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O EVANGELHO DE LUCAS EM RIMAS TOANTES Versificação de Cacildo Marques São Paulo - 1994

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O Evangelho de Lucas, passo a passo, versiculo a versiculo, transformado em versos, de rimas sonoras, irlandesas, com 840 estrofes em redondilha maior, na lingua portuguesa, para a CPLP (Brasil, Portugal, Angola, Mocambique, Sao Tome e Principe, Cabo Verde, Guine-Bissau, Timor-Leste e as cidades de Goa, Damao, Diu e Macao, mais a comunidade lusofona de Boston).

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O EVANGELHO DE LUCASEM RIMAS TOANTES

Versificaçãode

Cacildo Marques

São Paulo - 1994

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O EVANGELHO DE LUCAS EM RIMAS TOANTES

Versificação de Cacildo Marques

I) PRÓLOGO E O NASCIMENTO DE JESUS

1. NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA Prólogo (1); Anúncio do nascimento do precursor (5); Anúncio do nascimento de Jesus (26); Maria visita Isabel (39); Magnificat (46); Nascimento de João Batista (57)

1Visto que antes de mim Muitos já empreenderam Ordenar em narração As coisas que sucederam, 2Conforme a nós referiram Os que as viram ocorrer

E ministros da palavra Tornaram-se desde então, 3Depois de investigar tudo, Entendi que era importante Também te escrever em ordem A presente narração,

Meu caríssimo Teófilo, 4Para que conheças bem A solidez da verdade Daqueles ensinamentos Que te foram transmitidos, Conforme todos sabemos.

5Nos tempos do rei Herodes, Na Judeia, havia ali Um sacerdote chamado Zacarias, da ala Abias, Casado com Isabel Que de Arão descendia.

6Justos diante de Deus, Seguiam aqueles dois, Irrepreensivelmente, Os preceitos do Senhor. 7Não tinham filhos, porquanto Isabel estéril fosse,

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Além de que ambos tinham Idade já avançada. 8Eis que estando Zacarias Nas funções sacerdotais 9Coube-lhe pelo sorteio A sua vez de incensar.

10Toda a multidão do povo Estava fora do templo A orar quando ele entrou Para cuidar do incenso. 11À direita do altar Ele, naquele momento,

Viu um anjo do Senhor De pé, posto ali ao lado. 12Zacarias, temeroso, Deixou-se então perturbar. 13Mas o anjo o acalmou, Dizendo-lhe estas palavras:

"Não temas, ó Zacarias, Porque a tua oração De todo foi atendida: Isabel agora é sã; Ela te dará um filho A quem tu chamarás João;

14"Será para ti motivo De gozo e de alegria, E muitos se alegrarão Neste que terá nascido; 15Pois será ante o Senhor Muito grande este teu filho;"

"Ele não beberá vinho Nem bebida inebriante De qualquer outra espécie; Será do Espírito Santo Repleto já desde o início No seio de sua mãe,"

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16E dos filhos de Israel Reconduzirá milhares De volta para o Senhor, Seu Deus. 17E o precederá Com o poder e o espírito De Elias, para levar"

"Os corações desses pais Aos seus filhos, e os rebeldes Aos sentimentos dos justos, Para preparar na fé Um povo assaz bem disposto Dedicado ao Deus dos céus."

18Zacarias disse ao anjo: "Como conhecerei isso? Pois minha esposa é idosa E outro tanto eu já vivi." 19Mas o anjo, respondendo, Naquele momento disse:

"Eu sou o anjo Gabriel, Que assiste diante de Deus; Fui enviado a falar-te E a boa-nova trazer-te. 20Eis que tu ficarás mudo Até que essas coisas vejas,"

"Visto que tu duvidaste Das palavras que eu te disse, As quais no seu tempo certo Em verdade hão de cumprir-se." 21No entanto, o povo lá fora Esperava Zacarias;

E se admirava muito De ele se demorar tanto. 22E ao sair estava mudo, Vinha apenas acenando, Dando a entender que lá dentro Tinha tido uma visão.

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23Assim que viu terminados Seus dias de ministério, Retirou-se para casa. 24Dias depois, Isabel Concebeu e ocultou-se Por cinco meses. Disse ela:

25"Assim tratou-me o Senhor Quando quis eliminar Nestes tempos entre os homens De minha vergonha a causa." 26Ora, eis que no mês sexto O anjo por Deus foi mandado.

Gabriel foi à cidade De Nazaré, Galileia, 27Para falar a uma virgem Noiva do moço José Da casa do rei Davi; Maria era o nome dela.

28Vindo a ela, disse o anjo Em saudação de louvor: "Salve, ó cheia da Graça, Contigo está o Senhor." 29Ela, ouvindo essas palavras, Perturbada se mostrou.

30O anjo disse-lhe então: "Não tenhas medo, Maria, Pois apareceste em graça Ante Deus, que te assistiu; 31Eis que tu conceberás E darás à luz um filho."

"Tu o chamarás Jesus. 32Ele será muito grande, Chamado Filho do Altíssimo, E Deus lhe dará em mãos O trono do rei Davi, Seu pai, e a partir de então"

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33"Sobre a casa de Jacó Reinará eternamente, Seu reino não terá fim, Será para todo o sempre." 34Maria então dirigiu-se Ao anjo e foi-lhe dizendo:

"Como ocorrerá tal coisa Se ainda hoje sou virgem?" 35Disse-lhe o anjo em resposta: "Repousará sobre ti De Deus o Espírito Santo, A virtude do Altíssimo"

"Cobrir-te-á com sua sombra E o que de ti nascerá Por santo e Filho de Deus É como será chamado. 36Vê: tua prima Isabel Na velhice ficou grávida."

"Ela, que era dita estéril, Está já no sexto mês, 37'Pois a Deus nada é impossível'." 38Disse então Maria: "Eis A serva do Senhor. Cumpra-se, Pois, a palavra de Deus."

O anjo então retirou-se. 39Maria, alguns dias mais Foi com pressa às montanhas, A uma cidade em Judá. 40Na casa de Zacarias Foi com Isabel falar.

41Assim que Isabel ouviu A saudação de Maria Tomou do Espírito Santo, No seio exultou-lhe o filho, 42E ela exclamou em voz alta Nesse momento em que disse:

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"Bendita és entre as mulheres E bendito é do teu ventre O fruto. 43E donde esta dita, Que a mãe do Senhor me venha Visitar em minha casa, Tanta alegria trazendo?"

44"Pois, assim que a saudação De tua boca me veio De alegria o meu menino Logo exultou no meu seio. 45Ditosa quem no Senhor E em suas promessas creu."

46E Maria disse então: "'Minha alma a Deus glorifica' 47E o meu espírito exulta No Senhor, pela alegria, 48Pois 'meu Salvador olhou Para sua serva humilde'."

"As gerações que virão Hão de me chamar ditosa, 49Pois o Todo-Poderoso Fez em mim coisas grandiosas. 'Santo é o nome de Deus 50E grande a misericórdia'."

51"'Pôs a força de seu braço Contra os soberbos e vis. 52Derrubou os poderosos E exaltou o povo humilde; 53Encheu as mãos dos famintos' E esvaziou as dos ricos."

54"'Socorreu a Israel, Seu servo, não se esquecendo De sua misericórdia, 55Conforme aquilo que sempre Predissera a nossos pais', A Abraão e descendência."

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56Por cerca de mais três meses Esteve Maria lá Morando com Isabel, Depois voltou para casa. 57E para Isabel então De um menino deu-se o parto.

58Seus vizinhos e parentes, Sabendo do benefício Foram com ela alegrar-se Pelo menino nascido. 59Vieram circuncidá-lo Na altura do oitavo dia.

O nome de Zacarias, O mesmo nome do pai, É o que queriam lhe dar, 60Mas a mãe disse, ao contrário: "João deve ser o seu nome, É como há de chamar-se."

61Então os outros disseram: "Mas não há dos teus parentes Alguém que tenha esse nome!" 62Perguntando por acenos Consultaram Zacarias, Que respondeu escrevendo.

63Pedindo uma tabuinha Escreveu: "João é o nome." E todos ficaram pasmos. 64Zacarias, nesse ponto, Falou, bendizendo a Deus, 65E causando grande assombro.

66E a montanha da Judeia Toda contava esses fatos. E os que escutavam tais coisas Pensavam, no coração: "Quem será esse menino?" A mão de Deus ali estava.

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67E Zacarias, seu pai, No Espírito Santo imerso, Profetizou nestes termos: 68"Bendito o Deus de Israel, Bendito seja o Senhor, Que ao seu povo fez liberto."

69"E deu-nos um Salvador Poderoso, da linhagem De Davi, seu servidor, 70Conforme já anunciara Pela boca dos profetas Que viveram no passado;"

71"Para nos livrar, por fim, Do alcance dos inimigos, Das mãos dos que nos odeiam. 72Na misericórdia tida Ante nossos pais, lembrou-se Da aliança instituída."

73"Lembrou-se do juramento Feito a Abraão, nosso pai, De concedermos que, estando 74De inimigos libertados, Possamos servi-lo sempre, Sem temor e em santidade,"

75"Em justiça e sob o olhar Do Senhor, todos os dias. 76E tu, filho, meu menino, Um profeta do Altíssimo É como serás chamado Por aqueles que te virem;"

"'Precederás o Senhor Preparando os seus caminhos', 77Ensinando ao povo a senda Da salvação e do fim De todos os seus pecados; E tudo será assim"

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78"Graças à misericórdia Eterna de nosso Deus, Que trará o Astro nascente 79Para iluminar os seres Das trevas e umbrais da morte, E dar-nos a paz perfeita."

80Ali crescia o menino, Robustecido no espírito; Depois morou no deserto Até ver chegar o dia De vir a manifestar-se A Israel, como devia.

2. NASCIMENTO DE JESUS Nascimento de Jesus (1); Pastores no presépio (8); Circuncisão e apresentação no templo (21); 'Nunc dimittis' (29); A profetisa (36); Jesus entre os doutores (41)

1Ordem de César Augusto Fez divulgar um edito Pelo recenseamento Do Império, naqueles dias; 2O primeiro, com Quirino Tendo o governo da Síria.

3Foram registrar-se todos Cada qual em sua cidade. 4José foi de Nazaré, Galileia, à que é chamada Belém, por ser de Davi E ele pertencer à casa.

5Foi fazer o seu registro Com sua esposa, Maria, Que se achava então grávida De seu filho prometido. 6Eis que o tempo completou-se E ela deu à luz ali.

7Teve o filho primogênito, Em faixas o enrolou E o colocou em seguida Dentro de uma manjedoura, Por não haver mais lugares Nas salas interiores.

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8Havia na região Uns pastores que de noite Montavam guarda aos rebanhos. 9Eis que um anjo do Senhor Apareceu-lhes e a glória De Deus os iluminou.

Tiveram grande temor, 10Porém o anjo lhes disse: "Não temais, que a boa-nova É o que eu vos anuncio. Será para todo o povo Causa de imensa alegria."

11"Na cidade de Davi Nasceu hoje um Salvador Vosso, que é o Senhor, o Cristo. 12Este sinal eu vou dou: Um menino envolto em panos Vereis numa manjedoura."

13De súbito, uniu-se ao anjo Uma multidão descida Dos exércitos celestes, Que, louvando a Deus, dizia: 14"Glória a Deus no alto dos céus E paz aos homens benignos."

15Depois que os anjos se foram, Subindo de volta ao céu, Os pastores entre si Diziam:"Vamos até Belém, para que vejamos Como ocorreu e o que é"

"Que o Senhor trouxe do alto Para nos manifestar." 16Foram então com toda a pressa, E lá chegando encontraram José, Maria e o menino Na manjedoura deitado.

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17Depois que viram, contaram Sobre o que ouviram antes, 18Deixando maravilhados Aos que os iam escutando. 19Maria a tudo guardava Dentro do seu coração.

20Os pastores retornaram Glorificando e louvando A Deus pelo que foi visto E ouvido, conforme o anjo Tinha-lhes anunciado Durante a aparição.

21A circuncisão foi feita Ao chegar o oitavo dia E ao menino deu-se o nome De Jesus, conforme havia Já anunciado o anjo Quando visitou Maria.

22E completados os dias Para a purificação Levou-se a Jerusalém O menino, como manda A Lei de Moisés, e deu-se A sua apresentação

Ao Senhor, 23como se encontra Escrito na Lei de Deus: "Todo varão primogênito Consagrado deve ser Ao Senhor." E neste ato 24Deviam oferecer

Como sacrifício a Deus Um par de rolinhas ou, Em seu lugar, dois pombinhos, Tudo isso de acordo Com o que ficou escrito E está na Lei do Senhor.

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25Havia em Jerusalém Por nome de Simeão Um homem justo e piedoso Que, junto ao Espírito Santo, Para Israel esperava A plena consolação.

26Revelou-lhe o próprio Espírito Que ele antes de morrer Teria de estar um dia Perante o Cristo de Deus. 27Pelo Espírito impelido Foi ao Templo nesta vez;

Quando o menino Jesus Com os pais chegou ao templo Cumprindo as normas da Lei, 28Simeão, rapidamente, Agradecido o embalou Nos braços, e foi dizendo:

29"Agora podes deixar, Senhor, o teu servo ir-se Em paz, segundo a promessa Que antes veio de ti; 30Porque 'a tua salvação' Os meus olhos enfim viram,"

31"Esta que tu preparaste 'Visando todos os povos: 32Uma luz para as nações' E que iluminou a nós, O teu povo de Israel, Trazendo-nos grande glória."

33Pai e mãe admiravam-se Com as coisas que diziam. 34Simeão abençoou-os E disse então a Maria: "O menino é destinado A fazer muitos ruírem"

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"E a outros reaparecerem Em Israel, e será Alvo de contradições. 35E a ti mesma uma espada, A desvelar corações, Virá transpassar a alma."

36Havia também ali Ana, uma profetisa, A filha de Fanuel, Da tribo de Aser; vivia Já com idade avançada; Teve antes um marido

Com quem viveu sete anos, 37Viúva permanecendo Até os oitenta e quatro. Não se afastando do Templo Servia a Deus com jejuns E orações, diariamente.

38Chegando nesse momento, Pôs-se também a louvar A Deus e sobre o menino Falar aos que esperavam Ver um dia em suas vidas Jerusalém libertada.

39Cumprido assim o disposto Na lei do Senhor, partiram De regresso a Nazaré. 40Lá o menino crescia Tendo os favores dos céus Em graça e sabedoria.

41Seus pais tinham por costume Anualmente, na Páscoa, A Jerusalém subir E da festa tomar parte. 42Tendo o menino doze anos levaram-no até lá

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43Mas o Menino Jesus Não voltou na comitiva 44E os pais, julgando-o presente, Buscaram-no após um dia Pensando poder achá-lo Entre parentes e amigos.

45Não o encontrando então, A Jerusalém voltaram. 46E após três dias de busca Foram no templo encontrá-lo A interrogar e ouvir Entre os doutores sentado.

47Todos aqueles que ouviam Estavam maravilhados Devido à sabedoria E pelas respostas dadas. 48Os pais assim que o viram Mostraram-se estupefatos.

Sua mãe disse: "Meu filho, Por que assim procedeste? Procurávamos por ti, Aflitos, teu pai e eu." 49Ele, respondendo, disse: "Procuráveis-me por quê?"

"Não sabíeis vós que eu devo Estar na casa do Pai?" 50Eles porém não souberam Compreender as palavras Que o menino lhes dissera, E os três dali se afastaram.

51A Nazaré com os pais Desceu e era-lhes submisso. Sua mãe guardava tudo No coração. 52E crescia Jesus 'ante Deus e os homens Em graça' e sabedoria.

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II) PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO

3. BATISMO DE JESUS Pregação de João Batista (1); Batismo de Jesus (21); Genealogia de Jesus (23)

1No décimo quinto ano Do reinado de Tibério César, com Pôncio Pilatos A governar a Judeia, Herodes como tetrarca Da terra da Galileia,

Sendo seu irmão Felipe Tetrarca da Traconítide E da Itureia, e Lisâneas Detentor da tetrarquia De Abilene, 2sendo Anás E Caifás os pontífices,

O filho de Zacarias, João, recebeu no deserto A palavra do Senhor, 3E então foi por toda a terra Do Jordão, pregando a todos O batismo que converte,

4Pois assim está escrito No livro de Isaías: 'Voz do que clama em desertos, Preparai de Deus a trilha, Endireitai suas sendas, 5Vales sejam preenchidos,'

'Montes sejam abaixados, Tortas vias se endireitem E escabrosas fiquem planas, 6E sendo tudo assim feito Todo homem poderá Ver a salvação de Deus!'

7E à crescente multidão Que até ali acorria Para ganhar o batismo Dizia: "Raça de víboras, Quem da cólera iminente Ensinou-vos a fugir?"

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8"Produzi, pois, frutos dignos De uma real conversão Em vez de apenas dizer: Temos por pai Abraão! Filhos de Abraão Deus pode Fazer das pedras do chão."

9"Pois o machado se encontra Já posto à raiz das árvores E as que não derem bom fruto Ao fogo serão lançadas." 10Perguntava a multidão: "Em que havemos de mudar?"

11Ele então lhes respondia: "Quem duas túnicas tem Dê uma ao que não tem nada, E reparta os mantimentos." 12E vieram publicanos A batizar-se também.

Perguntaram-lhe: "Ó mestre, O que devemos fazer?" 13Disse ele: "Não exijais Nada além do escrito em lei." 14E uns soldados perguntaram: "Como vamos proceder?"

A esses respondeu ele: "Não pratiqueis violência Com ninguém, nem denuncieis A qualquer um falsamente; Contentai-vos com o soldo Que vos serve de sustento."

15Estando na expectativa O povo, em seu coração, Perguntava-se a si próprio Se não seria João O próprio Cristo de Deus, 16Mas João respondeu então:

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"Eu batizo-vos com água, Mas em breve vos virá Um mais forte do que eu, E desse de quem vos falo Não sou digno de afrouxar As correias das sandálias."

"Ele vos batizará No Espírito Santo e em fogo. 17Tomará nas mãos a pá Com que limpará de todo Sua eira, para o trigo No seu celeiro dispor."

"Mas num fogo inextinguível Ele queimará a palha." 18Com exortações assim, Ao seu povo ele ensinava. 19Porém o tetrarca Herodes, Que foi ali reprovado

Por viver com Herodíades, Mulher de seu próprio irmão, 20Entre os crimes praticados Acrescentou outro tanto: Providenciou decreto Para encarcerar João.

21Eis que batizados todos, Jesus também batizou-se E estando ali a orar 22Desceu na forma de um corpo De pomba o Espírito Santo Sobre ele, e ouviram todos

Chegar do céu esta voz: "Tu és o meu filho amado; És motivo de alegria, Pois em ti eu me comprazo." 23Tinha Jesus trinta anos Quando lançou-se a pregar.

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E ele, segundo julgavam, De José era um dos filhos, E tinha por ascendentes Heli, Matat, 24de Levi E Melqui, filho de Jane, De José, 25de Matatias,

Filho de Amós, de Naum, Hesli, de Nagé, 26de Maat Matatias e Semei, José, filho de Judá, 27De Joanan, de Resa, filho De Zorobabel e mais

De Salatiel, Neri, 28De Melqui, filho de Adi, De Cosan, Elmadan, Her, 29De Jesus, Eliezer, filho De jorim, Matat, e este, Por sua vez, de Levi,

30De Simeão, De Judá, De José, de Joanan De Eliaquim, 31de Meléa, Mena, Matata, Natan, Davi, 32filho de Jessé, Obed, Booz, da geração

De Salmon, de Naasson, 33De Aminadab, de Arão, De Esron, de Farés, Judá, 34Jacó, Isaac, Abraão, De Taré, Nacor, 35Sarug, Razan, Faleg, e então

De Heber, Sale, 36Cainan, Arfaxad, de Sem, Noé, Lamec, 37de Matusalém, Henoc, Jared, Malaleel, De Cainan, 38de Henós, de Set, De Adão, filho de Javé.

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4. JESUS É TENTADO NO DESERTO Jesus é tentado no deserto (1); Jesus na Galileia (14); Curas em Cafarnaum (31)

1Pleno do Espírito Santo, Jesus partiu do Jordão, E o Espírito conduziu-o Ao deserto, onde 2durante Quarenta dias esteve Frente ao diabo e à tentação.

Nada comeu nesses dias, Tendo fome depois disso. 3O demônio disse então: "Se és tu filho de Deus, dize Agora mesmo a esta pedra Que em pão seja convertida."

4Jesus disse: "Está escrito: 'Não só de pão vive o homem'." 5O diabo então levou-o Dali para um alto monte, Mostrou-lhe todos os reinos Da Terra, em todo o horizonte,

6E disse-lhe: "Vou te dar O poder de tudo isto, Toda a glória destes reinos; Tudo me foi dado um dia E eu o dou a quem eu queira Conforme eu mesmo decida."

7"Tudo isto será teu, Se aceitares adorar-me." 8Jesus disse: "Está escrito: 'Ao Senhor Deus renderás Adoração e a ele, Só a ele, servirás'".

9Levou-o então o diabo A Jerusalém e no alto Do Templo disse-lhe: "Lança-te Deste ponto para baixo, Se tu és filho de Deus, 10Pois sabes que escrito está:

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"'Ele ordenará aos anjos Para virem te guardar'." 11E ainda: "'Com as próprias mãos Eles virão te amparar Para que em nenhuma pedra Tu venhas a tropeçar'".

12Mais uma vez Jesus disse: "Está dito: 'Ao Senhor, Teu Deus, tu não tentarás'." 13O diabo vendo esgotadas As formas de tentação, De perto dele afastou-se.

III) MINISTÉRIO DE JESUS NA GALILEIA

14Pela potência do Espírito À Galileia voltou Jesus e por todo lado Sua fama propagou-se. 15Nas sinagogas falava E era aplaudido por todos.

16Eis que vindo a Nazaré, Onde se tinha criado, E indo como de costume À sinagoga, num sábado, Levantou-se para ler O volume apresentado.

17Era o livro de Isaías E ao abri-lo deparou Com a passagem que diz: "'O Espírito do Senhor Está posto sobre mim, Com óleo me consagrou'"

18"'E me pôs a anunciar A boa-nova aos humildes, A liberdade aos escravos, Aos cegos o dom da vista, Aos oprimidos a graça, 19E o ano santo instituir'."

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20Tendo enrolado o volume, Deu-o ao ministro e sentou-se, E na sinagoga os olhos Fixos nele estavam todos. 21Ele a todos contemplando, Nesse momento falou:

"Cumpriu-se hoje esta Escritura Que vós acabais de ouvir." 22Todos se maravilhavam com tudo o que ele dizia E entre si se perguntavam: "De José não é este o filho?"

23Ele então lhes respondeu: "Por certo direis o adágio: - Médico, a ti mesmo cura-te; Quanto ouvimos que tu andaste Fazendo em Cafarnaum, Faze aqui na tua pátria.-"

24Ele, porém, prosseguiu: "Eu em verdade vos digo: Nenhum profeta é aceito Em sua terra. 25E afirmo Que havia muitas viúvas Em Israel, junto a Elias,"

"Quando o céu ficou fechado Por três anos e seis meses E houve fome em toda a Terra. 26Porém, Elias não teve A missão de dar socorro Àquelas das redondezas,"

"Mas a uma só viúva Lá em Sarepta de Sídon. 27E também de Eliseu, muitos Leprosos de Israel criam Que teriam cura e só Naaman, sírio, conseguiu-o."

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28Ao ouvir estas palavras, Todos se encheram de ira; 29Expulsaram-no, levando-o Da cidade ao precipício. 30Mas, passando em meio a eles, Jesus seu rumo seguiu.

31Saindo dali, Jesus Desceu a Cafarnaum, Galileia, e lá ensinava Nos sábados de costume. 32Criam nele, porque tinha Autoridade incomum.

33Estava na sinagoga Um homem que, possuído Do demônio, exclamava: 34"Que temos a ver contigo, Ó Jesus de Nazaré? Vieste nos destruir?"

"Ora, eu sei quem tu és, És tu o Santo de Deus." 35Jesus, repreendendo-o, disse: "Cala-te já e sai dele!" O homem foi ao chão, sem mal; Foi-se o imundo de uma vez.

36Todos se encheram de pasmo E uns aos outros perguntavam: "Que significa isto? Ordena com autoridade Aos espíritos imundos, E eles, sem demora, saem?"

37E sua fama estendia-se Por aquela região. 38Ao sair da sinagoga, Foi à casa de Simão, Cuja sogra estava enferma, Com febre alta, e então

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Pediram-lhe em favor dela. 39Ele sobre ela inclinou-se E mandou, com autoridade, Que aquela febre se fosse. Logo a mulher os servia: A febre se dissipou.

40Ao pôr-do-sol, vinham muitos Trazendo-lhe seus enfermos. Jesus, com as mãos, curava-os. 41"Tu és o filho de Deus!", Gritavam alguns demônios Que eram expulsos por ele.

Mas Jesus repreendia-os Severamente, e proibia-os De continuar falando Aquilo que conheciam, Para que não revelassem Que ele era mesmo o Cristo.

42Quando amanheceu o dia, Foi para um lugar deserto. O povo logo buscou-o Querendo tê-lo por perto. 43No entanto, disse-lhes ele: "É necessário que eu leve"

"A boa-nova do reino De Deus a outras cidades, Pois para isso é que eu vim; Para tal fui enviado." 44E andando pela Judeia, Nas sinagogas pregava.

5. OS PRIMEIROS DISCÍPULOS Pesca milagrosa (1); Os primeiros discípulos (8); Cura dos leprosos (12); O paralítico (18); Vocação de Levi (27); O jejum (33)

1Certo dia, para ouvi-lo A multidão comprimia-se, Estando ele junto ao lago De Genesaré, e ali 2Viu duas barcas paradas, Sem seus donos, que saíram.

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Eles tinham-se afastado Para lavar suas redes. 3Entrando numa das barcas, A de Simão, pediu ele Que a afastasse da terra, No que Simão o atendeu.

Sentando-se ele na barca Ensinava a multidão. 4Quando cessou de falar, Dirigindo-se a Simão, Disse-lhe: "Faze-te ao largo E lança as redes então."

5Simão respondeu-lhe: "Mestre, Toda a noite trabalhamos Sem conseguir pegar nada, Mas, como agora tu mandas, Lançarei de novo as redes." 6E assim fizeram, portanto.

E foi tal a quantidade De peixes vindo nas redes, Que elas quase se rompiam. 7Chamaram os companheiros Para os virem ajudar A apanhar aqueles peixes.

Estes vieram, e encheram De tal modo ambos os barcos Que quase se iam afundando. 8Simão Pedro, ao ver tais fatos, Caiu aos pés de Jesus, De joelhos, a falar:

"Senhor, deves afastar-te, Pois sou homem pecador." 9De fato, ele se espantava, Tanto ele como os outros, Pela grande quantidade De peixes que apanhou.

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10Pois o mesmo sucedera Também a Tiago e João, Os filhos de Zebedeu, Que eram sócios de Simão. Mas a Simão Jesus disse: "Não temas, de hoje em diante"

"Ficarás a pescar homens." 11E depois de conduzirem Seus barcos para guardá-los Num lugar em terra firme, Decidiram deixar tudo E a Jesus então seguiram.

12E sucedeu que Jesus, Estando numa cidade, Coberto de lepra um homem Viu chegar e suplicar: "Ó Senhor, se tu quiseres, Eu sei que podes curar-me."

13Jesus, estendendo a mão, Tocou-o, dizendo: "Quero, Sê limpo." E de imediato Desapareceu a lepra. 14Depois Jesus ordenou-lhe Que a ninguém nada dissesse.

E disse: "Mas vai agora Ao sacerdote, e oferece Por tua cura o que foi Ordenado por Moisés, Para que de testemunho Sirva-lhes a tua oferta."

15Entretanto a sua fama Crescia entre as multidões, Que acorriam para ouvi-lo E curar as aflições. 16Mas ele se isolava Para fazer orações.

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17Aconteceu certo dia Que, enquanto Jesus falava, Mestres da lei e fariseus Achavam-se ali sentados, Vindos das povoações De todos aqueles lados,

Da Galileia, Judeia, Jerusalém e outros mais. E o poder divino estava Em Jesus para curar. 18Então, carregando um leito, Eis que alguns homens chegaram.

Sobre o leito que traziam Achava-se um paralítico E na casa muito cheia Tentavam introduzi-lo Para levá-lo a Jesus, Mas não conseguiam isso.

19Dali, subindo ao telhado, Tiraram algumas telhas E, diante de Jesus, Desceram com aquele leito. 20Vendo a fé que os animava, Jesus falou ao enfermo:

"Homem, são-te perdoados Desde já os teus pecados." 21Mas os fariseus e escribas Discutindo, perguntavam-se: "Quem é este que blasfema? Só Deus perdoa pecados!"

22Jesus, porém, conhecendo, O pensamento dos homens, Disse-lhes: "Que pensais vós Nesses vossos corações? 23O que é mais fácil dizer: - Eu concedo-te perdões -"

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"Ou - levanta-te e caminha -? 24Pois bem, para que saibais Que o Filho do homem tem Na terra o poder de fato Para perdoar pecados, Digo (disse ao acamado):

"Levanta-te, pega o leito E vai para tua casa." 25Levantando-se ante todos Saiu a glorificar Ao Senhor, 26e então os outros Ficaram estupefatos.

Glorificaram a Deus E disseram temerosos Sem esconder seu assombro: "O que aqui vimos nós Acontecer nesta casa Foram coisas prodigiosas."

27Depois disso saiu ele E viu na coletoria O publicano Levi. "Segue-me." Jesus lhe disse. 28Levi então deixou tudo, Levantou-se e o seguiu.

29Em seguida ofereceu-lhe Um grande banquete em casa E diversos publicanos Com eles lá se encontraram. 30Os fariseus e os escribas Passaram a murmurar.

E diziam aos discípulos De Jesus:"Por que comeis E bebeis com publicanos E outros de vida suspeita?" 31Jesus disse: "Cuida o médico Não dos sãos, mas dos enfermos."

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32Não vim por causa dos justos, Mas, bem diferentemente, Vim chamar os pecadores Para que enfim se arrependam Dos erros que praticaram, Aceitando a penitência."

33Eles disseram, porém: "Os discípulos de João Jejuam freqüentemente E entregam-se à oração, Como os fariseus; os teus Comem e bebem, no entanto."

34Jesus respondeu então: "Podeis, acaso, obrigar Ao jejum os companheiros Do noivo, enquanto este está Com eles? 35Pois sabei vós Que em breve um tempo virá"

"Em que tirarão o noivo De perto dos companheiros, E desse dia em diante Jejuarão todos eles." 36Uma outra comparação Jesus ainda lhes fez:

"Ninguém rasga roupa nova Para cortar um remendo E pôr numa roupa velha; Dessa forma o novo aumenta O desgaste dessa roupa; Um no outro não assenta."

37"E ninguém se arrisca a pôr Vinho novo em odres velhos, Pois o vinho rompe os odres, E, derramando-se, perde-se; 38Porém, põe-se o vinho novo No recipiente certo."

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"Vinho novo em odres novos, E assim ambas essas coisas Poderão ser conservadas; E quem bebe vinho novo Diz logo: - O velho é melhor! - Preferindo o velho, pois."

6. O SERMÃO DA MONTANHA Jesus é senhor do sábado (1); O homem da mão seca (6); A escolha dos doze (12); Sermão da montanha: as bem-aventuranças (20)

1Num certo dia de sábado Jesus ia pelos campos De trigo e os seus discípulos Iam após ele apanhando Espigas, e as comiam, Debulhando-as nas mãos.

2Alguns fariseus disseram: "Por que fazeis vós no sábado O que não é permitido?" 3Jesus respondeu-lhes: "Já Não lestes o que Davi (Ele e os que com ele estavam)

"Fez quando estavam com fome? 4Como na casa de Deus Entrando, apanhou os pães Da proposição, comeu-os, Ele e os outros, e sabendo Ser proibido fazê-lo,"

"Já que só os sacerdotes Podiam comê-los lá?" 5Depois de falar tais coisas, Jesus acrescentou mais, Dizendo: "O Filho do homem É senhor também do sábado."

6Noutro sábado, Jesus Na sinagoga ensinava. Veio um homem cuja mão Direita era ressecada. 7E escribas e fariseus A Jesus observavam.

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Queriam saber se ele Faria curas aos sábados Para assim terem motivo Com que depois acusá-lo. 8Mas ele sabendo disso, Disse só estas palavras:

"Põe-te de pé aí no meio." Logo o homem levantou-se. 9Então perguntou Jesus, Dirigindo-se aos outros: "É permitido nos sábados Realizar estas coisas?"

"Fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou tirá-la?" 10Disse ao homem: "Mostra a mão." Este mostrou-a curada. 11Como a Jesus condenar? É o que os outros murmuravam.

12Naqueles dias, Jesus Foi à montanha, e lá esteve Toda uma noite a rezar, Fazendo oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou Os discípulos e fez

A escolha de doze deles, E apóstolos os chamou: 14Simão, que chamou de Pedro; André, irmão deste, e dez outros: Tiago, João, Felipe, Bartolomeu, 15e entre os doze

Estavam também Mateus, Tomé, o outro Tiago, Que era filho de Alfeu; Simão, o "zelozo", e mais 16Judas, sendo este primeiro O que era irmão de Tiago,

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E Judas Iscariotes, Que veio a ser traidor. 17Desceu com eles e logo Num lugar plano parou. Lá estavam muitos discípulos E grande massa de povo.

Era gente da Judeia, De Jerusalém, de Tiro E Sídon, 18e tinham vindo Até ali para ouvi-lo E para buscar a cura Dos males que os afligiam.

Também ficavam curados Aqueles que eram vexados Por espíritos imundos. 19Todos tentavam tocá-lo, Pois dele vinha uma força Que a todos ali curava.

20Então ele, erguendo os olhos Para os discípulos, disse: "Bem-aventurados vós, Os pobres, pois eu vos digo Que é vosso o reino de Deus E dele vós sereis dignos."

21"Bem-aventurados vós, Os que tendes fome agora, Porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, Os que agora chorais Porque rireis, sem remorsos."

22"Bem-aventurados vós Quando outros vos odiarem E quando vos repelirem, Proscreverem, insultarem, Por causa do Filho do homem. 23Nesse dia, alegrai-vos."

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"E exultai, porque é grande No céu vossa recompensa. Assim os pais aos profetas Tratavam antigamente. 24Mas, ó ricos, ai de vós: Vosso consolo já tendes!"

25"Ai de vós que já estais fartos, Porque com fome estareis. Ai de vós que agora rides, Porque de dor gemereis. 26Ai de vós quando vierem Os homens a bendizer-vos,"

"Pois já aos falsos profetas Os seus pais faziam isso. 27Mas digo-vos aos que ouvis: Amai vossos inimigos, E àqueles que vos odeiam Fazei o bem, eu vos digo."

28"Aos que vos amaldiçoam Bendizei-os, e rezai Pelos que vos caluniam. 29Ao que ferir-vos a face A outra face também Deveis vós apresentar."

"Ao que vos levar o manto Sequer recuseis a túnica, 30E aos que vos pedirem algo Dai, sem reclamar de algum Bem que vos seja tirado, Sem querer rever nenhum."

31"O que quereis que vos façam Os outros, fazei-o a eles. 32Se amardes os que vos amam, Que méritos vós tereis Pois os pecadores todos Sabeis que fazem o mesmo."

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33"Se vós fizerdes o bem Só aos que vos fazem bem, Que mérito tereis vós? Os pecadores também Sempre agiram desse modo; É o que eles fizeram sempre."

34"Se emprestardes só àqueles De quem ireis receber, Que merecimentos tendes? Os pecadores o mesmo Fazem, para mais à frente O equivalente reverem."

35"Mas vós, ao contrário disso, Amai vossos inimigos, Fazei-lhes bem e emprestai Sem nada em troca exigir. Tereis grande recompensa E sereis filhos do Altíssimo,"

"O qual é bom, ele sim, Para os ingratos e os maus. 36Sede misericordiosos, Como o é o vosso Pai. 37Além disso, não julgueis E vós não sereis julgados."

"Não condeneis a ninguém E não sereis condenados; Perdoai, e igualmente Também sereis perdoados; 38E aos que estão necessitados, Dai-lhes, e dar-se-vos-á."

"Então, deitar-se-vos-á No seio boa medida, Bem cheia, bem transbordante, Recalcada e sacudida. Com a medida que usardes Medir-se-vos-á em seguida."

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39Disse-lhes Jesus ainda Esta pequena parábola: "Pode porventura um cego A outro cego guiar? Eles assim procedendo Não cairão no buraco?"

40"O discípulo não é Mais que seu mestre; porém, Se ele se aperfeiçoar Logo poderá também Ficar tal como seu mestre, Com igual conhecimento."

41"E tu, por que vês o argueiro No olho do teu irmão E a trave não vês no teu? 42E ao teu irmão por que então Dizes: - Eu te tire o cisco Do olho, - se do teu, não?"

"Hipócrita! Extrai primeiro A trave que há no teu olho, E então tu começarás A enxergar, para depois Tirar deste irmão o cisco Que vês no olho dele exposto."

43"Árvore boa não dá Mau fruto, e árvore má Tampouco produz bom fruto. 44Com efeito, cada árvore É conhecida por nós Pelo fruto que ela dá."

"Não sai figo do espinheiro, Nem uvas vêm das urtigas. 45O homem bom do bom tesouro Do coração o bem tira; O homem mau do mau tesouro Costuma o mal extrair."

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"Pois do que há no coração, É disso que fala a boca. 46Pergunto-vos: por que vós Chamais-me Senhor, Senhor, mas não procurais seguir As instruções que vos dou?"

47"Mas eu mostrarei a vós A quem deve assemelhar-se O que ouve as minhas palavras E põe-nas de pronto em prática. 48É semelhante ao que esteve A construir uma casa:"

"Escavou profundamente E assentou os alicerces Encravados sobre a rocha. Veio a enchente sobre ela, Mas não a abalou, porque Foi feita do modo certo."

49"Mas quem ouve e não pratica Assemelha-se ao que ergueu A casa sem alicerces À flor da terra, pois veio O vendaval, e sobre ela A ruína se abateu."

7. A PECADORA PERDOADA A fé do centurião (1); Ressuscitado o filho da viúva de Naim (11); Os enviados de João Batista (18); A pecadora perdoada (24)

1Foi para Cafarnaum, Depois desta fala ao povo. 2Ali estava doente, E estava já quase morto, Um servo muito querido De um centurião famoso.

3Ouvindo sobre Jesus, O centurião mandou-lhe Alguns anciãos judeus A solicitar socorro Para o servo adoentado. 4E eles até Jesus foram.

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Pediram-lhe com instância: "Ele merece o favor, 5Pois ama o nosso país E até nos edificou A sinagoga que temos." 6Jesus os acompanhou.

Mas, perto da casa estando, O centurião mandou Uns amigos a dizer-lhe: "Não te incomodes, Senhor, Pois não sou digno de que entres Sob o telhado em que estou,"

7"Por isso nem me achei digno De ir agora te encontrar, Mas, se uma palavra dizes, Meu servo estará curado. 8É que eu também, sob as ordens De uma outra autoridade,"

"Debaixo do meu comando Mantenho muitos soldados; Digo a um: - vem,- e ele vem; A outro: - vai, - e ele vai; E ao meu criado: - faz isto, - E ele prontamente faz."

9"Jesus, depois de ouvir isso, Muito admirou-se dele, E voltou-se à multidão, Dizendo: "Eu nunca encontrei Tanta fé em Israel, É o que vos posso dizer."

10Nesse ponto, os enviados Dali foram para casa, Onde ficaram sabendo, No momento da chegada, Que o servo deixado enfermo Estava agora curado.

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11À cidade de Naim Jesus dirigiu-se então, Seguido de seus discípulos E de grande multidão, 12Já à porta da cidade Um defunto iam levando

Para enterrar, e era ele De sua mãe filho único. Ela era viúva e ali Junto a ela um grande número De pessoas da cidade Seguia com o defunto.

13Assim que o Senhor a viu Encheu-se de compaixão E então disse-lhe: "Não chores." 14Depois, no esquife tocando, Fez parar os que o levavam. Disse ali ao moço então:

"Jovem, digo-te, levanta-te." 15O que tinha estado morto Sentou-se e pôs-se a falar E então Jesus entregou-o À mãe, 16e todos ali Encheram-se de temor

E glorificando a Deus, Diziam: "Há entre nós Um grande profeta, e Deus Visitou seu povo." Logo, 17Essa opinião corria A Judeia e arredores.

18Os discípulos de João Contaram-lhe essas coisas. João então chamou dois deles 19E a Jesus os enviou Para perguntarem isto Diretamente ao Senhor:

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"És tu mesmo o que há de vir, Ou temos de esperar outro?" 20Vindo, portanto, a Jesus, Disseram-lhe aqueles dois: "João Batista a ter contigo E te perguntar mandou-nos:"

"És tu mesmo o que há de vir, Ou temos de esperar outro?" 21Nesse momento, Jesus A muitos ali curou De males e enfermidades, A demônios expulsou

E deu vista a muitos cegos. 22E então, respondendo, disse-lhes: "Ide vós contar a João O que aqui vistes e ouvistes: Coxos voltam a andar, 'Cegos recobram a vista',"

"Os leprosos ficam limpos, 'Aos pobres é anunciada A boa-nova' do reino De Deus. 23Bem-aventurados Os que ocasião de queda Em mim não vêm encontrar."

24Depois de terem partido Os mensageiros de João, Jesus, a respeito dele, Disse ali à multidão: "Que fostes ver no deserto, Um caniço balançando?"

25"Senão, que fostes vós ver? Um homem de roupas finas? Mas os que vivem prazeres E que se vestem assim, Vós os podeis encontrar Lá nos palácios dos príncipes."

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26"Então, que fostes vós ver? Um profeta? Sim, eu digo-vos; Antes, bem mais que um profeta. 27É aquele de quem foi dito: 'Eis que envio meu mensageiro A preparar tua trilha'."

28"Porque digo-vos: dos homens Que nasceram das mulheres Um não há maior que João, Mas aquele que parece Menor no reino de Deus Maior do que ele é."

29E todos que o ouviram, Incluindo os publicanos, Fizeram justiça a Deus, Indo receber então O necessário batismo Oferecido por João.

30Mas tal não aconteceu Com os doutores da lei E os fariseus, que em não indo O batismo receber Frustraram de Deus os planos A respeito deles mesmos.

31"A quem comparar os homens Desta geração, então? A quem se assemelham eles? 32Ora, eles são semelhantes Aos meninos que se sentam Nas praças e vão gritando:"

"- Para vós tocamos flauta E vós, porém, não dançastes! Entoamos-vos endechas E vós, porém, não chorastes! - 33Sem viver de pão ou vinho Ora veio João, de fato,

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"E vós, no entanto, dizeis: - É possesso do demônio. - 34Mas veio o Filho do homem Que, como outros, bebe e come E vós dizeis:- Aqui está, Como tantos, mais um homem"

"Glutão, bebedor de vinho, Amigo dos pecadores E também dos publicanos. - 35A sabedoria foi, Porém, vista como justa Por seus seguidores todos."

36Tendo um fariseu pedido Para consigo ir comer, Jesus foi à casa deste E lá estando pôs-se à mesa. 37Uma mulher, pecadora Da cidade, soube dele.

E vendo que estava à mesa Em casa do fariseu, Trouxe um frasco de alabastro De bálsamo todo cheio; 38Colocou-se por detrás, Chorando muito aos pés dele,

E com lágrimas banhou-lhe Os pés, depois enxugou-os Com os seus próprios cabelos; Os pés de Jesus beijou, Depois tornou a beijá-los E em bálsamo perfumou-os.

39Vendo isso, o fariseu Que o havia convidado Comentou: "Se este homem Fosse profeta de fato, Sobre a mulher que o toca Veria de quem se trata."

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"Saberia, com certeza, Que ela é uma pecadora." 40Jesus, em resposta a isso, Então disse: "Simão, ouve, Tenho uma coisa a dizer-te." "Dize, Mestre", este incitou.

41"Havia certo credor Que tinha dois devedores: Um de quinhentos denários E de cinqüenta o outro. 42Não podendo eles pagar-lhe, O credor os perdoou."

"Qual desses dois devedores Achas que mais o amará?" 43Simão respondendo disse: "Aquele a quem perdoou mais." Então Jesus respondeu: "Bem retamente julgaste!"

44E, voltando-se à mulher, Continuou a falar: "Vês esta mulher aqui? Eu entrei em tua casa E não me deste, Simão, Água para os pés lavar;"

"Mas ela banhou-me os pés Com lágrimas e enxugou-mos Com os seus próprios cabelos. 45E o ósculo da paz não houve Da tua parte, mas ela, Sem parar, os pés beijou-me."

46"Não me ungiste a cabeça Com óleo, mas ela ungiu-me Os pés com caro perfume. 47É por isso que te digo: Perdoam-se os seus pecados Pelo amor que nela existe."

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"Ao que pouco se perdoa Esse vai bem pouco amar. 48Disse em seguida à mulher: Digo-te que os teus pecados São, aqui neste momento, Todos eles perdoados."

49E os convidados então Murmuravam, eles todos: "Quem é este que entre nós Até pecados perdoa?" 50E ele a ela: "Vai em paz; A tua fé te salvou."

8. PARÁBOLA DO SEMEADOR As piedosas mulheres (1); Parábola do semeador (4); A tempestade acalmada (22); O possesso geraseno (26); A hemorroíssa e ressurreição da filha de Jairo (40)

1Aconteceu em seguida Que de cidade em cidade Ia Jesus caminhando, A pregar e anunciar A boa-nova do reino De Deus, e com ele andavam

Os doze 2e algumas mulheres Que tinham sido curadas Dos espíritos malignos E de outras enfermidades; Maria, ou Madalena, Como era também chamada,

Da qual haviam saído Sete demônios teimosos; 3Joana, a mulher de Cusa, Procurador de Herodes, E outras mulheres, que a ele Serviam com suas posses.

4Como grande multidão Estivesse reunida, Desses de cada cidade Que para ele acorriam, Dirigindo-se a todos, Esta parábola disse:

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5"Saiu o semeador A espalhar sua semente; Ao semeá-la, uma parte Caiu ao longo das sendas, Foi calcada e então as aves Comeram-na avidamente;"

6"Uma outra parte caiu Sobre terreno rochoso E, por falta de umidade, Assim que nasceu secou. 7Outra parte da semente Entre os espinhos ficou,"

"E logo eles, crescendo Junto a ela, sufocaram-na. 8Outra parte enfim caiu Sobre a terra boa, e lá Crescendo produziu frutos De modo centuplicado."

Dizendo isto, exclamava: "Quem para ouvir tem ouvidos Ouça o que eu estou dizendo." 9Perguntaram-lhe os discípulos Qual era o significado Da parábola que disse.

10Ele então lhes respondeu: "É dado a vós conhecer De modo claro os mistérios Que há sobre o reino de Deus, Mas aos outros, por parábolas É como se há de dizê-lo;"

"Para que, no fim das contas, 'Mesmo vendo não enxerguem, E ouvindo não compreendam'. 11Este é o sentido dela: Tal como aquela semente A palavra de Deus é."

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12"Os que ao longo do caminho Estão são os que a ouviram, Mas o demônio a palavra Do coração vem e tira-lhes Para que, crendo, não venham A se salvar em seguida."

13"Os do terreno rochoso São aqueles que ao ouvirem Recebem bem a palavra, Mostrando grande alegria, Mas creem por pouco tempo, Pois não possuem raízes;"

"Na primeira provação Eles já voltam atrás. 14A que caiu nos espinhos São aqueles que a palavra Ouviram, mas que, mais tarde, Sufocam-se por cuidados,"

"Prendem-se pelas riquezas E outros deleites da vida, Não vindo a amadurecer. 15E a semente que caiu Em boa terra são todos Esses que a palavra ouviram"

"E num coração bondoso, Nobre e cheio de virtude, Conservam-na e então Agindo apenas às custas De sua perseverança Produzem o justo fruto."

16"Ninguém que acende uma lâmpada Cobre-a depois com um vaso Ou põe-na sob uma cama, Mas a põe no candelabro, Para que aqueles que entrem Vejam-na iluminar."

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17"Porque não há coisa oculta Que não se deva tornar Para todos manifesta, Nem coisa secreta há Que não deva conhecer-se Para enfim ser posta em claro."

18"Tomai cuidado, portanto, No modo como escutais, Pois àquele que tiver Ser-lhe-á dado e, ao contrário, O que não tem, mesmo aquilo Que julga ter, perderá."

19Vieram ter com Jesus Sua mãe e seus irmãos, Porém, não se aproximaram Por causa da multidão. 20Disseram-lhe: "Estão aí Teus irmãos e tua mãe,"

E estão querendo te ver." 21Ele então lhes respondeu: "Minha mãe e meus irmãos São, enfim, todos aqueles Que ao ouvir põem em prática Toda a palavra de Deus."

22Aconteceu que um dia, Tendo subido a uma barca Com seus discípulos, disse-lhes: "Passemos à outra margem Do lago." E então, de pronto, Eles fizeram-se ao largo.

23Mas Jesus adormeceu Enquanto eles navegavam. Abateu-se então o vento Num turbilhão sobre o lago, E já corriam perigo, Pois a água enchia a barca.

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24Despertaram-no, dizendo: "Ó Mestre, estamos perdidos!" Acordando, ele increpou O vento e as ondas, e nisso A tempestade acalmou-se, Vindo a bonança em seguida.

25Disse ele então aos discípulos: "Onde está a vossa fé?" Com temor e admirados Eles diziam: "Quem é Este a que o vento e as águas, Ao seu comando, obedecem?"

26Atracaram enfim do lado Oposto ao da Galileia, Na terra dos gerasenos. 27Quando saiu para a terra Veio-lhe ao encontro um homem Que estava há tempos possesso.

Era um homem da cidade Que tinha demônios vários, De há muito não se vestia, Nem mais habitava em casa, Mas morava só em túmulos. 28Vendo a Jesus, rogou pragas,

E caindo-lhe aos pés, Em voz muito alta disse: "Que é que eu tenho contigo, Ó Jesus, Filho do Altíssimo? Peço-te não me atormentes!" 29Jesus de fato inquiria

O espírito imundo e dava Ordens para que deixasse O corpo daquele homem, Do qual se apoderara. Prendiam-no com cadeias E grilhões, para o guardarem,

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Mas, quebrando essas cadeias, Ele era depois levado Pelo demônio ao deserto. 30Jesus pôs-se a indagar: "Qual é teu nome?" E ele disse: "Legião"; e isso era fato,

Pois eram muitos demônios Esses que tinham ali Entrado, 31e a Jesus pediam Que não lhes desse o abismo. 32Ora, numerosos porcos Pastando no monte havia.

Suplicaram-lhe os demônios Que lhes fosse permitido A entrada naqueles porcos. Ele acedeu e, em seguida, 33Os espíritos imundos Daquele homem saíram.

E assim que entraram nos porcos Estes, vindo morro abaixo, Em corrida impetuosa, Foram lançando-se ao lago, Onde, em muito pouco tempo, Pereceram afogados.

34Quando os guardas viram isto Fugiram, indo contá-lo À cidade e às aldeias. 35Foram muitos ao local Para ver o acontecido E lá chegando encontraram

Sentado aos pés de Jesus, Vestido e em pleno juízo, O homem de quem os vários Demônios tinham saído; E tiveram muito medo. 36Falaram com os que viram.

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E estes então lhes contaram Como se tinha livrado Dos demônios o possesso. 37Todo o povo do lugar Logo pediu a Jesus Que dali se retirasse,

Pois estavam assombrados. Ele subiu para o barco E tratou de regressar. 38Porém o homem do qual Ele expulsara os demônios Pediu para acompanhá-lo.

Mas Jesus o despediu, Dizendo: 39"Vai para casa E narra o que Deus te fez." E ele foi pela cidade Proclamando a todo o povo Como Jesus o ajudara.

40Ao seu regresso, Jesus Teve grande multidão A recebê-lo, pois todos Estavam-no esperando. 41O chefe da sinagoga Aproximou-se então.

Ele chamava-se Jairo, E aos pés de Jesus caindo Implorava-lhe que fosse À sua casa, 42pois tinha A morrer a filha única Com doze anos ainda.

Enquanto ia caminhando A multidão comprimia-o. 43Ora, vindo uma mulher, Que há doze anos sofria De uma hemorragia grave E que tinha desprendido

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Todos os seus bens com médicos, Sem conseguir se curar, 44Acercou-se de Jesus E tocou-lhe por detrás A beirada do seu manto, Tendo cura imediata.

Estancou-se-lhe o fluxo De sangue no mesmo instante. 45Disse Ele: "Quem me tocou?" Todos negavam, e então Pedro, com seus companheiros, Disse: "Mestre, é a multidão"

"Que te rodeia e comprime." 46Ora, replicou Jesus: "Alguém me tocou, pois vi Que de mim saiu virtude." 47Ali viu-se descoberta A mulher que teve a cura.

Ela então veio tremendo E aos pés de Jesus prostrou-se, Manifestando em seguida Diante de todo o povo Porque tocara Jesus E como logo curou-se.

48Disse Jesus á mulher: "Minha filha, vai em paz; A tua fé te salvou." 49Enquanto ainda falava, Ao chefe da sinagoga Veio um da casa contar:

"Morreu já a tua filha, Não importunes o Mestre." 50Mas Jesus disse: "Não temas; Basta que tu tenhas fé E a menina será salva." 51E foram à casa do chefe

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Da sinagoga, e lá estando Jesus não deixou entrar Mais ninguém com ele, além De Pedro, João e Tiago E o pai e a mãe da menina. 52Lá dentro todos choravam.

Jesus disse: "Não choreis; Não está morta, mas dorme." 53E todos zombavam dele Sabendo que estava morta. 54Mas Jesus pegou-lhe a mão E bradou em alta voz:

"Levanta-te, ó menina!" 55Voltou-lhe o espírito e ela Levantou-se. E ele pediu Que algo que comer lhe dessem. 56E ordenou aos pais surpresos Que a ninguém nada dissessem.

9. A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES A missão dos doze (1); A multiplicação dos pães (10) Primeiro anúncio da paixão (18); A transfiguração (28); Segundo anúncio da paixão (43); Samaritanos repelem Jesus (51); Condições para ser discípulo (57)

1Após convocar os doze Jesus deu autoridade E poder a todos eles Sobre os demônios, e para Curar doenças diversas. 2E enviou-os a pregar

O reino de Deus e ainda Levar a cura aos enfermos. 3Disse-lhes: "Para a viagem, Digo-vos, nada leveis; Nem bastão e nem alforje, Tampouco pão ou dinheiro;"

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"Nem tenhais vós duas túnicas. 4E em qualquer casa em que entrardes Lá ficai até a partida. 5E, em deixando uma cidade Em que alguém não vos receba, De imediato tratai"

"De sacudir a poeira Dos pés, em protesto claro Contra esse tipo de gente." 6Foram, pois, a anunciar De vila em vila a boa-nova E a operar curas várias.

7Herodes tetrarca ouviu Falar do que se passava E andava muito perplexo: Uns diziam ser o caso De João ter ressuscitado Dentre os mortos; 8e outros mais

Diziam que fora Elias Que agora tinha voltado; E outros, que um profeta antigo Havia ressuscitado. 9Mas disse Herodes: "A João Eu mandei decapitar,"

"Então quem poderá ser Esse de quem dizem tanto, De quem eu ouço falar Coisas que causam espanto?" E diante desses fatos Desejava vê-lo, então.

10Ao voltarem, os apóstolos A Jesus logo contaram Tudo quanto haviam feito. Ele retirou-se à parte, Levando-os a um lugar próximo Da cidade de Betsaida.

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11Mas a multidão, sabendo, Logo correu atrás dele. Ele os acolheu a todos, Falou do reino de Deus E ainda curou àqueles Que se encontravam enfermos.

12Ora, o dia declinava. E, aproximando-se os doze, A Jesus disseram: "Mestre, Convém despedir o povo Para que vá às aldeias E povoados em torno"

"Procurar alojamento E comprar o que comer, Pois estamos no deserto." 13Jesus então respondeu-lhes: "O que comer dai-lhes vós." Então retorquiram eles:

"Nós não possuímos mais Que cinco pães e dois peixes. A não ser que caminhemos Para ir comprar, nós mesmos, Na povoação mais próxima, Mantimentos para eles."

14Cerca de cinco mil homens Estavam ali, de fato. Disse Jesus aos discípulos: "Fazei-os já assentar-se Em cem grupos de cinqüenta." 15E a ordem executaram.

16Então, tomando nas mãos Os cinco pães e os dois peixes E erguendo os olhos aos céus, Pronunciou sobre eles As palavras de sua bênção E aos seus discípulos deu-os

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Para que os fossem servindo À multidão que esperava. 17E todos ali comeram Até ficar saciados, Levando ainda de sobra Doze cestos de pedaços.

18Um dia estando Jesus Rezando em particular, E estando ali os discípulos, Começou a perguntar-lhes: "Quem o povo diz que eu sou?" 19Os discípulos contaram:

"Uns dizem que João Batista, Outros, que Elias, e outros Que és um antigo profeta Que agora ressuscitou." 20Jesus perguntou então: "E vós, quem dizeis que eu sou?"

Respondendo, disse Pedro: "Tu és o Cristo de Deus." 21Jesus então proibiu-os De a outros isto dizerem. 22Continuou depois disso, Passando a dizer a eles:

"Sabei que o filho do homem Muito terá de sofrer, Rejeitado por escribas, Grão-sacerdotes e pelos Anciãos, e há de ser morto, Tornando ao dia terceiro."

23E pôs-se a dizer a todos: "Se alguém quiser me seguir A si mesmo renuncie, A cruz de todos os dias Tome-a e só então Poderá após mim vir."

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24"Porque quem quiser salvar A vida perdê-la-á, Mas quem vier a perder A vida por minha causa Não a estará perdendo, Estará, sim, a salvá-la."

25"Que proveito tem o homem Em ganhar o mundo inteiro, Se causa a própria ruína Ou se se perde a si mesmo? 26E se alguém se envergonhar De mim e disso que eu"

"Tenho pregado, pois saiba: Dele se envergonhará Também o Filho do homem No dia em que este voltar Na glória dos santos anjos De si e também do Pai."

27"Em verdade, eu digo a vós: Entre os presentes aqui Há uns que não morrerão Sem que antes presenciem E vejam na plenitude O reino de Deus por si."

28Oito dias transcorridos Depois daquelas palavras, Subiu para orar no monte Com Pedro, João e Tiago. 29E aconteceu algo estranho Enquanto ele ali rezava.

Seu rosto mudou de aspecto E suas vestes ficaram Brancas e resplandescentes. 30E dois homens lá estavam: Moisés e Elias, 31que vinham, Em sua glória, falar-lhe

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Do seu trânsito, que ia dar-se Em Jerusalém, em breve. 32Ora, Pedro e os companheiros Ao sono estavam entregues, Mas viram dos dois a glória, Pois logo foram despertos.

33E no momento em que os dois Já estavam para sair, Dirigindo-se a Jesus O apóstolo Pedro disse. "Mestre, para nós é bom Podermos estar aqui."

"Faremos então três tendas: Uma será para ti, Uma outra para Moisés E a terceira para Elias." O que estava dizendo Pedro porém não sabia.

34E enquanto ainda falava Uma nuvem os cobriu E então tomados de medo Ficaram os três discípulos. 35Foi quando veio da nuvem Uma voz que lhes dizia:

"Este é o meu filho amado, O meu eleito, ouvi-o." 36Jesus então ficou só, E, durante aqueles dias, Todos guardaram silêncio Sobre o que ali tinham visto.

37Quando, no dia seguinte, Eles desceram do monte, Uma grande multidão De Jesus veio ao encontro. 38E eis que do meio do povo Surgiu gritando um homem:

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"Mestre, peço-te que olhes Para o meu filho, que é único. 39Um espírito o domina. Faz gritar, soltar espumas, Sacode-o com convulsões E, enfim, como de costume,"

"Larga-o apenas depois De tê-lo dilacerado. 40Já pedi aos teus discípulos Para que o expulsassem, Mas eles não o conseguiram." 41Jesus tomou a palavra:

"Ó geração de descrentes, De gente dura e perversa! Até quando deverei Estar convosco e por esta Razão ter de suportar-vos? Traze o teu filho e tem fé."

42Quando este se aproximava, O demônio nele entrou, Lançou-o por terra ali mesmo E em convulsões o agitou, Mas Jesus, com ameaças, Ao demônio expulsou.

O menino então curou-se E foi devolvido ao pai. 43A multidão vendo aquilo Ficava pasma, assustada, Com a grandeza de Deus E a divina majestade.

E enquanto todos estavam Com seus feitos encantados, Disse Jesus aos discípulos: 44"Gravai bem estas palavras: Em breve o Filho do homem Entregue aos homens será."

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45Eles porém não podiam Entender essa palavra, Cujo sentido lhes era Dado de forma velada; E sobre isso tinham medo De a Jesus interrogar.

46Depois disso, um pensamento Entre eles suscitou-se: Qual dentre aqueles discípulos Seria o maior de todos? 47Jesus, conhecendo isso, Um menino a si tomou,

E, colocando-o nos braços, 48Começou a lhes dizer: "Todo o que a este menino Em meu nome receber, O que está, em verdade, É recebendo a mim mesmo."

"E aquele que a mim acolhe, Recebe a quem me enviou; Pois aquele que se julgue O menor entre vós todos, Esse é verdadeiramente grande, Esse é que é o maior, pois."

49João pôs-se então a falar: "Mestre, nós vimos alguém Que aos demônios expulsava Em teu nome e então quisemos Proibir-lho, pois não anda Conosco; não o conhecemos."

50Jesus respondendo a ele E a todos os outros disse Esta seguinte sentença: "Não lho deveis proibir, Pois quem não é contra vós É por vós, podeis crer nisso."

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51Como já estivesse próximo O tempo de sua ida Deste mundo, quis Jesus Para Jerusalém ir. 52Mandou antes mensageiros Irem adiante de si.

Estes, pondo-se a caminho, Chegaram a uma aldeia Samaritana e buscaram Hospedagem para ele, 53Porém os samaritanos Negaram-se a recebê-lo.

O motivo é que o destino Seria Jerusalém. 54Tiago e João propuseram: "Mestre, queres que invoquemos Que desça fogo do céu E destrua-os totalmente?"

55Jesus disse: "De que espírito Vós sois, isto não sabeis. 56Não tem o Filho do homem De tirar vidas alheias, Mas salvá-las." E, isto dito, Foram para outra aldeia.

57Enquanto eles caminhavam Um homem aproximou-se E disse: "Eu te seguirei Para onde quer que fores." 58Mas Jesus lhe respondeu: "Tem seus covis as raposas,"

"E as aves do céu têm ninhos, O Filho do homem, porém, Nem mesmo onde reclinar Sua cabeça ele tem." 59Disse ele a um outro: "Segue-me!" E este logo foi dizendo:

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"Senhor, permite-me antes Que eu vá sepultar meu pai." 60Mas Jesus lhe respondeu: "Deixa os mortos sepultarem Os seus mortos, e o reino De Deus vai anunciar."

61Disse outro: "eu te seguirei, Senhor, mas antes permite-me Que eu vá até minha casa Para dos meus despedir-me." 62Mas Jesus, como resposta, Afirmou-lhe em seguida:

"Aquele que no momento De pôr a mão no arado Tem dúvida e, além disso, Fica olhando para trás, Não está, de forma alguma, Para o reino de Deus apto."

IV) VIAGEM PARA JERUSALÉM

10. PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO Missão dos setenta e dois (1); Volta dos setenta e dois (17); Parábola do bom samaritano (25); Marta e Maria (38)

1Depois disso, o Senhor Escolheu novos discípulos, Ao todo setenta e dois, E logo mandou-os ir De dois em dois aos lugares Por onde Ele passaria.

2Dizia-lhes:"É bem grande A colheita, mas são poucos Os trabalhadores dela. Rogai a seu dono, pois, Que envie logo para a messe Os novos trabalhadores."

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3Ide! Eu vos envio como Cordeiros em meio aos lobos. 4Não deveis levar alforje, Sandálias, ou ainda bolsa. E não saudeis no caminho Quem se aviste convosco."

5"Em qualquer casa em que entrardes, Dizei: - Paz a esta casa! - 6E, se nesta casa houver Um discípulo da paz, Esta paz que vai convosco Sobre ele repousará."

"Senão, voltará a vós. 7Ficai nesta mesma casa A comer e a beber Do que vos servirem lá, Porque o trabalhador É digno do seu salário."

"Não andeis de casa em casa. 8Depois de vos acolherem Numa cidade em que entrardes, Comei o que oferecerem; 9Curai os enfermos dela E aos moradores dizei:"

"- Eis que está para chegar A vós o reino de Deus! - 10Mas, chegando a uma cidade Que recuse receber-vos, Ide, então, de imediato, Em meio às praças, dizer:"

11"- Até o pó que aqui Se pegou aos nossos pés Sacudimos sobre vós; Mas deveis saber que perto Já está o reino de Deus. - 12E eu vos digo sobre ela"

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"Que sorte mais tolerável Terá por aqueles dias Sodoma que essa cidade. 13Ó Corazim, ai de ti! Ai de ti, também, Betsaida! Os milagres aí havidos"

"Se lá em Sídon e Tiro Houvessem-se realizado, De há muito teriam feito Penitência estas cidades Sobre o cilício jazendo E sobre as cinzas prostradas."

14"Digo-vos que, no juízo, Tiro e Sídon terão um Destino melhor que o vosso. 15E tu, ó Cafarnaum, Imaginas porventura Que, entre as cidades do mundo,"

"'Serás elevada ao céu? Ao inferno descerás!' 16Quem vos ouve é a mim que ouve; Quem rejeita a vós está A mim rejeitando, e quem Rejeita a mim fá-lo ao Pai."

17Os setenta e dois voltaram Depois, cheios de alegria, Dizendo: "Até os demônios, Senhor, caem-nos submissos Em virtude de teu nome." 18Respondendo, Jesus disse:

"Eu aqui vi satanás Cair do céu como um raio. 19Eis que vos dei o poder De, andando, pisotear Serpentes e escorpiões, Bem como o de dominar"

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"Toda a força do inimigo E nada vos trará dano. 20Porém, não vos alegreis Por vosso poder de ação, Mas, sim, porque vossos nomes Escritos no céu estão."

21Naquela hora, Jesus De alegria exultou No Espírito Santo e disse: "Graças te dou, Pai, Senhor Do céu e da terra, pois Escondestes estas coisas"

"Aos sábios e aos prudentes, E as revelaste aos pequenos. Sim, porque do teu agrado Isto foi, Pai, hoje e sempre. 22Todas as coisas meu Pai Entregou-mas; e ninguém"

"Conhece quem é o Filho Senão o Pai, nem quem é O Pai a não ser o Filho E aquele a quem o quiser O Filho vir revelar." 23E aos discípulos, por perto,

Disse, em particular: "Ditosos olhos aqueles Que veem o que vós vedes, 24Pois, digo-vos, muitos reis E profetas desejaram O que vedes poder ver"

"E, contudo, jamais viram; Também quiseram ouvir O que vós ouvis, mas nunca Puderam ouvir, afirmo-vos." 25Então, para o pôr à prova, Um doutor da lei surgiu,

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Levantou-se e perguntou: "Mestre, que hei de fazer Para obter a vida eterna?" 26Jesus disse: "O que na lei Dizes tu que está escrito? Além disso, como lês?"

27Respondeu ele: "'Amarás O Senhor, teu Deus, com todo O coração, tua alma, E todas as tuas forças' E com toda a inteligência, E amarás também ao outro"

"'Próximo como a ti mesmo'." 28Jesus, nesse instante, disse: "Respondeste muito bem! Viverás, se fazes isto." 29Mas ele, justificando-se, Fez a pergunta incisiva:

"E quem é esse meu próximo?" 30Respondendo, Jesus disse: "Indo de Jerusalém Para Jericó, caiu Certo homem em poder De salteadores vis,"

"Que, depois de o despojarem E o cobrirem de feridas, Retiraram-se, deixando-o Ali já quase sem vida. 31Ora, por esse caminho Um sacerdote descia"

"E, ao vê-lo, passou de largo. 32Do mesmo modo, um levita, Vendo-o, passou adiante. Mas eis que em viagem ia 33Passando um samaritano, O qual parou quando o viu."

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"Encheu-se de compaixão 34E, aproximando-se dele, Logo pensou-lhe as feridas, Deitando vinho e azeite; Na própria cavalgadura, A um albergue o recolheu."

"Ali prestou-lhe assistência. 35No dia seguinte, cedo, Retirando dois denários, Deu ao estalajadeiro E disse: - Dê-lhe cuidados E ao voltar te pagarei"

"O que gastares a mais. - 36Para ti, qual dos três homens Parece próximo desse Que esteve em mãos dos ladrões?" 37Disse: "O misericordioso." E Jesus: "Sê tu tão bom."

38Seguindo Jesus viagem, Chegou a um povoado Onde uma mulher de nome Marta recebeu-o em casa. 39Tinha esta uma irmã Chamada Maria, a qual

Sentada aos pés do Senhor Ouvia a sua palavra. 40Marta, com muito serviço, Ao contrário, atarefava-se. Deteve-se então e disse: "Senhor, não te importarás"

"Que minha irmã me tenha Deixado só no trabalho? Manda que ela me ajude?" 41Jesus disse: "Marta, Marta, Tu te afliges e inquietas-te Com muitas coisas que fazes;"

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42"Entretanto, uma só coisa É, de fato, necessária. Maria, pois, escolheu Realmente a melhor parte, E esta, mesmo que se queira, Não mais lhe será tirada."

11. COMO SE DEVE ORAR Como se deve orar (1); O poder de expulsar demônios (14); A mãe de Jesus é louvada (27); O sinal de Jonas (29); A lâmpada do corpo (33)

1Um dia estava Jesus Rezando em certo lugar E, ao final, um dos discípulos Disse: "Ensina-nos a orar, Como João aos seus discípulos." 2Disse ele: "Dizei, no orar:"

"- Pai, santificado seja Teu nome; venha o teu reino; 3Nosso pão de cada dia Dá-nos em todas as vezes; 4Perdoa nossos pecados, Como fazemos àqueles"

"Que são nossos devedores; E não nos deixeis cair Em nenhuma tentação. -" 5Depois disso ainda disse: "Se algum de vós for à noite À procura de um amigo"

"E disser: - Amigo empresta-me Três pães, 6porque me chegou Um amigo de viagem E sem o que dar-lhe estou; - 7E ele responder, de dentro: - Vai importunar a outro;"

"A porta já está fechada, Meus filhos já estão deitados E eu levantar-me não vou Para poder te ajudar; - 8Eu vos digo: ainda que ele Não venha para ajudá-lo"

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"Em nome da amizade, Ao menos levantar-se-á E dar-lhe-á quanto precisa Por ter sido importunado. 9Por isso é que eu digo a vós: Pedi e dar-se-vos-á;"

"Procurai e achareis, Batei e abrir-se-vos-á; 10Na verdade, todo aquele Que pedir receberá; Quem procura sempre encontra; E abrir-se-á ao que bate."

11"E qual é o pai entre vós Que, se o filho pede um pão, Dá, no lugar, uma pedra? Ou dá uma serpente quando O filho lhe pede um peixe? 12Ou dá um escorpião"

"Quando o filho pede um ovo? 13Se, ainda que sendo maus, Sabeis dar aos vossos filhos Coisas boas, quanto mais O Pai, a quem lho pedir, O Espírito bom dará."

14Jesus estava a expulsar Um demônio que era mudo. E o mudo pôde falar Quando o demônio foi expulso, E o povo se admirava Presenciando isso tudo.

15Mas alguns deles disseram: "É em nome do Belzebu, O príncipe dos demônios, Que aos demônios ele expulsa." 16Outros, descrentes, pediam Sinais do céu a Jesus.

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17Mas Jesus, vendo essas coisas, Disse a eles: "Todo o reino Logo estará arruinado Se dividir-se em si mesmo, Caindo casa por casa. 18Ora, pois, se vós sabeis"

"Que satanás dividiu-se A si mesmo, como então Quereis que o seu reino esteja Livre de destruição? Dizeis que por Belzebu Os demônios fora eu lanço."

19"Ora, se expulso os demônios Em nome de Belzebu, Então em nome de quem Vossos filhos os expulsam? Assim, serão eles mesmos Vossos juízes mais justos."

20"Mas se eu expulso os demônios Só pelo dedo de Deus, O reino de Deus, portanto, Já se encontra em vosso meio. 21Quando um homem bem armado Guarda o seu palácio e os seus"

"Demais bens, em segurança Estará o que possui. 22Mas, se um mais forte o assalta E o vence, tira-lhe tudo, Toma-lhe todas as armas, E os despojos distribui."

23"Quem comigo não está, É porque é contra mim; E quem comigo não colhe, Desperdiça no caminho. 24Quando o espírito imundo Sai de um homem, sem destino"

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"Vaga por lugares áridos À procura de um repouso E, não o encontrando, diz: - Volto a habitar de novo A casa donde expulsaram-me; - 25Mas, voltando, vê que é outra"

"A situação da casa, Que está varrida e arrumada. 26Então vai e traz consigo Sete espíritos sem casa, Muito piores que ele, Para essa casa habitar."

"E a condição desse homem É pior do que a de antes." 27Enquanto ele assim falava, Do meio da multidão Ergueu-se de uma mulher A voz, e ela disse então:

"Bem-aventurado seja O ventre que a nós te trouxe E ditoso seja o seio Em que amamentado foste!" 28Disse ele: "Quem a palavra De Deus segue, esse é ditoso!"

29Aumentando a multidão, Disse ele: "Esta geração É uma geração perversa. Pede-me um sinal, mas não Mandarei sinal algum, Senão o de Jonas; 30porquanto"

"Ele serviu de sinal Aos ninivitas, assim Será o Filho do homem Um sinal do que está vindo Para esta geração. 31Ressurgirá a rainha"

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"Do Sul no dia do juízo Com os desta geração E então condená-los-á, Pois veio de um outro canto Da Terra para inteirar-se Do saber de Salomão,"

"E encontra-se aqui alguém Que é mais do que Salomão. 32E no dia do juízo Os ninivitas irão Ressuscitar, juntamente Com a vossa geração,"

"E a condenarão também; Pois eles às pregações De Jonas se converteram; Vós, porém, cuidai num ponto: Encontra-se aqui alguém Que é mais ainda que Jonas."

33"Ninguém acende uma lâmpada E a coloca num lugar Oculto ou sob o alqueire, Mas põe-na no candelabro, Para que aqueles que entram Possam ver a luz brilhar."

34"A lucerna do teu corpo É teu olho; se ele é puro Todo o teu corpo estará Envolto sempre na luz; Se é mau, teu corpo estará Nas trevas; 35portanto, cuida"

"Para que a luz que há em ti Não seja trevas jamais. 36Se luminoso é teu corpo, Sem trevas em qualquer parte, Qual lâmpada refulgente, Lúcido sempre será."

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37Enquanto ainda falava, Convidou-o um fariseu Para consigo almoçar. Ele entrou e pôs-se à mesa. 38Ora, ele não se lavou Primeiro, antes de comer,

E o fariseu estranhou. 39Mas disse-lhe o Senhor: "Agora vós fariseus Limpais o exterior Do copo e também do prato, Mas o vosso interior"

"Está cheio de rapina E de iniqüidade.40Loucos! Quem o exterior vos fez Não vos fez o interior? 41Antes dai tudo isso, e puras Vos serão todas as coisas."

42"Mas ai de vós, fariseus, Porque vós pagais o dízimo Da hortelã e da arruda, E das outras hortaliças, Mas fugis do amor de Deus E da divina justiça."

"Deveis fazer estas coisas, Mas sem esquecer aquelas. 43Ai de vós, ó fariseus, Que amais as primeiras sédias Nas sinagogas e ainda Quereis nas praças o afeto."

44"Ai de vós, pois eu vos digo, Sois todos vós como aqueles Sepulcros que estão ao largo, Mas que as pessoas não veem E sobre eles caminham Sem deles se aperceber."

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45Então um doutor da lei Tomou a palavra e disse: "Mestre, a nós também ofendes Quando estás a dizer isso." 46Disse ele: "Ai de vós também, Mestres da lei, que insistis"

"Em impor aos outros homens Fardos quase insuportáveis E vós nem com um dedo vosso Aceitais tocar a carga! 47Ai de vós que aos profetas Sepulcros edificais,"

"Quando foram vossos pais Que em outro tempo os mataram! 48Testemunhais desse modo As obras de vossos pais, Pois eles é que os mataram E os sepulcros levantais."

49"Por isso a sabedoria De Deus disse sobre o mundo: - Enviar-lhes-ei profetas E apóstolos; a alguns Matarão e aos demais Perseguirão; 50e um por um"

"Entre os desta geração Terá de enfim prestar conta Do sangue que derramaram Dos profetas até ontem, Desde o princípio do mundo, Desde que existem os homens,"

51"Vindo do sangue de Abel Ao sangue de Zacarias, Morto entre o altar e o templo. - Sim, em verdade eu vos digo Que à presente geração A conta será pedida."

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52"Ai de vós, mestres da lei, Que da ciência usurpastes A chave, sempre impedindo Os outros de nela entrar, Sem que vós mesmos tivestes Entrado nela jamais."

53Quando ele saiu dali, Escribas e fariseus Passaram a provocá-lo. 54Buscavam surpreendê-lo Em palavras, para usá-las Em acusação a ele.

12. JESUS VEIO TRAZER DISSENSÃO Temer a Deus e não aos homens (1); Parábola do homem rico (13); Confiança na providência (22); Parábola do servo fiel e do infiel (35); Jesus veio trazer dissensão (49)

1Mas a multidão, seguindo-o, Comprimia-se aos milhares. Ele então pôs-se a dizer: "Antes de tudo guardai-vos De viver na hipocrisia, Que é o fermento farisaico."

2"Não há nada de encoberto Que não venha a descobrir-se, Nem oculto que não venha A conhecer-se algum dia. 3Por isso o quanto tiverdes Às escuras proferido"

"Ouvir-se-á à luz depois, E o que, no quarto, tiverdes Ao ouvido sussurrado Vereis que num tempo breve A todos estará sendo Proclamado sobre os tetos."

4"E digo-vos, meus amigos: Não deveis temer aqueles Que matam o corpo e nada Conseguem depois fazer. 5Pois mostrar-vos-ei a quem Vós havereis de temer:"

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"Temei, sim, aquele a quem Depois de matar, compete O poder de enviar A alma para o inferno. Deste, sim, deveis ter medo, É o que vos digo em alerta."

6"Vede: cinco passarinhos São vendidos por dois asses, Entretanto nenhum deles Por Deus esquecido está. 7E até os vossos cabelos Da cabeça estão contados."

"Não temais; pois vós valeis Muito mais que passarinhos. 8Digo-vos ainda mais: Ao que confessar a mim Diante dos demais homens, Confessá-lo-á assim"

"Também o Filho do homem Perante os anjos de Deus. 9Mas quem me tiver negado Perante os homens, ai deste! Os anjos vão renegá-lo Quando chegar sua vez."

10"Quem contra o Filho do homem Falar será perdoado, Mas contra o Espírito Santo Aquele que blasfemar Saiba que de nenhum modo O perdão receberá."

11"E quando vos arrastarem Às sinagogas, perante Magistrados e demais Autoridades, então Não vos deveis preocupar Com o que falar, 12porquanto"

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"Virá o Espírito Santo, Que ali ensinar-vos-á, Da maneira mais correta E na hora apropriada, Como haveis de proceder E o que haveis de falar."

13Na multidão, alguém disse: "Mestre, dize a meu irmão Que me entregue logo a parte Que me cabe na herança." 14Jesus então respondeu-lhe: "Homem, a partir de quando"

"Alguém me constituiu Árbitro de vossas causas?" 15E à multidão ele disse: "Guardai-vos e acautelai-vos Da avareza, pois a vida Da pessoa não se faz"

"Na dependência dos bens, Mesmo que haja riquezas." 16E contou uma parábola Sobre esse assunto, ao dizer: "Os campos de um homem rico Renderam farta colheita;"

17"E ele pensava consigo: - Que haverei de fazer, Se não tenho onde guardar Tão abundante colheita? - 18Então pensou em seguida: - Demolirei meus celeiros,"

"Erguerei outros maiores E neles recolherei Todo o meu trigo e os meus bens, 19E a mim mesmo eu direi: Tens, minha alma, muitos bens Guardados, e estarão eles"

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"Seguros por longos anos; Descansa, pois; come, bebe E aproveita tua vida. - 20Mas Deus então disse: - Néscio! Esta noite tua alma Deste mundo se despede;"

"E as coisas que tu juntaste, A quem irão pertencer? - 21Isto é o que acontece Ao que acumula riquezas, Mas que nunca torna rica Sua relação com Deus."

22Disse depois aos discípulos: "Por isso é que eu vos declaro: Não vos preocupeis na vida Sobre com que alimentá-la, Nem, em relação ao corpo, Sobre que vestes usar;"

23"Pois mais do que o alimento Certamente a vida vale E muito mais vale o corpo Do que um simples vestuário. 24Olhai como são os corvos: Não semeiam, nem preparam"

"Colheitas, nem têm despensa, Nem celeiros, porém Deus Provê todo o seu sustento. E quanto mais não valeis Vós do que as aves do céu? Por mais que vos preocupeis,"

25"Quem de vós pode aumentar De um palmo o tempo de vida? 26Se vós não podeis fazer Nem o mínimo exigido, Por que vos inquietais Com o que esteja além disso?"

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27"Agora, olhai os lírios, Como não tecem, nem fiam; E eu vos digo, no entanto: Nem Salomão, que vivia Em pujante glória, pôde Como um deles se vestir."

28"Ora, se Deus assim veste A erva de hoje, que em breve Será lançada no forno, Mas ainda o Pai eterno Poderá fazer por vós, Ó homens de pouca fé."

29"Não andeis a procurar O que comer ou beber, Nem preocupeis vosso espírito, Nem mais vos atormenteis; 30Pois essas coisas preocupam Aos pagãos do mundo inteiro,"

"Porém o vosso Pai sabe Que delas necessitais. 31Buscai o reino de Deus, Logo em primeiro lugar, E essas coisas, em acréscimo, Passarão a ser-vos dadas."

32"Ó pequenino rebanho, Abandonai este medo, Pois foi do agrado do Pai Oferecer-vos o reino. 33Vendei o que possuís E dai de esmola, e fazei"

"Para vosso próprio uso Bolsas que não envelhecem, Um tesouro inesgotável Feito de coisas do céu, Onde não chega o ladrão E onde a traça não penetra."

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34"Onde está vosso tesouro, Lá está vosso coração. 35Cingi, pois, os vossos rins E acendei as vossas lâmpadas Para estardes preparados A todo e qualquer instante,"

36"Como esses homens que esperam O seu senhor ao voltar Das núpcias, para que logo Que ele bata a porta, abram-na. 37Felizes daqueles servos Cujo senhor, ao chegar,"

"Encontre-os vigilantes. Eu em verdade vos digo Que ele irá cingir-se e pô-los À mesa para os servir. 38E se vier na segunda Ou na terceira vigília,"

"E os encontrar acordados, Digo-vos: felizes deles! 39Sabei: se o dono da casa Tivesse como prever A que hora o ladrão vem, Vigiaria ele mesmo"

"E ao ladrão não deixaria Que lhe assaltasse a casa. 40Não descuideis vós, portanto, De estar sempre preparados, Pois, quando não esperardes, O Filho do homem virá."

41Disse-lhe Pedro: "Senhor, Tu dizes esta parábola Referindo-se a nós Ou a todos os demais?" 42Mas o Senhor respondeu: "Quem é o dispenseiro sábio"

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"E fiel que será posto Pelo seu senhor à frente De todos os servidores Para dar-lhes, a seu tempo, A sua ração de trigo? 43Feliz desse servo a quem"

"Seu senhor, quando chegar, Achar assim procedendo! 44Eu em verdade vos digo Que a gerenciar seus bens O seu senhor o porá Como reconhecimento."

45"No entanto, se aquele servo Disser, em seu coração: - Tarda em vir o meu senhor; - Com isso passando então A maltratar os criados E criadas, entregando-se"

"À comida e à bebida, Deixando-se embriagar, 46Chegará o seu senhor, Em momento inesperado E em hora desconhecida, E então castigá-lo-á,"

"Destinando-lhe um lugar No meio dos infiéis. 47O servo que do senhor Toda a vontade conhece, Mas que nada preparou Nem agiu conforme ela,"

"Este servo, eu vos garanto, Levará muitos açoites. 48Porém, o que não conhece, Ao errar, levará poucos. Será exigido mais Desse a quem mais se entregou."

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49"Eu vim lançar fogo à terra, E que mais desejo eu, Se já está ateado? 50Num banho imerso serei, E que ânsia sinto eu Até que isso aconteça!"

51"Julgais vós que vim à terra Estabelecer a paz? Não, eu trouxe a divisão. 52Pois, desde agora, uma casa Que tenha cinco pessoas Em desunião verá"

"Três pessoas contra duas, Duas contra três; 53e mais: Pai estará contra filho, Também 'filho contra pai', Mãe estará contra filha, 'Filha contra mãe' será;"

"Vereis sogra contra nora E enfim 'nora contra sogra'." 54Disse ainda às multidões: "Quando se apresenta a vós Uma nuvem levantando-se Do poente, dizeis logo:"

"- Vem aí chuva; - e ela vem. 55E quando sentis soprar O vento que vem do sul, Dizeis: - Calor haverá; - E vem o calor. 56Hipócritas! Vós sabeis interpretar"

"Sinais da terra e do céu; E como não discernis Nada do tempo presente? 57E por que não distinguis, Por vós mesmos, o que é justo, Se os sinais estão aí?"

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58Quando com teu adversário Tu fores ao magistrado, Cuida para que, na ida, Venhas dele te livrar, Para que não aconteça De ele ao juiz te levar,"

"E o juiz te entregar Daí nas mãos da polícia E ela te enfiar no cárcere. 59Não sairás, eu te digo, Enquanto tu não pagares Até o último ceitil."

13. LAMENTO SOBRE JERUSALÉM Penitência (1); Parábola da figueira estéril (6); Cura no sábado (10); Parábolas da mostarda e o fermento (18); A porta estreita (22); Lamento sobre Jerusalém (31)

1Nessa mesma ocasião, Chegaram alguns a dar-lhe Notícia de galileus Com cujo sangue Pilatos Misturou o dos sacrifícios. 2Jesus disse estas palavras:

"Julgais que esses galileus, Por sofrerem tal massacre, Mais que os outros desse povo Tenham vivido em pecado? 3Eu vos garanto que não; Mas, se não vos emendardes,"

"Perecereis igualmente. 4E os dezoito sobre os quais A torre de Siloé Desabou, vindo a matá-los, Entre os de Jerusalém Eram eles mais culpados?"

5"Eu vos garanto que não; Mas, se não há penitência, Se não quereis emendar-vos, Digo-vos que em breve tempo Todos vós, sem distinção, Perecereis igualmente."

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6Disse então esta parábola: "Tinha um homem plantada Uma figueira na vinha. Certo dia indo buscar Frutos não os encontrou, 7E disse: - Vamos cortá-la!"

"Para que está ocupando Inutilmente um lugar? - 8Mas o vinhateiro disse: - Deixa-a um pouco mais, Ao menos por mais um ano, Para que eu possa testá-la."

"Vou cavar em volta dela Para depois adubá-la. Veremos em que resulta. 9Se der frutos, bem está; Do contrário, com razão, Nós deveremos cortá-la."

10Num certo dia de sábado Jesus estava a ensinar Dentro de uma sinagoga. 11E uma mulher que lá estava Era possessa de espírito Que a deixava recurvada,

Estando há dezoito anos Sem poder endireitar-se. 12Jesus chamou-a e disse-lhe: "Mulher, estejas em paz; Agora tu estás livre Desta tua enfermidade."

13E impôs-lhe sobre a cabeça As mãos, e ela endireitou-se, E naquele mesmo instante, Agradecida, passou A glorificar a Deus. 14Mas isso desagradou

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Ao chefe da sinagoga, Que então tomou a palavra E, indignado por Jesus Curar em dia de sábado, Foi dizendo à multidão: "Seis dias há de trabalho;"

"Vinde, pois, num desses dias Para aqui serdes curados, Mas não venhais para isso Quando o dia for um sábado." 15Respondendo, o Senhor disse: "Hipócritas! Por acaso,"

"Cada um de vós não solta, Em todo dia de sábado, O seu boi ou o seu jumento Do cercado do estábulo Para eles irem beber? 16Como então não aceitais"

"Que presa por satanás Durante dezoito anos Em condições deprimentes, Esta filha de Abraão Não possa em dia de sábado Livrar-se dessa prisão?"

17E enquanto ele assim falava, Todos os seus adversários Ficavam enrubescidos, Mas o povo se alegrava Com as insignes ações Que Jesus realizava.

18Dizia ainda Jesus: "A que o reino de Deus Vem a se assemelhar E a que o compararei eu? 19É como um grão de mostarda Que na horta o homem semeia."

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"Cresce e torna-se uma árvore E as aves do céu lhe vêm Para alojar-se nos ramos." 20E continuou dizendo: "Como é o reino de Deus? 21É semelhante ao fermento"

"Que uma mulher toma e lança Em três porções de farinha, Misturando lentamente A massa e deixando-a assim, De modo que mais à frente Fique levedada enfim."

22Pelas cidades e aldeias Na ida a Jerusalém, Jesus seguia ensinando. 23Um dia indagou alguém: "São poucos os que se salvam?" Jesus respondeu, dizendo:

24"Esforçai-vos por entrar Através da porta estreita, Porque muitos tentarão Entrar, vo-lo digo eu, E não o conseguirão. Porque será nestes termos:"

25"Depois que o dono da casa Tiver entrado e fechado A porta, vós, lá de fora, Começareis a gritar, Batendo com insistência: - Por favor, ó senhor, abre-nos. -"

"Ele, em resposta, dirá: - Não sei de vós, donde sois. - 26Em seguida vós direis: - Nós estivemos, senhor, A comer e a beber juntos E tu, perante nós todos,"

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"Ensinaste em nossas praças. - 27Mas ele dirá assim: - Não, eu não sei donde sois. Logo, 'afastai-vos de mim, obreiros da iniqüidade!' - 28Ali haverá, porfim,"

"Lamento e ranger de dentes, Quando virdes Abraão, Jacó, Isaac e ainda outros Grandes profetas morando Todos no reino de Deus, E vós expulsos, então!"

29"Muitos virão do Oriente, Ocidente, Norte e Sul; No reino de Deus à mesa Sentar-se-ão com os justos. 30Entre últimos há primeiros, E entre os primeiros há últimos."

31Na mesma hora, vieram Uns fariseus, que avisaram: "Sai, vai-te embora daqui; Herodes quer te matar!" 32Jesus então respondeu-lhes: "Ide de volta até lá"

"E dizei a essa raposa Que expulso demônios e ando Fazendo curas diversas Hoje e também amanhã, E ao terceiro dia enfim Ao termo estarei chegando."

33"Hoje, amanhã e depois Eu devo seguir, porém, O meu caminho de ida; Pois, de fato, não convém Que um profeta encontre a morte Fora de Jerusalém."

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34"Ó grande Jerusalém, Que dás a morte aos profetas E apedrejas os que vêm Como enviados dos céus, Quantas vezes quis juntar Teus filhos, tal qual procede"

"A galinha ao recolher Os pintinhos sob as asas, E tu não o permitiste! 35'Para vós, a vossa casa Será deixada deserta', E eu vos digo ainda mais:"

"Vós não me vereis, até O dia em que digais, todos, No momento apropriado De acontecerem tais coisas: 'Bendito aquele que vem Sob o nome do Senhor'."

14. O ÚLTIMO LUGAR À MESA Cura de um hidrópico (1); O último lugar à mesa (17); Parábola do grande banquete (15); Para se seguir Jesus (25)

1E aconteceu que, num sábado, Tendo Jesus ido à casa De um dos grandes fariseus Para com ele almoçar, Este e outros fariseus Ficaram a observá-lo.

2Ali achava-se um homem Doente de hidropisia. 3Jesus, tomando a palavra, Dirigiu-se aos legistas E a todos os fariseus: "Dizei, senhores, se é lícito"

"Curar em dia de sábado." 4Mas os fariseus calaram-se. Jesus então segurou-o Pela mão e, neste ato, Curou-o, e mandou-o embora. 5E disse aos que ali ficaram:

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"Quem de entre vós, se um filho Ou um boi lhe cair num poço, Não o tiraria logo, Sábado, ou em que dia fosse?" 6E eles não achavam meios De responder a tais coisas.

7Notando como escolhiam Lugares privilegiados À mesa, ele aos convivas Disse a seguinte parábola: 8"Quando ao banquete de núpcias Vierem a convidar-te,"

"Não convém que tu escolhas Logo o primeiro lugar, Porque pode haver alguém Ali entre os convidados Mais importante que tu, 9E o que convidou dirá:"

"- Cede o lugar a este aqui. - E tu então passarias A ocupar, envergonhado, Outro lugar, menos digno. 10Ao contrário, quando fores Atender a um convite,"

"Toma o último lugar Para que, quando vier, O que te convidou, diga: - Amigo, vem para perto. - Então ficarás honrado Frente aos que ali estiverem."

11"Pois aquele que a si mesmo Faz tudo para exaltar Encontrará logo à frente A vez de ser humilhado, Mas aquele que se humilha Será em breve exaltado."

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12E disse ainda Jesus Ao que o tinha convidado: "Quando tu ofereceres Algum almoço ou jantar, Não chames irmãos, amigos Ou vizinhos abastados;"

"Para não acontecer De a uma outra refeição Virem eles convidar-te Como retribuição. 13Mas, quando em tua casa Deres um banquete, então"

"Convida os pobres, os cegos, Os coxos e os aleijados; 14Eles não pagam; porém, Serás bem-aventurado: Na ressurreição dos mortos Estarás recompensado."

15Ouvindo tais coisas, disse-lhe Um dos que estavam à mesa: "Feliz do que puder ter Do pão do reino de Deus." 16Jesus respondeu então: "Ia um homem certa vez"

"Oferecer um banquete, Tendo a muitos convidado. 17Chegando a hora da festa, Mandou que um servo chamasse Os convidados, dizendo: - Vinde, é tudo pronto já. -"

18"E imediatamente, todos Começaram a escusar-se. Disse o primeiro: - Comprei Um terreno e vou olhá-lo; Peço-te que me desculpes. - 19E disse um outro, do lado:"

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"Preciso experimentar As cinco juntas de bois Que comprei; tenho de ir-me E peço que me perdoes. - 20Disse outro: - Casei e vou-me; Escusa-me, por favor. -"

21"Sobre isso foi o servo Ao seu senhor informar. Irado pelo ocorrido, Disse-lhe o dono da casa: - Vai sem demora às praças E ruas desta cidade,"

"E para cá traz os pobres, Cegos, coxos e aleijados. - 22O servo disse depois: - Senhor, foi executado O que ordenaste e à mesa Restam ainda lugares. -"

23"Disse-lhe então seu senhor: - Sai por caminhos e trilhas E, para encher minha casa, Compele essa gente a vir. - 24Pois nenhum dos eximidos Vai ao meu banquete, digo-vos."

25Uma grande multidão A Jesus acompanhava. Ele então voltou-se e disse: 26"Se alguém vem me procurar, Sem com isso aborrecer A mãe, a mulher, o pai,"

"Filhos, irmãos e irmãs E até sua própria vida, Esse não conseguirá Transformar-se em meu discípulo. 27quem sua cruz não carrega Não me poderá seguir."

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28"Pois quem de vós, decidindo Uma torre edificar, Não vai calcular primeiro A despesa necessária Para saber se tem meios Para acabar o trabalho?"

29"Evitando que, depois De lançar os alicerces, Não podendo completá-la, venham todos e comecem A zombar dele, dizendo: 30- Este é aquele que quer"

"Construir, mas não consegue Terminar a sua torre. - 31Ou qual é ainda o rei Que indo fazer guerra a outro, Não se senta à secretária Para estudar suas forças"

"E ver se com dez mil homens Pode ir de encontro àquele Que lhe vem com vinte mil? 32Senão, envia ao outro rei, Ainda longe, embaixada Propondo a paz, nos seus termos."

33"Assim, pois, qualquer de vós Que não despreza seus bens, Não pode ser meu discípulo. 34O sal é bom, sim; porém, Se ele se tornar insosso, Que outro tempero se tem?"

35"Não servirá para a terra, Estrume, ou qualquer fim outro; E será lançado fora, Por não ter mais sua força. Aquele que têm ouvidos Para ouvir, que então ouça."

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15. PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO RECUPERADO Parábolas da ovelha perdida e da dracma perdida (1); Parábola do filho pródigo recuperado (11)

1Publicanos, pecadores E outros que estavam ali Aproximaram-se dele Com intenção de ouvi-lo. 2E ficaram murmurando Os fariseus e escribas:

"Este acolhe os pecadores E ainda come com eles." 3E nova comparação Nesta hora Jesus fez-lhes: 4"Quem entre vós, possuindo Um total de cem ovelhas,"

"Ao perder uma, não deixa As outras noventa e nove Esperando no deserto Enquanto o campo percorre Buscando a que se perdeu Até achá-la? 5e devolve-a"

"Ao rebanho, carregando-a Nos ombros, muito contente; 6E, indo para casa, chama Vizinhos e amigos, dizendo: - Congratulai-vos comigo, Tenho a ovelha novamente. -"

7"Sendo assim, digo-vos eu Que haverá mais alegria No céu por um pecador Que se tenha arrependido Do que por noventa e nove Que disso não necessitem."

8Ou então qual é a mulher Que, possuindo dez dracmas, Ao ver que perde uma delas, Não passa a varrer a casa, Depois de acender a lâmpada, Procurando, até achá-la?"

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9"E tendo-a encontrado diz Às amigas e às vizinhas: - congratulai-vos comigo, Pois uma dracma eu tinha Perdido, mas encontrei-a, E então convido-vos; vinde! -"

10"Assim é que há uma festa Entre os anjos de Deus, digo-vos, Toda vez que neste mundo Aconteça de existir Um caso de pecador Que se tenha arrependido."

11Disse ainda: "Certo homem Em casa tinha dois filhos, 12E o mais novo entre os dois Veio ao pai um dia e disse: - Pai, dá-me agora o que é meu. - E o pai os bens repartiu-lhes."

13"Passados não muitos dias, O caçula reuniu Todos os bens e emigrou Para um distante país, E lá foi gastando tudo Numa desregrada vida."

14"Depois de dissipar tudo, Houve naquele país Um tempo de grande fome E ele passou a sentir A falta do necessário. 15Foi e então pôs-se ao serviço"

"De um dos cidadãos da terra. Este o mandou para o campo A tomar conta dos porcos. 16Queria comer das landes Que os porcos comiam, para Matar sua fome então,"

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"Mas sequer isso lhe davam. 17Caindo em si, ele disse: - Lá na casa de meu pai São tantos os diaristas Que têm pão em abundância, E eu passando fome aqui!"

18"Voltarei para o meu pai E, l estando, direi isso: Pai, eu pequei contra o céu, Também pequei contra ti 19E agora já não sou digno De ser chamado teu filho;"

"Trata-me, portanto, pai, Como um dos teus empregados. - 20Levantou-se então e foi Para a casa de seu pai. O pai viu-o na chegada Quando ainda longe estava"

"E, cheio de compaixão, Correu a abraçar o filho Pelo pescoço e a beijá-lo. 21E então o filho lhe disse: - Pai, eu pequei contra o céu, Também pequei contra ti"

"E agora já não sou digno De ser chamado teu filho. - 22Mas o pai disse a seus servos: - Trazei já, para vesti-lo, A veste mais preciosa; Ponde-lhe ao dedo o anel digno"

"E aos pés ponde-lhe calçados; 23E o mais gordo dos novilhos Matai, para que o comamos; Festejemos, 24pois meu filho Caçula, que estava morto, Agora voltou à vida,"

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"Ele tinha-se perdido E agora foi encontrado. - E começaram a festa. 25O filho mais velho achava-se No campo e, quando voltou, Estando perto da casa,"

"Ouviu sinfonia e danças. 26Chamando a um dos criados, Pediu-lhe informações Sobre o que significava Tudo aquilo, 27e este lhe disse: - Teu irmão voltou a casa"

"E um novilho dos mais gordos Teu pai mandou que matássemos, Pois o filho, com saúde, Hoje foi recuperado. - 28Ele ficou indignado E recusou-se a entrar."

"O pai precisou sair Para então com ele instar, 29Porém, ele respondeu: _ Há anos que tudo faço, Sem ter jamais transgredido Qualquer um dos teus mandados,"

"E tu não me deste nunca Mesmo um pequeno cabrito Para que assim eu pudesse Banquetear com amigos! 30Mas ao filho que gastou Os teus bens com meretrizes,"

"Tu deste o novilho gordo Numa comemoração. - 31Mas o pai lhe respondeu: - Filho, estás sempre lidando Ao meu lado e o que é meu Sempre é também teu, portanto;"

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32"Porém, era necessário Que em banquete festejássemos, Porque este teu irmão Vivo está, mas morto estava; Antes estava perdido E agora foi encontrado! -"

16. PARÁBOLA DO FEITOR INFIEL Parábola do feitor infiel (1); Parábola do rico avaro e do pobre Lázaro (19)

1Disse também aos discípulos: "Certo homem muito rico Tinha um administrador, A quem se acusou um dia De malbaratar seus bens. 2Ele então chamou-o e disse:"

"- Que tenho ouvido de ti? Presta conta de teus atos, Porque como meu feitor Não mais poderás ficar. - 3E o feitor disse consigo: - Que farei para arranjar-me,"

"Já que o meu senhor me tira Das mãos a administração? Para lavrar eu não sirvo; Pedir esmolas, então, Causa-me grande vergonha. 4Ah, mas tenho uma opção,"

"Para que de algum negócio, Se da frente me afastarem, Sempre haja uma pessoa Que me receba em casa. - 5E chamou os devedores Do senhor que o dispensara."

"E disse ao primeiro deles: - Quanto ao meu senhor tu deves? - 6Este disse: - Cem barris De azeite; é este o meu débito. - E então disse-lhe o feitor: - Tomai a caução depressa"

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"E escreve nela cinqüenta. - 7Depois foi dizer a outro: - E tu, que dívida tens Para com o meu senhor? - Disse este: - Eu devo cem sacas De trigo. - E então o feitor"

"Disse-lhe: - Toma depressa A caução e escreve oitenta. - 8E o senhor depois louvou O vil feitor que, não tendo Mais o emprego de antes, Agiu muito sagazmente;"

"Pois os filhos deste mundo São sempre mais atilados Do que os filhos da luz, No trato com os seus iguais. 9É por isso que eu vos digo: Não deixeis de granjear"

"Amigos com a vil riqueza, Para que, quando faltar Tal riqueza, os amigos Possam receber-vos lá Nas sombras acolhedoras Das tendas da eternidade."

10"Quem é fiel nas miudezas, É fiel nas grandes coisas; Será injusto no muito Quem é injusto no pouco. 11No tocante à vil riqueza, Se muito fiéis não fostes,"

"Quem vos há de confiar A riqueza verdadeira? 12E se não fostes fiéis Perante as coisas alheias, Quem vos dará mais à frente O que pertence a vós mesmos?"

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13"Não pode um servo servir Igualmente a dois senhores, Pois odiará a um E se afeiçoará a outro; Ou se apegará a um, Desprezando o outro, pois."

14"Não podeis servir a Deus E ao mesmo tempo às riquezas." Os fariseus o ouviam E, apegados ao dinheiro, Ficavam com zombarias. 15Porém, Jesus disse a eles:

"Vós sois aqueles que passam Frente aos homens como justos, Mas os vossos corações Deus conhece-os e ao que buscam; O que aos homens é sublime, Para Deus é coisa impura."

16"Duraram lei e profetas Até o tempo de João; Desde aí é anunciado O reino de Deus então, E para entrar nesse reino Todos vêm se esforçando."

17"Mas é mais fácil que passem Céu e terra do que um traço Da lei vir a se perder. 18Adúltero é o que larga A mulher por outra, adúltero É o que aceita a repudiada."

19"Havia certo homem rico Que se vestia de púrpura E bisso e todos os dias Divertia-se com luxo. 20E um pobre chamado Lázaro, Todo coberto de pústulas"

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"E chagas, ficava ali, Jogado junto ao portão. 21Desejava saciar-se Com as migalhas de pão Que da mesa do homem rico Caíam, sujando o chão;"

"Mas os cães é que lhe vinham Para lhe lamber as chagas. 22Eis que o mendigo morreu E os anjos logo o levaram Ao seio de Abraão. Morreu e foi sepultado"

"Também o rico avarento. 23E estava no inferno quando, Imerso nos seus tormentos, Lá, os olhos levantando, Viu, de muito longe, Lázaro No seio de Abraão."

24"Aos gritos, disse ele então: - Pai Abraão, compadece-te De mim e envia Lázaro Para que ele me refresque A língua, molhando em água O dedo, porque no inferno"

"Sofro o tormento das chamas. - 25E respondeu-lhe Abraão: - Filho, em vida recebeste Os bens; mas Lázaro, não; Só os males. E por isso Ele é consolado, enquanto"

"Tu hoje és atormentado. 26Além disso, um grande abismo Existe entre nós e vós; De modo que os daqui Que querem ir para vós Ficam impedidos disso,"

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"Nem os que estão aí podem Vir para o lado de cá. - 27Retorquiu então o rico: - Eu rogo-te, pois, ó pai, Que à minha casa paterna Tu decidas enviá-lo,"

28"Para que aos meus cinco irmãos Previna, para que tenham Maneiras de evitar Que venham eles também Padecer isto que sofro Neste lugar de tormentos. -"

29"Mas Abraão respondeu: - Têm Moisés e os profetas; Eles que os ouçam então. - 30Mas disse-lhe o rico, em réplica: - Não, pai Abraão; porém Se um dos mortos tu fizeres"

"Ir ter com eles, então Eles se converterão. - 31Disse Abraão:- Se não ouvem Moisés e os profetas, tanto Menor crédito a um morto Ressuscitado darão. -"

17. A VINDA DO REINO DE DEUS Perdão das injúrias (1); Cura dos dez leprosos (11); A vinda do reino de Deus (20)

1Disse ainda aos seus discípulos: "Inevitável será Que não sucedam escândalos, Mas ai daquele que faz Com que acontecimentos Dessa ordem venham dar-se!"

2"Melhor seria para ele Que ao pescoço lhe amarrassem Uma pedra de moinho E fosse lançado ao mar Do que a um desses pequeninos Vir a escandalizar!"

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"Cuidai, portanto, de vós! 3Digo-te: se teu irmão Ofender-te, repreende-o; Mas dá-lhe o teu perdão, Se ele se arrepender. 4Se ele te ofender, portanto,"

"Por sete vezes ao dia E sete vezes ao dia Ele retornar, dizendo: - Eu estou arrependido, - Tu lhe deves perdoar." 5Os apóstolos ouviram

E disseram ao Senhor: "Aumenta-nos nossa fé." 6O Senhor lhes respondeu: "Digo-vos, se fé tivésseis Como um grão de mostarda, Então diríeis a esta"

"Amoreira: - Com raízes, Arranca-te e transplanta-te Para o mar - e ela a vós Obedeceria então. 7E quem de vós, tendo um servo Que esteja a cuidar no campo"

"De arar ou guardar o gado, Dir-lhe-á quando voltar: - Vem cá, e senta-te à mesa -? 8Antes não lhe ordenará: - Prepara-me a ceia, cinge-te, E serve-me, enquanto eu cá"

"Fico a comer e a beber; Depois disso, poderás Comer e beber também -? 9Cosiderar-se-á, acaso, O senhor na obrigação De dizer-lhe um obrigado,"

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"Só porque o servo cumpriu O que lhe foi ordenado? 10Assim, também vós, depois De fazer o que é mandado, Dizei: - Somos pobres servos; Já fizemos nossa parte. -"

11Sucedeu que, na viagem Dele a Jerusalém, Passava entre a Samaria E a Galileia, 12e, tendo De entrar num povoado, Eis que surgiram-lhe à frente

Dez homens, todos leprosos, Os quais, parando à distância, 13Ergueram a voz, dizendo: "Ó Jesus, tem compaixão De nós, vê o nosso estado!" 14Vendo-os, disse-lhes então:

"Ide até os sacerdotes." E aconteceu que na ida Viram que ficaram limpos. 15E um deles, notando isso, Louvou a Deus em voz alta, Enquanto voltava ali,

16E aos pés de Jesus lançou-se, Na terra a face roçando, E dando graças a ele; Este era um samaritano. 17Jesus, tomando a palavra, Dirigiu-se a ele então:

"Não foram limpos os dez? Onde estão os outros nove? 18Não se encontrou quem voltasse Para render a Deus glória, A não ser este estrangeiro?" 19E completou deste modo:

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"Homem, levanta-te e vai; A tua fé te salvou." 20E como lhe interrogassem Alguns dos fariseus sobre Quando ocorreria a vinda Do reino de Deus ao povo,

Disse-lhes ele, em resposta: "O reino de Deus não vem De uma maneira ostensiva, 21E não poderá ninguém Dizer: - Ei-lo aqui, ou ali, - O reino de Deus, porém,"

"Já está no meio de vós." 22Disse depois aos discípulos: "Tempo virá em que vós Desejareis ver um dia Desses do Filho do homem, Mas não o vereis aqui."

23"E se alguns vos disserem: - Ei-lo aqui,- ou: - ei-lo ali, - Não vades, não o sigais; 24Pois assim como a faísca Do relâmpago, de um lado Ao outro do céu rebrilha,"

"Assim o Filho do homem Surgir-vos-á no seu dia, 25Mas primeiro é necessário Que ele sofra seu suplício E por esta geração Seja rejeitado em vida."

26"Como ao tempo de Noé, Bem assim sucederá Também ao Filho do homem No dia em que este chegar: 27Eles comiam, bebiam, Tomavam noivas, casavam,"

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"Até o dia em que Noé Entrou na arca, e surgiu O dilúvio, que a todos, Sem demora, destruiu. 28E como os dias de Lot Também será esse dia:"

"Todos comiam, bebiam, Também vendiam, compravam, Plantavam e construíam; 29Mas Lot, assim que a cidade De Sodoma abandonou, Viu do céu precipitar-se"

"A chuva de enxofre e fogo, Que a todos exterminou. 30Do mesmo modo será Naquele dia em que a todos Vier o Filho do homem A revelar-se de chofre."

31"Quem nesse dia estiver No terraço, tendo em casa Seus bens, não deve descer Para de lá retirá-los, E quem estiver no campo Não deve voltar atrás."

32"Pensai na mulher de Lot. 33Quem tentar salvar sua vida, De fato, perdê-la-á, E quem a der por perdida, Este conservá-la-á. 34Naquela noite, eu vos digo:"

"Estarão duas pessoas Sobre uma cama deitadas; Será tomada uma delas E a outra será deixada. 35Duas mulheres na mó Havendo, tomar-se-á"

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"Uma das duas e a outra Lá mesmo será deixada." 36Indagando, eles disseram: "Senhor, onde isso será?" 37Disse ele: "Onde o corpo esteja, Estarão aí as águias."

18. JESUS E AS CRIANCINHAS Parábola do juiz e da viúva (1); Jesus e as criancinhas (15); O jovem rico (18); Terceiro anúncio da paixão (31); Cura do cego de Jericó (35)

1Disse-lhes uma parábola Sobre o dever de orarem Sempre, sem desfalecer: 2"Havia numa cidade Um juiz que não temia A Deus e não respeitava"

"A qualquer homem que fosse. 3E havia nessa cidade Determinada viúva Que sempre com ele estava, Pedindo: - Faz-me justiça Contra o meu adversário. -"

4Ele, por um longo tempo, Não aceitou atendê-la, Mas, depois, disse consigo: - Embora eu não tema a Deus Nem respeite homem algum, 5Far-lhe-ei justiça assim mesmo,"

"Para que esta viúva Deixe de me importunar. -" 6E concluiu o Senhor: "Prestai atenção na fala Daquele juiz iníquo. 7Sendo assim, Deus não fará"

"Justiça aos seus escolhidos, Que estão a clamar por ele Toda noite e todo dia? Tardará em socorrê-los? 8Digo-vos que, bem depressa, Justiça lhes será feita."

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"Porém, o Filho do homem, Em sua vinda, achará, Acaso, a fé sobre a terra?" 9E disse uma outra parábola Aos que amavam a si próprios, Mas aos outros desprezavam:

10"Foram dois homens ao Templo Para fazer oração, Sendo um deles fariseu E o outro um publicano. 11O fariseu lá consigo, De pé, firme, ia rezando:"

"- Ó Deus, em ti agradeço Porque, tu sabes, não sou Como esses outros homens, Rapaces, injustos ou Adúlteros, ou como este Publicano que aí entrou."

12"Jejuo, na forma devida, Duas vezes por semana E pago o correto dízimo Sobre todos os meus ganhos. - 13O publicano, porém, Conservava-se à distância,"

"E não ousava sequer Os olhos ao céu erguer; Contudo, ainda dizia, Batendo no próprio peito: - Peço-te, perdoa a mim, Que sou pecador, ó Deus! -"

14"Digo-vos: justificado Voltou este para casa, Bem ao contrário do outro; Pois quem se exalta será Humilhado, e o que se humilha, Este será exaltado."

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15Traziam-lhe as crianças Para ele acariciar E, vendo isso, os discípulos Com a multidão ralhavam, 16Mas Jesus a si tomou-as E foi dizendo, em voz alta:

"Venham-me a criancinhas! E não as embaraceis, Pois aos que se lhe assemelham Pertence o reino de Deus. 17Eu em verdade vos digo: O que, enfim, não acolher"

"Como uma criancinha Em si o reino de Deus Não terá de forma alguma Meios para entrar nele." 18Um dos chefes perguntou-lhe: "Bom Mestre, que hei de fazer?"

"Para ter a vida eterna, Devo eu proceder como?" 19Jesus então respondeu-lhe: "Por que tu me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. 20Dos mandamentos dás conta:"

"'Não cometer adultério, Não matar e não furtar, Não dar falso testemunho, Ao pai e à mãe honrar.'" 21O homem lhe respondeu: "Tudo isso tenho guardado"

"Desde a minha juventude." 22Isto ouvindo, Jesus disse: "Falta-te ainda uma coisa: Vende o quanto possuíres, Dá aos pobres e um tesouro Terás no céu. Vem seguir-me."

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23Ouvindo isso, entristeceu, Pois era ele muito rico. 24Vendo-o assim, Jesus disse: "Vede vós: quanto é difícil Que entre no reino de Deus Quem para a riqueza existe!"

25"É mais fácil um camelo Passar pelo orifício Do fundo de uma agulha Do que vir a entrar um rico No reino de Deus, eu digo-vos." 26Disseram os que o ouviram:

"Quem pode salvar-se então?" 27E Jesus lhes respondeu: "O que é impossível aos homens É possível para Deus." 28Depois daquele momento, Tomou a palavra Pedro:

"Deixamos tudo o que tínhamos E decidimos seguir-te." 29E então Jesus respondeu: "Eu em verdade vos digo: Não há quem tenha deixado A casa, a mulher, os filhos,"

"Os irmãos ou ainda os pais, Devido ao reino de Deus, 30Que muito mais do que isso Neste mundo não receba, E não venha no futuro A vida eterna obter."

31Eis que em seguida chamou Os doze e então lhes disse: "Vamos a Jerusalém, E será cumprido ali O que do Filho do homem Há muito encontra-se escrito"

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"Pelos antigos profetas. 32Será entregue aos gentios, Escarnecido, ultrajado E, sob açoites, cuspido; 33E, depois de flagelado, Terá tirada sua vida."

"Porém no terceiro dia Ele ressuscitará." 34Mas eles não conseguiam Compreender tais palavras; Elas eram um enigma; Eles não as decifravam.

35Sucedeu que quando estavam Já perto de Jericó, Sentado à beira da estrada Um cego pedia esmolas. 36Quis saber o que era aquilo Ao ouvir a turba em volta.

37Disseram-lhe:"É Jesus Nazareno que está vindo." 38Ele então pôs-se a gritar: "Tem piedade de mim, Jesus, filho de Davi!" 39Logo à frente do caminho,

Alguns vinham lhe dar ordens Para não gritar assim. Mas ele continuava E gritava mais ainda: "Jesus, filho de Davi, Tem piedade de mim!"

40Jesus, parando, ordenou Que esse homem lhe trouxessem, E, quando ele aproximou-se, Perguntou-lhe: 41"Que tu queres Que eu te faça?" 42E ele disse: "Senhor, faz com que eu enxergue."

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E Jesus disse-lhe: "Vê! A tua fé te salvou." 43Logo ele viu, e seguiu-o, Glorificando ao Senhor. E todo o povo, ao ver isso, Rendeu a Deus seus louvores.

V) EM JERUSALÉM

19. ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM O publicano Zaqueu (1); Parábola das dez minas (11); Entrada triunfal em Jerusalém (28)

1Tendo entrado em Jericó, Atravessava a cidade. 2Com o nome de Zaqueu Havia nesse lugar Um chefe dos gabeleiros, Que era um homem abastado.

3Através da multidão, Procurava ver Jesus; Porém, não o conseguia, Por ser de baixa estatura. 4Então subiu a um sicômoro, De onde podia ver tudo;

Como esperado, Jesus Passaria por ali. 5E este, chegando ao lugar, Olhou para cima e disse: "Zaqueu, desce; pois convém Que em tua casa hoje eu fique."

6Ele depressa desceu, Recebendo-o alegremente. 7Todos estranharam isso E murmuravam, dizendo: "Em casa de um pecador Hospedar-se ele pretende!"

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8Mas Zaqueu, apresentando-se, Disse, perante Jesus: "Eis, Senhor, que dou aos pobres Metade do que possuo E se defraudei alguém, Vou restituir-lhe tudo"

"No quádruplo do valor." 9Jesus disse: "A salvação Veio hoje a esta casa, Que é de um filho de Abraão. 10O Filho do homem salvou O que estava em perdição."

11Estando eles a ouvir, Contou-lhes uma parábola, Por estar Jerusalém Já perto, e eles julgarem Que em breve o reino de Deus Iria manifestar-se.

12Disse pois: "Um certo homem Filho de nobre linhagem Foi a um país distante A fim de se intitular Como rei, para em seguida À sua terra voltar."

13"Chamando dez dos seus servos, Deu-lhes dez minas e disse-lhes: - Negociai, entrementes, Até que eu retorne aqui. - 14Mas os seus concidadãos Odiavam-no e por isso"

"Enviaram deputados Atrás dele, a protestar: - Não queremos que ele reine! - 15Ora, tendo ele voltado Investido como rei, Mandou chamar os criados"

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"Com quem deixara o dinheiro, Para ver com cada um deles O quanto tinham lucrado. 16Apresentou-se o primeiro E disse: - Senhor, a mina Outras dez minas rendeu. -"

17"Ele respondeu então: - Bravo, meu bom servidor! Por teres sido fiel, Ainda que em coisa pouca, Agora, de dez cidades Tu serás governador. -"

18"O segundo veio e disse: - A tua mina, senhor, Cinco minas produziu. - 19E sua resposta foi: - Perante cinco cidades Tu serás governador. -"

20"Veio, enfim, o outro e disse: - Senhor, eis tua moeda, Que eu conservava num lenço. 21Temia a ti, que és severo: Colhes onde não plantaste, Tiras de onde não puseste! -"

22"Disse-lhe o seu senhor: - Pelos teus próprios dizeres Julgo-te, mau servidor. Sabias que imponho medo, Que tiro de onde não ponho E colho o que não plantei;"

23"Então, porque não puseste O meu dinheiro num banco? Ao menos, na minha volta, Teria os juros por ganho. - 24Disse depois aos presentes: - Tirai-lhe a mina das mãos"

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"E dai-a a quem tem dez. - 25Disseram-lhe então: - Senhor, Ele já possui dez minas! - 26Disse: - Eu digo-vos que a todo Aquele que já tiver Mais ser-lhe-á dado, pois;"

"E àquele que não tem nada Será tirado o que tem. 27E esses que não me queriam Como rei, tais oponentes Trazei-os e degolai-os Aqui na minha presença. -"

28Depois de ter dito isso Jesus seguiu adiante, Subindo a Jerusalém. 29De Betfagé e Betânia, No monte das Oliveiras, Achava-se perto, quando

Enviou dois dos discípulos À sua frente, 30dizendo: "Ide vós àquela aldeia Que está à nossa frente; Entrando nela achareis Preso um pequeno jumento,"

"Que ninguém ainda montou. Desatai-o e trazei-o. 31E se alguém vos perguntar Porque o soltais, dir-lhe-eis Em resposta apenas isso: - O Senhor precisa dele. -"

32Partiram os enviados E lá tudo eles acharam Como o Senhor tinha dito. 33No momento em que soltavam O jumentinho, disseram Os donos: "Por que o soltais?"

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34Eles então responderam: "O Senhor precisa dele." 35Trouxeram-no a Jesus. E lançaram sobre o pêlo Do jumentinho os seus mantos. Jesus montou, ali mesmo.

36E por onde ele passava, As pessoas estendiam Seus mantos pelo caminho. 37E já próximo à descida Do monte das Oliveiras, A multidão dos discípulos

Passou a louvar a Deus, Alegremente, por todos Os prodígios que já tinham Visto. 38Diziam em coro: "'Bendito aquele que vem, Rei, em nome do Senhor!'"

"Paz no céu e muita glória Nas alturas, lá em cima!" 39Disseram uns fariseus, Que em meio à multidão vinham: "Mestre, Mestre, repreende Teus discípulos! Ensina-os!"

40Mas respondeu-lhes Jesus: "Digo-vos: se se calarem, Então clamarão as pedras." 41E quando viu a cidade, Estando já perto dela, Chorou, dizendo em voz alta:

42"Oh! se neste dia tu Tivesses reconhecido Também o que te convém! Mas, ai, isso está escondido E não o alcançam teus olhos! 43Pois para ti virão dias"

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"Em que os teus inimigos Te cercarão de trincheiras, E te assediarão E te trarão o aperto, Que virá de todo lado. 44E vão então te abater"

"A ti e aos filhos teus Que dentro de ti estão E em ti pedra sobre pedra Digo que não deixarão, Porque não reconheceste A hora da visitação."

45E tendo entrado no Templo Começou a expulsar Os vendedores, 46dizendo: "Escrito está: 'Minha casa Será casa de oração! E vede em que a transformastes':"

"Em 'um covil de ladrões'!" 47E desde então ensinava Todos os dias no Templo. Ora, ali procuravam Grão-sacerdotes, escribas E chefes eliminá-lo;

48Porém não acharam meios Para realizar isso, Pois dos seus lábios suspenso Ficava o povo ali, Sempre que se aglomerava No Templo para o ouvir.

20. SOBRE A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS Questionada a autoridade de Jesus (1); Parábola dos vinhateiros maus (9); O tributo a César (20); Sobre a ressurreição dos mortos (27)

1Aconteceu nesses dias Que, estando ele a ensinar, Anunciando a boa-nova No Templo, aos que lá entravam, Vieram grão-sacerdotes, Que estavam acompanhados

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Por escribas e anciãos, 2E a Jesus se dirigiram, Dizendo: "Que autoridade Tens tu para fazer isso, Ou quem foi que concedeu Tal autoridade a ti?"

3Respondendo, Jesus disse-lhes: "Também perguntar-vos-ei: 4Vinha o batismo de João Do céu, dos homens, ou o quê?" 5Discorreram entre si, Dizendo: "Se respondermos"

"Que do céu, replicará: - Por que não lhe destes crédito? - 6Se dissermos:- É dos homens. - O povo lançará pedras Sobre nós, pois tem certeza De que João era profeta."

7Responderam que o batismo Donde vinha não sabiam. 8E Jesus lhes respondeu: "Eu a vós tampouco digo Que tipo de autoridade Tenho para fazer isto."

9Pôs-se depois a dizer Ao povo esta parábola: "Um homem plantou uma vinha, Tendo-a deixado arrendada A uns lavradores e esteve Por muito tempo afastado."

10"Eis que no devido tempo, Enviou-lhes um criado, Com ordem de lhe trazer Dos frutos da vinha a parte. Os vinhateiros, porém, Espancaram-no e mandaram-no"

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"Retornar de mãos vazias. 11Enviou outro criado, E eles, depois de o vexarem E lhe baterem, mandaram-no Também com as mãos vazias. 12Enfim, voltou a mandar"

"Um terceiro, e ainda este Feriram e despediram. 13Disse o dono: - Que farei? Enviarei o meu filho, O unigênito; pois este Terá o respeito devido. -"

14"Mas os lavradores, vendo-o Chegar, disseram consigo: - Este é o herdeiro; matemo-lo, Porque, dessa forma, fica Para nós toda a herança. - 15Fora, tiraram-lhe a vida."

"O que a esses fará O dono da vinha, pois? 16Virá para eliminá-los E entregar a vinha a outros!" Os ouvintes responderam: "Não permita Deus tal coisa!"

17Jesus, perscrutando-os, disse: "Que é isto que está escrito: 'A pedra que os construtores Rejeitaram, esta aí É a que enfim se tornou Pedra angular do edifício'?"

18"Todo aquele que cair Sobre essa pedra será Totalmente esfacelado, E aquele desavisado Sobre o qual ela cair, Este será esmagado."

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19Grão-sacerdotes e escribas Entenderam que a parábola Fora dirigida a eles; Tentavam as mãos lançar-lhe Ali mesmo, mas o povo Fez com que se amedrontassem.

20Passaram a espiá-lo. Mandaram-lhe subornados Fingindo-se zeladores Da justiça, para olhá-lo E apanhá-lo em um deslize Qualquer de suas palavras,

E entregá-lo, depois disso, Em poder da autoridade, Nas mãos do governador. 21Eles o interrogaram: "Mestre, nós julgamos reto O que ensinas, o que falas,"

"Tu não fazes acepção De pessoas, e ensinas, Sempre segundo a verdade, De Deus o justo caminho. 22É-nos lícito que a César Paguemos tributo, enfim?"

23Sentindo a astúcia, ele disse: 24"Mostrai-me uma moeda. Traz a imagem de quem?" "De César", eles disseram. 25Disse Jesus: "Dai, portanto, A César o que é de César,"

"E a Deus o que é de Deus." 26E assim esses subornados Não puderam surpreendê-lo, Frente ao povo, nas palavras. A resposta os assustou E eles ficaram calados.

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27Depois, alguns saduceus, Que sustentam não haver A ressurreição dos mortos, Aproximaram-se dele E, querendo interrogá-lo, 28Começaram a dizer-lhe:

"Moisés deixou-nos escrito Que se algum homem morrer Deixando mulher sem filhos, Seu irmão tem o dever De desposar a viúva E dar descendência a ele."

29"Ora, havia sete irmãos. O primeiro se casou, Tendo morrido sem filhos. 30Casou-se com sua esposa O segundo dos irmãos, Que veio a morrer depois."

31"Então casou-se o terceiro, E assim sucessivamente. Todos os sete morreram Sem que houvessem descendentes. 32Por fim, depois dos irmãos A esposa morreu também."

33"Depois da ressurreição, De quem será a mulher? Pois que antes, por esposa, Todos os sete a tiveram." 34Jesus então respondeu-lhes: "As pessoas deste século"

"Casam e se dão em núpcias, 35Mas esses que forem dignos Da ressurreição dos mortos E do outro mundo, eu vos digo Que não tomarão esposas, E elas não terão maridos,"

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36"Pois não poderão morrer; Serão, sim, iguais aos anjos E filhos de Deus e filhos Também da ressurreição. 37De que os mortos ressuscitam Moisés também deu lição"

"No episódio da sarça, Quando chamou ao Senhor 'Deus de Abraão, Deus de Isaac E Deus de Jacó' e, pois, 38Deus não é dos que estão mortos, É dos vivos, porque todos"

"Estão para ele vivos." 39Alguns escribas mostraram Sua aprovação, dizendo: "Mestre, muito bem falaste." 40Estes, dali em diante, Não mais o interrogaram.

41Mas perguntou-lhes Jesus: "Como dizem que o Messias É um filho de Davi? 42Pois é o mesmo Davi Que, lá no livro dos Salmos, Numa passagem afirma:

"'Disse Deus ao meu Senhor: - Senta-te à minha destra, 43Que eu ponho teus inimigos A teus pés como escabelo. -' 44Se Davi chama-o Senhor, Como será filho seu?"

45Ouvindo-o todo o povo, Disse Jesus aos discípulos: 46"Dos escribas esquivai-vos. Gostam de vestes compridas, De ser saudados nas praças, De estar nas primeiras filas"

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"Nos bancos das sinagogas E dos primeiros lugares Quando acorrem aos banquetes; 47Eles devoram as casas Das viúvas e, ostentando, Compridas orações fazem,"

"Como forma de disfarce. Asseguro-vos, deveras, Que, ao tempo do acerto, Entre os filhos deste século, Eles é que provarão Condenação mais severa."

21. SOBRE A SEGUNDA VINDA DE JESUS O óbolo da viúva (1); Sobre a ruína de Jerusalém (5); Sobre a segunda vinda de Jesus (25)

1Erguendo Jesus os olhos, Viu os ricos que, no Templo, Lançavam seus donativos No cofre das oferendas. 2Nisso, uma viúva pobre Pôs duas moedas dentro.

3Ao vê-la, disse Jesus: "Eu em verdade vos digo Que esta viúva lançou Mais do que todos aqui, 4Pois todos deram a Deus Sobras do que possuíam,"

"Ela, porém, retirou Da sua própria pobreza O quanto ela possuía Para conseguir viver, E desse pouco que tinha A sua oferta foi feita."

5Como dissessem alguns Que o Templo era guarnecido Com belas pedras e ofertas, Jesus, em respostas, disse: 6"De tudo o que estais vendo, Em breve virá o dia"

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"Em que pedra sobre pedra Não restará por aqui Sem que seja derrubada. 7Perguntaram-lhe, em seguida: "Mestre, dize-nos então: Quando acontecerá isto?"

"E qual será o sinal Para indicar o momento?" 8Ele respondendo, disse-lhes: "Não deixeis de estar atentos Para que não vos enganem; Porque, nos próximos tempos,"

"Muitos virão em meu nome, Dizendo: - Eu sou o Messias E já é chegada a hora. - Não o sigais! 9E se ouvirdes Falar de guerras e rusgas Não vos assusteis, pois isso"

"Acontecerá primeiro, Mas não será logo o fim." 10Disse mais: "Erguer-se-á Povo contra povo e, ainda, Reino contra reino, e então 11Acontecerão, enfim,"

"Grandes terremotos, fomes, Epidemias, eventos Pavorosos e sinais Celestes surpreendentes. 12Antes que tudo isso ocorra, Perseguir-vos-ão, porém;"

"E lançar-vos-ão as mãos, Entregando-vos, depois, Em sinagogas, prisões, Aos reis e governadores; Sim, por causa do meu nome. 13Mas vós tereis, em retorno,"

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"Ocasião para dardes De mim vosso testemunho. 14Ponde em vosso coração, Pois, que não devereis nunca Premeditar em defesa De vós argumento algum,"

15"Porque eu vos darei língua E sabedoria tais A que adversários vossos Não poderão constrastar, Tampouco contradizer. 16Trair-vos-ão vossos pais,"

"Irmãos, parentes e amigos, E levarão a morrer, Portanto, muitos de vós. 17Odiados vós sereis Por defenderem meu nome, 18Porém, sequer um cabelo"

"Da cabeça perdereis. 19Por vossa perseverança Salvareis as vossas almas. 20E quando virdes então Jerusalém sitiada, Sabei que a devastação"

"Encontra-se às suas portas. 21Quem estiver na Judeia, Então fuja para os montes; Quem na cidade estiver, Retire-se; os que dos campos Vierem, não entrem nela;"

22"Porque serão de vingança E de castigo esses dias, A fim de se cumprir tudo Aquilo que foi escrito. 23Ai das que estiverem grávidas Ou a amamentar seus filhos!"

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"Pois haverá nesses dias Enormes calamidades Sobre o país, e o castigo Sobre o povo descerá. 24Uns sob a espada cairão, Outros irão como escravos"

"Para todas as nações, E Jerusalém será Pisada pelos gentios, Até vir a completar-se Todo o tempo que essas gentes Têm para fazer sua parte."

25"Haverá sinais no sol, Na lua e nas estrelas; E em terra, a angústia dos povos, Apavorados por ver A confusão do bramido Do mar, nas vagas costeiras;"

26"De pavor, morrerão homens Na expectativa dos males Que acontecerão no mundo, Porque serão abalados 'Até os poderes celestes'. 27Nesse dia ver-se-á"

"'O Filho do homem vindo Numa nuvem', com poder E com grande majestade. 28Ora, quando suceder De tais coisas começarem, Os vossos olhos erguei;"

"Levantai vossas cabeças, Porque está muito próxima A vossa libertação." 29E acrescentou nesta hora Esta pequena parábola Aos que ouviam sua voz:

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"Vede a figueira e outras árvores: 30Quando passam a brotar, Vós percebeis que o verão Está perto de chegar. 31Assim também, quando virdes Tais coisas terem lugar,"

"Ficai sabendo que próximo O reino de Deus está. 32Eu em verdade vos digo: De fato, não passará A presente geração Sem ver tudo realizar-se."

33"Passarão o céu e a terra, Porém, as minhas palavras Não haverão de passar. 34Tende, pois, muito cuidado Para que, enfim, não se tornem Vossos corações pesados"

"Pelos excessos à mesa, Também pela embriaguez Ou pelos zelos da vida. Que não seja uma surpresa Para vós aquele dia, 35Como o será para esses"

"Que habitam a terra inteira. Cair-lhes-á como um laço. 36Velai, pois, em todo o tempo, Sempre orando, para estardes Em condições de fugir De todos aqueles males"

"Que estão para acontecer, De modo a estardes bem firmes Perante o Filho do homem." 37Assim, enquanto era dia, Jesus estava a ensinar No Templo, e à noite ia

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Para o monte conhecido Por monte das Oliveiras. 38E o povo, todos os dias, Ia ao Templo muito cedo Para ouvir toda a palavra Dos ensinamentos dele.

22. A ÚLTIMA CEIA Conspiração do sinédrio (1); A última ceia (7); Agonia de Jesus no Getsêmani (39); A prisão de Jesus (47); Pedro nega Jesus três vezes (54)

1Aproximava-se a festa Dos ázimos, que era a Páscoa; 2Grão-sacerdotes e escribas Tentavam eliminar Jesus, porém tinham medo Que o povo se revoltasse.

3Entrou então Satanás Em Judas, o Iscariotes, Que acompanhava Jesus Como um dos doze apóstolos. 4Foi tratar com oficiais E com os grão-sacerdotes

Do modo como haveria De entregar-lho em suas mãos. 5Muito alegres, prometeram-lhe Dinheiro pela ação. 6Para entregar-lhe às ocultas Buscava uma ocasião.

7Chegou o dia dos ázimos, Em que um cordeiro imolava-se. 8Jesus disse a Pedro e João: "Ide e a ceia da Páscoa Preparai para nós todos." 9Eles então perguntaram-lhe:

"Onde queres que a façamos?" 10Ele disse: "Assim que entrardes Na cidade, vereis um Levando uma bilha de água; A este homem segui Até que ele entre em casa."

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11"Dizei ao dono da casa: - O mestre manda dizer-te: Onde está o aposento Em que haverei de comer A Páscoa com meus discípulos? - 12Mostrar-vos-á então ele"

"Uma sala mobiliada. Lá, fazei o necessário." 13Seguindo adiante, pois, Eles a tudo encontraram Conforme Jesus dissera-lhes, E prepararam a Páscoa.

14Chegada a hora da ceia, Jesus sentou-se à mesa. E com ele os doze apóstolos. 15Passou então a dizer-lhes: "Desejei ardentemente Esta páscoa comer"

"Em companhia de vós Antes do meu padecer, 16Pois nesta hora eu vos digo Que não mais a comerei Até que ela se cumpra No pleno reino de Deus."

17E, tendo tomado o cálice, Rendeu graças e então disse: "Tomai isso e entre vós Reparti-o, 18pois eu digo-vos: Até de Deus vir o reino Não mais beberei da vide."

19Tomou o pão, rendeu graças, Partiu-o e deu-o aos apóstolos, Dizendo:"Isto é o meu corpo, O qual é dado por vós. Tomai e comei. Fazei Isto em minha memória."

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20Terminada a ceia, fez Ele o mesmo com o cálice, Dizendo: "Este cálice é A Aliança renovada No meu sangue, que por vós Logo será derramado."

21"Entretanto, está comigo À mesa a mão de quem há De trair-me, 22pois, segundo O que já está decretado, Vai-se o Filho do homem; Mas ai desse pelo qual"

"O mesmo será entregue!" 23Nesta hora começaram A perguntar entre si Sobre, de entre os doze, qual Viria a fazer tal coisa. 24Uma discussão a mais

Iniciou-se entre eles. Queriam determinar Quem dos doze deveria O maior considerar-se. 25Disse-lhes Jesus, porém: "Os reis das nações as fazem"

"Sentir todo o seu poder, E os que têm autoridade Sobre eles, de benfeitores Logo vêm a ser chamados. 26Quanto a vós, não é assim; Mas o maior, este faça-se"

"Como se fosse o menor; E o que governa, este aja Apenas como quem serve. 27Pois, quem é o maior, de fato: Aquele que está à mesa Ou o que serve o que lá está?"

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"Não é o que está à mesa? No meio de vós, porém, Eu estou como quem serve; 28Vós sois aqueles que tendes Permanecido comigo Nas provações que eu enfrento."

29"Eu preparo para vós Um reino, assim como o Pai Preparou-o para mim, 30A fim de que vós comais E bebais à minha mesa, No meu reino e em minha casa,"

"E assentar-vos-ei em tronos, De onde vós ireis julgar De Israel as doze tribos. 31Simão, ó Simão, cuidado! Eis que satanás buscou Como ao trigo joeirar-vos;"

32"Porém, eu roguei por ti Para que não desfaleça Tua fé; e, convertido, Conforta, pois, desta vez, A todos os teus irmãos." 33Então respondeu-lhe Pedro:

"Senhor, estou preparado Para te seguir ao cárcere, E, se preciso, à morte." 34E Jesus: "Não cantará Hoje o galo, sem que tu, Ó Pedro, venhas negar,"

"Por três vezes, conhecer-me." Em seguida disse a todos: 35"Quando enviei-vos sem alforje, Sem sandálias e sem bolsa, Porventura, no caminho, Faltou-vos alguma coisa?"

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36Eles disseram-lhe: "Nada." Disse Jesus: "Mas agora, Quem tem uma bolsa, tome-a, E assim também o alforje; E espada, quem não tiver Venda o manto e compre-a fora;"

37"Porque digo-vos que deve Cumprir-se em mim desde hoje Aquilo que está escrito: 'Foi posto entre os malfeitores'. Aquilo que está escrito Sobre mim chega ao fim, pois."

38Disseram eles: "Senhor, Eis aqui duas espadas." Então Jesus disse: "Basta!" 39Tendo saído de lá, Ao monte das Oliveiras Dirigiu-se, como estava

Acostumado a fazer. Foram com ele os discípulos. 40Ali chegando, voltou-se Aos discípulos e disse: "Orai, para que possais Às tentações resistir."

41Então afastou-se deles Cerca de um tiro de pedra E, ajoelhando-se, orava: 42"Ó meu Pai, se tu quiseres, De mim afasta este cálice; Porém, não seja o que eu peço,"

"Mas, sim, a tua vontade." 43E então para confortá-lo Desceu um anjo do céu. Em agonia, ele orava Ainda mais intensamente, 44E o suor que derramava

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Eram gotas de seu sangue, Que caíam pelo chão. 45Levantou-se depois disso E, encerrando a oração, Veio ter com seus discípulos, Que encontrou já dormitando,

Devido à grande tristeza Que eles sentiam ali. 46Jesus, pois, aproximando-se, Disse-lhes: "Por que dormis? Levantai-vos e orai, Para à tentação fugir."

47E estando ainda a falar, Surgiu em tropel de gente, Que trazia um dos doze, Chamado Judas, à frente. E este, para o beijar, Aproximou-se habilmente.

48Jesus disse-lhe então: "Judas, com um beijo vens Trair o Filho do homem?" 49Os discípulos, sabendo Do que ia acontecer, Disseram: "Senhor, convém"

"Que os ataquemos à espada?" 50E um deles logo feriu Do grão-sacerdorte o servo, Na orelha direita. 51Nisso, Jesus tomou a palavra: "Basta! Deixai-os agir!"

Tocando a orelha do servo, Curou-o no mesmo instante. 52E disse aos grão-sacerdotes, Oficiais e anciãos: "Viestes com paus e espadas Como a buscar um ladrão!"

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52"Estando em todos os dias No templo, e vós ali perto, Não me pusestes as mãos. Mas a vossa hora é esta; É o desencadeamento De todo o império das trevas."

54Prendendo-o, então levaram-no E introduziram-no em casa Do chefe grão-sacerdote; Pedro seguia-o, afastado. 55Tendo eles acendido Uma fogueira no pátio

E sentando-se ao redor, Sentou-se ali também Pedro. 56Uma criada o viu Sentado ao lume, e então veio Fitando-o bem e dizendo: "Este estava lá com ele!"

57Mas Pedro o negou, dizendo: "Mulher, eu não o conheço." 58Veio depois outro e disse: "Ah, tu também és um deles!" Pedro disse: "Homem, não sou!" 59Passada uma hora, outro veio

Dizendo insistentemente: "Este também, com certeza, É um que com ele estava, Pois até é galileu!" 60Pedro respondeu: "Ó homem, O que dizes eu não sei!"

Ali, imediatamente, Quando ele ainda falava, Eis que o galo cantou. 61Então, tendo-se voltado, Olhou o Senhor para Pedro, Que se lembrou da palavra

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Predita: "Não cantará Hoje o galo, sem que, Pedro, Tu mesmo venhas negar, Por três vezes, conhecer-me." 62Pedro, saindo então fora, Chorou, com grande tristeza.

63Os que guardavam Jesus Zombavam dele e feriam-no; 64Vendavam-no e perguntavam, Depois de o confundir: "Adivinha quem bateu?" 65E mais desfeitas faziam-lhe.

66E depois que se fez dia, O conselho reuniu-se, Juntando anciãos do povo, Grão-sacerdotes e escribas, E, levando-o ao Sinédrio, Disseram: "Se és o Messias,"

"Declara-o perante nós." 67Mas Jesus lhes respondeu: "Se eu vo-lo disser, em mim Vós não acreditareis, 68E, se eu vos interrogar, Vós não me respondereis."

69"Mas, desde que passe isto, 'O Filho do homem' estará Então 'sentado à direita Do poder de Deus', no alto." 70Disseram-lhe:"Então tu és O Filho de Deus, de fato?"

Jesus respondeu a eles: "Vós o dizeis, tal eu sou." 71E disseram: "Testemunhos? Necessitamos de outros? Pois nós mesmos o ouvimos E de sua própria boca."

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23. A CRUCIFICAÇÃO Jesus perante Pilatos e Herodes (1); A caminho do Calvário (26); A crucificação (33); O bom ladrão (39); O sepultamento de Jesus (50)

1Levantando-se a assembleia, Levaram-no a Pilatos. 2Fizeram-lhe acusações, Dizendo: "Este homem estava A sublevar o país, A opor-se a que se pague"

"O devido imposto a César E a dizer-se o Cristo Rei." 3Pilatos interrogou-o: "Tu és o rei dos judeus?" Disse Jesus: "Tu o dizes." 4Pilatos pôs-se a dizer

Aos chefes dos sacerdotes E às turbas: "Nenhuma culpa Eu encontro neste homem." 5Mas insistiam as turbas: "Está sublevando o povo, Criando grandes tumultos,"

"Pregando em toda a Judeia, Da Galileia até aqui." 6Ouvindo isso, Pilatos Dos presentes inquiriu Se era Jesus galileu. 7E, ao saber que pertencia

À jurisdição de Herodes, Mandou-o rapidamente A este, que nestes dias Estava em Jerusalém. 8Herodes, ao ver Jesus, Alegrou-se imensamente,

Pois havia muito tempo Que andava querendo vê-lo, Por causa dos comentários Que ouvia a seu respeito, E esperava ver Jesus Algum milagre fazer.

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9Das muitas perguntas feitas, Jesus nada respondeu. 10Porém, os grão-sacerdotes E os escribas, frente a ele, Acusavam-no sem tréguas. 11E Herodes, depois de o ter,

Com a sua soldadesca, Tratado com vil desprezo, Pôs-lhe uma veste branca E a Pilatos devolveu-o. 12Os dois, Pilatos e Herodes, De inimigos noutras vezes,

Tornaram-se agora amigos. 13Pilatos então chamou Todos os grão-sacerdotes, Os magistrados e o povo 14E disse-lhes o seguinte: "Como um sublevador"

"Trouxestes-me este homem, Mas eis que o interroguei Diante de vós e, nele, nenhuma culpa encontrei Dessas que vós lhe imputais. 15Mesmo Herodes, devolveu-mo."

"Ele não merece a morte, Pelo que foi apurado. 16Assim, vou dar-lhe um castigo E depois vou libertá-lo." 17Ora, um preso, pela festa, Ele devia soltar.

18Gritaram todos em massa: "Faze com que morra este E solta-nos Barrabás!" 19Tinha este sido preso Depois de uma insurreição Que na cidade ocorrera

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E também por homicídio. 20E mais uma vez, Pilatos Dirigiu-se à multidão Tentando Jesus livrar, 21Porém esta o rebateu E começou a gritar:

"Crucifica-o! Crucifica-o!" 22Disse, na terceira vez: "Que mal ele fez, enfim? Nele crime não achei Que valha a morte. Um castigo Dar-lhe-ei e o soltarei."

23Mas bradavam, insistindo Que fosse crucificado, E a violência dos gritos Cada vez mais aumentava. 24Ordenou, enfim, Pilatos Que fossem executados

Os pedidos que faziam. 25Soltou o que estava preso Por sedição e homicídio, Conforme o pedido feito. Quanto a Jesus, entregou-o Nas mãos do arbítrio deles.

26Quando o iam conduzindo, Pararam um cidadão, Um tal Simão de Cirene, Que estava vindo do campo, E fizeram com que a cruz Fosse ele carregando,

Acompanhando Jesus. 27Uma grande multidão De homens e de mulheres Ia atrás dele andando. Essas mulheres, batendo No peito, iam lamentando.

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28Jesus, porém, disse a elas: "Não choreis por minha causa, Filhas de Jerusalém; Antes, digo-vos, chorai Por vós e por vossos filhos; 29Pois, eis que dia virá"

"Em que haverão de dizer: - Ditosas são as estéreis E ditosos são os ventres Que rebentos não tiveram E também aqueles peitos Que aleitamento não deram. -"

30"Os homens, indo 'às montanhas, Dirão: - Caí sobre nós. - E às colinas pedirão: - Vinde cobrir-nos agora! -' 31Porque se no lenho verde Fazem isso, o que não podem"

"Fazer com o lenho seco?" 32Com Jesus eram levados Dois, que eram malfeitores E, igualmente condenados, Iam para o lugar onde Seriam executados.

33E, chegando ao local Denominado Calvário, Crucificaram-no ali Com os dois ladrões ao lado, Um à direita, outro à esquerda. 34Jesus então disse: "Pai,"

"Perdoa-lhes, porque eles Não têm noção do que fazem." 'E, entre eles, dividindo Suas vestes, sortearam-nas'. 35E o povo que estava ali Mantinha-se a observar.

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Mas os altos dirigentes Ficavam dele a zombar: "Salvou aos outros; a si Ele deverá salvar-se; Isto, se ele é mesmo o Cristo, Se de Deus é o enviado."

36Mas os soldados também Passaram a insultá-lo E disseram-lhe, enquanto Davam a ele vinagre: 37"Se és tu rei dos judeus, A ti procuras salvar-te."

38Estava também sobre ele, Escrita em hebraico, grego E latim, a inscrição "Este é o rei dos judeus." 39Um dos dois ladrões suspensos Blasfemava contra ele:

"Não és então o Messias? Salva a nós e a ti mesmo!" 40Porém, o outro tomou A palavra e respondeu: "Estás no mesmo suplício; Nem assim temes a Deus?"

41"Quanto a nós, aqui estamos Pela razão da justiça; Recebemos o que nossas Torpes ações mereciam; Mas este aí nada fez Para, enfim, merecer isto."

42E depois acrescentou: "Jesus, lembra-te de mim Quando entrares no teu reino." 43Jesus respondeu-lhe assim: "Comigo no paraíso Hoje tu estarás ainda."

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44Era quase a hora sexta E toda a terra cobriu-se De trevas até a hora nona, Ficando o sol em eclipse; 45O véu do Templo rasgou-se E ao meio então dividiu-se.

46Jesus, em voz alta, disse: "Pai, nas tuas mãos tu tens O meu espírito." E ali Expirou, nesse momento. 47Vendo isto, o centurião Dava glória a Deus, dizendo:

"Este homem, na verdade, Foi sempre um homem justíssimo." 48E a multidão que àquele Espetáculo assistira Vinha com as mãos no peito, Por ter visto o sucedido.

49Lá estavam à distância Também os seus conhecidos, Bem como aquelas mulheres Que o tinham sempre seguido Desde a sua Galileia, E viam lá o ocorrido.

50Chegou um homem chamado José, de Arimateia, Cidade localizada Na região da Judeia, Que era um justo e virtuoso Conselheiro do Sinédrio.

51Ele não tinha aderido Àquele procedimento E à deliberação Dos restantes dirigentes, E era um homem que esperava O reino de Deus também.

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52Indo falar com Pilatos, De Jesus pediu o corpo; 53E então trouxe-o para baixo, Tendo-o num lençol envolto, E levou-o a um sepulcro Feito na rocha, um novo

54Túmulo, onde ninguém antes Tinha sido sepultado. Era o dia de Parásceve E ia começar o sábado. 55Ora, aquelas mulheres, Que o tinham acompanhado

Dos tempos da Galileia, Seguiram José e o viram Pôr o corpo no sepulcro. 56Voltaram lá e o ungiram Com bálsamos; e, no sábado, Repousando, a lei seguiram.

24. JESUS RESSUSCITADO Jesus ressuscitado (1); Aparição aos discípulos de Emaús (13); Aparição em Jerusalém (36); A ascensão (50)

1Porém, no primeiro dia Da semana, muito cedo Elas foram ao sepulcro, Levando mais uma vez Os perfumes que haviam Preparado com esmero.

2Encontraram revolvida A pedra sobre o sepulcro 3E, entrando, não encontraram Lá o corpo de Jesus. 4Estando ainda perplexas Diante daquilo tudo,

Eis que surgiram dois homens Em vestes resplandescentes 5E, como elas, acanhadas, Olhassem o chão, temendo-os, Eles então lhes disseram: "Por que estais a buscar entre"

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"Os mortos quem está vivo?" 6Ele aqui não mais está, Porque já ressuscitou. Lembrai-vos de sua fala Ainda na Galileia, Quando disse estas palavras:

7"- Terá o Filho do homem De entregar-se aos pecadores, Ser então crucificado E ressuscitar depois, Logo no terceiro dia. - Lembrai-vos vós dessas coisas."

8Elas então se lembraram De que ouviram tais palavras. 9E, voltando do sepulcro, Tudo isto anunciaram Aos onze e a todos os outros Com os quais se encontraram.

10Eram Maria Madalena, Joana e a mãe de Tiago, Que também era Maria, E outras, que então contavam Estas coisas aos apóstolos. 11A eles estas palavras

Pareciam desvario. Nelas não acreditaram. 12Pedro, porém, levantou-se E correu a visitar O sepulcro, e debruçando-se Viu os lençóis e mais nada.

Em seguida, retirou-se, Voltando maravilhado Com o que, na sepultura, Tinha a ele sido dado Constatar do sucedido, De tudo o que se passava.

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13Eis que, nesse mesmo dia, Dois discípulos andavam Em direção a uma aldeia Chamada Emaús, que estava De Jerusalém distante Cerca de sessenta estádios.

14Discutiam entre si Sobre os acontecimentos. 15Ora, enquanto eles iam Discutindo e discorrendo, Jesus acercou-se deles E com eles ia em frente.

16Mas foi como se seus olhos Tivessem sido vedados, Porque não reconheciam Quem caminhava a seu lado. 17Jesus então perguntou-lhes: "O que são estas palavras"

"Que vais entre vós trocando E por que razão parecem Vossos semblantes tão tristes?" 18Um deles, chamado Cléofas, Respondendo a ele, disse: "Por um acaso, tu és"

"O único dos forasteiros Que em Jerusalém não sabe Das coisas que aconteceram Durante estes dias lá?" 19Disse-lhe ele: "Que coisas?" E eles então relataram:

"Sobre Jesus Nazareno, Um profeta poderoso Nas obras e nas palavras, Perante Deus e o povo; 20E de que maneira os chefes, Grão-sacerdotes e outros,"

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"Condenaram-no à morte E depois, crucificaram-no. 21E bem que nós esperávamos Que fosse ele a libertar Israel; mas hoje é O terceiro dia já"

"Desde que os fatos se deram. 22Entretanto, é bem verdade Também que algumas mulheres, Das que entre nós estavam, Surpreenderam-nos hoje; Pois, indo de madrugada"

"Ao sepulcro, 23não acharam O corpo, e ainda contaram-nos Ter visto uma aparição De dois anjos, que afirmaram Estar ele vivo. 24E foram Uns dos nossos até lá"

"A olhar o túmulo, e vieram Só e exatamente aquilo Que por aquelas mulheres Tinha-nos sido descrito; No entanto, a ele mesmo, Estes também não o viram."

25Então disse-lhes Jesus: "Ó estultos, como é lento Vosso coração em crer Nos muitos ensinamentos Deixados pelos profetas! 26Não sabíeis desde sempre"

"Que ao Cristo era necessário Sofrer primeiro essas coisas, Para assim entrar na glória?" 27Partiu de Moisés, depois, E tratando um por um Falou dos profetas todos,

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Explicando-lhes em todas As Escrituras aquilo Que lhe dizia respeito. 28Aproximaram-se, nisso, À povoação à qual Aqueles dois dirigiam-se;

E então Jesus fez menção De prosseguir o caminho. 29Mas disseram: "Vem conosco, Pois o dia já declina." Decidiu ficar com eles E entrou na aldeia, seguindo-os.

30À hora de pôr-se à mesa, Tomou o pão e, benzendo-o, Partiu-o e entregou-lho. 31Seus olhos, nesse momento, Abriram-se e perceberam Com quem vinham, finalmente.

Mas ele, rapidamente, Desapareceu dali. 32Disseram um para o outro: "Não é verdade que ardia Nosso coração no peito Enquanto ele nos dizia"

"Aquelas coisas na estrada, E estava a nos explicar Os pontos das Escrituras?" 33Em seguida, levantaram-se, Rumando logo de volta A Jerusalém, e acharam

Lá reunidos os onze, Com os demais companheiros, 34Que diziam entre si: "Realmente aconteceu. O Senhor ressuscitou E a Simão apareceu."

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35Eles narraram então O que ocorrera com eles No caminho que tomaram E como lhes sucedera De, vendo-o partir o pão, Eles o reconhecerem.

36Enquanto ali conversavam, Apareceu ele próprio No meio de todos eles E disse-lhes: "Paz a vós." 37Atônitos e espantados, Julgaram naquela hora

Que estavam vendo um espírito. 38No entanto, Jesus lhes disse: "Por que estais perturbados E por que enfim duvidam Vossos corações de mim? 39Vede as minhas mãos aqui,"

"Vede meus pés; sou eu mesmo; Apalpai e observai, Pois vós sabeis que um espírito Não tem ossos nem tem carne, Como vós vedes que eu tenho!" 40E começou a mostrar-lhes

As suas mãos e os seus pés. 41Mas estando ainda eles Fora de si e descrentes Pela enorme surpresa, E pela alegria, disse-lhes: "Tendes algo que comer?"

42Trouxeram-lhe peixe assado. 43Ele, tomando-o, comeu Ali à vista de todos. 44Em seguida, disse a eles: "Eram estas as palavras Que eu costumava dizer-vos"

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"Quando ainda estava entre vós, Que teria de cumprir-se Tudo o que de mim estava Na Lei de Moisés escrito, E nos profetas e Salmos." 45E o entendimento abriu-lhes,

46E disse: "Encontra-se escrito Que o Cristo padeceria E que, no dia terceiro, Dos mortos ressurgiria; 47E penitência e perdão Dos pecados haver-se-ia"

"De pregar às nações todas, Começando tudo isso Daqui de Jerusalém. 48Vós sois testemunhas vivas. 49Depois eu enviarei Sobre vós o Prometido"

"Por meu pai; vós, no entanto, Permanecei na cidade, Esperando, até o dia Em que sejais afinal Investidos nas virtudes Que vos hão de vir do alto."

50Ele, em seguida, levou-os Até perto de Betânia E abençoou-os a todos, Sobre eles impondo as mãos. 51Enquanto os abençoava, Foi-se deles separando,

E então elevou-se ao céu. 52Eles, tendo-o adorado, Cheios de imensa alegria A Jerusalém voltaram; 53E, dando louvor a Deus, No Templo eles sempre estavam.

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Ignorância sobre as escrituras é ignorância sobre Cristo. Jerônimo (340-420 D.C.).

O estudo da Bíblia resguardará qualquer um de ser vulgar no estilo. Coleridge.

A Bíblia tem sido a Carta Magna do pobre e do oprimido. Thomas H. Huxley.

O Evangelho para mim é simplesmente irresistível. Blaise Pascal.

Temos usado a Bíblia como um mero manual do guarda, dose de ópio para manter mansas as bestas de carga (não como o livro de libertação que ela é). Charles Kingsley.