o espanta pardais

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O "Espanta-Pardais" de Maria Rosa Colaço «Era um boneco humilde de quem a cegonha vaidosa faia troça! inha dois grandes braços sempre abertos# um casaco de remendinhos de todas as cores# um cachecol e um chap$u preto com uma flor no alto! A única coisa que o Espanta- Pardais desejava na vida era, um poder caminhar na Estrada Larga. %ma tarde em que estava farto dos dedos quentes do &ol# farto das m'os geladas da chuva# farto do sil(ncio e farto d estar soinho# disse numa vo t'o alta que as )rvores estremeceram* - Estou farto+ Pronto+ Estou farto de estar aqui de braços abertos! - Com quem est)s a falar# Espanta-Pardais, O boneco ficou muito atrapalhado ao ouvir aquela vo! Olhou# olhou devagar como se fosse um girassol# e qual n'o foi o seu espanto ao ver# sentada num molho de trigo# uma menina linda como a madrugada! - Ent'o tu n'o me conheces, - 'o# nunca te tinha visto! - Eu sou a Maria Primavera e venho aqui todos os anos! Mas porque est)s a olhar para mim dessa maneira, enho cara de sapo, - És tão bonita, Maria Primavera !onde vens" - perguntou e#e bai$inho, cheio de vergonha e de ternura. - Eu venho da Estrada Larga. .o ouvir este nome# o Espanta- Pardais estremeceu! /epois gague0ou* - .h+!!! /a Estrada 1arga+!!!Conta-me o que viste l)! E Maria Primavera falou das cidades de cimento com p)ssaros de alum2nio voando no c$u aul3 dos homens que trabalham nas minas# no fundo da terra3 dos 0ornais que davam not2cias 4s pessoas3 dos meninos que iam para as escolas# e falou sobretudo nos mares com pei5es de madeira que levam homens e saudades! - u falas t'o bem# Maria Primavera+ E eu gostava tanto de ir contigo par a Estrada 1arga+6 Maria Rosa Colaço 7te5to adaptado8 - Espanta-Pardais - Ediç9es :ega ;<<=

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O espanta pardais

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O "Espanta-Pardais" de Maria Rosa Colao

Era um boneco humilde de quem a cegonha vaidosa fazia troa. Tinha dois grandes braos sempre abertos, um casaco de remendinhos de todas as cores, um cachecol e um chapu preto com uma flor no alto.A nica coisa que o Espanta- Pardais desejava na vida era, um dia, poder caminhar na Estrada Larga.Uma tarde em que estava farto dos dedos quentes do Sol, farto das mos geladas da chuva, farto do silncio e farto de estar sozinho, disse numa voz to alta que as rvores estremeceram: - Estou farto! Pronto! Estou farto de estar aqui de braos abertos. - Com quem ests a falar, Espanta-Pardais? O boneco ficou muito atrapalhado ao ouvir aquela voz. Olhou, olhou devagar como se fosse um girassol, e qual no foi o seu espanto ao ver, sentada num molho de trigo, uma menina linda como a madrugada. - Ento tu no me conheces? - No, nunca te tinha visto. - Eu sou a Maria Primavera e venho aqui todos os anos. Mas porque ests a olhar para mim dessa maneira? Tenho cara de sapo? - s to bonita, Maria Primavera! Donde vens? - perguntou ele, muito baixinho, cheio de vergonha e de ternura. - Eu venho da Estrada Larga. Ao ouvir este nome, o Espanta- Pardais estremeceu. Depois gaguejou: - Ah!... Da Estrada Larga!...Conta-me o que viste l. E Maria Primavera falou das cidades de cimento com pssaros de alumnio voando no cu azul; dos homens que trabalham nas minas, no fundo da terra; dos jornais que davam notcias s pessoas; dos meninos que iam para as escolas, e falou sobretudo nos mares com peixes de madeira que levam homens e saudades. - Tu falas to bem, Maria Primavera! E eu gostava tanto de ir contigo para a Estrada Larga! Maria Rosa Colao (texto adaptado) - Espanta-Pardais - Edies Vega 2001