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O ENSINO DA DANÇA E OS ELEMENTOS ARTICULADORES
Professora PDE: Mara Cristina Campos Tomé1 Professora Orientadora: Profª MS Sonia Regina Leite Merége2
RESUMO
A elaboração deste Artigo científico foi construído apoiado no projeto aplicado nos alunos, do Curso de Formação de Docentes (antigo Magistério), teve por finalidade apresentar a dança como conteúdo básico da Educação Física, utilizando nas atividades práticas como metodologia a dança criativa e o método de improvisação. As discussões teóricas perpassaram pela história da dança no decorrer da evolução da humanidade, fazendo uma relação de sua importância enquanto atividade física, para tanto ressaltando os seus benefícios. Oportunizando também situações onde os alunos puderam avaliar de forma crítica o efeito da mídia no que se refere às coreografias prontas e com as mensagens ocultas no que se concerne aos gestos e nas letras da música. Todas essas questões discutidas foram levadas a seminários com a participação da comunidade escolar e convidados, momentos este que os alunos também tiveram a oportunidade de apresentar as coreografias produzidas coletivamente no decorrer do projeto.
PALAVRAS-CHAVE: Dança; Metodologia; Criatividade; Coreografia.
1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino do Município de Bandeirantes 2 Professora Orientadora – Docente da Universidade Estadual do Norte do Paraná
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1 INTRODUÇÃO
Na sociedade contemporânea a escola tem assumido papel primordial
na formação de crianças, jovens e adultos. As modificações das relações
familiares legaram a esta instituição responsabilidades nunca antes sonhadas
instruir, ensinar, educar, enfim formar as futuras gerações.
É dentro da escola que o professor convive com as desigualdades de
todas as naturezas e suas consequências, necessitando para tanto pensar sua
práxis cotidiana. Neste contexto cada disciplina e professor formam cidadãos
necessitando atuar conscientemente neste sentido, a Educação Física, como
disciplina do núcleo comum, busca assim sua reorganização, uma vez
entendida como fruto do processo histórico de evolução do homem que sempre
se movimentou, criou jogos, danças e práticas atendendo suas várias
necessidades sociais. Como afirma Barreto:
A dança pode contribuir para a área de Educação Física na medida em que, através da experiência artística e da apreciação, estimula nos indivíduos os exercícios da imaginação e criação de formas expressivas, despertando a consciência estética, como um conjunto de atitudes mais equilibradas diante do mundo. (2004, p.117)
Dança essa que apresenta um papel fundamental enquanto atividade
pedagógica, pois tem como função despertar no educando: autoconhecimento,
a criatividade, autocrítica, consciência corporal, criticidade e conhecimentos
culturais diversificados. Qualidades essas necessárias para desenvolver em
nossos alunos, em qualquer processo de ensino aprendizagem, independente
da disciplina, a consciência de si e do seu papel na sociedade em que está
inserido.
A intenção da pesquisa foi criar metodologias para trabalhar com a
dança no contexto escolar de forma democrática e criativa, para que a dança
deixe de ser tão somente uma “decoreba de passos,” muitas vezes influenciada
pela mídia, para ser uma discussão coletiva sobre sua importância como
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atividade física e cultural, respeitando os limites e a individualidade do
educando.
O projeto se justifica quando oportunizar ao educando situações onde
possam utilizar do senso crítico para avaliar as danças nos dias atuais e
fazendo uso dos elementos articuladores para enriquecimento e compreensão
da dança na construção do saber mais elaborado, conscientizando assim os
alunos que “dançar vai além de uma série de movimentos corporais.”.
Que o aluno possa reconhecer a importância da dança no contexto
histórico da humanidade, como prática de atividade física e suas contribuições
e como forma de expressão corporal e cultural de forma crítica e reflexiva,
convertendo assim esses conhecimentos como mais um instrumento cultural
dentro do ambiente escolar e da comunidade em que está inserido.
2 DESENVOLVIMENTO
Historicamente o homem expressava-se através de uma linguagem
corporal, utilizando o corpo como veículo para se comunicar com o meio, corpo
este que apresenta uma complexibilidade de opções e possibilidades. Para
tanto se faz necessário vencer seus conflitos indo além de gestos e técnicas.
Quanto mais domínio sobre os próprios movimentos o indivíduo
conquistar, quanto mais conhecimentos construir sobre a especificidade
gestual, mais podem se utilizarem dessa mesma linguagem para expressar
seus sentimentos, suas emoções e o seu estilo pessoal de forma intencional e
espontânea. Segundo Strazzacappa:
O indivíduo age no mundo através de seu corpo, mais especificamente através do movimento. É o movimento corporal que possibilita às pessoas se comunicarem, trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem sentidos. (2001, p. 69
Quando essa linguagem corporal é combinada com movimento rítmico,
cadenciado, traduzindo emoções, fantasias, idéias e sentimentos, surge a
Dança considerada a mais antiga das artes criadas pelo homem. Ela exprime a
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“alma” do povo, as características de sua formação étnica, seus hábitos, a
tradição de seus costumes, um ritmo próprio expresso no compasso de suas
músicas. Assim diz Nanni:
As danças, em todas as épocas da história e/ou espaço geográfico, para todos os povos é representação de suas manifestações, de seus “estados de espírito” permeios de emoções, de expressão e comunicação do ser e de suas características culturais. É ela que traduz por meio de gestos e movimentos a mais íntima das emoções acompanhada ou não de música e de canto ou ritmos peculiares. (NANNI, 2008, p.7)
Desde os tempos remotos a dança faz parte do cotidiano do homem
em suas manifestações nos grupos que pertencem, sendo utilizada como
forma de expressão corporal, ritualística ou social, prevalecendo este papel até
os dias atuais, sofrendo influência da humanidade e também sendo
influenciada por ela. Segundo Gabari e Franzoni “[...] a dança é parte integral
desse processo, devido à inseparabilidade na relação desta com a história
humana”. (2007, p.1)
Esse processo de troca entre a dança e a humanidade durante a
história pode ser verificada através das mudanças de gestos, vestimentas,
técnicas e ritmos durante a evolução da dança.
No período Primitivo o homem faz uso da linguagem de gestos para se
comunicar, consequentemente antes de falar o homem dançou. As
características das danças nesse período eram ritualísticas e de agradecimento
apoiada na magia. Assim Nanni nos diz:
Pressionada pelo ritmo natural, a dança na vida do homem primitivo presidia a todos os acontecimentos – nascimento/ morte; guerra/ paz; cerimônias religiosas e de iniciação; tinham emocionalmente um caráter ritualístico. (NANNI, 2008, p.8)
Já na era da antiguidade a dança aparece reproduzida nas artes
plásticas, pinturas e esculturas juntamente com escritos antigos onde se relata
a dança neste período com a finalidade ritualística e religiosa, mas houve um
acréscimo por danças acrobáticas, conforme se pode ser observado em alguns
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povos.
No Egito, por ser um povo que tinha suas atividades voltadas para a
agricultura suas danças aconteciam nas festas religiosas como forma de
agradecimento pelas colheitas realizadas, também praticavam dança de
entretenimento executadas pelos escravos em festas de seus senhores para
alegrar os convidados, utilizando as acrobacias com função recreativa.Como
relata Ossana:
Se bem que para os egípcios a palavra dança seja sinônimo de alegria e o termo iba denomine as duas coisas, desde épocas muito remotas separaram a dança em dois tipos: a dança “dancística” – uma espécie de ginástica constituído em exercícios de graça e flexibilidade - e a dança mímica. Está última parece ter sido da maior atração e constituía a diversão dos nobres e dos poderosos. (Ossona, 1988, p.55)
O povo hebreu utilizava a dança como manifestação de seus
sentimentos a um único Deus, os movimentos realizados em suas danças eram
executados em fileiras, filas e círculos prevalecendo o foco religioso e não
artístico. A dança na civilização grega acentuava como essência a educação, o
culto e o teatro através da mímica. Na preparação dos guerreiros, a dança era
utilizada como auxilio no desenvolvimento do autocontrole buscando a
harmonia do corpo, mente e espírito não perdendo o foco religioso. Um dos
tipos de dança utilizada para treinamento de jovens em Atenas era a Dança
com Armas. Como explica Vargas:
Encontramos entre os testemunhos escritos e principalmente a “Bíblia” alusões à dança, que se praticava no contexto religioso. [...] “Na civilização grega, a dança sempre esteve presente. Desde os ritos religiosos pré-helênicos até as cerimônias cívicas, festas, treinamento militar, educação e na vida cotidiana.” (2009, p.17).
Em Roma, segundo Vargas (2007), a dança passa por três períodos
distintos: na monarquia a dança tinha uma conotação religiosa. Na república a
origem religiosa da dança deixa de existir, e esta arte passa a ser utilizada para
manifestação do prazer, diversão, surgindo os jogos circenses e pantomimas.
No período do Império toda manifestação de arte é envolvida pela corrupção
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dos romanos, inclusive a dança, que passa a ter suas representações de forma
sádica e obscenas.
Na Idade média, após a corrupção das artes pelos romanos, toda
manifestação artística, incluindo a dança sofre restrições através da igreja,
prevalecendo alguns tipos de danças que faziam parte do cotidiano do povo,
relacionadas com a igreja.
Como explica Nanni “algumas vezes era dúbia a atitude da Igreja e a
dança era condenada por um lado e tolerada por outro” (2008, p.13), portanto a
dança de forma geral ficou esquecida por séculos.
No Renascimento, período marcado pela busca da cultura,
principalmente através das artes, a dança renasce apoiada pela realeza, com o
florescer artístico acontece também o surgimento do ballet clássico juntamente
com a profissionalização dos primeiros bailarinos. Segundo Vargas: “Além das
danças cultas, fora dos salões, surge à dança popular. São danças de conjunto
nas quais os participantes formam uma comunidade de mãos dadas
perpetuando sua cultura”. (VARGAS, 2007, p.21)
Na era moderna a dança surge de forma a contrapor a rigidez das
danças clássicas no que se refere à execução dos movimentos. Conforme
Nanni (2008) explica que a dança moderna segundo seus precursores “deve
ter como base as leis que regem a mecânica corporal; deve ser uma expressão
global, onde a emoção, sensibilidade e criatividade se tornem o foco central”,
surgindo vários estilos de dança tendo por finalidade a liberdade e a
criatividade dos movimentos na expressividade da dança.
Segundo Vargas (2008) “a partir de 1950, surgiu uma ação
contrapondo a este expressionismo da dança moderna”, reação essa que se
firmou nos Estados Unidos em 1960 surgindo o que conhecemos por dança
contemporânea com movimentos mais abstratos reunindo a linguagem
clássica, a necessidade de expressão e a inovação, não obedece à técnica e
utilizada da liberdade de expressão do bailarino e de sua improvisação.
Através da história podemos observar que a dança está ligada à
humanidade desde a era primitiva até os dias atuais onde o homem utilizava de
sua expressividade interagindo e compartilhando, com o grupo do qual
pertencia, todos os seus sentimentos.
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Na dança, é necessário que o professor leve o aluno, a saber, discernir
sua diversidade cultural, conhecer sua evolução histórica, compreender
minimamente suas características e adaptá-las conforme a realidade em que
se está inserido facilitando a compreensão deste conteúdo como produto de
um conhecimento científico produzido historicamente.
É necessário que o indivíduo conheça a natureza e as características
de cada situação de ação corporal, como são historicamente e socialmente
construídas valorizando-as, para que possa organizar e utilizar dos
movimentos criativos na expressão de sentimentos e emoções de forma
adequada e significativa e dentro de uma mesma linguagem corporal. Como
explica Vargas:
A dança como uma arte do movimento por utilizar-se de formas simbólicas e da sensibilização para o desenvolvimento dos alunos e alunas, representando seus sentimentos, expressões, criações e também com alternativa de trabalho fora de alguns padrões da educação formal. (VARGAS 2009, p.51)
A atuação crítica do aluno na sociedade como sujeito da história deverá
ser o resultado da ação pedagógica sendo necessário privilegiar os elementos
articuladores como complemento enriquecedor do conhecimento histórico na
dança.
Esta compreensão deverá ser processada do campo cognitivo para o
campo motor, processo que dará condições ao aluno de entender a dança no
contexto das relações nas manifestações corporais, no convívio social
diversificado e na análise das informações recebidas.
Enfatiza a forma como este conteúdo deve ser encaminhado para o
aluno, permitindo ao mesmo apreender este conhecimento de maneira que ele
possa ser instrumentalizado através de uma análise reflexiva, crítica, séria e
comprometida com a ampliação de visão de mundo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de
Educação Física (DCE), os elementos articuladores têm por finalidade “romper
com a maneira tradicional como os conteúdos têm sido tratados na Educação
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Física”.
Assim, “faz-se necessário integrar e interligar as práticas corporais de
forma mais reflexiva e contextualizada”. (2009) Portanto, podem ser
considerados como elementos de ligação entre conhecimento histórico e
realidade social e o contexto de atuação do aluno. Os elementos articulares
são:
Cultura Corporal e Corpo; Cultura Corporal e Ludicidade; Cultura Corporal e Saúde; Cultura Corporal e Mundo do Trabalho; Cultura Corporal e Desportivização; Cultura Corporal – Técnica e Tática; Cultura Corporal e Lazer; Cultura Corporal e Diversidade e Cultura Corporal e Mídia. (2009, p.53)
Nesta visão de fazer uso dos elementos articuladores vinculados ao
conteúdo estruturante dança, foi selecionado Cultura Corporal e Saúde; Cultura
Corporal e Mídia, pois os mesmos apresentam características próprias que
podem dar um enfoque diferenciado e abrangente no que diz respeito às aulas
de dança no contexto escolar.
O efeito da mídia no contexto atual no que se refere aos modelos e
padrões produzidos por ela gera conceitos que muitas vezes são descartáveis,
atualmente pela “indústria cultural”. Explica Nepomuceno “indústria cultural é o
termo utilizado por Adorno e Horkheimer, (1985) filósofos da escola de
Frankfurt”. (2010, p.3), expõe seus produtos, divulgando-os pela mídia, o apelo
utilizado para valorizar esses produtos penetra e fixa no consciente coletivo,
vendendo padrões estereotipados e modelos de atitudes e condutas.
Para Nepomuceno “O interesse prioritário desta indústria é produzir
bens culturais com o objetivo único de gerar lucro, utilizando para isso fortes
estratégias de convencimentos”. (2010, p.3)
Essa influencia da mídia afeta as produções artísticas, principalmente a
dança, desconsiderando a produção cultural desta arte no decorrer da história,
sendo que os conceitos apropriados pela mídia fortalecidos pela cultura do
consumismo passam a exercer um poder decisivo no querer dos indivíduos
criando uma cultura descartável. Como afirma Sborquia e Gallardo “Podemos
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acrescentar que as danças da mídia também não possuem intenção de arte,
visando apenas às demandas de mercado.” (2002, p.112).
O lixo cultural exposto tão facilmente e de forma atrativa faz com que
as produções artísticas sejam deixadas de lado ou muitas vezes consideradas
ultrapassadas, principalmente pelos jovens.
Cabe, portanto, à escola proporcionar aos alunos condições onde
possam analisar situações concretas dos produtos colocados pela mídia,
principalmente no que se refere à dança, fazendo um diálogo entre a cultura do
consumismo e a cultura produzida historicamente.
Um dos pontos que fica bem claro sobre a influência da mídia é quando
a dança é utilizada nas escolas como dança espetáculo apenas em datas
comemorativas, vinculada a coreografias prontas ditadas pela mídia sem ser
feita uma avaliação da mesma e quais os apelos ocultos em cada movimento.
Os estilos de dança impostos são muitas vezes atrativos, com ritmos
contagiantes e movimentos fáceis com letras que utilizam de uma linguagem
promíscua denegrido em muitos casos a imagem da mulher, criando conceitos
de vícios que levam a erotização dos gestos, causando um efeito negativo nas
crianças e jovens, principalmente no que se refere à sexualidade precoce.
No que concerne a Cultura Corporal e Saúde a dança é vista como
uma atividade física e consequentemente ao praticá-la de forma orientada a
mesma traz contribuições positivas à saúde não somente no âmbito físico,
social, psíquica e mental.
A dança é caracterizada como atividade aeróbica que tem por
características exercícios contínuos, dinâmicos e com duração prolongada
beneficiando o sistema cardiorrespiratório, vascular e metabólico.
Como qualquer atividade física bem programada favorece a satisfação
e alegria. Ao executar a atividade o organismo libera a endorfina, substância
ligada ao prazer, contribuindo assim para a melhoria do bem estar
preenchendo os requisitos no se refere ao conceito de saúde definida pela
Organização Mundial de Saúde “saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doença,”.
Com relação aos benefícios da dança a nível social podemos citar o
aumento da autoestima e a melhoria de relacionamentos interpessoal. No
campo psíquico o combate ao estresse e a nível mental a dança conforme
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explica Vargas “proporciona condições para o desenvolvimento das funções
mentais como: atenção, concentração, imaginação, memória, raciocínio,
curiosidade, observação, criatividades, exploração, entendimento qualitativo de
situações e poder de crítica” [..] (VARGAS 2009, p.59).
Qualidade esta de grande relevância no que concerne ao papel da
escola quanto ao desenvolvimento do aluno.
Quanto à manutenção da saúde física a dança contribui para: melhoria
da postura, aptidão física, desenvolvimento e melhora da respiração, melhora
do condicionamento físico, aumento da flexibilidade, fortalecimento de
músculos e ossos, melhora na coordenação motora, ritmo e equilíbrio
promovendo a consciência corporal. (Ferreira, 2009)
No ponto de vista deste enfoque, saúde, o principal objetivo é levar o
aluno a diferenciar também a atividade física de competição da atividade física
que busca somente a manutenção e promoção da saúde, sendo que a primeira
busca o desempenho e rendimento que contribui para consequências
negativas à saúde de quem as praticam.
Portanto faz se necessário que a discussão sobre a saúde deva ser
estimulada de forma crítica e entendida no contexto atual.
3 METODOLOGIA
Durante a implementação do projeto, que foi realizado com os alunos
dos segundos, terceiros e quartos anos do Curso de Formação de Docentes
(antigo magistério) no período vespertino e noturno, teve como metodologia
atividades teóricas e práticas, divididas em duas etapas simultaneamente.
Na parte teórica realizaram-se pesquisas bibliográficas referentes à
história da dança, a dança na escola, o efeito da mídia na dança e os
benefícios para a saúde tendo dança como atividade física, usando como base
de estudo o material didático elaborado e outros artigos e livros sugeridos pelo
professor referente aos temas.
As discussões dos conhecimentos teóricos transcorreram em mesa
redonda e após esta atividade os alunos elaboraram textos e artigos de opinião
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produzindo assim conhecimentos teóricos para as apresentações em seminário
realizados em sala de aula. Posteriormente, os alunos destaque de cada tema,
apresentaram os conhecimentos adquiridos em seminário aberto para todo
Curso de Formação de docentes, do Colégio Estadual Cyríaco Russo da
cidade de Bandeirantes com a presença de alunos, corpo docente, equipe
pedagógica e direção no dia do encerramento do projeto.
Quanto às atividades práticas as aulas tiveram como base
metodológica a dança criativa e a improvisação, a primeira com a finalidade de
explorar e aprimorar os movimentos e a autoexpressão, pois segundo Arce e
Dácio a dança criativa “é um método de trabalho que foge de determinadas
regras estereotipadas e que valoriza o processo criativo, estimulando o
aluno”[...] (2007, p.12).
Trabalhando com a educação dos movimentos básicos e suas
variações proporcionando ao aluno oportunidades de descobrir o corpo e o
movimento utilizando deles para a comunicação. Conforme explica Arce e
Dácio “o que a dança criativa pretende mostrar é que sua prática fornece
subsídios necessários para o desenvolvimento espontâneo e criativo da
linguagem do movimento”[...] (2007,p.11)
Já a improvisação que tem como objetivo explorar a criatividade, o
aluno tem a oportunidade de criar outros movimentos fora daqueles que já
foram padronizados como sendo próprios de cada dança, fazendo valer de sua
intuição, liberdade dos movimentos e da expressão corporal. Nesta perspectiva
o aluno experimenta gestos e constrói movimentos partindo da vivência
corporal, aprendendo a criar até chegar a uma coreografia. Segundo explica
Soares [et.al.]:
É que a dança, na abordagem da improvisação, tem como um dos seus objetivos o desenvolvimento da criatividade, na qual e pela qual o indivíduo dá vazão ao seu potencial de mudança, de criação de movimentos novos ou adaptados, para demonstrar a si mesmo ou às outras pessoas a sua mensagem/obra. (1989,p.33)
As aulas práticas de dança serão fundamentadas em três livros Dança
Improvisação e movimento (Barbara Haselbach), Oficinas De Dança e
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Expressão Corporal para o Ensino Fundamental (Ivo Ribeiro de Sá e Kathya
Maria Ayres de Godoy) e Os Temas de Movimentos de Rudolf Laban (Lenira
Rengel).
No primeiro momento foram explorados as vivências corporais
compostas de movimentos livres, batidas de palmas, giros, andar diferenciado,
com ou sem mudança de direção e movimentos livres ao som de uma música.
Os alunos foram desafiados a utilizar de diferentes tipos de materiais
como: lenço, arco, fita, chapéu e leque e em pequenos grupos, elaborar
movimentos tendo como base ritmos diversificados. Após o momento de
criação foi feita a reunião das sequências de movimentos criadas pelos grupos,
sempre fazendo a rotatividade dos materiais e componentes dos grupos.
Durante a realização desta proposta de aula os pontos relevantes
foram a interação dos componentes dos grupos e a criatividade. Como afirma
Vargas “O trabalho em grupo também apresenta uma série de riscos,
incertezas, desafios e diferenças que podem contribuir fortemente com a
identidade do grupo e principalmente com a formação de caráter dos
aprendizes”. (Vargas, 2009, p.74)
Outra atividade prática trabalhada com os alunos foi a criação de
sequências de movimentos partindo de imagens de revistas, poses estáticas de
forma individual e coletiva. Todas as atividades citadas foram acompanhadas
de ritmos musicais diversificados. Para Vargas:
“A música afeta as emoções que podem ser diretamente expressadas pelas ações”. Atua no ego produzindo o desenvolvimento da fantasia, criatividade [...] Além disso, auxilia na educação do movimento na educação do sentido musical, deixando mais eficiente o trabalho corporal proposto na dança. (2009, p.67)
Partido dos conhecimentos práticos já existentes e os adquiridos
durante as aulas de dança foi sugerido aos alunos a elaboração de
coreografias. A montagem das coreografias se deu de forma bem democrática,
onde aconteceu a valorização das opiniões dos alunos envolvidos respeitando
as limitações de cada um. Segundo Soares [et.al.]
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A improvisação em dança, significa criar movimentos não treinados, espontâneos, sem prévia preparação dos mesmos. Nesse sentido a improvisação além de conteúdo da dança é conteúdo do movimento, oferecendo possibilidades de ultrapassar os limite da experimentação padronizados na escola.(1998,p.39)
Por serem turmas pequenas foram construídas seis coreografias
produzidas coletivamente. Após as coreografias montadas os alunos tiveram
liberdade de escolher qual gostaria de participar para a apresentação durante o
encerramento do projeto que se deu juntamente com o seminário.
Após o encerramento do projeto solicitei para que as alunas
avaliassem o mesmo de forma escrita, da qual transcrevi algumas de suas
falas:
“[...] os movimentos básicos da dança, a integração da turma fez com
que a timidez ficasse oprimida e a confiança tomasse conta do que estava
sendo realizado”. (DS)
“[...] teve muita interação entre cada grupo e criatividades de gestos
individuais”.(DF)
“Descobri que a dança pode fazer parte sim das aulas de Educação
Física e que ela trás muitos benefícios para os alunos”.(AS)
“Nesse período pudemos sair da sala de aula e adquirir mais cultura
e aprendemos como conhecer nossos movimentos, e o que podemos fazer
com o nosso corpo.” (TR)
“Vou levar para minha vida que a dança pode proporcionar muitas
aventuras emocionantes e inesquecíveis.” (LG)
“Apreciei muito o respeito à individualidade, algumas de nós
infelizmente não possuíamos habilidades em dança e pude notar que estas
dificuldades foram trabalhadas, não superadas, mas desenvolvidas e isso
gerou alegria”. (MT).
“O mais importante neste trabalho é que os passos da coreografia
foram elaborados coletivamente.” (LP)
“Aprendemos sobre a história da Dança até os dias atuais, para mim as
aulas teóricas foram proveitosas e as aulas práticas divertidas”.(LF)
“Desde a quinta série esta foi minha primeira apresentação de dança”
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(JM)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com dança na escola não é uma das atividades mais fáceis,
no que se refere à aplicação dos conteúdos da Educação Física, pois durante o
trabalho em grupo online com professores da rede estadual e durante a
aplicação do projeto pode-se notar que todos nós passamos pelas mesmas
dificuldades como: espaço físico, o preconceito, o vencer a pedagogia da bola
e a falta de vivência corporal na dança que nossos alunos apresentam.
Mas nenhuma das dificuldades acima citadas pode impedir o professor
de realizar o que é de direito de nossos alunos que é ter o conhecimento deste
conteúdo produzido historicamente e rico no que se concerne no âmbito da
cultura.
O professor que se propõe a desenvolver o conteúdo dança deve se
preparar quanto ao conhecimento teórico e as metodologias além de vivenciar
juntamente com seus alunos as atividades proposta para eles, e assim sentido
de perto as necessidades de seus alunos.
Todas as ações teóricas e práticas foram conduzidas para que os
objetivos fossem atingidos durante a realização do projeto.
O objetivo geral do projeto: reconhecer a dança como atividade física,
como forma de expressão corporal e expressão cultural, oportunizando
situações onde os alunos possam entender esses conhecimentos de forma
crítica e reflexiva convertendo-os como mais um instrumento cultural dentro do
ambiente escolar e da comunidade em que está inserido.
Os objetivos específicos: Compreender a historia da dança e sua
diversidade cultural; Identificar influencia da mídia na forma de dançar.
Reconhecer os benefícios da dança no bem-estar físico, social e psíquico;
Participar de atividades práticas com dança com finalidade de desprender dos
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tabus, medos e preconceitos, relacionados à mesma; Criar movimentos com o
uso de materiais e ritmos diferentes; Desenvolver coreografias individuais e
coletivas; Argumentar em debates e seminários utilizando os conhecimentos
referentes à dança.
Para que o trabalho alcance seus objetivos acima citados é
fundamental que o educador crie situações de ensino e aprendizagem que
incluam uma reflexão e discussão sobre as experiências corporais, conforme
afirma RUSSO E TOLEDO “educar, é dar a alguém a chance de ver e vivenciar
o mundo como todo. Não só isto é dar a chance deste alguém ser um todo
participante”. (2006, p.11)
E Por mais trabalhoso e cheio de dificuldades ao propor o conteúdo
dança se faz necessário estar envolvidos em uma prática de qualidade, pois
segundo Vargas: “Este profissional, deverá estar preparado para trabalhar a
dança em todas as suas possibilidades, sendo ela artística, cultural,
educativas, física ou recreativa , adequando métodos e estratégias de acordo
com os objetivos estabelecidos” [...] (2007,p.80). Sendo assim a resposta ao
nosso trabalho será gratificante.
“Se falar que não tive dificuldade estaria mentindo, mas me superei,
pois, não sabia fazer nenhum passo de dança”.(MC)
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Dançando, criando e desenvolvendo. Revista Eletrônica Aboré - Publicação
da Escola Superior de Artes e Turismo – Edição 03/2007.
BARRETO, Débora. Dança...ensino, sentidos e possibilidades na escola.
Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
FERREIRA, Vanja. Dança escolar: um novo ritmo para a Educação Física.
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GARIBA, Chames, M. S; FRANZONI, Ana. Dança escolar: uma possibilidade
na Educação Física. Movimento, Porto Alegre, maio/agosto de 2007.
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GOVERNO DO PARANÁ, SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO
PARANÁ, DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO BÁSICA, Diretrizes
curriculares da educação. Educação Física, Paraná, 2009.
NANNI, Dionisia. Dança Educação: pré-escola à universidade. Rio de
Janeiro, RJ: Sprint, 2008.
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olhares da indústria cultural. Pensar a Prática, Goiânia, janeiro/abril de 2010.
OSSONA, P. A educação pela dança. São Paulo, SP: Summus, 1988.
RUSSO, Renata, T; TOLEDO, Maria,H,C.Corpo sujeito. Movimento e
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SOARES,Andresa;ANDRADE,Cibele,G; SOUZA,Elaine,C;KUNZ,Maria do
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STRAZZACAPPA, Márcia. Educação e a fábrica de corpos: a dança na
escola. Caderno Cedes: dança educação, São Paulo, ano XXI, abril de 2001
VARGAS, Lisete A.M. Escola em dança: movimento, expressão e arte. Porto
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