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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho (61) 3964-8624 / 3233-2527 www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 03 16 de Janeiro de 2011 O Espírito Santo e o Pentecostes Texto Áureo "E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados". At 2.2 Verdade Aplicada A vinda do Espírito Santo possibilitou à Igreja quebrar as barreiras do preconceito racial e religioso, revelando as grandezas de Deus para todos os povos, línguas e nações. Objetivos da Lição Ensinar aos alunos que a vinda do Espírito Santo trouxe uma nova linguagem de comunicação com Deus; Apresentar como após a vinda do Espírito Santo se comportaram aqueles que o receberam; Deixar claro que o propósito da vinda do Espírito é o de aumentar a utilidade do cristão para que Cristo seja creditado. Textos de Referência At 2.1 Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; At 2.2 E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. At 2.3 E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. At 2.4 E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. A Vinda do Espírito Santo At 1.12-2.13 O rei Davi planejou a edificação do Templo e reuniu os materiais necessários. Mas foi Salomão, seu sucessor, quem o erigiu (1 Cr 29.1,2). Jesus igualmente planejou a Igreja durante seu ministério terreno (Mt 16.18; 18.17). Preparou os materiais humanos, porém deixou ao seu sucessor e representante, o Espírito Santo, o trabalho de erigi-la. Foi no dia de Pentecoste que esse templo espiritual foi construído e cheio da glória do Senhor (cf. Êx 40.34,35; 1 Rs 8.10,11; Ef

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho (61) 3964-8624 / 3233-2527

www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 03 16 de Janeiro de 2011

O Espírito Santo e o Pentecostes Texto Áureo "E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados". At 2.2 Verdade Aplicada A vinda do Espírito Santo possibilitou à Igreja quebrar as barreiras do preconceito racial e religioso, revelando as grandezas de Deus para todos os povos, línguas e nações. Objetivos da Lição ► Ensinar aos alunos que a vinda do Espírito Santo trouxe uma nova linguagem de comunicação com Deus; ► Apresentar como após a vinda do Espírito Santo se comportaram aqueles que o receberam; ► Deixar claro que o propósito da vinda do Espírito é o de aumentar a utilidade do cristão para que Cristo seja creditado. Textos de Referência At 2.1 Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; At 2.2 E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. At 2.3 E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. At 2.4 E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

A Vinda do Espírito Santo At 1.12-2.13 O rei Davi planejou a edificação do Templo e reuniu os materiais necessários. Mas foi Salomão, seu sucessor, quem o erigiu (1 Cr 29.1,2). Jesus igualmente planejou a Igreja durante seu ministério terreno (Mt 16.18; 18.17). Preparou os materiais humanos, porém deixou ao seu sucessor e representante, o Espírito Santo, o trabalho de erigi-la. Foi no dia de Pentecoste que esse templo espiritual foi construído e cheio da glória do Senhor (cf. Êx 40.34,35; 1 Rs 8.10,11; Ef

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2.20,2). O dia de Pentecoste era o aniversário da Igreja, e o cenáculo, o local do seu nascimento, como tem sido apresentado no nosso site ebdareiabranca.com. I - O Dia "E, cumprindo-se o dia de Pentecostes..." O nome "Pentecoste" (derivado da palavra grega "cinquenta") era dado a uma festa religiosa do Antigo Testamento. A festa era assim denominada por ser realizada 50 dias após a Páscoa (ver Lv 23.15-21). Observe sua posição no calendário das festas. Em primeiro lugar festejava-se a Páscoa. Nela se comemorava a libertação de Israel no Egito. Celebravam a noite em que o anjo da morte alcançou os primogênitos egípcios, enquanto o povo de Deus comia o cordeiro em casas marcadas com sangue. Esta festa tipifica a morte de Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sangue nos protege do juízo divino. No sábado, após a noite de Páscoa, os sacerdotes colhiam o molho de cevada, previamente selecionado. Eram as primícias da colheita, que deviam ser oferecidas ao Senhor. Cumprido isto, o restante da colheita podia ser ceifado. A festa tipifica Cristo, "as primícias dos que dormem" (1 Co 15.20). O Senhor foi o primeiro ceifado dos campos da morte para subir ao Pai e nunca mais morrer. Sendo as primícias, é a garantia de que todos quantos nele creem segui-lo-ão pela ressurreição, entrando na vida eterna. Quarenta e nove dias eram contados após o oferecimento do molho movido diante do Senhor. E no quinquagésimo dia - o Pentecoste - eram movidos diante de Deus dois pães. Os primeiros feitos da ceifa de trigo. Não se podia preparar e comer nenhum pão antes de oferecer os dois primeiros a Deus. Isto mostrava que se aceitava sua soberania sobre o mundo. Depois, outros pães podiam ser assados e comidos. O significado típico é que os 120 discípulos no cenáculo eram as primícias da igreja cristã, oferecidas diante do Senhor por meio do Espírito Santo, 50 dias após a ressurreição de Cristo. Era a primeira das inúmeras igrejas estabelecidas durante os últimos 20 séculos. O Pentecoste foi a evidência da glorificação de Cristo. A descida do Espírito era como um "telegrama" sobrenatural, informando a chegada de Cristo à mão direita de Deus. Também testemunhava que o sacrifício de Cristo fora aceito no Céu. Havia chegado a hora de proclamar sua obra consumada. O Pentecoste era a habitação do Espírito no meio da igreja. Após a organização de Israel, no Sinai, o Senhor veio morar no seu meio, sendo sua presença localizada no Tabernáculo. No dia de Pentecoste, o Espírito Santo veio habitar na Igreja, a fim de administrar, dali, os assuntos de Cristo. II - O Local (At 1.12-14) "Estavam todos reunidos no mesmo lugar". O horário era antes das nove da manhã (a hora do culto matutino). O lugar era o cenáculo (At 1.14) duma casa particular, local regular para a observância de festas religiosas, tais como a Páscoa. Embora esses crentes provavelmente frequentassem as reuniões de culto três vezes por dia no Templo, também gastavam muito tempo no cenáculo, onde "perseveravam unânimes em oração". Cada grupo presente nos sugere uma verdade. Os apóstolos, que seguiram a Jesus desde o início, eram as verdadeiras colunas da Igreja (Ef 2.20). Judas estava ausente. É possível seguir a Jesus durante anos e ainda perder a bênção suprema. As mulheres no meio do grupo eram heroínas anônimas da fé (ver Lc 8.2,3). Maria, a mãe de Jesus, foi revestida pelo Espírito Santo para que desse à luz a Cristo. Agora, ela esperava outro derramamento que traria a lume o Cristo espiritual. Os irmãos de Jesus, embora não cressem nEle antes (Jo 7.5), agora humildemente se submetem ao Irmão e o reconhecem como Senhor. III - O Som "E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados". Foi como se uma tempestade tivesse entrado na casa sem continuar o seu caminho. O vento é um conhecido símbolo do Espírito Santo (Ez 37.1-14; Jo 3.8). O vento, representante do sopro divino, encheu primeiro o cenáculo, a casa de Deus, e em seguida os indivíduos que adoravam. Passou, então, a se espalhar pela terra em poder vivificante. Como na criação, quando o Espírito do Senhor pairava sobre as águas (Gn 1.2). Podemos imaginar o Cristo glorificado, em pé, à mão direita de Deus, soprando sobre os 120 e dizendo: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20.22; cf. 1 Co 15.45). IV - A Visão

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"E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles". Esta manifestação deve ter feito os discípulos lembrarem-se das palavras de João Batista: "Batizará com o Espírito Santo, e com fogo". Diante dos seus olhos estava a evidência física do cumprimento desta profecia. E qualquer judeu entenderia muito bem que o fogo proclamava a presença de Deus, trazendo à memória incidentes, como a sarça ardente (Êx 3.1,2), o fogo no monte Carmelo (1 Rs 18.36-38), o pilar de fogo no deserto e a vocação de Ezequiel (Ez 1.4). As línguas de fogo se assentando em cada um deles indicava que surgia uma nova dispensação. O Espírito de Deus já não seria concedido à comunidade como um todo, e sim a cada membro individualmente. A forma do fogo, em línguas, indicava que o dom de línguas sobrenaturais tinha sido outorgado a esta companhia de pessoas. O Espírito, como o fogo, dá luz, purifica, dá calor e propaga-se. V - O Falar em Línguas Apareceu em seguida a realidade da qual o vento e o fogo eram símbolos: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem". Notemos alguns fatos importantes sobre o falar em línguas. O que produz esta manifestação? O impacto do Espírito de Deus sobre a alma humana. É tão direto e com tanto poder, que a pessoa fica extasiada, falando de modo sobrenatural. Isto pelo fato de a mente ficar totalmente controlada pelo Espírito. Para os discípulos, era evidência de estarem completamente controlados pelo poder do Espírito prometido por Cristo. Quando a pessoa fala uma língua que nunca aprendeu, pode ter a certeza de que algum poder sobrenatural assumiu o controle sobre ela. Alguns argumentam que a manifestação do falar em línguas limitou-se à época dos apóstolos. Aconteceu para ajudá-los a estabelecer o Cristianismo, uma novidade naquela época. Não existe, no entanto, limites à continuidade dessa manifestação no Novo Testamento. Mesmo no quarto século depois de Cristo, Agostinho, o notável teólogo do Cristianismo, escreveu: "Ainda fazemos como fizeram os apóstolos, quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, invocando sobre eles o Espírito mediante a imposição das mãos. Espera-se por parte dos convertidos que falem em novas línguas." Ireneu (115-202 d.C), notável líder da Igreja, era discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do apóstolo João. Ireneu escreveu: "Temos em nossas igrejas muitos irmãos que possuem dons espirituais e que, por meio do Espírito, falam toda sorte de línguas". A Enciclopédia Britânica declara que a glossolalia (o falar em línguas) "ocorreu em reavivamentos cristãos durante todas as eras; por exemplo, entre os frades mendicantes do século XIII, entre os jansenistas e os primeiros quaquers, entre os convertidos de Wesley e Whitefield, entre os protestantes perseguidos de Cevennes, e entre os irvingitas". Podemos multiplicar as referências, demonstrando que o falar em línguas, por meios sobrenaturais, tem ocorrido em toda a história da Igreja. (Nota: O falar em línguas nem sempre é em língua conhecida. Ver 1 Co 14.2.) Têm havido casos recentes de pessoas falarem, por meio de um poder sobrenatural, línguas que nunca aprenderam, e de haver na congregação quem as entendesse. O livro de S.H. Frodsham, Com Sinais que se Seguiam, contém muitos exemplos de tais ocorrências. Alguns ficaram perplexos diante deste fenômeno novo e estranho, e perguntaram: "Que quer isto dizer?" Outros zombavam, dando a entender que os discípulos estavam bêbados. VI - Ensinamentos Práticos 1. O dom e o sinal Enquanto Elias aguardava a revelação do Senhor, no monte Horebe, ouviu um vento, um terremoto, um incêndio e, finalmente, uma voz tranquila e suave. Deus estava na voz tranquila e suave. Não na violenta comoção dos elementos. Deus emprega meios mais barulhentos para atrair a atenção dos homens. Sua verdadeira mensagem, porém, é falada diretamente ao coração. Semelhantemente, Deus mandou o vento, o fogo e as línguas no dia de Pentecoste - verdadeiras manifestações do Espírito. No âmago destas manifestações espetaculares havia o propósito de Deus de converter os corações humanos ao Evangelho. É um erro procurar as línguas por si só. Busquemos a pessoa do Espírito, e o sinal será acrescentado. 2. Reavivamento precedido por oração. "Estavam todos reunidos no mesmo lugar". Há muitos anos, certo ministro da Turquia, não muito familiarizado com os costumes da Europa, foi levado a um concerto. Escutava os músicos afinando seus instrumentos e não se sentia bem. Logo irritou-se e saiu do auditório. Confundiu a afinação com a música propriamente dita. Deveria ter esperado até que o regente tomasse seu lugar. Então ouviria as mais belas harmonias.

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Por dez dias os discípulos afinaram-se. Agora, o Regente celestial estava pronto para dirigir o grande Antema de Pentecoste. É um ditado popular entre os crentes que o evangelista não traz um reavivamento na sua mala. Mas quando todos oram de comum acordo é porque está próximo o reavivamento. 3. Eco celestial "Veio do céu um som..." Nossas orações fazem eco às promessas de Deus. E as respostas de Deus formam o eco das nossas orações. Dois instrumentos de cordas podem ser afinados com o mesmo diapasão. Se são tocadas as cordas de um deles, as cordas do outro vibram em simpatia. Se nossos corações se afinam com a vontade de Deus. Se nossos espíritos vibram em oração. Então, podemos esperar que haja semelhante vibração no Céu, respondendo à nossa oração. Nosso clamor proferido na terra será respondido por um som celestial. 4. A língua de fogo. Certo jovem ministro, pregando na presença do famoso Dr. Talmadge, queria impressioná-lo com sua sabedoria. Mas a análise do Dr. Talmadge era: "Jovem, ou coloque mais fogo nos seus sermões, ou jogue mais dos seus sermões no fogo!" A verdadeira eloquência não é uma questão de se dispor as palavras com perícia; é uma sequência de palavras que transbordam de um coração aceso com fogo celestial. O pregador verdadeiramente eloquente é aquele cujo coração foi inflamado com fogo dos altares do Céu. 5. Fogo pentecostal. W. Arthur escreveu em seu livro "A Língua de Fogo": "Imaginemos que visitássemos um exército sitiando uma fortaleza, e os soldados dissessem que haveriam de abatê-la. Perguntaríamos: 'Como?' e eles mostrariam a bala do canhão. Bem, esta não possui poder, porque, se todos os homens do exército a lançassem contra a fortaleza, não fariam nela impressão alguma. Depois dizem: 'Olhem o canhão'. O canhão, porém, não possui poder algum; uma criança pode montar nele, um pássaro pode fazer seu ninho nele; é uma máquina e nada mais. 'Mas, olhem a pólvora'. Bem, esta também não possui poder, porque uma criança pode derrubá-la e os pássaros podem ciscar nela. Quando, porém, se coloca a bala que não possui poder, no canhão, juntamente com a pólvora, uma centelha de fogo transforma a pólvora em relâmpago e a bala em golpe violento. Assim acontece com a organização eclesiástica; temos o equipamento, mas precisamos do batismo do fogo!" 6. Ventos celestiais. Disse Jesus: "O vento assopra onde quer..." Como podemos ficar no caminho certo onde sopra o vento celestial, a fim de sermos "inspirados pelo Espírito Santo"? (2 Pe 1.21). Primeiro, precisamos de "velas" espi-rituais, ou seja, o desejo e a receptividade para receber a bênção. Depois, devemos frequentar os lugares onde sopram os ventos de Deus - reuniões de oração, estudos bíblicos, cultos de reavivamento. 7. Ficando prontos para o poder espiritual. Podemos desejar o poder espiritual, mas estamos prontos para recebê-lo? Deus o pode confiar às nossas mãos? Estamos dispostos a deixar Deus operar segundo a maneira dEle? Nós queremos tomar posse do poder e fazer uso dele. Deus quer que o poder tome posse de nós e faça uso de nós. Se nos entregamos ao poder, deixando-o dominar em nós, o poder nos será entregue para dominar através de nós. Algumas pessoas suspiram de vontade para terem mais do Espírito Santo, porém, à verdade é que o Espírito Santo quer ter mais de nós! 8. Ficando cheios do Espírito. "Todos ficaram cheios do Espírito Santo". Podemos distinguir três fases desta plenitude. A original, quando o crente recebe o Espírito Santo pela primeira vez, sendo nEle batizado (At 1.5; 2.4; 9.17). Depois, existe aquela condição que se descreve com as palavras: "Cheio do Espírito Santo" (At 6.3; 7.55; 11.24), que explicita o comportamento diário do homem espiritual. Quais as evidências de que alguém está cheio do Espírito? (Gl 5.22,23). Finalmente, há revestimentos do Espírito para ocasiões especiais. Paulo recebeu a plenitude do Espírito Santo após a sua conversão, mas Deus lhe concedeu um revestimento especial para repreender o poder do diabo. Pedro ficou cheio do Espírito no dia de Pentecoste, mas Deus lhe concedeu uma unção especial quando ficou na presença do concílio dos judeus (At 4.8). Os discípulos todos tinham recebido o batismo no Espírito Santo no dia de Pentecoste, mas, em resposta às suas orações, Deus lhes concedeu um revestimento especial para fazerem frente à perseguição por parte dos líderes dos judeus (At 4.31). Uma pessoa pode ter a plenitude do Espírito Santo na sua vida, e ainda pedir um derramamento especial para subir ao púlpito, equipando-o com unção especial para falar. Ser cheio do Espírito é mais do que um privilégio; é um dever. "Enchei-vos do Espírito" (Ef 5.18). O que significa viver uma vida cheia do Espírito? Em primeiro lugar, consideremos a falta de tal experiência: mundanismo, falta de preocupação pelos perdidos, falta de testemunho, retenção do dinheiro devido às ofertas a Deus,

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falta de oração e de leitura bíblica, atitude de indulgência para com o pecado. Consideremos também as indicações positivas de uma vida cheia do Espírito Santo: Gálatas 5.22,23. 9. A inteligibilidade do Evangelho. "Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?" Os discípulos literalmente falavam outras línguas, de forma milagrosa. A lição espiritual sugerida é que o Evangelho deve ser apresentado de forma inteligível a todas as nações e classes. O pregador deve saber pregar aos cultos e analfabetos, adultos e crianças, respeitados e excluídos pela sociedade. Alguém disse de seu pastor muito letrado: "Durante seis dias da semana, ele é invisível; e no sétimo dia, é incompreensível". Se tal pastor convivesse mais com seu povo, conheceria suas necessidades e saberia falar sua linguagem. 10. Vinho do Espírito. "Estão cheios de mosto" (literalmente, cheios de "vinho novo"). Estas palavras de zombaria eram verdadeiras, espiritualmente falando. Ser salvo e cheio do Espírito é uma santa embriaguez. Afinal, o Senhor entra na vida do ser humano, despertando-o dos seus pecados e mudando todos os seus valores e pontos de vista. "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é..." Não é de surpreender que o mundo considere o Evangelho loucura, e os crentes como loucos. Segundo o Evangelho, devemos morrer para viver, estar perdidos para sermos achados, condenados para sermos redimidos. Devemos possuir nada a fim de possuir tudo, e nos humilhar para sermos exaltados. Os efeitos dessa "embriaguez" são: exercer influência espiritual, inspirar confiança, entusiasmo, alegria, paz, coragem. Não é de estranhar que Paulo dissesse: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito". Bibliografia M. Pearlman

A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO A descida do Espírito Santo é o cumprimento da promessa de Deus e marca o início da era da salvação, que terminará com a vinda de Cristo. "E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3.10). Atos 2 registra a data da inauguração da Igreja com sinais sobrenaturais que têm impressionado o gênero humano através dos séculos. A manifestação das línguas tem sido objeto de extensos debates. A experiência vivida pelos apóstolos nessa ocasião foi um fenômeno completamente novo. A Noiva de Cristo através dos séculos vem exprimentando essas experiências pentecostais. DIA DE PENTECOSTE 1. "Cumprindo-se o dia de Pentecoste" (v. 1). Pentecoste (Nm 28.26) era uma das três principais festas judaicas, instituídas por Deus, através de Moisés. Páscoa (Lv 23.4-8) e Tabernáculos (Lv 23.34) são as outras duas. Essas festividades solenes eram significativas e apontavam para o Messias. a) Páscoa. Era a comemoração da saída dos filhos de Israel do Egito, também chamada de Festa dos Pães Asmos ou Ázimos (porque nela o pão era sem fermento), comemorada ainda hoje pelos judeus. Para nós, ela se cumpriu no sacrifício de Jesus, pois o cordeiro pascal, descrito em Êxodo 12.3-8, apresenta os requisitos encontrados em Cristo. b) Festa dos Tabernáculos. Chamada em hebraico de "Sucot", comemora o período em que os filhos de Israel viveram em cabanas no deserto, quando saíram do Egito (Lv 23.33-43). Era a última festa do ano e durava oito dias. Era uma festividade alegre (Lv 23.40). Está mencionada em Jo 7.37-39. Ela representa o gozo e a alegria dos crentes. O quadro profético ainda não se cumpriu: será no Milênio. c) Pentecoste. É uma palavra grega que significa "quinquagésimo", porque essa festa era celebrada 50 dias após a Páscoa (Lv 23.15,16). Chamada em hebraico de "Shavuot", plural de "shavua", significa "semana", mas é também conhecida como a Festa das Primícias, pois coincidia com o fim da colheita de trigo. O nome "Festa de Pentecoste" ficou assim conhecido, por ser realizada no quinquagésimo dia após a Páscoa. 2. Reunidos no mesmo lugar (v.1). Havia quase 120 discípulos, incluindo as corajosas e heroínas pessoas anônimas que tiveram participação efetiva na obra de Deus (At 1. 15). O local era o Cenáculo, em Jerusalém (At 1.13), onde

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perseveravam "unanimemente em oração e súplicas" (At 1.14). À luz do contexto, "reunidos no mesmo lugar" fala de unanimidade de propósito, esperando a promessa do Pai. A VINDA DO ESPÍRITO SANTO 1. Barulho vindo do Céu (v.2). Vento e fogo são dois dos símbolos do Espírito Santo (Mt 3.11; Jo 3.8). A manifestação divina ligada ao fogo era comum no Antigo Testamento, tanto para trazer juízo (Jl 2.3), como para iniciar uma nova era ao povo de Deus (Êx 3.1,2). 2. Línguas repartidas como que de fogo (v. 3). Isso fala das diversidades de línguas. O fogo é a garantia de que Deus estava nesse negócio, visto que para os judeus a manifestação divina estava ligada ao fogo (Êx 3.2, 3; 19. 16-20; 1 Rs 18. 38; Lc 9.54). 3. "Todos foram cheios do Espírito Santo" (v.4). Nenhum dos patriarcas e profetas viveu essa experiência, embora alguns deles falassem desse evento mais como algo ainda para o futuro, pois, na época do Antigo Testamento, o Espírito Santo atuava sob medida. a) Nomes do Espírito Santo no Antigo Testamento. O Espírito Santo está presente em todo o Antigo Testamento, a partir de Gn 1.2, de maneira expressa, pois, como terceira Pessoa da Trindade, Ele está onde surge o nome de Deus. A expressão "Espírito Santo" só aparece três vezes na Antiga Aliança (Sl 51.11; Is 63.10,11). b) Divindade e personalidade no Antigo Testamento. É apresentado como Deus pessoal no Antigo Testamento: "O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em sua boca, disse o Deus de Israel..." (2 Sm 23.2,3). c) Obras do Espírito Santo no Antigo Testamento. Atuou na criação do Céu e da Terra (Gn 1.2; Sl 104.30) e do homem (Jó 33.4). Inspirou os profetas do Antigo Testamento (2 Pe 1.19-21). Por essa razão, o profeta era chamado de "homem do Espírito" (Os 9.7). d) O Espírito Santo no Novo Testamento. O homem do Antigo Testamento desconhecia a experiência pentecostal, pois a descida do Espírito Santo foi para que ficasse conosco "para sempre." Era a promessa de Jesus para a Dispensação da Igreja (Jo 14.16). e) "Cheio do Espírito Santo". O que significa ser "cheio do Espírito Santo"? É uma figura de linguagem. Significa que alguém abriu espaço em sua vida, para que o Espírito Santo possa operar sem restrição. FALAR LÍNGUAS 1. "Começaram a falar em outras línguas" (v. 4). Era Babel às avessas. Naquela torre, ninguém se entendia, pois um não compreendia o que o outro dizia (Gn 11.7-9). Em Jerusalém, no Pentecoste: "cada um os ouvia falar na sua própria língua" (v. 6). a) O duplo milagre. Essas línguas não eram da Terra. A palavra "línguas", nos versículos 3 e 4, é glossa. (grego). Mas o vocábulo "língua", nos versículos 6 e 8, é dialektos, (grego). O que isso significa? Que o milagre foi duplo: Os discípulos falaram línguas desconhecidas (glossa), e cada representante dessas 17 nações ouvia-os em sua própria língua (dialektos). b) Língua do Céu. Língua estranha não é o mesmo que língua estrangeira, a qual há sempre quem possa entender, mas a língua estranha só compreende quem o Espírito Santo revelar. Disse o apóstolo Paulo: "Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios" (1 Co 14.2). c) Exemplo prático. John L. Sherrill, em seu livro Eles Falam em Outras Línguas, pp. 153-155, afirma que apresentou a seis linguistas (três deles da Universidade de Colúmbia) fitas de vozes de pessoas que falavam em línguas, que ele gravou em cultos pentecostais. Um deles era técnico no estudo de estruturas linguísticas. Ao ouvirem essas fitas, não puderam identificar coisa alguma dessas línguas. Disseram que eram línguas estruturadas, embora não as iden-tificassem. 2. Línguas como evidência do batismo no Espírito Santo. Ter o Espírito Santo não é o mesmo que ser batizado no Espírito Santo. Os discípulos, mesmo antes do Pentecoste, já tinham o Espírito Santo (Jo 20.22). O batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder que capacita o crente a fazer a obra de Deus, principalmente, para fazer missões (At 1.8; Lc 24.49).

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a) Como se sabe que alguém foi batizado no Espírito Santo? A evidência desse batismo é o falar línguas. No dia de Pentecoste eles falaram línguas (v. 4). Antes disso, ninguém tivera tal experiência. Na casa de Cornélio, como Pedro soube que o Espírito Santo desceu sobre eles? "Porque os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus" (At 10.46). b) Perigo das inovações. Há igrejas neopentecostais que não têm noção dessa evidência e confundem ter o Espírito Santo com o batismo no Espírito Santo. Ultimamente, estão inventando muitas práticas exóticas sem apoio bíblico. Eu já vi alguém dizer: "Eu falo línguas", e outra pessoa responder para ele: "Fale", e ele começar a falar. Há também pessoas que querem ajudar Jesus fazer a obra: Falam línguas e mandam as pessoas que ainda não foram batizadas imitá-las. 3. O batismo no Espírito Santo hoje (v. 38). Não há qualquer indicação no Novo Testamento de que a promessa do batismo no Espírito Santo seja algo meramente para o primeiro século, como defendem expositores antipentecostais. A promessa é para "tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar". Há registros de que ao longo da história do Cris-tianismo, diversos cristãos falaram línguas. Irineu, Agostinho, Lutero, Wesley e muitos outros. Com o avivamento do País de Gales, de Kansas e da rua Azuza, quase simultaneamente, o fenômeno das línguas voltou a ser algo generalizado, e não meramente uma raridade. CONCLUINDO A promessa do Espírito Santo diz respeito, principalmente, aos "últimos dias", e não à era dos apóstolos. Além disso, Pedro, ao citar o profeta Joel, substituiu a expressão "derramarei o meu Espírito" por "derramarei do meu Espírito". Isso mostra que o Pentecoste foi o início da Dispensação do Espírito Santo, e que a efusão do Espírito seria na sua plenitude nos "últimos dias", os dias em que estamos vivendo. 1. Deus é fiel e cumpre tudo o que nos promete, apesar de muitos o considerarem tardio. Ele vaticinou o derramamento do seu Espírito sobre toda a carne, como declarou o profeta Joel, e, no tempo certo, no dia de Pentecoste, este evento tornou-se uma realidade em Jerusalém. 2. O batismo com o Espírito Santo é uma bênção celestial necessária aos cristãos que desejam ter uma vida vitoriosa. Por isso, quem ainda não o recebeu deve orar insistentemente, pois Deus não faz acepção de pessoas e esta promessa é para todos os homens. 3. O crescimento da Igreja, na atualidade, é ocasionado pela atuação do Espírito Santo em nossos dias. Se desejamos mais conversões e a manifestação do poder de Deus, devemos buscar, insistentemente, os dons espirituais, tão necessários neste momento de incredulidade total. Bibliografia E. Soares

Cheios do Espirito Santo (At 2.1-21) Os 120 continuaram em oração e louvor por cerca de dez dias após a ascensão de Jesus até o dia de Pentecoste. Este era o dia da festa da colheita entre os judeus. No Antigo Testamento também é chamado Festa das Semanas (Êx 34:22; Dt 16:16), quando ocorria uma semana de semanas (sete semanas) entre ela e a Páscoa. Pentecoste significa "quinquagésimo", e era assim chamado porque, no quinquagésimo dia depois do movimento do molho dos primeiros frutos (Lv 23:15), eles moviam dois pães como primícias (Lv 23:17).

AO CUMPRIR-SE (At 2:1)

Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.

O Pentecoste estava sendo completado ou "cumprido", uma palavra que chama a atenção para o fato de que o período de espera estava chegando ao fim, e as profecias do Antigo Testamento estavam para cumprir-se. Os 120 estavam ainda reunidos em um mesmo lugar. Não faltava ninguém. Não se nos diz onde era o lugar: mas a maioria acha que era o cenáculo, pois ali era o centro de operações deles (At 1:13). Outros, em vista da declaração de Pedro de que era a terceira hora do dia (9 da manhã), creem que eles estavam no templo, provavelmente no átrio das mulheres. Já vimos que os crentes, nas horas de oração, estavam habitualmente no templo. Um dos pórticos ou colunatas cobertas, ao fim do átrio, teria proporcionado um bom lugar para eles se reunirem e se unirem em adoração. Isso ajudaria a explicar a multidão que compareceu depois que o Espírito foi derramado.

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VENTO E FOGO (2:2,3)

De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E lhes apareceram umas línguas partidas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma.

De repente, sem prévio aviso, um som veio do céu como o de um vento impetuoso ou um tufão. Mas era o ruído que enchia a casa e os envolvia, e não um vento real.

O vento devia recordar-nos as manifestações divinas do Antigo Testamento. Deus falou a Jó dum redemoinho (Jó 38:1; 40:6); um forte vento oriental abriu o caminho através do Mar Vermelho, ajudando os israelitas a escaparem do Egito pisando terra seca (Êx 14:21). O vento era, também, símbolo frequente do Espírito no Antigo Testamento (Ez 37:9, 10, e 14, por exemplo). Jesus também usou o vento para falar do Espírito (Jo 3:8).

O ruído do vento indicava aos presentes que Deus estava para se manifestar, bem como seu Espírito, de uma forma especial. Aquele som era o de um vento que, trazendo poder, também falava do poder que lhes seria conferido conforme promessa de Jesus em Atos 1:8, um poder para serviço.

Subitamente, apareceram línguas distribuídas como línguas de chama ou fogo. Alguma coisa que parecia uma porção de flamas surgiu sobre o grupo inteiro. Então aquela porção de flamas se dividiu, e uma só língua, semelhante a uma labareda de fogo pousou sobre a cabeça de cada um, homens e mulheres. Na realidade, não havia fogo real, e ninguém se queimou. Mas o fogo e a luz eram símbolos comuns da presença divina, como no caso da sarça ardente (Êx 3:2), e, também, na aparição do Senhor em fogo no Monte Sinai depois que o povo de Israel aceitou o Antigo Pacto (Êx 19:18).

Alguns supõem que essas línguas constituíam um batismo de fogo purificador. Entretanto, os corações e as mentes dos 120 estavam já abertos à ressurreição de Cristo, já purificados, já cheios de louvor e alegria (Lc 24:52,53), já responsivos à Palavra inspirada pelo Espírito (At 1:16), já unânimes. Mais do que purificação ou condenação, o fogo aqui significava a aceitação, por parte de Deus, do corpo da Igreja como o templo do Espírito Santo (Ef 2:21,22; 1 Co 3:16), e, então, a aceitação dos crentes individualmente como sendo também templos do Espírito (1 Co 6:19). Assim, a Bíblia deixa claro que a Igreja já existia antes do batismo pentecostal. Hb 9:15,17 mostra que foi a morte de Cristo que pôs em vigor o Novo Pacto. Desde o dia da ressurreição, quando Jesus assoprou sobre os discípulos, a Igreja estava constituída como um Corpo da nova aliança.

É importante notar que estes sinais precederam o batismo pentecostal ou os dons do Espírito. Não faziam parte dele, nem foram repetidos em outras ocasiões quando o Espírito foi derramado. Pedro, por exemplo, identificou o enchimento dos crentes na casa de Cornélio com a promessa de Jesus de que seriam batizados no Espírito, qualificando-o como o mesmo dom (At 10:44-47; 11:17). Mas o vento e o fogo não estavam presentes.

CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO (2:4)

E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.

Agora, que Deus reconhecera a Igreja como o novo templo, o passo seguinte era derramar o Espírito sobre os membros do Corpo.

O que Jesus prometeu como batismo é descrito aqui como um enchimento, isto é, uma experiência plena, satisfatória. Alguns tentam fazer distinção entre ser batizado no Espírito e ser cheio. Realmente, a Bíblia usa uma variedade de termos. Era também um derramamento do Espírito como Joel profetizou (At 2:17,18,33); o recebimento (e aceitação ativa) de um dom (At 2:38); uma descida sobre (At 8:16; 10:44; 11:15); um derramamento do dom (At 10:45), e uma vinda sobre. Com esta variedade de termos é impossível supor que o batismo seja algo diferente da plenitude.

Realmente, desde que o Espírito Santo é uma Pessoa, estamos falando acerca de uma experiência que estabelece uma relação. Cada termo expressa algum aspecto da experiência pentecostal, e nenhum é capaz, isoladamente, de expressar todos os aspectos daquela experiência.

É claro, também, desde que eles estavam todos juntos e unânimes, que quando At 2:4 diz que todos ficaram cheios, significa que isso se deu com os 120. Entre algumas das igrejas sacramentais, muitos supõem que somente os 12 apóstolos ficaram cheios. Entretanto, foram faladas mais de doze línguas. Depois, quando Pedro falou a um grande grupo em Jerusalém, disse que dom semelhante descera sobre os gentios, "que também dera a nós, ao crermos no

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Senhor Jesus Cristo,,. Isto sugere que o Espírito desceu do mesmo modo, não somente sobre os 12, mas ainda sobre os 120 e também sobre os 3.000 que creram no dia de Pentecoste. Evidentemente, a experiência era e é para todos. Isto, entretanto, era novidade. No Antigo Testamento somente indivíduos escolhidos ficavam cheios.

Tão logo ficaram cheios, os 120 começaram a falar (e continuaram falando) em outras línguas (idiomas). "Começaram" é significativo no que evidencia, como em At 1:1, que o que foi começado teve continuidade em outras ocasiões, assim indicando que as línguas eram o acompanhamento normal do batismo no Espírito Santo. Esse dom de falar vinha à medida que o Espírito lhes concedia a expressão oral (continuava a dar e se conservava dando-lhes para se manifesta-rem ou para falarem). Isto é, eles usavam suas línguas, seus Continua durante a semana...

O Consolador Prometido "E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra". At 10.44 Obedientes às ordenanças de Jesus Cristo, os cristãos, logo após a ascensão do Senhor, perseveraram unanimemente em oração, no Cenáculo (At 1.14), aguardando que se cumprisse em suas vidas o derramamento do Espírito Santo, como promessa, desde o Antigo Testamento (Is 44.3; Jl 2.28,29). A realidade do Pentecostes continua ainda viva nos dias de hoje. Jesus quer batizar todos os crentes no Espírito Santo, mas é preciso que cada crente deixe nascer no seu coração esse desejo e busque-o em oração constante, com fé, sem vacilar. A Ação do Espirito Santo Jesus instruiu os discípulos acerca do Espírito Santo que haveria de vir para permanecer aqui na terra como o "outro Consolador" (Jo 14.16), quando Ele voltasse para junto do Pai. É bem verdade que o Espírito Santo esteve atuante desde a criação (Gn 1.2), pois Ele é eterno. Em várias ocasiões, também é citada a Sua presença no Antigo Testamento. A ênfase dada, porém, é pelo fato de que o Espírito Santo foi concedido de maneira muito especial na dispensação da graça. 1. 0 Espírito Santo traz convicção A operação do Espírito Santo na vida do homem inicia quando este se interessa pela salvação e começa a procurar os meios para alcançá-la. Por si só, o homem não possui condições de voltar-se para Deus (Jo 6.44). É através do Espírito Santo que ele consegue alcançar a salvação. 1.1. Convencendo do pecado O Espírito divino começa a produzir no ser humano a convicção de que ele é um pecador. Leva-o, então, a considerar que o pecado é o elemento que o afasta de Deus e, por essa razão, precisa libertar-se dele e crer em Cristo. Constrange-o a admitir o perigo de morrer sem salvação. E o convence que o maior pecado é o de não crer no Filho de Deus como Salvador. 1.2. Convencendo da justiça O Espírito também convence da justiça de Cristo. Isso acontece quando o Espírito habilita o pecador a perceber o contraste dos seus atos maléficos com a bondade divina. A justiça de Deus está em que o homem reconheça seus pecados, se arrependa e mude de viver, aceitando aquilo que Ele lhe oferece. 1.3. Convencendo do juízo Finalmente, o Espírito Santo convence o homem que haverá um justo julgamento (Jo 16.11). Satanás tem sido um inimigo audaz, transtornando a vida do homem e levando-o à prática do pecado.

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Mas Cristo venceu, dando assim a oportunidade ao homem para salvar-se. O Espírito Santo foi dado como Paracleto, isto é, o que convence o homem de duas maneiras: • Tendo certeza de que na prática do pecado não escapará do reto juízo divino (Rm 2.3); • Crendo na declaração de Jesus que diz ser possível o homem libertar-se da tirania de Satanás, através do novo nascimento (Jo 5.24). 2. Todo cristão possui o Espírito Santo Existem muitos crentes que não sabem fazer distinção entre a conversão e o batismo com o Espírito Santo. Não é tão difícil de entender que se trata de dois acontecimentos bem distintos. O Espírito Santo atua na conversão, que é o produto do arrependimento e o alcance do perdão dos pecados. Isso acontece quando a pessoa crê em Jesus e o recebe como Salvador. Quanto ao batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder que vem como resposta à oração e à busca constante. É certo que o Espírito Santo habita no coração de todo crente, pois a Bíblia diz que o corpo do cristão é o "templo do Espírito Santo " (1 Co 6.19). Aquele que não possui o Espírito Santo, não pertence a Jesus (Rm 8.9). Ele é também o penhor, isto é, a garantia da herança espiritual do salvo por Jesus (Ef 1.14). 3. O Espírito Santo na vida da Igreja O Espírito Santo é a fonte de vida da Igreja. É Ele quem usa cada crente no sentido de dar crescimento à Igreja. Ele dirige (At 8.29; 10.19,20) encorajando ao evangelismo; encoraja nas horas difíceis (Al 4.31); concede dons (1 Co 12); revela (1 Co 2.10; At 5.3); dá alegria (Rm 14.17); transforma, livra, dá entendimento, une a oração à fé, exalta a Cristo, ensina (1 Co 2.13). Ele cuida da Igreja, a noiva de Cristo, preparando-a para o grande dia do arrebatamento (Ap 22.17). Referências Sobre Batismo A palavra batismo aparece inúmeras vezes no livro de Atos dos Apóstolos e vem dos vocábulos gregos "baptizo" e "baptismo", cujo significado é imergir, submergir, mergulhar num fluido. As Escrituras Sagradas nos falam de alguns tipos de batismo. 1. Um batismo espiritual Esse batismo consiste na união espiritual com Cristo, em sua morte e ressurreição, conforme está escrito em Rm 6.3-6. O batismo espiritual compreende a participação íntima, a identificação do crente em tudo o que está envolvido na morte e na ressurreição de Cristo. Envolve aquele processo em que o Espírito Santo trabalha transformando a natureza moral do homem, a fim de que ele passe a participar, com Cristo, da vitória sobre o pecado. Dessa forma, o homem passa a ser participante da natureza de Cristo (2 Pe 1.4). 2. Batismo em águas João Batista, filho de Zacarias, percorria toda a terra ao derredor do Jordão, pregando o batismo do arrependimento, para perdão dos pecados (Lc 3.3). O batismo em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19) é para todos os crentes que de todo o coração se arrependeram dos seus pecados, creem que Jesus é o Salvador de suas vidas e que, a partir de então, diante da igreja, declaram que morreram para o mundo de pecado a fim de viverem para Deus. Jesus ordenou o batismo para os crentes (Mt 28.19). Após a descida do Espírito Santo no Cenáculo em Jerusalém, no seu poderoso discurso, Pedro admoestou aos ouvintes que se arrependessem e fossem batizados (At 2.38). O batismo em águas aponta um simbolismo dos dois aspectos da vida espiritual com Cristo: a união em sua morte (a descida para a água, como se descesse a um sepulcro); e a união em sua nova vida (a saída da água, escapando do sepulcro) de ressuscitado. 3. O batismo com o Espírito Santo

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No dia de Pentecostes, ocorreu um dos maiores eventos para os cristãos: a descida do Espírito Santo (At 2.4). Foi o marco da inauguração da Igreja do Senhor Jesus aqui na terra. Aos cento e vinte homens e mulheres, que aguardavam o cumprimento da promessa de Jesus, reunidos ali no Cenáculo, veio uma experiência que resultou em completa mudança de suas vidas. Considerações Sobre o Batismo no Espírito Santo O batismo com o Espírito Santo é uma dádiva de Deus concedida ao crente. É a vinda do Espírito Santo que enche plenamente o coração do servo de Deus, revestindo-o de poder e encorajando-o para proclamar o Evangelho (At 1.8; 6.8). Os discípulos de Jesus são exemplo disso. Eles já haviam confessado o nome de Jesus antes de serem batizados com o Espírito Santo (Mt 16.16; Jo 6.68,69); Jesus já os havia declarado limpos (Jo 13.10,11; 15.3). Jesus já havia soprado sobre eles, dizendo: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20.22). Os samaritanos que deram crédito à pregação de Felipe iam sendo batizados nas águas (At 8.12b) e, mais tarde, receberam o batismo com o Espírito Santo (At 8.16, 17). Os discípulos em Éfeso não conheciam a experiência do batismo com o Espírito Santo quando creram, mas quando Paulo os visitou, impôs-lhes as mãos e o receberam "falando línguas e profetizando" (At 19.1-6). 1. Como receber esse batismo Existem situações necessárias para aqueles que desejam receber essa gloriosa dádiva divina que é o batismo com o Espírito Santo. 1.1. Arrependimento No dia de Pentecostes, Pedro admoestou o povo para que se arrependesse, a fim de receber o batismo em águas e, consequentemente, o batismo com o Espírito Santo (At 2.38). Arrependimento é, pois, o primeiro passo para receber esse poder especial. 1.2. O que crê, recebe Essa promessa começou a ser derramada em Jerusalém (At 2.14-16), depois em Samaria (At 8.14-17), em Cesaréia (At 10.44-16), em Éfeso (At 19.1-6) e continua nos nossos dias sendo derramada. Não importa onde, nas cidades, nos campos, nos templos suntuosos, na pequenina igreja rural, onde houver um crente fiel a Deus, que crê na promessa (At 2.38,39), este poder estará sendo outorgado. A fé é, sem dúvida, um dos grandes fatores para o crente receber o revestimento de poder. 1.3. Busca incessante Quem deseja o batismo no Espírito Santo deve ser perseverante na busca através da oração; assim ensinava o amado Mestre Jesus (Lc 11.13). Seguindo essa orientação, a igreja orou unanimemente até ocorrer o glorioso derramamento do Espírito Santo (At 2.1-4). O crente que já recebeu esse dom divino, deve-se esforçar para que o fogo nunca se apague (Lv 6.9,12,13). 1.4. Obediência à ordem dada A condição para que aquele pequeno grupo de homens e mulheres recebesse o batismo no Espírito Santo era a de obedecer às instruções de Jesus (Lc 24.49). O próprio escritor Lucas, ao escrever o livro de Atos dos Apóstolos, confirmou ser Jerusalém a cidade de espera (At 1.4,5). E o apóstolo Pedro confirmou essa verdade diante do Sinédrio de Jerusalém (At 5.32). A obediência a Deus e à Sua Palavra só produz bênçãos na vida do cristão. 2. Evidências do batismo

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São muitas as evidências do batismo no Espírito Santo na vida de uma pessoa, porém a que claramente identifica aquele que foi batizado é o falar em línguas. Acrescentamos, ainda, que o crente batizado no Espírito Santo passa a ser testemunha ousada (At 1.8; 4.31), sabe enfrentar oposições (At 4.7-9), não tem medo das afrontas (At 7-55-60), torna-se ainda mais adorador e glorifica a Deus e a Jesus em todas as circunstâncias (At 2.11; 10.44-47; 1 Co 14.2,4,5). Portanto, o sinal invariável do batismo com o Espírito Santo é o falar em línguas. E isso não acontece só no dia em que o crente é batizado, mas ele continua a falar em mistério com Deus porque permanece cheio do Espírito Santo. 3.1. Consequências do batismo Esse poder, outorgado à igreja, não deve ficar limitado aos templos, alegrando os cristãos em cultos avivados, mas, sim, levar a igreja a cumprir a ordem de Jesus (Mc 16.15). A igreja avivada é evangelizadora, missionária, não é omis-sa na pregação do evangelho. O crente batizado no Espírito Santo enfrenta com poder as oposições do adversário, enfrenta as oposições à pregação do evangelho e aprende que o poder e os dons espirituais, concedidos por graça, devem ser usados para edificação, fortalecimento e crescimento da Igreja do Senhor aqui na terra. Concluindo É claro e evidente que todo crente, desde o dia em que aceitou a Jesus como seu único e suficiente Salvador, recebe o Espírito Santo, e o seu corpo passa a ser templo e morada do Espírito (I Co 3.16; 6.19); logo o batismo com o Espírito Santo não salva. É revestimento de poder para se testemunhar e pregar com autoridade o evangelho. Assim como a igreja primitiva viveu o real avivamento que somente o Espírito Santo de Deus proporciona, é preciso que a igreja moderna não se esqueça de buscar o Consolador com insistência. Bibliografia Pr G. B. Brandão A PREGAÇÃO POR MEIO DE TESTEMUNHOS AT 2.1-47 O poder para a proclamação — foi isto o que o Espírito trouxe. No mesmo dia em que o Espírito Santo desceu sobre eles, os apóstolos começaram a sua pregação, com resultados surpreendentes. Era o método de Deus de transmitir o Evangelho — as Boas Novas daquilo que Cristo realizara pelos homens pecadores na sua morte e ressurreição. 1. As Testemunhas Recebem o Poder (2.1-13) Antes de poder pregar, as testemunhas precisavam ser preparadas. Assim, encontramos neste parágrafo das Escrituras a história de como os discípulos foram cheios do Espírito Santo. a. Pentecostes (2.1-4). Este é o acontecimento mais importante do livro de Atos. Sem ele, o livro nunca teria sido escrito. Foi este grandioso ato de Deus de derramar o Espírito Santo sobre os primeiros crentes que precipitou todos os atos dos homens autorizados pelo Espírito, sobre os quais podemos ler na história do início da igreja cristã. Winn sugere que o livro de Atos poderia ser chamado de "o livro mais emocionante que já foi escrito".

Cumprindo-se o dia de Pentecostes literalmente significa "quando o dia de Pentecostes estava sendo completado". Isto pode se referir ao final das sete semanas que precederam o Pentecostes. Mas como a palavra dia está no singular, e uma vez que o dia dos judeus começava no pôr-do-sol, pode-se assumir melhor que a frase indica que, naquela manhã, "o dia de Pentecostes estava se cumprindo". Robertson diz: "Lucas pode querer dizer que o dia de Pentecostes ainda não estava terminado; ainda estava em curso".

Mas o verdadeiro significado da frase é provavelmente mais teológico do que cronológico. Lenski escreve: "Lucas está pensando na promessa do Senhor e de como agora se aproxima o seu cumprimento. A chegada deste dia conclui a medida do tempo que o Senhor contemplava quando Ele fez a promessa". O retrocesso é anterior a isto — até às profecias do Antigo Testamento sobre o derramamento do Espírito Santo, como a referência de Joel 2.28. Todas estas promessas se cumpririam em Jerusalém, em 30 d.C. Pentecostes é a palavra grega que significa "cinquenta". Este nome para a festa é encontrado pela primeira vez nos escritos apócrifos do período intertestamentário, em Tobias 2.1 e em 2 Macabeus 12.32. A designação do Antigo

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Testamento é Festa das Semanas (Êx 34.22; Dt 16.10), assim chamada porque a festa era celebrada sete semanas depois da Festa das Primícias, que marcava o começo da colheita de cevada (Lv 23.9-16). Todo homem judeu adulto deveria comparecer a três festas anuais — a Festa dos Pães Asmos (relacionada com a Páscoa), a das Semanas e a dos Tabernáculos (Dt 16.16). Os judeus da Palestina vinham em grande número a Jerusalém para a Páscoa, que comemorava o início da sua vida nacional e também assinalava o início do seu ano religi-oso. Mas os judeus da dispersão tinham a sua maior celebração no Pentecostes. Isto se devia ao fato de que a viagem pelo Mediterrâneo era muito mais segura em maio ou junho (Pentecostes) do que em março ou abril (Páscoa). Encontramos um exemplo disto no caso de Paulo. Na sua última viagem a Jerusalém, ele não teve tempo para visitar Éfeso, porque "apressava-se... para estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia de Pentecostes" (At 20.16). Em uma ocasião anterior, ele tinha escrito aos coríntios: "Ficarei, porém, em Éfeso até ao Pentecostes" (1 Co 16.8). Estas são as três únicas passagens do Novo Testamento onde aparece a palavra Pentecostes. Existe uma tradição entre os judeus de que a Festa das Semanas comemorava a entrega da Lei no Sinai. Não se sabe ao certo se esta era a opinião na época de Jesus. Purves observa que não há menção disto no Antigo Testamento, nem em Filo nem em Josefo, e conclui: "Provavelmente foi depois da queda de Jerusalém que se iniciou esta tradição". Dosker é ainda mais específico quando escreve: "Ela originou-se com o grande rabino judeu Maimonides [século XII] e foi copiada pelos escritores cristãos". Mas Foakes-Jackson declara: "Não podemos deixar de recordar a cena da entrega da Lei no monte Sinai, quando Israel se tornou uma comunidade estritamente religiosa, e há razão para supor que o Pentecostes já era a festa comemorativa da entrega da lei". O Pentecostes era o cumprimento de Jeremias 31.33 — "porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração". Aqui há uma completa submissão à vontade de Deus. E simultaneamente a base e o fruto da completa santificação do crente. Na nova edição revisada da obra de Hasting, em um volume, o Dictionary ofthe Bible, afirma-se que tanto os fariseus quanto os saduceus consideravam o Pentecostes como "a festa que concluía a Páscoa". Este fato tem nuanças teológicas. A crucificação de Cristo, quando Ele se ofereceu como um sacrifício pelo pecado do homem, e a ressur-reição, que validou o seu sacrifício como aceito divinamente, seriam incompletas sem o derramamento do Espírito. De certa maneira, a sexta-feira santa e o domingo de Páscoa não seriam senão um prelúdio para o dia de Pentecostes. A crucificação, a ressurreição e a ascensão, juntas, formam o êxodo de Jesus da terra de volta para o céu, que era a preparação necessária para o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Jesus disse:"... vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei" (Jo 16.7). Quando Maria encontrou pela primeira vez o Cristo ressuscitado, ela abraçou os seus tornozelos, em um abraço que não queria deixá-lo ir (cf. Mt 28.9). Mas Jesus gentilmente a advertiu: "Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai" (Jo 20.17), i.e., "não se agarre a mim" na carne, que é limitada em tempo e espaço, mas deixe-me ir, para que você possa receber-me no Espírito. Sem dúvida, Maria Madalena era uma das "mulheres" (1.14) que estavam esperando no cenáculo. Quando o Espírito Santo encheu o seu coração no dia de Pentecostes, ela teve a presença do seu Senhor ressuscitado consigo durante todo o tempo e em todos os lugares. No dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. O melhor texto grego diz: "juntos em um lugar" — homou ao invés de homothymadon. Daí, a força total da última expressão, reunidos, não deve ser ressaltada aqui. No entanto, tanto a palavra homou (juntos) quanto o contexto sugerem um espírito de unidade. Uma das traduções recentes afirma: "Eles estavam todos harmoniosamente em um lugar" (Berk). A primeira parte do versículo 2 diz literalmente: "e, de repente, veio do céu um som (grego echos), como de um vento veemente e impetuoso", i.e., como o rugido reverberante de um tornado. Ele encheu toda a casa. Alguns estudiosos sugeriram que o derramamento do Espírito sobre os discípulos pode ter ocorrido no Templo. Mas Lenski provavel-mente está correto quando diz: "Se Lucas tivesse em mente uma sala no Templo, ele certamente teria escrito hieroron". Este som, como o rugido do vento, serviu como um alerta para todos os que estavam reunidos. Se alguém tinha estado sonolento, agora estaria completamente desperto. Assim, todos eles viram as línguas repartidas, como que de fogo (3). O texto grego diz: "línguas como que de fogo distribuindo-se" (ou "sendo distribuídas"). Hackett descreve a cena corretamente quando diz: "A aparição semelhante ao fogo apresentou-se primeiramente em um corpo único, e então repentinamente repartiu-se em todas as direções, para que uma porção pousasse sobre cada um dos presentes".

A importância desses dois símbolos — o vento e o fogo — é demasiado óbvia para ser perdida. Knowling diz: "O fogo, como o vento, era símbolo da presença divina (Ex 3.2) e do Espírito que purifica e santifica (Ez 1.13, Ml 3.2,3)". Blaiklock escreve: "O vento (2) e o fogo (3) eram uma simbologia aceita da operação poderosa e purificadora do Espírito de Deus". Isto é, quando o Espírito Santo enche o coração do crente, Ele confere tanto o poder quanto a pureza. Ninguém pode ter uma coisa sem ter a outra. Receber o Espírito Santo na sua totalidade é sentir ambas as coisas, simultaneamente.

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Qual era o propósito da combinação sobrenatural do som e da visão, do vento e do fogo? É muito instrutiva a comparação com o que teve lugar no monte Sinai, em relação à entrega da Lei. Lemos que "Houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte... E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como fumaça de um forno, e todo o monte tremia grandemente" (Ex 19.16-18). Uma nova época passava a existir; nascia uma nova era. Era importante que os israelitas percebessem a suprema importância do momento. Eles deveriam estar fortemente conscientes da autoridade divina da Lei que lhes estava sendo entregue. Assim foi com o Pentecostes. A revelação do Espírito Santo iniciava-se. Os discípulos deveriam estar alertas e ativos para o que estava acontecendo. Os símbolos do vento e do fogo ajudá-los-iam a entender o significado daquilo que acontecia. Mas estas coisas, juntamente com o falar em outras línguas, não eram senão acompanhamentos do Pentecostes; eram acessórios temporários. O tema central era que todos foram cheios do Espírito Santo (4). Este foi o grande milagre, que de longe superou os demais. O fato de que o derramamento do Espírito Santo purificou os corações dos discípulos é indicado claramente pelas palavras de Paulo no Concílio de Jerusalém. Falando das pessoas na casa de Cornélio (cap. 10), ele declarou: "E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé" (At 15.8-9). Essas duas coisas — encher com o Espírito Santo e purificar o coração — estão assim equiparadas (ou, pelo menos, foi afirmado que são simultâneas). Qual é o significado da afirmação de que os discípulos cheios do Espírito Santo começaram a falar em outras línguas? (4). Os versículos seguintes parecem indicar claramente que os discípulos falavam em linguagens articuladas e compreensíveis. O propósito disso parece ter sido a evangelização mais eficaz da multidão de judeus e prosélitos, muitos dos quais compreenderiam melhor a mensagem do evangelho na sua própria língua (8) do que no grego ou no aramaico normalmente falado. Os primeiros quatro versículos poderiam se esquematizados assim: Pentecostes — (1) O lugar; (2) O som; (3) A visão; (4) A importância. b. Perplexidade (2.5-13). O versículo 5 afirma que em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. A palavra grega para habitando, katoikountes, sugere a acomodação em um lugar para ficar. Moulton e Milligan escrevem: "Usado mais tecnicamente, o verbo se refere aos 'residentes' permanentes de uma cidade ou aldeia, assim distinguida daqueles 'residentes como estrangeiros' ou 'peregrinos' (paroikountesf. Com base nisto, Lenski diz: "Lucas se preocupa somente com esta classe de judeus que tinham nascido ou sido criados em regiões estrangeiras, mas agora eles estavam definitivamente estabelecidos na Cidade Santa para ali terminar os seus dias". Lumby escreve: "Provavelmente, além dos visitantes que tinham vindo para a festa, muitos judeus religiosos de regiões estrangeiras eram moradores permanentes de Jerusalém, porque era muito desejado pelos judeus poder morrer e ser sepultado perto da Cidade Santa". Apoiando este último ponto, ele cita esta frase rabínica: "Todo aquele que for sepultado na terra de Israel estará tão bem como se fosse sepultado sob o altar". Assim, a multidão se compunha tanto de residentes em Jerusalém quanto de visitantes para a festa. Muitos comentaristas afirmam que os varões religiosos eram os judeus, e não os gentios. Somente Lucas utiliza esta palavra (eulabeis), e nas outras três ocasiões em que o faz (Lc 2.25; At 8.2; 22.12) inquestionavelmente se refere aos judeus. Correndo aquela voz (6) significa, literalmente, "quando esse som [phone] aconteceu". Existe uma diferença de opinião quanto ao que isso significa. Cadbury e Lake comentam: "O som mencionado aqui é phone, a voz de oradores inspirados, e não o echos do versículo 2". Mas Lechler declara: "Ao contrário, nada, a não ser echos no versículo 2 pode significar phone aute". Alford pensa que o som era tão alto a ponto de ser ouvido "provavelmente por toda Jerusalém". Mas Bruce dá o que provavelmente parece ser a melhor conclusão: "O último (v. 4) parece mais provável, mas não devemos excluir o anterior (v. 2)". Isto é, a primeira referência é às pessoas ouvindo a pregação inspirada dos apóstolos. Qualquer que tenha sido o som, ele causou um ajuntamento da multidão. Lucas utiliza plethos, "um grande número". Esta é uma palavra favorita nos seus textos, que aparece vinte e cinco vezes no seu Evangelho e em Atos, e somente sete vezes em outras partes do Novo Testamento.

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Cada um ouviu os discípulos falando na sua própria língua. A palavra é a mesma usada em 1.19 — dialektos. Ela aparece somente no livro de Atos. Em geral, significa linguagem, embora algumas vezes transmita o sentido mais restrito de "dialeto".

Algumas vezes perguntou-se se o milagre foi o fato de eles falarem ou de a multidão os ouvir. Lechler parece plenamente justificado quando comenta a respeito deste último: "Mas sem mencionar que isto é muito mais difícil de imaginar, transfere-se o milagre daqueles que tinham o Espírito Santo para aqueles que não o tinham; isto é contra a linguagem simples do texto, que nos conta que 'começaram a falar em outras línguas'".

Os ouvintes reconheciam os que falavam como sendo galileus (7). Como os galileus eram desprezados por terem pouca cultura, era especialmente surpreendente que eles falassem em várias línguas. E os ouvintes os ouviam falando, cada um na sua própria língua (dialektos; o mesmo que "língua", v. 6). Partos e medos, elamitas (9) viviam a leste do rio Tigre. Esses, juntamente com os que habitam na Mesopotâmia constituiriam um grupo geográfico, os da região Tigre-Eufrates. Como um resultado do cativeiro de Israel e de Judá (2 Rs 17.6; 25.11), "havia milhões de judeus nessas regiões".

O nome mais problemático da lista inteira é Judéia. Aqui ela aparece entre a Mesopotâmia e uma lista de cinco nomes que se referem a partes da Ásia Menor. Mas não é aí que se situa a Judéia. Knowling chama a atenção para o fato de que Jerônimo a substituiu por "Síria", e Tertuliano sugeriu "Armênia". Lenski acompanha Zahn, mudando Judéia por "judeus", deixando somente catorze países listados, ao invés de quinze. Mas a melhor explicação é oferecida por Lake e Cadbury. Falando sobre a lista de nove nações, que se inicia com a Mesopotâmia e termina com a Líbia (junto a Cirene), eles dizem: "Se a Judéia for interpretada, no sentido profético, como o país 'do Eufrates até o rio do Egito', isto abrange, em uma ordem razoavelmente metódica, todos os distritos a leste do Mediterrâneo".

A seguir vêm cinco distritos da Ásia Menor — Capadócia, Ponto, Ásia, Frigia e Panfília (9-10). Com exceção da Frigia, todos são nomes de províncias romanas. A Frigia era um território racial, na sua maioria na província da Ásia, mas parcialmente na Galileia. Como a Frigia é citada em separado, é possível que Ásia aqui seja "usada no seu sentido popular, como denotando as terras costeiras do Egeu, e excluindo a Frigia". No Novo Testamento, o termo "Ásia" refere-se à província romana do mesmo nome e nunca ao continente asiático, como o conhecemos hoje. O Egito tinha uma grande população judaica, a qual se diz que chegava a um milhão de pessoas. Cirene era uma cidade litorânea na parte norte da área geral da Líbia, no Norte da África. Josefo cita Estrabão, o famoso geógrafo e historiador grego da época de Cristo, como tendo dito: "Agora esses judeus já chegaram a todas as cidades; e é difícil encontrar um lugar na terra habitável que não tenha admitido esta tribo de homens e não seja possuída por eles; e aconteceu que o Egito e Cirene... imitaram o seu modo de viver, e mantêm grandes grupos desses judeus em uma maneira peculiar".

Forasteiros romanos evidentemente significa "visitantes de Roma", como aparece na maioria das versões modernas (lit., "hóspedes de Roma"). Esta é a décima terceira região mencionada como uma que trazia pessoas à Festa do Pentecostes. Schuerer diz: "Roma era a sede de uma comunidade judaica que chegava a ter milhares de pessoas".

Judeus e prosélitos é interpretado por Bruce e Lenski como referindo-se somente àqueles de Roma. Mas parece melhor aplicar esta dupla divisão ao povo de todas as quinze nações, como é feito talvez pela maioria dos comentaristas recentes. O termo prosélitos (extraído diretamente do grego) é encontrado no Novo Testamento somente em Mateus 23.15 e três vezes no livro de Atos (2.11; 6.5; 13.43). Um prosélito é literalmente "aquele que chegou", e portanto "um estrangeiro". Mas a palavra é geralmente usada em referência aos convertidos a alguma religião (aqui, ao judaísmo). Os judeus de Roma eram particularmente zelosos em buscar conversões. Os prosélitos do judaísmo tinham de satisfazer quatro exigências: 1. instrução; 2. circuncisão; 3. batismo; 4. sacrifícios. Kirsopp Lake aparentemente estabeleceu o fato de que havia somente um tipo de prosélitos — aqueles que satisfaziam as exigências e podiam pertencer à sinagoga — e que o uso da expressão "prosélitos do portão" dos antigos autores deve agora ser abandonado. Naturalmente, depois da destruição do Templo em 70 d.C, já não houve sacrifícios nem pelos judeus nem pelos prosélitos. Parcialmente por causa da inconveniência da circuncisão aos convertidos do sexo masculino, havia mais mulheres do que homens que se tornavam prosélitos. Cretenses e árabes (11) é interpretado, por muitos comentaristas, como uma ideia posterior. Knowling diz que "a introdução dos dois nomes sem nenhuma conexão aparente com o restante deve mostrar que não estamos lidando com uma lista artificial, mas sim com um registro genuíno das diferentes nações representadas na Festa". Lake e Cadbury

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ressaltam: "Os cretenses e os árabes representam os dois extremos do Oeste e do Sudeste que não foram abrangidos pelos nomes anteriores". A ilha de Creta está situada a sudeste da Grécia e a oeste da Palestina. Bruce escreve que "a Arábia, no uso greco-romano, geralmente significava o reino dos árabes nabateus, que na ocasião estava no ápice do seu poder sob Aretas IV (9 a.C.— 40 d.C.). Isto representava o Sul e o Leste da Palestina. Plumptre sugere que esta lista de quinze nações fornece uma espécie de "visão-de-pássaro mental do império romano", e acrescenta, de acordo com o comentário de Knowling, que a "ausência de algumas nações que esperaríamos encontrar na lista" é uma indicação da autenticidade do registro.

Línguas é a mesma palavra grega (glossa) do versículo 4, mas diferente daquela traduzida como "língua" (dialektos) no versículo 8. A frase final dos ouvintes maravilhados destaca um contraste com o que aconteceu com a confusão de línguas em Babel (Gn 11.7). As grandezas de Deus incluiriam principalmente a ressurreição de Jesus Cristo dos mortos. O deslumbramento foi seguido pela perplexidade: Que quer isto dizer? (12) A explicação dada por alguns foi a de que os discípulos estavam cheios de mosto (vinho novo; 13). A primeira colheita da uva não acontecia antes de agosto, e agora era junho. Assim, alguns estudiosos afirmaram ter encontrado um erro aqui. Mas Lake e Cadbury escrevem que "o problema é solucionado por Columella... que dá uma receita para impedir que gleukos se azede". A expressão pode referir-se ao vinho misturado com mel. Uma tradução melhor é "vinho doce", que é o que significa gleukos (cf. "glucose"). O escritor romano, Cato, dá esta receita: "Se você deseja manter o vinho novo doce durante o ano inteiro, coloque-o numa jarra, cubra a tampa com breu, coloque a jarra em um lago de peixes, retire-a depois de trinta dias; você terá vinho doce durante o ano inteiro". Se surgir a pergunta de como os homens poderiam ficar embriagados com suco de uva não fermentado, a resposta pode ser que os que zombavam estavam falando sarcasticamente. Este "vinho doce", se armazenado apropriadamente, pode muito bem ter sido o que Jesus e os seus discípulos bebiam. 2. A Exposição do Testemunho (2.14-36) O sermão de Pedro no Dia de Pentecostes é o primeiro de um considerável número de longos sermões no livro de Atos (cf. o sermão curto de Pedro em 1.16-22). Selwyn, no seu excelente comentário sobre a primeira carta de Pedro, destacou inúmeros paralelos entre este sermão e a primeira epístola de Pedro. Embora muitos estudiosos recentes tenham afirmado que os discursos no livro de Atos foram feitos pelo autor do livro e colocados na boca dos seus personagens — de acordo com o costume daquela época — é digno de nota que Macgregor aceite a força da apresentação de Selwyn. Ele também diz que a ausência de ideias teológicas avançadas "nos primeiros discursos de Pedro colabora fortemente para o uso das fontes documentais primitivas". Selwyn faz referência ao "estilo semita áspero e à doutrina primitiva que marcam partes dos discursos de Pedro".

a. A Profecia de Joel (2.14-21). Pedro levantou-se com os onze — seus companheiros apóstolos — levantou a voz e disse-lhes (14). Temos a impressão de que o falar em várias línguas tinha terminado e que toda a multidão ouviu quando Pedro fez o seu sermão. Disse não é o verbo normal, lego, mas um composto forte, apophthengomai, que aparece somente aqui e em 26.25. Pode ser traduzido como "falou" (ASV) ou "advertiu-os". "A implicação é que o discurso de Pedro é uma manifestação inspirada e que estava em uma linguagem bem articulada". Os três verbos no começo deste versículo sugerem três coisas que todo pregador deveria fazer no púlpito: levantar-se ("endireitar-se"), erguer a voz, e falar. Varões judeus (em algumas versões, "homens da Judeia") pode ser traduzido como "companheiros judeus". Pedro procurava ganhar a atenção da sua audiência por essa forma cortês e amigável de falar. Escutai é, mais exatamente, "deem ouvidos" (ASV). A palavra grega, encontrada somente aqui no Novo Testamento, é um composto das palavras que significam "dentro" e "orelha". Assim, sugere a ideia de "ligar-se". É isso o que um pregador deseja que a sua audiência faça. A primeira coisa que Pedro fez foi negar a acusação de embriaguez. Ele chamou a atenção para o fato de que era somente a terceira hora do dia (nove horas da manhã), muito cedo para que alguém estivesse embriagado. "O costume judeu era o de não comer antes dessa hora, que era a hora da oração matinal". Lumby escreve: "Os judeus bebiam vinho somente com carne, e, segundo o costume estabelecido em Êxodo 16.8, eles comiam pão pela manhã e carne à tarde, e assim não bebiam vinho antes das horas finais do dia".

Qual é, então, a explicação? Pedro declarou: isto é o que foi dito pelo profeta Joel (16). Estes homens não estavam embriagados; eles estavam cheios do Espírito (cf. Ef 5.18).

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Em 2.1-18, encontramos "o significado de Pentecostes". O assunto é a pergunta do versículo 12, que quer isto dizer? 1. O que quer dizer este vento impetuoso? O poder sobrenatural agora está disponível para transformar vidas e capacitar e igreja a obedecer a Grande Comissão (2.1-2,1.18); 2. Que querem dizer as línguas repartidas como que de fogo que pousaram sobre cada um deles? Que os seus corações estavam purificados, que eles poderiam ser cheios do Espírito Santo (2.3; 15.8-9); 3. Que quer dizer o falar em outras línguas? Que o Evangelho deve ser transmitido universal e eficazmente (7-8,16-18). (G. B. Williamson) A citação encontrada nos versículos 17-21 é tomada de Joel 2.28-32. A primeira parte (vv. 17-18) foi cumprida no dia de Pentecostes, quando o Espírito foi derramado sobre os discípulos que esperavam. Mas e os versículos 19-20? Estes sinais não foram cumpridos literalmente nesta ocasião. A chave para a resposta parece ser a frase últimos dias (17). Lumby diz: "Na linguagem dos profetas do Antigo Testamento, estas palavras significam a vinda do Messias (cf. Is 2.2; Mq 4.1)". Isto é, os últimos dias são os dias do Messias. Eles se iniciaram com a sua primeira vinda e continuarão durante a sua segunda vinda. Os versículos 19-20 referem-se basicamente ao retorno de Cristo no final dessa era. Mas isto já está no quadro negro divino. Winn adequadamente afirma: "O sentido da vida nos últimos dias marca todo o Novo Testamento". Na mesma linha, Bengel escreve: "Todos os dias do Novo Testamento são os últimos dias". Com respeito à frase do meu Espírito (genitivo partitivo), ele diz: "No texto de Joel, a expressão é meu Espírito a expressão de Pedro é 'do meu Espírito', tendo especial respeito ao Pentecostes, em particular". O cumprimento da profecia de Joel não acabou naquele dia, mas prossegue durante toda esta era. No pensamento do próprio Joel, provavelmente toda a carne significava toda a nação de Israel, ou seja, todas as classes de israelitas — velhos e jovens, servos e senhores. Mas na mente do Espírito, e como é usada no Novo Testamento, a expressão tem um significado universal. A frase e profetizarão (18) não está no texto de Joel. Ela se repete aqui e no versículo 17 para enfatizar que os servos e as servas, assim como os filhos e as filhas, profetizarão. Em lugar da palavra glorioso (20), citada da Septuaginta, o texto em hebraico de Joel tem uma outra palavra que significa "terrível". Este adjetivo é usado para descrever o dia do Senhor em Joel 2.11,31. Nos versículos 16-18, vemos as "possibilidades do Pentecostes". Toda a carne — o Pentecostes desconsidera qualquer limite. Últimos dias — o Pentecostes ultrapassa a própria história. 1. O Pentecostes preserva a glória do passado (16); 2. O Pentecostes provê a realidade no presente (16); 3. O Pentecostes promete a vitória para o futuro (17-18). (G. B. Williamson) O versículo 21 resume o Evangelho em poucas palavras: todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Em Joel, Senhor se referia a Deus Pai, mas aqui é transferido a Cristo. Knowling escreve: "Na sua relação com a divindade do nosso Senhor, este fato é de importância básica, porque não é simplesmente que os primeiros cristãos se dirigiam ao seu Senhor ascendido tantas vezes pelo mesmo nome que é usado para 'Jeová' na LXX—embora certamente seja notável que em 1 Tessalonicenses o nome se aplique a Cristo mais de vinte vezes — mas que eles não hesitavam em referir a Ele os atributos e as profecias que os grandes profetas da nação judaica tinham associado com o nome de Jeová".

Para os israelitas, salvo significava "libertado" (cf. Jl 2.32). Mas a aplicação que Pedro faz mostra que ele a interpretava como a salvação espiritual por meio da fé no nome de Jesus (cf. 38). b. Jesus de Nazaré (2.22-28). Varões judeus significa, literalmente, "homens, israelitas" (cf. 14). Como no versículo 14, Pedro pede para a audiência: escutai estas palavras (22). Os versículos 14-21 constituem a introdução para o sermão. Negativamente, o falar em várias línguas não se devia à embriaguez. Positivamente, simbolizava o fato de que o Espírito Santo tinha sido derramado sobre os discípulos que estavam esperando e que, cheios do Espírito, eles iriam pregar o Evangelho por todo o mundo (cf. 1.8). O sermão propriamente dito se inicia no versículo 22 e se estende até o 36. Pedro falou a respeito de Jesus: 1. O seu ministério de realização de milagres (22); 2. A sua crucificação (23); 3. A sua ressurreição (24-32); 4. A sua ascensão e exaltação (33-36). Ele o apresenta como Jesus, o Homem, e como Jesus, o Senhor. Este primeiro sermão de Pedro pode ser interpretado como um bom exemplo do conteúdo da pregação apostólica (kerygma). O seu tema principal era Jesus — crucificado, ressuscitado, glorificado. Ele é ao mesmo tempo Salvador e Senhor.

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Aprovado (22) significa "confirmado, certificado" (RSV) ou "divinamente certificado" (Berk.). O verbo grego era usado nos papiros daquele período no sentido de "proclamar" uma indicação a uma função pública. Pedro afirma que os milagres que Jesus realizou eram as suas credenciais divinas, proclamando a indicação de Deus de Cristo como o Messias. O versículo 22 contém as três palavras usadas para significar milagres nos Evangelhos. Prodígios significa literalmente "poderes" (dynameis), i.e., "obras poderosas" (ASV). Maravilhas (terata) é uma palavra menos comum (16 vezes no Novo Testamento, em comparação com 120 vezes de dynamis). Ela aparece somente uma vez em Mateus, Marcos e João, mas 9 vezes no livro de Atos. Sempre é traduzida como "maravilha". Sinais (semeia) é traduzido como "milagre" 23 vezes no Novo Testamento (KJV), em um total de 77 vezes. Mas o seu significado correto é "sinal". A primeira destas três palavras para os milagres de Jesus enfatiza a sua natureza (obras poderosas), a segunda chama a atenção para o efeito produzido, "maravilha", e a terceira ressalta o seu objetivo e importância: aqueles eram "sinais" da divindade de Jesus. A segunda palavra nunca ocorre no Novo Testamento sem a terceira. O significado destes milagres era mais importante do que o aspecto de "maravilhar". Um dos grandes paradoxos da vida é o fato duplo da soberania divina e da liberdade humana. No versículo 23, estas se unem. Jesus foi "entregue" (ASV) pelo determinado conselho e presciência de Deus. Ao mesmo tempo, foram os homens que o tomaram e crucificaram. Embora a morte de Cristo estivesse no plano divino da redenção, isto de nenhuma maneira diminui a culpa daqueles que o mataram, porque eles agiram de livre e espontânea vontade. A palavra grega para presciência é prognosis. Ela é usada somente aqui e em 1 Pedro 1.2. Esta é uma das muitas correspondências entre a primeira epístola de Pedro e os seus sermões no livro de Atos. Uma distinção cuidadosa é feita entre os judeus que tomaram Jesus e os gentios que o crucificaram. Pelas mãos de injustos significa literalmente "pelas mãos de homens sem lei", ou seja, homens que não seguiam a Lei de Moisés. Esta expressão "sem lei" era "frequentemente usada na literatura judaica em relação aos romanos", e esse é o seu significado aqui. Mas a crucificação foi revertida pela ressurreição — ao qual Deus ressuscitou (24). O termo ânsias pode ser traduzido como "dores" (ASV), pois a palavra grega significa literalmente "dores do parto". É usada no seu sentido literal em 1 Tessalonicenses 5.3. Aqui, como em Mateus 24.8 e Marcos 13.8, ela provavelmente sugere as dores do parto de uma nova era. Alonga citação dos versículos 25-28 é tomada de Salmos 16.8-11. O salmo aqui é atribuído a Davi, que se alegra de que o Senhor não deixará a sua alma no Hades (ou Seol), o lugar dos mortos. c. Jesus, o Senhor (2.29-36). Varões irmãos (29) significa literalmente "homens, irmãos". Pedro iniciou o seu sermão com "Varões judeus" (14). Depois da introdução, ele começou o corpo do sermão com "varões israelitas" (22). Agora, ele diz "varões irmãos" (cf. 1.16; 2.37). Com muito tato, o apóstolo procurava a atenção da sua audiência, que era basicamente judaica. Pedro toma as palavras de Davi e aplica-as a Cristo. Davi morreu e foi sepultado. Neste ponto, Pedro está certo de que não haverá contradição. Seja-me lícito dizer-vos livremente pode ser traduzido como "Eu posso confiantemente dizer a vocês" (NASB). Além disso, entre nós está até hoje a sua sepultura. Ali o corpo — ou pelo menos os ossos — ainda poderia ser encontrado. Não seria a mesma coisa com o corpo de Jesus, o que foi provado pelo sepulcro vazio. Pedro declarou que Davi escreveu como um profeta (30), que acreditou na promessa de Deus de que um dos seus descendentes sentar-se-ia no seu trono. Sendo um profeta, ele previu, pelo menos de certo modo (cf. 1 Pe 1.10-12), a ressurreição de Cristo (31) — literalmente, "o Cristo" (i.e., "o Messias"). Então Pedro marcou um ponto: "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas" (32). Assim, a profecia foi cumprida. A expressão do que pode igualmente significar "de quem" ou "da qual". A preferência provavelmente recai sobre "da qual", referindo-se à ressurreição. A relação íntima da ressurreição (32) e a ascensão (33) também é encontrada em 1 Pedro 3.21-22 — outra evidência da autenticidade dos sermões de Pedro no livro de Atos. Derramou é o mesmo verbo que é corretamente traduzido da mesma maneira nos versículos 17 e 18. A imagem não é a de espalhar algo como ao tirar a roupa de alguém, mas como despejar algo de um recipiente. Foi desse derramamento do Espírito que Jesus tão claramente falara aos discípulos: "Se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei" (Jo 16.7).

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A multidão podia ver e ouvir os resultados do derramamento do Espírito sobre os discípulos. Eles podiam ver a mudança nos apóstolos, e podiam ouvir a nova mensagem que estava sendo pregada. A referência também pode ter sido a visão das línguas de fogo e a audição do som como um vento veemente e impetuoso (2-4). No versículo 34, o apóstolo retorna ao contraste entre Davi e Cristo. Davi não subiu aos céus, i.e., corporalmente. Mas Jesus sim. No Salmo 110 — o capítulo do Antigo Testamento mais frequentemente citado no Novo Testamento, e que os judeus afirmam ser messiânico — Disse o Senhor [Jeová] ao meu Senhor [Adon]: Assenta-te à minha direita. Este sempre era o lugar especial de honra, da mesma maneira que o convidado de honra se senta hoje à direita do anfitrião. Ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés (35) é uma referência ao antigo costume dos vencedores de colocar o pé no pescoço dos vencidos (cf. Js 10.24). Finalmente, Pedro chega ao clímax do seu sermão: a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo (36). O que chocava os judeus era que Pedro ousava igualar Jesus ao Deus Jeová do Antigo Testamento.

3. O Testemunho Eficaz (2.37-47) Provavelmente, nenhum sermão já pregado jamais teve um efeito maior. Isto se deveu ao recente derramamento do Espírito. a. O Arrependimento do Povo (2.37-42). Quando o povo ouviu a mensagem de Pedro, eles compungiram-se em seu coração (37). O verbo forte (somente aqui no Novo Testamento) significa "perfurar, espetar agudamente, alfinetar, ferir". Esta é uma vívida descrição da obra do Espírito Santo para convencer o coração humano do pecado (cf. Jo 16.8). Em resposta a esta condenação, o povo dizia: Que faremos? A resposta de Pedro foi simples e específica: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado (38). A palavra grega para "arrepender" (metanoeo) significa "modificar o seu pensamento", i.e., modificar a sua atitude em relação a Deus, ao pecado, ao mundo, a si mesmo. Aqui, ela significa que o povo deveria mudar a sua atitude com relação a Jesus. Ao invés de rejeitá-lo, deveriam aceitá-lo como "Senhor e Cristo" (36), ou seja, o seu Messias. Como testemunho público disso, eles deveriam ser batizados em nome de Jesus. Cada um de vós seja batizado significa, literalmente, "Que cada um de vós seja batizado". Esta deveria ser a etapa seguinte ao arrependimento, como no ministério de João Batista (Mc 1.4). Mas aqui o batismo deveria ser em nome de Jesus Cristo — um batismo cristão inconfundível. Isto deveria acontecer para perdão dos pecados. A. T. Robertson diz que o significado disso é "com base no perdão dos pecados que eles já tinham recebido". Assim, eles se tornavam aptos a receber o dom do Espírito Santo. A promessa não era apenas para os judeus de Jerusalém, e para os seus descendentes, mas também a todos os que estão longe (39), ou seja, os gentios, definidos também como tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar. Esta expressão deve ser interpretada à luz do versículo 21 — "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo", ou seja, a promessa é feita a todos aqueles que responderem ao chamado de Deus. E com muitas outras palavras (40) Pedro testificava ("declarava solenemente") e exortava o povo para que se salvasse daquela geração perversa — literalmente "distorcida" (cf. Dt 32.5; Sl 78.8; Fp 2.15). Os resultados foram espantosos. Quase três mil almas (pessoas) somaram-se ao relativamente pequeno grupo de crentes que tinham sido cheios com o Espírito naquele mesmo dia. Era uma tremenda demonstração do poder do Espírito Santo. Estes novos convertidos perseveravam na doutrina (melhor "ensino", didache) dos apóstolos, e na comunhão (koinonia). Isto é, havia uma unidade de fé e de espírito. O partir do pão provavelmente se refere a uma celebração frequente da Ceia do Senhor. As orações aconteciam tanto nas casas particulares quanto no Templo (cf. v. 46). b. O Progresso se Repete (2.43-47). Este último parágrafo do capítulo parece, à primeira vista, descrever uma comunidade de bens na Igreja Primitiva em Jerusalém. Mas o texto grego dá uma impressão um pouco diferente daquela resultante da tradução em português. O tempo imperfeito, que significa uma ação contínua ou repetida, aparece nada menos que oito vezes nestes cinco versículos (43-47). Em 44 e 45, o uso do imperfeito é excessivamente significativo para a exegese correta. Os crentes "tinham tudo em comum" (tradução literal de 44b); ou seja, eles deixavam todas as suas posses à disposição da igreja, para que fossem usadas conforme a necessidade. O versículo 45 pode ser adequadamente parafraseado assim: "E de tempos em tempos eles vendiam as suas posses e os seus bens, e os repartiam entre todos, segundo as necessidades que cada um tinha de tempos em tempos". A implicação é a de que, quando surgiam as necessidades especiais, algum crente, ou alguns crentes, vendiam propriedades e

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tornavam os resultados da venda disponíveis para solucionar a emergência. A mesma coisa ainda acontece hoje entre os cristãos consagrados. Os primeiros discípulos — a maioria composta por judeus — continuavam a adorar diariamente no templo (46). Isto era natural. Posteriormente, a perseguição aos judeus expulsou-os do Templo, e também das sinagogas. Eles também partiam o pão em casa. O texto grego também poderia ser traduzido como "de casa em casa". Não havia edifícios para igrejas no início, e a maioria das reuniões de adoração era conduzida nas casas. Louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo (47) é uma combinação desejada na igreja de todos os tempos e lugares. O Senhor estava acrescentando diariamente novas pessoas ao número de crentes. Esta era uma igreja em crescimento. A última frase, aqueles que se haviam de salvar, é uma tradução completamente injustificável. Não existe aqui nenhuma indicação de predeterminação ou predestinação. O texto grego diz claramente: "todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que estavam sendo salvos". Isto simplesmente afirma que aqueles "que estavam sendo salvos" uniam-se ao crescente grupo de discípulos em Jerusalém. Este capítulo sugere "o milagre do Pentecostes". 1. As condições do Pentecostes (1). Os discípulos estavam juntos em Jerusalém, em obediência ao mandamento de Cristo (1.4), e pela fé de que Ele cumpriria a sua promessa (1.5). 2. Os acompanhamentos do Pentecostes (2-3). Estes foram o som de um vento tempestuoso e a visão das línguas repartidas — ambos símbolos do Espírito Santo. 3. As consequências do Pentecostes (37-42): convicção (37), conversão (41), comunhão (42). Bibliografia R. Earle Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/1trimestre/sumario.htm

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1. Jesus Sobe aos Céus ( Atos 1.1-11)

Atos e o terceiro evangelho certamente nasceram da mesma mão. A dedicatória comum, e também

os interesses comuns e a unidade de linguagem e estilo eliminam toda dúvida. Além do mais, a maneira como

ambos os livros são apresentados — o evangelho com seu prefácio relativamente minucioso, e Atos com sua

introdução mais breve, mas fazendo eco da linguagem do primeiro livro — salienta o fato de que não se trata

apenas de dois livros escritos pelo mesmo autor, mas dois volumes de um único livro. Essa disposição de

uma obra em certo número de "volumes" com o mesmo prefácio, e outros livros sendo publicados mais

tarde com suas próprias introduções breves, não eram novidade na editoração antiga (cp. p.e., Josefo [Contra

Apião], 2.1-7; veja BC, vol. 2, p. 491).

Diferentemente do evangelho, em Atos não há uma linha demarcadora que separe a introdução da

narrativa. O que se inicia em Atos como referência ao prefácio do outro livro torna-se resumo breve do

conteúdo total do evangelho — uma narrativa conducente ao novo material da seção seguinte. O famoso

satírico grego Luciano (nascido cerca de 120 d.C.) diz-nos sob forma de máxima que a transição entre o

prefácio de um livro e a narrativa propriamente dita deve ser gradual e suave (On Writing History 55

[Escrevendo a História]). Lucas atende aos preceitos de Luciano.

1 : 1 / O livro é dedicado a Teófilo, um homem de certa posição, segundo o cumprimento no

evangelho, "Sua Excelência" (Lucas 1:3, GNB; ECA: "ó excelente Teófilo"). Explica Lucas que no primeiro

tratado — é evidente que se refere ao evangelho — Lucas se propusera fornecer "uma narração dos fatos que

entre nós se cumpriram... desde o princípio..." (Lucas 1:2-3), "tudo o que Jesus começou, não só a fazer, mas

também a ensinar, até o dia em que foi recebido em cima no céu..." (Atos 1:1-2). Estas palavras revelam como é

que Lucas entendia o escopo de seu primeiro volume. Esse primeiro livro interessava-se apenas pelo começo

do trabalho de Jesus, ficando a implicação de que tal obra prosseguiu "até o dia em que [Jesus] foi recebido

em cima". A tese de Lucas é a seguinte: Jesus continua ativo. O que mudou foi seu método de trabalho.

Agora ele não está mais na carne; ele prossegue "a fazer, mas também a ensinar" mediante seu "corpo", a

igreja (veja disc. acerca de 9:5). Essa é a história de Atos.

1:2 / Antes de encetar a narração de sua história, Lucas recorda brevemente os eventos que

encerraram o primeiro livro. Antes da ascensão, Jesus havia dado mandamentos... aos apóstolos que

escolhera. No evangelho, o título "apóstolos" limita-se aos Doze (Lucas 9:10; 17:5; 22:14; 24:10; cp. Mateus

10:2ss; Marcos 6:30), e segundo o próprio Lucas, foi Jesus quem o concedeu pessoalmente aos Doze (Lucas

6:13). Em Atos também a referência primordial desse título cabe aos Doze, embora os versículos 21 e 22

sugiram que outros discípulos poderiam ter sido incluídos e que, com toda certeza, outras pessoas

partilharam as experiências dos apóstolos (veja ainda as notas sobre o v. 26). Mais tarde, esse título haveria de

receber aplicações mais amplas (veja 14:4, 14). Como vemos do v. 5, as instruções de Jesus relacionavam-se

em parte ao dom do Espírito Santo. Todavia, o Espírito já se envolvera na obra que o Senhor realizava. É que

Jesus os ensinava agora pelo Espírito Santo. Alguns comentaristas preferem aplicar essa expressão à escolha

que Jesus fizera dos Doze; todavia, a leitura mais natural do texto grego leva-nos a aplicá-la à declaração de

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que o Senhor havia "dado mandamentos" e a entendê-la com o sentido de que Jesus, em seu magistério,

estivera investido de poder e autoridade divinos. Seja como for, somos informados aqui de que na história

prestes a ser narrada, o Espírito Santo desempenha papel de suma importância. O Espírito é mencionado quatro

vezes só neste capítulo (vv. 2, 5, 8 e 16).

1:3 / Durante quarenta dias após sua morte, Jesus apareceu a seus discípulos. O grego diz

literalmente: "por espaço de quarenta dias", o que parece não significar que o Senhor estivera com eles

continuamente, mas que aparecia de tempos em tempos durante esse período de tempo. Quarenta era

usado com freqüência como número arredondado, mas neste caso específico parece referir-se ao número

exato de dias, constituindo um período menor do que os cinqüenta dias entre a Páscoa e o Pentecoste (veja

disc. sobre 2:1). A mais extensa relação de que dispomos das aparições de Jesus inicia-se em 1 Coríntios

15:5, embora até mesmo esta lista, como o demonstram os evangelhos, está longe de ser completa. A

expressão "muitas vezes" usada por GNB (não existe correspondente no grego) pode ser hipótese aceitável.

É evidente que quanto mais vezes os discípulos vissem a Jesus, menores seriam as probabilidades de que

estivessem enganados. Observe como Lucas sublinha a realidade da experiência mediante repetições: "aos

quais... se apresentou vivo;" "sendo visto por eles". Estas expressões não dizem tudo, porque o Senhor

também falou a eles, e como ficamos sabendo mediante outra passagem, comeu e bebeu com eles, da

maneira como o fizera nos primeiros dias (veja 10:41; Lucas 24:30, 42s; cp. Lucas 22:17-20). O resultado

final disso tudo foi que os discípulos ficaram com uma convicção irredutível de que Jesus estava vivo, e havia

estado com eles. Lucas emprega expressões fortes, e poderia ter dito: "ficou comprovado sem sombra de

dúvidas". Não tivessem eles estas muitas e infalíveis provas os eventos descritos neste livro jamais teriam

ocorrido. O Senhor lhes falara a respeito do reino de Deus. Desde o começo esse havia sido o assunto de

Jesus, e passaria a ser o assunto de seus discípulos também (veja 8:12; 14:22; 19:8; 20:25; 28:23, 31),

conquanto o pregassem de uma perspectiva diferente. É que o reino havia "chegado com poder" através da

salvação pela morte de Jesus, e na seqüência de eventos (Marcos 9:1). Ainda assim, o que eles pregavam não

era o ensino deles mesmos acerca destes acontecimentos, ou uma doutrina que eles próprios haviam criado,

mas o que lhes fora ensinado pelo próprio Jesus a respeito de sua morte (veja Lucas 24:25s., 45ss.) e, nos anos

vindouros, pelo ministério do Espírito de Jesus (veja, p.e., 1 Coríntios 2:10). Na frase depois de ter padecido,

Lucas emprega uma palavra que, mais do que a maioria, traz-nos à lembrança o custo mediante o qual nossa

salvação foi alcançada (cp. 17:3; 26:23).

1:4 / Além deste tema, outro assunto em particular encontrou lugar de destaque nas instruções de

Jesus: os apóstolos não deveriam sair de Jerusalém, mas aguardar o dom do Espírito Santo, a promessa que

o Senhor lhes fizera, a saber, a dádiva que viria do Pai (cp. Isaías 32:15; Joel 2:28-32; Atos 2:33, 39; Gálatas

3:14; Efésios 1:13, e quanto ao ensino de Jesus, Mateus 10:20; João 14:16s., 25; 15:26; 16:7s., 13-15). Em

NIV, os versículos 4 e 5 parecem referir-se a algo que Jesus havia dito numa ocasião específica, o que pode

ser real. É possível que tenhamos nesses versículos um lembrete do último encontro que tiveram com o

Senhor (cp. vv. 6-8; Lucas 24:48s.). Contudo, no grego o uso do particípio presente sugere, em vez disso, que

a referência se aplica a várias ocasiões em que estiveram reunidos, nas quais essas instruções foram dadas

(cp. João 20:22).

Fica bem claro que para Jesus era questão de suma importância que os discípulos estivessem prontos

para receber o dom que o Pai lhes havia prometido. O fato de os discípulos estarem prontos, e haverem

expressado essa prontidão pela oração cheia de expectativa, pode ter sido a condição que lhes possibilitou

receber o dom do Espírito. Parece que o local também tinha grande importância. A tendência dos discípulos

teria sido voltar à Galiléia (veja João 21), mas Jesus enfatizou que deveriam permanecer em Jerusalém —

depois de ter dado mandamentos... ordenou-lhes (vv. 2, 4); no grego há um verbo que Lucas emprega com

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freqüência quando quer dar ênfase especial. No entanto, não sabemos por que Jerusalém; sabemos, porém,

que Isaías havia falado de um novo ensino que procederia dessa cidade, e de uma nova obediência que se

seguiria (Isaías 2:3), e tudo quanto se profetizou veio a cumprir-se.

Seja como for, havia algo bem apropriado em o dom do Pai ser concedido naquele mesmo lugar onde,

bem pouco tempo atrás, um povo rebelde e desobediente havia sentenciado Jesus à pena de morte (cp. 7:51;

Neemias 9:26). E aqui, evidentemente, um maior número de pessoas haveria de receber o testemunho inicial

dos apóstolos a respeito de Cristo.

1:5 / Jesus lhes havia prometido o poder para testemunhar tão logo fossem batizados com o Espírito

Santo (cp. v. 8). Esta expressão também havia sido usada por João Batista (veja Mateus 3:11, etc), e deriva

do batismo com água. Sendo metáfora do dom do Espírito, essa expressão não comunica tudo que o dom

representa e contém, mas infunde a consciência exigida para uma experiência arrebatadora. A promessa

haveria de ser cumprida não muito depois destes dias (veja disc. sobre 2:4; cp. 2:17; 11:15).

1:6 / Lucas considerou tão importante o ensino desses poucos dias anteriores à ascensão, que nos

deixou três relatos diferentes a seu respeito: um no evangelho (Lucas 24:44-49), outro no prefácio de Atos, e

um terceiro nos versículos 6 a 8 desta seção. Embora o texto possa basear-se na memória de uma ocasião

particular, talvez o último encontro de Jesus com seus discípulos seja considerado típico das instruções que o

Senhor lhes deu durante todo o período pós-ressurreição. Os demais versículos desta seção (9-11) relatam o

acontecimento que encerrou esse período. Constituem o relato mais completo, talvez o único em todo o

Novo Testamento, sobre a ascensão, visto que os textos de Marcos 16:19 e Lucas 24:51 talvez não sejam

originais. Dada a singularidade dessa passagem, seu valor histórico tem sido questionado, e Lucas acusado de

trasladar um evento puramente espiritual para o mundo material. Todavia, ainda que tal acontecimento não

seja descrito noutras passagens, certamente a ascensão fica subentendida nas freqüentes referências a

Cristo à mão direita de Deus (p.e., 2:33s.; 3:21; João 6:62; Efésios 4:8-10; 1 Tessalonicenses 1:10; Hebreus 4:14;

9:24; Apocalipse 5:6) sendo claramente afirmada duas vezes, uma vez por Pedro (1 Pedro 3:21s.), e outra por

Paulo (1 Timóteo 3:16), que talvez estivesse citando um hino cristão primitivo.

É bem difícil imaginar que Lucas escreveria uma história fictícia desse teor, e ainda assim ficasse impune,

estando vivos os apóstolos (mencionados como testemunhas oculares dos fatos) e seus sucessores. É certo

que o Novo Testamento não oferece nenhuma explicação para o súbito fim nas aparições pós-ressurreição de

Cristo. No entanto, visto que Lucas está descrevendo um evento que transcende este mundo, tendo que usar

termos deste mundo, não se pode dar-lhe uma interpretação literal. Não devemos, todavia, perder de vista o

fato de que algo sobrenatural aconteceu — um fato que convenceu os apóstolos de que Jesus havia sido

"recebido em cima no céu"; teria sido um evento inefável (podemos supor) cuja melhor descrição humana

seria vazada nesses termos.

A pergunta feita neste versículo pelos apóstolos poderia ter sido formulada em qualquer época,

durante aqueles quarenta dias em que Jesus esteve com eles, visto ter-lhes o Senhor falado várias vezes a

respeito do reino de Deus (cp. v. 3). De fato, o verbo no tempo imperfeito sugere que a pergunta fora formulada

mais de uma vez. Contudo, se tal pergunta foi levantada na última reunião com Jesus, prevalece a mágoa

dolorosa da incapacidade de os discípulos (até o fim) entenderem que seu reino não é deste mundo (cp. João

18:36) mas do âmbito do Espírito, um reino em que se entra mediante o arrependimento e a fé. Seria injusto

afirmar que os discípulos nada aprenderam com Jesus. Em alguns aspectos, haviam caminhado uma longa

jornada (veja a disc. sobre o v. 2; cp. Lucas 24:45).

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Mas fica bem claro que esses apóstolos ainda estavam acorrentados à noção popular de um reino de

Deus eminentemente político, que sua vinda traria a reunião de todas as tribos (veja a disc. sobre 3:21 e as

notas sobre a disc. de 26:7), a restauração da independência de Israel e o seu triunfo sobre todos os inimigos.

Neste campo eles não haviam feito muito progresso, e ainda se prendiam à esperança primitiva de vir a

ocupar lugares de proeminência num reino material (Marcos 10:35ss.; Lucas 22:24ss.). Todavia, em vista de

suas esperanças, e considerando o contexto geral da ressurreição de Jesus e as declarações dele concernen-

tes ao Espírito, a pergunta dos apóstolos, conquanto errada, era bastante natural. No pensamento judaico, a

ressurreição e a vinda do Espírito pertenciam ao novo reino. Na verdade, a profecia de Joel, que Jesus com

toda probabilidade os fez lembrar, poderia ter sido a causa da pergunta que agora os apóstolos apresentam a

Jesus, visto que o profeta falara do derramamento do Espírito de Deus (Joel 2:28ss.), e de Deus restaurando o

reino de Israel (Joel 2:18ss.; 3: lss.). A tensão da expectativa expressa-se no tempo presente do verbo grego.

Não temos ali "restaurares tu neste tempo", mas "Senhor, neste tempo tu restauras o reino de Israel? "

1:7-8 / Não foi esta a primeira vez que os discípulos perguntaram a Jesus o que estava por vir e, como

das outras vezes, o Senhor não lhes deu resposta. Em vez disso, Jesus lhes focalizou a atenção nas obrigações

atuais (cp. João 21:21s.). O futuro está nas mãos de Deus, e não lhes competia saber o que o futuro lhes

traria, pelo menos não em minúcias (cp. Marcos 13:32). A obrigação dos discípulos era a de serem testemu-

nhas (v. 8). Tal comissão obviamente representou uma referência especial aos apóstolos que autenticariam de

modo singular os fatos principais do evangelho — a vida, a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus. Neste

sentido eles eram os alicerces e pilares da igreja (cp. Mateus 16:18; Gálatas 2:9). Mas a igreja edificada sobre tais

alicerces se tornaria em si mesma "a coluna e esteio da verdade" (1 Timóteo 3:15). É aqui que se aplica a

referência secundária das palavras de Jesus. Nem todos são apóstolos, mas todos estão comissionados para

testemunhar a verdade que estabeleceram. A todos, pois, é feita a promessa: recebereis poder, ao descer

sobre vós o Espírito Santo (v. 8). As declarações deste versículo devem ser entendidas como causa e efeito.

Só pode haver testemunho eficaz onde estiver o Espírito e, onde estiver o Espírito, seguir-se-á testemunho

eficaz em palavras, em obras (milagres), e na qualidade de vida daqueles que o receberam (veja a disc. acerca

de 2:4).

A ordem do Senhor tem um escopo universal. Partindo de Jerusalém, os discípulos deveriam sair até os

confins da terra (v. 8). Estas palavras contêm o corretivo para a pergunta individualista dos apóstolos no v. 6,

embora se possa duvidar que eles tenham entendido dessa maneira na época. No máximo talvez

entendessem que Jesus lhes estaria ordenando que testemunhassem aos judeus da diáspora (veja as notas

sobre 2:9ss.) e apenas nesse sentido é que pregariam "o arrependimento e a remissão de pecados, a todas as

nações" (Lucas 24:47; veja a disc. acerca de Atos 10:10ss.). A idéia de incluir os gentios jamais lhes passaria

pela cabeça, e só foi aceita mais tarde com grande dificuldade. O nacionalismo judaico da igreja primitiva

demorou muito a morrer. Todavia, à época em que Lucas estava escrevendo, esse nacionalismo extremado

em grande parte já era coisa do passado, e a frase "até os confins da terra" havia assumido sentido mais

amplo. Abrangia agora o império romano, representado pela própria Roma e, nessa base, Lucas adotou o

programa resumido nesse versículo como estrutura de sua narrativa.

1:9 / Terminados os quarenta dias de instrução, Jesus foi recebido em cima no céu. O grupo havia

tomado o caminho familiar através do ribeiro do Cedrom, indo ao monte das Oliveiras (cp. v. 12), e em algum

ponto nessa área a vida terrena de Jesus chegou ao fim. Visto que os judeus pensavam no céu como estando

"lá em cima" e a terra como sendo "aqui em baixo", o desaparecimento de Jesus a caminho do céu, partindo

do mundo visível para o invisível, expressa-se num "subir". É linguagem que pode não parecer muito

apropriada para nós, mas era bastante coerente para os judeus, e encontra-se noutras passagens do Novo

Testamento, em conexão com a exaltação de Jesus (cp., p.e., Efésios 1:20; Filipenses 2:9; Hebreus 1:3; 2:9).

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Esse pensamento exprime-se nas palavras: uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos, visto que na

linguagem bíblica a nuvem com freqüência é símbolo de glória divina (cp. p.e., Êxodo 16:10; Salmo 104:3).

Trata-se de linguagem pitoresca, o evento deve ser retratado mediante imagens; no entanto, Lucas tem

certeza de que ocorreu um fato objetivo. Observe a ênfase do autor na visão: Jesus foi tomado de diante dos

olhos dos apóstolos: vendo-o eles... ocultando-o a seus olhos; "e estando eles com os olhos fitos no céu

enquanto ele subia" (v. 10). Aqui estava um fato importante, porque aqueles homens deveriam

testemunhar a ascensão de Cristo, bem como sua vida, morte e ressurreição.

1:10-11 / A longo prazo a apreciação dos apóstolos acerca da ascensão de Jesus deve ter vindo de uma

combinação de visão natural e visão sobrenatural (inspirada), esta última decorrente do ensino primitivo de

Jesus. Todavia, deve ter havido concessão suficiente a seus sentidos físicos, de modo que ficassem

convencidos de que aquela despedida de Jesus fora final — do Jesus que haviam conhecido corporalmente.

Lucas expressa a experiência dos apóstolos em termos dramáticos. Ele se refere a dois homens vestidos de

branco que de repente junto deles apareceram (v. 10; cp. 10:30; 12:7; Lucas 2:9; 24:4). Eles são

apresentados com uma exclamação: "olhai" (que não aparece em ECA, mas tem a intenção de transmitir uma

idéia de surpresa diante de um fato providencial (cp. esp. 7:56; 8:27, 36; 10:30; 16:1), visto que Lucas deseja

que entendamos que os "dois homens" eram anjos (cp. Mateus 28:2s; João 20:12). Não ficou claro o que

Lucas entende por "anjos". É possível que tudo que ele queria transmitir fosse um estarrecedor senso da

presença de Deus em tudo que estava acontecendo (veja disc. acerca de 5:19s.; 12:6ss.; cp. 7:30; 8:26; 10:3;

12:23; 27:23, de tal modo que os apóstolos se convenceram de que Jesus haveria de voltar da mesma forma

como havia partido — visivelmente — e manifestando a glória de Deus (tudo isso, é evidente, havia sido

objeto do ensino de Jesus, cp., p.e., Marcos 13:26; 14:62). Entretanto, algum tempo haveria de decorrer antes

de seu retorno. Daí a pergunta: por que estais olhando para o céu? (v. 11). Que acatassem as instruções

recebidas. No presente, deveriam permanecer em Jerusalém (v. 4), a seguir deveriam sair como testemunhas

(v. 8). A ênfase aqui, como em geral por todo o Novo Testamento, está nos deveres atuais dos crentes em vez

de nas especulações a respeito da volta de Cristo. Todavia, sabendo que ele haveria de voltar, os apóstolos se

empenharam em sua tarefa do momento "com grande júbilo" (Lucas 24:52s.). Esta passagem é uma das

poucas referências em Atos à Parousia (cp. 3:20s.; 10:42; 17:31; 23:6; 24:25; veja também as notas sobre 2:17ss.

e disc. acerca de 7:55s.).

Notas Adicionais # 7

1:1 / Teófilo: O nome significa "amigo de Deus" e acabou significando todos os amigos de Deus, isto é, os

leitores cristãos em geral. Outros o consideram um pseudônimo de alguém cujo nome não poderia ser

revelado. Todavia, não se trata de um nome incomum na época, não havendo nenhuma razão para

pensarmos que Teófilo não tenha sido uma pessoa real, mas personagem fictícia com esse nome. O emprego

do título, à guisa de pronome de tratamento "ó excelente Teófilo", é comprovação disto (Lucas 1:3) e dá a

entender, também, tratar-se de pessoa de certa importância. Era título apropriado a um membro das forças

eqüestres romanas (pertencente, portanto, a uma classe social média superior), sendo aplicado noutras

passagens de Atos aos procuradores da Judéia, visto que muitos destes eram membros das forças militares

eqüestres (veja 23:26; 24:3; 26:25). Parece que Teófilo era um cristão.

Começou: Alguns autores consideram inútil esta palavra, sem sentido, mera redundância do aramaico.

Todavia, neste contexto, o sentido que sugiro aqui parece mais apropriado. A idéia de que Atos seria apenas

uma continuação da história de Jesus choca-se contra a teoria proposta por H. Conzelmann, The Theology of

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Saint Luke, segundo a qual Lucas dividiu a história em três períodos, dos quais a história de Jesus era o

"tempo intermediário", enquanto os eventos relatados em Atos seriam o "período da igreja". Na realidade, a

obra toda em dois volumes cobre uma única história sobre Jesus, a qual, na mente de Lucas, pertencia aos

"últimos dias".

1:3 / o reino de Deus: Para uma compreensão apropriada deste termo, é preciso notar que tanto as

palavras do grego quanto as do hebraico, ou do aramaico, assim traduzidas significam reinado, em vez de

reino, e governo, em vez de domínio. Portanto, em essência, o reino de Deus "não é uma comunidade de

cristãos e tampouco a vida interna da alma, nem ainda um paraíso terrestre que a humanidade está trazendo

à luz, estando agora em pleno desenvolvimento" (G. Lundstrom, The Kingdom of God in the Teaching of Jesus

[O Reino de Deus no Ensino de Jesus]), Edimburgo: Oliver & Boyd, 1963, p. 232, embora possa abranger todas

essas noções, mas em vez disso é Deus agindo com poder real, exercendo sua soberania e, de modo especial,

impondo seu governo, objetivando o destronamento de Satanás e a restauração da humanidade ao

relacionamento íntimo com o próprio Senhor Deus. Entretanto, isto se concebeu de várias maneiras: às vezes,

em termos da soberania eterna de Deus e às vezes, em termos de nossa presente experiência com o Senhor,

mas principalmente em termos da manifestação futura do reino, sendo seu estabelecimento marcado pela

expressão "Dia do Senhor", quando Deus e/ou o Messias apareceria, ocasião em que os mortos haveriam de

ressuscitar, iniciando-se um novo tempo (veja as notas sobre 2:17ss.). Por esta época todos haveriam de

conhecer a Deus, do menor ao maior, e todos seriam por ele perdoados (Jeremias 31:34) e o Senhor derramaria

de seu Espírito sobre todos (Joel 2:28).

Para os contemporâneos de Jesus, bem como para todas as gerações que os precederam, o reino de

Deus concebido nestes termos não passava de uma esperança muito distante. Imagine-se, pois, o tremendo

espanto dos discípulos quando o Senhor lhes anunciou que o reino se tomava realidade (veja, p.e., Marcos

1:22, 27). "O tempo está cumprido", afirmou o Senhor (isto é, o tempo tão esperado de sua manifestação), "e

o reino de Deus está próximo" (Marcos 1:15; cp. p.e., Lucas 17:21). No entanto, se Jesus estava certo (e as

evidências de sua vida, seus milagres, sua ressurreição e o derramamento no Pentecoste nos asseguram que

ele estava certo), fica evidente que o reino não chegou da maneira esperada. Por enquanto, o reino haveria

de ser uma experiência parcial e pessoal (conquanto muito real) para todos quantos se submeterem ao

governo de Deus em Jesus Cristo (cp. 1 Coríntios 13:12). Somente quando o Senhor voltar, o reino de Deus

será completamente estabelecido e o governo divino dominará sobre todos (veja as disc. acerca de 3:19-21;

14:22; cp. 1 Coríntios 15:24s.). Assim é que o Dia do Senhor que, em certo sentido, pode-se afirmar ter

chegado quando Jesus veio à terra, vem demorando todos esses anos para completar-se até que Cristo

retorne. Grande parte dos textos do Antigo Testamento que descrevem o Dia do Senhor aplica-se, no Novo

Testamento, ao "Dia de Cristo", a saber, ao dia em que ele vai voltar.

1 :4 / Estando comendo com eles: A palavra que originou esta tradução (synalizein) não é comum,

encontrando-se no Novo Testamento somente aqui e de novo (sujeita a divergência) no Antigo Testamento

(LXX, Salmo 140:5). Deriva-se ou de outra palavra que significa "encontrar-se" (GNB) ou de uma palavra que

significa "sal", e, desta, "comer juntos". Prefere-se a última derivação, com base em que o autor está

recapitulando os acontecimentos de Lucas 24:42ss.

1:7 / os tempos ou as épocas: As duas palavras gregas representadas por estas traduções às vezes

são consideradas sinônimas. É sempre difícil estabelecer uma distinção clara entre uma e outra. Aqui, todavia,

tempos (gr. chronous) é palavra usada com o sentido de períodos de tempo ou eras da história do mundo; e

épocas (gr. kairous) seriam os momentos críticos dentro dessas eras da história.

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1:8/ Ao descer sobre vós o Espírito Santo: A expressão grega aqui pode ser traduzida de duas

maneiras. O caso genitivo do Espírito Santo pode relacionar-se a poder, dando o sentido de "vós recebereis

o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós" (cp. Lucas 4:14; Romanos 15:13, 19), ou pode ser tomado

como genitivo absoluto com sentido temporal. NIV preferiu esta última alternativa, que é a melhor.

E sereis minhas testemunhas: Aqui o caso genitivo do pronome pessoal nos apresenta duas

possibilidades (alguns textos trazem o caso dativo, que nos daria opções semelhantes). Ou se trata do genitivo

objetivo, expressando o pensamento de que o Senhor é aquele a respeito de quem eles seriam testemunhas,

ou se trata do genitivo possessivo, indicando o relacionamento pessoal dos discípulos com o Senhor — eles

são testemunhas dele. Ambas as opções são reais, sendo a ambigüidade intencional.

Em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra: o fato é que no

princípio da história da igreja o significado total das palavras de Jesus só foi entendido com muita lentidão, e

que, para muitos desses seguidores, tocar nesse assunto eqüivalia a tocar em espinheiro. Mas isto não

precisa necessariamente levar-nos a supor que o Senhor jamais lhes deu estíis instruções, e que estas lhes

teriam chegado posteriormente, por mão de terceiros. A história de Israel, e na verdade a história da própria

igreja está cheia de exemplos de como as pessoas não conseguiram atingir os mais nobres ideais de seus

líderes.

A forma do enunciado mostra conhecimento íntimo do contexto político e social da época. Quanto a

uma definição mais ampla de Judéia, veja a disc. acerca de 10:37. Aqui, Judéia refere-se àquela parte da

Palestina habitada pelos judeus> separada de Samaria e da Galiléia (cp. 9:31; 11:29; 15:1; 26:20; 28:21), e às

vezes exclui-se também a Cesaréia (cp. 12:19; veja as disc. acerca de 10:1 e 21:10). Politicamente, no entanto,

no tempo em que os procuradores governavam de Cesaréia essas províncias, a Judéia era considerada uma

província, o que se deduz claramente do texto grego de Lucas, enquanto Jerusalém era sempre considerada

pelos rabis como área separada do resto da província, como Lucas também indica não apenas aqui, mas

noutras passagens de sua obra (cp. 8:1; 10:39; Lucas 5:17; 6:17; veja as notas sobre 2:9ss.). A frase até os

confins da terra ocorre na Septuaginta em Isaías 8:9; 48:20; 49 (cp. Atos 13:47, onde Paulo usa Isaías 49:6

com referência a Barnabé e a si Próprio); 62:11; 1 Macabeus 3:9. caso pareça uma idéia um tanto distorcida

sugerir que Lucas entendeu que a pregação de Paulo em Roma foi o cumprimento dessa profecia, é digno

de nota que nos Salmos de Salomão 8:16, Pornpeu, um cidadão romano, se diz que viera "dos confins da

terra".

1:11 / Varões galileus: Parece que a grande maioria dos Doze era constituída de galileus, e que Judas

Iscariotes talvez tenha sido a única exceção.

2. Matias Escolhido para Substituir Judas ( Atos 1.12-26)

O período entre a ascensão e o Pentecoste foi de espera, não porém de inatividade. Para os discípulos

foi principalmente um tempo de oração, em que providenciaram a substituição de Judas. Sobre isso, temos o

primeiro sermão de Atos. À semelhança da maior parte dos sermões deste livro, talvez tenhamos aí apenas um

sumário do que Pedro disse. Entretanto, por trás do relato de Lucas podemos captar os dados originais de

tudo quanto o apóstolo disse.

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1:12-14 / Conforme instruções que receberam, os apóstolos retraçaram seus passos do monte das

Oliveiras à cidade, para que ali esperassem o dom do Pai (cp. vv. 4, 5). Estavam acomodados no cenáculo.

Neste lugar teriam certa privacidade que combinava bem com seus propósitos, visto que a maior parte do

tempo eles investiam na oração (cp. Daniel 6:10). A nota do v. 14 pode incluir a freqüência regular ao templo

(cp. Lucas 24:53; Atos 2:46; 3:1), visto que neste sentido não havia distinção entre eles e seus correligionários

judeus. Os crentes viam-se a si mesmos simplesmente como o judaísmo cumprido, o começo do Israel

escatológico. Prosseguiam na prática comum dos judeus. Todavia, pelo fato de afirmar-se que homens e

mulheres oravam juntos, a referência aqui é principalmente às suas reuniões privadas. Se for esse o caso, o

texto grego lança uma luz interessante sobre a prática desses judeus cristãos, visto que relata que se

encontravam "em oração", como se Lucas tivesse em mente um tipo especial de prece, embora talvez apenas

a ocasião fosse especial (veja a disc. acerca de 2:42).

Uma das características de Lucas é a menção dos momentos de oração. Na verdade, a oração para ele

era algo muito importante. Devemos observar três fatos relacionados à oração: Primeiro, os cristãos primitivos

costumavam orar. Assim como a oração havia caracterizado a vida de Jesus, ela caracterizava a de seus

seguidores (cp. 2:42; 3:1; 4:24ss.; 6:4ss.; veja ainda a disc. acerca de 9:11). Além do mais, Lucas tem certeza

de que toda oração sempre tem resposta (cp. vv. 24-26; 4:31; 9:40; 10:19s., 31; 12:5, 12; 22:10; 27:23-25; veja

ainda a disc. acerca de 9:12). Portanto, a oração desempenha um papel importante, ainda que não bem

definido, no estabelecimento e cumprimento dos propósitos de Deus. Em nenhum outro texto fica isto mais

evidente do que na conexão bem perceptível entre a oração dos discípulos antes do Pentecoste, e o

derramamento do Espírito de Deus naquele dia. Segundo fato: ao desenvolver esse ponto, Lucas enfatiza a

persistência dos discípulos na oração. Eles perseveravam unanimemente em oração e súplicas; o verbo

também está no imperfeito, no grego, denotando ação repetida ou habitual. Terceiro fato: a oração

comunitária era uma expressão de sua unidade, característica da igreja primitiva — unanimemente (v. 14).

Talvez essa oração fosse também um fator que lhes mantivesse a unidade (cp. 2:46; 4:24; 5:12; Romanos 15:6;

Efésios 4:3).

Também é característica típica de Lucas chamar a atenção para o papel desempenhado pelas mulheres na

igreja (cp. 5:14; 8:3, 12; 9:2; 12:12; 16:13; 17:4, 12; 22:4). Aqui ele menciona a presença de mulheres nessas

reuniões de oração. O grego é indefinido; diz apenas "mulheres", como que apresentando-as pela primeira vez.

Entretanto, é possível que se incluam aqui algumas mulheres anteriormente mencionadas no evangelho como

seguidoras de Jesus (Lucas 8:2s.; 23:49, 55; 24:10). Outras mulheres seriam as esposas dos discípulos. Maria,

mãe de Jesus, merece menção especial. Temos aqui a última menção de Maria no Novo Testamento; é

significativo que tenhamos nossa última imagem dela assim, a de uma mulher ajoelhada. Logo de início, parece

que as mulheres exerceram um papel muito mais importante na igreja do que na sinagoga. Entretanto, apesar

de tudo as mulheres ainda não estavam sendo tratadas com equanimidade (se é que alguma vez o foram, cp.

Gálatas 3:28), pois evidentemente foram excluídas da reunião a que se refere o versículo 15, em que Pedro dirigiu-se

à multidão com o vocativo "homens, irmãos" (segundo o texto grego).

A referência a Maria conduz à menção dos irmãos de Jesus também. Antes, não haviam crido na

mensagem do Senhor (João 7:5; cp. Marcos 6:4), mas agora estão entre os discípulos. Não ficamos sabendo como

é que se converteram, mas no caso de Tiago (presumindo-se que se trata do Tiago de 1 Coríntios 15:7), como no

de Paulo, a conversão pode ter ocorrido depois de um encontro com o Jesus ressurreto (veja a disc. acerca de

12:17 e as notas). Tiago talvez houvesse influenciado seus irmãos.

1:15 / Outra questão despertou o interesse dos discípulos, a saber, a substituição de Judas. Promoveu-

se uma reunião que Pedro presidiu (cp. Lucas 22:32), com a presença de cento e vinte "irmãos".

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Aparentemente se trata de um número aproximado, sem que seja preciso atribuir-lhe um significado especial

(se tal número fosse exato e muito importante, Lucas não teria dito quase). Entretanto, é interessante observar

que, segundo o costume judaico, cento e vinte homens era o número mínimo requerido para constituir-se

uma comunidade dotada de poderes para nomear um painel completo de vinte e três juizes que integrariam o

tribunal local. A comunidade que tivesse menos de cento e vinte homens só poderia nomear uma corte de

três juizes. Pedro assume como líder e é o que seria de se esperar, em função dos evangelhos, nos quais ele

aparece como figura dominante entre os Doze. O termo "irmãos" (NIV traz "crentes") é empregado aqui pela

primeira vez em Atos, sendo talvez a mais antiga designação cristã dos membros da igreja.

1:16-17 / O sermão de Pedro divide-se em duas partes (vv. 16-20, 21 -22), cada uma das quais se

inicia com a mesma palavra no grego (dei) — palavra que expressa uma necessidade, com freqüência ditada

pela vontade de Deus. A primeira necessidade era que se cumprisse a Escritura (v. 16). A referência aqui é a

Judas. Este havia sido membro do grupo, escolhido para participar da obra, mas traíra seu Mestre (cp. João

13:18; 17:12). A descrição que Pedro faz de Judas que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus (v. 16)

relembra vividamente a cena do jardim, que deveria ter-lhe ficado impressa na mente para sempre (cp. Mateus

26:47ss.). Contudo, os fatos concernentes a Judas são mencionados com grande reserva. É possível que

Pedro estivesse consciente demais de seu próprio comportamento vergonhoso naquela noite. Talvez ele

entendesse que, em certo sentido, todos nós estamos implicados também na morte de Jesus, de modo que

ninguém, nenhum grupo de indivíduos está totalmente isento de culpa. O fato é que "Cristo morreu por

nossos pecados, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3). Pedro chama nossa atenção para a autoria divina

das Escrituras, ao referir-se ao "Espírito Santo [que] predisse pela boca de Davi" (v. 16; cp. 2:16; 3:18, 21, 25;

4:25; 15:7; 28:25).

1:18-19 / Como o demonstra o versículo 19, referindo-se na terceira pessoa do plural aos habitantes

de Jerusalém, estes dois versículos estão entre parênteses, aí inseridos por Lucas a fim de dar algumas

informações históricas a seus leitores. O texto nos dá um relato da morte de Judas bem diferente do de Mateus.

Diz-nos Mateus que Judas, transtornado pelo remorso, atirou no templo o dinheiro que havia recebido pelo

seu ato de traição, e saiu a fim de enforcar-se. Os sacerdotes não quiseram colocar "dinheiro de sangue" na

tesouraria, e preferiram comprar o campo de um oleiro — um lugar todo esburacado, de onde se retirava

barro — "para sepultura dos estrangeiros". Esse lugar veio a ser conhecido como "Campo de Sangue"

(Mateus 27:3-9; cp. Zacarias 1 l:12s.). Lucas, por outro lado, assegura que foi o próprio Judas quem comprou

o campo, onde acabou precipitando-se (v. 18, literalmente: "caiu de cabeça para baixo", arrebentando-se e

esparramando as entranhas (cp. 2 Samuel 17:23; 2 Macabeus 9:7-18). É difícil conciliar os dois relatos. Já nos

dias de Agostinho imaginava-se que Judas tivesse se enforcado no campo e a corda viesse a romper-se,

talvez tempo depois de ele ter morrido, quando seu corpo já se decompunha. Desse modo o relato de Lucas

seria um adendo ao de Mateus. Todavia, essa explicação nos parece um tanto forçada; talvez devêssemos

simplesmente aceitar o fato de haver dois relatos diferentes sobre como Judas encontrou a morte. Porém, o

relato de Lucas em Atos pode ter raízes em Pedro, hipótese que se apóia no fato de a expressão a recompensa

da iniqüidade, em forma quase idêntica no grego, encontrar-se de novo em 2 Pedro 2:13, 15 (cp. v. 24 e

notas sobre o v. 17). Duas coisas pelo menos ficam bem claras: Judas teve morte violenta e, de certa forma

houve um relacionamento entre essa morte e a compra de um lote de terra que veio a chamar-se Campo de

Sangue. A tradição localizou este campo na confluência dos vales do Cedrom, do Tiropeano e do Hinom.

1:20 / Ao referir-se às Escrituras, Pedro tinha em mente dois versículos em particular, tirados de Salmos.

O primeiro era Salmo 69:25, que aqui aparece em forma adaptada, tirada da LXX, a fim de enquadrar-se na

aplicação atual. "Seu" lugar no original refere-se a "seu deles", no plural, tornando-se sua (sua dele)

"habitação", e "seu lugar" tornou-se sua liderança (isto é, seu cargo, ou seu apostolado). Essa adaptação, seja

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de Pedro ou de Lucas, poderá espantar-nos, como se o autor houvesse tomado liberdades indevidas com o

texto. Contudo, acreditava-se que toda Escritura apontava para Cristo, ou para os eventos pertinentes à sua

vinda, e que era perfeitamente legítimo extrair significados dessa maneira. Assim é que a imprecação do

salmista contra seus inimigos torna-se uma profecia da deserção de Judas. O segundo versículo, em que o

salmista lança outra imprecação contra seus inimigos, torna-se o fundamento sobre o qual se deveria eleger

outro apóstolo para o lugar de Judas. É citação quase literal do Salmo 109:8, segundo a LXX (108:8). As

Escrituras não sugerem que os apóstolos deveriam fazer a tal eleição, mas tendo-se introduzido essa idéia,

encontraram base nesses versículos para o ato que gostariam de praticar.

1:21-22 / Portanto, disse Pedro, é necessário que dos homens que conviveram conosco todo o

tempo... um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição (v. 21 s.). Aqui está a segunda "neces-

sidade" proclamada no sermão de Pedro (veja a disc. sobre o v. 16). Quando Jesus escolheu os Doze, fê-lo

obviamente com as doze tribos de Israel em mente. Os apóstolos deveriam ser uma parábola viva do novo

Israel escatológico que o Senhor estava estabelecendo. As intenções do Senhor deveriam ter ficado bem

claras para seus seguidores, de modo que, para o momento presente, acharam importante que se mantivesse

o número deles, como testemunha perante os judeus. Todavia, depois que a igreja estava firmemente

estabelecida, sendo já uma testemunha eficaz, parece que os discípulos deixaram de sentir essa necessidade,

e nunca mais encontramos novas tentativas no sentido de perpetuar o número de Doze apóstolos (cp. 12:2).

Naquele instante pode ter sido o modo de Judas ter-se perdido, mais do que a perda em si, que motivou os

apóstolos a procurar substituí-lo.

Então, a fim de implementar essa decisão era necessário estabelecer as qualificações que deveriam

caracterizar o sucessor de Judas. Todo candidato ao cargo deveria ter sido companheiro íntimo dos Doze

originalmente escolhidos, desde "o batismo de João" até o dia em que Jesus dentre nós foi recebido em

cima (v. 22). Esta exigência é a base da tradição joanina segundo a qual os primeiros discípulos haviam sido

convocados dentre os seguidores de João Batista (cp. João 1:35, 43). De modo especial, o candidato deveria

ter sido testemunha da sua ressurreição (de Jesus, v. 21s., cp. 1 Coríntios 9:1; 15:8; Gálatas l:15s.).

Obviamente este último requisito era de importância crucial, visto que a ressurreição era a pedra fundamental

da proclamação de Jesus como "Senhor e Messias" (2:36). Todavia, torna-se igualmente claro à face dessas

exigências que o testemunho apostólico não deveria confinar-se aos eventos finais da vida de Jesus, mas

deveria incluir todo o seu ministério como também, e não como item de menor importância, o ensino do

Senhor (veja a disc. acerca de 2:42; cp. Mateus 28:20). No que concerne às qualidades pessoais do candidato,

deveria ser homem de fé. Por isso é que eles oram àquele que é "conhecedor dos corações de todos" (v. 24). Os

próprios discípulos podiam discernir se os candidatos tinham qualificações, conforme os vv. 21 e 22, mas

buscaram a Deus para que o Senhor lhes julgasse os corações. É que o testemunho dos candidatos giraria em

torno dos fatos históricos da vida de Jesus e dos efeitos transformadores de sua graça na vida do crente.

(Quanto ao título o Senhor Jesus veja as notas sobre 11:20.)

1:23 / É provável que muitos preenchessem as condições para substituição de Judas, se mantivermos

em mente que os Doze haviam sido escolhidos de um grupo bem maior de discípulos, os quais certamente,

em menor grau que os Doze, haviam permanecido ao lado de Jesus (cp. Marcos 3:13s.; Lucas 10:1; 1 Coríntios

15:6). Todavia, a maioria deles deveria ter estado na Galiléia (veja a disc. acerca de 9:31). Esta seria a razão

por que só dois nomes foram considerados: José, chamado Barsabás, que significa "filho do descanso" (talvez

houvesse nascido num dia de sábado) ou "filho de Sabba". À semelhança de muitos judeus, este também tinha

um nome "secular" (neste caso, romano), Justo (Justus, em latim; veja as notas sobre 12:12). Este discípulo

não deve ser identificado com o Judas Barsabás de 15:22, conquanto talvez fossem parentes. O outro

candidato era Matias.

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1:24-25 / Tendo dois candidatos diante de si, os discípulos uniram-se em oração a fim de que o Senhor,

que é conhecedor do coração de todos (v. 24), lhes indicasse qual deles deveria ser escolhido. Não ficou claro

a que Pessoa da Trindade divina dirigiram essa oração, mas em vista de o mesmo verbo "escolhestes" do v. 2

ser empregado aqui, para a escolha que Jesus fez dos apóstolos (também Lucas 6:13; João 6:70; 13:18;

15:16, 19), e à vista de Pedro ter acabado de chamar Jesus de "Senhor" (v. 21), é bem provável que a oração

tivesse sido dirigida a Jesus. Entretanto, o mesmo título e a mesma descrição — "conhecedor dos corações

de todos" — são empregados noutra passagem concernente ao Pai. Esta ambigüidade, pela qual "Senhor"

pode significar o Pai ou o Filho, fala-nos com eloqüência de como consideravam Jesus. É digno de nota

também que no que diz respeito ao livro de Atos, este conceito de profundo e imediato conhecimento só se

exprime mediante palavras na boca de Pedro (cp. 15:17s.; veja também 1 Samuel 16:7; Jeremias 17:10; João

2:25; 21:17). É bem possível, portanto, que se trate do registro de um modismo distintivo da linguagem desse

apóstolo. O cargo a respeito do qual estão orando é descrito como "ministério" (gr. diakonia), como toda obra

cristã deve ser (cp. Marcos 10:43s.). A terrível sentença contra Judas foi que ele "se desviou" desse ministério

para ir ao seu próprio lugar (v. 25) — um eufemismo usado para descrever a destruição final de alguém.

Aquele apóstolo se tornara um apóstata e uma advertência para todos nós.

1:26 / A seguir, os discípulos dispõem-se a descobrir a resposta do Senhor a suas orações por meio do

sistema antiqüíssimo das "sortes" (cp. 1 Samuel 14:41). É preciso que sejamos claros: não houve eleição. Não

foi o caso de cada discípulo lançar seu voto, mas a escolha (humanamente falando) foi feita a esmo. Não

sabemos qual teria sido exatamente o método utilizado; talvez houvessem sacudido duas pedras num vaso,

em cada uma das quais haviam escrito um nome (cp. Levítico 16:8), até que uma delas caísse fora do

vasilhame. O nome inscrito nessa pedra teria sido a escolha do Senhor. A expressão literal de Lucas é "caiu a

sorte". Assim, Matias foi escolhido e, sem outras formalidades, aceito como um dos Doze. Muito se tem falado

sobre o fato de que nem do novo apóstolo nem do método de escolha se tenha ouvido novamente, como se

tudo isso mais tarde viesse a ser reconhecido como erro. Contudo, nada se fala a respeito da maioria dos

apóstolos, ainda que seus nomes estejam no versículo 13, pelo que dificilmente o silêncio de Atos constitui

motivo para que se condene aquele homem. Quanto ao método, a vinda do Espírito logo concedeu à igreja

um guia mais certo para descobrir-se a vontade de Deus, embora naquela época o uso de sortes fosse

método bastante legítimo. O desejo dos apóstolos era conhecer o homem cuja escolha tinha sido feita por

Deus.

Notas Adicionais # 2

1:12 / Do monte chamado das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, à distância do caminho de

um sábado: a saber, cerca de 1.100 metros. Essa era a distância que um judeu piedoso podia caminhar no

dia de sábado: dois mil côvados, segundo cálculos um tanto complicados feitos a partir de Êxodo 16:29, à luz de

Números 35:5. A intenção de Lucas foi simplesmente indicar que a ascensão deu-se nas proximidades de

Jerusalém. Entretanto, o emprego desse termo em particular "pressupõe um espantoso conhecimento íntimo

— para um grego — dos costumes judaicos" (Hengel, Jesus, p. 107). Pode-se encontrar alguma dificuldade

com respeito à referência de Lucas 24:50 a Betânia, que fica a mais do dobro da jornada de um sábado

partindo de Jerusalém; mas se as palavras do evangelho significam apenas "na direção de Betânia" (gr. prós

Bethaniarí), essa dificuldade é vencida. Seja como for, dificilmente Jesus teria conduzido os discípulos a essa

vila só para a ascensão.

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1:13 / Subiram ao cenáculo, onde permaneciam: O artigo definido (em grego) indica que se tratava de um

lugar bem conhecido dos leitores de Lucas. Portanto, pode ser referência ao primeiro livro, Lucas 22:11 s., o

aposento onde se celebrou a última Ceia, embora nessa passagem se empregue uma palavra diferente. Tradicio-

nalmente, esse recinto também tem sido identificado como aquele em que a igreja se reunia, na casa de Maria,

mãe de João Marcos, embora esta identificação tenha seus problemas (veja a disc. acerca de 12:12). Também

pode ser o lugar de reunião de 2:1, e aquele em que se reuniram para oração em 4:23-31.

Pedro e Tiago... e Judas, filho de Tiago: Repetem-se os nomes dos apóstolos, embora já tenham sido

dados no primeiro volume (Lucas 6:14ss.). Talvez Lucas os arrole de novo a fim de demonstrar que embora todos

houvessem desertado o Mestre por ocasião de sua prisão, somente Judas cometeu uma traição deliberada. O

resto permanecera fiel no coração. A menção de seus nomes também serviria para mostrar que embora as obras

individuais não fossem registradas neste livro, todos tomaram parte, entretanto, na obra para a qual Jesus os

chamara. As duas listas de Lucas concordam entre si, exceto quanto à omissão de Judas Iscariotes aqui, diferindo

das listas de Mateus 10:2ss. e Marcos 3:16ss, só na menção do nome de Judas, filho de Tiago, pois aqueles

evangelistas trazem Tadeu (ou Labeu, em alguns textos de Mateus). Estes nomes podem referir-se à mesma

pessoa, e talvez identifiquem o "Judas" (não o Iscariotes) de João 14:22.

Simão, o Zelote: ("o cananeu", [que é a palavra aramaica para "zeloso"] RSV Mateus 10:4; Marcos

3:18), assim chamado ou por causa de seu temperamento zeloso, ou por causa de alguma associação com o

partido dos zelotes. NIV aparentemente adotou esta última interpretação (cp. GNB), mas devemos observar

que é essa mesma palavra empregada por Paulo, para si mesmo em 22:3 (cp. Gálatas 1:14), e por Tiago, a

respeito de alguns membros da igreja em Jerusalém, em 21:20. Em nenhum desses casos pode-se entender

que a palavra "Zelote" foi empregada com o sentido mais específico de partidário político.

1:14 / Seus irmãos: Quatro homens são mencionados nos evangelhos como os irmãos de Jesus, a

saber: Tiago, José, Simão e Judas (Mateus 13:55; Marcos 6:3). Várias opiniões têm sido sustentadas quanto à

natureza de seu relacionamento com Jesus; mas uma leitura natural do Novo Testamento nos sugeriria que,

à parte as circunstâncias singulares da concepção de Jesus, aqueles homens foram seus irmãos no sentido

comum do termo, isto é, filhos mais jovens de José e Maria. Esta opinião é apoiada pelo sentido denotativo

"prima facie" ou "primogênito", de Lucas 2:7, e pela inferência natural de Mateus 1:25, de que após o

nascimento de Jesus, seguiram-se as relações maritais normais entre José e Maria.

1:15 A multidão reunida era de quase cento e vinte pessoas: lit, "uma multidão de nomes, cerca de

cento e vinte", em que "nomes" pode significar "pessoas" sem distinção de sexo (veja H. Bietenhard, "onoma"

TDNT, vol. 5, p. 270), embora alguns argumentem, com base nas versões siríaca e árabe, que a palavra significa

homens, distinguindo com precisão o gênero. O sermão de Pedro implica em que somente homens estavam

presentes.

1:16 / Irmãos: lit., "homens, irmãos", tratamento um tanto formal, que mostra tanto a ocasião como o

respeito devido às pessoas presentes. Visto que esta forma de tratamento ocorre com certa freqüência no livro

de Atos (2:29, 37; 7:2; 13:15, 26, 38; 15:7, 13;22:1, 6;28:17;cp. 'Varões galileus", 1:11; "homens judeus", 2:14;

"homens israelitas", 2:22; 3:12; 5:35; 13:16; "homens atenienses", 17:22; "efésios", 19:35), tem-se imaginado se

esteve aí a mão de Lucas. Ainda que tal hipótese fosse real, não constituiria objeção à historicidade essencial de

nenhum dos sermões em que essa expressão ocorre.

1:17 / Partilhou deste ministério: lit., "recebeu a porção deste ministério", ou talvez, por causa do artigo

definido: "sua porção deste ministério". A palavra grega "porção" (kleros significa literalmente aquilo que é

obtido por sorteio. Aqui ela é empregada de modo figurado, embora seja interessante que o sucessor de Judas

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tenha sido nomeado pelo método do sorteio (cp. v. 26). Também é interessante que a mesma palavra seja usada

em 1 Pedro 5:3, e da mesma forma, com respeito a uma área de responsabilidade ministerial. Seu emprego aqui

pode ser, portanto, mais um eco das palavras reais de Pedro (veja a disc. sobre o v. 24).

1:22/ Começando desde o batismo de João: Esta expressão pode ser entendida em seu sentido genérico

(cp. GNB) e, de acordo com esta opinião, o candidato deveria ter sido testemunha do ministério de João, bem

como do ministério de Jesus. Essa exigência é coerente com o objetivo da mensagem cristã que em geral inclui a

obra de João Batista (cp. p.e., 10:37; 13:24s.). Mas alguns acham que a referência diz respeito apenas ao batismo

de Jesus, realizado pelo Batista, e dessa forma limitam o testemunho apostólico ao ministério de Jesus, o qual,

com efeito, se iniciou com essa cerimônia. Das duas possibilidades, essa é a menos provável. Veja a disc. acerca de

10:37.

1:26 / Foi contado com os onze apóstolos: a fim de restaurar o número original de Doze: Alguns

autores têm discutido a possibilidade da influência dos judeus essênios sobre o papel desempenhado pelos

Doze. Têm sido comparados com 1QS 8.1: "No concilio [? ] da comunidade [onde estão? ou haverá? ] doze

homens e três sacerdotes, perfeitos em tudo que é revelado na lei". Tem-se sugerido que a menção de "doze

homens" é "uma analogia do colégio dos doze apóstolos de Jesus" (B. Reicke, "The Constitution of the

Church" [A Constituição da Igreja], em The Scrolls and the New Testament [Os Rolos e o Novo

Testamento], ed. K. Stendahl, p. 151).

Mas em vez de uma influência direta do Qumran sobre Jesus, esse número em ambos os casos

explica-se melhor como tendo derivado de modo independente do número das tribos de Israel. Veja ainda J.

A. Fitzmyer, Studies, p. 247, e Ehrhardt, pp. 13s., quanto às associações escatológicas deste número tanto

nos círculos cristãos quanto nos círculos essênios.

De início, o termo "apóstolo" parece ter sido empregado de modo restrito aos Doze (1:6, 12; 2:43;

4:35, 37; 5:2, 12, 18; 8:1), mas logo passou a ser aplicado a um grupo mais amplo de pessoas, entre os quais

Paulo e Barnabé foram os membros mais notáveis. Paulo freqüentemente se refere a seu aposto-lado, em

suas cartas (p.e., Romanos 11:13; 1 Coríntios 15:9; Gálatas 1:1); mas

1 Coríntios 9:ls. e 2 Coríntios 12:12 devem ser verificados de modo especial, pois aumentam nossa

compreensão acerca do cargo apostólico. A primordial qualificação do apóstolo resumia-se em que ele

havia sido testemunha ocular das aparições pós-ressurreição de Jesus (Atos 1:21; 1 Coríntios 9:1), e havia

recebido um chamado e um comissionamento distintos da parte do próprio Senhor ressurreto. A função

primordial do apóstolo era tornar-se um delegado do Senhor ressurreto, trabalhando como seu

representante e sob sua autoridade. Essa idéia de um representante investido de autoridade pode ter

derivado da instituição judaica chamada seluhim, os mensageiros autorizados representativos de uma

pessoa, ou de um grupo de pessoas (veja K. H. Rengstorf,

"apóstolos", TDNT, vol. 1, pp. 414ss.). Assim é que os apóstolos eram representantes pessoais de Cristo

(Romanos 1:1; 1 Timóteo 2:7; 2 Timóteo 1:11). O novo elemento aqui é o motivo escatológico para o envio.

A autoridade dos apóstolos foi confirmada por seus "sinais" (2 Coríntios 12:12), mas não era algo

arbitrário ou automático que os tornava infalíveis. Paulo estava consciente da distinção entre sua própria

opinião e a palavra cheia de autoridade do Senhor. O conflito entre Pedro e Paulo (Gálatas 2:11ss)

demonstra que até mesmo um apóstolo podia agir contrariamente a suas convicções (Gálatas 2:7-9; Atos

15:7ss.). A autoridade corporificada nos apóstolos era de tal ordem que a ela estavam sujeitos os próprios

apóstolos. A autoridade deles provinha do próprio Deus (1 Tessalonicenses 2:13), e eles mesmos estavam

subordinados à autoridade de Deus (1 Coríntios 4:1). Poder-se-ia dizer que a autoridade dos apóstolos

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repousava nos evangelhos, de modo que nem mesmo eles podiam pregar outro evangelho impunemente

(Gálatas 1:16). Em certo sentido, portanto, estavam sujeitos à igreja, eram servos de Cristo, meros

administradores dos dons de Deus concedidos a seu povo (1 Coríntios 4:1; 7:23;

2 Coríntios 4:5). Entretanto, o papel desempenhado por eles era importantíssimo, pelo que são

mencionados em primeiro lugar na lista de ministérios em 1 Coríntios 12:28s. e em Efésios 4:11. Quanto à

fluidez de ministérios na igreja primitiva, veja as notas sobre 13:1.

3. O Espírito Santo Desce no Pentecoste ( Atos 2.1-13)

A história da igreja primitiva era muito mais complexa do que Lucas nos induz a crer. Todavia, ainda

podemos aceitar a idéia de que a igreja começou com um "Pentecoste determinativo em Jerusalém", que deu

à igreja seu ímpeto e caráter. A historicidade essencial desse evento tem sido firmemente estabelecida (veja

Dunn, Jesus, pp. 135-36). Para um observador externo, poderia parecer que o começo foi uma explosão de

entusiasmo dentro da seita dos nazarenos. Para os crentes, foi um episódio de importância crucial na

história da salvação (veja Martin, p. 70), visto que se contemplou o cumprimento das promessas do Pai nas

profecias de Isaías 32:15 e Joel 2:28-32 (cp. l:14s.), como indicação segura de que o novo tempo havia sido

inaugurado, e que o reino de Deus havia chegado (veja disc. acerca de 1:6).

2 : 1 / O Pentecoste era a segunda das três grandes festas anuais dos judeus, sendo a Páscoa a

primeira e a dos Tabernáculos a terceira (veja Deuteronômio 16:16). Um número bem maior de peregrinos

chegava para a festa de Pentecoste, visto que essa época do ano era a melhor para as viagens (veja a disc.

sobre 20:3b). Sem dúvida isto constituiu fator decisivo na ordenação providencial dos eventos. Neste

Pentecoste em particular (não há certeza em que ano ocorreu: o ano 30 d.C. é uma data como outra qualquer)

estavam todos (os crentes) reunidos no mesmo lugar. Por todos podemos presumir que pelo menos aqueles

cento e vinte de 1:15 estavam incluídos aí, mas poderia ter havido outros, provenientes da Galiléia e de outras

partes, que haviam vindo a Jerusalém para esse festival (veja a disc. acerca de 9:31). Não ficamos sabendo

onde os discípulos estão reunidos. O número de crentes envolvidos, especialmente se agora sobrepujava os

cento e vinte, torna menos provável que o grupo se reunia numa casa particular, mas talvez num local

público, ou ao ar livre, conquanto não se possa excluir outra possibilidade (veja as notas sobre 1:13). Por

outro lado, o fato de a multidão ficar rapidamente a par do que estava acontecendo (cp. v. 6) sugere que os

discípulos estariam num lugar onde podiam ser vistos, como p.e. no pátio externo do templo (veja a disc.

acerca de 3:11; 21:27). O uso da palavra "casa" no v. 2 não elimina esta hipótese (cp. LXX Isaías 6:1, 4; Lucas

2:49), embora pudéssemos esperar que o templo fosse mencionado se, de fato, a reunião se realizasse nele.

2:2-3 / Todavia, de uma coisa podemos ter absoluta certeza: algo aconteceu naquele dia que

convenceu os discípulos do fato de que o Espírito de Deus havia descido sobre eles — que eles haviam sido

"batizados com o Espírito Santo", como Jesus havia dito que o seriam (1:5; cp. 2:17; 11:15ss.). Lucas descreve

acena: De repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso (v. 2). O comentário de Lucas de que

"veio do céu" reflete sua intenção de descrever um acontecimento sobrenatural, e não algo natural. Observe as

palavras como que. Não se tratava de um vento, mas algo de que o vento servia de símbolo, a saber, a

presença e o poder divinos (cp. 2 Samuel 5:24; 22:16; Jo 37:10; Salmo 104:4; Ezequiel 13:13; também Josefo,

Antigüidade 3.79-82; 7:71-77). Visto que vento sugere vida e poder, transformou-se no hebraico e também

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no grego a palavra para "espírito", sendo que aqui a palavra significa especialmente o Espírito de Deus. E com

o som semelhante ao do vento também apareceram línguas repartidas, como que de fogo (v. 3). Mais uma vez,

a expressão como que é importante, porque novamente o nome de algo natural é empregado a fim de

representar o sobrenatural. As palavras de João Batista em Mateus 3:1 ls. provêem uma pista para o

significado do fogo, pois o profeta se refere ao Espírito ao mencionar o fogo e o julgamento. Outra vez temos

um significado para o Espírito de Deus, agora no simbolismo do fogo (cp. Êxodo 3:2; 19:18; Ezequiel 1:13),

com a implicação de que o fogo veio a fim de purificar o povo de Deus (cp. Malaquias 3:1ss.). Notemos mais

um simbolismo aqui: aquela semelhança de língua de fogo repousou sobre cada um deles (v. 3). Esses

discípulos representavam a igreja toda, e é nessa categoria que todos participam da dádiva de Deus.

Todavia, até que ponto aquele som e aquela aparição eram fenômenos objetivos? No capítulo 10, em

que a experiência de Cornélio é assemelhada à dos discípulos neste capítulo, não se faz nenhuma menção a

aparições, nem a sons. É por isso que muitos argumentam dizendo não ter havido nem som nem visão

alguma nessa ocasião, e que Lucas apresenta algo que foi pura experiência íntima, pessoal, como um fenô-

meno auditivo e visual. Todavia, permanece o fato de que Lucas nos apresenta dois incidentes bem

diferentes entre si, insistindo que aqui houve algo passível de observação — eles viram (v. 3). Após cuidadoso

exame das evidências, Dunn chega à conclusão de que "o que chegou a eles não lhes chegou das profundezas

de seu subconsciente individual ou coletivo; foi algo que veio de longe dali, de fora deles mesmos. Aquela foi

uma experiência do poder divino inesperado, poder que lhes era entregue, poder em forma de dádiva, com

suas características inerentes" (Jesus, p. 148).

2:4 / Todavia, essa também foi uma experiência subjetiva. Lucas afirma isso com a expressão todos

foram cheios do Espírito Santo. "Tornar-se cheio" (diferente de "estar cheio", veja a disc. acerca de 6:3)

expressa a experiência consciente do momento (veja a disc. acerca de 4:8). Os discípulos sentiram, bem

como viram e ouviram, e deram expressão a seus sentimentos ao falar em outras línguas, conforme o

Espírito Santo lhes concedia. Este verbo especial "falar" (gr. apopht-hegesthai) é peculiar a Atos, no Novo

Testamento (cp. v. 14; 26:25), mas é empregado noutras passagens do grego bíblico para significar a expressão

dos profetas (p.e., LXX, 1 Crônicas 25:1; Ezequiel 13:9; Miquéias 5:12).

Esse fenômeno de os discípulos falarem em outras línguas parece significar algo diferente de outras

referências semelhantes, de outras passagens. É que "língua" aqui é empregada intercambiavelmente com

uma palavra que significa "linguagem" ou "dialeto" (gr. dialectos, vv. 6, 8); o que estava sendo dito

aparentemente era inteligível e, por isso, devemos supor que os discípulos falavam línguas reconhecíveis.

Entretanto, não há razões para julgarmos que o mesmo aconteceu em outras ocasiões em Atos, quando algo

parecido ocorreu (10:44ss.; 19: lss.), e temos todas as razões para entender que 1 Coríntios 12-14 trata de

um fenômeno inteiramente diferente do de Pentecoste, pois, ali toda a argumentação de Paulo repousa em

"línguas" ininteligíveis, além do entendimento, necessitando de "interpretação" (e não de tradução).

Parece, portanto, que na igreja de Corinto e talvez em Atos 10 e 19, as "línguas" constituíam uma espécie de

expressão enlevada, aquilo que NEB chama de "línguas do êxtase" (1 Coríntios 14:2), e que Paulo, em certa

ocasião, chamou de "a língua dos anjos" (1 Coríntios 13:1), e em outra (talvez) "gemidos inexprimíveis"

(Romanos 8:26).

Entretanto, seria admissível que houvesse dois fenômenos diferentes? Presumindo que não, que não se

trata de dois fenômenos, Lucas tem sido acusado de entender mal ou de reinterpretar uma tradição anterior

em que as "línguas" de Atos 2 foram as mesmas expressões de êxtase das demais passagens. Se isso não

aconteceu, a tradição é que chegou a Lucas distorcida: os discípulos teriam realmente falado em "línguas"

(no sentido usual desta palavra), mas as pessoas julgaram ouvir os crentes louvando a Deus nas próprias

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línguas deles. Dunn dirige a interpretação para um caminho que fica no meio dessas duas explanações. Ele nos

leva ao fenômeno do pentecostalismo moderno: "Talvez a mais impressionante característica do

pentecostalismo, para esta discussão presente, seja o número de afirmações sobre uma "língua

desconhecida" que era, na verdade, uma língua estrangeira desconhecida para quem nela falou... Se tais

afirmações podem ser feitas com tão grande convicção no século vinte, é muito mais concebível que teriam

sido feitas na época do primeiro Pentecoste cristão" (Jesus, p. 151). A seguir, Dunn sugere que muitas

daquelas pessoas ali presentes identificaram alguns daqueles sons pronunciados pelos discípulos como sendo

as línguas de suas terras de origem. A impressão de que os discípulos estavam falando nessas línguas ficou mais

fortalecida ainda pelo poderoso impacto espiritual dos discípulos, sendo essa a história que teria chegado a

Lucas. De sua parte Lucas tratou do fato com maior precisão ao esclarecer a glossolália como emergindo das

línguas estrangeiras propriamente ditas, e ao introduzir uma nota de universalismo (cp. v. 5). Assim é que

Dunn com máxima cautela resume tudo: "Não há nenhuma razão para duvidarmos de que os discípulos

experimentaram uma linguagem de êxtase no dia de Pentecoste. E há boas razões para crermos, tanto pelo

texto como pelos paralelismos históricos religiosos, que a glossolália e o comportamento dos discípulos foram

de ordem tal que muitas daquelas pessoas, que tudo observavam, julgaram ter reconhecido palavras de

louvor a Deus em outros idiomas" (Jesus, p. 152).

2:5-ll a / Logo se tornou do conhecimento público em geral que algo extraordinário havia acontecido.

Se os discípulos haviam estado em seu próprio alojamento quando o Espírito foi derramado sobre eles (veja a

disc. acerca do v. 1), a esta altura teriam saído para a rua. É até possível que tenham ido ao templo,

"andando e saltando e louvando a Deus" à semelhança do coxo curado do próximo capítulo. É natural, pois,

que se reunisse uma multidão. Entre o povo estavam alguns judeus da Diáspora (isto é, de todas as nações que

estão debaixo do céu, v. 5) que fizeram de Jerusalém sua cidade — ou pelo menos parece que é isso que

Lucas quer dizer ao empregar o verbo grego katoikein. Sabemos que muitos judeus haviam regressado de

outras paragens ou para estudar (cp. 22:3), ou simplesmente para passar seus últimos dias dentro das

muralhas de Jerusalém, havendo muitas mulheres neste caso, a julgar-se pelos nomes encontrados em

ossuários gregos (veja a disc. sobre 6:1). Seja como for, havia no meio da multidão algumas pessoas capazes

de identificar em que línguas os discípulos estavam pronunciando palavras de louvor, dentre uma grande

variedade de idiomas. Havia também alguns judeus palestinos que podiam assegurar aos demais que os que

falavam assim eram todos galileus. A natureza condensada da narrativa de Lucas faz parecer que a multidão

toda é que fazia essa observação, mas só podiam fazê-la aqueles dentre o povo que conheciam os discípulos,

ou conseguiam detectar-lhes o sotaque nortista (cp. Mateus 26:73). O fato de estarem comentando esse

fato talvez revele sua surpresa. Os da Judéia tendiam a desprezar os da Galiléia.

2:11b-13 / Enquanto isso, os discípulos relatavam em "línguas" as grandes coisas que Deus havia

feito (cp. Siraque 36:8), enquanto os ouvintes se maravilhavam e estavam perplexos (v. 12). De modo

especial a segunda destas expressões, em grego, exprime a total confusão do povo — as pessoas simplesmente

não sabiam o que fazer diante daquele comportamento (cp. 5:24; 10:17), embora alguns emitissem a

sugestão perversa de que os discípulos talvez estivessem bêbados (cp. Efésios 5:18). Tudo isso nos parece tão

real, um retrato da vida, e Lucas nos relata os fatos com extrema singeleza!

Notas Adicionais # 3

2:1 / Cumprindo-se o dia de Pentecoste: lit., "estava sendo cumprido": tal expressão tem sido

entendida como referência ao período entre a Páscoa e o Pentecoste, significando que esta festividade se

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aproximava, mas ainda não chegara, quando estes eventos aconteceram. O mesmo verbo "cumprir-se" (no

grego) é usado a respeito do tempo noutra passagem, em Lucas 9:51, em que NIV diz: "Completando-se os

dias". Entretanto, todas as circunstâncias apontam para o fato de aquele ser o próprio dia de Pentecoste;

nesse caso, devemos entender que esse verbo significa que o dia havia chegado ("estava sendo cumprido"

— o dia judaico começava a partir do pôr do sol do dia anterior; veja a disc. acerca de 20:7).

A palavra Pentecoste deriva da palavra grega que significa "cinqüenta", e o dia tinha esse nome porque

a festa era celebrada no qüinquagésimo dia contados após o dia seguinte (inclusive) ao sábado da Páscoa. Em

outras palavras, no qüinquagésimo dia a partir do primeiro "domingo" (como o chamamos hoje) da Páscoa,

quando o primeiro feixe de grãos era oferecido (Levítico 23:15s.)- Visto que o tempo decorrido entre a

oferenda do primeiro feixe de grãos da colheita e o término desta no Pentecoste tomava sete semanas, o

Pentecoste às vezes era chamado de Festa das Semanas (Êxodo 34:22; Levítico 23:15; Deuteronômio 16:9-

12), e às vezes era chamado de Festa das Colheitas, ou Dia das Primícias (Êxodo 23; Números 28:26). De

acordo com o Antigo Testamento, o Pentecoste devia ser proclamado como uma "convocação santa", em que

todo o israelita do sexo masculino deveria comparecer perante o santuário (Levítico 23:21). Cada homem

devia oferecer dois pães assados, juntamente com as ofertas pelo pecado e as de paz (Levítico 23:17-20).

Assim, não só o povo dava graças a Deus pelas colheitas, mas reconhecia sua obrigação para com o Senhor,

sob sua aliança. Em épocas posteriores o Pentecoste iria tornar-se uma festa que marcaria a renovação da

aliança (Jubileu 6:17-22; veja J. D. G. Dunn, "Pentecost", NIDNTT, vol. 2, p. 785), e ao redor do segundo século

era também comemoração da outorga da lei, numa época em que a aliança fora estabelecida (veja notas sobre

v. 6).

2:2-4 / Os acontecimentos deste Pentecoste marcaram o começo da igreja. Sem dúvida havia muitos

crentes antes desse dia, mas só agora passavam a formar "o corpo de Cristo". "No sentido total de igreja

com vida vigorosa, redimida pela cruz de Cristo, fortalecida pelo poder divino, estabelecida na trilha do

trabalho e da adoração, a Igreja certamente não veio à existência senão no dia do Pentecoste" (L. L. Morris,

Spirit ofthe Living God [Londres: Inter-Var-sity, 1960], pp. 54s.). O que Deus nos concedeu naquele dia, ele

nunca retirou de nós. O Espírito que transformou os discípulos e os galvanizou para a ação permanece dentro

da igreja — ele estará "convosco para sempre", foi a promessa de Jesus (João 14:16; cp. Salmo 51:11). O

batismo externo com água marca a entrada na pessoa, e torna-se sinal externo também da entrada do

crente na dádiva do Espírito (veja ainda as notas sobre o v. 38). Entretanto, resta ao crente o tornar-se "cheio

do Espírito" (veja disc. acerca de 6:3), visto que com freqüência "resistimos" contra o Espírito (cp. 5:3, 9;

7:51; Efésios 4:30; 1 Tessalonicenses 4:8; 5:19; Hebreus 10:29) e precisamos aprender a confiar no Espírito e

a ele obedecer (cp. 5:32; João 7:39; Gálatas 3:1-5, 14).

Todos... começaram a falar em outras línguas: Para os crentes a quem esse dom é concedido, as

"línguas" são um meio de "comunicação entre o crente e Deus" (K. Stendahl, Paul Among Jews andGenüles

[Londres: S.C.M. Press, 1977], p. 113) e, de modo especial, um meio de louvar a Deus e de reagir

emocionalmente face às maravilhosas obras de Deus. Foi o que aconteceu no Pentecoste quando, não a

pregação (talvez em aramaico), mas o louvor antecipado é que foi expresso em "línguas". Ao mesmo tempo,

as "línguas" têm um valor de evidência. "O propósito do milagre [no Pentecoste]... não foi iluminar a obra do

missionário cristão, mas chamar a atenção naquele início para o advento do Paracleto" (H. B. Swete, The

Holy Spirit in the New Testament [Londres: Macmillan, 1909], p. 74). Foi, além do mais, um sinal da obra

do Paracleto. Como observou Kirsopp Lake, o Espírito haveria de inverter a maldição de Babel, e permitir

que a voz de Deus fosse ouvida novamente em todas as nações da terra, como havia acontecido

quando o Senhor outorgou a lei (BC, vc 1.5, pp. 114ss.). Veja as notas sobre o v. 6 abaixo quanto à

tradição judaica a que ele se refere. Mais tarde, as "línguas" proveriam evidências de que o Espírito de

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Deus destinava-se a judeus e a gentios igualmente (10:46; 11:15ss.), e logo depois constituiria um sinal para

os "discípulos" efésios de que o Espírito Santo de fato havia vindo (veja a disc. acerca de 19:2; cp. 1

Coríntios 14:22, em que as línguas são consideradas um sinal para os incrédulos).

2:6 / Cada um os ouvia: Cp. vv. 8, 11. Pode-se lançar alguma luz sobre o entendimento que Lucas

tinha do Pentecoste pelo costume que data de pelo menos do segundo século d.C. de considerar-se este

festival como comemoração da outorga da lei. Êxodo 20:18 diz que "o povo viu os trovões e os

relâmpagos..." (como se fossem vozes, embora tais "vozes" fossem trovões); os rabis interpretavam esse

texto como significando que todas as nações da terra ouviram a promulgação da lei. Se esta noção já

fosse comum no primeiro século, é possível então que Lucas pretendesse que seus leitores entendessem

a alusão. Neste Pentecoste, a "nova lei" — a proclamação da era messiânica e do próprio Messias — foi

estendida às nações da mesma forma como o fora a lei; foi isso que "destruiu a parede de separação, a

barreira de inimizade" (Efésios 2:14).

2:9-11 / Partos, medos e elamitas... cretenses e árabes: Para muitos judeus, a distância não

constituía barreira que impedisse o pagamento de meio "shekel", o imposto do templo pagável todos os

anos, nem impediria que fossem pessoalmente ao templo para uma ou mais das grandes festas religiosas

anuais. Estima-se que mais de cem mil costumavam ir à Páscoa nos dias de Jesus (veja Jeremias,

Jerusalém, p. 83).

Que os judeus estavam dispersos por toda a parte é fato atestado por inúmeros escritores antigos

(Josefo, Guerras 2.345-401; Strabo, citado por Josefo, Antigüidades 14.110-118; Filo, On the Embassy to

Gaius 36; cp. lambem Ester 3:8; 1 Macabeus 15:15s.; João 7:35). Quase era literalmente verdadeira a

afirmação de que os judeus podiam ser encontrados em "todas as nações que estão debaixo do céu" (v.

5), de modo que embora a lista de Lucas fosse dada com a intenção de ser um catálogo das nacionalidades

ali presentes (veja B. M. Metzger, AHG, pp. 123ss.), também poderia ser apenas representativa de muitas

outras nações.

Falando-se de modo abrangente, essa lista transporta o leitor do leste para o oeste, havendo uma

mudança na construção da frase grega a fim de marcar, talvez, a transição do império dos partos para

o dos romanos. Assim, os partos são mencionados em primeiro lugar, estando na extremidade leste,

numa região a sudeste do mar Cáspio; a seguir, medos, numa região a oeste do mar Cáspio e ao sul das

montanhas Zagros, e depois elamitas, o antigo nome dos habitantes da planície do Casaquistão, banhada

pelo rio Querque, que se une ao Tigre bem ao norte do golfo Pérsico. Mesopotâmia, o primeiro nome na

sentença de construção mudada, era termo genérico usado para descrever todo o vale do Tigre/Eufrates,

onde se encontravam as esferas de influência dos dois impérios. Estas foram as terras para as quais os

israelitas e depois os judeus haviam sido deportados, nos séculos oito e seis a.C, e onde muitos deles

preferiram permanecer. Foi a área mais antiga e mais densamente povoada da diáspora.

A inclusão da Judéia como a região seguinte, na lista, é motivo de espanto para muitos. Tanto assim

que várias alternativas de interpretação têm sido propostas, embora com pouco apoio textual (veja Bruce,

Book [Livro], p. 62). Muitos eruditos, inclusive Bruce, acreditam que "é provável que devamos pensar na

palavra Judéia no sentido mais amplo possível, denotando a grande extensão de terras controladas direta e

indiretamente pelos reis judeus Davi e Salomão, da fronteira egípcia ao Eufrates" (Book [Livro], p. 62).

Esta sugestão tem o atrativo de incluir aqueles países do leste do Mediterrâneo que, de outro modo, não

estariam representados. Todavia, não devemos exagerar a dificuldade na interpretação de Judéia em seu

sentido comum. Fazia-se distinção entre Jerusalém e o resto da província (veja notas sobre 1:8), sendo

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que para os compiladores originais poderia não ter parecido incongruente, como para nós parece, a

inclusão dos judeus das vizinhanças entre os visitantes.

A seguir, Lucas faz menção dos visitantes da Ásia Menor — Ponto, no nordeste (veja a disc. acerca

de 18:2); Capadócia, ao sul do Ponto; Frígia, a oeste da Capadócia, desta separada pela Licaônia (a

província romana da Galácia, agora estendendo-se nessas terras; veja notas sobre 13:14); e Panfília, na

costa sul entre a Cilícia (veja as notas sobre 6:9) e Lícia (veja a disc. acerca de 13:13). Ásia significa aqui,

como por todo o livro de Atos (6:9; 16:6; 19:1, 10, 22, 26, 27; 20:4, 16, 18; 21:27; 24:18; 27:2), a província

romana que tinha esse nome. Compreendia a costa ocidental da Ásia Menor, inclusive as regiões de Mísia,

Lídia e Caria, e muitas das ilhas ao longo da costa litorânea (veja a disc. acerca de 19:1a). No terceiro

século a.C. havia judeus nessas terras (Josefo, Antigüidades 12.119-124). Um século mais tarde esse

número havia aumentado (por adição, ou seja, por migrações voluntárias) mediante o remanejamento

de duas mil famílias judaicas da Mesopotâmia, na Lídia e na Frígia (Josefo, Antigüidades 12.145-153; veja

adisc. acerca de 13:14). Os capítulos do meio de Atos (13-19) constituem em si mesmos uma testemunha da

presença contínua e da importância dos judeus na Ásia Menor.

A estes judeus seguem-se na lista os do Egito. Tanto o Antigo Testamento (p.e., Jeremias 44:1)

quanto os Papiros Elefantinos do quinto século a.C. e outros materiais arqueológicos trazem evidências

de terem-se estabelecido muito cedo no Egito; ao redor do primeiro século d.C. deles se diz que

chegavam a perto de um milhão (Filo, Flaccus 6; cp. Josefo, Antigüidades 14.110-118; quanto aos

judeus da Alexandria, veja notas sobre 6:9). Partindo do Egito, penetraram na Líbia, pelo oeste, sendo

"Líbia" um termo amplo designativo do norte da África ao oeste do Egito); tais judeus são representados

neste catálogo de Lucas por aqueles que provieram das "partes da Líbia perto de Cirene", isto é, do

distrito conhecido como Cirenaica, a leste de Sirte Maior (golfo de Sidra; veja a disc. acerca de 27:17),

das quais Cirene era a principal cidade. Strabo menciona a presença de judeus nesta cidade em

particular (Josefo, Antigüidades 14.110-118).

Da extremidade ocidental vieram os judeus romanos (cp. 1:8; veja a disc. acerca de 28:16). Não

sabemos quanto tempo os judeus haviam estado em Roma, mas são mencionados em uma ordem de

expulsão datada de 130 a.C. Sem dúvida voltaram para lá acompanhados de outros judeus. O número

deles aumentou mais ainda quando Pompeu levou muitas famílias a Roma em 62 a.C, as quais

receberam liberdade e ali se estabeleceram, a maior parte delas além do Tibre. Embora não fossem

apreciados, prosperaram, havendo estimativas quanto a seu número no primeiro século d.C. que

chegam a setenta mil. Os judeus romanos são mencionados na lista de Lucas ao lado de outros

romanos que se haviam convertido à fé judaica (veja notas sobre 6:5). Não é provável que estes fossem

os únicos gentios convertidos em Jerusalém à época do Pentecoste, mas o propósito de Lucas teria sido

chamar a atenção de modo especial para a presença deles na fundação da igreja.

Finalmente, dando a impressão de que se trata de um pensamento tardio, Lucas se lembra de

assinalar a presença também de judeus cretenses e árabes. Para a mente greco-romana, a Arábia não

significava toda a península árabe, mas apenas aquela parte a leste e ao sul da Palestina, onde ficava o

reino da Nabatéia (veja a disc. acerca de 9:23-25). A menção deles no fim da lista pode significar que não

estavam presentes em Jerusalém em grandes números, mas só foram lembrados quando a lista já se

encerrara e estava sendo conferida. Por outro lado, a menção especial desses judeus cretenses está

extraordinariamente de acordo com uma declaração de Filo, segundo a qual as ilhas mais importantes

do Mediterrâneo — e ele cita de modo especial Creta — estavam "cheias de judeus" (Embassy to Gaius

(Embaixada para Gaio), 36.

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2:13 / Estão cheios de vinho: A palavra vinho (oinos) tanto pode significar "vinho novo" como

"vinho doce". Se o primeiro sentido for aceito, surge a dificuldade segundo a qual na época do

Pentecoste não havia vinho novo (falando-se estritamente), porque a primeira colheita de uvas para o

vinho ocorreria em agosto. É melhor, então, aceitar o sentido de "vinho doce". Os antigos tinham meios

de guardar o vinho doce durante o ano todo.

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