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Importância dos museus nacionais (Museu Paulista, Museu Nacional e o Museu Paraense de História Natural) como centros dedicados à pesquisa etnográfica e das chamadas ciências naturais. Primeiramente faz análise do contexto intelectual mais amplo no século XIX, conhecido como a “era dos museus” Livro: O espetáculo das raças Capítulo 3: “Polvo é polvo, molusco também é gente”

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Page 1: O espetáculo das raças.parte2

Importância dos museus nacionais (Museu Paulista, Museu Nacional e o Museu Paraense de História Natural) como centros dedicados à pesquisa etnográfica e das chamadas ciências naturais.

Primeiramente faz análise do contexto intelectual mais amplo no século XIX, conhecido como a “era dos museus”

Livro: O espetáculo das raçasCapítulo 3: “Polvo é polvo, molusco

também é gente”

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Museus contemporâneos do século XIX tinham a pretensão de se tornarem locais de preservação da memória escrita

Primeiros museus usados como “gabinetes de curiosidades”, formados antes para expor objetos do que com intuito de desenolvimento de pesquisa científicas e ensino. Alguns museus dessa fase: Louvre (1773) e Museu do Prado (1783)

A partir do século XIX são criados os primeiros museus etnográficos dedicados à coleção, preservação, exibição e estudo de objetos materias

Primeiros centros desse gênero, dois padrões: de um lado, alguns seguiram os padrões de Peabody com exposições sobre pré-história, arqueologia e etnologia. Outros constituindo-se como centros de cultura:

British Museum (1753); Museu Etnográfico de Ciências de São Petesburgo(1836); National Museum of Ethnology em Leiden (1837); Peadody Museum of Archeology and Ethnology (1866)

A Era dos Museus

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Museu Nacional ou Museu Real: “um museu científico nacional”

Fundado em 6 de julho de 1808, fazendo parte de uma pacote de medidas implementadas por D.João VI que visava “estimular os estudos de zoologia e botânica no local.” Acervo inicial contou com a doação de objetos da coleção pessoal do monarca

Perspectiva Nacionalista: prioriza a atuação de pesquisadores brasileiros

A autora analisa os documentos dos Archivos do Museu Nacional – periódico trimestral criado em 1873, e conclui que as sessões reservavam pouco espaço à Antropologia, comparado ao predomínio das ciências naturais: zoologia e botânica.

Arqueologia e Antropologia nas perspectivas das ciências naturais: enquanto à primeira cabia a reprodução de técnicas e vestígios de cultura material pouco significativos, a segunda baseava-se nos estudos físicos da craniometria.

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1877 – Responsável pelo primeiro curso de Antropologia, ministrado por Batista Lacerda. Este entendia a disciplina como um ramo da biologia, afastado das teorias sociológicas e filosóficas.

Visão evolucionista, Lacerda como poligenista convicto acreditava nos vários centros de criação, mas apoiava a idéia de evolução da humanidade ao patamar da civilização. Combinação de teorias com princípios excludentes. No seu artigo, postulava que “pela sua capacidade os Botocudos devem ser colocados a par dos Neo-Caledônios e Australianos entre as raças mais notáveis pelo seu grau de inferioridade intellectual. As suas aptidões são com efeito muito limitadas e difficil é faze-los entrar no caminho da civilização”

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Museu Paulista ou Museu do Ypiranga: “a sciencia chega em São Paulo Inaugurado em 7 de setembro

de 1895, como marco representativo da Independência

A contratação do zoólogo alemão Herman Von Ihering como diretor colabora na construção de um perfil profissional com referência aos grandes centros europeus

Revista do Museu Paulista – espaço privilegiado para as publicações estrangeiras

Disputa entre MN e MP : ao considerar o MP como único museu verdadeiramente científico no Brasil, Von Ihering trava embate com o então diretor do MN, Batista Lacerda

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Antropologia também é marginal, referenciada com as bases da zoologia e botânica. O zoólogo alemão acreditava que o estudo da humanidade se subordinava à estas áreas do conhecimento científico.

Interpretação evolucionista social, de bases científicas e positiva.

Proposta de Von Ihering de exterminação dos Kaigang que viviam na área destinada à construção de estrada de ferro revelou sua postura determinista, tomando como bases teóricas o darwinismo social.

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Museu Paraense Emílio Goeldi: “luz da sciencia bem no meio da floresta amazônica” Em 1866, por iniciativa de intelectuais

locais e com o apoio do governo estadual funda-se a Associação Filomática do Pará, com objetivo de desenvolver estudos sobre a fauna e flora amazônica, a geografia e a história da região.

Com a falta de estrutura e investimento, o museu transforma-se em uma simples repartição pública.

A contratação do zoólogo suiço Emílio Goeldi, em 1893 traz novos rumos ao museu. Goeldi procurou reproduzir um modelo das instituições européias, trazendo uma série de naturalistas europeus e elabora duas revistas: Boletim do Museu Paraense e Memória do Museu Paraense. A revista reafirma a perspectiva dos demais periódicos de um projeto fundado nas ciências naturais

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Goeldi era um naturalista, defensor do evolucionismo mas as idéias poligenistas de existência de várias raças tornaram-se sedutoras diante das possíveis descobertas quanto à “origem do homem americano”.

Maioria dos artigos da revista contemplam, tal como nas outras instituições, as áreas dos “estudos naturalistas”. Autora aponta para 2 possíveis justificativas: ou Goeldi não encontrou material suficiente para comprovar sua tese, ou dedicou-se apenas às pesquisa ligadas a sua área de atuação.

Museu localizado estrategicamente numa região de grande interesse para a comunidade científica

Museu serviria mais para “hospedar” os pesquisadores do resto do mundo do que construir propriamente uma ciência local.

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Tais institutos foram criados com a tarefa de construir uma história da nação, recriar o passado, solidificar mitos de fundação e reorganizar fatos que até então estavam dispersos.

Financiados pelo imperador ou pelos próprios sócios, seus integrantes perteciam portanto à sociedade de corte. Esses institutos tinham como característica a produção de um saber oficial.

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiros (IHGB) tinha como função “demarcar espaço e ganhar respeitabilidade nacional” e os demais ficaram responsáveis por garantir as especificidades regionais e definir certa hegemonia cultural.

Capítulo 4 – Os institutos históricos geográficos: “Guardiães da história oficial”

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Recrutamento para composição dos seus integrantes se pautava mais por determinantes sociais do que pela produção intelectual.

A maioria dos sócios fundadores ocupavam posição de prestígio na hierarquia interna do Estado.

Com o auxílio financeiro do Estado e a participação de D. Pedro II como integrante, o instituto ganha legitimidade como detendora de um saber oficial.

Impulsionados pelo desejo nacionalista se empenharam na elaboração de uma história que se dedicasse à exaltação e glória da pátria

Não havia espaço para o trabalho intelectual mais apurado, dava-se à ciência o mesmo valor que as artes.

Momento histórico crucial: com a Independência crescia o ideal romântico de valorização do país, fortemente presente na literatura assim como no “fazer ciência” daquele período.

Instituto Histórico e Geographico Brasileiro

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Perfil dos sócios: desde proprietários de terra até literatos ou pesquisadores de renome (Gonçalves Dias, Silvio Romero e Euclides da Cunha). Os critérios de aceitação dos sócios revelam por um lado a chance de projeção intelectual, mas também a possibilidade de promoção pessoal e reconhecimento social.

Questão racial: a proposta de um projeto de integralização nacional implicava pensar também a questão da inclusão de negros e índios.

Postura dúbia: quanto aos negros imperava percepção fatalista de se tratar de um grupo incivilizável. Já em relação ao indígena: se dividiam em por um lado, uma visão evolucionista e positiva mas também relacionado a um discurso religioso católico, vendo o índio como símbolo da identidade nacional.

Postulavam uma imagem desses grupos como “capazes de civilização”, revelando uma tendência de encarar o problema como adaptação das diferentes raças sob a ótica determinista e científica.

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Fundado em 1862, estabelecia enquanto função, primeiro: recuperar a história da pátria e segundo comprovar a importância da história pernambucana para o país.

O cenário político-econômico daquele período apontava para uma decadência na elite rural nordestina que via no instituto uma possibilidade de resgate de sua história local.

Associação por intermédio relacional: tentativa de resgate da imagem das elites agrárias.

A Arqueologia usada mais como perspectiva teórica do que como especificidade formal, encarada como matéria que versava sobre a antiguidade e geografia pernambucana. No entanto, existia pouco interesse pelo tema.

Antropologia e arqueologia como disciplinas que explicaria a existência de uma raça pernambucana.

Mestiçagem pensada de forma ambígua: entendida pela elite pernambucana como alternativa para controlar e ordenar à sociedade. Porém prevaleceria as idéias monogenistas e evolucionistas para pensar a situação local.

Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano

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Criado em 1894, tinha a pretensão de escrever a história nacional tendo como frente o percursos e exemplo paulista.

A particularidade do IHGSP era de apoiar a nova configuração política, nomeando o então presidente Prudente de Moraes como seu presidente honorário.

A situação financeira do instituto, privilegiada pela economia fortalecida do estado paulista, estabeleceu condições de lutar pela preponderância sobre os institutos de outras regiões.

A Antropologia ganhava mais destaque do que nos outros institutos. Com postura evolucionista e determinista racial, pautava-se numa visão épica e positiva da história. Oscilava entre as posições poligenistas da humanidade e a visão monogenista da Igreja.

Instituto Historico e Geographico Brasileiro

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Proposta de criar uma elite intelectual brasileira, desvincular-se do estatuto colonial e mostrar-se como um país de fato independente. A idéia era substituir a hegemonia estrangeira e estabelecer instituições de ensino de porte, capacitados a elaborar uma nova Constituição para o Brasil.

Status e prestígio do bacharelismo no Brasil. Carga simbólica do título e possibilidades políticas.

Capítulo 5 - As faculdades de direito ou os eleitos da nação

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A FACULDADE DE DIREITO DE RECIFE

O curso se instala em Olinda em 1828, mas a falta de estrutura física e com a reprodução de um pensamento tradicional herdado da coroa portuguesa, a faculdade teve pouco êxito na sua fase inicial.

Com a transferência do curso para Recife, 1854 a produção intelectual passa a ser mais significativa. A reforma acadêmica visando a adequação disciplinar dos alunos, a proposta de “ensino livre” e na divisão de duas seções: as sciencias jurídicas e as sciencias sociais colaborou para o objetivo de atribuir um estatuto científico ao direito, livrando-o das amarras religiosas e metafísicas até então dominantes.

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Esses intelectuais, liderados por Tobias Barreto e após os anos 70 por Silvio Romero assumiram para si a tarefa de serem os escolhidos para garantir “o futuro da nação”, compartilhando o sentimento que na “sciencia tudo pode”.

Homens de sciencia: intelectuais de Recife procuraram adaptar as idéias estrangeiras para pensar uma saída científica para a nação.

Silvio Romero importante intelectual, considerado pai fundador da Escola de Recife. Destacou-se pelos seus radicalismos deterministas e um certo “elogio à mestiçagem”. A partir de suas idéias, o direito ganha um estatuto de “sciencia”.

Antropologia criminal como suporte científico para embasar as práticas do direito teve destaque entre os juristas de Recife. Reconhecendo nas características físicas traços de criminalidade, loucuras e potencialidades para o fracasso, foi discurso não só para legitimar o direito enquanto dotada de cientificidade como também para explicar a questão da mestiçagem como explicação para a tendência à criminalidade no país.

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Em 1826,inaugura-se a escola de São Paulo. Constitui-se como centro intelectual do país, famoso por seu autodatismo, os alunos não só refletiam sobre a cultura jurídica mas também tinha forte militância política

Delegava-se ao Direito uma supremacia perante as outras ciências, e com missão civilizatória.

Difundia um evolucionismo de fundo católico e a faculdade de direito transfomava-se num centro de “eleitos” para a tarefa de conduzir o destino da nação.

Repudio às teorias deterministas raciais, com aposta no liberalismo político e uma interpretação que via com ceticismo explicações baseadas exclusivamente na raça.

Não descartavam a perspectiva evolucionista: apesar de desiguais, os homens estavam passíveis à evolução e perfectibilidade, alcançados pela ação de um Estado soberano, acima de diferenças econômicas e raciais. Defesa da democracia como resultado da evolução humana.

A Academia de Direito de São Paulo

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Século XIX que se consolidam as escolas de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro.

Enfoques distintos: na Bahia, pensava-se na questão do cruzamento racial como problema para a nação. Já a escola carioca voltou seus esforços no tratamento das doenças tropicais.

A miscigenação como aspecto negativo era compartilhado por ambas escolas, viam na mistura de raça a possibilidade de degeneração e o surgimento de doenças.

A análise da revista “Gazeta Médica da Bahia” permitiu identificar a preocupação com a medicina legal (escola de Nina Rodrigues).

Já no periódico carioca “Brazil Médico” a preocupação era com a higiene pública.

Em ambas escolas existia um projeto de cunho eugênico no país. Na medicina baiana, a eugenia servia para prever concepções antigas de perfectibilidade e melhoria da raça. Nas escolas cariocas, a eugenia criou novos espaços de atuação social. A implementação de medidas eugênicas usadas como modo de controle sob a futura geração do país e a possibiliade de eliminar descendência não desejada.

Capítulo 6 - As faculdades de Medicina ou como sanar um país doente

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Durante o século XIX, Brasil cumprira o papel de paraíso dos visitantes naturalistas. Porém não mais sua floresta que chamava a atenção e sim os homens.

Problema racial como linguagem para observação das desigualdades socias.

Defasagem das teorias deterministas ao pensar como objeto o contexto local.

Um país onde a miscigenação se tornou polêmica mesmo entre as camadas mais altas da sociedade (a elite intelectual). Estavam dispostos a saber mais sobre si mesmos, entender um pouco mais desse caldeirão de culturas e raças, e quem sabe descobrir a identidade brasileira, a singularidade nacional.

Entre o veneno e o antídoto: algumas considerações finais

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Finda a escravidão e instaurada a democracia por meio da República, o discurso racial torna-se tardio comparado ao modelo liberal desde 1822.

Necessidade de criar uma História do Brasil de modo a incluí-la no grande círculo das nações desenvolvidas, e para tal era preciso que encontrássemos nossa identidade.

Os embates entre teorias deterministas e evolucionistas, possibilitaram aos cientistas travar uma busca pela brasilidade.

Representação mestiça do Brasil no exterior passa da imagem negativa à exótica, de científica se modifica em espetáculo.

“Raça é um conceito científico e comparativo para os museus, transforma-se em fala oficial nos institutos históricos de finais do século; é um conceito que define a particularidade da nação para os homens de lei; um índice tenebroso na visão dos médicos.”p242