o ensino de lÍngua portuguesa x prÁtica docente - … · esses são aspectos imprescindíveis...

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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA x PRÁTICA DOCENTE Fátima da Silva SIQUEIRA (UEL) Introdução O ensino público no Brasil, principalmente no que se diz respeito às escolas que trabalham com o Ensino Fundamental, está caracterizado por possuir menor qualidade em comparação ao ensino privado. Muitas pesquisas têm mostrado o quanto o ensino público, de modo geral, encontra-se em situação precária. Um dos principais dilemas encontrados para o trabalho com essa disciplina, é o fato de que de um lado tem-se a Gramática Tradicional, que muitos professores afirmam ser fundamental para os alunos a noção do seu estudo. Por outro lado, sabe-se que o ensino dessa disciplina também pode ser muito mais eficiente a partir do momento em que se perceber a língua como um sistema comunicativo e, assim, no que se refere ao seu ensino, ir além de categorias gramaticais e funções sintáticas. O resultado desse velho modo de ensino acarreta dificuldades facilmente observadas nos alunos, os quais, muitas vezes, se sentem perdidos sempre que o professor lhes pede para elaborarem textos pertencentes a diversos gêneros. Fica evidente que os conteúdos aprendidos pouco contribuíram para o que realmente é mais importante, que é levar o aluno a conseguir compreender o que um texto quer dizer (captar não apenas o explícito, mas também o implícito) e argumentar a respeito dele. Não são poucas as vezes em que a dificuldade de compreensão do que pedem os enunciados dos exercícios é quase que absoluta. O desprendimento do ensino de categorias gramaticais e de suas funções na sentença não significa que a gramática não deva ser ensinada na escola, pelo contrário, ela é fundamental para o ensino de Língua Portuguesa. O que também se sugere é o ensino de uma gramática, de fato, contextualizada a partir de diferentes gêneros textuais para que

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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares

05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA x PRÁTICA DOCENTE

Fátima da Silva SIQUEIRA (UEL)

Introdução

O ensino público no Brasil, principalmente no que se diz respeito às

escolas que trabalham com o Ensino Fundamental, está caracterizado por possuir menor

qualidade em comparação ao ensino privado. Muitas pesquisas têm mostrado o quanto o

ensino público, de modo geral, encontra-se em situação precária.

Um dos principais dilemas encontrados para o trabalho com essa

disciplina, é o fato de que de um lado tem-se a Gramática Tradicional, que muitos

professores afirmam ser fundamental para os alunos a noção do seu estudo. Por outro lado,

sabe-se que o ensino dessa disciplina também pode ser muito mais eficiente a partir do

momento em que se perceber a língua como um sistema comunicativo e, assim, no que se

refere ao seu ensino, ir além de categorias gramaticais e funções sintáticas.

O resultado desse velho modo de ensino acarreta dificuldades facilmente

observadas nos alunos, os quais, muitas vezes, se sentem perdidos sempre que o professor

lhes pede para elaborarem textos pertencentes a diversos gêneros. Fica evidente que os

conteúdos aprendidos pouco contribuíram para o que realmente é mais importante, que é

levar o aluno a conseguir compreender o que um texto quer dizer (captar não apenas o

explícito, mas também o implícito) e argumentar a respeito dele. Não são poucas as vezes

em que a dificuldade de compreensão do que pedem os enunciados dos exercícios é quase

que absoluta.

O desprendimento do ensino de categorias gramaticais e de suas funções

na sentença não significa que a gramática não deva ser ensinada na escola, pelo contrário,

ela é fundamental para o ensino de Língua Portuguesa. O que também se sugere é o ensino

de uma gramática, de fato, contextualizada a partir de diferentes gêneros textuais para que

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se facilite tanto a internalização do conhecimento quanto a própria produção textual. Dessa

forma, o aluno poderá aprender os conteúdos gramaticais e, ao mesmo tempo, reconhecer a

qual gênero pertence o texto que lhe foi apresentado.

O que fazer então diante de tantas teorias e sugestões de trabalho?

Com o propósito de refletir mais a respeito dos problemas, dificuldades e

desafios do sistema público, optou-se por fazer uma pesquisa que traga dados reais a

respeito do que pensam alguns professores da área e o que eles acabam levando para os

alunos em suas aulas. Este artigo, então, buscou verificar como está sendo trabalhado o

ensino de Língua Portuguesa e a prática docente na atualidade. Para isso foi desenvolvida

uma pesquisa nas escolas públicas estaduais urbanas da cidade de Curiúva – PR, por meio

de aplicação de questionários a todos os professores que lecionam a disciplina de Língua

Portuguesa no Ensino Fundamental. Tratou-se de verificar com isso, o perfil profissional do

docente, sua maneira de atuação em sala de aula com os alunos, bem como também sua

metodologia de ensino. Além do questionário, mediante aprovação das escolas e dos

professores, foram feitas observações das aulas desses mesmos docentes com todas as

turmas que eles trabalham.

Para a realização dessa pesquisa, seguiram-se os seguintes passos:

Visita as quatro escolas urbanas da rede estadual pública,

localizadas no município de Curiúva /PR;

Observação das aulas de Língua Portuguesa (Ensino

Fundamental) dos professores que atuam nessas escolas;

Aplicação de um questionário aos professores, sobre sua

atuação frente ao ensino dessa disciplina;

Finalização com uma análise geral, entre revisão

bibliográfica, observação das aulas e aplicação dos questionários.

O presente trabalho conta também com várias pesquisas bibliográficas de

grandes autores da área. A conclusão desta pesquisa apresenta um resultado final entre o

que se propõe nas bibliografias de alguns autores consagrados, o que pensam os professores

diante do questionário que lhes foi apresentado e o que de fato acontece e é levado para os

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alunos nas aulas de Língua Portuguesa. A intenção da pesquisa foi verificar como a Língua

Portuguesa está sendo trabalhada, se o seu ensino está voltado para a gramática tradicional,

para o trabalho com gêneros, ou até mesmo se essas duas metodologias caminham juntas.

Essa pesquisa não pretendeu, de forma alguma, fazer qualquer tipo de comparação e/ou

julgamento em relação aos professores observados, mas sim entender como se dá o

processo prático de ensino dessa disciplina.

1- O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ATUALIDADE

O ensino de Língua Portuguesa continua sendo alvo de atenção e

questionamentos de vários profissionais da área, que em meio a tantas formas sugestivas de

se trabalhar com a língua, acabam ficando perdidos e revelando total despreparo em relação

ao que ensinar e à forma de aplicação dos conteúdos.

Percebe-se, muitas vezes, que os professores de Língua Portuguesa estão

presos a um determinado ensino, preocupados sempre com a gramática normativa, gastando

tempo demais ao ensinar sujeito, adjetivo etc, que, por vezes, nem mesmo os mestres

dominam totalmente. Deixam, então, de trabalhar atividades como leituras, exposições e

abordagens das variações linguísticas a partir de exemplos trazidos pelos próprios alunos

para a sala de aula.

O ensino da língua materna acaba encontrando dois caminhos paralelos:

de um lado consideram-se as pesquisas e investigações de vários cientistas ao procurarem

respostas nas ciências da linguagem; e de outro, verifica-se o descompasso entre o que é

estudado e até falado aos e pelos professores e suas ações em sala de aula. Diante disso, o

que fica claro é que é necessário haver uma melhoria, ou seja, uma junção que facilite a

relação mútua entre teoria e prática.

Sem dúvida, princípios teóricos devem fundamentar o entendimento do

professor, para que este possa intervir de maneira mais significativa na escola. O professor

também deve estar ciente das amplas funções que o uso da língua desempenha no

desenvolvimento dos grupos sociais e na construção das identidades nacionais.

Segundo Irandé Antunes (2007, P.23):

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É preciso reprogramar a mente dos professores, pais e alunos em geral, para

enxergarmos na língua muito mais elementos do que simplesmente erros e

acertos de gramática e de sua terminologia. De fato, qualquer coisa que foge um

pouco do uso mais ou menos estipulado é vista como erro. As mudanças não são

percebidas como “mudanças”, são percebidas como erros.

Na verdade, todo professor de Língua Portuguesa precisa:

- Interar-se de como aplicar ensino e avaliação, avaliação e ensino;

- Conhecer dentro da diversidade de gêneros textuais, as funções

gramaticais, lexicais e discursivas;

- Promover a inserção do aluno no mundo da escrita e da cultura letrada;

Esses são aspectos imprescindíveis para que o professor possibilite o

contato do indivíduo com o letramento, aperfeiçoando assim as competências de fala,

leitura, escrita, análise etc. E para que isso ocorra, é primordial que haja uma mudança na

maneira de apresentar os conteúdos aos alunos de modo que eles não decorem, mas sim,

internalizem os conhecimentos adquiridos, promovendo assim, um bom resultado tanto na

língua falada quanto na escrita.

1.1 A Gramática Tradicional

Há algumas críticas sobre a Gramática Tradicional (GT), ao longo do

século XX, como por exemplo, “ciência” do que “está parado”, tratando-se apenas de uma

língua esmiuçada e prescritiva, tida como a ideal.

Falar sobre a GT é como voltar ao passado, onde o ensino e o trabalho

linguístico limitavam-se a oferecer textos de consagrados clássicos da literatura como único

modelo a ser seguido e a recusar a aceitar as variações linguísticas já existentes naquela

época.

Na realidade, pode-se dizer que havia medo de uma aceitação de

mudanças na língua. Os autores, defensores da GT, preferiam que ela fosse estática,

obedecendo a regras apenas. Para eles, o progresso de um povo, muitas vezes trazia para a

língua, algo que a deturpava e a tornava pobre e cheia de vícios.

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Se as gramáticas eram escritas, eram para ser obedecidas e fixadas como

regras padronizadas pelos escritores, os quais eram dignos de admiração e tidos como

modelos, ou seja, incontestáveis.

Sobre isso, Marcos Bagno (2000, p.158;159) comenta:

“Não acredito, portanto, na validade de uma “norma pedagógica”, nem sequer,

aliás, na possibilidade de estabelecê-la. Em que se basearia? No uso exclusivo

dos “clássicos”, postura elitista e antidemocrática, como querem as gramáticas

normativas e os comandos paragramaticais? na língua dos jornais?

Foi a partir desse e de vários outros comentários parecidos que se iniciou

uma nova concepção sobre o modo de ver a linguagem. Não é que na escola não exista

espaço para o ensino da gramática em sala de aula. Pelo contrário, existe uma defesa para o

ensino de gramáticas, desde que seja um ensino plural, em que haja preocupação com

análise da funcionalidade e da crítica dos valores sociais pertencentes a cada uma delas.

Na escola, o trabalho com a disciplina de Língua Portuguesa, deve então,

propor atividades de pesquisa que despertem no aluno curiosidades sobre a linguagem. Para

que isso possa acontecer, é necessária a conscientização do professor, de que é um

estudioso da língua, produtor de conhecimentos e de materiais didáticos adequados que

venham suprir as reais necessidades dos alunos.

Todo aluno passa desde o terceiro ano primário até o terceiro colegial

estudando análise sintática e classes de palavras. Esse tempo todo estudado, não permitiu

que o aluno conseguisse entender sobre o assunto. Daí que surgem algumas concepções de

que a gramática é matéria que dificilmente alguém conseguirá aprender.

Acredita-se que a GT possa ser a grande responsável por esse tipo de

visão que ocorreu ao longo da história e ainda permanece até os dias atuais. Ficou como

algo inatingível, em que muitas vezes imagina-se ser um assunto a ser dominado somente

por grandes autores, aqueles consagrados, tidos como modelos, por isso a grande

dificuldade em discuti-la, apresentá-la e até mesmo, para muitos docentes, que acabam

encontrando dificuldades de ensiná-la.

Os PCN, por exemplo, surgiram com o intuito de se rever a forma de

como a língua materna é apresentada. O documento sugere que se proponha aos alunos o

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contato e o trabalho com diversos tipos de textos, pelos quais se possam desenvolver

habilidades de compreensão, recepção e produção dos discentes.

Segundo Bagno (2000), um bom estudo da língua deve oferecer e

trabalhar textos literários modernos e clássicos, histórias em quadrinhos, notícias de jornais,

programas de televisão, entrevistas, filmes, novelas, programas de rádio, entre outros, que

mostrem o registro de fala de pessoas de várias classes sociais e geográficas.

1.2 Gêneros textuais como suporte

Trazer o gênero como referência para o trabalho em sala de aula seria,

talvez, uma forma de revigorar e dinamizar o ensino da gramática, deixando assim, de

apresentar o texto apenas como um espaço no qual se identificam as classes de palavras (o

chamado texto como pretexto). Uma forma de mudança metodológica seria a promoção do

contato dos alunos com textos que possuem feições concretas, que têm o seu gênero

determinado, pois isso facilitaria o entendimento do aluno toda vez que o professor lhe

pedisse para escrever, por exemplo, uma carta, um aviso, um convite, entre outros.

Segundo Antunes (2007), a única forma de se usar a língua é por meio do

texto, não existindo outra mais adequada. E quanto mais o professor puder explorar

atividades textuais e discursivas, com toda certeza suas aulas serão muito mais atrativas e

menos monótonas.

Com o estudo dos gêneros, os conceitos de certo e errado que as escolas

costumam avaliar, podem sofrer algumas mudanças positivas. Um texto não pode ser

considerado bom somente porque foi escrito gramaticalmente correto, pois pode estar fora

das características de seu gênero, por exemplo, podendo então, não ser modelo de

linguagem. Quando não se sabe fazer a colocação certa de uma palavra no texto, ela pode

gerar complicações, as quais poderão afetar o entendimento devido à falta de clareza com

que foi escrita. Segundo Antunes (2009), não se pode reduzir a linguagem ao fato de

sempre falar certo e sem erros. É preciso ir além dos textos e não centrar-se apenas no

estudo da gramática e é a partir do estudo dos gêneros que as habilidades para falar e

escrever atingem a variedade da interação verbal dos diferentes grupos sociais.

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Foi grande a multiplicação dos gêneros, depois da criação da escrita,

por volta do século VII A.C, com as várias tipicidades da escrita. A partir do século XV,

com o surgimento da cultura impressa é que se percebe uma grande transformação. Nos

dias atuais com a TV, o telefone, o rádio, o computador e a internet, nota-se um grande

aumento de gêneros e novas maneiras de comunicação, tanto oral quanto escrita.

Os gêneros, então, podem ser entendidos como formas verbais de ação

social em textos de práticas sociais e em controle de discursos exclusivos. Quanto à

expressão “tipos de texto”, facilmente observada no dia a dia, não significa um tipo, mas

sim um gênero textual. Ocasionalmente, um mesmo gênero poderá realizar dois ou mais

tipos. Por isso é que um texto pode ser tipologicamente heterogêneo.

Considerando que todos os textos se revelam sempre em um ou em outro

gênero textual, torna-se necessário aprofundar os conhecimentos sobre a funcionalidade dos

gêneros textuais, tanto no momento da produção quanto no momento da compreensão de

determinado gênero. É basicamente o que se prevê nos PCNs (Parâmetros Curriculares

Nacionais), ao sugerirem que o trabalho com textos (orais ou escritos), seja realizado com

base nos gêneros.

Se existe, na sociedade, uma grande diversidade de textos exigidos pelas

várias e complicadas relações sociais, torna-se necessário um aumento das variações

textuais do livro. O ensino de Língua Portuguesa deve girar em torno do texto,

desenvolvendo competências linguísticas, textuais e comunicativas aos alunos, a fim de

incluí-los no convívio do mundo letrado de hoje, ampliando assim, a competência

linguística e textual do aluno.

Renovações no ensino da língua devem enfatizar a leitura, análise e

produção de textos, sejam eles: conversacionais, narrativos, expositivos, descritivos,

argumentativos, levando-se em conta os aspectos discursivos, temáticos, enunciativos,

linguísticos e estruturais, embora ainda se observe insuficiência dessas ações na prática.

2 – A PRÁTICA: OBSERVAÇÃO DAS AULAS NAS ESCOLAS

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Para a realização deste trabalho, foram selecionadas quatro (04) escolas

da rede pública estadual, localizadas no município de Curiúva – PR, referenciadas pelas

cores: Amarela, Branca, Verde e Rosa, para serem feitas algumas observações das aulas de

Língua Portuguesa, direcionadas ao Ensino Fundamental. É claro que a intenção da

pesquisa não foi julgar qual a escola que melhor ensina, muito menos julgar a competência

do professor. Pelo contrário, pretendeu-se colaborar com os estudos já existentes a respeito

do ensino de Língua Portuguesa, mostrando como esta disciplina vem sendo trabalhada,

quais as maiores dificuldades, como é a relação professor x aluno na atualidade e,

principalmente, refletir a respeito de certos equívocos metodológicos.

O primeiro contato foi feito com as diretoras das escolas, que,

gentilmente, forneceram o horário das aulas. Logo depois, foi estabelecido contato com os

professores. Cabe salientar que não foi feita qualquer seleção de professores, pois a

pesquisa foi feita com todos que trabalham a disciplina de Língua Portuguesa no Ensino

Fundamental, nas quatro escolas estaduais urbanas existentes no município de Curiúva/PR.

3 - APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS AOS PROFESSORES

Para a aplicação do questionário dirigido aos professores de Língua

Portuguesa que trabalham com o Ensino Fundamental, foram selecionadas quatorze (14)

perguntas para um total de dez (10) participantes. As perguntas foram:

1. Sexo?

Foram dez (10) participantes, sendo que 90% pertenciam ao sexo

feminino e 10% ao sexo masculino.

2. Idade?

Com relação à idade dos participantes, 10% tinham até 24 anos, 20%

tinham entre 25 a 29 anos e 70% dos entrevistados pertenciam ao número de 30 a 49 anos.

Não houve nenhum participante com idade acima de 50 anos.

3. Há quanto tempo leciona?

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Quanto ao tempo que esses profissionais estão em sala de aula, verificou-

se que 20 % lecionam há menos de três anos, 10% de 3 a 5 anos, 40% de 6 a 9 anos e 30%

de 10 a 15 anos. Não houve respostas para as opções acima de 15 anos.

4. Quantas horas por semana você dedica ao planejamento das aulas?

No que se refere à dedicação dos profissionais ao planejamento de suas

aulas, constatou-se que 40% dedicam-se até 4 horas semanais, 50% de 4 a 8 horas e apenas

10% chegaram ao tempo de 8 horas ou mais.

5. Você costuma ler?

Nessa pergunta, 90% dos entrevistados responderam “Sim”,

demonstrando gosto pela atividade da leitura e 10% optaram por não responder. Verifica-se

com isso, que a maioria dos profissionais dispõe de um tempo para leitura.

5.1 Se sim, assinale os gêneros que lê com mais frequência.

Aqui, os profissionais apresentaram os gêneros que mais apreciam, sendo

40% para revistas em quadrinhos, 50% literatura brasileira, 10% preferem ler revistas

específicas da área, jornais e informativos.

6. Em relação às atividades propostas com seus alunos, assinale quais são mais

trabalhadas:

Quanto às atividades mais trabalhadas com os alunos em sala de aula,

obteve-se resposta de 80% para discussão de textos, diferenciando-se fatos e opiniões, uso

de poesias, contos, crônicas e outros gêneros que trabalham gramática contextualizada,

20% trabalham atividades mais voltadas para a gramática tradicional, e atividades propostas

no livro didático.

É possível notar, por meio desses dados, que são poucos os profissionais

que voltam suas atividades de ensino para a gramática tradicional e o uso do livro didático.

A grande maioria opta por levar na sala de aula, diferentes tipos de textos, com os quais os

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alunos possam discutir, reconhecer, diferenciar opiniões, fazer críticas, demonstrando seu

ponto de vista conforme o que lhe é apresentado.

7. Você passa lição de casa?

Nesse quesito, a maioria (80%) dos professores, às vezes, passam lição de

casa. Acabou sobrando um número pequeno para quem respondeu “sim” (10%) e “não”,

(10%).

Na realidade, o que os professores comentam sobre esse ponto, é que o

tempo é muito curto. Não existe resultado positivo na atividade de cobrar tarefas dos

alunos, principalmente porque quase não há tempo para a correção nem na aula seguinte.

São muitos os conteúdos a serem trabalhados por bimestre, sem contar que cada aluno

reage ao conteúdo de uma forma e não são todos que conseguem acompanhar ao mesmo

tempo. Pensando nisso, é importante que o professor planeje sua aula, sabendo do tempo

que terá que dispor para trabalhar de forma diferenciada com esse aluno, então, trabalhos

como lição de casa não devem ser descartados, mas sim cobrados de forma coerente e

equilibrada.

8. Você costuma corrigir as lições?

Aqui, 100% dos entrevistados responderam afirmativamente: “Sim, em

sala, junto com os alunos”.

9. Você trabalha usando diferentes tipos de gêneros textuais em suas aulas?

Nessa pergunta 80% dos professores responderam ”Sim” e 20% “Às

vezes”. Nenhum respondeu que “Não”, que não trabalha com gêneros textuais em suas

aulas.

10. Quais os gêneros que você mais costuma trabalhar?

Entre os gêneros mais trabalhados, destacaram-se 80% para notícia,

propaganda, música, e 20% para carta e entrevista.

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A música é um texto de grande aceitação pelos alunos. Acredita-se, ser

esse o motivo pelo qual os professores optam por trabalhar com esse gênero

(principalmente se for escolhida uma música que esteja na mídia e no gosto da maioria).

Observou-se um grande número destacado para o trabalho com textos

(notícia, propaganda), talvez pelo fato de desenvolver nos alunos a habilidade de observar

as críticas presentes por meio das notícias do dia a dia, a realidade do mundo que se vive, as

desigualdades sociais, a constante espera de que um dia todos poderão participar de uma

sociedade mais justa em que pelo menos, cada cidadão consiga ter acesso ao básico.

11. Com que frequência?

Nessa pergunta, 40% responderam que trabalham “uma vez ou outra”, o

mesmo número (40%) trabalha “em todas as aulas” e 20% “não responderam”. Nenhum

professor marcou a opção que “não trabalha”.

12. Qual o resultado desse ensino?

Nenhum professor acredita ser “ruim” o trabalho com gêneros. Pelo

contrário, 70% acreditam ser “ótimo” e outros restantes (30%) acham “bom”. Tais

respostas levam a crer que a maioria dos profissionais oportuniza aos seus alunos o contato

com diferentes tipos de textos, onde podem identificar a linguagem utilizada para cada tipo

de produção textual.

13. Como você prefere ensinar a Língua Portuguesa?

Mais uma vez, por meio dessa pergunta, verificou-se a porcentagem

maior para o trabalho com gêneros textuais, um total de 90%, enquanto que para o ensino

da língua de maneira tradicional, apenas 10%.

14. Como os alunos assimilam melhor?

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Outra vez, mais um ponto para o trabalho com gêneros, devido à resposta

em que 90% dos alunos assimilam melhor por meio de gêneros e apenas 10% de maneira

tradicional.

Considerações finais

De acordo com as pesquisas bibliográficas realizadas neste trabalho, ficou

evidente que há a preocupação de grandes autores em relação ao ensino da língua materna.

O que muitas teorias sugerem é o trabalho com textos que, de fato, desenvolva nos alunos,

habilidades de compreensão da língua, em diversas situações de comunicação.

No que diz respeito à opinião dos professores questionados, frente ao

ensino de Língua Portuguesa, a maioria desses profissionais mostrou estar de acordo com

as teorias mais atualizadas, aquelas que trazem os gêneros para a sala de aula, que atendem

ao que se pede como nova forma de trabalho com a língua.

Houve casos de respostas contraditórias, por exemplo, no momento que

se questiona se o docente usa diferentes tipos de gêneros textuais em suas aulas, em um

mesmo questionário que respondeu “Às vezes”, surpreendentemente, respondeu que prefere

ensinar a Língua Portuguesa por meio de gêneros textuais e que, dessa forma, os alunos

assimilam melhor.

Outra contradição encontrada foi na pergunta em que o professor

responde que costuma trabalhar com gêneros apenas “uma vez ou outra”, mas ao mesmo

tempo considera que o resultado desse ensino é “ótimo” e tanto a sua preferência quanto a

dos alunos está de acordo com os gêneros textuais. Bom, se assim é a preferência de ambos

e o resultado é ótimo, o que impede o profissional de realizar esse trabalho com maior

frequência?

Sobre as formas de ensino, 90% dos professores entrevistados preferem

utilizar os gêneros e 10% assumem preferir a maneira tradicional. Um dos professores

pertencentes a esses 10% explica que prefere trabalhar dessa última forma, mas que

também leva os gêneros para a sala de aula, principalmente, notícias, propagandas.

Contudo, isso ocorre uma vez ou outra e o resultado é sempre regular. Devido a isso, ele

prefere trabalhar de forma tradicional por acreditar que assim os alunos aprendem melhor.

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Quanto às atividades mais trabalhadas com os alunos, torna-se pertinente

ressaltar a minoria (20%) que marcou a opção de trabalhar as atividades propostas no livro

didático. Já 80% dos participantes não declararam usar desse meio de ensino. O que se tem

a dizer sobre isso é que 70% desses docentes que deram essa resposta, usam, sim, o livro

didático em suas aulas e o seguem até com bastante frequência.

Com relação à observação das aulas, estas foram previamente avisadas, o

que colaborou com o professor que pôde planejar bem sua aula a ser observada. Isso porque

houve um participante, que na hora da pergunta sobre a possível observação de sua aula,

disse um sim receptivo. Instantes depois, este mesmo voltou-se e pediu para que deixasse

bem certo, o dia, a hora, confirmando pelo celular.

Analisando a observação dessas aulas, chegou-se à conclusão de que na

escola Amarela, nas quatro aulas observadas, apenas uma foi trabalhada com gêneros, no

caso, o gênero notícia, ao ser distribuído recortes de jornais, em que os alunos tinham que

fazer exposição do que dizia a reportagem. As outras três aulas, trataram de textos teóricos

com exercícios simples e, em uma dessas aulas, o livro didático foi utilizado.

Já na escola Branca, das quatro aulas observadas, em uma, o gênero

História em Quadrinhos foi passado em sala com ótima aceitação por parte dos alunos, e

nas outras aulas, foram trabalhados exercícios e crônicas tirados do livro didático, com

exceção do texto “Ana Z” (Marina Colasanti), no qual os alunos trabalharam interpretação

de texto. Nesse último dia de trabalho pôde-se notar que os alunos não apresentaram tanto

entusiasmo, devido ao texto que era muito extenso, voltado apenas para a interpretação,

sem oferecer atividade dinâmica.

Quanto à escola Verde, das nove aulas observadas, seis aulas usaram

gêneros como: poemas, crônicas, anúncio publicitário, histórias em quadrinhos, contos e

poesias. Dos seis gêneros trabalhados, três foram retirados do livro didático. Nas outras três

aulas, trabalhou-se substantivo próprio e comum com alguns exercícios, interpretação de

texto e correção de atividades também retiradas do livro didático. Dentre as quatro escolas

observadas, acredita-se ser essa a que desenvolveu maiores trabalhos atrativos com gêneros

em sala.

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Por fim, na escola Rosa, nas quatro aulas observadas, uma explorou a

criatividade dos alunos em apenas uma produção de desenho (que melhor ilustrasse o texto

“Preta de Piche e os Sete Negrões”), demonstrando muito entusiasmo por parte dos alunos,

que puderam desenhar, colorir e ao mesmo tempo, ter o contato com a linguagem oral, ao

ouvir o texto lido pela professora, e a linguagem visual, ao ilustrar em forma de desenho as

pistas mais marcantes do texto. Em uma outra aula, fez-se um trabalho mais voltado à

gramática, com entrega de uma lista de exercícios, para serem feitos em duplas e entregues

ao término da aula. As outras duas aulas retiraram exercícios do livro didático. Embora em

menor quantidade, com exceção da aula que tiveram que fazer ilustrações com desenhos,

nessa escola, percebeu-se participação de alguns alunos que se sobressaíam durante as

aulas.

Pode-se então, chegar à conclusão de que, na maioria das aulas, mesmo

os professores respondendo, conforme se observou no questionário aplicado, que procuram

levar sempre os gêneros para a sala de aula, verifica-se que eles ainda utilizam exercícios

prontos, ofertados pelo livro didático, que apesar de muito trabalhado nas aulas, muitos

preferem não declarar a sua utilidade. Não se trata de uma crítica, mas acima de tudo, de

uma preocupação, pois é o que de fato pôde ser constatado nas aulas observadas e nos

questionários respondidos.

Com esta pesquisa, além de possibilitar um melhor entendimento de

como está o ensino de Língua Portuguesa nos dias atuais com base em alguns dados,

espera-se também servir aos profissionais da educação, inclusive aos que colaboraram para

a realização deste trabalho. É importante ressaltar que esses professores têm consciência

dos problemas e, por isso solicitam ofertas de mais cursos, capacitações, para que eles

possam se atualizar e, consequentemente, diminuir os problemas que tais equívocos acabam

causando no aluno e na sociedade. Eles querem ver como podem trabalhar as novidades na

prática, pois muitos já estão perdidos em meio a tantas teorias.

IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares

05, 06 e 07 de junho de 2013

ISSN: 1981-8211

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