o estabelecimento dos imigrantes italianos em santa teresa
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O estabelecimento dos imigrantes italianos em Santa Teresa (Núcleo Timbuy) e a
configuração inicial do território
Simone Zamprogno Scalzer1
Patrícia Falco Genovez2
Resumo: O artigo analisa o processo de estabelecimento dos imigrantes italianos no
Núcleo Timbuy (atual Santa Teresa/ES) e a configuração inicial desse território, a partir
da chegada das primeiras levas de imigrantes, do contato inicial com a floresta tropical e
da distribuição dos lotes de terras.
Palavras- chave- imigrantes italianos, lotes de terras, território, reterritorialização.
Introdução
O artigo inicialmente discutirá o contexto histórico do norte da Itália, local de
origem dos imigrantes, mas também fará uma breve reflexão sobre a então província do
Espírito Santo, local de chegada de muitas levas destes imigrantes. Posteriormente,
enfocaremos as primeiras levas de imigrantes que chegaram ao Núcleo Timbuy3 e
terminaremos tratando do estabelecimento destes imigrantes e a configuração inicial do
território da cidade de Santa Teresa/ES. Trabalharemos com o apoio de uma bibliografia
referente á questão imigratória em território capixaba, mas buscaremos ilustrar o
processo com a narrativa de cinco descendentes de famílias imigrantes que chegaram ao
Espírito Santo e se deslocaram para Santa Teresa formando, posteriormente, uma
1 Mestranda – Mestrado em Gestão Integrada do Território- UNIVALE/MG
2 Doutora em História pela UFF (Docente do Mestrado em Gestão Integrada do Território – Univale/MG)
3O referido apresenta três grafias distintas: Timbuí, Timbuhy ou Timbuy. Assumiremos a terceira opção,
mais comum nos documentos utilizados na pesquisa. Ressaltamos que manteremos a grafia do
português da época nas transcrições dos documentos.
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cidade. Ao todo foram recolhidos dez depoimentos, cedidos por descendentes (filhos,
netos e bisnetos) de dez famílias imigrantes que chegaram a Santa Teresa entre os anos
1874 a 1920. A coleta foi realizada com o intuito de formatar uma pesquisa piloto, mas
devido à riqueza de informações e autorização para utilização dos dados por parte de
todos os entrevistados, optamos por utilizá-la.
1. O contexto histórico do norte da Itália e do Espírito Santo na segunda
metade do século XIX
A partir de meados do século XIX a população do norte da Itália foi afligida por
uma série de problemas, econômicos, sociais, além das guerras pela unificação da Itália
e delimitação de fronteiras com países vizinhos. Este panorama pode ser ilustrado a
partir da narrativa do entrevistado 1. Ele afirma que seus familiares emigraram por
medo da guerra: “Aaa eles tinha medo, o irmão da mamãe fugiu de lá, o mais velho o
Gustim, ele veio um ano antes pra cá, por causa que ele tava na idade de ir chamado no
exército e meteu o pé veio pra cá no Brasil. E depois daí um ano veio a família.” Outro
entrevistado, contou que os três irmão de seu bisavô morreram em uma guerra, ao surgir
outra guerra, ficaram como medo de perder mais familiares e após serem informados
que no Brasil ofereciam terras, decidiram emigrar.
Outros problemas também afligiam esta população. A região do Trento no Norte da
Itália, local de origem de grande parte dos imigrantes que se dirigem para Núcleo
Timbuy4, é marcada pelas Dolomitas, um relevo montanhoso de grande beleza, com
70% do território acima de mil metros de altitude, tornando grande parte das terras
pouco apropriadas para a agricultura (GROSSELLI, 2008). Além disso, no século XIX,
as dimensões das propriedades rurais desta região eram tão reduzidas que eram
insuficientes para garantir a sobrevivência familiar. Mas as dificuldades enfrentadas
pelos trentinos pareciam não acabar. Algumas doenças atingiram as lavouras de videiras
4 Atual município de Santa Teresa no Espírito Santo.
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e pouco depois as criações de bicho-da-seda, atividades de grande importância para a
economia local. Em maio ao processo de formação do Estado italiano (1859), os
mercados trentinos foram estrangulados por impostos e taxas de importação e
exportação. “E ainda não terminara o longo rosário de desgraças que se abateu sobre o
Estado na segunda metade do século” (GROSSELLI, 2008, p.40). A região foi atingida
por três enchentes em menos de dez anos (1882, 1885 e 1889), destruindo plantações e
obras públicas, os vales mais férteis foram destruídos pela violência da água, deixando o
terreno pedregoso e saibroso (GROSSELLI, 2008).
Neste mesmo período, segundo diversos autores (CAVATI, 1973, DERENZI, 1974,
MORAES, 1981, POSENATO, 1998, BUSATTO, 1998) o Espírito Santo era uma
província sem expressão econômica, pouco povoada e com muitas áreas desabitadas.
Contudo, a pequena produção agrícola e industrial e a escassez de população eram um
obstáculo ao desenvolvimento. Pretendia-se implantar o cultivo do café, nas terras do
interior como forma de aquecer a economia, apresentava-se assim grande demanda de
mão-de-obra.
Neste contexto a emigração tornou-se então, uma alternativa “aventureira”, para
muitos italianos que buscavam uma vida melhor (GROSSELLI, 2008) e uma solução
conveniente aos governos da Itália e do Brasil, especialmente, do Espírito Santo.
2. As primeiras levas de imigrantes italianos para o Núcleo Timbuy
Os primeiros imigrantes italianos a se estabelecerem no Timbuy foi um grupo de
aproximadamente dez famílias, oriundos da expedição Tabacchi, que ali se fixaram em
1874, antes mesmo da abertura oficial deste núcleo colonial, no ano de 1875. Esta
expedição é a primeira a chegar ao Espírito Santo em fevereiro de 1874. Este grupo
emigrou em parte fugindo dos problemas que o Norte da Itália enfrentava como já
vislumbramos no item anterior, mas sem dúvidas as promessas de terras férteis e até
4
mesmo ouro fácil, propagadas por Pietro Tabacchi5, fascinaram aqueles imigrantes.
Chegando ao Espírito Santo o grupo foi levado para trabalhar na fazenda de Tabacchi
(agenciador dos imigrantes), localizada em Santa Cruz/ES (GROSSELLI, 2008).
Após viverem um período em péssimas condições de vida e trabalho, esses
imigrantes se revoltam e acabam abandonando a fazenda. Deste grupo que acabou se
dissolvendo, estima-se que de seis a dez famílias se estabeleceram na região do Núcleo
Timbuy.
Alguns autores já haviam abordado este fato com fontes baseadas em relatos orais.
Novaes (1980) afirma: “Alguns imigrantes revoltaram-se, a 17 de março; abandonaram
o núcleo e embrenham-se na floreta do Timbuí, através de uma estrada primitiva, que o
Governo Provincial mandara abrir, a fim de comunicar o litoral com a estrada de Santa
Teresa” (NOVAES, 1980, p.17). Complementando, Biasutti (2005) afirma que em 19
de março de 1874:
Um grupo de italianos foge da colônia Tabacchi embrenhando-se pela floresta, em direção à nascente do Rio Timbuí. (...) Encontram os trabalhadores da imigração oficial, inclusive os barracões preparados para recolher a imigração patrocinada pela Província do Espírito Santo (fato que se daria em 1875) (BIASUTTI, 2005, p.15).
Mais adiante Biasutti descreve a chegada da imigração oficial em Santa Teresa
citando ainda a presença dos imigrantes da Expedição Tabacchi: “07 de junho: Chegada
a Santa Teresa, com parada em Valsugana Velha, onde residiam precariamente uma
centena de imigrantes, que partiram da sofrida e malograda expedição Tabacchi”
(BIASUTTI, 2005, p.17).
Sobre este mesmo assunto, Müller (1925, p.9) diz: “o que é certo é que no ano de
1874, embrenhou-se pelas florestas do Rio Timbuhy, um corajoso grupo de fugitivos,
fazendo referência aos imigrantes da Expedição Tabacchi. Sobre este grupo Grosselli
(2008) afirma:
5 Pietro Tabacchi foi um italiano que havia se estabelecido no ES provavelmente em 1851, e retornou
para a Itália em 1873 para agenciar imigrantes para trabalhar em sua fazenda, de acordo com GROSSELLI
(2008).
5
Os colonos que deixaram a Colônia de Tabacchi e foram para Santa Leopoldina estabeleceram-se no Núcleo Timbuy ainda em formação, em uma localidade que chamaram Valsugana (que em seguida foi denominada Valsugana Vecchia, quando muitos deles se transferiram para outra zona do mesmo núcleo, denominada Valsugana Nouva) (GROSSELLI, 2008, p.198).
Este fato encontra indícios oficiais de ter realmente ocorrido, a partir da análise de
trecho de documento do Arquivo Público Estadual do Espírito Santo do Fundo de
Agricultura, livro 13, em 24 de setembro de 18746, diz:
Para o Norte estendem-se até o Rio Doce, creio que a uma distancia provável de 4 a 5 léguas contadas da parte já colonizada da estrada de Santa Thereza e onde atualmente estão agrupando-se os italianos, evidente que prolongar a Colônia nessa direção a ganhar o Rio Doce seria de vantagens reais.
Em outro ponto do mesmo livro de correspondências, do Fundo de Agricultura,
agora em 17 de novembro de 1974 diz:
Cachoeiro de Santa Leopoldina 17 de novembro de 1874. Ao diretor da Secretaria da Agricultura Comercio e Obras Públicas remetendo
a pretensão de uma família de italianos que para esta Colônia se querem emigrar. Tendo essa diretoria em suas mãos um abaixo assinado de cem famílias de
italianos tiroleses que desejão emigrar para esta colônia e pretendem estabelecer-se juntamente com seus parentes no Timbuy, mas que por intermédio dos mesmos solicitarão um prospecto dos favores aqui concedidos aos emigrantes, a fim de poderem resolver definitivamente sobre sua vinda, rogo a Vª Sª para que solicite de Vª Excelência o Sr Ministro da Agricultura Comercio e Obras Públicas, a solução do pedido feito ao mesmo em oficio nº 22 de 6 de (ilegível), tendo na consideração que possa merecer e dirigir a V Sª, sob o nº 33 de 7 do mesmo. Como V Sª sabe a emigração de Tiroleses, Austríacos e Italianos para o Brasil, pode dizer a começar apenas com os colonos vindos por Pedro Tabacchi em Nova Trento. Os ensaios não foram do mais feliz agouro, no entanto dos que para aqui vierão já muitos estão estabelecidos e segundo todas as probabilidades os que vierem de hoje em diante, já encontrando um núcleo de parentes e patrícios, com muito mais facilidade se fixarão. (...) Assinado o Diretor interino Pedro Albuquerque Rodrigues. (grifo nosso) (Livro 13, Fundo de Agricultura, Arquivo Público Estadual do ES, p.25).
Os documentos apresentados não trazem informações precisas quanto à data exata
em que os primeiros imigrantes italianos se estabeleceram no Núcleo Timbuy, mas
podem confirmam os indícios apresentados pelos relatos orais.
Uma vez pontuada a dificuldade de precisão quanto ao início da ocupação do
território onde se localizaria o Núcleo Timbuy sabe-se que foi somente em 1875 que
6 Trecho também citado por BUSATTO (1995).
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ocorre a abertura oficial do Núcleo Timbuy/Santa Teresa-ES (MÜLLER, 1925;
NOVAES, 1980). No início de junho chegam ao Núcleo os imigrantes do navio
Rivadavia, e no dia 26 de junho de 1875, acontece o sorteio dos lotes de terras para os
imigrantes pelo agrimensor Franz Von Lipp. Sendo esta a data oficial de fundação do
Núcleo Timbuy e da atual cidade de Santa Teresa-ES7. Nos anos seguintes mais levas
de italianos se estabelecem na região dando inicio a configuração inicial daquele
território8.
Segundo relato do entrevistado 1, confirmado em consulta ao registro de entrada de
imigrantes no site do Arquivo Público Estadual do ES, sua família chegou em 1898,
confirmando assim que o fluxo de imigrantes italianos para a região de estudo, durou
mais de duas décadas.
3. O estabelecimento dos imigrantes italianos no Núcleo Timbuy - Santa
Teresa e a configuração inicial do território
Durante as duas décadas seguintes chegaram à região levas de imigrantes italianos,
que fugiam dos problemas do Norte da Itália ou vinham ao encontro de familiares já
estabelecidos. Contudo outros grupos de imigrantes se estabeleceram neste núcleo,
porém em menor quantidade9. Há também registro de entrada de pequenos grupos de
pomeranos, alemães e espanhóis, que se estabeleceram na maioria dos casos em pontos
específicos do território, e também no núcleo urbano que estava em formação. Em
pesquisa de campo há relatos também da presença de comerciantes árabes no Núcleo
Timbuy, que percorriam a região vendendo os mais diversos produtos.
7 26 de junho é feriado municipal em Santa Teresa, sendo comemorado o dia do município, em
lembrança do dia que foram entregues os primeiros lotes de terras para os imigrantes italianos.
8 As remessas de imigrantes italianos para o Espírito Santo acontecem até 1895-96 (Busatto, 1998,
p.307).
9 Informações construídas associando os depoimentos de história oral à análise de documentos do
Arquivo Público do Espírito Santo.
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O contato inicial com a floresta foi muito difícil, era preciso derrubar a mata
Atlântica e conviver com as ameaças que vinham dela. Segundo Busatto (1990, p.250)
na região de Santa Teresa a floresta era um obstáculo que precisava ser vencido. Dela
também vinham muitas ameaças como os ataques de onça e as serpentes. As criações de
animais e as plantações também eram atacadas por predadores vindos das matas, sem
contar no ataque dos mosquitos causadores da febre amarela (BUSATTO, 1990, p.251).
O entrevistado 1 afirma que ao chegar a Santa Teresa só encontraram mata e precisavam
derrubá-la para abrir espaço para as plantações. Já o entrevistado 2 diz: “Olha chegaram
aqui na região de Santa Teresa, especialmente aqui Nova Valsugana, era uma região
toda cheia de mata, porque não era um lugar, a nossa região aqui era um lugar ainda é
como que se diz (...) não era habitado.”
E a lista dos obstáculos enfrentados pelos imigrantes nos primeiros anos no novo
território não terminava no esforço do desmatamento. Ao receberem o lote colonial
deveriam cumprir algumas exigências previstas em contrato de Designação de Lote de
Terras, dentre as principais podemos citar: Conservar os marcos que delimitavam os
lotes; em um período de até seis meses após ter recebido as terras, deveriam roçar e
plantar uma área de mil braças quadradas e construir uma casa para habitação
permanente, sob pena de perder o terreno. O Título Definitivo só seria entregue depois
de saldada da dívida com Fazenda Nacional e comprovada residência habitual e cultura
efetiva10. Contudo, após alguns anos de trabalho quatro entrevistados relataram
melhorias na vida de seus parentes que receberam os lotes de terra. As dificuldades
foram muito maiores para os imigrantes que não conseguiram adquirir um lote de terras
por opção de ser meeiro ou por não terem conseguido pagar o terreno e acabaram
perdendo-o. A entrevistada 9 contou que seu pai não conseguiu pagar o terreno e teve
que ser meeiro de outros imigrantes, realizando sucessiva mudanças de endereço, sem
nunca conseguir melhorar as condições de vida da família. Já a entrevistada 10, afirma
10
Informações retiradas do Contrato de Designação de Lotes de Terras assinado por Angelo Margon em
1º de março de 1879, sendo que o mesmo recebe o Título Definitivo do lote nº 536 em 15 de novembro
de 1888.
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que seu pai nunca teve acesso à terra, tendo também que mudar de patrão muitas vezes.
Esta mesma entrevistada ainda relata abusos praticados pelo patrão da família:
_ A gente pedia: Mais por que papai o senhor nunca conseguiu fazer dinheiro? _Aaa, eu comprava na caderneta com os XXX11 e eles marcava uma porção de
coisa que eu não tinha panhado e eu perguntava: Por que essas coisas que eu tenho que pagar?
_ É umas coisa assim, uns restos que ficou estragado e então nós botamos para o senhor pagar (Entrevista 10).
Outras desvantagens de ser meeiro e abusos sofridos são relatados por Nagar (1995,
p.52), como por exemplo, cobrança de juros de 12% sobre os produtos adquiridos no
estabelecimento do patrão, pagamento da produção do café com valores inferiores os
praticados no mercado. Assim era comum o meeiro ficar em dívida com o patrão, sendo
obrigado a continuar trabalhando para o mesmo até saudar o que devia (NAGAR, 1995,
p. 52).
Adaptar-se a um clima diferente do europeu, vencer os desafios impostos pela
floresta, foi apenas a primeira parte do estabelecimento dos imigrantes. O próximo
passo foi a construção do novo território.
Algumas características territoriais são marcantes neste período, como a pequena
propriedade familiar resultante do modelo de distribuição dos lotes coloniais implantado
pelo governo da época.
Detalhe dos lotes coloniais na área do Rio Timbuy - Planta N° A1456 do acervo Arquivo Público Estadual do ES - Carta Topographica dos Núcleos Porto Cachoeiro e Timbuy da Colônia Santa Leopoldina na Província do Espírito Santo: feito e organizado pelo agrimensor e engenheiro Franz Von Lipp 1879.
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Sobrenome preservado para preservar familiares.
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Como observado no detalhe da planta, os lotes coloniais tinham aproximadamente a
mesma dimensão, constituindo um padrão presente em todo o Núcleo Timbuy. A
policultura também é uma marca deste período, os imigrantes eram incentivados a
implantar o cultivo comercial do café, no entanto para garantir a sobrevivência da
família, era necessário cultivar tudo o que precisavam.
Segundo relatório do Cônsul italiano que visitou o Espírito Santo na década de
1890, o café representava o cultivo predominante dos imigrantes, sendo que este só
daria uma boa colheita após quatro anos. Neste período os imigrantes precisavam
garantir o sustento cultivando outros gêneros, como os cereais (NAGAR, 1995, p.48-9).
A distância de Cachoeiro de Santa Leopoldina, sede da Colônia, e a falta de
recursos também obrigavam os imigrantes a produzirem seu próprio alimento. Quando
indagado sobre quais lavouras sua família cultivava, respondeu o entrevistado 3: “Tudo,
tudo, tudo, tudo, porque, era difícil mesmo né, não tinha como, não tinha ajuda de
nada”.
Outro ponto importante a ser considerado é que não por acaso o território reproduzia
algumas características do território italiano deixado no momento da emigração.
Posenato (1997) afirma que:
A planta de Santa Teresa não apresentava a retícula ortogonal própria da época de sua implantação, mostrando-se em uma configuração livre muito semelhante às pequenas cidades do Norte da Itália. Nem existe uma praça central ladeada pela igreja e os principais prédios da administração civil, no que se assemelha ao norte da Itália (POSENATO, 1997, p.140).
Planta Povoação de Santa Teresa: Província do Espírito Santo Comarca da capital distrito do Timbuhy: Planta da Povoação de Santa Thereza, medida e demarcada por
10
ordem do Ilmº Snt. Dr. Inspetor Especial de Terras e Colonização desta Província pelo Auxiliar Julião Florian (N° 0818 acervo Arquivo Público Estadual do ES).
A reprodução de uma configuração territorial italiana pode ter ocorrido pelo
simples fato dos imigrantes tentarem reproduzir um modelo já conhecido, ou ainda
como forma de trazer para o novo território, características que remetessem ao antigo
território, facilitando assim o processo de reterritorialização. Haesbaert (2007, p.127)
utiliza os conceitos de Deleuze e Guattari (1997), e para descrever os processos de
desterritorialização, como o movimento de abandono do território e a reterritorialização
como a construção do novo território.
Neste contexto, o Núcleo Timbuy foi construído de forma concomitante a
reterritorialização, onde os imigrantes ao reproduzirem uma configuração e organização
territorial que lembrasse a terra natal, poderiam aumentar o sentimento de
pertencimento ao novo território. Um novo território que lembrava as origens italianas
na toponímia de algumas comunidades do interior, na arquitetura das antigas casas e no
traçado das primeiras ruas. Podemos citar como exemplo, as comunidades de Nova
Valsugana e Lombardia, localizadas na zona rural do antigo núcleo, que reproduzem
toponímias do norte da Itália.
Considerações Finais
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O estabelecimento dos imigrantes italianos no Núcleo Timbuy passou por algumas
etapas o contato inicial com a floresta recém desbravada, que em muitos casos foi
sofrida pela dificuldade de fazer a derrubada e pelo contato e ameaças dos animais,
como as onças e os mosquitos causadores de doenças.
Os imigrantes encontraram dificuldades de se manter nos primeiros anos, quando
ainda não podiam contar com a produção do café. Tinham ainda a necessidade de
garantir o sustento familiar, plantado e produzindo quase tudo o que necessitavam e
pagar o lote de terra.
A última etapa da fase inicial de ocupação do Núcleo Timbuy acontece com
reprodução de características territoriais do Norte da Itália no novo território. Como
parte do processo de reterritorialização. As semelhanças no traçado da cidade, na
arquitetura das primeiras casas e repetir no novo território a toponímia de seus lugares
de origens fizeram parte da reterritorialização vivida por aqueles imigrantes.
Referências:
BIASUTTI, Luiz Carlos. Almanaque: Cronologia histórica do município de santa Teresa- Espírito santo. Santa Teresa. 2005.
BUSATTO, Luiz. Dilemas do imigrante italiano no Espírito Santo. In__BONI, Luis Alberto De. A presença italiana no Brasil. Vol.2. Porto Alegre. Escola Superior de teologia; Fondazione Giovanni Agnelli. 1990.
BUSATTO, Luiz. Estudos sobre imigração italiana no Espírito Santo. 1995. Disponível em http://www.estacaocapixaba.com.br/temas/imigracao/estudos-sobre-imigracao-italiana-no-espirito-santo/ acesso em 10 de agosto de 2013.
BUSATTO, Luiz. Por uma identidade ítalo-capixaba. In__ CASTIGLIONI, Aurélia H. Imigração italiana no Espírito Santo: uma aventura colonizadora. Vitória: UFES, 1998.
CAVATI, João Batista. História da imigração Italiana no Espírito Santo. Espírito Santo. 1973.
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DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no estado do Espírito Santo. 1. ed. Rio de Janeiro: Artenova,1974.
GROSSELLI, Renzo M. (1952). Colônias imperiais na Terra do Café: Camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas florestas brasileiras. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2008.
HAESBAERT, Rogério. O Mito da Desterritorialização: Do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
MORAES, Ormando. Da Itália ao Brasil: Historia de uma família. Vitória ES. Fundação Ceciliano Abel de Almeida.1981.
MÜLLER, Frederico. Fundação e fatos históricos de Santa Teresa: Estado do espírito santo. Victoria. Diario da manhã Marcondes & c. 1925.
NAGAR, Carlo. O estado do Espírito Santo e a imigração italiana-1895: Relato do Cavalheiro Carlo Nagar cônsul real em Vitória. Vitória. Arquivo Público Estadual. 1995.
NOVAES, Maria Stella de. Os italianos e seus descendentes no Espírito Santo.1.ed. Vitoria.1871.
POSENATO, Júlio. Arquitetura da Imigração Italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997.
Fontes:
http://www.ape.es.gov.br/imigrantes/Imigra.aspx acesso em 12/08/2013.
Livro 13- Arquivo Público Estadual do ES- Fundo de Agricultura: Registro de Correspondências do Diretor da Colônia de Santa Leopoldina com o Presidente e diversos funcionários.