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O Encontro

O I Simpósio de Estudos Linguísticos na Amazônia: percursos, diversidade e contatos na

Amazônia Setentrional, promovido pelo Núcleo de Estudos Linguísticos da Amazônia (NELAM), em

parceria com o Núcleo de Estudos de Línguas Indígenas (NELI), tem por objetivo promover reflexões

sobre as situações de contato, diversidade e variação linguística, estudos sobre línguas indígenas e/ou

línguas minoritárias.

O I SELA tem como objetivo reunir pesquisas que tenham como foco diferentes situações de

contato, diversidade e variação linguística, estudos sobre línguas indígenas e/ou línguas minoritárias.

Buscamos, dessa forma, através do diálogo, contribuir para o desenvolvimento dos estudos linguísticos

da Amazônia Setentrional.

A realização do I SELA vem ao encontro de uma rica diversidade linguística do Amapá, em

que, atualmente, são identificadas comunidades quilombolas, comunidades indígenas falantes de línguas

dos principais agrupamentos linguísticos da América do Sul, além da presença de um crioulo de base

francesa entre as comunidades indígenas do Oiapoque e entre a população da fronteira com a Guiana

Francesa.

O evento será realizado entre os dias 22 e 26 de maio de 2018, nas dependências da Universidade

Federal do Amapá (UNIFAP/Campus Santana) e da Universidade do Estado do Amapá (UEAP),

contando com mesas-redondas, conferências, minicursos, sessões de comunicação e pôsteres.

Sumário

1 Situações de Comunicação ................................................................................................................................. 4

A inserção do Português Vernacular Tembé do Guamá (PVTG) no tipo de variedade de Português Afro-

Indígena .............................................................................................................................................................. 4

Reconsiderações sócio-históricas e etnolinguísticas sobre a Língua Geral Paulista ........................................... 5

Contatos Linguísticos e Fenômenos Fronteiriços: O Caso da Sociedade Galibi-Marworno do Oiapoque - AP 6

Para o conhecimento de línguas de sinais emergentes no contexto amazônico e de fronteira ............................ 7

2 Línguas Indígenas I ............................................................................................................................................ 9

Aspectos gerais das partículas em Asurini Do Xingu ......................................................................................... 9

Negação padrão vs Imperativos Negativos em Sakurabiat ............................................................................... 10

Relações sintático-semânticas em Parkatêjê ..................................................................................................... 11

O povo multilíngue do Urukawá ...................................................................................................................... 11

Estudo histórico-comparativo do subgrupo Juruena da família linguística Aruák ........................................... 12

3 Língua e sociedade ............................................................................................................................................ 14

Português Brasileiro na sala de aula indígena: um ponto de vista .................................................................... 14

Linguística e formação de professores indígenas: um estudo de caso .............................................................. 15

Interseccionalidade e fronteira: mulheres negras imigrantes na Amazônia setentrional amapaense ................ 16

Narrativas coletivas Apurinã e Waiwai em HQ: proposta didático-pedagógica para o ensino de língua ......... 17

4 Línguas Indígenas II ........................................................................................................................................ 18

Ação política pela linguagem: o Nheengatú no baixo rio Tapajós ................................................................... 18

Cartografia de línguas indígenas do amapá: levantamento preliminar das fontes de estudo e pesquisa ........... 19

A situação sociolinguístico de comunidades Wajãpi: o bilinguismo nos domínios sociais .............................. 20

Relações de parentesco e migração entre os Apurinã ....................................................................................... 21

5 Dialetologia........................................................................................................................................................ 22

Motivação e distribuição dos topônimos indígenas no Marajó das florestas .................................................... 22

Socioterminologia de plantas medicinais utilizadas no município de Breves-PA ............................................ 23

Formação de corpora para o Atlas Dialetal Prosódico Multimídia do Norte do Brasil: a variedade linguística do

Amapá............................................................................................................................................................... 24

Dialetologia contatual: variação lexical do Português em contato com o Kheuól ............................................ 25

Monotongação dos ditongos orais decrescentes no Município de Mazagão, Estado do Amapá/Brasil ............ 26

http://1sela.diversidade.wordpress.com 4

1 Situações de Comunicação

A inserção do Português Vernacular Tembé do Guamá (PVTG) no tipo de variedade de

Português Afro-Indígena

Mara Sílvia Jucá Acácio (UEPA-USP)

Ednalvo Apóstolo Campos (UEPA)

A temática do contato linguístico tem, nos últimos anos, gerado calorosos debates e impulsionado os

linguistas brasileiros a postular hipóteses para as variedades não standard de português, as quais

convivem ou conviveram com outras línguas ou variedades linguísticas. As variedades de comunidades

remanescentes de quilombos do estado da Bahia, por exemplo, são descritas pelos pesquisadores da

Grupo Vertentes da UFBA como variedade de Português Afro-Brasileiro. Neste trabalho, propomos a

inserção da variedade de português vernacular dos Tembé do Guamá (PA) no grupo de variedades

definidas como Português Afro-Indígena na proposta de Campos (2014), Oliveira et al (2015) e

trabalhos posteriores. Nesses trabalhos, os autores partem do pressuposto de que na região amazônica é

difícil atribuir uma ‘vertente’ unicamente afro, dada a configuração das comunidades mescladas,

historicamente, entre quilombos e/ou mocambos (termo atribuído aos ajuntamentos de escravos fugidos,

indígenas e soldados desertores (GOMES, 1997), e baseados em elementos sócio-históricos referentes

à gênese de quatro comunidades – Jurussaca-PA (CAMPOS, 2014), Almofala-Tremembé-CE (PRAÇA,

2013), Mazagão Velho-AP (OLIVEIRA, E, 2015) e Tembé do Guamá-PA (JUCÁ-ACÁCIO, 2017) –,

definiram em seus estudos quatro tipos de variedades de português vernacular brasileiro, que não se

diferenciam em ‘essência’ em todo o território nacional, mas diferenciam-se ao se autoidentificarem

exclusivamente ou como “afro” a exemplo de Jurussaca; ou como “indígena” a exemplo de Almofala-

Tremembé; ou “africanos” a exemplo de Mazagão Velho; ou “afro e indígena” a exemplo dos Tembé

do Guamá. Assim, discutiremos a aplicabilidade do conceito Português Afro-indígena para a variedade

dos Tembé do Guamá que tem como especificidade o traço étnico – indígena – e configura-se como L1.

Para além das questões identitárias, buscamos um cotejo do paradigma verbal entre a variedade de

português Tembé a variedade quilombola de Jurussaca. O paradigma verbal das variedades vernaculares

de português (PVB), normalmente, baseia-se na oposição singular vs plural, em um paradigma com duas

formas que opõe a1ª. pessoa às demais, diferentemente da variedade Standard que faz oposição entre

1ª., 2ª. e 3ª. pessoas. No entanto, as variedades Afro-indígenas de Jurussaca e Tembé apresentam uma

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flexão, de certo modo, diferenciada da citada na literatura para o PVB, conforme exemplos abaixo, cujas

formas do pretérito opõem-se entre a 1ª. e 2ª pessoas, tanto do singular quanto do plural:

Variedade de Jurussaca (CAMPOS, 2011) / Variedade de Tembé (JUCÁ-ACÁCIO, 2017)

eu estudei eu estudei

tu/você estudô tu/você estudô

ele estudo ele estudô

nós estudemu nós estudemu

vocês estudaru vocês estudaru

eles estudaru eles estudaru

Desse modo, a aproximação do paradigma verbal nas variedades de Jurussaca e Tembé, permite postular

uma aproximação não apenas quanto ao traço étnico, mas também linguístico.

Palavras-chave: Linguística de Contato. Português Afro-Indígena. Tembé do Guamá vs Jurussaca.

Reconsiderações sócio-históricas e etnolinguísticas sobre a Língua Geral Paulista

Maria de Lurdes Zanoli (PG/USP)

Márcia Santos Duarte de Oliveira (USP/CNPq)

Esta comunicação centra-se em considerações sobre a “Língua Geral” (LG) e em específico a questões

envolvendo a LG falada no interior de São Paulo em que atestam-se relações com a LG falada na

Amazônia. Nosso principal objetivo neste trabalho, orientado dentro da Linguística de Contato, é

apresentar os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento – Zanoli (manuscrito) – ligada à LG

em geo-área paulista, reconsiderando a “hipótese etnolinguística mameluca” que se apresenta em

Rodrigues (1996). De acordo com Rodrigues (1996, p. 06) não é possível categorizar os idiomas que o

autor considera fazer parte do grupo das LGs como “um pidgin ou crioulo originado no contato dos

portugueses com índios de diferentes afinidades, ou mesmo formado antes da chegada dos europeus”.

Para o autor (op. cit.) não houve em momento algum uma interrupção na transmissão dessas línguas, ou

seja, não ocorreu mudança de língua (language shift) nos descendentes mestiços dos europeus e das

índias tupi-guaranis”. Desse modo, Rodrigues (1996) define o conceito de LG como um tipo específico

de língua de contato falada por uma população sociocomunicativa que se originou na união entre os

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europeus e os índios tupi-guaranis. Assim, para o Rodrigues (op. cit.), ainda que haja notícias de

africanos que se comunicaram em LG da Amazônia (LGA), esses africanos foram integrados à

sociedade sem ter participação na formação da LGA e tampouco na formação da Língua Geral Paulista

(LGP), que também teria sido resultado de uma população oriunda de casamentos entre europeus e

indígenas (RODRIGUES, 1996 apud LEITE: 2013, p.11). Baseando-nos em um documento manuscrito

do século XVIII: O livro de óbitos e casamentos de escravos da “Vila de Nossa Senhora do Desterro

de Jundiahy” (JUNDIAÍ, CENTRO DE MEMÓRIAS, manuscrito), em que se registraram todos os

óbitos de escravos ocorridos na vila entre os anos de 1744 e 1787 e todos os casamentos realizados entre

1739 e 1777 respectivamente, argumentamos que o termo “escravos” – ligados à sócio-história

envolvendo LGs – são tanto aqueles de origem indígena, que foram capturados nos “sertões” e

denominados de administrados no manuscrito, como aqueles que vieram para substituí-los: os negros

trazidos da África. Esses escravos, índios e negros, conviveram e até mesmo contraíram matrimônio

(MORALES: 2008, p.115). De acordo com Morales (2008, p.126), a respeito da formação da família

entre os escravos, segundo o manuscrito, notou-se que era mais comum os enlaces de africanos com

índias do que ao contrário. Nesse sentido, a hipótese “mameluca” – casamentos de brancos com índias

– não se assenta na esfera sociocomunicativa da LGP.

Palavras-chave: Linguística de Contato. Hipótese mameluca. Língua Geral Paulista.

Contatos Linguísticos e Fenômenos Fronteiriços: O Caso da Sociedade Galibi-Marworno do

Oiapoque - AP

Amanda da Costa Carvalho (PPGL-UFPA)

Estudos sobre contato linguístico de comunidades tradicionais são recentes. Destarte, um grande

interesse tem surgido em investigar as situações linguísticas contatuais de sociedades indígenas,

especialmente as que se encontram em situação fronteiriça. Assim, o presente trabalho objetiva discutir

preliminarmente as relações linguísticas coexistentes entre os Galibi-Marworno e as demais

comunidades indígenas e não indígenas, tanto as que habitam o Oiapoque, no Estado do Amapá, do lado

brasileiro, quanto as de Saint-Georges, na Guiana Francesa, buscando evidenciar as formas linguísticas

que resultaram desses contatos, além de salientar como o povo Galibi têm enfrentado tais mudanças.

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Trata-se de um levantamento bibliográfico das principais publicações feitas sobre a temática com o

aumento de relatos dos indígenas Galibi-Marworno do Curso Intercultural Indígena, do Campus

Binacional da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), a respeito do que eles pensam sobre a

situação linguística da região. Para a discussão da temática, a respeito do estudo de contato linguístico

utilizou-se as pesquisas de Couto (2009), Kouwenberg & Singler (2008), Thomason (2001), e a clássica

publicação de Weinreich (1979), dentre outros; sobre os Galibis, empregou-se as pesquisas de Vidal

(2001), Gallois & Grupioni (2003), Malcher (1953) etc. Com isso, percebeu-se que o contexto

vivenciado pelos Galibi-Marworno apresenta graus distintos de contato com a sociedade não indígena,

em que o avanço em ascensão do português sobre a língua indígena tem sido significativo, pois muitas

das crianças só conhecem a língua crioula devido a presença da escola bilíngue e dos rituais realizados

nas aldeias pelos mais velhos. No entanto, os indígenas afirmam que com a chegada do curso

intercultural na UNIFAP, muitos dos Galibis, assim como das demais etnias, estão tendo a possibilidade

de criar projetos com o objetivo de resgatar a língua materna e da auto-afirmação étnica em razão da

forte presença do português brasileiro dentro das comunidades. (Bolsista CAPES/Mestrado)

Palavras-chave: Contato Linguístico. Fronteira. Galibi-Marworno.

Para o conhecimento de línguas de sinais emergentes no contexto amazônico e de fronteira

Paulo Jeferson Pilar Araújo(UFRR)

Dalcides dos Santos Aniceto Júnior (UFRR)

O estado de Roraima apresenta uma situação linguística peculiar. Além das mais de treze línguas

indígenas de três famílias linguísticas diferentes, faz fronteira com um país hispânico e um país

anglófono. Ademais, estão presentes pelo menos três línguas de sinais documentadas: a Língua

Brasileira de Sinais-Libra; a Lengua de Señas Venezolana-LSV; e uma língua de sinais emergente, a

Língua de Sinais do Rupununi, em área indígena. Tem-se notícias ainda de pelo menos mais duas línguas

de sinais indígenas: uma Língua de Sinais Yanomami e uma Língua de Sinais Macuxi, em Roraima.

Neste trabalho apresentamos um breve panorama das possibilidades de pesquisa com línguas de sinais

emergentes, sejam elas indígenas ou caseiras, atentando principalmente para a questão dos contatos entre

línguas sinalizadas. Neste último caso, a LSV e a Libras servem de exemplo, no atual contexto de

migração de venezuelanos para Roraima. Em Boa Vista, capital do estado, os surdos venezuelanos

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aprendem rapidamente a Libras e interagem entre si e com os surdos brasileiros utilizando esta língua.

Essa interação propicia situações de contato linguístico entre duas línguas de sinais, caso peculiar nos

estudos das línguas de sinais. Como aporte teórico, os modelos de Myers-Scotton (2001) e de van

Coetsem (2000), delineados para dados de línguas orais, podem adequadamente serem aplicados para o

caso de línguas de sinais. Demonstra-se como o contexto sociolinguístico de Roraima contribui para

situações de bilinguismo em comunidades surdas, apesar de uma política linguística que contemple o

multilinguismo do estado seja praticamente inexistente. Em relação às línguas de sinais indígenas

emergentes, faz-se um apanhado descritivo das informações escassas sobre essas línguas até o momento

e o valor que essas línguas de sinais emergentes têm para hipóteses e/ou teorias que se pautam em

paralelismos entre a emergência de línguas de sinais e a emergência de línguas crioulas (Adone, 2012;

Kegl, 2008).

Palavras-chave: Língua de sinais emergentes. Fronteiras. Contatos. Roraima.

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2 Línguas Indígenas I

Aspectos gerais das partículas em Asurini Do Xingu

Antonia Alves Pereira (UFPA)

Este trabalho tem como objetivo analisar aspectos gerais das partículas na língua Asurini do Xingu.

Essa língua é classificada como pertencente à família Tupi-Guarani, grupo Tupi (RODRIGUES, 1986).

A análise está pautada numa abordagem Tipológico-Funcional, tal como presente em autores como

Givón (2003) e Thompson (1985). Segundo Zwicky (1985, p. 290), o uso mais comum do termo

partícula é: “to label items which, in contrast to those in established word classes of a language, have

(a) peculiar semantics and (b) idiosyncratic distributions”. Em Asurini do Xingu, temos indícios de que

essa categoria constitui uma classe de palavra fechada. O comportamento dessa classe, na língua,

conforme nossa análise até o momento, segue, em grande parte, as generalizações tipológicas, tais

como, compartilhamento de características ora com afixos, ora com clíticos. A maioria das partículas da

língua, já analisada por nós, ocorre como formas presas. Essa classe de palavra desempenha um papel

muito importante no discurso asurini, sendo numerosa e aplicada no desempenho de diversas funções.

A maioria das partículas que serão apresentadas neste trabalho foi retirada de conversas em contextos

“naturais” e narrativas, sendo posteriormente testadas. O trabalho com essa classe de palavras apresenta

um certo grau de dificuldade, dado o envolvimento extremamente forte de fatores pragmáticos que

exigem um conhecimento maior da língua e da cultura asurini. As partículas estão associadas a papéis

sintáticos, semânticos e pragmáticos variados. Semanticamente, carregam, dentre outras, noções como,

evidencialidade, atestação, negação, interrogação, aspecto, sexo, tempo, conector discursivo, atitudinais,

quantificação, intensidade, frustração e modalidade. Ressaltamos tratar-se de um trabalho incipiente,

produto de uma pesquisa ainda em andamento. Nele, exporemos, a justificativa da classificação das

partículas como classe de palavra autônoma na língua, um conjunto de partícula e suas funções

sintáticas, morfológicas e semânticas.

Palavras-chave: Partículas. Asurini do Xingu. Morfologia.

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Negação padrão Vs Imperativos Negativos em Sakurabiat

Carla Daniele Nascimento da Costa (PPGL/UFPA)

Ana Vilacy Moreira Galúcio (MPEG; PPGL/UFPA)

A língua Sakurabiat, também conhecida como Mekens, é uma das cinco línguas indígenas que compõe

a família Tupari, tronco Tupi. Falada na área do Guaporé-Mamoré no estado de Rondônia (Brasil), a

língua Sakurabiat possui menos de 20 falantes e não está sendo transmitida às gerações mais novas, o

que a coloca como uma das línguas Tupi com sério risco de desaparecimento. O objetivo deste trabalho

é investigar a manifestação da negação na língua Sakurabiat e situá-la de acordo com os estudos

tipológicos sobre o tema estudado. Como suporte teórico para a descrição dos aspectos gramaticais da

língua estudada, utilizamos o trabalho de Galúcio (2001). Iniciamos o trabalho apresentando a negação

padrão (negação de sentenças declarativas principais), na língua Sakurabiat, através da análise dos

marcadores negativos, bem como da estrutura das sentenças negativas. Além disso, contrastamos a

negação padrão com outro tipo de negação sentencial na língua, a saber: sentenças imperativas

negativas. Nosso corpus de trabalho foi organizado a partir da seleção das sentenças negativas que

compõem a base de dados textuais da língua, organizada no programa computacional FieldWork

Language Explorer (FLEx). Para além dos exemplos de negação em contexto narrativo, utilizamos

também sentenças negativas elicitadas em trabalho de campo com dois falantes de diferentes dialetos

de Sakurabiat – um homem e uma mulher. A análise das sentenças declarativas negativas em contraste

com sentenças declarativas positivas é feita com base na tipologia sobre negação padrão simétrica e/ou

assimétrica de Miestamo (2013), em que discutimos as características estruturais das sentenças negativas

padrão e de suas equivalentes negativas. Já as sentenças imperativas negativas são analisadas de acordo

com o estudo sobre Proibitivos de van der Auwera and Lejeune (2013), a partir do qual discutimos as

diferenças entre negação padrão e sentenças proibitivas na língua Sakurabiat. O estudo sobre negação

em Sakurabiat vem fornecendo dados para futuros estudos comparativos entre as outras quatro línguas

da família Tupari (Akuntsu, Makurap, Wayoro e Tupari), bem como entre as outras línguas do tronco

Tupi.

Palavras-Chave: Língua Indígena. Negação. Tipologia Linguística.

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Relações sintático-semânticas em Parkatêjê

Marília Ferreira (UFPA/CNPq)

Partindo de uma perspectiva descritiva funcional-tipológica, o presente trabalho pretende analisar

algumas relações sintático-semânticas da língua Parkatêjê, em orações complexas, que ocorrem na

presença ou não de conjunções. A língua Parkatêjê, pertencente ao tronco Macro-Jê, família Jê, é

também dita membro do conhecido Complexo Dialetal Timbira, que reúne cerca de outras nove línguas

faladas por povos que viveram na região limítrofe entre o sudeste do estado do Pará e o oeste do

Maranhão.

Palavras-chave: Orações complexas. Sintaxe. Semântica.

O povo multilíngue do Urukawá

Elissandra Barros da Silva (UNIFAP)

Os Palikur-Arukwayene estão em uma área multiétnica e multilíngue, compartilham a Terra Indígena

Uaçá com os Karipuna e Galibi-Marworno, falantes de Kheuól, uma língua crioula de base francesa.

Além disso, a T.I. está localizada no município de Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa, onde o

francês é a língua nacional. Os Palikur-Arukwayene é falante do Parikwaki, a única língua Arawak do

Amapá, mas também estão em um processo avançado de bilinguismo, em que observa-se a consequente

perda de prestígio da língua indígena para o português pois, apesar do Parikwaki ser a língua usada na

escola durante as séries iniciais, o Português, língua nacional e dominante, é hoje uma língua franca,

cujo conhecimento é solicitado na escola, atividades comerciais e mesmo nos contatos com outros povos

indígenas. Dados sobre as línguas indígenas da região são escassos e pouco se sabe sobre a relação

falantes x línguas. Nesse contexto, realizamos em 2013 um levantamento sociolinguístico nas treze

aldeias Palikur-Arukwayene, distribuídas às margens do rio Urukawá e também da Br-156, que liga o

Oiapoque a Macapá. Nosso objetivo neste trabalho é mostrar como as línguas Parikwaki, Português e

Kheuól disputam espaços de fala entre os Palikur-Arukwayene e as relações de prestígio e estigma

desses falantes em relação a elas. Os resultados apontam para uma situação de multilinguísmo entre este

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povo, mas também indicam que o português está presente em espaços outrora exclusivos da língua

Parikwaki e que vem substituindo o Kheuól como língua franca na comunicação destes com os povos

da região.

Palavras-chave: Parikwaki. Sociolinguística. Multilinguísmo.

Estudo histórico-comparativo do subgrupo Juruena da família linguística Aruák

Fernando Orphão de Carvalho (UNIFAP)

Ana Paula Brandão (UFPA)

Este trabalho apresenta os resultados de uma investigação em curso, e pioneira, das relações históricas

entre três línguas - o Paresi (Paresi-Haliti), o Enawene Nawe (ou Enawenê-Nawê) e o Saraveka, esta

última extinta (falada na Bolívia) - que, segundo opinião corrente, formariam um subgrupo da família

Aruák (cf. Aikhenvald, 1999; Fabre, 2005). As línguas Paresi e Enawene Nawe são faladas no Estado

do Mato Grosso, nos afluentes do rio Juruena; a primeira com 3000 falantes e a segunda com

aproximadamente 1000 falantes. O principal objetivo do trabalho consiste em buscar evidências que

corroborem o status desse subagrupamento como sendo de fato um subgrupo independente, isto é, a

identificação de inovações compartilhadas no léxico, fonologia e morfologia que permitam postular um

período intermediário de desenvolvimento comum, chamado aqui provisoriamente de Proto-Juruena

(chamado de Mato Grossense por Fabre). Este estudo histórico-comparativo terá por base dados dos

principais trabalhos sobre Paresi (Silva, 2009, 2013; Brandão, 2010, 2014), Enawene Nawe (Rezende,

2003, 2013) e Saraveka (Créqui-Montfort e Rivet, 1913; Horn Fitz Gibbon, 1962), além de dados

inéditos coletados pelo segundo autor em pesquisa de campo na comunidade dos Enawene Nawe. Até o

momento a existência desse subgrupo hipotético tem sido motivada somente por critérios geográficos

ou por uma avaliação impressionista e não-sistemática da similaridade entre as línguas em questão.

Embora a grande proximidade entre o Paresi e o Enawene-Nawe seja óbvia a partir de uma simples

inspeção de vocabulários comparados (cf. Brandão e Facundes, 2007), a reconstrução do seu ancestral

comum é um passo inicial e incontornável para que a comparação com línguas mais distantemente

relacionadas, como as línguas do ramo Xinguano, seja possível. Ademais, a colocação do Saraveka

dentro do subgrupo Juruena é ainda bastante incerta, tendo sido proposta em 1913 por Georges de

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Créqui-Montfort e Paul Rivet, que identificaram o Paresi como a língua mais proximamente relacionada

ao Saraveka. Desde então a questão não foi investigada de forma explícita, uma lacuna que, com o

presente trabalho, pretendemos preencher.

Palavras-chave: Línguas Aruák. Classificação interna. Linguística histórica.

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3 Língua e sociedade

Português Brasileiro na sala de aula indígena: um ponto de vista

Antonio Almir Silva Gomes (NELI-UNIFAP/CNPq)

A Educação Escolar Indígena brasileira reveste-se sob o rótulo da especificidade se contrastada à

educação escolar não indígena. É nesse sentido que tal educação conquistou o direito a regimes próprios

de ensinar e de aprender, de utilizar em seu interior as línguas indígenas maternas como meio de

instrução, de possuir calendários específicos capazes de atender a suas demandas e das comunidades

que atendem ao longo do período letivo. É nesse sentido, também, que o ensino de Português Brasileiro

(PB) precisa ser pensado e (re)discutido. Inúmeros fatores indicam tal necessidade, dentre os quais

mencionamos (i) o fato de que em muitas escolas indígenas esta língua não é a materna, mas adicional;

(ii) os propósitos e as necessidades de uso desta língua voltam-se para a interação com as comunidades

não indígenas que circundam as aldeias indígenas e com as quais estabelecem relação de comércio,

serviços etc. As estratégias de ensino desta língua devem ser, portanto, sensíveis aos fatores

mencionados; não devem ter a gramática normativa como fim, ao mesmo tempo em que favoreçam sua

presença no interior das salas de aula. O trabalho que apresento envolve-se nessa discussão e resulta de

ações que venho realizando com professores da Educação Básica das escolas estaduais indígenas Jorge

Iaparrá (Comunidade Karipuna do Manga, Oiapoque-AP) e Camilo Narciso (Comunidade Galibi-

Marworno do Kumarumã, Oiapoque-AP) em virtude da pesquisa intitulada “Processos Linguísticos de

Ensino e de Aprendizagem em contextos de Educação Escolar Intercultural Indígena” (CNPq, Processo

n. 424117/2016-9). Em termos mais precisos, discutirei a proposta apresentada aos professores

relacionada ao ensino de Fonética e Fonologia, de Morfologia e de Sintaxe do PB. Perpassam a proposta

questões do tipo “O que precisamos saber sobre cada um dos módulos? Como estes aparecem nos livros

didáticos a que temos acesso? Quais tipos de atividades envolvendo os mesmos módulos podem ser

feitas para além dos livros didáticos? Pretendo, deste modo, jogar luz no ensino de PB das escolas

indígenas, de modo a vislumbrar possibilidades que potencializem o uso do PB e tenham na gramática

normativa apenas o ponto de partida e não o seu fim.

Palavras-chave: Português Brasileiro. Ensino. Indígena.

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Linguística e formação de professores indígenas: um estudo de caso

Josinete de Oliveira Barbosa (UNIFAP)

Ocinildo Araújo Nunes (SEED/SOMEI)

Antonio Almir Silva Gomes (NELI-UNIFAP/CNPq)

Esta proposta de comunicação oral apresenta resultados de um projeto desenvolvido na aldeia

Kumarumã (povo Galibi-Marworno) durante a execução das disciplinas Introdução à Linguística e

Fundamentos da Educação Escolar Indígena I, ofertadas aos estudantes do curso de Formação Inicial

para o Magistério Indígena pelo Sistema Modular de Ensino da Secretaria de Estado de Educação

(SOMEI/SEED). Partimos da concepção da Linguística como ciência importante para as ações de ensino

e de aprendizagem. No contexto do projeto, ocorre o uso frequente da língua indígena e da língua

portuguesa, a segunda ocupando lugares privilegiados de fala em contextos diários especialmente na

escola. Cientes disso, organizamos um projeto com os alunos do curso em que o objetivo principal foi

uma reflexão sobre “o futuro da língua Kheuòl (Galibi-Marworno)”, seja no ambiente escolar / ensino,

seja no ambiente de uso pela na própria comunidade. No primeiro momento do projeto, trouxemos

informações sobre línguas que estão em vias de extinção no Brasil, de quantas eram faladas e quantas

existem hoje. Para isso utilizamos, por exemplo, textos e vídeos que mostravam os vários motivos que

levaram distintos povos a deixar de falar suas línguas. No segundo momento, apresentamos conceitos

básicos de Fonética e de Fonologia, ocasião em que uma professora Galibi-Marworno contribuiu com

informações relacionadas a mudanças na escrita da língua e de como as comunidades Galibi-Marworno

e Karipuna estão discutindo o tema. No terceiro momento, os alunos foram organizados em grupos para

pesquisar na comunidade com os mais velhos, lideranças, professores, como a língua Galibi era falada

antigamente, e o que as pessoas mais velhas pensam sobre isso nos dias de hoje, bem como o que pensam

sobre o futuro da língua. Ao longo da realização da pesquisa do terceiro momento, foram utilizados

telefone celular para gravar as falas dos pesquisados e máquina fotográfica, que auxiliaram no registro

e na preservação dos dados. Após os resultados da pesquisa, os estudantes organizaram um projeto de

intervenção com sugestões de ações importantes à comunidade, para valorização, fortalecimento e

resgate (quando fosse necessário) da própria língua. O resultado foi apresentado no pátio da escola

Camilo Narciso aos presentes. Este momento suscitou entre todos um diálogo reflexivo sobre o futuro

da língua, sobre sua importância cultural e simbólica, de modo a garantir às futuras gerações a

continuidade da diversidade linguística e cultural do povo Galibi Marworno.

Palavras-chave: Língua Indígena. Formação. Professor.

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Interseccionalidade e fronteira:

Mulheres negras imigrantes na Amazônia Setentrional Amapaense

Lívia Verena Cunha do Rosário (PPGEF/UNIFAP)

A Fronteira possibilita diversas olhares e, no presente trabalho, para refletir sobre a fronteira da

Amazônia Setentrional Amapaense foram privilegiadas as vozes das pessoas que adentram esse

território, portanto, neste estudo o foco são os fluxos migratórios, mais especificamente as mulheres

não-brasileiras que vivenciam esse limite territorial. A Fronteira aqui é compreendida como espaço de

alteridade (MARTINS, 1997), logo, é também plural e híbrida (BHABHA, 2003); em um contexto

cultural e social a ideia de fronteira é um desdobramento da ideia de Nação, ambas encaradas como

construções discursivas e por isso com implicações simbólicas. Construída através da diferença, a

demarcação física dos espaços ressoa em referência mental que guia a percepção da realidade. Estar no

limiar, habitar a fronteira expõe a vontade de incorporar e incorporar-se à alteridade, é o desejo de

conciliar-se com o diferente. Sendo assim, a perspectiva adotada para as reflexões aqui expostas é a

interseccionalidade, quer dizer, a sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas

relacionados de opressão, dominação ou discriminação (CRENSHAW, 1991). Partindo da hipótese de

que a interseccionalidade pode ser relevante na compreensão da experiência social das mulheres

imigrantes e dos mais diferentes sujeitos sociais da contemporaneidade, este trabalho procura

desenvolver um estudo que evidencie a intersecção mulher-negra-imigrante em situação de fronteira na

Amazônia Amapaense. Mulheres imigrantes ao cruzarem as fronteiras da Amazônia, por conseguinte,

do Amapá, também atravessam diferentes formas de subalternização que se entrecruzam no processo de

adaptação e sobrevivência. A negritude dessa imigrante entra em conflito com a complexa questão racial

existente no Brasil; mulheres estrangeiras em mobilidade acionam marcadores de gênero, raça e

nacionalidade, que por sua vez convertem-se em sexismo, racismo e xenofobia. Portanto, o objetivo

desta pesquisa etnográfica é evidenciar como a articulação dessas categorias no estudos das trajetórias

dessas imigrantes ajuda a capturar as consequências estruturais e dinâmicas dessas interações nas

fronteiras, além de proporcionar reconhecimento e lugares de fala a essa coletividade historicamente

marginalizada e silenciada. Para discussão sobre gênero nas teorias migratórias, feminização da

migração na Amazônia, sexismo e racismo no Brasil, identidade na pós-modernidade e presença

estrangeira no Amapá, serão utilizados respectivamente Boyd e Grieco (2003), Oliveira (2014),

Gonzalez (1982) Hall (2005) e Pinto (2008).

Palavras-chave: Fronteira. Interseccionalidade. Mulheres.

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Narrativas coletivas Apurinã e Waiwai em HQ:

proposta didático-pedagógica para o ensino de língua

Lúcia Maria Silva Rodrigues (PPGL/UFPA)

Maria da Conceição Vasconcelos Pereira (UNAMA)

Este trabalho apresenta como objeto de estudo duas narrativas coletivas indígenas, a primeira da etnia

Apurinã (Aruak) “Massacre do Urubuã”, narrada por Adilino Francisco Apurinã Itariri, da etnia

Apurinã, Comunidade Vera Cruz (Terra Indígena Água Preta/Inhari/Igarapé Água Preta, Município de

Pauini-Estado do Amazonas), publicada por Juliana Schiel (2004), em tese de doutorado em Ciências

Sociais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com o título “Tronco Velho: Histórias

Apurinã e a segunda da etnia Waiwai “História dos povos indígenas do Mapuera” publicada no “Livro

de histórias dos povos do Mapuera (Pono Komo Yehtoponho Karita)”, organizado pela SEDUC (2003).

Assim, para o corpus escolhido o objetivo apresentado se constitui de propor a adaptação de referidas

narrativas para o gênero História em Quadrinhos (HQ) em Língua 1 e Língua Portuguesa, em proposta

didático-pedagógica para o ensino de leitura, oralidade e escrita bilíngue, com destaque para a Língua

1. A metodologia utilizada consiste em seleção da narrativa, mudança de gênero para HQ, e construção

da proposta didático-pedagógica de leitura escrita e oralidade com aplicabilidade prática. As reflexões

suscitadas pelo estudo leva-nos a considerar que as narrativas coletivas indígenas veiculam não somente

o pensamento de uma época, mas também podem reproduzir a história e a língua desses povos, estas

são seu maior patrimônio e por esse motivo a utilização de tais narrativas como ferramenta de estudo de

leitura, escrita e oralidade de Língua 1 é tão importante. A proposta como estudo acadêmico caminha

na perspectiva dos estudos linguísticos e como uso didático metodológico inclui-se no campo dos

estudos de gêneros textuais, consolidando-se como uma sugestão para o ensino, manutenção e

fortalecimento das respectivas Línguas 1 (Apurinã e Waiwai. A proposta sustenta-se nos estudos

teóricos de BAKHTIN (1992), BRASIL-SEE (2003), DOLZ & SCHNEUWLY (2004), FIORIN (2003),

MARCUSCHI (2002), SCHIEL (2004), TODOROV (1970) e VERGUEIRO (2009), que orientam sobre

os estudos linguísticos, gêneros textuais, HQ e estudos da narrativa.

Palavras-chave: Histórias em quadrinho. Leitura oralidade e escrita. Narrativas Apurinã e Waiwai.

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4 Línguas Indígenas II

Ação política pela linguagem: o Nheengatú no baixo rio Tapajós

Sâmela Ramos da Silva Meirelles (UNICAMP/UNIFAP)

Este trabalho apresentará o processo de retomada do Nheengatu ou língua geral amazônica pelos povos

indígenas do baixo rio Tapajós (Pará), a partir de uma perspectiva crítica da linguística ou linguística

decolonial. As iniciativas de revitalização do nheengatu, do qual esses povos são protagonistas, têm-se

constituído como uma ação política pela linguagem, resgatando o Nheengatú como língua étnica. Assim,

nossa reflexão parte dessas iniciativas que se consolidam como um projeto contra-hegemônico diante

do cerceamento de identidades étnicas e direitos linguísticos, percebendo o longo caminho histórico

desse silenciamento que culminou na extinção de diversas línguas, depois na homogeneização por meio

da língua geral e, finalmente, a imposição da língua colonial, o português. Nessa reflexão, partiremos

da colonialiadade do poder/saber (MIGNOLO, 2003) que subalternizou os corpos colonizados e os

subjugou à escravização, dominação e aniquilamento. Esse modelo civilizatório se erigiu também sob o

aspecto linguístico, no qual as línguas das colônias se erguem como línguas de conhecimento, e as língua

autóctones “perdem” seus falantes. No entanto, mais recentemente, ao contrário do se esperava com o

sistema/mundo moderno, as minorias linguísticas têm se reorganizado e ressurgido em todo mundo em

resposta ao modelo hegemônico/eurocentrado e seus pressupostos. No bojo dessas re-existências, está o

processo articulado pelo movimento indígena no baixo rio Tapajós, no qual a retomada da língua

indígena que eles têm memória e história, tem acionado conhecimentos ancestrais e se construído em

torno de um discurso de continuidade/resistência de “traços” do Nheengatu em suas práticas linguísticas.

Estamos diante de uma postura linguística contra-hegemônica, decolonial, por isso é fundamental

reivindicar o espaço dessas discussões na academia, inserindo essas possibilidades de linguajamento

que não cabem em uma linguística provinciana (universal, neutra e objetiva), portanto, eurocentrada, e

principalmente, caminhar na descolonização dessa linguística.

Palavras-chave: Linguística Decolonial. Memória. Rio Tapajós. Indígenas.

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Cartografia de línguas indígenas do amapá:

Levantamento preliminar das fontes de estudo e pesquisa

Uisllei Uillem Costa Rodrigues (PPGED/UFPA)

O conceito de cartografia tem evoluído nas últimas décadas e corresponde a um conjunto de operações

e estudos científicos que podem ser representados por mapas (Associação Cartográfica Internacional,

1966), contudo a Cartografia pode ser utilizada nas mais diversas áreas. Nessa pesquisa, utiliza-se desse

conceito para fazer referência a um conjunto de estudos existentes em uma determinada área: a

Linguística. De forma mais precisa, constrói-se nesse trabalho uma cartografia sobre fontes de estudo e

pesquisa das línguas indígenas do Amapá. Assim sendo, o escopo aqui posto é de reunir referências e

bibliografias sobre línguas indígenas do Estado do Amapá produzidas, preferencialmente, no último

século e, excepcionalmente, no início da década do século XXI. Nota-se que a dispersão dos materiais

sobre línguas indígenas faladas ou consideradas extintas no Amapá são em primeira instância um

limitador às pesquisas relativas a esse tema na região. Por isso, esse trabalho possibilita a consulta

referencial facilitada às pesquisas sobre línguas indígenas da Região do Baixo Oiapoque e suas

adjacências. Este levantamento fundamenta-se nas considerações de Aguiar (1994) sobre a importância

da organização de trabalhos bibliográficos. Essa pesquisadora realizou um levantamento bibliográfico

da produção sobre línguas da família Pano. Para nosso escopo, houve a necessidade de adaptação,

colocando em foco as línguas indígenas do Amapá. Por sua vez, foram utilizados critérios expostos por

D’Angelis, Cunha e Rodrigues (2002) para a compilação de bibliografia sobre as línguas do tronco

Macro-Jê. Este trabalho é de caráter documental e se dá por meio de visitas técnicas a instituições, coleta

de dados por meio de sites e nos principais bancos de informações. A partir desses dados, foi possível

reunir mais de 120 referências, de diversas áreas e autores. Das produções coletadas há nomes já

conhecidos dos estudiosos de línguas indígenas, tais como, Arnaud (1969, 1970, 1975,1980),

Nimuendajú (1926), Gallois e Grupioni (2003), Gallois (1986, 1988, 1994, 2001, 2002, 2005), Green

(1977, 1994, 1979) Grenand (1977, 1980, 1987, 1988, 1992, 1998), Vidal (1996, 2000, 2001), e outros.

Por fim, compreendemos que esta pesquisa não é um construto completo e definitivo. E por esse motivo,

apresenta fragilidades acerca de sua constante construção, porém, se apresenta como uma iniciativa

inovadora para as pesquisas sobre línguas indígenas do Estado do Amapá.

Palavras-chave: Cartografia Linguística. Línguas Indígenas do Amapá. Estudos de Línguas Indígenas.

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A situação sociolinguístico de comunidades Wajãpi: o bilinguismo nos domínios sociais

Maria Doraci Guedes Rodrigues (PPGL/UFPA)

Abdelhak Razky (PPGL/UFPA-UnB)

O povo Wajãpi, da família etno-linguística Tupi-Guarani, classificado no sub-ramo VIII, que habitam

ao oeste do Estado do Amapá, no triângulo do Amapari, que, segundo o censo populacional realizado

pelo IBGE (2010), somam 1200 indígenas, dentre os quais homens e mulheres, incluindo crianças,

jovens, adultos e idosos. Os Wajãpi são monolíngues em Wajãpi até os 12 anos de idade. Em relação a

L2, o português, eles a aprendem quando entram na escola. Esta comunicação tem como objetivo

apresentar uma amostra quali-quantitativa da pesquisa sobre a situação sociolinguística em cinco aldeias

indígenas Wajãpi no município de Pedra Branca do Amapari, no Estado do Amapá: Aramirã, Pairakae,

CTA, Mariry e Kurani’yty. Dessa forma, iremos expor recortes de dados coletados sobre grau de

bilinguismo (Wajãpi e Língua Portuguesa) dessas comunidades supracitadas. Para tanto, analisamos e

descrevemos as atitudes dos Wajãpi em relação à aquisição da língua materna (L1), como língua de

instrução e da língua Portuguesa (L2), como segunda língua ou língua estrangeira, usadas nas interações

sociais desse povo. O perfil estratificado foi de acordo com sexo, idade e escolaridade; o primeiro grupo

é composto de um homem e uma mulher, na faixa etária de 18 a 30 anos, não alfabetizados ou

alfabetizados até a 8ªsérie do ensino fundamental; o segundo grupo, também composto por um homem

e uma mulher, na faixa etária de 40 a 70 anos, não alfabetizados ou alfabetizados até a 8ªsérie do ensino

fundamental. Neste contexto, foi realizada a pesquisa de campo que teve como método a aplicação de

um questionário sociolinguístico semiestruturado, composto de dois campos semânticos contendo 21

questões e também a partir de conversas espontâneas. Nos questionários, o primeiro campo semântico

é intitulado Bilinguismo dos Participantes, que contém 15 questões; já o segundo campo semântico,

Bilinguismo da Comunidade, contém seis questões. Logo, com o resultado deste trabalho, evidencia-se

que o bilinguismo está em processo de construção, tornando-se uma realidade entre os Wajãpi. Portanto,

essa comunicação visa compreender os fatores que influenciam as diferentes situações de/em contato

entre as línguas – autóctone e Língua Portuguesa – nos domínios sociais das comunidades indígenas

Wajãpi.

Palavras-chave: Bilinguismo; Língua Wajãpi; língua Portuguesa.

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Relações de parentesco e migração entre os Apurinã

Sidi Facundes (UFPA)

Rayssa Rodrigues (PPGL/UFPA)

Marília Freitas (UFPA)

Neste trabalho, utilizamos a análise das genealogias do povo indígena Apurinã para examinar o seu

papel nos constantes deslocamentos desse povo. Apurinã (Aruák) é possivelmente o povo com o maior

espalhamento geográfico do Brasil. Além de uma comunidade que habita terra de povos Tupi, em

Rondônia, e dos vários indivíduos que vivem na periferia da cidade de Rio Branco e Manaus, os Apurinã

estão em comunidades espalhadas desde o Km 124, BR 317, no Acre, até o Rio Jatuarana, afluente do

Rio Manacapuru, já perto de Manaus. Facundes (2000) identificou conflitos internos como o principal

elemento motivador desses deslocamentos. Nosso objetivo aqui, não é, contudo, examinar as causas

desses deslocamentos, mas sim os fatores que são levados em consideração na escolha de locais para

onde migrar. Nossa hipótese é que relações de parentesco são o principal critério na escolha da

comunidade destino do deslocamento. Para examinar essa hipótese, montamos as genealogias de

membros de diferentes comunidades Apurinã, coletamos as histórias de seus deslocamentos,

identificando os pontos geográficos por onde passavam, e então plotamos essas informações em

mapas. Mesmo que os resultados ainda sejam preliminares, estes são compatíveis com a nossa hipótese:

relações de parentesco estão sim entre os principais critérios de escolha das comunidades para onde

migrar, principalmente aquelas onde há primos dos migrantes. Finalmente, essas relações de parentesco

tendem a respeitar o sistema de parentesco tradicional dos Apurinã, embora boa parte das formas

linguísticas que expressam esse sistema de parentesco já não seja do domínio da maioria dos Apurinã.

Palavras-chave: Apurinã. Migração. Parentesco.

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5 Dialetologia

Motivação e distribuição dos topônimos indígenas no Marajó das florestas

Cinthia Neves (UFPA/Breves)

Johnata Cardoso (UFPA/Breves)

Luany Gonçalves (UFPA/Breves)

Rita Thamirys De Souza (UFPA/Breves)

Um estudo toponímico é fonte de conhecimento da língua falada numa dada região e serve como

recuperação de fatos físico-geográficos e sócio-histórico-culturais, uma vez que nomear um lugar é parte

do cerimonial de posse, um indicativo de conquista. A mesorregião do Marajó, considerada rica em

termos de recursos hídricos e biológicos (fauna e flora), registra suas riquezas também nos nomes de

seus rios, ruas, igarapés, furos, cuja influência pode ser explicada pelo histórico de ocupação do

arquipélago: antes de passar pelo processo de conquista portuguesa, o Marajó, foi habitado por inúmeros

grupos indígenas. Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar os topônimos de base

indígena ainda registrados no Marajó, bem como sua distribuição, verificando em quais municípios se

encontra maior ocorrência de lugares dessa origem. Foram analisados nomes de acidentes físicos (rios,

furos, igarapés e ilhas) e humanos (comunidades, sítios, fazendas) do chamado Marajó das Florestas,

constituído pelas microrregiões Furo de Breves (Afuá, Anajás, Breves, Curralinho e São Sebastião da

Boa Vista) e Portel (Bagre, Gurupá, Melgaço e Portel). Os dados apresentados nesse estudo foram

disponibilizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde através do SIVEP-malária, sistema que registra

em forma de planilhas a monitoração dos agentes de saúde em cada município. As listas desse sistema

estão organizadas em ordem alfabética, indicando em cada nome a zona (urbana ou rural), o tipo de

acidente, o status (ativo ou inativo), o número de habitantes e, em alguns casos, latitude e longitude. A

partir de tais planilhas, os nomes de origem indígena foram selecionados, em seguida agrupados por tipo

de acidente; posteriormente, os dados foram quantificados e organizados em cartas toponímicas, as quais

permitem ter domínio espacial e fazer a síntese dos fenomenos que ocorrem no espaço geográfico

investigado. As cartas apontam para maior frequência de nomes indígenas em regiões cujo acesso é

dificultado pela geografia do lugar, a alguns só é possível chegar em embarcações pequenas ou a pé.

Como motivadores do processo de nomeação nessa região pode-se apontar a fauna e a flora, as quais

servem de referências para retratar o ambiente marajoara.

Palavras-chave: Toponímia; Indígena. Marajó.

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Socioterminologia de plantas medicinais utilizadas no município de Breves-PA

Jackeline Campos (UFPA-Breves/IFPA-BREVES)

Cinthia Neves (UFPA-BREVES)

Jaqueline Reis (UFPA-BELÉM)

O presente trabalho consiste no estudo da terminologia das plantas medicinais utilizadas na produção

de remédios para o tratamento e cura de doenças por moradores do município de Breves, na Ilha do

Marajó. O objetivo desta investigação (em andamento) é elaborar um glossário ilustrado com os termos

especializados dessas plantas manipuladas por parteiras, benzedeiras e curandeiros dessa região em que,

embora estejam disponíveis medicamentos de referência (sintéticos) em farmácias e postos de saúde,

ainda se acredita nos produtos ditos naturais. Um glossário socioterminológico se diferencia de um

dicionário, segundo Faulstich (2010), sobretudo pela “quantidade de termos que um ou outro contém,

de acordo com a finalidades de informações do conhecimento terminológico a serem repassados e em

conformidade com o público alvo”. Assim, um dicionário compila uma grande quantidade de termos,

ao passo que um glossário lista uma quantidade menor. Para a construção do glossário que se pretende

elaborar no estudo aqui apresentado foram coletados até o momento 55 nomes de plantas e seus diversos

usos: infecção, dor de cabeça, hemorragia, reumatismo, anemia, etc. A pesquisa foi desenvolvida por

meio de questionário sócio-econômico e entrevistas com três parteiras e uma curandeira do município,

as quais não revelam a forma de preparo dos remédios, apenas indicam a parte da planta utilizada e

como podem ser manipuladas: em suas formas seca (pó), verde (sumo), verde/seca (chá), cascas e folhas.

O glossário deverá apresentar os verbetes em ordem alfabética, sendo alguns destes acompanhados por

ilustrações. Outras informações deverão ser inseridas nas próximas etapas da pesquisa a fim de que

possam ser feitas fichas terminológicas, ou seja, “um registro completo e organizado de informações

referentes a um dado termo, segmentos de texto, onde esse termo ocorre, seus contextos de uso,

informações sobre variantes denominativas, sinônimos, construções recorrentes que o

acompanham”(KRIEGER; FINATTO, 2004, p. 136), pois consideramos, tal como Amorozo (1996), ser

importante saber de onde vem o conhecimento do uso das plantas medicinais: se é um conhecimento

tradicional embasado na experiência direta dos membros da comunidade; ou se resulta de contatos com

fontes externas à cultura local (migrantes, mídia), podendo, nesse caso, não ser dominada totalmente

por essa comunidade.

Palavras-chave: Socioterminologia. Plantas medicinais. Marajó.

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Formação de corpora para o Atlas Dialetal Prosódico Multimídia do Norte do Brasil:

A variedade linguística do Amapá

Ana Beatriz Gomes Pinheiro (UNIFAP)

Beatriz Priscilla Tavares Barbosa (UNIFAP)

Suzana do Espírito Santo Barros (UNIFAP)

O projeto de pesquisa "Formação de corpora para o Atlas Dialetal Prosódico Multimídia do Norte do

Brasil: a variedade linguística do Amapá" tem como objetivo constituir um banco de dados pioneiro

com amostras de falas da variedade linguística no estado do Amapá, essencial ao estudo linguístico

suprassegmental das línguas românicas, tornando possível a comparação entre elas, por serem do mesmo

tronco linguístico, como afirma Contini (2002). Trata-se de uma pesquisa de campo situada na linha de

investigação prosódica, um ramo da fonética acústica, que permite delimitar a entonação dos falantes.

Para tanto, serão selecionados dezoito informantes acima de 30 anos, do sexo masculino e do sexo

feminino de acordo com a escolaridade: ensino fundamental, ensino médio e ensino superior completo

naturais das cidades de Macapá, Mazagão e Oiapoque. Cada informante produzirá 102 frases conforme

o corpus expandido do projeto AMPER (CRUZ, 2007), obtido por meio de gravações, tais frases

possuem restrições sintáticas e fonéticas, no primeiro caso, pode-se mencionar a presença de frases de

estrutura SVC (Sujeito+Verbo+Complemento) e Sintagmas Adjetivais e Adverbiais, já no segundo caso,

ressalta-se a estrutura acentual, incluindo vocábulos oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos. Para a

análise das falas, serão usados parâmetros acústicos como frequência fundamental, duração e

intensidade (MOUTINHO; COIMBRA 2007), para tratamento de dados no software de análise e síntese

de fala Praat. O tratamento dos dados constitui as fases de codificação das repetições de frases,

isolamento em arquivos individuais, segmentação e aplicação de scripts e extração das medidas

acústicas dos segmentos vocálicos. Os dados referentes à cidade de Macapá estão em fase de

constituição, com coleta de dados concluída e o banco de dados encontra-se em fase de tratamento. A

previsão de resultados abrange a geração de dados gráficos que definem o contorno entoacional da fala

de Macapá.

Palavras-chave: Prosódia. AMPER-Norte. Amapá.

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Dialetologia contatual: variação lexical do Português em contato com o Kheuól

Romário Duarte Sanches (UEPA/UFPA)

A região do Oiapoque, localizada no extremo norte do Estado do Amapá, é conhecida historicamente

por agregar diferentes povos indígenas e não indígenas, caracterizando-se como uma área plurilíngue e

pluriétnica. Tendo em vista essa situação, o objetivo principal desse estudo é mostrar a variação lexical

do Português em contato com o Kheuól, variedades faladas na área indígena pertencente aos Karipuna

do Amapá. Como suporte teórico-metodológico tem-se o modelo de Dialetologia Pluridimensional e

Contatual (ALTENHOFEN; THUN, 2016). Os procedimentos metodológicos adotados para a descrição

e interpretação dos dados estão diretamente relacionados com o método geolinguístico. Assim, foram

consideradas dimensões linguísticas e extralinguísticas, a saber: diatópica, diatópica-cinética,

diassexual, diageracional, dialingual e diacontatual. Para cada dimensão foram delimitados parâmetros

que auxiliaram na elaboração dos mapas linguísticos. A pesquisa de campo contou com a seleção de 36

informantes distribuídos em nove aldeias da etnia Karipuna (Manga, Santa Izabel, Espírito Santo,

Açaizal, Curipi, Kariá, Ahumã, Ariramba e Kunanã). As aldeias estão assentadas em três Terras

Indígenas: Uaçá, Galibi e Juminã. A maior concentração dos Karipuna está na Terra Indígena Uaçá.

Para cada aldeia investigada foram selecionados quatro informantes indígenas bilíngues e estratificados

socialmente. Como instrumentos de pesquisa foram utilizados a Ficha do Informante (FI), o

Questionário Sociolinguístico (Qsocio) e o Questionário Semântico-Lexical (QSL). A FI e o QSL foram

construídos a partir das bases metodológicas do projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) e o Qsocio

foi adaptado a partir do questionário do projeto Atlas Linguístico Sonoro das Línguas Indígenas do

Brasil (ALSLiB). Acredita-se que o modelo de Dialetologia Contatual, por ser adaptável a qualquer

realidade étnico-linguística, favoreceu o mapeamento linguístico bilíngue em área indígena e de

fronteira, resultando em mapas expositivos e interpretativos, evidenciando a variação do Português em

contato com o Kheuól. Os mapas apontaram a interinfluencia das variedades estudadas e a forte presença

do léxico português amazônico como variedade dominante na área indígena dos Karipuna do Amapá.

Palavras-chave: Dialetologia contatual. Geolinguística. Atlas linguístico.

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Monotongação dos ditongos orais decrescentes no Município de Mazagão, Estado do

Amapá/Brasil

Helen Costa Coelho (UFPA)

Este estudo inscreve-se na perspectiva de investigar a variação fonético-fonológica entre moradores do

distrito de Mazagão Velho, município de Mazagão, e fundamenta-se nos pressupostos teóricos da Teoria

da Otimalidade que tem como principais expoentes Prince e Smolensky (1993); McCarthy e Prince

(1993), assim como contribuições de Antilla (1998), Hora & Matzenauer (2017). A escolha deste

arcabouço teórico justifica-se por se tratar de uma teoria linguística capaz de estabelecer as propriedades

que fazem parte do conhecimento inato da linguagem, o grau de atuação de determinada propriedade de

uma língua e as diferenças entre os padrões das diferentes línguas que existem no mundo, a partir de

propriedades como violabilidade, ranqueamento, inclusividade e paralelismo. Em outras palavras, trata-

se de um modelo de análise cujo os principais objetivos são estabelecer as propriedades universais da

linguagem e caracterizar os limites possíveis da variação existentes entre as línguas naturais. Para a

realização da referida pesquisa, adotou-se como base o método geolinguístico, comumente usado no

Projeto do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) para cartografar os usos linguísticos no país. Nesse

sentido, foi considerado apenas um (01) município do Estado Amapá, tendo como pontos de inquéritos

a seleção de quatro (04) informantes, estratificados socialmente pelo sexo (homem e mulher) e idade

(de 18 a 30 e de 50 a 65 anos). A coleta do corpus se deu por meio de aplicação do Questionário

Fonético-Fonológico (QFF) proposto pelo Comitê Nacional do Projeto ALiB. Já a análise deste trabalho

está pautada em questões pertinentes ao fenômeno específico de monotongação de ditongos

decrescentes orais, considerando os parâmetros da Teoria da Otimalidade. Os dados revelam que há uma

ocorrência de três variantes para o uso do monotongo na linguagem utilizada pelos moradores da referida

comunidade, ratificando a tendência do padrão silábico consoante/vogal (CV) do português brasileiro.

Palavras-chave: Monotongação. Variação fonético-fonológica. Otimalidade.