o exercício e o lucro da piedade

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O Exercício e o

Lucro da Piedade

Título original: The Exercise and Profit of

Godliness

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Mar/2017

Page 3: O exercício e o lucro da piedade

3

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Philpot, J. C. – 1802-1869 O exercício e o lucro da piedade / J. C. Philpot (1802- 1869) Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 30p.; 14,8 x 21cm Título original: The Exercise and Profit of Godliness 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

Page 4: O exercício e o lucro da piedade

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"Exercita-te a ti mesmo na piedade. Pois o

exercício corporal para pouco aproveita, mas a

piedade para tudo é proveitosa, visto que tem a

promessa da vida presente e da que há de vir."

(1 Tim. 4: 7, 8)

O homem foi chamado, e talvez com alguma

verdade, um ser religioso. De qualquer modo, a

religião de algum tipo parece quase

indispensável à sua própria existência; pois

desde a nação mais civilizada até a tribo mais

bárbara sobre a face da terra, encontramos

alguma forma de religião praticada. Se isto se

enraíza na própria constituição do homem, ou

se é recebido pelo costume ou pela tradição,

não vou fingir decidir; mas que algum tipo de

religião é quase universalmente predominante,

é um fato que não pode ser negado.

(Nota do tradutor: Deus criou o homem para ser

adorado por ele, e assim há uma inclinação

natural em toda pessoa para a adoração.

Todavia, quando falta o verdadeiro

conhecimento de Deus esta adoração é

direcionada para falsos deuses ou mesmo para

pessoas e objetos que são constituídos como

ídolos para serem adorados, e isto pode ser

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5

visto até mesmo naqueles que afirmam não crer

na existência de Deus. A sua inclinação para

adorarem algo supremamente testifica que

apesar de negarem a Deus com a boca,

confirmam que foram de fato por Ele criados

uma vez que manifestam esta tendência para a

adoração.)

Mas, não há religião verdadeira, assim como

falsa religião? Se o grande volume da

humanidade está envolto numa falsa religião,

não há um "remanescente segundo a eleição da

graça", que possui a verdadeira? Será que essa

promessa falhou em sua realização: "Chegarão

e anunciarão a justiça dele; a um povo que há

de nascer contarão o que ele fez."? (Salmo

22:30). O Senhor Jesus Cristo ainda não reina à

direita de Deus, cheio de dons e graça? E ele não

prometeu estar com sua igreja e povo até o fim

do mundo? Assim, embora seja perfeitamente

verdade que o grande volume da humanidade

segue após as sombras, contudo existem

alguns cujas almas estão realmente atentas à

substância. Se há aqueles que estão dispostos a

acreditar em uma mentira, há aqueles que

amam a verdade; e se há aqueles que adoram o

que eles não conhecem, ainda há "a verdadeira

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circuncisão, que adora a Deus no espírito, se

alegra em Cristo Jesus, e não tem confiança na

carne".

Penso que encontramos esses dois tipos de

religião, falsa e verdadeira, terrena e celestial,

carnal e espiritual, natural e sobrenatural,

discriminados nas palavras que temos diante de

nós. Pois parece que o Apóstolo chama a

religião falsa de "exercício físico", e diz a

Timóteo que esse exercício corporal "para

pouco aproveita"; e por meio de um contraste

com esta falsa religião, esse exercício corporal

que "pouco aproveita", o exorta a "exercitar-se

na piedade", assegurando-lhe que "a piedade é

proveitosa para todas as coisas, tendo

promessa da vida que agora é, e daquela que há

de vir."

Nosso texto, então, se divide em dois ramos.

I. "Exercício corporal", que "para pouco

aproveita". E,

II. "Piedade", que é "proveitosa para todas as

coisas, tendo a promessa da vida que agora é, e

da que há de vir".

Page 7: O exercício e o lucro da piedade

7

I. Exercício corporal, que para pouco aproveita.

Mas, por que o Apóstolo deveria aplicar o termo

"exercício corporal" à falsa religião? O que há na

expressão que parece descritiva de sua

natureza? Vamos examiná-la até o fundo e ver

se ela não é descritiva de uma religião da qual

Deus não é a origem nem o fim.

Por "exercício corporal", então, entendo o

emprego de nossas meras faculdades naturais

no serviço e adoração de Deus. E se você olhar

para a religião falsa em suas várias formas e

sombras, você verá o quanto há nela deste mero

"exercício físico". Veja, por exemplo, os

sacerdotes de Baal, cortando-se com lancetas,

gritando de manhã à noite: "Ó Baal, ouça-nos!"

E pulando sobre o altar que haviam feito. O que

era isso, senão "exercício físico"? Olhe para os

fariseus no Novo Testamento, orando nos

cantos das ruas, fazendo amplos seus

filactérios, deixando com ostentação seus dons

no tesouro, subindo ao templo em certas horas,

jejuando em certos dias e escrupulosamente

dando dízimos de hortelã, anis e cominho. O

que era isso, senão "exercício físico"? Olhe para

todas as formas e cerimônias do Papismo; as

reverências, adorações, genuflexões, mudanças

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de roupa, jejuns e maceração do corpo. O que é

tudo, exceto "exercício físico"? Olhe para o

Puseísmo, que observa certos dias, horas,

vestimentas, posturas do corpo, cantos e

entoações, murmúrios, e meros movimentos

exteriores de órgãos corporais, e todos

derivando sua suposta virtude do toque

consagrado, o "exercício corporal" da mão de

um bispo.

Não é tudo isso mero "exercício físico"? Nada

tendo de espiritual, celestial ou divino? E não

somente estes, mas a grande maioria dos

professantes em geral, que discordam das

tradições meramente humanas e seguem um

culto mais bíblico, não é a religião deles

frequentemente composta de "exercício

corporal"? Eles exercitam seus pés andando a pé

até a capela; eles exercitam sua voz cantando;

seus ouvidos em ouvir; a língua na conversação;

os joelhos na genuflexão; eles exercitam

também seus olhos ao ler os hinos, ou os

cotovelos em cutucar o sono; eles exercitam

suas mãos talvez em dar; mas, em tudo, é

apenas "exercício físico". Tudo isso talvez sendo

feito por milhares, sem um grão da graça de

Deus em suas almas.

Page 9: O exercício e o lucro da piedade

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Mas, o "exercício físico" também pode ser

entendido como compreendendo o exercício de

faculdades mentais, bem como corporais.

Assim, há o exercício do entendimento na

compreensão da Palavra de Deus; o exercício do

julgamento sobre os dons ou habilidades do

pregador; o exercício da memória ao recordar

textos e sermões; o exercício das afeições em

receber a Palavra com alegria; o exercício da

consciência, como lemos sobre aqueles que

foram "condenados pela sua própria

consciência"; e dos gentios, "a sua consciência

também testemunhando, e os seus

pensamentos entretanto acusando ou

desculpando uns aos outros." (Romanos 2:15).

E, no entanto, todo esse exercício é meramente

mental e intelectual. Os homens não são

necessariamente participantes da graça,

embora exercitem seus corpos para chegar a

um lugar de verdade, ou exercitar suas mentes

em ouvir o que é entregue a partir do púlpito.

O apóstolo diz sobre esse "exercício físico" (pelo

qual compreendo o exercício do corpo e da

mente juntos, como algo distinto e separado da

graça de Deus na alma); que, "para pouco é

proveitoso". "Ele lucra pouco". Ele somente

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aproveita enquanto ele dura. Ele beneficia o

corpo, mas não beneficia a alma. Pode

beneficiar o intelecto, mas não beneficia o

coração. Beneficia para o tempo, mas não para

a eternidade. Beneficia para as impressões

momentâneas, mas não para a salvação eterna.

Beneficia por uma hora ou por um dia; mas não

beneficiará no leito da morte, no juízo ou numa

eternidade sem fim. Pode ter valor para reprimir

convicções, endurecer o coração, prender a

consciência, amortecer os sentimentos,

encerrar a alma numa profissão sem a graça.

Pode-se lucrar até agora (se a palavra "lucro"

pode aqui ser usado consistentemente com o

significado do termo), mas "pouco aproveita", e

lucra por um pouco de tempo, pois "o fim

dessas coisas é a morte".

Agora, quando você olha para a sua religião,

analise-a, avalie-a e considere-a; você não

consegue encontrar muito deste "exercício

físico" inerente a ela e combinado com ela? E

aqui reside, de fato, uma coisa que muitas vezes

deixa a mente perplexa e a consciência de um

verdadeiro participante da graça, que embora

tenha piedade vital, ele tenha tanto deste

"exercício físico" com ele. Na verdade, toda a

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religião que não é forjada em sua alma de

tempos em tempos, pelo poderoso poder de

Deus é apenas "exercício corporal". Como então

temos uma grande parte da religião que não é

de Deus e, portanto, nada além de "exercício

físico" (e a consciência de um filho de Deus só

pode receber a religião que é operada em seu

coração por um poder divino), acontece que,

quando ponderamos nossa religião nas escalas

do santuário, somos obrigados a escrever

"Tekel" (pesado na balança e achado em falta)

talvez em nove décimos.

Isso deixa perplexo o julgamento, exercita a

mente e tenta a alma de muitos do povo de

Deus; porque eles, tendo a luz para ver, a vida

para sentir, o juízo para compreender, afeições

para abraçar e uma consciência para receber,

senão o que é de Deus, suas mentes estão

perplexas com a estranha mistura de "exercício

físico" com piedade vital e espiritual. Mas há

essa distinção entre o filho de Deus e aquele

que está completamente envolvido no "exercício

corporal", de que um homem que não tem nada

além de "exercício corporal" está satisfeito com

ele; não tem ânsia de nada melhor, celestial ou

divino; enquanto um filho de Deus conta toda a

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sua justiça como trapos imundos, atropela toda

a sua falsa religião, assim como as suas próprias

obras, e não se satisfaz senão com aquilo que a

mão de Deus deposita no seu coração e a boca

de Deus fala à sua alma.

II. A piedade, que é proveitosa para todas as

coisas. Mas, passamos ao nosso segundo

ponto, que é considerar essa "piedade", que é

tão eternamente distinta do "exercício físico",

que lucra pouco; e da qual o apóstolo diz, é "útil

para todas as coisas".

Mas, o que é "piedade"? Devemos distinguir

entre "piedade" e "exercício de piedade”. O

Apóstolo faz essa distinção. Ele diz a Timóteo:

"Exercita-te na piedade, porque a piedade é

proveitosa para todas as coisas". Ele, portanto,

estabelece uma distinção entre "piedade" e um

"exercício" na piedade. Vamos primeiro, então,

ver o que é "piedade", e então seremos mais

capazes de ver o que é "exercício" na piedade.

Por "piedade", então, devemos entender o que

vem imediatamente do céu; aquilo de que o

próprio Deus é o autor; que "desce do Pai das

luzes, em quem não há variação, nem sombra

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de variação". (Tiago 1:17). O Senhor Jesus é "o

autor", que é o iniciante, bem como "o

consumador da fé"; e da "boa obra" que Deus

prometeu cumprir, é dito também ser "iniciada"

por ele. Todo grão, portanto, de verdadeira

religião, toda centelha de piedade vital, vem

direta e imediatamente de Deus.

Mas, essa "piedade" tem ramos, partes, graças,

dons, ensinamentos e operações ligados a ela.

Porque a piedade é um assunto muito amplo;

abraça toda a obra da graça do primeiro ao

último, desde o primeiro suspiro de convicção

até o último aleluia de um santo partindo. A

piedade abarca toda a obra do Espírito; e já que

o trabalho é tão abrangente e diversificado,

deve ser um assunto muito extenso.

Compreende arrependimento, fé, esperança,

amor, oração, humildade, contrição,

quebrantamento, paciência; em uma palavra,

todo ato do Espírito abençoado sobre a alma e

todo fruto que brota da ação do Espírito Santo

sobre o coração.

Mas, a principal coisa que o Apóstolo dirige a

seu filho Timóteo, e a qual desejo dirigir às suas

mentes, é o "EXERCÍCIO" da piedade. A piedade

Page 14: O exercício e o lucro da piedade

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às vezes parece estar ainda no coração. Está lá,

mas sem muito movimento aparente. A vida de

Deus nunca morre na alma; mas tem os seus

rebentos e fluxos, as suas pulsações, os seus

movimentos, os seus despertares, os seus

desejos, os seus sentimentos, os seus atos, as

suas saídas, as suas condições. Esta é a vida da

religião na alma. De fato, só sabemos que

somos participantes da piedade ao sentir o

exercício dela no coração.

O exercício, também, da piedade é conhecido

pela oposição que encontra. Toda graça da alma

é de vez em quando atraída para o exercício;

mas é atraída geralmente pela oposição feita a

ela, pelas dificuldades que tem que superar,

pelos inimigos que tem que encontrar, pelos

conflitos que tem que atravessar. E como o

corpo só é mantido saudável pelo exercício;

como um homem pode ficar deitado na cama

até morrer nela por falta de exercício, então a

religião deve ser continuamente exercitada para

que a alma possa estar viva e saudável para

Deus. Todos os frutos e graças do Espírito

estão, por assim dizer, ficam estagnados na

alma, exceto na medida em que são levados a

um exercício vivo, individual e ativo.

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A. Examinemos um pouco mais de perto essas

várias graças, e vejamos como elas são levadas

ao exercício.

1. Há a graça do arrependimento, a tristeza pelo

pecado, o santo luto pelas iniquidades do nosso

coração, lábios e vida. Mas não é esta tristeza

santa, essa contrição, este arrependimento, este

luto pelo pecado? Esta graça do Espírito não está

estagnada, por assim dizer, e adormecida na

alma? Tem então que ser extraída, e ser

exercitada. E é de vez em quando atraída para o

exercício, como Deus tem o prazer de colocar

sobre nossas consciências a sujeira e culpa, o

peso e carga do pecado; para colocar diante de

nossos olhos o Senhor Jesus Cristo em seus

sofrimentos no madeiro do Calvário; ou para

derreter e suavizar o nosso coração com alguns

toques suaves do Espírito; e assim fazer-nos

sentir o arrependimento. Aqui está o exercício

do arrependimento.

2. Assim com a fé. Você pode ter fé; e sem

dúvida há aqueles a quem me dirijo que a

possuem. Mas não está esta preciosa graça e

dom da fé muitas vezes, por assim dizer, em

suas almas tão adormecida, que você não pode

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despertá-la? Tão estagnada, que você não pode

movê-la? Mas, o Senhor se deleita de tempos em

tempos, colocando as coisas eternas com peso

e poder sobre a consciência, aplicando alguma

verdade ao coração, visitando a alma com seu

Espírito e graça, colocando Jesus diante dos

olhos, dirigindo nossos desejos para si mesmo;

o Senhor fica satisfeito em chamar em exercício

esse princípio latente de fé, que antes estava

enterrado e escondido no peito. É atraído para

o exercício; olha para Jesus, crê e paira sobre o

Senhor Jesus Cristo. Ele recebe de sua plenitude;

ele vem a ele pobre, necessitado, nu, fraco,

desamparado, e recebe força para acreditar em

seu nome; olhar para ele; e lançar-se totalmente

sobre ele.

Olhe para Jonas no ventre do grande peixe,

quando ele chora como se fosse do próprio

ventre do inferno; como achamos a fé sob os

exercícios de sua alma; "Mas eu voltarei a olhar",

diz ele, "para o seu santo templo!"

Olhe para Ezequias em cima de seu leito de

enfermidade e, para seus sentimentos, no leito

da morte; como ele se virou para a parede e

clamou: "Lembra-te agora, ó Senhor, peço-te, de

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que modo tenho andado diante de ti em

verdade, e com coração perfeito, e tenho feito o

que era reto aos teus olhos."

Olhe para Davi através de todas as suas diversas

tribulações, aflições e perseguições; como seus

olhos e coração continuamente erguiam a fé

para o Senhor e descansavam inteiramente

sobre ele! E, de fato, Deus coloca seu povo de

vez em quando em tais situações e

circunstâncias difíceis, em que eles não têm

mais ninguém para olhar. Eles não têm outra

ajuda, abrigo ou refúgio; mas por pura

necessidade são obrigados a lançar suas almas

sobre Aquele que é capaz de salvar. E nisso

frequentemente encontramos o exercício da fé.

3. Assim, com o exercício da esperança. Como

o pobre filho de Deus afunda, às vezes, em tal

angústia e desânimo que quase não lhe resta

mais um grão de esperança!

Quando Satanás tenta, e a culpa pressiona sua

consciência, como sua alma é agitada dentro

dele! E quando Deus esconde o seu rosto, e não

sente ajuda nem forças permanecendo em si

mesmo, como o seu coração fica desanimado e

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quase desesperado! Mas como, também, nestas

ocasiões é a sua esperança reavivada! Como o

Senhor pode e aplica uma promessa adequada

ao seu coração desanimado! Como ele pode

trazer à sua lembrança o que ele fez por ele nos

tempos antigos; as colinas de Mizar em que ele

esteve; o Ebenézer que ele foi habilitado a

levantar! Como o Senhor, colocando seu braço

secretamente debaixo de sua alma, pode

sussurrar uma esperança em seu peito para que

não se envergonhe, e lhe dá uma âncora segura

e firme dentro do véu.

4. Então, quanto ao amor; quão fria, quão

morta, quão insensível, quão inanimada é a

alma, às vezes, em relação a Deus e à piedade,

como se nunca tivesse havido uma faísca de

afeto espiritual nem a Deus nem ao seu povo!

Mas, como o Senhor pode, às vezes, derreter a

alma em afeição e amor, e tornar Jesus

verdadeira e realmente querido, próximo e

precioso! Como somos dependentes do Senhor,

não só pelas comunicações da piedade, mas

também pelo exercício da piedade! E como Ele

próprio precisa exercitar suas próprias graças

na alma!

Page 19: O exercício e o lucro da piedade

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B. Mas, passamos a considerar como esta

"piedade", ou melhor, o "exercício" da piedade é

"proveitoso para todas as coisas". O apóstolo

falando de "exercício físico" declara que "para

pouco aproveita; mas a piedade", ele diz, "é

proveitosa para todas as coisas". Que termo

abrangente; "todas as coisas!" De modo que não

pode surgir uma única circunstância em que a

piedade não será rentável. Todos os estados,

todas as circunstâncias, todas as condições;

adversidade ou prosperidade; o que o mundo

chama de felicidade, ou o que o mundo chama

de miséria - de todas as circunstâncias

complicadas que acontecem a um filho de Deus

através de sua peregrinação aqui embaixo; e em

todas elas, a piedade é proveitosa.

Nem sempre aos seus sentimentos, nem sempre

ao seu julgamento, nem sempre à sua

apreensão; pois, em geral, as coisas mais

lucrativas são para os nossos sentimentos as

mais dolorosas. E, no entanto, "a piedade é

proveitosa para todas as coisas". Você não pode

ser colocado em qualquer circunstância adversa

em que a piedade não seja proveitosa; você não

pode sofrer qualquer aflição ou provação em

que a piedade não seja rentável. Não há um

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único evento que possa acontecer a você, na

providência ou na graça, para o qual a piedade

não será encontrada no final real e

verdadeiramente rentável.

Mas, o que é "rentável?" Eu posso defini-lo em

uma frase curta; é o que faz a alma boa. Agora

a "piedade" é proveitosa para todas as coisas,

como fazendo a alma boa em todas as

circunstâncias. Aqui está separada de tudo de

uma natureza mundana. Aqui se distingue do

"exercício físico que para pouco é proveitoso",

pois ela é "proveitosa para todas as coisas". Na

doença, na saúde; na luz do sol, na tempestade;

sobre o monte, no vale; sob qualquer

circunstância o filho de Deus pode ser,

"piedoso", ou melhor, se "exercitar" na piedade,

que é rentável. E ela é tirada destas

circunstâncias. Vive diante das provações; é

reforçada pela oposição; torna-se vitoriosa pela

derrota; ganha o dia apesar de todos os

inimigos; ela "está em cada tempestade, e vive

por fim."

Não morre como o "exercício físico"; não

floresce e desaparece em uma hora; não é como

a aboboreira de Jonas que cresceu e murchou

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21

em uma noite; não deixa a alma nos horrores do

desespero quando mais precisa de conforto;

não é um amigo inconstante e falso que vira as

costas nos dias escuros e nublados da

adversidade. É "um amigo que ama em todos os

momentos", pois o Autor dela "fica mais perto

do que um irmão". Ela pode chegar a um leito

de doença quando o corpo está cheio de dor; ela

pode entrar em uma masmorra, como fez com

Paulo e Silas, quando seus pés estavam no

tronco; pode ir, e foi com mártires para a estaca;

acalma o travesseiro da morte; leva a alma para

a eternidade; e, portanto, é "útil para todas as

coisas". É um amigo firme; um companheiro

abençoado; a vida da alma; a saúde do coração;

sim, "o próprio Cristo em vós, a esperança da

glória". É a própria obra de Deus, a própria graça

de Deus, o próprio Espírito de Deus, a própria

vida de Deus, o próprio poder de Deus, os

próprios tratos de Deus, que terminam na

própria felicidade de Deus; e, portanto, é "útil

para todas as coisas".

Mas, compare esta obra de graça com a alma,

este ensinamento de Deus no coração, esta vida

de fé no interior; compare esta religião vital,

espiritual, celeste, divina, sobrenatural, com

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aquela frágil falsidade do "exercício corporal".

Compare os atos de fé real, esperança real,

amor real; os ensinamentos, as relações, as

orientações e as operações do Espírito Santo na

alma, com rodadas de deveres, formas

supersticiosas, cerimônias vazias e uma religião

teórica, por mais enrugada que seja, por mais

envernizada que seja. Compare a vida de Deus

no coração de um santo, em meio a todo o seu

abatimento, desânimo, provações e tentações;

compare esse precioso tesouro, a própria graça

de Cristo na alma, com toda religião exterior,

superficial, frágil e nocional. Oh, não é mais

para ser comparado do que um grão de pó com

um diamante; não mais para ser comparado do

que um criminoso em uma masmorra ao

soberano no trono. Na verdade, não há

comparação entre elas.

Oh, que misericórdia para você e para mim, se

formos participantes da piedade; se a graça do

Senhor está em nossa alma; se há algo divino

em nosso coração! Nós o acharemos "proveitoso

para todas as coisas". Não vai sair na escuridão;

não expirará como uma lâmpada tremulante;

mas queimará mais brilhantemente até ser dia

perfeito. Não precisamos invejar ninguém, se

Page 23: O exercício e o lucro da piedade

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formos participantes de um só grão de piedade

vital. Não precisamos invejar nenhum

professante, por mais elevado que seja; não,

não precisamos invejar nenhum filho de Deus,

por mais favorecido que seja. Se houver

verdadeira graça em nossas almas, será achada

"proveitosa para todas as coisas." Ela vai fazer

boa a alma. Há uma realidade nela; uma bênção

nela; pois há vida eterna e bem-aventurança

imortal nela. É de Deus; veio de Deus, e conduz

a Deus. Ela começa na terra, mas é consumada

no céu. E, portanto, dizemos, é "proveitosa para

todas as coisas."

C. Mas há outra coisa dita disso; que tem "a

promessa da vida que é AGORA". O que é "a vida

que agora é?" E como a piedade é a promessa

disso tanto quanto do futuro?

1. "A vida que agora é"; a vida que vivemos na

carne; a vida desses corpos mortais; é, na maior

parte, uma vida de AFLIÇÃO. Porque o Senhor

escolheu a sua Sião na fornalha da aflição. Se

sofremos com ele, devemos ser glorificados

juntamente. Ora, a piedade tem "a promessa da

vida que agora é", como uma vida de aflição. E

ó, como a aflição real nos amortece para tudo

Page 24: O exercício e o lucro da piedade

24

mais! Quando não há aflição, o mundo dança

diante de nós com um raio de sol sobre ele;

atraente, deslumbrante, e bonito; e nós, em

nossas mentes carnais, podemos voar de flor

em flor como uma borboleta ao sol. Nossa

religião está em baixa quando este é o caso;

pode haver uma profissão decente; mas quanto

a qualquer vida e poder, quão pouco há, exceto

quando a aflição pressiona a alma para baixo! A

verdadeira religião está no fundo; não é um

balão pairando sobre nós a quilômetros no ar. É

como a verdade; está no fundo do poço.

Precisamos então descer para a religião, se

quisermos ter isso realmente em nossos

corações.

O Senhor Jesus Cristo era "um homem de dores,

e familiarizado com o sofrimento". Ele tomou o

lugar mais baixo, último e menor. Ele estava

sempre embaixo; de modo que, se quisermos

ser companheiros do Senhor Jesus Cristo,

devemos descer com ele, descer ao vale, descer

aos sofrimentos, descer à humilhação, à

provação. Quando ficamos inchados pela alegria

mundana, ou exaltados pela excitação carnal,

não simpatizamos com o Senhor Jesus Cristo em

sua condição sofredora; nós não vamos com ele

Page 25: O exercício e o lucro da piedade

25

então para o jardim do Getsêmani, nem o vemos

como "o Cordeiro de Deus" sobre o madeiro

maldito.

Nós podemos fazer sem Jesus muitas coisas

quando o mundo sorri, e as coisas carnais são

superiores em nosso coração. Mas venha a

aflição, uma pesada cruz, um fardo para nos

pesar, então cairemos no lugar onde somente o

Senhor Jesus Cristo pode ser encontrado.

Encontramos então, se o Senhor se agrada de

trazer um pouco de piedade para a alma, e para

atrair esta piedade em exercício vital, que tem

"a promessa da vida que agora é". Há promessas

ligadas a ela de apoio, força, conforto,

consolação e paz, dos quais o mundo inteiro

nada conhece; há uma verdade nela, um poder,

uma realidade, uma bênção nela, que a língua

nunca pode expressar. E quando a alma é

pressionada no vale da aflição, e o Senhor se

agrada em encontrá-la lá, e visitá-la então, e

atrair a piedade em sua atuação e exercícios,

então se descobre que tem "a promessa da vida

que agora é." Fé, esperança, amor,

arrependimento, oração, humildade, contrição,

longanimidade e paz; todos esses dons e graças

do Espírito são exercitados principalmente

Page 26: O exercício e o lucro da piedade

26

quando a alma está em aflição. Aqui está "a

promessa da vida que agora é", na elaboração

destas graças celestiais no coração.

2. "A vida que agora é", é uma vida de

TENTAÇÃO. "Ele foi tentado em todos os pontos

como nós somos, mas sem pecado." (Hebreus

4:15). "Jesus foi levado ao deserto para ser

tentado pelo diabo". (Mateus 4: 1). E devemos

compartilhar com ele também nestes

sofrimentos. É, então, uma vida de tentação. Ó,

como continuamente o pobre filho de Deus é

tentado! E que fortes tentações! Quão

dolorosas, quão poderosas! Como enredam!

Como assediam! Como enfeitiçam com satânica

escuridão! Mas, quão mais satânico é o diabo

quando se transfigura em anjo de luz! Como

continuamente o filho de Deus é exercitado com

a tentação! Tentação tão adequada, tão

poderosa, tão avassaladora, que nada além da

graça de Deus pode subjugá-la ou livrar a alma

dela.

Mas a piedade tem a promessa da "vida que

agora é", embora "a vida que agora é", em sua

maior parte, seja uma vida de tentação. Pois é

quando a piedade está em exercício, que a força

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da tentação é derrotada. Mas onde estamos? O

que nós somos? O que nós fazemos? O que não

devemos fazer? Quando o pecado e a tentação

se encontram, e a graça do Senhor não

intervém? Ora, "a piedade tem a promessa da

vida que agora é", para que "não sejais tentados

acima do que podereis suportar, mas com a

tentação Deus fará um caminho para escapar,

para que possais suportá-la". E assim livrar

(porque o Senhor sabe como livrar) o piedoso da

tentação. Ele pode quebrar a tentação em

pedaços, ou então livrá-lo da tentação por

completo.

3. Mas é uma vida de PROVAÇÃO. "O Senhor

prova os justos". (Salmo 11: 5). De fato, uma

vida justa é, em sua maior parte, uma vida

provada. Não há um filho de Deus, cujas graças

sejam vivas e ativas, que não sejam provadas

em sua alma. Eu não tenho mais a crença de que

a alma possa viver sem exercício do que o corpo

possa. Quanto mais a alma for exercitada, mais

saudável ela será. A provação é uma das

principais fontes de exercício. Se você é provado

quanto à sua posição, provado quanto ao seu

estado, provado quanto à realidade da obra da

graça sobre a sua alma, provado na sua

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experiência; provado quanto às suas

manifestações, libertações e evidências;

provado pelos seus pecados, por Satanás, por

professantes; e, acima de tudo, provado por seu

próprio coração, e isso continuamente; manterá

sua alma em exercício.

D. E isto é "exercício na piedade". Se estes

exercícios são para a piedade, eles levam à

piedade, eles te levam para o caminho da

piedade, eles te aproximam da piedade, eles te

levam à piedade; e, acima de tudo, trazem

piedade à tua alma. E assim, há um exercício da

alma na piedade. O seu coração às vezes parece

sem um grão dela? Vocês veem o que é a

piedade em sua natureza, em seus ramos, em

seus frutos, em suas graças, no que um cristão

deve ser, prática, experimentalmente e real;

externa e internamente; na igreja e no mundo.

Você diz: "Sou cristão? Sou uma pessoa piedosa?

Deixe-me comparar-me com a piedade. Eu sou

piedoso? Há graça em meu coração? Eu vivo? Eu

falo? Eu acho? Eu ajo? Eu ando? Eu vivo como

deve um cristão? A minha vida, a minha

profissão, a minha conduta; na família, no

mundo; nos negócios, na igreja; em casa, no

exterior; abertamente, em segredo; em

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particular, em público; é tal que posso tomá-la

e colocá-la passo a passo, com a piedade vital,

real, experimental, bíblica? Ó, você diz, eu me

encolho na hora da prova. Há muitas coisas em

mim interna e externamente que não

suportarão ser pesadas pela piedade como

revelada nas Escrituras da verdade.

Bem, sua mente é exercitada, eu suponho,

quando você tem estes funcionamentos. Agora

qual é o resultado? É um exercício para a

piedade. Você quer isso; você se esforça para

ele; você chora por isso; você pressiona para

alcançá-lo; você sabe que ninguém, senão o

Senhor, pode trabalhar isto em sua alma; você

se sente necessitado, nu e destituído; você sabe

que sem a piedade você não pode nem viver ou

morrer feliz; e que deve perecer corpo e alma

para sempre.

Agora, se isto está acontecendo no coração de

um pobre pecador dia após dia, será um

exercício para a piedade. E esta piedade tem "a

promessa da vida que agora é", porque a

piedade é "proveitosa para todas as coisas"; e

tem promessas preciosas para aqueles que são

assim exercitados. "Minha graça é suficiente

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para você." (2 Coríntios 12: 9). "Como é o vosso

dia, assim será a vossa força." (Deuteronômio

33:25). "As minhas ovelhas nunca perecerão,

nem as arrancarão da minha mão." (João 10:29).

"Aquele que começou uma boa obra em vós a

completará até o dia de Jesus Cristo". (Filipenses

1: 6). "Nunca te deixarei, nem te desampararei".

(Hebreus 13: 5). "Vinde a mim, todos os que

estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei".

(Mateus 11:28). "Olhai para mim, e sereis

salvos, todos os confins da terra, porque eu sou

Deus, e não há outro." (Isaías 45:22). Assim, a

piedade tem "a promessa da vida que agora é",

tendo tais promessas adequadas às almas que

são exercitadas na piedade.

Sua alma é exercitada? Se a sua alma é

exercitada, você verá que é para a piedade; e

você verá às vezes uma beleza em santidade,

que comparada a tudo o mais, faz com que

sejam nada. Pois Cristo é a própria piedade, o

Autor e o Finalizador; a cabeça e o objeto; o

começo, o meio e o fim; e, portanto, ter

piedade, é ter Cristo.

Mais algumas palavras, e concluo. A piedade

tem a promessa também da "vida que deve vir".

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Apoia na vida e na morte; e leva a alma para uma

feliz e abençoada eternidade; e, portanto, tem

"a promessa da vida que há de vir". A graça

terminará em glória; fé à vista; esperança em

fruição. A alma ensinada de Deus verá Jesus

como ele é. Assim, a piedade tem "a promessa

da vida que há de vir", quando a paz eterna

abundará, as lágrimas serão enxugadas de

todos os rostos e a graça consumada em

felicidade infinita!