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O E S S E N C I A L S O B R E

Leonardo Coimbra

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O E S S E N C I A L S O B R E

Leonardo CoimbraAna Catarina Milhazes

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Índice

7 Introdução

9 A Vida

17 A Obra

21 O Político/O Reformador Social

29 O Mestre/O Filósofo

37 O Orador/O Homem Espiritual

43 Conclusão

45 Bibliografia essencial

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Introdução

Este Essencial sobre Leonardo Coimbra pre­tende dar a um público lato um breve e seletivoresumo desta figura nacional, no que ela teve depolítico, intelectual e homem espiritual. Ficoucélebre a caracterização que Teixeira de Pascoaesfez do seu amigo Leonardo Coimbra, falandodele como uma Trindade: o orador, o professor,o filó­sofo. Talvez no orador caiba o político, noprofessor o intelectual e no filó­sofo o homemespiritual. Todos eles se cruzam — porque talvezainda o professor caiba no orador, se encontra­mos o intelectual no político; o professor caibano filó­sofo, se o intelecto seguir a par da vidado espírito; e talvez também o orador caiba nofiló­sofo, se a filosofia procurar a harmonia dosespíritos.Procuraremosdaraconhecerestafiguraquefoivárias.AcaracterizaçãodePascoaesécon­fessadamente subjetiva; mas, enquanto síntese, écomplexa e em parte insuficiente, como as sínte­ses acabam por ser. Também O Essencial  o será.A síntese tem menos a capacidade de estagnar a

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matéria que resume do que a virtude de pôr emsuspensoumarespostaparapoderlevantaroutras.Este breve contributo pretende ser uma introdu­çãoàfiguraeobrastãoricasqueforamLeonardoCoimbra e os seus feitos.

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A Vida

LeonardoCoimbranasceuemBorbadeGodim,atual cidade da Lixa, concelho de Felgueiras, nofinal do séculoxix, em 1��3. A sua família eraumafamíliaburguesadazonaruraldoMarão,seupai era médico e sua mãe era proveniente dumafamília tradicional. Leonardo foi o segundo dosoito filhos do casal. A primeira fase da sua vidasitua­senumperíodoagitadodecrescentereaçãoà Monarquia Constitucional, que muito se deveuà ascensão da burguesia e ao aparecimento dedoutrinaspolíticascomooSocialismo,oRepubli­canismoeoAnarquismo.Nesteperíodo,alémdosconflitos políticos e ideoló­gicos que conturbavamo país, vivia­se ainda uma grave crise econó­micae financeira.

LeonardofezocursolicealnoColégiodeNossaSenhora do Carmo, em Penafiel, com o seu irmãomais velho. Deste período, recordará a disciplinaexcessiva do internato. Não obstante, mostrou­seum aluno muito competente, quer nas matérias

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científicas quer nas literárias. Terminado o liceucom 14anos, faltavam ainda, legalmente, trêsmeses para que Leonardo pudesse ingressar nauniversidade. Obteve a dispensa da lei por umaportaria que foi anexada à sua matrícula e con­seguiu entrar para a Faculdade de Filosofia daUniversidade de Coimbra, em setembro de 1�9�.Cursou Físicas e Matemáticas. Mas o Leonardoadolescenteviudespertaremsiavontadedeumacerta desobediência, em contraste com o rigor desubmissão exigido no Colégio. Em quatro anosde estudo universitário, Leonardo fez apenas trêscadeiras:Física,MatemáticaeDesenho.EstaseramascadeirasnecessáriasparaentrarnaEscolaNaval,paraondeLeonardotinhadecididocandidatar­se.Associadaaestaescolha,ousendomesmoumadasmotivaçõesdela,estáoentusiasmoqueLeonardomanifestou pela cultura física, praticando remo,esgrima e natação, e distinguindo­se no haltero­filismo. Leonardo Coimbra tornou­se um homemencorpado, embora não muito alto (174cm, estáescrito no seu B.I.), como nos mostram as foto­grafias. Era este o homem que, pela sua robustez,todo o país esperava ver recuperado do desastreautomó­vel que sofreu, em 1936. Mas a morte ésempre inesperada; é sempre um acidente —pelomenos, para quem a vê de  fora.

Em Coimbra frequenta ainda as cadeiras deEconomiaPolíticaedeDireitoEconó­mico,porexi­gênciacurricular.Ointeressepelapolíticaganhavaraízes. Segue, em 1903, para a Escola Naval e, umano depois, é promovido a aspirante da Marinha.São seus colegas Mendes Cabeçadas, seu amigoque virá a ser almirante, e Antó­nio Sérgio, que

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se tornará seu opositor ideoló­gico e político masque foi, por ali, seu instrutor de remo. Malgradooânimoquedespertou,avidadamarinharevelou­­se, em pouco tempo, uma deceção: a primeiraviagemnumnavio­escolafoisingularmenteárduae Leonardo foi atormentado por um permanenteenjoo. Esta experiência sugeriu­se incompatívelcom o temperamento vivaz de Leonardo. Pediu,porisso,ademissãoevoltouàUniversidade,agoraàAcademiaPolitécnicadoPorto,comointuitodeobter o Curso de Habilitação ao Magistério.

Apesar de mais focado, Leonardo mostra­seainda pouco rigoroso com os estudos e atrasaa conclusão do curso por, pelo menos, um ano.Énesteperíodo,etalvezsirvadeexplicaçãoparaoatrasomencionado,quesecasacomMariaAméliaCoimbra,queconhecedesdeainfância.Étambémdestaépocaasuaadesãoaomovimentolibertáriodoanarquismoutó­pico.Tem,então,23anos,idadeque marca o início da sua atividade literária.

Osprimeirosartigosmanifestamclarapreocu­paçãocomasquestõespolítico­sociais.Percebe­se,de início, alguma hesitação entre o texto de carizmaisfilosó­ficoeodecarizmaisliterário—confu­sãoquepermanecerá,demodomuitofrutuoso,emtoda a sua obra. No entanto, deve dizer­se que atrajetó­riadeLeonardoCoimbraémaisclaramentefilosó­fica, embora Leonardo parecesse, de início,dirigir­separaacarreiraliterária,atravésdealgunstextos dentro do género da cró­nica romântica.

Durante o franquismo, em 1907, em conjuntocomJaimeCortesão,CláudioBastoeÁlvaroPinto,funda e dirige a revista Nova  Silva, ó­rgão políticode orientação libertária. O primeiro artigo de

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Leonardo Coimbra para esta revista («O homemlivre e o homem legal») defende a primazia daconsciência individual face à lei, expressandouma ideologia anarquista (não exatamente umadoutrina anarquista), que tem como base da suaaxiologia a liberdade. É também nesta fase queLeonardoiniciaasuaaçãopolítica,envolvendo­sena crise académica de 1907, que teve repercussãopara além do âmbito universitário.

Ainda em colaboração com Jaime Cortesão eÁlvaroPinto,surge,em190�,aSociedadeAmigosdoABC—cujonomealudeao«l’abaissé»deVítorHugo — que pretendia combater o analfabetismo.Nesse mesmo ano, constitui­se o grupo político­­literário da Nova Seara. Ainda nesse ano nasce oprimeirofilhodeLeonardoCoimbra,cujapresençaserá absolutamente marcante para o filó­sofo epara o seu pensamento, por duas razões: porquea convivência com a criança orienta algumas dasgrandes questões do seu pensamento, motivandonomeadamente o seu interesse pela psicologia, eporque a infausta morte do menino, aos quatroanosdeidade,ointimaráarefletirsobreumtó­pico­­chave da sua obra: a morte.

Em 1909, Leonardo termina o Curso de Habi­litação ao Magistério Secundário e vai viver paraLisboa,comsuaesposaeseufilho,parafrequentaro Curso Superior de Letras. Aí, obtém distinçãoa todas as disciplinas e consenso na avaliação dadissertação. Regressa, em 1910, ao Porto, onde foicolocadocomoprofessordeMatemáticadoLiceuCentral.Foi,depois,diretornoColégiodosÓrfãos,em Braga, em 1911; professor na Pó­voa de Varzim(onde nasceu o seu segundo filho, o médico Leo­

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nardo Augusto Coimbra), em 1914; professor emLisboa, no Liceu Gil Vicente, entre 1915 e 1919;professorediretordaFaculdadedeLetrasdaUni­versidade do Porto, criada por Leonardo, quandofoi ministro da Instrução em 1919; e, em 1931,novamente professor liceal, no Liceu RodriguesdeFreitas,apó­saextinçãodaFaculdadedeLetras.Afiguradoprofessorserá,desdeasuaestreia,umafigurapermanentedeLeonardoCoimbra.Serápro­fessor,educadorepedagogo;naescola,napolítica,nas assembleias cívicas e culturais. O sentido demissãoqueinspirouLeonardoCoimbrarealiza­setambém na ação desta figura de professor.

OmovimentodaRenascençaPortuguesaapare­ce em 1912, com sede no Porto. Dele participarãoJaimeCortesão,TeixeiradePascoaes,RaulProençae outros. Foi o núcleo cultural mais dinâmico doPaís, desse período. A partir dele se compõem edivulgam uma revista, A  Águia, um jornal quin­zenário,Vida Portuguesa,umaeditorahomó­nimaeumaUniversidadePopular.Aindaem1912,Leo­nardo concorre ao lugar de professor assistentedo Grupo de Filosofia da Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa.

A carreira política, iniciada no movimentoanarquista,começaformalmente,em1914,quandoLeonardo adere ao Partido Republicano Portu­guês. Será eleito deputado pelo partido em 1922.Leonardo Coimbra foi ministro da Instrução emdois mandatos de curta duração, em 1919 e em1922.Em1925,LeonardoabandonaoPartidoRe­publicano Português e aproxima­se da EsquerdaDemocrática,semquetenhaconseguidosereleitodeputado.Apartirdaqui,oseuafastamentodavida

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políticafoigradualeprogressivo,começandoentãoapenetrarnoestudodateologiaeaproximando­sedaortodoxiacató­lica.Entretanto,tinha­sedadoogolpemilitarde1926,quepossibilitouaconstitu­cionalização do Estado Novo, em 1933. Leonardoestavaformalmentedesassociadodavidapolítica,ainda que a sua opinião fosse considerada muitoinfluente. Por esta razão, quis o Estado Novoinsinuar o seu apoio. A resposta de Leonardo foisempreuminabalávelnão.ApublicaçãodeA Rús‑sia de Hoje e o Homem de Sempre (1935) provocoualgumaequivocadaaproximaçãoentreofiló­sofoeo Estado Novo, pelo facto de ambos partilharemumacríticaferozdocomunismo—masacríticadeLeonardoeramaisfilosó­fico­teoló­gica,enquantoado Estado Novo era marcadamente programáticaao nível político. Leonardo Coimbra e OliveiraSalazartinhampersonalidadesopostasedispostasao conflito. Quando Salazar visitou, em abril de1934,oLiceuRodriguesdeFreitas,ondeLeonardoera professor, este renunciou aos cumprimentosoficiais.Aocomentar,depois,obreveencontroqueteve,nessedia,comSalazar,porvontadedeste,teráditodemodoincisivo:«Éburro!Disse­mequeeudevia ser mais acessível.»1

Leonardotinhavistoosseusesforçospolíticosmalogrados — e, em política (senão em tudo)pode fazer­se muito pouco sem colaboração.Oapelo da ortodoxia cató­lica era mais promis­sor, mais gracioso também. A profissão pública

1 Cf. SANTOS, Alfredo Ribeiro dos, Perfil  de  Leonardo  Coimbra, Lisboa,FundaçãoLusíada,19��,p.373.

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ao catolicismo acontecerá no Natal de 1935, a23de dezembro.

A30dedezembrodomesmoano,regressandodeumavisitaàsuaterra­natal,oautomó­velemqueseguia despista­se, na descida da Serra de Baltar.ÉtransportadoparaoHospitaldeSantoAntó­nio,noPorto,onde,incapazderesistiraosferimentos,virá a falecer no dia 2 de janeiro de 1936. Escre­vem os jornais da época que o seu funeral teve amaior manifestação de pesar vista até então nacidade do Porto.

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A Obra

AObradeLeonardoCoimbraéconstituídaporescritosetranscritos(nocasodosdiscursosorais)de natureza e tó­picos heterogéneos. Para alémdas obras em livro, existem artigos, registos deintervenções parlamentares, de comícios e mani­festaçõespolíticas,deintervençõesemassembleiascívicaseculturais,registosdeentrevistasecartaspessoais. Os livros, 1�, são dos âmbitos filosó­ficoecientífico,comextensãoaoliterário.Nasbiblio­grafiasmaisatualizadas,osartigossãoemnúmerode243.Estessão,normalmente,maisfocadosnasproblemáticasdaatualidade,davidasocial,cívicae política, com particular preocupação ética e deintervenção político­social. Há, contudo, tambémartigosdecríticaliteráriaeartística,bemcomodereflexão espiritual e religiosa. Os discursos profe­ridos,algunsdelesencontram­sehojetranscritos,dãocontadasdiversasintervençõesdeLeonardo:sãosessõesparlamentares,académicas,conferên­cias de homenagens oficiais e populares, elogios

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fúnebres e apresentações de divulgação cultural.Estesdiscursos,nasváriastipologiaseabrangendodiferentes temáticas, que foram transcritos nosjornais e nos perió­dicos, são, pelo menos, 163.Asentrevistas registadas são 27 e as cartas publi­cadas ou arquivadas são 25.

Os livros mais sistemáticos e destacados pelosinvestigadores da sua obra são O  Criacionismo (1912), A  Morte  (1913), A  Alegria,  a  Dor  e  a  Graça(1916), A  Luta  pela  Imortalidade  (191�), A  Razão Experimental (1923)eA Rússia de Hoje e o Homem de  Sempre  (1935).

A primeira obra foi escrita para que Leonardopudesseconcorreraolugardeprofessorassistentedo Grupo de Filosofia da Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa. A adversidade — mais sediria incompetência — da leitura feita pelos ava­liadores levou Leonardo a desistir do concurso.O Criacionismo,marcadopelaideologiaanarquistade um modo singular e heterodoxo, é repassadopor uma liberdade transcendente, que se dirige auma religiosidade có­smica.  A superação do mate­rialismoedocientismo,areflexãodasexperiênciasestética e moral como únicas vias para o Amorinfinito de um socialismo có­smico, a realidadecomo pluralidade unificada são algumas das tra­ves mestras d’O  Criacionismo que percorrerão arestanteobradeLeonardo.Oentusiasmocomquefinda a escrita da obra é abalado não só­ pela máreceçãoacadémicamastambém,maisgravemente,pela morte do seu primeiro filho.

Leonardo,profundamenteafetado,escreve,emlembrançadomenino,A Morte,em1913.Ootimis­molatenten’O Criacionismosairá,contudo,forta­

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lecidoevigoroson’A Morte.Ootimismo,quevemmaisdodesejodesequereromundobomdoquedo facto de este o ser, progredirá mais forte e se­guro.TambémA Alegria, a Dor e a GraçaeA Luta pela Imortalidade trazemluzsobreesseotimismo.Leonardoescrevenadedicató­riadesteúltimolivroquehavia«chegadoaconclusõesoptimistassobreomundocomosociedadesdeseresimperecíveis»equeamortedoseufilhofora«agrandeexperiência,o meu pensamento à prova crua e insofismável».Foi perante este repto que Leonardo escreveuuma«promessaderessurreição»,comolhechama.Paralelamente, estes livros desenham o caminhopara uma adesão, que será no final da sua vida,plena ao catolicismo. A  Razão  Experimental  é oaperfeiçoamentodasuaprimeiraobra,logo,doseusistemafilosó­ficomaisordenado,quedápelonomede criacionismo.  A partir d’A  Razão  Experimental aparecem já, no trabalho de Leonardo Coimbra,a clareza e profundidade da metafísica cristã e dadoutrina cató­lica de um modo bastante afirmado.Oseuúltimolivro, A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre  é um livro admirável sobre o que de maissobrevive no homem, sobre o que lhe é eterno einabalável, constituindo uma síntese harmoniosaentre o criacionismo e o humanismo cristão.

Se se pode encontrar no seu último livro, A Rússia  de  Hoje  e  o  Homem  de  Sempre, uma sín­tese coesa entre o criacionismo  e o cristianismoé porque as motivações de Leonardo Coimbraforamsempre,noiníciocomonofim,asmesmas.Ostemaseproblemasqueofiló­sofoquisverresol­vidos são recorrentes e notam o quão sistémicafoi a sua reflexão. Lembremos que o subtítulo

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da sua primeira obra é «esboço de um sistemafilosó­fico». O tema da Morte e da Imortalidade éum dos tó­picos recorrentes, como o são tambémo do sofrimento (a Dor) e o otimismo (a Alegria);odaGraçaeodoExemplodeCristo;odarelaçãoEspírito­Matéria,contestandoomaterialismoseco,sem alma; e o da relação Ação­Palavra.

A variedade de temas e a abrangência de dis­ciplinas abordadas na obra de Leonardo Coimbrafaria pensar em alguma dispersão, incoerência eeventual vulgaridade daquele que segue ao sabordovento.Porém,àmedidaqueoleitor(esforçado)seadentrarnaobra,descobriránelaofiocondutorque une todos os textos, de início aparentementedispersos.

Dissemos na introdução deste Essencial queexistem várias figuras em Leonardo e dissemostambém que elas se cruzam e confundem porquetodascorremparaomesmofim.Tentaremosresu­mir o essencial de cada uma delas, cabendo aoleitornotarondeelassecruzam,procurandoassiminiciar­se na procura do fio condutor da sua obraedasuavida—porque,emLeonardoCoimbra,asduasestãoclaramentecomprometidas.Opolítico,ofiló­sofoeooradorqueencontramosemLeonardoconcorrem para uma visão coerente e dinâmicada realidade, concebida como uma extraordináriaexperiência de elevação à plena revelação e reali­zação do Amor, que é Deus.

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O Político/O Reformador Social

Leonardodiz,numaentrevistade1923,jábas­tante entrado na vida política, tendo sido já porduasvezesnomeadoministrodaInstruçãoPública:«Venho fazer política de conciliação. Congregartodos os portugueses que valham alguma coisa,dentro da República.»2 Na política de LeonardoCoimbra misturam­se moral e pedagogia. Oseuesforço político ia no sentido de contestar adesonestidade administrativa que minava o País,como ia também no sentido de ensinar o amore o respeito ao lugar de cada um. Numa outraentrevista, diz Leonardo que «a minha política éa pedagogia», e completa: «Percebam que só­ porincidente [...] me meto na política: não me pisemque não lhes farei sombra política.» A militânciapolítica de Leonardo é o contrário do que hoje

2 COIMBRA,Leonardo,Obras Completas,vol.vi,«[EntrevistaaojornalNovidades(Porqueregressaàpolítica?)]»,Lisboa,INCM,p.105.

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é mais costume ser: total recusa do poder e daautoridadeper si.Alémdomais,apolíticadeLeo­nardo Coimbra é uma política de reconciliação etolerância. O esforço político de Leonardo vai, naverdade, de encontro a uma exigência de ordemmoral: a de uma organização social ascendendoa um plano ético superior. Por esta razão, aliás, ofiló­sofo desacreditaria as insignificâncias ociosasda vida política partidária. Tanto assim que, paraalém de se ter aproximado e desaproximado deváriastendênciaspolíticassemnuncaencontraroseulugar,ironizoutambémacercadecertoludismoda organização política, dizendo que esquerda  edireita sãocoordenadasdoespaçoenãorealidadespolítico­sociais3.

Desde o início das suas manifestações polí­ticas, Leonardo procurou assinalar que o Repu­blicanismo deveria surgir não apenas comoumareformainstitucional,masdeveriatambémsurgircomoumareformasocial,queprocurassea aculturação cívica do povo. A cumprir estedesígnioteremosomestreeoorador.Aquestãoda educação teve um destaque primordial nosdebateseintervençõespúblicasrepublicanasqueaconteceramnasúltimasdécadasdaMonarquia.Considerava­seentãoqueaeducaçãoeraomeiodeprogressosocialecivilizacionalmaisfecundo.Os altos níveis de analfabetismo limitavam umaconsciência cívica, de uma fraternidade ordená­veleplanificável.Avalorizaçãodapedagogia,da

3 Idem,ibidem,«[EntrevistasobreoEnsinoReligioso]»,Lisboa,INCM,pp.75­76.

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sociologia e da psicologia, notada nesse períododo final do séculoxix, explica­se pela crença namudança que a educação inspirava. O empenhoem fazer chegar ao povo lições de uma histó­riae de uma memó­ria comuns foi um dos marcosda ideologia republicana. Este esforço serámarcadamente também de Leonardo Coimbra.Na verdade, o comprometimento educativo epedagó­gico do filó­sofo andou a par do seu com­prometimento político. Veja­se como o impulsopara a criação de escolas populares, como a dosAmigos do ABC, decorre a par de um crescenteinteresse pelas questões políticas, mesmo quea ideologia de Leonardo fosse, de início, maispró­xima do anarquismo. Na verdade, nunca dei­xou de o ser, se não tomarmos o anarquismo deLeonardo como o anarquismo ortodoxo do finaldoséculoxix.OanarquismodeLeonardonãosedetinhanavulgaridade,noegoísmoenosolipsis­mo do Eu— o anarquismo de Leonardo não eraa apologia da desordem mas o seu contrário: aapologia da Justiça, tendo como base axioló­gicaaLiberdade.Nestesentido,aposturapolíticadeLeonardo foi sempre fiel ao anarquismo que, deinício, por ele chamava. Os programas políticosvaliam, afinal, apenas como uma ajuda para oesforço de verdadeira ascensão à Unidade, parao qual a vida religiosa realmente apelava. A vidareligiosa foi, para Leonardo Coimbra, a vida demaior valor, e a política cumpriria o seu papelna medida em que auxiliasse numa melhorcompreensão,numamelhordisposiçãoindividuale social para essa elevação. A educação, natural­mente, cumpre aí um papel decisivo.

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Foi,então,naorientaçãoeducativaepedagó­gicaque a intervenção política de Leonardo teve maisrepresentação, tendo sido ministro da InstruçãoPública por duas vezes, uma em 1919 e outra em1922. O problema que determinou o insucessopolíticodeLeonardofoijustamenteofactodeterfeitoconviverdeperto,noseupensamento,avidareligiosaeaeducação.Tendopensadonaeducaçãocomoumaorientaçãoerotaparaumaéticasupe­rior que iria ter à religião, defendeu a liberdadede pensamento, querendo isto significar que nema educação poderia estar rigidamente submetidaa uma ortodoxia estática e castradora, nem elateria necessariamente de estar desassociada deuma ortodoxia determinada, se esta respirasseo espírito democrático que permitia a sua livredifusão. No que ao primeiro caso diz respeito, oministro criou polémica com a transferência daFaculdade de Letras de Coimbra para o Porto; noqueaosegundocasorespeita,crioupolémicacomadeliberaçãodaliberdadedeensinoreligiosonasescolas privadas.

A resolução sobre a transferência da Facul­dade de Letras de Coimbra para o Porto — maiscorreto será pensar na extinção da Faculdade emCoimbra e da sua criação no Porto — tinha emvista libertar o ensino das humanidades de umacerta intemperança, conservada ainda por certasfações da Igreja Cató­lica. O ministro consideravaque o contexto  histórico e uma influência  de  uma monarquia‑clerical centradaemCoimbradeturpa­vam,chegandomesmoapôremrisco,osprincípiosrepublicanos.Claroqueumapartedaelitecató­licase sentiu insultada, mas, apesar de polémica, a

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deliberaçãofoiaprovada.AFaculdadedeLetrasdaUniversidade do Porto estaria em funcionamentoentre o ano letivo de 1919­1920 e 29 de julho de1931, tendo a Faculdade sido suprimida por umdecreto de abril de 192�. O ensino das Humani­dades na cidade do Porto viria a ser recuperadoapenas em 1961.

Entretanto, na primeira faculdade ter­se­iamformado167alunos.Mas,paraagravarapolémica,estes alunos tiveram como professores pessoasselecionadas por Leonardo Coimbra. Leonardoreuniu um grupo de professores, resultado deum recrutamento entre o grupo de só­cios da Re­nascença Portuguesa, entre professores do LiceuGil Vicente e entre estagiários da Escola NormalSuperior.Ofactodealgunsprofessoresnãotereminstruçãoformaledetodoocorpodocentenãoterprestadoprovasdeconcursofezadeliberaçãosoara fraude e levou à indignação do meio académiconacional. Na verdade, não se tratava de fraude,tratava­se antes de libertar um ensino de certasdoutrinas estagnadas e de o fazer conviver comdisposições mais em consonância com o espíritodemocrático.DogrupodedocentesdessaprimeiraFaculdade de Letras destacam­se: Teixeira Rego,Aarão de Lacerda, Newton de Macedo, a par dopró­prioLeonardo.DessaFaculdadesairiamdiscí­pulos como Álvaro Ribeiro, José Marinho, DelfimSantos e Agostinho da Silva.

A segunda polémica perpetrada por Leonardoenquanto ministro, a da decisão que homologavaa liberdade de ensino nas escolas privadas — quenãofoiaprovada—,obedeciaaomesmoprincípiopeloqualseregiaadecisãodacriaçãodaFaculdade

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deLetrasdaUniversidadedoPorto:afidelidadeaoespírito democrático. O ensino religioso era, paraLeonardo,perfeitamentelegítimoeemnadaafeta­vaoespíritodemocrático,pelocontrário,atéopro­tegia, desde que fosse verdadeiro e não traiçoeiro(comoLeonardoCoimbraconsideravatersidoemCoimbra). Nesta polémica, o ministro não teve jáde enfrentar a elite cató­lica, mas os seus partidá­riosrepublicanosqueconsideravamincompatíveisa religião e a ciência. Uma fação substancial dosrepublicanosvirasempreareligião,emparticulara religião cató­lica, como um inimigo declarado.Leonardo, no entanto, procurava desfazer estefantasma e o falso equívoco da incompatibilidadeentre a religião e a ciência. A liberdade do ensinoreligioso dava prova da fidelidade ao verdadeiroespírito democrático. A não aprovação da medidalevouaopedidodedemissãodocargodeministro.Desistir da liberdade de ensino era, escrevia Leo­nardo, «mentir à minha consciência de filó­sofo eao meu carácter de homem verdadeiro e leal»4.

Esta cisão entre Leonardo e alguns republica­nos, bem como aqueloutra entre Leonardo e umafação estagnada da ortodoxia, dão bem conta doidealismo do filó­sofo a lutar contra o fundamen­talismo oco. Afinal, o livre­pensamento de algunsrepublicanosnãopassava,comoonotouLeonardoCoimbra,deumdogmatismoateístaematerialista,quenãosepoderiarevelaroutracoisasenãovazio.Omaterialismonãopoderiasobrepor­seaohomem

4 Idem,Obras Completas,vol.v,t.i,«[Cartaderenúnciaaoman­datodedeputado]»,p.214.

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de carne e osso. Essa seria a postura de um puroformalismo democrático, sem alma; seria a gno­siologia mecanicista a mortificar a antropologialeonardina — a ciência não era, para Leonardo, aobjetividade esterilizada, mas sim uma disciplinacommotivaçõesmoraiseespirituais.EmLeonardo,agnosiologiaestámuitopró­ximadarelaçãoamoro­sa,porque,paraofiló­sofo,conhecerimplicaamar.A divergência entre Leonardo e alguns dos seusopositores assinala a diferença entre uma razãoimó­veleumarazãoexperimental,conceito­síntesede Leonardo que abrange o seu pensamento emdiversas áreas.

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O Mestre/O Filósofo

É possível que seja um requisito do Mestrecriar discípulos, e é também possível que seja umrequisitodoverdadeiroMestrenãoosquerer.Peloque temos já dito sobre a liberdade de ensino,compreender­se­á com facilidade que LeonardoCoimbra não era o tipo de Mestre que procuravacriardiscípulosdaquelesaquemsedefinhaaauto­nomiadopensamentoatéquesetornemcó­piasdoseu professor. Leonardo Coimbra era o contráriodesse Mestre; era o Mestre que incitava tão mar­cadamente à liberdade, que chegava ao ponto deter como objetivo que os seus discípulos fossemcapazes de o desacreditar. Escreveu um alunoseu,recordando­o:«LeonardoCoimbra[...]fez­medescobrir,graçasàsuaeloquênciadelágrimasnosolhos, a sociedade dramática da existência. Masteve acima de tudo esta extraordinária virtudepedagó­gica: a de me ensinar o contrário do quepretendia [...] Quer dizer: ensinou­me a ser livre.E é, no fim de contas, este gosto a liberdade, em

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mim sempre ligado à ideia do Liceu Gil Vicente,que mo torna tão grato e tão querido.»5

Referimos, acima, alguns dos discípulos deLeonardo, emergidos da Faculdade de Letras, aosquaisagoraacrescentamosalgunsoutros,formadosno âmbito da Renascença Portuguesa: Antó­nioQuadros,Antó­nioTelmo,OrlandoVitorino,AfonsoBotelho e Antó­nio Braz Teixeira. Estes, os maisconhecidos, porque muitos foram os que ficarammarcados pela sua presença. A começar, desdelogo, por aqueles que fizeram parte dos Amigosdo ABC, o projeto educacional dirigido às classestrabalhadoras,comsedenaRuadaFábrica(Porto),quesededicavaaalfabetizaroperários.Ofocoera,formalmente, a alfabetização, mas, idealmente,atingiatambémadifusãodosvaloresanarquistas.IstoporqueLeonardosepropôs,desdeoiníciodasuafunçãodeprofessor,mestreepedagogo,acon­ciliar o ensino dos aspetos formais com o ensinodos aspetos ideoló­gicos. Desde os textos escritospara A  Águia, Leonardo mostrou a sua vontadede contribuir para um Estado Republicano capazde reformular e moralizar as suas instituições.Ostextossobreareformadoensinoedaeducaçãoincidiam,desdeoinício,comparticularênfase,naeducação ética. Leonardo Coimbra defendia queeraprecisoensinaraluzdoespíritoenãosomente

5 FERREIRA,JoséGomes,depoimentoqueconstadoBoletim dos Antigos Alunos do Liceu Gil Vicente.Cf.AA.VV.,Leonardo Coimbra,  Testemunhos  dos  Seus  Contemporâneos, coordena­ção de Sant’Anna Dionísio, Porto, Livraria Tavares Martins,1950.

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as letras do alfabeto. Só­ à custa da luz do espíritopoderia um discípulo contrariar o mestre; apenascom as letras, o pensamento definharia no for­malismo oco — mas claro, sabia­o bem Leonardo,as letras nunca vêm só­s. Formalismo e idealismoajudam­se um ao outro — isto era essencial queo seu auditó­rio percebesse. Leonardo incitavaao desenvolvimento de consciências instruídas elivres:«Livresefortes,sejamossimples,verídicose indagadores.»6

Foi tendo isto em mente, que aceitou o cargodediretordoColégiodosÓrfãosdeBraga,logoem1911,masdoqualsedemitiuporseincompatibilizarcomapolíticaeducativadainstituição,quelhelimi­tavaaaçãoeoimpediademodificarosineficientesmétodospedagó­gicos.Encontrouaíomesmovícioefundamentalismoimoderadoqueviriaacontestar,anosmaistarde,naFaculdadedeLetrasdaUniver­sidade de Coimbra. Leonardo Coimbra defendeuumaeducaçãointegral,formadoradeconsciênciasresponsáveis, atentas e livres, onde o cristianismoteve sempre um lugar especial.

No início como no fim, Leonardo Coimbramanteve­se fiel aos valores que considerava fun­damentais.Todavia,énecessárioteremcontaqueestesvaloresforamensinadosnasaladeaulamastambém nos textos escritos e nos discursos orais.A obra do pensador dá­nos um sistema filosó­ficounitário e amplo (sem ser totalizador), integral econsequente, que procurou oferecer resposta às

6 COIMBRA,Leonardo,Obras Completas,vol.i,t.ii,«OCriacio­nismo»,Lisboa,INCM,p.37�.

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ansiedades que preocupavam Leonardo Coim­bra— que eram tanto de ordem epistemoló­gicae gnoseoló­gica como de ordem antropoló­gica, oude ordem moral e religiosa. A filosofia leonardinacorresponde à necessidade de unir integralmenteaspartes,tendencialmentedispersas,comosejamarazãoeaexperiência,oabsolutoearealidade,aforma e a matéria.

Ocupa,noseutrabalho,lugarcentralaLiberda­de,nomeadamentenadefiniçãodarotaparaaJus­tiça,sintomadaUnidadedeAmorquecobreoUni­verso.AfilosofiadeLeonardoCoimbraassumiu­se,desdeoinício,antesemesboçoedepoisdeformamaismetó­dicaapartird’O Criacionismo,comoumafilosofia da liberdade, procurando uma atividadecó­smica progressiva e criadora. OCriacionismo éuma filosofia do conhecimento, mas também ummétodo de libertação, porque se apresenta comoprocura de uma metafísica moral e religiosa, comênfasenaaçãohumana—naaçãohumanadoho­mem de carne e osso. Mesmo a moral, por vezestendente ao idealismo, é, em Leonardo Coimbra,nãoobstanteamanifestainfluênciakantiana,ter‑rena. «Com Leonardo, todas as categorias moraiskantianas descem do céu estrelado à terra, tendoemcontaohomemdecarneeosso,ohomemquevive,quesente,queamaequesofre,naconcretudeda vida, mas que tem esperança e fé, não só­ narazão, como na sua abertura ao absoluto.»7  A an­

7 COSTA, Antó­nio Martins da, O  Pensamento  Filosófico  Portu‑guês Contemporâneo. A Receção de Kant em Leonardo Coimbra,Porto,UCE,2012,p.1�.

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tropologiadeLeonardoCoimbraconcebeohomemcomoumprincípioativo;nãocomomatériainertedeummundofeito,mascomocriadorativodeummundo que se vai (re)fazendo. Toda a conciliaçãoentreteoriaepráticaqueressoanoseupensamen­to e na sua obra está submetida a este princípio.Acadahomemcabealealatençãoquelhepermitedar resposta ao seu singular lugar na existência.Na antropologia de Leonardo Coimbra, atençãoe ação, pensar e ser não estão dissociados, não hádualidade de oposição entre ambos — na mesmapessoa, ser e pensar convergem para o mesmolugar: o lugar de cada um. Mas esse lugar de cadaum tem, para Leonardo, um comprometimentodireto com a ordem do Verbo.

O personalismo cristão do seu pensamento,detetável pelo menos desde 1912, torna claro queas diretrizes da sua antropologia são a dignidadee a liberdade humanas. Para Leonardo Coimbra,o homem não é apenas um indivíduo, enformadopor uma moral utilitarista e pelo egoísmo, mas éentendidocomopessoa—noçãosuperiorque,en­quantosíntese,remetesempreparaoutraspessoas:cadapessoaéumadependênciadeoutraspessoas.Apessoaéumamanifestaçãodocondicionamentoe da reciprocidade, implicados no movimento darelação.Adignidadeealiberdadehumanasreme­tem justamente para a convivência implicada nanatureza da pessoa: a solidariedade da sociedadecó­smica atribui à pessoa um lugar insubstituível,invioláveleautó­nomo.Napessoaressoaotododoser plural, sem que, contudo, se perca a unidade.Há, pois, um sentido có­smico na antropologialeonardina. Não obstante a pluralidade de onde

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emergeapessoa,nela,osdualismoseascontradi­çõesesvanecem,tantomaisnomomentosuperiorda Graça, que traz à pessoa a presença universal,segura já, no colo de Deus.

Quando falamos da liberdade leonardina nãofalamos, pois, meramente de um direito cívico,mas de uma condição ontoló­gica para a aventurahumana, cuja qualidade primeira — a humani­dade— aponta para Deus, a unidade no amor.Desde O Criacionismo, a relação do filó­sofo comDeus é uma relação de confiança, embora nãotenha sido sempre um ato de fé. Mas a virtudede uma vida moral é sempre central a todos osdiscursos de Leonardo. O  sistema criacionistasurgia como contraveneno do positivismo ocoqueobumbravaaAcademiaetraziaumarespostaequilibradaparaacooperaçãodomaterialismoedoespiritualismo.ArelaçãoCiência­Metafísicaéumarelaçãonucleardaobradofiló­sofo.Ocriacionismoafirmava­se como uma atividade do espírito quepretendia sínteses cada vez mais convergentes,contrariandoosolipsismoestérildecertainvesti­gação científica (o cousismo), aproximando­se deuma unidade integrativa da pluralidade. O pensa­mentodialéticodocriacionismonãoémeramenteló­gico: implica o esforço de encontrar acordo nasrelações da experiência. Agnoseologia leonardinaimplica a interação entre razão, intuição e rea­lidade. É dessa interação que resulta uma razãocriacionista,depoisrenomeada,razão experimental.Não uma razão imó­vel e cousista, mas uma razãodinâmica,criacionistaeexperimental.Esteesforçode acordo entre a razão e a experiência percorretodaaobradofiló­sofo,namedidaemquesealas­

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tra à insistência do acordo (e não da dissonância)entreaaçãoeopensamento,amatériaeaideia,ocorpo e o espírito, a palavra e o significado. Destaforma,asatividadespropostaspelocriacionismo e,depois, pela razão experimental  notam uma fortedimensão hermenêutica e semioló­gica, porquelevantam também o problema da análise de con­ceitos e de símbolos.

Considerandoqueamatérianãosedissociadoespírito, e o mundo (a conceção dele) não existesem pensamento (a matéria é uma determinaçãoda dialética do pensamento), torna­se possível,porextensão,conceberumaalmaparaomundo:amatériadeixadetersentidosemumdirecionismo, sem um finalismo, afinal. Leonardo terá certeza,inicialmente, que a qualidade (o valor) se sobre­põe à quantidade (o facto), mas tornar­se­á, maistarde, explícito e revelado que o finalismo superao  determinismo.

A originalidade do pensamento de Leonar­do Coimbra convive de modo dinâmico com opensamento de pensadores como Kant, Bergson,Renouvier,Hamelin,Boutroux,entreoutros.Aliás,auniversalidadeeanovidadedopensamentodofi­ló­sofoportuguêsficam,porventura,maisclarasemcomparaçãocomoutrossistemasfilosó­ficos:«ParaalémdeHamelin,Leonardoafirmaaactividadedoespíritocomomeramentefuncionalesintética,nasuapalavra,criacionista.ParaalémdeBrunschvicg,admiteumDeuspessoal,princípioefimdetodoomovimento do Universo. Contra Bergson, reivin­dicaovalordainteligênciacomofaculdadedoser,mas, com ele, caminha para Deus através da acti­vidade moral, que é vida de aspiração e desejo da

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Justiça,daBondadeedaBelezaabsolutas,atravésdo sentido do Mistério, da participação no Todo,no fim de contas, através de uma velada intuiçãode um querer heró­ico.»� A originalidade do seupensamentodeve­se,naopiniãodeumdosinves­tigadores da obra leonardina, à junção que o seusistemaestabeleceentreoidealismofuncionalista,dialéticoesintéticoeointuicionismometafísicodecariz moral, que sustenta a hipó­tese plausível daexistênciadeDeus(Deus‑CriadoreDeus‑Infinito‑‑Amor).OideorealismodeLeonardoCoimbrauneem si natureza e histó­ria, natural e sobrenatural,razão e Revelação, teologia e Fé9.

Como podemos compreender, a defesa daliberdade, de consciências livres, o integralismodosmeiosformaisdoconhecimentocomosapelosdo sentir que o dirigem — e o sentir é, não meraemoção,masprofundaatençãodasrelações—sãoencontrados na filosofia de Leonardo Coimbra eorientam as suas motivações pedagó­gicas. A coe­rência que a pessoa de Leonardo Coimbra sugerefará jáo leitor imaginarquetambémnafiguradoorador encontramos estes pressupostos. É certo,mas talvez a particularidade do orador seja aprogressiva proximidade que faz notar entre opensamento e a vida de Leonardo e a ideia definalismo.

� ALVES, Ângelo, O  Sistema  Filosófico  de  Leonardo  Coimbra. Idealismo  Criacionista, Porto, Livraria Tavares Martins, 1962,p.240.

9 Idem,Leonardo Coimbra 1983­‑193­6,Porto,EstratégiasCriati­vasEditora,2007,p.37.

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O Orador/O Homem Espiritual

LeonardoCoimbranãofoiumsimpleserudito,umdaqueleshomens,comoàsvezessefazem,quesão enciclopédias incapazes de ligar as entradasque as compõem. O conhecimento que Leonardocolecionou apareceu sempre relacionado com e atentardarrespostaàssuasansiedadesexistenciais.Afilosofia,aciência,ateologiaealiteratura—parareferirapenasosgrandesramosdosaber—foramáreas profundamente exploradas pelo filó­sofo,mas com um impulso que se mostrava repassadopelaemoçãoepelaexperiênciapessoal.Oesforçode Leonardo brotava tanto da sua mente quantodo seu coração. Foi, aliás, a ânsia do integralismoque confirmou a atração de Leonardo pela filo­sofia — Leonardo manifestou, de início, algumaindecisãoentreacarreiraliteráriaeafilosó­fica—,entendendoestacomoadisciplinadoacordo,porexcelência.ConsiderouafilosofiacomoomaisaltotestemunhodoUniversoedoseuvalor,poiseraadisciplinamaisamplamentehumana,peloesforçode guardar de modo integral todas as realidades

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có­smicas.Porém,aproximidadecomoutrasáreasdosaber,nomeadamentecomaliteratura,marcoumanifestamente o seu discurso e pensamento.Orientado pela sedução da literatura, o seu dis­cursoéestilisticamentemuitoexpressivoemuitovivo e rico ao nível da eloquência; a sua retó­ricaéoragraveecontundente,oraleve,graciosaese­rena. O talento retó­rico de Leonardo Coimbra foie é ainda hoje muito reconhecido. Mas, hoje, elelê­senostextos;notempodeLeonardo,aconteciaà frente do auditó­rio.

Alguns escreveram que Leonardo era melhororadordoqueescritor;e,ajulgarpelosperió­dicosda época, não havia, então, génio mais completo.Também havia os que o denunciavam como so­fista; e continuaram (porventura continuam) aexistir,depoisdasuamorte.TalvezatépossamosconsiderarLeonardosofista,massó­seaceitarmoscomosofistaaquelecujodelitomaiorénãoliber­tar os seus opositores com facilidade e ligeireza.Torna­se, aliás, demasiado iró­nica esta acusação,quando é dirigida àquele que não só­ desprezouo verbalismo como procurou ensinar os outrosa detetá­lo. Estaria o louco a incriminar­se a elemesmo?

Leonardo tinha plena noção das suas quali­dades orató­rias; mas, acima de tudo, tinha umaconfiança assombrosa na sua honestidade. Isto oleva a anunciar, na apresentação d’A  Filosofia  da Liberdade (1912):«EutragooevangelhodaLiber­dade. Pequeno, simples e humilde, mas esforçadoesincero.Liberdadeamorosaecriadora,pormimem mim procurada, não liberdade recebida por

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graçadeDeusoumercêdoshomens.»10Asegundapartedaafirmação,adoesforçopró­priosemgraçade Deus, será depois por ele pró­prio retificada;mas a primeira manter­se­ia sempre. Só­ que, al­terando a segunda, também a primeira parte sealtera: a liberdade além de amorosa e criadoratornava­se, entretanto, uma liberdade humilde efinalista. Afinal, o esforço podia ser do pró­prio,mas o único sítio onde podia ir ter era orientadopela Graça de Deus.

Leonardo Coimbra foi um inquiridor persis­tente, elevando­se a uma síntese cada vez maiscoerenteeintegradora,nãoobstanteaabrangênciade tó­picos do seu sistema filosó­fico, ao mesmotempo que aprofundava de um modo resolúvela condição humana e a realidade universal. Umsistema cada vez mais rigoroso e inderrubável,que superava os ataques, tornando­se cada vezmais íntegro, era a prova do que havia de maishumano em Leonardo Coimbra. O que é pró­priodo espírito humano é tirar conclusões, e quemas tira de modo imediato (afinal inconclusivo),pronto a substituí­las por outras é apenas umímpio, caindo à força da corrente, desistindo da(re)conquista da verticalidade. Pelo contrário, osistemadeLeonardoCoimbraéaprovadessees­forçodeverticalidade—énessesentidoqueé,nofim,umsistemaíntegroeenglobante,assombrosa­mentehonesto,comopoucoshumanosconseguemser. A verticalidade do filó­sofo deve­se talvez à

10 COIMBRA, Leonardo, Obras  Completas,  vol.i, t.i, «A filosofiadaliberdade»,p.292.

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mais pura das coisas: a crença no real. Os falsospensadores negam­no e reformam­no; Leonardo,como vimos, sempre procurou recuperá­lo. Paraofiló­sofo,aconvivênciadosseresedascoisasnoUniversonãoéumameraanedota,mastemopesoda  relação — neste sentido foi sempre Leonardoumhomemreligioso.Só­queaquiloque,deinício,aparentava ser uma espécie de panteísmo foi terao personalismo cristão.

Não haverá, neste Essencial, espaço paraanalisar os discursos, muitos deles publicados,do orador Leonardo Coimbra. Todavia é precisodeixar uma imagem do impacto que o pensadorprovocou. Sobretudo os discursos da fase finalsugeremumhomemadmiravelmenteesclarecido,revelado, que suspende o auditó­rio pelo reptode claridade que faz vislumbrar. O criacionismoe a razão experimental  são nomes do percursoque Leonardo Coimbra faz até à humildade daortodoxiadocatolicismo,àhumildadedeacatar,sem reticências, à Verdade — porque a Verdadenão é uma coisa criada pela vaidade de um inte­lecto singular, mas a luminosa e simples adesãoaoreal.Aadesãodofiló­sofoàortodoxiacató­licaconfirmava suspeitas que se faziam sentir ( jáantes mas), pelo menos, desde 1922. LeonardoCoimbraé,comoG.K.Chestertonescreviasobresi,ohomemque,comamaiorousadia,descobriuaquiloquejáforadescobertomuitoantes.ÂngeloAlvesdefendequeLeonardoCoimbranãoperdeoriginalidade na adoção da doutrina cató­lica— particularmente na adoção do ideorealismoaristotélico­tomista —, mas apenas talvez umacerta propriedade filosó­fica. Isso, porém, para

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ganhar a solidez da uma tradição mais pere­ne— milenarmente perene 11.

AmortedeLeonardoCoimbraestáenvoltaempolémica—primeiro,porqueafiguradeLeonardoestevesempremaisoumenosenvoltaemalguma,segundo, por causa da sua recente adesão à orto­doxia cató­lica — mas o seu percurso aponta paraa serenidade da certeza. Por isso, uns anos antes,se havia Leonardo arrependido dos insultos aosseus opositores, dos amargos conflitos geradospela ansiedade e angústia perplexantes. O medogerafrustraçãoetirania;acertezageraserenidadeeperdão.Libertodasdúvidas,Leonardoabria­seàAlegriadacerteza.Mais:àGraçadacerteza;porqueaGraçaéoretornoserenoàAlegriainicial.Entrea Alegria e a Graça situa­se a Dor, esse momentoque assinala a consciência do mal, a consciênciada desarmonia dos seres — porque o mal só­ podeser a separação. Como ensinou o filó­sofo, vencera Dor é refazer a harmonia; a vitó­ria é obra doamor:relaçãorecuperada,maisíntegraeinabaláveldo que alguma vez foi. A Dor existe para revelarDeus,porqueexigeumaatençãoprofundaàsrela­ções partidas do mundo — é ela o grande sinal deuma desarmonia saudosa de unidade. A verticali­dadedopensador,sustentadapelasuahonestidadee pela sua humildade, fê­lo ir ter ao caminho unoeúnicodoamor:hámuitasformasdevergar,massó­ uma (a cada um a sua) de permanecer em pé.A conversão de Leonardo Coimbra é o momento

11 ALVES, Ângelo, Leonardo  Coimbra  1983­‑193­6, Porto, Estraté­giasCriativasEditora,2007,pp.37­3�.

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máximo da afirmação daquilo que já vinha muitosugerido n’A  Alegria,  a  Dor  e  a  Graça: que o malé o mau uso da liberdade — o mal pertence aoplano ético e da ação, não ao plano ontoló­gico, aoqual pertence somente o bem. Foi no socorro daGraçaenainfinitapiedadedeJesusqueLeonardoCoimbra encontrou a resposta que solucionavamaisquestões.E,porventura,teráchegadoaofima pensar que tinha apenas feito o caminho quemuitos outros, antes dele, tinham já feito. Foi aíque encontrou o Homem  de  sempre, a mais eleva­daexpressãodohumanismocristão. Umacidenteabruptotira­lhe,então,avida.OuteriasidoDeusa abrir a porta à qual Leonardo tinha batido.

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Conclusão

Leonardo Coimbra escreveu que «nenhumpovo tem o direito de abandonar os seus homensde mais alto espírito à simples admiração passivados que nas memó­rias somente trazem a lista deseusnomes»12.Nãovaledenadasaberonome,senão se conhece o homem e a sua ação. É precisodisponibilizar alguma atenção àqueles que tantodisponibilizaram por nó­s. É possível que o nomede Leonardo Coimbra pereça; de certa forma, édesejávelquepereça,porque,opró­prioLeonardoconcordaria,nãoéohomemquedevepermanecer,mas a luz que este recuperou para seus irmãos.LeonardoCoimbramorreuemplenoêxtasedasuaação,asualuzconfundiu­secomamaioreeternaluz. É a essa que devemos ir ter — tanto melhor,se com a ajuda da luz dele: o seu esforço não terásido em vão.

12 COIMBRA,Leonardo,Obras Completas, vol.iv,«Opensamentofilosó­ficodeAnterodeQuental»,p.333.

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Pelo que temos dito, neste Essencial sobreLeonardo Coimbra, torna­se manifesto que estefoi uma figura maior do nosso país e da nossanacionalidade, marcante no período capital daformação da jovem República, embora, em parte,abandonadoporela.Talvezporissosejaessencialconhecê­lo: a Histó­ria está mais pró­xima do que,porvezes,possaparecer,eajovemRepúblicatalvezainda não tenha dado provas de ser uma senhoramadura e hábil — porventura deve ainda escutaros seus pais. A República é uma menina que setornará senhora, e, como escreveu Leonardo, assenhorastêmdesertratadascom«umfinotacto,uma comovida e enleada delicadez [sic]  e muitoenternecimento»13. Foi esse trato que LeonardoCoimbra procurou ensinar. E não será, agora, es­tranhoverosfilhosdaRepúblicavirarascostasàsuamátria,numapátrianossaquetemasaudadecomo o ímpeto de levar no peito o amor do lar?

13 Idem,Obras Completas,vol.iii,«Aalegria,adoreagraça»,p.61.

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Bibliografia essencial

I — Principais edições da Obra de Leonardo Coimbra

COIMBRA, Leonardo, Obras  Completas,  vols. i­viii, Lisboa,INCM, 2004­2014. Conselho científico da UniversidadeCató­licaPortuguesa,CentroRegionaldoPorto;coordena­ção científica por Ângelo Alves.

____, Cartas,  Conferências,  Discursos,  Entrevistas  e  Biblio‑grafia  Geral,  Lisboa, Fundação Lusíada, 1994; org. porJ.Pinharanda Gomes.

____, Dispersos,  vols. i­iii, Lisboa, Editorial Verbo, 19�4­19��.COIMBRA,Leonardo,Obras de Leonardo Coimbra,2vols.,Porto,

Lello e Irmão — Editores, 19�3.

II — Obras de referência sobre Leonardo Coimbra

AA.VV.,Leonardo Coimbra. Testemunhos dos Seus Contemporâ‑neos,Porto,LivrariaTavaresMartins,1950;pref.eorg.porSant’Anna Dionísio.

____, Actas  do  Colóquio  Leonardo  Coimbra.  No  Centenário  da Sua  Morte, Lisboa, ed. Didaskalia, 19�9.

____, Nova  Águia, n.º 10,  «Leonardo Coimbra», Sintra, Zéfiro,2012.

____, «Leonardo Coimbra. No centenário de O  Criacionismo»,in Humanística  e  Teologia,  t.xxxiv, fasc.2, dezembro de2013, Porto, UCE.

ALVES, Ângelo, O  Sistema  Filosófico  de  Leonardo  Coimbra. Idealismo  Criacionista, Porto, Livraria Tavares Martins,1962.

____,Leonardo Coimbra 1983­‑193­6,Porto,EstratégiasCriativasEditora, 2007.

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COSTA,Antó­nioMartinsda,O Pensamento Filosófico Português Contemporâneo.  A  Receção  de  Kant  em  Leonardo  Coimbra,Porto, UCE, 2012.

____, «Problemas fundamentais na gnoseologia bergsonianaeleonardina»,inRPF, vol.69,fasc.2,Braga,2013,pp.351­376.

CUNHA, Norberto Ferreira da, «Leonardo Coimbra e a1.ªRepública», in AA.VV., Figuras   da  Cultura  do  Porto nas  Comemorações  da  República, Porto, CNC, 2013,pp.107­174.

FAVA, Fernando Mendonça, Leonardo  Coimbra  e  a  I Re‑pública —  Percurso  Político  e  Social  de  Um  Filósofo,Coimbra,ImprensadaUniversidadedeCoimbra,marçode 200�.

MARINHO,José,O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra,Porto, Livraria Figueirinhas, 1945.

NATÁRIO, M. Celeste, O  Pensamento  Dialéctico  de  Leonardo Coimbra, Amarante, Edições do Tâmega, 1997.

PATRÍCIO,ManuelFerreira,A Pedagogia de Leonardo Coimbra. Teoria  e  Prática, Porto, Porto Editora, 1992.

PIMENTEL,ManuelCândido,Filosofia Criacionista da Morte: Meditação sobre o Problema da Morte no Pensamento Filo‑sófico  de  Leonardo  Coimbra, Ponta Delgada, Universidadedos Açores, 1994.

____,A Ontologia Integral de Leonardo Coimbra — Ensaio sobre a  Intuição  do  Ser  e  a  Visão  Enigmática, Lisboa, INCM,2003.

PINHO, Arnaldo de, Leonardo  Coimbra.  Biografia  e  Teologia,Porto, Lello & Irmão, 1999.

RIBEIRO,HenriqueJales,Estudos sobre a Filosofia na Europa e  em  Portugal,  Vol. II,  Leonardo  Coimbra  e  a  Filosofia  na Europa do Seu Tempo,Coimbra,EdiçõesMinervaCoimbra,dezembro de 2015.

SANTOS, Alfredo Ribeiro dos, Perfil  de  Leonardo  Coimbra, Lisboa, Fundação Lusíada, 19��.

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SANTOS,Delfim,Actualidade e Valor do Pensamento Filosófico de  Leonardo  Coimbra, Porto, Publicações do Centro deEstudos Humanísticos, 1956.

SPINELLI,Miguel,A Filosofia de Leonardo Coimbra. O Homem e a Vida. Dois termos da Sua Antropologia Filosófica,Braga,Publicações da Faculdade de Filosofia, 19�1.

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O Essencial sobre

1 Irene Lisboa Paula Morão

2 Antero de Quental Ana Maria A. Martins

3 A Formação da Nacionalidade

José Mattoso

4 A Condição Feminina Maria Antó­nia Palla

5 A Cultura Medieval Portuguesa (Séculos XI a XIV) José Mattoso

6 Os Elementos Fundamentais da Cultura

Jorge Dias

7 Josefa d’Óbidos Vítor Serrão

� Mário de Sá Carneiro Clara Rocha

9 Fernando Pessoa Maria José de Lancastre

10 Gil Vicente Stephen Reckert

11 O Corso e a Pirataria Ana Maria P. Ferreira

12 Os «Bebés-Proveta» Clara Pinto Correia

13 Carolina Michaëlis de Vasconcelos Maria Assunção Pinto Correia

14 O Cancro José Conde

15 A Constituição Portuguesa Jorge Miranda

16 O Coração Fernando de Pádua (2.ªedição)

17 Cesário Verde Joel Serrão

1� Alceu e Safo Albano Martins

19 O Romanceiro Tradicional J. David Pinto­Correia

20 O Tratado de Windsor Luís Adão da Fonseca

21 Os Doze de Inglaterra A. de Magalhães Basto

22 Vitorino Nemésio David­Mourão Ferreira

23 O Litoral Português Ilídio Alves de Araújo

24 Os Provérbios Medievais Portugueses

José Mattoso

25 A Arquitectura Barroca em Portugal Paulo Varela Gomes

26 Eugénio de Andrade Luís Miguel Nava

27 Nuno Gonçalves Dagoberto Markl

2� Metafísica Antó­nio Marques

29 Cristóvão Colombo e os Portugueses

Avelino Teixeira da Mota

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30 Jorge de Sena Jorge Fazenda Lourenço

31 Bartolomeu Dias Luís Adão da Fonseca

32 Jaime Cortesão José Manuel Garcia

33 José Saramago Maria Alzira Seixo

34 André Falcão de Resende Américo da Costa Ramalho

35 Drogas e Drogados Aureliano da Fonseca

36 Portugal e a Origem da Liberdade dos Mares

Ana Maria Pereira Ferreira

37 A Teoria da Relatividade Antó­nio Brotas

3� Fernando Lopes-Graça Mário Vieira de Carvalho

39 Ramalho Ortigão Maria João L. Ortigão

de Oliveira

40 Fidelino de Figueiredo A. Soares Amora

41 A História das Matemáticas em Portugal

J. Tiago de Oliveira

42 Camilo João Bigotte Chorão

43 Jaime Batalha Reis Maria José Marinho

44 Francisco de Lacerda J. Bettencourt da Câmara

45 A Imprensa em Portugal João L. de Moraes Rocha

46 Raul Brandão A. M. B. Machado Pires

47 Teixeira de Pascoaes Maria das Graças Moreira de Sá

4� A Música Portuguesa para Canto e Piano

José Bettencourt da Câmara

49 Santo António de Lisboa Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

50 Tomaz de Figueiredo João Bigotte Chorão

51/ Eça de Queirós52 Carlos Reis

53 Guerra Junqueiro Antó­nio Cândido Franco

54 José Régio Eugénio Lisboa

55 António Nobre José Carlos Seabra Pereira

56 Almeida Garrett Ofélia Paiva Monteiro

57 A Música Tradicional Portuguesa

José Bettencourt da Câmara

5� Saúl Dias/Júlio Isabel Vaz Ponce de Leão

59 Delfim Santos Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

60 Fialho de Almeida Antó­nio Cândido Franco

61 Sampaio (Bruno) Joaquim Domingues

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62 O Cancioneiro Narrativo Tradicional

Carlos Nogueira

63 Martinho de Mendonça Luís Manuel A. V. Bernardo

64 Oliveira Martins Guilherme d’Oliveira

Martins

65 Miguel Torga Isabel Vaz Ponce de Leão

66 Almada Negreiros José­Augusto França

67 Eduardo Lourenço Miguel Real

6� D. António Ferreira Gomes Arnaldo de Pinho

69 Mouzinho da Silveira A. do Carmo Reis

70 O Teatro Luso-Brasileiro Duarte Ivo Cruz

71 A Literatura de Cordel Portuguesa

Carlos Nogueira

72 Sílvio Lima Carlos Leone

73 Wenceslau de Moraes Ana Paula Laborinho

74 Amadeo de Souza-Cardoso José­Augusto França

75 Adolfo Casais Monteiro Carlos Leone

76 Jaime Salazar Sampaio Duarte Ivo Cruz

77 Estrangeirados no Século XX

Carlos Leone

7� Filosofia Política Medieval Paulo Ferreira da Cunha

79 Rafael Bordalo Pinheiro José­Augusto França

�0 D. João da Câmara Luiz Francisco Rebello

�1 Francisco de Holanda Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

�2 Filosofia Política Moderna Paulo Ferreira da Cunha

�3 Agostinho da Silva Romana Valente Pinho

�4 Filosofia Política da Antiguidade Clássica Paulo Ferreira da Cunha

�5 O Romance Histórico Rogério Miguel Puga

�6 Filosofia Política Liberal e Social

Paulo Ferreira da Cunha

�7 Filosofia Política Romântica

Paulo Ferreira da Cunha

�� Fernando Gil Paulo Tunhas

�9 António de Navarro Martim de Gouveia e Sousa

90 Eudoro de Sousa Luís Ló­ia

91 Bernardim Ribeiro Antó­nio Cândido Franco

92 Columbano Bordalo Pinheiro

José­Augusto França

93 Averróis Catarina Belo

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94 António Pedro José­Augusto França

95 Sottomayor Cardia Carlos Leone

96 Camilo Pessanha Paulo Franchetti

97 António José Brandão AnaPaulaLoureirodeSousa

9� Democracia Carlos Leone

99 A Ópera em Portugal Manuel Ivo Cruz

100 A Filosofia Portuguesa (Sécs. XIX e XX)

Antó­nio Braz Teixeira

101/ O Padre António Vieira102 Aníbal Pinto de Castro

103 A História da Universidade Guilherme Braga da Cruz

104 José Malhoa José­Augusto França

105 Silvestre Pinheiro Ferreira José Esteves Pereira

106 António Sérgio Carlos Leone

107 Vieira de Almeida Luís Manuel A. V. Bernardo

10� Crítica Literária Portuguesa (até 1940)

Carlos Leone

109 Filosofia Política Contemporânea (1887-1939) Paulo Ferreira da Cunha

110 Filosofia Política Contemporânea (desde 1940) Paulo Ferreira da Cunha

111 O Cancioneiro Infantil e Juvenil de Transmissão Oral

Carlos Nogueira

112 Ritmanálise Rodrigo Sobral Cunha

113 Política de Língua Paulo Feytor Pinto

114 O Tema da Índia no Teatro Português

Duarte Ivo Cruz

115 A I República e a Constituição de 1911

Paulo Ferreira da Cunha

116 O Capital Social Jorge Almeida

117 O Fim do ImpérioSoviético

José Milhazes

11� Álvaro Siza Vieira Margarida Cunha Belém

119 Eduardo Souto Moura Margarida Cunha Belém

120 William Shakespeare Mário Avelar

121 Cooperativas Rui Namorado

122 Marcel Proust Antó­nio Mega Ferreira

123 Albert Camus Antó­nio Mega Ferreira

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124 Walt Whitman Mário Avelar

125 Charles Chaplin José­Augusto França

126 Dom Quixote Antó­nio Mega Ferreira

127 Michel de Montaigne Clara Rocha

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