergonha, e às

vezes ele faz variações na forma da dispensação

destas aflições, porque sua providência guarda

um teor, e cada cura será aplicada conforme o temperamento de cada pessoa, nem tudo vai

funcionar da mesma forma para todos.

A sabedoria de Deus pode ser observada no tipo de aflição, e quão apropriado é este trabalho que

é feito; porque Deus faz todas as coisas em número, peso e medida. Em parte pela maneira

como ele vem sobre nós, por quais

instrumentos e de que tipo. Quantos se fazem

miseráveis por uma cruz imaginada! e assim, quando todas as coisas estão bem com eles, suas

próprias paixões se tornam um fardo para si

mesmos, e quando não estão feridos em sua

honra, nem sofrendo perda de imóveis, nem agredidos em sua saúde, nem suas relações

cortadas e conflitadas, mas sendo cobertos com

toda a felicidade temporal, parece não haver

Page 33: O fogo purificador da provação

33

qualquer espaço ou lugar para qualquer aflição

ou problema em suas vidas, e ainda assim, na plenitude de sua suficiência, Deus lhes traz um

terror e um peso, ou então por seus próprios

temores, ou pela falsa imaginação de alguma

perda ou desgraça, Deus os torna desconfortáveis e cheios de inquietação, e eles

se tornam mais problemáticos do que aqueles

que estão em conflitos reais, sim, com os

maiores males. Hamã é um exemplo: ele foi um dos príncipes do reino da Pérsia, que nadava em

riqueza e todos os tipos de delícias, em grau de

dignidade e honra, ao lado do próprio rei,

e, ainda, porque Mordecai, um judeu pobre, não lhe fez a reverência esperada, disse: “Tudo isso

não me satisfaz", Ester 5.19.

Assim, tão logo Deus envie um verme na cabaça mais justa, e uma insatisfação na propriedade

mais próspera do mundo, e os homens não terão descanso dia e noite, especialmente se uma

centelha da sua ira brilhar na consciência: Sl

39.11: “Quando castigas o homem com

repreensões, por causa da iniquidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso.”. Há

um segredo que a traça come todo o seu

contentamento, pois eles estão sob terror,

desânimo e falta de paz: Deus lhes ensina que nada pode ser apreciado de forma satisfatória

para além da sua própria bênção: "Um fogo não

soprado deve consumi-los”, Jó 20.26.

Page 34: O fogo purificador da provação

34

c) Em parte, vemos também a sabedoria e a providência de Deus, na continuidade das

aflições. Deus ordena, tirar e lançar em aflições

a seu próprio prazer, e quando ele vê que elas

agiram em nosso proveito.

Variedade de aflições podem atingir o melhor e mais querido dos filhos de Deus, havendo nos

melhores muitas corrupções, tanto para serem

descobertas e subjugadas, e muitas graças para

serem provadas: 1 Pedro 1.6 “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se

necessário, sejais contristados por várias

provações,”, e Tiago 1.2, "Meus irmãos, tende

grande gozo quando cairdes em várias tentações". Um problema opera nas mãos de

outro, e a sucessão deles é tão necessária quanto

o primeiro golpe sofrido.

4. A aflição assim enviada tem um uso notável para nos conduzir a um senso e cuidado do nosso dever. As aflições são comparadas nas

Escrituras ao fogo que purga a nossa escória: 1

Pedro 1.7. “Para que, uma vez confirmado o valor

da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde

em louvor, glória e honra na revelação de Jesus

Cristo;”. As aflições são comparadas também à

poda da tesoura que corta os ramos inúteis, e faz com que os demais sejam mais frutíferos: João

15.2. Então, Heb 12.11, “Toda disciplina, com

efeito, no momento não parece ser motivo de

Page 35: O fogo purificador da provação

35

alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela

exercitados, fruto de justiça.”.

Portanto, não devemos ficar desanimados quando Deus usa as aflições para o nosso

próprio bem.

“e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não

menosprezes a correção que vem do Senhor,

nem desmaies quando por ele és

reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para

disciplina que perseverais ( Deus vos trata como

filhos ); pois que filho há que o pai não corrige?”

(Heb 12.5-7)

Não devemos portanto suportar as aflições com falta de sabedoria, com uma mente insensata,

que possa nos impedir de alcançar o propósito

de Deus que se encontra embutido nelas. Qual

pai ficaria contente com a rejeição por parte de seus filhos, de sua disciplina e correção?

Por que o homem se queixaria do castigo merecido do seu pecado? Sobretudo quando

isto é feito pelas mãos de um Pai de amor?

O fim da correção pela aflição é o nosso arrependimento e a nossa transformação, tanto

Page 36: O fogo purificador da provação

36

para corrigir o pecado passado, quanto para prevenir o pecado ainda por vir.

Assim, ainda que gemamos dizendo: “Senhor, dá-me outra cruz, mas não esta!”, devemos

reconsiderar o dito irrefletido de nossos lábios,

e aceitarmos com submissão voluntária a cruz que Deus sabe de antemão, que é a única que se

ajusta para a correção da nossa condição. Trocá-

la por outra não produzirá o efeito esperado por

Deus em nós.

Deus não sente prazer em nos afligir, isto lhe dói em seu coração de Pai perfeitamente amoroso

que é. “Ele não aflige, nem entristece os filhos

dos homens, de bom grado." (Lam 3.33).

Afinal todo este enfraquecimento do pecado e do nosso ego carnal tem em vista possibilitar o nosso fortalecimento com a graça.

Daí estar escrito: Prov 24.10: "Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua força é pequena."

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de

autoria de Thomas Manton, sobre o Salmo

119.36.

Page 37: O fogo purificador da provação

37

Encontros com Deus na Hora da Aflição

Há uma diferença entre as aflições que são

provindas da mão de Deus, e as que são o

resultado das perseguições e da violência dos

homens.

Mas a ambas pode ser aplicado o que o apóstolo afirma em Rom 5.3,4:

“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo

que a tribulação produz perseverança; e a

perseverança, experiência; e a experiência,

esperança.”

Em ambas as fontes de provações a mão de Deus sempre estará controlando tudo, não

permitindo que sejamos provados além da

nossa capacidade de suportar, e atuando de

forma que tudo coopere para o bem daqueles que o amam. Este é o fim a ser alcançado

segundo o Seu propósito.

Se não sofremos por sermos ímpios ou malfeitores, mas na condição de filhos de Deus,

mesmo quando somos por Ele corrigidos por causa dos nossos pecados, e necessidade de

crescimento espiritual, sempre haverá este

controle e assistência que recebemos da parte

Page 38: O fogo purificador da provação

38

do nosso Pai eterno, que tem por alvo nos tornar coparticipantes da sua santidade.

Por isso a fé deve estar acima de tudo o que nos sucede.

Vivendo na fé, esperando sempre no Senhor em todas as circunstâncias, mesmo as de

enfermidades graves, sempre encontraremos

ocasião para nos alegrarmos e estarmos em paz nEle, conforme nos proporciona com a Sua doce

presença em nossos momentos difíceis,

fortalecendo o nosso espírito.

Isto tem sido testemunhado por muitos até mesmo na hora da morte de entes amados, em razão do grande suprimento de paz que

recebem da parte da graça do Senhor.

Por isso Deus ordena aos seus filhos que não temam nada que possam sofrer neste mundo,

especialmente o que lhes vier da parte dos homens, porque Ele se encontra em Seu

sublime e elevado trono de glória e poder, e

nada de real valor será perdido por nós ou em

nós.

Page 39: O fogo purificador da provação

39

Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela

Provação? “Meus irmãos , tende por motivo de toda alegria

o passardes por várias provações”. (Tiago 1.2)

Passardes - (do verbo grego peripésete, 2ª

pessoa do plural (vós) do 2º aoristo ativo do modo subjuntivo de Peripitw, que significa cair

no meio de; ficar cercado de; dar em ou ir ter a

um lugar acidentalmente; encontrar-se em.

Temos então para o texto: “que vós passásseis ou que vós tivésseis passado”).

Não teríamos então no texto uma exortação à busca de novas provações, mas ter por motivo

de alegria o ter passado por várias delas que

contribuirão para o amadurecimento espiritual. Certamente isto não exclui as que ainda poderão

vir, e que certamente virão, mas tornamos a

afirmar que não temos aqui um estímulo para

que se busque provações ou tentações, até mesmo porque nosso Senhor nos ensina a orar

ao Pai, para que não nos deixe cair nelas, ou seja,

ser conduzidos a elas.

Várias – (do grego poikílois, que significa, variadas, diversas – a palavra poikílos é feminina no grego, e se encontra no caso

locativo plural, conforme indicado pela

desinência “ois” – assim temos “em variadas”.

Page 40: O fogo purificador da provação

40

Provações – do grego peirasmois, que significa tentações ou provações – a palavra peirasmós é

masculina no grego, e se encontra também no caso locativo plural – assim temos “em

provações” ou “em tentações”)

Como o que está em foco no argumento do apóstolo é a provação da fé, então temos uma

melhor tradução com a própria palavra provação, conforme a achamos na versão

atualizada da SBB, porque a par de toda tentação

ser uma provação, nem toda provação da fé é

uma tentação, como, por exemplo, a que Deus submeteu a Abraão em relação a seu filho

Isaque, quando lhe pediu que o oferecesse em

sacrifício.

Deus a ninguém tenta, conforme o próprio Tiago vai afirmar mais adiante nesta sua epístola.

Então as tentações são produzidas por outros agentes, especialmente o diabo, e também por

nossas próprias cobiças.

O apóstolo diz que estas variadas provações são para motivo de alegria, não que sejam uma fonte

de alegria em si mesmas, mas no bom resultado para o qual contribuirão posteriormente, como

por exemplo o refinamento e confirmação da

nossa fé.

Page 41: O fogo purificador da provação

41

Thomas Manton disse com propriedade:

“O cristão vive acima do mundo, porque ele não julga de acordo com o mundo. O desprezo do apóstolo Paulo por todos os acidentes deste

mundo é decorrente do seu julgamento

espiritual a respeito deles: Rom 8.18 “Tenho por

certo que as aflições deste mundo presente não podem ser comparadas com a glória a ser

revelada em nós”.

E ainda:

“As aflições para o povo de Deus não somente são uma ocasião para ministrar a paciência, mas

muita alegria. O mundo não tem razão para pensar sobre a religião de Cristo de um modo

negro e sombrio: como diz o apóstolo, “A

fraqueza de Cristo é mais forte que a força dos

homens”, 1 Coríntios 1.25, o pior modo da graça é melhor do que o melhor do mundo; “toda a

alegria, quando em diversas provações”. Um

cristão é uma ave que pode cantar no inverno,

bem como na primavera, ele pode viver no fogo como na sarça de Moisés, que ardia, e não ser

consumido. O conselho do texto não é um

paradoxo, criado apenas para noção e discurso,

ou alguma fantasia, mas uma observação, construída em cima de uma experiência

comum e conhecida: este é o modo de os crentes

se alegrarem por suas provações.

Page 42: O fogo purificador da provação

42

Certamente um espírito abatido vive muito abaixo da altura dos privilégios e princípios

cristãos. Paulo, em sua pior condição sentiu

uma exuberância de alegria: “Estou me regozijando”; e também, em outro lugar ele foi

mais longe ainda ao dizer: Rom 5.3: “nos

gloriamos nas tribulações” que denota uma

maior alegria. 2 Cor 6.10 é o lema de Paulo “contristados, mas sempre alegres”, e este pode

ser o lema de todo cristão.”

Page 43: O fogo purificador da provação

43

“É o suficiente para o discípulo ser como

o seu mestre." (Mateus 10.25)

Ninguém contesta essa afirmação, pois seria

impróprio para o servo ser exaltado acima de seu Mestre.

Quando nosso Senhor estava na terra, qual foi o tratamento que ele recebeu?

Foram suas reivindicações reconhecidas? Suas instruções seguidas, suas perfeições adoradas,

por aqueles a quem ele veio para abençoar? Não. "Era desprezado, e o mais rejeitado entre os

homens."

Fora do arraial era o seu lugar: carregar a cruz era a sua ocupação.

O mundo lhe deu consolo e descanso? "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos,

mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça."

Este mundo inóspito não lhe proporcionou qualquer abrigo: ele o expulsou e o crucificou.

Do mesmo modo - se você é um seguidor de

Jesus, e mantém uma consistente, caminhada e conversação cristã - você deve esperar ter uma

parte de sua vida espiritual que, em seu

desenvolvimento público, estará sob a

Page 44: O fogo purificador da provação

44

observação dos homens. Eles vão tratá-lo como

eles tratavam o Salvador - eles irão desprezá-lo.

Não sonhe que estes que amam o mundo vão

admirá-lo, ou que por mais santo e mais semelhante a Cristo que você seja, mais as

pessoas vão agir pacificamente em relação a

você. Eles não valorizaram a gema polida, e

como eles valorizariam a joia bruta? "Se eles chamaram o dono da casa de Belzebu, quanto

mais eles chamariam os seus domésticos?"

Se formos mais semelhantes a Cristo, seremos mais odiados por seus inimigos. Seria uma triste

desonra para um filho de Deus ser o favorito do mundo. É um presságio muito ruim ouvir um

mundo perverso batendo palmas e clamando:

"Muito bom" para o homem cristão. Ele pode

começar a olhar para o seu caráter, e maravilhar-se se não tem feito algo de errado,

quando o injusto lhe dá a sua aprovação.

Sejamos fiéis ao nosso Mestre, e não sejamos

cúmplices de um mundo cego e ímpio que lhe despreza e rejeita.

Longe de nós a buscar uma coroa de honra, onde nosso Senhor encontrou uma coroa de

espinhos.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

Page 45: O fogo purificador da provação

45

“No mundo tereis aflições" (João 16.33)

Queres perguntar a razão disto, cristão?

Olhe para o alto, para o teu Pai celeste, e veja-o

puro e santo. Tu sabes que serás um dia como

ele?

Queres ser facilmente conformado à Sua

imagem? Será que precisarás de muito refinamento na fornalha da aflição para ser

purificado? Será que vai ser uma coisa fácil se

livrar das tuas corrupções, para que sejas

perfeito assim como vosso Pai que está nos céus é perfeito?

Em seguida, cristão, volte os teus olhos para baixo. Tu sabes que tens inimigos debaixo dos

teus pés? Tu eras servo de Satanás, e nenhum

rei deseja perder de bom grado seus súditos. Tu achas que Satanás te deixará sozinho? Não, ele

sempre estará ao teu redor, "como leão que

ruge, buscando a quem possa tragar." Espera

então problemas, quando olhares para baixo de ti.

Então olha em volta de ti. Onde estás? Tu estás no território do inimigo, és um estrangeiro e

peregrino.

Page 46: O fogo purificador da provação

46

O mundo não é teu amigo. Se for, então não és amigo de Deus, pois quem é amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.

Tenha certeza de que encontrarás inimigos em toda parte. Quando te deitares, pense que

descansarás no campo de batalha; quando

andares, suspeite de uma emboscada em cada esquina. Como se diz dos mosquitos, que picam

mais aos estranhos do que aos nativos, assim as

aflições da terra serão mais acentuadas para ti.

Por fim, procura dentro de ti , no teu próprio coração e observa o que está lá. Pecado e ego ainda estão no teu interior. Ah! se tu não tens o

diabo para te tentar, nenhum inimigo para lutar

contigo, e nenhum mundo para te seduzir, tu

ainda acharias em ti mesmo mal suficiente para ser um problema doloroso para ti, pois "o

coração é enganoso acima de todas as coisas, e

desesperadamente mau.”

Espere problemas, então, mas não fique desalentado por causa disso, porque Deus é contigo para te ajudar e te fortalecer. Ele tem

dito: "Eu serei contigo quando estiveres em

dificuldades, eu te livrarei e te honrarei."

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

Page 47: O fogo purificador da provação

47

Este Terrível Vento Leste!

"Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração,

à qual, também, fostes chamados em um só

corpo; e sede agradecidos.” (Colossenses 3.15)

Eu não sei como isto acontece, mas durante os

últimos dois ou três dias, eu fui chamado a

simpatizar com um monte de tristezas, como eu

nunca havia experimentado num tão curto espaço de tempo. Um mensageiro de miséria

seguiu no calcanhar de outro, cada um com

notícias duras. E isso não é tudo, pois também

tenho ficado perplexo com uma grande quantidade de pecados, brigas e faltas. As

pessoas estão murmurando, resmungando, se

preocupando e lutando por todos os lados. Isso

tem me tentado tanto que eu me sinto pouco equipado para atuar como consolador, porque

eu mesmo preciso de conforto. Tenho

procurado animar os outros até que eu tenha

bebido do seu cálice de tristeza - eu tentei fazer a paz para outros até o ponto de temer perder a

minha própria - eu tentei responder às

queixas das pessoas até o ponto de ficar tentado

a ter um resmungo ou dois na minha própria conta.

Talvez eu possa aliviar a minha mente com o sermão que eu espero entregar. Eu disse a

alguém a quem muito estimo: "Eu não sei como

Page 48: O fogo purificador da provação

48

isto acontece, mas parece que todo mundo está fora de rumo agora." Sua resposta foi sábia: "O

vento está no leste." Este fato representa um

grande assunto, porque:

Quando o vento está no leste, “isto não é bom para o homem nem para os animais." Algumas pessoas sentem o vento leste de modo terrível –

isto faz com que mordam a primeira pessoa que

encontrarem. Estou contente de achar algum

tipo de desculpa para os meus irmãos cristãos e, se eu não puder encontrá-la em nenhum outro

lugar, mas no vento leste, eu vou fazer o melhor

que puder dele. Mas eu espero sinceramente

que o vento possa soprar em breve por mais um trimestre e que não venha novamente do leste,

até que tenhamos um pouco de descanso, e

renovado o nosso estoque de paciência. Se um

vento cortante provoca desânimo, irritação, descontentamento e mau humor – possam os

ventos suaves nos visitarem com frequência e

nos trazerem a cura em suas asas!

Como o bom tempo não vai durar para sempre, será melhor estarmos preparados para a ventania. Isso fará com que nunca tenhamos

uma fé que seja morta pelo vento - devemos ser

feitos de material melhor do que este! No

entanto, este vento é culpado e eu desejo, portanto, que isto o extinguisse. Se eu pudesse

encontrar um canto aconchegante onde o vento

leste cruel nunca foi sentido, eu me sentiria

Page 49: O fogo purificador da provação

49

inclinado a promover um movimento de

emigração para certas pessoas que eu não vou

citar! Problemas e ventos leste virão para os servos de Deus e eles são enviados para nos fazer

bem, porque talvez, se pudéssemos ter uma

parede de proteção e nos sentarmos para

sempre à luz do sol, sem o vento leste interferindo conosco, iríamos dormir, ou

poderíamos vir a amar tanto este mundo a ponto

de sermos relutantes em deixá-lo!

Seria uma coisa horrível para qualquer um de nós se o vento sul soprasse suavemente sobre nossas faces e sussurrasse gentilmente em

nossos ouvidos uma longa e continuada alegria

que pudesse ser achada na terra porque então

poderíamos ser tentados a nos sentarmos e dizer: "Alma, fique à vontade. Você tem, enfim,

encontrado um lugar livre das provações do

tempo. Portanto, coma, beba e seja feliz, e deixe

o mundo futuro cuidar de si mesmo."

Desconforto familiar, maridos e esposas que não podem concordar, dificuldades domésticas,

irmãos e irmãs que brigam, problemas da Igreja,

os membros que não são tratados gentilmente

por outros (que geralmente não são o mais amável tipo de pessoas, eles mesmos, eu aviso),

dificuldades nos negócios, dificuldades na

pregação - o mundo está repleto dessas coisas!

Page 50: O fogo purificador da provação

50

Quando o vento está no leste, nos deparamos com muitas pessoas que não conseguem ganhar

salários suficientes, outros que acreditam que nunca foram bem tratados desde que nasceram.

E todos estes aparecem em multidões quando o

vento está no leste. Bons homens tornam-se fanáticos por algo novo, encontram falhas nos

velhos amigos, despertam debates e discussões

sobre nada - e isso acontece com mais

frequência quando o vento está no leste. Quando esse tipo de espírito é encontrado entre o povo

cristão, é muito triste. Mas certamente deve

haver um remédio para isto!

Pretendo levá-los hoje ao grande Médico das almas, Jeová Rafá! - O Senhor que nos Cura - que

é capaz de curar todas as nossas enfermidades e dar alívio permanente a todo o mal, para que o

nosso espírito possa estar em repouso. Eu creio

que nós temos uma receita neste versículo, que, se for bem observado, irá livrá-lo de todos os

problemas, e fazê-lo cantar por longo tempo, e

ajudá-lo a viajar da Terra para o Céu e ser, ao

mesmo tempo , tão feliz como os pássaros no ar!

Aqui está: "Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso

coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.” (Colossenses

3.15)

I. Em primeiro lugar, possuir a paz de Deus - "Que a paz de Deus reine em vossos corações."

Page 51: O fogo purificador da provação

51

Ela não pode ser o árbitro em seu coração, se

você nunca sentiu o seu poder! Portanto,

certifique-se de que você está realmente

reconciliado com Deus por Jesus Cristo. Muitas pessoas têm paz, mas, infelizmente, ela é falsa

paz. Eles têm a paz de um suave, gentil, tímido,

tempo - um tipo de paz, que, se não fere

ninguém mais, muitas vezes arruína o seu próprio possuidor. Alguns têm a paz da

ignorância, a paz da estupidez, a paz de absoluta

indiferença - falsa paz. Estes são os seguidores

daqueles falsos profetas que proclamavam: "paz, paz", onde não havia paz. Ai do homem cuja paz

de espírito é como a suavidade mortal da

correnteza quando esta se aproxima da

cachoeira!

Muitos estão à vontade em uma condição que pode fazer com que o cabelo de um homem

sábio fique branco numa noite.

A paz que precisamos ter é a paz de Deus, o que significa, eu acho que, em primeiro lugar, paz

com Deus. Oh, que coisa abençoada é sentir que a grande causa da briga entre o nosso espírito

caído e o grande Espírito é removida - que somos

reconciliados com Deus pela morte de Seu

Filho, que o pecado, o grande divisor, tem sido lançado nas profundezas do mar e que é

estabelecida entre nós e Deus, uma comunhão

feliz!

Page 52: O fogo purificador da provação

52

Espero que muitos de vocês estejam, a esta hora, desfrutando de muita paz. Se você tem isso,

alegre-se nisto! Se você, então, está em paz com Deus, não aja perpetuamente como se a paz

fosse questionável e duvidosa. Se cremos em

Jesus Cristo, "sendo justificados pela fé, temos

paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." Oh, a alegria de saber que, "tanto quanto o

oriente está longe do ocidente, assim tem ele

afastado de nós as nossas transgressões" e que,

portanto, nunca mais podem voltar de uma distância tão imensa, sim, nunca mais voltarão,

pois o Senhor Jesus Cristo as tem lançado nas

profundezas do mar, e se elas forem procuradas,

não serão achadas! Sim, não devem ser, diz o Senhor! Bem-aventurado é o homem que tem

paz com Deus por meio do sangue expiatório!

O crescimento espiritual procede disto, em seguida, a paz com Deus, no que diz respeito a

todas as Suas providências que só pode vir através de uma completa submissão a toda a

vontade divina, porque alguns há que não estão

em paz com Deus, mesmo sobre uma

Providência específica que lhes afligiu anos atrás. Eles permanecem discutindo com Deus

sobre a morte de uma amada esposa, ou filho, ou

mãe - eles não conseguem perdoar a Deus por

ter tomado uma flor do seu próprio jardim. Se eles fossem sábios, não seriam, portanto,

rebeldes, mas encontrariam em seu Salvador

amoroso a recompensa por todas as suas perdas.

Page 53: O fogo purificador da provação

53

Esteja longe de nós levantar uma questão sobre o que a Providência de Deus já fez! Ele deve estar

certo! O ponto é continuar se submetendo a esta

Providência que está agora transpirando. Se, para o presente, a vontade do Senhor deve

enviar-me a pobreza, a obscuridade, a dor, o

cansaço, a vergonha, eu devo estar em paz com

Deus quanto a tudo isto.

Se o Senhor me diz: "Vá através do mar e deixe todos os seus amigos:" Eu não devo me atrasar.

Se Ele diz: "Pregue Verdades Divinas não

desejáveis, que irão lhe dar inimigos", não devo

hesitar. Se Ele diz: "Fique em casa com reumatismo", não devo sair. Se Ele nos nega

aquilo que pensamos que iria nos fazer mais

felizes, mais úteis, não é de nenhuma utilidade

para nós recalcitrarmos contra os aguilhões. O propósito divino certamente será cumprido e a

miséria para nós será lutarmos contra o jugo, no

esforço de tê-lo de outra forma que o amor e

sabedoria infinita de Deus determinou que deve ser!

Se você não pode mudar de lugar, mude de ideia até que a sua mente lhe traga para o seu lugar e

você o amará! Mas se Deus tem uma vontade e

nós temos outra, é claro que a paz de Deus não será ainda o árbitro dos nossos corações.

Embora perdoados e tendo terminado a grande

causa da nossa guerra com Ele, ainda estamos

Page 54: O fogo purificador da provação

54

levantando pontos menores de diferença e

incitando estes conflitos.

A submissão voluntária ao nosso Pai é a paz de Deus. Esta paz de Deus é, também, a paz, como

Deus deseja - como Deus aprova. Que, você sabe,

é em primeiro lugar, paz perfeita consigo

mesmo e depois com todos os homens, certamente, com o seu povo, mas também com

toda a humanidade. "Se possível, tanto quanto

está em vós, tende paz com todos os homens."

Sempre que tenho sofrido graves ofensas, tem sido uma satisfação para mim a sensação de que, se o meu Senhor Jesus Cristo fez expiação por

minhas ofensas e por meus erros, eu posso

olhar também para Sua Expiação como expiação

para o mal feito a mim como a Deus, pois Ele satisfez todas as partes em disputa.

Mas essa paz é chamada paz de Deus, porque é a paz que Deus opera na alma. Não posso produzir

essa paz dentro de mim. Isto é impossível para a

natureza humana não regenerada! Só Deus pode fazê-lo!

"A paz de Deus" significa a paz que nunca termina, eterna paz, a paz que vai morar com a

gente em toda a nossa jornada mortal, até que

entremos na terra da imortalidade!

Page 55: O fogo purificador da provação

55

II. Vejamos agora que, para você possuir esta paz de Deus, você deve deixar que ela seja o árbitro

do seu coração.

Ela deve governar e ocupar o trono do seu coração.

Para que haja paz no coração, como em qualquer

outro lugar, deve haver um governante. Aquelas pessoas que estão sempre interessadas em

derrubar seus governantes, podem se despedir

da paz. Qualquer pessoa que esteja inclinada à

anarquia deve ler a "Revolução Francesa", de Carlyle com cuidado e perguntar a si mesma se

o pior rei não é, afinal, muito melhor do que o

despotismo da multidão.

Você deve ter um governo dentro de sua própria alma, e se nada lhe governa, eu lhe digo abertamente, que prevalecerá o diabo! O

homem que não controla a si mesmo é

controlado pelo diabo, pois ele deve ter um

mestre em algum lugar.

Não podemos ter dois senhores, mas é bem certo que nós devemos ter um! Uma ou outra

fonte vai dominá-lo. Será o seu Criador, ou seu

Inimigo? Seu Salvador, ou o seu Destruidor? É

um dom abençoado da Graça se um homem está habilitado a dizer, pelo Espírito Santo - "A paz de

Deus deve reinar em meu coração." Paulo

aconselhou isto - "Que a paz de Deus reine em

Page 56: O fogo purificador da provação

56

vossos corações." É nos seus corações que ela

deve governar, pois tem o poder de expulsar

toda rebelião.

Você sabe que o árbitro nos jogos gregos decidiam como os corredores deveriam correr;

como os lutadores deveriam lutar, de acordo

com a lei do festival. Ele disse, talvez, que tal e tal

golpe na luta foi um golpe sujo, e se ele disse isso, não havia questionamento - estava

decidido. Nenhum homem jamais questionou

ou poderia invalidar a decisão do árbitro! Sua

voz terminava todo debate.

Agora, a paz de Deus faz o mesmo em nossos corações. Devemos estar decididos a julgar

todas as coisas pela paz de Deus. "O que devo

fazer neste caso? Devo me humilhar? Eu não

gosto, mas como eu deveria agir? Devo me submeter?" O orgulho diz: "Nunca! Não, não!

Nunca ceda!" Mas o que a paz de Deus diz? Ela

diz: "Renda-se". Cristo diz: "Eu vos digo que não

resistais ao perverso... mas quem vos ferir na face direita, oferece-lhe a outra, também. E se

alguém quiser processá-lo na Lei, e lhe tirar o

casaco, deixe que tenha a sua capa, também."

Cristo decide que será bom ser um sofredor, em vez de se vingar.

Eu oro portanto, por vocês, queridos amigos, deixem que a paz de Deus decida por vocês em

todas as provações de paciência, suportando

Page 57: O fogo purificador da provação

57

erros e questões que conduzem a debate e

separação

III. Muito resumidamente, eu quero, em terceiro lugar, dizer: Fortaleçam-se, queridos

amigos, pelo Espírito de Deus, a fim de que possam deixar a paz de Deus reinar em seus

corações e possam ser preservados de qualquer

violação desta paz celestial.

Lembre-se, você só pode ser feliz no coração e saudável no espírito, desde que mantenha a paz

de Deus. Você pode estar certo de se tornar miserável e infeliz – de tropeçar, aqui e ali, em

faltas - se esta paz de Deus se for.

Estou certo de que não pode haver bênção onde não há paz. Uma casa dividida contra si mesma

não pode subsistir.

Sempre que tenho que resolver uma disputa, eu sempre gosto de ter algo grande, uma coisa

ruim nisto, que eu possa apontar para que logo

concordemos com o ponto correto. Quando não

posso, com o microscópio em meus olhos, descobrir o que tem ocorrido, acho que os

irmãos são mais difíceis de serem conciliados. É

mais fácil atirar numa coruja do que num

mosquito! Pequenas diferenças irritam como minúsculos espinhos e você não pode tirá-los da

carne. Oh, que o Espírito de Deus venha sobre as

Igrejas e as transforme em corpos unificados de

Page 58: O fogo purificador da provação

58

fogo! Então, elas não iriam cair aos pedaços por

causa de contendas internas! Quando as almas estão sendo ganhas, quando o Evangelho está

sendo apreciado, quando Cristo está sendo

glorificado, quando a Igreja está em marcha,

vencendo e para vencer através do poder divino que está nela, então existe paz dentro de suas

fronteiras e seus cidadãos são alimentados com

o mais fino trigo! Mas uma vez deixada a vida de

Deus escassear e o Espírito de Deus partir, então a paz se afasta, também. Oh, deixe a paz de Deus

reinar em seu coração, querido irmão, querida

irmã, por causa da Igreja.

Tenho certeza de que se um cristão, sempre procurar falhas em todo mundo ele será de pouca utilidade à causa e ao reino de nosso

Senhor. Aquele que, por onde passa, atua como

um corvo que se eleva no ar com nenhum outro

objetivo senão o de descobrir onde a carniça possa estar, eu digo, que não é um homem

segundo o coração de Deus e nem fará

prosperar a obra do Senhor entre os homens!

Quando você ama seus irmãos cristãos para que suas faltas sejam cobertas por seu amor e você

prefere admirar suas virtudes, a publicar suas

enfermidades, então é que Deus é glorificado

por você! Um povo feliz e pacífico de quem os homens podem dizer: "Veja como esses cristãos

amam uns aos outros", brilham como astros no

mundo e as trevas sentem o seu poder!

Page 59: O fogo purificador da provação

59

O trecho a partir do qual nosso texto é tomado nos oferece outras razões. Ele diz isso - "Para o

que você também é chamado." Você foi

chamado para a paz de Deus. Meu querido

irmão, se você não é um homem pacífico, não tem herdado sua verdadeira vocação. Quando o

Senhor lhe chamou para fora do mundo, Ele lhe

chamou para ser um pacificador. Ele chamou

você com o propósito de que o Espírito da paz pudesse ser derramado em seu coração e que

depois você pudesse levar essa paz consigo em

sua própria família e entre todos os seus

vizinhos e espalhá-la por toda parte. O Senhor Jesus nunca chamou um homem para ser um

criador de contendas! Se uma mulher cristã,

como ela se chama, vai de casa em casa com

mexericos, ela não foi chamada por Deus para fazê-lo – disso estou certo!

Vocês que são os verdadeiros herdeiros do Céu são chamados à paz - busquem a paz e sigam-na.

Onde quer que vá, trabalhe intensamente para

fazer a paz. Se você vir dois meninos lutando, faça-os parar. Se você vir duas meninas de mau

humor, tente fazê-las felizes uma com a outra.

"Bem-aventurados os pacificadores".

Observe a seguir, "chamados em um corpo." Deve haver, portanto, a paz entre os cristãos porque somos chamados em um corpo de paz.

Suponha que meu pé dissesse: "Eu não vou levar

esse corpo pesado sobre mim. Veja o que eu

Page 60: O fogo purificador da provação

60

tenho que sofrer com ele às vezes." O que será de mim se os membros do meu corpo,

começassem a brigar assim? E qual será a glória

de Cristo, se seus membros viverem em

disputas? O que faz a Cabeça se os membros que compõem seu único corpo místico nada têm

para fazer, senão se esforçarem, um contra o

outro?

Oh, não! Se você tiver qualquer diferença, acabe com elas hoje, peço-lhe, se você puder, mesmo que o vento leste seja tão penetrante! Se você

tiver feito sem querer qualquer coisa que tenha

entristecido a outros, tente remediá-lo. Ou se os

outros têm entristecido você, termine o assunto por um doce e rápido perdão. Que seja tudo

terminado com o vento leste! Somos chamados

em um corpo, por isso vamos viver em paz

saudável e que Deus, o Espírito Santo, o Senhor e Doador da paz, nos traga na paz de Deus e nos

mantenha lá, pois para isso fomos chamados em

um só corpo.

IV. O último ponto sobre o qual vou falar é este - mantenha-se correto, ocupe sua mente saudavelmente. "Como?" você pergunta. O texto

diz: "Sede agradecidos." Essa é a maneira de

manter a nossa paz com Deus! "Seja grato." Não

reclame, mas bendiga o seu nome por tudo! Não brigue com ele, mas seja grato. Diga: "Aceitamos

o bem das mãos do Senhor, e não receberíamos

o mal? O Senhor o deu e o Senhor o tomou,

Page 61: O fogo purificador da provação

61

bendito seja o nome do Senhor." Essa é a

maneira de estar em paz com Ele - ser grato a

todo momento. Bendito seja Deus por suas misericórdias e por suas misérias! Bendiga-o

por seus ganhos e por suas perdas! Bendiga-o

por suas alegrias e prazeres, e também por suas dores! Bendiga-o da manhã à noite e através de

todas as vigílias da noite. "Ele não nos trata

segundo os nossos pecados". Seja grato!

Certamente, o vento está mudando de um ponto a outro - vamos encontrá-lo soprando por um

outro trimestre! Eu não estou disposto a brigar com alguém, eu preferiria correr uma milha do

que lutar por meio minuto! Não há ninguém no

mundo que eu gostaria de enfrentar, meu

coração está cheio de boa vontade para com todos os homens!

Ninguém no mundo é digno de contendermos contra ele como os nossos interesses temporais.

Mesmo a lei necessária é incômoda e vexatória.

Seja grato, então, e com gratidão a Deus e gratidão para com aqueles ao seu redor, você

pode ganhar o dia, oh, quão feliz será o dia! Na

família e nos negócios, Deus será glorificado, a

Igreja será dócil e unida - veremos tempos melhores e não resmungaremos por longo

tempo por causa do vento leste! Que Deus lhes

abençoe!

Page 62: O fogo purificador da provação

62

Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1693 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas

pelo Pr Silvio Dutra.

Page 63: O fogo purificador da provação

63

A Provação Bíblica da Fé

Quando se fala na Bíblia de provação da fé do

cristão, como por exemplo nos primeiros

capítulos de I Pedro e Tiago, o que está em foco

não é permanecer firme na fé para que

recebamos de Deus soluções para os nossos problemas neste mundo, mas, sim, permanecer

na comunhão com Cristo e prática da Sua

Palavra, a par de todas as vicissitudes que aqui

soframos.

Jó, Abraão, o profeta Jeremias, os apóstolos Paulo e Pedro, e muitos outros foram assim

provados e foram vencedores porque

confirmaram a sua fidelidade a Deus em tudo o

que sofreram.

“Eles, pois, o venceram (o diabo) por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do

testemunho que deram e, mesmo em face da

morte, não amaram a própria vida.” (Apocalipse

12.11)

Page 64: O fogo purificador da provação

64

Fardos Inevitáveis da Vida

"Porque cada qual levará o seu próprio fardo." (Gálatas 6.6)

Em um verso o apóstolo diz: "Carregai os

fardos uns dos outros, e assim tereis cumprido a lei de Cristo", enquanto no versículo do nosso

texto, ele diz: "Todo homem levará o seu próprio

fardo." Ainda assim, ele não está se

contradizendo. Ele estaria, se estivesse falando literalmente de encargos, mas ele está falando

metaforicamente e, consequentemente, ele usa

a figura em primeiro lugar, de uma maneira e

depois de outra.

Pode ser útil para nós, irmãos, aprender a nunca tirar argumentos e doutrinas de metáforas.

A verdade é que existem cargas que podem ser compartilhadas e que devem ser

compartilhadas. O fardo da dor, da necessidade

pecuniária, o de problemas do coração às vezes podem ser suportados, mas, por outro lado,

existem fardos que nenhum homem pode e

nem deve compartilhar com seu companheiro,

mas onde cada o homem deve se empenhar sozinho diante de Deus e ninguém pode ajudá-

lo. É sobre este tipo de fardo que estaremos

falando.

Page 65: O fogo purificador da provação

65

Ao falar dos três primeiros fardos que terei de mencionar, vou me dirigir a todos vocês, sejam

santos ou pecadores, pois existem algumas verdades de Deus que são comuns a todos os

homens. E esse é o primeiro fardo, o peso do

pecado original. O peso da nossa depravação

natural, o fardo de nossa natureza decaída, o fardo da nossa constituição, que é pervertida

pelo mal - estes devemos, cada um de nós, tem

que levar por si mesmo. Pode-se dizer que este

não é nosso fardo, mas de Adão, mas o fardo do pai, se ele traz toda a família à pobreza, torna-se

o fardo da família e de cada membro dela. Se a

cabeça deve doer, não adianta a mão dizer: "Não

é da minha conta." Há, também, de modo vital e íntimo a conexão entre o corpo inteiro da

humanidade com Adão, sua cabeça, de modo

que a queda de Adão se torna nossa,

A ruina de Adão se tornou a nossa ruína e a mancha no sangue pode ser encontrada em todos nós. Vocês estão "mortos em delitos e

pecados". Mas, se alguma vez você é vivificado

pela graça divina, você vai logo descobrir que "o

corpo desta morte", como chama Paulo, o pecado que em nós habita, é um fardo muito

pesado para você lutar contra ele e terá que lutar

pessoalmente o conflito dentro de sua própria

alma. Você vai ter de chamar a ajuda do Poder Divino, ou você nunca vai conseguir a vitória -

mas, para vencer a sua própria corrupção, a

superação de seus próprios pecados que o

Page 66: O fogo purificador da provação

66

afligem e dos males que são mais poderosos em você do que em outros, porque você está

constitucionalmente inclinado a eles - nessa

batalha você terá que lutar por si mesmo! Você

pode obter alguma ajuda com a experiência de outras pessoas, mas ainda assim, a luta e o

conflito têm que ser vencidos por você.

Os jovens, nunca imaginam que todo o treinamento do mundo pode livrá-los de seu

mal sem uma luta séria de sua própria parte! Não se concebe que as orações de uma mãe vão

te dar uma boa consciência, a menos que você

também aprenda de Cristo por si mesmo. Não se

concebe que as repreensões de um pai podem vencer seu mau temperamento, a menos que

você lute contra ele. E se você habitualmente

tem uma tendência ao orgulho, não se concebe

que as pregações do pastor contra o orgulho possam vencer o orgulho em você! Não, em

nome de Deus, você deve ir para a sala de armas

e pedir a espada do Espírito, para que

pessoalmente, cingido com força divina, você possa obter através da oração fervorosa, vencer

os pecados que afligem a sua própria alma!

Nesse sentido, então, você terá que arcar com o

seu próprio fardo.

Agora, enquanto há vida, há esperança. "Todo pecado e iniquidade serão perdoados aos

homens. Se confessarmos os nossos pecados,

ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados",

Page 67: O fogo purificador da provação

67

mas a menos que o pecado seja removido, ele

deve permanecer o nosso próprio fardo para

sempre e sempre! Você não vai se livrar dele, se unindo à igreja. Você não pode se livrar dele,

passando por rituais e cerimônias. Viemos

através das portas da vida para este mundo

sozinhos, vamos voltar através dos portões de ferro da morte, cada homem sozinho. E o

julgamento, embora multidões serão reunidas,

será um julgamento individual - cada um

pesado na balança, por si só, seja para ouvir o veredicto que eles são "aceitos no Amado", ou

então ouvi-lo dizer: "Fostes pesado na balança e

achado em falta."

Mais uma vez, ao falar assim, tanto para santos quanto a pecadores, "cada qual levará o seu próprio fardo" da Lei. Pelo pecado não

escapamos da Lei. A Lei de Deus é obrigatória

para todo o homem nascido de mulher, a menos

que, por estar morto para a Lei por meio de Cristo, ele escapa do seu jugo e escravidão.

Agora, o crente não está sob a Lei. Não me

entenda mal. Quero dizer que ele não está sob a

Lei, no sentido em que o pecador está sob ela. Ele não está sob o seu poder de condenar! Ele

não está sob a Lei, mas ele está debaixo da graça!

O princípio da Lei não o prende, é o princípio do

amor que rege e governa o seu espírito. Agora, cada um que está sob a Lei é obrigado a cumpri-

la pessoalmente. Olhem, meus queridos amigos

que nunca fugiram para Cristo - olhe para onde

Page 68: O fogo purificador da provação

68

você está. A Lei de Deus é como uma lei que

Adão não conseguiu guardar, embora inocente.

Como, então, você a guardará enquanto

imperfeito? É uma Lei espiritual - uma Lei que diz respeito não somente às suas ações, mas

suas palavras e seus pensamentos - como você

pode guardá-la? Feliz é o homem que escapou

dos territórios da Lei de Deus e entrou nos domínios da Graça Divina!

E agora vamos deixar esses três pontos que são comuns a todos os homens e simplesmente

falar dos fardos que os crentes que têm de

carregar, cada um por si!

E em primeiro lugar, meus irmãos e irmãs,

quando temos sido vivificados e despertados, veremos a necessidade diária para a confissão

dos pecados e aqui, "cada qual levará o seu

próprio fardo." Arrependimento é peculiarmente a Graça privada e pessoal.

Lamentação pelo pecado é uma coisa para a

própria câmara.

Na medida em que o pecado tem sido comum podem confessar em conjunto, mas na medida

em que a culpa é, em cada caso particular, portanto, deve haver confissão individual.

Além disso, meus irmãos e irmãs, há um outro fardo que temos de carregar e que devemos

assumir com alegria, e que é o jugo de Cristo

Page 69: O fogo purificador da provação

69

Jesus: "Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de Mim". E então Ele acrescenta: "Porque o meu

jugo é suave e o meu fardo é leve." Somos

obrigados a obedecer a Cristo. Ele é o capitão,

nós somos seus soldados. Devemos obedecer espontaneamente os comandos do nosso

grande líder! Ele é o nosso pastor, devemos nos

manter perto dEle, andando em Suas pegadas e

deleitando em sua companhia. Ele é o médico, nós devemos seguir a Su prescrição, não

hesitando, mesmo que o remédio que ele dá seja

muito amargo. Perfeita obediência é o que Jesus

Cristo tem o direito de reclamar de nós! Oh, que Ele nos dê a graça para que Ele possa receber de

acordo com seus direitos!

Além disso, irmãos e irmãs, eu acho que devemos, cada um de nós, sentir que temos um

fardo de oração para levar para o propiciatório. "Cada um levará o seu próprio fardo" a este

respeito.

Assim, também, deve cada um de nós ter o seu próprio fardo de testemunhar de Cristo. Cada

homem é chamado a dar testemunho da Verdade que ele conhece. Há muitas coisas que

eu não sei, por que eu deveria, então, fingir

dar um testemunho sobre elas? Mas há cerca de

duas ou três coisas que eu sei. Tenho a certeza sobre elas, e se eu não falar positivamente sobre

elas, vou deixar de ter meu fardo diante do

Senhor. E há alguma uma verdade de Deus,

Page 70: O fogo purificador da provação

70

talvez, meu irmão, sobre a qual você tem um

pouco de luz de Deus, um pouco mais leve do

que seus vizinhos. Não esconda a Luz de Deus! Deus nunca acende uma candeia para colocá-la

debaixo do alqueire. Se você recebeu, seja por

experiência ou pesquisa, qualquer luz especial que é peculiar a você espalhe-a quanto possa e

como deve ser, a propriedade comum da Igreja

de Deus, para a Glória de Deus!

Devemos lembrá-lo de que Jesus Cristo é o grande Carregador de Fardos para todos os Seus

santos, pois, apesar de, por um lado, você ter que arcar com seus próprios fardos, mas por outro

lado, Cristo vai carregar todos os seus fardos

para você! Seu fardo do pecado foi colocado

sobre Ele como o bode expiatório para a sua alma.

Você deve lembrar que seu fardo é fácil de ser suportado quando Cristo está com você. Quando

Jesus Cristo o fortalecer com todo o poder em

seu homem interior e colocar em você Sua própria Onipotência para ser o seu socorro,

então a carga deixa de ser um fardo para você

por mais tempo!

E, bendito seja Deus, como nós temos o nosso próprio fardo, por isso temos a nossa própria alegria. O mais miserável e infeliz cristão no

mundo, irá dizer-lhe, ele tem uma fonte secreta

de alegria que os outros não têm. Na verdade, é

Page 71: O fogo purificador da provação

71

de notar que aqueles que têm dores profundas

geralmente têm proporcionalmente alegrias

profundas!

Mais uma vez, é verdade que nós, todos nós, temos um fardo para carregar, mas não temos que carregar esse fardo por muito tempo. Você

não tem muita pena de um homem que tem que

transportar uma carga apenas durante o piscar

de um olho. Bem, toda a vida não é mais do que isso! Basta pensar, meus queridos amigos sobre

a eternidade - e que é então esta vida? Imaginar-

nos sentados no céu em meio à bem-

aventurança eterna, e que momento breve a nossa vida aqui vai parecer!

Partes de um sermão de Charles Haddon

Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

Page 72: O fogo purificador da provação

72

A Prova da Vossa Fé

"A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)

A verdadeira fé é, em todos os casos, a

operação do Espírito de Deus. Sua natureza é purificadora, edificadora, celestial. Ela é de

todas as coisas que podem ser cultivadas no

peito humano, um dos bens mais preciosos. Ela

é chamada de "fé preciosa", e também de "a fé dos eleitos de Deus." Onde quer que a fé é

encontrada, é a marca de certeza da eterna

eleição, o sinal de uma condição abençoada, a

previsão de um destino celestial. É o olho da alma renovada, a mão da mente regenerada, a

boca do espírito recém-nascido. É a evidência da

vida espiritual - é a mola mestra da santidade – é

o fundamento da alegria - é a profecia de glória - é o alvorecer de conhecimento infinito.

Se você tiver fé, você tem infinitamente mais do que aquele que tem todo o mundo e que é

carente de fé. Para aquele, que crê é dito, "Todas

as coisas são suas." A fé é a certeza da filiação, o penhor da herança, a compreensão da posse

sem limites, a percepção do invisível. Dentro de

sua fé reside a Glória. Se você tiver fé, você não

necessita pedir por muito mais, salvo que sua fé pode crescer muito e que todas as promessas

que são feitas para ela podem ser conhecidas e

compreendidas por você. Aquele que tem fé é

Page 73: O fogo purificador da provação

73

bem-aventurado porque ele agrada a Deus e está

justificado diante do trono de santidade - tem

pleno acesso ao Trono da Graça, e tem a preparação para reinar com Cristo para sempre.

Até agora, tudo é prazeroso. Mas então vem, nesta palavra, que a tantos assusta - "A prova da

vossa fé." Você vê o espinho que cresce com essa

rosa? Você não pode recolher a flor perfumada sem seu companheiro áspero. Você não pode

possuir a fé sem experimentar a provação. Essas

duas coisas estão juntas - fé e provação.

Deixe-me dizer isso - sua fé será certamente provada. Você pode ter certeza disso. Um

homem pode ter fé e estar no presente sem provação. Mas nenhum homem jamais teve fé e

esteve toda a sua vida sem provação. A própria

natureza da fé implica um grau de provação.

Eu não vejo como possa ser fé tudo o que não é

provado pelo seu próprio exercício. Não se engane, Deus nunca nos deu a fé para

brincadeira. Ela é uma espada, mas não foi feita

para apresentação em um dia de gala. É uma

espada que foi feita para cortar e ferir e matar. E quem a possui pode esperar, entre aqui e o Céu,

que ele saberá o que significa a batalha.

Você não pode viver sem fé - porque uma e outra vez nos é dito, "o justo viverá pela fé". Sabendo

Page 74: O fogo purificador da provação

74

que é a nossa vida, e que, precisaremos,

portanto, sempre dela.

E se Deus lhes tem dado uma grande fé, meus queridos irmãos, vocês devem esperar grandes provações. Pois, à medida que a sua fé crescerá,

você vai ter que fazer mais e aguentar mais. E se

Ele faz a fé crescer, é com o propósito que ela

seja usada ao máximo e exercitada ao máximo.

Esperem provações, também, porque a provação é o próprio elemento da fé. A fé é uma

salamandra que vive no fogo, uma estrela que se

move em uma esfera sublime, um diamante que

faz o seu caminho através da rocha. Fé sem provação é como um diamante bruto, cujo

brilho nunca foi visto. Fé inexperiente é tão

pouca fé que alguns têm pensado que não se

tem fé afinal. O que um peixe seria sem água, ou um pássaro sem ar, que seria a fé sem provação.

Tal é a natureza da fé que ela não prosperará, salvo em ocasiões que podem parecer ameaçar

a sua morte. Na verdade, é a honra da fé ser

provada. Algum homem pode dizer: "Eu tenho fé, mas eu nunca tive que crer sob dificuldades"?

Quem sabe se você tem alguma fé? O homem

dirá: "Eu tenho muita fé em Deus, mas eu nunca

tive que usá-la em algo mais do que os assuntos comuns da vida, onde eu provavelmente

poderia ter agido sem ela, tanto quanto com

ela"? É esta a honra e louvor de sua fé? Você acha

Page 75: O fogo purificador da provação

75

que essa fé trará qualquer grande glória a Deus,

ou trazer-lhe qualquer grande recompensa? Se

assim for, você está poderosamente enganado.

Daquele que foi provado por Deus e aprovado por Ele, é que se dirá: "Muito bem, servo bom e

fiel." Tivesse Abraão parado em Ur dos caldeus

com seus amigos e descansado e se divertido lá,

onde estaria a sua fé? Ele teve a ordem de Deus para deixar o seu país para ir para uma terra que

ele nunca tinha visto, para peregrinar ali com

Deus como um estrangeiro, que habitava em

tendas. E em sua obediência à sua chamada a sua fé começou a ser ilustre. Onde estaria a

glória da sua fé, se não tivesse sido chamado

para ações corajosas e de autonegação?

E quando Abraão veio para a prova mais severa, "Toma agora o teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas e oferece-o em holocausto sobre

um dos montes que eu vou lhe mostrar". Quando

ele se levantou de madrugada e recolheu a

madeira e tomou o seu filho e andaram caminho de três dias, colocando seu rosto como um seixo

para obedecer ao mandamento de Deus,

quando, finalmente, ele tirou a faca, em

obediência fiel ao Divino Comando – então sua fé foi confessada, elogiada e coroada.

Aqui a sua fé ganhou grande fama e tornou-se o "Pai dos fiéis", porque ele era o mais provado dos

Crentes e ainda superou todos eles na crença

Page 76: O fogo purificador da provação

76

infantil em seu Deus. Se Deus, então, deu a

qualquer um de nós uma fé que é honrosa e preciosa ela será submetida com plena certeza à

sua própria devida medida de provação.

E, além disso, queridos amigos, é necessária a prova de nossa fé para remover suas impurezas.

Há muitos acréscimos de matéria sórdida sobre as nossas mais puras graças. Confundimos

quantidade com qualidade. E uma grande parte

do que pensamos que temos da experiência

cristã e conhecimento cristão e zelo cristão e paciência cristã é apenas a suposição de que

temos essas graças, e não a verdadeira posse.

Assim, o fogo cresce mais acirrado e a massa fica menor do que era antes. Existe alguma

perda nela? Acho que não. O ouro não perde nada pela retirada de suas impurezas e nossa fé

não perde nada pela dissipação de sua força

aparente. A fé pode, aparentemente, perder,

mas na verdade ganha. Pode parecer ser diminuída, mas não é realmente. Tudo o que

vale a pena ter está lá.

Você terá provações, porque Deus, na Sua sabedoria, lhe dará a fé que você necessita. Não

fique, no entanto, ansioso para entrar em provação. Não se preocupe se a tentação não

vem agora. Você vai tê-la em breve. Entre o dia

do nosso novo nascimento e o dia da nossa

Page 77: O fogo purificador da provação

77

entrada na nossa herança, teremos provas

bastante suficientes de nossa fé.

A sua fé vai ser provada de maneiras variadas. A prova de nossa fé não chega a todas as pessoas da mesma maneira. Há alguns cuja fé é provada

a cada dia em sua comunhão com Deus.

Além de qualquer aflição externa, que o pensamento busca, esse sentimento interior

que é um pouco mais do que pensamento, aquele santo segredo tremendo que vem sobre

nosso espírito, quando Deus se aproxima, é a

provação constante de Deus de nossas graças. Se

você se afastar de Deus e viver sem comunhão com Ele, você pode manter em seu coração

muita falsidade e fantasia que você está cheio de

dons e graças espirituais. Mas se você se

aproximar de Deus e andar com Ele, você não será capaz de manter uma opinião falsa de si

mesmo. Lembre-se de que o Senhor Nosso Deus

é um fogo consumidor.

Muitas vezes me lembrei da maneira em que as pessoas tentam melhorar as Escrituras quando dizem: "Deus fora de Cristo é um fogo

consumidor." A Bíblia não fala assim. Ela diz:

"Porque o nosso Deus é um fogo consumidor."

Isto é, Deus em Cristo, que é o nosso Deus, é um fogo consumidor. E quando o seu povo viver

nEle, a própria presença de Deus consome neles

o amor ao pecado e todas as suas graças

Page 78: O fogo purificador da provação

78

pretensiosas e realizações fictícias para que o falso desapareça e somente a verdade sobreviva.

A presença de santidade perfeita está matando a

jactância vazia e os fingimentos ocos.

Sempre que Jesus permanece conosco: "Ele se assentará como um refinador". A nenhum dos

eleitos deixará sozinho em sua corrupção, "Ele purificará os filhos de Levi." É o próprio Senhor

que será como o fogo do ourives e como o sabão

dos lavandeiros. Quem suportará o dia da sua

vinda? Quem ama a santidade gostaria de fugir dela?

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

Page 79: O fogo purificador da provação

79

Tendo Bom Ânimo num Mundo de

Aflições

Vida sem sofrimento, de perfeita e plena

saúde, felicidade, alegria, paz, pureza, amor,

harmonia, há somente no céu.

A falta desta perfeição aqui na Terra é devida às consequências do pecado que há em toda a humanidade.

É de tal ordem e tão extensa a tragédia desta condição que até mesmo os demais seres vivos

(vegetais e animais) dela compartilham pelas

coisas que sofrem juntamente com a

humanidade, e que fazem com que toda a criação esteja gemendo até agora, aguardando

por aquele dia venturoso no qual será libertada

desta condição de miséria latente.

Estas palavras não são de pessimismo, mas da

mais pura expressão da verdade e realidade quanto ao nosso estado presente, e trazem

também a esperança otimista da única forma de

se libertar deste quadro terrível, que é por meio

da fé em Jesus Cristo.

Mas, enquanto aqui estivermos, mesmo em Cristo, sempre teremos nossas alegrias

misturadas com tristezas. Nem sempre em

decorrência do que haja em nós, mas pelo que

Page 80: O fogo purificador da provação

80

compartilhamos dos sofrimentos de nossos

semelhantes e de toda a criação.

Todavia é segura e certa a concretização da promessa que Ele nos fez de alcançarmos a

perfeição em glória quando da Sua segunda

vinda para restaurar todas as coisas àquela

condição original planejada por Deus para as Suas criaturas.

Vemos assim que não é desvantajoso sofrer e chorar enquanto aqui estivermos, e sentirmos

profundamente nossas limitações e misérias,

porque isto pode ser um fator contribuinte para nos conduzir à busca de socorro em Cristo, e por

conseguinte à conversão.

Daí Ele ter dito que são bem-aventurados os que choram e os que sofrem por serem perseguidos

por seu amor à justiça.

Deus se compadece profundamente não

somente por estes que choram, como também por aqueles que são ignorantes quanto à sua real

condição e que continuam buscando achar

nesta vida motivos que lhes tornem felizes e

alegres.

Não são poucos os que, neste segundo grupo, são conduzidos por Deus, por amor e

misericórdia, através das vicissitudes que

experimentam, a entenderem por fim que não é

Page 81: O fogo purificador da provação

81

aqui o nosso lugar de paz e descanso. Que há

uma grande luta a ser travada, por meio da fé,

para vencer o pecado e todos os inimigos espirituais que operam neste mundo de trevas.

Não fosse pela infinita bondade, longanimidade e misericórdia de Deus, jamais seríamos objeto

deste Seu trabalho de restauração paciente e

progressiva do qual todos somos necessitados.

Deus está trabalhando para o nosso bem,

enquanto sofremos.

Daí a exortação que nos é dirigida em Sua Palavra:

Heb 12:12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos;

Heb 12:13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes,

seja curado.

Page 82: O fogo purificador da provação

82

Abatidos mas não Destruídos

Para nosso consolo e esperança Deus mandou

registrar os seus grandes feitos do passado, na Bíblia, para que jamais duvidemos do Seu poder,

justiça e amor, que estarão sempre atuando em

favor daqueles que o amam e temem.

Tudo o que se levanta contra o Senhor haverá de cair, porque demonstrou fartamente na antiga dispensação da Lei, o que sucedeu aos inimigos

de Israel quando este andava em fidelidade na

Sua presença.

Ele quebra o arco do Inimigo e quebra a sua lança, e frustra todos os seus projetos malignos, transformando maldições em bênçãos.

Vivemos no meio das águas tumultuosas deste mundo exatamente para o propósito de

aprendermos estas verdades, de modo prático

em nossa experiência cotidiana.

A experiência do apóstolo Paulo será a mesma

que viverão todos aqueles que seguirem os seus passos quanto à fidelidade que é devida a Deus,

como podemos ver em suas palavras em II Cor

4.8,9:

Page 83: O fogo purificador da provação

83

“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não

desanimados;

perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;”

Page 84: O fogo purificador da provação

84

Aflições Aliviadas

Temos no Salmo 31 mais uma das orações

modelares de Davi que ele costumava fazer

quando se encontrava debaixo de aflições e de

angústias. Faríamos bem em lhe seguir os passos toda vez em que nos encontramos nas

mesmas condições que ele havia

experimentado, quando por causa do Seu amor

pelo Senhor, muitos lhe armavam laços às ocultas, e nas quais sempre fazia do Senhor a sua

fortaleza, e entregava o seu espírito nas Suas

mãos para ser livrado.

Ele sabia perfeitamente que era uma coisa vã recorrer a ídolos para receber livramento.

Ao contrário, os laços aumentariam, porque Deus abomina os que adoram ídolos.

Sua confiança estava colocada inteiramente no Deus invisível cuja vontade está revelada na

Bíblia.

Ele somente se alegrava e se regozijava quando o Senhor lhe manifestava a Sua benignidade o

livrando das mãos dos inimigos, que angustiavam e afligiam a sua alma, e firmando

os seus pés num lugar espiritual espaçoso, em

que já não podia mais estar sendo oprimido.

Page 85: O fogo purificador da provação

85

A misericórdia do Senhor para com ele era tão grande, que mesmo quando Davi chegava a

desesperar da vida, pensando que Ele lhe havia abandonado, e que seria destruído por seus

inimigos, o Senhor sempre se manifestava no

fim, lhe dando livramento.

De modo que a sua fé nEle, na Sua bondade e misericórdia, aumentava cada vez mais, pois via

como Ele envergonhava os perversos, e emudecia os lábios mentirosos que falam

insolentemente contra o justo, com arrogância

e desdém.

Davi aprendeu que Deus sempre age assim com aqueles que se refugiam nEle.

Livrava Davi. Livra você. Livra a mim.

Crer no Senhor na hora da aflição é alívio garantido.

Certamente a fraqueza do espírito é mui grande na hora da angústia, e parece não ter forças ou

sequer desejo de confiar em Deus e nem em si

mesmo, mas é preciso lhe pedir socorro ainda

que seja com um sinal de um levantar de um dedo, dizendo: “Senhor olha para mim. Sê o meu

auxílio!”

Isto é infalível, porque Ele não se nega a ajudar a qualquer que o busque.

Page 86: O fogo purificador da provação

86

Por isso Davi conclamava todos a amarem ao Senhor, porque Ele preserva os fiéis para Si, para que o amem e o sirvam.

Ele havia aprendido também que a fé é sempre colocada à prova pelo Senhor, nas aflições que

sofremos, para que aprendamos a não

confiarmos em nossa própria justiça, em nossa santidade, em nossa capacidade, que são muito

importantes, mas não para nos livrar no dia da

angústia, porque nestas ocasiões temos que

colocar toda a nossa confiança no poder de Deus, esperar com fé pela sua resposta e

intervenção, clamando-Lhe por socorro.

Page 87: O fogo purificador da provação

87

O Bom Efeito da Tribulação

Antes de ter sido afligido, Jó era um bom

conselheiro, mas depois do seu sofrimento ele

seria transformado por Deus não apenas num conselheiro excelente, como também num

intercessor poderoso em favor dos que sofrem.

Ele já estava demonstrando as lições que estava aprendendo nestas palavras de grande

humildade que lemos no 16º capítulo. Via agora

quão fácil é consolar ineficazmente a outros quando não se passou pelas provas que eles

estão experimentando.

Quão difícil é o caminho da consolação por mera palavras, porque viu que no seu próprio caso,

não seriam palavras que lhe trariam alívio, nem mesmo o fato dele permanecer calado.

Quando somos atribulados em grandes angústias, pela permissão de Deus, do muito

que aprenderemos, talvez a lição mais

importante seja esta de que consolaremos a outros não com nossas palavras exortativas, mas

com o próprio testemunho de que passamos por

vales profundos tal como eles, e de que o Senhor

não nos desamparou ainda que parecesse estar distante enquanto caminhávamos

solitariamente tendo por companhia apenas a

nossa própria dor.

Page 88: O fogo purificador da provação

88

É a isto que Paulo se refere em II Cor 1.3-7:

“3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de

toda a consolação,

4 que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que

estiverem em alguma tribulação, pela

consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.

5 Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por

meio de Cristo transborda a nossa consolação.

6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se opera

suportando com paciência as mesmas aflições

que nós também padecemos;

7 e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.”

Deus permitiu que Paulo chegasse ao extremo do desespero, conforme afirma no verso 8:

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que

fomos sobremaneira oprimidos acima das

Page 89: O fogo purificador da provação

89

nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos;”

Todavia, o permitira para que aprendesse que Ele nunca nos desampara, mesmo quando

parece que fomos desamparados por Ele, tal

como Jó estava se sentindo.

E é isto que temos para compartilhar com outros

que estão sofrendo as mesmas tribulações, tal como nós, para que sejam consolados, ao

saberem, que por mais demorado que Deus

possa parecer, Ele nos livrará de todas as nossas

tribulações, conforme nos tem prometido, ainda que seja pela morte física, em paz, se isto

estiver no conselho da Sua santa vontade.

Por isso o apóstolo afirma ainda nesta mesma epístola o seguinte:

“9 portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;

10 o qual nos livrou de tão horrível morte, e livrará; em quem esperamos que também ainda

nos livrará,”

E também em II Cor 4.8-11:

“8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados;

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90

9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste

em nossos corpos;

11 pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que

também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.”

Aí está declarado de forma sucinta o propósito divino nos sofrimentos de Jó, e que ele não podia

entender até que a perseverança tivesse a sua

obra completa, de maneira que pudesse

aprender de Deus, como estava sendo aperfeiçoado para consolar a outros e a

interceder por eles, conforme havia feito pelos

seus próprios amigos, para que fossem livrados da ira de Deus, conforme vemos no final do seu

livro.

Jó estava chegando no ponto que Deus desejava. Até então ele estava lutando vigorosamente

contra as palavras injustas de seus amigos.

Mas agora, ele declara que Deus havia conseguido deixá-lo exausto, e que a penúria física havia avançado de tal forma que ele ficou

muito magro, e isto testemunhava contra ele,

que havia sido enfraquecido pelo Senhor, então

Page 91: O fogo purificador da provação

91

não haveria nenhum proveito em querer se mostrar forte, quando o propósito de Deus era

justamente o de enfraquecê-lo.

Ele o faz porque enquanto somos fortes por nós mesmos não podemos experimentar o poder da

Sua graça, que se mostra forte somente naqueles que são enfraquecidos por Ele de tal

forma, de maneira que vejam toda a sua

insuficiência, e que confiem somente na

suficiência que Ele supre, tal como Paulo havia aprendido e o declara no décimo segundo

capítulo de II aos Coríntios.

A ruína veio violentamente sobre Jó quando ele se encontrava num ato de devoção oferecendo

sacrifícios a Deus por cada um de seus filhos. Quando ele estava com sua alma descansada e

em plena comunhão com o Senhor.

Não foi quando cometeu algum pecado que isto lhe sobreveio, mas quando estava santificado.

Deus o faz geralmente para que não associemos o motivo de nossas aflições a algum castigo por pecados que tenhamos praticado.

Ele o faz para que saibamos que é a hora da disciplina do Espírito. É a hora da provação da fé,

para que seja aumentada ainda mais.

O sentimento que temos é o mesmo de Jó, porque da paz espiritual e alegria em que nos

Page 92: O fogo purificador da provação

92

encontrávamos somos sobressaltados como

que se o Senhor nos agarrasse pelo pescoço e nos quebrantasse, despedaçando-nos e

colocando-nos como um tipo de alvo no qual

ordenará que os seus flecheiros lancem sobre

nós as suas flechas (v. 12, 13).

Além disso, não nos sinaliza com nenhuma palavra consoladora ou de misericórdia. Deixa

que pensemos que o quadro se agravará ainda

mais, e que não seremos poupados.

E somos quebrantados em nosso espírito com golpe sobre golpe, como quem sofre o ataque da parte de um guerreiro.

O resultado destes ataques é o de que toda exaltação e glória pessoal são reduzidas a pó.

Deixamos de nos ter até mesmo em pouca estima. Nos sentimos como o pano com o qual se

limpa o chão. Perdemos a vergonha de chorar

publicamente. De admitirmos que somos menos do que nada a nossos próprios olhos.

Pode parecer estranho a muitos esta forma de tratamento usado por Deus. Não parece as ações

de um Pai bondoso, senão cruel. No entanto, não

há outro modo de sermos livrados de nossa vaidade e endurecimento. Portanto, trata-se da

mais elevada exibição da Sua misericórdia e

amor para com aqueles aos quais Ele ama.

Page 93: O fogo purificador da provação

93

Todo verdadeiro santo deve estar preparado em seu espírito para receber este tratamento, ao

menos num determinado período de sua vida, se aspira de fato crescer na graça e no

conhecimento de Jesus Cristo, e tornar-se

alguém do qual se possa dizer o mesmo que o Pai disse de nosso Senhor: “Este é meu filho amado

em quem me comprazo.”. Não há outro modo

para aprendermos humildade e mansidão, a

submissão verdadeira que deve existir em todos aqueles que têm sido tornados semelhantes a

Cristo.

É um erro portanto, dizer que as experiências de Jó foram exclusivas para ele, e que configuram

uma exceção à regra geral de Deus.

Jó estava aprendendo a chorar somente diante de Deus, porque viu que os nossos amigos na verdade, zombam de nós, em nossas misérias, e

que somente Deus pode defender o direito que

o justo tem perante Ele (v. 20, 21)

Ele prosseguiria se defendendo das acusações injustas que estava recebendo da parte dos seus amigos, como veremos adiante, mas já não

dando muita importância a elas, porque estava

aprendendo que não há verdadeiro consolo e

sabedoria nos homens, se eles não os recebem diretamente de Deus, por tê-lo aprendido numa

experiência real e prática com Ele.

Page 94: O fogo purificador da provação

94

Quebrantamento na Aflição

Ec 7.13: “Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?”.

O propósito de Deus em afligir alguém para

algum propósito de juízo ou de aperfeiçoamento

espiritual haverá de ser cumprido pelo tempo que Ele determinou sem que ninguém possa

mudar isto. Este é um dos principais

significados de Ec 7.13.

I Pe 4.15-19: “Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios

alheios; mas, se padece como cristão, não se

envergonhe, antes glorifique a Deus neste

nome. Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e se começa por

nós, qual será o fim daqueles que desobedecem

ao evangelho de Deus? E se o justo dificilmente

se salva, onde comparecerá o ímpio pecador? Portanto os que sofrem segundo a vontade de

Deus confiem as suas almas ao fiel Criador,

praticando o bem.”.

O sofrimento não tem o propósito de ser algo em vão nas nossas vidas, do ponto de vista de Deus, pois tem determinado principalmente que

através dele sejamos transformados segundo a

Sua vontade e Palavra, para que Ele seja

Page 95: O fogo purificador da provação

95

glorificado. A paciência na tribulação, no

sofrimento que ela produz, é de grande valor

para Deus, e também para nós, porque é por meio disto que aprendemos a ser pacientes e

perseverantes nas coisas do Senhor, ensinando-

nos a amar com o mesmo amor de Deus, que é sofredor, isto é, longânimo em sofrer em razão

do pecado que há no mundo.

Uma visão correta da aflição é completamente necessária para um comportamento

verdadeiramente cristão sob elas; e esta visão

somente será obtida por fé, e nunca pelos sentidos; porque somente quando os desígnios

divinos são descobertos nas aflições, pelos olhos

da fé, sendo assim propriamente considerados,

nós temos uma visão correta das tribulações, que são o meio provido para suprimir as ações

de afetos corrompidos quando estão debaixo

destas aflições.

Foi sob esta visão que Salomão afirmou as

palavras de Ec 7.13: ““Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele

fez torto?”.

Antes, ele havia afirmado em 7.3-5 que: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do

rosto torna melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos

tolos na casa da alegria. Melhor é ouvir a

repreensão do sábio do que ouvir alguém a

Page 96: O fogo purificador da provação

96

canção dos tolos.”. Ele está se referindo às tribulações como o meio precioso de nos tornar

úteis para os propósitos de Deus em

transformar-nos em sábios, e que deveriam ser

motivo de regozijo e não de abatimento o passar por várias provações, sabendo que a prova da fé

produz perseverança, conforme diz em suas

palavras: “a tristeza do rosto torna melhor o

coração.”, a saber, aquilo que nos magoa, isto é, que nos machuca, pode nos fazer pessoas

melhores, o que necessariamente não ocorrerá

com aquilo que somente nos dá alegrias.

Salomão deduz, conforme de fato é segundo a vontade de Deus, que é melhor ser humilde e paciente do que orgulhoso e impaciente nas

tribulações; porque no primeiro caso, nós nos

submetemos sabiamente ao que é realmente

melhor; e no segundo caso, nós lutamos contra isto. E ele então nos dissuade de estarmos

contrariados com nossas provações, por causa

da adversidade que se encontra nelas. Salomão

nos acautela, falando pelo Espírito, para não fazermos comparações odiosas de tempos

anteriores e presentes (v. 10), concluindo que

não é sábio proceder desta forma, porque que

insinua reflexões e julgamentos impróprios acerca da providência de Deus.

Ele prescreve um remédio geral, isto é, primeiro uma sabedoria santa, que nos permitirá tirar o

melhor de tudo, até mesmo a vida em

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97

circunstâncias mortais; e então um remédio particular, consistindo numa aplicação devida

daquela sabedoria, para levar a uma visão justa

do caso: “Considera as obras de Deus; porque

quem poderá endireitar o que ele fez torto?”, como que a dizer: quem ou o quê poderá impedir

aquilo que foi determinado pela poderosa mão

de Deus para nos provar? Por isso Pedro

recomenda que nos humilhemos sob a potente mão do Senhor, para que no tempo dEle possa

nos exaltar.

Assim, o próprio remédio é uma visão sábia da mão de Deus em tudo que nós achamos que seja

duro de suportar. Isto é, "considere o trabalho de Deus" em suas desagradáveis aflições, nas

cruzes que tem de carregar e nos cálices

amargos que tem que beber. Porque há motivo

de glória nisto, porque produzirá um peso eterno de glória, e o mesmo não pode ser dito de

quem não tem experimentado os sofrimentos

de Cristo dos quais todos os que são dEle têm se

tornado participantes, e isto sim é para se lamentar, porque é indicador do fato de ser

bastardo e não filho, porque todos os filhos de

Deus são corrigidos e transformados por Ele por

meio das suas provações.

Quando se procura uma segunda causa para a aflição além da cruz, isto normalmente conduz

à lamúria. Mas sendo paciente na tribulação, é

possível ver a mão de Deus nisto, e sujeitando-se

Page 98: O fogo purificador da provação

98

à Sua vontade é a melhor forma para ser livrado

porque Ele livra o justo de todas as suas aflições.

Mas o que lamuria será geralmente ainda

achado nelas.

Carregar a cruz voluntariamente faz com que ela se torne leve, mas carregá-la com a mente

perturbada por inquietações à busca de

respostas fora de Deus para aquilo que se esteja

experimentando, quando estas provas vêm da Sua parte, somente serve para aumentar o peso

da cruz que carregamos.

Ter um espírito contrito e quebrantado na aflição é algo muito apropriado para acalmar as

agitações do coração, e nos fazer pacientes debaixo dela. Afinal, quem pode acabar com

aquilo que Deus entortou? No quebrantamento

em sua aflição Deus fez isto; e tem que continuar

até que veja cumprido o Seu propósito. Se você pudesse usar toda a sua força, procurando

consertar aquilo que somente Ele pode

endireitar, sua tentativa será vã: Nada mudará

apesar de tudo que você possa fazer. Somente Ele que produziu este entortamento que nos

inquieta, pode repará-lo, e fazer isto

diretamente. Esta consideração, esta visão do

assunto, é o meio apropriado para silenciar e satisfazer os homens, e assim trazê-los a uma

submissão obediente ao seu Criador e Senhor,

debaixo do quebrantamento das suas aflições.

Page 99: O fogo purificador da provação

99

Agora, nós estudaremos o nosso texto debaixo

destes três aspectos principais: a) qualquer quebrantamento que há em nossa aflição, é

Deus que está fazendo ou permitindo; b) o que

Deus determinou arruinar, ninguém poderá reparar em sua aflição; c) considerar o

quebrantamento na aflição como o trabalho de

Deus, ou da ação direta dele, é o meio

apropriado para nos levar a um comportamento cristão debaixo disto.

Quanto ao fato de que qualquer quebrantamento que há em nossa aflição, é

Deus que está fazendo ou permitindo, nós temos

duas coisas a considerar, a saber, o próprio

quebrantamento, e Deus que o está produzindo.

1. Sobre o próprio quebrantamento, o quebrantamento na aflição, para melhor

entendê-lo, são postuladas estas poucas coisas

que seguem:

Primeiro. Há um certo curso de eventos, pela providência de Deus, que caem sobre cada um de nós, durante nossa vida neste mundo. E isso é

nossa aflição, como sendo repartida a nós pelo

Deus soberano, nosso Criador e Senhor, "em

quem vivemos e nos movemos”. Este conjunto de eventos é extensamente diferente para

pessoas diferentes, de acordo com a vontade do

soberano Administrador, que ordena a

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100

condição dos homens no mundo, numa grande variedade.

Segundo: nesse conjunto de eventos, excluindo determinadas épocas, cruzes nos são trazidas

para que as carreguemos, com o alvo de nos

quebrantarem em nossa aflição. Enquanto nós estivermos aqui, haverá eventos desagradáveis,

como também agradáveis. Às vezes as coisas

planarão suave e agradavelmente; mas, logo, há

algum incidente que altera aquele curso, como se tivéssemos dado um passo errado que nos fez

começar a mancar.

Terceiro: toda a aflição neste mundo tem algum quebrantamento nisto. Os queixosos são hábeis

para fazer comparações odiosas. Eles não conseguem olhar para muito longe e acabam

pondo a culpa do que lhes está afligindo no seu

próximo. Eles não conseguem ver a mão de Deus

nisto, e assim, não se submetem a ela. E assim fazem uma falso veredicto; porque não há

nenhuma aflição aqui que não tenha sido ligada

ou permitida no céu. Quem teria pensado que a

aflição de Haman seria muito direta, quando a família dele estava numa condição próspera, e

ele prosperando em riquezas e honras, como

primeiro-ministro do estado Persa, e de pé no

elevado favor do rei? Certamente ele não pôde ver que era a mão de Deus que estava

produzindo a sua aflição. Ainda que os homens

neguem que não é a mão de Deus que seja a

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101

causa de suas aflições, não há realmente uma só gota de conforto permitida; porque enquanto

estivermos aqui, sempre será pelas

misericórdias do Senhor que não somos

consumidos.

Quarto: o quebrantamento na aflição entrou no mundo através do pecado. Ele existe por causa

da queda, porque assim que o pecado entrou no

mundo entrou com ele a enfermidade, o

sofrimento e a morte. O pecado entortou o corpo, a mente e o espírito dos homens. E como

este entortamento está inseparavelmente

ligado à aflição, conclui-se que isto nos

acompanhará até que deixemos este corpo de morte e cheguemos aos portões do céu.

Assim, enquanto estivermos aqui, o quebrantamento na aflição produz o contraste

de comportamento que há entre o dia da

adversidade e o dia da prosperidade. Como se lê em Ec 7.14: “No dia da prosperidade regozija-te,

mas no dia da adversidade considera; porque

Deus fez tanto este como aquele, para que o

homem nada descubra do que há de vir depois dele.”. E isto segue de certo modo a

recomendação de Tiago: “Está alguém alegre?

Cante louvores. Está alguém triste. Faça

oração.”. Esta oração na tristeza é sobretudo oração de dependência e de submissão à

vontade de Deus, e não necessariamente oração

para expulsar imediatamente a tristeza.

Page 102: O fogo purificador da provação

102

O quebrantamento na aflição, é portanto uma ou outra medida de adversidade. A Palavra

ensina que tanto o dia da prosperidade quanto o da adversidade procedem da parte de Deus,

“que fez assim este como aquele para que o

homem nada descubra do que há de vir depois dele.”, isto é, para que ninguém saiba o que lhe

reserva o futuro, e assim vivam dependendo

inteiramente de Deus, confiando suas almas ao

fiel Criador na prática do bem, enquanto sofrem neste mundo.

Deus misturou estes dois na condição dos homens neste mundo; que, tanto

experimentam um pouco de prosperidade,

quanto de adversidade. Esta mistura tem lugar,

não somente na aflição de santos dos quais é dito que "no mundo terão tribulação", mas até

mesmo na aflição de todos.

Estas são aplicações da vara da adversidade que passa pelas pessoas, e a aflição da pessoa pode

ser extinta de repente, assim como a nuvem que desaparece antes que o percebamos, sem que

seja produzido qualquer efeito duradouro.

Assim o quebrantamento na aflição da

adversidade, continua durante um tempo mais curto ou mais longo.

Mas um quebrantamento na aflição que produz efeitos duradouros. Como o quebrantamento

produzido pela crueldade de Herodes que fez

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103

com que a aflição das mães em Belém lamentasse a morte de seus filhos produzisse

um lamento para o qual não se encontrou

conforto.

E há um quebrantamento produzido por um

conjunto de aflições que se sucedem, tal como no caso de Jó, que enquanto um mensageiro de

más notícias ainda falava, veio um outro com

outras más notícias.

José experimentou este tipo de quebrantamento quando em sucessão foi lançado na cova pelos seus irmãos, vendido como escravo, e lançado

numa prisão egípcia.

Há quebrantamentos que são de tempo prolongado, como Sara, Raquel e Rebeca que

foram impedidas de gerarem filhos por muito tempo. Outros que como aquela mulher que

tocou em Jesus sofria de uma hemorragia de

doze anos.

E assim há variedades de aflições, tanto na qualidade delas quanto em relação às pessoas.

E mais particularmente, encontramos na

natureza do quebrantamento na aflição estas quatro coisas:

(1) Desarmonia. Uma coisa que aflige é persistente. E não há naturalmente, isto é, em

sua própria natureza, em nenhuma pessoa, uma

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104

tal coisa como um quebrantamento em relação

à vontade e propósitos de Deus. Se a vontade de

Deus fosse aceita e feita no mundo, haveria nele uma harmonia perfeita. Mas como isto não é

feito voluntariamente em razão da natureza

terrena que não está sujeita à vontade de Deus e

nem mesmo pode estar, então Ele fará com que todas as coisas cooperem juntamente para o

cumprimento da Sua vontade, sejam agradáveis

ou não agradáveis. Ele fará aquilo que tiver que

ser feito. Assim se Paulo deve ser entregue nas mãos dos gentios, foi pela vontade de Deus que

isto ocorreu, de modo que a Paulo foi revelado

pelo Espírito as cadeias e tribulações que lhe

aguardavam. E assim não havia nenhuma desarmonia nisto. Mas, na aflição de toda pessoa

há uma desarmonia entre o que se passa em

suas mentes e a inclinação natural delas.

A situação adversa traz a cruz à pessoa e esta não responderá harmoniosamente a isto. Quando a divina providência traz a provação a vontade do

homem vai de um modo e a situação vai de

outro, e a vontade puxa para cima, e a situação

puxa para baixo, e assim vão em sentidos contrários. E é justamente nisto que consiste a

aflição. É esta desarmonia produzida pela aflição

que nos exercita no estado de provação, no qual

somos chamados a confiar em Deus, enquanto caminhamos por fé, não através de visão, e

temos que se aquietar e se ajustar à vontade e

propósito de Deus, e não insistirmos que a

Page 105: O fogo purificador da provação

105

situação devesse estar de acordo com o que estabelecemos em nossa mente.

(2) Perda de visão. Coisas entortadas são desagradáveis à vista; e nenhum

quebrantamento na aflição parece ser alegre,

mas doloroso (Hb 12.11). Então as pessoas precisam se precaver de dar curso aos seus

pensamentos enfatizando o quebrantamento na

aflição delas, e de manter isto muito à vista. Davi

mostra uma experiência dolorosa sua quando disse::. "Enquanto eu estava meditando o fogo

estava queimando" e Jacó agiu de modo mais

sábio, quando chamou o seu filho Benjamim, de

filho da mão direita do que a mãe agonizante que lhe tinha chamado de Benoni, que significa o

filho de minha tristeza. Porque com isto não

estaria provendo um meio de quebrantamento

na aflição toda vez que pronunciasse o nome do seu filho.

Realmente, um crente pode ter uma visão fixa e fraca do seu quebrantamento na aflição à luz da

Palavra santa que representa isto como a

disciplina da aliança. Assim a fé descobrirá uma visão escondida nisto, debaixo de uma pequena

aparência externa, percebendo o quão

agradável isto é à bondade infinita, amor, e

sabedoria de Deus, e para a realidade de que na maioria dos valiosos interesses para que a

pessoa possa experimentar aquele gozo mais

elevado e refinado que resulta da alegria na

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106

provação e na angústia. Mas qualquer quebrantamento na aflição que é agradável ao

olho da fé, não é de todo agradável ao olho dos

sentidos.

(3.) Incapacidade para se movimentar. Salomão observa a causa do caminhar intranquilo e desajeitado do manco: "As pernas do manco não

são iguais.". Esta intranquilidade deles é

encontrada na caminhada cristã, pela aflição de

um espírito dobre que tem pernas de tamanhos diferentes, e que traz grande dificuldade para a

caminhada. Não há nada que dê um acesso mais

fácil para a tentação do que a aflição; nada é

mais hábil para colocar os passos fora do rumo. Então, diz o apóstolo, no contexto das

recomendações relativas à disciplina de Deus

em Hb 12.11-13: “Na verdade, nenhuma correção

parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico

de justiça nos que por ele têm sido exercitados.

Portanto levantai as mãos cansadas, e os joelhos

vacilantes, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que é manco não se desvie, antes

seja curado.”. Devemos ter compaixão daqueles

que estão sendo trabalhados debaixo disto e não

os censurarmos rigidamente, porque ainda que tenham dificuldade de serem corrigidos por

palavras eles aprenderão a lição que lhes será

dada na sua própria experiência.

Page 107: O fogo purificador da provação

107

(4.) Inteligência para pegar e se segurar, como que usando ganchos (anzóis). O quebrantamento na aflição deixa prontamente

uma forte impressão no espírito da pessoa, e as

corrupções do pecado ou as tentações de

Satanás deixam-na como que num embaraço do qual não consegue se desembaraçar. E esta

tentação deixa à mostra alguma coisa muito feia

que estava oculta no espírito, como o lodo que

existe no fundo do mar e que é revelado pelo bater das ondas. Alguma blasfêmia ou ateísmo

pode surgir na aflição, como revelado por Asafe:

“foi inútil limpar meu coração e lavar minhas

mãos na inocência.”. Foi parte do que ele disse em sua aflição. Ah! É este o piedoso Asafe?

Como é que ele se virou tão rápido na direção

contrária! Mas o quebrantamento na aflição é

uma máquina reveladora pela qual o tentador faz descobertas surpreendentes de corrupção

oculta até mesmo nos melhores santos.

Assim o quebrantamento na aflição pode atingir qualquer pessoa, e ninguém está isento

de ser apanhado por isto, e porque o pecado é achado em toda parte, o quebrantamento pode

acontecer em qualquer parte. As próprias

enfermidades físicas e até mentais abundam

visivelmente no mundo em razão disto, por que o pecado abunda em toda a parte, e a

enfermidade é uma mera consequência da

existência do pecado.

Page 108: O fogo purificador da provação

108

Uma pessoa pode ter um quebrantamento na aflição permanente de complexos de

inferioridade por causa de sua constituição

física que lhe parece inadequada; na falta de estima e reconhecimento da parte de seus

semelhantes; na insatisfação por não ser

capacitada intelectualmente tanto quanto

gostaria de ser; e por uma série de outros motivos relativos a uma inaceitação pessoal.

Muita aflição pode ser resultante do relacionamento pessoal. Este quebrantamento

pode ser produzido por perda de

relacionamento, especialmente a perda de pessoas queridas. Pode ser por rompimento de

relacionamento, como no caso de separações

conjugais, abandono do convívio dos filhos com

os pais, exclusão da igreja ou de qualquer outra sociedade de amigos.

Jó era afligido por sua esposa, Abigail por seu marido ranzinza Nabal; Eli pelos seus filhos

obstinados; Jônatas pelo temperamento de Saul;

e assim as pessoas acham uma cruz exatamente naqueles em quem esperava o seu maior

conforto. O pecado sujeitou a criação inteira à

vaidade, e tornou todo relacionamento sujeito a

produzir aflição. Na empresa são patrões duros e injustos; no bairro, homens egoístas e

violentos; na igreja pessoas carnais e indolentes,

um verdadeiro fardo para os ministros; no

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109

estado, magistrados opressores e corruptos; na

família filhos contenciosos e rebeldes.

Tendo visto o próprio quebrantamento, nós vamos considerar qual é a participação de Deus em tudo isto.

Primeiro, o quebrantamento na aflição, é uma forma de penalidade que os homens pagam

como forma de juízo de Deus que começa já

neste mundo, mesmo começando primeiro pela sua própria igreja, como diz o apóstolo Pedro,

para que se saiba todo o mal que o pecado tem

produzido na terra, e que Deus pôs um juízo

sobre isto na forma de os homens serem quebrantados por suas aflições. Ninguém está

inteiramente livre dos mais variados tipos de

aflições que se pode sentir neste mundo, em

razão de estar sujeito ao pecado que trouxe desarmonia e dor à criação. Mesmo quem se

isole poderá ser achado por suas próprias

aflições interiores como solidão, temores,

enfermidades etc.

Em segundo lugar, as doutrinas da Bíblia sobre a providência divina mostram claramente que

Deus provoca a aflição de todos os homens. Não

há nada que aconteça neste mundo que não seja

permitido ou produzido por Deus. Satanás nada poderá fazer se o Senhor não o permitir. O

pecador nada poderá fazer se Deus não o quiser,

assim como impediu Abimeleque de tomar

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Sara, mulher de Abraão como esposa; e o

poderoso Senaqueribe da Assíria levar Judá em

cativeiro, assim como tinha levado Israel. No caso de Israel Ele permitiu, mas no de Judá,

impediu. Ele permitiu que Tiago fosse morto por

Herodes logo no início da igreja, e manteve João com vida até a mais avançada idade. Nem um só

pássaro é morto sem a sua permissão, e até os

cabelos de nossas cabeças estão contados.

E o mais maravilhoso de tudo isto é que Deus age sem anular o livre arbítrio humano e sem traçar

o destino de cada um em relação a tudo o que deve lhes suceder em sua vida terrena. O bem

será recompensado e o mal será julgado. E o

justo será feito mais justo. E o que se suja se

sujará ainda mais. É com base neste princípio geral que Ele tudo governa e visita os homens

controlando as suas tribulações; de modo que

produzam quebrantamentos na aflição para conversão ou aperfeiçoamento espiritual dos

justos, ou para juízo dos injustos.

O mistério da providência, no governo do mundo, está em todas as suas partes, em

conformidade exata com o decreto de Deus que

opera todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade.

Há quebrantamentos puros e sem pecado; que são meras aflições, cruzes limpas, dolorosas

realmente, mas não sujas. Tal era a pobreza de

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Lázaro; a esterilidade de Raquel, os olhos baços de Lia, a cegueira do cego de nascença. Agora, os

quebrantamentos deste tipo são de Deus, que

pela eficácia do Seu poder os faz passar

diretamente por estas situações. Ele é o Criador do pobre. Ele formou os olhos do cego de

nascença de modo que as suas obras sejam

manifestadas nele. Então ele diz a Moisés:

“Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?. Não

sou eu, o Senhor?” (Êx 4.11).

Em segundo lugar há quebrantamentos pecaminosos, isto é resultantes do pecado em

sua própria natureza. Como foi o quebrantamento na aflição de Davi em razão do

seu pecado de adultério e morte de Urias,

produzido pelo incesto de Amon com Tamar; o

assassinato de Amon; a rebelião e morte de Absalão, e por todas as desordens havidas em

sua família por causa do seu pecado. E as

tribulações deste tipo não são de Deus, é a isto

que Pedro chama sofrer como um malfeitor, isto é, por causa do mal praticado. Deus não põe o

mal no coração de ninguém, nem incita

ninguém à sua prática. Nem sequer tenta a

ninguém. Mas estas tribulações são permitidas por Ele, de modo que venham como forma de

julgamento sobre o pecado é praticado.

Está na esfera de soberania de Deus impedir ou não a prática de tais pecados, assim como

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impediu Abimeleque de pecar contra Ele, no caso de Sara, mulher de Abraão. Aquilo que

Deus fecha ninguém pode abrir, e aquilo que Ele

abre ninguém pode fechar. E quando Ele age

ninguém poderá impedir. Então, Ele sabe em Sua providência a quem, onde e quando livrar da

prática do pecado, bem como o contrário disto.

Os juízos permitidos em forma de aflições

chamam a atenção dos homens a serem responsáveis e eles próprios tomarem atitudes

legais de modo a não permitir que a prática do

mal venha a se espalhar, colocando em perigo a

sobrevivência da própria sociedade.

Deus põe limites à prática do mal até ao próprio Satanás, como nós vemos no livro de Jó. Ele não

pode ultrapassar os limites que lhe são impostos

por Deus. E até mesmo todas as tentações dos

crentes têm estes limites demarcadores de modo que não sejam tentados além de suas

forças.

O propósito de Satanás era o de fazer Jó blasfemar e o de Deus de provar a sinceridade do

amor de Jó por Ele, ao mesmo tempo que aperfeiçoaria a intimidade de Jó com Ele, e por

isso permitiu que Satanás produzisse todas

aquelas aflições que trouxe sobre Jó. E Deus

virou o cativeiro de Jó fazendo com que aquilo que Satanás lhe trouxe para o seu mal, se

transformasse na vida de Jó em duplo bem. De

modo que o Senhor demonstra o Seu poder de

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fazer com que tudo coopere juntamente para o

bem daqueles que O amam. E Ele fez o mesmo em relação a Mordecai e aos judeus, a quem

Hamã desejava destruir, e o mal sobreveio ao

próprio Hamã, enquanto Mordecai e os judeus

foram livrados. O mal intentado para a destruição de José trouxe o livramento da fome

a todo o mundo.

Estes, e todos os verdadeiros crentes sofrem, nestas ocasiões, muitas vezes não por

praticarem o mal, mas exatamente por praticarem o bem, pelo bom nome de Cristo que

levam sobre si, e disto falou o apóstolo Pedro nas

seguintes palavras:

I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o

bem e sois afligidos, o sofreis com paciência,

isso é agradável a Deus.”.

I Pe 3.17: “Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.”.

Assim podemos identificar dentre outros, os seguintes propósitos nos quebrantamentos na

aflição:

Primeiro, para provar se a pessoa se encontra no estado de graça ou não. Para que saiba se é um

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114

crente sincero ou um hipócrita. Pois a

verdadeira fé que habita no crente não é

destruída pelas perseguições e tribulações. Você poderá saber se pertence de fato ao Senhor

pelo fato de perseverar em meio às suas aflições.

Josué e Calebe ficaram firmes na fé nas promessas de Deus enquanto os outros espias

recuaram pelo temor aos gigantes que habitavam em Canaã.

A muitos que pretendem seguir o Senhor Ele os põe à prova antes mesmo que venham a se

converter, como foi o caso do jovem rico ao qual

mandou vender tudo que tinha e dar o dinheiro aos pobres. Isto se tornou numa grande aflição

para ele, a qual não pôde vencer no tribunal da

sua consciência, e assim não conseguiu

cumprir a Sua ordem para poder segui-lo. A outro disse que não tinha sequer onde reclinar a

cabeça para que medisse o custo de segui-lo. E

continua sendo uma grande aflição para muitos

que amam o dinheiro e o conforto converterem-se e se entregarem a Cristo, por temor de não

poderem mais se dedicarem exclusivamente

aos seus próprios interesses, e terem que dividi-

los com um outro senhorio.

Em segundo lugar, o quebrantamento na aflição tem o propósito de desmamar a pessoa deste

mundo e levá-la a aspirar pela felicidade do

outro mundo. Perdas de posição de influência,

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115

financeira, de saúde e várias outras causas

podem levar alguém ao quebrantamento na aflição de modo que seja resgatado do estado de

encantamento com a vida deste mundo. Nisto se

cumpre o que Jesus disse em Jo 12.25: “Quem

ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.”.

Isto somente pode acontecer se a pessoa vir a

entender que este mundo é um lugar que produz muitos quebrantamentos na aflição, e

não é portanto, nenhum jardim do Éden,

perfeito e sumamente agradável para se viver

nele. A quantas aflições não estão sujeitos os homens no mundo, produzidas por perdas e

danos advindos de tempestades, terremotos,

vulcões, maremotos, intempéries, e de tudo o

mais que seja produzido somente pelas condições naturais do próprio planeta, sem se

levar em conta as ações dos homens, quer

morais ou não, como acidentes e danos dolosos

ou culposos, fraudes, roubos, furtos, ferimentos, assassinatos, e todo o tipo de ações

que produzam quebrantamentos na aflição. Isto

é tão próprio ao mundo e seria muito mais

extenso se Deus em Sua infinita misericórdia não impedisse diretamente a perpetração de

maiores danos, de modo que toda a raça

humana não venha a definhar. Isto é tão

verdadeiro, que no tempo do fim a iniquidade se multiplicará porque, como forma de juízo, o

Senhor estará reduzindo esta Sua ação inibidora

da prática do mal sobre a face da terra, e por

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116

ocasião da volta de Jesus, a terra sofrerá uma

tribulação jamais vista, e que será também

controlada por amor aos eleitos que estiverem

vivendo no período da Grande Tribulação, porque segundo Jesus, se aqueles dias não

fossem abreviados por Deus, nenhuma carne

restaria sobre a terra.

Muito do mal que não sucede aos homens neste mundo é porque há inúmeras intervenções de Deus tanto sobre as causas naturais, quanto

sobre as espirituais, de modo que não é porque

o mundo seja um lugar perfeito para se viver,

mas porque há esta proteção do Senhor que o mundo não revela toda a sua condição de

sujeição à maldição por causa do pecado. Mas,

em Seu grande amor, Deus despacha os

quebrantamentos na aflição para que aqueles que estão apegados com seus afetos ao mundo e

a tudo o que nele há, possam abrir os seus olhos,

e assim serem desmamados do mundo, de

modo que neles se cumpre a palavra do apóstolo João: “Não ameis o mundo, nem o que há no

mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai

não está nele.” (I Jo 2.15).

Em terceiro lugar os quebrantamentos na aflição nos ajudam a verificar quando estamos caminhando de modo errado. E nos voltamos

em oração a Deus em busca de auxílio ou de

arrependimento de nossos atos errados.

Page 117: O fogo purificador da provação

117

Foi pelo quebrantamento na aflição que os irmãos de José foram convencidos do mal que

haviam praticado contra ele, e puderam se

arrepender daquele pecado.

A aflição de Jacó com o engano que sofreu de Labão em relação a Lia, certamente o conduziu

a pesar melhor o engano que ele próprio havia

feito em relação a seu irmão Esaú.

A espada que nunca mais se apartou da casa de Davi o afligia continuamente em sua

consciência lembrando que era um justo castigo pelo horrível pecado cometido contra Urias. E

quanto disto nos traz o temor de Deus, quando

experimentamos que Ele é um justo Juiz sobre

toda a terra e não deixa Seus filhos sem a devida correção.

A mentira de Geazi para obter os bens de Naamã, bens que deveriam ser rejeitados para

que a glória fosse exclusivamente de Deus,

como fizera o profeta Elizeu, fez com que experimentasse a indignação do Senhor, pela

lepra que o atingiu e a sua posteridade depois

dele. E quão grande aflição isto não deve ter sido

para ele, e quanto temor não deve lhe ter trazido a ser desestimulado a ser conduzido pela sua

cobiça.

E assim as pessoas podem confessar e sinceramente se arrependerem daqueles

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118

pecados que ainda as levarão à sepultura,

entretanto não as poderão levar mais ao inferno,

por causa do arrependimento produzido pela

aflição.

Em quarto lugar, o quebrantamento na aflição serve para prevenir do pecado, assim como

Paulo foi do pecado de orgulho pelo espinho que

lhe foi colocado na carne, um mensageiro de

Satanás enviado para esbofeteá-lo.

Assim se cumpre o que o Senhor diz em Os 6.2:

“Portanto, eis que lhe cercarei o caminho com espinhos, e contra ela levantarei uma sebe, para

que ela não ache as suas veredas”. O caminho de

espinhos impede a passagem e assim somos

impedidos de ser vencidos pelo mal que viria ao nosso coração, de modo que nem nós podemos

ir a ele, e nem ele vir a nós, por causa desta

barreira que o Senhor levanta para o nosso próprio bem.

E enquanto mantém o espinho na carne a graça do Senhor permanece disponível a nós, para nos

fortalecer e animar, de modo que possamos

substituir o desgosto da aflição pelo prazer de

ver os Seus propósitos cumpridos através de nossas vidas.

Em quinto lugar, a aflição tem o propósito de revelar aquelas disposições interiores que estão

escondidas até mesmo nos melhores crentes.

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119

Quem teria suspeitado da força de paixão que

havia no manso Moisés caso ela não fosse revelada pelas águas de Massá e Meribá? Ou

quanta amargura de espírito havia no paciente

Jó, que julgou que Deus estava sendo cruel para

com ele? Quem imaginaria que o bom Jeremias amaldiçoaria o próprio dia do seu nascimento?

Nada disso seria revelado senão pela aflição.

Sem ela a nossa condição de pecadores seria

muitas vezes despercebida, e poderíamos incorrer no erro de fazer uma injusta avaliação

dos nossos méritos, especialmente os relativos

à nossa salvação. Mas graças à aflição podemos

ver quem somos, e que todos os méritos pertencem a Jesus.

Por isso Deus provou o povo de Israel com as aflições do deserto, para que eles soubessem o

quão eram pecadores, de modo que viessem a

depender dEle e da Sua graça para viverem do modo que lhes havia ordenado por meio dos

Seus mandamentos. Como se lê em Dt 8.2: “E te

lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor

teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar

e te provar, para saber o que estava no teu

coração, se guardarias ou não os seus

mandamentos.”. e também em Dt 8.16: “que no deserto te alimentou com o maná, que teus pais

não conheciam; a fim de te humilhar e te provar,

para nos teus últimos dias te fazer bem;”.

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Em sexto lugar os quebrantamentos na aflição

servem para o propósito de despertar os crentes para o exercício de suas graças e para o dever de

serem zelosos e abundantes na obra de Deus. A

aflição desperta o clamor, a oração, a intercessão, em busca de respostas e alívio. Leva

ao desprendimento da vida e encoraja ao desejo

de gastá-la por amor a Deus e ao próximo. Pois

pela aflição se aprende a paciência e a perseverança. A cruz trata com o ego e nos

ensina a fazer a vontade de Deus quando é

diferente da nossa própria vontade.

O quebrantamento na aflição dá origem a muitos atos de fé, esperança, amor, abnegação,

resignação, e outras graças; que de outro modo não seriam produzidos.

E não é a força e capacidade do próprio homem o que agrada a Deus, mas a atuação do Espírito

Santo através da sua vida. Especialmente o

exercício das graças do Espírito no Seu povo. Assim o quebrantamento na aflição substitui a

nossa própria força pela força de Deus. Quando

somos assim enfraquecidos, podemos então ser

tornados fortes pelo poder do Espírito.

A promessa de Deus se cumpriu na vida de Abraão no meio de muitas aflições que

sobrevieram ao patriarca com o propósito de

fortalecer a sua fé. Moisés teve o seu caráter

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forjado no fogo da aflição de modo que veio a ser

o varão mais manso sobre a face da terra.

Agora, o uso desta doutrina é especialmente: (1) para reprovação; (2. para consolação, e (3) para

exortação.

1. Para reprovação.

Isto se aplica aos mundanos carnais, que não têm temor e consideração para com a aflição

deles como vindo da parte de Deus, para que se

arrependam de seus pecados. Pois em todo quebrantamento na aflição há este

chamamento de Deus ao arrependimento ou à

conversão. Toda aflição é uma chamada para

mudança de atitude e de comportamento diante de Deus. Para que pautemos a nossa

caminhada segundo a Sua vontade e Palavra.

Para que lhe demos a honra devida de Criador, Salvador, Senhor. Há assim uma assinatura da

mão de Deus nestes quebrantamentos cuja

negligência prediz destruição.

Os ninivitas ao contrário destes, se arrependeram debaixo da aflição que foi

produzida pelo prenúncio do juízo de Deus proferido através do profeta Jonas.

Mas os de Sodoma e Gomorra foram destruídos porque não atentaram para o modo de vida do

justo Ló que era uma repreensão para o

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122

procedimento deles, e nem sequer se arrependeram quando os sodomitas foram

cegados pelos anjos de Deus antes da destruição

daquelas cidades.

O apóstolo Judas caracteriza alguns homens como aqueles para os quais está reservado para sempre a escuridão das trevas (v.13). que desde

há muito estavam destinados para este juízo (v.

4) porque transformam a graça de Deus em

dissolução.

Assim o Senhor considerou a murmuração dos israelitas contra Moisés como sendo

diretamente contra Ele próprio como se lê em

Nm 14.27: “Até quando sofrerei esta má

congregação, que murmura contra mim? tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel, que

eles fazem contra mim.”.

Qual é o direito que o homem tem de se revoltar contra Deus na aflição que tem trazido a ele? Por

que tem que se revoltar em sua mente em razão do quebrantamento que seria para o seu próprio

bem?

Quem se endureceu contra o Senhor e prosperou?

“Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para o mal, como o Senhor tinha

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dito, e como lho tinha jurado; e estavam em grande aflição.”(Jz 2.15).

2. Para consolação.

Deus tem reservado uma consolação para cada aflição de seus filhos. Todo quebrantamento na

aflição que vem da parte de Deus é para conforto

dos crentes, e assim considerando que é o Seu Pai que o está produzindo, então a aflição pode

ser vista de modo amável. Sabendo que foi o

nosso Pai que o fez, não questionaremos o Seu

propósito favorável que há nisto para nós.

Uma criança que foi disciplinada pela vara virá a ser grata a seu pai pela correção que lhe aplicou

e que a desviou da prática do mal.

De igual modo, o quebrantamento na aflição de um crente, apesar de ser uma prova dolorosa, é

uma parte da disciplina da aliança feita com Deus pelo sangue de Cristo.

Além de tudo isso eles recorrem a Deus em sua aflição porque sabem que aquilo que ele

entortou somente Ele pode endireitar. A

provação que vem da parte do Senhor somente

pode ser retirada por Ele, e ninguém mais.

Na prova a que se referiu Jesus, em Apo 2.10, que seria experimentada pela igreja de Esmirna,

quem fixou o tempo da provação de dez anos

(dez dias proféticos) não foi o diabo, mas o

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124

próprio Deus. E o Senhor cuidaria deles pois lhes

disse que não temessem o que tinham de sofrer. O controle sempre está nas mãos do Senhor, e o

diabo não pode agir fora destes limites

estabelecidos por Deus.

“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação

de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa

da vida.” (Apo 2.10).

3. Para exortação.

Como o quebrantamento na aflição vem de Deus, então, vendo a mão de Deus nele,

devemos nos submeter à Sua vontade, e prosseguir em nossa caminhada cristã vivendo

de modo que Lhe seja agradável.

E pelo quebrantamento na aflição nós somos exortados a entender que é um dever ter a Deus

como nosso soberano e benfeitor. A soberania dele desafia a nossa submissão.

É um estatuto inalterável, durante o tempo desta vida, que ninguém quererá ser

quebrantado por aflições. Mas aqueles que são

projetados para o céu têm de uma maneira especial sido assegurados de que terão que

enfrentar aflições neste mundo, que visarão ao

seu amadurecimento espiritual. E como estes

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125

quebrantamentos variam de pessoa para

pessoa, você pode estar seguro que o seu é

necessário para você. Por isso se diz que cada

crente deve tomar a sua própria cruz para poder seguir a Jesus como seu discípulo, isto é,

aprendendo dEle a conformar a sua vida à do

próprio Cristo, numa mudança progressiva de

glória em glória, até a estatura de varão perfeito.

Por isso é sempre grande a perda de não se submeter a isto, porque o quebrantamento na

aflição é o meio usado por Deus para o

aperfeiçoamento dos seus servos, assim como

testemunha o salmista: “Antes de ser afligido, eu me extraviava; mas agora guardo a tua

palavra.” (Sl 119.67). E ainda: “Foi-me bom ter

sido afligido, para que aprendesse os teus

estatutos.” (Sl 119.71).

Uma grande lição que aprendemos em nossos quebrantamentos na aflição é que a remoção da

causa de nossas aflições é sempre feito no

tempo de Deus, e isto se aplica particularmente

às situações que lhe deram causa, mas quando estas situações permanecem (deformidade

física, determinada enfermidade congênita

incurável etc) o tempo de remoção da aflição

dependerá em muito da submissão ao Senhor e rendição interior do coração sem se rebelar

mais contra o espinho que foi posto em nossa

carne, e sujeição à ação da graça de Deus.

Page 126: O fogo purificador da provação

126

Mas de um modo geral todas as aflições estão reguladas pelo relógio de Deus e não pelo nosso.

E o tempo do Senhor nunca é tão cedo como o

nosso. Nós queremos alívio imediato, mas Ele

sabe quando este alívio deve ser provido. Por isso Jeremias disse no que aprendeu de suas

próprias aflições: “Bom é ter esperança, e

aguardar em silêncio a salvação do Senhor.”

(Lam Jer 3.26).

Em resumo, se Deus não ordenar a bênção, serão em vão todos os nossos esforços para

resolver aquilo que foi quebrado, quer em

relacionamentos, quer em alívio de

circunstâncias desagradáveis interiores ou exteriores. Por isso a Palavra diz que bom é

aguardar a salvação que vem do Senhor, e isto

em silêncio. Este silêncio significa a espera de

que Ele nos envie o Seu socorro, sem que nos apressemos em tentar resolver aquilo que veio

da parte dEle para nos humilhar e afligir. Daí se

cumprirá o que é dito pelo apóstolo Pedro:

“Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;” (I Pe 5.6).

Moisés havia aprendido nas contendas de Israel contra ele, a colocar o rosto em terra e a se

humilhar na presença do Senhor, em vez de

discutir suas próprias razões com eles. Ele reconhecia o que vinha da parte de Deus sobre

ele, por meio de Israel, exatamente com o

propósito de mantê-lo dependente dEle. E assim

Page 127: O fogo purificador da provação

127

se dá com a quase totalidade dos ministros que

sofrem situações adversas quanto ao

comportamento do rebanho que foi entregue

pelo Espírito ao seu cuidado. Eles terão que depender de Deus para terem harmonia na

igreja. Nunca conseguirão isto por seu próprio

empenho e argumentos.

Deus revelou o Seu favor aos seus filhos mais queridos, trazendo e eliminando os quebrantamentos notáveis na aflição que eles

tiveram, assim como Abraão, Jacó, José, Moisés,

Davi, Jeremias, Paulo, e todos aqueles que foram

usados poderosamente pelo Senhor tiveram esta marca comum das muitas aflições que

sofreram.

Deus olha para o humilde e contrito de coração. E este trabalho é geralmente feito pelas aflições.

É coisa muito agradável a Deus e a nós quando podemos nos achegar a Ele em oração,

chorando em nossos corações, pelo

quebrantamento produzido pelas aflições.

“A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas eis

para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito, que treme da minha palavra.” (Is 66.2).

As demoras não são negações de atendimento de nossas petições no tribunal do céu, mas

provações da fé e paciência dos solicitantes.

Page 128: O fogo purificador da provação

128

Assim como somos ensinados por Jesus: “E não

fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e

noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles?” (Lc 18.7).

Disso tiramos as principais lições para a remoção do quebrantamento na aflição.

1. Orar para isto, e orar com em fé, enquanto permanecemos com esperança e amor em

nossos corações. E, em alguns casos

dependendo na natureza da situação, além de orar, jejuar será um expediente muito

importante.

2. Humilhar-se debaixo disto, como um jugo da poderosa mão sobre você. "Eu aguentarei a

indignação do Senhor, porque eu pequei contra Ele.".

3. Esperar pacientemente até que a mão que fez isto seja removida.

Devemos lembrar que todo quebrantamento na aflição traz embutido em si uma proposta de se

fazer uma troca daquilo que é terreno e carnal

por aquilo que é celestial e espiritual.

Jesus disse ao jovem rico para vender tudo o que tinha para que tivesse um tesouro no céu. Se

sofrermos com Ele, com Ele reinaremos. Se

tomarmos a cruz nos é prometida uma coroa. Se

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129

tomarmos o Seu jugo acharemos descanso para

nossas almas.

Então sempre que Deus remover a Sua poderosa mão de sobre nós trazendo-nos alívio em nossas tribulações Ele sempre deixará após si uma

bênção. Ele removerá o que é terreno e deixará

em seu lugar o que é celestial.

“Todavia ainda agora diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o

vosso coração, e não as vossas vestes; e

convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele

é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do

mal. Quem sabe se não se voltará e se

arrependerá, e deixará após si uma bênção, em

oferta de cereais e libação para o Senhor vosso Deus?” (Joel 2.12-14).

Assim, por meio do quebrantamento nós podemos obter mais fé, mais amor, mais

paciência, mais humildade, mais zelo, mais

fervor, mais diligência, enfim todas as virtudes de Cristo que são implantadas em nossa

natureza pelo Espírito, e que são desenvolvidas

pelo mesmo Espírito através do trabalho da

submissão da nossa vontade à do Senhor. Muitos falam em cooperação da nossa vontade

com a de Deus, mas na verdade a nossa própria

vontade nunca será achada conformada

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130

naturalmente à do Senhor se não for por um

trabalho da graça que submeta a nossa natureza

terrena. Isto não vem naturalmente pela pronta

cooperação da carne que é fraca, ao contrário vem sempre por um trabalho realizado pelo

Espírito em nós. Sem que haja então um

trabalho anterior de Deus neste sentido não se

achará em nós nenhuma cooperação voluntária de nossa vontade em fazer aquilo que é da Sua

vontade. Daí nos ser ordenado que para

seguirmos a Cristo devemos primeiro negar-

nos a nós mesmos.

E não devemos esquecer o que nos diz o apóstolo Paulo sobre o efeito das tribulações: “Porque a

nossa leve e momentânea tribulação produz

para nós cada vez mais abundantemente um

eterno peso de glória;” (II Cor 4.17). As tribulações são momentâneas, são deste

mundo, e são comparativamente leves, se

comparadas com o peso da glória que há de se

revelar em nós, e que está sendo produzido exatamente por estas aflições.

Assim, aquilo que nós não conseguirmos remover, e que Deus não houver removido, nós

devemos suportar com paciência, assistidos

pelo poder da graça de Jesus. Quantos crentes não foram martirizados no passado e ainda o são

em nossos próprios dias? Eles são para nós o

exemplo extremo do que podem vir a ser as

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131

aflições dos justos, de modo que não

desfaleçamos em nossa caminhada cristã.

Não devemos seguir o exemplo de Israel no deserto, murmurando e não sendo pacientes

em nossas dificuldades, assim como eles o

foram e provaram o desagrado de Deus. Não é

bom atear mais combustível ao fogo que já está queimando, pois ele se espalhará causando um

muito maior dano. A nossa impaciência e

murmuração na aflição é este combustível que

servirá apenas para aumentar o fogo que já está queimando.

O fruto do Espírito Santo é também domínio próprio, e o Senhor quer nos ensinar isto, de

modo que nos submetamos a Ele e aguardemos

pela Sua direção e ação, para que sejam solucionados os problemas que não podemos

resolver com nossas indignações, iras,

resoluções etc.

Quanto mais resistimos ao jugo no nosso pescoço, mais ele nos esfolará. Quanto mais batermos contra a ponta da faca, mais ela nos

ferirá. O aguilhão que é posto pelo Senhor, assim

como o que ele colocou sobre Paulo, nos ferirá

tanto mais quanto mais resistamos a ele. A solução está em se render assim como Paulo

fizera em relação ao senhorio de Cristo, cansado

de resistir duramente contra os aguilhões que

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132

despachara sobre ele com vistas à sua conversão.

Mas esta luta para que a carne seja vencida pelo Espírito nunca será resolvida de uma vez por

todas neste mundo. A submissão não será

continuada e permanente sem que haja uma luta do velho homem que nunca se submeterá a

isto, e quando o novo homem criado pela graça

estiver se submetendo à aflição, o velho homem

ainda estará se rebelando. Assim esta se torna uma luta de fé, uma provação da fé, que nos

conduzirá a nos submeter a Deus ainda que os

argumentos do velho homem procurem nos

dissuadir a confiar em Deus para a remoção da nossa aflição, e para que sejamos conduzidos a

fazer a Sua vontade. Uma luta contra o próprio

coração é a causa do quebrantamento na aflição.

E a alma somente achará descanso e paz quando tomar o jugo e o fardo de Jesus, que lhe será

agora suave e leve. Assim, apesar da relutância

da carne, a resposta adequada do crente deve

ser a de se submeter a Deus. Quando ele fizer isto, até mesmo aquelas aflições que lhe são

produzidas por ação direta do diabo terão que

acabar, porque ele terá que fugir do crente que

se submeteu ao Senhor.

Por isso em toda tribulação é apresentada uma cruz que devemos tomar voluntariamente para

que o nosso ego seja submetido ao Senhor. Sem

isto, não poderemos suportar o

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133

quebrantamento na aflição, e lutaremos contra

isto movidos pelo nosso ego.

Cristo tomou voluntariamente a cruz. E todos os crentes são chamados a seguirem as suas

pegadas. Aquele que diz estar nEle deve caminhar como Ele caminhou.

Enquanto não aprendermos e praticarmos isto a oração dominical não será verdadeira em

nossos lábios quando dissermos: “Seja feita a

tua vontade assim na terra como no céu.”.

Satanás mente aos homens dizendo para eles que o quebrantamento é um jugo insuportável. Que fazer a vontade de Deus será algo

demasiadamente difícil para eles. Mas Jesus diz

que o jugo e o fardo dEle são leve e suave. Cristo

é a verdade e o diabo o pai da mentira. Em quem creremos nós? O Senhor tornará fácil e suave

aquela tarefa difícil que nos é imposta pela Sua

Palavra e que desafia a nossa fé, porque a Sua

graça agirá por nós e nos guiará e fortalecerá. Mas enquanto não nos dispusermos a obedecer

a vontade de Deus isto não poderá ser

experimentado por nós.

Nós não devemos portanto ficar olhando para as coisas que nos afligem, mas elevar os olhos para o alto, para o autor e consumador da nossa fé. É

no próprio Cristo que está a vitória. Em vez de se

fixar em Simei que o amadiçoava, Davi olhou

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134

para Deus e foi com isso impedido de ser tomado

por sentimentos de vingança e deixou o caso nas

mãos do Senhor para que julgasse entre ele e Simei. Quando perseguido injustamente por

Saul também entregou-se ao Senhor, para que

julgasse entre ele e Saul.

Como Davi nós deveríamos nos exercitar

frequentemente nisto de modo que aos primeiros sinais da vinda de uma tribulação nós

nos recomendássemos à providência de Deus

com um coração puro, humilde, sincero e

quebrantado. O endurecimento da cerviz só servirá para aumentar a pressão do jugo que nos

ferirá ainda mais. Dura coisa é resistir contra os

aguilhões.

Como Paulo, muitas vezes as visões da glória celestial podem nos levar ao pecado da presunção e do orgulho, pensando que

merecemos as bênçãos de Deus por causa de

nós mesmos, mas o quebrantamento na aflição

produzirá este bom resultado de nos manter humildes reconhecendo que não há nenhum

bem em nossa própria natureza terrena e que

tudo o que somos e fazemos de bom é por

exclusiva capacitação da graça de Jesus a quem pertence de fato toda honra, glória e louvor.

Trabalhos que começam a prosperar nas mãos daqueles que têm servido fielmente a Deus

poderá ser a causa do começo da própria ruína

Page 135: O fogo purificador da provação

135

deles se não se mantiverem humildes diante do Senhor, e é então para mantê-los prosperando

que o Senhor envia as provações que produzirão

este efeito benéfico de nos quebrantar. Afinal o

que está em jogo não é a nossa conveniência e vontade, mas as de Deus, porque a obra não é

nossa, mas Sua. De Deus somos cooperadores. A

lavoura, o rebanho, o edifício são dEle e não

nossos. Somos apenas seus mordomos, seus administradores, e devemos ser achados fiéis, e

para este propósito o Senhor usará os meios que

forem necessários para manter-nos assim.

Seria racional se pensar que o homem caído, com a sua natureza corrompida, trabalhasse do mesmo modo que Adão antes da queda? Seria o

mesmo que colocar os mendigos no mesmo

nível dos ricos. Assim, para trabalhar para Deus

o homem precisa primeiro ser lavado, tratado, enriquecido pela graça de Jesus. E continuará

necessitando permanentemente de atender a

recomendação feita por Ele à igreja de

Laodiceia: “aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e

vestes brancas, para que te vistas, e não seja

manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a

fim de ungires os teus olhos, para que vejas.” (Apo 3.18).

Jesus nos adverte de modo conclusivo e final que sem Ele nada podemos fazer. É preciso pois

aprender a ser apenas instrumento em Suas

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136

mãos. Se a obra que fizermos não tiver sido feita

por Ele através de nós, não poderemos dizer que

foi a Sua obra que fizemos apesar de toda a sua aparência cristã. A falta da presença de Cristo

pode quando muito produzir uma religião cristã

assim como o catolicismo romano, mas não uma obra verdadeiramente cristã que tenha a

assinatura de Jesus.

Como os dez mandamentos foram dados no Monte Sinai? Não como puras ordens, mas tal

como o evangelho, com uma exortação a que se

cresse antes em Deus, pois antes de tudo é dito: “Eu sou o Senhor teu Deus...”.

Assim não podemos considerar nenhum preceito moral da Bíblia quer no Velho ou no

Novo Testamento, sem esta necessidade de se

ter antes uma união pela fé ao Senhor. Se isto não vier primeiro, não haverá nenhuma

obediência verdadeira em Deus e segundo a Sua

vontade, pois não é ordenado que se escolha

este ou aquele mandamento, mas que se ame e obedeça todos os mandamentos, porque

primeiro, amamos a Deus, e sabemos que sem

Cristo nada podemos fazer.

Tudo aponta para um compromisso com Deus. Usar então qualquer coisa para um determinado fim, sem a correspondente fé que deve

acompanhar aquela ação, é fazer da criatura um

deus; e então em vez disso, deve haver uma

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137

dependência de Deus de acordo com aquela

palavra de compromisso, e tudo deve ser

ajustado para o fim para o qual Deus o tem

designado.

Os papistas, legalistas, e todas as pessoas supersticiosas inventam vários meios de

santificação, eles são bastante ineficazes,

porque, qualquer meio será ineficaz sem o

Espírito.

O discernimento da mão de um Pai no

quebrantamento tirará muito da amargura disto, e adoçará o remédio, e por isso é

absolutamente necessário deixar Deus ser Deus

em nosso quebrantamento. Como Ele prometeu

nunca nos abandonar e não permitir que sejamos tentados além de nossas forças,

devemos confiar na Sua fidelidade e bondade

enquanto estivermos atravessando o vale da aflição.

Especialmente nestas horas é recomendado ter o espírito de Pv 16.19: “Melhor é ser humilde de

espírito com os mansos, do que repartir o

despojo com os soberbos.”. E este é o espírito de

Cristo que se esvaziou e se humilhou até a morte de cruz.

O orgulhoso está subindo e está planando no alto, o humilde está contente em rastejar no

chão se for esta a vontade de Deus. Se esta

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138

condição for mudada e o orgulhoso for

humilhado e o humilde exaltado, o humilde

continuará contente como já se encontrava

antes, e o orgulhoso não raro desesperará, e viverá então inquieto para nunca vir a cair das

alturas em que julga se encontrar, porque não

há verdadeira elevação que não proceda de

Deus, porque toda soberba será humilhada. Não surpreende pois que o Senhor tenha dito que

são bem-aventurados os humildes de espírito, e

não os orgulhosos e arrogantes.

Ninguém, enquanto do alto de seu orgulho e arrogância, admitirá que seja necessário quebrantar-se na aflição. É preciso primeiro

descer das alturas e humilhar-se debaixo da

potente mão do Senhor para que a cura seja

achada.

Disto se aprende que o orgulho será um mau companheiro na hora da tribulação e a

humildade é de todo recomendada.

Jesus ordenou aos crentes que aprendam dEle que é manso e humilde de coração. São os que

seguem os seus passos que vencerão a aflição

neste mundo e para sempre no céu, porque lá não haverá aflição. Mas o mundo e

especialmente o inferno são lugares de aflição.

Muitas aflições aguardam especialmente por aqueles que pretendem se dedicar ao exercício

Page 139: O fogo purificador da provação

139

do ministério, e eles precisarão aprender a

serem pacientes na tribulação para que não sejam desqualificados na obra que pretendem

fazer para o Senhor. Satanás se levantará para

tentar detê-los e o fará difamando-os, caluniando-os, através dos menos avisados que

possa usar como seus instrumentos. E se estes

candidatos ao ministério ou que já se

encontram no seu exercício não aprenderem a se humilhar sob a potente mão de Deus, terão

sérios problemas para superar todos os entraves

que se levantarão diante deles.

Por isso se ordena o que lemos em II Tim 2.24: “e ao servo do Senhor não convém contender,

mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente;”. Em vez de se debaterem em

suas aflições, eles devem aprender a se

submeterem mansamente ao Senhor para que peleje por eles e vença o inimigo, enquanto

mantêm os seus corações guardados na paz de

Cristo.

No dia da nossa angústia devemos fazer como Davi: encorajar-nos no nosso Deus, e não

procurar alívio nos homens ou em quem seja partidário a nosso favor contra aqueles que

desejam o nosso mal.

O espírito humilde extrai a doçura da amargura da sua aflição.

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140

Deus corta os fardos e os obstáculos dos confortos terrestres para que o atleta de Cristo

possa correr mais livremente para o céu.

A alma que tem aprendido a paciência na aflição não busca isto como um fim em si mesmo, mas pelas mudanças celestiais que são produzidas

por isto na vida daqueles que se submetem à

vontade de Deus.

Satanás é o ser mais miserável em toda a criação, e no entanto é o mais orgulhoso de toda

ela. O desejo dele permanece sendo o de colocar o seu trono tão alto quanto o de Deus mas como

tem sido lançado ao mais profundo abismo, a

aflição dele é imensa e jamais cessará porque

nunca poderá realizar a sua vontade.

Devemos portanto nos guardar de um espírito obstinado como o que há no diabo e que não se

rende à vontade de Deus enquanto procura

estabelecer a própria. Geralmente o que nos

moverá a isto será o espírito de orgulho, que como vimos é próprio do diabo e não de Deus. A

alma que acha descanso em Cristo é a que

aprende a ser mansa e humilde como Ele, e que

toma sobre si o Seu jugo, submetendo-se aos quebrantamentos da aflição que possam nos

sobrevir para provar a nossa fé e humildade.

A humildade e a mansidão de espírito nos qualificam para o relacionamento e a

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141

comunhão amigável com Deus por meio de

Cristo. O orgulho fez de Deus nosso inimigo. Nossa felicidade e futuro aqui dependem do

nosso relacionamento amigável no céu.

Assim a humildade é um dever que agrada a Deus, e o orgulho um pecado que agrada ao

diabo. Por isso Deus exige de nós que sejamos humildes, especialmente debaixo da aflição.

“Cingi-vos todos de humildade...” (I Pe 5.5).

O humilde e manso de coração terá paz e descanso em sua alma e mente, enquanto o

orgulhoso terá a aflição reinando em sua mente

e alma.

O subjugar de nossas paixões é mais valioso do que ter todo o mundo debaixo da nossa vontade.

O trabalho de carregar a cruz deve ser em cada dia em todos os dia da vida, porque se

removermos a cruz, a vontade própria

prevalecerá. Então há uma grande verdade no que Tiago diz: “Meus irmãos, tende por motivo

de grande gozo o passardes por várias

provações,”. Se a cruz está presente, isto é

indicador de que há um trabalho continuado de Deus em nós, e da nossa parte, submissão à Sua

vontade, e isto então é um motivo para grande

alegria.

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142

Portanto é melhor ter um espírito humilde e quebrantado do que ter a cruz removida.

Se alguém não tomar voluntariamente a sua cruz a cada dia, não poderá fazer a obra de Deus

de modo constante e agradável a Ele, porque o

ego se levantará e se oporá àquilo que for da Sua

vontade.

Quão perigoso é para aqueles que estão envolvidos na seara do Senhor desejarem que a

cruz seja removida. Quando aspiram por total

falta de problemas, de oposições, de

perseguições, de dificuldades, e começam a se encantar de novo com a alegria puramente

mundana, eles constatarão que a infidelidade a

Deus terá invadido os seus corações, e que já não

amam tanto a Sua obra e vontade quanto dantes.

Por isso não se pode lançar a mão do arado e olhar para trás. Envolver-se na guerra do Senhor

exige que seja considerado o custo relativo à

necessidade de consagração e renúncia à

própria vontade.

Ninguém será um apóstolo como Paulo

enquanto não estiver crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele.

O levar no corpo o morrer de Jesus é o que gera a verdadeira vida eterna. Se o grão de trigo não

morrer ele ficará só. Não há frutificação na

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143

lavoura de Deus sem este morrer operado pela

cruz. É neste sentido que o estar apegado à vida

nos leva a perdê-la, e o perdê-la por amor de

Cristo, a achá-la.

E muito desta mortificação da carne, desta auto negação está exatamente em se seguir à

exortação do apóstolo Pedro em sua primeira

epístola, na qual exorta todos à submissão de

uns para com os outros e particularmente à linhas de autoridade estabelecidas por Deus: os

servos a seus senhores, as mulheres aos

esposos, os filhos aos pais, os cidadãos às

autoridades, as ovelhas aos pastores, os jovens aos anciãos.

“Semelhantemente vós, os mais moços, sede sujeitos aos mais velhos. E cingi-vos todos de

humildade uns para com os outros, porque Deus

resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da

potente mão de Deus, para que a seu tempo vos

exalte;” (I Pe 5.5,6).

E toda esta submissão de coração somente será possível caso se tenha humildade. Estas duas

atitudes estão ligadas inseparavelmente por Deus, assim como Ele ligou o arrependimento à

fé.

E o apóstolo coloca no final do texto lido que a seu tempo Deus exaltará o que se humilha. Ele

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144

elevará aquele que se humilhou debaixo da sua

potente mão, no tempo que Ele tiver

determinado. Então o caminho para a elevação é

se humilhar. É neste sentido que o maior de todos é o que mais serve.

Afligir o nosso espírito especialmente nas aflições, e não somente nelas, é o nosso dever,

mas o elevá-lo é trabalho exclusivo de Deus. E

todo aquele que a si mesmo tentar se exaltar será humilhado por Deus. Mas todo o que se

humilhar será exaltado (Mt 23.12).

O recusar-se a se humilhar é portanto recusar o único caminho para a verdadeira exaltação.

E é interessante observar que a exaltação é geralmente proporcional ao nível da

humilhação. Ninguém se humilhou ou poderá se humilhar mais do que Cristo porque Ele se

rebaixou, se esvaziou se humilhou sendo Deus,

e sendo homem perfeito, sem pecado, e

portanto ninguém poderá ser mais exaltado do que Ele, e por isso recebeu um nome que é sobre

todo nome.

E este feliz evento da exaltação acontecerá no tempo próprio. No tempo próprio nós

colheremos se não desfalecermos. Mas há aquela raiz de orgulho que está no coração de

todos os homens que vivem na terra, que deve

ser mortificada antes que eles possam ser

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145

considerados aptos para o céu, e por isso Deus os

levará a circunstâncias humilhantes com vistas

a atingir o referido fim. Foi por isso que Deus

conduziu o povo de Israel naqueles quarenta anos no deserto, para os humilhar, provar e

saber o que estava no coração deles.

E o coração é naturalmente hábil para se revoltar contra estas circunstâncias

humilhantes, e por conseguinte a mão poderosa do Senhor as traz e as mantém lá. O homem

redobra suas forças naturais para fugir da

dificuldade levantando a sua cabeça, e

murmura por causa das suas aflições, e poucos dizem que confiam que o seu Criador por fim os

abençoará.

Há muitas imperfeições naturais e morais em nós. Nossos corpos e nossas almas, em todas as

suas faculdades, estão em um estado de imperfeição. O orgulho de toda a glória está

manchado; e é uma vergonha para nós não nos

humilharmos em tudo o que se refere a nós, e

tentarmos nos apresentar a Deus como pessoas que não têm do que ser perdoadas e lavadas. É

certo que no caso dos crentes o Espírito fez uma

grande obra de regeneração e iniciou o processo

de santificação, mas enquanto permanecem no mundo há muitas corrupções que remanescem

na carne, e das quais devem se humilhar,

arrepender, e abandonar (II Crôn 7.14).

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146

Quando Deus criou o homem, ele estabeleceu

toda uma linha se submissão à qual já nos referimos anteriormente, de modo que todos

fossem exercitados em humildade. Por isso os

filhos nascem pequenos, menos fortes e capazes

que seus pais e dependentes deles para a sua sobrevivência. Ele poderia ter feito diferente

não criando tal linha de submissão de filhos aos

pais, mas desde Adão e Eva não há quem chegue a este mundo sem ter sido filho de algum casal.

E neste aspecto todos têm então a oportunidade

de serem exercitados em submissão. De igual

modo Ele constituiu o homem como cabeça sobre a sua esposa, de modo a exercitar as

mulheres casadas em submissão e humildade

em seus matrimônios. E isto vale para os que são

governados na sociedade civil por todos aqueles que estão em posição de autoridade em relação

a eles, professores, juízes, policiais, políticos,

enfim há uma grande linha de autoridades que

procedem de Deus exatamente com este principal intuito de nos ensinar a nos

humilharmos, a obedecermos, a exercitarmos o

respeito em relação a elas, e tudo isto conduz

diretamente à submissão ao próprio Deus. Pois aquele que resiste à autoridade resiste a Deus

que a instituiu. Então a autoridade é antes de

tudo instituída para o nosso próprio bem

especialmente neste particular de sermos exercitados por Ele em submissão e humildade.

E como vimos, é somente nos humilhando que

podemos ser exaltados. E esta atitude trata com

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147

a raiz do orgulho que entrou na natureza terrena

do homem em razão do pecado. O homem quis

ser igual a Deus pelo caminho da exaltação, mas Deus levará o homem a atingir o propósito de

ser igual a Ele pois o criou para ser à sua imagem

e semelhança, exatamente pelo caminho que

vai em sentido contrário, a saber, o da humilhação.

E uma das maiores provas da nossa humilhação é exatamente a de se submeter, de se render à

vontade de Deus debaixo das nossas aflições,

porque é exatamente nestas horas que o velho homem mais se levanta em seu orgulho e

procura resistir com todas as suas forças

procurando o modo de se livrar das coisas que o

afligem sem contar com o fato de que é somente se submetendo ao Senhor que é possível ser

livrado das aflições que Ele mesmo determinou

para nos provar. E o velho homem jamais se

submeterá a isto, e é por isso que foi crucificado juntamente com Cristo. Ele recebeu a sentença

de morte para que não tenha mais o pleno

domínio da nossa vontade. Ele morreu e

devemos nos despojar dele, e vivermos como novas criaturas, nascidos de novo pelo poder do

Espírito, que têm o poder da vida indissolúvel e

eterna, e não a morte do velho homem. E assim,

em Sua infinita sabedoria, Deus não removeu de modo absoluto a ação do velho homem

enquanto permanecemos neste mundo, apesar

da certeza do pleno cumprimento da sentença

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148

de morte que ele recebeu na cruz, tendo sido,

aos olhos de Deus, crucificado lá juntamente com Cristo, de modo que pudéssemos conhecer

a total corrupção da sua natureza terrena e que

de fato deve ser mortificado pela cruz, de modo que em vez da carne pecaminosa, da antiga

natureza, sejamos guiados pelo Espírito, pela

nova criatura, que tem a marca da santidade de

Deus.

Assim, tentar se levantar do pó quando Deus

está nos submetendo à humilhação é provocar a Deus para nos quebrar em pedaços, porque a

mão de Deus é poderosa. Como homens

contenderão com Deus? São mais fortes do que

Ele? Como um menino não se submeterá à disciplina de seu pai?

Como Paulo diz em I Cor 10.22: “Ou provocaremos a zelos o Senhor? Somos,

porventura, mais fortes do que ele?”.

Todo pecado que há no mundo é consequência do pecado original de Adão. E assim não há quem não peque, e todos devem se humilhar

diante do Deus perfeitamente santo e justo. Não

se permitir ser humilhado debaixo desta nossa

condição de pecadores é se revoltar contra a mão poderosa de Deus, e tentar nos

justificarmos perante ele com nossa justiça

própria que é para Ele como trapo de imundície,

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149

é o mesmo que perder todo o senso do nosso

dever e vergonha.

Daí entendemos o que está em Lam Jer 3.26-33: “Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a

salvação do Senhor. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Que se assente

ele, sozinho, e fique calado, porquanto Deus o

pôs sobre ele. Ponha a sua boca no pó; talvez

ainda haja esperança. Dê a sua face ao que o fere; farte-se de afronta. Pois o Senhor não rejeitará

para sempre. Embora entristeça a alguém,

contudo terá compaixão segundo a grandeza da

sua misericórdia. Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.”.

Fartar-se de afronta. Dar a face a quem o fere. Este o caminho designado pelo Espírito pela

boca do profeta. É assim que se alcança a

salvação e a possibilidade de esperança. Colocar a boca no pó e clamar pelo livramento de Deus.

E não se engrandecer, não se exaltar.

O orgulho se alimenta da dignidade e excelência pessoal pela qual imaginamos que superamos

outros. E portanto, isto não pode prevalecer diante de Deus. O fariseu agradecia a Deus por

não ser como os demais homens, mas o Senhor

diz que não há um justo sequer diante dEle.

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150

E se Jesus lavou os pés de pecadores, Ele nos deu um exemplo para ser imitado, e se ele lavou seus

pés, você deve também lavar os pés dos outros.

Então permita que as circunstâncias humilhantes tornem o seu espírito humilde, e assim você será útil nas mãos de Deus e será

poupado de muitas aflições, porque elas têm em

sua maioria exatamente este grande propósito

de nos humilhar. E se somos achados humildes, então é nesta condição que o Senhor nos

exaltará pois não haverá o risco de que sejamos

vencidos pelo orgulho.

Não podemos esquecer que todo pecado, toda transgressão da lei e da vontade de Deus é uma luta direta contra Ele. E isto consiste

basicamente na falta de submissão a Deus. A

carne não está sujeita à lei de Deus e nem

mesmo pode estar. Por isso ela é sujeitada à crucificação juntamente com Cristo, ou à

condenação eterna. O pecado ou é tratado ou é

condenado. Deus leva o velho homem à cruz,

mas ele se debate e luta para não ser crucificado juntamente com Cristo. Se deixado à vontade,

sem aflições, o velho homem prevalece e

governa absoluto, mas a aflição o abaterá e

enfraquecerá, e a mente buscará auxílio em Cristo, e finalmente se renderá e se submeterá

ao trabalho da graça, escolhendo fazer a vontade

de Deus e não a própria vontade.

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Mas não é uma coisa fácil humilhar os espíritos dos homens. Não é uma coisa pequena, é um

trabalho que não é feito em pouco tempo. Há

necessidade de um cavar profundamente para

uma humilhação completa no trabalho de conversão. Muitos golpes devem ser dados à raiz

da árvore do orgulho natural do coração antes

que ela caia, e muitas vezes parece ter caído,

mas ainda está de pé. E até mesmo quando o golpe na raiz é produzido nos crentes, o orgulho

brota novamente, de forma que demandará a

repetição do trabalho de humilhação.

Paulo resistiu por um tempo ao espinho na carne e queria ser livrado diretamente dele sem entender que a forma de se alcançar isto não

seria lutando contra o próprio espinho, mas

submetendo-se à graça de Jesus, e tirando

proveito da fraqueza produzida pela aflição, humilhando-se diante do Senhor, porque Jesus

lhe disse que o seu poder se aperfeiçoa na nossa

fraqueza, e esta fraqueza é gerada pelas aflições

que têm a finalidade de nos humilhar.

Em sua grande aflição Jó se rendeu no fim, depois de muito argumentar. Quando

confrontado por Deus ele disse que se

arrependia no pó e na cinza. E ele fez isto quando

estava com o seu corpo enfermo e o espírito quebrado. Foi aí que o Senhor virou o seu

cativeiro e o exaltou dando-lhe o dobro de tudo

o que possuía dantes, como prova desta

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152

exaltação em face da sua humilhação. A chave

da sua cura e libertação estava portanto exatamente na sua humilhação diante de Deus.

Deus não traz nenhuma provação desnecessária a nós, não nos aflige mais do que o necessário,

porque ele não aflige de boa vontade os filhos

dos homens, e ele os contrista com várias provações caso necessário, conforme diz o

apóstolo Pedro.

Quando o profeta Elias foi levado para pronunciar juízos contra o rei Acabe, este se

humilhou diante de Deus, e apesar de toda a sua malignidade e do juízo que tinha sido

estabelecido sobre ele, o Senhor suspendeu o

juízo em face daquela humilhação inesperada

pelo próprio profeta, e mandou registrar o incidente na Bíblia para nos ensinar a eficácia

que há para suspender juízos e aflições o ato de

se humilhar sob a potente mão de Deus.

“Sucedeu, pois, que Acabe, ouvindo estas palavras, rasgou as suas vestes, cobriu de saco a sua carne, e jejuou; e jazia em saco, e andava

humildemente. Então veio a palavra do Senhor a

Elias, o tesbita, dizendo: Não viste que Acabe se

humilha perante mim? Por isso, porquanto se humilha perante mim, não trarei o mal

enquanto ele viver, mas nos dias de seu filho

trarei o mal sobre a sua casa.” (I Rs 21.27-29).

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153

A salvação em Cristo é em si mesma uma chamada à humilhação porque Deus rejeita

todos os nossos méritos no assunto da

redenção, justificação e regeneração e nos

ordena a confiar somente nos méritos de Cristo. Isto é, o reconhecimento de nossa incapacidade

e da Sua suficiência e soberania. O

arrependimento que é necessário à salvação,

não pode existir portanto sem a humildade. A humildade é portanto uma valiosa companheira

e útil para todo bom propósito.

E é bom lembrarmos que há sempre uma intercessão no céu por causa das circunstâncias

humilhantes do humilde. Deus se moverá em misericórdia em favor dos que se humilham,

pois receberá deles gratidão, glorificação e

louvor. Deus se compadece dos que estão aflitos

e recorrem a Ele com espírito contrito em busca de auxílio. Em toda a aflição deles Ele é afligido,

e agirá prontamente para que seja também

livrada da Sua própria aflição em face do

sofrimento deles. A aflição que Deus sente não é de desespero mas de compaixão. E Jesus revelou

abundantemente este caráter de Deus em seu

ministério terreno, quando se compadecia dos

necessitados e os socorria. E a intercessão de Cristo é sempre eficaz E é o desejo do Pai e do

Filho levantarem os humildes, mas sempre no

seu devido tempo.

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As circunstâncias humilhantes ordinariamente são levadas ao ponto extremo de desesperança

antes do levantamento para cima do que se

humilha. A faca estava à garganta de Isaque antes que a voz do anjo fosse ouvida. Paulo se

refere à tribulação que sofreu na Ásia até o

ponto de desesperar da vida. Quando parece que

já não há mais esperança, o Senhor age com Sua misericórdia trazendo-nos livramento.

Outro fim para o qual a Providência aponta neste ato de levar as aflições até o seu ponto extremo

é o de ensinar o crente a confiar somente em

Deus, porque no caminho ele terá visto que todas as tentativas de socorro da parte dos

homens foi em vão, e que somente o Senhor

seria capaz de operar a solução, e isto trará

grande regozijo para o crente e grande gratidão ao Seu Deus, reforçando assim a Sua confiança

na fidelidade do seu Senhor.

Apresentamos a seguir alguns textos bíblicos que servem de base para as afirmações do nosso

texto:

Rom 5.3: “E não somente isso, mas também

gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,”.

I Cor 13.4: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se

ensoberbece,”.

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I Cor 13.7: “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”.

II Cor 7.9: “agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque o fostes para o

arrependimento; pois segundo Deus fostes contristados, para que por nós não sofrêsseis

dano em coisa alguma.”.

I Pe 5.6: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;”.

Fp 4.14: “Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição.”.

Apo 1.9: “Eu, João, irmão vosso e companheiro

convosco na aflição, no reino, e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por

causa da palavra de Deus e do testemunho de

Jesus.”.

II Cor 1.6: “Mas, se somos atribulados, é para

vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se

opera suportando com paciência as mesmas

aflições que nós também padecemos;”.

Tg 5.10, 11: “Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Eis que chamamos bem-

aventurados os que suportaram aflições.

Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o

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Senhor lhe deu, porque o Senhor é cheio de

misericórdia e compaixão.”.

I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados,

sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência,

isso é agradável a Deus.”.

Rom 12.12: “alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;”.

Fp 3.10: “para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua

morte,”.

Cl 1.24: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne

o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja;”.

II Tim 1.8: “Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que

sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos

sofrimentos do evangelho segundo o poder de

Deus,”.

I Pe 5.1: “Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos

sofrimentos de Cristo, e participante da glória

que se há de revelar:”.

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II Tim 1.8: “Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que

sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos

sofrimentos do evangelho segundo o poder de

Deus,”.

II Tim 2.9: “pelo qual sofro a ponto de ser preso como malfeitor; mas a palavra de Deus não está

presa.”.

Hb 2.10: “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e por meio de quem

tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória,

aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles.”.

Jesus tomou sobre si as nossas enfermidades e sofreu no nosso lugar, para que tivéssemos o

privilégio de sofrer juntamente com Ele por

causa do Seu nome, e não para que fôssemos livres de toda e qualquer aflição neste mundo.

Tanto que Ele afirma que as teremos enquanto

aqui estivermos, mas que devemos ter bom

ânimo enquanto passamos por elas porque assim como Ele foi glorificado e exaltado nos

céus, nós também o haveremos de ser.

Lc 22.28: “Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações;”.

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I Pe 5.9: “ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se

cumprindo entre os vossos irmãos no mundo.”.

At 5.41: “Retiraram-se pois da presença do sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados

dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus.”.

II Tim 3.11: “as minhas perseguições e aflições, quais as que sofri em Antioquia, em Icônio, em Listra; quantas perseguições suportei! e de

todas o Senhor me livrou.”.

II Tim 4.5: “Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista,

cumpre o teu ministério.”.

Hb 12.7: “É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a quem o

pai não corrija?”.

I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados,

sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o

bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.”.

I Pe 3.17: “Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que

fazendo o mal.”.

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I Pe 4.19: “Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel

Criador, praticando o bem.”.

I Pe 5.10: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de

haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer.”.

Apo 2.3: “e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste.”.

I Pe 1.6: “na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais

contristados por várias provações,”.

At 20.19: “servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;”.

Tg 1.2: “Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações,”.

Mc 4.17: “mas não têm raiz em si mesmos, antes são de pouca duração; depois, sobrevindo

tribulação ou perseguição por causa da palavra,

logo se escandalizam.”.

Jo 16.33: “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis

tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o

mundo.”.

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At 14.22: “confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que

por muitas tribulações nos é necessário entrar

no reino de Deus.”.

At 20.23: “senão o que o Espírito Santo me

testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações,”.

II Cor 1.4: “que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos

consolar os que estiverem em alguma

tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.”.

II Cor 4.17: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais

abundantemente um eterno peso de glória;”.

Ef 3.13: “Portanto vos peço que não desfaleçais diante das minhas tribulações por vós, as quais são a vossa glória.”.

I Tes 1.6: “E vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra em muita

tribulação, com gozo do Espírito Santo.”.

I Tes 3.3,4: “para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmo sabeis que

para isto fomos destinados; pois, quando estávamos ainda convosco, de antemão vos

declarávamos que havíamos de padecer

tribulações, como sucedeu, e vós o sabeis.”.

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I Tes 3.7: “por isso, irmãos, em toda a nossa necessidade e tribulação, ficamos consolados

acerca de vós, pela vossa fé,”.

Hb 10.33: “pois por um lado fostes feitos espetáculo tanto por vitupérios como por

tribulações, e por outro vos tornastes companheiros dos que assim foram tratados.”.

Apo 2.10: “Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na

prisão, para que sejais provados; e tereis uma

tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.”.

Apo 2.22: “Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem

adultério com ela, se não se arrependerem das

obras dela;”.

Apo 7.14: “Respondi-lhe: Meu Senhor, tu sabes. Disse-me ele: Estes são os que vêm da grande

tribulação, e levaram as suas vestes e as

branquearam no sangue do Cordeiro.”.

Mt 25.44: “Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com

sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?”.

At 20.35: “Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os

enfermos, recordando as palavras do Senhor

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Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber.”.

I Cor 11.30: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem.”.

Gál 4.13: “e vós sabeis que por causa de uma enfermidade da carne vos anunciei o evangelho

a primeira vez,”.

I Tim 5.23: “Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das

tuas frequentes enfermidades.”.

Fp 2.26,27: “porquanto ele tinha saudades de vós todos, e estava angustiado por terdes ouvido que

estivera doente. Pois de fato esteve doente e

quase à morte; mas Deus se compadeceu dele, e não somente dele, mas também de mim, para

que eu não tivesse tristeza sobre tristeza.”.

II Tim 4.20: “Erasto ficou em Corinto; a Trófimo deixei doente em Mileto.”.

Tg 5.14,15: “Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a

oração da fé salvará o doente, e o Senhor o

levantará; e, se houver cometido pecados, ser-

lhe-ão perdoados.”. Por Thomas Bostons (Traduzido e adaptado do

original em inglês, em domínio público por

Silvio Dutra).