o enem na televisão - final

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XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013 XI Encontro Regional de Comunicação Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013 ¹ Exemplo: Trabalho apresentado ao GT 1 - Teorias e Interfaces da Comunicação do XI Encontro Regional de Comunicação Juiz de Fora (MG) O ENEM na televisão uma análise das peças infocomerciais do Exame de 2010 e 2011¹ Victor Ferreira Carneiro Graduando na Universidade Federal de Juiz de Fora Resumo Neste artigo propusemos a análise das peças publicitárias do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), divulgadas em canais abertos, referentes ao ano de 2010 e 2011. Discutiremos sobretudo a eficiência de tais propagandas em cada faixa etária/econômica dos candidatos do concurso e os meios ultilizados para fê-la. A análise se dará no meio de cada um desses grupos, considerando as diferenças na linguagem, tratamento e o conteúdo mostrado nas peças considerando as rotineiras mudanças no exame. Em suma, discutiremos se a publicidade do Enem é amplamente eficaz em seus diferentes públicos e seus objetivos determinados. Palavras-chave ENEM; comunicação organizacional; publicidade; televisão; 1 INTRODUÇÃO 1.1 DA PROPOSTA Seja com peças em canais de televisão aberta, estações de rádio ou nos jornais e revistas de grande circulação, o Governo Federal constitui, já há alguns anos, como o maior anunciante midiático do país em volume de investimento e exposição. Dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência apontam gastos governamentais com publicidade na casa dos 650 milhões em 2010, um dos anos contemplados por esta pesquisa. Dentre todos os meios ultilizados pelo Estado para esse tipo publicidade, ou comunicação governamental, é notável o destaque do uso da televisão como sistema midiático de maior efeito. Seja com o objetivo de salientar conquistas nacionais ou para divulgação de seus projetos a campanha televisiva, segundo Manhanelli (1992) é o maior veículo de massa que o governo pode utilizar. Sendo a função dessa divulgação, na visão de Belch&Belch:

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RESUMONeste artigo propusemos a análise das peças publicitárias do Exame Nacional doEnsino Médio (ENEM), divulgadas em canais abertos, referentes ao ano de 2010 e2011. Discutiremos sobretudo a eficiência de tais propagandas em cada faixaetária/econômica dos candidatos do concurso e os meios ultilizados para fê-la. Aanálise se dará no meio de cada um desses grupos, considerando as diferenças nalinguagem, tratamento e o conteúdo mostrado nas peças considerando as rotineirasmudanças no exame. Em suma, discutiremos se a publicidade do Enem é amplamenteeficaz em seus diferentes públicos e seus objetivos determinados.PALAVRAS-CHAVE: ENEM; publicidade; televisão;

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  • XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013 XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013

    Exemplo: Trabalho apresentado ao GT 1 - Teorias e Interfaces da Comunicao do XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG)

    O ENEM na televiso uma anlise das peas infocomerciais do Exame de 2010 e 2011

    Victor Ferreira Carneiro

    Graduando na Universidade Federal de Juiz de Fora

    Resumo

    Neste artigo propusemos a anlise das peas publicitrias do Exame Nacional do Ensino Mdio

    (ENEM), divulgadas em canais abertos, referentes ao ano de 2010 e 2011. Discutiremos

    sobretudo a eficincia de tais propagandas em cada faixa etria/econmica dos candidatos do

    concurso e os meios ultilizados para f-la. A anlise se dar no meio de cada um desses grupos,

    considerando as diferenas na linguagem, tratamento e o contedo mostrado nas peas

    considerando as rotineiras mudanas no exame. Em suma, discutiremos se a publicidade do Enem

    amplamente eficaz em seus diferentes pblicos e seus objetivos determinados.

    Palavras-chave

    ENEM; comunicao organizacional; publicidade; televiso;

    1 INTRODUO

    1.1 DA PROPOSTA

    Seja com peas em canais de televiso aberta, estaes de rdio ou nos jornais e revistas

    de grande circulao, o Governo Federal constitui, j h alguns anos, como o maior anunciante

    miditico do pas em volume de investimento e exposio.

    Dados da Secretaria de Comunicao Social da Presidncia apontam gastos

    governamentais com publicidade na casa dos 650 milhes em 2010, um dos anos contemplados

    por esta pesquisa. Dentre todos os meios ultilizados pelo Estado para esse tipo publicidade, ou

    comunicao governamental, notvel o destaque do uso da televiso como sistema miditico de

    maior efeito. Seja com o objetivo de salientar conquistas nacionais ou para divulgao de seus

    projetos a campanha televisiva, segundo Manhanelli (1992) o maior veculo de massa que o

    governo pode utilizar. Sendo a funo dessa divulgao, na viso de Belch&Belch:

  • XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013 XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013

    A propaganda e a promoo desempenham importante papel no processo de troca,

    informando os consumidores sobre o produto ou servio de uma organizao e

    convencendo-os da capacidade de esse produto ou servio satisfazerem suas necessidades

    e desejos. (2008,p.7).

    As provas das virtudes inegveis do uso da televiso como meio de transmisso de

    informao do governo transcendem a experincia acadmica. Exemplos de comerciais que

    viraram bordes e chaves populares esto por toda a parte. Mesmo no portiflio de peas da

    comunicao governamental: como a campanha Vota Brasil, que incentivava a participao

    dos eleitores nas votaes, e Eu tenho nome, e quem no tem, sem documentos eu no sou

    nnguem..., que numa parceria com o UNICEF contava as vantagens do registro atravs da

    Certido de Nascimento, ficaram na memria dos espectadores demonstrando excelncia e

    impregnao desse tipo de propaganda.

    A proposta nesse trabalho levantar, dentro de todos os diferentes grupos socio-

    economicos-culturais que se candidatam a prova, alm do impacto, a linguagem e aspectos

    tcnicos da publicidade audiovisual televisonada sobre o Enem. Outro enfoque do artigo

    discernir se o contedo didtico sobre a Exame em tse o objetivo da comunicao

    governamental, eficinte para todas os grupos de candidatos, se preenche as possveis dvidas e

    informa o espectador das mudanas anuais na organizao da prova nacional.

    As peas audiovisuais analisadas so referentes a campanha de 2010 e 2011 disponveis

    na internet.

    1.2 DO OBJETO DE ESTUDO E SUA HISTRIA

    O Enem a concretizao da busca do Ministrio da Educao por criar uma prova

    multidisciplinar que no exigisse que o aluno fique decorando frmulas, regras e conceitos. O

    ideal relacionar atualidade, fatos cotidianos e os diversos contedos trabalhados no ensino

    mdio.

    A publicidade acerca do Exame foi sempre redigida em dois aspectos: na inteno de

    divulg-lo para aumentar o nmero de inscritos e reafirm-lo como instrumento legtimo de

    avaliao do estado sobre o ensino de segundo grau. Pelas dificuldades de se preservar o sigilo e

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    aplicar um teste nico em um pas com dimenses continentais, o Enem sempre quis passar em

    sua publicidade a ideia de confiabilidade e integridade.

    O gnesis do Enem encontra-se no contexto da reforma do Ensino Mdio, prevista na Lei

    de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Para

    entendimento da sua elaborao e legalizao sero explicadas, a seguir, as principais alteraes

    que ocorreram desde sua origem at o exame de 2011, salientando para as mudanas na prova.

    Aps a LBD de 96, o Enem foi institualizado pelo Ministrio da Educao e Cultura do

    Brasil em 1998 tendo, de imediato, uma funo avaliativa muito mais a favor da construo de

    um panorama estatstico e social da educao brasileira do que como uma porta de entrada ao

    ensino superior, como nos dias de hoje.

    A razo da sua criao era justamente coletar dados do desempenho dos alunos do ensino

    mdio, fazendo levantamentos etrios, geogrficos e culturais por esses diversos grupos. Sempre

    houve, ainda, uma comparao de dados entre escolas pblicas e escolas da iniciativa privada.

    O objetivo prtico dessa coleta de dados era auxiliar a elaborao de polticas pontuais e

    delingenciar investimentos com mais eficincia na estrutura do ensino do pas. Segundo o

    governo, foi a primeira iniciativa de avaliao geral desse sistema de ensino implantada no

    Brasil.

    A partir da edio do ano de 2009 surgiram mudanas significativas na composio e

    realizao das provas, sendo chamado de o novo Enem.

    O ano de 2010 trouxe novas mudanas. Todos os estudantes da rede pblica foram

    obrigados a fazer a prova, que passou a servir tambm como concluso do ensino mdio para

    alunos que j atingiram a maioridade.

    A partir desse ano, a nota do Enem poderia ser utilizada no vestibular das universidades e

    institutos federais. O resultado de cada aluno atuava em quatro possibilidades de ingresso: como

    fase nica, como primeira fase, como fase nica para as vagas remanescentes, aps o vestibular,

    ou combinado ao atual vestibular da instituio. Neste ltimo caso, a universidade definiria o

    percentual da nota do Enem a ser utilizado. Cada instituio de ensino superior escolhia em seus

    editais em qual formato participaria e se haveria algum tipo de diferena entre os cursos

    oferecidos, isto , alguma prova especfica, por exemplo. Nessa poca o Enem sendo instrumento

    de ingresso ao ensino superior estava ainda em fase de teste.

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    Os candidatos poderiam se inscrever em at cinco cursos oferecidos pelas instituies que

    aderirem ao sistema SiSu, em qualquer regio do pas. Alem disso, o estudante s escolheria o

    curso em que pretendia se matricular aps a divulgao dos resultados da prova, fazendo sua

    escolha j com a nota em mos. S ento o candidato informaria ao MEC, por ordem de escolha,

    os cinco cursos que pretenderia frequentar. Poderia ser o mesmo curso Jornalismo, por exemplo

    - em cinco instituies diferentes ou cinco cursos diversos em uma mesma instituio. Como o

    sistema online, j no ato da inscrio, o candidato saberia pelo site do Ministrio a nota dos

    demais interessados comparando o ponto de corte do seu curso, podendo especular com certa

    base sua chance de ficar com a vaga. Se constatasse que a quantidade de candidatos com notas

    mais altas superava o nmero de vagas, ele poderia escolher um novo curso at a data limite para

    a escolha dessas cinco opes.

    A disposio das questes da prova tambm sofreria mudanas para os dias atuais. Seriam

    180 questes de mltipla escolha e uma redao dissertativa. As questes no seriam

    disciplinizadas, como acontece no aprendizado escolar comum (em portugus, matemtica, fsica,

    por exemplo), mas divididas em quatro grupos de disciplinas consideradas semelhantes:

    avaliaes nas reas de cincias da natureza e suas tecnologias; cincias humanas e suas

    tecnologias; linguagens, cdigos e suas tecnologias; e matemtica e suas tecnologias. Cada prova

    com 45 questes.

    Os testes foram aplicados em dois dias com 5 horas no primeiro dia e 5 horas e 30

    minutos no segundo dia, quando ocorre a prova de redao. Inicialmente seriam 200 questes,

    mas aps diversas crticas sobre o o pouco tempo em relao nmero de questes o Ministrio

    reduziu a quantidade para 180 delas. Alm disso, as questes de mltipla escolha teriam pesos

    diferentes conforme o nvel de dificuldade de cada questo proposta e sua importncia na

    composio cultural, seguindo a dinmica da prova.

    As transformaes sofridas pelo exame em 2010, que foi considerado quase como um

    teste para tais mudanas, obtiveram resultados considerados satisfatrios com suas novas

    disposies permanecendo para os exames de 2011 e 2012.

    Devido a problemas passados relacionados ao atraso na entrega dos comprovantes de

    inscrio, hoje em dia, o processo feito todo pela a internet. A taxa normalmente um preo

    abaixo dos tradicionais vestibulares, sendo que candidatos estudantes de escolas pblicas ou que

    se encaixem na categoria de baixa renda so isentos do pagamento.

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    Na sua realizao o Enem se prope em ser um instrumento de integrao nacional,

    tentando promover certa incluso entre os diversos tipos de candidatos que prestam o exame:

    Justia e igualdade so dois lemas do governo. Na educao, no poderia

    funcionar diferente [...] E mais: no s preparar a juventude para utilizar essa

    ferramenta no mundo (sobre o uso de tecnologia) do trabalho e no mundo da

    cincia, como utilizar essa ferramenta no processo de aprendizagem.

    Alozio Mercadante, ex-Ministro da Educao, em entrevista. (dezembro de 2012)

    2 AS PEAS TELEVISIVAS

    A eficincia da televiso na midiao de contedo publicitrio se d por imediato na bvia

    disposio (e popularizao) das imagens em vdeo, uma linguagem mais atraente ao

    consumidor. Considerada um meio frio (MCLUHAN 1969) a TV no funciona como pano de

    fundo, preciso estar com ela, envolve de maneira nica o espectador, consequentemente o

    pblico-alvo da propaganda.

    Outro ponto positivo do uso desse tipo de mdia, possibilidade da amplitude da

    divulgao nacional do Enem. A quantidade de aparelhos pelo pas, e sua diponibilidade, permite

    um maior alcance desse contedo. Na ltima pequisa realizada, em 2006, a porcentagem de

    domiclios com televisores no pas era cerca de 96% (dados do IBGE). O aparelho s perde para

    o fogo, existente em 98,2% das residncias brasileira.

    Evidenciada a eficincia da televiso na composio de uma campanha publicitria sobre

    o Enem, partimos para a anlise das peas, estipulando uma relao da eficincia pretendida e o

    resultado alcanado de acordo com as observaes da proposta no item 1.1.

    2.1 2010: AS MUDANAS

    Na televiso, a pea publicitria sobre o Enem sempre atuou de acordo com o contexto da

    prova. No ano de 2010, como foi salientado no item 1.2, o exame sofreu grandes modificaes,

    principalmente no seu carter como um processo seletivo. Foi em 2010 que as universidades e os

    IFEs (Institutos Federais de Educao) comearam a aceitar de maneira mais ampla o exame

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    como meio de entrada para seus campi. A tentativa de legitimao dessas transformaes a

    inteno principal desse comercial.

    Decupagem do comercial proposto para o ENEM 2010 (disponvel no site youtube.com.br)

    Linguagem visual Linguagem sonora

    00:00 00:03: Imagem dos logos do ENEM,

    um livro aberto e do Ministrio da Educao.

    Som instrumental.

    00:03 00:14: Imagem de alunos entrando em

    um prdio seguida por uma entrevista com um

    aluno da UFABC, identificado pela legenda e

    uma camisa da universidade. A legenda ainda

    diz que ele natural de Minas Gerais.

    Guilherme Carpentieri:

    Eu achei bem interessante porque eu fao na

    minha cidade a prova e me inscrevo pela

    internet na universidade que eu quiser.

    00:14 00:21: Entrevista com uma aluna da

    Unifesp, imagens dela em uma aula prtica de

    veterinria com uma vaca.

    Mariana Bochenek:

    Essa nova prova do ENEM, esse novo

    sistema... Eu vejo como uma oportunidade,

    estou tendo uma experincia de vida.

    00:21 00:27: Professor da Unifesp fala em

    off com imagens de alunos em aula prtica em

    uma mata.

    Manoel Lente professor:

    uma prova que exige mais do aluno, um

    raciocnio prtico maior. E isso que a

    universidade quer.

    00:27 00:38: Narrador em off com imagens

    de alunos em diversas atividades, diferentes

    tipos de aula em vrios lugares.

    Narradora:

    Lembre-se o ENEM o passaporte para os

    institutos e para as universidades federais. Ele

    a porta de entrada para o ProUni e Fies. E

    uma importante ferramenta para a avaliao

    do ensino mdio.

    00:38 00:43: Entrevistado na legenda

    identificado como reitor da Unifes.

    Walter Albertoni reitor:

    Esse eu acho que um verdadeiro caminho

    para um ensino mais justo e diversificado.

    00:43 00:50: Novamente imagens de alunos

    com a entrevista de um deles, da Univasf.

    Marconny Lima:

    Eu sempre vim de escola pblica no interior

    do Piau. E o ENEM me possibilitou um leque

    de opes.

    00:50 01:02: Alunos saindo da escola de

    uniforme com o prazo de inscrio e o

    Narradora:

    A edio 2011 vm ai. As inscries vo do

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    endereo do site na legenda. dia 23 de maio a 10 de junho. Apenas pela

    internet.

    Podemos perceber durante vrios momentos nesse comercial, essa tentativa de

    legitimao. A escolha do entrevistado nmero 1, Guilherme Carpentieri, teve a inteno de

    mostrar a eficincia de um sistema de ingresso nico, implantado com maior abrangncia em

    2010. No comercial, Guilherme natural de Minas Gerais mas conseguiu uma vaga, passou com

    a sua nota no Enem, em uma faculdade no ABC paulista. O comercial quis evidenciar que ele

    est numa faculdade distante da sua cidade, tanto pelo conotativo quanto pelo denotativo. Ele usa

    uma camisa da UFABC, dizendo em seu depoimento a vantagem de fazer a prova de uma

    faculdade distante em uma mesma cidade e ainda existe uma legenda dizendo que natural de

    Minas Gerais.

    Com a entrevista nmero 2, a estudante Mariana Bochenek trata da experincia de um

    curso superior tendo o Enem como a porta de entrada. Durante essa campanha, algo a ser

    reparado tambm nas anlises seguintes, o governo, sob representao do MEC, tenta ligar os

    termos Enem com curso superior, ser este efeito causal desse. A experincia de Mariana

    poderia perfeitamente ter sido realizada em outras faculdades do pas, privadas e pblicas, com

    seleo via vestibular, mas ela salienta que a nova prova do Enem, esse novo sistema... Eu vejo

    como uma oportunidade, estou tendo uma experincia de vida. O comercial deseja demonstrar

    outro ideial do exame com esse entrevistado, tanto , que ao credita-lo no apareceu seu local de

    origem na legenda.

    As imagens que cobrem o espao visual nas falas dos personagens do comercial, os

    chamados offs, podem ser interpretadas na inteno de mostrar a diversidade de opes dos

    cursos e as vrias possibilidades que o novo sistema seletivo, SiSu, pode proporcionar. Na pea,

    caracterizam-se alunos de diversos cursos: estudantes de medicina veterinria cuidando de uma

    vaca, de agronomia realizando a medio de uma rvore, de engenharia em um sistema eltrico.

    Esto sempre representados por situaes de ensino prtico, em ambientes bem equipados, com

    boas estruturas e contando com poucos alunos por professor. Alunos sentados em uma sala de

    aula, situao comum a todos os cursos, s aparecem uma vez. Como definiu BARTHES (1980):

    a conotao " uma determinao, uma relao, uma anfora, um trao que tem o poder de se

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    relacionar com menes anteriores, ulteriores ou exteriores a outros lugares do texto (ou de um

    outro texto)", e nesse sentido, o comercial tenta agregar uma ideia de evoluo na estrutura do

    ensino superior com a disponibilidade de diferentes cursos, a possibilidade diversas opes de

    escolha de uma carreira para o candidato que prestar o exame.

    A fala de um professor e de um reitor respalda o apoio dos docentes para o Enem em

    um tempo que essa universializao do processo seletivo na realidade ainda era algo discutido no

    meio acadmico. O abandono das antigas estruturas seletivas, os vestibulares tradicionais ou

    seriados, causou vrios debates. Antigamente o Enem era, como foi dito, um mostrador da

    educao do pas, seu novo carter mais efetivo no acesso ao ensino superior despertou certo

    receio. Comunga dessa opinio diversa at um dos criadores da prova, professor da Universidade

    de So Paulo (USP), Nilson Machado, diz que fundamentalmente no finalidade da educao

    bsica preparar para o vestibular, consequentemente o mesmo se d para seu exame mostrador, o

    Enem: " para formar o cidado, e nem todo cidado vai para a universidade. A gente perde o

    foco da formao da pessoa e da formao ao final da educao bsica, que o que interessa

    universalizar.

    Mesmo quanto a disposio do contedo na prova do Enem, que feita de forma

    diferente dos procesos tradicionais, elogiada por esses dois entrevistados. Nessa parte o

    comercial quer mostrar que as mudanas contam com o apoio dos profissionais da educao.

    O estudante piauiense, Marconny Lima, representa em duas formas a eficincia do novo

    Enem. O comercial leva em conta sua superao social, atrves dos mecanismos de igualidade

    do exame o jovem mesmo estudando em uma escola pblica nordestina (esteriotipada como

    inferior) conseguiu competir por igual e conquistar sua vaga. Outro vis o econmico, cursando

    uma faculdade muito distante da sua cidade natal (distncia muito maior do que o estudante

    nmero 1, por exemplo) Marconny no precisou ir ao estado de So Paulo para realizar os testes,

    no gastando com passagem, hospedagem e a taxa de uma nova inscrio. A chamada vantagem

    logstica do SiSu.

    Podemos reafirmar, portanto, esta propaganda do Enem como um contedo ideolgico e

    intencional no sentido de persuadir pessoas ou grupos s mudanas (ditas positivas) da prova.

    Tendo como base que muitas delas ainda nem tinham sua eficincia comprovada, seu papel pode

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    ser definido atrves da prpria definio de publicidade de GALINDO e MALTA (2011): um

    processo persuasivo aplicado na articulao de smbolos, que possibilite uma nova percepo ou

    aceitao de significados propostos pelos emissores e codificadores desses smbolos.

    2.2 2011: AS DICAS

    O comercial do Enem no ano de 2011 teve em sua linguagem e contedo uma inteno

    mais didtica e infomartiva.

    Como demonstrado, a funo do exame como um processo seletivo para o ensino

    superior, tanto no mbito particular com o ProUni quanto nos IFEs, se concretizou de acordo com

    a proposta do Ministrio da Educao. Mesmo com os atrasos na correo da prova, as

    dificuldades nas inscries pelo sistema SiSu que ficava sobregarregado pelo nmero de acessos

    e alguns vazamentos da prova chegando at ser impugnada em alguns estados por um certo

    perodo, o Enem teste de 2010 foi considerado um experincia positiva.

    Em 2011, percebemos um comercial muito mais voltado para o aluno e seu

    comportamento/desempenho na prova. Sendo posto no lugar do tradicional vestibular, o Enem

    talvez seja a primeira experincia de uma avaliao de concurso pblico de muitos alunos. Nesse

    comercial foram expostas algumas dicas para um melhor desempenho individual dos alunos.

    Na pea, a atriz Carol Castro caminha pelas ruas de uma cidade dando dicas sobre

    procedimentos a serem seguidos para uma melhor realizao do exame. Enquanto ela caminha,

    surge nas paredes, sacadas e no chos placas que reforam a informao que ela passa

    verbalmente.

    Quadro de dicas percebidas no comercial do Enem 2011 (disponvel no site youtube.com)

    Linguagem visual Linguagem sonora

    Introduo:

    Luminria de ferro em cima, no meio da rua,

    tpica de cidades antigas. Na placa leia-se

    ENEM 2011.

    Carol Castro:

    Como voc j sabe as provas do enem esto

    chegando.

    Dia e horrio das provas:

    No canto esquerdo da tela, uma placa de rua

    escrito 22 e 23 de outubro e uma legenda

    E nunca demais lembrar. As provas so nos

    dias 22 e 23 de outubro. E os portes abrem

    sempre s 12 horas. Fica atento e no se

  • XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013 XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013

    com o horrio das provas com destaque em

    caixa alta para o horrio de Braslia.

    atrase.

    Prova de lngua estrangeira:

    Um quadro de cardpio de restaurante, escrito

    lngua estrangeira.

    Outra dica importante: d ateno especial

    prova de lngua estrangeira. As questes das

    duas lnguas estaro vo estar na mesma

    prova,

    Prova de lngua estrangeira 2:

    Vitrine de uma livraria com dois livros, um

    escrito ingls com as cores do Reino Unido

    e espanhol com as cores da bandeira da

    Espanha.

    marque no gabarito apenas as questes do

    idioma que voc escolheu na hora da

    inscrio: ingls ou espanhol. No permitido

    trocar de opo durante a prova.

    No dia da prova:

    Homem-dlia, como no compro ouro,

    vestindo uma propaganda no chegue

    atrasado e outro de costas conhea antes o

    local da prova.

    Para fazer uma boa prova, no chegue em

    cima da hora. Conhea o local um dia antes.

    Assim voc conhece o endereo correto, o

    melhor acesso e que nibus pegar..

    Percebemos durante todo o comercial a presena desse dilogo entre contedo visual e

    contedo verbal, fazendo isso de forma at muito objetiva na pea. Para o entendimento desse

    contexto ultilizaremos os aspectos semiticos presentes.

    Ao se referir na juno de dois tipo de discursos, nesse caso a fala da atriz com as placas

    dispostas na rua, podemos basear na teoria bakthiniana: o conceito de dialogismo o princpio

    unificador da obra de Bakthin, de acordo com FLORIN (2006). Segundo ela, o modo de

    funcionamento real da linguagem tem a propriedade de ser dialgica. Essa relao dialgica no

    se d apenas interao face a face, mas a todos os enunciados no processo de comunicao,

    chamados de formas composicionais. Nesses enunciados h sempre um dilogo interno entre o

    discurso do enunciador e o discurso do outro. Percebemos que o discurso verbal atravessado

    sempre pelo discurso visual, comportando-se no vdeo justamente na ordem em que so falados

    no texto. O dialogismo ocorre sempre entre eles e refere-se s relaes de sentido que so

    estabelecidas entre dois esses dois enunciados.

    Conclumos que a linguagem verbal e a linguagem no verbal esto marcadas pelas

    vivncias das pessoas, exemplo a disposio da informao no comercial em placas presentes

    no dia-a-dia urbano, comuns pela viso de mundo das pessoas, portanto, instrumentos de

    identificao.

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    Representao e imagens no so meramente formas de expresso para divulgao de

    informaes, ou representaes naturais, mas so, acima de tudo, textos especialmente

    construdos que revelam as nossas relaes com a sociedade e com o que a sociedade

    representa. (DIONISIO, 2005, p.160).

    No que se refere a personagem do comercial, a atriz Carol Castro, identificamos um

    processo de identifcao com o pblico-alvo. A atriz j foi protagonista e atuou em vrias

    novelas, sendo reconhecida nacionalmente por seus papis. Virtudes como o sucesso, a fama e a

    beleza esto presentes na figura de Castro provacando alm da identificao tambm admirao,

    tornando crvel e dando respaldo as dicas do comercial. MORIN (1997, p.106) diz que os novos

    olimpianos so "sobre-humanos no papel que encarnam, humanos na existncia privada que

    levam". Isso permite a circulao permanente entre o mundo da projeo e o mundo da

    identificao, realizando : "ao mesmo tempo que investe os olimpianos de um papel mitolgico,

    mergulha em suas vidas privadas a fim de extrair a substncia humana que permite a

    identificao" (MORIN, 1997, p.106-107).

    O grande destaque no contedo da pea foi as informaes sobre a prova de lngua

    estrangeira. No ano anterior, houveram muitos casos de erros ao realiza-las, alunos que faziam as

    duas, ou parte de uma com parte de outra, sendo que eram gabaritos com respostas distintas.

    Outra mudana foi a alternativa de idioma, no ano de 2010 eram disponibilizadas as

    provas de ingls e francs. O comercial salienta essa mudana mostrando o livro de espanhol na

    livraria no momento em que se comenta sobre a avaliao

    3 CONCLUSO

    Os comerciais analisados possuem claramente intenes diferentes, apesar de algumas

    semelhanas em sua linguagem e disposio de contedo. Podemos aferir a presena de trs

    virtudes nos dois comrciais do Enem, caractersticas dessa publicidade poltica ou comunicao

    governamental que podem ser resumidas em trs verbos: integrar, legitimar e informar.

    A integrao se d primeiramente pelo meio miditico que foi usado. A televiso

    amplamente disponvel massa e possui um pblico mais jovem do que o rdio, por exemplo.

    Analisamos como integrao a preocupao de todos os comerciais possurem legendas no canto

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    inferior da pgina, j h algum tempo, as propagandas do governo contam com essa

    acessibilidade. Na segunda propaganda anlisada, a de 2011, existem ainda cdigos visuais com as

    datas importantes e outras informaes distribuidas em placas.

    Os processos para legitimao vo da escolha dos personagens nos comerciais

    exposio constantes de smbolos do Enem, do PDE portal da educao e MEC. Os

    mecanismos usados no comercial nmero I: a escolha da voz oficial a favor do reitor e do

    professor junto com as experincias positivas com as mudanas na prova. O comercial dois conta

    com uma referncia artstica para respaldar o contedo. A inteno do Ministrio da Educao

    fazer com o exame seja aceito nacionalmente com um aceite acadmico e popular como processo

    seletivo mais lgico, moderno e integrado.

    O comercial com mais contedo informativo obviamente o segundo, caracterizado aqui

    como Dicas. Mas na pea da edio de 2011, tambm existem informaes importantes no

    processo do SiSu, que era novo na poca.

    Analisamos que os comerciais possuem xito, atingindo seu pblico-alvo (os egressantes

    do ensino mdio) com uma linguagem fcil e ultilizando-se dos sistemas de identificao

    demonstrados.

    Com os candidatos que almejam diferentes objetivos como a concluso do ensino mdio

    por meio da prova, existe uma falha na comunicao, no explicitado essa opo nem as

    condies para que ela se d. Podemos pressupor que a poltica editorial desses comerciais

    prevalece o incentivo na concluso do segundo grau das maneiras convencionais, cursando trs

    anos em uma escola regular.

    Concluindo, as peas analisadas mostram-se eficientes mas ainda no dialogam bem com

    todos os tipos de grupos dos candidatos, fato justificvel pela enorme extenso de pessoas e suas

    diferenas.

    O sintoma de que as mudanas desde o Enem-mostragem de 1998 ao dos dias atuais

    foram aplicadas e sedimentadas a linguagem presentes nas propagandas televisivas, sendo

    portanto, de extrema importncia do seu estudo para a definio de que direo ir tomar o teste

    mais importante do pas.

    4 REFERNCIAS

    BELCH, George E. & Michel A. Belch. Propaganda & Promoo: uma perspectiva da

    comunicao integrada de marketing. 7 Edio. So Paulo: McGraw-Hill, 2008.

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    BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional: n 4024/61.

    Braslia : 1961.

    DIONISIO, Angela Paiva. Gneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI,

    A.M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, R.S.(Org.). Gneros Textuais: reflexo e ensino. Unio da

    Vitria: Kaygangue: 2005.

    FIORIN, Jos Luiz. Introduo ao pensamento de Bakhtin. So Paulo: tica, 2006.

    GALINDO, Daniel; MALTA, Renata. A propaganda poltica na democracia miditica e a

    busca pela simetria onrica. Texto apresentado no CONFIBERCOM - 1 Congresso Mundial de

    Comunicao Ibero-Americana So Paulo Brasil 31 de julho a 04 de agosto 2011. GT- Marketing.

    MANHANELLI, Carlos Augusto. Eleio guerra: marketing para campanhaseleitorais. So

    Paulo: Editora Summus, 1992.

    MORIN, Edgar. O Mtodo I: a natureza da natureza. 2 ed. Traduo: M. G. de Bragana.

    Portugal, Europa Amrica, 1977.

    ______, Edgar. Cultura de Massa no sculo XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense

    Universitria, 1997.