o estado é uma pessoa jurídica de direito internacional

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O Estado é uma pessoa jurídica de direito internacional. Toda pessoa tem direitos e deveres. I - São direitos fundamentais: a liberdade e a independência. II – São direitos derivados: a) a igualdade – jurídica e relativa; b) o respeito mútuo; c) reclamação internacional; d) defesa e conservação. O direito fundamental é aquele que sem ele o Estado não existe. A Constituição Federal prevê a INDEPENDÊNCIA NACIONAL. É a condição sine qua non para a existência do Estado. Com ela, o Estado é soberano, é livre, para fazer sua lei e aplicá-la. Alguns Estados não têm independência. Exemplo é o Principado de Mônaco e, até algum tempo atrás, Porto Rico. Sem a independência, não pode ser considerado um Estado soberano. Os direitos derivados derivam da independência nacional. DIREITOS DERIVADOS A) IGUALDADE Só existe no mundo JURÍDICO. Nada é igual. “Todos os Estados são iguais” coloca o Tratado de Westfalia, pela primeira vez. Quando a ONU, que tem 192 Estados, vai fazer uma votação, o voto de Luchemburgo e EUA tem o mesmo peso. É a igualdade jurídica, em que - todos são iguais perante o DIP; - cada um tem direito a um voto, com peso igual; - não se pode reclamar jurisdição sobre outro Estado. IGUALDADE RELATIVA O Conselho de Segurança da ONU possui 15 membros. Cinco deles são permanentes: EUA, China, França, Rússia e Inglaterra. O quorum de votação é de 9 votos. O Conselho de Segurança analisa as matérias processuais e não processuais. Quando a matéria é processual, vale o quorum de 9 votos entre os 15

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A Constituição Federal prevê a INDEPENDÊNCIA NACIONAL. É a condição sine qua non para a existência do Estado.Com ela, o Estado é soberano, é livre, para fazer sua lei e aplicá-la.Alguns Estados não têm independência. Exemplo é o Principado de Mônaco e, até algum tempo atrás, Porto Rico. Sem a independência, não pode ser considerado um Estado soberano.

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Page 1: O Estado é Uma Pessoa Jurídica de Direito Internacional

O Estado é uma pessoa jurídica de direito internacional. Toda pessoa tem direitos e deveres.

I - São direitos fundamentais:a liberdade e a independência.

II – São direitos derivados:a) a igualdade – jurídica e relativa;b) o respeito mútuo;c) reclamação internacional;d) defesa e conservação.

O direito fundamental é aquele que sem ele o Estado não existe.

A Constituição Federal prevê a INDEPENDÊNCIA NACIONAL. É a condição sine qua non para a existência do Estado.

Com ela, o Estado é soberano, é livre, para fazer sua lei e aplicá-la.Alguns Estados não têm independência. Exemplo é o Principado de Mônaco e, até algum tempo atrás, Porto Rico. Sem a independência, não pode ser considerado um Estado soberano.

Os direitos derivados derivam da independência nacional.

DIREITOS DERIVADOS

A) IGUALDADESó existe no mundo JURÍDICO. Nada é igual. “Todos os Estados são iguais” coloca o Tratado de Westfalia, pela primeira vez.Quando a ONU, que tem 192 Estados, vai fazer uma votação, o voto de Luchemburgo e EUA tem o mesmo peso.É a igualdade jurídica, em que - todos são iguais perante o DIP;- cada um tem direito a um voto, com peso igual;- não se pode reclamar jurisdição sobre outro Estado.

IGUALDADE RELATIVAO Conselho de Segurança da ONU possui 15 membros. Cinco deles são permanentes: EUA, China, França, Rússia e Inglaterra.O quorum de votação é de 9 votos. O Conselho de Segurança analisa as matérias processuais e não processuais. Quando a matéria é processual, vale o quorum de 9 votos entre os 15 membros. Quando, por sua vez, a natureza da matéria é técnica – não processual –, como no caso de matéria militar, estratégica, deve se desmembrar: 5 votos dos membros PERMANENTES somados a 4 dos TEMPORÁRIOS.Um dos cinco permanentes pode se abster. Mas se um dos 5 votar contrariamente, prevalece o voto contrário, ainda que todos os outros tenham votado a favor.Na carta da ONU não encontraremos a palavra veto.Nesse caso temos o direito de veto. E o direito de veto pelo que vota não, dos permanentes, é maior do que o dos outros. É uma anomalia.Existiu um motivo para que fosse assim. Não existe mais o motivo, mas não foi reformulado o critério.

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B) RESPEITO MÚTUOÉ o respeito que todo Estado merece dos demais. O Estado merece o respeito mútuo à bandeira, ao hino e símbolos nacionais, aos súditos, aos seus representantes.É o direito a ser tratado com consideração, com respeito à dignidade e à personalidade.

C) RECLAMAÇÃO INTERNACIONALEm caso de ofensa, o Estado pode ser reparado por representação internacional.Uma alternativa é recorrer à Corte Internacional de Justiça. Somente os Estados podem requerer à Corte Internacional de Justiça.Pode também recorrer à outra organização.

D) DEFESA E CONSERVAÇÃOSão os atos necessários à defesa, como conseqüência do direito à existência.É o caso da legítima defesa. Defende-se e conserva-se o que eu tenho e o que eu quero manter.Pode-se defender e conservar o território. Mas a questão é mais ampla, abrangendo, também, a biodiversidade, a água potável, usinas nucleares.Para a defesa e conservação, os Estados pactuam tratados de cooperação militar. Exemplo é a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que tem como objetivo a defesa de 19 países europeus.

III – LIMITAÇÕESa) imunidades de jurisdiçãob) capitulaçõesc) servidãod) arrendamentoe) neutralidade permanente

A) IMUNIDADES DE JURISDIÇÃOA imunidade de jurisdição local é o caso da extraterritorialidade, aplicável aos- chefes de Estado- primeiros ministros- embaixadores- representantes oficiais,quando em outra jurisdição, somente se submetendo às leis de seus países.Se o embaixador canadense matar alguém, não se pode nem tocar nele. Porque não é o indivíduo, mas representa o Canadá. É uma ficção, evidentemente.Este é o caso de imunidade diplomática.

B) CAPITULAÇÕESAs capitulações são garantias e privilégios concedidos a estrangeiros.A capitulação não é aplicável aos Estados, mas às pessoas.Não existe mais.A Inglaterra foi o país que mais usou das capitulações, por tratados, arrancando-os de países pobres.Exemplo é o Gabão. Se um cidadão inglês matasse alguém, no Gabão, somente poderia ser julgado por um tribunal inglês. Como súdito inglês, não estaria submetido à jurisdição da lei local.Houve uma figura, o juiz conservador da nação inglesa. Não era necessário que fosse juiz, podendo ser apenas um mero representante comercial da nação inglesa, que assumia a jurisdição inglesa no Gabão.

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O infrator seria julgado pela lei inglesa e por cidadãos ingleses. Se condenado, cumpriria a pena na Inglaterra ou em alguma colônia inglesa.No século XIX, tudo bem. A concepção de Estado livre era diferente.Hoje não é admissível.

C) SERVIDÃOÉ uma restrição do domínio eminente. Existe a servidão positiva e a servidão negativa.SERVIDÃO NEGATIVA - IN NON FACIENDOÉ obtida por um Tratado Internacional pelo qual um país se vê impedido de aplicar a sua própria lei.Como exemplo, temos a base de Guantánamo, em Cuba, desde 1.908. Ao assumir o poder, Fidel disse que os tratados seriam mantidos.É uma servidão negativa permanente.SERVIDÃO POSITIVA - IN FACIENDOPosso fazer alguma coisa, mas limitada ao tratado.Por exemplo, podemos permitir que navios estrangeiros venham pescar no mar territorial nacional. Nós determinamos a regra.Por exemplo, permitir aos franceses caçar lagostas no território nacional. Mas podemos determinar a tonelagem, a época, limitações.

C) ARRENDAMENTOFunciona de forma igual ao que determinado no Direito Civil.O país arrenda um imóvel, por exemplo. Diferentemente do que ocorre na servidão e na capitulação, é oneroso.Temos como exemplo o Canal do Panamá. No período de quase cem anos os EUA exploraram a faixa, onde imperou a jurisdição americana.

D) NEUTRALIDADE PERMANENTEQuando ocorreu a guerra das Malvinas, o Brasil e os demais países latino-americanos declararam-se neutros. Não penderam para o lado da Inglaterra nem da Argentina.Existem casos de neutros permanentemente, em qualquer conflito ofensivo, em qualquer época.São os casos da Suíça, da Áustria e do Vaticano. O problema da neutralidade permanente é o da LIMITAÇÃO. Só recentemente a Suíça ingressou na ONU.Por quê? Todo país integrante tem que fornecer tropas – as forças internacionais de paz.A Constituição Federal da Suíça não permite.Como posso ter um país da ONU com privilégio frente aos demais países? “Uso o que é bom e não faço o que é ruim”. Por um tratado.A Suíça não manda soldados, mas participa com verbas e medicamentos.

DOUTRINA DRAGONão se deve cobrar nenhuma dívida financeira por meio das armas. É vedado pelo Direito Internacional, pela Carta da ONU.“Luís Maria Drago, Ministro das Relações Exteriores da Argentina, criou a doutrina que leva seu nome, e que afirma, basicamente, o repúdio ao emprego da força por um Estado credor contra o Estado que lhe deve reparações pecuniárias motivadas por empréstimos externos ou danos provenientes de guerra. Sua doutrina inspirou-se na tentativa de intimidação contra a Venezuela, em dezembro de 1902, levada a efeito por três potências européias que eram credoras desse Estado sul-americano: Alemanha, Inglaterra e Itália. Drago reconhecia que as dívidas externas devem ser pagas; negava, contudo, o emprego da coerção pelos Estados

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credores.” Accioly, Hildebrando, Manual de Direito Internacional Público, São Paulo, Saraiva, 11ª ed., 1980, pp. 46-48.

IV – DEVERESa) moraisb) jurídicosc) de não intervenção

A) DEVERES MORAISTodos temos deveres morais. Consideremos Miramar. É um Estado fechado para o mundo, um narco-Estado. Acontece uma catástrofe: um furação, um tufão ou terremoto. O Brasil é obrigado a mandar remédios e alimentos? Não.Mas existe um dever moral.Não se pergunta o custo. O que se pergunta é quantos estão morrendo. O Estado é fechado, mas as pessoas estão fechadas, lá.Quando ocorre um terremoto na Bolívia ou no Equador, o Brasil sempre envia remédios e alimentos. Não é obrigado a isso. Se houvesse um tratado internacional que dissesse: se houver um terremoto no Chile, o Brasil tem que mandar seis carretas. Havendo a catástrofe, e enviando apenas cinco, infringiria o Brasil a norma jurídica.No plano internacional não há a sanção escrita. As penalidades variam de caso a caso.O parâmetro está no porquê de não ter cumprido, em quais os prejuízos e no contexto.Os EUA no Iraque infringiram tratados internacionais assinados. Fica uma mácula nas relações entre os países.O débito é jurídico. Mas a sanção é também moral.

É diferente de CORTESIA INTERNACIONAL.A cortesia internacional é um ato discricionário moral.O dever moral é um DEVER, em caso de catástrofe.

B) NÃO INTERVENÇÃOIntervenção é toda vontade que é imposta sem ser solicitada.Pode ser armada, diplomática, individual, coletiva.É uma ingerência, uma intromissão de um ou mais Estados em um assunto interno de outro.

Existem 4 exceções:

1. EM LEGÍTIMA DEFESAHá uma agressão. Deve-se obedecer o princípio da proporcionalidade. A legítima defesa é uma agressão justificável.

2. PARA FINS HUMANITÁRIOSA população está sofrendo limitações, privações e está de mãos atadas.Risco: você é uma força ocupante em outro território. Isso ocorreu na Somália. Com isso, acabou a guerra. As forças se voltaram contra os invasores. Na verdade, os fins não eram humanitários, mas escusos.

3. PARA PRESERVAR OS INTERESSES DO ESTADO OU DE SÚDITO DO ESTADOInvado o aeroporto, tomo meus nacionais e vou embora.

4. QUANDO A INTERVENÇÃO SE DÁ PELA INTERVENÇÃO DA ONU, DA OEA OU DE UMA

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COMUNIDADE AFRICANAEssas organizações intervém no assunto de um país. Para fins humanitários, por exemplo. A organização abrange, inclusive, o Estado que sofre a intervenção. Diz que não vai fazer e faz.O Brasil está no Haiti, que sofreu uma intervenção.

por Maria da Glória Perez Delgado Sanches