o expresso do por do sol

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Fotos de cena - João Caldas. Cacá Amaral & Guilherme Sant’Anna

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The sunset limited,O Expresso do Pôr do Sol

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Page 1: O Expresso do Por do Sol

Fotos de cena - João Caldas.

Cacá Amaral & Guilherme Sant’Anna

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É num detalhe que enxergamos o todo. A palavra superior reflete aquilo que conseguimos entender dela, apenas. Na foto de João Caldas, nossa Bíblia refletindo White (Cacá Amaral)

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Os elementos estão em cena de forma clara mas vale a legenda. São minha subjetividade, a minha viagem. Começo o espe-táculo com os vasos que trouxe da India em dezembro do anopassado. Eles, na antiga cultura Veda, são considerados o corpo sonoro absoluto. Quando tocados, soam o som do universo, o conhecido OM. O som absoluto, o todo que está por trásdos olhos fechados durante a meditação indiana. E o todo contém os três estados da consciênciaa vigília, o sono e o sonho que são representados pelos fonemas que ouvimos no OM oA, o U e o M (nasalização do U). Uso os três sinais do teatro,cada um em sua vez, anunciando que da vigília ao sonho, nosso espaço cênico estará sugerindo um passeio pela consciência do homem. Do homem de sempre. O cenário é composto sim-bolicamente de dormentes da nossa linha férrea terminal (que só não são reais porque o peso e o valor não estão ao nosso alcance), e não do apartamento realista do nosso Black. Este, que não quis desprezar, aparece dentro de uma gaiola, do modo como descrito pelo autor realista americano, Mr. McCarthy. E essa ligação entre esse apartamento e nossa arena tem car-acterísticas especiais. São nutridas uma pela outra através de elos de aço, aprisionadas, como um cordão umbilical, como o conceito de perispírito que Kardec sugere entre o corpo e o espírito. É assim que vejo essa relação da consciência e do mundo corpóreo material. Acorrentados, enquanto houver a vida, graças ao bom Deus. Nesse mesmo sentido, criei o conceito desse mundo corpóreo, o apartamento, emergindo da água.O elemento que gera a vida, inclusive a nossa, seres pensantes.Saímos dela e consequentemente nossas obras materiais também. A água é nossa mãe universal. Se temos o som absoluto, o som do silêncio anunciando a peça, a água, que não poderia ter ficado de fora numa discussão sobre vida e morte, finalmente conceituei a Bíblia, que se inicia com o verbo, algo bemposterior ao nascimento da vida. Ela é espelhada, transitando pelo narcisismo dos religiosos contemporâneos e resultando na ideia de que as palavras do poder superior só preenchem lacunas disponíveis, as nossas possibilidades de leitura e compreen-são. Quem pode mais, ouve mais e entende mais. Assim é a Bíblia para mim. Um livro que ainda não me tocou pela minha total impossibilidade de compreendê-la. Mas sei que algo poderoso está ali. Não ainda para mim. Os figurinos, que poderiam estar polarizados com o preto e o branco, contém, cada um dos dois, uma cor intermediária sugerindo que a polarização não está nas duas personagens e sim, dentro de cada um deles, em proporções diferentes. Os dois contém, intrinsecamente em seus discursos, a continuidade e a desistência, como acredito haver dentro de nós, em nossas discretas verdades e escolhas. O figurino também propõe uma mudança no Black, de guerreiro a pastor, e aquilo que na primeira parte do espetáculo estava no campo dos sonhos, passa a atuar no campo da vigília. Não sei se consegui preencher totalmente essa ideia cenicamente. Mas ela está presente. Na medida do possível. O bloco onde Black escreve uma frase para o White no final da peça é um claro sinal disso. O pastor real, ali em cena. A trilha é de autoria de Duda Queiroz, ela conduz emocionalmente a platéia, não proporcionando julgamentos morais e sim a igualdade das forças que nos regem. A exceção é Frank Sinatra, que faz parte do delírio do consciente de Black, um homem condenado a não ouvir música. A luz entra como a arquitetura de um teatro de arena que não permite estruturas visíveis e intransponíveis aos olhos de todos. É o etéreo figurando espaços e delimitando áreas perfeitamente compatíveis com nossos sonhos que transgridem à física, ao tempo e ao espaço. É para ser vista em cena. Sua grandiosidade, seu corpo sedutor. A luz! Os atores, em meio a essa vertigem espacial, buscam a verdade. A catarse com o público. Não podemos buscar menos que isso. São a alma, o elemento vivo. A força maior.O pulsar desse espetáculo. Estabelece a língua que falamos.Nada aconteceria sem a alma desses dois. Obrigado Fabio Namatame, cenário, figurino e arte. Obrigado Caetano Vilela, nossa luz. Obrigado Duda, nossa trilha. É isso.Fabio Assunção

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artes graficas:Valquiria Jarski

O meu sol ainda não se pôs. E o seu?